CRISÁLIDA é o estado por que passa a
lagarta para se tornar borboleta.
É o local das metamorfoses, a câmara
secreta das iniciações, a matriz ou o
útero das transformações. O livro
Crisálida – o Casulo de um Novo
Cidadão revela as mudanças culturais e
comportamentais que a arte é capaz de
promover no ser humano. Mostra, com
poesia e cor, o dia-a-dia de quatro
unidades e de um grupo de
educadores. Coordenados pela
Sociedade Pela Família, esse time
aceitou o desafio do programa Cidadão
21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna:
formar crianças e adolescentes
motivados, que interagem entre si e
com os outros, aprendem a intervir em
sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo,
respeitam as diversidades culturais.
Divididos em casulos, os jovens
experimentaram um instigante e
criativo roteiro, que incluiu visitas a
museus e a espaços públicos até então
desconhecidos. Experiências depois
traduzidas por eles em pinceladas,
mosaicos e grafitagem.
CRISÁLIDA é uma viagem nesse
universo de cigarras, mariposas,
bichos-da-seda, borboletas e libélulas
– todos adolecentes – que, após passar
um tempo no casulo, aprenderam a voar.
Com suas novas asas, romperam
fronteiras, descobriram um mundo novo
além de suas casas, escolas e bairros,
perceberam-se capazes do que nem
imaginavam. Tornaram-se cidadãos.
cr
is
ál
id
a
–
o
c
as
ul
o
d
o
no
vo
ci
da
dã
o
Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educaçãoatravés da arte. Passo a passo, conta atransformação de jovens em cidadãos - donosde seu presente e capazes de criar seu futuro.Esse projeto da Sociedade Pela Família, emparceria com o Instituto Ayrton Senna,estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e aapontar soluções para mudar sua vida e a dacomunidade. É o relato fiel do trabalhodesenvolvido por uma entidade que tem pormissão a busca de uma sociedade mais justa, naqual todos os seres humanos têm condições desair de suas crisálidas. E são livres para voar.
O Projeto Crisálida é fruto do
esforço conjunto de gestores,
educadores e educandos para
fazer da Arte uma via privilegiada
para o desenvolvimento dos
potenciais de suas crianças e
jovens. O Instituto Ayrton Senna é
um parceiro dessa causa. Temos
imenso prazer de aprender com os
desafios e conquistas dessa
equipe campeã e imenso orgulho
de compartilhar com o Crisálida
nossa Tecnologia
Social de Educação para o
Desenvolvimento Humano
pela Arte.
[Simone André – Coordenadora do Programa de
Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]
CRISÁLIDA é o estado por que passa a
lagarta para se tornar borboleta.
É o local das metamorfoses, a câmara
secreta das iniciações, a matriz ou o
útero das transformações. O livro
Crisálida – o Casulo de um Novo
Cidadão revela as mudanças culturais e
comportamentais que a arte é capaz de
promover no ser humano. Mostra, com
poesia e cor, o dia-a-dia de quatro
unidades e de um grupo de
educadores. Coordenados pela
Sociedade Pela Família, esse time
aceitou o desafio do programa Cidadão
21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna:
formar crianças e adolescentes
motivados, que interagem entre si e
com os outros, aprendem a intervir em
sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo,
respeitam as diversidades culturais.
Divididos em casulos, os jovens
experimentaram um instigante e
criativo roteiro, que incluiu visitas a
museus e a espaços públicos até então
desconhecidos. Experiências depois
traduzidas por eles em pinceladas,
mosaicos e grafitagem.
CRISÁLIDA é uma viagem nesse
universo de cigarras, mariposas,
bichos-da-seda, borboletas e libélulas
– todos adolecentes – que, após passar
um tempo no casulo, aprenderam a voar.
Com suas novas asas, romperam
fronteiras, descobriram um mundo novo
além de suas casas, escolas e bairros,
perceberam-se capazes do que nem
imaginavam. Tornaram-se cidadãos.
cr
is
ál
id
a
–
o
c
as
ul
o
d
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no
vo
ci
da
dã
o
Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educaçãoatravés da arte. Passo a passo, conta atransformação de jovens em cidadãos - donosde seu presente e capazes de criar seu futuro.Esse projeto da Sociedade Pela Família, emparceria com o Instituto Ayrton Senna,estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e aapontar soluções para mudar sua vida e a dacomunidade. É o relato fiel do trabalhodesenvolvido por uma entidade que tem pormissão a busca de uma sociedade mais justa, naqual todos os seres humanos têm condições desair de suas crisálidas. E são livres para voar.
O Projeto Crisálida é fruto do
esforço conjunto de gestores,
educadores e educandos para
fazer da Arte uma via privilegiada
para o desenvolvimento dos
potenciais de suas crianças e
jovens. O Instituto Ayrton Senna é
um parceiro dessa causa. Temos
imenso prazer de aprender com os
desafios e conquistas dessa
equipe campeã e imenso orgulho
de compartilhar com o Crisálida
nossa Tecnologia
Social de Educação para o
Desenvolvimento Humano
pela Arte.
[Simone André – Coordenadora do Programa de
Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]
e d i ç ã o e x e c u t i v a
anna costa
lúcia barros
marco adriano d’lippi
roseli maeve faiani d’lippi
e d i ç ã o d e t e x t o
anna costa
lúcia barros
p r o d u ç ã o g r á f i c a e d i t o r i a l
d’lippi arte editorial
e d i ç ã o d e a r t e
silvina gattone liutkevicius
f o t o g r a f i a s
ricardo teles
i m p r e s s ã o
gráficas paulinas
d e s e n h o s
os desenhos que ilustram o livro foram executados pelos jovens, durante as atividades do projeto Crisálida
r e g i s t r o s f o t o g r á f i c o s
os registros fotográficos foram feitos pelos próprios educadores, no decorrer do período de seu trabalho
c o n t a t o s c o m o p r o j e t o c r i s á l i d a s
SPF - sociedade pela família
site: www.spf.org.br
e-mail: [email protected]
a p o i o
Fundação Salvador ArenaGráfica Paulinas
r e a l i z a ç ã o
SPF – sociedade pela família
c o o r d e n a ç ã o
paschoal milani netto
laura souza pinto
nivia meireles machado
hilda setsuko hashimoto
rita de cássia coelho
p r o j e t o gráfico e editorial
d’lippi arte editorial
thear comunicação
crisálida o casulo do novo cidadão
Esperança
é o que nutre
a crisálida,
metáfora perfeita
da lenta
metamorfose
que se opera em
nós, seres
incompletos, em
crescimento,
buscando a luz,
sedentos de
sabedoria,
e de amor.
Trago uma esperança nova. Tão vida de cada homem. Trago
A terceira asa, poema de Thiago de Mello, canta a esperança.
Esperança que nutre a crisálida, metáfora perfeita de todo processo educacional, ou da
lenta metamorfose que se opera em nós, seres incompletos, em crescimento, bus can -
do a luz, sedentos de sabedoria, e de amor.
Esperança que contrasta com a brutalidade que nos rodeia: o sem-número de crian-
ças e jovens a quem todos os direitos são negados; os sem-nada, escondidos nos
becos, expostos nas ruas, ou indignados, reivindicando. O mundo do espetáculo e do
supérfluo, o ciberespaço, dourando a dominação e a desigualdade.
Esperança, refletida no olhar curioso das crianças, que chegam a cada dia, ano após
ano, repetindo o milagre da vida que se renova em cada sorriso.
Esperança, anunciada nas parcerias entre órgãos públicos, empresas e organizações
não-governamentais.
Esperança, desenhada por crianças e jovens neste livro, fruto de uma parceria da So-
ciedade Pela Família – Centros Educacionais com o Programa Cidadão 21 – Arte do
Instituto Ayrton Senna.
Esperança que nutre a nossa utopia, de uma sociedade justa, solidária, na qual todos
os humanos, no respeito e na alegria, libertem-se, dia a dia, da crisálida que os emba-
lou, para tecerem juntos o futuro que começa aqui, nas páginas deste livro, e agora no
diálogo com você.
SPF – Sociedade Pela Família
Trago uma esperança nova. Tão
No coração de uma criança. Que acaba de nascer.
nova como a primeira luz que marca o amanhecer da o milagre da vida. Que lateja neste instante.
Crisálida é lugar das metamorfoses, a câmara secreta das iniciações, a matriz ou útero das transformações.Mais ainda do que um envelope protetor, representa um estado eminentemente transitório entre duas etapas do devenir, a duração de uma mutação. Implica renúncia a um certo passado e aceitação de um novo estado, condição da realização.Frágil e misteriosa, como uma juventude cheia de promessas, das quais não se sabe qual será o resultado, a crisálida inspira respeito, cuidados e proteção. Ela é o futuro imprevisível que se forma, e, na biologia, símbolo da emergência – coisa latente, em evolução. [Dicionário de Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant]
6
Formar crianças e adolescentes capazes de serem agentes da própria história, protagonistas da própria vida. Esse é o objetivo. O meio é a arte, ferramenta pedagógica que estimula a criativi dade e, por conseqüência, a capacidade do ser humano de reinventar a si próprio, dando novo significado às suas experiências.
7
Assim se pode resumir, em nível teórico, o projeto Crisálida, uma das iniciativas da Sociedade Pela Família,
entidade sem fins lucrativos fundada em 1º de setembro de 1956, com a missão de educar crianças,
adolescentes, jovens e adultos para que sejam cidadãos críticos, autônomos, responsáveis, solidários e
conscientes de seus direitos e deveres, promovendo sua inclusão social.
Na prática, o Crisálida é como o sorriso grande que aparece no rosto de Paulo Felipe, de 14 anos, ao
desembarcar na estação Sumaré do Metrô, em São Paulo, e deparar-se com um painel gigante com rostos
de gente comum, do artista Alex Fleming. Curioso, ele arrisca um palpite: “Acho que o artista não queria que
esta estação ficasse vazia ou que as pessoas se sentissem sozinhas. Gostei da idéia.” A observação do
jovem, que antes andava de metrô e passava sem ver as obras de arte, faz parte do desabrochar de um
novo cidadão: mais perceptivo, opinante e crítico sobre sua comunidade, sua cidade e seu país. Entre o
projeto e a realidade, quem faz a ponte são educadores e arte-educadores, que no Crisálida não realizam
apenas um trabalho, mas emprestam um novo sentido à vida. Tudo começou com um desafio proposto pelo
Instituto Ayrton Senna (IAS) às organizações parceiras: trabalhar sob a égide de uma Comunidade de
Sentido, ou seja, pessoas e organizações que compartilham uma causa, crenças, valores, princípios,
conceitos e um querer-ser coletivo – cuja base é a percepção de que a arte é capaz de oferecer uma
tcontribuição decisiva e singular na formação de crianças e adolescentes como pessoas, cidadãos e futuros
profissionais.
Depois de muita pesquisa e reflexão, a Sociedade Pela Família respondeu ao chamamento em 2002 criando seu projeto Crisálida. O nome já encerra o sentido: a metáfora do casulo, o estágio pelo qual
passa a larva para transformar-se depois em borboleta. No Crisálida, crianças e jovens passam um período
de suas vidas tendo acesso a ferramentas artísticas que os ensinam a transformar sua própria realidade.
A base do trabalho é um tripé: o multiculturalismo, o fazer artístico e a apreciação*. Em outras palavras: as
diferenças culturais entre os meninos, meninas, rapazes e moças do Crisálida são reconhecidas, respeitadas
e somadas – assim abrindo horizontes, alargando fronteiras. O fazer artístico é estimulado: experimentam-se
materiais, linguagens, é permitido ousar, e proibido é só não tentar. A apreciação é guiada: discute-se arte, compara-
se, reflete-se – assim como se discute, se compara, se reflete sobre a condição da comunidade e de cada criança e
de cada jovem inserido ali. É assim que, por meio da arte, se produz conhecimento, se desenvolvem competências,
se conquista a cidadania.
* Estes conceitos fazem parte da Tecnologia Social de Educação para o Desenvolvimento Humano pela Arte, proposta pelo Instituto Ayrton Senna.
8
9
Cinco vezes uma boa idéiaSão cinco os casulos que compõem o Crisálida: Cigarra, Mariposa, Bicho-da-Seda, Borboleta e Libélula. Em
comum, todos buscam ter crianças e adolescentes motivados, que interagem entre si e com os outros ao seu
redor, aprendendo a intervir nos espaços públicos e usufrui-los, respeitando as diversidades culturais.
O vôo da libélulaSão educadores e arte-educadores que compõem o grupo Libélula – um espaço de reuniões, oficinas,
aprendizado e sensibilização para a arte.
O canto da cigarraFormado por alunos do Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec), o
casulo, inspirado em músicas, trabalhou a grafitagem de muros da comunidade.
A trama do bicho-da-sedaO Centro Educacional Gracinha se propôs a apresentar aos jovens uma visão diferenciada da arte na cidade
de São Paulo e teve como foco as obras espalhadas pelas estações de metrô.
As cores da borboletaEducadores e jovens do Centro Educacional Uirapuru investigaram a identidade da cultura brasileira –
miscigenação, religião e costumes – por meio de dança e teatro.
As descobertas da mariposaConhecer melhor a sua comunidade, a cidade de Embu e as suas artes foram os objetivos do grupo de jovens
do Centro Educacional Colibri.
10
renova-te.renasce em ti mesmo.multiplica os teus olhos, para verem mais.multiplica os teus braços, para semeares tudo.destrói os olhos que tiverem visto. cria outros, para as visões novas. destrói os braços que tiverem semeado,para se esquecerem de colher.sê sempre o mesmo. sempre outro.mas sempre alto.sempre longe.e dentro de tudo.
[Cântico XIII, Cecília Meireles]
11
Sociedade Pela FamíliaConcebida e idealizada por um grupo de professoras e operárias comprometidas com diversos projetos sociais,
em pontos distintos da cidade de São Paulo, e que acabaram se articulando, a Sociedade Pela Família atende hoje
mais de 1.800 crianças e jovens. Desses, 1.000 são assistidos gratuitamente nos centros localizados em bairros
periféricos e outros 800 na Escola Nossa Senhora das Graças, no Itaim Bibi (unidade de serviço remunerado).
A visão da Sociedade é promover a transformação pessoal e social, possibilitando a diminuição da
desigualdade e da injustiça social. A educação é o caminho para a conquista desse mundo mais justo e menos
desigual. Tendo por base os valores de solidariedade e justiça social, em sua atuação a Sociedade inclui as
pessoas, promove o encontro, estabelece o diálogo. E assim ajuda a construir um mundo melhor.
“Tente não viver como se o tempo fosse uma realidade que pode roubar-lhe a vida.A vida é curta, porém, o momento transcende a eternidade.”
[ Grafite Zen ]
o vôo da libélula
as cores da borboleta
o canto da cigarra
14
24
46
34
saídas com adolescentesprimeira revoada
as descobertas da mariposa
a trama do bicho-da-seda 54
roda de conversadentro dos casulos
22
6264
42
o vôo “A função da arte não é passar por portas abertas,
da libélulamas a de abrir portas fechadas.”
[Ernst Fisher]
da libélula
16
Apontar caminhos, indicar possibilidades, mostrar que sempre, para tudo nesta vida, há mais de um ponto de vista. Fazer isso através da arte, tendo em mente um objetivo nobre: formar crianças e jovens brasileiros para viver, conviver, conhecer e produzir na sociedade do século 21.*
17
Essa é a tarefa cotidiana, o desafio diário do grupo de
educadores e arte-educadores do projeto Crisálida. De-
safio ousado, tarefa exigente – pois educar é ser um
facilitador na mais importante aventura humana: a jorna-
-da rumo ao desconhecido. No Crisálida, cada criança,
cada jovem é convidado a partir numa viagem de novida-
des. Para enfrentar o desconhecido é preciso reaprender
a ver, a ouvir, a falar, a sentir. Nesse processo, lagartas
viram borboletas: descobrem em si potenciais adorme-
cidos, desenvolvem habilidades até então insuspeitadas.
Mas é preciso um eterno aprendiz para ensinar a outro.
Alguém que sabe que não sabe tudo – como cada dia pro-
va, com seu fardo único de imprevistos. Ser aprendiz não
é fácil. Ainda bem. A graça está justamente na superação.
Educar a si mesmoDesde sua elaboração, o projeto Crisálida tem a forma-
ção contínua de educadores e arte-educadores como um
de seus pilares. Daí a formação do grupo Libélula – um
espaço de reuniões, oficinas e sensibilização dos pro-
fissionais para a arte. O motivo é um só: não tem nada a
ensinar quem não está sempre aprendendo.
O compromisso com o desenvolvimento do outro passa
necessariamente pelo compromisso com o desenvolvi-
mento de si mesmo. Por isso algumas perguntas norteiam
nosso trabalho: quais são as competências necessárias
para que um arte-educador atue com arte e educação no
Projeto Crisálida? Essas competências estão presentes
nas equipes de cada casulo? Como melhor desen volvê-
las? A busca de resposta a essas perguntas norteou o
desenvolvimento de treinamentos específicos.
Itinerário formativo*
O Crisálida já nasce grande – nada de projetos-piloto.
As boas idéias devem ser postas em prática, em larga
escala, com rapidez. Essa agilidade e abrangência do
projeto são, ao mesmo tempo, força e fragilidade. For-
-ça que faz acontecer. E fragilidade porque os desa fios
são maiores e mais urgentes – e se resumem em uma
grande questão: como levar a arte para a centra lidade
dos cinco centros de atendimento?* E, mais: como fa-
zer isso diante da ausência do arte-educador em alguns
casos e, em outros, da fragilidade do conhecimento ar-
tístico ou pedagógico do arte-educador?
No primeiro ano de vida do Crisálida, entre agosto de
2002 e agosto de 2003, a coordenação desenhou um pla-
no de formação para a equipe de educadores, arte-edu-
cadores e diretores dos centros educacionais envolvidos
no projeto – um total de 17 pessoas. O educador acompa-
nha as crianças e jovens de segunda a sexta-feira. Uma
vez por semana, o arte-educador entra em cena, orien-
tando o grupo e contribuindo para formar o educador.
Eu cresci como indivíduo e como educador. Consegui ampliar a minha leitura e hoje tenho uma visão diferente do mundo e da arte. Agora, consigo olhar um quadro e refletir sobre o que ele me traz. Antes eu passava com pressa.
[ Tereza Cristina Vieira, educadora do Colibri ]
18
A comunidade de sentido* era o momento de refletir sobre o que estávamos fazendo. A equipe de interlocução* tinha sempre o cuidado de levar elementos para estimular a reflexão e o debate.
[ Rita Coelho, arte-educadora do Gracinha e coordenadora do projeto Crisálida]
19
O plano de formação foi baseado em oficinas e em as-
sessorias individuais em cada unidade do Crisálida. Em
mente, uma certeza e um objetivo. A primeira: a ne-
cessidade de cultivar o perfil de cada profissional com
respeito a seu ritmo e história de vida. Isto é: reconhecer
em cada educador as mesmas características e habi-
lidades que esses profissionais, por sua vez, precisam
reconhecer nos jovens, para ajudá-los a se desenvolve-
rem integralmente: o potencial de conhecer, fazer, ser
e conviver. O segundo: formar educadores sensíveis
e criativos, que acreditam nas possibilidades de de-
senvolvimento do potencial humano por meio da arte*,
ousando na forma de fazer isso e buscando ampliar seu
repertório nas diversas linguagens.
Os roteiros e as estratégias de formação se complemen-
tavam, mas não foi simples o aprendizado. No início, o
grupo precisou vencer alguns desafios, entre os quais:
a falta de tempo aliada à complexidade do material
enviado pelo IAS, e o medo de que o novo não desse
certo. Mas o diálogo aberto, a possibilidade de comparti-
lhar as dificuldades, o incentivo da equipe e a respon-
sabilidade por participar de um projeto inovador fize-
ram com que o grupo desse os primeiros passos, acre-
ditando na proposta e abraçando o desafio.
Ao final dos primeiros 12 meses, a certeza de ter avançado. As libélulas alçaram vôo com a ajuda dos seguintes recursos: Reuniões para discussão dos textos teóricos sobre
arte. O grupo se encontrava uma vez por mês, na sede
da Sociedade Pela Família, para trocar idéias e elabo-
rar atividades com base nas informações recebidas.
A riqueza desses encontros também ficou evidente na
troca de experiências entre os educadores, na colocação
de dificuldades e angústias do grupo, na busca conjunta
por soluções. Era um espaço aberto para avaliar, cri-
ticar, refletir, propor e enxergar os resultados.
A comunidade de sentido abria espaço para propor coisas novas, trocar experiências. Todos procurávamos juntos soluções para problemas individuais.
Gracinha e coordenadora do Crisálida][ Hilda Setsuko Hashimoto, diretora do
Gracinha
cuidado de levar elementos para estimular a reflexão e o debate.[ Rita Coelho, arte-educadora do Gracinha e coordenadora do projeto Crisálida]
20
Oficinas visando à experimentação dos educadores
em algumas linguagens artísticas. A Sociedade Pela Fa-
mília sentiu a necessidade de ir além na formação de
sua equipe. Realizou encontros mensais para propor-
cionar ao grupo a reflexão sobre conceitos, vivências,
e o aprendizado de técnicas artísticas, principalmente
aos educadores que não tinham intimidade com a arte.
Também preparou oficinas específicas para cada casu-
lo, nas quais o foco era o tema que a casa trabalharia,
com o objetivo de dis po nibilizar ferramentas de trabalho
e integrar educador, arte-educador e diretor no projeto.
Interlocuções com cada casa, para sentir as ne-
cessidades da equipe. Uma vez por semana, os coor-
denadores do Crisálida se reuniam com o educador
e o arte-educador de cada casulo para acompanhar de
perto o trabalho: verificar como o projeto estava sendo
conduzido, trocar idéias, dar sugestões, discutir dificulda-
des, propor novos caminhos.
Ações complementares para ampliação do re-
pertório cultural. Além dos encontros formais, a coor-
denação do Crisálida enviava periodicamente mensa-
gens – por e-mail – para o grupo, sugerindo e estimu-
lando leituras de livros e de artigos, propondo visitas a
exposições e mostras de arte, indicando peças de tea-
tro e filmes. Propostas valiosas para ampliar o conhe-
cimento e a sensibilidade artística de toda a equipe.
Algumas atividades e visitas foram promovidas e acom-
panhadas pela SPF.
“Na comunidade do sentido, descobri que a gente precisa conhecer a [José Renato Batista de Oliveira, arte-educador do Uirapuru]
criança. Percebi que o olhar pede ou dá muita coisa”
21
“Na comunidade do sentido, descobri que a gente precisa conhecer a [José Renato Batista de Oliveira, arte-educador do Uirapuru]
No início foi difícil. Não conseguia entender os textos, entrar em sintonia. Mas conseguimos falar das dificuldades na comunidade. Vimos que havia abertura e isso dá confiança para dizer: eu não estou conseguindo, preciso de ajuda. Aprendi junto com as crianças, pois a arte também estava distante do me u dia-a-dia.
[Wanderleia Rocha, educadora do Uirapuru]
O educar para mim mudou. Antes eu chegava na sala de
O educador idealO treinamento de todos os envolvidos no Crisálida busca desenvolver o perfil desejado de profissional para
o projeto. Esse “educador ideal” tem as seguintes características:
É sensível para perceber desejos e necessidades do grupo. É habilidoso nas técnicas artísticas. É
inventivo, criativo e criador. Propõe possibilidades de ação e expressão. Busca espaços de manifesta-
ções artísticas. . Tem postura de reflexão e avaliação. Está atento aos indicadores de resultados. Faz
registros sistemáticos. Colhe depoimentos dos familiares e professores. Reflete sobre o processo e o
avalia. Propõe mudanças. Revê estratégias. Amplia seu repertório de ações.
aula e a minha única preocupação era ensinar o Carimbó,
por exemplo. O aluno tinha que sair sabendo tocar. Na comunidade de sentido descobri que a gente também precisa conhecer a criança, prestar atenção nela, nas suas perguntas e atitudes. Percebi que um olhar pede ou dá muita coisa.
[José Renato Batista de Oliveira, arte-educador do Uirapuru]
saídas
com adolescentes
O que mais me impressiona nas visitas dos jovens aos museus, às galerias e à cidade é o olhar de descobrimento.
Vejo a sensibilidade ser construída no dia-a-dia.
passo-a-passo
[Irael Luziano Dias, arte-educador]
Para que a visita a um museu ou o passeio a um parque seja uma experiência produtiva e tranqüila, vale seguir esses passos:saídas
com adolescentes
antes
estimule a curiosidade do grupo sobre o lugar a ser visitado PesquIse sobre a exPosIção e o
museu e conte o que DescobrIu Para os aDoLescentes. o entusIasmo Do eDucaDor é funDamentaL
localize no mapa da cidade o local faLe sobre o Percurso a ser feIto: o horárIo De saíDa Do
centro eDucacIonaL, que tIPo De transPorte será utILIzaDo, que trajeto será feIto até che-
garem ao DestIno converse sobre a melhor postura a ser adotada em locais públicos. exemplos:
respeitar os lugares reservados a idosos ou gestantes no transporte público; falar baixo; cumpri-
mentar e agradecer ao motorista, cobrador ou monitores da exposição ProPorcIone momentos De
DIscussão em que os eDucanDos Possam faLar De suas angústIas ou DúvIDas sobre a saíDa
entregue as autorizações de saída a cada educando para serem assinadas pelos responsáveis.
durante
faça um círculo com os educandos para preparar a saída e relembrar as regras escoLha aL-
guns aDoLescentes (taLvez os maIs DIsPersos) Para reaLIzar aLgumas tarefas, como: entre-
gar Passes, Ler em voz aLta as regras e o que foI combInaDo no trajeto, estimule a conver-
sa sobre o passeio, relembre o nome da exposição ou do local a ser visitado. mesmo se o ônibus ou o
tmetrô estiver lotado, estimule esse bate-papo entre grupos de dois ou três adolescentes enten-
Da as regras Do esPaço: o que é PermItIDo fazer ou não, a LocaLIzação Do guarDa voLumes,
Dos banheIros, etc. apresente a turma ao monitor para tornar a visita ainda mais agradável
estImuLe as Perguntas, as oPInIões envolva aquele educando que parece desinteressado, en-
cante-o o eDucaDor PrecIsa estar atento e ser o anImaDor Do gruPo.
depois
faça uma avaliação do passeio de forma interessante, envolva a turma, pergunte o que cada um
achou, quais as críticas e sugestões para uma próxima vez escoLha uma forma De regIstro que
seja sIgnIfIcatIva faça apontamentos sobre os comportamentos e as participações dos adoles-
centes tente semPre aProxImar ou reLacIonar a vIvêncIa Da saíDa, as obras aPrecIaDas, ao
cotIDIano Dos jovens.
Vejo a sensibilidade ser construída no dia-a-dia.
Por meio do conhecimento das manifestações da cultura brasileira, seus folguedos e sua arte, fortalecer a convivência, respeitando seus próprios valores e identidade.
as cores da borboleta
26No começo dos começos, Lá no princípio do tempoDo tempo... Do tempo...Obatalá, Orixalá, OxaláReinava nos sonhos, Reinava na terraUm dia, um casal desejou ter um filho e foi falar com Oxalá : “Meu pai, nos dê um filho !”E Oxalá respondeu-lhes: “Ainda não é a hora.”O casal tanto insistiu que o orixá permitiu mas, com uma condição, só com uma condição...O menino não poderia passar para o outro lado do mundoO menino nasceu. Ele era muito curioso... Tudo o que seu pai fazia, o menino imitava.Ele era muito egoísta e ambicioso.Um dia, seu pai foi para o outro lado do mundo e o menino ficou espiando. Assim que seu pai sumiu de vista, o menino adentrou o outro lado das coisasE pela primeira vez na sua curta vida ele sentiu-se livre, verdadeiramente livre. E orgulhoso e arrogante.Com um cajado, começou
a atacar tudo o que via pela frente e a gritar com muita raiva:“Quem disse que eu não posso entrar aqui?Quem disse? Eu entro em qualquer lugar!”E ele berrava e chutava, totalmente transtornado.Os guardiões do outro lado tentaram impedir o menino,mas não conseguiram. O moleque era muito esperto.Oxalá, percebendo o que estava acontecendo, ficou profundamente ofendido e com seu sagrado poder transformou o garoto atrevido em uma árvore colocada exatamente entre os dois mundos, dos deuses e dos homens: Irôco! Irôco! Irôco Kisselê! Irôco! Irôco! Irôco Kisselê!
27
Romilson enrosca-se nas sílabas. O texto demora a sair. Respira fundo e diz em tom alto para ser escu tado:“Os guardiões do outro mundo tentaram impedir o menino de continuar. Tentaram, mas não conseguiram.”
28
“É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente.”[ Simone de Beauvoir ]
29
Romilson, 15 anos, é um dos 30 adolescentes do casulo
Borboleta, um grupo formado no Centro de Convivência
Uirapuru da Sociedade Pela Família, que participa do
Projeto Crisálida/Borboleta.
Em cena, o jovem relata um trecho do conto Nagô A
Separação dos Mundos, extraído do livro Os Nagôs e a
Morte, de Juana Elbein dos Santos. A história fala de um
menino curioso, esperto e arrogante, que queria passar
para o outro lado do mundo. Romilson e seus amigos
adolescentes também desejam ultrapassar fronteiras e
alcançar o outro lado da cidade, da cultura, da cidadania.
No Uirapuru, os jovens são convidados a se apropriar
da cultura brasileira, por meio de oficinas de arte,
música, teatro, dança e capoeira. Dentro do Projeto
Crisálida, o Centro de Convivência focou seu trabalho
nos mitos e nas lendas da região amazônica, com seus
arquétipos e representações típicas.
Durante o primeiro ano, o casulo trabalhou com os
adolescentes a biodiversidade da região, ensinou
danças típicas, apresentou trabalhos dos ceramistas de
Marajoara e desenvolveu a habilidade de contar
histórias. O objetivo era claro: desenvolver a identidade
dos jovens, a aceitação de si mesmo e dos outros,
ampliar a convivência harmoniosa e a auto-estima.
Itinerário formativoConstruir o conhecimento, fazer o assunto encantar o
jovem, conquistar sua participação ativa. Um desafio
diá rio para quem tem nas mãos a missão de ensinar, de
compartilhar, de apresentar caminhos e de aprender com
os educandos. As transformações no casulo Borboleta
foram coloridas por educadores e arte-educadores,
envolvidos diretamente com o grupo, que fizeram a
interface entre textos e músicas, comportamento e
atuação teatral, artes plásticas e dança, diálogo e respeito.
O grupo de adolescentes construiu o repertório com o
auxílio diário dos educadores – que propunham pesquisas,
leituras e atividades artísticas, utilizando materiais como
giz de cera, lápis de cor, carvão, nanquim, pintura em tela,
confecção de máscaras de gesso e papela gem.
“Aqui eu conheço um pouco do mundo e da arte. Passeio, faço amigos, aprendo a dançar, a fazer teatro.
Vou além do mundinho da tv.” [Evelyn Oliveira de Souza, 13 anos]
30
Uma vez por semana, os assuntos eram transformados
em músicas, danças e encenações. Na busca pela
informação, todos realizaram visitas a exposições,
assistiram a vídeos e filmes, mergulharam na literatura,
aprenderam a ouvir, a contar histórias e a elaborar
espetáculos.
Descobrir a si mesmoO grupo apresentava uma grande dificuldade de
interação: o contato. Pegar na mão do outro, fazer
pares para a dança típica criava sempre um problema.
Risadas, timidez e zombaria era o que se tinha.
Para mudar esse cenário, os educadores se utilizaram
de um conjunto de recursos: dinâmicas de cooperação
e integração, leituras de textos sobre a vida indígena
no Brasil, apresentação dos vídeos Xingu e Xavante. A
entrevista com Tiru, índio da tribo Xavante, participante
do grupo do Centro Educacional Gracinha, cativou os
adolescentes. A fala de Tiru sobre seu conceito de vida
– que enfatiza o respeito ambiental, a convivência
em grupo e a ajuda mútua –, foi entendida por todos.
O encontro ainda estimulou o interesse pela cultura
indígena nas oficinas de música e de dança.
Para entender a composição étnica do povo brasileiro
e ampliar seu repertório cultural, os jovens do casulo
Borboleta foram buscar nas pinturas, nos traços e
nas cores a explicação e a visão de artistas sobre a
miscigenação nacional. Visitaram as exposições Negras
Memórias, Memórias de Negro, Sesi; Do Modernismo
à Arte Contemporânea, Faap; Claro e Explícito, de Bia
Lessa; Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti; Cândido
Portinari, na Pinacoteca; Modernismo, no Centro
Cultural Banco do Brasil. Olhar para outro povo, para
31
outra cultura também ajudou os jovens a entender e
a criar discussões e debates. A exposição Os Guerreiros
de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida, na Oca, no
Parque do Ibirapuera, apresentou ao grupo os costumes,
os valores e as crenças das antigas dinastias chinesas.
Informação cantada e dançadaCom música, dança e poesia, o grupo se interessou
pelas lendas e mitos da região amazônica. Ao embalo
do Carimbó, ritmo amazônico, a cultura da região ficou
mais próxima, mais palpável. As rodas de conversas,
as danças indígenas mostraram nos gestos a cultura
do povo da floresta. E os desenhos e pinturas com giz,
tinta ou os trabalhos em argila registravam o conteúdo
absorvido pelos adolescentes.
No repertório desses 30 jovens que participaram do
Projeto Crisálida foram incluídos, além dos ritmos e
das danças – como o samba de roda, maculelê, ciranda
de roda, capoeira e carimbó, expressões do folclore a
da cultura brasileira –, exemplos de cidadania, incentivo
à apropriação da cultura que a cidade de São Paulo
oferece muitas vezes gratuitamente, respeito ao outro,
ao espaço público e aos limites de convivência.
Esse conhecimento adquirido não pode ser medido em
provas ou testes, é absorvido aos poucos e transparece
em gestos simples de meninos que cantam para
mostrar o que sabem, como fez Carlos Henrique
Galvão, 11 anos, para responder à pergunta: “O que
você aprendeu aqui?” Às vezes, faltam palavras. “Aqui
a gente aprende muitas coisas. Ah, como música e
dança”, diz Carlos Henrique. Mas é seu canto que
comprova o aprendizado de música e de vida.
32
É hora de puxar a rede /É hora de ir pro mar
É hora de puxar a rede /É hora de trabalhar
O mar é minha morada /A noite é minha companheira
Samurai é meu travesseiro /A jangada amiga verdadeira
Amigos juntam-se a ele para cantar e relembrar a letra.
Sorridentes e abraçados, eles seguiram cantando pelo
campinho de areia, um dos poucos espaços de lazer da
comunidade do Jardim João XXIII, na zona oeste de São
Paulo, onde está localizado o Centro de Convivência
Uirapuru. Lá dentro a movimentação anunciava: era hora
do teatro.
No palco e na vidaSe falta vocabulário, sobra expressão corporal. Foi no
palco que o casulo Borboleta encontrou a maior harmonia.
Conseguiu reunir todas as expressões artísticas:
desenho, escultura, pintura, música e dança. Também
fez progressos na convivência. Aqueles que não se
interessaram num primeiro momento, ao final de poucas
semanas já pediam espaço no palco e um papel para
interpretar. Quem faltava a um ensaio mandava bilhete:
“Professor, estou doente. Não me substitua, decoro o
texto em casa.”
Na sala ampla, os adolescentes sentam-se em roda.
Falam todos ao mesmo tempo. Mas, na hora em que é
preciso falar, calam. O diálogo é confuso e exige esforço
desmedido do educador. Limites têm que ser relembrados
a todo momento. Mas uma curta frase do educador faz
tudo mudar: “Vamos ensaiar.” O grupo sozinho se
coordena e começa a preparação. Uns pegam panos, que
viram trajes. Outros posicionam instrumentos. As vozes
se confundem. Há brigas também. “Hoje eu faço o filho”,
dizia um menino puxando o pano azul da mão de outro.
Aos poucos, a cena era montada.
Resultados obtidosA mudança se faz lenta, mas eficaz. No casulo, borboletas
se transformam em momentos e tempos diferentes. Umas
ainda na crisálida, outras experimentando os primeiros
vôos. Mas em todas o colorido é visível. Aprenderam e
ensinaram a ver, a sentir, a propor, a ouvir, a fazer, a ser.
Durante o primeiro ano do Projeto Crisálida, no
Uirapu ru, os jovens do casulo Borboleta apresentaram
avanços significativos. Com freqüência mensal de cerca
de 90%, os 30 adolescentes se mostraram interessados
nos aspectos culturais da etnia brasileira.
Também conseguiram avançar na leitura e na escrita.
Alguns educandos que haviam parado de estudar fizeram
o caminho de volta às escolas públicas. Também ficou
explícita a apropriação de normas de melhor convivência.
Palavras e expressões como “por favor”, “com licença”,
“desculpe” e “obrigado” passaram a ser mais utilizadas
pelo grupo. As apresentações realizadas para os fami-
liares e para a comunidade – um total de três –
contribuíram para ampliar a participação dos pais em
reuniões e a procura de vagas no Centro de Convivência.
Ao som do atabaque, jovens interpretam no palco um
pou quinho da vida, que exige paciência, conhecimento,
união, audácia, limites, respeito. O preconceito agora é
deixado de lado. Todo o grupo já demonstrava apropriação
do conto, aceitação dos ritos, das diferenças. Também
tinham total domínio da expressão corporal e da percussão
trazidos pela capoeira. Para todos os adolescentes do
casulo Borboleta, a arte foi o meio, o jeito atraente e eficaz
de aprender e de se transformar. Para alguns, como a
talen tosa Evelyn, de 13 anos, foi mais: talvez a oportunidade
de se encontrar na dança, no palco e na vida.
33
“Era difícil dar a mão para o outro na hora da dança. Imagina um abraço, então. A relação deles, agora, é outra. A música, a dança e o teatro ajudam nessa integração. Hoje existe mais carinho.”
[ José Renato Batista de Oliveira, arte-educador ]
“O jeito de falar dos jovens, o jeito de tratar o outro – tudo mudou, melhorou. Eles estão cada vez mais envolvidos com o teatro, a capoeira, a música, a pesquisa. Estão mais envolvidos com eles mesmos.”
[ Wanderleia Rocha, educadora ]
“Adoro desenhar, por isso gostei muito de visitar exposições, conhecer o trabalho de vários artistas, de gente que eu nem imaginava que existia. Acho que esse conhecimento pode fazer diferença e até me ajudar a conseguir um bom emprego no futuro.”
[ Nadya Santos, 13 anos ]
“O que mais me impressiona nas visitas dos jovens aos museus, às galerias e até mesmo à cidade de Paranapiacaba é o olhar de descobrimento. Vejo a sensibilidade ser construída no dia-a-dia.”
[ Irael Luziano Dias, arte- educador ]
o canto da cigarra
Ampliar o repertório musical e, por meio criando estilo singular em suas representações.
o canto da cigarra
criando estilo singular em suas representações.dele, exercitar as diversas linguagens artísticas,
36
Naquela ensolarada manhã de julho de 2003, jovens do casulo Cigarra esperavam an siosos a chegada do arte-educador Irael Luziano Dias. Tudo estava pronto: moldes cortados, tintas escolhidas, sprays separados e mais um saco com lápis, borrachas, tesouras e pincéis. Era dia de grafitagem.
O professor apontou no alto da escada e o sorriso de
José Lucas D’Voranen Paz se abriu: “O Irael chegou”,
avisou o menino de 10 anos.
A alegria da turma era esperada. O muro que seria grafi
tado – o terceiro desde o início do projeto – era o da
Escola Municipal Vianna Moog, na qual estuda a maio
ria dos meninos e meninas do Centro de Participação
Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec),
uma das unidades da Sociedade Pela Família. A músi
ca escolhida pelos jovens para inspirar as imagens não
poderia ser mais apropriada: Criança Não Trabalha, do
cantor e compositor Paulo Tatti.
Por conta das férias, o grupo estava reduzido, mas os 12
artistas deram conta do recado. Em pouco tempo, piões,
skates, bolas, jogos de dama, bicicletas, televisores, pran
chas de surf tomaram conta de um dos muros da quadra
da escola, antes pichado com palavrões. Ali foram es
tampados mais do que desenhos coloridos – estavam
representados as brincadeiras preferidas e os objetos
de desejo da garotada. “Não vejo a hora de as aulas
começarem para meus amigos verem o muro que eu
ajudei a pintar. Acho que eles vão adorar”, orgulhavase
a inquieta Elaine Aparecida Pereira, 11 anos.
Itinerário formativoNo casulo Cigarra, os 29 adolescentes aceitaram o de
safio de transformar música em grafite e colorir os mu
ros da comunidade do Jardim Jaqueline, na zona sul de
São Paulo, com poesia, alegria, reflexão, respeito e bele
za. Por detrás dos desenhos e das tintas, vários propósi
tos: desenvolver a expressão, o repertório e a linguagem
dos educandos; incentivar a argumentação, a opinião e o
respeito ao próximo; estimular a apropriação do bairro,
o cuidado com o meio ambiente e a mudança da paisa
gem; além de envolver e sensibilizar a comunidade.
A formação do grupo de jovens precisava ser bastante
ampla para capacitálos a realizar a transformação
37
giz,mertiolate,band-aid, sabão, tênis, cadarço, almofada, colchão, quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelão, criança não trabalha, criança dá trabalho, um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato, cinco, seis, tudo outra vez, lápis, caderno, chiclete, peão, sol, bicicleta, skate, calção, esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão, bala, pelúcia, merenda, crayon, banho de rio, banho de mar, pula-cela, bombom, tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pãocriança não trabalha, criança dá trabalho
[Criança Não Trabalha] música de Paulo Tati
38
que alcançou a fama em pouco tempo com seus grfi
tes e telas que retratavam o cotidiano dos negros na
periferia de Nova York. Com isso, definições foram as
similadas: grafite sim, pichação não, nome, palavrão,
emoção; arte e risco; aventura e cultura.
Pedras no caminhoOutro desafio do casulo Cigarra foi a integração da equi
pe – educador e arteeducador – com educandos e com
a concepção do projeto. Mais do que adotar técnicas de
ensino, é necessário acreditar na metodologia utiliza
da, confiar na arte como meio eficaz de transformação
social e cultural, e ainda abrir espaço, conquistar a con
fiança e encantar o educando para poder trocar infor
mações e sentimentos.
“O projeto grafite no Cepec foi uma ousadia de grande
tamanho. Em muitos momentos, sentíamos o evoluir da
turma; em outros, a percepção era de estagnação.” As
palavras de Maria do Carmo Risi, diretora do Centro,
artística – da música ao grafite – e de suas próprias
vidas. Foram realizadas várias visitas culturais a mu
seus e exposições de arte. Também fez parte do roteiro
assistir a filmes, visitar e fotografar muros grafitados
pela cidade. Os jovens também ampliaram seu reper
tório musical sendo apresentados à vida e à arte de dois
expoentes grafiteiros: o naturalizado brasileiro Alex
Vallauri, gravador profissional que usava máscaras para
realizar seus grafites, e JeanMichel Basquiat, negro
americano, filho de pai haitiano e mãe portoriquenha,
“As crianças não tinham conhecimento sobre arte. Nunca haviam visitado uma exposição, um museu. Foi um ganho para todos.”
[ Ruth de Souza Abreu, educadora ]
39
revelam a realidade de quem trabalha na área de educa
ção. O caminho não é reto e plano, mas cheio de cur
vas, subidas e descidas, e é preciso saber a hora certa
de acelerar e frear.
As conquistas vieram aos poucos. Contratada para as
sumir o diaadia do casulo Cigarra, a educadora preci
sou de tempo para despertar o interesse do grupo, que
muitas vezes mostrouse agressivo e alheio às propos
tas de trabalho. Também houve necessidade de buscar
um outro arteeducador, que interagisse melhor com a
concepção proposta.
Para estabelecer a relação de afinidade e confiança en
tre o arteeducador e os educandos foram utilizadas
algumas brincadeiras, pois a situação lúdica predispõe
ao contato, à quebra de reservas, à observação do outro.
Se nos primeiros meses a maior transformação ocorreu
dentro do próprio casulo, no segundo semestre as cores
se espalharam pela comunidade. Três muros foram pin
tados. O primeiro, dentro do próprio Cepec, serviu como
experimento e adaptação às novas ferramentas: moldes,
tintas, pincéis, rolos, sprays. O tema era o meio ambien
te. No segundo muro, na Rua Alessandro Bibiena a pro
paganda eleitoral foi trocada por figuras de crianças. No
terceiro muro, na escola do bairro, imagens de brinque
dos substituíram palavrões.
Pinceladas de harmoniaSe, nas oficinas, André Marques dos Santos, de 12 anos,
permanecia à distância, desconfiado, e só fazia o que
tinha vontade, na rua, diante do muro, o jovem sorria,
contava piada e tentava interagir. A ansiedade era grande.
Todos queriam pintar, deixar a sua marca, transformar
com suas mãos o cenário mal cuidado da rua na qual
vivem. Primeiro, tinta branca. Os rolos percorriam o muro
com agilidade. Poucos minutos depois, já era difícil dis
tinguir o muro, dos adolescentes: todos brancos.
40
Postes são fatos São fixos São focos ConcretosO poste é ponto de vista De luz De tudo De todosDe dia, determina distâncias De noite, clareia mistériosPintados, são totens tribais Mastros de circoElétricos círculos de cores Faróis para olhares navegantesPoste se faz poema[ por Irael Luziano Dias, arteeducador ]
41
Grafitar juntos, desenvolvendo um mesmo painel, exi
ge ca pa cidade de trabalhar em grupo, um aprendizado
que vale para a vida. Educadores e jovens discutiram
limites e concessões, criaram novas técnicas, deixa
ram livre a imaginação. Folhas de árvores colhidas
nas redondezas serviram de moldes para uma árvore
psicodélica. Figuras de crianças apareceram coloridas.
“Sugeri que as imagens ficassem sem detalhes como
olhos, sobrancelhas, nariz, boca – assim, quem passas
se por ali projetaria a imagem que quisesse. Os jovens
aceitaram de pronto, só André mostrouse incomoda
do. Passado algum tempo, ele retornou ao local e pi
chou seu nome em torno de uma das figuras. Criou na
rua a sua identidade”, relata o arteeducador Irael.
Arte nos postes Ao passear pela comunidade, os jovens, agora com
olhar mais atento, enxergavam outras possibilidades.
Numa rua deteriorada, poluída, invadida por sacos pre
tos de lixo, havia postes.
Novos moldes, novos sonhos. E os postes viraram totens
pintados com estrelas, com mãos, pés ou figuras geo
métricas. Na Rua Alessandro Bibiena, é bonito de ver: o
grafite continua firme no muro e abre ala para os cinco
postes coloridos que dividem espaço com o mato que
cresce e com o lixo que fica. Quem passa olha a mensa
gem colorida e se encanta. Ninguém pichou por cima.
Resultados obtidosPerceber as dificuldades, ser capaz de visualizar um
novo caminho e apostar em mudanças é sinônimo de
amadurecimento. O Projeto Crisálida encontrou no ca
sulo Cigarra momentos de resistência. Às vezes eram
educadores que não abraçavam a nova concepção de
aprendizado e transformação. Em outros momentos
eram jovens que ainda não estavam preparados para ser
tocados e envolvidos pela arte. Cada ser humano tem o
seu tempo particular de crisálida.
Ao final dos 12 meses, os envolvidos nesse trabalho têm
certeza de terem iniciado a construção de um novo sa
ber: mais intuitivo e sensível. Quem acompanhou o dia
adia dos jovens percebeu as conquistas diárias, mesmo
que sutis. “Tivemos um ganho no interesse pelas ativi
dades e a agressividade está mais controlada. Alguns
adolescentes se abriram e a cigarra dentro deles começa
a cantar. Outros, porém, ainda estão no casulo”, diz a
educadora Ruth de Souza Abreu. “Se não atingimos os re
sultados em 100%, demos o primeiro passo. Sensibiliza
mos e fomos sensibilizados. Foi muito importante partici
par desse projeto e vivenciar uma proposta tão diferen
ciada”, resume a diretora Maria do Carmo Risi.
“Grafitamos brincadeiras de criança no muro para mostrar que a gente precisa aproveitar a infância. Criança não trabalha.”
[Erlaine Oliveira Pereira, 11 anos]
primeira “Digo: o real não está na saída e nem na chegada. Ele se dispôs para a gente é no meio da travessia.”
revoada
primeira “Digo: o real não está na saída e nem na chegada. Ele se dispôs para a gente é no meio da travessia.”
revoada
[Guimarães Rosa]
Mariposas, borboletas, cigarras, libélulas e bichos-da-seda reunidos num mesmo casulo e com os mesmos objetivos: expor idéias, compartilhar conhecimentos, ouvir a experiência dos outros, fazer amigos e avaliar o caminho percorrido até aquele 28 de abril – os primeiros oito meses do projeto Crisálida. O Primeiro Fórum de Adolescentes reuniu 85 jovens das quatro casas, no Centro Educacional Colibri – uma ampla unidade da Sociedade Pela Família, localizada no município de Embu, em SP. O dia, recheado de apresentações e vivências, foi produtivo. Cada grupo teve a oportunidade de expor seu projeto e perceber o quanto havia caminhado até aquele momento – o meio da travessia.
Eram 8 horas quando os primeiros ônibus começaram
a chegar ao Colibri – casulo Mariposa. No auditório, os
jovens esperavam ansiosos pelos visitantes. Tímidos,
meninos e meninas mantinham a formação e o
agrupamento: borboletas perto de borboletas;
mariposas junto de mariposas. Mas a mesa farta de café
da manhã aproximou os jovens, que, aos poucos, foram
se reconhecendo dos passeios feitos conjuntamente.
Trocas de olhares, sorrisos, cumprimentos.
A primeira apresentação foi a do dono da casa.
Um pequeno grupo do Colibri, com a ajuda de
transparências, contou a história da cidade de Embu –
o foco do trabalho do casulo. No início, as palavras
faltavam. Educador e arte-educador, ao lado da turma,
davam suporte para a apresentação. A comunicação
foi fluindo mais facilmente, e a troca de experiências
aconteceu.
Roda de conversaAtividade terminada, era hora de seguir para um amplo
terraço e sentar em roda. Olhos nos olhos, todos se
apresentaram: nome, idade e casulo. No semblante da
maioria, a expectativa de fazer a apresentação, explicar
no que já haviam trabalhado, o que já haviam produzido.
Com orgulho, Eduardo Silvério da Silva Júnior, 14 anos,
levantou-se para falar do Bicho-da-Seda: “Nosso tema
é Arte no Metrô. Fizemos visitas a estações, conhecemos
várias obras expostas. Escolhemos a obra Quatro
Estações, de Tomie Ohtake, como inspiração para fazer,
também em mosaico, as quatro principais fases do ser
humano, que definimos como: bebê, criança, adulto e
velho”, descreveu o garoto. Outro colega quis contribuir:
“A gente precisa de tempo para perceber quantas obras
existem na cidade. São Paulo não é só violência.”
Os meninos do Cigarra narraram com entusiasmo a
proposta de seu casulo: transformar música em grafite.
E deixaram bem claro: “Grafite é desenho, é arte, coisa
bem diferente de pichação”, como disse Medson Felipe
de Souza, 11 anos. “É a arte que invade as ruas, que deixa
os muros bonitos”, completou Erlaine Oliveira Pereira,
13 anos.
A explicação sobre o Uirapuru ficou a cargo de Tatiana
Silva Reis, 15 anos. “Primeiro estudamos nossa
origem, a mistura de brancos, negros e índios. Fizemos
máscaras representativas das etnias do povo brasileiro.
Também estamos aprendendo os ritos e lendas da
região amazônica.”
Aplausos de pé Muito mais do que narrar os projetos, cigarras, bichos-
da-seda e mariposas prepararam apresentações sobre a
exposição Os Guerreiros de Xi’an e os Tesouros da Cidade
Proibida, realizada entre fevereiro e junho de 2003, na Oca,
no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Os ideo gra mas
chineses foram o foco da turma de grafiteiros do Cigarra.
A garotada do Bicho-da-Seda montou um telejornal. E os
jovens do Mariposa se transformaram em monitores e
convidaram todos para passear pela exposição que eles
montaram sobre a visita aos Guerreiros de Xi’an.
Já as borboletas subiram ao palco para retratar a
exposição Negras Memórias, Memórias de Negro, que
foi vista também em fevereiro na Galeria de Arte do
Sesi-SP. Com muita criatividade, encenaram o conto
africano A Separação dos Mundos.
As palmas vieram, animadas. Cada apresentação
deixava claro quanto cada casulo tinha caminhado,
quanto cada jovem havia se apropriado da linguagem
artística. O encontro virou celebração.
Depois do almoço, houve um tempinho para brincadeiras,
bate-papo e descanso. Mariposas, borboletas, cigarras
e bichos-da-seda voavam agora juntos, 85 jovens, um
mesmo grupo. Alguns ensinavam dança afro. Outros
simplesmente apreciavam a sombra das árvores na bela
área verde do Centro Educacional Colibri. No final da
tarde, a grande roda se formou novamente. Hora de
avaliar o dia.
“Tanto os educandos quanto nós, os educadores, estávamos ansiosos por esse encontro. Trabalhamos muito e essa integração,
[ Rita Coelho, educadora e coordenadora do Crisálida ]
essa troca entre os grupos e, principalmente, a confirmação de que esses meninos e meninas estão caminhando e se desenvolvendo, só
nos dá mais força para investir nesse projeto.”
“Gostei de me apresentar. Todo mundo prestou atenção.”[ Samara de Oliveira Rocha, 14 anos, casulo Borboleta ]
“Vendo aquela organização, percebi que estamos no caminho certo. Contribuímos para a construção de um mundo de adolescentes autônomos, que sabem ser e ser com o outro.”
[ André Luiz Pereira do Nascimento, educador ]
“É nesses momentos de integração que se estabelecem vínculos, regras, respeito e valorização da auto-estima dos jovens.”
[ Maria Sueli do Nascimento, educadora ]
scobertas as de
scobertas as de da mariposa
vida, interagindo poeticamente com a realidade em que vive,
criando e fortalecendo laços afetivos com a cidade de
Embu das Artes e representando esse processo de maneira singular através da
linguagem plástica.
Desvendar a sua história de
48
“Quero conhecer, para melhor sentir;e sentir, para melhor conhecer.”
[Paul Cézanne]
49
Conhecer a cidade em que se vive, descobrir sua história, enten-der sua cultura e usufruir os espaços públicos. Com esse desa-fio o casulo Mariposa desenvolveu um trabalho amplo com 30 alunos do Centro Educacional Colibri, na região de Embu, locali-zada a 30 quilômetros da capital paulista e endereço da maior parte dos adolescentes.
Apesar de viverem bem próximos do Centro Histórico de
Embu, cidade conhecida por sua tradicional feira de artesa-
nato aos domingos e pelos móveis rústicos e antiquários,
os jovens pouco ou nada sabiam dessa tradição cultural e
apenas uma minoria já havia visitado a região.
Munidos de máquinas fotográficas e com a curiosidade
aflorada pelas informações recebidas em sala de aula,
os jovens saíram em busca de conhecimento, como tu-
ristas em visita a uma nova cidade. A proposta era cons-
truir a imagem de Embu, explorar suas texturas, desco-
brir sua origem. Em três visitas à cidade, as conversas
com os artistas, lojistas, donos de restaurantes e os
cliques das câmeras formaram o painel cultural e so-
cial da região, que hoje vive do turismo.
Durante um ano de Projeto Crisálida, as jovens maripo-
sas vislumbraram um pouco mais do que os limites de
suas casas, escolas e ruas. Voaram pela região de Embu
e também puderam conhecer outros pontos culturais da
capital paulista, em visitas a exposições de arte. Am-
pliaram seu repertório e descobriram que a arte mora-
va ali, logo ao lado, em sua cidade, e que a capital de
São Paulo, distante poucos quilômetros, também ofe-
rece várias oportunidades de cultura e lazer de graça. E
assim, ultrapassando os limites do bairro, descobriram
a si mesmos, viram-se como cidadãos.
Vi a cidade onde vivo. Vi as linhas principais de um desenho, vi as cores das tintas, do giz de cera. Vi exposições, pinturas, retratos.”
“Aqui aprendi a ver.
[Aline Nunes de Santana, 14 anos]
50
“A arte tira o indivíduo do comodismo, deixa a gente mais sensível. Vemos criança que no começo não falava
muito, não era participativa, mas que por meio do desenho traz grandes contribuições para si própria e para o grupo.”
[ Tereza Cristina Vieira, educadora do Colibri ]
51
Itinerário formativoPara aprofundar o conhecimento sobre a cidade em que
moram, os alunos foram convidados a experimentar no-
vas vivências e materiais. As informações foram aos
poucos sendo absorvidas e trabalhadas em forma de pin-
tura, escultura e desenhos.
Tudo começou com os jovens fazendo uma entrevista com
os próprios familiares para verificarem o que eles conhe-
ciam de Embu das Artes. Para descobrir a rotina da cida-
de, foram realizadas visitas em dias diferentes da sema-
na, sempre registradas em fotos e depoimentos.
Não apenas o Centro Histórico foi o foco das visitas. Os
educadores e o arte-educador programaram uma saída a
pé até o Cemucam, área verde próxima do Centro Educa-
cional Colibri. Ali o desafio para os adolescentes era re-
gistrar o caminho pelo qual passaram e conhecer um pou-
co dos freqüentadores do local por meio de entrevistas.
O casulo Mariposa, como os outros, também participou
de visitas a museus, como o Museu de Arte Moderna e o
Museu de Arte Contemporânea, e a exposições: Negras
Memórias, Memórias de Negro, no Sesi; Do Modernis-
mo à Arte Contemporânea, na Faap; Claro e Explícito,
de Bia Lessa; Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti; Cândi-
do Portinari, na Pinacoteca; Modernismo, no Centro
Cultural Banco do Brasil; e Os Guerreiros de Xi’an e os
Tesouros da Cidade Proibida, na Oca, no Parque do
Ibirapuera.
“Com esse projeto aprendi a pintar com aquarela, fazer sombras com lápis preto. Agora sei trabalhar com máquina fotográfica e filmadora.”
[Kauê G. de Souza Mota, 14 anos]
52
“É bom quando a gente conhece coisas novas. Visitei Embu das Artes, trabalhei com
barbante, fui a outras exposições. Fiz coisas que nunca tinha feito.”
[Fabiano de Souza Araújo, 12 anos]
53
Aprender a recomeçar Manter um grupo de adolescentes interessado na propos-
ta de trabalho e concentrado na atividade diária é sempre
um desafio. Maior ainda quando, no meio do caminho, há
troca de turmas e também de educadores. Isso aconte-
ceu no Colibri. Novo educador, novo arte-educador e até
mesmo a maioria dos educandos, com o início do ano le-
tivo de 2003, mudou de horário escolar e saiu do projeto.
Foi necessário retomar e repensar algumas atividades
e saídas. “Sentimos a necessidade de envolver os ado-
lescentes no projeto, partindo do indivíduo para o meio
no qual ele vive, a cidade de Embu. Trabalhamos duran-
te um mês na confecção de auto-retratos”, conta Flá-
via Manzione Zanzotti, arte-educadora do casulo Mari-
posa. Lápis grafite, giz de cera e aquarela foram os
instrumentos para aproximar o educando de si mesmo.
O progresso foi visto no encontro dos casulos, no mês
de abril. Aquela turma que parecia dispersa havia se tor-
nado um grupo. A timidez aos poucos foi vencida. As
mariposas compartilharam a visita de Embu com os co-
legas dos outros casulos. Com ajuda do retro projetor,
imagens e texto contaram um pouco da história e da
cultura da cidade em que vivem esses jovens. E, para
mostrar o que absorveram da exposição “Os Guerreiros
de Xi’an”, eles montaram uma exposição com recortes
da mostra e objetos pessoais. Era a cultura chinesa divi-
dindo espaço com os costumes do educando.
Visitei Embu das Artes, trabalhei com barbante, fui a outras exposições.
Fiz coisas que nunca tinha feito.”[Fabiano de Souza Araújo, 12 anos]
“Atingimos parcialmente o nosso objetivo no projeto Crisálida. Nosso processo tem sido lento, mas estamos
notando crescimento. Acredito muito nessas mudanças mais vagarosas, acho que são mais verdadeiras e profundas. Precisamos respeitar esse tempo.”
[Maria Cecília Melo Fernandes, diretora do Colibri]
atrama -sedado bicho-da
Conhecer a cidade de São Paulo, apropriando-se dos espaços
públicos culturais e artísticos, fortalecendo seres críticos e
habilidosos, criando no fazer e no interagir possibilidades de dialogar
no meio em que vivem.
-seda
56
A arte como veículo de formação e de transformação. É dessa maneira que o Centro Educacional Gracinha, mais uma unidade da Sociedade Pela Família, localizado na Vila Campo Belo, zona oeste da capital paulista, exerce influência construtiva na população atendida – jovens de 6 a 18 anos.
“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo de busca. E ensinar e aprender não podem dar-se
fora da procura. Fora da boniteza e da alegria.” [ Paulo Freire ]
[ Paulo Freire ]
57
Com a experiência de quem já domina a linguagem artís-
tica, o Gracinha desenvolveu uma proposta inusitada e
interessante, dentro do projeto Crisálida. No casulo Bi-
cho-da-Seda, os jovens aprenderam a enxergar a cidade
de um jeito diferente, por meio da arte. O foco principal
do projeto, durante o primeiro ano de Crisálida, foi co-
nhecer e fotografar as obras de arte expostas nas esta-
ções do Metrô, pesquisar a vida e a obra de um dos artis-
tas e criar um produto expressivo, a partir da técnica uti-
lizada pelo artista estudado.
Em suas viagens pelo subsolo da metrópole, pelas linhas
Verde, Vermelha e Azul, os 27 adolescentes foram além
da apreciação dos trabalhos de Alex Fleming, Francisco
Brenand, Tomie Ohtake: promoveram o exercício da li-
berdade criadora, com novas formas de pensar e de agir,
de enxergar a si mesmos e ao mundo; interagiram com o
espaço público e se expressaram com autonomia, ética
e estilo estético.
Itinerário formativoArte é linguagem e, portanto, exige estudo, trabalho,
reflexão, informação. Educadores e arte-educadores do
Bicho-da-Seda criaram oportunidades e atividades
que contemplaram três aspectos da prática da arte: o
multicultu ralismo, a apreciação da obra e o fazer artís-
tico*. Assim, proporcionaram aos jovens vivências ri-
cas, que os torna ram mais autônomos e capazes de ver,
pensar, agir, decidir e criar de forma independente.
Além das visitas às estações do Metrô, fizeram parte
do itinerário formativo: pesquisas em jornais, revistas,
Internet e biblioteca do Metrô; orientação para apre-
ciação e conhecimento das obras; explicação sobre
materiais e técnicas utilizados pelos artistas e documen-
tação com fotos, relatórios e textos. Até entrevistas com
funcionários e usuá rios do Metrô foram feitas pelos
adolescentes.
O saber artístico envolveu também visitas a estúdios
e entrevistas com artistas plásticos, idas a museus, ex-
posições, teatros, cinemas. Foi um processo intenso de
alfabetização do olhar, refletido nas palavras de Alcides
dos Santos Brito, 14 anos: “Quando visito museus e
exposições, me sinto desenhado nos quadros e esculpi-
do nas estátuas que vejo. ”
Viagem CulturalAnsiosos e curiosos, adolescentes e educadores se di-
rigiram à estação Sé – Linha Vermelha. A primeira via-
gem informativa começou por ali. Recepcionados pela
equipe responsável pela parte cultural do Metrô, os
educadores e jovens conheceram toda a estrutura e o
fun cionamento do mais eficiente sistema de transporte
de São Paulo. Também ficaram sabendo sobre o conceito
da exposição Arte no Metrô e tudo o que poderiam apre-
ciar pelos 49 quilômetros das trilhas subterrâneas.
Em razão da extensão das linhas e do número de tra-
balhos, o grupo foi dividido em três turmas. Cada qual
passou uma tarde passeando por uma linha, aprecian-
do as obras, para depois escrever seus próprios rela-
tos e trocar informações com os outros grupos. Essa
decisão, mais tarde, provou-se acertada, pois criar o
hábito de olhar uma obra de arte requer atenção, sen-
“Eu já havia passado por várias estações do Metrô e nunca reparei nas obras de arte. Hoje, paro e fico observando e quero saber que artista fez aquilo. Já falei até para amigos e pessoas da família: se pegar o metrô, olhe a arte ao redor.”
[ Paulo Felipe Nascimento, 14 anos ]
do processo de busca. E ensinar e aprender não podem dar-se
58
sibilidade e paciência, o que seria um exercício muito
difícil com um grupo de 27 adolescentes.
Em cada saída, uma surpresa. Ao ver a obra de Wesley
Duke Lee intitulada Museu Imaginário do Desenvolvi-
mento da Pintura no Brasil em Quatro Séculos, na esta-
ção Trianon-Masp, Emerson Aparecido C. Ferreira ficou
intrigado e perguntou: “Esse Wesley fez somente uma
colagem com quadros de outros artistas. Isso é obra de
arte? Ele é um artista?” A dúvida do jovem foi a deixa
para o grupo pensar, elaborar relações, administrar con-
flitos e acolher opiniões diversas.
Do Metrô, a viagem continuou por museus e exposições
de arte. O casulo visitou a mostra de Tomie Ohtake, que
se tornou fonte inspiradora para os painéis de mosaico
criados pela turma; conheceu o trabalho para deficien-
tes visuais da artista Nazareth Pacheco, no espaço de
artes Unicide; e deliciou-se na mostra Escultores e Es-
culturas, na Pinacoteca, na qual era possível sentir nos
dedos cada forma, textura e temperatura das esculturas.
Os jovens também se impressionaram nas exposições
Negras Memórias, Memórias de Negros, no Sesi, e Os
Guerreiros de Xi’an e os Tesouros da Cidade Proibida,
na Oca, no Parque do Ibirapuera. Entre tantos passeios
culturais, até o Cemitério da Consolação entrou no roteiro:
conheceram o túmulo da Marquesa de Santos, dos es-
critores Monteiro Lobato e Mário de Andrade, além de belas
esculturas e pitorescas histórias.
Mãos à obraO desafio do casulo agora era representar artisticamente
o conteúdo ao qual os adolescentes tiveram acesso du-
rante as visitas ao Metrô e às exposições de arte. O grupo,
encantado com os painéis de mosaico da artista plástica
Tomie Ohtake expostos na estação Consolação, obra ba-
tizada de As Quatro Estações, resolveu se aventurar pela
técnica e criar quatro painéis de 3m por 2m. Depois de
muita discussão, o tema acertado foi a evolução do homem,
representada pelas fases da vida que eles decidiram como
as mais importantes: bebê, criança, adulto e idoso.
Os educandos passaram semanas empenhados no fazer
artístico. Primeiro, pesquisando a técnica de mosaico ao
longo do tempo – na Mesopotâmia, na Grécia, em Roma –,
até chegar aos dias atuais, com novos materiais. Depois,
definindo símbolos para os painéis, escolhendo as cores,
“Eu nem imagino que estou neste lugar, nunca poderia me imaginar aqui.”[ Daiana Maria Lopes, 13 anos, parada em frente de uma obra de Tomie Ohtake no Instituto que leva o nome da artista ]
59
“– Olha, há um tesouro na casa ao lado.
quebrando azulejos e desenhando os painéis, até final-
mente chegar o momento de colar os ladrilhos.
Mas, além do exercício proporcionado pelo fazer artísti-
co, os jovens também experimentaram a troca, o diálo-
go, o respeito ao outro, o trabalho em grupo, a organi-
zação do espaço. Até aqueles que pareciam alheios ao
projeto acabaram por pôr a mão na massa e fizeram ques-
tão de dar sua contribuição. Ao final, a boa surpresa es-
tampada nos painéis: estética, beleza, criatividade, arte.
Trabalho acabado, momento de novas experimentações:
caminhar do bidimensional para o tridimensional. A vez
de se aventurar pela escultura. O primeiro passo foi a
pesquisa de como surgiu o concreto celular e como esse
– Mas não há nenhuma casa aqui ao lado.– Então construiremos uma!”
[ Diálogo dos irmãos Marx ]
“Eu nem imagino que estou neste lugar, nunca poderia me imaginar aqui.”
60
material é usado. Depois veio o momento de tocar o
material, de explorar sensações. Inspirados na exposi-
ção Os Guerreiros de Xi’an, o grupo sugeriu esculpir
figuras representativas do seu cotidiano. Mas como es-
culpir algo tão complexo sem ter experimentado antes?
A resposta foi buscada nos Moás da Ilha de Páscoa –
figuras mais simples para quem era iniciante.
O grupo então retomou as pesquisas, assistindo ao vídeo
Rapa Nui – O Umbigo do Mundo, que retratava a cons-
trução dos Moás. Além do aprendizado das formas, me-
ninos e meninas treinaram o olhar para uma outra
cultura, outra etnia com costumes, crenças e rituais dis-
tintos. Foram feitas novas visitas a exposições. E mãos à
obra. Moás prontos e uma sensação boa – de habilidade,
de domínio e de competência para encarar outras expe-
riências.
Resultados obtidosJovens mais questionadores, observadores, autônomos,
que respeitam as diferenças, compartilham conheci-
mentos, se orgulham de suas produções, e estão dis-
postos a rever e a elaborar suas ações cotidianas. As-
sim movimentou-se a crisálida no Centro Educacional
Gracinha e os bichos-da-seda começaram a conhecer
todo o potencial de tramar seu próprio futuro.
“As senhoras da boa morte rezavam para que os senhores tivessem uma boa morte, já os guerreiros de Xi’an guardavam a morte.”
[ Marina Gomes da Silva, 15 anos, comparando as
exposições durante a roda de conversa ]
“Nas saídas que fizemos, observei adolescentes mais criteriosos com a monitoria, intervindo nas colocações e até relacionando obras de arte que já haviam visto anteriormente. Presenciei adolescentes expondo seu ritmo de observação das obras, discutindo preferências e expressando esse conhecimento dias depois da visita.”
[ Maria Sueli do Nascimento, educadora ]
61
“O bastão está caminhando. Junto com os adolescentes, nós, como equipe e profissionais, estamos também nos transformando, crescendo e acreditando cada vez mais nas possibilidades que o trabalho através
da arte está nos propiciando. Todos nós estamos em movimento.”[ Hilda Setsuko Hashimoto, diretora do Centro Educacional Gracinha e coordenadora do Crisálida ]
observei adolescentes mais criteriosos
expondo seu ritmo de observação das
depois da visita.”
roda Momento de reflexão, de troca, de expressão. Sentados em roda, no início da atividade, alguns jovens se esforçam para parar quietos e ouvir os colegas. Outros, simplesmente, deixam fluir toda a energia, às vezes com brincadeiras, às vezes de forma agressiva. É na Roda de Conversa que se estabelecem combinados, que o jovem emite opiniões, discute dificuldades, apresenta avanços e conquistas. É preciso esforço para saber a hora de falar e de ouvir, construir sentidos, estabelecer associações entre direitos e deveres, liberdade e respeito. Como rotina, as rodas oferecem a estrutura necessária para cada um encontrar a harmonia interna e se preparar para desenvolver os temas e as atividades do dia. Nas culturas orientais mais antigas, os círculos, as rodas simbolizam o sagrado, o momento da comunhão. É a proximidade com o outro, o momento de criar laços — respeitando as diversidades.
“Quando nos sentamos em roda, no início ou fim do dia, sentimos o pulsar do grupo e juntos pensamos e avaliamos nossos
erros e acertos, numa tarefa incansável de tornar o ensinar e o aprender difícil e árduo em satisfação e descobertas.”
Rita Coelho, coordenadora do Projeto Crisálida
de conversa
“Na roda os educadores procuram substituir a ansiedade dos meninos e meninas por diálogo, troca, contato amigo e respeito ao diferente. Um tema é proposto, uma informação
é compartilhada e a roda começa a girar.” [Wanderleia Rocha, educadora, casulo Borboleta]
“Fazemos dinâmicas e atividades na roda. Quando o grupo está muito agitado, a educadora tem que dar
algumas broncas para acalmar. Aí podemos conversar, ler e ouvir lendas e mitos da região amazônica, que é o
tema do nosso projeto.[Fernando Pires S. da Silva, 14 anos]
“Conversamos sobre as apresentações que o grupo faz, exposições que vamos visitar, as regras para a saída, brincamos.”
“No círculo procuramos conhecer melhor o companheiro, [Patricia Maria dos Santos, 12 anos]
fazendo uma vez por semana uma brincadeira chamada Cadeira do Amigo. É o jeito mais fácil da gente se conhecer e
do educador conhecer a gente.”[Silmara Brasileiro Quaresma, 16 anos]
dentro dos casulos
Neste um ano de trabalho do Projeto Crisálida, acompa-nhamos de perto a evolução dos casulos. Vimos o romper de muitas
crisálidas e o primeiro vôo de tantas borboletas, cigarras, bichos-da-seda, mariposas e libélulas.
Essa transformação está sendo construída com muito trabalho, planejamento, estudo e com
intencionalidade. As nossas ações estão sendo cuidadosamente pensadas e avaliadas numa in-
cansável busca de integrar teoria e prática, clareando e aprimorando a nossa metodologia de
trabalho, avaliando, registrando, replanejando, atentos ao “como fazer”. Nosso grande desafio
foi buscar o alinhamento de educadores e arte-educadores na concepção do trabalho através da
arte, a arte na centralidade, arte como linguagem, transformando efetivamente potenciais em
competências*. Investimos na formação da nossa equipe de educadores e arte-educadores, sempre
com o objetivo de ampliar os nossos conhecimentos e construir outros. Está sendo possível cons-
truir juntos, conhecimento!
Ainda não podemos falar de resultados, podemos falar de processo; de jovens e adolescentes
em pleno exercício. Exercitando a autonomia, ao se sentirem responsáveis pelo seu entorno; exer-
citando estar mais atentos e observadores para os códigos visuais que o tempo todo nos chegam
por meio da imprensa e da mídia. Adolescentes e jovens leitores das questões sociais, sabedo-
res dos seus direitos e praticantes de seus deveres. A via para esse desenvolvimento humano
sendo a arte encurta muitos caminhos, pois a arte nos sensibiliza, nos mobiliza, nos transforma e
essa vivência faz com que voltemos diferentes para a realidade. A partir do momento em que se
fortalece o lado criativo, inventivo e crítico, a possibilidade de ressignificar a realidade fica mais
ampla e, quando a realidade ganha significado novo, tornamo-nos mais responsáveis pelo mundo
no qual vivemos e mais atuantes nessa realidade; é o exercício da cidadania.
Os jovens estão mais sensibilizados para si mesmos, para o outro e para a cidade em que vivem.
São os sujeitos dessa transformação.
Educandos Adelene Conceição da Costa
Ademilson da Silva Santos
Adriana da Silva Santos
Adriano Moreira Dias Gonzaga
Adriel de Lima Sampaio
Alan Amorielli David
Alcides dos Santos Brito
Alcione da Silva Santos
Alexandre Pereira Gonçalves
Alex dos Santos Luz
Aline N. Santana
Amanda Campos
Amanda Lacerda Barbosa
Ana Paula Carvalho dos Santos
Anderson de Lima Soares
Anderson Lima Pereira
André Luiz Galvão
André Marques dos Santos
Angélica Aparecida da Silva
Bianca Rodrigues dos Santos
Bruno Cardoso Farias
Bruno Ferreira dos Santos
Bruno Souza Moura
d i r e ç ã o
Coordenadora de Ação Social da Sociedade Pela Família
Laura Souza Pinto
Equipe de interlocução
Vera Prates
Rita de Cássia Coelho
Hilda Setsuko Hashimoto
Maria Sueli do Nascimento
Centro de Convivência Uirapuru
Ana Maria Rodrigues, diretora
Centro Educacional Colibri
Maria Cecília Melo Fernandes, diretora
Centro Educacional Gracinha
Hilda Setsuko Hashimoto, diretora
Centro de Participação Educativa e Comunitária Clarisse Ferraz Wey (Cepec)
Maria do Carmo Risi, diretora
e l e n c o
Educadores Andréia Amaral dos Santos
André Luiz Pereira do Nascimento
Geralda Fernandes
Maria Cecília da Silva
Maria Sueli do Nascimento
Ruth de Souza Abreu
Tereza Cristina Vieira
Wanderleia Rocha
Arte-educadores Flávia Manzíone Zanzotti
Irael Luziano Dias
José Renato Batista de Oliveira
Rita Coelho
Carla Ferreira
Carlos Henrique Galvão
Caroline Estela de J. dos Santos
Cássia Sabino de Souza
Celijeane Suzart Barbosa
Cíntia Barbosa de Oliveira
Cleiton Batista dos Santos
Daiana Maria Lopes
Danilo Reis do Nascimento
Dário Felix da Rocha Souza
Davi João Paulo
David de Oliveira Santana
Dayane Guedes Teixeira Silva
Débora de Jesus dos Santos
Denise de Lira Garcia
Diego Maradona Gonçalves Santos Rosa
Diogo Medeiros de Brito Gonçalves
Diovane Manoel da Silva
Douglas Paulo dos Santos Silva
Douglas Pereira Araújo
Douglas Ramos dos Santos
Elaine Aparecida Pereira
Elen Sara Dantas Freitas
Eduardo Coimbra Ferreira
Eduardo Silvério da Silva Júnior
Egnaldo Silva Andrade
Elvis de Alencar Godoy
Emerson Aparecido C. Ferreira
Erinaldo Silva Andrade
Erlaine Oliveira Pereira
Euvandina Conceição dos Santos
Everton de Oliveira Santos
Evelyn Vieira de Souza
Fabiano de Souza Arcanjo
Felipe Gonçalves Oliveira
Felipe Silveira Rodrigues
Fernando Pires Saraiva da Silva
Fernando Silva Santos
Filipe Antunes Trindade Silva
Flávia Jesus da Silva
Flávio R. do Nascimentos
Gabriela Cristina Feltrin
Gilberto do Carmo Assalti
Gilvan Mendes de Souza
Jailton da Silva Rocha
Jaqueline Lucas M. da Silva
Jessica Danielle Xavier Lira
Jéssica Fabiana G. da Silva
Jéssica Luna Nascimento Silva
Jeferson Alves
Jeferson Correia Alves dos Santos
Jennifer Belarmino de Aguiar
Jéssica Belarmino de Oliveira
Jéssica Cristina Rocha dos Santos
Jéssica Roberta Nicolau
João Roberto de Monte Santos
Joedson Florêncio da Silva
Johnathan Silva Santos Souza
Johny Honório da Silva Santos
José Carlos Nascimento Cruz
José Fernando Berto da Paixão
José Lucas Dvoranen Paz
José Silva Santos
Juliana Costa de Moura
Juliana de Oliveira Silva
Juliana Silva Feltrin
Juliano da Costa
Julierme da Costa
Kauê Jerônimo de S. Mota
Keila Mendes de Souza
Laílson Silva de Oliveira
Laio Fernandes de Lima
Leandro Gonçalves da Silva
Luan de Oliveira Mota
Lucas Gonçalves da Silva
Lucas Thiago Gonçalves Souza
Luís Henrique de J. de Souza
Luiz Claudio Lima
Luiz Fernando Gonçalves
Luiz Henrique Batista
Maike Santos Morais
Manoel José dos Santos Filho
Márcio Alves da Rocha
Marcleide de Jesus dos Santos
Marco Aurélio N. da Silva
Marilia Santos Rodrigues
Marina Gomes da Silva
Marina Honório da Silva Santos
Medson Felipe de Souza
Mileide Vieira de Carvalho
Nayara Estefani Bernardes
Pamela Silva Prado
Patrícia Barbosa Soares
Patrícia Maria dos Santos
Paulo César Belmiro Júnior
Paulo Felipe do Nascimento
Paulo Henrique Lima Barbosa
Paulo Rodrigo Régis da Silva
Peter Felipe do Nascimento
Priscila Ramalho Costa
Rafael Felipe de Souza Aran
Rafael Pereira da Costa
Renan Tadeu S. Santos
Renato Cardoso de Freitas
Ricardo de Souza Barbosa
Ricardo Santos Correia
Roberta Maria Régis da Silva
Robson de Oliveira Abreu
Robson Rodrigues da Silva
Rodrigo Carlos Pereira Niza
Rodrigo G. Pereira
Rodrigo Teixeira
Rogério Carlos Pereira Niza
Rogério da S. Rocha
Romeu Bispo
Romilson Bispo Silva
Samara de Oliveira Barbosa
Samuel dos Santos Caetano
Sidnei do Carmo da Silva
Silmara Brasileiro Quaresma
Silvana de Oliveira Santos
Soraya Faria Souza
Sulamita dos Santos Rocha
Talita Alves Ferreira da Silva
Tatiana Silva Reis
Thacia Aguiar de Souza
Thamara Laizza Santos
Tiru Xavante
Valdeir de Jesus dos Santos
Wagner Pereira Santana
Wanderson Silva Cardoso
Welder Alves dos Santos
Wellington Ribeiro
Wellington Willian Nogueira da Silva
Wesley Roger Santos Mariano
Willian Gonçalves Oliveira
Wilson Ribeiro de Jesus
Produzido na primavera de 2003
D’lippi Arte Editorial • tel.: 11 3676 0074 • [email protected] Comunicação • tel.: 11 4702-3856 • [email protected]
CRISÁLIDA é o estado por que passa a
lagarta para se tornar borboleta.
É o local das metamorfoses, a câmara
secreta das iniciações, a matriz ou o
útero das transformações. O livro
Crisálida – o Casulo de um Novo
Cidadão revela as mudanças culturais e
comportamentais que a arte é capaz de
promover no ser humano. Mostra, com
poesia e cor, o dia-a-dia de quatro
unidades e de um grupo de
educadores. Coordenados pela
Sociedade Pela Família, esse time
aceitou o desafio do programa Cidadão
21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna:
formar crianças e adolescentes
motivados, que interagem entre si e
com os outros, aprendem a intervir em
sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo,
respeitam as diversidades culturais.
Divididos em casulos, os jovens
experimentaram um instigante e
criativo roteiro, que incluiu visitas a
museus e a espaços públicos até então
desconhecidos. Experiências depois
traduzidas por eles em pinceladas,
mosaicos e grafitagem.
CRISÁLIDA é uma viagem nesse
universo de cigarras, mariposas,
bichos-da-seda, borboletas e libélulas
– todos adolecentes – que, após passar
um tempo no casulo, aprenderam a voar.
Com suas novas asas, romperam
fronteiras, descobriram um mundo novo
além de suas casas, escolas e bairros,
perceberam-se capazes do que nem
imaginavam. Tornaram-se cidadãos.
cr
is
ál
id
a
–
o
c
as
ul
o
d
o
no
vo
ci
da
dã
o
Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educaçãoatravés da arte. Passo a passo, conta atransformação de jovens em cidadãos - donosde seu presente e capazes de criar seu futuro.Esse projeto da Sociedade Pela Família, emparceria com o Instituto Ayrton Senna,estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e aapontar soluções para mudar sua vida e a dacomunidade. É o relato fiel do trabalhodesenvolvido por uma entidade que tem pormissão a busca de uma sociedade mais justa, naqual todos os seres humanos têm condições desair de suas crisálidas. E são livres para voar.
O Projeto Crisálida é fruto do
esforço conjunto de gestores,
educadores e educandos para
fazer da Arte uma via privilegiada
para o desenvolvimento dos
potenciais de suas crianças e
jovens. O Instituto Ayrton Senna é
um parceiro dessa causa. Temos
imenso prazer de aprender com os
desafios e conquistas dessa
equipe campeã e imenso orgulho
de compartilhar com o Crisálida
nossa Tecnologia
Social de Educação para o
Desenvolvimento Humano
pela Arte.
[Simone André – Coordenadora do Programa de
Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]
CRISÁLIDA é o estado por que passa a
lagarta para se tornar borboleta.
É o local das metamorfoses, a câmara
secreta das iniciações, a matriz ou o
útero das transformações. O livro
Crisálida – o Casulo de um Novo
Cidadão revela as mudanças culturais e
comportamentais que a arte é capaz de
promover no ser humano. Mostra, com
poesia e cor, o dia-a-dia de quatro
unidades e de um grupo de
educadores. Coordenados pela
Sociedade Pela Família, esse time
aceitou o desafio do programa Cidadão
21 – Arte, do Instituto Ayrton Senna:
formar crianças e adolescentes
motivados, que interagem entre si e
com os outros, aprendem a intervir em
sua cidade e usufrui-la e, acima de tudo,
respeitam as diversidades culturais.
Divididos em casulos, os jovens
experimentaram um instigante e
criativo roteiro, que incluiu visitas a
museus e a espaços públicos até então
desconhecidos. Experiências depois
traduzidas por eles em pinceladas,
mosaicos e grafitagem.
CRISÁLIDA é uma viagem nesse
universo de cigarras, mariposas,
bichos-da-seda, borboletas e libélulas
– todos adolecentes – que, após passar
um tempo no casulo, aprenderam a voar.
Com suas novas asas, romperam
fronteiras, descobriram um mundo novo
além de suas casas, escolas e bairros,
perceberam-se capazes do que nem
imaginavam. Tornaram-se cidadãos.
cr
is
ál
id
a
–
o
c
as
ul
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d
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no
vo
ci
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dã
o
Crisálida – o Casulo do Novo Cidadão, apresenta uma rica experiência de educaçãoatravés da arte. Passo a passo, conta atransformação de jovens em cidadãos - donosde seu presente e capazes de criar seu futuro.Esse projeto da Sociedade Pela Família, emparceria com o Instituto Ayrton Senna,estimula o jovem a refletir, discutir idéias, e aapontar soluções para mudar sua vida e a dacomunidade. É o relato fiel do trabalhodesenvolvido por uma entidade que tem pormissão a busca de uma sociedade mais justa, naqual todos os seres humanos têm condições desair de suas crisálidas. E são livres para voar.
O Projeto Crisálida é fruto do
esforço conjunto de gestores,
educadores e educandos para
fazer da Arte uma via privilegiada
para o desenvolvimento dos
potenciais de suas crianças e
jovens. O Instituto Ayrton Senna é
um parceiro dessa causa. Temos
imenso prazer de aprender com os
desafios e conquistas dessa
equipe campeã e imenso orgulho
de compartilhar com o Crisálida
nossa Tecnologia
Social de Educação para o
Desenvolvimento Humano
pela Arte.
[Simone André – Coordenadora do Programa de
Educação pela Arte, Instituto Ayrton Senna]
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