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Universidade Federal de São Carlos

Centro de Educação e Ciências Humanas

Departamento de Psicologia

DESCRIÇÃO DA DINÂMICA AFETIVA EM PRATICANTES DE

TANTRA YOGA UTILIZANDO A PROVA DE RORSCHACH

Maria Theodora Gazzi Mendes

São Carlos

1° semestre de 2004

Universidade Federal de São Carlos

Centro de Educação e Ciências Humanas

Departamento de Psicologia

DESCRIÇÃO DA DINÂMICA AFETIVA EM PRATICANTES DE

TANTRA YOGA UTILIZANDO A PROVA DE RORSCHACH ∗∗∗∗

Maria Theodora Gazzi Mendes

203998

∗ Monografia apresentada como requisito de

conclusão da disciplina Pesquisa em Psicologia 8,

sob orientação da Profa. Marília Gonçalves.

São Carlos

Julho/ 2004

3

Agradeço às minhas eternas amigas Paty, Mid, Tati, Paula, Cris, Bia e Rê;

aos meus pais Lori e Nete; aos meus irmãos Leandro e Loro; ao Carlinhos;

à minha querida orientadora Marília; às participantes deste trabalho;

e às maravilhosas professoras de Yoga que estão presentes em minha vida.

“Que é, então, a ioga? Literalmente, ioga significa ‘imposição de um jugo’,

isto é, disciplinamento das forças instintivas da alma (...).

A imposição do jugo tem por escopo domar aquelas

forças que mantêm o homem preso ao mundo”.

Jung

4

Quando fui, com quinze anos e muita curiosidade, à um centro de

Yoga em Jundiaí, não imaginava tamanha sustentação que esta filosofia iria

dar à minha vida dali para frente. Logo comecei a praticar, sem muito entender

sua raiz, pois a única coisa de que sabia era que estava praticando uma “arte

milenar da Índia”, e me encantei por aquele método cheio das técnicas

corporais, de respiração, e meditação, algo que eu nunca tinha ouvido falar.

Naquela época, procurei livros de filosofia sobre o Yoga... mas só hoje percebo

o quanto complexo é esse sistema, e que somente agora estou entendendo

algumas coisas!

Minha curiosidade aumentou quando entrei na faculdade e parei para

pensar nas tantas mudanças que me tinham ocorrido naquela época. Aprendi a

aquietar minha ansiedade, a olhar para mim mesma, melhorei minha

consciência corporal, e com o tempo percebi que esta é a minha filosofia de

vida, carregada com sua espiritualidade, já que esta prática não esquece nem

do corpo nem do espírito.

Foi então que comecei a me questionar se não daria para unir a

Psicologia com o Yoga, já que tanta mudança esta prática proporciona ao

individuo. Será que a prática do Yoga pode trazer benefícios psicológicos para

quem a pratica? Quais seriam esses benefícios? Será que as pessoas que

praticam Yoga possuem um tipo particular de pensamento? E, mais difícil

ainda, como avaliar tudo isso? Destes questionamentos surgiu a idéia deste

trabalho. Não acho que tenha encontrado respostas objetivas nos resultados,

mas com certeza ajudaram a levantar muitos outros questionamentos e

curiosidades.

5

Às vezes me paro observando essa crescente divulgação do Yoga que

está acontecendo hoje em dia. Não sei se nós, ocidentais, estamos preparados

para entrar em contato com uma consciência espiritual tão iluminada quanto à

dos hindus, que vem de uma cultura muito diferente da nossa. É claro que não

chegaremos a parte alguma se simplesmente imitarmos os métodos “milenares

da Índia”, mas acho que eles têm muita riqueza à nos ensinar, a começar por

uma compreensão simbólica da realidade, tão longe do pensamento objetivista

da nossa cultura...

6

SUMÁRIO

Resumo..............................................................................................................07

I. Introdução ......................................................................................................09

II. Método

1- A Pesquisa Qualitativa........................................................................21

2- Entrevista............................................................................................23

3- Prova de Rorschach............................................................................24

4- Procedimento e Sujeitos.....................................................................27

III. Resultados

1- Sujeito 1..............................................................................................29

2- Sujeito 2..............................................................................................47

IV. Discussão e Conclusão................................................................................63

V. Referências Bibliográficas.............................................................................75

Anexo I...............................................................................................................77

Anexo II..............................................................................................................84

Anexo III.............................................................................................................85

Anexo IV............................................................................................................86

Anexo V.............................................................................................................88

Anexo VI............................................................................................................90

7

Originária do termo sânscrito yuj, que quer dizer “ligar”, “manter unido”, o

Yoga remete ao conceito de união, ou seja, a unificação harmônica do corpo

físico e do conjunto dos afetos e emoções como meios para atingir o Si-próprio.

A palavra Tantra origina-se da raiz tan, que expressa estender, continuar,

multiplicar. O Tantra Yoga é, portanto, mais uma forma de disciplina unitiva,

sempre procurando buscar no interior do indivíduo o caminho para a

integração. Jung menciona o Yoga como sendo um processo natural de

introversão, e que proporcionaria o contato com as variantes individuais. Com

esse processo, alterações na personalidade podem ser observadas, levando o

indivíduo a tomar maior consciência de si.

Baseando-se nessa hipótese, este estudo enfoca o perfil da dinâmica

afetiva emocional e cognitiva intelectual de um sujeito com a prática do Tantra

Yoga, considerando que a prática “filosófico-corporal” é capaz de aumentar a

consciência corporal do sujeito e assim proporcionar maior consciência sobre

seus estados afetivo-emocionais.

A abordagem da Pesquisa Qualitativa volta sua atenção para a

construção dos aspectos subjetivos do sujeito, e neste tipo de diagnóstico os

instrumentos fazem parte do processo geral não sendo um fim em si mesmo.

Foi feita uma entrevista semi-estruturada inicial como relato da história de vida

do sujeito, seguida da aplicação da Prova de Rorschach. Depois de seis

meses, foi realizada uma nova entrevista e uma segunda aplicação da Prova.

A evolução de cada caso, segundo os índices obtidos na prova e do

relato da história de vida foi discutida à luz da teoria Junguiana e de seus

continuadores, e os resultados obtidos em cada descrição organizados

buscando uma integração entre os índices encontrados na Prova de

8

Rorschach, a história de vida dos sujeitos e as mudanças relatadas no

transcurso da atividade meditativa. Verificou-se nos sujeitos uma mudança

qualitativa significativa nas respostas dadas entre as aplicações da Prova, o

que pode indicar um desenvolvimento de sua consciência interior, muito

embora ainda não possamos afirmar que tenha sido proporcionada pela

unicamente pela prática do Tantra Yoga.

9

I. Introdução

A Índia é conhecida por possuir a mais antiga literatura sagrada da

humanidade, sendo que alguns destes textos datam de mais ou menos 5000

anos atrás. Os chamados Vedas (da raiz sânscrita vid, saber) fazem parte

deste grande ramo de escrituras, sendo qualificados como os mais importantes

textos sagrados do hinduismo por desenvolverem teorias que revelam toda a

sabedoria da vida. É nestes textos que se encontram a primeira referência ao

Yoga. Mas foi por volta do século II a.C. que o sábio indiano Patañjali

organizou e compilou as tradições e técnicas do Yoga num sistema de filosofia

que foi chamado de Yoga-sutra, assim como expõe ELIADE (1972):

“Os círculos fechados dos astecas e místicos indianos já

conheciam, bem antes dele (Patañjali), as práticas do Yoga. Entre

os métodos técnicos conservados pela tradição, Patañjali recolheu

aqueles que foram suficientemente avalizados pela experiência de

séculos.(...) Ele mesmo confessa (Yoga-sutra, I, 1) que não fez

senão compilar e corrigir as tradições doutrinárias e técnicas do

Yoga.” (p. 22).

Toda filosofia tem como problema central a busca da verdade pelo

homem. Para o pensamento indiano, ao contrário do pensamento ocidental, a

busca não é considerada como um objetivo final a ser alcançado, e sim um

meio que o homem encontra para se libertar. A verdade seria encontrada no

desenvolvimento da percepção da realidade “como ela é”, pois segundo este

10

pensamento, a base do sofrimento estaria na ignorância da verdadeira

natureza humana. De acordo com ELIADE (1972), um sábio indiano não busca

a posse da verdade, e sim a liberdade absoluta, e é essa liberdade que pode

proporcionar ao homem um outro plano de existência (o Si-próprio),

transcendendo a condição humana.

Originária do termo sânscrito yuj, que quer dizer “ligar”, “manter unido”,

o Yoga nos remete ao conceito de união, ou seja, a unificação harmônica do

corpo físico e do espírito como meios para atingir o Si-próprio. Conforme

descreve ELIADE (1972), “Patañjali define o Yoga como a ‘supressão dos

estados da consciência’”, ou seja, a busca pelo conhecimento dos estados que

perturbam uma consciência normal, profana, do não iniciado. Estes estados

são inúmeros, mas podem ser encaixados em três grandes categorias: (1) a

experiência dos erros e das ilusões; (2) as experiências que abrangem a

totalidade do profano; (3) as experiências que são desencadeadas pela técnica

do Yoga, acessível ao iniciado. Para o sábio indiano, a finalidade do Yoga é

então suprir as duas primeiras categorias de experiências e substituí-las por

uma experiência “extra-racional”, que consiste em cessar as flutuações da

mente.

Dentro deste parâmetro, as teorias e práticas do Yoga são

consideradas como um caminho para o alcance da libertação, da iluminação.

Tal caminho propõe um conjunto de oito preceitos que devem ser seguidos

pelo yoguim (aquele que pratica o yoga), a fim de alcançar a sua descoberta

interior. São eles: (1) Yama, que significa disciplina, remete a mandamentos de

uma moral ética, a fim de manter um bom convívio social; (2) Niyama, a

autodisciplina, que são condutas individuais de purificação; (3) Ásana, que são

11

posturas que o yoguim realiza para meditar; (4) Pranayama, que são exercícios

respiratórios para administrar a energia vital (prana); (5) Pratyahara, é a

retração dos sentidos, o desenvolvimento da capacidade de abstração do

mundo externo, a fim de realizar a meditação; (6) Dharana, ou concentração da

atenção; (7) Dhyana, que é a meditação; e (8) Samadhi, que é o estado

alcançado com a meditação profunda, quando o yoguim encontra com sua

essência.

Assim como o Yoga, o Tantra possui raízes nos ensinamentos

sagrados dos Vedas, contando também com influências de religiões como o

budismo e o hinduísmo. Segundo FEUERSTEIN (2001), o tantra é considerado

uma reformulação de tal corrente védica, contendo suas idéias e práticas. Por

isso, sua história parece ser mais antiga do que anuncia os primeiros sinais de

movimentos filosóficos e religiosos tântricos, que aparecem como grandiosos

por volta do ano 500 d.C. na Índia. A palavra Tantra origina-se da raiz tan, que

expressa estender, continuar, multiplicar. Portanto, entende-se seu significado

como sendo uma expansão do conhecimento e da sabedoria, sendo possível

fazer uma analogia do seu significado com um fio que tece uma teia,

expandindo-a.

Em princípio, pode-se encontrar muitas indicações de rituais e

instruções yóguicas em textos tântricos, sendo que o tantra possui então

muitos ensinamentos em comum com o Yoga, utilizando-se de seus preceitos

como meio para realizar a verdade suprema. Encontra-se como finalidade

comum entre o yoga e o tantra a necessidade de realizar a união do corpo

físico e espiritual como meio para a auto-realização, em que a prática yóguica é

utilizada pelo praticante do tantra.

12

Segundo FEUERSTEIN (2001), o Tantra Yoga foi introduzido no

mundo ocidental através dos escritos do inglês Sir John Woosroffe em 1913,

mas foi durante os anos 60 que ganhou maior popularização e um maior

número de adeptos. O Tantra Yoga é, portanto, mais uma forma de disciplina

espiritual unitiva, num sentido resumido da palavra. Suas crenças e práticas

levam a uma expansão da sabedoria, ao contrário da idéia comumente

presente no discurso do senso comum, que vê o Tantra como uma disciplina

do sexo ritualizado. A sua prática proporcionaria o alcance das camadas

psíquicas mais interiores, levando o indivíduo a um contato íntimo com sua

psique e, conseqüentemente ao conhecimento espiritual.

O Tantra Yoga é composto por práticas meditativas, pranayamas,

evocação de mantras (palavras, frases...), asanas, etc., sempre procurando

buscar no interior do indivíduo o caminho para a iluminação. Dentro deste

pensamento, o prâna (a energia vital, a respiração) é o alimento para o corpo e

para os chakras, que são centros energéticos localizados ao longo do corpo, e

onde se acumula o prâna. Os chakras são numerosos no nosso corpo, mas

somente sete deles são considerados os mais importantes. Localizados ao

longo da linha central do corpo, estão distribuídos de modo que “(...)

correspondem às principais glândulas de secreção interna e aos mais

importantes plexos nervosos do sistema vago-simpático e, no corpo prânico, os

chackras desempenham funções altamente relevantes” (HERMÓGENES,

1997, p. 59). Esses centros são alimentados pelo prâna, transformando-o em

energia vital e distribuindo para todo o corpo. A localização dos chackras no

corpo humano pode ser visto na figura abaixo:

13

Figura 1: Localização dos sete principais chackras localizados no corpo humano.

A prática dos pranayamas permite que o yoguim exercite o

funcionamento de seus chackras, para que assim a circulação do prâna possa

alimentar esses centros energéticos. Assim, o prâna que entra pelas narinas,

irá se encontrar no chackra raiz, chamado de chackra Muladhara, estabelecido

na base da coluna vertebral e onde, segundo HERMÓGENES (1997), se

localiza a energia primordial kundalini. Com a prática, esta energia é então

canalizada para todos os outros chackras, até alcançar o último, o chackra

Sahasrara, localizado no topo da cabeça, correspondente à glândula pineal, e

que segundo a filosofia indiana é a morada do Deus Shiva (Deus da

transformação). É com a energia kundalini despertada e transformada no

sétimo chakra que o yoguim pode realizar o oitavo preceito, o Samadhi, que

levará à auto-realização e à iluminação. HERMÓGENES (1997) comenta o

seguinte sobre esta questão:

14

“(...) somente nos yoguins que se libertaram e iluminaram, este

chackra (Sahasrara) está desperto (...), o yoguim atinge seu fim.

Terá regressado. Está unificado”.(p. 61)

As antigas escrituras dos Vedas deram origem à muitas religiões,

assim como também deram origem à sistemas teosóficos, psicológicos e

filosóficos. Neste sentido o Yoga, assim como o Tantra, por estarem ligados à

rituais religiosos indianos, são considerados como sendo caminhos que têm

como objetivo a busca de grandes verdades e o alcance da iluminação interior.

Esta base é encontrada em muitos sistemas religiosos em todo o mundo, o que

nos levaria supor que o Yoga poderia ser considerado como uma religião. Mas

pelo fato desta prática não depender de nenhuma crença particular, ou seja,

poder ser acessível à pessoas de várias crenças religiosas, talvez fosse melhor

dizer que este é um caminho, uma prática rica de espiritualidade, pelo fato de

dar uma grande importância à busca da iluminação espiritual, remetendo ao

conceito de Deus utilizado pelas religiões orientais.

Quando, nos anos 60 o Tantra Yoga ganhou popularidade, o homem

ocidental se encontrava no apogeu com relação às suas preocupações

espirituais, o que provavelmente por ter sido a razão de tal popularização. Tal

procura foi proporcionada por uma crescente indignação relacionada ao

paradigma científico-tecnológico, o que fez com que alguns pesquisadores

buscassem algo “a mais” para preencher o vazio que cresceu durante o século

XIX, caracterizado por uma sociedade fortemente materialista e racional. Essa

busca por experiências espirituais e transcendentais marca uma nova fase para

o estudo da psicologia, que procura analisar sua experiência e conduta.

15

Os especialistas em experiência religiosa consideram que o ser

humano, enquanto religioso, mostra seus sentimentos, modos de compreensão

e atitudes em relação às coisas, pessoas e ao mundo ao seu redor. Para uma

adequada visão da experiência religiosa deve-se distinguir o conceito de

religiosidade (forma individualizada) do de religião (é institucionalizada, a forma

comunitária, a matriz que possui funções psicológicas e socioculturais).

Segundo VALLE (1998), a Psicologia da Religião sofre influência de

todas as correntes da Psicologia, sendo que então algumas delas dão maior

atenção ao subjetivo, enquanto outras ao objetivo e ao comportamento

religioso. Mas atualmente o estudo religioso postula a existência de uma

harmonia entre a sabedoria previamente estabelecida das religiões e os

resultados obtidos cientificamente. Portanto, a Psicologia da Religião estuda a

origem e a natureza da mente religiosa humana, não definindo a conduta

religiosa, e sim como e porque os fenômenos religiosos se dão no interno da

estrutura psicológica do sujeito.

Preocupada em focar-se na percepção subjetiva imediata do mundo, a

psicologia da religião busca então traçar a personalidade do indivíduo religioso,

respeitando os aspectos que são intrínsecos à realidade deste, assim como

afirma o corpo teórico construído por ALLPORT, um dos autores de maior

destaque no assunto (citado por VALLE, 1998). Para este autor, o estudo deve

abraçar uma visão integral da personalidade do sujeito (a organização

dinâmica do sujeito influencia as suas tendências e características, que são

parcialmente inconscientes) e do seu comportamento.

A sociedade brasileira é marcada por uma grande influência da

religiosidade cristã, que se mostra fortemente influenciada pelos aspectos

16

sociais e políticos. Conforme descreve VALLE (1998), o catolicismo no Brasil

pode ser considerado uma forma de religiosidade popular, por ser

caracterizada por um conjunto heterogêneo de manifestações religiosas, que

são movimentos religiosos baseados nas suas tradições e nas culturas locais.

Por isso, estas manifestações ficam a parte de definições e de controle das

organizações religiosas institucionais e este fato leva a religiosidade brasileira à

uma relativa autonomia em comparação às tradições eclesiásticas.

Desde os anos 60, uma grande onda de expectativas, atitudes e

comportamentos pára-religiosos denominada Era de Aquário ou Nova Era, vêm

crescendo no Ocidente. A maior inspiração deste movimento é os sistemas

filosóficos provenientes das religiões orientais (embora os ocidentais possuam

limitações psico culturais para absorver completamente as experiências

orientais). Este movimento também conta com a colaboração de

conhecimentos trazidos pela ciência, no qual VALLE (1998) destaca o autor

FRITJOF CAPRA, que afirma que o mundo é caracterizado por um conjunto de

acontecimentos justapostos e mutuamente condicionantes, onde o espiritual é

transcendente.

Um dos psicólogos que mais se destacou nos estudo sobre o Oriente e

sobre religiosidade foi Carl Gustav Jung, em 1939. Para este autor, um conflito

entre a religião e a ciência marca o materialismo científico ocidental, que por

uma certa determinação de cientificar e quantificar tudo separou conceitos,

isolando-os em áreas como filosofia, psicologia, metafísica, etc., separando a

cultura física da intelectual. Isolou também o espírito de sua unidade original,

para designar-lhe como sendo uma função psíquica. No oriente, essa

separação não faz sentido. A cultura hindu só reconhece o conhecimento com

17

a experiência plena, encarando o espírito como um princípio cósmico, ou seja,

uma existência geral do ser em integração com o Cosmo, e esta realidade

psíquica (a psique) é a condição única e fundamental da existência. YUNG

(1939) coloca sua crítica acerca do pensamento ocidental quando faz a citação:

“A impressão que se tem é a de que este conhecimento (o oriental)

é mais uma manifestação psicológica do que o resultado de um

pensamento filosófico. Trata-se de um ponto de vista tipicamente

introvertido, ao contrario do ponto de vista ocidental, que é

tipicamente extrovertido.” (p. 487)

Outra diferença observada por Jung é que o ocidente cristão considera

o homem como sendo uma obra de Deus, e que depende dele ou da igreja

para a sua salvação. Este pensamento coloca a graça de Deus proveniente do

exterior. Na visão oriental, o homem é Deus e assim sendo é responsável pela

sua própria evolução interior e salvação, considerando a psique o elemento

mais importante, já que tudo jorra dela.

Seria então possível compartilhar o divergente conhecimento que as

duas culturas possuem a fim de chegar num ponto que fosse conveniente e,

principalmente, proveitoso para ambas? Jung reflete sobre esta questão,

ressaltando que seria falsidade construir pontes para ligar as diferenças

enormemente opostas que as duas culturas expressam. Uma atitude valiosa

seria aquela em que o homem ocidental pudesse procurar, dentro de seu

próprio inconsciente, uma tendência introvertida, que realiza uma função similar

18

à do princípio espiritual oriental, para que assim possam ser trilhados métodos

e caminhos de acordo com nossa cultura.

A atitude introvertida existente no oriente é claramente expressa na

importância dada por eles à meditação e às outras técnicas, onde o principal

objetivo é o de “alcançar um estado espiritual em que o eu se ache

praticamente dissolvido” (Jung,1939), tirando dos domínios da consciência do

eu os impulsos reflexos (que corresponde ao objetivo de cessar as flutuações

da mente). A prática do Tantra Yoga proporcionaria o alcance das camadas

psíquicas mais interiores, levando o indivíduo a um contato íntimo além de sua

psique e, conseqüentemente ao conhecimento espiritual.

As doutrinas orientais têm se defrontado com a separação entre

religião e ciência a qual o ocidental está acostumado a lidar. Como

conseqüência, a prática do Yoga tem se tornado em um objeto científico, ao

mesmo tempo em que se encaixa como um seguimento terapêutico. Mas

JUNG acredita que, para que o ocidental possa absorver o objetivo do Yoga da

libertação da consciência, ele deve aprender a conhecer o seu consciente

antes de se propor a praticar Yoga. Assim completa VALLE (1998):

“Os elementos e espiritualidade importados do Oriente, são

geralmente importados de maneira massificada e seus

comportamentos, crenças e símbolos são, até certo ponto,

estranhos ao nosso meio cultural ocidental, logo, sua assimilação

é mais complexa e os processos motivacionais, afetivos e

cognitivos envolvidos neste tipo de conversão são complexos e

exigem mais que imitação”.

19

Em seu texto “A Ioga e o Ocidente”, Jung menciona o Yoga como um

processo natural de introversão, e que proporciona o contato com as variantes

individuais. Com esse processo, alterações na personalidade foram

observadas, levando o indivíduo a tomar maior consciência do seu self∗.

Baseando-se nessa hipótese, o presente estudo pretende descrever o

perfil dinâmico da psique de uma pessoa que pratica o Tantra Yoga e o de sua

professora, utilizando a prova de Rorschach.

Por ser um campo de conhecimento muito novo no ocidente, poucas

pesquisas são encontradas acerca das alterações dos estados de consciência

de que tanto falam os yoguins. As maiorias das pesquisas encontradas fazem

referencia apenas à caracterização e descrição de processos físicos que

ocorrem durante a prática do Yoga, como um estudo realizado em uma

universidade de Tókio por CUSUMANO e ROBINSON, em 1992. Esta pesquisa

traçou o benefício da prática do Hatha Yoga (uma das vertentes do Yoga)

relacionados à diminuição dos batimentos cardíacos e da pressão sangüínea,

bem como o aumento da conscientização corporal e da auto-estima da pessoa

que a pratica.

Em vista das evidências levantadas ao longo de todo corpo teórico e

da necessidade de fazer uma avaliação sobre elas, é preciso enriquecer o

ramo de pesquisas na área. Portanto, escolhemos enfocar o estudo da

dinâmica afetiva emocional e cognitiva intelectual que ocorrem no sujeito com a

prática do Tantra Yoga, considerando que a prática “filosófico-corporal” é capaz

∗ Primeira parte da organização da personalidade, sendo separado do ego, ainda que em integração com ele. É menos consciente que o ego e também menos diferenciado.

20

de aumentar a consciência corporal do sujeito e assim proporcionando maior

consciência sobre seus estados mentais.

21

II. Método

1- A Pesquisa Qualitativa

No final do século XIX, uma nova visão de pesquisa surge frente ao

modelo positivista da ciência: a pesquisa qualitativa. Inicialmente associada

apenas a perspectivas sociológicas, a pesquisa qualitativa ganhou maior força

com o desenvolvimento do modelo etnográfico, onde a participação do

pesquisador, em estudos de diversas culturas, passou a ter maior importância,

tornando a relação sujeito-pesquisador um meio construtor e ativo na produção

de conhecimento. O surgimento deste tipo de pesquisa exigiu que fosse

desenvolvido uma nova epistemologia que conferisse aos resultados

fidedignidade, e esse tem sido o ponto principal de reflexão de muitos autores.

Para GONZÁLEZ REIZ (2000), o “desenvolvimento de formas alternativas de

produzir conhecimento nas ciências sociais, requer a construção de

representações teóricas que permitam aos pesquisadores ter acesso a novas

‘zonas de sentido’ sobre o assunto estudado”. Por isso, a produção teórica é

peça principal na evolução do conhecimento, dentro da perspectiva da

pesquisa qualitativa.

O crescimento da psicanálise de Freud, no começo de século XX,

contribuiu para a evolução da idéia de que o psíquico teria mais do que apenas

determinantes biológicos. Baseado em observações da relação entre o

psicoterapeuta e o paciente, Freud procura encontrar a causa da expressão

das neuroses no interior do próprio homem, desenvolvendo assim uma

metodologia de caráter interpretativo, o meio do caminho entre a ciência

22

biológica e o método qualitativo, pois toma o sujeito como produtor do

conhecimento. A psicologia humanista foi a vertente que mais amadureceu

essa visão, ao reconhecer a capacidade que o sujeito individual tem de

“produzir projetos e participar ativamente na regulação voluntária do (seu)

comportamento” (REIZ, 2000). ALLPORT foi um autor humanista que ganhou

destaque ao desenvolver métodos abertos de pesquisa, chamados

morfogênicos, que se baseavam nas expressões livres do sujeito, considerados

como melhor meio para estudar as funções e as condições da vida humana.

Para a psicologia, é essencial a integração do papel social e do

individual na constituição da psique do ser humano e, conseqüentemente,

essencial no conceito de subjetividade. A este conceito relacionamos tudo o

que está na esfera do próprio sujeito, na sua experiência psíquica singular,

portanto inacessível à observação objetiva direta. Para se chegar a uma

construção do conhecimento sobre a subjetividade, torna-se indispensável o

estudo da experiência pessoal, pois o contato com os sentimentos e os valores

do indivíduo é tradução de sua realidade subjetivada, que nos proporciona

dados essenciais à pesquisa qualitativa.

A definição dos determinantes qualitativos na pesquisa psicológica foi

alvo de reflexão de muitos teóricos. Tamara Dembo, 1993, citada por REIZ

(2000) é uma estudiosa da Gestalt e defende a idéia de que a compreensão do

psicológico implica em aceitar seu caráter oculto à visão do observador

externo, e que por isso o empirismo quantitativo e objetivista não poderiam

fazer uma compreensão completa de sua natureza. Outro desafio encarado

pela pesquisa qualitativa é o de definir seu objeto de estudo e um instrumento

que bem o avaliasse.

23

A inserção de instrumento qualitativo amplia seu enfoque para além do

que é apenas dito pelo sujeito, explorando também a maneira de como foi dito,

enfocando a atenção às construções deste. Para tanto, é comum o uso de

técnicas ou testes projetivos, recurso capaz de explorar os eventos

intrapsíquicos. A entrevista semi-estruturada é também um recurso utilizado,

pois dá ao entrevistador mais liberdade de formular as perguntas e organizar a

sua seqüência, gerando situações de diálogos entre o pesquisador e o

pesquisado. Segundo NUNES, (in CUNHA, 2000), a sua estrutura especifica as

áreas que devem ser exploradas sem enumerar perguntas específicas nem a

sua seqüência. O uso combinado destas duas técnicas é capaz de ampliar a

rede de elementos do mundo do sujeito, possibilitando a realização de uma

visão complexa, caracterizando o psicodiagnóstico do sujeito.

Tendo como base os aspectos relacionados acima, o presente estudo

procurou traçar o perfil da dinâmica afetivo-emocional de uma praticante de

Tantra Yoga e de sua professora, utilizando a entrevista semi-estruturada e a

aplicação da prova de Rorschach. O mesmo procedimento foi reaplicado

depois de seis meses na praticante de yoga e depois de nove meses na sua

professora, para que os dois resultados pudessem ser comparados, permitindo

traçar uma evolução entre esses dois momentos.

2- Entrevista

O entrevistador, de posse de um esquema de perguntas, é orientado

por estes temas para uma conversação com o sujeito para fazer um

levantamento de dados sobre a vida do individuo. Como o objetivo da

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entrevista é a construção das respostas pelo sujeito, este fica livre para

fornecer a quantidade e a forma das informações de cada pergunta feita pelo

entrevistador. Esse tipo de entrevista possibilita uma investigação mais ampla e

profunda da personalidade do entrevistado.

Depois de alguns meses, uma nova entrevista foi feita com cada

participante, a fim de obter dados sobre as mudanças ocorridas entre a

primeira e a segunda entrevista.

A história de vida e as experiências relatadas durante a realização da

prova serão norteadores para a descrição do comportamento manifesto em

conjunto com o potencial libidinal apresentado pelos sujeitos. Ela será colhida

tendo como base a anamnese – “Exame Clínico e Psicológico” de Hipólito C.

Filho e Helena B. Prebianchi, 1999, e outros tópicos concernentes ao assunto

investigado.

3- A Prova de Rorschach

Hermann Rorschach foi um psiquiatra suíço que elaborou e

desenvolveu sua teoria baseada em observações que fazia de seus pacientes

ao mostrar-lhes manchas de tinta, no Hospital de Doenças Mentais de

Krombach, em Herisau, Suíça. Foi então a partir de sua experiência e de

estudos subseqüentes que o autor padronizou um instrumento que tinha como

propósito a investigação da personalidade, desenvolvendo um conjunto de

códigos para classificação das respostas em termos de localização, qualidades

dadas às imagens das manchas (forma, cor e movimento) e seu conteúdo

25

(humano, animal, anatômicos, etc). Esse instrumento foi posteriormente

amplamente estudado e administrado por vários pesquisadores.

Esse teste projetivo permite avaliar os processos inconscientes e os

recursos que o indivíduo utiliza para se relacionar com o mundo. Segundo

CUNHA (2000), o sujeito é capaz de refletir seu comportamento da vida real

através da maneira como ele expressa o que percebe nas manchas de tinta do

instrumento. Este tipo de acontecimento é conhecido como projeção, a pessoa

o realiza sem ter consciência disto. “(...) a projeção influencia as respostas do

Rorschach através da atribuição, pelo sujeito, de suas próprias qualidades,

sentimentos, experiências e anseios (...)” (WEINER, 2000, p. 18). Através

destas projeções realizadas pelo sujeito é então possível traçar a arquitetura

dinâmica de sua personalidade e seus processos psicológicos, caracterizando

o potencial dos recursos psíquicos que estão sendo utilizados ou não no

momento da prova.

O método escolhido para a interpretação da prova de Rorschach será

o de Klopfer, esta escolha está baseada na experiência da idealizadora deste

projeto e também pelo fato dos índices a serem avaliados nos possibilitarem o

reconhecimento do grau de controle do ego, o grau de maturidade, as

potencialidades afetivas, o movimento dos processos cognitivos e como está

sendo gerida a dinâmica dos afetos.

A prova de Rorschach é composta por 10 pranchas com manchas de

tinta de 18,5 X 25 cm, sendo cinco delas acromáticas (em cinza e branco) e as

outras cinco cromáticas (duas em cinza e vermelho e as outras três de diversas

cores), em geral “escassamente estruturadas, embora possam ser

consideradas simétricas em termos de eixo vertical” (Cunha,2000).

26

A aplicação da prova se resume em quatro fases: (1) performance, que

é a aplicação propriamente dita; (2) inquérito, para averiguar o que está

implícito nas verbalizações do sujeito; (3) analogia, para quando há dúvidas de

aspectos importantes; (4) teste dos limites, testando as reações específicas a

cada prancha e as suas potencialidades. São anotadas todas as respostas de

cada figura, sem nenhuma interferência do aplicador. Também são anotados o

tempo de latência e o tempo total de cada resposta, mas ao sujeito não é

estipulado um limite de tempo para realizar a prova.

“A pressuposição básica ao se utilizar às técnicas com manchas

de tinta e de que a forma como o sujeito percebe estruturalmente

os estímulos ambíguos reflete seu comportamento na vida real; e

pode também ser conceitualizado como um estímulo a fantasia,

levando a pressupostos de que a ambigüidade presente nos

estímulos é um veículo apropriado para projetar as necessidades

de sujeito através de representações simbólicas”. (CUNHA, 2000)

O resultado é capaz de revelar a relação entre os fatores intelectuais e

emocionais do sujeito, sendo eles: ressonância afetiva, exteriorização da

afetividade, tipo de exteriorização, organização das necessidades afetivas,

recursos da personalidade, grau de esteriotipia, produção, manutenção da

objetividade e dados da realidade. Estes resultados são obtidos na análise das

respostas, e estão de acordo com a classificação de Bruno Klopfer (1949). (ver

anexo I)

27

Tais recursos são obtidos através da análise dos índices obtidos das

respostas que o sujeito apresenta, que são caracterizados como: (ver anexo II)

- Localização: corresponde à área da mancha utilizada pelo sujeito

para dar a sua associação. Esta categoria se refere à forma de percepção da

realidade, ao modo de organização mental, nos levando a observar a forma de

raciocínio da pessoa.

- Determinantes: é considerado o aspecto da mancha que o sujeito

utilizou para a formação de sua resposta, podendo ser: (1) a forma, que se

refere à capacidade da pessoa de conhecimento, identificação, reconhecimento

e julgamento dos objetos e de si mesmo; (2) a cor, referindo-se às expressões

dos afetos do sujeito inserido no seu mundo de relações; (3) o sombreado,

relacionado ao grau de consciência das necessidades afetivas; (4) e o

movimento, relacionado aos recursos internos da personalidade, no sentido da

mobilização da energia psíquica.

- Conteúdo: refere-se ao conceito utilizado na classificação da resposta

dada.

4- Procedimento e Sujeitos

Primeiramente foi localizada na cidade de São Carlos, uma professora

de Tantra Yoga, que foi quem indicou uma de suas alunas para participar da

pesquisa. Ao entrar em contato com ela, foi-lhe citado o propósito da pesquisa,

os procedimentos necessários e a importância de sua participação. Também foi

comunicado que a pesquisa não oferecia nenhum risco pela participação, que

seu nome não seria divulgado e que realizaríamos um retorno dos resultados

28

obtidos assim que finalizássemos a análise dos mesmos. O mesmo ocorreu

com a professora. Assim que as duas concordaram em colaborar com a

pesquisa, foi feita uma carta de consentimento informado para cada uma (ver

anexo III). Os sujeitos também ficaram de posse com uma cópia do documento.

Cada uma das participantes passou por uma entrevista inicial (ver

anexo IV e anexo V) e pela aplicação da prova de Rorschach, marcadas em

dias diferentes para uma.

Depois de seis meses, a aluna passou por uma nova entrevista (ver

anexo VI), diferente da primeira, que enfocava o tema das mudanças ocorridas

neste intervalo de tempo. Logo depois, passou por uma nova prova de

Rorschach. O mesmo ocorreu com a professora, porém com o intervalo de

nove meses. Então, ocorreu uma nova análise dos dados e uma análise

comparativa entre os resultados da primeira aplicação e da segunda, de cada

uma.

A primeira aplicação da Prova de Rorschach foi feita pela orientadora

desta monografia. No entanto, as entrevistas, a avaliação dos resultados da

prova e a segunda aplicação da mesma foram feitas pela autora desta

monografia.

A evolução de cada caso será discutida à luz da teoria Junguiana e de

seus continuadores. Os resultados obtidos em cada descrição buscarão a

integração entre os índices encontrados na Prova de Rorschach e a história de

vida dos sujeitos.

29

III. Resultados

1. Sujeito 1 – aluna de Tantra Yoga - Carolina ∗∗∗∗

• Quadro 1 - Quadro da Relação das Pontuações quantitativas obtidas

nos índices afetivos na avaliação da Prova de Rorschach:

Variáveis Legenda Teste 1 Teste 2

1. Ressonância Afetiva RA % 40 36

Csum 1 2 2. Exteriorização da Afetividade M: Csum 17: 1 24:2

3. Tipo de Exteriorização FC: (CF+C) 2,5: 0 8: 0,5 F: (FK+Fc) 38: 7,5 31:11 4. Organização das

necessidades afetivas S D: S I 8:3 17: 1

M: FM 17: 7 24: 10,5 5. Recursos da Personalidade M: FM+m 17:9 24:18

A% 25 26 6. Grau Estereotipia

H% 54,5 47

7. n° Respostas R 55 73 8. n° Resp. Populares P 5 6

9. Objetividade F% 36 27

10.Dado da Realidade F+% 80 65

11. Acrom: Crom (Fc+c+C’): (FC+CF+C)

7,5: 2,5 12: 8,5

12.Aspectos Personalidade

G: M 5: 17 14:24

13.Aspecto Intelectual (H+A): (Hd+Ad) 23: 11 40:6

∗ Os nomes dos sujeitos foram alterados para proteger a identidade dos participantes.

30

• Quadro 2 - Pontuações quantitativas detalhadas obtidas nos índices

afetivos na avaliação da primeira Prova de Rorschach. (data da aplicação:

15/01/2003)

I II III IV V VI VII VIII IX X TOTAL Respostas 3 3 6 3 4 9 5 4 5 13 55 Populares 1 3 4 Localização G 1° 1 1 2 2 G 2° 1 1 1 3 D 1 5 1 1 1 1 3 13 Dd 1 3 1 1 2 9 3 4 4 9 37 S (1) (1) (1) (3) 1 1 (6) Determinante F+ 2 2 2 (3) (2) 2 (1) 4 (3) 2 (2) (2) (2) 3 (7) 17 (22) F- 1 (1) (1) (1) (1) (2) (1) 1 (1) 1 (2) 1 (2) 4 (12) FC (1) 2 2 (1) FC' (1) (1) (1) C' F (1) (1) Fc (1) (1) 2 2 4 (2) CF (1) 1 1 (1) FK (1) 2 2 (1) KF (1) 1 1 (1) Fk (1) (1) KF CF M 1 2 1 2 3 3 3 2 17 FM 1 3 1 1 1 7 M 1 2 Conteúdo H 1 3 2 1 1 2 3 3 16 (H) 1 1 3 5 Hd 2 2 2 1 7 (Hd) 1 1 A 1 1 2 3 7 (A) 2 2 1 3 Ad 1 2 1 4 (Ad) Obj 1 1 2 4 Anat 1 1 2 Sex 1 1 Nat 1 1 Geo 1 1 Pl 2 2 AH Hobj Alim Arq

31

Abstr Fg Sg Nv Simb. Disfo 1 1 G% 9 D% 23,6 Dd% 67 S% 0,4 F% 36 F+% 80 F-% 20

Os índices encontrados foram:

1. Ressonância Afetiva

R.A. = 40% ------------------------- impulsividade

2. Exteriorização da Afetividade

M= 17 Csum= 1

2M : 1Csum ------------------------- introversivo

A relação de M para Csum mostra uma tendência introversiva,

procurando um equilíbrio para essa característica, o que pode ser um conflito

na sua personalidade.

3. Tipo de Exteriorização

FC= 2,5 (CF+C)= 0

Como a soma de CF+C é igual a zero, deve-se pensar numa dificuldade

que o sujeito tem em reagir emocionalmente diante de uma situação que

solicite um envolvimento mais profundo. Mas ao notar que FC > (CF+C)

(controle do impacto emocional e impulsividade) e comparando-o com a

32

porcentagem de ressonância afetiva, pode-se dizer que há um conflito interno,

uma vez que a primeira relação indica um controle excessivo sobre a

expressão da impulsividade (indicada pela RA) da emocionalidade, em relação

ao meio social. O que reforça a análise do resultado do índice de ressonância

afetiva é a quantidade de respostas dadas pela Carolina, que é considerado

elevado (R=55), mostrando uma facilidade de dar respostas, comum em

pessoas perceptualmente sensíveis e receptivas em relação ao mundo que a

rodeia.

4. Organização das Necessidades Afetivas

F : (FK + Fc) = 38: 7,5 SD : SI = 8:3

Ao verificar que Fc (consciência e aceitação das necessidades afetivas)

é maior que FK (manipulação da ansiedade) pode-se ver que há uma

repressão ou uma necessidade de afeto sub-desenvolvido. Há presença de

sinais de ansiedade e pelo fato de SD:SI ≠ 0, esses são reconhecidos por

Carolina, que tem consciência de suas necessidades afetivas e as integra à

sua personalidade. Apesar disso, verifica-se que há uma repressão intensa

dessas necessidades, pela relação das respostas de textura (FK+Fc) e de

forma (F).

5. Recursos da Personalidade

M= 17 FM= 7 (FM+m)= 9

M > FM -------------------- normal

A quantidade de M é indicativo de presença de energia vital, de

conscientização e organização dos impulsos primitivos, de orientação e

33

disponibilidade dos recursos internos, de construção dos valores pessoais e

dos processos imaginativos. Nos introversivos é esperado um mínimo de 5

respostas desse tipo. Como a quantidade de FM (impulsos primários) é menor

que a metade de M (8,5), o impulso vital sofre uma supressão nos interesses

de valores conscientes, estando subordinado à eles, indicando uma boa

integração do ego (processo secundário do funcionamento mental). Além disso,

há um ótimo uso de recursos internos para integrar esse impulso vital aos

valores do ego, que é capaz de tolerar impulsos arcaicos. Há, portanto uma

boa integração da necessidade afetiva com a organização da personalidade.

M= 17 FC=2,5

FM=7 CF=0

No eixo acima, as respostas de cor (FC) representam o mundo externo,

as relações interpessoais, o modo como o sujeito se comporta no mundo, suas

reações e manifestações emocionais. No caso de Carolina, há uma

predominância de respostas M sobre FC, mostrando que ela tem um equilíbrio

introversivo, e como CF não supera FC, a sua energia está organizada no nível

secundário do funcionamento mental, transformando suas necessidades de

gratificação em metas em longo prazo, podendo canalizar suas energias de

forma criativa, produtiva e integrada.

6. Grau de Estereotipia

A%= 25 H%= 54

34

Como A% é menor que 30, há um indicativo de que ocorre uma

dispersão da capacidade de concentração. Porém, como o conteúdo humano

das respostas de Carolina é alto, podemos pensar que há um interesse voltado

para o homem em geral, com desenvolvimento da empatia, que significa

capacidade de auto-estima, embora rebaixada, e auto-aceitação, que viabiliza

as relações interpessoais.

7. Produção

R= 55

R > 25 ------------------------- excesso de produtividade

Por indicar a capacidade de produção intelectual, deve ser analisada

junto com a qualidade da produção. No caso de Carolina, as respostas tiveram

como determinante principal os detalhes inusuais, que indicam que esse tipo

de sujeito atém-se a aspectos incomuns das situações, percebendo detalhes

que poucos percebem. Mostra a sua capacidade de percepção de sutilizas e

minúcias da realidade.

8. Número de Respostas Populares

P= 5

Mostrou um número médio de respostas populares, que mostra um

ajustamento social, com ligação adequada à realidade, sem demasiada ênfase

na visão convencional.

9. Manutenção da Objetividade

F%= 36

35

20 ≤ F% < 50 ---------------------- manutenção da objetividade normal.

Há uma boa capacidade de formação de conceitos objetivos.

10. Dado da Realidade

F+% = 80

75 ≤ F+% ≤ 80 ------------------------ normal.

Indica uma capacidade adequada de objetivação do sujeito, segundo os

padrões sociais.

11. Interferência de Perda e Rejeição na Manifestação da Afetividade

Acrom : Crom = 7,5:2,5

A responsividade de Carolina pode ter sofrido algum tipo de interferência

por alguma experiência traumática e resultou em retraimento. Essa é a

hipótese da “criança queimada”. Sua implicação é de que a sua necessidade

de resposta afetiva dos outros é tão grande, que a pessoa inibiu e diminuiu

suas reações abertas aos outros por medo de ser rejeitada. Resulta em uma

super cautela nos contatos emocionais.

12. Aspectos da Personalidade

G : M = 5 : 17

Indica um potencial criativo que Carolina pode estar encontrando

dificuldade para externalizar, ou externalizando-as de maneira difusa (como

impulsividade).

13. Aspecto Intelectual:

36

(H + A) : (Hd + Ad) = 23:11

Capacidade de empatia com o humano, auto-aceitação.

Tipo de Sucessão:

Sucessão confusa. A hipótese é de que se trata de um individuo

excêntrico ou confuso.

Controle: M

M=17. Quantidade alta de M, mostrando um dinamismo interno para

investimento, indicando: (1) é do tipo imaginativo, pois vê na prancha uma

cinestesia que inexiste, (2) alto grau de empatia, (3) percepção diferenciada e

integrada.

Organização e Apreensão da Realidade

G% : D% : S% G : D : Dd : S

9 :23,6 : 0,5 5 : 13: 37: 1

Apreende a realidade. Parte dos detalhes inusuais até chegar a um

raciocínio global, integrando as partes.

Fundo de Personalidade

(FM + Fm + mf + m) : (FC’ + C’F + C’ + Fc + cF + C) = 9:5

As respostas de movimento indicam tendências introversivas não

completamente aceitas ou utilizáveis pelo sujeito no momento, e

conseqüentemente representam uma potencialidade. Essas respostas também

se relacionam à função imaginativa. Já as respostas de cor acromáticas se

relacionam com uma potencialidade de maior reatividade emocional.

37

• Quadro 3 – Pontuações quantitativas detalhadas obtidas nos índices

afetivos na avaliação da segunda Prova de Rorschach, aplicada seis meses

depois. (data da aplicação: 02/07/2003)

I II III IV V VI VII VIII IX X Total Respostas 8 6 5 8 5 10 4 4 8 15 73 Populares 2 1 3 6 Localização G 1° 1 1 1 3 G 2° 2 1 1 2 1 1 2 1 11 D 1 1 4 7 13 Dd 4 3 6 4 9 2 3 8 7 46 S (2) (1) (1) (1) (2) (7) Determinante F+ 2 (3) 1 (3) 1 (3) (4) 3 (1) 1 (5) (2) (3) (4) 5 (8) 13 (36) F- 1 (2) (2) 1 1 (3) (1) 2 (2) 1 (1) (1) 1 (3) (2) 7 (17) FC (1) (1) (1) 3 (1) 1 (4) 4 (8) FC' (1) (1) Fc 1 (1) 1 1 2 (1) (3) (1) (1) 5 6 (11) FK (1) 1 (2) (1) (2) (2) 1 (8) KF 1 1 Fk (1) (1) CF (1) (1) M 4 2 1 1 4 2 3 2 5 24 FM 4 1 1 1 3 (1) 10 (1) Fm 1 (1) 1 1 1 4 (1) m 2 1 3 CF C' F cF kF Conteúdo H 3 3 2 1 1 3 3 3 2 4 25 (H) 1 1 1 1 4 Hd 1 1 2 (Hd) 1 1 1 3 A 2 1 3 1 1 6 (1) 14 (1) (A) 1 1 2 Ad 1 2 3 Obj 1 (1) 1 1 1 4 (1) Anat 1 1 2 Sex 1 1 2 dobj 2 2 Geo 1 1 Pl 1 1 2 Arq 1 1 Abstr 2 2 Fg 1 1

38

AH Hobj Alim Sg Nv Nat Simb. Disfo. 1 1 1 3 Cor Forçada 2 1 3 G% 19 D% 18 Dd% 63 S% F% 27 F+% 18 F-% 9

1. Ressonância Afetiva

R.A. = 36% ------------------------- responsividade normal

2. Exteriorização da Afetividade

M= 24 Csum= 2

2M : 1Csum ------------------------- introversivo

O predomínio de respostas M sobre Csum continua para o equilíbrio

introversivo.

3. Tipo de Exteriorização

FC= 8 (CF+C)= 0,5

A soma de CF+C agora tende a zero, o que deve-se continuar a pensar

numa dificuldade que Carolina tem em reagir emocionalmente diante de uma

situação que solicite um envolvimento mais profundo. Como a quantidade de

FC aumentou, pode-se dizer que o controle do impacto emocional aumentou.

Este resultado complementa a porcentagem de ressonância afetiva (que

39

diminuiu a impulsividade) encontrada na segunda prova, indicando uma

diminuição da ansiedade.

4. Organização das Necessidades Afetivas

F: (FK + Fc) = 31: 11 SD:SI = 17:1

Houve uma diminuição da ansiedade, apesar de ainda haver sinais de

sua presença. Pelo fato de SD:SI ≠ 0, esses ainda são reconhecidos por

Carolina, que tem consciência de suas necessidades afetivas. Apesar disso,

ainda verifica-se que há uma repressão intensa dessas necessidades, pela

relação das respostas de textura (FK+Fc) e de forma (F).

5. Recursos da Personalidade

M= 24 FM= 10,5 (FM+m)= 18

M > FM -------------------- normal

Como FM (10,5) continua sendo menor que a metade de M (12), o

impulso vital sofre uma supressão nos interesses de valores conscientes, mais

do que estar integrados à eles.

M= 24 FC=4

FM=10,5 CF=0

Na segunda prova, ainda há uma predominância de respostas M sobre

FC, mostrando que ela tem um equilíbrio introversivo, e como CF não supera

40

FC, a sua energia continua a ser organizada no nível secundário do

funcionamento mental.

6. Grau de Estereotipia

A%= 26 H% = 47

Como A% é menor que 30, há um indicativo de que ocorre uma

dispersão da capacidade de concentração. Porém, como o conteúdo humano

das respostas de Carolina continua alto, podemos pensar que há um interesse

voltado para o homem em geral.

7. Produção

R= 73

R > 25 ------------------------- excesso de produtividade

Na segunda prova, o excesso de produção continua e as respostas

mantiveram como determinante principal os detalhes inusuais.

8. Número de Respostas Populares

P= 6

O número médio de respostas populares continua, mostrando um

ajustamento social, com ligação adequada à realidade, sem demasiada ênfase

na visão convencional.

9. Manutenção da Objetividade

F%= 27

20 ≤ F% < 50 ---------------------- manutenção da objetividade normal.

41

Há uma boa capacidade de formação de conceitos objetivos.

10. Dado da Realidade

F+% = 65

F+% < 75 ------------------------ desajuste às normas.

Sinal de desajuste às normas, mas com capacidade reguladora do

pensamento e da razão.

11. Interferência de Perda e Rejeição na Manifestação da Afetividade

Acrom : Crom = 12:8,5

A responsividade de Carolina continua a mostrar uma super cautela nos

contatos emocionais.

12. Aspectos da Personalidade

G : M = 14:24

Indica um potencial criativo que Carolina pode estar encontrando

dificuldade para externalizar, ou externalizando-as de maneira difusa (como

impulsividade).

13. Aspecto Intelectual

(H + A) : (Hd + Ad) = 40:6

Capacidade de empatia com o humano, auto-aceitação.

Tipo de Sucessão:

42

Sucessão confusa. A hipótese é de que se trata de um individuo

excêntrico ou confuso.

Controle: M

M=24. Quantidade alta de M, mostrando um dinamismo interno investido

na prancha, indicando: (1) é do tipo imaginativo, pois vê na prancha uma

cinestesia que inexiste, (2) alto grau de empatia, (3) percepção diferenciada e

integrada.

Organização e Apreensão da Realidade

G% : D% : S% G : D : Dd : S

19 : 18 : 14 : 13: 46:

Apreende a realidade. Parte dos detalhes inusuais até chegar a um

raciocínio global, integrando as partes.

Fundo de Personalidade

(FM + Fm + mf + m) : (FC’ + C’F + C’ + Fc + cF + C) = 17:6

As respostas de movimento indicam tendências introversivas não

completamente aceitas ou utilizáveis pelo sujeito no momento, e

conseqüentemente representam uma potencialidade. Essas respostas também

se relacionam à função imaginativa. Já as respostas de cor acromáticas se

relacionam com uma potencialidade de maior reatividade emocional.

43

• Resultado da Entrevista:

Data da primeira entrevista: janeiro de 2003.

A aluna Carolina tem 20 anos de idade e cursa o segundo ano da

faculdade de Terapia Ocupacional. Mora em São Carlos com duas amigas, e

sua família reside em outra cidade. Ao falar de seu pai, ressalta que ele é muito

rígido e disciplinado, que ela não concordar com ele no que diz respeito à

vários assuntos, mas que apesar disso a relação deles é tranqüila. Considera a

relação com sua mãe ótima, diz que as duas sempre mantêm diálogo. Carolina

tem um irmão mais velho que, segundo ela, se assemelha muito às

características do pai. Além dessas pessoas, também mora junto com sua avó,

mãe de seu pai, completando a família. Com ela, Carolina diz que se

desentendeu muito quando era pequena, por causa da atitude autoritária, super

protetora e controladora, e com quem tem um relacionamento mais difícil.

Atualmente diz que melhorou bastante esse relacionamento, pois se sente

mais paciente com a avó. “Essa minha avó eu sempre tretei muito com ela,

assim, porque ela é espanhola, um gênio muito ruim, muito forte e reclama de

tudo, sabe? E eu nunca fui muito paciente com essas coisas, então a gente

sempre brigou muito, mas isso mudou bastante, desde que eu cresci e tal ...”.

Quando lhe foi perguntado sobre alguma outra pessoa fora do núcleo

familiar, ela mencionou o seu tio, irmão de sua mãe, dizendo que era alguém

muito especial, marcando a sua presença na infância de Carolina. Num

aspecto geral, ela considera que seu relacionamento familiar não a satisfaz,

mas também não a deixa insatisfeita, pois gostaria que houvesse maior troca

afetiva entre as pessoas da sua família, como companheirismo. “eu acho que

eu poderia dar mais, mas ao mesmo tempo eu acho que eu não posso dar

44

mais do que eu tô dando agora. Acho que é um momento que eu tô passando,

e que mudou... que eu mudei. Mas eu gostaria que fosse diferente, não tô

insatisfeita, mas não tô satisfeita.”

Na sua infância, Carolina relata ter brincado muito com seus amigos na

rua e na escola. Disse que sempre estava passeando ou viajando com os pais,

para casa de parentes e que também brincava com os primos.

A respeito de relacionamento amoroso, diz que está solteira há oito

meses, mas que teve um namorado que marcou muito a sua vida, com quem

manteve um relacionamento de três anos. Com ele, Carolina diz que construiu

muito do que ela é hoje. “Assim, o que eu sou hoje eu devo à ele, minha

personalidade, do que eu gosto de fazer, enfim, o que eu sou eu devo à ele,

porque eu me construí junto com ele e ele também se construiu um pouco junto

comigo”.

Quanto a religião, freqüentou o centro espírita desde os 15 anos, mas

parou de ir quando veio para São Carlos, apesar de considerar esta religião

como fazendo parte do dia a dia de sua vida. “Quando eu precisei ir no centro

porque me deu um ataque aí, e eu tive que ir, e... me deu um ataque de

mediunidade, que eu precisava ser interrompida nesse processo, eu fui no

centro. Eu amei de paixão o centro espírita.”

Sua experiência com Yoga começou três anos antes de entrar na

faculdade. Sua prática teve início com Hatha Yoga, por gostar de fazer coisas

que trabalhem o corpo . Quando se mudou para São Carlos, conheceu a sua

professora de Tantra Yoga e voltou a praticar, curiosa também para conhecer

outros tipos de Yoga. Diz que a prática a faz sentir mais contente, sente que

faz bem para si mesma e que a ajuda no seu auto-conhecimento. “Mexe muito

45

com inconsciente, com energia, e que me deixa assim, com certeza melhor,

comigo, nessa busca de mim mesma, que tanto tem auto-conhecimento.”

Também acha que aprofundou sua consciência corporal, e que seu equilíbrio

emocional foi influenciado pelas posturas e pela melhora na respiração,

ajudando muito a diminuir sua ansiedade. ”Acho que se eu não tivesse feito

yoga todas essas épocas, acho que eu seria muito mais ansiosa do que eu já

sou.”

Data da segunda entrevista: outubro de 2003

Nesta segunda entrevista, foi perguntado à Carolina qual haviam sido

as mudanças mais significativas em sua vida no decorrer dos últimos 9 meses.

Ela começou dizendo que muita coisa havia mudado na sua vida, em todos os

aspectos “eu acho que mudou muito o modo como eu vejo as coisas, como eu

vejo o mundo, como eu enxergo as pessoas, como eu me enxergo, o que eu tô

procurando para mim.” Reconhece sua fase atual como um auto-

conhecimento, e que resolveu buscar terapia à seis meses. Diz que muitos

conflitos melhoraram, que sua ansiedade diminuiu. Carolina também identifica

em sua personalidade uma fase de introversão, e que por conta desta fase, se

afastou um pouco do convívio social, embora não tenha se afastado de suas

amigas.

Considera que está entrando na fase adulta e estar sentindo todas as

responsabilidades que essa fase demanda, e que às vezes isso a assusta, mas

que está aprendendo a lidar com isso.

Na sua relação familiar, está mais tranqüila que antes, pois percebeu

que muito do que ela é, de como trata suas dificuldades advem da própria

46

família e da educação que teve. Percebe que seu pai teve muita influencia na

sua vida, e que herdou dele muitas de suas características.

Com relação à vida amorosa, relata ter voltado com o antigo

namorado. Que essa volta passou por muitas fases e que ainda se sente muito

confusa. Diz que às vezes acha difícil saber se realmente gosta dele ou se esta

com ele porque se sente segura e protegida, como se tivesse medo de soltar e

ir para o mundo.

“Comecei também a capoeira esse ano, que para mim foi muito bom,

que é uma energia mais africana, tal, é bem yang, de você pisar no chão, e tem

essa força da terra” . Interrompeu a prática de tantra yoga à uns 4 meses.

Também relata a descoberta de um outro lado espiritual à uns 5 ou 6

meses: a Umbanda. Apesar de sempre ter sido espírita kardecista, não deixou

de lado seus conceitos e crenças. A Umbanda tem uma características da

cultura africana com a qual ela está se identificando, e conhecendo mais

profundamente através de um curso sobre a teologia da umbanda.

47

2. Sujeito 2 – professora de Tantra Yoga – Luciana ∗∗∗∗

• Quadro 4 - Quadro da Relação das Pontuações quantitativas obtidas

nos índices afetivos na avaliação da Prova de Rorschach:

Variáveis Legenda Teste 1 Teste 2

1. Ressonância Afetiva

RA % 26 30

Csum 4,5 2 2. Exteriorização da

Afetividade M: Csum 5:4,5 3:2

3. Tipo de Exteriorização

FC: (CF+C) 8:1,5 4:0

F: (FK+Fc) 38,5:11,5 24,5:7 4. Organização das necessidades

afetivas Somb Difer: Somb Ind

11,5:0,5 7:0

M: FM 5:8 3:4 5. Recursos da Personalidade

M: FM+m 5:11,5 3:11

A% 26,31 27,5 6. Grau Estereotipia

H% 15,78 22,5

7. n° Respostas R 57 40

8. n° Respostas Populares

P 5 5

9. Objetividade F% 38,59 27,5

10.Dado da Realidade

F+% 77,27 90,5

11. Acrom: Crom (Fc+c+C’): (FC+CF+C)

10:9,5 4:7

12.Aspectos Personalidade

G: M 27:5 11:3

13.Aspecto Intelectual

(H+A): (Hd+Ad) 17:2 13:2

∗ Os nomes dos sujeitos foram alterados para proteger a identidade dos participantes.

48

• Quadro 5 - Pontuações Quantitativas detalhadas obtidas nos índices

afetivos na avaliação da primeira Prova de Rorschach: (data da aplicação:

12/ 02/ 2003)

I II III IV V VI VII VIII IX X TOTAL Respostas 57 Populares 5 Localização G1 1 1 G2 5 1 2 4 3 3 4 1 1 24 G/ 2 1 3 D 1 2 1 1 2 7 Dd 4 1 1 3 1 5 4 19 S (5) 2 (1) (2) (1) 1 (4) (1) (1) 3 (15) Determinantes M 1 2 1 1 5 FM 1 1 1 1 1 1 2 8 M 1 1 1 (1) 3 (1) FC 2 1 (1) 2 (1) 2 7 (2) FC’ (1) (2) 1 1 (3) Fc 1 3 (1) 1 (1) 1 (1) 6 (3) Fc’ (2) (1) (3) CF 1 (1) 1 (1) Csum (1) 1 1 (1) FK 2 (1) (1) (1) (1) 2 (4) KF (1) (1) F+ (2) 4 (2) 2 (2) (6) 2 (1) 1 (3) 5 (1) 1 (2) 2 (2) (4) 17 (26) F- (2) 1 1 (1) 1 (2) (1) 2,1 5 (7) Conteúdo A 1 1 3 2 1 4 12 (A) 1 1 1 3 H 1 2 2 5 (H) 2 2 Hd 1 1 2 Sex Cena Nat Plant Geo Obj Aobj Máscara Simb Arq Abstract

49

1. Ressonância Afetiva

R.A. = 26% ------------------------- inibição afetiva

2. Exteriorização da Afetividade

M = 5 Csum = 4,5

M : Csum---------------------- ambigual

Tipo de vivência do sujeito, no caso, ambigual. Indica reatividade

manifesta. No caso, parece haver pouca responsividade às influências do meio,

mas este índice raramente é considerado isoladamente, exceto em relação a M

e F%.

3. Tipo de Exteriorização

FC = 8 (CF+C) = 1,5

FC > CF + C e CF + C > 0 ---------- normal

Indica a presença ou ausência de exteriorização e o tipo de controle que

o indivíduo dispõe para exteriorizar seus afetos. FC>CF+C e CF+C diferente de

zero indica a presença de exteriorização normal, uma capacidade de responder

com adequado controle aos estímulos do meio, tanto interna quanto

externamente e sua expressão é profunda, não havendo necessidade de um

controle exagerado. A existência de respostas CF+C indica que ela é capaz de

uma responsividade controlada em relação ao meio social, respondendo

apropriadamente tanto com sentimentos como com ação. Além disso, é capaz

de respostas profundas e genuínas sob forte impacto emocional. Não há

controle excessivo neste caso.

50

4. Organização das Necessidades Afetivas

F: (FK + Fc) = 38,5: 11,5 SD:SI = 11,5:0,5

No caso, Luciana apresenta sinais de ansiedade, e estes não são

totalmente conscientes. As respostas de sombreado indicam como os sujeitos

manipulam as necessidades básicas de segurança, afeição e do sentimento de

pertencer a alguém. A ausência de respostas K e KF indica uma falta de

consciência das necessidades afetivas ou a presença de defesas que

protegem o sujeito dessa consciência.

Nesta equação, FK+Fc está numa proporção entre ¼ e ¾ de F,

indicando que a necessidade de afeto desenvolveu-se suficientemente bem e

está integrada com o resto da personalidade, e há função sensitiva

controladora, auxiliando o indivíduo na sua integração com outras pessoas,

sem a implicação de uma super-dependência vulnerável.

5. Recursos da Personalidade

M= 5 FM= 8 (FM+m)= 11,5

M < FM < 2M--------------------------- desfavorável

Há uma tensão muito forte para permitir que ela utilize seus recursos

internos para a solução construtiva de seus problemas cotidianos.

M= 5 FC=7

FM=8 CF=1

No eixo acima, as respostas de cor (FC) representam o mundo externo,

as relações interpessoais, o modo como o sujeito se comporta no mundo, suas

51

reações e manifestações emocionais. No caso de Luciana, há uma

predominância de respostas FC sobre M, mostrando que ela tem um equilíbrio

extratensivo, e como CF não supera FC, a sua energia está organizada no

nível secundário do funcionamento mental, transformando suas necessidades

de gratificação em metas em longo prazo, podendo canalizar suas energias de

forma criativa, produtiva e integrada.

6. Grau de esteriotipia

A% = 26,31 H% = 15,78

A% < 30 ------------------- dispersão do pensamento

Indica a capacidade de concentração, o controle dos processos de

pensamento e a amplitude de interesse que o sujeito apresenta. O sujeito

apresenta uma esteriotipia cujas funções do pensamento estão despertas. Há

presença de conteúdo humano, principalmente no conteúdo de anatomia, o

que é evidente pois está presente em seu trabalho corporal do dia a dia.

7. Produção

R = 57

Produção indica capacidade de produção intelectual. Apresenta um

excesso de produtividade. Deve ser analisada junto com a qualidade da

produção. No caso de Luciana, as respostas tiveram como determinantes mais

freqüentes os detalhes inusuais e as respostas globais secundárias, que

indicam que esse tipo de sujeito atém-se a aspectos incomuns das situações,

percebendo detalhes que poucos percebem e que faz uma integração dos

detalhes que percebe num todo.

52

8. Manutenção da objetividade

F% = 38,59

20 ≤ F% < 50 ---------------------- manutenção da objetividade normal.

Há uma boa capacidade de formação de conceitos objetivos. A hipótese

é que a pessoa empenha-se muito pouco em manter um relacionamento

impessoal e realista com o mundo. Se muitos outros fatores de controle são

representados, isto pode indicar uma personalidade plurifacetada, criativa,

espontânea, sensível e bem relacionada com os outros. Se outros fatores de

controle são pobremente representados, um baixo F% indica ênfase

inadequada em conformar-se com as exigências da realidade, uma relação

altamente personalizada.

9. Dado de realidade

F+ % = 77,27

75 ≤ F+% ≤ 80 ------------------------ normal.

Indica uma capacidade adequada de objetivação do sujeito, segundo os

padrões sociais.

10. Número de Respostas Populares

P= 5

Mostrou um número médio de respostas populares, que mostra um

ajustamento social, com ligação adequada à realidade, sem demasiada ênfase

na visão convencional.

53

11. Interferência de Perda e Rejeição na Manifestação da Afetividade

Acrom : Crom = 10:9,5

A necessidade afetiva não influencia indevidamente a responsividade

natural às situações emocionais, nem a habilidade para interagir com o

ambiente social.

12. Aspectos da Personalidade

G : M = 27:5

Indicativo de um nível de aspiração muito alto, com uma ambição que

supera a personalidade, pois a quantidade de G é acentuadamente maior que

a de M. Como Luciana tem um bom nível formal (F%=38,59) e uma produção

normal de M, trata-se de uma pessoa com um impulso muito grande para

realizações, talvez com um excesso delas, mas as custas de outras satisfações

importantes.

13. Aspecto Intelectual:

(H + A) : (Hd + Ad) = 17:2

Capacidade de empatia com o humano, auto-aceitação.

Tipo de Sucessão:

Sucessão relaxada. Enfraquecimento do controle por condições

emotivas ou patológicas, ou pode não Ter qualquer distúrbio emocional em

particular.

54

Controle: M

M=5. Quantidade alta de M, mostrando um dinamismo interno para

investimento, indicando: (1) é do tipo imaginativo, pois vê na prancha uma

cinestesia que inexiste, (2) alto grau de empatia, (3) percepção diferenciada e

integrada.

Organização e Apreensão da Realidade

G% : D% : S% G : D : Dd : S

49: 12,3: 5 28 : 7 : 19 : 3

Apreende a realidade. Parte dos detalhes inusuais até chegar a um

raciocínio global, integrando as partes, verificando que a maioria das respostas

global é do tipo secundária.

Fundo de Personalidade

(FM + Fm + mf + m) : (FC’ + C’F + C’ + Fc + cF + C) = 11:7

As respostas de movimento indicam tendências introversivas não

completamente aceitas ou utilizáveis pelo sujeito no momento, e

conseqüentemente representam uma potencialidade. Essas respostas também

se relacionam à função imaginativa. Já as respostas de cor acromáticas se

relacionam com uma potencialidade de maior reatividade emocional.

55

• Quadro 6 - Pontuações Quantitativas detalhadas obtidas nos índices

afetivos na avaliação da segunda Prova de Rorschach: (data da aplicação:

10/ 11/ 2003 )

I II III IV V VI VII VIII IX X TOTAL Respostas 3 4 6 6 2 2 5 4 4 4 40 Populares 5 Localização G 1° 1 2 3 G 2° 4 2 2 8 D 2 2 2 2 1 1 10 Dd 2 1 4 2 2 1 2 3 1 18 S (1) 1 1 (1) Determinantes F+ 1 (2) 2 (2) 2 (2) (3) 1 (1) (1) 3 (4) (3) 1 (2) 10 (20) F- (2) 1 (2) (1) (1) (1) 1 (7) FC 2 1 (2) 1 (1) (1) 4 (4) FC' 2 4 (1) 1 (1) 7 (2) C' F Fc (1) (3) (1) (2) (1) (8) CF FK 2 (1) (1) 2 (2) KF Fk KF CF M 2 1 FM 1 1 1 1 4 M 2 1 2 2 7 Conteúdo H 2 1 1 4 (H) 1 1 2 Hd 1 1 1 3 (Hd) A 1 2 2 1 1 1 1 9 (A) Ad 1 1 2 (Ad) Obj 1 1 1 1 1 5 Anat 1 1 2 Sex 1 1 1 1 1 1 6 Nat 1 1 Geo 1 1 Pl 1 1 2 AH Hobj Simb 1 1 Alim Arq Abstr 1 1 2

56

Fg Sg 1 1 Nv disfor 3 1 4 Cena 2 2

1. Ressonância Afetiva

R.A. = 30% ------------------------- limiar entre inibição afetiva e

responsividade normal.

2. Exteriorização da Afetividade

M = 3 Csum = 2

M : Csum---------------------- ambigual

Tipo de vivência de Luciana continua ambigual.

3. Tipo de Exteriorização

FC = 4 (CF+C) = 0

FC > CF + C ---------------------- normal

Indica a presença ou ausência de exteriorização e o tipo de controle

que o indivíduo dispõe para exteriorizar seus afetos. Neste caso CF+C é igual à

zero, o que pode indicar numa dificuldade de reação emocional diante de uma

situação que solicite mais envolvimento. Como RA é alto, pode ser que haja um

conflito interno, uma vez que FC também indica um controle excessivo sobre a

expressão da impulsividade.

4. Organização das Necessidades Afetivas

F: (FK + Fc) = 24,5: 7 SD:SI = 7:0

57

No caso, Luciana apresenta sinais de ansiedade, e estes não são

totalmente conscientes, pois as respostas Fc (consciência e aceitação das

necessidades afetivas) são menores que FK (manipulação da ansiedade). As

respostas de sombreado indicam como os sujeitos manipulam as necessidades

básicas de segurança, afeição e do sentimento de pertencer a alguém. A

ausência de respostas K e KF indica uma falta de consciência das

necessidades afetivas ou a presença de defesas que protegem o sujeito dessa

consciência.

Nesta equação, FK+Fc está numa proporção entre ¼ e ¾ de F,

indicando que a necessidade de afeto desenvolveu-se suficientemente bem e

está integrada com o resto da personalidade.

5. Recursos da Personalidade

M= 3 FM= 4 (FM+m)= 11

M < FM < 2M--------------------------- desfavorável

Ainda há uma tensão muito forte para permitir que ela utilize seus

recursos internos para a solução construtiva de seus problemas cotidianos.

M= 3

FC=4

FM=8 CF= 0

Luciana mantém a predominância de respostas FC sobre M, mostrando

um equilíbrio extratensivo, e como CF não supera FC, a sua energia está

organizada no nível secundário do funcionamento mental.

58

6. Grau de esteriotipia

A% = 27,5 H% = 22,5

A% < 30 ------------------- dispersão do pensamento

O sujeito apresenta uma esteriotipia cujas funções do pensamento estão

dispersas. Há presença de conteúdo humano, principalmente no conteúdo de

anatomia, o que é evidente pois está presente em seu trabalho corporal do dia

a dia.

7. Produção

R = 40

Apresenta um excesso de produtividade. Deve ser analisada junto com a

qualidade da produção. No caso de Luciana, as respostas mantiveram como

determinantes mais freqüentes os detalhes inusuais, que indicam que esse tipo

de sujeito atém-se a aspectos incomuns das situações, percebendo detalhes

que poucos percebem e que faz uma integração dos detalhes que percebe

num todo.

8. Manutenção da objetividade

F% = 27,5

20 ≤ F% < 50 ---------------------- manutenção da objetividade normal.

Há uma boa capacidade de formação de conceitos objetivos.

9. Dado de realidade

F+ % = 90,5

59

F+% > 80 ---------------------- rigidez, vida afetiva comprometida

Apesar dos índices de respostas de conteúdo formal sejam altos, há boa

quantidade de respostas de textura e cor, amenizando o pensamento de uma

asfixia da vida afetiva. Mas nos leva a pensar que Luciana utiliza da

racionalização para dar conta dos conteúdos conflituosos que desencadearam.

10. Número de Respostas Populares

P= 5

Mostrou um número médio de respostas populares, que mostra um

ajustamento social, com ligação adequada à realidade, sem demasiada ênfase

na visão convencional.

11. Interferência de Perda e Rejeição na Manifestação da Afetividade

Acrom : Crom = 4:7

A necessidade afetiva continua a não influenciar indevidamente a

responsividade natural às situações emocionais, nem a habilidade para

interagir com o ambiente social.

12. Aspectos da Personalidade

G : M = 11:3

Indicativo de um nível de aspiração muito alto, com uma ambição que

supera a personalidade, pois a quantidade de G é acentuadamente maior que

a de M. Como Luciana tem um bom nível formal (F%=27,5) e uma produção

normal de M, trata-se de uma pessoa com um impulso muito grande para

60

realizações, talvez com um excesso delas, mas as custas de outras satisfações

importantes.

Organização e Apreensão da Realidade

G% : D% : S% G : D : Dd : S

27,5: 25 : 2,5 11: 10 : 18: 1

Apreende a realidade. Parte dos detalhes inusuais até chegar a um

raciocínio global, integrando as partes, verificando que a maioria das respostas

global é do tipo secundária.

• Resultado da Entrevista:

Data da primeira entrevista: fevereiro de 2003.

A professora Luciana tem 27 anos, mora com o namorado e sua família

é de outra cidade. Possui grau superior, é professora de Tantra Yoga e de

dança do ventre, além de massagista. Ela não é praticante de religião, mas tem

muita afinidade com o Budismo e com a filosofia indiana do Osho (que é um

filósofo indiano). Entrou em contato com o Tantra Yoga em uma outra cidade,

onde fez o curso com uma monja americana. Exerce esta profissão desde

2000.

Ela é uma pessoa muito comunicativa e assim se descreve: “eu adoro

conviver com as pessoas, adoro conversar, ficar em contato próximo assim,

gosto de ensinar, gosto de gente perto de mim, gosto de calor.”

Descreve sua relação familiar como sendo boa e satisfatória, não

relatando conflitos com os pais e com o irmão. Em nenhum momento da

entrevista ela coloca um fato que represente um obstáculo ou uma fonte de

61

conflito familiar. Do mesmo modo descreve seu relacionamento amoroso.

“Somos muito felizes, ele é uma pessoa maravilhosa, tem tudo a ver comigo, é

minha alma gêmea! Não tem brigas, não tem nada de ruim.” Mora em São

Carlos com o namorado, que conheceu à oito meses. Descreve esta relação

como sendo muito profunda e intensa, apesar do pouco tempo juntos. Seu

namorado é músico, fato que aproximou os dois também na relação

profissional, pois ele toca instrumento de percussão árabe enquanto ela dança.

E mesmo seu namorado não tendo uma relação profissional com o Tantra

Yoga, Luciana cita o beneficio que esta prática traz para sua relação: “E do

yoga ele também participa muito. E toda essa tranqüilidade que o yoga dá, traz

para o corpo, essa alegria assim, essa coisa do corpo ficar legal, de ter uma

boa postura diante dele, de nossa relação.”

Luciana teve um relacionamento amoroso anterior durante oito anos, e

assim descreve esse seu antigo parceiro “Também uma pessoa maravilhosa,

super evoluída, também fazia yoga, também praticava, também tudo a ver

comigo!” . Nesse momento da entrevista nos chama a atenção que ela afirmou

não ter tido expectativas de futuro com relação à esse parceiro, descrevendo-

se como uma pessoa que não faz planos futuros, que vive o presente. Ela

acrescenta que esse relacionamento trouxe muito crescimento e valores para

ela.

Sua vida social tem se tornado mais ativa, principalmente por causa das

apresentações que faz e as do seu namorado, que muitas vezes acontece à

noite em festas, convenções, etc. Ao mesmo tempo diz que a maior parte de

sua vida social se dá no relacionamento com os alunos, com quem procura

fazer amizades e ter uma relação mais profunda.

62

Com relação aos benefícios trazidos pela prática do Tantra, ela diz “além

de tonificar todos os músculos do corpo (...)me sinto mais alongada, mais forte,

gosto mais do meu corpo agora. Acho que trás uma aceitação maior. Me sinto

mais disposta, já sou mais dinâmica, mas depois de praticar o tantra, e a

dança, me sinto melhor, mas ativa. Nos emocionais eu acho que sou mais

segura, agora. Porque o tantra vai trabalhando todas as suas emoções, vai

equilibrando.” Ainda com relação aos benefícios trazidos, relata ser menos

crítica, aceitar os defeitos e conviver melhor consigo e com o outro; com

melhora da vida sexual, da auto-estima, do auto-conhecimento e auto-

aceitação.

Seu relato de expectativa de futuro enfatiza planos profissionais, embora

não deixe de ter expectativas com relação à família e ao namorado. Apesar de

dizer que “o futuro é daqui a pouco”, esses planos profissionais transparecem

uma meta a longo prazo.

Data da segunda entrevista: novembro de 2003

Nesta entrevista, Luciana relatou como mudanças ocorridas o aumento

de trabalho; a sensação de pertencer à São Carlos, de ficar num lugar fixo,

enraizada; uma maior certeza de ter encontrado a pessoa para viver ao seu

lado; a melhora no relacionamento familiar, particularmente com a mãe. Tudo

contribui para um estado de maior tranqüilidade, segurança e interiorização.

63

IV. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

CAROLINA

Pode-se perceber muitas mudanças ocorridas em Carolina durante o

intervalo da aplicação entre as duas provas de Rorschach. Ela mesma toma

consciência dessas mudanças ocorridas assim como conta, que logo depois do

término de seu namoro, houve um aprofundamento de uma fase reflexiva, de

maior auto-conhecimento. Tal mudança foi iniciada com sua vinda para São

Carlos e com o começo da faculdade “quando eu mudei pra cá, novas coisas

começaram a surgir, novas formas de vida, novos conceitos, novas coisas que

eu tive que mudar, e quis mudar, aí eu comecei a entrar num processo de auto

conhecimento de novo, que eu passei por isso quando eu tinha quinze anos”.

Carolina considera que a prática do Yoga proporcionou um

aprofundamento no conhecimento de si mesma , se sente contente ao praticar,

e diz que faz bem para si mesma “Mexe muito com inconsciente, com energia,

e que me deixa assim, com certeza melhor, comigo, nessa busca de mim

mesma, que tanto tem auto-conhecimento.”. Reconhece que na terapia está

entrando em contato com conteúdos que antes estavam causando muito

conflito e ansiedade para ela. Esse processo a ajudou a identificar uma

característica de controladora que a atrapalhava: “eu tenho que ter muito

controle das coisas, então eu tenho que ter muito controle de mim, isso que

acaba prejudicando bastante. Então a razão ela impera bastante, por mais que

eu seja emotiva, sensível, a razão tá sempre lá.”

Para Jung, os movimentos da energia libidinal dos processos mentais,

nos indivíduos podem ser identificados, em termos gerais, através do conceito

64

de introversão e extratensão. No primeiro caso, a energia libidinal introjetada

tende a ser descarregada na própria personalidade do sujeito, que tem um

mundo interno rico e estruturado com base em seus próprios valores e

necessidades. Em uma pessoa extratensiva, a energia libidinal está voltada

para os acontecimentos externos a ela, sendo então esta pessoa altamente

responsiva ao ambiente, tanto em termos de expressão emocional aberta ou

em sentimentos calorosos e afetuosos. As pessoas ambiguais possuem as

duas características acima descritas oscilando em seu funcionamento libidinal,

tendo ora necessidades introvertidas e ora necessidades extratensivas.

Carolina identifica em sua personalidade uma fase de introversão, assim

como ela diz: “Assim, então eu antes estava numa fase super expansiva, né,

de conversar com as pessoas tal, e agora estou numa fase super retraída, que

o que eu quero é ficar no meu canto, ... eu quero estar mais comigo mesmo,

me perceber muito mais, e não ficar me expandindo nas pessoas.” Diz que por

conta desta fase, se afastou um pouco do convívio social, mas que não se

afastou de suas amigas.

Segundo a primeira Prova de Rorschach aplicada em Carolina,

encontramos sinais de mecanismos de defesa utilizados, que eram inicialmente

arcaicos (a repressão e a negação). De acordo com seu potencial afetivo-

emocional e cognitivo intelectual as energias utilizadas nestes mecanismos

poderiam se transformar em simbolização, a serviço do processo secundário

do funcionamento mental. Esses mecanismos foram identificados por ela e

ditos durante a segunda entrevista, nas suas próprias palavras: “(..) foi uma

coisa que eu procurei (a terapia), pois eu percebia que era uma coisa que

queria sair de dentro de mim, e que não saia. Que queria florescer e eu cobria.”

65

No segundo teste encontramos sinais de mudança das operações de

defesa, pelo aparecimento de respostas que mostram um rebaixamento do

auto conceito. Ela, para racionalizar e fantasiar, utiliza a esfera da

intelectualidade, fazendo um esforço para usar a razão, para extroverter. É

nesse ponto que encontramos o maior conflito de Carolina. O funcionamento

mental dela se caracteriza como ambigual e no momento ela está introversiva,

tentando utilizar sua energia psíquica para extroverter.

Ela estava numa fase extremamente introvertida e identifica a fase o

que pode ter causado um conflito interior. “Então eu acho que eu sempre fui

muito nessa loucura de querer estar com um monte de gente. Mas ao mesmo

tempo eu gosto muito de estar sozinha.”

Ela se considera expansiva (e assim se parece às nossas observações)

mas ela também sente muitas vezes parecida com a descrição do introversivo

e não aceita esse fato.

No julgamento de Carolina ser introversivo é errado e feio, um

sentimento comum nas pessoas que vivem este modo de organização afetivo-

emocional e cognitivo intelectual, já que o tipo de organização extratensivo é

mais aceita e tem melhores condições de realização numa sociedade na qual

ainda há uma ênfase da visão positivista de mundo.

O potencial, criativo produtivo, dela aumentou mas ainda está sub-

utilizado, pelo aparecimento de um rebaixamento do autoconceito. Pode estar

relacionado à esfera da afetividade, pois a necessidade afetiva que antes era

inconsciente, agora se manifesta e se associa com os conteúdos que emergem

ainda não elaborados, ocasionado um rebaixamento da auto-aceitação.

66

Através da relação (F : FK+Fc) pudemos observar que há um canal de

manifestação dos afetos. No primeiro teste pode-se verificar que houve uma

negação das necessidades afetivas de nível pré-consciente, que acabou por

encontrar um canal de manifestação, e entrou em equilíbrio. Essas

necessidades afetivas entraram em processo de elaboração e verificou-se que

na segunda prova, tais necessidades não se encontraram pressionadas por

mecanismos de defesa, e sim por uma aceitação e consciência de tais

necessidades. “Eu achava que eu era de um jeito e aí chegou uma época , no

começo desse ano que eu percebi que eu não era daquele jeito que eu achei

que eu fosse. Porque antes eu tinha certeza do que eu era, do que eu gostava,

do que eu não gostava, as coisas que aconteciam comigo, eu sabia a origem,

as causas e efeitos. E percebi que eu não tinha esse controle em cima de mim.

Então eu fui percebendo que eu era outra Carolina, também”

Outro conflito enfrentado por Carolina era o da negação da sua

influência familiar em sua personalidade. No começo, por meio do

enfrentamento com o pai e a avó, ela negava aspectos do seu animus.

Para JUNG (1957) animus representa os aspectos masculinos da

psique da mulher, que tem origem nas características das figuras masculinas

presente no desenvolvimento da mulher.

No caso de Carolina, essa identificação ocorreu com o pai e com a avó

(a avó o arquétipo anima está à sombra manifestando o animus primitivo nas

relações). Possuidor dos aspectos intelectuais e do pensamento, um excesso

de investimento e identificação com o arquétipo animus na personalidade da

mulher pode provocar intelectualização e pensamento rígido. Esse excesso de

intelectualização foi verificado em Carolina nos resultados da primeira prova,

67

mas encontraram descarga quando ela procurou uma atividade física ligada à

esta natureza (Yang), a capoeira, não omitindo sua feminilidade e vitalidade.

Com o tempo, Carolina elaborou esses conteúdos e integrou-lhes à sua

personalidade, tendo consciência de suas características. “(...) teve épocas da

minha vida que eu tinha uma personalidade muito forte, assim, que nem eu

reclamo da minha avó e do meu pai, eu era igualzinha, (...) mas muita coisa

mudou, fiquei um pouco mais calma, mais paciente, mais tolerante.”

Houve então um redimensionamento da personalidade humana para sua

integração total, fortalecendo a identidade individual. Carolina soube delimitar

na esfera individual a manifestação do arquétipo animus, manifestando sua

força em atividades (capoeira) e elaborando uma atitude espiritual que liberta

da limitação e restrição da esfera unicamente pessoal (Umbanda).

O autocontrole, conseguido através da prática e da vivência do yoga,

propiciou o equilíbrio da personalidade, auxiliando-a a reelaborar e enfrentar

aos maremotos dos conflitos existenciais.

Ela ainda é altamente impulsiva entretanto observa-se um alto controle

desta. Ainda se observa uma cautela para se relacionar emocionalmente. Essa

falta de envolvimento emocional pode ter sido causada por uma experiência

traumática, o que a levou a ter uma cautela com relação aos contatos

emocionais. Seu relato de vida não apontava para nenhuma experiência que

parecesse traumática, e por isso houve a necessidade de voltarmos a entrar

em contato com ela para que esse fato fosse investigado.

Quando lhe foi perguntado sobre a presença de sinais de experiência

traumática, e explicada a existência desses sinais na Prova de Rorschcah

Carolina falou que não se lembrava de nada que pudesse tê-la ferido tanto.

68

No curso da conversa sobre sua historia de vida ela relembrou o fato de

ter tido uma experiência de mediunidade na infância. Nesta época, lhe ocorria

um fenômeno que ela relata como sendo “vozes” que ela ouvia, e que a

deixava muito incomodada e perturbada. Disse que ouviu por algum tempo, até

que quando teve uma crise aos quinze anos, uma amiga a ajudou e a levou a

um centro espírita...”aí eu comecei a entrar num processo de auto

conhecimento de novo, que eu passei por isso quando eu tinha quinze anos”.

Lá foi acolhida e melhorou, ajudaram-na a trabalhar o acontecido e

passou a freqüentar a religião e a aprender seus preceitos e práticas. Foi

quando se tornou espírita praticante.

Esta parece ter sido a situação que Carolina enfrentou como aterradora,

já que tem a mesma intensidade e importância de outros momentos de

passagem, como do início da vida adulta (na universidade). A diferença é que

no momento em que os fenômenos mediúnicos, pois assim foram tratados,

ocorreram com Carolina, ela não tinha autodomínio suficiente para buscar

ajuda e o que parece também seus parentes pareciam desconhecer como

ajudá-la. A presença da amiga e o conhecimento desta de um espaço religioso

que pôde acolher Carolina foram de extrema importância na sua vida.

O aumento das respostas populares na prova de Carolina mostra um

aumento da tendência a responder às necessidades do mundo. Comparada à

população brasileira ela, possui alta capacidade intelectual cognitiva. O

funcionamento afetivo emocional se caracterizada por núcleos de conflito que

alteram o pleno funcionamento das suas capacidades. Conflitos estes que são

passíveis de serem elaborados em virtude das capacidades emocional e

69

cognitiva intelectuais, demonstradas nos índices do Rorschach acima

apresentados.

O trabalho realizado com Carolina mostra claramente a importância que

a experiência religiosa e espiritual (Yoga, o espiritismo e a Umbanda) tiveram

em seu equilíbrio emocional. Estas vivências levaram-na a compreender muito

do seu próprio funcionamento afetivo-emocional e serviram de aporte para a

simbolização da energia libidinal, na entrevista devolutiva ela diz: “eu sou

cambo, ajudo a traduzir a fala dos espíritos mais evoluídos para as pessoas

que vão consultá-los”. (quando se refere aos estudos e à prática da Umbanda).

A psicoterapia também proporcionou uma ajuda importante para

Carolina e num momento em que ela estava pronta para compreender o

trabalho psíquico. Além disso, a devolutiva esclareceu pontos fundamentais de

seu funcionamento psicológico. Na despedida ela diz sorrindo “... podemos ter

uma conversa dessa por semana?...” e termina dizendo “estou retornando para

cidade onde reside minha família e lá vou reiniciar a psicoterapia...”.

LUCIANA

Luciana diminuiu o número de respostas dadas na prova, o que pode

indicar uma diminuição de interações com o meio externo, como uma tentativa

de continuar dando respostas de boa qualidade. Esta hipótese é levantada em

função da diminuição da exteriorização da afetividade e do tipo desta

exteriorização. Para continuar lidando bem com a realidade, observou-se que

no momento da segunda prova ela reage com a constrição afetiva diminuindo o

contato real com a realidade externa e racionalizando, para dar conta do

70

conteúdo que foi desencadeado nesse período (verificado pelo aumento de

F+%)

A consciência de suas necessidades afetivas diminuiu acentuadamente.

Parte desse rebaixamento esta relacionada a uma mudança em sua vida, para

estabilidade na vida amorosa, profissional e também no fato dela ter fixado sua

residência. A estabilidade de Luciana mexe com conteúdos internos que

causam angústia, levando-a a usar o mecanismo de defesa da negação e da

racionalização, a fim de manter o domínio sobre suas emoções. Essas

angústias são evidentes no número de respostas de movimento inanimado (m),

que aumentou de maneira expressiva. Esse tipo de resposta reflete as forças

que ameaçam a integridade da organização da personalidade do sujeito; essas

forças são internas ao sujeito e ameaçam a sua auto-imagem.

Durante a entrevista, tivemos a sensação que Luciana apresenta uma

superficialidade ao contar sobre os fatos de sua vida, pois não aprofundava nos

assuntos que à ela eram perguntados e se referia aos acontecimentos como

não tendo nenhum problema. Ao mostrar essa visão parcial da vida, onde tudo

é aparentemente lindo e sem conflito, podemos verificar que estes últimos

podem ser encontrados na sua sombra.

Na teoria Junguiana é na sombra que se encontram aqueles conteúdos

reprimidos, ou seja, aquilo que não gostaríamos de ser, as qualidades menos

escondidas, as fraquezas, o que está em contra-parte das nossas virtudes

conscientes, e que portanto, se aglomeram no inconsciente. Apesar de seus

aspectos negativos, sombra não é negativa no sentido moral da palavra

SCHLEGEL (1973) também acrescenta que sem a sombra o ser humano seria

71

irreal, pois ele mesmo acharia que é apenas aquilo que gostaria de conhecer

sobre si mesmo.

Nossa hipótese é que em função da estabilidade, seu inconsciente pode

expressar conteúdos relacionados a aspectos conservadores de sua família

nuclear, que poderiam estar à sombra de sua personalidade. Luciana estaria

jogando para a sua sombra necessidades inconscientes, que podem estar

presentes no imaginário da sua família de origem, e portanto fazem parte da

sua educação ”Eles também não são ortodoxos, (ao se referir à religião católica

dos pais) me batizaram porque eu vim de uma família antiga, de tradição que

acredita que batizado é uma benção”. Essa exigência familiar poderia estar

confrontando com sua escolha profissional e estilo de vida “Eu venho de uma

família mais rígida, uma educação tradicional. Sexo é uma coisa que não era

para se expressar assim (ao se referir à sua relação sexual com base no

Tantrismo)”. Esse fato levaria Luciana à uma tentativa de ser aceita pelos

outros, conferindo a si atributos socialmente aceitos, visto que ainda hoje no

Brasil não existe uma valorização da sua profissão.

Pelo fato de ela poder estar negando tais características presentes em

sua sombra, quando fala pode dar um ar de superficialidade, pois não entra em

contato com tais conteúdos internos, não fala de seus problemas e não

aprofunda. Luciana, então, desconhece sua sombra, mostrando-se rígida e

com uma certa inflexibilidade. Aparece uma dicotomia, uma cisão,

apresentando os mecanismos de defesa da racionalização e negação. Quando

os conteúdos presentes na sombra são negados dessa forma, é comum a

pessoa apresentar traços de disforia, que é uma negação e não aceitação das

pranchas que contém cor escura e acinzentada. Luciana revela em muitas

72

pranchas sinais de disforia e também muita critica, isto é, autocrítica. Os

conteúdos presentes na sombra possuem como característica principal um

aspecto arcaico, e quando este conteúdo está para ser expresso, sai de forma

primitiva. É quando se faz presente a impulsividade de Luciana apresentada

em muitas atitudes, como ao expressar sua necessidade de fazer as coisas

acontecerem na hora.

Sua impulsividade aumentou a fim de dar vazão aos conteúdos que

emergem como formas de angústia e que por ela são negados ou

racionalizados; a falta de domínio sobre esses faz com que conteúdos de

diferentes aspectos de sua vida se exteriorizem por processo impulsivo e pelo

aumento da ansiedade. Uma de suas possíveis fontes de angústia é a

preocupação com a manutenção das relações que agora começam a se tornar

estáveis (casa fixa, casamento, alunos fixos...).

Houve uma diminuição visível no número de respostas acromáticas e

cromáticas. Acreditamos que houve nesse período entre as aplicações, uma

resolução de parte de sua ansiedade através da vazão da mesma. Luciana

resolveu sua necessidade de afeto e expandiu-a na relação com o mundo, ao

mesmo tempo em que gerou um certo tipo de ansiedade que mobilizou

angústias arcaicas.

Outra mudança aparente foi a passagem do funcionamento no processo

secundário na primeira prova para um funcionamento para o processo primário,

pois visto que tais ameaças citadas acima aparecem, Luciana ainda não foi

capaz de equilibra-las, por ter uma forte carga emocional. Apesar disso,

observa-se que Luciana dispõe de segurança básica, e sua função egóica é

forte suficiente para não deixar que as forças inconscientes a dominem.

73

Ao falar sobre a natureza de sua personalidade, Luciana reconhece em

si mesma como um tipo ambigual, que ora se encontra expansiva e ora se

encontra introvertida. Sua atitude mental introvertida (que é alimentada pela

pratica do yoga) se alterna com uma postura extrovertida perante o mundo, que

é estimulada pelas tarefas e exigências cotidianas. “Acho que as pessoas

pensam que vão olhar para o yogui e achar que é uma pessoa que é

tranquilissima, acho que a interna é necessário ter (...) mas para dançar,

conversar com o publico, você precisa estar para fora também, articulando,

sempre com determinação, com essa coisa de mexer!”. É possível ver que

algumas vezes possui atitudes que são influenciadas pelo processo primário de

funcionamento mental, que exige uma satisfação imediata, mostrando uma

radicalidade e necessidade de mudança instantânea. “Vamos respirar, vamos

transformar, vamos embora, vamos mudar tudo!”

Num primeiro momento Luciana demonstrava uma ambição

hipertrofiada, pois deslocava o que não a satisfazia para outras realizações. Já

na segunda prova, observou-se uma distribuição da libido mais ampla e ela

portanto não precisa utilizar sua energia vital em defesas. Isso aparece com o

estabelecimento de relações profundas e estáveis no trabalho e no casamento.

No caso de Luciana, o Tantra Yoga a ajudou a aprofundar seu auto

conhecimento e a aceitar parte de suas necessidades, enquanto que ainda

apresenta sinais de necessidades inconsciente importante que buscam

expressão e aceitação. O Tantra também possibilitou a expressão do animus

nela constituído e conseqüentemente o encontro com um parceiro com quem

pretende realizar uma vida amorosa estável.

74

Para finalizar a discussão, seria recomendável à Luciana a procura de

Psicoterapia, mais precisamente o Psicodrama em grupo. Esta técnica é

aconselhável porque proporcionará ao sujeito a vivência dos papéis sociais e

englobando a diversidade e oferecendo novos modos de organização da

psique e seus conteúdos afetivos-emocionais, tanto sociais quanto pessoais.

Fornecendo a uma pessoa com tantos recursos afetivo-emocionais e cognitivo-

intelectuais a possibilidade dela reorganizar as experiências que ainda formam

núcleos conflitivos.

75

V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADRADOS, I. (1973), Teoria e Prática do teste de Rorschach. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. 12ª edição,

AURÉLIO, B. H. F . (1988), Novo dicionário básico da língua portuguesa Folha/Aurélio. Nova Fronteira. CUSUMANO J. A., ROBINSON S. E. (1992) The Short-term Psychophysiological Effects of Hatha Yoga and Progressive Relaxation on Female Japanese Students. In Applied Psychology: An International Review, 42 (1) p. 77-90 ELIADE, M. (1996). Yoga: Imortalidade e Liberdade. São Paulo: Palas Athena FEURERSTEIN, G. (2001). Tantra: Sexualidade e Espiritualidade. Rio de Janeiro: Nova Era. FRED, S. Obras completas, Imago. HERMOGENES, J. (1997). Auto-Perfeição com Hatha Yoga. Rio de Janeiro: Record, 37° ed. HIPÓLITO, C. F.; PREBIANCHI, H. B . (1999). Exame Clínico e Psicológico JAPIASSU, H. (1976), Introdução à epistemologia da psicologia. Rio de Janeiro, Imago. JUNG, C. G. (1983), Obras completas, Editora Vozes. JUREMA, A. C. e col. (2000). Psicodiagnóstico-V. Porto Alegre: Art Méd, 5° Edição. OCAMPO, M. L. S., ARZENO, M. E. G., PICOOLO, E. G. e col . (1995), cap. II, A Entrevista Inicial & cap. III Entrevistas para a aplicação de testes in: O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo: Martins Fontes. PASIAN, S. R. (2000), O psicodiagnóstico de Rorschach em Adultos:atlas, normas e reflexões. São Paulo: Casa do psicólogo, 1ª Edição. PENNA, E.M.D. (1987), Um esquema auxiliar na interpretação dos tipos de vivência. Trabalho apresentado no XII Congresso Internacional de Rorschach e outras técnicas projetivas, p. 1-10. PUCSP – APOSTILA produzida pelo grupo de trabalho em psicodiagnóstico baseado na obra de: Bruno Klopfer. (1942), The Rorschach technique, Nova York: Word Book Company, v. I e II.

76

REY, F. L.G. (2000) Pesquisa Qualitativa em Psicologia: Caminhos e Desafios. São Paulo: Pioneira Thomson. RORSCHACH, H. (1967) Psicodiagnóstico: método e resultados de experiência diagnóstica de percepção. São Paulo, Mestre Jou, p. 397. SCHLEGEL, LEONHARD (1973). A Personalidade e a Sombra. In: Esboço básico da Psicologia Profunda. Ed. Prancke, pp: 71-85 TRINCA, W. (1983) O pensamento clínico e a integração dos dados no diagnóstico psicológico. In: Diagnóstico psicológico: a prática clínica. São Paulo: EPU, p.83-93. VALLE, E. (1998). Psicologia e Experiência Religiosa. São Paulo WEINER, I. B. (2000). Princípios da Interpretação do Rorschach. São Paulo, Casa do Psicólogo.

77

ANEXO I

Significado dos índices utilizados na apuração da Prova de Rorschach

de acordo com Bruno Klopfer (1949).

1. Ressonância Afetiva

A ressonância afetiva é a variável que indica a responsividade geral do

individuo ao meio, alem de servir de valor comparativo para a confirmação do

tipo de exteriorização da afetividade. Os valores considerados foram:

RA < 30% ---------------------- inibição afetiva

30% < RA < 40% ------------- responsividade normal

RA > 40% ---------------------- impulsividade

2. Exteriorização da Afetividade

A exteriorização da afetividade indica o tipo de vivencia dosujeito, isto é,

qual seria o tipo de reação frente ao impacto emocional provocado pelos

estímulos do meio. Os valores considerados foram:

2M : 1 Csum ------------------------ introversivo

1M : 2 Csum ------------------------ extratensivo

M : Csum ---------------------------- ambigual

Os indivíduos caracterizados como introversivos tem uma vida interior

rica, são reflexivos e criativos. Mantém contatos humanos mais numerosos que

profundos e demonstram dificuldades na vida social e em adaptar-se à

realidade.

Aqueles considerados extratensivos são hábeis em adaptar-se à

realidade, mostram-se mais pragmáticos, são pouco originais e encontram

78

facilidade para concretização de seus objetivos. Mantêm contato superficial e

numeroso.

A introversão extrema pode indicar, junto com a análise, geral dos

dados, uma defesa frente às emoções provocadas pelos estímulos do meio,

em contrapartida, a extratensão extrema também pode refletir uma defesa que

busca ajuda no engajamento total com a realidade.

A ambigüidade pode apresentar-se através do sujeito do tipo

dilatado ou coartado. O individuo que apresenta um tipo de vivência dilatada

conserva um equilíbrio entre as características introversivas e extroversivas,

trazendo consigo a habilidade de manter contatos afetivos profundos e, ao

mesmo tempo, tendo o domínio do ambiente que o cerca. Como todos os

indivíduos desse grupo que apresentam vivencia ambigual estavam coartados,

foi possível engloba-los numa única categoria.

3. Tipo de Exteriorização

O tipo de exteriorização da afetividade indica a presença ou não de

exteriorização e o tipo de controle de que o sujeito dispõe para exteriorizar

seus afetos. Os valores considerados foram:

FC = 0 e CF + C = 0 --------------------------- sem exteriorização

FC < CF + C -------------------------------------- impulsividade

FC > CF + C e CF + C > 0 ------------------------ normal

A equação FC > CF + C, quando FC excede a soma CF + C, é indicativa

da capacidade do individuo de responder com controle adequado aos

estímulos do meio, tanto interna como externamente, e sua expressão é

79

profunda, não havendo a necessidade de um controle exagerado. No entanto,

se a soma CF + C tender a zero, devemos pensar na dificuldade do sujeito em

reagir emocionalmente diante de uma situação que solicite um

desenvolvimento mais profundo. FC < CF + C é demonstrativo de que o sujeito

tem com controle frágil sobre sua emocionalidade e tende a reações

comportamentais impulsivas. Mas estas respostas deverão ser avaliadas

também em conjunto com as de movimento animal e humano.

4. Organização das Necessidades Afetivas

O índice da organização das necessidades afetivas demonstra a

presença de sinais de ansiedade e se aquelas são passiveis de

reconhecimento, ou ainda, se são tão primitivas que se tornam indiscriminadas.

Os valores considerados foram:

Sombreado Diferenciado : Sombreado Indiferenciado

(FK + Fk + Fc) : (KF + kF + cF + c)

0 : 0 ------------------------------- inconsciência

0 : x onde x ≠ 0 ------------------ consciência

y : x onde x e y ≠ 0 ------------- inconsciência e consciência

As respostas de sombreado nos indicam como os sujeitos manipulam as

necessidades básicas de segurança, de afeição e do sentimento de pertencer a

alguém. As respostas K e KF indicam a presença de ansiedade de natureza

vaga: o sujeito está consciente dessa ansiedade, embora não tenha defesas

eficazes. A presença de ansiedades faz parte da vida, no entanto, se há um

aumento para 3 no índice dessas respostas de natureza vaga, e assim

80

excederem as respostas de sombreado diferenciado, podemos supor que o

grau de ansiedade é alto o suficiente para perturbar o cotidiano do sujeito. A

ausência de respostas dessa natureza indica uma falta de consciência das

necessidades afetivas ou a presença de defesas que protegem o sujeito dessa

consciência.

A relação entre as respostas de textura e forma é muito importante para

a avaliação global do sujeito. Se a quantidade das respostas de textura

diferenciada exceder ¾ das de forma, podemos supor que as necessidades

afetivas ameaçam inundar a personalidade; no entanto, se elas estiverem

abaixo de ¼ de F, podemos pensar na presença de repressão intensa ou numa

necessidade de afeto subdesenvolvida.

5. Recursos da Personalidade

Os recursos da personalidade indicam o tipo de vivência do sujeito, a

capacidade de reflexão, de imaginação e a energia psíquica existente. Os

valores considerados foram:

FM > 2M ---------------------------- necessidade de gratificação imediata

M > FM ---------------------------------- normal

M < FM < 2M --------------------------- desfavorável

O significado das respostas M é bastante complexo e implica

basicamente três conceitos: a) do processo imaginativo, isto é, ver na mancha

uma cinestesia que inexiste; b) da empatia, isto é, ver na mancha a presença

humana; e c) da percepção em nível altamente diferenciado e integrado.

81

A quantidade de respostas M é indicativa da presença de energia vital.

Nos introspectivos, espera-se um mínimo de 5 respostas dessa categoria.

Abaixo de três, podemos supor um rebaixamento da energia vital disponível do

individuo, e ainda uma baixa tolerância do ego aos impulsos arcaicos.

As respostas FM, comparadas com as M, requerem um menor grau de

diferenciação intelectual, não implicam empatia pelos seres humanos e

sugerem impulsos que necessitam de gratificação imediata.

Assim sendo, a relação entre a quantidade dessas respostas aliadas ao

tipo de exteriorização dos afetos, analisada em conjunto com os outros dados

do psicograma, poderá auxiliar-nos na avaliação desses sujeitos.

6. Grau de Esteriotipia

O grau de esteriotipia indica a capacidade de concentração, o controle

dos processos de pensamento e a amplitude de interesses que o sujeito

apresenta.

A% < 30 ------------------- dispersão do pensamento

30 ≤ A% ≤ 50 ------------ normal

A%>50%------------------ controle rígido dos processos do pensamento

As respostas de conteúdo animal indicam as tendências perseveratórias

e esteriotipia que são necessárias à capacidade de concentração do sujeito;

um índice muito baixo pode indicar uma dissociação no curso do pensamento,

mas é preciso observar qual conteúdo aumenta em decorrência da baixa de

A%. se for o conteúdo humano, podemos pensar num interesse voltado para o

82

homem de modo geral; se anatômico, podemos pensar em angústia

hipocondríaca, convivência com doenças graves, assim por diante.

7. Produção

R < 15 --------------------------- baixa produtividade

15 ≤ R ≤ 25 -------------------- normal

R > 25 --------------------------- excesso de produtividade

A produtividade do individuo deve ser avaliada à luz da qualidade dessa

produção. Se a responsividade for baixa, mas estiver associada a um bom

número de respostas, cujo determinante é global, do tipo secundário,

poderemos supor que a capacidade de produção intelectual desse sujeito se

caracteriza por uma abordagem mais elaborada, que implica percepção

discriminativa e integração das partes, o que lhe possibilita realização e

compreensão de experiências complexas. Entretanto, se o sujeito demonstrar

baixa produtividade, associada a um numero exagerado de respostas globais

primárias, poderemos supor uma superficialidade de relacionamento com as

experiências do meio que pode levar a generalizações simplórias.

8. Manutenção da Objetividade

A manutenção da objetividade indica a capacidade de formação de

conceitos objetivos. Os valores considerados foram:

F%< 20 --------------------------------- objetividade alta

20≤F%< 50 ---------------------------- manutenção da objetividade normal

50 ≤ F%< 80 -------------------------- constrição neurótica

F% ≥ 80 e nível formal alto -------- constrição neurótica

83

E nível formal baixo ----------------- limitação natural

9. Dado de Realidade

A qualidade formal indica a capacidade de objetivação adequada do

sujeito, segundo os padrões sociais. Os valores considerados foram:

+ F% < 75 --------------------- sinal de desajuste às normas

75 ≤ +F% ≤ 80 ----------------- normal

+F% > 80 ---------------------- rigidez, vida afetiva comprometida

Os índices de manutenção da realidade e capacidade de objetivação

estão intrinsecamente ligados. A qualidade das respostas F (F+, F-, F+-) e a

sua quantidade são indicativos da capacidade reguladora do pensamento e da

razão. Índices muito altos de respostas de conteúdo formal, quase ausência de

cor e das respostas de textura levam-nos a pensar numa asfixia da vida afetiva.

Os índices acima descritos devem sempre ser discutidos de maneira

articulada para nos proporcionarem uma visão global dos sujeitos.

84

ANEXO II

Classificação geral dos elementos segundo os critérios para apuração

da Prova de Rorschach de acordo com Bruno Klopfer (1942).

Escores de Localização

G - global

D - detalhe usual

Dd - detalhe inusual

S - espaço

Escores de Determinantes

F - Forma

C - cor cromática

C’ - cor acromática

c - sombreado de superfície e textura

K - sombreado de difusão e tridimensão

k - sombreado percebido como redução da tridimensão a bidimensão

M - movimento humano

FM - movimento animal

m - movimento inanimado

Escores de Conteúdo (principais categorias)

A - figura animal inteiras e reais

H - figura humana inteiras e reais

85

ANEXO III

Universidade Federal de São Carlos

Centro de Educação e Ciências Humanas Departamento de Psicologia

Consentimento Informado

Nós, Carla Rodrigues Fernandes e Maria Theodora Gazzi Mendes somos estudantes e pesquisadoras da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. Estamos realizando um estudo com relação às pessoas que praticam o Tantra Yoga, com o objetivo de traçar a dinâmica psicológica destes praticantes.

O trabalho será realizado em quatro duas etapas, sendo estas constituídas de: 1. 1° entrevista 2. 1° avaliação com teste de Rorschach 3. 2° entrevista 4. 2° avaliação com teste de Rorschach

A entrevista e a avaliação ocorrerão em horários e locais a combinar com a participante.

Preciso muito de sua colaboração, mas você precisa saber que a ao aceitar participar desse estudo, aceitará as condições:

− as entrevistas serão gravadas e depois transcritas; − seus depoimentos só serão utilizados neste estudo; − você estará livre para desistir da entrevista em qualquer momento

e não precisa falar de situações que lhe tragam algum tipo de constrangimento;

− sua participação é inteiramente voluntária; − não há risco significativo em participar deste estudo.

Considerando as questões acima: Eu, _______________________________________________ , aceito participar

deste estudo. Eu recebi uma cópia deste termo, estando ciente e de acordo.

__________________________________ ______________________________ Assinatura da participante

_________________________________ _______________________________

Assinatura da Professora Responsável Assinatura das pesquisadoras

Marília Gonçalves

São Carlos, 18 de dezembro de 2002

86

ANEXO IV

Modelo da 1° Entrevista da aluna Carolina.

1. Nome

2. Idade

3. Estado civil

4. Com quem mora

5. Ocupação

6. Me fale sobre cada membro de sua família. Me fale sobre seu pai. Qual

e sua ocupação? Suas características emocionais? Como é seu

relacionamento com ele?

7. E sua mãe? Sua ocupação? Suas características emocionais? Como é

seu relacionamento com ela?

8. E de seus irmãos? A ocupação deles? Suas características emocionais?

Como é seu relacionamento com eles?

9. E de seus avos? A ocupação deles? Suas características emocionais?

Como é seu relacionamento com eles?

10. Mais alguém da família que você queira falar?

11. Você se sente satisfeita com a sua relação familiar?

12. Com quem que é mais difícil você se relacionar, na sua família? E com

quem que é mais fácil?

13. Conte-me como foi a sua infância.

14. Fale-me um pouco sobre sua vida afetiva. Você tem namorado hoje em

dia?

15. Você já teve algum relacionamento anterior? Como era esse

relacionamento? Quais eram as suas expectativas em relação a esse

87

namoro? Quais foram seus estados emocionais depois do termino do

namoro?

16. Você tem algum amigo ou amiga intimo? Qual é a ocupação dele, ou

dela? E quais são as características emocionais? E como que é o seu

relacionamento?

17. Se você precisar de algum tipo de ajuda, de quem que você recebe

essa ajuda?

18. Você tem algum hobby? Quais são os ambientes que você freqüenta?

19. Saúde. Tem problema de saúde sua família? Como é seu sono? Como

é sua alimentação? Você toma algum tipo de remédio? Você toma

algum tipo de drogas?

20. Você sente medo de alguma coisa?

21. Qual que é sua religião? Qual a sua influencia na sua vida?

22. Profissão. Você trabalha ou já trabalhou? Sente satisfação estudando?

23. O que te motivou a fazer yoga? O que te motivou a fazer o Tantra Yoga?

E há quanto tempo você faz?

24. Você teve apoio dos seus amigos e da sua família quando começou a

fazer yoga? Você já pensou em parar de fazer?

25. E qual a influencia da yoga na sua auto estima? E no seu estado físico e

emocional? E no seu relacionamento sexual?

26. Tem mais alguma coisa que você quer falar?

88

ANEXO V

Modelo da 1° Entrevista da professora Luciana.

1. Idade:

2. Estado civil:

3. Escolaridade:

4. Religião:

5. Ocupação:

6. Renda:

7. Profissão:

8. Há quanto tempo você exerce essa profissão?

9. Você teve algum emprego anterior?

10. Qual era a sua idade quando começou a trabalhar?

11. Qual foi a maior dificuldade e a maior facilidade que você encontrou

quando começou a trabalhar como professora?

12. Qual o nível de satisfação que você encontra no seu trabalho?

13. Em quantos empregos você atua?

14. Com quem você mora?

15. Quais são as pessoas na sua família?

16. Fale sobre o seu relacionamento com seus pais.

17. E com seus irmãos?

18. Quais foram os fatos que mais marcaram a sua vida?

19. Você é casada, namora ou é solteira?

20. Descreva o seu relacionamento amoroso.

21. Que tipos de expectativas você tem com relação à esse

relacionamento? (Como é o relacionamento dele com a sua família?)

22. De que modo sua profissão influencia na sua vida?

23. Como é o seu relacionamento sexual com seu parceiro?

24. E como é o seu relacionamento com ele? (Esse relacionamento é

satisfatório?)

89

25. Me fale um pouco de seus relacionamentos anteriores. (se tiver outros

relacionamentos, fazer perguntas as anteriores)

26. Como é a sua vida social? E a de lazer?

27. Como é o seu relacionamento com seus amigos?

28. Como e onde você constitui amigos?

29. Qual é a influência da amizade no seu trabalho?

30. Fale um pouco sobre sua religião.

31. De que forma influencia no seu trabalho?

32. Qual a sua formação para ser professora de tantra yoga?

33. Qual é a diferença que você vê entre o tantra yoga e outras práticas do

yoga?

34. O que é o tantra yoga?

35. Porque o tantra yoga?

36. Como você conheceu o tantra yoga?

37. Quais foram as diferenças que você percebeu e pode reputar com a

prática do tantra yoga? (Mudanças físicas e emocionais.)

38. Como influenciou em seus relacionamentos?

39. A prática do tantra yoga mudou a sua vida sexual? Como?

40. A prática influenciou no seu auto-conhecimento? E na sua auto-estima?

Quais foram essas influências?

41. Qual a sua expectativa de futuro?

90

ANEXO VI

Modelo da segunda entrevista, utilizado na aluna e na professora.

1. Quais foram as mudanças mais significativas que aconteceram na sua

vida, quais foram os fatos mais importantes que lhe ocorreram, entre a

primeira entrevista ate hoje?