ISSN 2176-1396
FENOMENOLOGIA NA PRÁXIS ARTÍSTICA À TRANS-FORMAÇÃO
Lucicleide Araújo de Sousa Alves1 - UCB
Paulo Corrêa Mendes2 - UCB
Grupo de Trabalho – Educação, Arte e Movimento
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
À luz da fenomenologia, este artigo socializa a vivência em práxis artística para a trans-
formação humana, compreendendo o que se mostra (fenômeno) mediante a relação
constituída entre o sujeito autoral e o objeto de sua produção em pintura sobre telas. A pintura
é uma das mais antigas e ainda atuais formas de expressão humana e de compreensão da
realidade, na qual, o sujeito - criativo e/ou observador, interliga-se ao objeto, desvelando-o
enquanto igualmente se transforma. Um processo dialogal que se dá entre sujeito e objeto, por
meio de circularidade, recursividade, interações e retroações, permitindo o retorno do sujeito
em relação a si mesmo, oportunizado pela reflexão da obra em diálogos entre os mundos
exteriores e interiores, os saberes objetivos e subjetivos, a partir do que já se sabe com o que
ainda há de ser conhecido, entre o saber consciente e o saber a se revelar para a consciência.
Para o alcance dos objetivos realizou-se uma pesquisa qualitativa apoiada numa concepção
filosófica construtivista social visando compreender o mundo em que os sujeitos vivem e
trabalham, cujo problema foi tratado a partir das interações entre os indivíduos. O desejo por
fazer um diálogo entre Fenomenologia e Arte emerge a partir dos estudos do autor e autora do
artigo cursistas de programas de pós graduação da Universidade Católica de Brasília – UCB,
em disciplinas de Mestrado em Educação e Doutorado em Psicologia. Nesse processo
1Pedagoga pelo Centro Universitário do Distrito Federal (1993). Doutoranda em Psicologia (2014), Mestre em
Educação (2010) pela Universidade Católica de Brasília. Especialista em Administração Escolar pela
UNIVERSO (1995), Tecnologias em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC_RIO) e Design Instrucional (2015) pelo SENAC. Educadora na Secretaria de Estado de
Educação(SEE/DF) desde 1989. Atua em programas de Educação a Distância como tutora em ambientes virtuais
de aprendizagem pela UAB/UNB e CEAD/UNB. Atualmente atua em Educação Superior e coordena projetos
junto à Coordenação de Mídias Educacionais e formadores dos Núcleos de Tecnologia Educacional,
promovendo formação de professores, gestores e estudantes para o uso de Tecnologias na Educação, da SEE-DF.
Consultora da Rede Pedagógica da TV Escola - MEC. Atua principalmente nos seguintes temas: Formação de
professores, Didática Transdisciplinar, Complexidade e transdisciplinaridade, Tecnologias na Educação, Projetos
e Educação a Distância. Pesquisadora do grupo Por ser menina e do grupo Ensino, Aprendizagem e Formação de
Professores. Autora dos livros: Didática Transdisciplinar: a teoria (Livro 1) e Estratégias Didático-
Transdisciplinares: a prática e a teorização (Livro 2). 2Docente de Design e Artes Plásticas no IMAD, DF. Mestrando em Educação – UCB, DF. Licenciatura Plena -
Formação Pedagógica de Jovens e Adultos – UNISUL. Graduado em Ciências Econômicas – UCB, DF. Membro
do grupo de pesquisa ECOTRANSD/CNPq: ecologia dos saberes, transdisciplinaridade e educação. Especialista
em Design Editorial e Gráfico pelo Instituto Europeu de Design e IESB. Docente de cursos de Educação
Profissional no SENAC DF. Atuou como coordenador, supervisor e docente na área de Design no SENAI-DF de
1989 a 2012. Sócio idealizador do Instituto de Meta-ArteDesign – IMAD.
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apresentamos a arte como linguagem expressiva, simbólica, como meio de acesso ao mundo
de possibilidades, cujo conhecimento manifesta-se e é compreendido para além de processos
puramente cognitivos e sob visão tipicamente racionalista.
Palavras-chave: Educação. Autoformação. Práxis Artística Fenomenológica.
Introdução
Os seres humanos tem evoluído desde os primórdios até os dias atuais alicerçados pelo
lampejo do intelecto e pela capacidade de encontrarem soluções inteligentes e inusitadas
associadas a processos psíquicos complexos. Concernente à educação, a cada dia mais
pesquisadores empenham-se em desvelar novos caminhos criativos à antropoformação. Neste
contexto, uma das possíveis vias que se apresenta é a fenomenologia artística trans-
formadora, nas dimensões auto-hetero-eco-formadora e nas suas articulações
antropoformadoras (PAUL, 2013).
Para tal, insurge revisitar a definição do que é arte e sua significância na historicidade
da formação humana. Prolificamente, a arte e sua respectiva funcionalidade têm oportunizado
à compreensão humana na linha do tempo, que podemos observar em vários ensaios e, na sua
maioria, com polêmicos enfoques ideológicos, religiosos, culturais, epistêmicos entre outros.
Três abordagens de linhas de pensamentos são comumente evidentes: a arte que se revela e
reinventa por meio da beleza; a arte capaz de propiciar sentimentos do bem e; a arte capaz de
modificabilidade humana por meio de reflexões sobre a condição humana e sua relação com
às coisas do mundo. É nesta última perspectiva que focaremos este estudo, compreendendo a
arte como uma das mais antigas formas de expressividade subjetiva sobre a realidade e de
comunicação da experiência humana para além da objetividade.
Desde os tempos mais remotos, o homem cria técnicas para comunicar-se, entrar em
contato com o universo e, assim, participar ativamente na produção do colorido da vida. É
pela relação do homem com a sua complexa e primeira grande obra de arte (a vida), em pleno
processo de construção e inacabamento, que este vê o mundo à medida que se põe a caminhar
em sua direção e ao entrar em contato com a própria realidade, percebê-la e presentificá-la.
Ao se perceber como uma entre as várias cores que se misturam nesta complexa obra
constituída de relações, onde tudo está em constante movimento e transformação e nada está
separado, o sujeito vai tecendo seu projeto de vida na convivência com o outro, com as coisas,
para que a sua existência possa ser traduzida mediante suas experiências vividas no decurso
de sua caminhada. Esse envolvimento do sujeito nesse mundo complexo de relações, por
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pensamentos e ações imbricados, por cores diversas que se misturam possibilita mudanças e
transformações no olhar do sujeito em relação à vida e constantes aprendizados.
Assim, vida e aprendizagem não se separam, mas entrelaçam-se em um processo
dinâmico, circular, espiralado, ascendente e evolutivo, que conduz o sujeito às incessantes
buscas pelo desconhecido e por um constante movimento de pensar sobre o próprio
pensamento, pela ação e reflexão. Esse processo compreendido por Maturana e Varela (2001)
como meio de conhecer sobre o próprio processo de conhecimento, pelo ato de se voltar para
si mesmo e reconhecer as próprias cegueiras e as outras pessoas como co-partícipes neste
processo construtivo de conhecer sobre o conhecimento, de refletir sobre o irrefletido e assim
ascender para outros níveis de percepção e conhecimento em relação ao mundo.
Ao incluir-se nesta arquitetura, o sujeito faz-se presença não apenas como objeto, mas
também como consciência e força criativa. Neste processo, considerado por Maturana e
Varela (2001) de autopoiese, ou seja, autocriação e autoprodução, o sujeito constrói a
realidade e é por ela reconstruído. Esta possibilidade de transformar a realidade e por ela ser
transformado dá-se sempre por meio da relação do sujeito com seu objeto, de uma
consciência dirigida ao mundo, com capacidades para atuar, agir, no sentido de construir,
desconstruir e reconstruir conhecimento, apreendendo a realidade e ao mesmo tempo,
significando-a. Assim, assegura Ponty (2013) que não há como enquanto humanos
escolhermos entre o mundo e a arte, visto que, entre os ‘nossos sentidos’ e a pintura absoluta:
estão todos entrelaçados.
Este processo de constante circularidade e recursividade entre sujeito e objeto dá-se
sempre de forma relacional. Pensamento e linguagem participando desta mesma pintura, em
um processo de interações e retroações, tanto em meio a momentos de luz quanto em
momentos de sombra, de clareza e escuridão, de noite e de dia, a partir do que já se conhece e
do que ainda há de se conhecer. Visto que, “potencialmente todo sujeito é não apenas ator,
mas autor, capaz de cognição/escolha/decisão”(MORIN, 2008, p. 127), em relação a seu
próprio processo construtivo de conhecimento e vida. Assim, pela participação ativa e
interação uns com os outros, aprende-se vivendo e vive-se para aprender conforme assegura
Maturana e Varela (2001).
Durante o desenrolar deste movimento, a vida se desvela como em uma combinação
de cores, mediante o holomovimento entre o Eu e o Tu (BUBER, 2001), entre o tudo e o nada
(MORIN, 2007), entre o que se faz vida e o que ainda estar por se manifestar (PONTY,
2013), entre o saber objetivo e o saber subjetivo (MATURANA; VARELLA, 2001; PAUL,
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2013), indo-se além do realismo científico para manifestar a essência constituída no
entremeio dessa relação indissociável e complementar entre essas polaridades que são
necessárias e indissociáveis para uma vida criativa e produtiva como assim assegura May
(2009).
Essa capacidade de lidar com esses paradoxos possibilita ao sujeito uma vida
emocional e mais intelectualmente saudável. Visto que, essas polaridades são faces de uma
mesma realidade humana, a de ser e estar no mundo, de ser presença e fazer-se presença, pelo
pensar, dizer e fazer. Este fazer no sentido de agir, pois segundo May (2009, p. 26) “é no
vivenciar essa relação dialética entre sujeito e objeto é que a linguagem humana, a matemática
e outras formas de simbolização nascem e desenvolvem-se”. Acrescenta ainda este autor que
foi entre os dois extremos desse dilema que o homem desenvolveu os símbolos, a arte, a
linguagem e o tipo de ciência que está sempre se expandindo nas suas próprias suposições.
Neste artigo refletiremos sobre a arte da pintura sobre tela como uma das formas de
expressividade da sabedoria humana e de acesso ao mundo e de comunicação que se faz
possível, por meio da relação do sujeito com a arte, pois esta é uma entre as mais diferentes
linguagens capazes de potencializar processos de expressividade humana imaginativa e
criadora. Resultado da vivência do autor e autora durante a produção e desenvolvimento
expresso por meio da linguagem artística sobre a pintura de telas, descrita a partir de 3
“pinceladas”. Na primeira “desenhos” de fundamentos sobre arte e fenomenologia; em
seguida “coloriremos” ao descrever a experiência vivenciada pelos autores na produção
artística a partir da pintura sobre telas entrelaçado pelo seu sentido para o processo de “trans-
formação” sob o olhar da fenomenologia e; por fim, algumas “pinceladas” conclusivas ainda
que provisórias, da vida em eterna “arte-construção”.
Arte e Fenomenologia
Arte, do latin ars, significa técnica ou habilidade humana, manifestadas nas dimensões
estéticas e/ou comunicativas por meio de variados tipos de linguagens, que são classificadas
como artes plásticas, arquitetura, literatura, música, dança, fotografia, cinema, teatro e, na
atualidade, em artes digitais, bem como, nas suas criativas articulações interdisciplinares,
possibilitando variadas novas classificações, que expressam emoções e reflexões na vida à
vida interrelacionadas com às coisas do mundo. Entretanto, muito do que consideramos arte
na atualidade, não era considerado como tal por culturas diferentes da nossa ou pela nossa
própria cultura no passado (BECKETT, 1997).
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A definição do que é arte, demanda um complexo e inconsistente estabelecimento de
parâmetros que acompanha a historicidade e expressa os tempos vividos, culturas e
ideologias, estimulando tanto a consciência do criador da obra e de quem a aprecia, em
diferentes dimensões individuais de percepções, ideias ou emoções. Portanto, por uma
abordagem histórica, uma obra que pode ser considerada como arte numa época em outra
época pode ser considerado como não arte. Enfim, o que aqui apresentamos como relevante é
o ato do fazer artístico capaz do resgate da subjetividade, de abarcar uma oportunidade ao
estudo ontológico do ser que se refere ao ser “em si” e a sua consciência enquanto ser,
refletido nas realidades fenomenológicas que é apresentado ao indivíduo.
Fenomenologia significa o estudo (logos) ou a ciência do fenômeno. Ciência que
requer por parte do sujeito um constante exercício de reflexividade sobre os fenômenos que
se mostram a consciência, tendo como um de seus principais pressupostos a tarefa de
estudar a significação das vivências intencionais da consciência para então perceber o sentido
do fenômeno. Fenômeno, no sentido designado por Husserl, “como tudo que
intencionalmente está presente à consciência, sendo para esta uma significação” (ZILLES,
2002, p. 6). Ou seja, “tudo o que aparece, que se manifesta ou se revela” no mundo físico
(Ibidem, p. 11). Ainda, “tudo aquilo de que podemos ter consciência, de qualquer modo que
seja” (Ibidem, p. 12). “É o que aparece à percepção” (GOMES; CASTRO, 2010), o que se
pode perceber.
Segundo Ponty (2011, p. 3), a fenomenologia estuda a essência da percepção, da
consciência, buscando situá-la na existência, mediante as interações constituídas entre sujeito
e objeto em constante relação. É uma filosofia transcendental que coloca em suspenso, em
epoché, qualquer tipo de julgamento, para uma compreensão das essências das coisas para
além do que se mostra, do aparentemente visível. Enquanto revelação do mistério do
mundo e da razão, a fenomenologia não está preocupada em explicar ou analisar os fatos,
mas de descrever a experiência humana da vida. Descrição esta no sentido de saber falar da
impressão que o sujeito teve ao interagir com o fenômeno, buscando o desvelar de sua
essência no exato momento em que sujeito e objeto entram em relação. Ou seja, a partir do
movimento constituído por uma consciência que vai em direção ao mundo, ao encontro com a
essência das coisas mesmas em relação e movida sempre por uma intencionalidade. “Buscar a
essência da percepção é declarar que a percepção é não presumida verdadeira, mas definida
por nós como acesso à verdade” (PONTY, 2011, p. 14). Até porque, o mundo não é o que
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o sujeito pensa, mas o vivido e por ser inesgotável é impossível possuí-lo. E esta percepção
será sempre a vista de um ponto a partir do qual é possível perceber outros objetos.
Sujeito e objeto nesta relação estão completamente imbricados, atuando ora
como produto, ora como produtores. Ambos são interdependentes e um não existe sem o
outro. Como diz Ponty (Ibidem, p. 4), “o homem está no mundo, é no mundo que ele se
conhece” enquanto parte desse todo indivisível projeta algumas sombras que só existe pela
presença da luz. O mundo fenomenológico não é a explicação de um ser prévio, mas a
fundação do ser; a filosofia não é o reflexo de uma verdade prévia mas, assim como a arte, é
a realização de uma verdade (PONTY, 2011, p. 19). Visto que, “a fenomenologia refere à
subjetividade, que é o sujeito cognoscente, com o objetivo de saber como o sujeito exerce a
capacitação para o conhecimento” (GOMES; CASTRO, 2010, p. 82).
Neste sentido, um dos feitos da fenomenologia foi unir o extremo da subjetividade
ao extremo objetivismo em sua noção do mundo ou da racionalidade:
o mundo fenomenológico é não o ser puro, mas o sentido que transparece na
intersecção de minhas experiências, e na intersecção de minhas experiências
com aquelas do outro, pela engrenagem de umas nas outras; ele é portanto
inseparável da subjetividade e da intersubjetividade que formam sua unidade pela
retomada de minhas experiências passadas em minhas experiências presentes, da
experiência do outro na minha (PONTY, 2011, p. 18).
Neste processo, a reflexão é fundamental. Reflexão esta no sentido de colocar todos
os apriori entre parênteses para ver brotar as transcendências, o inusitado, o novo, aquilo que
se faz presença no exato momento em que o sujeito entrega-se e desprende-se de
quaisquer julgamentos para contemplá-lo, apreendendo o mundo à medida que caminha em
sua direção. E por meio da linguagem fazer as essências presentes nesta relação existirem,
tomando-se consciência dela, pela busca daquilo que de fato são para nós antes de qualquer
conceito já em nós impregnado, antes de qualquer retorno sobre nós mesmos. Mas apresentar
o mundo tal como o é para nós, tal como o percebemos.
A fenomenologia enquanto filosofia ensina a reaprender a ver o mundo sob novas
óticas mediante a atitude de espanto e admiração. Nesse sentido, pela postura
fenomenológica é possível entrar em movimento pela contemplação de uma obra de arte
ou mesmo durante o estado de sua criação. Visto que uma pintura pode significar o mundo
em profundidade, pode ser instrumento da expressividade humana.
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Práxis artística fenomenológica
A vivência da práxis artística utilizou a técnica mista, combinando colagens e pinturas
com tintas acrílica e óleo sobre tela. Técnica oportunizada durante realização de uma
Formação em Docência Transdisciplinar, cujos autores foram partícipes, atuando como
discente e docente. O desenvolvimento do programa de formação e esta pesquisa-ação
investigativa foi realizada nas dependências do futuro Instituto de Meta-ArteDesign – IMAD,
no Distrito Federal, que teve início no ano de 2014, em contínuo. Caracteriza-se como uma
vivência práxis em artes e ao mesmo tempo como uma formação continuada em didáticas
transdisciplinares de ensino e aprendizagem, cujos encontros docentes se dão uma vez por
semana, nas tardes dos sábados. Relevante salientar que todos os docentes participantes são,
por vezes, discentes e aprendentes.
A experiência logo abaixo relatada aconteceu em três encontros vivenciais. O
primeiro ocorreu no último sábado do mês de Março de 2015 e nos dois sábados
subseqüentes do mês de Abril de 2015. O desejo por fazer um diálogo entre Fenomenologia e
Arte emerge a partir dos estudos dos autores do artigo cursistas de programas de pós
graduação da Universidade Católica de Brasília – UCB, em disciplinas de Mestrado em
Educação e Doutorado em Psicologia; bem como, das seguintes perguntas mobilizadoras: O
fazer artístico à luz da Fenomenologia oportuniza uma trans-formação do ser? Quais
ponderações emergem das interrelações do sujeito (o artista) com o objeto (sua obra de arte)?
Para o alcance dos objetivos realizou-se uma pesquisa qualitativa apoiada numa
concepção filosófica construtivista social visando compreender o mundo em que os sujeitos
vivem e trabalham, cujo problema foi tratado a partir das interações entre os indivíduos. Visto
que quando imersos na própria cultura os sujeitos estão inevitavelmente aprendendo o tempo
todo, a partir das experiências e ideias que compartilham e vivenciam com os seus pares.
A pesquisa caracterizou-se como uma pesquisa prática – Pesquisa-Ação participativa
ou cooperativa, que segundo os autores: Hernández Sampieri, Fernández Collado e Baptista
Lucio (2013) tem por finalidade resolver problemas cotidianos e imediatos e melhorar
práticas concretas, onde os membros do grupo, organização ou comunidade atuam como
copesquisadores. Assim, nesta Pesquisa-Ação, os pesquisadores e ao mesmo tempo os
participantes interagiram numa dinâmica de interação, que retroalimentou e reformulou
constan temente, tentando superar visões estanques, onde a participação dos sujeitos foram
consideradas como um dos elementos do próprio fazer científico, integrando teoria e prática
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por meio da coprodução de conhecimentos entre os participantes-pesquisadores por meio de
processos comunicativos e colaborativos.
Percursos, resultados e discussões da práxis artística fenomenológica
Para o desenvolvimento da primeira etapa de produção artística foram utilizados
pinceis, espátula, tinta em cores variadas, revistas, cola, tesoura, régua (Figura 1). Sob a
orientação do professor/mediador, primeiro a discente pintou duas telas na cor cinza
para preparação da base da tela, necessário para garantir durabilidade da obra e facilitar os
processos da pintura. Enquanto as telas secavam a discente foi orientada a folhear revistas,
para escolher gravuras que achasse interessante para fazer parte da composição visual da obra,
visto que a técnica utilizada é a técnica mista, que une pintura e imagens impressas ao mesmo
tempo.
No início, foi difícil escolher as imagens impressas. Porém, sob a orientação do
professor, dando dicas quanto a imagens fortes e de boa qualidade compositiva, legibilidade,
força conceitual, ampliou-se o olhar e finalmente as imagens impressas foram selecionadas e
destacadas das revistas. Dica também do professor para escolher muitas imagens, sem ainda
tentar achar um conceito temático. Algumas delas acabariam estimulando a mensagem
criativa que o artista quer expressar. Na oportunidade alertou que na utilização compositiva
muitas seriam deixadas para outras obras, conforme a temática escolhida pela aluna. Assim,
após escolha do conceito a ser trabalhado na obra artística, muitas imagens foram descartadas
para serem utilizadas em outros momentos criativos.
Figura 1 – Materiais utilizados: telas, tinta, tesoura, régua, caneta, revista.
Fonte: Paulo Mendes
Nesse processo “Entre a razão lógica e as pulsões inconscientes cada ser humano se
defronta com escolhas. A pertinência das escolhas, paradoxalmente, não é necessariamente
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associada à parcialidade da lógica em desfavor das pulsões” (PAUL, 2013, p. 91). Visto que,
a realidade é sempre dialógica e os resultados de nossas escolhas, dos nossos
comportamentos são fruto de negociações muito mais entre opostos do que da anulação do
inconsciente em favor do consciente. Até porque isso significaria sufocar o gênio criador
que habita cada ser humano e com ele suas potências vitais. Saber abraçar a sombra
(insegurança, medo) que nos habita de modo a entendê-la e a transcendê-la, saber lidar com
a unidualidade humana (consciência/inconsciência) presente em cada ser, reconhecendo-a a
partir da escuta sensível das limitações do próprio corpo é processo desafiador em cursos de
formação, pois muitas das vezes os sujeitos envolvidos nessas práxis não se autoreconhecem,
não permitem revelar as próprias sombras.
Segundo Chopra (2010, p. 12) “a sombra é um campo fértil a ser cultivado” e
contrário ao que pensamos “é nossa luz e não nossa sombra que mais nos amedronta” (Ibid,
p. 232), pois quanto mais conhecemos mais ascenderemos em níveis de consciência e mais
serão as possibilidades para provocarmos transformações em outros que nos rodeiam, pois
“quanto mais forte for a luz, maior a sombra” (Ibid, p. 79), maiores serão os desafios, e assim
melhores nos tornamos enquanto humanos, possivelmente. A sombra diz respeito a tudo
aquilo que nos impede de transcender, de nos humanizar, de resistência ao novo, de
rompimento com nossas próprias cegueiras epistemológicas tendo em vista a busca por um
conhecimento mais integrado.
Após as telas secas, a discente recebeu informações sobre fundamentos geométricos,
divisão áurea do espaço e subdivisão do todo em partes harmônicas, criando no cruzamento
das linhas pontos de referências de harmonia entre o todo com as partes. Para o traçado foi
utilizado régua e caneta, marcando pontos e ligando-os de um ponto a outro, montando retas
entrelaçadas em forma de uma rede de pontos interconectados (Figura 2). Após os riscos
feitos sobre a tela, a discente passou a escolher a imagem e fazer estudo onde colar as
imagens, ancorando-as nos pontos e linhas obtidas. Após a definição, foi feita a colagem da
imagem sobre a tela, após recorte das imagens impressas próximas que não seriam utilizadas.
No momento de colagens das gravuras, sem formas e sem modelos a seguir, a insegurança e
indecisões emergem.
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Figura 2 – Pintura das telas na cor cinza e traços
Fonte: Paulo Mendes
Notou-se então a importância do papel do professor/mediador como encorajador,
motivador e fortalecedor da autoconfiança, impulsionando a aprendiz (a discente) a seguir em
frente, com palavras de incentivo: “Pode continuar que você gostará do resultado ao final
da produção da tela”. A partir desta frase é possível concluir a importância da presença atenta
do professor nesse processo para o estudante sentir-se seguro e confiante na realização de sua
produção. A seguir em frente sem medo de errar, de ousar, conduzindo a seu próprio modo a
discente a experimentar processos criativos sem limites, ou presos a modelos. Visto que, seu
papel consiste em conduzir olhares para a essência das coisas, sob uma perspectiva diferente,
além do véu que as ofuscam, tendo em vista ir-se além, pela desconstrução de olhares até
então já construído. A arte possibilita atravessar olhares para além do que se mostra. A arte é
porta de acesso ao mundo. Neste sentido, outras perguntas para além das inicialmente
constituídas surgiram: Como ver para além do que se mostra? Como desconstruir o
construído e construir o novo a partir do velho, do já conhecido para reconhecer outro de
modo reconstruído?
Neste processo de encontro entre a experiência vivida e ainda a se viver o sujeito
vai encontrando e construindo as próprias formas de dizer, de se expressar, de materializar o
imaginado, de acordo com suas experiências durante a vida, criando a sua própria forma
criativa de tessitura e de elaboração de conhecimentos mediante a expressividade pela
linguagem simbólica e artística. Neste processo de elaborar que requer do sujeito a tomada
de decisões a todo tempo a partir das suas próprias escolhas, os caminhos vão sendo
construídos e reconstruídos, o que permite dizer que aprender é movimento, é tessitura
reconstrutiva que muitas das vezes os resultados fogem dos inicialmente pensados, pois
a cada ponto de bifurcação, a cada colagem, pincelada, um novo caminho se abre para
novas aventuras neste processo de conhecer pela arte, pelo envolvimento do artista com a
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própria obra, que requer autoria, criatividade. Tudo isso expressa pelas vivências e
aprendizados construídos ao longo da vida. Um constante processo em que o sujeito artista
projeta-se em busca de um horizonte, de um ideal a ser vivenciado em consonância com sua
própria história de vida.
No processo de apreender a realidade baseado na produção artística, o sujeito
necessita integrar os conhecimentos já anteriormente acoplados em seu ser com os ainda a
serem incorporados e assimilados com significância, para dar novos sentidos ao que ainda
não faz sentido. A descrição da realidade na perspectiva da fenomenologia, os autores da
obra também passam por momentos em que seleciona, erra, retorna, compreende o erro e o
reconstrói no sentido de materializar o pensado. Para a arte o erro é apenas mais um processo
para um novo recomeço e uma nova reconstrução. Requer dos sujeitos, por outro lado,
habilidades e competências para apreenderem e materializarem o conhecido de acordo com
os desafios assumidos. É um processo que requer muitas idas e vindas, persistência,
disciplina, envolvimento com a obra de arte. Um encontro da razão com a emoção, da
motivação interna e externa no sentido de estabelecer o encontro com equilíbrio e
materializar o percebido, pelo estabelecimento do encontro entre o saber objetivo (reflexivo)
e o saber subjetivo (pré-reflexivo), do pensamento e da emoção.
A confiança, a espera, a clausura operacional são alguns caminhos possíveis para
interconectar os saberes em prol do prazer e da satisfação de ver o seu objeto sendo
criado e materializado. Criador e criatura nesse processo entram em processo de simbiose,
cuja relação se entrelaça de tal forma que produtor e produto são duplos e ao mesmo tempo
únicos, em que um depende do outro, não vive sem o outro, ambos atuam e convivem em
relação, modificando-se mutuamente.É vida que gera saber e este saber regenera o próprio ser.
Aprender, portanto, nesta perspectiva de interações e retroações requer movimento,
cujo protagonista busque participar de uma rede de significado e significância à medida que
ao ir à busca do conhecimento, o sujeito se envolva, entregue-se, emitindo toda a sua energia,
em profundidade, tendo em vista estabelecer o encontro, concretizar o tão desejado
conhecimento, presentificar o fenômeno. É um eterno movimento em que tanto o olhar do
observador quanto o do observado são importantes, interdependentes e cujo processo tanto
altera a ótica do artista em relação à obra, à vida, ao meio, quanto esta também é
transformada.
No desejo de ver a obra ser produzida, o sujeito vai fazendo escolhas, traçando os
caminhos com pinceis e tintas que o leve a superar os obstáculos, a transcender para atingir
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os objetivos, ou seja, materializar o vivido ao se mostrar. Sair de um contexto do mundo
imaginário para o mundo real. Neste processo é possível compreender os autores Maturana e
Varela (2001), quando dizem que vivemos para aprender e aprendemos para viver. Ou seja,
vida e aprendizagem não são processos separados, mas completamente imbricados.
Assim, é mister dizer que o autoconhecimento é condição humana necessária a ser
ensinado em contextos formativos para que o educador ao voltar o olhar para dentro de si
mesmo possa se colocar no centro de seu eu, na perspectiva de ascender-se para outros
níveis de realidade e percepção no que diz respeito à vida tanto pessoal quanto
profissional. Tudo isso mediado por processos cognitivos, afetivos e operacionais.
Em relação aos processos construtivos de conhecimentos em ambientes formativos,
os momentos de sombras, de escuridão, de insegurança, de falta de confiança, entrelaçam-
se, se atravessam e se esmaecem a todo o momento entre os caminhos de luz,
constituindo-se realidades intimamente interligadas, partes constitutivas de uma mesma
existência, ou seja, a da condição humana de ser e existir. Por conseguinte, desafiando o
sujeito/aprendiz/educador a fazer escolhas, tomar decisões, a entregar-se, sintonizando-se
com a vida, sem se deixar dominar por um ou outro (luz/sombra). Isso requer de certo
modo reconhecimento de nossa própria condição humana, pelo encontro consigo mesmo,
para melhor percepção sobre nossas capacidades e disposição para irmos além, pois segundo
Morin (2010), é neste ‘além’ que tem lugar a plenitude da humanidade.
Apostar na possibilidade de a condição humana se realizar na sua inteireza é levar em
conta a relação dialógica entre o sapiens e demens (MORIN, 2007), a luz e a sombra
(CHOPRA, 2010). Acreditar que o sim-bólico e o dia-bólico (BOFF, 1998) são facetas da
mesma realidade permite uma compreensão mais intensa e significativa da realidade atual
de formação de professores. Buscar, ainda, uma sinergia que brota da teia da vida, na
qual se entrelaçam a ordem e o caos, é potencializar a vida para que possa ser vivida em
sua plenitude e possa viver o dilema humano, como a capacidade do homem de se perceber
nesse todo ora como parte, ora como todo, ora como objeto, ora como sujeito. Visto que, são
faces necessárias a serem reconhecidas à ciência psicológica, à existência significativa e
podem propiciar o desenvolvimento humano, bem como o aprofundamento e ampliação da
consciência humana.
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Um olhar fenomenológico sobre o olhar que olha...
Com todas as suas cores, texturas, traços, formas, figuras, profundidade, movimento,
a obra de arte finalmente emerge, compondo desta forma a produção artística colocada como
um dos desafios da primeira etapa da formação. No desfecho da obra o sujeito já está
totalmente a vontade com o fenômeno apreendido que já nem mais deseja dissociar-se
da relação fortemente constituída. Por outro lado é grande a alegria e a satisfação de ver a
obra finalizada, de se ter chegado aos objetivos traçados. Durante o processo de
desenvolvimento da obra, alternam-se sentimentos de insegurança, medo, incertezas. Ao
concluir a obra, os sentimentos passam a ser de orgulho por parte do artista por ter sido
capaz de produzir algo até então não pensado em todos os detalhes a priori. Estas emoções
sentidas funcionam como impulsionadores ao sujeito para que este possa perceber o quão o
ser humano é capaz de pensar, produzir e saber dizer sobre a experiência vivida, por meio de
outras linguagens para além da razão.
Assim, no entremeio da relação constituída entre o artista e sua obra de arte (o
fenômeno) a cada novo processo, novas aventuras se instalam, a cada produção um novo
extrapolar de limites. Superar-se é a palavra chave para apreender a realidade e a
presentificá-la por meio da expressividade da produção artística, neste contexto, por meio da
pintura mista em telas.
Por meio desta experiência a discente ficou totalmente motivada para se inserir em
novos desafios. A estabelecer novas relações com outros novos fenômenos a serem
instaurados, novos conhecimentos a serem apreendidos e integrados com os já de antemão
constituídos. É aprendizado, é vida em movimento gerando e regenerando-se o tempo
todo. Um novo ser se transforma e é transformado a cada dia, a cada novo desafio, a cada
vez que se relaciona com a vida, consigo mesmo e com as experiências do outro que são
fundamentais para enriquecer os olhares de outrem a partir de suas experiências também
vividas durante o percurso da vida. A obra concluída é o resultado não apenas dos sujeitos
principais que a produziram (discente e professor mediador), mas de uma inteligência
coletiva, de um desenvolvimento histórico-cultural desde séculos que perpassaram e
perpassam ainda hoje os tempos atuais, fortalecendo e fazendo evoluir a história de
gerações e das gerações desta sociedade contemporânea.
Alguns retoques no que ainda estava faltando (Figura 4) e por fim com o seu toque de
mestre, o professor mediador demonstrou e alertou para o uso possível de linhas e círculos,
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sobre as duas partes da obra, objetivando uma maior integração harmônica entre às partes com
o todo constitutivo da obra fenomenológica (Figura 3).
Figura 3 - Um toque de mestre!
Fonte: Paulo Mendes
Figura 4 - Aprendendo com o mestre. Concluindo a obra!
Fonte: Paulo Mendes
Figura 5 - Produção artística concluída.
Fonte: Paulo Mendes
Como é uma obra composta por um díptico (Figuras 5 e 6), conforme rotacionamos
cada parte da obra, formas, simetrias, cores análogas, linhas contínuas que transpassam de
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uma tela até a outra tela permitem composições variadas. Abordagens de possibilidades de
ver ou refletir sobre um mesmo fenômeno.
Figura 6 - Mudam-se as telas e um novo quadro surge!
Fonte: Paulo Mendes
A relação entre a obra simbolizada, a linguagem por meio de seu relato e a sua
interpretação aqui expressa neste formato de artigo traduzem a tessitura aparentemente
paradoxal entre o mundo reflexivo e não reflexivo, entre o que se vê e o que se mostra.
“Esses laços fazem aparecer o ‘motivo’, ou seja, o ‘desejo’ da tecelagem (ou do tecido),
nesse caso o próprio sujeito, que se situa sempre no ponto de junção entre o que ele sabe e o
que ignora (entre conhecido e desconhecido, aparente e oculto, entre si mesmo e os outros)”.
(PAUL, 2013, p. 101).
O fazer pedagógico, neste sentido, pode ser comparado ao fazer artístico
compartilhado pois este é, por si mesmo, a expressão, o veículo e a força motriz dos
relacionamentos humanos. O criativo e receptivo, o fazer e o sentir formam um par que vibra
em harmonia, em mútuo relacionamento e mútua interação. Quando está viva, a arte vibra na
mesma freqüência dos corações. A ressonância que sentimos em nós é um sintoma de
identidade com o que soa. Qualidade, beleza, transcendência são alguns conceitos que não
podem ser definidos racionalmente, mas podem ser reconhecidos quando o ser (autor) entra
em ressonância com o objeto (arte). Não importa quantas vezes lê-se, ousa, ou admira-se
uma obra de arte que tanto se ama, ainda assim é possível sentir algo novo nela, porque a
cada dia o sujeito é uma pessoa diferente, mas também porque existe nela uma amplitude
ou multiplicidade de aspectos capazes de entrarem em ressonância com as mutáveis versões
de si mesmo. E toda essa reconstrução depende das inúmeras experiências construídas em
relação à vida sobre o próprio olhar de quem a olha que será sempre único e insubstituível.
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Algumas pinceladas conclusivas
Quanto mais o sujeito conhece, mais experiência acumula durante a vida e maior é o
grau de consciência e amplitude de sua responsabilidade para com a vida em si e de todo o
planeta. Quanto mais se evolui, mais se está em busca de conhecer a existência. Quanto
mais se avança em busca do desconhecido, do transcendente, do utópico, mais consciência
vai se tomando perante a vida e dos processos que os incita à busca pela felicidade, pelo bem
viver, pela plenitude.
Nesse sentido, reconhecer e superar as próprias limitações, assumindo as faces opostas
da complexidade humana, que ao mesmo tempo atuam ora como sujeito ora como objeto,
complementando-se, é experimentar a condição humana de ser sujeito/aprendiz que interage
na luz e sombra. É cuidar da unidade humana que traz em si os princípios de suas múltiplas
diversidades, ou seja, sua diversidade na unidade ou vice-versa. Assim, em contextos de
formação de educadores “é preciso conceber a unidade do múltiplo, a multiplicidade do
uno” (MORIN, 2010, p. 53) em todas as suas esferas mediadas pelo processo do
autoconhecimento (aprender a ser) com vistas ao desfrute da vida em plenitude, com base na
convivencialidade, alimentadas, segundo Morin (2011), pela ética, a esperança, a harmonia, a
solidariedade; o contexto e o global; e, o sentido do amor e do fazer artístico compartilhado.
Assumir uma postura fenomenológica, neste sentido, como proposto por Merleau-
Ponty ajuda o sujeito a encontrar-se com a própria potencialidade manifestada, pelo
exercício de uma escuta sensível, capaz de se autoperceber e perceber o outro. A sensibilizar-
se diante do vivido, a ter consciência sobre o próprio conhecido, a apreender o mundo em
toda sua inteireza, construindo-se e reconstruindo-se com ele numa relação contínua de
interdependência.
Neste sentido, concluímos que a fenomenologia é uma postura filosófica, um recurso
epistemológico rigoroso e efetivo método para conduzir reflexões em curso de formação
sobre o conhecimento manifestado durante o processo de produção artística, bem como
sobre a existência e sobre o mundo. A arte traduz-se como um dos caminhos favoráveis para
inserção do sujeito como autor e abertura para possibilidade de seu resgate enquanto sujeito
que pensa, outorga sentidos e reconstrói-se no caminhar ao longo da vida.
Assim, concluímos a partir da epígrafe abaixo proferida:
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daí a importância de encorajar uma nova ciência, mais ampla e mais interativa,
fenomenológica e hermenêutica, que ao descrever a realidade em vários níveis
articulando consciente e inconsciente nos fizesse compreender que nós próprios nos
descrevemos. Essa ciência favoreceria o elo entre conhecimento e autoconhecimento
ao envolver cada um em um trajeto histórico como cognitivo. (PAUL, 2005, p. 81).
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