ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA: A mediação entre pais e filhos
Autora: Margarete Casali Spaniol 1
Orientadora: Profa. Dra. Terezinha da Conceição Costa-Hübes2
RESUMO: A questão de como podemos melhorar a aprendizagem de nossos alunos
no aspecto da leitura vem suscitando diversos debates e o surgimento de diversas
teorias. Considerando a necessidade de melhorar a leitura de nossos alunos,
propomo-nos a desenvolver um trabalho com os alunos da 6ª série do Ensino
Fundamental do Colégio Estadual Júlio Giongo de Pranchita, com o objetivo de
envolver também os pais em um trabalho de leitura, tendo como metodologia a
criação de “Círculos de Leitura”, voltados para os gêneros textuais Lendas e
Causos. Com essa prática, pretendíamos garantir ao aluno a aquisição das
habilidades da leitura, conhecimentos para a vida, cultura geral e valorização
pessoal. Para sua organização e aprofundamento teórico, pautamo-nos em Bakhtin
(1999), Solé (1998), Tiba (1998), Rangel (1990), Zilbermann (1999), Antunes (2003)
e Marcuschi (2008), os quais nos fornecem condições de assimilar as diferentes
formas de ver, analisar e avaliar o conteúdo no qual o próprio aluno está inserido
que é a leitura. A partir dessa proposta, estabelecemos parceria com os pais, no
sentido de ampliar conhecimentos que possam mobilizar a língua oral ou escrita dos
alunos, procurando envolver cada vez mais a família na escola, o que é uma tarefa
fundamental, se desejarmos avançar na melhoria da aprendizagem de nossos
educandos.
PALAVRAS-CHAVE: Círculos de Leitura, Lendas e Causos.
1 Introdução
O contato, desde cedo, com diferentes gêneros discursivos é fundamental
não só para formar o gosto pela leitura, como para transformar os indivíduos em
leitores competentes. Entretanto, para a maior parte de nossos alunos, esse contato
só é possível na escola; mesmo assim, raramente se torna prazeroso, uma vez que,
quase sempre, os momentos de leitura são seguidos de cobranças que impedem a
livre fruição do texto. Por outro lado, a escola não pode deixar a critério do aluno a
decisão de ler ou não: é sua função mostrar que a leitura pode ser uma fonte
1 Aluna PDE 2010, Graduada em Língua - Português pelas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras
de Palmas-PR, Professora da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná- Pranchita-PR. 2 Profa. Dra. do Curso de Letras e do Mestrado/Doutorado em Letras da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE – campus de Cascavel - PR
inesgotável de conhecimentos. Para isso, é possível criar na escola uma situação
que deixe livre a escolha dos títulos de leitura, bem como os comentários dos alunos
e, ao mesmo tempo, incentivá-los a empenhar-se na busca da qualidade de sua
leitura.
A propósito, Zilberman enfatiza que: “a leitura constitui o elemento
fundamental na estrutura do ensino [...] uma vez que está no começo da
aprendizagem e conduz às outras etapas do conhecimento” (ZILBERMAN, 1999, p.
79).
Nesse sentido, a leitura possibilita a apropriação de elementos culturais,
capazes de construir um repertório de conhecimentos necessários para a formação
não somente de um leitor, mas de ser humano com referenciais que o situam em
seu universo. Todavia, estudiosos nos remetem à reflexão de que ler e escrever
bem requer esforço e dedicação por parte do aluno, mas também a mediação
precisa do professor para o desenvolvimento da aprendizagem.
Koch e Elias entendem que: “não devemos preconizar que o leitor possa ler
qualquer coisa em um texto, pois, o sentido não está apenas no leitor, nem no texto,
mas, na interação autor-texto-leitor” (KOCH e ELIAS, 2006, p. 21). Nesse caso, é
fundamental que o leitor considere na sua produção de sentido, as sinalizações do
texto, além dos conhecimentos que possui, pois a leitura e a produção de sentidos
são por natureza atividades orientadas pela bagagem sociocognitiva, pelos
conhecimentos da língua e das coisas do mundo, que são os lugares sociais,
crenças, valores e pela própria vivência familiar.
Alguns de nossos educadores ainda não perceberam que ensinar a língua
passa pela leitura e pela escrita, portanto esses dois eixos devem caminhar juntos e,
consequentemente, desenvolvidos de forma a despertar o interesse do aluno. Para
isso, é preciso criar situações em que possam experienciar o ato de ler com prazer,
o que tem se tornado um grande desafio.
O que leva um jovem leitor a ler não é o reconhecimento da importância da
leitura, e sim, várias motivações e interesses que correspondem à sua
personalidade e ao desenvolvimento intelectual, pois começamos a ler desde o
nascimento e, a partir daí, lemos as coisas no nosso contexto social e nas relações
que estabelecemos com as outras pessoas.
Solé acrescenta que:
[...] poder ler, isto é, compreender e interpretar textos escritos de diversos tipos com diferentes intenções e objetivos contribui de forma decisiva para a autonomia das pessoas, na medida em que a leitura é um instrumento necessário para que nos manejemos com certas garantias em uma sociedade letrada (SOLÉ, 1998, p. 19).
Tal proposta de trabalho é apresentada nas Diretrizes Curriculares do Estado
do Paraná por Bordini e Aguiar (1993) tendo como objetivos: efetuar leituras
compreensivas e críticas; ser receptivo a novos textos e a leitura de outrem;
questionar as leituras efetuadas em relação ao seu próprio horizonte cultural;
transformar os próprios horizontes de expectativas, bem como os do professor, da
escola, da comunidade familiar e social. Pois, é nessa perspectiva que o processo
ensino-aprendizagem em sala de aula exige cada vez mais do professor, dedicação
para que o conteúdo ministrado seja repassado de uma forma mais dinâmica,
eficiente e prazerosa. O importante é vivenciar a força existencial da representação
estética e a beleza da construção do texto e do trabalho com a linguagem (PARANÁ,
2008, p. 74).
Diante do exposto, o objetivo desse texto é socializar uma experiência de
leitura vivenciada com pais e alunos por meio de um Projeto de Implementação
Pedagógica. Para isso, o texto estará organizado da seguinte forma: primeiramente
falaremos sobre os gêneros discursivos focalizando mais especificamente Lendas e
Causos;bem como, sua importância na língua portuguesa. Em seguida,
abordaremos a importância da presença dos pais no apoio que eles devem dar a
seus filhos na leitura, na escola, e finalmente relataremos uma experiência de leitura
envolvendo pais e filhos. Este trabalho busca refletir sobre a necessidade, a
importância e a dimensão cultural da leitura na vida das pessoas e está pautada na
teoria dos gêneros discursivos.
2 O que são gêneros discursivos?
Gênero discursivo é uma linguagem, uma forma de se comunicar, de ordenar
o mundo por meio da linguagem, que ajuda a orientar a conduta das pessoas na
maneira como vão se interagir com o(s) outro(s). O gênero é também visto como um
jeito de olhar e compreender a realidade.
No entanto, é preciso preparar os alunos para compreender a dinâmica dos
gêneros que circulam na sociedade e com isso estarem aptos a interagir, não só na
oralidade, mas também com a escrita.
Com a finalidade de estimular e desenvolver o senso crítico dos alunos frente
à linguagem e à sociedade, destacamos a teoria dos gêneros discursivos e as
vantagens em direcionar o trabalho de Língua Portuguesa, em sala de aula, por
meio desse viés. Sendo assim, não podemos esquecer que conduzir o aluno ao
domínio de um gênero textual não se trata apenas de levá-lo a dominar uma forma
de uso da língua, mas principalmente fazer dele um usuário do gênero estudado em
situações sociais particulares.
A vinculação dos gêneros discursivos aos enunciados concretos introduz uma
abordagem linguística centrada na função comunicativa, em detrimento até mesmo
de algumas tendências dominantes como a função expressiva do mundo individual
do falante. Bakhtin nos afirma dizendo “que os gêneros discursivos sinalizam as
possibilidades combinatórias entre as formas de comunicação oral imediata e as
formas escritas” (BAKHTIN, 2008, p. 161).
Diante disso, pretendemos trabalhar com a diversidade textual presente no
cotidiano do aluno organizando práticas de ensino que venham ao encontro do
interesse e da necessidade social, buscando descobrir, no ato de ler, o prazer e, ao
mesmo tempo, ampliar conhecimentos.
Para isso, há muitos gêneros que podem ser trabalhados na sala de aula, no
sentido de ampliar a capacidade comunicativa dos alunos. Como afirma Bakhtin:
A riqueza e diversidade dos gêneros discursivos é imensa, porque as possibilidades da atividade humana são inesgotáveis e porque em cada esfera da práxis existe todo um repertório de gêneros discursivos que se diferencia e cresce à medida que se desenvolve e se complexifica a própria
esfera (BAKHTIN, 2008, p. 155).
Em nossa vida, estamos inseridos em diferentes ambientes sociais, que nos
proporcionam diferentes práticas discursivas, que são materializadas em textos
quer, por sua vez, representam determinados gêneros. Nesse sentido, os gêneros
discursivos são definidos pela sua estrutura composicional, seu estilo e,
principalmente, por sua intenção comunicativa. Desse modo, tomamos por base os
pressupostos bakhtinianos (1992) que apontam os gêneros discursivos como
componentes culturais e históricos, configurações expressivas de interagir em
conjunto, que ordenam e estabilizam nossas relações na sociedade.
Nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (doravante DCE-PARANÁ,
2008), encontramos Machado dizendo que “os gêneros discursivos são formas
comunicativas que não são adquiridas em manuais, mas sim, nos processos
interativos” (apud PARANÁ, 2008, p. 53). Nessa concepção, antes de constituir um
conceito, a língua é uma prática social e deve orientar a ação pedagógica com a
linguagem.
Tanto os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1998), como as
DCE (PARANÁ, 2008), apresentam como ideia básica a importância de se trabalhar
variados gêneros que circulam na sociedade, não só os gêneros escritos, como
também os orais. Isso significa criar situações de aprendizagem que propiciem aos
educandos ler, conhecer, analisar e produzir diversos textos, reconhecendo seus
diferentes usos na prática cotidiana, fazendo deles instrumentos de inserção social.
Marcuschi pontua que os gêneros textuais/discursivos, ajudam na
organização das operações comunicativas utilizadas no cotidiano, podendo ser
entendidos como “entidades sócias discursivas e formas de ação social incontáveis
em qualquer situação comunicativa podendo ser caracterizados como eventos
textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos” (MARCUSCHI, 2003, p. 19).
Os gêneros discursivos estão fortemente presentes em nosso cotidiano,
porém é na sala de aula o local propício de analisar, criticar, reformular e adaptar a
linguagem que é usada para mediar práticas sociais nas diferentes interações
humanas. Sendo assim, não há como falar em leitura sem abordar os gêneros, pois
o que lemos são textos, de diferentes gêneros, que apresentam finalidades
específicas. E quanto mais conhecermos os gêneros e sua finalidade, com maior
propriedade poderemos lê-los e produzi-los. Nesse sentido, como o foco de nossos
estudos foram as lendas e os causos cabem-nos apresentar algumas
especificidades desses gêneros.
2.1 Lendas e causos: o que são?
Para melhor compreendermos os gêneros lendas e causos, propomos um
estudo teórico a respeito, procurando encontrar caminhos para o trabalho com a
leitura de diferentes gêneros textuais, privilegiando os gêneros ora citados, os quais
comporão o acervo de um Círculo de Leitura criado, envolvendo alunos de 6ª série
do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Júlio Giongo de Pranchita, juntamente
com os pais desses alunos.
Para Tiba (1999, p. 164), “a escola precisa alertar os pais sobre a importância
de sua participação: o interesse em acompanhar os estudos dos filhos é um dos
principais estímulos para que eles estudem mais”.
Nessa perspectiva, contextualizar o aluno sobre os gêneros
textuais/discursivos propostos nesta Unidade Didática ( Lendas e Causos), fará com
que o trabalho sobre a leitura seja o caminho para o aluno se comunicar melhor,
assim poderá resolver com mais facilidade os problemas do seu cotidiano,
transformando-se em cidadãos mais conscientes e capazes de construir suas
próprias opiniões. Lendas e Causos, são gêneros que acompanham história de vida
de cada um, sendo instrumentos muito ricos de trabalho em sala de aula. São
contados e escritos de diversas maneiras, e falam de diferentes temas. Suas
narrativas podem ser buscadas tanto na fantasia quanto nos fatos do nosso dia a
dia. Assim, ficção e realidade podem ser somadas para a produção de Lendas e
Causos.
Sendo assim podemos definir Lendas e Causos como:
Uma vez que se propõem históricas e factuais, [as lendas] devem ser associados na mente da comunidade com algum indivíduo conhecido, marco geográfico ou episódio particular. Todos ou muitos dos membros de um dado grupo social terão ouvido falar da tradição e podem se lembrar dela de forma breve ou elaborada. Esse é de fato um dos principais testes da lenda: que ela seja conhecida por um número de pessoas unidas em sua área de residência, ocupação, nacionalidade ou crença. (DORSON, 1968 apud DÉGH, 2001, p. 43, grifo nosso).
O causo é uma narrativa curta, aproxima-se do conto e como ele, deve ter suas raízes fincadas na realidade histórica do passado, de acordo com (PROPP, 2002, p. 35, grifo nosso).
Esperamos com isso contribuir para um ensino que propicie ao aluno construir
a aprendizagem de uma maneira mais significativa, percebendo que a leitura
apresentada por meio dos diferentes gêneros seja uma fonte inesgotável de
conhecimento, podendo resgatar através dos tempos lendas conhecidas ou não e
poder compartilhá-las com seus colegas e com a própria família, uma vez que serão
resgatados também pelos pais causos interessantes, mais precisamente do seu
tempo de infância. Pretende-se com isso fazer com que o ato de ler seja prazeroso,
capacitando-o para interagir com o outro no contexto social, percebendo e
assumindo o seu papel de transformador da sua própria realidade.
Um aluno que frequenta ambientes em que os livros possuem lugar de
destaque, mediando relações e inspirando atividades, tem mais chances de
perceber a importância da leitura para a vida, e de estabelecer uma relação mais
prazerosa com os livros perpetuando-se na família.
Para que isso aconteça, é importante priorizar, na escola e em sala de aula,
sempre que possível a presença dos pais em atividades que possam reforçar e
enfatizar a leitura com a contação de causos, como instrumento para atender o
mundo, para se relacionar com a cultura, com a língua escrita e com as pessoas.
Tais atividades devem colaborar para a criação de um clima leitor, estimulando e
encorajando a leitura e, consequentemente, a escrita.
3 Envolvimento Escola e Família
As pesquisas não deixam dúvidas quanto à eficácia de uma boa relação entre
a escola e a família, ainda que ela não precise ser assídua nem tão intensa. Conclui
a especialista Maria Helena Guimarães:
O esforço conjunto da escola com a família se traduz num potente
motor para o aprendizado [...] As crianças aprendem desde o
momento em que vêm ao mundo. Uma criança aprende ouvindo
conversas de sua mãe, dentro e fora de casa. Ela aprende quando
seu pai dá-lhe uma chance para trabalhar com pregos e martelo. Ela
aprende quando acha necessário verificar o preço de um
equipamento esportivo num catálogo. Ela sempre aprende com o
objetivo de atribuir significado a alguma coisa, e especialmente,
quando existe um exemplo, um modelo a ser seguido (apud. SILVA,
1983, p. 56).
Sendo assim, podemos reafirmar que realmente a família e a escola precisam
juntar-se, unir suas forças para conseguir atrair e interagir com o adolescente, pois
ele precisa de toda a ajuda. Para Zagury,
A melhor forma de educar é aquela que nos permite ver os filhos crescerem produtivos, seguros, responsáveis, respeitadores, capazes de amar e de serem amados, cidadãos honrados, enfim, tornados seres humanos, no que de melhor esta expressão possa significar para cada homem em particular e para a sociedade em geral. E isso certamente não ocorrerá senão os virmos como realmente são com suas qualidades e defeitos com suas capacidades e limitações. (ZAGURY, 2005, p. 178).
Pinto ainda afirma que “não há aprendizado intelectual sem prazer” (PINTO,
1997, p. 12). Portanto, quando pretendemos realizar alguma tarefa que envolverá
desafios aos nossos educandos devemos partir do princípio de fazê-lo
oportunizando através do prazer, o que por sua vez, oportunizará a aprendizagem.
O professor então deverá ser o mediador desta situação, avaliando as possibilidades
do aluno e envolvendo-o de maneira que seu desempenho seja destacado dentro e
fora da sala de aula. Neste contexto, não temos como negar a participação
fundamental da família, pois será ela que dará a sustentação ao sucesso do
educando, estando junto, participando e presenciando o seu crescimento e
efetivamente condecorando-o quando dos objetivos alcançados.
3.1 A leitura, a escola e a família.
É preciso compreender que, antes de analisar e refletir sobre aspectos
formais da Literatura, os estudantes devem gostar de ler. E isso só se faz de uma
maneira: lendo. Cabe à escola propiciar o acesso às obras literárias e ensinar os
chamados comportamentos leitores: encontrar-se na aventura com os personagens,
comentar sobre o enredo, buscar textos semelhantes, conhecer mais sobre o autor,
trocando indicações literárias. Tudo pelo prazer que a literatura proporciona, de nos
levar a outros lugares e épocas.
Todavia, segundo Rangel:
Ler nem sempre é agradável, seja pelo conteúdo, seja pela forma do texto, seja pelas habilidades requeridas (atenção, concentração, acuidade, perseverança, etc.), seja pelo nosso momento pessoal (RANGEL, 1990, p. 10).
Contudo, se é agradável ou não, não importa: o que importa é que a leitura é
necessária e indispensável para o ensino-aprendizagem e que, por prazer ou pela
“dor”, os nossos educandos estão se não afastados, pelo menos arredios à leitura
como fonte de conhecimento e de ascensão às práticas sociais.
Praticar mais a leitura nos diferentes contextos requer a compreensão das
esferas discursivas em que os textos são produzidos e circulam, bem como o
reconhecimento das intenções e dos interlocutores do discurso. Apoiando esse
pressuposto, Antunes diz que “É por isso que já se pode testemunhar um conjunto
de atuações sociais positivas, na direção de uma crescente consciência da
cidadania cada vez mais integral e efetiva” (ANTUNES, 2003, p. 21).
Esta é mais uma tarefa da escola: fazer com que os pais entendam a
importância da leitura e passem a ajudar mais seus filhos em ações de ensino-
aprendizagem, valorizando o hábito da leitura de textos que envolvem todas as
áreas do conhecimento.
A leitura é um meio pelo qual qualquer indivíduo tem acesso ao
conhecimento, independentemente do tema. Pessoas que tem o hábito de ler são
mais informadas e mais atentas em relação ao que se passa pelo mundo, além de
serem mais politizadas e, dessa forma, exercem a cidadania de maneira mais
consciente. Em suma, a leitura abre um leque de resultados positivos para toda faixa
etária. Nesse caso, como pode ser a participação dos pais no processo de leitura?
3.2 A importância dos pais para o estímulo à leitura
Familiarizar o aluno com textos, como Lendas e Causos, pode ser uma ótima
maneira de trabalhar a leitura como prática social, inteirando o aluno e a sua família
em um trabalho de Círculo de Leitura, procurando, com isso, torná-lo um leitor
participativo, capaz de ler-interpretar-criar e recriar seus próprios textos.
Compreendemos que o ato de ler não deve se restringir apenas à escola e
ser entendido como uma obrigação escolar. Muito mais, a leitura deve ser uma
atividade que ultrapasse os muros escolares, estendendo-se para vida, para as
práticas cotidianas, de modo a constituir-se como partes integrantes das ações dos
sujeitos.
Para que isso verdadeiramente se efetive, a leitura deve começar em casa, se
aprofundar na escola e continuar na vida familiar. Os pais devem ser parceiros dos
filhos no ato de ler e essa parceria deve se estender à escola, mais precisamente ao
professor, apoiando-o nos encaminhamentos didáticos da leitura. Nesse sentido,
3Perrenoud (2000) complementa dizendo que:
Ser competente não significa dominar todas as formas de contatos, mas construir um espaço, uma relação baseada em estima onde a recíproca entre pais e professores seja verdadeira (PERRENOUD, 2000).
Acreditando no pressuposto de que os pais podem ser grandes parceiros na
tarefa de educar para o desenvolvimento das habilidades de leitura, foi que
idealizamos um trabalho de pesquisa com a proposta de compor uma parceria entre
família e escola. Para isso, partimos do pressuposto de que, ambas as partes,
3 Disponível em Http://www.scribd.com/doc/20580357/capítulo-7-Informar-e-Envolver-os Pais- Philippe-
Perrenoud>Acessado em: 20/06/2012.
devem compreender que essa relação deve se manifestar de forma que os pais não
responsabilizem somente à escola, a educação e a aprendizagem de seus filhos e,
por outro lado, a escola não pode eximir-se de ser responsável no processo
formativo do aluno. Pois, as pesquisas não deixam dúvidas quanto à eficácia de uma
boa relação entre a escola e a família, ainda que não seja tão assídua nem tão
intensa.
Para Tiba, “a escola precisa alertar os pais sobre a importância de sua
participação: o interesse em acompanhar os estudos dos filhos é um dos principais
estímulos para que eles estudem mais” (TIBA, 1998, p. 164). Na maioria das vezes,
só a presença dos pais num trabalho, envolvendo-os com os filhos em sala de aula,
já será o bastante para se sentirem valorizados e surgir grandes resultados. No
entanto, trata-se de um conhecimento progressivo e mútuo, podendo contribuir para
ter uma visão mais ajustada de si mesmo e adaptar-se nos dois contextos: família e
escola.
Sendo assim, podemos reafirmar que realmente a família e a escola precisam
juntar-se, unir suas forças para conseguir atrair e interagir com o adolescente, pois
ele precisa de toda a ajuda.
Nesse sentido, Zagury diz que:
A melhor forma de educar é aquela que nos permite ver os filhos crescerem produtivos, seguros, responsáveis, respeitadores, capazes de amar e de serem amados cidadãos honrados, enfim, tornando-os seres humanos, no que de melhor esta expressão possa significar para cada homem em particular e para a sociedade em geral. E isso certamente não ocorrerá se não os virmos como realmente são com suas qualidades e defeitos, com suas capacidades e limitações (ZAGURY, 2005, p. 178).
Como vemos, a socialização é um processo interativo e necessário para o
desenvolvimento sociopsicológico por meio do qual, a criança satisfaz suas
necessidades e assimila a cultura, ao mesmo tempo em que, reciprocamente, a
sociedade perpetua-se e desenvolve-se. É na escola que se constrói parte da
identidade de ser e pertencer ao mundo; nela adquirem-se os modelos de
aprendizagem, os princípios éticos e morais que permeiam a sociedade, embora,
muitas vezes, na escola também se depositam expectativas, dúvidas, inseguranças
e perspectivas em relação ao futuro e às próprias potencialidades.
Partindo desse pressuposto e acreditando na importância da participação dos
pais na vida escolar dos filhos, mais especificamente, em sua formação como leitor,
apresentamos, na sequência, uma experiência desenvolvida durante a
implementação pedagógica do PDE na escola.
4 Relato de uma experiência com os gêneros lendas e causos
O fato de desenvolvermos este trabalho, envolvendo os pais dos alunos, foi
exatamente a necessidade de um acompanhamento maior no que se refere à leitura,
a qual foi confirmada quando aplicamos a provinha de leitura e interpretação, esta
elaborada nos moldes da Prova Brasil. Se partirmos do pressuposto de que é por
meio da leitura que podemos melhorar a aprendizagem de nossos educandos, então
é preciso encontrar meios adequados ou novas fórmulas que possam garantir uma
aprendizagem mais eficaz da leitura, com a participação dos pais. Foi então que
resolvemos organizar nosso trabalho criando um Círculo de Leitura, envolvendo os
pais e os filhos, o qual foi desenvolvido na escola. Procurar envolver mais a família
na escola é uma tarefa fundamental para nós, se desejarmos avançar na melhoria
da aprendizagem de nossos educandos.
Nesse contexto, temos observado durante os nossos anos como educadores
que família esta cada vez mais ausente no meio escolar, motivos estes que são os
mais variados possíveis que vão desde a falta de tempo dos pais devido as
condições exigentes de seus empregos, passando pelo desleixo com o futuro
educacional de seus filhos, até a uma excessiva confiança da família em deixar todo
o processo de educação a cargo dos educadores, que muitas vezes também não
estão aptos a realizarem tais funções e deixam passar despercebidos as exigências
da educação formal do aluno.
Neste sentido, Paro comenta:
Dificilmente será conseguida alguma mudança senão se partir de uma postura positiva da instituição com relação aos usuários, em especial pais e responsáveis pelos estudantes, oferecendo ocasiões de dialogo, de convivência verdadeiramente humana, numa palavra, de participação na vida da escola (PARO, 2007, p. 16).
O autor ainda relata que a partir do instante em que a família confia a
educação de seus filhos a uma instituição, inicia-se um processo de interação, de
troca de informações, onde ambas deverão atuar para garantir uma aprendizagem e
educação de qualidade. Durante este processo é possível que haja diferentes
conflitos. Por isso, é importante que ambas trabalhem de forma articulada e
integrada, para que o processo educativo possa se adequar à cultura e valores dos
alunos, e que a aprendizagem não ocorra de forma fragmentada e impessoal, mas
sim, estruturada e interessante, visando a uma formação de qualidade.
Dessa forma, o que se torna fundamental é criar propostas que viabilizem a
parceria entre família e escola, a fim de estabelecer um campo neutro, centrado no
mesmo objetivo, o de proporcionar ao aluno/filho a qualidade do saber, na educação
formal e não formal nos educandários.
4 Metodologia
Conforme Solé (1998), nas sociedades ocidentais, a aprendizagem da leitura
é encomendada à instrução formal e institucionalizada oferecida pela escola. No
Brasil, por sua vez, divulga-se constantemente índices que apontam para a
dificuldade que os alunos têm em relação a ler e a compreender o que leem. Sem
dúvida, o que mais prejudica a aprendizagem livre e criativa do aluno, é muitas
vezes a própria escola e o sistema do qual faz parte. Segundo Freire:
[...] é preciso pensar numa educação que se fundamente na unidade entre a prática e a teoria, entre o trabalho manual e o trabalho intelectual e que por isso, incentivemos os educandos a pensar certo. Precisamos uma educação que dê valor a ajuda mútua e não ao individualismo, passando a desenvolver um espírito crítico e criativo, e não a passividade de nossos educandos (FREIRE, 2005, p. 86).
Um projeto educativo, nessa direção, precisa atender igualmente aos sujeitos,
seja qual for sua condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural,
bem como as possíveis necessidades especiais para sua aprendizagem. Em outras
palavras: é por meio da leitura que também se desenvolve as capacidades com a
linguagem. Nesse sentido, Bakhtin nos remete à concepção de que:
A linguagem acompanha o homem em todos os momentos justamente porque a linguagem é concebida de um ponto de vista histórico, cultural e social que inclui, para efeito de informação e análise, a comunicação efetiva e os sujeitos e discursos nela envolvidos (BAKHTIN, 2008, p. 65).
Perceber essa natureza da linguagem enquanto produto de uma necessidade
histórica do homem leva-nos à compreensão do seu caráter dialógico e interacional,
pois, tudo o que dizemos, dizemos a alguém e é esse interlocutor presente ou não
no ato da nossa fala, que acaba por determinar aquilo que vamos dizer. Nossas
palavras dirigem-se a interlocutores concretos, isto é, pessoas que ocupam espaços
bem definidos na estrutura social, onde as nossas ideias sobre o mundo se
constroem nesse complexo processo de interação família-escola e sociedade. Aquilo
que pensamos sobre o real está diretamente vinculado aos horizontes do grupo
social e da época a que pertencemos.
Em Marcuschi (2008) vemos que a vivência cultural humana está sempre
envolta em linguagem, e todos os nossos textos situam-se nessas vivências
estabilizadas em gêneros.
Os gêneros têm uma identidade e eles são entidades poderosas que na produção textual, nos condicionam a escolhas que não podem ser totalmente livres nem aleatórias, seja sob o ponto de vista do léxico, grau de formalidade ou natureza dos temas (MARCUSCHI, 2008, p. 156).
Com a finalidade de estimular e desenvolver o senso crítico dos alunos frente
à linguagem e à sociedade, destacamos a teoria dos gêneros discursivos e as
vantagens em direcionar o trabalho de Língua Portuguesa, em sala de aula, através
desse viés. Sendo assim, não podemos esquecer que conduzir o aluno ao domínio
de um gênero, não se trata apenas de levá-lo a dominar uma forma de uso da
língua, mas principalmente fazer dele um usuário do gênero estudado em situações
sociais particulares.
Tanto os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1998), como as
DCE (PARANÁ, 2008), apresentam como ideia básica a importância de se trabalhar
variados gêneros circulantes no cotidiano escolar, não só os gêneros escritos, como
também os orais. Isso significa levar os educandos a conhecer, analisar, produzir
esses diversos textos, reconhecer seus diferentes usos na prática cotidiana, fazendo
deles instrumento de inserção social, além de aprender com eles maneiras de
participar nas ações de sua comunidade.
As DCE ressaltam ainda que o professor, ao ensinar determinado gênero
previamente selecionado, oportunizará ao aluno a análise crítica do conteúdo do
texto e seu valor ideológico, quer na prática de leitura ou de produção (oral e/ou
escrita).
É por esse motivo que nos propomos a envolver a própria família, fazendo-os
pensar sobre suas potencialidades, sua realidade e sobre suas condições de vida,
reflexão essa que pode ser garantida com a leitura de textos de diferentes gêneros.
Cabe à escola fornecer, ao aluno, meios para ampliar e articular
conhecimentos que possam ser mobilizados nas inúmeras situações de uso da
língua (oral ou escrita) com que se depara na família, entre amigos, na escola e no
mundo do trabalho. E por meio de usos da linguagem em situações específicas,
para realizar determinadas atividades sociais, possa usufruir desta a seu favor,
como indivíduo que é dono de suas próprias escolhas.
Propomos, neste trabalho, um estudo teórico e prático sobre a leitura,
procurando encontrar caminhos para o trabalho com a leitura de diferentes gêneros
textuais, os quais compuseram acervo de um círculo de leitura que criamos,
envolvendo alunos de 6ª série do ensino fundamental do Colégio Estadual Júlio
Giongo de Pranchita, juntamente com os pais desses alunos. O objetivo do circulo
de leitura, foi provocar ações de leitura e reflexão, na tentativa de resgatar, no aluno,
o hábito de ler. Para isso, adotamos a seguinte estratégia:
1. Aplicação de uma avaliação aos alunos da 6ª série, focalizando habilidades
de leitura, conforme proposta nos descritores da Prova Brasil.
2. Levantamento das maiores dificuldades apontadas na avaliação.
3. Apresentação desse Projeto de Implementação Pedagógica aos pais,
socializando as dificuldades levantadas por meio da prova.
4. Elaboração de uma Unidade Didática, focalizando atividades de leitura, na
perspectiva de sanar os problemas apresentados. Nas atividades,
procuramos envolver os pais, comprometendo-os a uma parceria, no sentido
de melhorar as capacidades de leitura de seus filhos.
5. Dentre as atividades, criamos um círculo de leitura a fim de podermos discutir
as dificuldades levantadas e, assim, procedermos às atividades de leitura que
foram organizadas na Unidade Didática, para serem desenvolvidas entre os
pais e alunos em sala de aula ou em outros espaços dentro do âmbito
escolar.
Na sequência do texto, explanamos, com mais detalhes, como se deu a
implementação dessa proposta de leitura.
5 Apresentação e discussão dos resultados
Como não havíamos tido contato com a turma anteriormente, entendemos
que, antes de organizarmos nossa proposta de intervenção centrada na leitura,
deveríamos conhecer as capacidades de ler e interpretar desses alunos. Para isso,
organizamos um instrumento avaliativo, amparando-nos nos descritores da Prova
Brasil para 4ª série/5º ano. Tais descritores se organizam a partir de seis eixos
norteadores assim determinados:
TÓPICOS DESCRITORES
TÓPICO I Procedimentos de Leitura
D1 – Localizar informações explícitas em um texto.
D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.
D4 – Inferir uma informação implícita em um texto.
D6 – Identificar o tema de um texto.
D11 – Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.
TÓPICO II Implicações do suporte, do gênero e/ou enunciador na compreensão do Texto.
D5 – Interpretar texto com o auxilio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, fotos, etc.).
D9 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.
Reconhecer o gênero.
TÓPICO III Relação entre textos
D15 – Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que eles foram produzidos e daquelas em que serão recebidos.
TÓPICO IV Coerência e coesão no processamento do texto
D2 – Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto.
D7 – Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
D8 – Estabelecer a relação causa/consequência entre partes e elementos do texto.
D12 – Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.
TÓPICO V Relação entre recursos expressivos e efeitos de sentido
D13 – Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados.
D14 – Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.
TÓPICO VI Variação linguística
D10 – Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto.
Fonte: Brasil, 2008
Após a aplicação da Provinha Brasil, identificamos que em alguns descritores
nossos alunos obtiveram mais dificuldades de interpretar marcas importantes dentro
do texto. E foi por aí que nós resolvemos trabalhar a leitura de uma forma diferente;
trabalhando com os gêneros discursivos Lendas e Causos, que por sua vez
despertariam maior interesse e com isso poderíamos trazer mais a família para a
escola. A partir dessa constatação organizamos a proposta da criação de um Círculo
de Leitura.
Partindo desse princípio, entendemos que para estreitar os laços entre o
contexto familiar na relação com o contexto escolar, trabalhamos com círculo de
leitura num envolvimento de pais e filhos numa participação um pouco fraca no início
dos trabalhos, acreditamos que pode ter sido pelo fato de não entender o que seria
trabalhado com eles e seus filhos, bem como o objetivo do mesmo que seria
melhorar a leitura e aproximar mais os pais da escola. Sempre tivemos a
participação de 12 a 14 pais e também de alunos, pois o total de alunos
matriculados eram 21. Os alunos envolvidos neste trabalho eram de 6ª série, hoje
chamados de 7º ano do Ensino Fundamental, da seguinte forma: primeiramente
reunimos os pais para expor o objetivo do projeto, falando da importância em
participar, explicando que se tratava de um trabalho de estudo, o qual foi
desenvolvido no período de 12 meses, pelo Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), da Secretaria do Estado do Paraná, o qual funcionava como
mais uma formação continuada para o professor efetivo, ofertada pelo governador
do Estado, amparada em lei. Como resultado deste estudo, seria necessário
desenvolver um trabalho prático na escola e nesse caso procuramos envolver os
senhores pais em atividades de leitura com seus filhos, visto a necessidade de
melhorar a aprendizagem dos educandos em um acompanhamento mais eficaz,
iniciando na própria escola e poder dar continuidade na família.
O Círculo de Leitura foi formado por quatro pessoas em média, e neste
momento como firmamos neste artigo foram distribuídos diversos textos, revistas e
livros que escolhemos na biblioteca para percebermos a direção da leitura, embora
sabiam que iríamos trabalhar Lendas e Causos. Mas, isso aconteceu para que como
fosse um entrosamento no trabalho que ora iriam participar. E entre meio essas
leituras, já haviam Lendas e Causos,os quais estão citados no artigo.Em seguida
esclarecemos que os mesmos deveriam se fazer presentes na escola juntamente
com seu filho quando trabalhado com os pais a cada quinze ou vinte dias. Como
todos concordaram, o trabalho só teve crescimento.
Em um segundo momento, mais precisamente a partir da segunda quinzena
do mês de implantação do projeto, ou seja, no segundo encontro, direcionamos a
leitura por meio dos gêneros Lendas e Causos, os quais estão propostos na
Unidade Didática, uma das exigências das normas para aplicação do projeto PDE,
2010. Sendo assim, expomos os títulos dos textos que foram trabalhados no
processo de aplicação do nosso trabalho.
Porém os textos trabalhados com os pais e alunos e desenvolvidas as
atividades foram: As Lágrimas de Potira e Quem tem Medo de Onça?
Textos Títulos Autores Publicação/Circulação
01 Os Causos das Escrituras Sergio Jockymann
http://www.paginadogaucho.com.br/caus/te-ce.htm. Acessado em 26/07/2011.
02 Medo de Injeção Braz Chediak http://www.violacaipira.com.br/home/index.php?go=causoDetalhe&id=2.Acessado em26/07/2011
03 As Lágrimas de Potira Mitsue Morissava
Maria Aparecida Almeida; Givan Ferreira. Falando a Mesma Lingua. São Paulo:FTD.
04 Lenda da Vitória Régia --------------------
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenda_da_Vitória_Régia.Acessado em 26/07/2011.
05 Quem Tem Medo de Onça?
João Cândido de Carvalho
Mauro Ferreira. Entre Palavras. São Paulo:FTD, 2002.
Esses gêneros foram selecionados por circularem tanto na esfera escolar
como na esfera familiar, pois é comum nas famílias os pais reproduzirem para os
filhos, lendas e causos, mesmo que de forma oral, em encontros com familiares e
até mesmo com vizinhos e amigos. Nesse momento, os grupos já estavam
formados, os quais puderam partir para a leitura dos textos. Além de realizarem a
leitura, os mesmos foram motivados a responderem alguns questionamentos: Qual
era o tema central do texto? Em que época mais ou menos esta história foi
contada? Quais os personagens presentes no texto? É um texto de humor?
Podemos destacar algumas características no texto? Cite-as. O texto escrito está
claro, quanto a sua compreensão? Qual seria a intenção do autor ao escrever este
texto? Você consegue identificar se o texto possui início, meio e fim? Qual a
linguagem utilizada no texto? Quem é o autor do texto? Para quem o autor escreve
esse texto? Onde aconteceu esse fato e quem foram os envolvidos? Com este tipo
de desafio pretendíamos que os envolvidos ficassem concentrados nas leituras
procurando não se dispersarem com assuntos irrelevantes à proposta e que o
exercício proporcionasse momentos de relacionamentos até mesmo afetivos entre
as famílias, tornando-se, assim, uma tarefa prazerosa e recompensadora.
Após realizada esta primeira tarefa, todos voltaram-se para o grande grupo
para a apresentação dos resultados apurados com as questões propostas. Como
tivemos diversos grupos, foram escolhidos apenas alguns para apresentar as
questões, para que pudéssemos juntos perceber o quanto é relevante a leitura em
nossas vidas, seja escolar, familiar ou social. Destacando ainda que o importante é
ter participado dos momentos de leitura, verificando a importância que isso tem na
vida de cada um, bem como conhecer um pouco do trabalho de leitura e
interpretação que se realiza na escola.
Enquanto a leitura e discussão iam acontecendo nos grupos, íamos
circulando entre os mesmos, a fim de diagnosticar possíveis problemas e se por
ventura algum aparecesse o mesmo era sanado imediatamente, proporcionando
maior confiança e consequentemente dando maior relevância a nossa proposta.
Feita a apresentação, recolhemos os textos com as suas devidas respostas para
analise posterior, servido de embasamento para estudos posteriores. Como tema
para o encontro seguinte, solicitamos que pais e filhos trouxessem lendas e causos
que conhecessem, para que pudéssemos reforçar ainda mais essa compreensão.
Sempre deixamos muito claro que, para facilitar o estudo, os pais deveriam se
comprometer em trazer causos por ser mais do conhecimento deles; e os filhos,
lendas que fazem parte do nosso folclore. Procurando sempre por estes tipos de
atividades, embasarmos cada vez mais nossa proposta inicial que era de envolver a
família no ambiente escolar.
No terceiro encontro, uma vez retornando com os textos, procuramos explorar
o contexto de produção para depois irmos ao texto, verificando personagens,
características, sua relação com o fato ou com a época. Isso foi feito nos pequenos
grupos. Aproveitamos para observar se os mesmos conseguiam identificar o que é
lenda e causo. No grupo, cada um contou oralmente o causo e a lenda que trouxe
para a sala de aula, proporcionando momentos de muitas gargalhadas e
descontração, também um dos nossos objetivos primordiais, sendo que temíamos
que nossa proposta fosse se desgastar com o decorrer de sua implantação.
Posteriormente, em sala de aula, somente com os alunos, os causos contados
puderam ser retomados, e em seguida, os alunos fizeram a produção de um deles,
verificando, no momento da escrita, se atendia ao gênero, se apresentava ideias
coerentes, e se utilizou adequadamente a pontuação, ortografia das palavras,
concordância, entre outros, sempre com a nossa supervisão e orientação. Os textos
produzidos foram recolhidos para que com os alunos pudessem fazer a refacção dos
mesmos e, posteriormente, foram apresentados aos pais, pois, o nosso objetivo era
fazer com que se sentissem parte integrante deste processo de interação entre
família e escola, o que proporcionou um resultado fantástico, haja vista, que em
muitos casos os pais jamais tinham tido um contato tão intimo e direto com as
tarefas escolares dos filhos, causando assim satisfação para ambos as partes, ou
seja, alunos, pais e principalmente e nós, como professora da turma.
Em nosso último encontro, os textos que foram analisados pelo professor
foram expostos no mural da escola e em cordel na sala de aula, conforme a
preferência da turma. O objetivo desta proposta era de, além de divulgarmos nossa
proposta PDE, também proporcionar aos demais alunos e colegas docentes um
pouco dos resultados alcançados com o trabalho de nossos alunos. Felizmente
muitos colegas professores nos alcançaram e nos parabenizaram pelos objetivos até
então almejados, o que sem dúvida alguma retransmiti aos grandes protagonistas
que foram nossos alunos.
Na oportunidade, selamos o compromisso de continuar realizando a hora da
leitura na família e esporadicamente voltarmos a reunir os pais para realmente
observarmos se a leitura está de fato acontecendo em casa. Desejamos, com isso,
fortalecer e aprofundar a relação escola e família, aproximando-a da convivência
escolar, buscando o diálogo entre ambas, definindo limites, traçando possibilidades
de melhoria por parte de cada um, contribuindo para a construção da identidade,
autonomia, autoestima e perspectivas dos estudantes, incentivando e fortalecendo a
participação bem como, a organização coletiva de todos os segmentos da escola.
Cabe à escola proporcionar o maior número de situações em que o aprendiz
as utilize significativamente, garantindo-lhe os conhecimentos necessários para que
possa participar plenamente da sociedade em que está inserido. É pensando nisso,
que desenvolvemos este trabalho de leitura com os pais. É nessa interação entre
professor-aluno-pais e escola, que almejamos proporcionar uma aprendizagem mais
eficaz e efetiva. Além do trabalho desenvolvido com os pais, paralelamente
continuaremos trabalhando com os gêneros selecionados, na sala de aula, a fim de
garantir maior aprendizagem aos alunos.
Portando, devemos ter a consciência de que nós, Profissionais da Educação,
temos uma das missões mais árduas e comprometedoras que se pode ter um ser
humano, afinal, somos além de tudo formadores de cidadãos e queiramos ou não
temos de cumpri-la da melhor forma possível, usando de todos os nossos artifícios e
capacidades, a fim de cumprirmos com a grande expectativa que a sociedade nos
deposita, pois, como muitos pais nos confidenciaram, somos nós os professores a
ultima fronteira da moralidade e para mantermos esta bandeira temos de nos
superar dia-a-dia, abandonando muitas vezes nossos próprios ideais para podermos
manter viva a esperança de um país melhor e um futuro melhor para nossos filhos.
E sendo assim é que realizamos nossa proposta do PDE procurando contribuir com
uma sementinha a qual pretendemos cuidá-la para que a mesma cresça e produza
muitos frutos no decorrer de sua longa vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar em que momento o compartilhar de saberes acontece, pudemos
perceber o quanto esses momentos se efetivam nas buscas através dos projetos de
pesquisa, quando professores e alunos se integram e se envolvem para a realização
das atividades ora propostas às quais se tornam muito mais interessantes. E nestas
propostas diferenciadas pode-se constatar que o aluno tanto aprende quanto ensina,
ainda mais quando as atividades fazem o seu interesse, e neste caso inteirando sua
própria família, em um trabalho de parceria entre pais e filhos.
Com as exigências de um mundo cada vez mais competitivo e muitas vezes
atroz para com as pessoas menos capacitadas, o mínimo de conhecimentos e
requisitos que uma pessoa deve ter é saber ler e escrever, pois, sendo proprietário
destas duas virtudes, com certeza o individuo será menos dependente e
consequentemente estará mais capacitado para enfrentar as adversidades que a
vida possa a vir lhe apresentar.
Diante disso, almejamos na escola, amenizar a falta de interesse pelo ato de
ler, através de uma Unidade Didática. Com isso, nos propomos a trabalhar com a
diversidade textual presente no cotidiano do aluno e organizar práticas de ensino
que venham ao encontro do interesse e da necessidade à realidade social em que o
mesmo está inserido, buscando no ato de ler o prazer de descobrir o não-dito e, ao
mesmo tempo, ampliar conhecimentos.
O saber ler concede ao indivíduo as capacidades necessárias para que o
mesmo possa discernir sobre o que lhe é importante ou não, podendo fazer as
melhores escolhas, mantendo-se assim autônomo em relação as suas decisões
servindo de ferramenta para que este possa enfrentar melhor os desafios que se
apresentaram a sua frente.
Quando da implantação deste trabalho, sabíamos que o desafio era grande,
haja vista, que tínhamos como ideia principal proporcionarmos momentos de
participação efetiva da família na escola, o que sem dúvida alguma se torna uma
missão árdua e comprometedora, pois como podemos observar no decorrer do seu
desenvolvimento, vimos relatadas inúmeras vezes às dificuldades que as escolas
têm em atrair a família para dentro de seus muros e principalmente participarem da
vida escolar de seus filhos. Sendo assim, iniciamos nosso projeto com muita
tranquilidade adquirida pelos anos de experiência na educação e muita coragem e
determinação que necessitamos ter quando da opção por seguir a profissão de
professor em nosso país.
Podemos afirmar que no decorrer da aplicação da nossa proposta muitos
destes desafios foram sendo superados com a ajuda e colaboração de todos, desde
os nossos familiares, passando pela administração da escola e concluindo com a
participação efetiva de pais e alunos que sempre nos deram respaldo e garantias de
que estávamos no caminho certo.
Trabalhar com projetos de pesquisa pode ser mais difícil por ser um processo
interativo e inacabado; não tem receitas, nada está pronto, e nem definido. É uma
caminhada estratégica que vai evoluindo passo a passo, e em tempo hábil, de
acordo com cada necessidade.
Todas as incertezas e as angústias, vividas nos primeiros momentos, foram
compensadas pela alegria e satisfação de sentir que nossos alunos não apenas
passaram pelas aulas, mas viveram intensamente a cada momento; interagindo,
fazendo relações, construindo conhecimentos, crescendo e acima de tudo
compartilhando seus saberes. Assim pudemos compartilhar e refletir sobre nossa
própria caminhada profissional.
Sendo assim quando da conclusão desta proposta, ficamos com gostinho de
quero mais, nos levando a nos encorajarmos e seguirmos em frente com nossa
missão de educadores e continuarmos com nossa proposta, procurando assim
desempenharmos nossos objetivos com mais comprometimento e profissionalismo.
Esperamos que este trabalho tenha contribuído para um ensino que
proporcione ao aluno construir a aprendizagem de uma maneira mais significativa,
percebendo a leitura, através dos gêneros textuais/discursivos, como fonte de
conhecimento inesgotável. Além disso, que ao mesmo tempo, o ato de ler seja
prazeroso, capacitando-o para interagir com o outro no contexto social, percebendo
e assumindo o seu papel de transformador da sua realidade.
REFERÊNCIAS
ANTUNES,Irandé. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola
Editorial, 2003.
ANTUNES, Magdalena. Oiteiro: memórias de uma sinhá-moça. 2. ed. Natal: A. S. Editores, 2003. BAKHTIN, Michail. Problemas da poética de Dostoiévski.4. ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. BAKHTIN, Michail (Volochinov).Marxismo e filosofia da linguagem. Trad.De Michel Lahud e Yara Frateschi. 9.Ed. São Paulo: Hucitec,1999. BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: a formação do leitor (alternativas metodológicas). 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. BRASIL, Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da Educação : Prova Brasil : ensino fundamental : matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC, SEB; Inep, 2008. _____. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais (5ª a 8ª séries). Brasília: MEC/SEF, 1998. DÉGH, Linda (1972). Folk Narrative. In: DORSON, Richard (Ed.). Folklore and Folklife: an Introduction. Chicago: University of Chicago Press, 2001. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. KOCH, Ingedore Vilaça & ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: definições e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). Gêneros Textuais e Ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003. _____. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. PARANÁ, Secretaria de Estado de Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008. PARO, Vitor Henrique. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. 3. rei mp. São Paulo: Xamã, 2007. PERRENOUD, Ph. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.<disponível em Http://www.scribd.com/doc/20580357/capítulo-7-Informar-e-Envolver-os Pais- Philippe-Perrenoud>acessado em 20/06/2012.
PINTO, M.; Sarmento, M. J. (coord.) As Crianças: Contextos e Identidades. Braga: Centro de Estudos da Criança, Universidade do Minho, 1997. PROPP, V. As raízes históricas do conto maravilhoso. Tradução Rosemary Costhek Abílio, Paulo Bezerra. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. RANGEL, Ignácio. O quarto ciclo de Kondratiev. In: Revista de Economia Política. vol.10, n.4 (40), out-dez de 1990. RANGEL, Mari. Dinâmicas de leitura para salas de aula.4. ed.Petrópolis: Vozes, 1993. SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura e realidade brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Tradução Cláudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. TIBA, Içami. Ensinar aprendendo. 26. ed. São Paulo: Integrare, 1998. ZAGURY, Tânia. Educar sem culpa – A gênesi da ética. 21. ed. São Paulo: Record, 2005. ZILBERMAN, Regina. Leitura literária e outras leituras. IN: BATISTA, A A. Gomes e GALVÃO, Ana M. de Oliveira. Leitura: práticas, impressos, letramentos. Belo Horizonte: CEALE/AUTÊNTICA, 1999.
Top Related