FUNDAMENTOS DE GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
2012
APRESENTAÇÃO
Estimados alunos,
As formas de se articular o conhecimento foram reavaliadas com o advento e
avanço dos veículos tecnológicos de divulgação da informação. As transformações
sociais, culturais e econômicas são arcabouços promovedores de modificações,
segundo certas necessidades e urgências.
Em um contexto representado pela criação e avanço das técnicas de lidar
com o conhecimento, a Educação à Distância une o produto humano ao tecido
tecnológico, irrompendo as distâncias geográficas, ampliando o alcance e a
abrangência das formas de comunicação, informação, além de reelaborar o
processo ensinar/aprender.
A revolução tecnológica não apenas diminuiu distâncias; fez a sociedade
perceber a inquestionável onipresença das mídias modernas aplicadas à educação
e à vida social; fez o indivíduo reagrupar as novas concepções em como lidar com a
informação e sua popularização. Desta forma, as novas posturas sociais sofreram
alterações nas formas de como se pesquisar e apreender o conhecimento. A partir
desse atual perfil, a Educação à Distância tem como aporte o movimento
(deslocamento) das atuais sociedades rumo ao futuro.
Com uma forte densidade social, a Educação à Distância apoia o
desenvolvimento social e humano valorizando e qualificando as iniciativas voltadas
para desenvolvimento dos indivíduos, ampliando as formas de se obter qualificação
educacional e profissional, capacitando pessoas para o exercício do trabalho e da
pesquisa.
A Educação à Distância propõe a transformação da educação, ultrapassando
os limites da sala de aula, transportando-a para a espacialidade do aluno segundo
sua conveniência e preferência, oportunizando soluções em culturas
internacionalizadas e unidas pelas relações sem fronteiras.
É sabido, também, do nível de disciplina e responsabilidade necessárias
para cursos de formato à distância. Portanto, a EAD representa uma reinvenção do
contato com o conhecimento em contextos profissional e acadêmico, levando não
2Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Unidade I
apenas informação além-fronteiras - intercambializada pela acessibilidade síncrona
e assíncrona de informações-, mas conduzindo pessoas ao mais inequívoco
elemento transformador de posturas sociais: o conhecimento.
Everaldo dos Santos Almeida - Professor
3Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
IUNIDADE
Generalidades gramaticais: elementos básicos
Concordância Verbal e NominalCraseHomófonas, homógrafas e parônimasOrtografiaPontuaçãoAcentuação gráficaRegência verbal e nominal
4Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Unidade I
CONCORDÂNCIA NOMINAL
Saiba como fazer a concordância nominal da forma correta.
Na língua portuguesa, existem conceitos e regras complicados, pelo menos
ao cidadão comum, que não está acostumado com a utilização da língua padrão, e
sim com a linguagem cotidiana, solta, despreocupada. Por exemplo, com qual
segurança o indivíduo usaria a frase escrita acima? "... conceitos e regras
complicados" ou "... conceitos e regras complicadas"? Como saber o certo? Vamos,
então, aos estudos:
Quando dois ou mais substantivos forem qualificados por um só adjetivo,
deve-se analisar se este funciona como adjunto adnominal ou como predicativo.
Como chegar à resposta? Simples: substitua os substantivos por um pronome; se o
adjetivo desaparecer com essa substituição, sua função será a de adjunto
adnominal; se não desaparecer, será a de predicativo.
Por exemplo: "Existem conceitos e regras complicados". Substituindo os
substantivos por um pronome teremos "Eles existem", e não "Eles existem
complicados". O adjetivo desapareceu com a substituição; é, então, adjunto
adnominal. Já na frase "Considero os conceitos e as regras complicados".
Substituindo os substantivos por um pronome teremos "Considero-os complicados".
O adjetivo não desapareceu; é, então, predicativo. E como qualifica o objeto direto,
denomina-se predicativo do objeto.
Adjetivo como adjunto Adnominal
Após os substantivos: Quando o adjetivo funcionar como adjunto
adnominal e estiver após os substantivos, tanto poderá concordar
com a soma destes quanto concordar apenas com o elemento mais
próximo. Por isso a frase apresentada inicialmente tanto poderá ser
escrita "Existem conceitos e regras complicados" quanto "Existem
conceitos e regras complicadas". Outros exemplos: "Ela escolheu
coordenador e assistente péssima" ou "Ela escolheu coordenador e
5Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
assistente péssimos"; "Encontrei colégios e faculdades ótimas" ou
"Encontrei colégios e faculdades ótimos". O adjunto adnominal
concordará apenas com o elemento mais próximo, se a qualidade
pertencer somente a este (P. Exemplo: Comprei cerveja e carne
bovina), se os substantivos forem sinônimos (P. Exemplo: Magoaram
o povo e a gente brasileira) ou se formarem gradação (P. Exemplo:
Foi um olhar, uma piscadela, um gesto estranho).
Antes dos substantivos: Quando o adjetivo funcionar como adjunto
adnominal e estiver antes dos substantivos, concordará apenas com
o elemento mais próximo. Por exemplo: "Existem complicadas regras
e conceitos"; "Ela escolheu péssima assistente e coordenador";
"Encontrei ótimas faculdades e colégios". Quando houver apenas um
substantivo qualificado por dois ou mais adjetivos, haverá duas
possibilidades de construção: colocar o substantivo no plural e
enumerar os adjetivos no singular, ou colocar o substantivo no
singular e, ao enumerar os adjetivos, também no singular, antepor um
artigo a cada um, menos no primeiro deles. Por exemplo: "Ele estuda
as línguas inglesa, francesa e alemã" ou "Ele estuda a língua inglesa,
a francesa e a alemã"; "As seleções brasileira, italiana e argentina
estão prontas para o torneio" ou "A seleção brasileira, a italiana e a
argentina estão prontas para o torneio".
Adjetivo como predicativo
Com o verbo após o sujeito: Se adjetivo funcionar como predicativo
do sujeito, este concordará com a soma dos elementos. Por exemplo:
"A casa e o quintal estavam abandonados"; "A casa e o quintal,
abandonados, foram invadidos pelos garotos"; "Abandonados, a casa
e o quintal foram invadidos pelos garotos".
Com o verbo antes do sujeito: O predicativo do sujeito
acompanhará a concordância do verbo, que tanto concordará com a
6Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
soma dos elementos quanto com o mais próximo. Por exemplo:
"Estava abandonada a casa e o quintal" ou "Estavam abandonados a
casa e o quintal"; "Parecia perdida a garota e os irmãozinhos" ou
"Pareciam perdidos a garota e os irmãozinhos".
Adjetivo como predicativo do objeto
É mais aconselhável concordar com a soma dos substantivos. Por isso o
mais indicado é "Considero os conceitos e as regras complicados", "Tenho como
irresponsáveis o chefe do setor e seus subordinados" e "Julgo culpados pela derrota
o treinador e os jogadores". Há gramáticos, porém, que admitem a concordância
apenas com o elemento mais próximo.
Pronto. Essa foi a primeira parte dos estudos da concordância nominal. Na
próxima semana, continuaremos a matéria. Até mais ver.
7Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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CONCORDÂNCIA NOMINAL
1 - Adjetivo / substantivo: O adjetivo concorda com o substantivo a que se
refere em gênero e número. Se a palavra que funciona como adjetivo for
originalmente um substantivo, ficará invariável. Exemplos:
Rosas vermelhas e jasmins pérolaTernos cinza e camisas amarelas
2 - Adjetivo composto: Quando houver adjetivo composto, apenas o
último elemento concordará com o substantivo a que se refere; os
demais ficarão na forma masculina, singular. Se um dos elementos
for originalmente um substantivo, todo o adjetivo composto ficará
invariável.
Violetas azul-claras com folhas verde-musgoCalças rosa-claro e camisas verde-mar
3 - Obrigado / Mesmo / Próprio: Concordam com o elemento a que se
referem: A menina disse, em nome de todas as garotas: Muito
obrigadas.
Elas mesmas conversaram conosco.A própria autora virá para o debate.
Nota: Quando mesmo significar realmente, será advérbio, portanto ficará invariável. Exemplo: Os jovens resolveram mesmo a situação.
4 - Só / Sós: "Só" será pluralizável, quando significar sozinhos, sozinhas; será
invariável, quando significar apenas, somente. Exemplo:
As garotas só queriam ficar sós. (Somente queriam ficar sozinhas)
8Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
azul-marinho, azul-
celeste, ultravioleta e
qualquer adjetivo
composto iniciado por
cor-de-... são sempre
invariáveis.
Os adjetivos
compostos surdo-
mudo e pele-vermelha
têm os dois
elementos
flexionados.
Unidade I
Nota: A locução a sós é invariável. Exemplo: Ela gostava de ficar a sós.5 - Quite / Anexo / Incluso: Concordam com o elemento a que se referem.
Exemplo:
Estamos quites com o Banco.As notas promissórias foram quites hoje pela manhã.Seguem anexas as certidões negativas.Inclusos, enviamos os documentos solicitados.
6 – Meio: Concordará com o elemento a que se refere, quando significar metade.
Será invariável, quando significar um pouco, mais ou menos. Exemplo:
Ela estava meio (um pouco)nervosa, pois já era meio-dia e meia(hora), e seu filho ainda não havia chegado.
7 - Casa dois / Página vinte: Numeral utilizado após substantivo, é cardinal (um,
dois, três...). Do contrário, usa-se o numeral ordinal (primeiro, segundo,
terceiro...). Exemplos:
Estamos na segunda página.Arrancaram a página duzentos.
8 - É proibido entrada / É proibida a entrada: Quando o sujeito for tomado em sua
generalidade, sem qualquer determinante, o verbo ser - ou qualquer outro verbo
de ligação - ficará no singular, e o predicativo do sujeito no masculino, singular.
Se o sujeito vier determinado, a concordância do verbo e do predicativo será
regular, ou seja, tanto o verbo quanto o predicativo concordarão com o
determinante. Exemplo:
Caminhada é bom para a saúde.Esta caminhada está boa.É proibido entrada de crianças.É proibida a entrada de crianças.Pimenta é bom?A pimenta é boa?
9 - Menos / Pseudo: São palavras invariáveis. Pseudo será hifenizado quando a
palavra seguinte se iniciar por H, R, S e Vogal. Exemplos:
9Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Havia menos violência antigamente.Aquelas garotas são pseudo-atletas.
10 - Muito / Bastante: Quando modificarem substantivo, concordarão com ele.
Quando modificarem verbo, adjetivo, ou outro advérbio, ficarão invariáveis. Se
puderem ser substituídos por vários ou várias ficarão no plural (bastantes
também pode ser substituído por suficientes); se puderem ser substituídos por
bem, ficarão invariáveis. Exemplos:
Bastantes(vários) alunos ficaram bastante(bem) irritados com o professor.
Há testemunhas bastantes(suficientes) para incriminar o acusado.
11 - Tal qual: Tal concorda com o substantivo anterior, e qual, com o posterior.
Exemplos:
O filho é tal qual o pai.O filho é tal quais os pais.Os filhos são tais qual o pai.Os filhos são tais quais os pais.
Nota: Se o elemento anterior é um verbo, tal fica invariável; se o elemento
posterior é um verbo, qual fica invariável. Exemplos:
Eles agem tal quais as ordens do pai.Eles agem tal qual forem as ordens do pai.
12 – Grama: Quando representar unidade de massa, será masculino. Exemplos:
Comprei duzentos gramas de presunto.Ele foi preso com um grama de cocaína.
13 – Silepse: Concordância irregular, também chamada concordância figurada. É
a que se opera não com o termo expresso, mas com outro termo latente, isto
é, oculto, mentalmente subentendido.
10Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
a) Silepse de gênero: São Paulo é linda. (Usa-se linda, por tratar-se da
cidade de São Paulo)
b) Silepse de número: Estaremos aberto nesse final de semana. (Usa-
se aberto porque o que estará aberto será o estabelecimento)
c) Silepse de pessoa: Os brasileiros estamos esperançosos. (Usa-se
estamos, pois nós somos os brasileiros)
14 - Possível: Em frases enfáticas, como o mais, o menos, o melhor, o pior,
possível concordará com o artigo. Exemplos:
Conheci garotas o mais belas possível.Conheci garotas as mais belas possíveis.
Pronto. Agora sim terminamos a concordância nominal. Estude bem essas
regras e fale cada dia melhor a nossa língua. Até mais ver.
11Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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CONCORDÂNCIA VERBAL
A concordância verbal é um dos aspectos gramaticais mais temidos pelos
estudantes. A única maneira de usar o verbo convenientemente, em relação à
concordância, é raciocinar, encontrar o sujeito a que o verbo se refere, a fim de
deixar este no mesmo número e pessoa que aquele. Hoje estudaremos apenas
alguns casos especiais.
Concordância verbal consiste no estudo do verbo quanto à maneira como ele
deverá surgir na frase (singular ou plural), dependendo de qual elemento seja o
sujeito da oração, ou até dependendo da própria existência do sujeito. Se o sujeito
for um substantivo singular, o mesmo ocorrerá com o verbo; se for um termo no
plural, o verbo também o será. Por exemplo: "O prédio ruiu"; "Os bombeiros
chegaram". Para se encontrar o sujeito, pergunta-se ao verbo "Que(m) é que...?".
Casos Especiais
Verbo SER: Decerto, se apresentarem a frase "O vestibular são as
esperanças dos estudantes" a maioria dirá que há inadequação, pois "O vestibular
são..." parece estar errado, não é mesmo?
Mas está certo, pois o verbo ser, quando tiver como sujeito e como
predicativo do sujeito elementos numericamente diferentes (um no singular, outro no
plural), deverá concordar com o plural, não importando a sequência em que os
elementos se encontrem na oração. Exemplo:
"O mundo dela são as suas bonecas"; "Nem tudo são alegrias na vida".
Essa concordância só não ocorrerá, se o sujeito for um nome próprio ou
indicar pessoa; nesse caso, o verbo ser concordará com a pessoa. Exemplo:
"O homem é cinzas"; "Mariella é as alegrias da família".
12Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
Outro caso especial do verbo ser ocorre em frases que indicam quantidade:
Qual é o certo? "Trezentos gramas de carne é (ou são) o suficiente para esse
prato"? A resposta é "Trezentos gramas de carne é o suficiente", porque o verbo ser
ficará no singular, quando o predicativo for uma expressão como "muito, pouco, o
bastante, o suficiente, uma fortuna, uma miséria, demais...". Exemplo:
"Duzentos mil reais é muito para essa casa"; "Quatro voluntários é o bastante para realizar o serviço".
O verbo ser também pode ser impessoal, ou seja, pode apresentar-se sem
sujeito. Isso ocorrerá quando indicar horas, datas ou distâncias.Ao indicar horas ou
distâncias, o verbo ser concordará com o numeral a que se refere; ao indicar datas,
tanto poderá ficar no singular, quanto no plural, com exceção do primeiro dia do
mês; nesse caso, ser ficará no singular. Exemplo:
"É uma hora"; São duas horas"; "É um quilômetro daqui até lá"; "São dois quilômetros daqui até lá"; "É vinte e nove de agosto"; "São vinte e nove de agosto".
Que você diria da frase "Bateram dez horas o relógio da matriz"? Certa ou
errada?Errada!
Os verbos DAR, BATER e SOAR concordam com o sujeito (relógio, torre,
campanário, sino), a não ser que esses elementos estejam com a preposição em;
nesse caso, não funcionarão como sujeito, e os verbos passarão a concordar com o
numeral. Exemplo
"Bateram dez horas no relógio da matriz"; "Bateu dez horas o relógio da matriz"; "Soaram quatro horas no sino"; "Soou quatro horas o sino".
"Viva os jogadores!" Quem nunca gritou frase desse tipo algum dia? Quem
nunca cometeu esse erro? Erro, porque o verbo VIVER, nas orações optativas, deve
concordar com o sujeito, que sempre estará posposto ao verbo. Exemplo:
13Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
"Vivamos nós!"; "Vivam os artistas!".
Vivam as borboletas que parece bailarem quando voam! Quê?! "parece
bailarem"? Exatamente.Tanto se pode dizer "parece bailarem" quanto "parecem
bailar".
Quando o verbo PARECER estiver seguido de outro verbo no infinitivo e o
sujeito for um elemento no plural, ou flexiona-se o verbo parecer, ou o infinitivo.
Exemplo:
"As borboletas parecem bailar" (sujeito) (locução verbal)
Já em "As borboletas parece bailarem" o sujeito de "parece" é "as borboletas
bailarem", denominado de oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de
infinitivo, e o verbo parecer é intransitivo.
Essa última construção é equivalente a"Parece que as borboletas bailam",
retirando-se a conjunção "que" e colocando-se o verbo no infinitivo.
14Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
CRASE
Regras de uso e emprego.A palavra crase é de origem grega e significa fusão, mistura. Em gramática,
basicamente a crase se refere à fusão da preposição a com o artigo feminino a: Vou
à escola. O verbo ir rege a preposição a, que se funde com o artigo exigido pelo
substantivo feminino escola: Vou à (a+a) escola.
A ocorrência de crase é marcada com o acento grave (`). A troca de escola
por um substantivo masculino equivalente comprova a existência de preposição e
artigo: Vou ao (a+o) colégio.
No caso de ir a algum lugar e voltar de algum lugar, usa-se crase quando:
"Vou à Bolívia. Volto da Bolívia". Não se usa crase quando: "Vou a São Paulo. Volto
de São Paulo". Ou seja, se você vai a e volta da, crase há. Se você vai a e volta de,
crase para quê?
É erro colocar acento grave antes de palavras que não admitam o artigo
feminino a, como verbos, a maior parte dos pronomes e as palavras masculinas.
A tabela resume os principais casos em que a crase deve (ou não) ser
utilizada:
15Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Caso Uso obrigatório Uso proibitivo Uso facultativo
Antes de palavras masculinas
Quando estiver implícito “à moda de”: móveis à Luís 15;
Quando subentendido termo feminino: vou à [praça]João Mendes
Viajar a convite, traje a rigor, passeio a pé, sal a gosto, TV a cabo, barco a remo, carro a álcool etc.
Antes de verbos Disposto a colaborar.
Antes de pronomes
Antes da maior parte deles: Disse a ela que não virá; nunca se refere a você.
Pronomes possessivos:Enviou a carta à sua família. Enviou a carta a sua família.
Quando "a" vem antes de plural
A pesquisa não se refere a mulheres casadas.
Expressões formadas por palavras repetidas
Cara a cara; ponta a ponta frente a frente; gota a gota.
Depois de "para", "até", "perante", "com", "contra" outras preposições
O jogo está marcado para as 16h; foi até a esquina; lutou contra as americanas.
Antes de cidades, Estados, países
Foi à Itália (voltou da Itália).
Chegou à Paris dos poetas (voltou da Paris dos poetas).
Foi a Roma (voltou de Roma).
Foi a Paris (voltou de Paris).
Locuções adverbiais, conjuntivas ou prepositivas de base feminina
Às vezes, às pressas, à primeira vista, à medida que, à noite, à custa de, à procura de, à beira de, à tarde, à vontade, às cegas, às escuras, às claras, etc.
Locuções femininas de meio ou instrumento:À vela/a vela; à bala/a bala; à vista/a vista; à mão/a mão. (Prefira crase quando for preciso evitar ambigüidade: Receber à bala).
Aquele, aqueles, aquilo, aquela, aquelas
Referiu-se àquilo; Foi àquele restaurante; Dedicou-se àquela
tarefa.
16Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
Com demonstrativo “a”
A capitania de Minas Gerais estava ligada à de São Paulo;
Falarei às que quiserem me ouvir.
17Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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HOMÔNIOS E PARÔNIMOS
São muito comuns os erros de grafia e pronúncia de palavras semelhantes
na Língua Portuguesa. A seguir, alguns mais corriqueiros, a partir dos quais vamos
esclarecer algumas dúvidas relativas ao assunto.
COMO SE FALA E SE ESCREVE? cumprimento ou comprimento?
descrição ou discrição? a fim ou afim?
acento ou assento?
Às vezes, ouvimos uma pessoa dizer "que tem muitos homônimos", ou seja,
que há outras pessoas com o nome igual ao dela. Para entendermos melhor como
isto ocorre, é necessário que conheçamos um pouco da formação das palavras.
HOMÔNIMO(ou palavras homônimas) quer dizer:
(do grego) HOMOS = igual + ONYMA = nome
São vocábulos que se pronunciam ou se escrevem da mesma forma, mas
têm sentidos diferentes. Ou seja, são palavras polissêmicas. Exemplo:
manga de camisa e a fruta manga.
POLISSEMIA (do grego) POLYS = muitos + SEMA = significação / sinal
Ocorre quando fazemos uso de um termo com vários sentidos. É o caso dos
homônimos.
Cecília Meireles faz uso de homônimos em sua poesia "Moda da menina
trombuda". Utiliza a palavra "muda" com dois sentidos: adjetivo / sem voz e verbo
mudar.
18Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
E a moda da menina muda da menina trombuda que muda de modos e dá medo. (...)
Entre os homônimos, há dois tipos especiais: os homógrafos (palavras
homógrafas) e os homófonos (palavras homófonas). E, claro, os homônimos
perfeitos (que são homógrafos e homófonos ao mesmo tempo). Vejamos:
Homônimo HOMÓGRAFO (ou palavras homógrafas) quer dizer: (do grego) HOMOS = igual + GRAPHEIN = escrita
São vocábulos que se escrevem da mesma forma, mas a pronúncia é
diferente. Exemplos:
Vou colher as frutas. (recolher) A colher de chá está suja. (utensílio de mesa e cozinha)
No seguinte trava-línguas, podemos observar o uso ambíguo de maria-mole
como palavra homógrafa. Ou seja, a mesma palavra utilizada como nome de um
doce e, por associação de idéia, como atributo de uma pessoa preguiçosa.
Maria-Mole é molenga, se não é molenga,Não é Maria-Mole. É coisa malemolente, Nem mala, nem mola, nem Maria, nem mole.
Homônimo HOMÓFONO (ou palavras homófonas) quer dizer: (do grego) HOMOS = igual + PHONE = som
São vocábulos que têm a mesma pronúncia, mas a grafia e o sentido são
diferentes. Exemplo:
Acerca de um assunto (a respeito de) Há cerca de dois anos (há um certo tempo)
Observe como a letra de "Vamos fugir", interpretada por Gilberto Gil, torna-
se interessante com o uso de um homônimo homófono bastante criativo: "regue"
(verbo regar) e "reggae" (ritmo musical).
(...) Vamos fugir 19
Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Pr'onde haja um tobogãOnde a gente escorregue Todo dia de manhã Flores que a gente regue Uma banda de maçã Outra banda de reggae...(...)
Homônimos Perfeitos
São vocábulos que se pronunciam e se escrevem da mesma forma, mas têm
sentidos diferentes. Exemplos:
(a)cerca de 100 metros (a uma certa distância de) (a) cerca de um quintal (o que está em torno de um terreno, de madeira, de plantas) cerca de 14h (aproximadamente) cumprimento ao mestre (saudação) cumprimento das tarefas (realização)
Observe o uso dos homônimos perfeitos nos versos da canção "Tire as mãos
de mim", interpretada por Chico Buarque de Hollanda. A brincadeira lingüística
consiste no uso da palavra "nós" como substantivo (laço apertado) e como pronome
(1ª pessoa do plural).
(...) Éramos nósEstreitos nósEnquanto tuÉs laço frouxo (...)
PARÔNIMOS (ou palavras parônimas) quer dizer: PARA = a lado de + ONYMA = nome
São vocábulos que têm grafia e pronúncia semelhantes / parecidas, mas
significados diferentes. Exemplo:
comprimento da camisa (tamanho)
20Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
cumprimento ao professor (saudação)
Observe como Gabriel, O Pensador faz uso de um parônimo como forma de
se referir a uma composição de Chico Buarque e Gil: "cale-se" (verbo no imperativo)
e "cálice" (substantivo/taça).
Alguns exemplos mais usados de Homônimos e Parônimos:
(Obs: lista completa no site www.dsignos.com.br)
Erros diversos relacionados à pronúncia ou à escrita das palavras:
21Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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A publicidade e a literatura utilizam-se muito da homonímia ou polissemia
para criar a ambigüidade da mensagem (palavras iguais que levam à possibilidades
de interpretação pela aproximação dos diferentes sentidos). Os jogos de adivinhas e
os ditados populares também brincam com o duplo sentido das palavras:
22Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
23Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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ORTOGRAFIA I
A palavra Ortografia é formada por "orto", elemento de origem grega, usado
como prefixo, com o significado de direito, reto, exato e "grafia", elemento de
composição de origem grega com o significado de ação de escrever; ortografia,
então, significa ação de escrever direito. É fácil escrever direito? Não!! É, de fato,
muito difícil conhecer todas as regras de ortografia a fim de escrever com o mínimo
de erros ortográficos. Hoje tentaremos facilitar um pouco mais essa matéria. Abaixo
seguem algumas frases com as respectivas regras sobre o uso de ç, s, ss, z, x...
Vamos a elas:
01 - Uma das intenções da casa de detenção é levar o que cometeu graves
infrações a alcançar a introspecção, por intermédio da reeducação.
a) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TO:
intento = intençãocanto = cançãoexceto = exceçãojunto = junção
b) Usa-se ç em palavras terminadas em TENÇÃO referentes a verbos
derivados de TER:
deter = detençãoreter = retençãoconter = contençãomanter = manutenção
c) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TOR:
24Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
infrator = infraçãotrator = traçãoredator = redaçãosetor = seção
d) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TIVO:
introspectivo = introspecçãorelativo = relaçãoativo = açãointuitivo – intuição
e) Usa-se ç em palavras derivadas de verbos dos quais se retira a
desinência R:
reeducar = reeducaçãoimportar = importaçãorepartir = repartiçãofundir = fundição
f) Usa-se ç após ditongo quando houver som de s:
eleição
traição
02 - A pretensa diversão de Creusa, a poetisa vencedora do concurso, implicou a
sua expulsão, porque pôs uma frase horrorosa sobre a diretora Luísa.
a) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em NDER ou
NDIR:
pretender = pretensão, pretensa, pretensiosodefender = defesa, defensivocompreender = compreensão, compreensivorepreender = repreensãoexpandir = expansãofundir = fusãoconfundir = confusão
b) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em ERTER ou
ERTIR:
inverter = inversãoconverter = conversão
25Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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perverter = perversãodivertir = diversão
c) Usa-se s após ditongo quando houver som de z:
Creusacoisamaisena
d) Usa-se s em palavras terminadas em ISA, substantivos femininos:
LuísaHeloísaPoetisaProfetisa
Obs: Juíza escreve-se com z, por ser o feminino de juiz, que também se
escreve com z.
e) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em CORRER ou
PELIR:
concorrer = concursodiscorrer = discursoexpelir = expulso, expulsãocompelir = compulsório
f) Usa-se s na conjugação dos verbos PÔR, QUERER, USAR:
ele pôsele quisele usou
g) Usa-se s em palavras terminadas em ASE, ESE, ISE, OSE:
frasetesecriseosmose*Exceções: deslize e gaze.
26Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
h) Usa-se s em palavras terminadas em OSO, OSA:
horrorosagostoso*Exceção: gozo
03 – I. Teresinha, a esposa do camponês inglês, avisou que cantaria de
improviso.
II. Aterrorizada pela embriaguez do marido, a mulherzinha não fez a
limpeza.
a) Usa-se o sufixo indicador de diminutivo INHO com s quando esta letra
fizer parte do radical da palavra de origem; com z quando a palavra de
origem não tiver o radical terminado em s:
Teresa = TeresinhaCasa = casinhaMulher = mulherzinhaPão = pãozinho
b) Os verbos terminados em ISAR serão escritos com s quando esta letra
fizer parte do radical da palavra de origem; os terminados em IZAR
serão escritos com z quando a palavra de origem não tiver o radical
terminado em s:
improviso = improvisaranálise = analisarpesquisa = pesquisarterror = aterrorizarútil = utilizareconomia = economizar
c) As palavras terminadas em ÊS e ESA serão escritas com s quando
indicarem nacionalidade, títulos ou nomes próprios; as terminadas em
EZ e EZA serão escritas com z quando forem substantivos abstratos
provindos de adjetivos, ou seja, quando indicarem qualidade:
TeresaCamponêsInglêsEmbriaguezLimpeza
27Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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04 - O excesso de concessões dava a impressão de compromisso com o
progresso.
a) Os verbos terminados em CEDER terão palavras derivadas escritas com
CESS:
exceder = excesso, excessivoconceder = concessãoproceder = processo
b) Os verbos terminados em PRIMIR terão palavras derivadas escritas com
PRESS:
imprimir = impressãodeprimir = depressãocomprimir = compressa
c) Os verbos terminados em GREDIR terão palavras derivadas escritas
com GRESS:
progredir = progressoagredir = agressor, agressão, agressivotransgredir = transgressão, transgressor
d) Os verbos terminados em METER terão palavras derivadas escritas com
MISS ou MESS:
comprometer = compromissoprometer = promessaintrometer = intromissãoremeter = remessa
05 - Para que os filhos se encorajem, o lojista come jiló com canjica.
a) Escreve-se com j a conjugação dos verbos terminados em JAR:
Viajar = espero que eles viajemEncorajar = para que eles se encorajemEnferrujar = que não se enferrujem as portas
28Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
b) Escrevem-se com j as palavras derivadas de vocábulos terminados em
JA:
loja = lojistacanja = canjicasarja = sarjetagorja = gorjeta
c) Escrevem com j as palavras de origem tupi-guarani.
JilóJibóiaJirau
06 - O relógio que ele trouxe da viagem ao México em uma caixa de madeira caiu
na enxurrada.
1. Escrevem-se com g as palavras terminadas em ÁGIO, ÉGIO, ÍGIO,
ÓGIO, ÚGIO:
pedágiosacrilégioprestígiorelógiorefúgio
2. Escrevem-se com g os substantivos terminados em GEM:
a viagema coragema ferrugem• Exceções: pajem, lambujem
3. Palavras iniciadas por ME serão escritas com x:
MexericaMéxicoMexilhãoMexer• Exceção: mecha de cabelos
4. As palavras iniciadas por EN serão escritas com x, a não ser que
provenham de vocábulos iniciados por ch:
Enxada
29Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
EnxertoEnxurradaEncher – provém de cheioEnchumaçar – provém de chumaço
5. Usa-s x após ditongo:
ameixacaixapeixe• Exceções: recauchutar, guache
30Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
ORTOGRAFIA II
Regras para escrever corretamente
Não sabe como escrever uma palavra? É com S ou com Z? Para esse tipo
de dúvida, tão comum em português, deve-se entender que a língua tem,
basicamente, dois sistemas de escrita: regular e irregular.
Muitas vezes, as grafias não podem ser explicadas por nenhuma regra, pois
é a origem da palavra ou a tradição de uso que justificam a forma de escrever. Por
exemplo, a palavra "hoje" é escrita com "h" devido à etimologia do termo, pois a
forma latina é "hodie".
Em outras situações, no entanto, é possível prever a grafia, porque se pode
"adivinhar" sua forma. Por exemplo: a palavra "português", que é escrita com "s" e
não com "z". Logo, as outras palavras do mesmo grupo, como "francês", "japonês"
ou "norueguês", são também escritas assim, com S!
Os adjetivos que indicam lugar de origem são escritos com "s" e não com
"z". Verifique: português, portuguesa, portugueses, portuguesas, francês, francesa,
franceses, francesas, norueguês, norueguesa, noruegueses, norueguesas,
finlandês, finlandesa, finlandeses, japonês, japonesa, japoneses, japonesas...
Amplie a lista e confirme a regra!
Veja mais exemplos na tabela a seguir. Vamos mostrar primeiro exemplos de
casos irregulares.
31Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Dúvida Grafia correta Justificativa Como saber?
“Homem” ou
“omem”?Homem A origem da palavra é latina: “ homine”,
com “h”.
Memorizar ou consultar dicionário
“Casa”ou
“caza”?Casa A origem da palavra é latina:“ casa”.
Memorizar ou consultar dicionário
Observe agora casos regulares que se aplicam a substantivos e adjetivos.
Dúvida Grafia correta
Justificativa Como saber?
“Firmesa”ou
“firmeza”?Firmeza
Nos substantivos que derivam de adjetivos, o final da palavra (sufixo) é “esa”:
firme/firmeza.
Levantar outros casos que confirmam a regra: belo/beleza, bonito/boniteza, pobre/pobreza, rico/riqueza.
“Famoso” ou
“famozo”?Famoso Adjetivos com o sufixo
“oso” escrevem-se com “s”.
Lembrar de outros casos: gostoso/ dengoso/ oleoso/ saboroso.
“Chatice”ou “chatisse”? Chatice
Substantivos com terminação “ice” escrevem-se
com “c”.
Lembrar de outros casos: doidice/meninice.
32Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
Para grafar corretamente os verbos também podemos recorrer às
regularidades.
Dúvida Grafia correta Justificativa Como saber?
“Falou”, “falol”
ou “falô”?Falou
Verbos no passado, na terceira pessoa do singular, terminam em “ou”.
Em posição final de palavra ou sílaba, o “u” e o “l” concorrem. O verbo no passado, na terceira pessoa do singular, tem a terminação em “u”.
“Cantaram” ou
“cantarão”?
As duas formas podem estar corretas.
As duas formas estão na terceira pessoa do plural, mas cada uma indica um tempo verbal diferente.
No presente (“cantam”) ou no passado(“cantaram”), escreve-se com “m” no final. No futuro (“cantarão”), a nasalidade é marcada com “ão”.
“Falar” ou “falá”? Falar Verbo no infinitivo
O nome dos verbos são escritos sempre com “r” final.
“Pedisse” ou
“pedice”?Pedisse
Verbo no modo subjuntivo (que indica hipótese) tem a forma “isse”.
O sufixo “ice” é para substantivo (“chatice”) e a terminação “isse” é para verbo.
Para finalizar, vamos pensar nos casos de regularidades contextuais. Mas o
que é isso, afinal? Vejamos um bom exemplo. Quando o som é nasal, na escrita
podemos indicá-lo de diversas maneiras: "camponês", "canto", "anã", "linha".
A regularidade é chamada de contextual porque depende da posição da letra
na palavra ou sílaba. No caso da nasalização, analise a tabela a seguir.
33Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Ocorrência de nasalização Regularidades
homem, tatuagem, homenagem, triagem, tiragem, amém, também, ninguém
Em posição final de palavra, a nasalização do ditongo /ei/ é marcada na escrita com “m”.
banda, cantar, andou, brincava, mansa camponês, também
Em posição final de sílaba, a nasalização é marcada com “n”. Atenção: antes das letras “p” e “b”, o som nasal é representado por “m” e não “n”.
anã, manhã, sã, vilã, Em posição final, a vogal nasal é marcada com til.
linha, galinha, minha, tinha, latinha
O dígrafo “nh” também é marca de nasalidade (representa um fonema consonantal nasal).
Então? Não é bom constatar que sabemos mais do que imaginávamos? É
bem produtiva a compreensão das regularidades do sistema de escrita, não é
verdade? Se descobrirmos o princípio que gera uma grafia, podemos inferir muitas
outras formas relativas ao mesmo princípio... A nossa memória agradece!
34Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
PONTUAÇÃO
Os sinais de pontuação servem para marcar pausas (a vírgula, o ponto-e-
vírgula, o ponto) ou a melodia da frase (o ponto de exclamação, o ponto de
interrogação, etc.). Geralmente, estão ligados à organização sintática dos termos na
frase, eles são regidos por regras.
Vírgula: Ela marca uma pausa de curta duração e serve para separar
os termos de uma oração ou orações de um período. A ordem normal
dos termos na frase é: sujeito, verbo, complemento. Quando temos
uma frase nessa ordem, não separamos seus termos imediatos.
Assim, não pode haver vírgula entre o sujeito e o verbo e seu
complemento.
Quando, na ordem direta, houver um termo com vários núcleos a vírgula
será utilizada para separá-los.
Na fala de Madonna, a vírgula está separando vários núcleos do predicado
na segunda oração. Ex.:
"A obscenidade existe e está bem diante de nossas caras. É o racismo, a
discriminação sexual, o ódio, a ignorância, a miséria. Tem coisa mais obscena do
que a guerra?"
Utilizamos a vírgula quando a ordem direta é rompida. Isso ocorre
basicamente em dois casos:
- quando intercalamos alguma palavra ou expressão entre os termos
imediatos, quebrando a seqüência natural da frase. Ex: Os filhos, muitas vezes,
mostraram suas razões para seus pais com muita sabedoria.
"O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse
para o barro denegrir a farda e deslustrar a patente".
- quando algum termo (sobretudo o complemento) vier deslocado de seu
lugar natural na frase. Ex.:
Para os pais, os filhos mostraram suas razões com muita sabedoria.
Com muita sabedoria, os filhos mostraram suas razões para os pais.
35Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Ponto-e-vírgula: O ponto-e-vírgula marca uma pausa maior que a
vírgula, porém menor que a do ponto. Por ser intermediário entre a
vírgula e o ponto, fica difícil sistematizar seu emprego. Entretanto, há
algumas normas para sua utilização.
- usamos ponto-e-vírgula para separar orações coordenadas que já
apresentem vírgula em seu interior;
- nunca use ponto-e-vírgula dentro de uma oração. Lembre-se ele só pode
separar uma oração de outra.
Com razão, aquelas pessoas reivindicavam seus direitos; os insensíveis
burocratas, porém, em tempo algum, deram atenção a elas.
"Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte, para ver a alma." Bernard
Shaw
- o ponto-e-vírgula também é utilizado para separar vários incisos de um
artigo de lei ou itens de uma lista. Ex:
[...] Considerando: A) a alta taxa de juros; B) a carência de mão-de-obra; C) o alto valor de matéria-prima; [...]
Dois Pontos: Os dois-pontos marcam uma sensível suspensão da
melodia da frase. São utilizados quando se vai iniciar uma seqüência
que explica, identifica, discrimina ou desenvolve uma idéia anterior,
ou quando se quer dar início à fala ou citação de outrem.
Observe: (Percebeu? Vamos iniciar uma seqüência de exemplos, daí os dois
pontos)
Descobri a grande razão da minha vida: você Já dizia o poeta: "Deus dá o frio conforme o cobertor". "Por descargo de consciência, do que não carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro: - "São Jorge, Santo Onofre, São José!"
36Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
Aspas: As aspas devem ser utilizadas para isolar citação textual
colhida a outrem, falas ou pensamentos de personagens em textos
narrativos, ou palavras ou expressões que não pertençam à língua
culta (gírias, estrangeirismos, neologismos, etc)
O rapaz ficou "grilado" com o resultado da prova. Morava em um "flat" onde havia "playground".
Travessão: O travessão serve para indicar que alguém fala de viva
voz (discurso direto). Seu emprego é constante em textos narrativos
em que personagens dialogam. Leia o texto abaixo:
-Salve! - Como é que vai? - Amigo, há quanto tempo... - Um ano, ou mais.
Podem se usar dois travessões para substituir duas vírgulas que separam
termos intercalados, sobretudo quando se quer dar-lhes ênfase.
Pelé - o maior jogador de futebol de todos os tempos - hoje é um bem-sucedido empresário.
Reticências: As reticências marcam uma interrupção da seqüência
lógica do enunciado, com a conseqüente suspensão da melodia da
frase. São utilizadas para permitir que o leitor complemente o
pensamento que ficou suspenso.
Nas dissertações objetivas, evite reticências. Exemplo:
Eu não vou dizer mais nada. Você já deve ter percebido que... "Num repente, relembrei estar em noite de lobisomem - era sexta-feira..."
Parênteses: Os parênteses servem para isolar explicações,
indicações ou comentários acessórios. No caso de citações é
referências bibliográficas, o nome do autor e as informações
referentes à fonte também aparecem isolados por parênteses.
37Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
"Aborrecido, aporrinhado, recorri a um bacharel (trezentos mil-réis, fora despesas miúdas com automóveis, gorjetas, etc.) e embarquei vinte e quatro horas depois..." Graciliano Ramos.
"Ela (a rainha) é a representação viva da mágoa..." Lima Barreto.
O ponto: É usado para marcar o término das orações declarativas. O
ponto usado para marcar o final do texto é conhecido como ponto
final. Exemplo:
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, Pero Vaz de Caminha escreveu uma carta ao rei D. Manuel na qual informava sobre o descobrimento.
Exclamação: É usado no final dos enunciados exclamativos, que
denotam espanto, surpresa, admiração. Exemplo:
Atenção!, Alô!, Bom dia!.
Interrogação: É usado ao final dos enunciados interrogativos.
Exemplo:
- Tudo bem com você? - Tudo. E você? - Tudo bem!
38Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
ACENTUAÇÃO GRÁFICA
Tabela traz regras do Manual de Redação da "Folha de S. Paulo" Veja como
usar corretamente os acentos. Para isso, é necessário saber o que são sílabas
tônicas, oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas - conceitos de acentuação tônica.
E atenção. No futuro, as regras podem mudar, com a entrada em vigor da
reforma ortográfica da língua portuguesa.
Por enquanto, estas continuam valendo.
Tipo de palavra Quando acentuar Exemplos Não acentue
Proparoxítonas sempre simpática, lúcido, sólido, cômodo
Paroxítonas
terminadas em:LIISNUM, UNSUSRXPSÃ, ÃSÃO, ÃOSditongo, seguido ou não de S
fáciltáxitênishífenprótonálbum(ns)víruscaráterlátexbícepsímã, órfãsbênção, órfãoscárie, árduos
terminadas em ENS:hifens, polens.
Oxítonas
terminadas em: A, ASE,ESO, OSEM, ENS
VatapáIgarapéavô, avósrefém, parabéns
terminadas em I, IS, U, US: tatu, Morumbi, abacaxi
Tipo de palavra Quando acentuar Exemplos Não acentue
Monossílabos tônicosterminados em A, AS,E, ES,O,OS
vá, páspé, mêspó, pôs
Hiatosquando I,IS, U ou US estão sozinhos no hiato e são tônicos
saía, raízes, traíste, país, balaústre
quando a silaba seguinte começa com NH: rainha
39Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Ditongos abertosEI, EISEU, EUSOI,OIS
idéia, anéis réu (s), véu (s) destrói, lençóis
não ocorre ditongo em constroem e destroem
Gúe, gúi, qúe quando o U é tônico argúi, obliqúe, averigúem
Ôo, êe quando a primeira vogal é tônica vôo, perdôo, vêem
Verbos ter e virna terceira pessoa do plural do presente do indicativo
eles têm,eles vêm
Derivados de ter e vir (obter, manter, intervir)
na terceira pessoa do singular,na terceira pessoa do plural do presente do indicativo
ele obtém, detém, mantémeles obtêm, detêm, mantêm
Acento diferencial
pôde (passado); pára (verbo); pêlo (cabelo), pélo, péla e pélas (verbo pelar); pólo (em geografia, física e esporte) e pôlo (ave); pôr (verbo); pêra (fruta) e péra (pedra); côa, côas (verbo coar); quê, póla e pólas (substantivos)
40Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
REGÊNCIA VERBAL
É a parte da Gramática Normativa que estuda a relação entre dois termos,
verificando se um termo serve de complemento a outro. A palavra ou oração que
governa ou rege as outras chama-se regente ou subordinante;
Os termos ou oração que dela dependem são os regidos ou subordinados.
Exemplo:
Aspiro o perfume da flor. (cheirar)/ Aspiro a uma vida melhor. (desejar)
1. Chegar/ ir – deve ser introduzido pela preposição a e não pela preposição
em.
Ex.: Vou ao dentista./ Cheguei a Belo Horizonte.
2. Morar/ residir – normalmente vêm introduzidos pela preposição em.
Ex.: Ele mora em São Paulo./ Maria reside em Santa Catarina.
3. Namorar – não se usa com preposição.
Ex.: Joana namora Antônio.
4. Obedecer/desobedecer – exigem a preposição a.
Ex.: As crianças obedecem aos pais./ O aluno desobedeceu ao professor.
5. Simpatizar/ antipatizar – exigem a preposição com.
Ex.: Simpatizo com Lúcio./ Antipatizo com meu professor de História.
Estes verbos não são pronominais, portanto, são considerados construções
erradas quando aparecem acompanhados de pronome oblíquo: Simpatizo-me com
Lúcio./ Antipatizo-me com meu professor de História.
6. Preferir - este verbo exige dois complementos sendo que um usa-se sem
preposição e o outro com a preposição a.
41Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Ex.: Prefiro dançar a fazer ginástica.
Segundo a linguagem formal, é errado usar este verbo reforçado pelas
expressões ou palavras: antes, mais, muito mais, mil vezes mais, etc.
Ex.: Prefiro mil vezes dançar a fazer ginástica.
Verbos que apresentam mais de uma regência
1 – Aspirar
a)no sentido de cheirar, sorver: usa-se sem preposição. Ex.: Aspirou o
ar puro da manhã.
b)b - no sentido de almejar, pretender: exige a preposição a. Ex.:
Esta era a vida a que aspirava.
2 – Assistir
a)no sentido de prestar assistência, ajudar, socorrer: usa-se sem
preposição.
Ex.: O técnico assistia os jogadores novatos.
b)no sentido de ver, presenciar: exige a preposição a.
Ex.: Não assistimos ao show.
c)no sentido de caber, pertencer: exige a preposição a.
Ex.: Assiste ao homem tal direito.
d)no sentido de morar, residir: é intransitivo e exige a preposição em.
Ex.: Assistiu em Maceió por muito tempo.
3 - Esquecer/lembrar
a)Quando não forem pronominais: são usados sem preposição.
42Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
Ex.: Esqueci o nome dela.
b) Quando forem pronominais: são regidos pela preposição de.
Ex.: Lembrei-me do nome de todos.
4 - Visara) no sentido de mirar: usa-se sem preposição.
Ex.: Disparou o tiro visando o alvo.
b) no sentido de dar visto: usa-se sem preposição. Ex.: Visaram os
documentos.
c) no sentido de ter em vista, objetivar: é regido pela preposição a.
Ex.: Viso a uma situação melhor.
5 - Querera) no sentido de desejar: usa-se sem preposição.
Ex.: Quero viajar hoje.
b) no sentido de estimar, ter afeto: usa-se com a preposição a.
Ex.: Quero muito aos meus amigos.
6 - Procedera) no sentido de ter fundamento: usa-se sem preposição.
Ex.: Suas queixas não procedem.
b) no sentido de originar-se, vir de algum lugar: exige a preposição de.
Ex.: Muitos males da humanidade procedem da falta de respeito ao próximo.
c) no sentido de dar início, executar: usa-se a preposição a.
Ex.: Os detetives procederam a uma investigação criteriosa.
7 - Pagar/ perdoar
43Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
a) se tem por complemento palavra que denote coisa: não exigem
preposição.
Ex.: Ela pagou a conta do restaurante.
b) se tem por complemento palavra que denote pessoa: são regidos
pela preposição a.
Ex.: Perdoou a todos,
8 - Informara) no sentido de comunicar, avisar, dar informação: admite duas
construções:
I. objeto direto de pessoa e indireto de coisa (regido pelas
preposições de ou sobre).
Ex.: Informou todos do ocorrido.
II. objeto indireto de pessoa ( regido pela preposição a) e direto de
coisa.
Ex.: Informou a todos o ocorrido.
9 - Implicara) no sentido de causar, acarretar: usa-se sem preposição.
Ex.: Esta decisão implicará sérias conseqüências.
b) no sentido de envolver, comprometer: usa-se com dois complementos,
um direto e um indireto com a preposição em.
Ex.: Implicou o negociante no crime.
c) no sentido de antipatizar: é regido pela preposição com.
Ex.: Implica com ela todo o tempo.
10- Custara) no sentido de ser custoso, ser difícil: é regido pela preposição a.
Ex.: Custou ao aluno entender o problema.
44Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
b) no sentido de acarretar, exigir, obter por meio de: usa-se sem
preposição.
Ex.: O carro custou-me todas as economias.
c) no sentido de ter valor de, ter o preço: usa-se sem preposição.
Ex.: Imóveis custam caro.
45Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
REGÊNCIA NOMINAL
Alguns nomes também exigem complementos preposicionados. Conheça
alguns:
acessível a
acostumado a, com
adaptado a, para
afável com, para com
aflito com, em, para, por
agradável a
alheio a, de
alienado a, de
alusão a
amante de
análogo a
ansioso de, para, por
apto a, para
atento a, em
aversão a, para, por
ávido de, por
benéfico a
capaz de, para
certo de
compatível com
compreensível a
comum a, de
constante em
contemporâneo a, de
contrário a
curioso de, para, por
desatento a
descontente com
desejoso de
desfavorável a
devoto a, de
diferente de
difícil de
digno de
entendido em
equivalente a
erudito em
escasso de
essencial para
estranho a
fácil de
favorável a
fiel a
firme em
generoso com
grato a
hábil em
habituado a
horror a
hostil a46
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade I
idêntico a
impossível de
impróprio para
imune a
incompatível com
inconseqüente com
indeciso em
independente de, em
indiferente a
indigno de
inerente a
insaciável de
leal a
lento em
liberal com
medo a, de
natural de
necessário a
negligente em
nocivo a
ojeriza a, por
paralelo a
parco em, de
passível de
perito em
permissivo a
perpendicular a
pertinaz em
possível de
possuído de
posterior a
preferível a
prejudicial a
prestes a
propenso a, para
propício a
próximo a, de
relacionado com
residente em
responsável por
rico de, em
seguro de, em
semelhante a
sensível a
sito em
suspeito de
útil a, para
versado em
47Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
IIFaculdade Atenas Maranhense – FAMA
UNIDADEGêneros textuais e retextualização
Texto - a construção das idéiasCoerência - construção do parágrafoCoesão - construção do parágrafoRedaçãoOralidade e Escrituralidade
48Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
TEXTO – a construção das idéias
Você sabe qual o conceito?
Você provavelmente está acostumado a ver a palavra texto. Mas sabe qual
o seu conceito? Para entendê-lo, pense nas duas seguintes situações:
1. Você foi visitar um amigo que está hospitalizado e, pelos
corredores, você vê placas com a palavra "Silêncio".
2. Você está andando por uma rua, a pé, e vê um pedaço de
papel, jogado no chão, onde está escrito "Ouro".
Em qual das situações uma única palavra pode constituir um texto?
Na situação 1, a palavra "Silêncio" está dentro de um contexto significativo
por meio do qual as pessoas interagem: você, como leitor das placas, e os
administradores do hospital, que têm a intenção de comunicar a necessidade de
haver silêncio naquele ambiente. Assim, a palavra "Silêncio" é um texto.
Na situação 2, a palavra "Ouro" não é um texto. É apenas um pedaço de
papel encontrado na rua por alguém. A palavra "Ouro", na circunstância em que
está, quer dizer o quê? Não há como saber.
Mas e se a palavra "Ouro" estiver escrita em um cartaz pendurado nas
costas de um daqueles homens que ficam nas esquinas do centro das cidades
grandes que anunciam a compra de ouro? Aí sim, nessa situação, a palavra "Ouro"
constitui um texto, porque se encontra num contexto significativo em que alguém
quer dizer algo para outra pessoa (no caso, vender/comprar ouro) e, então anuncia
isso.
Texto é, então, uma seqüência verbal (palavras), oral ou escrita, que forma
um todo que tem sentido para um determinado grupo de pessoas em uma
determinada situação.
49Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
O texto pode ter uma extensão variável: uma palavra, uma frase ou um
conjunto maior de enunciados, mas ele obrigatoriamente necessita de um contexto
significativo para existir.
Constituindo sentidos
Agora, Leia o texto a seguir de modo a aprofundar ainda mais o conceito de
"texto".
Circuito Fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
50Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
(Ricardo Ramos)
Você considera que em "Circuito fechado" há apenas uma série de palavras
soltas? Ou se trata de um texto? Por quê?
Na verdade, trata-se de um texto. Apesar de haver palavras, aparentemente,
sem relação, numa primeira leitura, é possível dizer, depois de outra leitura mais
atenta, que há uma articulação entre elas.
Vamos pensar mais sobre isso... Em "Circuito fechado" há, quase que
exclusivamente, substantivos (nomes de entidades cognitivas e/ou culturais, como
"homem", "livro", "inteligência" ou palavras que designam ou nomeiam os seres e
as coisas).
Verifique que pela escolha dos substantivos e pela seqüência em que são
usados, o leitor pode ir descobrindo um significado implícito, um elemento que as
une e relaciona, formando o texto.
Podemos dizer que este texto se refere a um dia na vida de um homem
comum. Quais palavras e que seqüência nos indicam isso?
Note que no início do texto, há substantivos relacionados a hábitos
rotineiros, como levantar, ir ao banheiro, lavar o rosto, escovar dentes, fazer barba
(para os homens), tomar banho, vestir-se e tomar café da manhã.
“Chinelos, vaso, descarga. Pia. Sabonete. Água. Escova, creme dental,
água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete,
água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa,
abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos,
caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos.”
Já no final do texto, há o voltar para casa, comer, ler livro, ver televisão,
fumar, tirar a roupa, tomar banho/escovar dentes, colocar pijama e dormir.
“Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo,
revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras,
cigarro e fósforos. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e
fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água.
Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.”
Descobrimos que a personagem é um homem também pela escolha dos
substantivos. Parece que sua profissão pode estar relacionada à publicidade.
51Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
“Creme de barbear, pincel, espuma, gilete [...] cueca, camisa, abotoadura, calça, meia, sapatos, gravata, paletó [...] Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída [...] Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes [...] Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel.”
Também ficamos sabendo que na casa da personagem há quadros, pois o
narrador usa a palavra duas vezes: no momento do café e na volta para casa. No
escritório há "Relógio". Escolha intencional do autor, talvez para relacionar relógio e
trabalho, trabalho e rotina.
Depreendemos que o homem é um grande fumante, basicamente, pelo
número de vezes em que o narrador fala desse hábito, em vários momentos do dia
da personagem: 14 vezes. Além disso, é interessante notar como há sempre a
referência à dupla "cigarro e fósforo".
A palavra que explicita o início da ação do homem, ou da atuação da
personagem, num dia de sua rotina é "chinelos", usada no início do texto para
mostrar o momento do acordar/levantar e depois a hora de dormir.
Há também uma marcação de mudança de espaço, por meio dos termos
"carro", usado como que mostrando o horário de sair de manhã e a volta para casa,
à noite. No meio do texto há também o uso de um "táxi", provavelmente uma saída
do trabalho: um almoço? Um jantar? Uma visita a um cliente?
Enfim, "Circuito fechado" é uma crônica - um texto narrativo curto, cujo tema
é o cotidiano e que leva o leitor a refletir sobre a vida. Usando somente
substantivos, o autor do texto produziu um texto que termina onde começou. Essa
estrutura circular tem relação com o título ("Circuito fechado") e com os dias atuais?
Sem dúvida nenhuma, podemos compreender suas relações, não é mesmo? O
cotidiano repete-se, fecha-se em si mesmo a cada dia. Rotinas...
52Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
Para você pensar
Você sabia que o conceito de texto não se limita à linguagem verbal
(palavras)? O texto pode ter várias dimensões, como o texto cinematográfico, o
teatral, o coreográfico (dança e música), o pictórico (pintura), etc. Leia a reprodução
de um famoso quadro de Van Gogh chamado "Noite estrelada". Atente para suas
linhas, suas cores, sua perspectiva. Fazendo isso, você começa a lê-lo...
53Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
COERÊNCIA – construção do Parágrafo
A sua redação precisa fazer sentido.
Para que seu texto seja claro, compreensível e possa transmitir a idéia que
você queira passar, é importante que ele tenha duas características: coesão e a
coerência. Entenda o que são esses conceitos e saiba como utilizá-los em suas
redações.
Deve-se ter em mente que escrever não é apenas colocar palavras no
papel. É preciso trabalhar muito para ter um bom texto. Então aí vai uma dica: para
começar, pense no fim! Isso mesmo! Qual a finalidade do seu texto? O que você
quer com ele? Responda então, para si mesmo, às seguintes questões:
1- Qual a finalidade do texto? Para que ele serve?
2 - Qual o assunto? Sobre o que vou escrever?
3 - Quem vai ler o meu texto?
4 - Qual tipo de texto vou fazer?
Vamos a um exemplo concreto. Imagine que você vai escrever uma carta
(ou um e-mail) para um jornal comentando uma notícia sobre alimentos
transgênicos. Você deve, então, levar em consideração:
• a finalidade de sua carta (participar do debate, dando sua opinião);
• o que quer comentar (alimentação e transgênicos);
• para quem está escrevendo (os outros leitores do jornal);
• o tipo de texto: a carta ou e-mail.
Depois de ter pensado nisso tudo, você dá sua opinião, usando elementos
da carta e escolhendo argumentos que sustentem suas idéias. Assim, para
escrever sua carta, você - como autor - precisa elaborar um texto "coerente", ou
seja, que faça sentido. O texto deve ser coerente não só com suas idéias, mas
também coerente em relação ao seu objetivo, ao leitor que pretende atingir, ao
gênero textual que está desenvolvendo. 54
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
Vamos pensar um pouco mais a esse respeito...
Coesão e coerência
Imagine a seguinte situação: na grande decisão de um campeonato, o
técnico de um dos times declarou aos jornalistas:
"Vamos respeitar o adversário, mas, agora, nosso time está coeso".
Agora, numa outra situação, a namorada diz para o namorado:
"Não adianta. Não vou mais perdoar você. Quero que tenha atitudes coerentes."
Na primeira situação, o técnico enfatizou o fato de seu time estar coeso,
como uma qualidade importante para ganharem o jogo. "Coeso" significa "unido",
"intimamente ligado", "harmônico".
Na segunda situação, a namorada cobra atitudes coerentes do namorado.
"Coerência" significa "harmonia", "conexão", "lógica".
Sem coesão e coerência, sua redação não existe! Quando muito, há um
amontoado desconexo de palavras colocadas lado a lado. Vamos a mais uma
reflexão? Desta vez, leia o trecho de uma crônica de Millôr Fernandes.
“As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica” - Richard Gehman“Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte."“Junto com as outras?"“Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.";“Sim senhora. Olha, o homem está aí."“Aquele de quando choveu?"“Não o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo."“Que é que você disse a ele?"“Eu disse para ele continuar."“Ele já começou?"“Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse."(...)
55Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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(Millôr Fernandes. "Trinta anos de mim mesmo". São Paulo: Abril Cultural,
1973)
Veja como o humorista faz sua sátira, a partir de duas idéias básicas: "as
mulheres falam demais" e "somente as mulheres se entendem".
Comece a analisar pelo título a ironia do autor: "A vaguidão específica"
(como algo pode ser vago e específico, ao mesmo tempo? Só as mulheres, diria
Millôr e os que pensam como ele...). Para confirmar suas idéias, ele busca uma
"autoridade" para fazer a citação: Richard Gehman (quem seria? Um estrangeiro,
pelo nome. Novamente, o humorista brinca com uma idéia pronta: sendo "alguém
de fora" deve ter muito a nos ensinar...).
Quem participa da história narrada? Duas mulheres. São elas patroa e
empregada? Mãe e filha? Não sabemos. Qual é o assunto de que falam as duas
mulheres? Nós, leitores, não sabemos, mas as duas personagens sabem, não é
mesmo?
A que se referem as palavras e trechos: "isso", "outras", "alguém", "qualquer
coisa", "lugar do outro dia", "o homem", "Aquele", "o que a senhora foi lá e falou
com ele no domingo", "continuar", "começou"? Os leitores não sabem, mas as
mulheres sim e como as duas sabem do que estão falando, a "costura" do texto vai
sendo feito de forma coerente e coesa.
Você viu que Millôr Fernandes, intencionalmente, quis brincar com um
preconceito social a respeito da mulher e seu jeito de falar, considerado excessivo.
Assim, para entendermos o texto, como coerente e coeso, é preciso levar em conta
o fato do autor ser um humorista e seu texto trazer essa marca da "surpresa" ou do
"olhar sobre outro ângulo" - como numa piada.
COESÃO – construção do parágrafo56
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
As partes de sua redação formam um todo?
Ao lado da coerência, a coesão é outro requisito para que sua redação seja
clara, eficiente. A seguir, mostramos alguns elementos que permitem que sua
redação seja coesa. Para entender melhor a coesão textual, analise como algumas
palavras/frases estão ligadas entre si dentro de uma seqüência, numa conhecida
fábula de Esopo.
O cão e a lebre
Um cão de caça espantou uma lebre para fora de sua toca, mas depois de longa perseguição, ele parou a caçada. Um pastor de cabras vendo-o parar, ridicularizou-o dizendo: “Aquele pequeno animal é melhor corredor que você”. O cão de caça respondeu: “Você não vê a diferença entre nós: eu estava correndo apenas por um jantar, mas ela por sua vida.”
Moral:O motivo pelo qual realizamos uma tarefa é que vai determinar sua qualidade final.
57Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Fábula Elementos de coesão
Um cão de caça espantou uma lebre para fora de sua toca, mas depois de longa perseguição,ele parou a caçada. Um pastor de cabras, vendo-o parar, ridicularizou-o dizendo:
“Aquele pequeno animal é melhor corredor que você. “
O cão de caça respondeu:
“Você não vê a diferença entre nós: eu estava correndo apenas por um jantar, mas ele por sua vida.”
1- No início da fábula, as personagens são indicadas por artigos indefinidos que marcam uma informação nova (ou não dita anteriormente): “Um cão de caça” + “uma lebre” + “Um pastor de cabras”, o que também sinaliza uma situação genérica, como é típico nas fábulas.
2- “Sua toca”: o pronome possessivo refere-se à casa da lebre.
3 - No lugar de repetir a palavra ”cão”, foi usado o pronome pessoal por três vezes:“ele” = cão“vendo-o” + “ridicularizou-o” = vendo o cão + ridicularizou o cão.
4- Para retomar o substantivo “lebre” foi usada uma expressão semelhante: “Aquele pequeno animal”.
5- No meio do texto, há o uso do artigo definido “o cão de caça e não mais “um cão” como no início. Aqui a referência ao animal está sendo retomada: já se sabe qual cão era.
6- A conjunção ”mas” indica um contraste: o cão corria por um jantar enquanto a lebre corria para salvar sua vida
Você percebeu que os sentidos do texto são "fios entrelaçados" e não
palavras soltas ou frases desconectas? São os elementos coesivos que organizam
o texto de forma a constituir também sua coerência.
A coesão textual pode ser feita através de termos que:
retomam palavras, expressões ou frases já ditas anteriormente
("anáfora") ou antecipam o que vai ser dito ("catáfora"). Na fábula,
58Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
são exemplos de anáforas os itens 2, 3, 4 e 5 da coluna à direita da
tabela;
encadeiam partes ou segmentos do texto: são palavras ou
expressões que criam as relações entre os elementos do texto.
Exemplo na fábula: item 6, a conjunção "mas" que, além de ligar as
duas partes do texto (uma que se refere à atitude da lebre e a outra,
ao cão), estabelece uma determinada relação entre elas, isto é, um
contraste.
A coesão por retomada ou antecipação pode ser feita por: pronomes,
verbos, numerais, advérbios, substantivos, adjetivos.
A coesão por encadeamento pode ser feita por conexão ou por justaposição.
1. A coesão por conexão traz elementos que:
a. fazem uma gradação na direção de uma conclusão: "até", "mesmo",
"inclusive" etc;
b. argumentam em direção a conclusões opostas: "caso contrário",
"ou", "ou então", "quer... quer"; etc;
c. ligam argumentos em favor de uma mesma conclusão: "e",
"também", "ainda", "nem", "não só... mas também" etc;
d. fazem comparação de superioridade, de inferioridade ou igualdade:
"mais... do que", "menos... do que", "tanto... quanto", etc
e. justificam ou explicam o que foi dito: "porque", "já que", "que", "pois"
etc;
f. introduzem uma conclusão: portanto, logo, por conseguinte, pois,
etc;
g. contrapõem argumentos: "mas", "porém", "todavia", "contudo",
"entretanto", "no entanto", "embora", "ainda que" etc;
h. indicam uma generalização do que já foi dito: "de fato", "aliás",
"realmente", "também" etc;
i. introduzem argumento decisivo: "aliás", "além disso", "ademais",
"além de tudo" etc;
59Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
j. trazem uma correção ou reforçam o conteúdo do já dito: "ou
melhor", "ao contrário", "de fato", "isto é", "quer dizer", "ou seja",
etc;
k. trazem uma confirmação ou explicitação: "assim", "dessa maneira",
"desse modo", etc;
l. especificam ou exemplificam o que foi dito: "por exemplo", como,
etc.
2. Os elementos coesivos por justaposição estabelecem a seqüência do
texto, ou seja:
a. introduzem o tema ou indicam mudança de assunto: "a propósito",
"por falar nisso", "mas voltando ao assunto" etc;
b. marcam a seqüência temporal: "cinco anos depois", "um pouco mais
tarde", etc;
c. indicam a ordenação espacial: "à direita", "na frente", "atrás", etc;
d. indicam a ordem dos assuntos do texto: "primeiramente", "a seguir",
"finalmente", etc;
Para analisar o papel da coesão na construção dos sentidos de um texto,
faça a correlação entre os provérbios e os elementos coesivos respectivos,
preenchendo as lacunas, de tal forma que haja coerência entre as duas partes que
constituem esse tipo de texto:
Provérbios Elementos de coesão por conexão
Devagar ....... sempre se chega na frente. mas
Trate os outros ..... quer ser tratado. mais... do que
A aparência pode ser mudada, ..... a natureza não. e
Ao carneiro ......peça lã. como
60Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
....vale paciência pequenina ... força de leão. somente
Você percebeu que, nos casos acima, a precisão no uso dos elementos de
coesão faz toda a diferença na significação de cada provérbio, não é mesmo?
Para concluir, podemos afirmar que o texto é tanto produto como processo.
Ao escrever, o autor planeja seu texto, a partir de sua finalidade, deixando pistas de
sua intencionalidade. O leitor, por sua vez, vai perseguindo essas pistas, para
poder interpretar o texto. Nesse sentido, a coesão textual - ou pistas lingüísticas -
tem uma importante função na produção de todo e qualquer texto.
61Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Oralidade e Escrituralidade
Não existe ‘o oral’, mas ‘os orais’ sob múltiplas formas, que, por outro lado,
entram em relação com os escritos, de maneiras muito diversas: podem se
aproximar da escrita e mesmo dela depender – como é o caso da exposição oral
ou, ainda mais, do teatro e da leitura para os outros –, como também podem estar
mais distanciados – como nos debates ou, é claro, na conversação cotidiana. Não
existe uma essência mítica do oral que permitiria fundar sua didática, mas práticas
de linguagem muito diferenciadas, que se dão, prioritariamente, pelo uso da palavra
(falada), mas também por meio da escrita, e são essas práticas que podem se
tornar objetos de um trabalho escolar. (SCHNEUWLY, 2004, p. 135)
Muito se tem discutido, nos anos recentes, sobre as relações que se
estabelecem entre as modalidades oral e escrita no uso da língua[1]. As décadas
de 70 e 80 testemunharam uma abordagem dicotômica dos dois fenômenos, que
buscava e, por vezes, mistificava, semelhanças e diferenças de um oral tido como
puro e de uma escrita tão transparente e pura quanto.
O quadro 1, montado a partir das discussões presentes em Marcuschi
(2001a, p. 27-31), mostra as qualidades tidas como privativas de uma ou de outra
modalidade, nos anos 80[2]:
62Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
Cultura oral versus Cultura letrada
pensamento concretoraciocínio práticoatividade artesanalcultivo da tradiçãoritualismo…
pensamento abstratoraciocínio lógicoatividade tecnológicainovação constanteanaliticidade…
Formas sociais orais versus Formas sociais escriturais
esquemas práticossaber fazercompetências culturais difusasdespossessão…
conjunto de saberes objetivadoscoerentessistematizadospoder de mando e de dizer…
Fala versus Escrita
contextualizadadependenteimplícitaredundantenão-planejadaimprecisanão-normatizadafragmentária…
descontextualizadaautônomaexplícitacondensadaplanejadaprecisanormatizadacompleta…
Quadro 1 – A perspectiva dicotômica das modalidades e de seu contexto de uso.
Ou seja, via-se a fala como desorganizada, variável, heterogênea e a escrita
como lógica, racional, estável, homogênea; a fala seria não-planejada e a escrita,
planejada e permanente; a fala seria o espaço do erro e a escrita, o da regra e da
norma, enquanto a escrita serviria para comunicar à distância no tempo e no
espaço; a fala somente aconteceria face a face; a escrita se inscreveria, a fala seria
fugaz; a fala é expressão unicamente sonora; a escrita, unicamente gráfica.
Estas semelhanças e diferenças levantadas também teriam origem ou
decorrência para as culturas e os contextos de uso da linguagem oral ou escrita e,
logo, para os letramentos: a escrita levaria, por si só, a estágios mais complexos e
63Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
desenvolvidos de cultura e de organização cognitiva e daria acesso por si mesma
ao poder e à mobilidade social.
Relações entre linguagem oral e linguagem escrita – um debate em aberto.
Em muito devido às mudanças históricas decorrentes das novas tecnologias
eletrônicas e digitais da comunicação e da informação, que colocaram em causa,
com suas mídias, muitas dessas constatações – como a situação face-a-face da
fala e a distância da escrita; a fugacidade da fala e a preservação do escrito etc. –,
da década de 90 em diante, começou-se a pensar relações menos simplistas e
dogmáticas entre a fala e a escrita nas sociedades complexas e letradas. Duas
posições ganharam relevo nestas discussões mais recentes:
a. existência de um contínuo ou gradação entre fala/escrita (lingüística
textual, análise conversacional, teorias de gêneros textuais); e
b. existência de relações complexas de constitutividade mútua entre fala e
escrita em contextos específicos de uso (teorias da enunciação e do
discurso).
No Brasil, o proponente e articulador principal da visão do contínuo é
Marcuschi (2001a; 2001b, dentre outros). Antes dele, já Kato (1986) apresentava
uma visão de continuidade entre as construções de fala e escrita na criança em
desenvolvimento:
Figura 1 – Relações de continuidade fala/escrita na criança.
Ou seja, a criança desenvolveria uma fala inicial sem contato com a escrita
(F1). Quando de seus contatos iniciais com a escrita (E1), sua fala seria modificada
64Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
por efeitos de letramento (F2… Fn), assim como sua escrita (E2…En) também
sofreria impactos desses processos.
Marcuschi (2001a, 2001b) apresenta visão mais sofisticada destas relações
de continuidade, fundada nos gêneros textuais. Para ele, “as diferenças entre fala e
escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais de produção
textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos. Em conseqüência,
temos a ver com correlações em vários planos, surgindo daí um conjunto de
variações e não uma simples variação linear” (MARCUSCHI, 2001a, p. 37,
destaque do autor).
EXERCÍCIO
leia o texto a seguir; identifique e comente pelo menos três exemplos de
coesão por conexão e três exemplos de coesão por justaposição.
REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 133 – Editora Segmento Ltda – acesso
pelo site WWW.uol.com.br em 03/06/2008 às 12h58min
MUDANÇA DE HÁBITO
Número de leitores que
utilizam suporte
tradicional está em
declínio no mundo; para
especialistas, novas formas interagem com aquela já
consagrada.
Fabiano Curi
Regina Zilberman, da UFRGS: "A escola anda de patinete e a sociedade, de
avião"
65Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
A escola sempre se refere ao livro como algo positivo na educação de seus
alunos. Não poderia ser diferente, afinal as instituições de ensino se sustentam em
textos impressos para educá-los. Seus professores foram formados nessa cultura e
nada mais natural do que passar essa maneira de aprender para as novas
gerações.
Entretanto, uma ampla pesquisa da NEA (National Endowment for the Arts),
uma agência do governo norte-americano para o acompanhamento do
desenvolvimento das artes no país, apontou tendências nada reconfortantes para
os defensores do livro como principal instrumento de formação escolar. Entre 1984
e 2004, o número de adolescentes de 13 anos que nunca leram um livro aumentou
de 8% para 13%, enquanto o dos que lêem diariamente baixou de 35% para 30%.
Pode não parecer catastrófico, mas o problema aumenta consideravelmente
conforme a faixa etária: entre os jovens de 19 anos, ou seja, entre aqueles que
estão deixando a escola, esses números passaram de 9% para 19% entre os que
nunca leram e de 31% para 22% entre os que se dedicam todos os dias aos livros.
Os dados são mais reveladores quando notamos que nesses 20 anos o
número de crianças que lêem diariamente por prazer permaneceu praticamente
inalterado (de 53% para 54%), mas esse hábito cai vertiginosamente com o
avançar dos anos: entre os adolescentes de 17 anos a porcentagem era de 31%,
em 1984, de 25%, em 1999, e chegou a 22% em 2004. Ou seja, se o objetivo da
escola nos Estados Unidos é formar leitores, ela fracassa.
Outros números importantes da pesquisa (disponível em
www.nea.gov/research/toread.pdf) mostram a diminuição do capital empregado
pelas famílias anualmente na compra de livros e as conseqüências dessa
diminuição da dedicação aos textos: notas escolares proporcionais ao número de
livros que as pessoas têm em casa, maiores dificuldades para conseguir empregos
e remunerações consideravelmente inferiores entre os leitores que raramente
freqüentam as páginas dos livros.
O cenário desanimador nos Estados Unidos não é muito diferente daquele
encontrado em outros países ricos. Contudo, pelo menos nos dados de mercado
editorial, a América Latina mostra resultados distintos. Em uma avaliação do Centro
66Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
Regional para el Fomento del Libro en América Latina, el Caribe, España y Portugal
(Cerlalc), editores de vários países da região apontaram melhora do cenário no
último ano, principalmente em vendas no varejo, ou seja, nas livrarias, o que
significa diminuição da dependência do governo, que normalmente é o principal
comprador de livros para repassá-los ao ensino público. Além disso, a expectativa
do setor para o futuro próximo é otimista.
Seria precipitado diagnosticar os resultados alvissareiros da América Latina
como um maior equilíbrio no consumo de literatura no mundo, uma vez que a
estabilidade econômica da maior parte desses países foi responsável pelo aumento
de bens de consumo, inclusive culturais. A tendência global é outra, e está
direcionada para a diminuição do impresso. "De acordo com vários estudos que
conheço, é geral na maior parte dos países do mundo - isso em decorrência da
forte penetração da escrita virtual, dinamizada pela internet, que vem velozmente
mudando os hábitos de leitura das populações", argumenta Ezequiel Theodoro da
Silva, professor da Faculdade de Educação da Unicamp e presidente de honra da
ALB (Associação de Leitura do Brasil).
A mudança de suporte da leitura, ou seja, a migração de leitores de
impressos para sistemas audiovisuais e digitais trará conseqüências para a forma
de pensar das novas gerações, o que não significa um futuro sombrio. "Uma
concepção de leitura e de leitor deve contemplar, hoje, todos os meios e
linguagens, fazendo com que uma linguagem seja suporte para o entendimento das
demais. A escrita permitindo entender melhor a imagem e, vice-versa, a imagem
facilitando a compreensão crítica da escrita", reflete Silva.
"São linguagens distintas e uma não pode se sobrepor à outra", considera
Adilson Citelli, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e
pesquisador de comunicação e educação. Ele concorda com a afirmação de Silva e
diz que "precisamos ampliar o nosso conceito de leitura".
Regina Zilberman, professora de literatura na UFRGS e autora de diversos
livros sobre a leitura no Brasil, acredita que o padrão de leitura individual e
silenciosa deve se modificar, mas não enxerga problemas nisso. Ela lembra que há
alguns séculos a leitura era feita em voz alta para o público. "As coisas vão se
acomodando e o público se adapta."
Escola perdida
67Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Se a sociedade vai modificar suas formas de ler e de lidar com textos, o
mesmo não se pode dizer da sala de aula. "A escola anda de patinete e a
sociedade, de avião", brinca Regina. Ela desconfia que o ambiente escolar corre o
risco de se tornar dispensável caso não se prepare para abarcar outras formas de
leitura amplamente disseminadas pela mídia e cada vez mais acessíveis a todos os
grupos da população.
Para Citelli, a escola precisa se ressignificar. O professor argumenta que
hoje ela é uma instituição entre tantas outras e que precisa descobrir como vai se
especializar no trato do conhecimento. O grande objetivo da escola, segundo ele,
deve ser alfabetizar para a palavra.
Na opinião de Theodoro da Silva, o professor na escola deve "usar bom
senso e criatividade na preparação de suas aulas, entrelaçando as diferentes
mídias no seu planejamento de ensino e nas suas metodologias". Ele faz questão
de lembrar que as mídias digitais também se sustentam na "escrita".
De qualquer modo, são poucas as instituições de ensino e os professores
preparados para trabalhar com outras linguagens e, quando se sentem ameaçados
por suportes que não dominam, tendem a refutá-los. "Eu não vejo as linguagens
como coisas estanques, mas co-ocorrendo dinamicamente numa sociedade. Por
isso mesmo, nenhum meio deve ser demonizado mesmo porque são conquistas
culturais que servem para o enriquecimento da comunicação humana", pondera
Theodoro da Silva.
Para que serve a literatura?
Um grande jornal lançou este ano uma coleção de títulos de literatura
brasileira e a anunciou como a oportunidade de "colecionar conhecimento". Nada
mais evidente do que, em uma sociedade que valoriza amplamente o caráter
utilitário de tudo, tentar estabelecer para obras em que é impossível quantificar um
uso a possibilidade de acumular um "bem": o conhecimento. Como estratégia de
marketing, pode valer, mas se pararmos para pensar um pouco nos colocaremos a
questão: para que serve a literatura em um mundo no qual tudo precisa ter uma
aplicação? Para o prazer? Distração? Outros meios conseguem suprir essa
necessidade humana de forma muito mais imediata.
68Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade II
"Ainda que os veículos digitais e eletrônicos venham galopantemente
ganhando mais espaço no gosto ou preferência de grande parte da população,
percebo uma convivência equilibrada desses veículos com o livro e demais veículos
impressos", observa Theodoro da Silva. "Isso porque o livro, em sua forma
tradicional, é um fortíssimo instrumento cultural, enraizado na consciência dos
povos da forma como ele sempre se apresentou e vem sendo lido." Ele considera
ainda que "o livro impõe um modo de percepção, intelecção e fruição que é muito
diferente de outras mídias existentes".
Citelli indica que estamos desconsiderando uma dimensão programática no
sentido de uma dimensão pragmática, ou seja, de buscar razões práticas para tudo.
Para ele, a literatura não é para resolver problemas imediatos, é um compromisso
maior com o ser humano. "A temporalidade da literatura é outra."
Fim do livro?
Recentemente, a grande loja de comércio eletrônico Amazon lançou um
aparelho que permite armazenar cerca de 100 mil livros em formato digital, além de
jornais, blogs e outros arquivos de texto. Perguntado se a Apple, depois de
renascer investindo em música e vídeos, entraria também no mercado de suporte
para textos, seu presidente pop star, Steve Jobs, disse que não, pois as pessoas
não lêem mais livros. A afirmação ganhou manchetes de jornais, e o livro, mais uma
vez, foi decretado morto.
Bem mais comedida, a revista norte-americana The New Yorker publicou
uma matéria sobre as conseqüências para a população dos Estados Unidos que,
paulatinamente, se dedica mais aos audiovisuais e à internet do que a livros,
revistas e jornais. A reportagem cita uma série de estudos que apontam
características de grupos pouco afeitos ao texto escrito, como necessidade de
informações gráficas e de metáforas para compensar a falta de um vocabulário
passivo mais amplo. O autor do texto não acredita na extinção da leitura e da
escrita, mas considera sua diminuição e que a leitura por prazer ficará restrita a
grupos de interessados.
Para o professor da Unicamp Ezequiel Theodoro da Silva, o livro tem
qualidades que não são facilmente dispensáveis, a começar pelo seu formato. "O
veículo ou objeto cultural 'livro' possui uma portabilidade insubstituível e, além
disso, tem uma função importante junto a segmentos que ainda necessitam da folha
69Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
impressa para as práticas de leitura", diz. "O livro não precisa ser ligado numa
tomada para ser lido."
Mesmo que o impresso perca espaço para meios digitais, isso também não
significa o fim da literatura. A professora da
UFRGS Regina Zilberman salienta o crescimento de outros veículos de
divulgação de textos na própria internet por onde a produção literária pode se
disseminar.
70Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
IIUnidade III
UNIDADERedação documentacional
Aprendendo a se corresponder em diversas situações de trabalhoAvisoMemorandoCarta comercial modernaAtaCurrículoOfícioProcuraçãoRequerimentoDeclaraçãoE-mailCarta comercial modernaResenhaEstrutura de um artigo científicoModelo de um artigo científico
71Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Aprendendo a se corresponder em diversas situações de trabalho
AVISO - É um tipo de correspondência cujas características são amplas e variáveis.
O aviso pode ser uma comunicação direta ou indireta; unidirecional ou
multidirecional; redigida em papel próprio, afixada em local público ou publicada por
meio da imprensa.
Aviso é usado na correspondência particular, oficial e empresarial. Muitas
vezes, aproxima-se do comunicado, do edital ou do ofício.
Geralmente não traz destinatário, fecho ou expressões de cortesia.
Modelo de Aviso
EXERCÍCIO
72Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
ESTADO DO RIO GRANDE DO SULSECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA CIVILACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL
DIVISÃO DE RECRUTAMENTEO E SELEÇÃO
Aviso nº 003/20..
CONCURSO PARA DELEGACIA DE POLÍCIA E CONCURSO PARA ESCRIVÃO DE POLÍCIA
A Comissão de Concurso designada para coordenar o Concurso Público de ingresso no Curso Superior de Formação de Delegado de Polícia e Concurso Público de ingresso no Curso Médio de Formação de Escrivão de Polícia comunica que foram publicados no Diário Oficial do Estado, edição de 20/05/..., segunda-feira, os Editais números 015 016/..., dispondo sobre os resultados das Provas de Capacitação Vocacional (3ª fase) de ambos os concursos.
Porto Alegre, 27 de agosto de 20..
Del. Pol. Fulano de TalPresidente da Comissão de Concurso
Unidade III
Elaborar um aviso, comunicando prazo para os alunos pedirem opção e
transferência de curso na Universidade X.
MEMORANDO - Pode ser interno ou externo. O primeiro é uma correspondência
interna e sucinta entre duas seções de um mesmo órgão. O segundo pode ser
oficial e comercial. O oficial assemelha-se ao ofício; e o comercial, à carta
comercial. O papel usado para qualquer tipo de memorando é o de meio-ofício.
Sua característica principal é a agilidade (transmissão rápida e simplificada
de procedimentos burocráticos). Isso implica fazer os despachos no próprio
documento ou, se necessário, em folha de continuação.
Modelo de Memorando
EXERCÍCIO
73Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
TIMBRE
Memorando nº 32/DA Em 29 de agosto de 2008
Ao Sr. Chefe da Divisão de SeleçãoAssunto: Desligamento de funcionário
Cumprindo determinação da Presidência, comunicamos que foi desligado, hoje, desta Divisão, o digitador Mário Oliveira, posto à disposição da DS.
Atenciosamente,
Fulano de TalDiretor
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Redigir um memorando com o seguinte teor: Direção de Instituto comunica à
Seção de Pagamentos da Universidade o não-comparecimento ao serviço, por mais
de 30 dias, do servidor Paulo Lopes.
CARTA COMERCIAL MODERNA - É a correspondência utilizada pela indústria e
comércio.
Modelo de carta comercial moderna
EXERCÍCIO
74Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
TIMBRE
Rua X – Porto Alegre – Cx. Postal, 1000 10 de agosto de 2008
Fernando Barros & Cia. Ltda.
Prezados Senhores,
Seguiram, pela TAM, dez caixas dos medicamentos solicitados pelo Sr.
Marcelo Silveira.
Sua duplicata já foi encaminhada ao Departamento de Cobrança.
Atenciosamente,
Tiago AlmeidaDIRETOR
Unidade III
Elaborar uma carta comercial moderna sobre o não-recebimento de
mercadoria solicitada..
ATA - É um resumo escrito dos fatos e decisões de uma assembléia, sessão ou
reunião para um determinado fim.
Normas: Geralmente, as atas são transcritas a mão pelo secretário, em livro
próprio, que deve conter um termo de abertura e um termo de encerramento,
assinados pela autoridade máxima da entidade ou por quem receber daquela
autoridade delegação de poderes para tanto; esta também deverá numerar e
rubricar todas as folhas do livro.
Como a ata é um documento de valor jurídico, dever ser lavrada de tal forma,
que nada lhe poderá ser acrescentado ou modificado. Se houver engano, o
secretário escreverá a expressão “digo”, retificando o pensamento. Se o engano for
notado no final da ata, escrever-se-á a expressão – “Em tempo: Onde se lê..., leia-
se...”
Nas atas, os números devem ser escritos por extenso, evitando-se também
as abreviações. As atas são redigidas sem se deixarem espaços ou parágrafos, a
fim de se evitarem acréscimos.
O tempo verbal preferencialmente utilizado na ata é o pretérito perfeito do
indicativo.
Quanto à assinatura, deverão fazê-lo todas as pessoas presentes ou,
quando deliberado, apenas o presidente e o secretário.
Permite-se também a transcrição da ata em folhas digitadas, desde que as
mesmas sejam convenientemente arquivadas, impossibilitando fraude.
Em casos muito especiais, usam-se formulários já impressos, como os das
seções eleitorais.
75Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Modelo de Ata
EXERCÍCIO76
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
ATA DA 52ª SESSÃO ORDINÁRIA DE 2008
Aos quatorze dias do mês de agosto do ano de dois mil e oito, às quatorze horas, no Conselho de Terras da União, quinto andar, sala quinhentos e vinte e dois, do Edifício Ministério da Fazenda, na cidade .................., reuniu-se o Conselho presidido pelo Conselheiro-Presidente, Senhor................, presentes os Conselheiros, Senhores: ............................................................................................................ ;
Iniciados os trabalhos, o Senhor Procurador-Representante da Fazenda remeteu ao Relator-Conselheiro, Senhor ...................., o processo nº 347.097-99, do interesse de ........................... e outros, do qual tivera visita. A seguir, com a palavra o Conselheiro, Senhor ........................., iniciou-se a discussão do processo 986.632-99, do interesse de ............................... e outros, ocasião em que o Senhor Conselheiro-Relator rememorou as principais fazes do processo bem como suas implicações no âmbito do
Poder Judiciário, até que foi atingido o término da hora regional dos trabalhos, sustando-se, em conseqüência, a o
INT
RODU
ÇÃCO
NTEX
TOEN
CERR
AMEN
TO
Unidade III
Elaborar uma ata sobre uma reunião de condomínio.
CURRÍCULO - Como elaborar um currículo corretamente.
O currículo é o registro da sua história profissional. É a sua propaganda, e
como tal não pode ser apenas um pedaço de papel frio.
É um documento que deve ser elaborado para destacar suas habilidades e
realizações, de tal forma que soe como um tambor ou um clarim, anunciando quem
você é de maneira elegante e agradável.
O currículo deve ser uma mensagem breve e objetiva. Não é à toa que em
muitos países se utiliza a palavra francesa résumé (que significa resumo) para
designar currículo.
Normalmente o currículo chega ao seu potencial empregador antes de você.
Por isso, quanto melhor for a impressão que causar a seu respeito, mais
oportunidades poderá te propiciar.
Cuide bem do seu currículo para que ele o ajude a alcançar muitas
entrevistas, que são a primeira metade do caminho para conseguir um novo
emprego.
O currículo bem elaborado atrai, o currículo mal elaborado afasta.
Antigamente, destacar-se pelo currículo era usar papel rosa, agrupar o texto
em blocos densos, com informações que começavam com o seu curso de primeiro
grau, incluíam seus hobbies prediletos, estado da saúde e situação matrimonial.
Esqueça este tipo de currículo!
Hoje, o mercado de trabalho mudou e, conseqüentemente, mudaram os
currículos. O currículo moderno e eficaz deve evidenciar as suas habilidades,
conquistas e experiências. Seja você candidato a uma vaga de presidente,
vendedor ou escriturário, o que o seu currículo deve fazer é distingui-lo de uma
multidão de outros candidatos.
Um bom currículo...
77Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
...apresenta um resumo breve, objetivo e conciso, mas ao mesmo tempo
claro, abrangente e verdadeiro sobre a sua experiência passada.
...deve ser cuidadosamente atualizado, corretamente escrito e
adequadamente formatado.
...faz você se destacar em uma pilha de outros currículos
...chama a atenção de quem o lê e aumenta as suas chances de
conseguir uma entrevista de emprego.
Funções do Currículo
Para quem está empregado, o currículo é importante porque pode ser solicitado para apoiar um processo de promoção, um convite para um novo
emprego ou para mostrar a clientes e fornecedores. Não se deve nunca descuidar
dele, caso queira causar uma impressão positiva.
Para quem está procurando emprego, o currículo tem duas funções básicas:
é uma ferramenta para gerar entrevistas de emprego
serve de guia para os seus entrevistadores
Facilite, portanto, o trabalho do seu entrevistador. Procure responder, no
currículo, as principais perguntas para as quais os entrevistadores querem resposta:
O que você quer?
Para responder a esta pergunta, o seu currículo deve comunicar clara e
especificamente quais são os seus objetivos. Coloque um sumário sucinto e objetivo
das suas expectativas. Por exemplo, cargo executivo na área industrial, para um
78Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
estilo mais aberto ou diretor/gerente da área industrial, para um estilo mais
específico.
Por que você quer?
Mostre a razão pela qual você considera merecer o cargo que está
pretendendo. Seu currículo deve enfocar o seu objetivo. Os itens da sua carreira
que não ajudam a justificar o foco central do seu currículo devem ser menos
enfatizados ou excluídos. Por exemplo, se o seu objetivo é ser diretor industrial e
você trabalhou durante um ano para um empregador em vendas de produtos de
consumo, esta experiência deve ter menção mínima ou não constar do sumário.
Em que você contribuiu?
Destaque as atividades que você desempenhou em cada emprego e que
resultaram em retorno para a empresa, seja institucional, financeiro ou de
relacionamento de mercado. O seu potencial empregador quer saber, logo à
primeira vista, se você é um empregado que traz resultados para a empresa ou se
apenas cumpre o seu papel.
Você se organiza e planeja para alcançar objetivos?
Um currículo bem organizado, com seqüência lógica, mostra a sua
habilidade de organizar atividades e tarefas, e o fato de saber o que quer, mostra
ambição e vontade de atingir esses objetivos.
Você se comunica?
Usar frases curtas é uma maneira eficiente de demonstrar objetividade e
concisão. Utilize o mínimo de palavras, evite advérbios subjetivos, como
extremamente, fortemente e outros. Inicie frases com verbos de ação, como
construí, reduzi, aumentei, implantei, administrei, supervisionei, melhorei, expandi,
organizei, treinei, encontrei, descobri, planejei etc. Mas ao mesmo tempo em que os
verbos podem vir na primeira pessoa, evite utilizar o pronome pessoal eu, pois ele
passa a impressão ofensiva de falta de modéstia, quando usado em demasia.79
Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Ao redigir seu currículo, tente criar uma impressão moderna, positiva,
agressiva e direcionada a realizações. Os entrevistadores analisam pilhas de
currículos e precisam entender rapidamente, na primeira leitura, exatamente o que
você pretende, por que e com que objetivos. Faça um esforço de preparação para
economizar o esforço de leitura deles. Isto pode resultar em ponto positivo para
você.
Você é positivo?
Seu currículo deve falar bem de você - claro que com base na verdade. Por
isso, enfatize os pontos positivos. Ninguém quer ler informações tristes, de pessoas
que choramingam. Mostre aspectos marcantes, primeiramente, e deixe os aspectos
menos relevantes para o final. Atinja o entrevistador com um impacto positivo logo
no início da leitura.
Seqüência de apresentação:
Basicamente, o que um empregador quer saber de você quando olha o seu
currículo são apenas três coisas:
Onde você já esteve?
O que você já fez por outra empresa?
O que pode fazer pela empresa dele?
Siga a seguinte seqüência de apresentação em seu currículo:
Objetivo conciso
Breve sumário de qualificações
Formação acadêmica
Resultados obtidos em decorrência das habilidades técnicas
Experiências profissionais mais relevantes (com datas e lugares)
Pontos fortes
80Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
Conhecimentos de informática
Primeira página
Procure manter o seu currículo, preferivelmente, em duas páginas. Um
currículo de três páginas é, hoje, considerado extenso.
Logo no início da primeira página, devem ser colocados o seu nome,
endereço e números de telefone. Não há outro lugar melhor para colocar essas
informações – como os currículos são lidos rapidamente, você pode perder uma
oportunidade se o leitor pensar que você esqueceu de colocá-las.
Em seguida, aparece o seu objetivo profissional, que não deve ultrapassar
uma linha. Por exemplo: 'Gerente de marketing/produto.'
Mencione depois, um resumo das suas qualificações profissionais. Por
exemplo: 'Economista com MBA em Marketing e dez anos de experiência em
planejamento de mídia e estudo de mercado.'
Ao colocar datas de títulos no currículo, certifique-se de incluir as datas de
início e final de cada curso do lado esquerdo da página.
Na relação de empregos anteriores, certifique-se de incluir as datas de
entrada e saída de cada emprego do lado direito da página, depois do nome de
cada empresa.
Não separe os cargos com textos, pois eles perdem o impacto do número e
da seqüência.
Segunda página
Faça uma relação de resultados obtidos em cada empresa, sempre de
maneira sucinta. Evite analisar, apenas informe.
Se foi promovido muitas vezes, enfatize isto, brevemente, no seu currículo.
As promoções que obteve são as melhores referências, pois denotam que
você foi um colaborador excelente, transmitem que o seu chefe o julga um bom
profissional e que executou bem suas funções, por isso foi promovido.
81Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Para registro de um emprego em que você obteve promoções, certifique-se
de incluir a data de entrada e a data de saída ao lado esquerdo da página e as
datas para cada título ao lado direito da página. Se você não seguir esta norma e
colocar todas as datas do lado esquerdo, uma rápida leitura poderá deixar a
impressão de que você troca de emprego com freqüência.
Se você for um executivo jovem, que ainda não acumulou muitos empregos,
tente montar o seu currículo em uma só página.
O que não colocar no currículo
Cores - O currículo deve ser agradável à leitura, portanto, deve ser
discreto. No máximo, utilize um papel de tom pastel em vez do
branco, mas nada além disso.
Para destacar as informações você pode usar os recursos de negrito
e itálico do seu processador de texto. Evite variar os tipos de fonte,
para não transformar o seu currículo em uma salada gráfica e irritar
quem o lê.
Listas extensas de qualquer natureza - Se a sua relação de
empregos é muito grande, selecione apenas os últimos cinco
empregos da sua carreira. E, mencione no sumário de qualificações
que você possui mais experiência do que o mencionado. Em alguns
casos é importante colocar todas as informações, como nos
currículos de cientistas ou médicos, para cujos empregadores os
artigos publicados são importantes, assim como o detalhamento dos
congressos de que o profissional participou. Mas, de maneira geral,
essas informações só entediam a quem vai ler o currículo.
RG, CPF e outros números de documentos - Não perca tempo
inserindo número do CPF ou do Título de eleitor, ou mesmo da
Carteira profissional. Se alguém tiver interesse nestes documentos,
será o Departamento Pessoal no momento em que for efetivar a sua
contratação. Nunca antes.
82Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
Razões de ter deixado o emprego anterior - Esta informação é
importante para o seu empregador, mas deve ser discutida no
momento certo. E, o momento certo é a entrevista pessoal. Portanto,
não inclua esta informação no currículo.
Referências - A lista de referências deve ser impressa à parte, e
você deve tê-la à mão na entrevista, para apresentá-la ao
entrevistador no momento em que for solicitado. (Para mais
informações, leia o artigo "Sem boas referências, você pode perder a
chance de um ótimo emprego", na edição número 1 do jornal virtual
Carreira & Sucesso, que pode acessado pelo endereço
www.catho.com.br/jcs)
Raça, religião e filiação partidária - Ninguém tem interesse em
conhecer estas suas convicções, seja para benefício ou para prejuízo
da sua carreira. Ao contrário, colocando essas informações pode
parecer que você é quem tem preconceito com relação a esses itens.
Salário anterior e pretensão salarial - Alguns especialistas
recomendam colocar salário e pretensão no currículo, mas a postura
do Grupo Catho é de não recomendar esta prática. Salário, conforme
a nossa experiência, é um tema para ser discutido pessoalmente
durante a entrevista e não para estar no currículo. Quando o anúncio
pede, pode-se escrever alguma coisa geral como Aceito discutir
propostas ou Estou aberto para discutir a questão salarial.
Formato e aparência do currículo
Antes de escrever o modelo final, revise-o com duas ou três pessoas para
checar as informações e verificar a correção ortográfica. Erros de português,
gramaticais, ortográficos ou de concordância, comprometem seriamente o currículo
de qualquer pessoa. Não tenha vergonha de pedir ajuda.
Graficamente, o seu currículo precisa ser atraente. Lembre-se de que ele é a
propaganda do produto mais importante do mundo: você!
83Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Deixe margens largas e muitos espaços em branco. Não faça a composição
gráfica com letras muito pequenas porque há pessoas que enxergam mal –
respeite-as.
Procure não variar a fonte das letras, mas aproveite os recursos de
sublinhar, colocar em negrito ou em itálico, e até o uso de letras maiúsculas para
enfatizar.
A impressão deve ser feita em laser porque o resultado gráfico é bonito e
muito limpo. Para a reprodução de quantidades maiores, sugerimos o processo de
offset em um papel de boa qualidade, branco ou em tom pastel claro.
Inclua fotografia, se considerar que a sua aparência pessoal é boa e pode
ajudar a causar uma boa impressão. Prefira o tamanho 4,5 x 6 cm. Deve ser uma
ótima fotografia, nítida, em que você esteja sorridente e inspire confiança. A
fotografia diferenciará imediatamente o seu currículo dos outros e o tornará mais
pessoal. Pode colar uma fotografia em cada currículo ou, se usar serviços de uma
gráfica, pode deixar que a fotografia faça parte do fotolito, imprimindo-a na primeira
página do seu currículo.
Há muito mais o que dizer a respeito de currículo, porque a sua elaboração
exige, ao mesmo tempo, simplicidade na apresentação e complexidade na
avaliação dos elementos que o compõem.
Modelo de currículo para cada situação
Há três modelos básicos de currículo. Situações funcionais específicas
podem exigir que se envie um determinado tipo de currículo. Você terá que
identificar qual é o mais adequado para o empregador que tem a vaga para a qual
você quer se candidatar.
Currículo cronológico. Geralmente este currículo apresenta a lista
dos empregadores em ordem cronológica inversa, ou seja, inicia-se a
relação pelo emprego mais recente. É o currículo mais utilizado e
também o mais apreciado pelos executivos contratantes, porque
facilita a avaliação do leitor com relação ao crescimento da carreira e
84Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
continuidade no emprego do candidato.É também um modelo que
permite ao candidato um formato adequado para relatar os resultados
que alcançou nos empregos anteriores.
Não deve usar este modelo quem:
Mudou de emprego com freqüência
Mudou de carreira várias vezes
A razão é pelo impacto visual. Numa relação em que os registros de empregos
ficam próximos uns dos outros, destacam-se as datas e as atividades, ficando
bastante fácil, para o leitor, confrontar esses quesitos.
Currículo funcional. Este modelo dá preferência de enfoque às
funções desempenhadas e não aos empregadores. Permite que o
profissional não fique constrangido por ter trabalhado em um
determinado lugar ou pela seqüência de seus empregadores.
Também possibilita dar menos ênfase à experiência que não está
relacionada com o cargo pretendido.
Neste modelo de currículo, o candidato seleciona somente as experiências
relevantes vinculadas à colocação que pretende. Sem, no entanto, omitir nada,
porque um currículo deve ser verdadeiro – a relação cronológica dos empregadores
é apresentada no final.
A estratégia é chamar a atenção do entrevistador, de imediato, para as habilidades
e talentos mais importantes do seu currículo para aquela determinada vaga. O
currículo funcional tem a desvantagem de ser muito inflexível. Você só pode usá-lo
quando pretende um determinado cargo, e a definição do seu produto é restrita, o
que pode ser bom, mas também pode ser ruim.
Currículo cronológico-funcional. É, dos modelos de currículo, o
mais forte e comunicativo. Associa a ordem cronológica inversa dos
empregadores com os cargos, realçando a experiência funcional em
85Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
cada emprego. Utilize esse modelo se você possui boa estabilidade
de emprego e uma ampla base de experiência.
Este é o modelo de currículo preferido por uma grande parcela dos recrutadores. A
razão é simples: este modelo poupa tempo e agiliza a seleção.
Um entrevistador experiente observa, de imediato, num currículo formatado desta
maneira, várias informações importantes ao mesmo tempo, como experiência,
estabilidade e progressão funcional de um candidato. Mas tem a desvantagem de
poder parecer, para o entrevistador, que o candidato esteja querendo ocultar
instabilidade funcional.
EXERCÍCIO
Elaborar e apresentar o seu Curriculum Vitae em formato tradicional e outro
em formato eletrônico, e imprimir, (Plataforma Lattes) disponível no sítio
www.cnpq.br .
86Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
OFÍCIO - É uma correspondência externa usada principalmente pelos órgãos
de governo e autarquias. O papel utilizado é o tamanho-ofício.
Modelo de Ofício
EXERCÍCIO
Redigir um ofício com o seguinte teor: o Sr. Secretário da Agricultura solicita,
em ofício, ao Sr. Secretário de Transportes a cessão, por 30 dias, de uma picape,
para servir à Comissão X da cidade X.
87Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
TIMBREESCOLA NORMAL REGINA COELI
Of. Nº 12/08 São Paulo – SPEm 10/07/08
Senhora Delegada,
Vimos, por este meio, apresentar a V. Sª a professora do Ensino Médio II Maria de Fátima Vaz, lotada nesta Escola, e titular da cadeira de Física, que, por indicação superior, ficará à disposição da Primeira Delegacia de Ensino até dezembro do corrente ano.
Solicitamos, por outro lado, que seja encaminhado, até o dia 5 (cinco) de cada mês, o atestado de efetividade da referida professora, a fim de que a mesma não seja prejudica em relação à pontualidade dos vencimentos.
Sendo o que se apresenta no momento, subscrevemo-nos,
Atentamente
Ana Maria CésarDIRETORA
À Srª ProfessoraAmélia X M.D. 1ª Delegacia de EnsinoRua X, .......CEP ........... P. Alegre
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
PROCURAÇÃO - É o instrumento por meio do qual a pessoa física ou
jurídica outorga poderes a outra. A procuração pública é lavrada em cartório;
a particular é geralmente conservada sem registro.
Estrutura da procuração
a. Título: Procuração.
b. Qualificação: nome, nacionalidade, estado civil,, profissão, CPF e
residência do outorgante (constituinte ou mandante) e também do
outorgado (procurador ou mandatário).
c. Finalidade e Poderes: parte em que o outorgante declara a
finalidade da procuração, bem como autoriza o outorgado a
praticar os atos para os quais é nomeado.
d. Data e assinatura do outorgante.
e. Assinatura das testemunhas, se houver. Essas assinaturas
costumam ficar abaixo da assinatura do outorgante, à esquerda.
f. As firmas devem ser todas reconhecidas em cartório.
88Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
Modelo de procuração
89Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
PROCURAÇÃO
Por este instrumento particular de procuração, eu, Fulano de Tal, brasileiro, casado, residente e domiciliado em Porto Alegre, na Rua Dr. Flores, ........................ ap........................, aluno da Faculdade de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aprovado no quinto semestre do Curso Bacharelado, nomeio e constituo meu bastante procurador o senhor Ângelo Morais, brasileiro, solteiro, maior de idade, residente e domiciliado em Porto Alegre, na Rua do Parque, ..............., com o fim especial de efetuar minha matrícula na referida Faculdade, no sexto semestre.
Porto Alegre, 2 de janeiro de 2008-07-21
Assinatura
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EXERCÍCIO
Elaborar uma procuração, autorizando alguém a receber uma
importância em dinheiro.
REQUERIMENTO - É um documento específico de solicitação e, por meio
dele, a pessoa física ou jurídica requer algo a que tem direito (ou pressupõe
tê-lo), concedido por lei, decreto, ato, decisão etc.
Estrutura do Requerimento
a. Invocação: os termos devem ser escritos pro extenso.
b. Texto: inicia-se pelo nome do requerente, sua qualificação (ou
representação, se for pessoa jurídica), exposição do ato legal em
que se baseia o requerimento e o objeto desse mesmo
requerimento.
c. Fecho: em que entram as expressões:
Nestes termos N. Termos
ou
Pede deferimento P. Deferimento
90Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
Modelo de requerimento
91Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Senhor Prefeito do Município de Vacaria – RS.
Prodesa – Indústria e Comércio S.A., com sede na Rua Av. Assis Brasil, 2086, em Porto Alegre, por seu Presidente e Representante Legal, Luís Carlos Soares, industrial, brasileiro, casado, residente em Porto Alegre, na Rua Filadélfia, 1260, nos termos do Decreto nº ...................., assinado por V. Exª, em 10 de março de ..............., em que concede isenção de impostos sobre serviços de qualquer natureza, por 10 (anos), a indústrias que venham a instalar-se nesse município em .............., vem, respeitosamente, requerer a V. Exª se digne outorgar-lhe a referida isenção, para o que junta a esse a documentação exigida pelo citado decreto.
Termos em quePede deferimento
Vacaria, 30 de junho de 2008
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EXERCÍCIO
Elabore um requerimento, solicitando justificativa de faltas e abono
das mesmas.
DECLARAÇÃO - É um documento que se assemelha ao atestado,
mas que não deve ser expedido por órgãos públicos, geralmente.
Modelo de declaração
EXERCÍCIO92
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
DECLARAÇÃO
Declaramos que o senhor João Armando Ferraz pertence ao quadro de funcionários de nossa empresa desde 2 de maio de 1990, recebendo mensalmente dois salários mínimos.
Porto Alegre, 22 de outubro de 2007.
Mário BarcellosDiretor-Presidente da Cia. X
Unidade III
Elaborar uma declaração (assunto livre)
E-MAIL - A motivação pra o estudo do e-mail surgiu a partir da constatação –
empírica, num primeiro momento, e, depois, confirmada em pesquisa – de
que esse gênero de texto estava se impondo como substituto da carta
comercial e também de gêneros afins como os memorandos (sem falar dos
telefonemas).
É até dispensável sublinhar o impacto que provocou o surgimento da
internet sobre praticamente todos os ramos da atividade humana, afetando
seu modo de agir e de pensar.
O e-mail (electronic mail: correio eletrônico) é uma das conseqüências
do surgimento da internet, que nasceu dos anos 60.
Marcuschi (2002, p. 16) caracteriza o e-mail como sendo de relação
temporal assíncrona, de duração limitada, texto curto, formato de estrutura
fixa, participantes em número variado e conhecidos, de função interpessoal,
com tema livre ou combinado, semiose: puro texto corrido, e mensagem
gravada automaticamente.
Características lingüístico-gramaticais e formais do e-mail:
A análise contrastiva entre as cartas comerciais e os e-mails sob o
aspecto lingüístico-formal revela, sem dúvida, maior formalidade naqueles e
mais informalidade nestes. Nas cartas comerciais, é o burocratês que se
realiza de forma evidente.
RESENHA- É um tipo de trabalho que exige conhecimento do assunto, para
estabelecer comparação com outras obras da mesma área e maturidade
intelectual para fazer avaliação e emitir juízo de valor.
Resenha é, portanto, um relato minucioso das propriedades de um
objeto ou de suas partes constitutivas; é um tipo de redação técnica que
93Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
inclui variadas modalidades de textos: descrição, narração e dissertação. Ela
contribui pra desenvolver a mentalidade científica e levar o iniciante à
pesquisa e à elaboração de trabalhos monográficos.
A resenha crítica é também denominada de resensão crítica. Ela
combina resumo e julgamento de valor.
Seu objetivo é fornecer informações para que o leitor decida quanto à
consulta ou não do original. Daí a resenha dever resumir as idéias da obra,
avaliar as informações nela contidas e a forma como foram expostas e
justificar a avaliação realizada.
ExemplosTome-se, por exemplo, a resenha de um CD de Cássia Eller,
publicada na Veja, de 4 de dezembro de 2002. As apreciações ou juízos
avaliativos são os seguintes:
“Quando morreu, em dezembro de 2001, Cássia Eller estava empenhada em realizar uma metamorfose artística. Cansada do rótulo de roqueira barulhenta, ela queria consolidar a imagem de excelente intérprete, o que de fato era.”
Tome-se agora a resenha de Marília Pacheco Fiorillo, publicada na
Veja, de 6 de novembro de 2002. Ela aborda Homem duplicado, obra de
José Saramago. Afirma, avaliando:
“Saramago conta que imaginou o livro a partir do título. Naturalíssimo, pois o título por si só é quase um gênero literário, aquele que trata do duplo do ‘doppelgänger’, do gênero maléfico.”
A leitura e a redação de resenhas constituem exercícios que
melhoram a qualidade da leitura e da redação.
Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi, em Fundamentos de
metodologia científica (1995, p. 245), apresentam modelo para a prática de
resenhas científicas.
94Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
a. Referência bibliográfica:
- Autor.
- Título da obra.
- Elementos de imprensa (local da edição, editora, data).
- Número de páginas.
Exemplo:
GARCIA, Othon. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1980. 522 p. 14 x 21 cm.
EXERCÍCIO
Elabore uma resenha sobre a lei seca.
95Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Estrutura de um artigo científico
1.1 CONCEITO O artigo científico relata informações e resultados de uma pesquisa de
maneira clara e concisa. Sua característica principal é ser publicado em periódicos
científicos.
As orientações que se seguem são baseados na NBR 6022/2003 da
ABNT, portanto, caso deseje publicar o artigo em um periódico específico é
importante que seja verificado o "Regulamento para Publicação" do periódico no
qual se pretende publicar. É extremamente importante se reconhecer o formato
básico exigido. O artigo pode ser rejeitado por não se encontrar no formato padrão,
mesmo que apresente um bom conteúdo.
1.2 FUNÇÕES Existem várias razões para se publicar um artigo técnico ou uma publicação
científica, como:
• Divulgação científica - A publicação de um artigo científico ou técnico
é uma forma de transmitir à comunidade técnico-científica o conhecimento de
novas descobertas, e o desenvolvimento de novos materiais, técnicas e métodos
de análise nas diversas áreas da ciência.
• Aumentar o prestígio do autor - Pesquisadores com um grande
volume de publicações desfrutam do reconhecimento técnico dentro da
comunidade científica, alcançam melhores colocações no mercado de trabalho, e
divulgam o nome da instituição a qual estão vinculados.
• Apresentação do seu trabalho - Muitas instituições de ensino e/ou
pesquisa, e várias empresas comerciais freqüentemente requerem que os seus
profissionais apresentem o progresso de seu trabalho e/ou estudo através da
publicação de artigos técnico-científicos.
96Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
• Aumentar o prestígio da sua instituição ou empresa - Instituições ou
empresas que publicam constantemente usufruem do reconhecimento técnico
de seu nome, o que ajuda a atrair maiores investimentos e ganhos para esta
organização.
• Se posicionar no mercado de trabalho - O conhecido ditado em inglês
"Publish or perish", ou seja, "Publique ou pereça", provavelmente nunca foi tão
relevante como nos dias de hoje. Redigir um artigo técnico lhe trará uma boa
experiência profissional, e contribuirá para enriquecer o seu currículo,
aumentando assim
suas chances de obter uma melhor colocação no mercado de trabalho.
1.3 TIPOS DE ARTIGO CIENTÍFICO • Artigos originais São contribuições destinadas a divulgar resultados pesquisa original que
possam sem generalizados ou replicados. Incluem estudos controlados e
randomizados, estudos de testes diagnósticos e de triagem e de outros
estudos descritivos e de intervenção, bem como a pesquisa básica com animais de
laboratório.
• Relatos de casos ou Caso clínico São trabalhos de observações clínicas originais acompanhados de
análise e discussão. Tratam de pacientes ou situações singulares, doenças
raras ou nunca descritas, assim como formas inovadoras de diagnóstico ou
tratamento. O texto é composto por uma introdução breve que situa o leitor quanto à
importância do assunto e apresenta o objetivo da apresentação do caso; por um
relato resumido do caso; e por comentários que discutem aspectos relevantes e
comparam o relato com outros casos descritos na literatura.
• Artigos de revisão Avaliação crítica sistemática da literatura sobre determinado assunto,
devendo conter conclusões. A organização do texto do artigo, com exceção da
Introdução, Discussão e Conclusão, fica a critério do autor.
97Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
• Artigos especiais São textos não classificáveis nas categorias acima, que o Conselho
Editorial da revista julgue de especial relevância para as ciências da saúde
ou ensino na área da saúde. Sua revisão admite critérios próprios, não
havendo limite de tamanho ou exigência prévias quanto às referências
bibliográficas.
1.4 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE UM ARTIGO ORIGINAL
ITENS PRELIMINARES ARGUMENTAÇÃO ITENS COMPLEMENTARES
Título, e subtítulo(se houver);Resumo;
Palavras-chave (em português).
INTRODUÇÃO;MATERIAL E MÉTODO;
RESULTADOS;DISCUSSÃO/CONCLUSÃO.
Resumo em língua estrangeira;
Palavras-chave em língua estrangeira;Referências
Bibliográficas;Apêndice e/ou anexo.
1.5 ITENS PRELIMINARES Título, e subtítulo (se houver):Faça um título curto, que chame a atenção, e
além de tudo, que reflita o tema principal do artigo.
Nome do autor e afiliação: Escreva o seu nome e a sua afiliação de forma
uniforme e sistemática em todas as suas publicações para que seus artigos
possam ser citados de forma correta por outros autores.
RESUMO O resumo redigido pelo próprio autor do trabalho na língua original, deve
constituir a síntese dos pontos relevantes do trabalho, tais como: tema,
98Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
problema de pesquisa, justificativa, objetivo(s), material e método proposto, os
resultados alcançados, as conclusões e recomendações.
O resumo deverá conter menos de 250 palavras. O resumo deve ser
digitado em um só parágrafo.
As pessoas se baseiam no Resumo para decidirem ler ou não o restante de
um artigo. Assim, resuma de maneira precisa os tópicos principais do artigo e as
conclusões obtidas através do seu trabalho. Limite o número de tópicos para
evitar confusão na identificação da mensagem principal do artigo. Não inclua
referências, figuras ou equações nesta seção.
Palavras-chave em língua portuguesa È necessário a inclusão de um conjunto de palavras-chave que
caracterizem o seu artigo. Estas palavras serão usadas posteriormente para
permitir que o artigo seja encontrado por sistemas eletrônicos de busca. Por isso,
você deve escolher palavras-chave abrangentes, mas que ao mesmo tempo
identifiquem o(s) assunto(s) de que trata o artigo.
1.6 CORPO DO TRABALHO - ARGUMENTAÇÂO A argumentação do trabalho é composta pela introdução, material e método,
resultados, discussão e conclusão, no caso de artigo original. São na verdade, o
verdadeiro conteúdo do trabalho. É evidente que todos as demais que compõem
o artigo são importantes e essenciais. Na verdade, são nesses itens que
serão concentrados todos os esforços de compreensão e entendimento, discussão
e análise, síntese e demonstração do conhecimento.
INTRODUÇÃO A introdução é um apanhado geral do conteúdo do artigo científico
sem entrar em muitos detalhes. Apenas poucos parágrafos são o suficiente.
Deve descrever brevemente a importância da área de estudo e especificada a
relevância da publicação do artigo, ou seja, explicar como o trabalho contribui
para ampliar o conhecimento em uma determinada área da ciência, ou se ele
apresenta novos métodos para resolver um problema. Apresenta-se uma revisão
99Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
da literatura recente (publicada nos últimos 5 anos), especificando sobre o tópico
abordado, ou forneça um histórico do problema.
Definição do problema - Definir o problema ou tópico estudado, explicar
a terminologia básica, e estabelecer claramente os objetivos e as hipóteses. Os
artigos são freqüentemente rejeitados para publicação porque os autores
apresentam apenas os objetivos, mas não as hipóteses.
A introdução deve ser finalizada com a apresentação do(s) objetivo(s) do
trabalho.
Para se escrever uma introdução informativa para o artigo é
necessário estar familiarizado com o problema. A introdução deve apresentar
a evolução natural de sua pesquisa. Ela pode ser elaborada após escrever
Discussão e Conclusões.
MATERIAL E MÉTODO Descreve o tipo de estudo/delineamento; a população alvo do estudo
(especificação e caracterização com os critérios de inclusão e exclusão) - trata-se
da delimitação do universo que será pesquisado, seja seres animados ou
inanimados. Consiste em explicitar o que foi pesquisado: pessoas, coisas,
fenômenos, enumerando suas características comuns, como por exemplo, sexo,
faixa etária, organização a que pertencem,
comunidade onde vivem, etc.; a amostra utilizada(s) quando a pesquisa não
abrange a totalidade do universo pesquisado, surgindo a necessidade de se
investigar apenas uma parte dessa população; as variáveis estudadas, os
procedimentos adotados e as técnicas utilizadas. Essas últimas correspondem
à prática de coleta de dados e análise dos dados (observação, entrevista,
questionário).
Os procedimentos metodológicos empregados para o levantamento de
dados e sua utilização no processo de análise, devem estar claros no artigo.
Esses procedimentos devem estar adequados ao problema a ser investigado e aos
objetivos definidos pelo autor.
100Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
RESULTADOS Descrição panorâmica dos dados levantados para propiciar ao leitor a
percepção adequada e completa dos resultados obtidos de forma clara e precisa,
sem interpretações pessoais.
Quando pertinente, deve-se incluir ilustrações como quadros, tabelas e
figuras (gráficos, mapas, fotos, etc.). A apresentação de tabelas/quadros com
os dados obtidos aparecem nesse item, no entanto, os comentários devem ser
guardados para a seção Discussão. Uma vez que artigos com tabelas irão obter
um maior número de citações porque outros pesquisadores podem usar os
dados como base de comparação,
construa as tabelas com sublegendas adequadas para as linhas e colunas.
Se possível, utilize figuras, gráficos, e outras representações diagramáticas
atrativas para ilustrar claramente os dados. Gráficos e tabelas devem sempre ter
legendas, dizendo exatamente o que representam.
Falhas comuns em artigos técnicos incluem o uso inapropriado de tabelas e
figuras que confundem os leitores, e a falta de análises estatísticas adequadas.
Tabelas devem ser incluídas quando se deseja apresentar
um número pequeno de dados. Não devem ser usadas para listar dados
levantados para se plotar um gráfico. Neste caso apenas o gráfico deve ser
apresentado.
A seção Resultados deve ser apenas longa o suficiente para apresentar as
evidências do estudo.
DISCUSSÃO/CONCLUSÕESApresente argumentos convincentes e adequados, prova matemática,
exemplos, equações, análises estatísticas, padrões/tendências observadas,
opiniões e idéias além da coleção de números coletados e tabelados. Devem
ser feitas comparações com resultados obtidos por outros pesquisadores,
caso existam. Sugira aplicações para o trabalho.
Resumir, apontar e reforçar as idéias principais e as contribuições
proporcionadas pelo trabalho faz parte da discussão/conclusão. A finalização do
artigo pode dizer o que foi aprendido através do seu estudo. A conclusão deve ser
analítica, interpretativa, e incluir argumentos explicativos. Deve ser capaz de
101Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
fornecer evidências da solução de seu problema através dos resultados obtidos
através do trabalho. Cada objetivo deve
ser analisado e confrontado com os achados da pesquisa.
Deve-se ainda comentar sobre os planos para um trabalho futuro com
relação ao mesmo problema, ou modificações a serem feitas e/ou limitações do
método utilizado que poderão ou não serem superadas.
Não apresente conclusões que o trabalho não evidenciar. Isso
denuncia a sua fragilidade de argumentação e falta de conhecimento lógico
do conteúdo desenvolvido. Não faça projeções em cima do provável, do
inexistente, simplesmente para apontar um determinado local de chegada ou
compreensão.
1.7 ITENS COMPLEMENTARES Resumo em língua estrangeira ou Abstract:O Abstract é a versão do Resumo em inglês. Por uma questão de coerência,
ele deve possuir tamanho e significado compatíveis com o resumo em língua
portuguesa. Algumas línguas são mais concisas que outras, mas é inaceitável que
o Resumo e o Abstract contenham divergências. Além disso, a versão em inglês
não deverá ser apenas uma tradução literal ou convencional do resumo, mas sim
uma tradução científica, com a tradução precisa dos termos e expressões técnicas,
ou o seu trabalho poderá ser rejeitado para publicação.
Palavras-chave em língua estrangeira ou Key words:É necessário a inclusão de um conjunto de palavras-chave que
caracterizem o seu artigo. Estas palavras serão usadas posteriormente para
permitir que o artigo seja encontrado por sistemas eletrônicos de busca. Por isso,
você deve escolher palavras-chave abrangentes, mas que ao mesmo tempo
identifiquem o(s) assunto(s) de que trata o artigo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: consultar manuais.
102Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
Ao se elaborar um trabalho é imprescindível a menção dos documentos que
serviram de base para sua produção. Para que esses documentos possam ser
identificados, é necessário que os elementos que permitam sua identificação sejam
reconhecidos, e isto só acontecerá através das referências bibliográficas. A
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define padrões para
apresentação de trabalhos, sem esses padrões fica difícil localizar e identificar as
fontes utilizadas no trabalho científico.
103Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Modelo de um artigo científico
104Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
105Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
106Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
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Unidade III
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Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
110Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
111Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Relatório
É um tipo de comunicação escrita que expõe ou descreve atos ou fatos
referentes a uma
instituição, empresa ou entidade, em que devem constar análise e
apreciação de quem o produz.
Existem relatórios que são produzidos em decorrência de normas legais,
administrativas ou
estatutárias e são apresentados dentro de prazos e modelos previamente
estabelecidos.
Como fazer ?Utilizaremos, como exemplo um Modelo-Síntese de Relatório Administrativo.
Este modelo de relatório é mais utilizado por empresas e entidades. Vamos
conhecer um pouco sobre ele.
Conceito: é o documento elaborado com a finalidade de avaliar o
desempenho de um a empresa, entidade ou instituição. A sua elaboração é
essencial para acompanhar e melhorar o funcionamento destas organizações. É
através do relatório que o dirigente ou gestor toma conhecimento dos dados e
informações relativos às diversas áreas da organização e de suas atuações.
A redação do relatório administrativo deve utilizar uma linguagem mais
técnica referente à área de atuação da organização, porém, sua linguagem deve
ser clara e objetiva;
A apresentação das informações e dos dados é feita de forma descritiva,
devendo-se fazer, também, uma análise dos fatos ocorridos;
Em sua elaboração é comum a utilização de tabelas e gráficos, que têm o
objetivo de sintetizar os dados e informações, bem como, ilustrar fenômenos
ocorridos;
A estrutura usual de um relatório administrativo é a seguinte:
a) Capa;
b) Folha de rosto; 112
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
c) Sumário;
d) Introdução ou apresentação;
e) Conclusão e logo após local,
f) Data e assinatura do relator (logo abaixo da conclusão);
g) Referências;
h) Anexos.
113Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
MODELO DE RELATÓRIO ADMINISTRATIVO DE UMA ONG DA ÁREA DE
PROTEÇÃO AMBIENTAL:
a) Capa:
ORGANIZAÇÃO AMIGO DOS BICHOS
Rua Tamanduá Bandeira, s/n, Bairro Mico Preto. Salvador-Ba
Tel: 232546-1254 . CNPJ: 215245212/0001
(Logomarca da Organização)
RELATÓRIO DE ATIVIDADES
(Janeiro à Dezembro de 2003)
Relator: João dos Pássaros - Diretor
Requerente: Organização financiadora nome..........................
114Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
Salvador-BAFevereiro de 2004
b)Folha de rosto:
ORGANIZAÇÃO AMIGO DOS BICHOS
Rua Tamanduá Bandeira, s/n, Bairro Mico Preto. Salvador-Ba
Tel: 232546-1254 . CNPJ: 215245212/0001
RELATÓRIO DE ATIVIDADES
(Janeiro à Dezembro de 2003)
Relatório elaborado pela Assessoria Técnica – ASTEC, contendo o resultado do desempenho da organização do exercício de 2003.
Equipe Responsável : Fulano de Tal; Beltrano. Coordenador: João do Pássaros
115Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Salvador-BAFevereiro de 2004
c) Sumário (em uma página inteira)
SUMÁRIO
1.0) INTRODUÇÃO..............................................................................................................p.
1.1) Organização de passeatas............................................................................................p.
1.2) Campanhas de Mobilização contra a utilização de cobaias em laboratórios.................p.
1.3) Campanhas de vacinação animal................................................................................p.
1.4) Palestras em universidades e escolas.........................................................................p.
1.5) Capacitação de guardas florestais.................................................................................p.
1.6) Captação de recursos..................................................................................................p.
1.7) Aumento do quadro de funcionários e voluntários........................................................p
2.0) CONCLUSÃO.................................................................................................................p.
3.0) REFERÊNCIAS.............................................................................................................p.
4.0) ANEXOS....................................................................................................................... p.
116Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade III
d) Desenvolvimento da apresentação ou introdução, dizendo quais os
objetivos e motivos do relatório (em outra página);
e) Desenvolvimento de cada item do sumário, descrevendo as atividades e
analisando-as criticamente.
Dizer se surtiu o efeito esperado, como, quem participou e quando ocorreu
cada uma delas (em outra página);
f) Desenvolvimento da conclusão, fazendo as devidas considerações finais e
sugestões propostas.
(em outra página);
g) Referências: lista de locais ou fontes onde foram encontrados os dados
utilizados.
(em outra página);
h) Anexos : Contendo tabelas, documentos, folderes utilizados nas
campanhas, fotos, gráficos etc...
117Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
IFaculdade Atenas Maranhense – FAMA
UNIDADETipologia textual acadêmica
Dissertação IDissertação IIDissertação IIINarração - técnicas de reaçãoDescrição
118Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Dissertação I
Dissertar é o ato de discorrer sobre determinado assunto, buscando sempre
argumentações que levem a alguma conclusão.
Para elaborar uma dissertação de vestibular, o aluno deve, antes de
começar a escrever, planejar cuidadosamente o texto. O planejamento da
dissertação deve seguir rigorosamente os seguintes aspectos:
1) Ler atentamente o tema, buscando as mensagens que o autor da frase
quis passar ao leitor, ou seja, descobrir a intenção do autor ao escrever
a frase.
2) Reler o tema, anotando as palavras-chave - palavra que encerra o
significado global de um contexto, ou que o explica e identifica-o.
3) Interpretar o tema denotativamente: definir o sentido do tema, ou seja,
alcançar com a inteligência a intenção do autor, buscando as
mensagens que ele quis passar ao leitor, partindo das palavras-chave e
elaborando perguntas relacionadas ao tema.
4) Interpretar, se necessário,conotativamente o tema: compreender o
significado das palavras usadas em sentido figurado.
5) Delimitar a idéia apresentada pelo tema: reestruturar o tema com suas
próprias palavras, de acordo com a interpretação feita anteriormente, ou
seja, escrever um pequeno parágrafo, demonstrando o que você
entendeu do tema.
6) Decidir qual será o objetivo final de seu texto, ou seja, qual será a
conclusão a que se quer chegar.
7) Refletir sobre os argumentos que poderão ser utilizados para chegar à
conclusão escolhida, selecionando aqueles que mais condizem com o
tema.
8) Elaborar a dissertação.
Método 1 para elaborar a dissertação: A primeira providência é
perguntar ao tema por quê? Escolha duas ou três respostas, que
serão utilizadas como argumentos no desenvolvimento. Por exemplo:
"As cidades modernas estão tornando-se desumanas."119
Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Por quê?
1. Tem ocorrido o inchaço populacional.
2. O trânsito torna-se a cada dia mais violento.
3. A poluição prejudica a saúde do homem.
Escritas as respostas, passaremos a pensar na introdução:
Introdução: Para elaborar a introdução, pode-se reescrever o tema,
reestruturando-o sintaticamente. Para isso, utilize suas próprias palavras, não
apenas substituindo as do tema por sinônimos e apresente os três argumentos das
respostas. Por exemplo:
"Viver bem nas cidades modernas, a cada dia que passa, torna-se mais difícil, pois o número de habitantes tem aumentado exageradamente, a violência no trânsito parece ter-se tornado incontrolável e os índices de poluição crescem cotidianamente, o que leva as metrópoles a serem consideradas desumanas."
Pronto. Eis aí um rascunho da introdução. Depois, passe-o a limpo,
aprimorando-o, ou seja, melhorando sua estrutura sintática.
A introdução deve conter aproximadamente 5 linhas.
Desenvolvimento: O desenvolvimento da redação é a apresentação dos
argumentos, cada um em um parágrafo diferente, utilizando elementos concretos,
exemplos sólidos, que sejam importantes para a sociedade de um modo geral.
No primeiro parágrafo do desenvolvimento da redação citada, argumenta-se
sobre as causas e as conseqüências do inchaço populacional, exemplificando.
No segundo parágrafo, discute-se acerca do trânsito, que está cada dia mais
caótico e violento.
No terceiro parágrafo, apresenta-se a poluição como elemento importante na
discussão sobre a desumanização das cidades modernas.
Cada parágrafo do desenvolvimento também deve conter aproximadamente
5 linhas.120
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Conclusão: A conclusão pode iniciar-se com uma expressão que remeta ao
que foi dito nos parágrafos anteriores, tentando buscar uma solução. A ela deve
seguir-se uma reafirmação do tema e um comentário sobre os fatos mencionados
ao longo da dissertação. Por exemplo:
"É imprescindível que todos os cidadão se conscientizem de que cada um deve tentar minimizar os problemas urbanos, diminuindo os índices de poluição, racionalizando o trânsito e conseguindo moradia decente para todos. Só assim se conseguirá viver humanamente nas cidades modernas."
Esse foi o objetivo escolhido antes de iniciar a dissertação: a conscientização
de que, se os principais problemas das grandes cidades não forem diminuídos, não
haverá possibilidades de se viver humanamente.
121Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Dissertação II
A dissertação é dividida em três partes - Introdução, desenvolvimento
e conclusão.
Introdução:
O primeiro parágrafo da dissertação deve conter a informação do que
será argumentado e/ou discutido no desenvolvimento.
A introdução deve ser elaborada em um parágrafo de
aproximadamente cinco (05) linhas, só em um parágrafo, nunca mais do que
um parágrafo.
Tudo o que for citado na introdução deve ser discutido no
desenvolvimento; o que não for citado na introdução não deve ser discutido
no desenvolvimento.
A introdução é uma espécie de índice do desenvolvimento.
Desenvolvimento:
É a redação propriamente dita. É onde os argumentos devem ser
discutidos.
Cada argumento deve ser discutido em apenas um parágrafo. Um
argumento nunca deve ultrapassar um parágrafo só e, em um mesmo
parágrafo, não se devem discutir dois argumentos.
Os assuntos a serem inclusos no desenvolvimento devem ser
importantes para a sociedade de um modo geral. Os assuntos pessoais, ou
os muito próximos dos acontecimentos cotidianos, devem ser evitados.
122Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Tenha sempre em mente que o examinador de sua dissertação
provavelmente seja uma pessoa culta, que lê bons jornais e revistas e tem
bastante conhecimento geral, portanto não generalize, demonstre toda a sua
cultura adquirida nas leituras de revistas, jornais e livros.
Conclusão:
A conclusão é o encerramento da dissertação, portanto nunca
apresente informações novas nela; se ainda há argumentos a serem
discutidos, não inicie a conclusão.
Procure terminar a redação com conclusões consistentes, e não com
evasivas.
Este parágrafo deve concluir toda a redação, e não apenas o
argumento do último parágrafo do desenvolvimento.
A conclusão deve ser elaborada em um parágrafo de
aproximadamente cinco (05) linhas; só em um parágrafo, nunca mais do que
um parágrafo.
Obs.: Apesar de a conclusão ser o encerramento da redação, ela já
deve estar praticamente preparada no momento de escrevê-la. Quando fizer
o planejamento, antes de começar a redação, pergunte-se A que conclusão
quero chegar com os argumentos que apresentarei?
As três maneiras:
01) Resumo / Argumentação / Perspectiva.
Este é o método da pergunta ao tema. Pergunta-se ao tema Por quê?,
dando, posteriormente, três respostas com frases completas, que tragam
argumentos importantes.
123Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Trabalhe hoje com o tema:
Um dos únicos bens que a miséria não extingue é a solidariedade.
Introdução - Resumo:
Na introdução, pode-se apresentar o resumo daquilo que será
discutido no desenvolvimento.
Procede-se da seguinte maneira: Reescreva o tema com suas
próprias palavras (Paráfrase), acrescentando a isso as três frases
apresentadas como respostas à pergunta feita ao tema.
Importante: Tente REESCREVER o tema mesmo. Evite apenas trocar
as palavras por sinônimos. Tente reestruturar sintaticamente o tema.
Algumas idéias para o tema apresentado:
a. O homem é bom por natureza. A solidariedade é
inerente ao ser humano.
b. Mesmo o homem que perde sua bondade, que é
corrompido pela sociedade, pode ser solidário com seus
semelhantes. Por exemplo, os traficantes do Rio de
Janeiro que ajudam a comunidade.
c. A solidariedade pode existir até por necessidade. Alguns
podem agir solidariamente, porque, se assim não o
fizerem, correm o risco de também não serem ajudados.
d. Os miseráveis são solidários entre si, pois, se não o
forem, ninguém o será, nem a elite, nem o governo.
124Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Desenvolvimento - Argumentação:
Discuta sobre cada frase apresentada nas respostas que você deu à
pergunta Por quê?.
Não se esqueça de que cada argumento deve ser discutido em um
parágrafo, só em um parágrafo, e também não se esqueça de que não se
discutem dois argumentos em um só parágrafo.
Não generalize.Trabalhe com argumentos concretos, consistentes, que realmente
sejam importantes para a sociedade de um modo geral.
Escolha dois ou três argumentos apenas, para serem discutidos no
desenvolvimento. Não se empolgue. É melhor discutir profundamente poucos
argumentos do que superficialmente muitos.
Conclusão - Perspectiva:Apresentar perspectiva na conclusão é expor soluções para os
problemas discutidos, visando à conscientização geral. É iniciar a conclusão
com frases como:
É necessário que todos se conscientizem de que...É imprescindível que a sociedade se conscientize de que...É preciso que haja uma conscientização por parte dos cidadãos para que...
02) Trajetória histórica / Comprovação / Conclusão.
Introdução - Trajetória histórica:
125Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Buscar a argumentação no passado, trazendo-a posteriormente para o
presente, ou seja, apresentar um fato histórico ou uma personagem
importante para a sociedade de um modo geral do passado e outro fato ou
personagem do presente.
Duas idéias para o tema apresentado:Passado (Séc. XVII) - ZumbiPresente (Séc. XX) - Madre Tereza de Calcutá
Desenvolvimento - Comprovação:Discutir sobre os fatos ou personagens apresentados, cada um em um
parágrafo.
Conclusão - Conclusão:Iniciar a conclusão com uma conjunção coordenativa conclusiva (logo,
portanto, por conseguinte, por isso, então...).
Deve-se tomar muito cuidado nessa conclusão, pois uma conjunção
liga orações, no entanto, nesse caso, ela estará ligando a conclusão ao resto
da redação. Deve-se concluir a redação toda, e não somente o último
parágrafo do desenvolvimento.
03) Paráfrase / Exemplificação / Retomada da tese.
Introdução - Paráfrase:Parafrasear o tema é reescrevê-lo.
Tome cuidado para não apenas substituir as palavras por sinônimos.
Tente reestruturar sintaticamente o período.
126Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Veja o que o Michaelis - Moderno Dicionário da Língua Portuguesa
registra como sinônimo de paráfrase:Explicação ou tradução mais
desenvolvida de um texto por meio de palavras diferentes das nele
empregadas.
Agora veja o que diz o Dicionário Aurélio:Modo diverso de expressar
frase ou texto, sem que se altere o significado da primeira versão. Portanto
sua frase deve ser mais desenvolvida que a frase apresentada como tema, e
as palavras devem ser diferentes, e não sinônimas.
Desenvolvimento - Exemplificação:Buscar exemplos importantes para a sociedade de um modo geral.
Exemplos que mostrem sua cultura, seu conhecimento do mundo, seu grau
de informação.
Anda mal de informações? Então leia jornais, revistas, livros.
Interesse-se pelo mundo. Busque informações as mais variadas possíveis.
Conclusão - Retomada da tese:Retornar à introdução para concluir a redação. É parafrasear a sua
introdução, ou seja, parafrasear a paráfrase feita anteriormente, com o intuito
de encerrar o assunto.
Pronto. Aí estão as três maneiras simples de se elaborar a
dissertação. Um aviso: de nada adianta você memorizar tudo o que está
escrito aqui se não praticar; dissertação só se aprende na prática, então
PRATIQUE.
Até mais ver.
127Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Dissertação III
Perguntas e respostas
A dissertação é o gênero de texto exigido dos vestibulandos em
grande parte dos vestibulares do país - ou seja, se você quer garantir sua
vaga em uma universidade, dificilmente vai conseguir escapar de aprendê-la.
A professora Marleine de Toledo, formada em direito e letras pela
USP, dá dicas sobre o assunto:
Como fazer uma boa dissertação?A dissertação exige amadurecimento no assunto tratado,
conhecimento da matéria, pendor para a reflexão, raciocínio lógico, potencial
argumentativo, capacidade de análise e de síntese, além do domínio de
expressão verbal adequada e de estruturas lingüísticas específicas.
Como começar uma dissertação?Normalmente, o aluno de redação manifesta sua angústia: "Não sei
como iniciar". Não sabe como iniciar, porque não sabe como desenvolver e
como concluir, simplesmente porque não organizou um plano. Nas palavras
de Boaventura, "o plano é o itinerário a seguir: 'um ponto de partida', onde se
indica o que se quer dizer, e 'um ponto de chegada', onde se conclui. Entre
os dois, há as etapas, isto é, as 'partes' da composição. Construir o plano é,
em última análise, estabelecer as divisões".
Como estruturar uma dissertação?
128Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
No livro "Como Ordenar as Idéias", Edivaldo M. Boaventura resume
muito bem aquilo que o bom-senso diz a respeito de todo o texto escrito: "A
arte de bem exprimir o pensamento consiste em saber ordenar as idéias. E
como se ordenam as idéias? Fazendo a previsão do que se vai expor". É
preciso pensar nas partes do seu texto.
Como você resumiria essas "partes" da argumentação?A argumentação deve iniciar-se com a apresentação clara e definida
do tema ou do juízo que se tem em mente e irá ser comprovado. A "segunda
parte" da argumentação destina-se a oferecer as provas ou argumentos que
confirmem a tese. É comum colocarem-se os argumentos em ordem
crescente de importância. A "terceira fase" consiste em exibir contra-provas
ou contra-argumentos e refutá-los, isto é negá-los. Na "última parte", ou
síntese recapitulam-se os argumentos apresentados e conclui-se, com a
reafirmação da tese.
Pode-se dizer que a argumentação é uma demonstração?Se um limite da argumentação é a dissertação expositiva, o outro é a
demonstração. Para Tércio Sampaio Ferraz Júnior, jurista e filósofo do
direito, a demonstração fundamenta-se na idéia de evidência, que é a força
perante a qual todo pensamento do homem normal tem de ceder. Assim, no
raciocínio demonstrativo, toda prova consiste em uma redução à evidência.
Já a argumentação abrange as "técnicas discursivas que permitem provocar
ou aumentar a adesão dos espíritos às teses" que lhes são apresentadas.
Portanto, como dizem Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca em seu
"Tratado da Argumentação - A Nova Retórica", não se deve confundir "os
aspectos do raciocínio relativos à verdade e os que são relativos à adesão".
O que é dissertação argumentativa?
129Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Na verdade, há dois tipos de dissertação. Podemos falar em
dissertação expositiva, em que se expressam idéias sobre determinado
assunto, sem a preocupação de convencer o leitor ou ouvinte. Já a
dissertação argumentativa implica a defesa de uma tese, com a finalidade de
convencer ou tentar convencer alguém, demonstrando, por meio da
evidência de provas consistentes, a superioridade de uma proposta sobre
outras ou a relevância dela tão-somente.
Mais especificamente, o que é argumentação?Uma argumentação é uma declaração seguida de provas. Pierre
Oléron define o ato de argumentar como: "método pelo qual uma pessoa - ou
um grupo - intenta levar um auditório a adotar uma posição através do
recurso a apresentações ou a asserções - argumentos - que visam mostrar a
validade ou fundamento daquela".
Qual a diferença entre argumentação e dissertação?Nenhuma. A argumentação é uma dissertação com uma
especificidade, a da persuasão. Dissertando apenas, podemos expor com
neutralidade idéias com as quais não concordamos. Por exemplo, um
professor de filosofia que não concorde com as idéias de Karl Marx pode
expô-las com isenção, dissertando sobre elas. Mas se for um marxista
convicto e quiser influenciar seus discípulos, tentará provar-lhes, com
raciocínios coerentes e argumentos convincentes, que essas idéias são
verdadeiras e melhores: estará, então, argumentando.
O que é preciso para argumentar?Para argumentar é preciso, em primeiro lugar, saber pensar, encontrar
idéias e concatená-las. Assim, embora se trate de categorias diferentes, com
objetos próprios, a argumentação precisa ter como ponto de partida 130
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
elementos da lógica formal. A tese defendida não se impõe pela força, mas
pelo uso de "elementos racionais" - portanto toda argumentação "tem
vínculos com o raciocínio e a lógica", como disse Oléron na obra já citada.
Lógica – Argumento: Um conjunto de enunciados articulados entre si
Heidi Strecker*
Especial para Página 3 - Pedagogia & Comunicação
A noção de argumento é fundamental para a lógica. Argumento é um
conjunto de enunciados que estão relacionados uns com os outros.
Argumento é um raciocínio lógico.
Observe o seguinte argumento:
Todos os homens são mortais.Sócrates é homem.Logo, Sócrates é mortal.
Este é um argumento formado por duas premissas e uma conclusão.
Os dois primeiros enunciados são as premissas e o último enunciado
é a conclusão. Os fatos apresentados nas premissas servem de evidência
para a conclusão, isto é, são eles que sustentam a conclusão.
Para que o argumento seja válido, não basta que a conclusão seja
verdadeira. É preciso que as premissas e a conclusão estejam relacionadas
corretamente. Distinguir os raciocínios corretos dos incorretos é a principal
tarefa da lógica.
Os argumentos sempre apresentam uma ou mais premissas e uma
conclusão.
Silogismo categórico é um argumento composto por três enunciados,
sendo duas premissas e uma conclusão.
Vejamos um exemplo:
131Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Todo molusco é invertebrado. premissaO caracol é um molusco. premissaLogo, o caracol é invertebrado. conclusão
Observamos que este argumento tem a mesma forma lógica do
primeiro argumento apresentado. Ambos são silogismos categóricos. Ambos
são argumentos válidos. Todos os argumentos que apresentarem esta forma
lógica serão argumentos válidos.
Todo A é B.C é A.Logo, C é B.
ProposiçõesTanto as premissas quanto a conclusão de uma argumento são
proposições. Proposição é uma frase informativa cujo conteúdo pode ser
verdadeiro ou falso. Proposições são enunciados simples compostos de
quantificador, termo/sujeito, cópula e termo/predicado.
Vamos observar:
Levando em conta que:termo/sujeito = homem
132Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
termo/predicado = mortal
Podemos representar esta proposição da seguinte maneira:
Todo S é P.
Vejamos esta outra proposição:
Todo metal é condutor de eletricidade.
Se observamos bem, vemos que esta última proposição pode ser
representada da mesma maneira:
Todo S é P.
Concluímos que a lógica não se interessa particularmente pela
hombridade de Sócrates ou pelas propriedades dos metais. Não é o
conteúdo das proposições que interessa à lógica. A lógica tem grande
interesse nos raciocínios e naquilo que torna alguns argumentos válidos e
outros inválidos.
Verdade e validadeJá sabemos que argumento é a passagem de uma ou mais premissas
a uma conclusão. Sabemos também que é preciso que a conclusão derive
das premissas. Pois bem, quando a conclusão é uma conseqüência
necessária das premissas, dizemos que o argumento é válido. Quando a
conclusão não é uma conseqüência necessária das premissas, dizemos que
o argumento é inválido.
A validade de um argumento, portanto, depende se sua estrutura,
depende da maneira como este argumento está organizado. Vejamos o
argumento abaixo:
133Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Todos os ziriguiduns são tchutchucas.Pedrinho é um ziriguidum.Logo, Pedrinho é um tchutchuca.
Este é um argumento válido. Isto quer dizer que, mesmo não sabendo
o que significa ziriguidum ou tchutchuca, sabemos com certeza que, se as
duas premissas forem verdadeiras, a conclusão também será verdadeira.
134Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Naração – técnicas de redação
Narração: o enigma
Você gosta de uma boa história? Pois saiba que o enigma, um dos tipos de
narrativa mais populares, pode ser a chava para que sua redação prenda o leitor.
Veja abaixo dicas e elementos do gênero, trechos que servem de exemplo, e saiba
quem são os maiores escritores de tramas. Aproveite para conhecer também a
fábula e a crônica, outras derivações da narrativa. Quem é o assassino? O
mordomo, diriam alguns...
O mistério de um crime a ser desvendado é um dos modelos o mais bem
sucedidos de enigma... Leia a seguir um trecho em que aparece o mais famoso
detetive de todos os tempos, Sherlock Holmes que, acompanhado do dr. Watson,
está prestes a resolver um grande mistério: o que seriam os uivos apavorantes do
cão, que assustava quem vivia no castelo de Baskerville? Quem ou o que matou os
herdeiros do Castelo, dando início a uma tradição de maldição?
O Cão dos Baskervilles[...] “Onde está ele?”, cochichou Holmes, e eu vi pela expressão de sua voz que ele, o homem de ferro, estava abalado até a alma. “Onde está ele, Watson?”“Lá, acho eu.” Apontei para a escuridão.“Não, lá!”
Novamente o grito de agonia passou pela noite silenciosa, mais alto e muito mais perto do que nunca. – E um novo som misturou-se com ele, um troar sussurrado e diminuindo como o murmúrio baixo e constante do mar.“O cão!”, exclamou Holmes. “Venha, Watson, venha! Deus nos livre de chegarmos tarde demais!”Ele havia começado a correr rapidamente pela charneca, e eu o seguia nos seus calcanhares. Mas agora, de alguma parte por entre o terreno irregular imediatamente à nossa frente, veio o último grito desesperado e depois uma pancada forte e ensurdecedora. Paramos e ficamos ouvindo. Nenhum outro som rompeu o silêncio da noite sem vento.
135Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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(Sir Arthur Conan Doyle. "O Cão dos Baskervilles". Rio de Janeiro, Francisco
Alves, 1987)
Enredo, personagens e narradorA narrativa de enigma tem como personagens o criminoso, a vítima, os
suspeitos, o detetive. Analise o trecho "o homem de ferro estava abalado até a
alma". Veja como ela indica uma característica fundamental de Sherlock Holmes:
seu jeito de ser que nunca demonstra medo ou descontrole emocional. Assim
costumam ser os detetives das histórias de suspense e enigma.
A narrativa se desenvolve a partir de um crime cometido, e o leitor
acompanha todos os procedimentos da investigação, por meio do olhar do narrador.
Uma das características da narrativa de enigma é o fato de que a história da
investigação é freqüentemente contada por um amigo do detetive, no papel de
narrador. Esse, na maioria das vezes, reconhece estar escrevendo um livro e, assim
como o leitor, desconhece o que vai acontecer, ao longo da história - o que ajuda a
criar o suspense...
A linguagemRepare como, no trecho selecionado "O Cão de Baskerville", adjetivos e
locuções adjetivas auxiliam na caracterização do ambiente sombrio.
• homem de ferro,
• grito de agonia,
• novo som,
• grito mais alto,
• grito muito mais perto,
• último grito desesperado,
• noite silenciosa,
• troar sussurrado,
• grito desesperado,
• murmúrio baixo e constante do mar,
136Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
• pancada forte e ensurdecedora,
• noite sem vento.
Observe também o papel dos advérbios: rapidamente, imediatamente que
dão à cena rapidez nas ações de investigação por parte do detetive e seu ajudante.
Analise ainda a escolha de termos que ajudam a criar o suspense:
"cochichou Holmes"; "nenhum outro som rompeu o silêncio da noite". Veja que
"cochichar" indica que os dois personagens estão em uma situação em que os
mínimos gestos são importantes. No uso do verbo "romper" há a idéia de que o
silêncio pode ser prenúncio de ataque, de morte, mas nada é forte suficientemente
para "romper com o silêncio", para acabar com ele.
O mais famoso dos detetivesO detetive Sherlock Holmes é britânico, culto, um verdadeiro aristocrata,
criado por Conan Doyle (1859-1930). Holmes desvenda seus mistérios de maneira
sutil e elegante. O detetive, protagonista de aventuras interessantes, chegou a ser
tão famoso que muita gente não acredita que seja uma personagem. Seu amigo
inseparável, John Watson, é o narrador dos seus casos. Watson é inteligente, mas o
mestre o supera de longe, no uso do raciocínio dedutivo.
Agatha ChristieChamada de "a rainha do crime", Agatha Christie foi autora de cerca de 84
romances policiais, escritos ao longo de meio século. Foi a criadora do famoso
detetive Hercule Poirot e de Miss Marple, simpática velhinha inglesa, perspicaz na
observação de detalhes da conduta humana.
De modo geral, pode-se dizer que a narrativa de enigma tem um único
detetive, uma vítima e um culpado. O culpado não deve ser o detetive, nem alguém
muito óbvio para o leitor: a governanta, a camareira, o mordomo. Não há
desenvolvimento de romances ou paixões; não há aprofundamento na descrição
psicológica, apenas o suficiente para o leitor compreender a mentalidade do
criminoso e, principalmente, nada pode ser explicado pelo acaso ou pelo
sobrenatural. Tudo deve ser explicado de modo racional.
137Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Descrição
Introdução: A descrição é um texto, literário ou não, em que predominam
verbos de estado e adjetivos que caracterizam pessoas, ambientes e objetos. É
muito raro encontrarmos um texto exclusivamente descritivo. Quase sempre a
descrição vem mesclada a outras modalidades, caracterizando uma personagem,
detalhando um cenário, um ambiente ou paisagem, dentro de um romance, conto,
crônica ou novela.
Assim, a descrição pura geralmente aparece como parte de um relatório
técnico, como no caso da descrição de peças de máquinas, órgãos do corpo
humano, funcionamento de determinados aparelhos (descrição de processo).
Dessa maneira, na prática, seja literária ou técnico-científica, a descrição é
sempre um fragmento, é um parágrafo dentro de uma narração, é parte de um
relatório, de uma pesquisa, de dissertações em geral.
Mas o estudante precisa aprender a descrever; a prática escolar assim o
exige. Geralmente pede-se u texto menor que a narração ou a dissertação. Um
texto descritivo com aproximadamente 15 linhas costuma conter todos os aspectos
caracterizados que permitam ao leitor visualizar o ser ou objetivo descrito. Para
tanto, o observador deve explorar as sensações gustativas, olfativas, auditivas,
visuais, táteis e impressões subjetivas.
O que se descreve: Podemos descrever o que vemos (aquilo que
está próxima), o que imaginamos (aquilo que conhecemos mas não está
próximo no momento da descrição) ou o que nossa imaginação cria, qualquer
entidade inventada: um ser extraterreno, uma mulher que você nunca viu, uma
futurista, um aparelho inovador etc.
Como se descreve: De acordo com os objetivos de quem escreve, a
descrição pode privilegiar diferentes aspectos:
pormenorização – corresponde a uma persistência na caracterização
de detalhes;
dinamização – é a captação dos movimentos de objetivos e seres;138
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
impressão – são os filtros da subjetividade, da atividade
psicológica, interpretando os elementos observados.
A organização da descrição: No processo de composição de uma
redação descritiva, o emissor seleciona os elementos organiza para levar o
receptor a formar ou conhecer a imagem do objetivo descrito, isto é, a concebê-
lo sensorial ou perceptualmente.
A descrição é fundamentalmente espacial. Eventualmente pode aparecer um
índice temporal, porém sua função é meramente circunstancial, serve apenas
para precisar o registro descritivo.
Observe como Vinícius de Morais descreve a casa materna, priorizando o
espaço, mas situando-a num tempo subjetivo que só existe nas impressões
interiorizadas da lembrança do observador:
A casa materna
Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão têm uma velha ferrugem e trinco se oculta num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas plantas, tinhorões a samambaias que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta de almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em prece, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mudamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de quando as mãos maternas careciam sonhar.A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava ao tempo que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras aberturas para quartos cheios de sombras. Na estante, junto à escada, há um tesouro da juventude com o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo que passaria a ser para ele a forma suprema de beleza: o verso.
139Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais. Pois a casa materna se divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas espadas, untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoito de araruta – pois não há lugar mais ´propício do que a casa materna para uma boa ceia noturna . E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em cima ficaram guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe por que queima, às vezes, uma vela votiva. E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo como se marca ainda na velha poltrona da sala e como se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para sempre da casa, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se faziam mais lentas e mãos filiais mais unidas em torno da grande mesa, onde já vibram também vozes infantis.
(Vinícius de Morais)
Elementos predominantes na descrição:
• Frases nominais (sem verbo) ou orações em que predominam verbos de
estado ou condição.
Sol já meio de esguelha, sol das três horas. A areia, um borralho de quente.
A caatinga, um mundo perdido. Tudo, tudo parado: parado e morto.(Mário Palmério)
Efetivamente a rua era aquela; e o velho palácio estava na minha frente. Era um palácio de trezentos anos, cor de barro, que me parecia muito familiar quanto ao desenho de sua alta porta, aos ornatos das colunas e ao lançamento da escada do vestíbulo.(Cecília Meireles)
•Frases enumerativas: seqüência de nomes, geralmente sem verbo.
“A cama de ferro; a colcha branca, o travesseiro com fronha de morim. O lavatório esmaltado, a bacia e o jarro. Uma mesa de pau, uma cadeira de pau, o tinteiro, papéis, uma caneta. Quadros na parede.” (Érico Veríssimo)
•Adjetivação: caracterizadores qualificando nomes.140
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
A pele da cabocla era desse moreno enxuto e parelho das chinesas. Tinha uns olhos graúdos, lustrosos e negros como os cabelos lisos, e um sorriso suave e limpo a animar-lhe o rosto oval de feições delicadas. (Érico Veríssimo)
•Figuras de linguagem: recursos expressivos, geralmente em linguagem
conotativa? A mais usadas na descrição são a metáfora, a compara;’ao, a
prosopopéia, a onomatopéia e a sinestesia.
O rio era aquele cantador de viola, em cuja alma se refletia o batuque das estrelas nuas, perdidas no vácuo milenarmente frio do espaço...Depois ele ia cantando isso de perau em perau, de cachoeira em cachoeira... (Bernardo Elis)
•Sensações: uso dos cinco sentidos, ou seja, das percepções visuais,
auditivas, gustativas, olfativas e táteis.
Os sons se sacodem, berram...Dentro dos sons movem-se cores, vivas, ardentes...Dentro dos sons e das cores, movem-se os cheiros, cheiro de negro...Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais...Tatos, sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre... (Graça Aranha)
A descrição convencional
Leia o texto abaixo e observe a técnica descritiva explorada pelo autor, para
descrever convencionalmente um canário.
A praça, o templo. Lugar de encontro. Os homens reunidos para a discussão, para o divertimento, para as rezas. Perguntas e perguntas, respostas, respostas, diálogos com Deus, passeatas, sermões, discursos, procissões, bandas de música, circos, mafuás, andores carregados, mastros e bandeiras, carrosséis, barracas, badalar de sinos, girândolas e fogos de artifício lançados para o alto, ampliando, na direção das torres, o espaço horizontal da praça. Joana, descalça, vestida de branco, os cabelos ouro esvoaçado, traz sobre o peito a imagem emoldurada de São Sebastião. Por cima dos ombros, encobrindo-lhe braços, mãos, e tão comprida que quase chega ao solo, estenderam uma toalha de crochê, com figuras de centauro. As setas grossas, no tronco do santo, parecem atravessá-lo, cravar-se firmes em Joana. Por trás, numa fila torta, cantando em altas vozes, com velas acesas, muitas mulheres. A noite de dezembro não caiu de todo, alguma luz diurna resta no ar. Posso ver que os olhos de Joana
141Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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são azuis e grandes; e que seu rosto, embora desfigurado, pois ela ainda está convalescente, difere de todos que encontrei, firme e delicado a um tempo. Adaga de cristal. (...) Meio cega, ausente das coisas, febril, as pernas mortas. (Osman Lins)
Nesta descrição, impressões líricas compõem a imagem mística de uma
mulher enferma. A linguagem moderna de Osman Lins alterna a concisão das
frases nominais com a sinuosidade das frases verbais.
As frases nominais, telegráficas, abrem o texto, formando, num único
parágrafo, uma seqüência de enumerações, onde estão justapostos elementos de
natureza diversa: o humano X o divino, o concreto X o abstrato. O segundo
parágrafo estende-se entre breves frases nominais e frases de maior complexidade:
“Por cima dos ombros, encobrindo-lhe braços, mãos, e tão comprida que quase
chega ao solo, estenderam uma toalha de crochê, com figuras de centauro.”
As impressões do autor, através da adjetivação, registram fartamente os
aspectos visuais:”os olhos de Joana são azuis e grandes.” As sensações auditivas
aparecem num flagrante: “cantando em altas vozes.”
O subjetivismo está não apenas na manifestação do autor, em 1ª pessoa,
mas também nas captações pessoais, únicas, metafóricas: “As setas grossas, no
tronco do santo, parecem atravessá-la, cavar-se firmes em Joana”; “firme e delicado
a um tempo. Adaga de cristal.”
Há, ainda, fragmentos de descrição estática (“Joana descalça, vestida de
branco (...) traz sobre o peito a imagem de São Sebastião.” E dinâmica (“ os cabelos
de ouro esvoaçando”; “cantando em altas vozes”).
Assim, o texto compõe o retrato de um cenário e das pessoas que o animam,
entre objetos, cores e movimentos liricamente caracterizados.
A descrição original
Veja como, aos olhos de um observador sensível, até uma prosaica cena
ganha impressões inesperadas.
O esmagamento das gotas142
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechada e cinza, aqui contra a sacada, com gatões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um através do outro. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu e se esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai cair, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gatona que se prende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore.
(Júlio Cortázar)
Júlio Cortazar transforma em testemunho descritivo a experiência de
observar a chuva e particularizá-la na gota pendente da janela. A tímida e indefinida
impressão inicial (“Eu não sei, olhe, é terrível como chove”) dá lugar a uma dinâmica
caracterização que atribui movimento e vida a uma gota de chuva, através da
concentração de imagens visuais e onomatopéias (plaf,zup), personificando sua
resistência e aniquilamento: “fica tremelicando (...), vai crescendo e balouça, (...).
Está segura com todas as unhas, não quer cair (...) ela se agarra com os dentes
enquanto lhe cresce a barriga”; “se prende majestosa”.
As experiências sensoriais na descrição
A descrição está intimamente ligada à experiência das sensações físicas e
das percepções subjetivas. O leitor capta impressões sensoriais e psicológicas
transmitindo-as através de recursos expressivos de linguagem. Assim, a descrição
traduz com palavras a especialidade de uma imagem bem como estados de
espírito, traços de personalidade e comportamento que seres e objetivos suscitam
no observador.
Sensações visuaisAs sensações visuais e/ou percepções visuais são as mais freqüentes e
estão relacionadas a cor, forma, dimensões, linhas etc. Quando especificamente
relacionadas as cores, são chamadas cromáticas.
Companheiros de classe
143Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me divertia. O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, mobilidade brusca e caretas de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor; (...) o Maurílio, nervoso, insofrido, fortíssimo na tabuada: cinco vezes três, vezes dois, noves fora, vezes sete? ... lá estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos no rosto moreno, marcado por uma pinta na testa; o negrão, de ventas acesas, lábios inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz de ficar sentado três minutos, sempre à mesa do professor e sempre enxotado, debulhando um risinho de pouca-vergonha (...) (Raul Pompéia)
Sensações auditivasMuito comuns, as sensações e/ou percepções auditivas estão relacionadas
ao som (intensidade, altura, timbre, proveniência, direção, ausência etc).
Está sempre a rir, sempre a cantar. Canta o dia inteiro, num tom arrastado, apregoando as revistas que vende.(Graciliano Ramos)
Sensações gustativasAs sensações e/ou percepções gustativas relacionam-se ao paladar (doce,
azedo, amargo, salgado etc).
E a saliva daqueles infelizes Inchava em minha boca, de tal arteQue eu, para não cuspir por toda parte,Ia engolindo aos poucos a hemoptise. (Augusto dos Anjos)
Sensações olfativasAs sensações e/ou percepções olfativas relacionam-se a cheiro (um
perfume, o hálito, uma fragrância etc).
A avenida é o mar dos foliõesSerpentinas cortam o ar carregado de éter, rolam das sacadas...
(Marques Rebelo)
144Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Sensações táteis
As sensações e/ou percepções táteis resultam do contato da pele com os
objetos (aspereza, calor, frio etc.).
A tua mão é dura como casca de árvore, ríspida e grossa como um cacto. (Cassiano Ricardo)
Observe,a seguir, como Graça Aranha mescla, de forma original, todos os
sentidos, num texto denso de imagens:
Carnaval
Maravilha do ruído, encantamento do barulho. Zé Pereira, bumba, bumba. Falsetes, zombeteiam. Viola chora e espinoteia. Melopéia negra, melosa, feiticeira, candomblé.
Tudo é instrumento, flautas, violões, reco-recos, saxofones, pandeiros, liras, gaitas e trompetes. Instrumentos sem nome, inventados no delírio da improvisação, do ímpeto musical. Tudo é canto. Os sons se sacodem, berram. Lutam, arrebentam no ar sonoro dos ventos, vaias, klaxons, aços estrepitosos. Dentro dos sons movem-se cores, vivas, ardentes, pulando, dançando, desfilando sob o verde das árvores, em face do azul da baía no mundo dourado.Dentro dos sons e das cores, movem-se os cheiros, cheiro de negro, cheiro de mulato, cheiro branco, cheiro de todos os matizes, de todas as excitações e de todas as náuseas. Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, sons, brutais, suaves, lúbricos,meigos, alucinantes. Tatos, sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre, de mendublim, de castanhas, de bananas, de laranjas, de bocas e de mucosas. Libertação dos sentidos envolventes das massas frenéticas, que mexericam, de Madureira à Gávea na unidade do prazer desencadeado. (Graça Aranha)
Numa fusão dos cinco sentidos, o autor percorre um canário carnavalesco,
registrando as sensações que produzem sons, cores, cheiro, tatos e gostos. Frases
nominais e enumerativas caracterizam um espaço vibrante e dinâmico (“maxixam,
gritam,tresandam”), além do impressionismo provocado pelas combinações
sinestésicas em “viola chora e espinoteia”, “os sons se sacodem”, “cheiro de todos
145Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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os matizes”, “tatos alucinantes” e “gostos de gengibre”. A técnica de enumeração e
repetição vocabular utilizada pelo autor reproduz a intensidade das sensações e a
dinâmica do contexto carnavalesco.
Observe agora, num texto em versos, o aproveitamento das sensações:
Natureza morta
Na sala ao sol seco do meio-dia sobre a ingenuidade da faiança portuguesa os frutos cheiram violentamente e a toalha é fria e alva na mesa.
Há um gosto áspero de ananases e um brilho fosco de uvaias flácidas e um aroma adstringente de cajus, de pálidas carambolas de âmbar desbotado e um estalo oco de jabuticabas de polpa esticada e um fogo bravo de tangerinas.
E sobre esse jogo de cores, gostos e perfumes a sala toma a transparência abafada de uma redoma. (Guilherme Almeida)
Aguçando os cinco sentidos, o poeta intensifica a composição do cenário,
através do olfato (“os frutos cheiram violentamente”), do tato (“a toalha é fria”), da
visão (“um brilho fosco”), do paladar (“um gosto áspero”) e da audição (“um estalo
oco”). Nessas sinestesias estão os cruzamentos inesperados e subjetivos das
sensações que empolgam o observador.
Sensações espaciais
Além das sensações físicas percebidas pelos cinco sentidos, existem as
experiências pessoais de espaço (perspectiva, ângulo, dimensão, direção), como
por exemplo altura, largura, profundidade. Há ainda as experiências relacionadas a
medidas, como peso, volume, força, densidade, pressão.
Antônio Vítor veio andando em grandes passadas e mesmo antes de atingir o pequeno terreiro onde, em frente à casa ciscavam galinhas(...)
146Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Parou ao lado da porta da casa de barro batido, mais alta do lado direito que o do esquerdo, uma construção apressada e baixa, aumentada depois para o fundo, e olhou o céu, a alegria estampada no rosto caboclo.
(Jorge Amado)
Sensações subjetivasFaz também parte da descrição a sensibilidade “interna” do universo do
observador (sensações inerentes ao ser humano): alegria, tristeza, amor, ira,
náusea, fome, fadiga, vontade, nostalgia, enfim, estados emocionais.
A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras. Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa (...).
O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação que me furam tímpanos com pontas de ferro. (...) Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, separando, espumando. E ali permaneci, miúdo e insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalham na telha negra.
(Graciliano Ramos)
EXERCÍCIO
Elabore uma dissertação sobre o seguinte assunto:
“Dominar a norma culta de um idioma é plataforma mínima de sucesso para profissionais de todas as áreas. Engenheiros, médicos, economistas, contabilistas e administradores que falam e escrevem certo, com lógica e riqueza vocabular, têm mais chance de chegar ao topo do que profissionais tão qualificados quanto eles mas sem o mesmo domínio da palavra.”
Revista Veja, 12 de setembro de 2007.
147Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
UNIDADERetextualização
AmbigüidadeClichêO uso do ondeEu ou mimPor que, por quê, porque, porquêPronome – mesmoPronomes relativos - que, quem, cujo, onde, como, quandoVícios de linguagemFiguras de linguagemVírgula - quando usar, ou nãoFiguras de sintaxe ou de construçãoO verbo fazer
148Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Ambiguidade
Evite-a para fazer uma boa redaçãoA ambigüidade é um dos problemas que podem ser evitados na redação. Ela
surge quando algo que está sendo dito admite mais de um sentido, comprometendo
a compreensão do conteúdo. Isso pode suscitar dúvidas no leitor e levá-lo a
conclusões equivocadas na interpretação do texto.
A inadequação ou a má colocação de elementos como pronomes, adjuntos
adverbiais, expressões e até mesmo enunciados inteiros podem acarretar em duplo
sentido, comprometendo a clareza do texto. Observe os exemplos que seguem:
"O professor falou com o aluno parado na sala"
Neste caso, a ambigüidade decorre da má construção sintática deste
enunciado. Quem estava parado na sala? O aluno ou o professor? A solução é,
mais uma vez, colocar "parado na sala" logo ao lado do termo a que se refere:
"Parado na sala, o professor falou com o aluno"; ou "O professor falou com o aluno,
que estava parado na sala".
"A polícia cercou o ladrão do banco na rua Santos."
O banco ficava na rua Santos, ou a polícia cercou o ladrão nessa rua? A
ambigüidade resulta da má colocação do adjunto adverbial. Para evitar isso,
coloque "na rua Santos" mais perto do núcleo de sentido a que se refere: Na rua
Santos, a polícia cercou o ladrão; ou A polícia cercou o ladrão do banco que
localiza-se na rua Santos"
"Pessoas que consomem bebidas alcoólicas com freqüência apresentam sintomas de irritabilidade e depressão."
Mais uma vez a duplicidade de sentido é provocada pela má colocação do
adjunto adverbial. Assim, pode-se entender que "As pessoas que, com freqüência,
consomem bebidas alcoólicas apresentam sintomas de irritabilidade e depressão"
ou que "As pessoas que consomem bebidas alcoólicas apresentam, com
freqüência, sintomas de irritabilidade e depressão".
149Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Uma das estratégias para evitar esses problemas é revisar os textos. Uma
redação de boa qualidade depende muito do domínio dos mecanismos de
construção da textualidade e da capacidade de se colocar na posição do leitor.
Ambigüidade como recurso estilístico
Em certos casos, a ambigüidade pode se transformar num importante
recurso estilístico na construção do sentido do texto. O apelo a esse recurso pode
ser fundamental para provocar o efeito polissêmico do texto. Os textos literários, de
maneira geral (como romances, poemas ou crônicas), são textos com predomínio
da linguagem conotativa (figurada). Nesse caso, o caráter metafórico pode derivar
do emprego deliberado da ambigüidade.
Podemos verificar a presença da ambigüidade como recurso literário
analisando a letra da canção "Jack Soul Brasileiro", do compositor Lenine.
Já que sou brasileiroE que o som do pandeiro é certeiro e tem direção Já que subi nesse ringueE o país do suingue é o país da contradiçãoEu canto pro rei da levadaNa lei da embolada, na língua da percussãoA dança, a muganga, o dengoA ginga do mamulengoO charme dessa nação(...)
Podemos observar que o primeiro verso ("Já que sou brasileiro") permite até
três interpretações diferentes. A primeira delas corresponde ao sentido literal do
texto, em que o poeta afirma-se como brasileiro de fato. A segunda interpretação
permite pensar em uma referência ao cantor e compositor Jackson do Pandeiro - o
"Zé Jack" -, um dos maiores ritmistas de todos os tempos, considerado um ícone da
história da música popular brasileira, de quem Lenine se diz seguidor. A terceira
leitura para esse verso seria a referência à "soul music" norte-americana, que teve
grande influência na música brasileira a partir da década de 1960.
150Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
O recurso à ambigüidade no texto publicitário
Na publicidade, é possível observar o "uso e o abuso" da linguagem
plurissignificante, por meio dos trocadilhos e jogos de palavras. Esse procedimento
visa chamar a atenção do interlocutor para a mensagem. Para entender melhor,
vamos analisar a seguir um anúncio publicitário, veiculado por várias revistas
importantes.
Sempre presenteFerracini Calçados
O slogan "Sempre presente" pode apresentar, de início, duas leituras
possíveis: o calçado Ferracini é sempre uma boa opção para presentear alguém;
ou, ainda, o calçado Ferracini está sempre presente em qualquer ocasião, já que,
supõe-se, pode ser usado no dia-a-dia ou em uma ocasião especial.
Se você não se julga ainda preparado para uma utilização estilística da
ambigüidade, prefira uma linguagem mais objetiva. Procure empregar vocábulos ou
expressões que sejam mais adequadas às finalidades do seu texto.
151Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Clichê
Lugar comum prejudica redaçãoEntre os vícios de linguagem mais recorrentes, e que por esse motivo
merecem atenção redobrada no processo de elaboração do texto, está o emprego
de clichês, também conhecidos como "chavões" ou "lugares-comuns".
São termos ou expressões que, pela utilização excessiva e muitas vezes
abusivas, apresentam-se bastante desgastados e com significado sedimentado pela
repetição de idéias generalizantes ou estereotipadas.
Podemos apontar, como exemplo mais imediato, os provérbios ou ditos
populares que. São frases cunhadas na experiência que se tornaram emblema.
Podem ser aplicadas às mais variadas situações do cotidiano de determinado grupo
sócio-cultural, como "Quem vê cara não vê coração", "De cavalo dado não se olham
os dentes", "Quanto maior a nau maior a tormenta" etc.
Evite estas expressões
Não se encontram expressões tão "batidas e repisadas" pelo emprego
repetitivo somente na linguagem coloquial ou popular.
Se analisarmos com cuidado algumas citações de pensadores famosos,
freqüentemente utilizadas em diferentes tipos de textos, até naqueles considerados
mais rebuscados, é possível verificar que muitas deixaram há tempos de ser
"originais", servindo apenas de recurso para "florear" ou "preencher" o texto ou
mesmo para demonstrar falsa erudição.
Temos, como exemplos, "Há mais mistérios entre o céu e a terra do que
supõe nossa vã filosofia" (Shakespeare, em sua obra Hamlet), "Só sei que nada sei"
(Sócrates), "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena" (Fernando Pessoa),
entre outras.
152Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Certifique-se da autoria
Se você quiser mesmo fazer uma citação dessas, um cuidado: não erre a
autoria. É gafe imperdoável escrever, como fez um estudante pré-vestibular, "'O
homem é o lobo do homem', como dizia Maquiavel". Quem disse a frase, na
verdade, foi o também filósofo Thomas Hobes
Além desse descuido, a citação encontrava-se fora de contexto, já que não
era possível identificar claramente a relação estabelecida pelo autor entre a
expressão citada e a temática do texto.
Conseqüentemente, em vez de erudição, o aluno acabou demonstrando falta
de conhecimento sobre o tema; e "o tiro saiu pela culatra".
Clichês modernos
Outras expressões, apesar de nem tão antigas, já apareceram - e continuam
aparecendo - de forma tão recorrente, sobretudo na mídia, que acabaram se
tornando clichês.
Assim, se voltarmos a atenção para alguns artigos de jornais e revistas ou
notícias veiculadas pelos telejornais, não será muito difícil encontrar frases
"formulares" do tipo:
"Chega ao fim a novela da negociação de Ronaldo para o Milan da Itália."
"Uma das mulheres mais belas de todos os tempos." "O sonho do hexa virou pesadelo." "Desde os primórdios a cobiça (...)" "O país é uma das maiores economias do mundo." "O racismo é uma chaga social (...)" "Fechar com chave de ouro" "O homem foi encontrado em petição de miséria" "Ressurge o fantasma do autoritarismo (...)" "Agora é preciso colocar a casa em ordem" "Voltar à estaca zero" "Amarga decepção" "Calorosa recepção" "Crítica construtiva" "Deixamos para trás os tempos de inflação galopante" "Foi desbaratada a quadrilha (...)" "Será preciso correr atrás do prejuízo (...)"
153Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
"A atleta já está de passaporte carimbado para as Olimpíadas."
"Guga encerrou o torneio em grande estilo." "Esta é mais uma obra faraônica"
Emprego inadequado ou abusivo
O emprego inadequado ou abusivo de tais expressões pode, portanto,
comprometer tanto a construção de sentido do texto quanto a imagem do autor, uma
vez que se revelam a ausência de originalidade e de domínio do repertório
lingüístico próprio ao tratamento do tema e, ainda, certa limitação no que se refere
ao conhecimento de mundo do escritor.
É evidente que essas expressões, quando utilizadas de forma original e
contextualizada, podem ser muito úteis no processo de elaboração do texto, mas
para isso é necessário tornar-se um escritor proficiente, capaz de manipular de
maneira eficiente sutilezas semântico-estilísticas, como a ironia e a metáfora.
Para atingir esse grau de competência, no entanto, as habilidades
lingüísticas devem ser desenvolvidas por meio da leitura e da interpretação de
textos cada vez mais complexos, dos mais variados gêneros discursivos, e com
uma prática contínua de atividades tanto orais quanto escritas. E exige do estudante
dedicação e disciplina.
154Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
O uso do onde
"Se essas são as únicas modalidades onde seu filho é campeão..." "Se essas são as únicas modalidades onde seu filho é campeão..."
Essa frase ouvi em uma propaganda de televisão, veiculada há alguns anos.
Qual a sua inadequação gramatical?
O problema da frase reside no uso do pronome "onde", que serve apenas
como indicativo de "lugar". Por exemplo:
• "A casa onde moro é aprazibilíssima"; • "A fazenda onde estive pertence a seu amigo".
As frases que não apresentarem indicação de lugar, deverão ter o pronome
"onde" substituído por "em que" ou "no qual", "na qual", "nos quais", "nas quais",
dependendo do gênero (masculino ou feminino) e do número (singular ou plural) do
elemento imediatamente anterior.
Na frase apresentada não há a indicação de lugar, por isso não se pode
utilizar o pronome "onde". Em seu lugar deve-se usar "em que" ou "nas quais", já
que o elemento imediatamente anterior é feminino, plural. A frase, então, deveria ser
assim estruturada:
Se essas são as únicas modalidades em que (ou "nas quais") seu filho é
campeão...
155Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Eu ou mim
“Custou para mim ou para eu acreditar?”“ Custou para eu acreditar nela.”
Apesar de o Word corrigir a frase "Custou para mim acreditar nela" para
"Custou para eu acreditar nela", o uso de mim está adequado ao padrão culto da
língua. O pronome eu exerce a função sintática de sujeito. Para se descobrir qual o
sujeito de um verbo, basta ao aluno perguntar a ele: "Que(m) é que .......?" Por
exemplo:
• Eu fiz o trabalho ontem.
Pergunta: Quem é que fez o trabalho ontem?
Resposta: eu = sujeito do verbo fazer.
Façamos o mesmo exemplo com a frase apresentada:
• Basta para mim ter Teté ao meu lado.
Há dois verbos: bastar e ter. Analisemos o verbo bastar:
Pergunta: Que é que basta?
Resposta: ter Teté ao meu lado = sujeito do verbo bastar.
Observe que o sujeito do verbo bastar é uma oração, pois onde houver verbo
haverá uma oração. O sujeito representado por uma oração se chama oração
subordinada substantiva subjetiva (OSSS).
Num período, há a chamada ordem direta, que é a colocação do sujeito no
início da oração, com o verbo logo após ele. Se a frase apresentada for escrita em
ordem direta, ou seja, se a oração subordinada substantiva subjetiva iniciar o
período, haverá a seguinte frase: "Ter Teté ao meu lado basta para mim". Percebeu
como o adequado é usar mim mesmo?
• Para mim basta ter Teté ao meu lado.
156Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
• Ter Teté ao meu lado basta para mim.
• Para mim, ter Teté ao meu lado basta. [a vírgula é optativa]
• Basta para mim ter Teté ao meu lado.
Sempre que houver bastar, custar, faltar ou restar e, no mesmo período,
houver outro verbo no infinitivo, este não poderá ser flexionado, ou seja, sempre
ficará invariável. Veja alguns exemplos:
• Basta para os alunos estudar todos os dias.
• Basta para eles estudar todos os dias.
• Basta para nós estudar todos os dias.
Isso ocorre porque os alunos, eles e nós não exercem a função de sujeito de
estudar, e sim a de complemento do verbo bastar (objeto indireto).
A frase apresentada, portanto, deve ser assim corrigida:
Custou para mim acreditar nela.
157Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Por que, porque, por quê ou porquê?O uso correto segundo a gramática
• Por que (separado, sem acento) Utiliza-se nas interrogativas, sejam diretas ou
indiretas. É um advérbio interrogativo. Exemplos:
Por que ele foi embora? (interrogativa direta)Queremos saber por que ele foi embora. (interrogativa indireta)
Dica: Coloque a palavra "motivo" ou "razão" depois de "por que". Se der
certo, escreva separado, sem acento.
Queremos saber por que motivo ele foi embora.
Por que pode também equivaler a pelo qual, pela qual pelos quais, pelas
quais, sendo o que, nesse caso, um pronome relativo. Exemplo:
Aquele é o quadro por que ela se apaixonou.
Dica: Substitua por que por "pelo qual, pelos quais, pela qual ou pelas
quais":
Aquele é o quadro pelo qual ela se apaixonou.
• Porque (junto, sem acento) Estabelece uma causa. É uma conjunção
subordinativa causal, ou coordenativa explicativa. Exemplos:
Ele foi embora porque cansou daqui.Não vá porque você é útil aqui.
Dica: Substitua porque por "pois".Ele foi embora pois se cansou daqui.
Também utiliza-se porque com o sentido de "para que", introduzindo uma
finalidade:
Ele mentiu porque o deixassem sossegado.
158Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
• Por quê (separado, com acento) Em final de frase ou quando a expressão
estiver isolada, usa-se por quê. Exemplos:
Ele foi embora por quê?Você é a favor ou contra? Por quê?
• Porquê (junto, com acento) Equivalendo a causa, motivo, razão, porquê é um
substantivo. Neste caso ele é precedido pelo artigo o. Exemplo:
Não quero saber o porquê de sua recusa.
Dica: Substitua "porquê" por "motivo".
Não quero saber o motivo de sua recusa.
159Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Pronome - mesmo
Você sabe utilizar o pronome?
A célebre plaquinha e o erro crasso que geraram comunidades no Orkut.
"Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado no andar".
A frase, colada ao lado da porta de elevadores em cada andar dos edifícios,
traz o pronome "mesmo" empregado de maneira incorreta e virou motivo de piada
na Internet.
Quem lê a frase percebe que ela é um pouco "estranha": quem é "o mesmo",
que poderia estar parado no andar? Mas o que muita gente não sabe é que o
motivo dessa estranheza é o emprego inadequado da palavra.
A placa que encontramos na porta dos elevadores é conseqüência de uma
lei municipal aprovada pela Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo. A
norma obriga todos os edifícios da cidade a terem a tal placa na porta dos
elevadores. E a lei estendeu-se por todo o país, difundindo o erro de gramática em
edifícios de todo o Brasil.
O motivo do erro é simples. Diz a gramática que não se deve usar a palavra
"mesmo" como pronome pessoal. A frase colocada nas placas dos elevadores
160Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
deveria ser corrigida, e a palavra "mesmo" substituída por "ele": "verifique se ele se
encontra..."
Esse erro ocorre porque, para evitar a repetição, muita gente utiliza "o
mesmo", "a mesma", já que os pronomes "ele" e "ela" devem ser usados com
cuidado. Na frase:
"Conversamos com o juiz e o mesmo afirmou que...", Tem-se a impressão de que não existe erro, uma vez que, para muitos, esse
é um exemplo que segue rigorosamente a norma culta. No entanto, frases como
essa são deselegantes. O melhor é substituir a palavra "mesmo" por um pronome
pessoal "e ele afirmou que..." ou por um pronome relativo "o qual afirmou que...".
Outro exemplo corriqueiro:
"Favor desconsiderar o nome do aluno José do 8° ano, pois o mesmo acabou de entregar a carta de advertência assinada pelo responsável".
A forma correta é bastante simples, basta substituir "o mesmo" pelo pronome
pessoal adequado: "ele" (...pois ele acabou de entregar a carta...).
Mesmo como pronome demonstrativo. Na verdade, o pronome
"mesmo" é demonstrativo. Sua função é retomar uma oração ou
reforçar um termo de natureza substantiva. Dessa forma, tem-se:
"Ele é uma pessoa extremamente caridosa e espera que eu faça o mesmo".
Na frase, o verbo vicário (fazer) e o pronome demonstrativo "mesmo" (que equivale
a isso), juntos, evitam a repetição do conteúdo da oração anterior. Temos, portanto,
um exemplo correto do emprego da palavra "mesmo".
Já não é o caso do seguinte exemplo: "Aos repórteres, o bandeirinha que
anulou o gol afirmou conhecer as novas regras e o significado das mesmas". O
emprego incorreto deve ser corrigido para "Aos repórteres, o bandeirinha que
anulou o gol afirmou conhecer as novas regras e o significado delas".
Sem medo do 'mesmo' Para usar corretamente a palavra "mesmo",
observe as seguintes regras:
161Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
A palavra "mesmo" pode ser usada com valor reforçativo: "Ele
mesmo recebeu os convidados". "Ela mesma recebeu os
convidados".
A palavra "mesmo" como adjetivo, com sentido de adequado,
conveniente, exato, idêntico etc: "Seu projeto é mais bom que
ruim. Forma correta de se usar o adjetivo, pois se comparam
qualidades de um mesmo ser".
"A leitura é ela mesma infinita".
A palavra "mesmo" e o período composto por subordinação (as
formas reduzidas são mais enfáticas): "Mesmo ferido no braço,
o assaltante voltou para a sala de projeção e assistiu ao fim do
filme". Por ser um texto jornalístico, optou-se pela forma
reduzida da oração subordinada adverbial. "Mesmo que",
"ainda que" e "embora" são conjunções adverbiais concessivas
que exprimem um fato contrário ao da oração principal.
A palavra "mesmo" usada como advérbio. Nesse caso, a
palavra "mesmo" possui sentido de "até", "ainda" etc: "Ele
recebeu os primeiros socorros próximo à praia, mas como seu
estado de saúde era bom, foi liberado ontem mesmo". "De
acordo com as empresas especializadas, ainda são muito
poucas, mesmo nas grandes capitais, as instituições que
adotam circuito fechado de tevê (CFTV) com sistema digital,
que, assim, promete ser a grande vedete da segurança nas
escolas nos próximos anos".
Expressões como "dar na mesma"; "na mesma" ou "dar no
mesmo". Essas expressões são corretas e indicam o sentido de
"no mesmo estado", "na mesma situação": "A sua situação
162Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
continua na mesma". "Com rendimentos tão baixos, deixar o
dinheiro na conta corrente ou na poupança dá no mesmo".
163Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Pronomes relativos: que, quem, qual, cujo, onde, como, quando
Os pronomes relativos têm por função básica unir orações diferentes
fazendo com que as idéias nelas expressas complementem-se, evitando assim
repetições desnecessárias. Exemplos:
1) Eu vi um homem. O homem era jovem.O homem que eu vi era jovem.
Neste exemplo, o pronome relativo que funciona como objeto direto.
O pronome que pode ainda funcionar como sujeito:
2) Eu estou vendo um filme. O filme é muito interessante.Eu estou vendo um filme que é muito interessante.
Ou ainda como complemento antecedido pelas preposições a, de, em, com,
por, para:
3) A peça estréia hoje. Eu te falei da peça.A peça de que te falei estréia hoje.
O pronome relativo quem também é antecedido por preposições:
4) A funcionária é muito gentil. Pedi à funcionária informações sobre o hotel.A funcionária a quem pedi informações sobre o hotel é muito gentil.
Os pronomes o(a) qual, os(as) quais concordam em gênero e número com o
substantivo que substituem e são introduzidos por preposições.
5) Ela estudou para o exame. O exame parece bastante difícil.O exame para o qual ela estudou parece bastante difícil.
Os pronomes cujo(s) , cuja(s) também concordam em gênero e número com
o substantivo que substituem, podem ser precedidos por preposição e indicam
relações de posse.
6) O edifício fica logo ali. As paredes do edifício foram pichadas. O edifício cujas paredes foram pichadas fica logo ali.
164Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Onde funciona como adjunto adverbial de lugar e pode ser antecedido por
preposição. Quando combinado com a preposição "a" forma aonde, e indica uma
destinação; quando combinado com a preposição "de" forma de onde (ou donde), e
indica uma origem.
7) Ele vem de uma cidade. A cidade fica no norte do país.A cidade de onde ele vem fica no norte do país.
8) Este cinema é mantido pela fundação cultural. Nós vamos a este cinema.Este cinema aonde vamos é mantido pela fundação cultural.
9) Este espaço pertence ao clube Porto Belo. Muitas atividades de lazer e esportes realizam-se neste espaço.Este espaço, onde se realizam muitas atividades de lazer e esportes, pertence ao clube Porto Belo.
Quando funciona como adjunto adverbial de tempo.
10) Sábado fez sol. Fomos ao litoral no sábado.Sábado, quando fomos ao litoral, fez sol.
Como funciona como adjunto adverbial de modo, de maneira.
11) O modo como a reunião foi conduzida deixou todos os participantes tranqüilos.
Na linguagem oral, tende-se a utilizar o pronome relativo que de forma mais
ampla. Neste contexto, as substituições por outros pronomes acabam muitas vezes
não acontecendo.
É importante salientar que este uso não é propriamente "errado", mas
inadequado para situações em que a linguagem formal (ou padrão) estiver sendo
exigida.
Retomando alguns dos exemplos mencionados, poderemos entender, numa
linguagem informal, construções do tipo:
A peça que te falei estréia hoje.
O edifício que as paredes foram pichadas fica logo ali.165
Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
O modo que a reunião foi conduzida deixou todos os participantes
tranqüilos.
166Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Vícios de linguagem
Os erros de português mais comuns
Vícios de linguagem é o nome que se dá ao modo de falar ou escrever que
não está de acordo com a norma culta. O "erro" torna-se "vício" quando se torna
comum ou freqüente na expressão de uma ou mais pessoas.
A tabela a seguir resume os principais casos.
Vícios de Linguagem
Barbarismo Todo erro que se relaciona à forma da palavra.
cacoépia: seja, em vez de seja.cacografia: rúbrica, em vez de rubrica.estrangeirismo: exame antidoping.
Arcaísmo Emprego de palavras que caíram desuso. Mui fremosa senhorita.
Anfibologia ou ambigüidade
A mensagem apresenta mais de um sentido devido à má disposição das palavras na frase.
O garoto viu o roubo do carro. (O garoto estava no carro e viu o roubo ou viu o carro ser roubado?)
CacófatoPalavra inconveniente, ridícula ou obscena resultante da união das sílabas de palavras vizinhas.
A boca dela era horrível.
Solecismo Erro de sintaxe.
Concordância: Fazem muitos anos. (Nesse caso fazer é impessoal.)Regência: Esse é a música que ele mais gosta. (Essa é a música de que ele mais gosta.)Colocação: Me faça um favor... (Faça-me um favor...)
Pleonasmo Repetição de palavras inúteis, pois nada acrescentam ao que já foi dito.
Subiu para cima. Entrou para dentro.
Eco É a rima em prosa, sem intenção estilística.
Infelizmente, essa idéia me veio à mente somente de repente.
167Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
Figuras de linguagem
Figuras de linguagem são formas de expressar o pensamento ou o
sentimento de modo vivo, enérgico, vibrante, capaz de impressionar o ouvinte ou
leitor e escapar ao uso corriqueiro que se faz das palavras e da língua. Podem ser
classificadas em figuras de palavras, figuras de construção e figuras de
pensamento.
Entre as figuras de palavras, distinguem-se dois principais grupos: o das
metonímias e o das metáforas.
Metonímia: A palavra assume outro sentido que não o literal ou
denotativo, por meio de uma associação de sentidos tem como base
a contigüidade (e não a similaridade) entre os elementos. Ou seja, é
uma analogia por sentidos próximos, relativos. Veja os exemplos:
“ Adoro ler Shakespeare.”
O famoso poeta inglês, morto há mais de 400 anos, não pode ser lido.
Seu nome é usado na frase para representar a sua obra. Você adora é
ler os livros de Shakespeare.
“Tomamos vinte latas de cerveja!”
Ainda que os sujeitos da frase possam ter ficado bem bêbados, eles não
tomaram as latas, mas a cerveja que estava dentro delas.
A metonímia ainda tem variações:
o Sinédoque: Uma palavra que expressa um elemento menor
representa algo de expressão maior. (Obs. Há uma grande
controvérsia entre gramáticos sobre a sinédoque ser uma
variedade da metonímia ou vice-versa.)
168Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
“Ganharás o pão com o suor do teu rosto.”
Pão, no caso, vale por toda a alimentação. Suor do rosto significa
esforço, trabalho.
“ Luíza completou 15 primaveras ontem.”
Não foram só primaveras, mas também verões, invernos e
outonos, ou seja, "primavera" aí significam "anos".
o Antonomásia: É a designação de uma pessoa não pelo seu
nome, mas pela qualidade ou circunstâncias que o tornaram
famoso:
“O poeta dos escravos” expressão usada para designar Castro
Alves.”
“Cidade Maravilhosa”, é um modo de se referir ao Rio de Janeiro.
Metáfora: A mais famosa figura de linguagem, a metáfora é, assim
como a metonímia, uma figura de palavras - isto é, o efeito se dá pelo
jogo de palavras que se faz na frase. A metáfora consiste em retirar
uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e transportá-
la para um novo campo de significação (conotativa), por meio de uma
comparação implícita, de uma similaridade existente entre as duas:
“ Buscava o coração do Brasil.”
Ora, o Brasil não possui o órgão biológico em questão. Portanto,
coração significa aí o centro vital, a essência, o âmago do país.
“ Achamos a chave do problema.”
O problema não é nenhuma fechadura, mas para resolvê-lo (ou abri-
lo) o elemento que se diz ter achado é tão necessário quanto uma
chave para abrir uma porta.
A metáfora possui algumas variações:
169Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
Faculdade Atenas Maranhense – FAMA
o Personificação: Atribuição de ações, qualidades ou sentimentos
próprios do ser humano a seres inanimados.
“ Uma noite triste.”
A noite em si é neutra no que toca a sentimentos. Somos nós
que podemos lhe atribuir emoções.
“ O furacão rugia, expressando sua fúria.”
Comparam-se aqui os sons do furacão aos rugidos de uma fera,
bem como a sua intensidade à expressão de um sentimento
humano ou animal, a fúria.
o Hipérbole: É o exagero puro e simples.
“ Era louco por seu time.”
Com isso, quer se dizer que o sujeito gostava demasiadamente,
amava seu time, a ponto de perder a razão.
“ Rios de lágrimas, derramei por você.”
Por mais que alguém chore, não formará sequer um riacho...
o Símbolo: É a metáfora que acontece quando o nome de um ser
ou coisa concreta assume um valor convencional e abstrato.
“ A cruz pode enfrentar a espada.”
Não se trata, naturalmente, de usar o crucifixo como arma...
Quer-se dizer, por exemplo, que a religião cristã, simbolizada
pela cruz, pode enfrentar a violência, simbolizada pela espada.
"E acreditam nas flores vencendo o canhão."
O verso de Geraldo Vandré tem sentido semelhante: as flores
simbolizam a paz; o canhão, a guerra.170
Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
o Sinestesia: É a figura em que se fundam as sensações visuais
com auditivas, gustativas, olfativas, táteis. A figura dos sentidos.
“ O doce sabor da liberdade”
Enquanto abstração que é, a liberdade não tem sabor nem doce,
nem salgado.
“ Queria pintar a casa com uma cor quente.”
Ninguém se queimará ao encostar numa parede vermelha, no
entanto, por estar associada ao fogo, a cor transmite a sensação
de calor. Por isso, pode ser chamada de "cor quente".
o Catacrese: uma variedade de metáfora natural da língua, de
emprego corrente, que serve para suprir a inexistência de um
nome específico para determinada coisa.
“ Nariz do avião, pé da mesa, boca da noite, dente de alho,
embarcar no trem, etc.”
171Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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Vírgula – Quando usar, ou não
O uso da vírgula é um dos casos que mais representa dúvida para quem
escreve. A tabela abaixo resolve os principais deles. Veja também dicas de
português dadas por professores e respostas às dúvidas de gramática mais
comuns.
Os principais casos de uso da vírgula
Vírgula proibida Exemplo
Entre sujeito e predicado ou entre predicado e sujeito
O ministro das Relações Exteriores da França está em Brasília/Está em Brasília o ministro das Relações Exteriores da França.
Entre verbo e seu(s) complemento(s)
O presidente disse aos governadores que não aceita a proposta; O ministro informou aos jornalistas que não participará da entrevista; O ministro apresentou todos os projetos de privatização aos investidores presentes.
Vírgula obrigatória Exemplo
Depois de orações adverbiais antepostas
Se não chover, haverá jogo;Quando a economia entrou em colapso,o ministro renunciou; Ao deixar o governo, o prefeito voltará a dar aulas na universidade.
Antes do que introduz oração explicativa
Nosso time, que ganhou o torneio neste ano, foi vice dessa competição em 55 e 56.
Quando há elipse do verbo Os cariocas preferem praia; os paulistas, shopping.
Para separar conjunções contíguas
Irá a São Paulo, mas, se não receber o cachê antes, não cantará; Disse que, quando for a Brasília, tentará uma audiência com o presidente.
Antes de mas (com sentido de porém), porém, contudo, entretanto, todavia, portanto, por isso etc
Jogou bem, mas perdeu; Estudou, porém foi reprovado; O acordo não será renovado, portanto os empregos serão mantidos.
Antes de e que introduza oração de sujeito diferente do da anterior, se, sem a
Fifa pune Maradona, e Pelé recebe prêmio.
172Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
vírgula, houver a possibilidade de entender o sujeito da segunda oração como complemento do verbo da primeiraPara separar adjuntos adverbiais de natureza diferente
Ontem à noite, no Pacaembu, sem sete titulares, sob chuva forte, o Corinthians derrotou o Juventude.
Vírgula optativa Exemplo
Com expressões adverbiais breves, antepostas ou intercaladas
O São Paulo enfrenta neste sábado mais um desafio (ou O São Paulo enfrenta, neste sábado, mais um desafio); O governador participará em Brasília de uma reunião com o ministro da Fazenda (ou O governador participará, em Brasília, de uma reunião com o ministro da Fazenda).
Depois de no entanto, entretanto, por isso, porém, contudo, portanto, todavia, quando essas palavras ou expressões iniciarem o período
No entanto o presidente deixou claro que não aceitará a proposta da oposição (ou No entanto,o presidente deixou claro que...).
Atenção: essa opção não existe quando essas palavras ou expressões não iniciarem o período
O presidente aceita participar da reunião, no entanto avisa que não aceitará a proposta da oposição.
Antes de orações adverbiais de alguma extensão que venham depois da principal
O prefeito deixará o partido se a Câmara aprovar a CPI sobre títulos públicos (ou O prefeito deixará o partido, se a Câmara aprovar a CPI dos títulos públicos);O jogador não disputará a próxima partida porque foi suspenso pelo Tribunal de Justiça da CBF (ou O jogador não disputará a próxima partida, porque foi suspenso pelo Tribunal de Justiça da CBF).
Fonte: Manual de Redação da Folha de S. Paulo
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174Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
Figuras de sintaxe ou de construção
Cara de erro, mas são propositaisA partir dos aspectos lógicos e gerais observados na língua (norma culta), a
gramática formula princípios que regem as relações de dependência ou
interdependência das palavras na oração. Por outro lado, ensina que outros fatores
podem interferir na sintaxe ou construção das sentenças, alterando a concordância,
a regência ou a colocação.
Essas variações chamam-se figuras de sintaxe ou construção, uma
classificação das figuras de linguagem, assim como as figuras de pensamento e as
metáforas (figuras de palavras). A tabela resumo os principais exemplos:
Figuras de construção
Elipse Omissão de termos que podem ser subentendidos facilmente.
Exemplo Quanta perversidade no mundo! (Subentende-se o “há”.)
Zeugma Variedade de elipse; omissão de termo anteriormente expresso.
Exemplo O inocente foi, preso; o culpado, solto. (Subentende-se o segundo “foi”.)
Assíndeto Falta de conjunção entre elementos coordenados.
Exemplo Estava mudo, pálido, trêmulo, assustado. (Repare que poderia haver um “e” entre os dos últimos termos da frase.)
Pleonasmo Repetição de idéias (com as mesmas palavras ou não) para realçá-las ou enfatizá-las.
Exemplo Vi com meus próprios olhos. (Está claro que ninguém pode ver com os olhos alheios.)
Polissíndeto Repetição do conectivo entre elementos coordenados.
Exemplo Foi e voltou e correu e pulou e brincou. (A repetição do “e” enfatiza a quantidade de ações enunciadas.)
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Hipálage É atribuir-se a uma palavra o que pertence a outra na mesma frase.
Exemplo :“Em cada olho um grito castanho de ódio”. (Note que, pela lógica, “castanho” se refere a “olho”. A frase é do escritor Dalton Trevisan.)
Hipérbato É a inversão da ordem natural das palavras numa oração ou das orações num período.
Exemplo “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas...” (A ordem natural ou direta seria: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram...”)
Anáfora Repetição da(s) mesma(s) palavra(s) no começo de cada um dos termos da oração.
Exemplo “Este amor que tudo nos toma, este amor que tudo nos dá, este amor que Deus nos inspira, e que um dia nos há de salvar...”
Silepse Também chamada de concordância ideológica. Faz-se a concordância com a idéia subentendida e não com a palavra expressa. Pode referir-se ao gênero, número ou pessoa.
Exemplos: Deixei a agitada São Paulo. (Silepse de gênero, a rigor São Paulo é masculino.)
Grande parte dos eleitores estavam longe de aprovar os descaminhos da CPMI. (Silepse de número: a idéia é de plural, embora, a rigor, o sujeito – “Grande parte” – esteja no singular.)
Os que conseguimos pular fora, pulamos. (Silepse de pessoa: a frase deveria ser “Os que conseguiram pular fora, pularam”, mas quem a enuncia se inclui entre os que praticaram as ações expressas pelo verbo).
EXERCÍCIO
ATIVIDADE DA UNIDADE V: A partir da leitura de jornais e revistas, encontre e comente casos de ambigüidades, presença de clichês, vícios de linguagem e inadequações quanto ao uso do pronome “onde”. Pode-se, também, registrar trechos de diálogos cotidianos
176Fundamentos de Gramática de Língua Portuguesa
Unidade IV
O verbo fazer
"Fazem quase três meses que entrei na faculdade"
Fazem quase três meses que entrei na faculdade.
É extremamente comum se ouvir esse tipo de frase no Brasil.
É até capaz de alguns dizerem que se deve considerá-la certa, pois grande
parte dos brasileiros já incorporou essa expressão em seu linguajar.
O meu intuito, porém, é ensinar a língua padrão, e não me resignar às
manifestações lingüísticas populares.
A gramática normativa da língua portuguesa determina que o verbo fazer, na
indicação de tempo decorrido e de fenômeno da natureza, seja impessoal, ou seja,
nesses casos, o verbo fazer não tem sujeito, por isso não tem com quem concordar,
devendo ficar, obrigatoriamente, na terceira pessoa do singular.
A frase apresentada, portanto, tem de ser corrigida para:
“Faz quase três meses que entrei na faculdade.”
Se o verbo fazer vier acompanhado de outro verbo, formando, assim, uma
locução verbal, passará a impessoalidade a este verbo (verbo auxiliar), e os dois
ficarão no singular.
Outros exemplos:
“Amanhã fará quinze anos que Zulmira faleceu.”“ Deve fazer oito meses que ela se foi.”“ Eu não o via fazia três anos”
177Fundamentos de Gramática da Língua Portuguesa
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REFERÊNCIAS
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ZANOTTO, Normelio. E-mail e carta comercial: estudo contrastivo de gênero textual. Rio de Janeiro, RJ: Lucerna; Caxias do Sul, RS: Educs, 2005.
THEREZO, Graciema Pires. Redação e leitura para universitários. Campinas, SP: Editora Alínea, 2007.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. – 6. ed. – São Paulo: Atlas, 2004.
ANDRADE, Maria Margarida de; MEDEIROS, João Bosco. Comunicação em língua portuguesa: para os cursos de jornalismo, propaganda e letras. 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2004.
GOLD, Miriam. Redação empresarial: escrevendo com sucesso na era da globalização. – 3. ed. – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
SCHOCAIR, Nelson Maia. Gramática do português instrumental. Niterói, RJ: Impetus
, 2006.
UOL Educação. Disponível em: <http://educação.uol.com.br>. Acesso em: 26 jul. 2008.
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