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EDUARDO AVELAR

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MUITOprazer

E S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 2 0 D E J A N E I R O D E 2 0 1 3

degustaespecial

Minas no

● ENTREVISTA/EDUARDO AVELAR

Criado para valorizar a culinária mineira, hoje é instrumento para incremento do setor

Chef e pesquisador

CONSPIRAÇÃO: PASSADO,PRESENTE E FUTUROMÍRIAN PINHEIRO

Curiosamente, uma visita dosamigos e xarás Eduardo Avelar(Sabores de Minas) e EduardoMaya (Comida Di Buteco) ao

Madrid Fusión em 2010 serviude inspiração para criarem,

juntamente com o chef RalphJustino (Festival Gastronômicode Tiradentes), o movimento

denominado ConspiraçãoGastronômica, hoje

transformada em umaorganização da sociedade civilde interesse público ou Oscip.

Desde então, a Conspiração vemcrescendo, em ações, projetos e

adeptos. Segundo EduardoAvelar, já são mais de 500

colaboradores, entre os quaiscerca de 150 chefs imbuídos dodesejo de tornar Minas Gerais

referência gastronômica do país.Uma vontade que já fez omovimento, tal qual uma

grande onda, varrer 200 milquilômetros em todo o estado,um esforço para conhecer deperto as riquezas culinárias

Minas adentro. Agora, o que foiinspiração toma a forma de

homenagem. É o Madrid Fusiónque abre as portas para recebê-los, bem como outra dezena deconspiradores comprometidos

em promover a cozinhamineira.

Quer dizer que os trabalhos da Os-cip que você criaram vêm reforçar amáxima de que mineiro não conver-sa, conspira?Pois é. Há quase três anos viemosconspirando para fazer de Minaso suprassumo da gastronomiabrasileira. Viemos desenvolvendoestudos, apoiados nas pesquisasdo Sabores de Minas, que já façohá muitos anos e que já me fezpercorrer mais de 200 mil quilô-metros pelo estado, mapeandomais de mil localidades. Com opatrocínio do Ministério do Turis-mo conseguimos algum recursopara nos aprofundarmos nisso.Recebemos apoio da Nestlé tam-bém durante uma época para mi-nistrarmos palestras no interiorcom o objetivo de reunir maisadeptos para o movimento, quenasceu empiricamente com re-presentantes da alta cozinha, damais popular, e da pesquisa doSabores de Minas.

Como os trabalhos foram sistema-tizados?Para formar a Oscip reunimosmais pessoas e hoje temos direto-res, conselheiros. A partir de en-tão, começamos a fazer reuniõespara traçar metas em cima dosobjetivos da Conspiração, que sãopreservar os processos produti-

vos artesanais, nossa cultura e tra-dições, valorizando a gastrono-mia mineira, que é a mais impor-tante do Brasil, a partir do desen-volvimento de uma cozinha mo-derna que não deve nada às cozi-nhas do resto do mundo. A meuver, contra fatos, não há argu-mentos. Essa é a nossa realidade.

Esse movimento é aberto ao públi-co de uma forma geral, como elese mantém?Qualquer pessoa pode fazer par-te da Conspiração. Hoje já temosmais de 500 colaboradores. Sãomais de 150 chefs levando, comouma onda, o movimento por es-te país afora. Realizamos cursosde capacitação profissional, pa-lestras. Alguns de nós já fazía-mos isso de forma pontual e in-dividual. A Conspiração veio reu-nir e sistematizar essas ações,costurando novos projetos devalorização da gastronomia mi-neira. Nossa diversidade culiná-ria e tradição são indiscutíveis.Ela vive do apoio de patrocina-dores e muita abnegação.

O Madrid Fusión foi a inspiraçãoque faltava?No final de 2011, nos reunimoscom o governo do estado no meuespaço gastronômico. Sentamoscom cinco secretarias, entre elas,a de Turismo. Dessa reunião, sur-giram apoios, como ao projeto deformação profissional que aConspiração está realizando comsucesso. Desse encontro surgiutambém a participação no Ma-drid Fusión. Caminhamos juntos.Apresentamos lá o que Minas es-tava fazendo no setor de gastro-nomia. Um trabalho de pesquisade uma década, o festival de Tira-dentes, que tem mais tempoque o próprio Madrid Fusión, érealizado há 15 anos, o festivalComida di Buteco com 14 anos,entre outros. Nos pediram umtempo para analisar a nossaparticipação e pouco depois eraconfirmada a nossa presença.Nunca tivemos a oportunidadede mostrar isso lá fora. O Ma-drid Fusión é essa vitrine hámuito esperada.

O que a Conspiração quer mostrarlá fora?Estamos levando ao Madrid Fu-sión o que temos de melhor aqui.Aonde queremos chegar? Aomundo. Minas, bem sabemos,tem agronegócio e turismo gas-tronômico da melhor qualida-de e o mundo precisa saber dis-so. A ideia do governo é esta:transformar Minas estado dagastronomia. Para isso, temos

chefs aqui que não devem na-da a nenhum top da alta gas-tronomia. A Conspiração querlevar esses “meninos” que es-tão aqui para o mundo conhe-cer. Fred Trindade, Felipe Ra-meh, Leo Paixão e Pablo Oazennão devem nada a nenhumchef estrelado do mundo. Tra-balham com tecnologia deponta, com conhecimento,com performance, enfim. An-tes deles, a gastronomia queentendíamos era a do séculopassado. Eles estão lá na fren-te. É questão de tempo seremconhecidos. Não sou eu ape-nas que falo isso, mas nossoAlex Atala. Vamos ouvir falarmuito ainda nesses meninos.

Como a Conspiração avalia essaparticipação?Participar do Madrid Fusión éuma honra para nós. É o maiorbonde da nossa história. Não fa-remos feio. Não temos a menordúvida disso. Estamos levandoos melhores chefs e os melho-res produtos para lá. Não nospreocupamos com a qualidade

que estamos levando. Vamosfazer bonito, estamos ancora-dos por uma estrutura multi-mídia, com depoimentos e ima-gens lindas de nossa terra. Va-mos contextualizar Minas nomundo. Vamos mostrar o iníciode tudo, com os tropeiros, a co-zinha que chamamos seca, de-pois, a família real e a formaçãodas hortas domésticas, denomi-nando o que chamamos de co-zinha molhada, falaremos ain-da dos Século 19 e 20 e da in-fluência das imigrações quenos deram essa diversidadecultural. O Madrid Fusión vaiconhecer até o nosso limão ca-peta. É um sonho que a genteteve há anos e que a Conspira-ção está tendo o orgulho dever realizado, como outrosprojetos do movimento, comoa adoção de produtores regio-nais por restaurantes, o uso decardápios com indicação deorigem dos alimentos, alémde um estudo profundo denosso terroir. Estamos avan-çando, mas ainda temos mui-to para fazer.

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Cosina YY ppaassiióónnSimples assim! Com duaspalavrinhas podemos definir estemomento mágico em que nósmineiros estamos cultuando anossa gastronomia e assumindodefinitivamente a alforria,rompendo os grilhões dasmontanhas e do preconceitode alguns , e nosautoproclamando “ Minas, ElEstadodeLaGastronomia.”Em nossa história, que começouquase dois séculos após odescobrimento, nos foi privadoacesso ao mar, talvez por questõesestratégicas,paraprotegerasriquezas minerais que somentealguns sabiam existir além dasmontanhas, nas terras onde feras eíndios comiam homens.Cerca de dois séculos a mais foramnecessários para que os nossosprincipais obstáculos finalmentefossem vencidos. Se antesescondíamos as refeições em

gavetas sob as mesas, hojequeremos mais do que nuncamostrar a todos. Até ontem,mesmo sendo a principal cozinhapresente em todas as regiõesbrasileiras,aindaéramosesquecidos pelos que se dizemrepresentantes da culturabrasileira, e que detém acomunicaçãonacional.Comrelaçãoaosprofissionaisdagastronomia dos grandes centros,sempre fomos lembrados por eles,justiçasejafeita,masdamesmaforma como éramos cobiçadospelos primeiros bandeirantes, ouseja, como fonte diversa einesgotável de riquezas. Sempreestiveram presentes em nossosmelhores restaurantes como chefsconvidados, sempre usaram eabusaramdeingredientesdaterrinha,chegandoatéaassumiraautoriadereceitasdegoiabadacom queijo, feijão tropeiro,

canjiquinha e outros ícones denossa cultura. E por fim, além dereclamarem de nosso plágio,jamaisretribuíramàgentilezamineira, convidando ou dandooportunidades a quaisquer denossos profissionais, e hoje sequeixam de não fazeremparte desse evento.Pois bem Brasil, cá estamos nós, nocentro das atenções do MadridFusión, para finalmente dar o gritode liberdade e fazer o caminho devolta, mostrando ao mundo o queaprendemos e que não estamosmaisescondidosatrásdaspraias,dosamba,damagnitudepaulistana e de outros símbolos dopaís. Temos o orgulho e a honra defalaroquenuncafoifalado,porexemplo, que em cada quatroxícaras de café que se consome noplaneta uma vem de Minas, sendoque seis entre os 10 melhores cafésespeciais do mundo sãoproduzidos aqui, que temos 50 %de nossa área, que é maior do queaFrançaeEspanha,cobertapelocerrado, um dos maiores e mais

ricos biomas que existem. Ondepodemos escolher entre 384espécies de peixes, incluindocamarõeselagostasa100kmdooceanonos rios Doce e Mucuri,entrecercade50variedadesdefrutos exóticos ainda inexploradoscomgrandepotencialgastronômico; que temos asmelhores carnes do mundo,incluindo nosso boi salée, oucarnesnaturalmentesalgadaspelos capins do Rio São Francisco edo Mucuri; que temos a melhorcachaçaeasmelhoreságuasminerais,amaiorvariedadeequalidade de queijos do Brasil, etantasoutrosatributosquelevamo tempero mais do que exclusivodapaixãoinigualávelpelosfornose fogões. E hoje, se estamos emMadrid,maisdoquenuncadevemosagradeceraojornalEEssttaaddoo ddee MMiinnaass, que nos enviouao evento há 3 anos enovamenteanopassado,quandonós,daConspiraçãoGastronômica,iniciamosnegociaçõescomLourdes Plana, com objetivo de

levar nossas outras preciosidadesparaaEuropa.Apartirdessechuteinicialeaparticipaçãodealgunsoutros conspiradores, o governodo estado entrou no jogo econvidou os organizadores doMadrid Fusion para conhecerMinas. Logo se encantaram econstataram que continuamoscada vez mais Minas Gerais, pelossaborosos tesouros garimpadosnas nossas cozinhas e nocoração de nosso povo.Finalizo pedindo licença ao amigoLuis Cláudio Ferreira de Oliveira -presidente do Instituto Espinhaço-, para reproduzir a frase de MarcelProust, com a qual ele abriu suaapresentação no magnífico livroMarcas do Sagrado publicado peloSebrae – MG e InstitutoEspinhaço: “A verdadeira viagemde descoberta consiste não emprocurar novas paisagens, masem ter novos olhos”.Convidamos a todos osestrangeiros e também osbrasileiros a redescobriremMinas e o Brasil.

Fogão a lenha: uma tradição mineira

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