De 27 de janeiro a 1o de fevereiro de 2009, a cidade de Belém, Pará, sediou a nona edição do
Fórum Social Mundial.
Representantes de movimentos sociais, de tradições religiosas e espirituais, ONGs, intelectuais solidários,
universitários, estudantes, cidadãos do mundo.
Um outro mundo possível, onde sejam respeitados os direitos básicos
da menina africana,
da menina peruana,...
E dentre as tantas atividades realizadas durante o Fórum Social estavam as palestras proferidas
pelo teólogo, professor e escritor Leonardo Boff.
Num dos encontros, cujo tema era “Diálogos com os movimentos de Juventude
pelo Meio Ambiente ”, ele se reuniu especificamente com os jovens.
US$ 15 trilhões de dólares evaporados em questão de poucos dias,
levando consigo imensas corporações, grandes bancos e tradicionais fábricas.
E deixando para trás, em meio às frias estatísticas,
as demissões em massa, o desemprego, a fome,
o desespero, as lágrimas.
Dirão - os economistas, as corporações transnacionais e os detentores do poder -
que o capitalismo vive de crises, e que esta é mais uma crise cíclica.
Porém, a crise atual é terminal.
O desafio não é remediar o que não tem conserto, mas buscar novas alternativas.
que, em sua natureza, é voraz, acumulador, depredador do meio ambiente, criador de
desigualdades e sem sentido de solidariedade, atesta a sua própria falência.
O sistema atual, regido pelo capital e pelas leis do mercado,
Um sistema onde a cada quatro
minutos uma pessoa perde a visão,
em decorrência da carência de vitamina A, declara o seu
próprio fracasso.
Um sistema onde a cada cinco segundos
uma criança com menos de cinco anos morre de
fome ou desnutrição
atesta a sua própria falência.
O sistema vigente, que tem como pilar um individualismo avassalador,
demonstrou-se incapaz de assegurar o bem-estar da humanidade.
Um individualismo que se revela na linguagem cotidiana:
O meu emprego, o meu salário, a minha casa, o meu carro, a minha família...
Um sistema onde ninguém é levado a construir algo em comum,
onde a competição, o acúmulo e a ostentação predominam em detrimento
da solidariedade, da caridade e da compaixão.
Um sistema onde as crianças aprendem tão cedo a conjugar o verbo comprar,
mas que desconhecem o que seja compartilhar.
Um sistema que incentiva o consumismo
inconsequente e desenfreado,
e que tanto cultua os bens materiais.
Uma cultura que dissemina
compulsão e
consumismo, que associa o produto a um conceito de felicidade.
Um sistema que desconhece o amor,
a caridade e a compaixão,
e que se fez cego e surdo para o apelo
do excluído, do necessitado.
Um sistema que por longas décadas alega não possuir recursos
para promover a educação, a saúde e para aplacar
a fome mundial,mas que tanto gasta
com guerras, conflitos e com a indústria
bélica,...
...e que se mostra capaz de mobilizar em poucas horas
três trilhões de dólares para socorrer bancos,
montadoras e corretoras,
atesta seu próprio fracasso terminal.
Como foi que permitimos chegar a este ponto?
Quanto tempo ainda haverá de passar até
que resgatemos a nossa humanidade perdida?
A falta de solidariedade que impera nas nossas relações sociais.
E a falta de solidariedade para com a Natureza.
A ânsia pelo crescimento econômico, aliada ao consumismo compulsivo, resultou na dilapidação
sem precedentes da Natureza.
O desenvolvimento técnico-científico, dissociado da consciência ecológica, fez com que saqueássemos os recursos naturais numa escala sem precedentes.
E a ruptura entre o trabalho e o cuidado fez com que o afã desmedido de produção
se revertesse na ânsia incontida de dominação das forças da natureza.
Os limites do capitalismo são os limites da Terra.
Já encostamos nestes limites, tanto da Terra quanto do capitalismo.
Já não mais podemos prosseguir com a perversa lógica do capital,
baseada no acúmulo e no desperdício:
Imagem de celulares descartados, quase todos em perfeitas condições de uso.
Somente nos EUA, 426.000 aparelhos
são jogados fora diariamente, trocados por modelos mais novos.
Sinais como as mudanças climáticas,
que já começaram a afligir crescentes
parcelas da população ao redor do planeta.
As crises financeira, climática, energética, alimentar e outras,
- todas elas nos remetem para a crise do paradigma dominante.
Precisamos de um novo paradigma
de civilização
porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades.
Projeções feitas por pesquisadores e
cientistas ambientais
mostram que, se oconsumo continuar
no ritmo atual,
em 2050 precisaremos de dois
planetas Terra.
A interculturalidade,
- o diálogo entre o chamado saber ocidental e o saber tradicional, milenar,
a cosmovisão indígena.
Conforme ensinam tais tradições,
o ser humano deve cultivar a Terra com cuidado e senso de justiça e estética.
Devemos lançar um novo olhar sobre a realidade,
adotar um novo paradigma de
relacionamento com todos os seres.
O universo caminhou 15 bilhões de anos para
produzir o planeta que habitamos,
essa admirável obra que nós, seres
humanos, recebemos como herança,
para cuidar como jardineiros,
e preservar como guardiões fiéis.
Uma mesma Fonte alimentadora, misteriosa e inominável, sustenta e confere vida a tudo que existe.
O mesmo Sopro permeia toda a existência.
Promover a ecologia do cuidado,
que zela pelos interesses de toda a comunidade de vida.
Coexistir com respeito, cooperação e harmonia
com os demais moradores deste pequeno planeta,
- animais, vegetais, seres humanos.
A interculturalidade,
o encontro com outras tradições,
outras culturas,
enriquece a nossa visão do mundo
e da vida.
Ter olhos para os que são diferentes.
Ter ouvidos para a sua voz, as suas melodias, canções, histórias...
As tantas flores, com suas cores e formas distintas.
Diferenças superficiais, pois a terra que as nutre e sustenta é uma.
E em meio à agitada rotina da vida moderna,
encontrar tempo para refletir sobre perguntas metafísicas...
E em meio à agitada rotina da vida moderna,
encontrar tempo para refletir sobre perguntas metafísicas...
O texto desta apresentação se baseia em palestra proferida por Leonardo Boff
durante o Fórum Social Mundial, Belém, Pará, janeiro de 2009.
Para saber mais acerca do tema, acesse:
www.forumsocialmundial.org.brwww.leonardoboff.com.br