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  • amrica latina 13de 11 a 17 de junho de 2015

    Roberta Traspadini

    AS DISPUTAS por projetos na Amrica Latina reiteram a relao entre seres so-ciais, natureza e produo de vida e ex-plicitam duas prxis de integrao no continente. A integrao dos mercados, consolidada pela perspectiva de avan-o do imperialismo e do capital finan-ceiro, atrelado constituio dos blo-cos econmicos desde os anos de 1980. J a integrao dos povos demarcada pela solidariedade, internacionalismo e outros mecanismos de produo mate-rial de vida, que no passam pela pro-priedade privada e acumulao do capi-tal. Estas prxis expem o tipo de gover-no que atua em cada territrio e sua rela-o mais orgnica com dois sentidos de integrao relatados.

    A integrao dos mercados, cujo pro-tagonista o capital concentrador de ri-queza-renda, define-se na forma-conte-do da transformao dos seres sociais e da natureza em mercadoria. A integra-o dos povos, cuja centralidade a dos movimentos sociais, define-se na forma--contedo de mtua aprendizagem entre diversos povos, com trocas para alm da produo de valor mercantil, potenciali-zadoras de outro sentido de vida.

    A chave de anlise entre esses dois pro-cessos de integrao o sentido vivo de territrio e de governo que emerge da disputa. Territrio: espao de demarca-o das relaes entre seres humanos--natureza, no processo histrico-cotidia-no de produo de vida.

    Mas, se h dois processos, ainda que um hegemonize o sentido de vida (o ca-pital) sobre o todo, h disputa e rotas dis-tintas propostas. Ou seja, h um proces-so cotidiano de (re)ao no territrio la-tino que vai muito alm da consolidao nica e onipotente do capital sobre a ter-ra e o trabalho.

    O capital em sua pretensa consolidao de rota de mo nica gera uma coliso com o prprio sentido de vida nos terri-trios, pois esgota os recursos e escraviza de mltiplas formas os povos originrios e camponeses. Reestruturao logstica, reconfigurao dos marcos legais para o livre trnsito de mercadorias, redefini-o do Estado com centralidade para as livres transaes do capital financeiro e quebra de direitos trabalhistas com a es-cusa de um capitalismo global, tornam--se as aes polticas concretas do capital sobre Amrica Latina. Integrar para do-minar, subsumir e ditar o ritmo do uso--sentido da terra e do trabalho no conti-nente, com o aval dos Estados nacionais.

    A rota de mltiplas vias, protagoniza-da por diversos povos latino-america-nos, tem como sentido-ao a conexo entre processos nos territrios em que a prpria construo de vida contrape--se daninha ao do capital. Aprendi-zagem coletiva sobre o uso-manejo sus-tentvel do solo, consolidao de banco de sementes crioulas, intercmbio cultu-ral sobre a compreenso do tempo-espa-o na produo de vida nos territrios e

    outro sentido de nao vinculado P-tria Grande, eis os elementos constituti-vos dessa rota em que a nica coliso a de enfrentamento com o capital.

    Integraes nos territriosA Monsanto exemplifica o sentido de

    integrao mercantil. Um nico capital dominante no mbito mundial, apro-pria-se de forma privada dos recursos naturais dos territrios latinos e trans-forma a terra e o trabalho em mercado-rias com o fim de nico da valorizao. Seis empresas globais (Monsanto, Syn-genta, Bayer, BASF, Dupon y Dow), do-minam 75% das sementes no mundo.

    Por outro lado, a via campesina, orga-nizao que integra 164 organizaes de 73 pases, tem como bandeira a sobera-nia alimentar e a luta contra os transg-nicos. Banco de sementes, trocas de ex-perincias em produes sustentveis, escolas de agroecologia com formao em temas mais abrangentes como o da crtica da economia poltica, lutas so-ciais, manifestaes dos abusos dos ca-pitais nos territrios e brigadas interna-cionalistas como as do MST-Via campe-sina no Haiti, na Venezuela, na Bolvia, so alguns dos exemplos diferenciados de integrao.

    discrepante o sentido de terra e tra-balho nesses dois processos. De um lado a Iniciativa para a Integrao da Infra--estrutura Regional Sul-Americana (II-RSA) e os blocos econmicos vinculados

    Integraes na Amrica Latina

    Crticas oposioO prprio Jorge Insunza anunciou sua

    renncia, na coletiva convocada no Pal-cio de La Moneda. O agora ex-ministro afirmou que no cometeu nenhum ilcito e que todos os documentos mostrados pela imprensa esto dentro da lei, porm entendo que a cidadania hoje exige no-vos padres com respeito separao en-tre os mundos pblico e privado, por isso resolvi renunciar, para essa situao no atingir o governo.

    Contudo, antes de deixar o palcio pre-sidencial, o ex-ministro que no res-pondeu perguntas dirigiu algumas pa-lavras para a oposio, em especial ao partido opositor UDI, a quem acusou de pressionar pela sua sada e recordou seu envolvimento com o Caso Penta e o Ca-so Soquimich. Vamos ver se a direita te-r a coragem moral de assumir essa mes-ma postura, de se desprender dos cargos para encarar os questionamentos diante da Justia.

    Insunza o segundo ministro mais breve da histria poltica chilena. O re-corde ainda de Felipe Echeverra, que foi ministro de Energia do governo de Se-bastin Piera (2010-2014) por trs dias, e que tambm renunciou por denncias de conflitos de interesses, por haver as-sessorado empresas dos setores de mine-rao e energia.

    Outra controvrsia a respeito da re-nncia de Insunza que ainda no se sabe ao certo que ele poder retornar ao anterior cargo de deputado. Embo-ra o seu partido (PPD, Partido Pela De-mocracia, centro-esquerda) no tenha nomeado ningum para o lugar aps a sua ida ao ministrio foi iniciado um processo interno, no qual a favorita a ex-ministra da Sade Helia Molina , o presidente da Cmara, Marco An-tonio Nnez, declarou que a Casa ter que analisar seu regimento interno pa-ra avaliar se ele poder retornar ao seu cargo ou se, uma vez que j existem pri-mrias no partido, a mudana tornou-se irreversvel. (pera Mundi)

    Renncia de ministro reabre crise poltica no ChileCRISE Jorge Insunza, secretrio-geral da Presidncia, acusado de fazer relatrios para empresas de minerao enquanto presidia comisso sobre o tema na Cmara

    Vamos ver se a direita ter a coragem moral de assumir essa mesma postura, de se desprender dos cargos para encarar os questionamentos diante da Justia

    A integrao dos mercados, cujo protagonista o capital concentrador de riqueza-renda, define-se na forma-contedo da transformao dos seres sociais e da natureza em mercadoria

    Victor Farinelli de Santiago (Chile)

    NO FIM DA TARDE do domingo (07/06), no Palcio de La Moneda, uma coletiva convocada s pressas oficializava a renncia de Jorge Insunza, que ocupou durante 28 dias o cargo de ministro da Secretaria Geral da Presidncia da Rep-blica. A pasta ser ocupada interinamen-te pela, at ento, subsecretria Patricia Silva.

    A queda de um ministro voltou a co-locar o governo de Michelle Bachelet em problemas, os mesmos que ela es-perava esquivar definitivamente em maio, quando realizou sua primeira re-forma ministerial para frear os questio-namentos com respeito aos casos sus-peitos de corrupo surgidos no pas e que envolvem o governo e a oposio e retomar o foco da agenda poltica nas reformas.

    Insunza foi um dos nomeados, e cla-ramente o que levantou maior polmica, pois era o nico dos novos ministros que exercia um cargo pblico era deputa-do, eleito em 2013. Ele foi um dos envol-vidos na chamada dana das cadeiras da ltima reforma ministerial, substi-tuindo a democrata-crist Ximena Rin-cn, que passou a comandar o Minist-rio do Trabalho.

    Horas depois da sua nomeao, alguns meios comunicao chilenos publicaram notas a respeito de sua ligao com o lo-bista Enrique Correa, para quem traba-lhou durante os anos de 2011 e 2012, na empresa de consultoria e lobby poltico ImaginAccin.

    Na semana passada, novas descobertas surgiram em diferentes meios, e compli-caram mais a situao, em especial a re-lao com empresas mineradoras priva-das, como a Soquimich e o Grupo Luksic. Ambas esto envolvidas em casos que es-to sendo investigados pela Justia do Chile, relacionados com outras figuras polticas do pas.

    Nos dia 4 e 5 de junho, o semanrio The Clinic publicou reportagens mos-trando informes realizados por Insun-za (enquanto era presidente da Comis-

    so de Minerao da Cmara, e cobrando honorrios para tal) para empresas mi-neradoras privadas interessadas em ad-quirir ou renovar concesses mineiras. A estatal Codelco tambm recebeu estes relatrios. O ltimo desses informes foi feito em outubro de 2014 para a empre-sa Antofagasta Minerals, ligada ao Gru-po Luksic.

    OPINIO A maioria dos Estados nacionais latino-americanos est voltada para a integrao mercantil

    valorizao do capital. De outro lado a Alba, a Unasur, a via campesina e demais movimentos organizados com a inteno de demarcar, na disputa, outro rumo ne-cessrio e possvel para os projetos de de-senvolvimento.

    Integrao e desenvolvimentoA gnese da integrao conforma-se no

    sentido dado ao termo desenvolvimento. Para a integrao mercantil, desenvol-vimento sinnimo de progresso, mo-dernizao, liberdade para os negcios e subsuno formal-real do trabalho ao ca-pital. Para a integrao dos povos, desen-volvimento sinnimo de democratiza-o da terra, do trabalho, da vida, tendo como palco o entendimento de que a li-berdade somente se constri se respeita-da a diversidade produtora da igualdade de condies. Na disputa entre ambos, o que muda o sentido de terra e trabalho nos territrios.

    A maioria dos Estados nacionais lati-no-americanos est voltada para a in-tegrao mercantil. Uma minoria ten-ta consolidar outro processo em meio ao hegemnico. Cuba, Bolvia, Venezuela e Equador, ainda que transitem entre am-bos, tentam, cada qual na particularida-de poltica dos governos e povos que os elegeram, tensionar o capital hegemni-co no territrio. Entender o papel da po-ltica na disputas pela integrao vital para ressignificarmos os limites e possi-bilidades dos governos no fortalecimento de um, ou outro, tipo de integrao.

    Estamos em tempo de recrudescimen-to da luta de classes. Tempos em que o capital ser ainda mais duro no uso mer-cantil da terra e do trabalho. A articula-o entre intelectuais e movimentos so-ciais gera novas aprendizagens e snteses coletivas que contribuam para encarar-mos a luta na forma como ela se desdo-bra nos territrios. hora de corrigir ro-tas, limpar terreno e consolidar um pro-jeto de classe, nacional e popular.

    Roberta Traspadini professora da Unila e professora voluntria da ENFF.

    hora de corrigir rotas, limpar terreno e consolidar um projeto de classe, nacional e popular

    Governo do Chile

    Daniel Leon

    Empresas globais como a Monsanto dominam 75% das sementes no mundo

    Jorge Insunza cumprimenta Bachelet ao assumir como ministro