Entrevista Psicológica Judicial
Julho/2018
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018
Entrevista Psicológica Judicial
Suzana Cilira Pedro – [email protected]
Avaliação Psicológica
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
São Paulo, SP, data 25/11/2017
Resumo
O objetivo do presente artigo se localiza no interesse da autora em estudar a entrevista como
técnica de avaliação, fundamental para a psicologia praticada na área jurídica. Como pontos
disparadores, objetiva-se planejar um roteiro de entrevista sugestivo, para que o profissional
psicólogo possa refletir sobre a maneira de operacionalizar suas perguntas. Foi realizada
uma pesquisa bibliográfica na literatura especializada utilizando-se livros, e pesquisas em
todos os index com palavras chaves relacionados ao tema. Descreveram-se os processos de
leitura minuciosa dos autos a fim de se obter com clareza os dados relevantes, o objetivo da
avaliação e as hipóteses psicológicas a serem avaliadas. O planejamento prévio do roteiro
guia constituído de tipos de perguntas que visam alcançar o objetivo do estudo. Relataram-se
variáveis que interferem na obtenção de informações como perguntas mal formuladas, e
atitudes advindas de entrevistado. Ao final, discorreu-se sobre alguns passos para a
realização da entrevista psicológica judicial. Concluiu-se que a técnica de entrevista
semiestruturada é considerada uma técnica de investigação cientifica para coleta de dado
essencial para este contexto, envolvem aspectos e características singulares, e deve ser
planejada com antecedência e focada em seu objetivo de estudo, com a finalidade de uma
coleta de informações reais e confiáveis.
Palavras-chave: Avaliação Psicológica Judicial. Construção de perguntas. Roteiro de
Entrevista semiestruturada. Investigação Psicológica. Manipulação de Informações.
1. Introdução
As pessoas recorrem ao sistema judiciário à procura de uma decisão para resolver um
fator jurídico conflituoso. Elas esperam deste operador do direito um julgamento, uma
solução, um direcionamento de quem tem razão, ou como se deve proceder diante da questão-
problema.
O conteúdo embutido nesta dinâmica que foi judicializada, muitas vezes, está vinculado
às relações e aos conflitos interpessoais das partes, ou com violações de direito (CASTRO,
2005; SILVA e ROVINSKI, 2012). Frequentemente, as questões-problema envolvem
conteúdos considerados delicados, como aqueles relacionados a populações vulneráveis,
assuntos polêmicos e de difícil acesso e diálogo (SCORSOLINI-COMIN, 2016).
E para se alcançar o entendimento da situação, o Juiz, o Promotor, o Defensor público,
ou o Advogado poderão contar com a ajuda de um especialista para realizar uma perícia
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psicológica. Esta tem por objetivo subsidiar o trabalho do juiz, e as intervenções do Estado na
vida dos indivíduos (GÓMEZ, 2012).
A avaliação psicológica será demandada pelo operador de direito, relacionada às
questões psicológicas especificas para a perícia psicológica responder (SHINE, 2008). Logo,
segundo Castro (2005), e Silva e Rovinski (2012: 215) “a pesquisa do psicólogo deve ser
direta e destinada a responder aos quesitos”, pois são fenômenos psicológicos definidos de
forma mais restrita, envolvidos dentro de um quadro de intencionalidade. As questões
psicológicas podem ser apresentadas como exemplificado.
Se esta mãe é ou não suficientemente capaz de proteger a sua filha (como?
Com que tipo de rotina?); Se esse pai tem motivações diretas ou indiretas
para realizar esse tipo de denúncia; Se há interesse do pai pela segurança da
criança ou se há necessidade de atualizar o conflito que levou ao rompimento,
quais são as características emocionais dessas figuras parentais, como se
estabelece a dinâmica familiar, [...] se determinada situação ocorreu, se existe
alguém em situação de risco, se alguém é doente emocionalmente (SILVA e
ROVINSKI, 2012: 215).
Com vistas a estes aspectos, o psicólogo norteará a sua atuação através de uma
investigação minuciosa dos dados reais. Castro (2005) trata disso argumentando que não só é
importante compreender como a criança internalizou as figuras parentais, mas também é
necessário e relevante apreender como são os pais na realidade. Isso porque naquela situação,
a criança ou adolescente podem estar com os seus direitos sendo violados.
Desde o início, segundo Serafim e Saffi (2012), as partes expressam os seus interesses
no resultado da decisão judicial. No entanto, quando recebem a notícia de que terão de entrar
em contato com um psicólogo perito para uma avaliação, elas podem expressar
comportamentos de desconfiança.
Alguns pensam em maneiras de provar a sua inocência e a credibilidade de seu relato.
Outros, na tentativa do resguardo de seus interesses e alcançar o objetivo desejado, podem ser
capazes de emitir comportamentos com intenções conscientes de simulação, dissimulação e
manipulação das informações (SILVA E ROVINSKI, 2012).
Afinal, como comentou Saffi e Serafim (2012), o objetivo das partes é ganhar uma
causa ou assegurar um direito, e não comparecer ao judiciário para uma demanda psicológica.
Com este cenário posto, ressalta Silva e Rovinski (2012), e Castro (2005) o
posicionamento do psicólogo com relação às partes será composta de um vínculo mais
distanciado, com uma confiança relativizada. Por que a sua resposta será de forma objetiva e
neutra, tendo em vista a compreensão do caso, pois a questão-problema nem sempre
conciliará com os interesses das partes.
E uma das formas de se coletar os dados é por intermédio da avaliação psicológica.
Esta é considerada um processo complexo e investigativo, que opera através de
procedimentos científicos de diagnóstico. Para a sua realização exige-se vários instrumentos e
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combinações de técnicas com a finalidade de descrever, investigar e analisar os fenômenos e
processos psicológicos (SAFFI e SERAFIM, 2012).
O método de pesquisa qualitativo, segundo Scorsolini-Comin (2016:18) é a “forma de
acessar determinadas realidades, fenômenos, situações e pessoas a partir de um olhar
diferente, que valoriza o modo como se constrói esse olhar e como os dados são construídos
no contexto”.
A partir desta compreensão comenta Saffi e Serafim (2012), podem-se construir
hipóteses que serão desenvolvidas e refinadas durante a realização da própria entrevista.
Dentre os métodos de pesquisa qualitativa na investigação científica, a entrevista é a
mais utilizada para aferir a coleta de dados ou estudos qualitativos e quantitativos (BLEGER,
2001; SCORSOLINI-COMIN, 2016). A entrevista é considerada um conjunto de técnicas de investigação, de
tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza
conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de
descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo,
casal, família, rede social), em um processo que visa fazer recomendações,
encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção (TAVARES,
2008:47)
Os conteúdos psicológicos são observados e avaliados nesta técnica tem o intuito de
compreender e descrever a dinâmica interna das situações. Bem como, a maneira que o sujeito
descreve sua realidade, suas experiências, sua maneira de compreender o mundo e dá sentido
à vida. E como interpretam estes significados em suas perspectivas e conteúdos
(SCORSOLINI-COMIN, 2016; GÒMEZ, 2012).
Na entrevista, o que vai determinar o norte e a estratégia para utilizá-la será o
delineamento do objetivo específico e a orientação do entrevistador (GÓMEZ, 2012).
Por que o investigador é o principal instrumento e quem direciona o foco da entrevista,
e a sua compreensão dos fatos é o dispositivo chave de análise. Pois faz questionamentos
básicos apoiados e fundamentados em referenciais teóricos e em bibliografias específicas
sobre o tema. Muitas entrevistas podem até extrapolar o alcance de determinados recursos
padronizados (QUINTANA, 2010; SERAFIM e SAFFI, 2012 SCORSOLINI-COMIN, 2016).
E assevera Gómez (2012) que para a maior parte dos casos apresentados no sistema
legal, este instrumento é considerado a única técnica para coleta de dados, por ser um
processo de avaliação intervenção.
Quanto à estrutura da entrevista, descreve Scorsolini-Comin (2016), ela pode ser
semiestruturada, ou seja, é planejada em função dos objetivos propostos, de forma mais
objetiva e com precisão. Permite o registro da comunicação verbal e não verbal, e obter
através da observação alguns sinalizadores como expressão facial, semântica, comportamento
motor, interação, empatia.
Esta técnica é considerada a espinha dorsal nas avaliações devido às suas
características de se adaptar, ser flexível, estrutura-se a qualquer contexto, e a qualquer
abordagem psicológica. Pode ser empregada em qualquer fase do processo de avaliação,
como no início, para uma visão geral da realidade dos fatos, e ao final com a intenção de
afunilar questões que não ficaram claras (QUINTANA, 2010; SCORSOLINI-COMIN, 2016).
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Uma das características da entrevista semiestruturada é a utilização de um roteiro
previamente elaborado. Os questionamentos iniciais desencadeariam novas hipóteses
advindas das respostas do entrevistado, que por sua vez seriam investigadas através de novas
perguntas (SCORSOLINI-COMIN, 2016).
Descreve Scorsolini-Comin (2016) e Gómez (2012) que as perguntas auxiliam no
levantamento de informações. Possibilita correlacionar eventos e experiências, realizar
inferências, e descrever uma dada realidade. Para assim, estabelecer conclusões e auxiliar nas
tomadas de decisão. Atitude esta que assegurará uma confiabilidade e fidedignidade da
informação obtida.
Deste modo, a sistematização da entrevista como técnica de investigação cientifica na
psicologia possibilita um maior rigor em sua aplicação e na coleta de seus resultados
(BLEGER, 2001).
Neste sentido, faz se necessário que o psicólogo planeje o seu trabalho e o cronograma
de execução da avaliação pericial. E as entrevistas devem estar abarcadas neste projeto, de
forma sequenciada e com tempo necessário para a sua efetivação (SCORSOLINI-COMIN,
2016). Um bom entrevistador não só interpreta o que dizem, deve elaborar uma estratégia
adequada para obter os dados mais relevantes (GANGORA, 2012).
Silva e Rovinski (2012) sugerem para facilitar a execução do plano de trabalho, a
leitura prévia dos autos. Especificam que, a compreensão do objetivo norteará não só a
realização da perícia, como também a estimativa do número de sessões, quais pessoas serão
ouvidas, e dentre outros elementos considerados relevantes ao caso.
Gómez (2012) descreveu algumas características de um bom entrevistador na
psicologia forense.
Tem um objetivo perfeitamente delimitado, baseado fundamentalmente nas
perguntas solicitadas pelo juiz. Isto implica a utilização de grupos de
perguntas, sobre o mesmo tema. Mas que perguntas isoladas, e perguntar por
acontecimentos objetivos e indicadores observáveis de conduta. Evitar
perguntas sobre respostas sugestivas pelo entrevistado e que tem pouco haver
com o caso em questão, tentar evitar sua influencias com juízo de valor e
conclusões, registrando os julgamentos, as impressões, os fatos durante a
entrevista, e saber como e quando terminar a entrevista (GÓMEZ, 2012:77).
O autor cita que existe uma diferença entre aquele que pergunta para saber o que se
passa, daquele outro que sabe levar um guia (roteiro), com uma ordem em suas perguntas.
Isso demonstra a capacidade de perceber e reagir a mudanças, formulando as
perguntas com as palavras apropriadas, sem maltratar, sem agredir, sem ferir a sensibilidade
do entrevistado, perguntando com tato, e discriminando o momento mais adequado para
formular segundo os tipos de perguntas.
Por meio das perguntas de sondagem Segundo Gómez (2012) é possível perceber a
habilidade do entrevistador para desenvolver uma entrevista.
O não habilidoso se atém a uma lista de perguntas preparadas, antecipa as
perguntas prematuramente ou é impaciente. O habilidoso ouve
cuidadosamente cada resposta para determinar se a resposta é satisfatória. Se
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não é ele determina a causa provável em segundos e elabora uma pergunta de
sondagem adequada (SCORSOLINI-COMIN, 2016: 76).
Uma sondagem habilidosa descobre informações mais relevantes, precisas e
completas, e pode incrementar uma motivação por parte do entrevistado, porque o
entrevistador parece estar interessado e atento. Além do mais, o entrevistador “destaca ao
possível entrevistado as questões necessárias para a realização adequada da conversa, ou uma
construção de ‘clima’ para está interação” (SCORSOLINI-COMIN, 2016: 122; GÓMEZ,
2012).
Gongora (2012) enfatiza que diferentes maneiras de se perguntar podem limitar,
induzir, facilitar ou dificultar a obtenção de dados e a interação entre entrevistador e
entrevistado.
Deve-se segundo Scorsolini-Comin (2016, p.141), se fazer a seguinte pergunta: “com
este roteiro de entrevista eu consigo atingir o objetivo proposto?”. Cada objetivo pode
envolver um método e um instrumento específico de entrevista, como por exemplos entrevista
de famílias, com terceiros, com crianças, dentre outras essenciais a compreensão do caso.
Por que alerta o autor, que ao se chegar à fase na qual o entrevistador terá de
correlacionar o conteúdo obtido nas entrevistas com os outros instrumentos psicológicos, a
delimitação de quais objetivos terão de ser respondidos por cada um dos instrumentos,
também deve ser pensada.
A relação com o entrevistado não só deve ser pensada com relação às formar de se
perguntar, mas também a interação entre entrevistador e entrevistado para uma boa prática no
desenvolvimento da entrevista.
O entrevistador, segundo Gangora (2012) e Gómez (2012), deve manter o rapport
estabelecido, escutar e observar o sujeito o ajudando a expor informações, respeitando seus
interesses e a maneira de falar. Dando continuidade à entrevista com base no que o
entrevistado verbaliza e expressa em geral. Algumas vezes, se for interessante até deixar que
o entrevistado fale para saber do que se fala, o que não disse e não comenta, do que fala, o
que esta pessoa quer que o entrevistador seja.
As técnicas de clarificação e perguntas de sondagem auxiliarão o entrevistador, no
transcorrer da entrevista, a analisar as inconsistências e os aspectos contraditórios que
aparecem no discurso tanto na verbal, quanto não verbal do entrevistado. Esta postura ajuda a
eliminar ideias irracionais que o indivíduo possa ter e fontes errôneas de informação
(QUINTANA, 2010).
Na relação, o que se pode prever são as perguntas, um roteiro que funcione como um
guia, mas o modo como será enunciado dependerá fundamentalmente de como o entrevistador
perceberá o entrevistado e como ocorrerá o contato. Neste momento a atitude do entrevistador
conta muito para um bom desenvolvimento da entrevista (SCORSOLINI-COMIN, 2016).
O objetivo deste presente artigo se localiza no interesse da autora em estudar a
entrevista como técnica de avaliação, fundamental para a psicologia na área jurídica. Como
pontos disparadores, objetiva-se planejar um roteiro de entrevistas sugestivo para que o
profissional psicólogo possa refletir sobre a maneira de operacionalizar suas perguntas.
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2. Desenvolvimento
O planejamento do roteiro de entrevista psicológica judicial
Refletir a maneira como se estruturará a entrevista e o manuseio de suas perguntas são
aspectos fundamentais para conduzir uma boa entrevista.
O planejamento de um roteiro como um guia flexível norteará a coleta para
informações relevantes, e fará com que o entrevistador não se depare com perguntas mal
elaboradas, e consequentemente com respostas do entrevistado que podem levar a erros na
coleta de dados.
No ambiente jurídico, um elemento essencial na investigação pericial, argumentam
Rovinski (2008) e Gómez (2012: 69), é a coleta de dados de informações relevantes, reais e
confiáveis. “não resulta fácil e nem cômodo recolher a informação mais válida e confiável. As
pessoas, que estão implicadas encontram-se em um processo no qual os fatores emocionais, e
também cognitivos, podem estar sensivelmente afetados”.
O motivo da consulta “é um ponto fundamental que dirige todo o processo para levar a
cabo uma determinada perícia”. Esta demanda pode vir do juiz, do promotor, do advogado, da
parte ou até por uma determinada pessoa que considerou formular uma questão pertinente
para a perícia psicológica responder, e auxiliar o juiz na tomada de decisão mais justa
(SHINE, 2008; GÓMEZ, 2012: 30).
A resolução do Conselho Federal de Psicologia- CFP nº 007/2003 que explica sobre a
elaboração de documentos escritos pelo psicólogo, descreve apontamentos fundamentais
referentes à avaliação da demanda.
Sempre que o trabalho exigir, sugere-se uma intervenção sobre a própria demanda e a
construção de um projeto de trabalho que aponte para a reformulação dos
condicionantes que provoquem o sofrimento psíquico, a violação dos Direitos
Humanos e a manutenção de estruturas de poder que sustentam condições de
dominação e segregação [...] desta forma, a demanda, tal como é formulada, deve ser
compreendida como efeito de uma situação de grande complexidade (CFP nº
007/2003, 2003: 4).
Scorsolini-Comin (2016: 19) afirma que a investigação qualitativa é descritiva e o
investigador deve ter um “olhar não trivial sobre as coisas comuns e cotidianas, pois tudo
pode servir como pistas para investigar o objeto de estudo”.
Nesta perspectiva, Castro (2005) recomenda que se faça uma leitura atenta dos autos e
dos documentos relativos ao caso. Isso ajudará o profissional a nortear os objetivos e o
levantamento de hipóteses sobre o ocorrido, dando lhe as linhas nas quais pautará a sua
atuação e a responder a questão legal que é dirigida ao psicólogo nos autos.
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Por meio destes apontamos nos autos. Relata Scorsolini-Comin (2016) que o objetivo
deve ser bem definido, pontual, claro e preciso, com uma linguagem adequada e igualmente
precisa. Com o intuito de delimitar o conteúdo a ser observado, compreendendo a experiência
destes sujeitos acerca do fenômeno investigado, e que possam ser atingidos a partir de uma
pesquisa com perguntas devidamente planejadas.
Logo, a exploração psicológica dos autos para Gómez (2012: 62) começa captando o
que o operador do direito está perguntando dentro do processo, quais informações são
relevantes e quais condições devem ser investigadas. “o que querem saber? Para quê? Quem o
pede? O que vão fazer com a informação?”.
Esta exploração envolve variantes que intervêm no processo e que devem ser
observadas e analisadas. E para isso, existem alguns questionamentos estratégicos que visam
à avaliação das variáveis.
Quem pode apontar? Como abordar o problema? Quais são as variáveis mais
importantes pra analisar? Que técnicas psicológicas podemos utilizar que
pode nos prestar uma informação precisa e confiável sobre estas variáveis
que me interessa? (GÓMEZ, 2012: 30).
Seguindo o raciocínio, Gómez (2012) denominou de “extra-test” os tipos de fontes
essenciais para a obtenção detalhada dos dados analisados na exploração dos autos:
a) Fontes precedentes do sumário, ou seja, análise dos dados expostos, de como se
desenvolveu o processo e se desencadearam os fatos e a análise das sequelas do
próprio processo. Como cada parte está envolvida, dos informes apontados no
processo, data do delito e da ocorrência, as versões do acusado, da vítima e das
testemunhas.
b) Fontes procedentes de informes é o estudo de documentos como informes técnicos
realizados, ou que podem ser solicitados a outros profissionais. Localizar e escolher as
pessoas para se entrevistar que são importantes para compreensão do caso, dentre eles
familiares, amigos, a polícia, médicos, psicólogos, neuropsicólogo, escolares, laborais,
psiquiátricos. E a depender do caso, entrar em contato com os profissionais que os
realizaram.
c) Fontes biográficas: compreender conteúdos de historia de vida pertinentes ao caso, e
que se referenciam ao objetivo pleiteado. Como o desenvolvimento quando criança,
adolescência, adulto nos aspectos de suas doenças, experiências traumáticas,
escolaridade, laboral, hospitalares e familiares. Como também, saber qual a matéria de
psicológica que está relacionada ao caso.
Discorre Gómez (2012) que no âmbito de exploração, formulação e avaliação do
problema, torna-se necessário que o psicólogo se fundamentar em uma abordagem, métodos e
técnicas psicológicas, conjuntamente, com estudos da literatura especializada sobre o assunto,
para nortear as suas ponderações.
Para cada caso concreto, deve-se desenhar, com base nos objetivos de estudo uma
estratégia metodológica específica para obtenção destes dados psicológicos relevantes.
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E nos métodos de pesquisa qualitativa, a entrevista semiestruturada segundo
Scorsolini-Comin (2016) oferece este suporte adequado para se pensar em um roteiro guia
que se apresente de maneiras distintas a diferentes sujeitos. Por se tratar de um roteiro prévio
contendo uma listagem básica de perguntas com conteúdos claramente constituídos das
hipóteses que foram definidas a partir do objetivo especifico, e formuladas de modo a garantir
que todos os temas vinculados sejam explorados na entrevista.
A entrevista semiestruturada, explicam Quintana (2010) e Scorsolini-Comin (2016),
que é um instrumento com maior flexibilidade e liberdade nas configurações do roteiro guia
permite ao entrevistador a possibilidade de incorporar novas perguntas, exclui-las ou refaze-
las. Assim como, podem ser alteradas as perguntas do guia em sua ordem, readaptando-as
tanto no modo de verbalizar quanto em sua sequência exposta.
O roteiro é o guia principal de uma entrevista (GÓMEZ, 2012). E alerta Scorsolini-
Comin (2016: 126) que a realização de um roteiro guia nem sempre é uma tarefa simples de
se efetuar, “muitas vezes, nossas questões de pesquisa estão mais claras em nossa mente do
que no papel, dai a necessidade de testar esses enunciados”.
E também ressalta, que o entrevistador “esteja bastante familiarizado com o universo
investigativo e da entrevista, bem como domine o tema alvo da entrevista [...] o roteiro
semiestruturado é como um roteiro vivo e em permanente reformulação.” Porque cada
entrevista mesmo tendo o mesmo roteiro, acontecerá de formas distintas em função deste
encontro (SCORSOLINI-COMIN, 2016: 61).
Ao se planejar sua construção com vistas a ter uma maior confiabilidade dos
resultados e a realização da coleta de dados é crucial atentar-se ao seu estilo e as suas
perguntas. Observar se estas são relevantes e permitem que se atinja o objetivo proposto
(SCORSOLINI-COMIN, 2016).
Devem-se saber quais perguntas estão lincadas aos objetivos delineados, de forma a
tangenciar a questão conflitiva. Essas poderão ser especificas de conteúdo direto ou indireto
ou em um conjunto de perguntas direcionadas a atingir o conteúdo proposto (SCORSOLINI-
COMIN, 2016; GÓMEZ, 2012).
Para exemplificar, Scorsolini-Comin (2016) trás um caso sobre postulantes à adoção.
O objetivo é a compreensão de como os postulantes pensam a respeito da temática e do
processo de adoção. Tanto as suas motivações como seu histórico acerca do tema devem ser
abarcados na entrevista.
Além de compreender suas motivações para a adoção de uma criança em acolhimento
institucional, verificar a maneira como estes pais construíram esse desejo, e como tomaram
essa decisão. Quais as expectativas existentes e como entendem a parentalidade. Os tipos de
perguntas que serão planejadas no roteiro.
O que vocês compreendem por adoção? Quando sentiram o desejo ou a
necessidade de buscarem a adoção? O que esperam do processo adotivo?
Como compreendem o processo de preparação necessária a adoção? Como
esperam que seja a chegada de seu filho após a concretização do processo
adotivo?(SCORSOLINI-COMIN, 2016: 57).
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Como também, avalia-se em ambos postulantes a personalidade, o comportamento
social e suas relações interpessoais (laboral, familiar), suas capacidades cognitivas e volitivas,
e a rede de apoio físico e social (GÓMEZ, 2012).
As informações das perguntas podem variar de uma única palavra, ou longas
descrições, ou uma narrativa. E será direcionada pelo entrevistador, e permitindo ao
entrevistado ir compreendendo qual é a dinâmica e o assunto que ocorre durante a entrevista
(SCORSOLINI-COMIN, 2016).
Só que estas perguntas não podem ser expostas de qualquer maneira ao entrevistado,
existem cuidados, relata Scorsolini-Comin (2012), referentes à sequência, quantidade e aos
ajustes necessários no planejamento da construção e formulação das perguntas no roteiro.
No que se refere à sequência, é interessante e recomendado começar as perguntas por
aspectos mais gerais e gradualmente ir para questões mais específicas e particulares
(SCORSOLINI-COMIN, 2016).
Bleger (2001) também recomenda começar a entrevista com perguntas mais gerais,
diretas, simples, claras e sem subterfúgios, sem segundas intenções, e que sejam adequadas à
situação, e evitando perguntas que sejam complexas.
Já o ajuste visa respeitar o entrevistado em suas especificidades linguísticas, costumes,
expressões, vocabulário e sotaques. Observar se são compreensíveis e de fácil interpretação,
ou se abrem margens para dúvidas ou interpretações errôneas de conteúdo, que podem
comprometer a investigação.
Por se tratar de uma situação ansiógena, o entrevistado pode se retrair e considerar que
está sendo julgado e que suas respostas serão avaliadas com termos de certo ou errado
(SCORSOLINI-COMIN, 2016).
Quanto a Quantidade, devem ser balizadas na quantidade de objetivos propostos, e na
complexidade de enuncia-los em uma ou mais perguntas. Cada pesquisador pensara em um
roteiro que demonstre o seu estilo.
Tanto as perguntas abertas quanto às fechadas podem modelar-se de acordo com a
quantidade de informação solicitada, e com o grau de controle do entrevistador.
Alguns preferem roteiros mais amplos e que podem se tornar mais enxutos durante o
contato com o entrevistado. Outros preferem roteiros mais curtos e que deem mais espaço
para o participante organizar seu relato de forma mais livre (SCORSOLINI-COMIN, 2016;
STEWART, CASH Jr., 2015).
Cada tipo de pergunta, explica Stewart e Cash Jr. (2015), tem características peculiares
e desempenham funções específicas. Existem vários formatos, dentre eles, uma frase com um
ponto de interrogação, qualquer palavra, frase, declaração ou ato não verbal que exija uma
solução como resposta.
Tipos de perguntas
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Perguntas Característica Exemplo Atitude do entrevistado
Abertas Informação ampla e
descritiva, não induzindo a
uma única resposta.
Perguntas abertas as respostas
são abertas.
Uma perspectiva geral
Para assuntos novos e
amplos.
Alta: Conte-me sobre
seu casamento?;
Como aconteceu? ;
Quais os principais
fatos? ; Dê um
exemplo.
Moderada: conte-me
experiências que teve
de enfrentar no seu
relacionamento?
Vantagens: encoraja a fala;
Informação espontânea por
representar menor ameaça.
Desvantagem: Escolhe, seleciona,
revela ou esconde a quantidade de
informações. Informações
irrelevantes.
Fechadas Foco limitado e específico.
Restrita quantidade e tipo de
informação fornecida. Exige
a formulação de várias
perguntas para se obter mais
informações.
Conteúdo mais facilmente
induzido pelo entrevistador
Para saber uma resposta
adicional a questões já
relatadas, esclarecimentos e
complementação.
Moderadas: Como
compreende o
processo de
preparação necessária
a adoção?
Altamente: são muito
restritivas, e exige
uma única
informação. Qual é o
seu e-mail?
Vantagens: guiar, controle e direção
das informações necessárias. Induz a
resposta sim e não.
Desvantagens: ele não se revela,
produz respostas curtas por não
estimula-lo a falar. Revela pouco
sobre os motivos que o estimulou e o
levou as escolhas, o agir de
determinada forma, ou o grau de
sentimento ou comprometimento.
Primárias Apresentam temas ou novas
áreas dentro de um tema, e
podem se sustentar sozinhas,
mesmo quando tiradas do
contexto.
O que vocês
compreendem por
adoção?
Neutras Permite que o entrevistado
decida sobre suas respostas.
Sem direcionamento ou
pressão dos entrevistadores.
Você gosta de pescar?
Você já ficou bêbado?
Quer um refrigerante
diet?
Abertas e neutras: o entrevistador
determina o comprimento, os detalhes
e a natureza da resposta.
Fechadas e neutras: escolhe entre
alternativas iguais.
Direcionadas Direciona perguntas, guia os
entrevistados a respostas
específicas. Este tipo de
parcialidade do entrevistador
pode ser intencional ou não
intencional. E sugerem uma
resposta esperada e desejada.
Você gosta de pescar,
não?
Quando foi a última
vez que você ficou
bêbado? (insinua que
ele já ficou bêbado).
Imagino que você
queira um refrigerante
diet?
Dão respostas que sentem que os
entrevistadores preferem ouvir.
E se somado a uma situação
ameaçadora e formal, como a
diferença de status entre as parte, as
percepções ou suposições do
entrevistado, a escolha de palavras, as
roupas, símbolos e sinais não verbais,
o entrevistado respondera conforme
acha que dever se e não o que ele
realmente pensa.
Direcionadas
e carregadas
Extremamente direcionadas,
com palavras fortes e dose de
Você esteve na casa
de seu ex-marido
Provocar as testemunhas; induzir
entrevistados a responder.
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excessiva emoção. E utilizado
tons de voz, expressões não
verbal.
Uso com muita cautela.
ontem? Frases introdutórias: de acordo com a
lei; conforme testemunhas- podem
levar ao entrevistado a dar respostas
aceitáveis, ao invés de expor seus
verdadeiros sentimentos ou crenças.
Tabela 1- Tipos de perguntas
Fonte: Adaptados de STEWART, CASH Jr. (2015) e GONGORA (2012).
Perguntas de sondagem
As perguntas são elaboradas com o propósito de ampliar as respostas incompletas,
superficiais, sugestivas, vagas, irrelevantes ou imprecisas, chamadas de perguntas de
sondagem ou de continuação. Mas este tipo de pergunta somente faz sentido quando lincadas
a perguntas anteriormente expressas (STEWART; CASH Jr., 2015).
Segundo Stewart e Cash Jr. (2015: 55), é através de perguntas de sondagem que pode
se descobrir informações mais relevantes, precisas e completas. A reação surtida no
entrevistado é de que o entrevistador parece atento ao que ele diz, e isso o deixa motivado
para continuar a falar.
Para fazer este tipo de pergunta, explica Stewart e Cash Jr., (2015), o entrevistador tem
de ter uma postura ponderada, paciente e persistente, pontos fundamentais para não relatar
questões que sejam interpretadas e alteradas do seu objetivo principal. Perguntas deste tipo
mal formuladas podem instruir o entrevistado a interpretações errôneas, fazendo-o se sentir
desconfiado e desaprovado.
Como por exemplo, evitar apresentar perguntas quando não for o momento, ou não
colocar palavras de forma errônea na ‘boca’ da pessoa entrevistada, demonstrando deste
modo uma ansiedade e impulsividade por parte do entrevistador (STEWART, CASH Jr.,
2015).
Desta mesma forma, ao se elaborar as perguntas de sondagem, evite a ênfase vocal ao
enfatizar palavras verbalizadas, por que a depender de qual se acentua, o entrevistado pode
entender de maneiras diferentes (STEWART, CASH Jr., 2015). Como, por exemplo: por que
você diz isso? ; Por que você diz isso? ; Por que você diz isso? ; Por que você diz isso?
Tipos de perguntas de sondagem
Característica Exemplo
Fechadas Esclarecimentos: interromper e solicitar
informações sobre pontos focais, que pareçam
importantes ou se encontram confusos, e trás
dúvidas.
Complementação: no final do relato, para obter
informações adicionais pertinentes que foram
omitidas ou esquecidas pelo paciente.
Indica atenção e interesse do
entrevistador.
Como esperam que seja a chegada de
seu filho após a concretização do
processo adotivo?
Silenciosas Para respostas incompletas, ou o entrevistado O que você achou do presente que seu
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parece hesitante em prosseguir. Usar sinais não
verbais como o contato visual, ou/e acena com a
cabeça, gestos que o estimulem a continuar a falar.
filho ganhou? :
- não gostei muito.
(Silencio)
- é porque não achei adequado.
Provocativas Quando é preciso estender a conversa para obter as
informações. Estimula o entrevistado a fornecer
respostas ou a continuar o diálogo.
Ela substitui um silêncio com uma palavra ou frase.
Entendo; continue; é? ;- entrevistador
negligenciou o fato, ou perdeu o ponto.
E? ; E então? ; Ah é? - Um fato
adicional a ser considerado, vendo por
outra perspectiva.
Tratamento de
informações
Verifica se uma série de perguntas abordou todos
os aspectos importantes de um tema.
Pergunte em invés de supor.
Estimula o entrevistado a oferecer informações não
previstas no roteiro previamente elaborado, ou a
preencher lacunas ainda existentes. Como não é
possível planejar ou prever todas as informações
que a parte está disposta a revelar.
Que pergunta ainda não fiz sobre este
acidente?
Há alguma coisa que você gostaria que
eu soubesse?
Informativas Obter informações ou explicações adicionais. Faça
sondagens sobre respostas vagas, superficiais e
sugestivas.
Para Respostas superficiais: O que ela
disse especificamente? ; Fale mais
sobre o encontro com ele?
Para respostas vaga ou ambígua, que
da margem a diferentes interpretações:
você disse que é de uma cidade
pequena? Qual é a população dela?
Resposta que sugere um sentimento ou
atitude: Quando sentiram o desejo ou a
necessidade de buscarem a adoção?
Reformulação Reformule ou reelabore para obter respostas
completas.
Atingir uma informação depois de pergunta
primária.
Os entrevistados podem não responder as perguntas
que são feitas, reformule parte ou toda a questão
original. E neste momento, a depender do caso, use
a ênfase vocal para que a outra parte possa entender
o ponto nodal da questão.
Quando for verbalizada uma pergunta com mais de
uma parte, o entrevistado poderá só responder a
uma delas. Reformule a parte ou as partes deixadas
sem resposta.
Qual é a sua opinião sobre as novas
opções de assistência de saúde da
empresa? :
-não sou favorável a ir atrás do meu
próprio plano.
Entendo como se sente, mas e quanto às
novas opções de assistência de saúde da
empresa?
Reformule as questões de forma mais
clara quando: Entrevistado parecer
hesitante em responder, pode significar
que a questão não ficou clara, ou que o
entrevistador está exigindo algo que o
entrevistado não pode ou não quer
fornecer.
Reflexivas Literalmente reflete a resposta recebida. Deste
modo, o objetivo é verificar e esclarecer a resposta
Isso foi depois que o incêndio foi
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para que você saiba que a interpretou de forma
pretendida pelo entrevistado, se a resposta parecer
imprecisa. Mas não tente direcionar ou emboscar o
entrevistado para dar uma resposta desejada, nem
questionar sua honestidade ou inteligência.
detectado?
Esses foram os lucros brutos do evento
beneficente?
Por ex- presidente Buch, você está se
referendo ao presidente George W.
Buch?
Se não tiver certeza do que o
entrevistado disse ou quis dizer, use
para resolver esta dúvida.
Tipo espelho Elas resumem para garantir precisão. Resume uma
série de respostas ou trocas para garantir
compreensão e retenção precisas. Ela pode espelhar
ou resumir uma grande parte da entrevista inteira.
Para confirmar instruções, elementos de
uma proposta, regimes prescritos,
procedimentos acordados, compreensão
de sintomas.
Se compreendi o que está dizendo, o
seu ex-marido te ligou e você comentou
que seu filho não estava mas ele estava?
Parafrasear Repetir, de forma lenta, palavras ou frases do
entrevistado, e ser prosseguida de silêncio. Para
induz o entrevistado a pensar no assunto.
Machucou...
Não viu...
Tabela 2 – Tipos de perguntas de sondagem
Fonte: Adaptado de Stewart e Cash Jr.(2015) e Gongora (2012).
Variáveis que interferem em uma entrevista: fontes de erros na coleta da informação
Estilos de perguntas construídas que afetam a resposta do entrevistado
Um roteiro de entrevista, em geral, é minimamente estruturado, e ao longo do
processo, muitas vezes, é preciso criar perguntas primárias, fechadas e de sondagem.
Perguntas mal formuladas pelo entrevistador desencadeiam respostas errôneas advindas do
entrevistado.
Stewart e Cash Jr.(2015) enumeram os tipos de formulação de perguntas que devem
ser evitadas pelo entrevistador, por que são perguntas que induzem o entrevistado a erro na
verbalização de suas respostas:
a) Perguntas bipolares: quando se faz perguntas com o começo como: você sabe; você
sabia; você é; você foi; você pode; há e você poderia; o que; por que; como; explique e
fale sobre, dentre outras. O entrevistado pressupõe que só existam duas respostas
possíveis do tipo sim ou não, gosto ou não gosto, quando a intenção do entrevistador era
receber uma resposta detalhada ou específica.
Somente utilize este tipo de pergunta quando tiver a intenção que a resposta só possa
ser bipolar. Para eliminar este tipo de situação, comece as perguntas com palavras ou
frases que denotem e exijam informações detalhadas, sentimentos e atitudes.
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Cuidado com o uso dos por quês, pois, culturalmente, tem-se uma conotação negativa,
de culpado. Somente a utilize para chegar a fatos e não a sentimentos, pensamento e
emoções.
b) Perguntas do tipo Pergunte-me tudo: perguntas extremamente aberta sem restrições ou
orientações ao entrevistado. Este pode ter dificuldade de que modo começar, o que incluir
e excluir e quando terminar. Exemplo: “fale-me sobre você seu casamento, suas
doenças”. Logo, o entrevistador teria dificuldade de interromper a fala do entrevistado.
c) Substituir uma pergunta aberta por uma fechada: é feita uma pergunta aberta e antes do
entrevistado responder, o entrevistador reelabora logo em seguida, para um tipo fechado
ou bipolar; ou quando ainda está elaborando a pergunta mentalmente. Exemplo: fale-me
sobre a sua viagem para a casa de seus pais. Você viu o seu avô por lá?; Ou por que
você comprou uma nova caminhonete agora? Foi por causa do desconto?
d) Perguntas de Questionamento duplo: elabora duas ou mais perguntas ao mesmo tempo
ao invés de propor uma única pergunta precisa. Exemplo: para quais entidades
beneficentes você faz doações com mais frequência e por que as escolheu?; Fale-me
sobre as suas funções na empresa x e na y. A forma como a pergunta é posta, pôde-se
receber do entrevistado vários tipos de respostas parcialmente dúbia, ou responde-las
somente em uma parte, ou as responder de forma superficial. Ou até responder somente a
parte que se lembrar, e escolher uma, ou até reagir negativamente. Para evitar esta
situação, faça uma pergunta de cada vez.
e) Perguntas de Indução: são perguntas que sugestionam determinadas respostas através da
linguagem verbal e de sinais não verbais interpondo sentimentos e atitudes ao
entrevistado. Elas podem ser intencionais (quer influenciar) ou não intencionais (não tem
consciência da indução). Exemplo: você escolheu uma faculdade por que foi escolhida
pela sua namorada? A resposta do entrevistado, para a sua pergunta direcionada, será
distorcida para agradar ao entrevistador, podendo concordar com qualquer resposta que
pareça querer, especialmente, se estiver em posições hierárquicas diferentes. Ou poderá
expressar uma atitude aversiva por se sentir julgado. Induza somente quando houver a
necessidade de induzir, e evite este tipo de pergunta fazendo no lugar delas perguntas
neutras, e escute cada resposta atentamente.
f) Perguntas de Jogos de adivinhação: o entrevistador tenta adivinhar as informações ao
invés de pedi-las. Exemplo: “você foi o primeiro a chegar ao local?”. Este tipo se
caracteriza por uma sequência de perguntas fechadas que receberam respostas de sim ou
não. Para evitar isso, apoie-se em perguntas abertas como, por exemplo, “quando você
chegou?”.
g) Perguntas com Resposta sim ou não: uma pergunta óbvia gerará uma resposta óbvia.
Exemplo: “você quer passar nesta disciplina?”. Para evitar isso, faça perguntas abertas.
h) Sondagem curiosa: é quando o entrevistador se aprofunda em informações que não são
importantes para a investigação. Se for o necessário, faça uma pergunta e se o
entrevistado não achar relevante responder, explique a ele o porquê da necessidade deste
tema ser explorado.
Alertam Stewart e Cash Jr.(2015) e Gongora (2012) que a entrevista semiestruturada
não é um show de perguntas e respostas entre entrevistador e entrevistado ou um questionário
inflexível.
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Perguntas acima do nível de compreensão do entrevistado podem causar
constrangimento ou ressentimento, explica Scorsolini-Comin (2016). Por que segundo este
autor, as pessoas não querem parecer desinformadas, mal formadas ou pouco inteligentes.
Com esta sensação, o entrevistado pode dar informações vagas ou inventadas, por não
admitir que não soubesse, ou até chegar a sentir-se insultado quando as informações são
abaixo do seu nível esperado. Para evitar estas situações, faça perguntas dentro de categorias
ou referenciais em comum (SCORSOLINI-COMIN, 2016).
Observações na entrevista: reflexões sobre as variáveis que interferem na entrevista
psicológica pericial
A observação é uma estratégia intimamente ligada à entrevista psicológica. Enquanto
o entrevistador realiza a entrevista, e faz as perguntas, também, irá observar o que o conteúdo
destas surte de efeito no entrevistado. Pois isto pode ser uma pista do não dito.
Esta é uma técnica que observa o comportamento expresso e constitui uma amostra
das relações sociais interpessoais do entrevistado. Através dela, podem-se compreender
pensamentos, ações e atitudes relacionadas ao tema investigado. Ocampo (2008) relata os
objetivos da entrevista inicial. Observa-se que estão intimamente correlacionados com a
observação psicológica, e serão descritos em seguida:
a) Perceber a primeira impressão que nos desperta o entrevistado, e se esta se mantém
ou se modifica ao logo da entrevista, e em que sentido. Observar aspectos da
linguagem corporal, roupas, gestos, maneira de se move e de ficar quieto, semblante.
Dentre outros comportamentos não verbais.
b) Considerar o que verbaliza o que, como, quando e em que ritmo é realizado. Para
depois comparar isso a imagem que ele transmite através da sua maneira de falar. As
características de linguagem o conteúdo destas verbalizações que escolhe começar a
falar e o que considera como motivo do encontro. Ele tem referência por quais termos,
e o que anula e o que restringe dentro do discurso, se são claros ou existem confusões
no modo de se expressar e escolha de termos. Comenta sobre o passado, o presente e o
futuro, e a utilização do tom de voz.
c) Extrair certas hipóteses da sequência temporal, como foi, é e será o entrevistado.
d) Estabelecer o grau de coerência ou discrepância entre tudo o que foi verbalizado e
tudo o que captamos através da sua linguagem não verbal. O que se expressa
verbalmente é algo menos controlado do que as verbalizações. Tal confrontação
podem nos informar sobre a coerência ou discrepância do que é apresentado no
motivo manifesto e o motivo subjacente.
Aquilo que não se pode dar como conhecimento de forma explicita, nos é fornecido ou
emerge do comportamento não verbal, que irá demonstrar concordâncias e divergências do
que se é dito de forma verbal. A confrontação das interações do que é expresso verbalmente e
o comportamento não verbal, podem transmitir uma congruência ou discrepância sobre o
assunto em questão (GÓMEZ, 2012).
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A técnica de observação é muito utilizada para contrastar as informações obtidas
através das entrevistas, comprovando, através de seu comportamento verbal e não verbal, a
consistência de certas atitudes mostradas pelo entrevistado que falsifica e manipula as provas
psicológicas no âmbito judicial (QUINTANA, 2010; GÓMEZ, 2012).
Isso porque a avaliação psicológica feita no âmbito jurídico, o psicólogo tem a
constante preocupação com as possíveis distorções dos dados por parte dos entrevistados.
Cabe ao psicólogo ter um posicionamento mais crítico e incisivo, e estar preparado e
atento a este tipo de conduta, detectando aspectos que podem contaminar toda a informação
transmitida na entrevista (SILVA, ROVINSKI, 2012; QUINTANA, 2010).
Esclarecem Serafim e Saffi (2012) que o papel do psicólogo é a investigação do
mundo psíquico e o estabelecimento de uma linha de compreensão daquele fenômeno que foi
delimitado. O profissional não está para fazer a coleta de dados afim de levantamento de
provas, nem a condenação, nem absolvição do periciando.
Cada profissional refletirá sobre quais estratégias irá adotar em cada situação
problema. Os casos podem ser parecidos, mas as pessoas são diferentes (GÓMEZ, 2012).
Dentro de um processo judicial, as partes envolvidas procuram a justiça com o
objetivo de resolver seus problemas, e nestes objetivos podem estar relacionados interesses
diversos daquele que originou o processo judicial (SERAFIM E SAFFI, 2012).
Quando as partes recebem uma intimação, relata Serafim e Saffi (2012), para
comparecer a uma avaliação com um psicólogo perito, vivenciam e expressam medo, raiva,
mágoa, ansiedade, angústias, e preocupações diante de uma situação de perícia.
O entrevistado fica desconfiado, tentando provar a sua inocência e credibilidade de seu
relato. Nas entrevistas, muitos acreditam que o problema não é com ele, e sim com o outro
que feriu seus direitos, e se sente “como se alguém estivesse suspeitando de que o problema
seja dele, e não do outro” (SERAFIM E SAFFI, 2012: 67).
Com esta situação estabelecida, o entrevistado fará articulações para tentar obter o
ganho do litígio, e não sofrer as punições coercitivas que serão desencadeadas daquele
processo judicial (QUINTANA, 2010).
E alguns entrevistados demonstram uma resistência a dar informações pertinentes e de
relevância ao caso. As partes podem tentar utilizar-se de artifícios comportamentais de
desconfiança, de omissões, de baixa cooperação nas atividades propostas, manipulação,
mentiras, simulação, e dissimulação (SILVA, ROVINSKI, 2012; QUINTANA, 2010;
GÓMEZ, 2012). Todos são considerados fontes de erros de informação de respostas por parte
do entrevistado.
No intuito de manter determinada situação de poder; ganhar tempo para o alcance de
metas diversas; encobrimento de situações de violência; falsas acusações de maus tratos ou de
abuso sexual, dentre outros. Os entrevistados também experimentam internamente questões
relacionadas à desejabilidade social, à falta de compreensão, aos lapsos de memória, e no
ocultar das verdadeiras opiniões e a variabilidade de suas percepções sobre a situação
(QUINTANA, 2010; GÓMEZ, 2012).
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Para exemplificar, Gómez (2012) relata um caso de pais que comparecem ao tribunal
para solicitar a guarda de seu filho, e os dados confirmam a detecção de algum tipo de
manipulação das respostas. Os pais irão declarar serem os melhores do mundo e que
transmitem uma educação equilibrada e psicologicamente adequada aos seus filhos.
E quando se avalia o filho, não é estranho que o encontre influenciado por alguma das
ideias ou instruções de um dos pais. Diante deste caso, a indagação do psicólogo.
que estratégias de tipo psicológico deveremos adotar para obter uma
informação que não esta contaminada por influências ou variáveis estranhas?
São confiáveis os dados que obtemos? Como os obter? Que estratégias
deveram ser adotadas para se obter as informações psicológicas mais
confiáveis sem contaminação alguma? (GÒMEZ, 2012: 79)
Ao se entrevistar vários integrantes de um grupo, as divergências e contradições são
frequentes, e são fontes de informações sobre o contexto relacional do entrevistado e seus
membros. Observa-se a administração de suas tensões, seus conflitos e a dinâmica psicológica
tanto individual quanto familiar organizada em uma mesma realidade (BLEGER, 2001).
Rovinski (2008) relata que na literatura segundo suas pesquisas, existem autores que
descrevem indicadores de simulação que poderiam ser observados na entrevista. O
entrevistado apresenta uma conduta cautelosa, premeditada dramatizada e exagerada, com
estilo teatral, se referindo a sintomas extremamente severos e indiscriminados. Articulam-se
mediando uma fala lenta, repetindo as questões, e excessiva hesitação.
Demonstra uma inconsistência no próprio relato no que se refere ao diagnostico
psiquiátrico, confirmações de sintomas positivos óbvios em detrimento dos negativos e mais
tênues. Como também, relatos de sintomas contraditórios e dispare entre sintomas relatados e
a observação da conduta, como sintomas raros e não usuais, com melhoras repentinas.
(ROVINSKI, 2008).
A Realização da entrevista
As questões- problema que ocorrem no contexto jurídico envolvem sofrimento e muita
mobilização emocional que disparam situações de estresse e ansiedade no entrevistado.
Scorsolini-Comin (2016) comenta que é muito importante ter em mente que para se
conhecer uma pessoa, o primeiro ponto é entrar em contato com ela, para se evitar
generalizações prévias do entrevistador.
Afirma Bleger (2001) que quando a entrevista é realizada para um terceiro, exige-se
do entrevistador manifestações de atitudes que motivem e despertem o interesse de
participação no entrevistado.
Além disso, deve ter à habilidade de manter a interação, que se refere à continuidade, à
coerência e ao entrosamento entre a fala e os demais comportamentos entre o entrevistado e o
entrevistador (GANGORA, 2012).
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E para isso, utiliza-se o instrumento do Rapport, que funciona como uma orientação,
uma conversa anterior à própria entrevista. O entrevistador irá propor um clima de
aproximação e interação de forma empática, e a criará junto ao entrevistado um contexto
menos tenso e ansiógeno, e que deve ser sustentado durante todo o processo. (GANGORA,
2012).
E a qualidade deste contato inicial poderá interferir significativamente no modo como
as respostas serão oferecidas pelo entrevistado (SCORSOLINI-COMIN, 2016).
E para mantê-la o entrevistador precisa estar atento, para observar e responder a
comportamentos, inclusive o não verbal do entrevistado. Scorsolini-Comin (2016) recomenda
que o entrevistador transmita uma postura com um ar de tranquilidade, criando um clima de
respeito e de acolhimento demonstrando interesse pelo relato do entrevistado. Por que a
depender de quem se entrevista, um ar de formalidade pode afastar o entrevistado. Como
também, um ar muito coloquial, para outros, pode fazer com que ele não confie na
credibilidade da entrevista.
É neste momento que o contrato é estabelecido, no qual serão expostas ao
entrevistado, as funções de todos os envolvidos, de quem pediu a avaliação e como esta
ocorrerá em suas atividades e encontros (SERAFIM E SAFFI, 2012; CASTRO, 2005).
Explica-se que aquele ambiente não é para um tratamento e sim “para entender o que
aconteceu e não para julgar, e que as informações relevantes serão remetidas a autoridade
requisitante”, a quem pediu a avaliação e que julgará o processo, o operador do direito
(SERAFIM E SAFFI, 2012: 67).
O sigilo pode e deve ser garantido ao entrevistado naquilo que é irrelevante para a
matéria jurídica em apreciação (CASTRO 2005; SHINE, 2008). Deve-se sim resgatar dados
considerados relevantes à matéria legal para elucidar as questões ao destinatário do laudo.
Colocando-se com o cuidado de não expor no laudo elementos desnecessários do periciando
(CASTRO, 2005).
Ao se explicar a função do psicólogo para o entrevistado, aconselha Scorsolini-Comin
(2016) a verbalizar que não existem posicionamentos e respostas consideradas certas ou
erradas. A função do profissional é compreender como o indivíduo se posiciona, compreende,
interpreta ou experiência determinado evento, fenômeno ou assunto, tema e objetivo daquela
entrevista, que podem ser diferentes de uma pessoa para a outra.
Obtêm-se informações pessoais acessando uma série de elementos do entrevistado que
podem compor um repertório e dar indícios, ou mesmo evidências, que podem ser úteis no
diagnóstico sobre as normas, os preconceitos, as expectativas, os padrões familiares e as
diferentes características individuais e grupais (SERAFIM E SAFFI, 2012; QUINTANA,
2010; SCORSOLINI-COMIN, 2016).
Em seguida, pede-se ao periciando que conte com suas palavras e de modo minucioso
o motivo que suscitou o exame, e o fator jurídico envolvido (SERAFIM E SAFFI, 2012).
Segundo Bleger (2001) e Ocampo (2009), a entrevista começa por onde começa o
entrevistado.
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E durante o processo da entrevista, o entrevistador terá de ter flexibilidade processo da
conduzindo com fluidez, e segundo a necessidade do caso, poder mencionar, esclarecer,
avançar ou retroceder, e aprofundar as perguntas. Com o intuito de verificar informações
através de convergências e divergências expressas no discurso do entrevistado, a fim de
clarificar e obter as informações sem fostes de erros (GÓMEZ, 2012; SCORSOLINI-COMIN,
2016).
Conduzir a entrevista também significa por parte do entrevistador, manter uma
sequência das ideias, para não se perder de vista os objetivos. Os recursos sugeridos por
Gongora (2012) é valer-se de transições e do timing.
Nas transições é feito o uso de frases ou perguntas adequadas para mudar o assunto, ou
dar continuidade através de intervenções a outros assuntos relevantes. Já o timing é o
momento certo de a intervenção, colocando perguntas pertinentes ou falas introduzidas em
continuidade à fala do entrevistado.
As perguntas podem ser feitas pelo entrevistador uma de cada vez, e ouvindo
calmamente as respostas. A depender do conteúdo expresso pelo entrevistado, pode-se dispor
de outras perguntas correlacionadas ao tema que estão no roteiro guia. Como também, pode
fazer intervenções inserindo perguntas para compreender melhor o que o entrevistado está
relatando. Assim, não deixando dúvidas sobre o relato, porque a qualidade da exposição das
perguntas e o recolhimento das respostas podem afetar a análise e a fidedignidade da
entrevista (SCORSOLINI-COMIN, 2016; GONGORA, 2012).
Alerta Gómez (2012) que em um contexto judicial e de litígio, as pessoas avaliadas
mediante a estratégia de perguntar, sempre tenderam a possibilidade de contestar as perguntas
colocando-as ao seu favor.
Nestas situações, Shine (2008) alerta através de um exemplo, o cuidado e a cautela não
só no planejamento da construção de um bom roteiro de perguntas, mas também para se
pensar outros conteúdos relacionados à interação, como a postura, as questões éticas e
técnicas implicadas nas respostas do entrevistador.
Parece simples de cumprir, mas perguntas simples tais como: “o meu ex-marido já
veio aqui?” Ou “Você já conheceu o meu filho?” Devem ser avaliadas com cuidado e
respondidas com cautela. Afinal, isso (comparecimento ou não a entrevista
psicológica). Ao deixa de ser um dado pertinente à parte atendida. Pode haver a
intenção do uso de tal informação nas interações entre os membros da família em
litígio. Um pai convocado por mim para a entrevista com conhecimento da outra parte
foi preso no saguão do fórum por meio da execução de um processo de alimentos. Em
outro caso, a requerente queria subordinar suas entrevistas à vinda da parte contrária:
“Eu quero saber se ele veio, porque senão eu não vou comparecer de novo aí”. Nesse
momento, temos mais dados para avaliar a forma como está pessoa entende a sua
participação no processo. Este dado poderia ter-se obscurecido se não buscássemos a
preservação do enquadre de atendimento pericial (SHINE, 2008: 6).
Ter uma conduta ética e imparcial é importante para se permitir uma condução de
trabalho adequado. Se a outra parte não se sentir tratada com a mesma ética, respeito, cuidado
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e consideração que ela imagina que o entrevistador tenha com as outras partes. Ela trará
questionamentos, que de alguma forma, para o entrevistado refletem uma zona conflitiva,
angustiantes e até ameaçadoras (SHINE, 2008).
Com o prosseguir das entrevistas, deve-se planejar o encontro com outros terceiros
envolvidos e que podem fornecer informações relevantes. Já o planejamento técnico de outras
entrevistas deve ser construído visando o entendimento do caso. Como por exemplo,
entrevista inicial com os pais para posterior entrevista com a criança (SCORSOLINI-COMIN,
2016), entrevistas semiestruturais individuais ou em grupos; entrevistas com os filhos,
individuais ou conjunto com os pais, ou outras pessoas que convivem e podem fornecer
informações (GOMEZ, 2012).
No início ou durante as entrevistas podem ocorrer dificuldades para entrar em contato
com os pais ou mesmo de encontrar horários comuns disponíveis para que ambos participem
desse encontro. O profissional precisa lidar com essas especificidades e se articular de modo
que tais dificuldades não interfiram significativamente no processo tanto de avaliação quanto
o judicial (SCORSOLINI-COMIN, 2016).
Segundo Gongora (2012) e Scorsolini-Comin (2016:143) podemos nos preparar para a
entrevista em termos de ajuste linguístico, “mas é sempre importante considerar que nossas
pressuposições nem sempre serão confirmadas, de modo que o roteiro pode ter uma redação
mais formal e ser adaptado em função das necessidades observadas durante o contato com o
entrevistado”. É natural ocorrerem ajustes, estes se referem às especificidades do contato
humano que nem sempre podem ser previstas ou controladas.
Conclusão
O objetivo deste presente artigo se localiza no interesse da autora em estudar a
entrevista como técnica de avaliação, fundamental para a psicologia na área jurídica. Como
pontos disparadores, objetiva-se planejar um roteiro de entrevistas sugestivo para que o
profissional psicólogo possa refletir sobre a maneira de operacionalizar suas perguntas.
Tentou-se através deste artigo, descrever a entrevista como técnica de investigação
cientifica. Não está direcionado a um tema jurídico especifico, e sim em modos de se pensar
esta técnica através da entrevista semiestruturada, seu roteiro e formas de fazer as perguntas.
Com o intuito de que qualquer psicólogo judiciário pudesse usufruir destes procedimentos
descritos sobre a sua prática.
Uma das limitações encontradas foi que na pesquisa bibliográfica, a maioria dos
artigos científicos encontrados se relacionavam a entrevista com crianças e adolescentes que
passaram por situações abuso sexual. Foram poucos os artigos ou capítulos de livros que
falavam especificamente sobre o tema o a entrevista psicológica como técnica no judiciário de
forma mais técnica. O tema deste artigo poderia ser mais explorado por outros pesquisadores,
assim melhorando a técnica, e a cada dia nossa prática.
Entrevista Psicológica Judicial
Julho/2018
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018
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Entrevista Psicológica Judicial
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