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UNIVERSIDADE DA CIDADE DE SO PAULO
PS-GRADUAO EM CONSTRUES SUSTENTVEIS
CAPA
THIAGO DELGADO PETILLO
BIOARQUITETURA NA REA URBANA
CAMPO GRANDE
MS2014
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THIAGO DELGADO PETILLO
FOLHA DE ROSTO
BIOARQUITETURA NA REA URBANA
Monografia apresentada ao MBA emConstrues Sustentveis, Universidade daCidade de So Paulo, como requisito parcial paraobteno do ttulo de Especialista.
CAMPO GRANDE MS
2014
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THIAGO DELGADO PETILLO
BIOARQUITETURA NA REA URBANA
Monografia apresentada na concluso do MBAem Construes Sustentveis, Universidade daCidade de So Paulo, como requisito parcial paraobteno do ttulo de Especialista.
rea de concentrao:
Data da defesa:
Resultado:______________________
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Me. Antnio Macedo FilhoUniversidade Cidade de So Paulo ______________________________________
Prof. Esp. Marcos CasadoUniversidade Cidade de So Paulo ______________________________________
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DEDICATRIA
Dedico este trabalho minha esposa e
companheira de todas as horas, Vanessa
Quadros Cardoso, que sempre me ajuda e me
apoia em todas as situaes de minha vida.
Dedico tambm aos meus filhos, Joo Luca e
Miguel, que tiveram que suportar minha
ausncia e privaes em diversos momentos,
para que este trabalho fosse realizado.
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AGRADECIMENTOS
Neste momento uma imensa gratido e satisfao brotam de meu interior. Muitosso os que proporcionaram a possibilidade e deram a oportunidade para que este trabalho
fosse realizado. Uns contriburam com palavras, discusses e reflexes acerca do tema, outros
com a indicao de bibliografias, com a amizade, carinho, compreenso, pacincia e apoio. A
prpria existncia me presenteou com circunstancias que me possibilitando participar desta
especializao me proporcionando ter um olhar inquieto e profundo em relao vida,
contribuindo para a concretizao desse sonho. A todos que me acompanharam nessa jornada,
nesse caminho, deixando um pouquinho de si registrado nas linhas que se seguem, muitoobrigado.
Em especial agradeo, a minha me por ter dado tudo que esteve ao seu alcance
para que eu fosse melhor.
Agradeo imensa e profundamente minha esposa e companheira Vanessa, por
acumular muitas das minhas responsabilidades em suas mos, pelas privaes e pelas
dificuldades enfrentadas nestes ltimos tempos me retribuindo, nesta fase de nossas vidas,
com muita compreenso e pacincia. Seu precioso e incansvel apoio foi fundamental para arealizao deste trabalho.
Aos meus filhos Joo Luca e Miguel pelas demonstraes de carinho, afeto e
espontaneidade requisitando minha presena atravs de seus abraos e sorrisos calorosos em
meio s turbulncias de nossa vida cotidiana. Agradeo por existirem, me estimulando a
buscar, persistir e completar todas as etapas desse trabalho.
A meu amigo Jlio por seu companheirismo e disponibilidade em me representar
em atividades de minha responsabilidade e s quais me ausentei para concluir esta fase demeus estudos. Tambm minha tia e amiga Ercy por me apoiar incondicionalmente em vrias
etapas de minha vida, e pela ajuda inestimvel na reviso e finalizao deste.
Aos colegas da Ps-Graduao pela convivncia e apoio mtuos, e a todos os
professores que lecionaram, sem exceo alguma, pois cada um deles contribuiu para a minha
formao me fazendo acreditar em um mundo melhor atravs da arquitetura; e ao INBEC e a
todos seus colaboradores pela possibilidade de concesso da Bolsa de estudos atravs da
indicao de colegas para fazer o curso. Sem isso provavelmente no seria possvel minhaparticipao no mesmo.
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EPGRAFE
A sociedade em que vivemos nos impe
algumas questes que no podem mais ser
negligenciadas, a fim de que a cincia no
cometa o maior dos pecados: produzir o
avano tecnolgico, mas no disp-lo
melhoria da qualidade de vida em todos os
seus aspectos.
Vera Lcia dos Santos
No sinal de sade estar bem adaptado a
uma sociedade doente.
A verdade no pode ser trazida para baixo;
o individuo que deve fazer o esforo de
ascender at ela.Jiddu Krishnamurti
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RESUMO
O objetivo do trabalho analisar conceitualmente as caractersticas e importncia de se adotar
os princpios da bioarquitetura e do bioclimatismo. Para alcanar o referido objetivo, optou-sepela pesquisa bibliogrfica exploratria de um conjunto de dados e temas das mais diversasreas do conhecimento, concatenando pensamentos, pesquisas e referncias para um estudoabrangente. Ultimamente o termo construo sustentvel tem sido bastante difundido comosoluo para acabar com a degradao do meio ambiente e isso, sem sombra de dvidas, umsinal bastante favorvel. Aponta, entre outras coisas, reviso de valores e atitudes por parteda sociedade, especialmente da classe aristocrata, sobre a relao entre o homem e o meio.
Neste ponto, relembrar o surgimento das cidades e seu desenvolvimento salientando os ideaisdo homem foram essenciais para compreender a urbanizao desordenada e o estilo de vidainsustentvel da sociedade moderna, elencando valores perdidos, ignorados ou malcompreendidos, avaliando se o que praticado em relao sustentabilidade seria um
aperfeioamento, um ajuste, ou um desejo ntimo de negao, de superao dos equvocospraticados em nome do desenvolvimento. Entendendo estes preceitos, a bioarquitetura abordada no s pela profundidade e a multidisciplinaridade que alcana, mas pelos princpiose objetivos fundamentais que visam primordialmente o equilbrio, a restaurao e a valorizaoda vida de forma ntegra, a conscincia, a independncia do indivduo e a construo devnculos com a natureza e com os seres que subsistem nela, propondo alguns mtodoscomumente difundidos pelo desenvolvimento sustentvel e outros ainda emergentespara aconstruo de ambientes urbanos amplamente mais saudveis a todos, e no somente aos sereshumanos. Conclui-se pretendendo contribuir para ampliao do campo do conhecimento e paraa reflexo dos processos de formulao e execuo de planos e projetos que interfiram no meionatural, extraindo desta maneira, solues e diretrizes relevantes passveis de aplicao demodo que o meio urbano se reconcilie com a natureza.
Palavras-chave: bioarquitetura, cidade, rea urbana, sustentabi lidade , natureza,vida, conscincia.
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ABSTRACT / RESUMEN
The objective is conceptually analyze the characteristics and importance of adopting the
principles of bioarchitecture and bioclimatism. In pursuit of this goal, we opted for thebibliographical research of a set of data and issues from various fields of knowledge,concatenating thoughts, research and referrals to a comprehensive study. Lately sustainableconstruction term has been widespread as a solution to stop the degradation of the environmentand that, without a doubt, is a very favorable sign. Points out, among other things, the revisionof values and attitudes by society, especially the aristocratic class, on the relationship betweenman and the environment. At this point, recall the appearance of cities and their developmentemphasizing the ideals of man were essential to understand the unplanned urbanization andlifestyle unsustainable of modern society, listing values lost, ignored or misunderstood byassessing whether what is practiced in relation to sustainability would be an improvement, anadjustment or an intimate desire to denial, to overcome the mistakes committed in the name of
development. Understanding these precepts, the bioarchitecture is addressed not only by thedepth and multidisciplinary reaching, but the fundamental principles and objectives that
primarily aim to balance, restoration and enhancement full form of life, consciousness, theindividual independence and the building links with nature and the beings that exist in it,
proposing some methods commonly disseminated by sustainable development and others stillemerging to build widely healthier urban environments for all, not only to humans. Theconclusion is intending to contribute to expanding the field of knowledge and reflection of theformulation and implementation of plans and projects that interfere with the naturalenvironment, drawing in this way, solutions and relevant guidelines could be applied so thatthe urban environment be reconciled with nature.
Keyword/ Resumen: bioarchitecture, city, urban area, sustainability, nature, life,consciousness.
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SUMRIO
1. INTRODUO _______________________________________________________ 100
1.1 - Objetivo _____________________________________________________________ 121.1.1 - Geral ______________________________________________________________ 121.1.2 - Especf ico __________________________________________________________ 121.2 - Justificativa __________________________________________________________ 131.3 - Metodologia _________________________________________________________ 14
2. SOCIEDADE MODERNA________________________________________________ 15
2.1 - Surgimento das Cidades________________________________________________ 152.2 - A Insustentvel Utopia do Desenvolvimento Moderno_______________________ 28
3. CONSTRUO CIVIL E A ARQUITETURA _______________________________ 36
3.1 - Indstria da Construo Civil ___________________________________________ 363.2 - A Arquitetura e suas tendncias _________________________________________ 37
4. BIOARQUITETURA NA REA URBANA _________________________________ 47
4.1 - Bioconscincia, arquitetura alm da forma fsica _________________________ 474.2 - Bioarquitetura na rea urbana __________________________________________ 594.3 - Metodologia para implantao da bioarquitetura na rea urbana _____________ 804.3.1 -Escolha da localizao e aval iao do meio ambiental ______________________ 814.3.2 -Gesto da energi a (estudo e avaliao de tcnicas passivas voltadas para a aplicaodos pr incpios biocl imticos)_________________________________________________ 824.3.3 -Formas harmoniosas e a relao da construo com meio ambiente (f ormasharmnicas, integrao com a paisagem, arqui tetura local etc.).____________________ 844.3.4 -Escolha i ntegrada dos sistemas e materiais de construo ___________________ 934.3.5 -Sistemas construti vos e canteiros de obras de baixo impacto__________________ 954.3.6 -Gesto dos resduos de at ividades _______________________________________ 984.3.7 -Conservao e manuteno___________________________________________ 1004.3.8 -Confor to higrotrmi co (calefao, cl imati zao, isolamento e etc.) .___________ 1014.3.9 -Conforto acstico ___________________________________________________ 104
4.3.10 -Conforto visual ____________________________________________________ 1064.3.11 -Conforto Olf ativo __________________________________________________ 1094.3.12 -Condies Sanitrias e instalaes eltr icas_____________________________ 1114.3.13 -Qual idade do ar ___________________________________________________ 1134.3.14 -Gesto e qual idade da gua __________________________________________ 1174.4 - O despertar ecolgico (Bioconscincia)___________________________________ 123
5. CONCLUSO _________________________________________________________ 136
REFERNCIAS _________________________________________________________ 138
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I
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Venus de Willendorf vista de frente ........................................................................ 16
Figura 2 - Planta de Mileto (sc. V a.C.) .................................................................................. 19Figura 3 - Desenvolvimento Sustentvel (Trip da Sustentabilidade) ..................................... 41
Figura 4 - Trnsito na ndia ...................................................................................................... 53
Figura 5 - Sand Babel (Proposta de construo de edifcio no deserto impresso em 3Dutilizando a areia local)............................................................................................................. 61
Figura 6 - Comendo lixo ........................................................................................................... 61
Figura 7 - Casa de lixo .............................................................................................................. 62
Figura 8 - Cidade x Natureza .................................................................................................... 65
Figura 9 - The City Blue-Green Garden ................................................................................... 66Figura10 - The City Blue-Green Garden .................................................................................. 67
Figura 11 - Parque Wetland ...................................................................................................... 68
Figura 12 - Parque Wetland ...................................................................................................... 69
Figura 13 - Lyce Jean Moulin em Revin na Frana ................................................................ 70
Figura 14 - Pirmide ecolgica de biomassa para compreenso dos ecossistemas .................. 71
Figura 15 - Representao de uma Teia Alimentar .................................................................. 72
Figura 16 - A Mensagem da gua............................................................................................ 77
Figura 17 - Couves em campo com a utilizao da magnetocultura com rendimento trs vezesmaior ao das tcnicas convencionais ........................................................................................ 78
LISTA DE TABELAS
Grfico 1 - Demanda de Consumo X Capacidade de Regenerao do Ecossistema ............... 33
Grfico 2 - Demanda de Recursos e Servios x Ecossistema................................................... 34
Grfico 3 - Mercado da Construo Sustentvel ...................................................................... 43
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Principais tendncias socioeconmicas .................................................................. 31
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1. INTRODUO
A sociedade moderna vive momentos de aflio impulsionada pela ideologia do Ter
para Ser e por um mecanicismo inumano que v a vida como um objeto a mais para
satisfazer suas ambies materialistas desenfreadas, parece possuir um ideal que no contribui,
absolutamente, nem para a felicidade, nem para o significado da vida(SANTOS, 2005, p. 1).
O emprego bastante generalizado da expresso desenvolvimento sustentvel
constitui, sem dvida, um sinal bastante auspicioso. Indica, entre outras coisas, a extenso da
tomada de conscincia sobre a problemtica dos limites naturais. Comea a penetrar a ideia de
que no se deve perseguir o desenvolvimento tout court, mas que ele deve ser qualificado:
precisa ser ecologicamente sustentvel (VEIGA, 1993, p. 149-169).Por mais vontade que se tenha de compartilhar uma atitude to confiante, necessrio
que algumas questes sejam abordadas, aqui, com o inevitvel pessimismo da razo,
principalmente porque a maioria dos partidrios do otimismo transmitido [...] parecem
enxergar os problemas ambientais como meros defeitos na alocao de recursos que poderiam
ser corrigidos atravs de taxaes especficas. Acreditam que, uma vez restabelecida a
igualdade entre os custos privados da firma e os custos que sua atividade inflige sociedade,
voltaria a haver coincidncia entre o timo individual e o timo coletivo. Assim, a procura dolucro continuaria a ser a melhor alavanca do bem estar social e a lgica do mercado
permaneceria s e salva (VEIGA, 1993, p. 149-169).
H muito que questionar sobre esse pressuposto, sobretudo quando este colocado em
um altar e adorado como princpio absoluto e supremo, assim como tambm sobre o que
ensinado como primordial na vida, a razo da existncia, princpio fundamental
indiscutivelmente inseparvel de qualquer apontamento ou colocao dentro do campo
prtico-cientfico.A vida a essncia do ser, e, se no a nica, uma das principais razes de ser o que se
, por esta estar incontestavelmente presente em cada forma animada que tenha recebido o
sopro de vida, portanto, no se pode jamais separar qualquer aspecto envolvente nesta das
intervenes humanas independentemente do quo profundo eles cheguem, pois assim como
uma vrgula pode alterar o contexto de uma frase de forma negativa, um aspecto ignorado ou
culturalmente considerado irrelevante pode ser catastrfico para o equilbrio natural da vida.
Diante do exposto, olhar nas entrelinhas do passado e do presente atravs de uma
perspectiva mais ampla e profunda se livrando de dogmas cientficos ou religiosos crucial
para a tomada de decises mais precisas e adequadas diante dos momentos angustiosos e
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alarmantes vividos, muitas vezes, provocado por atitudes equivocadas que colocam em risco a
vida presente no planeta terra. Estas atitudes no prejudicam somente os aspectos fsicos do
planeta, prejudicam tambm o homem, provocando neste, doenas e distrbios psquicos que
se dissipam por toda a sociedade atravs dos indivduos que a compem, formando assim uma
sociedade doente e desequilibrada. por esse e por outros motivos que este trabalho aborda a
bioarquitetura como uma soluo urbana necessria para restaurar o equilbrio natural da vida
perdido, ou seja, a arquitetura que trata a vida em todos seus aspectos como um princpio
fundamental indivisvel do partido arquitetnico e de suas repercusses construtivas.
Analisar a evoluo da sociedade moderna e sua relao com o meio, atravs da
histria, ajuda a compreender as crises vivenciadas nos dias atuais entendendo-as mais
profundamente a partir do prisma das cidades, isto contribui para identificar fatores culturaisprecedentes e determinantes ao desequilbrio. Seja com uma abordagem material ou imaterial,
todos procuram entender os avanos alcanados e os novos rumos a serem tomados
(SANTOS, 2005, p. 1).
Para que a sociedade possa retomar as rdeas de sua existncia atravs de uma tica
profunda que envolva todos os seres, necessrio que tome conscincia do que se , do que se
est fazendo e de onde se encontra com o objetivo de saber o que precisa ser de fato, ou seja,
unir o conhecimento objetivo prtica objetiva longe de fantasias, dogmas e teorias que nadaresolvem e tudo complicam. preciso estar consciente, atento e desperto, estando sempre
aberto ao potencial existente no novo, despojado dos apegos e dos ideais meramente
reformadores que buscam remendar seus trapos continuando muitas vezes com sua velha,
desajustada e inadequada roupagem.
Ao longo do desenvolvimento social, cientfico e tecnolgico, nunca se debateu tantosobre a necessidade de novas formas de desenvolvimento. Conceitos como
sustentabilidade, biodiversidade, comunidades locais, tomam posio de destaque naspautas de reunies, quer sejam cientficas, quer sejam de governos e instituies.Qual o motivo? Um deles evidente: vivemos em um momento paradoxal. Graas aoavano cientfico e tecnolgico nunca, em sua histria, a sociedade disps de tantosmeios para alcanar seus fins, ou seja, teoricamente possui condies para estarrealizada quando o assunto acmulo de bens, o aumento do PIB, da renda per capitae o controle sobre os diversos acontecimentos, inclusive os de ordem fsico-ambiental, como, por exemplo, prever furaces, terremotos e outros cataclismos que
podem assolar vidas humanas. ( (SANTOS, 2005, p. 19).
A cincia hoje j possui um vasto conhecimento com capacidade comprobatria que
pode abarcar inmeros campos do conhecimento com uma unidade multidisciplinar intrnseca,
podendo explorar a rvore do conhecimento desde as razes s folhas, desde suas propriedades
fsicas s suas propriedades metafsicas empregando-as a favor da vida a partir de
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determinadas reas do conhecimento como o da arquitetura. Com estes avanos e com uma
viso mais profunda, refinada e humanista sobre o homem, seus recnditos tambm passam a
ser explorados a fim de despertar seus valores ticos inerentes mais sublimes, incluindo a
construo de vnculos com a natureza atravs das mltiplas reas do conhecimento, abarcando
em seu contexto a organizao espacial do meio onde este vive. Com o passar do tempo novas
pesquisas e significativas descobertas so apresentadas trazendo grandes contribuies que
demonstram a importncia acerca deste assunto para o avano da arquitetura.
Este trabalho se desenvolve em trs captulos. a) No primeiro explana-se sobre a
trajetria humana do mundo natural at os dias atuais enfatizando em determinados momentos
as consequncias de suas crenas e ideologias no processo de construo do habitat e cidades;
b) segundo, so expostas as implicaes e repercusses da construo civil no meio ambientede forma mais especfica, e posteriormente, os conceitos arquitetnicos mais atuais com suas
tendncias e repostas para a situao atual; c) no terceiro so abordados temas relevantes que
devem ser considerados para aplicao da bioarquitetura dentro dos espaos urbanos com
alguns apontamentos explanados pelo conceito de arquitetura sustentvel atual e outros
conceitos importantes ignorados pela ideologia moderna predominante.
1.1 - Objetivo
1.1.1 - Geral
Propor conceitos e prticas que visem a restaurao, a regenerao e a inverso do
impacto ambiental gerado pelo homem, buscando propostas que promovam a reconexo ou
religao deste e da cidade de forma harmoniosa atravs de diversas reas do conhecimento
com nfase na sustentabilidade, no aumento da qualidade de vida, na ampliao da conscinciado individuo incentivando uma arquitetura passiva, que nasa do meio ambiente natural
respeitando a vida em todas as formas e expresses possveis.
1.1.2 -Especficos
Propor aplicao da bioarquitetura neste contexto como uma forma de atender no s s
necessidades humanas, mas tambm as necessidades da natureza como um todo de maneira
mais harmoniosa e integra, ressaltando a importncia de se respeitar e zelar pela vida em
todos os desdobramentos possveis;
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Contribuir para ampliar o campo de conhecimento e a reflexo do processo de formulao e
implementao de planos e projetos visando reconciliao e a reconexo do homem e do
meio urbano com meio natural atravs de medidas que preservem e restaurem o meio
ambiente, do macro ao micro de maneira multidisciplinar e multidimensional;
Apresentar ideias e conceitos que visem a transformao das relaes entre o homem e a
natureza devido urgncia da mudana de postura requisitada pelas circunstncias atuais,
ressaltando a necessidade da inverso do impacto ambiental ao invs de s o reduzir.
1.2 - Justificativa
A crise ambiental instalada no planeta demonstrada de maneira assustadora pela perda
massiva da biodiversidade e dos recursos naturais alm de sua capacidade de regenerao
promovida principalmente pelo modo de vida do homem, tm exigido deste uma drstica
mudana de postura e reviso de valores para que se possa garantir at mesmo sua prpria
subsistncia. Tal reviso, nas circunstncias atuais, podem exigir, inclusive, uma profunda
reflexo sobre a arquitetura denominada sustentvel com o seu famoso e usual trip
(econmico, social e ambiental) absorvido e sua sugerida tecnologia que pode no chegar aos
confins do planeta para atender s populaes que mais precisam, por no interessar aoinvestidor particular explorar reas que no possibilitam um retorno financeiro.
V-se que parte da tica com a natureza vem se perdendo e parte dos ideais e interesses
do homem em preservar o meio ainda seguem fortes impulsos econmicos que enxergam a
natureza como um mero produto a ser utilizado para satisfazer os insaciveis prazeres
humanos. Neste ponto, vem em memria a civilizao pr-histrica e as demais subsequentes
que enxergavam a natureza como me, como deusa, como geradora de vida, no qual suas
crenas foram fortemente lembradas na modernidade levando em conta os fatores externos desua cultura, no qual fica marcado tambm o atraso tecnolgico.
Excluindo a defesa de uma viso retrograda e dogmtica, buscando extrair a essncia
dos contextos apresentados, a bioarquitetura surge como uma forma e uma palavra
etimologicamente profunda que acolhe diversos campos do conhecimento de forma
multidimensional, capaz de trazer resultados e repostas mais eficazes aos problemas da
degenerao e degradao da natureza como um todo. A inteno demonstrar os benefcios
da bioarquitetura para o homem, para sua a qualidade de vida e para a natureza, quando este
mantinha uma relao mais prxima com a mesma, atestando que os impactos ambientais,
sociais e os custos das construes tambm podero ser bastante reduzidos com sua aplicao.
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Dessa forma, sero apresentados conceitos, definies e ferramentas necessrios para a
aplicao desse modelo de construo nas reas urbanas, revelando tambm a importncia de
se resgatar o contato do homem com a natureza quase inexistente nesses locais.
1.3 - Metodologia
Pesquisa bibliogrfica descritiva e analtica, visando a compreenso das variveis e
fenmenos que envolvem o tema, verificando mtodos e dados, utilizando os conceitos e
abordagens mais adequados com o intuito de apontar solues e diretrizes relacionadas
proposta do trabalho. Para alcanar esses propsitos, algumas etapas sero percorridas, a
saber: Reconhecimento da matria objeto de estudo, com a seleo e leitura de reconhecimento e
seletiva de livros, artigos, revistas na rea da arquitetura, bioarquitetura, sustentabilidade,
como tambm consultas Internet;
Leitura crtica e interpretativa, com fichamento do material bibliogrfico e documental
encontrado;
Problematizao e redao do texto com citao das fontes pesquisadas;
Fazer apontamentos sobre importncia da autossuficincia, do resgate do convvio com anatureza (qualidade de vida, convvio social e integrao), do resgate e aprimoramento das
tcnicas construtivas locais, do melhor aproveitamento dos recursos naturais (tcnicas
passivas etc.) e reuso, do incentivo ao uso de energias renovveis de baixo impacto
ambiental, da independncia do homem em relao ao sistema econmico vigente, do
aumento da biodiversidade e recuperao dos ecossistemas, da produo local de materiais
e de alimentos de baixo custo, da ampliao da conscincia, do despertar ecolgico e
demais consideraes visando a convivncia pacfica entre o homem e a natureza.
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2. SOCIEDADE MODERNA
2.1 - Surgimento das Cidades
A volta ao passado essencial para compreenso da cidade nos dias atuais, fazendo dos
fragmentos deixados ao longo da histria peas fundamentais para apontar possveis acertos e
equvocos na evoluo poltica, social, econmica e cultural do homem na formao urbana
presente e futura.
Durante a era glacial, Perodo Paleoltico (5.000.000 a.C. a 8.000 a.C.), as baixas
temperaturas da terra obrigavam os grupos humanos a viverem em abrigos improvisados em
cavernas e vos de pedra. Devido escassez de alimentos, falta de tcnicas de criao deanimais e de cultivos agrcolas, os homindeos restringiram suas atividades de subsistncia
caa, pesca e coleta de frutos, conduzindo-os a deslocamentos constantes e, por vezes,
construo de moradias rsticas feitas com peles de animais, rochas e gravetos, trazendo nesta
poca uma das mais significativas descobertas: o domnio sobre o fogo.
Para abater animais de grande porte, e garantir a sobrevivncia da espcie, os homens
organizaram-se em grupos, estabelecendo laos de cooperao e solidariedade entre si,
desenvolvendo com o passar do tempo invenes de diversas armadilhas para a captura dessesseres. A permanncia dentro das cavernas passou a ser mais constante, permitindo condies
favorveis para o desenvolvimento de produes artsticas, que deixaram vestgios, como as
conhecidas pinturas rupestres, estampadas nas rochas dessas grutas.
Nessa poca, pareceu existir no ser humano um instinto de procura da divindade, assim
como uma obra de arte no assinada parece estar, eternamente, procura de seu realizador.
Alguns historiadores afirmam que nesse perodo comea o despertar da sobrenaturalidade no
homem, dando origem religio primitiva baseada no culto mulher (figura 1), aos princpiosfemininos de uma forma mais abstrata, geralmente sem uma definio facial, enaltecendo
caractersticas maternas como ventre e vulva volumosos, evidenciando a capacidade de gestar
e gerar a vida, denotando a fertilidade, alm de seios fartos, interpretados como smbolo da
amamentao. importante ressaltar que a natureza conhecida em nosso planeta
independentemente de sua complexidade e multiplicidade, muitas vezes desconhecida, possui
caractersticas imutveis, atributos que no se alteram em qualquer regio, clima ou bioma em
que se encontre, que a capacidade de ser engendrada, de gestar, de gerar e de alimentar a sua
prole. O contato direto e permanente com a natureza possibilitou a esse homem situar-se e
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reconhecer essa me natureza adorando-a como uma grande provedora, indispensvel para
sua prpria subsistncia.
Figura 1 - Venus de Willendorf vista de frente
Fonte: Matthias Kabel
O Mestre e Doutor em Teologia e Psicologia Educacional, Merval Rosa (ROSA, 1979,
p. 43), cita o termo Mana a esta forma de crena, uma palavra polinsia que significa fora
vaga, impessoal e mecnica que controla os destinos do universo. Sinalizando similaridadedesta expresso como um princpio bsico e universal adotado por todas as culturas conhecidas
que expressam uma forma de comportamento religioso.
De acordo com Rainer Sousa (SOUSA, s/ data), Mestre em Histria, o perodo
Paleoltico a parcela de tempo que compreende desde as origens do homem at 8.000 a.C.
Dentro desse perodo ainda existem duas subdivises: o Paleoltico Inferior (5.000.000
30.000 a.C.) e o Paleoltico Superior (30.000 8.000 a.C.). Em ambos os perodos, a falta de
uma ampla documentao dificulta a obteno de informaes mais especficas sobre osprimeiros grupos humanos que ocuparam o globo terrestre.
No Perodo Mesoltico (10.000 a.C.), a temperatura em algumas partes do planeta ficou
mais amena e o homem passou a se instalar perto de rios com habitaes feitas de madeira,
fibras vegetais, barro e pedra, se alimentando de peixes, moluscos e ovos de pssaros.
O avano constante destes grupos possibilitou ao homem o desenvolvimento da
agricultura e a domesticao de animais com tcnicas rudimentares que serviam como
complementao da alimentao, permitindo cada vez mais um modo de vida sedentrio quedeixa como legado a condio necessria para o surgimento dos primeiros aldeamentos.
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A ultima era pr-histrica, chamada Perodo Neoltico (de 8.000 a.C. at 4.000 a.C.) foi
marcada pelo aumento populacional, a consolidao dos primeiros aldeamentos, formados
prximos a terras frteis e ao longo de rios, quando se estabeleceram melhores oportunidades
de sobrevivncia aos indivduos atravs da compreenso dos processos de germinao das
plantas, cultivo, fecundidade e alimentao, onde o homem deixa de ser somente coletor para
passar a ser produtor.
Deste perodo em diante, as sedentarizaes (fixao em um s lugar) formadas pelas
aldeias comearam a introduzir a noo de territrio, de propriedade coletiva do solo e do
sentido de solidariedade criado pela vizinhana.
Os aldeamentos surgidos neste perodo geraram as circunstncias necessrias para a
origem das primeiras cidades e os excedentes alimentcios produzidos, possibilitaram oaparecimento de aglomerados fora das reas de produo, contribuindo para o
desenvolvimento da comunicao e a interdependncia entre os grupos, surgindo a diviso do
trabalho e a diferenciao social.
A semelhana entre os aldeamentos e as primeiras cidades to prxima que
necessrio distingui-las fora das zonas produtivas geradas pelo acmulo de produo que
garantiram o sustento e a estabilidade das classes sociais voltadas administrao e defesa.
Essa etapa marcada pelo adensamento populacional, aperfeioamento dos processos, divisesespaciais e separaes das produes sociais entre agricultores e pastores, destacando-se o
avano no desenvolvimento do artesanato e de utenslios, que possibilitaram a criao de novas
tcnicas de construes habitacionais, transporte e trabalho atravs da fora animal, produo
de cermicas, tecelagem e etc.
A gerao dos excedentes de produo e o aprimoramento do transporte ensejaram o
nascimento do comrcio atravs da troca de produtos alimentcios e utenslios com outros
aglomerados, que com o aumento populacional e a multiplicidade produtiva deram prviosindcios de uma ciso social de classes juntamente com a de ofcios especializados. Por vezes
aconteciam disputas e guerras por melhores territrios para a produo, sendo criadas
fortificaes, instrumentos para o corte de pedras e armas mais aprimoradas que, inclusive,
serviriam para defesa ou ataque.
importante ressaltar que para implantao dos aglomerados nessa poca no era
levada somente em considerao as caractersticas fsicas locais, como por exemplo, a
fertilidade da terra, mas tambm fatores religiosos e sagrados.
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Em Catal Huyuk, um grande assentamento neoltico na Anatlia, Turquia, a deusame apresentava tambm feies jovem, gerando filho ou um touro, uma anciacompanhada por uma ave de rapina. As divindades masculinas j aparecem demaneira coadjuvante com aspectos de adulto com barba as vezes montado sobre otouro ou um de adolescente filho ou amante da deusa. (BEZERRA, 2011)
Os cultos Deusa Terra-Me, natureza, aos astros, fertilidade ganharam maiores
propores e o surgimento de metais, a partir do cobre (8.000 a.C.), possibilitou o
desenvolvimento, em sua fase inicial, das primeiras construes em pedras com estruturas
megalticas caracterizadas por menires (colunas rudimentares) cilndricos ou cnicos
associados forma flica, persistindo na ideia da manifestao de um ritual ligado vitalidade
e fertilidade da terra. Com os dlmens ou antas (construes rudimentares), se faziam
sepultamentos e cultos ligados morte, podendo formar os cromeleques (agrupamentos demenires ou dlmens) dispostos alinhados, ou em crculo, sinalizando a ideia de lugares
sagrados, ou lugar de culto, tambm relacionados com estudos astronmicos ou fenmenos
celestes.
Nesta poca os materiais mais utilizados nas habitaes estavam In-natura, ou seja,
disponveis no meio ambiente de maneira natural, e dentre alguns deles esto as pedras que
foram talhadas com ferramentas de metais, a madeira, as fibras vegetais, as peles e a gordura
dos animais, assim como o barro. Todos esses elementos colaboram ampla e
consideravelmente em suas construes.
A institucionalizao das relaes sociais foi sendo formalizada e com ela a
cristalizao das cidades de forma que assegurassem a transferncia de produtos s mesmas. A
partir deste momento iniciou-se a Antiguidade, perodo que perdura desde a inveno da
escrita (de 4.000 a.C. a 3.500 a.C.) at a queda do Imprio Romano do Ocidente (476 d.C.).
Com maior abrangncia, as cidades desta poca j contavam com grandes estruturas de
irrigao, de estoque de alimentos, de canais, templos religiosos, que devido a essa
complexidade demandou a criao de estados, sistemas governamentais para consolidao
defesa militar, elaborao de leis para regulao das relaes comerciais e prestao de
servios essenciais. As localizaes das cidades ainda estavam paralelamente ligadas s
caractersticas naturais, situadas principalmente prximas ao mar, ou ao longo de rios, o que
colaborou para o desenvolvimento de tcnicas peculiares s caractersticas regionais.
As religies neste perodo se apresentavam de maneiras distintas, com grande riqueza e
diversidade cultural, demonstrando em sua maioria ainda repousar sobre os alicerces das
crenas primitivas da adorao de princpios relacionados ao cosmo, aos astros e natureza,
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revestidas de formas adaptadas s linguagens culturais de cada povo e aos elementos palpveis
presentes de cada regio.
As relaes urbanas passaram a se intensificar reunindo uma demanda de consumo
cada vez maior, repercutindo na coletivizao especializada das tarefas produtivas, destacando-
se a Mesopotmia, que propagou a urbanizao atravs de suas conquistas territoriais.
O arranjo das reas de convvio era, em sua maioria, essencialmente moldado visando
defesa (de cunho militar) e crenas espirituais, colocando em destaque os edifcios com fins
religiosos.
A primeira mudana significativa para essa distribuio foi proposta por Hipdamo de
Mileto (considerado fundador do urbanismo) que considerava o acolhimento dos edifcios por
meio de um traado urbano que os integrasse aos espaos pblicos atravs da plantahipodmica (figura 2), onde a cidade era definida por linhas paralelas e perpendiculares
formando uma malha regular.
Figura 2 - Planta de Mileto (sc. V a.C.)
Fonte: Revista Lusfona de Arquitetura e Educao
A densidade populacional conduziu as cidades a novos desafios envolvendo
saneamento bsico, coleta de lixo e abastecimento de gua, contribuindo para o aparecimentode doenas relacionadas ao manejo inadequado dos restos e dejetos.
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Em algumas cidades ou regies foram desenvolvidos complexos sistemas hidrulicos,
redes de esgoto, de drenagem, construo de diques, barragens e reservatrios capazes de
coletar gua da chuva.
A evoluo desta arquitetura apresentou maior preocupao com os espaos internos,
funcionalidade e esttica em relao ao perodo neoltico, apresentando avanos nas tcnicas e
nos materiais principalmente nas edificaes. Verificou-se no Egito (4.000. a.C. A 30 a.C.) a
utilizao de tijolos no cozidos, l e esteiras de junco, tijolos de lamas com palha e areia,
secos ao sol, com funes termoclimticas, blocos de pedra, pesando grandes toneladas, com
encaixes precisos, argamassas areas (compostas por aglomerante areo, cal ou gesso).
Na Mesopotmia (4.000 a.C. a 300 a.C.) empregaram tijolos de barro seco ao sol
maleveis e pouco resistentes que mais tarde passaram a ser cozidos; argila com baixo pontode fuso para obter a cermica vidrada, azulejos para revestir fachadas e vestbulos,
argamassas areas, blocos de pedra para pirmides de faces escalonadas, surgindo a primeira
industrializao de vidro (foscos por serem moldados sobre a areia), encontrados tambm na
Sria, Palestina e entre os chineses.
A Grcia (700 a.C. a 400 a.C.) apresentou a utilizao de adobe para as paredes e
madeira para as colunas que posteriormente foram substitudas por pedra, coberturas com
telhas de barro e estruturas em madeira, blocos de pedra precisamente talhadas, justapostos esobrepostos sem aplicao de argamassa. Em alguns lugares verificam-se templos baixos e
macios, com a utilizao de argamassas areas e tambm do concreto denominado Concreto
Antigo(5.000 a.C.100 a.C.).
Os romanos faziam rebanhos de ovelhas pastarem durante longos perodos nosterrenos onde se pensava em fundar uma cidade. Atravs do sacrifcio dos animais,estudavam seu fgado, cujo estado lhes oferecia informaes sobre a qualidade doterreno. Desse modo, decidiam pela implantao definitiva ou o deslocamento a outro
local mais favorvel. (BUENO, 1995, p. 20)
Em Roma (200 a.C. a 300 d.C.) somado ao uso habitual da pedra, madeira, barro,
metais etc. estava uma nova mistura, feita de areia vulcnica, calcrio, e restos de tijolos, o
que se poderia definir como um tipo de cimento, denominado opus caementicium, que era
aplicado de forma semelhante ao concreto armado possibilitando construir grandes estruturas,
como cpulas, sem pilares de sustentao. Inovaram tambm com o uso de um tijolo de alta
resistncia chamado opus latericium, combinando o uso de mrmores para dar leveza e
versatilidade s construes, que somados ao cimento viabilizava edificao de obras
monumentais. Usaram tambm o opus caementicium no interior de pedras e tijolos,
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aprimorando a tcnica de alvenaria em juntas secas, e, alm disso, produziram concreto leve
com agregados utilizando pedra pomes.
Na Mesoamrica (1000 a.C. a 900 d.C.) as cidades maias aparentavam em sua maioria
pouco planejamento, sendo estabelecidas de acordo com a topografia, algumas aproveitam os
declives e aclives naturais para elevar torres e templos a grandes alturas, enquanto que outras
se estendiam extensamente ao longo de plancies. Em Teotihuacan o planejamento urbano foi
mais cuidadoso, organizando-se por zonas e eixos principais que cortavam a cidade com
arruamentos orientados pelos pontos cardeais em malha ortogonal que cobriam toda a cidade.
Era dividido por bairros e centros religiosos que absorviam templos e pirmides, palcios e
edifcios administrativos, no possuindo desenho com caractersticas militares. A populao
vivia em grandes compostos padronizados de apartamentos multifamiliares, com ptios etemplos no centro, com capacidade para comportar cerca de 60 a 100 pessoas por edifcio,
totalizando aproximadamente duas mil edificaes. Governantes e aristocratas viviam
separados da populao por uma muralha e, no centro de algumas cidades, edifcios
governamentais e religiosos envolviam imensas praas.
A arquitetura maia acolhia diversos aspectos naturais em sua composio, usavam
pedras calcrias queimadas e modas para a fabricao de uma espcie de argamassa (espcie
de cimento), aplicando-a em revestimentos, tetos, janelas e portas, acabamentos, assentamentode pedras, estruturas, regularizao de imperfeies, elaborao de alto-relevo, entalhes e
dintis em fachadas. Em algumas edificaes usavam estruturas de madeira, paredes de
adobe, pedra calcria, coberturas de palha e ladrilhos de barro cozidos, provavelmente
utilizados para contornar a escassez de pedras de boa qualidade, sendo encontrados tambm,
pisos de mica (material birrefringente com alta resistncia dieltrica) e pavimentao com
rocha vulcnica tezontle. Pedras eram amplamente utilizadas, desde estruturas a acabamentos,
sinalizando a extrao nas proximidades locais.Nas construes os aspectos externos eram privilegiados esteticamente, templos eram
colocados em posio de destaque em cima das pirmides e os palcios eram repletos de
murais com pinturas relacionadas sua mitologia. Era comum a reconstruo e modificaes
de estruturas antigas, no sendo encontrados indcios do uso de ferramentas de metal, polias,
ou veculos com rodas para a execuo dessas e de outras obras.
As cidades cresciam conectando grandes praas a plataformas dos edifcios, atravs de
caladas, e ainda que algumas vezes a natureza determinasse seu arranjo, os templos e
observatrios eram minuciosamente construdos de acordo com a compreenso maia das
rbitas estelares. Com o desenvolvimento da cidade, as residncias de madeira e palha deram
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lugar a edifcios de pedra, e por no se tratar de uma sociedade militarista, a expanso dos
territrios se deu pela sbia aplicao do comrcio e da religio.
No que tange ao fim da Idade Antiga, grande parte dos historiadores toma como
referncia as civilizaes desenvolvidas na Europa e parte do Oriente lindeiro referindo-se,
sem um consenso comum, sobre sua periodizao e caractersticas ao fim do Imprio Romano,
com crises que vo desde as invases inimigas com fragmentao e perda territorial,
limitao do crescimento em decorrncia da escravatura, e a inocorrncia de conflitos de classe
entre escravos e possuidores que impedia a criao de novos sistemas produtivos, limitando e
deteriorando o prprio modo de produo. De um modo geral, neste perodo predominou a
cidade poltica que administrava, exercia domnio, planejava, defendia, explorando terras,
camponeses e cidados, chegando a acontecer a gesto de alguns desses centros sem a presenado capitalismo e do trabalho proletariado, dominando dessa maneira, extensas terras sem a
utilizao de fora fsica ou guerra, baseando-se somente nas trocas puras e no comrcio.
A Idade Mdia, perodo que se estende do sculo V ao XV, foi marcada pelo declnio
do Imprio Romano com transformaes econmicas e sociais que mudaram os sistemas de
posses territoriais e de produo, levando a sociedade a se concentrar nos locais de produo e
de trocas, mantidas por um sistema monetrio. As extenses territoriais reduzidas, dominadas
pelos nobres que se apoiavam nestes campos, revelaram um novo sistema socioeconmico epoltico denominado Feudalismo, com propriedades contendo fortalezas e castelos utilizados
como refugio pela populao que trabalhava como serva para o Senhor Feudal recebendo
proteo e parte da produo. As reas que envolviam os feudos eram predominantemente
caracterizadas pela produo agropastoril, autossuficincia econmica e pouca circulao
monetria.
Nas construes desta poca as igrejas e catedrais mosteiros eram destacadas, sendo
disseminadas a partir do sculo X por toda a Europa, com certa rivalidade arquitetnica entreas comunidades, o que impulsionou a construo de edifcios monumentais. Praticamente
todas as construes e fortalezas utilizaram argamassa, terra, ferro e madeira em sua
composio construtiva, com ressalva para os monumentos considerados de extrema
relevncia. Com o passar do tempo a madeira foi substituda pela pedra, demandando o
transporte desse material aos locais de construo e o uso de mo de obra mais especializada,
como mestres-obreiros (os arquitetos de fato), que pudessem aproveitar ao mximo todo o
potencial desse material utilizando tcnicas construtivas mais sofisticadas, que primassem pela
esttica e sustentabilidade das catedrais.
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Surgiram inmeros estilos apoiados em partidos arquitetnicos produzidos por
conceitos religiosos sob pontos de vistas diferentes, dentre alguns deles esto a Arquitetura
Romnica com construes rgidas e robustas, de paredes espessas e janelas acanhadas,
receosas e preparadas para resistir s investidas inimigas, sendo consideradas verdadeiras
fortalezas sagradas. Utilizavam para estas construes, materiais como pedras, tijolos,
argamassas, vidros, madeira etc.
Nas catedrais da Arquitetura Gtica as abbadas passaram a ser mais elevadas e
maiores apoiando-se sobre pilastras ou feixes de colunas, ao invs das paredes compactas e
muros, excluindo a necessidade das paredes muito grossas, abrindo espao para a captao da
iluminao natural em seu interior com rosceas e vitrais. As abbodas de pedras substituram
as coberturas de madeira e a utilizao desses materiais passou a se misturar com o metal, quedesempenhou uma funo de extrema importncia nos tirantes. Fizeram uso de argamassas
areas e reabilitaram o concreto na construo (conhecido por concreto medieval), aplicando-o
em estruturas e fundaes. Nos edifcios comuns persistiam as tcnicas de construes
tradicionais.
A Cristandade expunha a viso de que a vontade humana era submetida vontade
divina, almejando que o indivduo despertasse esse anelo com divino. Devido a limitaes
tcnicas dos espaos arquitetnicos nos templos, eram dirigidos ao centro atravs de umaperspectiva que induzia um trajeto, e mais tarde, com a arquitetura gtica, esta perspectiva
passou a apontar para o alto, induzindo os indivduos a buscaros cus.
As inovaes tcnicas no sistema fundirio contriburam para gerao de excedentes
produtivos, que somadas ao rompimento do isolamento dos feudos, atravs das Cruzadas,
instigou e reascendeu o comercio e a circulao monetria, contribuindo para a sua expanso
at as cidades, gerando novas oportunidades nesses sistemas urbanos, que passaram a dispor
das indstrias em seu setor econmico; assim, muitas cidades se tornaram livres das relaesservis que tinham com os nobres, levando o Feudalismo ao declnio.
A Idade Moderna aconteceu entre os sculos XV at XVIII, produzindo uma nova
viso de mundo e inmeras transformaes que ainda se apresentam nos dias atuais.
Diminuram-se as distncias, expandiram-se as cidades, aflorou uma nova classe social
chamada burguesia, que se aliou monarquia. Desbravaram mares e continentes antes
desconhecidos, exploraram a natureza de uma nova forma, despertaram o capitalismo, e assim
os servos se tornaram trabalhadores assalariados. Foram estas, dentre tantas outras, as
realizaes que definem esse perodo histrico.
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A conquista das Amricas, somadas s novas rotas comerciais que ligavam a Europa
com a frica e sia propiciou a concentrao de capital necessrio consolidao do
capitalismo, custando a vida de milhes de seres humanos nativos das Amricas e de africanos
escravizados. No que diz respeito religio, a hegemonia da igreja catlica foi perdendo fora
atravs da Reforma Protestante, que condenava a venda de indulgncias pela igreja, o
rebaixamento moral do clero, e defendia a f e o arrependimento sincero como elementos
fundamentais para a salvao.
De acordo com Ross (2005), citado por Magrini (2009, p. 19), a intensificao
comercial fez surgir a ideologia da concentrao de riquezas atravs do ganho pela troca de
mercadorias e moedas entre diferentes sociedades humanas, impulsionando a criao de novas
tcnicas que agilizassem e gerassem maior produo para a comercializao. Este sistema deproduo denominado Capitalismo Industrial, em conjunto com a Reforma Protestante,
provocou muitas mudanas tecnolgicas, econmicas e sociais. Com a tecnologia na indstria,
esta passou a produzir com mais agilidade e com menores custos, tirando parcialmente das
mos dos arteses o controle sobre os processos produtivos, e eles passaram a trabalhar nas
fabricas financiadas pelos burgueses. No campo, os avanos tecnolgicos reduziram a
demanda por trabalhos manuais, levando inmeros camponeses a migrarem para as cidades em
busca de uma melhor oportunidade de vida, o que deu incio a um grande xodo rural,provocando profundos desordenamentos urbanos.
As construes Renascentistas, inspiradas na antiguidade clssica, (sculos XIV a XVI)
introduziram novos componentes, inventando diversas mquinas para solucionar as
dificuldades apresentadas ao longo do caminho. Desenvolveram sistemas estruturais, recursos
tecnolgicos e tcnicas construtivas, envolvendo a arquitetura e o urbanismo, fazendo uso de
materiais como a pedra, o ferro, o concreto, a argamassa, as tintas, a madeira, revestimentos de
pisos em ladrilhos. Esta por sua vez cedeu lugar ao Barroco (XVI a XVIII), caracterizado pelasdimenses monumentais, riqueza das formas, contrastes e excesso de ornamentao, herdando
as formas de aplicaes dos materiais do perodo anterior com argamassa hidrulica, azulejos,
vidros de melhor qualidade. Introduziram tambm matria prima regional e de fcil acesso
com maiores propores.
Devido ao fcil acesso, feito pelo mar, a Portugal, cidades litorneas do Brasil traziam
profissionais, plantas, materiais ornamentais, elementos arquitetnicos, pedras cortadas e
outros. Na regio sul do pas as edificaes so feitas com alvenaria de pedra e barro,
sustentadas por esteios de madeira, usando pedra-grs, basalto, granito, conforme a
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disponibilidade local. Devido escassez da cal, as pedras foram unidas com argamassa de
argila comum, ou tabatinga, que tambm servia como revestimento de parede.
No inicio da Revoluo Industrial, Londres e Paris (as principais cidades da poca)foram profundamente reformadas; o plano Nash em Londres e o de Haussmann emParis tiveram dois objetivos fundamentais: abrir as cidades para a circulao de
pessoas e mercadorias em volumes sem precedentes at ento e introduzir a higienepara que a populao pudesse viver as altas densidades necessrias indstria detransformao. Tal o caso de Paris que, com sua reforma, d nascimento aourbanismo moderno. (MASCAR, 2010, p. 20)
Durante a Revoluo Industrial se estabeleceu a transio para novos processos de
manufatura, que no fim do sculo XVIII e incio do XIX, permitiu a fabricao de novos
produtos qumicos, a criao de novos processos para a produo de ferro, o desenvolvimentode mquinas a vapor, com a utilizao crescente desta energia, a gerao de energia eficiente
atravs da gua, a substituio da madeira e de outros combustveis pelo carvo, o surgimento
das indstrias txteis etc., avanando e alterando os padres tcnicos, econmicos, sociais e
espaciais da sociedade que experimentou crescimentos sem precedentes e teve influncia em
quase todos os aspectos da vida cotidiana.
Na segunda fase desta revoluo (1870 at 1970), mais pases aderiram a este processo,
aprimorando tcnicas e avanando em novas reas, como a indstria qumica (surgimento dosplsticos), e petroqumica, setores da metalurgia e siderurgia, com processos de fabricao do
ao, permitindo sua utilizao na construo de pontes, edifcios, mquinas, trilhos,
ferramentas e outros. Desenvolveram os meios de transporte, criando barcos a vapor, navios,
avies, automveis, locomotivas. Criaram tcnicas de produo de energia eltrica, inventaram
a lmpada incandescente, os meios de comunicao (telgrafo, telefone, televiso e cinema) e
descobriram o uso de antibiticos, vacinas e novas tcnicas de cirurgia para tratamento de
doenas, sendo essas as principais inovaes desse perodo.
Nesse perodo, aflorava o neoclassicismo, surgindo novos materiais que possibilitavam
a substituio parcial da madeira e da pedra na construo, como o concreto simples, armado,
associado ao ao (barras e cabos), que deram maior resistncia e leveza, permitindo a abertura
de grandes vos nas edificaes. Pisos e azulejos ainda faziam parte do processo construtivo e
foram aliados a argamassas com introduo de aditivos, vidro float, o uso de polmeros nas
instalaes, entre outros. Em meados do sculo XX foi se apresentando a Terceira Revoluo
Industrial, marcada pelos avanos tecnolgicos e cientficos das indstrias, dos meios de
transporte, na informtica, telecomunicaes, robtica, automao, produo da energia
atmica para abastecimento eltrico, armas e equipamentos mdicos. Tais avanos permitiram
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a inveno de novas ligas metlicas no setor metalrgico, o que revolucionaria as tcnicas de
construes.
Por volta de 1910 e 1950, os processos foram sendo mudados, e na Arquitetura
Moderna, e de acordo com Andrade e Afonso (2009, p. 8), o processo construtivo no
necessariamente est relacionado a modismos, mas a ofertas de novas tecnologias. Os avanos
se devem utilizao de uma gama muito grande de produtos, segundo as autoras, o que
propicia o desenvolvimento de outras tcnicas, possibilitando vencer novos desafios. Passaram
gradativamente a utilizar o concreto protendido, concreto com agregados reciclados, agregados
leves, concreto de alto desempenho, lajes de concreto armado, estruturas de ao associadas a
alvenaria, entre outras. A indstria da construo avanou continuamente, aprimorando vidros,
plsticos, alumnio, tintas com composio polmera, argamassas, revestimentos de pisos eparedes dentre outros, que foram sendo integrados nas construes de maneira intensiva. Nos
dias atuais se torna um pouco difcil acompanhar o ritmo e os saltos que do as novas
evolues tecnolgicas e explana-las de maneira satisfatria demanda muita ateno aos
processos de mudana, mas, dentre algumas, se encontram: a utilizao de nano partculas para
a construo de estruturas (materiais resultantes da manipulao da matria em escala atmica
e molecular), que geram inmeras possibilidades como a criao de um material que absorve
mais de 99,9% de toda a radiao solar que recebe, podendo colocar a gerao de energiaeltrica a patamares elevadssimos; criao de plstico to forte quanto o ao, porm mais leve
e transparente. So inmeras as invenes e descobertas que definitivamente e influencia a
arquitetura de todas as maneiras. Um bom exemplo disso so os supercomputadores e robs
da IBM, capazes de fazer descobertas cientficas; lmpadas de LED que aumentam a
produtividade das hortalias; biofbrica, que transforma microalgas em operrias, que
promovem a peletizao (recobrimento) de sementes de plantas nativas do cerrado; a biomassa
algal, que poder ser utilizada em reflorestamentos, aproveitando melhor a gua da chuva; teletransporte quntico entre luz e matria, tele transporte de tomos com preciso. Essas e outras
invenes podem auxiliar muito a arquitetura e o urbanismo no perodo atual, em aspectos que
vo da esttica funcionalidade. Influenciam os fatores econmico, social, ambiental, cultural,
entre outros. Hoje as instalaes so os centros nervosos das construes, onde, energia
eltrica, gs combustvel, ar condicionado, cabeamento estruturado, rede hidrossanitria entre
outras, fazem parte do viver e trabalhar, segundo Andrade e Afonso (2009, p. 8).
Para Magrini (2009, p. 20) a Revoluo Industrial significou a consolidao e
mundializao do Capitalismo, sistema socioeconmico hoje dominante no espao mundial. O
progresso desse sistema provocou imensas concentraes humanas e, consequentemente,
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numerosos problemas ambientais. Uma das principais caractersticas do Capitalismo que esse
sistema econmico voltado para a produo e o acmulo constante de riquezas.
Uma das caractersticas das reas metropolitanas correspondentes ao perodo deglobalizao a tendncia sub-urbanizao e/ou periurbanizao a partir dosncleos urbanos originais, em um processo em que a mancha metropolitana seexpande de forma incessante, ocupando as reas rurais que encontra em seucaminho, desbordando os limites urbanos definidos no momento anterior. Estamodalidade de expanso urbana no pode ser considerada como um fenmenointegramente novo, mas como a acentuao de um rasgo inerente urbanizaocapitalista que j tinha comeado a se perfilar no perodo desenvolvista. [...].(MASCAR, 2010, p. 21)
Para Brumes (2001, p. 53) as funes da cidade esto a cada momento assumindo
outros rumos.A diminuio das distancias pelos meios de transportes, das telecomunicaes,etc., provocam choques culturais que possibilitam renovar e produzir novos conhecimentos,
mas que tambm podem gerar grupos socioculturais mais homogneos promovendo o
enfraquecimento da identidade individual e coletiva, atravs da insero de novos valores,
como valores de consumo, criando assim uma identidade de consumo. Segundo Luart
(VIDIGUEIRA, 2006), o prestigio da mdia baseia-se no poder que tem para dominar os
telespectadores, a quem o entendimento entorpece, mas tambm fascina. Segundo o autor,
fenmenos tais como a imitao, a sugesto, a impregnao so aspectos a ter em conta
quando pretendemos estudar a interao entre os meios de comunicao social e as pessoas.
A mecnica gerada por esses processos hoje unidos s necessidades sociais, culturais e
econmicas do homem, o levou a uma intensa busca de centros urbanos, dificultando seu
planejamento, restando ampliao de sua base territorial e multiplicao desses espaos atravs
da verticalizao das construes. Mascar (2010, p. 21) afirma que esta forma de expanso se
traduz no uso intensivo de certos produtos associados ao novo paradigma tecnolgico, como
o transporte automotor, as novas tecnologias associadas informtica, s comunicaes e televiso, que contribuem fortemente para esse fenmeno de fronteiras difusas em contnua
expanso. Acrescenta tambm que o fascinante espao de encontro, recreao, negociao,
fluxos e movimento hoje tambm o espao dos sem teto, do comercio ambulante, da
prostituio, da violncia, da marginalidade e da tristeza, como lgica resultante do mesmo
processo. Carlos (1992), citado por Brumes (2001, p. 53), tambm certifica que a origem da
cidade vincula-se existncia de uma ou mais funes urbanas, que podem ser industriais
comerciais, culturais, entre outras. Ela nasce de uma necessidade humana que deseja organizar
determinados espaos para se integrar, sendo muitos os autores que vm acompanhando o
desenvolvimento da cidade como forma e como conceito.
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Segundo Ross (2005), o avano do conhecimento tcnico-cientfico dos sculos XVIII,
XIX e XX colocou definitivamente os interesses das sociedades humanas de um lado e a
preservao da natureza de outro. E Magrini (2009) afirma que o ser humano passa a dominar
a natureza de maneira agressiva para defender seus interesses imediatos (MAGRINI, 2009, p.
20).
Brumes (2001, p. 53) diz que a cidade sempre foi analisada tomando-se como
referncia fatos ocorridos apenas em seu exterior, e por isto as anlises da mesma ficavam
apenas na aparncia. Elenca que a cidade atual concentra em seu interior uma gama de
possibilidades, sendo nelas encontradas o capital, a mo de obra, os meios de produo, a
prpria produo e a populao com seus bens de consumo coletivos ou privados. E por
concentrar tal grau de possibilidades, funes e complexidades que, em alguns casos, chamam-na de metrpole. Brumes aponta tambm as mudanas do prprio homem e de suas relaes
como fator de transformao da cidade, produzida atravs do trabalho humano que poder
mudar a prpria vida, ou seja, a cidade poder passar por um processo de metamorfose quando
as prprias relaes entre os homens tambm mudarem.
2.2-A Insustentvel Utopia do Desenvolvimento Moderno
Talvez tudo comece a partir da Segunda Guerra Mundial, quando inicia-se ofenmeno da globalizao, quando uma das naes se torna uma nao hegemnicano mundo, quando a lngua inglesa vai desbancando todas as outras lnguas para setornar uma lngua universal para todos. O mundo fica cada vez mais globalizado,cada vez mais submetido a expanso de um capitalismo, cada vez mais dentro deuma ordem capitalista que manda consumir, uma vida altamente utilitria e umatirania do mercado. Claramente o que ns assistimos nesse momento. O mercado quem determina, o consumo que determina, a posse, o patrimnio sofundamentais. E aqueles que praticam a clnica, podem diariamente assistir esse tipode fenmeno. (CHALUB, 2005, p. 27)
O sistema capitalista atual, na maneira como dirigido, implica na fixao de preos a
tudo que se toca, incluindo as pessoas, e a natureza. O acmulo infindvel de capital que
favorece o bem privado atravs da produo de mercadorias explora o meio ambiente,
ignorando a capacidade de regenerao desses recursos. Fora isso, grandes corporaes do
primeiro mundo implantam indstrias nos pases subdesenvolvidos visando explorar os
recursos e a mo de obra barata.
Veiga (1993, p. 5-6) rebate o suposto consenso dos economistas que dizem que a
melhor maneira de enfrentar a problemtica natural tendo a garantia que o preo de todos osrecursos naturais devam incorporar em sua composio sua escassez de longo prazo, alm dos
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efeitos imediatos provocados por seu uso, levantando dvida sobre virtudes reguladoras dos
preos para a preservao ambiental feitas por Passet.
[...]. Qual poderia ser o preo do oznio em rarefao ou o preo de uma funocomo a da regulao trmica do planeta? [...]. Mesmo supondo que tais preostenham algum sentido, no se pode ignorar a irreversibilidade dos processosnaturais. Se esperarmos pela escassez que transformar bens livres e gratuitosem
bens econmicos, com preos, muito provvel que j seja tarde demais. Poroutro lado, reduzir os desgastes ambientais a simples custos de reposio ou tentarestim-los atravs dos preos que lhes atribuem os indivduos, deixar de lado oessencial, diz Passet. Trata-se de estragos nos mecanismos que asseguram areproduo da biosfera: o fim de uma floresta ou de uma espcie no apenas odesaparecimento de um valor mercantil, mas tambm de determinadas funes emum meio. (VEIGA, 1993, p. 6)
A sociedade vem sendo bombardeada desde sua formao pela mdia incentivadora do
consumismo e, dentro deste sistema criado, impregnam culturalmente as pessoas, atravs dos
meios de comunicao em massa, criando um ciclo de consumo dependente e insustentvel.
Vieira (2011) diz que o sistema capitalista precisa de pessoas que estejam dispostas a se atirar
no consumismo para que as fbricas possam continuar crescendo, no bastando atender s
pessoas que ainda no possuem determinado bem, mas tambm que aqueles que possuam
produtos em perfeito funcionamento se desfaam dos mesmos por puro modismo, fazendo
com que as pessoas paream desatualizadas (obsolescncia percebida), o tempo todo, e noparem de comprar. Mas as estratgias de consumo no param por a. Cita tambm a
obsolescncia programada, ou planejada, como uma estratgia que confunde-se com a histria
da indstria no sculo XX consistindo em encurtaro ciclo de vida dos produtos visando a
sua substituio por novos, fazendo girar a roda da sociedade de consumo, ou seja, a
existncia de uma lgica da descartabilidade programada desde a concepo dos produtos,
fazendo estes desde sua concepo durarem pouco. J Magrini (2009, p. 24), reafirma dizendo
que o consumo o motor desse sistema, sendo to importante que virou prioridade para oEstado e as corporaes, com frequentes alteraes na tecnologia que obrigam a comprar
produtos atualizados. Fala tambm em outros termos sobre a obsolescncia planejada, da
pouca durabilidade das mercadorias sendo feitas para no diminuir o ritmo de crescimento
econmico, fazendo automveis, habitaes, roupas e vrios outros produtos possurem
durao muito menor que as do passado. Magrini cita tambm Annie Leonard, que afirma que
quase 99% das coisas que percorrem o sistema se tornam lixo em menos de seis meses.
Todo sistema ecolgico estvel fechado, regenerando os recursos que consome.Com a tecnologia atual, as cidades tem um sistema ecolgico aberto, transferindo
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sua contaminao para um espao fsico muito maior do que ela ocupa. [...].(MASCAR, 2010, p. 21)
Reconhecendo a finitude e a concepo cclica de todos os recursos naturais, pode se
afirmar que a explorao linear contnua atualmente baseada na extrao, produo,
distribuio, consumo e tratamento de lixo, romper a capacidade de regenerao destas
cadeias ecossistmicas desencadeando muitas vezes em perdas irreversveis que no ficam
somente limitadas s fronteiras. A biodiversidade natural vem sendo comprometida pela vasta
explorao de monoculturas, juntamente com transgenias, e a exploso populacional que
demanda mais e mais recursos, com mais e mais consumo. O Greenpeace (s/ data),
organizao global, cuja misso proteger o meio ambiente, relata que a introduo de
transgnicos na natureza expe nossa biodiversidade a srios riscos, como a perda ou
alterao do patrimnio gentico de nossas plantas e sementes e o aumento dramtico no uso
de agrotxicos. Alm disso, ela torna a agricultura e os agricultores refns de poucas
empresas que detm a tecnologia, e pe em risco a sade de agricultores e consumidores.
Leis (2004, p. 13) apresenta um quadro com algumas reflexes e comentrios sobre as
principais tendncias socioeconmicas do presente e suas mais provveis consequncias
ambientais de acordo com as bibliografias disponveis em seu livro, mostrando um elevado
consenso de que as tendncias e consequncias registradas a seguir so as mais marcantes denossa poca.
O quadro 1, Leis (2004, p. 13) lista tendncias e consequncias sem pretender
estabelecer relaes diretas de causa-efeito, ressaltando a importncia das tendncias no
serem julgadas como negativas ou positivas, apontando o fato de todas apresentarem lados
positivos dependendo de suas circunstncias, como no caso de pases subdesenvolvidos que
necessitam da industrializao e/ou urbanizao para aliviar a pobreza existente. Leis aponta
que esta uma viso excessivamente simplificada que no leva em conta os precriosequilbrios ecossistmicos afetados pela ao humana, nem as dificuldades para governar e/ou
gerir as complexas interaes que se estabelecem entre as vrias tendncias. As indstrias
manejadas de maneira sustentvel podem trazer muita qualidade de vida levando em
considerao que diminuem descomunalmente a destruio e podem promover o uso e a
regenerao dos recursos naturais, sem interferir agressivamente no meio ambiente.
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Quadro 1 - Principais tendncias socioeconmicas
e suas consequncias ambientais
Fonte: A Modernidade Insustentvel
Mascar (2010, p. 19) afirma que por fora da realidade se associa a cidade
contaminao. Cita que as cidades contribuem com a emisso de pelo menos 50% dos gases
efeito estufa do planeta, sendo que 75% dessas emisses so provenientes de automveis,
sendo a outra parte de responsabilidade das fbricas, queimadas e transporte rodovirio.
Para atender s necessidades e demandas atuais necessrio produzir imensas
quantidades de energia parceladas e divididas entre as necessidades de trabalhar, morar e
consumir, sendo esta ltima a pupila dos olhos das grandes corporaes que, visando abarcar
esses possveis lucros antes dos concorrentes, muitas vezes buscam medidas imediatas e
irresponsveis, agregando resduos qumicos txicos na produo das mercadorias sem avaliar
seu impacto na sade e no meio ambiente. Tais produes chegam ao consumidor, sendo
descartadas, aps seu uso, de maneira inadequada, contaminado o meio ambiente. Segundo
Magrini (2009, p. 24) esse ritmo de consumo gera uma produo de lixo impressionante e
todo ele despejado em aterros ou incinerado, poluindo o solo, o ar, a gua, influenciando a
alterao do clima. A incinerao libera para a atmosfera todos aqueles resduos txicos
utilizados na fase de produo e, o pior, produz produtos txicos novos mais perigosos.
Tambm relata que durante a etapa de extrao, ecossistemas so destrudos e materiais so
retirados de maneira abusiva.
Acontece que, hoje em dia, essa tica est caducando. Deixou de ser verdade que, para
produzir mais, necessrio trabalhar mais. Foi-se o tempo em que produzir mais significava,
quase sempre, viver melhor. No Primeiro Mundo rompeu-se essa ligao entre mais e melhor.
As necessidades bsicas dessas populaes esto fartamente atendidas; e muitas das
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necessidades ainda insatisfeitas no exigem que se produza mais, mas sim que se produza de
outra maneira, outra coisa, ou, at, que se produza menos. particularmente o caso do ar, da
gua, do espao, do silncio, da beleza, do tempo, dos contatos humanos (VEIGA, 1993, p.
3).
A reciclagem pode ajudar ao diminuir a necessidade de extrao de recursos e aproduo de lixo, mas nunca ser suficiente, pois a raiz do problema est na relaoentre o consumo e a produo. Grande parte do lixo no pode ser reciclado, ou
porque contm muitas substncias txicas ou porque criado de incio para no serreciclvel. A indstria gera cada vez mais tipos de lixo que a natureza por si s noconsegue assimilar. Segundo Legan (2008, p. 57), apenas os bens durveiseletrnicos descartam aproximadamente 65 mil toneladas de lixo perigoso por ano.(MAGRINI, 2009, p. 25)
Para alguns pesquisadores o nvel atual de consumo j excedeu a rea disponvel
ecologicamente produtiva, necessitando neste momento, de um planeta maior para suprir os
padres de consumo desta sociedade sem extinguir os recursos naturais.
De acordo com a Global Footprint Network (2014), organizao internacional pela
sustentabilidade, parceira global da Rede WWF, a Terra est operando com sobrecarga sendo
ultrapassado o limite de uso de seus recursos naturais gerados pelo planeta no ano. O clculo
feito anualmente pela organizao (GFN) e mostra que desde 2000, a data surge cada vez
mais cedo: no ano 2000, foi em 1 de outubro. Pelo resto do ano 2004 o dficit ecolgico tem
se mantido e aumentado ainda mais a quantidade de CO2 produzidos na atmosfera. Hoje, 85%
da populao mundial vive em pases que demandam mais da natureza do que os seus
ecossistemas podem renovar (grfico 1 e 2).
Ns estamos bem alm do nosso oramento, e nossa dvida est se multiplicando. uma dvida ecolgica, e estamos pagando juros que estamos devido a este montante(escassez de alimentos, eroso do solo, acmulo de CO2 na nossa atmosfera). Todosestes trazem custos humanos e monetrios devastadores. (GLOBAL FOOTPRINT
NETWORK, 2014)
A concentrao humana nas cidades alcanou nveis elevadssimos, causando
inmeros problemas de ordem social, ambiental e econmica. As pessoas agora vivem o ideal
de viver para trabalhar, para consumir, para adquirir e para ter, deixando de lado o trabalhar
para viver e para ser, a natureza se tornou um produto para o homem e este se esqueceu de
que produto dela, passou a viver iludido com o sonho do capital, se submetendo a uma vida
miservel, muitas vezes nos subrbios da cidade, se tornou dependente de um sistema
insustentvel, achando que est seguro e amparado pelo o que esses centros lhe oferecem, semimaginar que um simples colapso prolongado nas redes eltricas ou uma crise hdrica podem
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causar catstrofes incalculveis; vive dentro de uma catica convulso urbana, com
engarrafamentos, rudos estridentes, comendo e respirando toxinas, no sabendo mais o que
um canto de pssaro, pois animais e plantas so ignorados, ou simplesmente tratados como
objetos; crregos e rios que rasgam as cidades so canalizados, considerados estorvos,
sinnimos de mau cheiro, de enchentes, de descarte de lixo, de poluio; a natureza
dizimada, os biomas so oprimidos e exclusos como se nunca tivessem existido; milhares e
milhares de pessoas e animais morrem no transito e isso se torna apenas mais uma fatalidade
do acaso; as pessoas j nascem doentes, crescem e vivem doentes, morrem doentes por causa
do meio, e assim continuam adormecidos, embriagados, iludidos, adaptados comum
anormalidade, que se tornam normais, dentro da moda, dos modos, como se a dor e as
doenas fossem inerentes vida.
Grfico 1 - Demanda de Consumo X Capacidade de Regenerao do Ecossistema
Fonte:http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/
http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo
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Grfico 2 - Demanda de Recursos e Servios x Ecossistema
Fonte:http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/
Diante dessas e de outras exposies se pode mostrar a insustentvel utopia do
desenvolvimento moderno que mascara ideias particulares atravs de um ideal social,
mobilizando inmeras pessoas utilizando o slogam do ter para ser, explorando-as com
salrios mnimos ao longo desse caminho para que os produtos tenham baixos preos, e o
lucro seja maior, fechando assim a cadeia de consumo a servio de poucos. Para Magrini
(2009, p. 24), no s recursos so desperdiados ao longo desse sistema, mas tambm pessoas
e comunidades inteiras so desfeitas.
A soluo para o caos atual no implica necessariamente na inverso do sistema
econmico, ou seja, a troca do Capital Privado pelo Capital de Estado, com socialismos que
acabam com o direito ao mesmo capital, livre iniciativa e liberdade poltica, atrofiando a
inteligncia do homem. Fazer isso trocar a relao de amos e servos pela relao de tiranos e
http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo
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submissos. Talvez parte da soluo esteja em reavaliar as relaes culturais, sociais e
econmicas existentes baseadas no consumismo, no ter, na distribuio desigual de renda,
no favorecimento do capital nas mos de poucos, na viso do capital como um fim soberano e
no mais como um meio, ou mais uma das formas que podem levar a uma vida melhor.
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3. CONSTRUO CIVIL E A ARQUITETURA
3.1 - Indstria da Construo Civil
A necessidade de morar, trabalhar, de ter sade, cultura e lazer, nos dias de hoje,
indiscutvel, e para atender a todas essas necessidades o homem cada vez mais cria inmeras
estruturas fsicas que possam abrigar esses princpios atravs de infraestruturas e edificaes
que comportem a dinmica da vida como sociedade. Essas demandas, somadas ao comercio e
ao aumento populacional, criaram determinadas necessidades, e para atend-las foi preciso
inventar meios para produzir materiais e tcnicas que pudessem agilizar a entrega dessas
demandas, dando assim o pontap inicial para a criao e consolidao da indstria daconstruo civil. De um modo geral, os processos de industrializao levaram somente em
considerao o atendimento as essas demandas, sem se importar com as consequncias do
processo, que gerou, e gera, grandes problemas para o meio ambiente e para a sociedade.
Devido a esse e outros fatores, a indstria da construo civil tem se tornado assunto de muitos
debates quanto necessidade de se buscar o desenvolvimento sustentvel, pois sempre foi
grande consumidora e degradadora dos recursos naturais, poluidora do meio ambiente e
geradora de imensas quantidades de resduos.Segundo Soares (2008), a indstria da construo civil responsvel pelo maior
consumo dos recursos naturais do planeta. Os principais recursos utilizados (cimento e ferro)
so limitados e geram muita degradao ambiental. Para se ter uma ideia, so endereados s
construes aproximadamente 40% dos materiais e dos recursos gastos por ano no mundo,
fomentando assim a economia global insustentvel (MAGRINI, 2009, p. 24).
A fase de fabricao de materiais de construo tambm provoca impactos negativos.
Como exemplo, toma-se a indstria cimenteira, que no Brasil (2007) responsvel pelagerao de mais de 6% do total de CO2 gerado (ROTH e GARCIAS, 2009, p. 118).
Tambm na execuo das obras de construo civil vrios impactos so provocados,
como os consequentes da perda de materiais, os referentes interferncia no entorno da obra e
nos meios bitico, fsico e antrpico do local da edificao (CARDOSO; ARAJO, 2004)1.
De acordo com informaes reveladas pelo Globo News, o setor de construo civil usa
25% da madeira extrada, 70% da energia consumida e 12% da gua potvel. Essa atividade
gera 65% dos resduos e emite 40% dos gases estufa (CIDADES E SOLUES, 2008)2.
1Apud ROTH; GARCIAS, 2009, p. 118.( (ROTH e GARCIAS, 2009, p. 118)2009, p. 118)2Apud MAGRINI, 2009, p. 28.( (MAGRINI, 2009, p. 28)
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Conforme Soares (2008), citado por Magrini (2009, p. 28) nos ltimos 100 anos o nvel
de dixido de carbono na atmosfera aumentou 27%, sendo que 25% proveniente da queima
de combustveis fsseis, usados para fornecer energia s construes. Esses nmeros assustam
ainda mais quando lembramos que somente 2 bilhes de pessoas, das 6 bilhes que somos no
planeta, vivem em construes modernas que entram na conta acima. A projeo para os
prximos 50 anos que os nmeros quadrupliquem.
De acordo com Roth e Garcias (2009, p. 126), para evitar esses problemas preciso
que a construo civil se aproxime mais da construo sustentvel, adotando formas de
explorao de matrias-primas mais conscientes e alternativas, utilizando materiais e processos
construtivos que objetivem a harmonia entre o homem e o meio, sendo eles produzidos com
tecnologias limpas, observando os ciclos de vida e dando uma destinao apropriada aosresduos.
Estamos destramando os fios de uma complexa rede de segurana ecolgica; a maiorparte dos seres humanos ainda no reconhece o valor dessa rede. Ou construmosuma economia que respeite os limites da terra ou continuamos com o que est a ato seu declnio e nos envolvemos numa tragdia evolutiva. Reconhecemos os limitesnaturais da Terra e ajustamos nossa economia ou prosseguimos ampliando cada vezmais nossos impactos at que seja tarde demais? (DIAS, 2002)3
O mau planejamento ou ausncia deste, somado a m administrao dos recursos,
juntamente com a ignorncia e falta de conscincia dos envolvidos, se tornam os protagonistas
dos inmeros impactos socioambientais hoje existentes, pois demandam bens de consumo sem
o conhecimento de todos os processos que envolvem as atividades da construo civil.
3.2 - A Arquitetura e suas tendncias
Arquitetura antes de mais nada construo, mas, construo concebida com o
propsito primordial de ordenar e organizar o espao para determinada finalidade evisando a determinada inteno. E nesse processo fundamental de ordenar eexpressar-se ela se revela igualmente arte plstica, porquanto nos inumerveis
problemas com que se defronta o arquiteto desde a germinao do projeto at aconcluso efetiva da obra, h sempre, para cada caso especfico, certa margem finalde opo entre os limites - mximo e mnimo - determinados pelo clculo,
preconizados pela tcnica, condicionados pelo meio, reclamados pela funo ouimpostos pelo programa, - cabendo ento ao sentimento individual do arquiteto, noque ele tem de artista, portanto, escolher na escala dos valores contidos entre doisvalores extremos, a forma plstica apropriada a cada pormenor em funo daunidade ltima da obra idealizada. (COSTA, 1940)4
3Apud MAGRINI, 2009, p. 107(MAGRINI, 2009, p. 107)4Apud IAB SP, s/ data.(IAB SP, s/ data)
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Passados aproximadamente 2.041 anos, Marcus Vitruvius Pollio (Vitrvio), arquiteto
romano que viveu no sculo I a.C ainda parece inspirar as atuais geraes com seu tratado
denominado De Architectura em que diversos textos tratam sobre Arquitetura e
Urbanismo, Hidrulica e Engenharia, que inspiraram fortemente o Renascimento. A sntese de
sua obra, descrita por diversas fontes, trata de padres, propores e princpios conceituais,
que se referem a utilitas (utilidade), venustas (beleza) e firmitas (solidez). Segundo
Manenti (2010, p. 8), dessa forma, a adoo de um partido, em detrimento de outro, deve estar
fundamentado no correto uso dos materiais, observando seus limites de resistncia e
durabilidade; na adequao da edificao ao seu uso, e no correto dimensionamento dos
elementos, assim como na adequao do status da edificao, retomando o conceito de
decoro; e na beleza, que ser assegurada, segundo Vitrvio (1906) 5, quando a aparncia daobra agradvel e de bom gosto, e quando os seus membros estiverem na devida proporo
de acordo com os corretos princpios da simetria.
Apesar de estilos arquitetnicos praticados anteriormente persistirem de maneira
isolada, a dos ltimos tempos, em um amplo sentido, tem se caracterizado atravs de reaes
s propostas modernistas, onde, de um lado, se encontram os que preferem fazer a sua
releitura, e, do outro, os que querem quebrar seus paradigmas com ideias inovadoras. De um
modo geral as correntes arquitetnicas contemporneas podem ser classificadas dentro de trsa cinco grandes correntes, mas que de fato no se encaixam sistematicamente dentro de uma
linha de raciocnio com caractersticas especificas por apresentar inmeras transdisciplinares
variveis, aplicadas cotidianamente, ao redor de todo o mundo. Dentre algumas correntes
encontramos a Historicista, a Regionalista, a Desconstrutivista, High-Tech etc. Neste perodo,
[...] o pleno desenvolvimento em pesquisas de novos materiais e aprimoramentos de tcnicas
construtivas exigidas pelas necessidades de cada vez mais vencer desafios [...] um desafio
dirio enfrentados nos centros de pesquisas e no canteiro de obra (ANDRADE e AFONSO,2009, p. 8-9).
Os conceitos abordados por Vitrvio de uma maneira ou de outra, querendo ou no,
ainda fazem parte da tomada de decises adotadas atravs do partido arquitetnico, possuindo
aplicabilidade relativa profundidade do conhecimento que se tem adquirido, ou seja, se a
compreenso do indivduo muito limitada, sua aplicao ser muito superficial. Quando se
reflete sobre a aplicao destes conceitos analisando a interveno do homem no meio natural,
pode-se afirmar que quanto maior a ignorncia, maior ser a possibilidade de de
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