II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
Avaliação e Julgamento como ferramenta para seleção produtiva de bovinos de
corte
William Koury Filho
Diretor da BrasilcomZ – Zootecnia Tropical
www.brasilcomz.com – [email protected]
Introdução
A seleção de zebuínos no Brasil passou por várias fases, inicialmente era
baseada em características qualitativas, principalmente relacionadas à caracterização
racial e, somente a partir de meados do século XX, é que foram implantados processos
seletivos para características de produção, tais como: controle ponderal, controle
leiteiro, provas de ganho em peso e testes de progênie.
Na última década, muitas raças bovinas de corte, além da Nelore,
implementaram programas de melhoramento no Brasil. Esses programas utilizam,
principalmente, características de crescimento, tais como: pesos padronizados em
diferentes idades, ganhos de peso e dias para atingir determinados pesos. Essas
características são de fácil obtenção, e de acordo com a literatura, apresentam variância
genética aditiva direta de magnitude média a alta, portanto, respondem bem à seleção,
argumentos que justificam a grande aceitação por parte dos produtores.
A Figura 1 corresponde a representação simplificada de curvas de crescimento
de dois biotipos distintos – tardio e precoce. Os pontos A e B sinalizam o início da
desaceleração do crescimento e início da deposição de gordura de acabamento. Vale
ressaltar que existem indícios que a precocidade em deposição de gordura coincide
fisiologicamente com a precocidade sexual nas fêmeas.
Figura 1. Representação rudimentar de curvas de crescimento de diferentes biótipos
Fonte: www.brasilcomz.com).
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A estrela apresentada na Figura 1 destaca o momento em que as curvas se
cruzam. Exatamente nesse ponto os animais estão com o mesmo peso, e a balança –
simples interpretação do peso – diria que esses indivíduos são iguais, mas na realidade
caracterizam biotipos completamente diferentes. Essa situação pode ocorrer em
pesagens de um programa de melhoramento, provas de ganho em peso e levar a
conclusões e decisões de seleção não necessariamente corretas – a balança mede o peso,
mas é cega.
Figura 2. Animais de biotipo distintos com o mesmo peso no momento da foto. (Fonte:
Agropecuária Jacarezinho).
Na Figura 2 podem ser observadas diferenças morfológicas bastante
significativas entre as duas novilhas, é notório o quanto a rês da esquerda é mais
profunda de costelas, além de apresentar maior volume de massas musculares quando
comparada a rês da direita, que representa o biótipo mais exigente, tardio ou “pernalta”.
Os conceitos apresentados reforçam a necessidade de que seleção em bovinos de
corte não deve ser pensada exclusivamente na balança, mas sim na composição do peso,
que basicamente é o resultado da distribuição/proporção dos tecidos: músculo, osso e
gordura.
Contudo, o maior prejuízo econômico da seleção exclusivamente por peso, deve
ser o comprometimento do desempenho reprodutivo das matrizes, pois a reprodução
tem grande impacto econômico, e só ocorre quando as fêmeas estão em bom estado de
escore corporal, condição necessária para que a vaca crie bem seu produto e volte a
emprenhar – ano a ano (Figura 3). Esse conceito é explicado pela maior exigência de
mantença de vacas muito altas e pesadas, que podem estar em desarmonia com o
sistema de produção em que estão sendo criadas, uma vez que, no Brasil, as terras
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menos férteis ou de fronteiras são aquelas mais utilizadas pela pecuária bovina, em
sistemas de produção preponderantemente à base de pastagens tropicais.
Figura 3. Representação, por analogia, relacionando as canecas com uma matriz e o
preenchimento do líquido pelo sistema de produção de acordo com a ordem de
necessidades/funções fisiológicas da vaca. (Fonte: Adaptado de Hill 1995).
Em trabalho publicado em 1999, Vargas e colaboradores classificaram matrizes
em pequenas, médias e grandes, utilizando o “frame size” baseado na altura de
posterior. Por essa classificação foram observadas diferenças significativas em
desempenho reprodutivo entre os três grupos de diferentes tamanhos, com vantagens
adaptativas, em ambientes a pasto, daquelas matrizes de menor e médio “frame size”.
Trabalhos similares apresentaram resultados parecidos, o que coincide com observações
de campo em zebuínos no Brasil.
Avaliando características distintas, os escores visuais e a ultrassonografia têm
sido ferramentas utilizadas, com eficácia, em programas de melhoramento genético com
o objetivo de selecionar por composição de peso.
Figura 4. Representação das curvas de crescimento de diferentes frames e suas
respectivas composições de peso. (Fonte: Adaptado por Velloso 2011).
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Escores Visuais
Utilizado desde o início do processo de domesticação dos animais, o olho
humano é a mais antiga ferramenta de seleção de bovinos que atende as características
almejadas pelo homem. Nos dias atuais, a avaliação visual empírica continua sendo
utilizada em inúmeras situações, tais como: critério de compra e descarte de animais;
concessão de registros genealógicos por técnicos de associações das mais diversas raças
bovinas; no julgamento comparativo nas pistas de exposições agropecuárias; e também
em acasalamentos dirigidos, em que muitos profissionais analisam o exterior dos
animais em complemento a genealogia, ao desempenho fenotípico e às avaliações
genéticas.
Os exemplos citados ilustram situações em que o homem utiliza a apreciação
visual de maneira empírica, com margem para preferências e interpretações particulares
– embora haja arquétipos preconizados pelas associações de raças.
Outra situação é a aplicação de avaliações visuais em programas de
melhoramento genético para bovinos de corte. Nesse caso, os escores visuais são
coletados por metodologias definidas por conceitos replicáveis, identificando diferenças
morfológicas de maneira menos subjetiva. O método procura minimizar a influência
pessoal do avaliador e, desta forma, gerar dados apropriados para compor o universo de
características analisadas pelas avaliações genéticas.
No Brasil o grande mestre e incentivador do uso de escores visuais em
programas de melhoramento genético foi o Dr. Luiz Alberto Fries. O zootecnista relatou
que a utilização de escores visuais no país coincide com a implantação do PROMEBO
(Programa de Melhoramento de Bovinos) em 1974, que preconizava além das pesagens
em fases estratégicas, a avaliação visual dos animais baseada em duas metodologias:
Escores de Conformação (EC) do U.S.D.A. (Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos), BEEF (1974), que utilizava escala absoluta com 17 graus, e cada um deles
subdividido em 3 sub-graus; e o Sistema de Avaliação Ankony (LONG, 1973), também
baseado em referências absolutas, utilizando escores com escala de 1 a 10 para cinco
características: ausência de gordura excessiva (G); musculosidade (M); tamanho do
esqueleto (T); aprumos e estrutura óssea (A) e caracterização racial e sexual (C).
Fries afirmou que o programa funcionou bem nas propriedades que seguiam
seriamente as recomendações do PROMEBO, no entanto a consequência da seleção por
peso aliada a identificação de animais de carcaça mais magra, pela característica G da
metodologia do sistema Ankony, resultou em tipos morfológicos com grande velocidade
de crescimento, porém tardios.
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A solução apontada pelos técnicos foi a seleção visando identificar o outro
extremo da escala para a característica G, então denominada Precocidade de terminação
(P). Desta maneira fora iniciada a atual configuração para a metodologia que avalia
escores de Conformação, Precocidade e Musculatura conhecida por CPM.
No Programa Natura foram realizadas expressivas mudanças conceituais no ano
de 1990. A partir de sugestões dos técnicos de campo a escala foi reduzida para 5
classes de escores, e a avaliação passou a ser relativa ao lote. Escores conceituais e
relativos ao grupo de contemporâneos, com escala de 1 a 5, é a metodologia atualmente
utilizada em zebuínos pela Conexão Delta G, PAINT, Nelore de Produção, Nelore IRCA
e também no PROMEBO com raças britânicas e sintéticas. Na Agropecuária CFM e
Nelore Qualitas a escala também é relativa e varia de 1 a 6.
Geneplus e Nelore Lemgruber avaliam apenas para Conformação Frigorífica –
uma característica traduzida por um índice empírico de musculatura, gordura de
acabamento e peso.
Técnicos da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) desenvolveram
metodologias interessantes de avaliação visual de tipo para descrever um animal, as
mais recentes foram o DERAS e o PHRAS, (JOSAHKIAN & MACHADO, 1998). A
avaliação era baseada em referência absoluta, com escala de 1 a 5 em relação ao ideal
da raça. Na prática os resultados apresentavam pouca variabilidade e eram altamente
influenciados pelo sistema de produção e preferências pessoais.
Dr. Fries dizia que sistemas de escores absolutos tendem a constranger os
avaliadores, e resultam em conjunto de dados extremamente concentrados em torno de
um valor considerado como bom, por isso sugeriu sistemas de notas conceituais e
relativas ao grupo de manejo/contemporâneos, procurando conseguir melhores
distribuições dos escores.
Dando sequência ao trabalho de Koury Filho (2001), Koury Filho &
Albuquerque (2002) propuseram a metodologia EPMU(RAS) com base em estudos e/ou
experiência de campo com as metodologias PROBOV, MERCOS, PHRAS, Sistema
Ankony e, principalmente, CPMU.
Existem muitos estudos abordando diferentes metodologias e modelos
estatísticos, com o objetivo de melhorar as estimativas dos parâmetros genéticos. Mais
abundantes são os trabalhos que estimam parâmetros genéticos de características de
relevância em programas de melhoramento. Porém, escassos são os estudos que
analisam a eficiência na coleta dos dados, e a qualidade dos mesmos para a avaliação
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genética, embora seja consenso entre os melhoristas que quanto melhor for a qualidade
dos dados, mais acurados serão os resultados das estimativas dos valores genéticos.
O assunto é ainda mais delicado ao se referir a dados de escores de avaliações
visuais, que não são mensurados por nenhum tipo de máquina, dependendo de
treinamento e aptidão dos técnicos de campo, e também da clara definição da
metodologia.
Após defendida a tese de Koury Filho (2005), a Associação Nacional de
Criadores e Pesquisadores (ANCP), em parceria com a BrasilcomZ®, adotou a coleta
de dados de EPMU pelo padrão de qualidade denominado SAM® - Sistema de
Avaliação Morfológica, que atualmente geram DEPs morfológicas para o programa
Nelore Brasil. Como o Nelore Brasil possui a maior base de dados em zebuínos que
concilia escores visuais e medidas de ultrassonografia, este programa será o estudo de
caso mais utilizado para discorrer sobre o tema proposto.
Características morfológicas avaliadas pelo SAM
Estrutura Corporal (E) – Sinaliza o tamanho do animal, é avaliado pela área
(abrangência visual) do mesmo observado de lado, baseado na altura e comprimento do
esqueleto – considerando as pernas. Indivíduos com DEPs mais elevadas levam à
progênies com maior estrutura corporal. Somente com a utilização em conjunto com as
DEPs de Precocidade e Musculosidade, é que se pode ter uma melhor percepção do
biotipo da progênie.
Precocidade(P) – Avaliada pela relação entre a profundidade de costelas e
comprimento dos membros, considerando ainda a altura da virilha. Animais com DEPs
elevadas favorecem a diminuição do tempo de engorda e melhor adaptação a sistemas
de produção a pasto. A correta visualização da progênie depende da análise conjunta
com as DEPs de Estrutura e Musculosidade.
Musculosidade (M) – Verifica-se distribuição muscular do animal, volume e
comprimento dos músculos. Animais com DEPs mais elevadas são indicados, tendo em
vista a produção de progênies com maior rendimento de carcaça.
As avaliações visuais a desmama são coletadas a partir dos 6 meses (150 dias)
até 9 meses de idade (270 dias), tendo como referência a data base, em torno de 7 meses
(210 dias). O momento próximo a desmama é uma boa oportunidade para avaliar os
bezerros antes que ocorra qualquer seleção – comum em muitos rebanhos.
Ao sobreano as avaliações são coletadas a partir dos 12 meses (365 dias) até 20
meses de idade (610 dias), tendo como referência a data base, em torno de 16 meses. O
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sobreano é uma boa oportunidade para avaliar a adaptação do animal ao sistema de
produção praticado pela expressão das características. As DEPs morfológicas estimadas
atualmente pela ANCP são: Estrutura Corporal ao Sobreano (DES), Precocidade ao
Sobreano (DPS) e Musculosidade ao Sobreano (DMS).
Fenotipicamente são atribuídos escores de 1 a 6, relativos aos grupos de manejo
avaliados, para as características E, P e M. Assim os escores 1 e 2 conceitualmente são
conferidos para os animais que menos expressam a característica (fundo), 3 e 4 para os
intermediários (meio) e 5 e 6 para os indivíduos que mais se destacam (cabeceira).
Figura 5. Representação didática de diferentes biotipos e respectivos escores de EPM,
atribuídos com relação a um grupo de manejo fictício. (Fonte: www.brasilcomz.com).
Interpretação das DEPs para Características Morfológicas pelo ANCP – SAM
As DEPs morfológicas de Estrutura Corporal (tamanho), Precocidade
(comprimento de costelas) e Musculosidade (arqueamento de costelas e evidência de
massas musculares) devem ser interpretadas em conjunto para a visualização do biotipo.
DEPs com valores altos para Estrutura (E) e baixos para Precocidade (P) e
Musculosidade (M) indicam biotipo exigente (tardio) – de tamanho elevado, pouca
profundidade de costelas e pobre de musculatura. DEPs baixas para E e altas para P e
M, indicam progênies compactas, muito profundas e musculosas. Os extremos
apresentados demonstram que com a correta compreensão das DEPs morfológicas, o
criador pode direcionar seu rebanho para o biotipo desejado através de acasalamentos
dirigidos e seleção.
As DEPs morfológicas são expressas em escala de probabilidade. Dessa forma valores
inferiores a 50% são negativos, e superiores a 50% são positivos.
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Figura 6. Figura que descreve as características de EPM no reprodutor. Suas respectivas
DEPs morfológicas estimadas é que indicarão a probabilidade que sejam transmitidas
aos seus descendentes. (Fonte: www.brasilcomz.com).
AVALIAÇÕES VISUAIS EM PROGRAMAS DE MELHORAMENTO
GENÉTICO DE ZEBUÍNOS
Avaliações visuais são utilizadas em programas de melhoramento genético, em
bovinos de corte, para selecionar por composição de peso. Por consequência, a
utilização destas tecnologias pode alterar a curva de crescimento com resultados
positivos em ganho nas precocidades de terminação e sexual, o que se traduz numa
pecuária de ciclo mais curto e ganho em eficiência produtiva e ambiental.
Resultados de pesquisa apontam eficácia e viabilidade no uso tanto das
avaliações visuais como ferramenta para discriminar os animais quanto à
composição/qualidade da carcaça (May et al., 2000; Koch et al., 2004).
Outro ponto fundamental para que possam ser utilizadas em programas de
melhoramento é que as características avaliadas apresentam herdabilidades estimadas
em populações zebuínas, de moderadas a altas – portanto respondem bem a seleção
(Koury Filho, 2005; Yooko et al.; 2009, Faria et al., 2009; Koury Filho et al., 2010)
Na Tabela 2 são apresentados parâmetros genéticos estimados em rebanhos da
raça Nelore que evidenciam a resposta a seleção para EPM. Os rebanhos analisados
neste estudo são todos pertencentes ao programa Nelore Brasil (Rancho da Matinha,
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Naviraí Agropecuária, Nelore Colonial, Genética Aditiva, Nelore Sandim e Fazenda
Bacuri).
Tabela 2. Componentes de variância e parâmetros genéticos obtidos em análises uni-
característica de Estrutura Corporal (E), Precocidade (P), Musculosidade (M), Altura de
Posterior (AP) e Peso ao Sobreano (PS) (Koury Filho, 2010).
*2
a = variância genética aditiva; 2
e = variância residual; 2
p = variância fenotípica
** h2 = coeficiente de herdabilidade; e
2 = proporção da variância fenotípica devida aos
efeitos residuais
Na tabela 3 são apresentados resultados do mesmo estudo que permitem
considerações interessantes. A primeira é a alta correlação genética entre precocidade e
musculosidade, o que faz sentido, já que animais com curvas de crescimento para ciclo
curto tendem a expressar a musculosidade em idades mais precoces, pois param de
crescer mais jovens. Outro resultado esperado é o da correlação positiva da altura de
posterior com E, e negativa da altura com P e M, ou seja, selecionar para altura significa
ganho para E, mas também perda em precocidade e musculosidade. Para fechar, E, P e
M possuem correlação positiva com peso, o que permite dizer que é possível selecionar
para biotipo, e continuar a evoluir no peso.
Tabela 3. Estimativas de correlações entre os efeitos genéticos aditivos (acima da
diagonal) e entre efeitos residuais (abaixo da diagonal) entre as características Estrutura
Corporal (E), Precocidade (P), Musculosidade (M), Altura de Posterior (AP) e peso ao
Sobreano (PS), obtidas em análises bi-característica (Koury Filho, 2010).
Característica
E P M AP PS
E - 0,49 ± 0,17 0,63 ± 0,15 0,57 0,83
P 0,43 ± 0,10 - 0,90 ± 0,05 -0,29 0,42
Característica
Componentes de variância* Parâmetros genéticos**
2
a 2
e 2
p h2 e
2
E 0,429 1,385 1,814 0,24 ± 0,09 0,76 ± 0,09
P 1,498 0,888 2,386 0,63 ± 0,12 0,37 ± 0,12
M 0,962 1,048 2,009 0,48 ± 0,11 0,52 ± 0,11
AP 4,968 8,465 13,434 0,37 ± 0,08 0,63 ± 0,08
PS 230,744 554,915 785,659 0,29 ± 0,07 0,71 ± 0,07
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M 0,44 ± 0,08 0,56 ± 0,10 - -0,33 0,50
AP 0,49 0,22 0,30 - -
PS 0,68 0,58 0,62 - -
Interpretações
Embora chamada de Precocidade, a avaliação visual para esta característica não
observa diretamente a espessura de gordura subcutânea, como a medida de
ultrassonografia, o que se avalia é o biotipo. Via de regra, os animais precoces
coincidem com aqueles que apresentam maior profundidade de costelas, virilha baixa e
de porte compacto a mediano – existem exceções. Já aqueles com menos profundidade
de costelas e maior altura correspondem ao outro extremo em biotipo e são
considerados tardios – também chamados de pernaltas.
Na prática os animais que expressam P e M como cabeceira em relação ao lote
avaliado são sadios e bem adaptados ao sistema de produção em que estão sendo
mantidos – avaliação relativa. Essa melhor adaptação ao ambiente deve refletir também
em eficiência da performance reprodutiva – principalmente em relação às fêmeas
(Figura 3).
O proprietário do Rancho da Matinha, que tem a precocidade sexual como um
de seus principais objetivos de seleção, é um adepto da ultrassonografia. O Sr. Luciano
Borges, que somente a dois anos passou a coletar sistematicamente os escores visuais,
relata que mesmo não tendo selecionado diretamente por P e M, aquelas matrizes que
emprenhavam no desafio precoce, e principalmente as que reconcebiam na estação de
monta seguinte apresentavam costelas profundas, eram grossas e de frame moderado, o
que fez com que o rebanho fosse adquirindo consistência para o biotipo mais precoce.
Outro exemplo é o dos programas CEIP (Figura 13) que pela forte pressão de
seleção por fertilidade, associado a um índice de seleção que contempla escores visuais,
vem obtendo resultados muito expressivos para rendimento e acabamento com um perfil
de rebanho diferenciado com relação ao biotipo e mais consistente quando comparado
com a grande variabilidade existente na raça Nelore.
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Figura 13. Touros selecionados por índices que contemplam avaliações visuais (Fonte:
Programas CFM e Conexão Delta G.)
Existem ganhos em selecionar para qualidade de carne, mas economicamente a
seleção para composição de peso, em raças zebuínas (“puras”), deve apresentar maior
impacto na adaptabilidade dos animais aos sistemas de produção praticados no país e,
consequentemente, seu reflexo em características reprodutivas e encurtamento do ciclo
de produção.
Muitas características são utilizadas como critério de seleção no país. Como
consultores precisamos definir a estratégia para se atingir um determinado objetivo.
Particularmente, sempre penso em um índice que deve equilibrar características
associadas ao desempenho com outras que segurem o tamanho e desenhem o biotipo
que poderá variar, em específico, em função do sistema de produção e objetivos de
mercado do cliente.
Mesmo em programas de melhoramento bem delineados, a interpretação de
informações genéticas e morfológicas são necessárias para aprimorar a eficiência
produtiva e proporcionar melhores resultados financeiros.
As reflexões apresentadas neste artigo têm um grande componente empírico
baseado em experiência prática de campo. Mais estudos devem ser conduzidos para que
algumas das hipóteses expostas possam ser comprovadas cientificamente.
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Para dar sequência sobre ao conteúdo e abordar a temática do julgamentos em
exposições agropecuárias será utilizado um artigo crítico intitulado: "O Brasil é off
road" que fala sobre exposições e pecuária a pasto, publicado em junho de 2011como
matéria de capa de uma revista de circulação nacional sobre agronegócio.
O Brasil é Off Road
Pista de Julgamento e Fórmula 1: uma semelhança questionável.
É freqüente ouvirmos a comparação das pistas de julgamento com a F1. A
analogia, realmente, faz muito sentido, tanto pelo ambiente tecnológico quanto pela
performance dos animais. Contudo, é preciso aprofundarmos nessa reflexão.
Desde jovem, a arte de olhar para o gado de maneira crítica (julgar, classificar,
apartar e selecionar) me fascina. Criado numa família que vive da pecuária, assisti
meu pai freqüentando pistas na década de 1970, e tatersais de leilões desde os
primeiros anos de 1980. Também acompanhei o deslocamento da atividade da família
do Estado de São Paulo para o Mato Grosso do Sul, deixando as pistas e focando na
comercialização de touros. Em meados da década de 1990, subimos no mapa
alcançando o Mato Grosso. Lá, aumentamos o rebanho, e com a implementação de
novas tecnologias em melhoramento genético imprimimos maior pressão de seleção.
Durante 42 anos observei a pecuária bovina do Brasil pela janela de casa,
interagindo com a perspectiva de muitos mestres (com ou sem formação acadêmica).
É por isso que eu sempre destaco a importância da Universidade conciliada à prática
de campo na escola da vida.
Acredito ser muito importante que técnicos, jurados, criadores e associações,
juntos, conduzam discussões sadias em prol do sucesso das criticadas pistas de
julgamento. Na minha opinião as pistas são um momento único de apreciação da
qualidade morfológica detalhada dos animais de uma determinada raça e têm a função
de apontar para modelos morfológicos a serem adotados para desempenhar uma
determinada função na pecuária nacional.
O problema é que a maioria das associações tem se omitido em apontar um
biotipo, e, também em definir prioridades nos critérios de julgamento, jogando toda
essa responsabilidade para os jurados.
Nas pistas o discurso é de equilíbrio entre profundidade de costelas e altura de
membros, de tamanho moderado e de funcionalidade. Mas na prática não é bem
assim.
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Bezerros com muita profundidade de costelas e pouca perna param logo de
crescer e podem não dar o peso adequado de abate, assim como animais adultos com
50% de costelas e 50% de pernas são tardios para qualquer raça bovina. Então o que
é um animal equilibrado?
E aquelas críticas sobre o animal que estava se desenvolvendo bem, mas
parou de crescer? O que se deseja são animais precoces ou tardios? Se precoces,
talvez o bom mesmo é o que para de crescer (ponto B), apresentando uma curva de
crescimento diferenciada, adequada para uma pecuária de ciclo curto.
E sobre o tamanho moderado: será que os animais da raça Nelore que ganham
as atuais pistas são medianos?
Citei como exemplo a raça porque neste mês julguei Brahman e Guzerá ao
lado da pista de Nelore, em Uberaba e em Curvelo, respectivamente, e pude ver o
quanto os animais desta raça estão grandes. É muita perna!
Particularmente hà alguns anos eu considerava que um animal poderia ser até
de porte maior, contanto que tivesse boas proporções em suas medidas. Hoje,
trabalhos científicos demonstram que animais de porte grande são mais exigentes em
ambiente e que a maior necessidade de mantença se reflete no desempenho
reprodutivo quando não se tem aporte nutricional suficiente.
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Demonstração de canecas fazendo analogia com a performance reprodutiva de uma
vaca.
Uma das maiores dificuldades que temos num julgamento é não impressionar
com o tamanho dos animais que foram criados num sistema de produção muito
diferente da realidade brasileira. O ideal é premiar aqueles indivíduos que realmente
possam ter bom desempenho a campo, pois a competitividade mundial da nossa
pecuária deve-se, em grande parte, ao capim e seus baixos custos para a produção
de carne e leite. O número de animais terminados em confinamento é crescente, mas
a manutenção das matrizes e a recria dos animais são a pasto.
O ambiente de pasto vem melhorando nos últimos anos, com suplementos e
pastagens melhor manejadas, mas está cada vez mais distante da tecnologia aplicada
nas cocheiras, que utiliza rações que chegam a custar mais de R$100,00 o saco, além
de suplementos requintados, de instalações, tratadores, apresentadores e
casqueadores que podem definir, no detalhe, a performance de um time de ponta.
Pois é, parece mesmo uma equipe de F1, onde embora muito importante, não
basta a habilidade do piloto, também conta o volume de investimento, o combustível, o
pneu ou um detalhe tecnológico que pode definir a equipe campeã naquele ano.
A difícil tarefa do julgamento – Interação Genótipo x Ambiente
Nas exposições, independente das sinalizações anteriores de tabelas de peso
máximo, ou mesmo colocando algumas regras para que seja alcançado um mínimo
em desempenho reprodutivo, os animais de ponta têm que corresponder muito bem
como grandes ganhadores de peso. Situação análoga acontece na F1 onde se busca
velocidade em um circuito que possui muitas curvas, ou seja, não basta maior rapidez
nas retas, é também necessário um carro com estabilidade para obter também melhor
desempenho nas curvas.
No entanto, os autódromos são perfeitos quanto à qualidade do asfalto, com o
mínimo de irregularidades que possam comprometer o desempenho dos carros.
Sendo assim, dá para imaginar um carro de F1 nas rodovias convencionais da Europa
ou dos Estados Unidos? E nas estradas de asfalto mal conservadas da região Centro-
Oeste do Brasil? E na terra?
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
O fato é que, enquanto o rebanho de quase 200 milhões de animais no Brasil
tem que pegar muita poeira e lama nas estradas de chão (ambiente a pasto), o
preparo para a pista está cada vez mais sofisticado. O resultando é um gado com
performance nos autódromos (cocheira), mas incapaz de obter bom desempenho em
estradas precárias, sob seca ou chuva, onde tem lama, existem buracos, e faz muita
poeira e trepidação nas “costelas de vaca”.
Esse distanciamento pode ser observado no tamanho ou frame size das
matrizes e reprodutores da raça Nelore que geram os atuais campeões. O resultado
dos touros líderes do ranking para esta raça, e seus desempenhos médios em
programas de melhoramento, é uma comprovação técnica. Esses animais vão muito
bem na reta (DEPs de crescimento ou peso), mas quando vão para as curvas (DEPs
de perímetro escrotal e habilidade materna) se complicam. Além disso, se precisarem
ir para estradas esburacadas ou de terra, aí constatamos que de fato tem muita coisa
a se modificar no motor, suspensão, chassi e aerodinâmica, ou seja o desenho e
proporções corporais (DEPs morfológicas e de carcaça) deverá ser muito diferente.
Algumas raças estão com o tamanho e desenho mais distantes do biótipo que
apresenta saúde no campo (proporções corporais – relação entre comprimento,
profundidade de costelas, altura de pernas, arqueamento de costelas, abertura de
peito, perímetro torácico, musculosidade e características sexuais secundárias). Isso
que estamos chamando de “saúde” no campo é adaptabilidade, chamada por alguns
de rusticidade, ou seja, é o que garante a eficiência em reprodução.
Mesmo com toda a dificuldade da interação genótipo-ambiente, que favorece
determinadas linhagens em situações privilegiadas, as associações de raças deveriam
estudar mais o assunto, compor comissões com técnicos e criadores (mercado) e
propor um desenho, uma referência de tamanho. É necessário atentar para as
características indicadoras de fertilidade, para a cria ao pé e quanto a qualidade do
produto deveria influenciar na premiação da matriz.
No encontro de fevereiro passado promovido pela ABCZ, o assunto modelo a
ser adotado veio à tona, mas respostas mais objetivas não surgiram ainda.
Um caso bem atual é o do Gir Leiteiro, que definiu que a função de produzir
leite era o principal atributo a ser ponderado. O mercado respondeu muito bem,
animais que não apresentaram produção de leite perderam valor, independente da
“beleza estética”. Inicialmente, o trabalho passou por cima de detalhes raciais -
embora não abrindo mão do enquadramento racial - mas assumindo que a aptidão de
produção leiteira era o objetivo primordial. Foram realizados estudos morfométricos no
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
campo e proposto uma referência de modelo de vaca com desenho produtivo,
estrutura forte sem exagero, tamanho moderado, feminina e perfeita no padrão racial.
Seguindo o exemplo do Gir Leiteiro, o momento é muito oportuno para que o
biotipo ideal nas diferentes raças zebuínas seja proposto por dois importantes motivos:
o primeiro é que contamos com programas de melhoramento genético gerando DEPs
e valores moleculares cada vez mais precisos; o outro fator é aproveitar a chegada de
variabilidade genética importada da Índia. No entanto o material genético não deverá
acompanhar o desempenho em ganho de peso dos animais líderes dos atuais
rankings de pista (selecionados para ambiente ultra privilegiado). Mesmo assim os
indianos podem contribuir, além de heterose, para características de adaptação,
fertilidade e raça, já que no pais de origem são duramente colocados a situações de
ambiente restritivo.
Sei que não é fácil propor critérios de julgamento e apontar para uma
referência de animal “ideal” (True Type), e que cada raça tem suas qualidades e
defeitos específicos a serem trabalhadas num espaço de tempo, mas não se pode
negar a distância da genética utilizada nas pistas de hoje, por exemplo na raça Nelore,
com a genética de melhores resultados a campo.
Assim, a tecnologia desenvolvida na F1 (pistas) tem que chegar aos carros de
passeio (campo). Retorno econômico aos patrocinadores, espaço nas mídias e
valorização da marca pagam a conta na F1. Nas raças bovinas, isso se faz com a
venda de touros e sêmen que serão utilizados no universo de 70 milhões de vacas no
Brasil. Estamos lidando com um país onde, sem dúvida, a vocação produtiva é a
pasto, onde o ambiente é totalmente Off Road.
Para fechar o assunto, é oportuno a leitura do artigo "Ranking &
Sumários" que também foi matéria de capa de revista da área publicado
também em 2011e retrata uma situação que continua igual ou, pelo menos,
muito parecida.
Ranking & Sumários
Interpretando DEPs e compreendendo diferenças
A proposta deste artigo é exercitar a compreensão entre o resultado do
ranking de reprodutores da raça Nelore e sua relação com as avaliações
genéticas.
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
Um dos pontos em comum entre ambos é terem se transformado em
acirradas competições, na busca frenética do Topo, do TOP e do POP.
A escolha pela raça Nelore para esta reflexão não foi por acaso, mas,
sim, por oferecer dois sumários em que os reprodutores, objeto de estudo,
apresentam alta acurácia nas estimativas de suas DEPs.
Na última atualização do colegiado de jurados promovido pela ABCZ, em
fevereiro deste ano, saudáveis colocações foram apresentadas pelos
palestrantes e plenário. Ao chamar a atenção sobre os riscos do gigantismo, o
Dr. Enoch Filho apresentou exemplos do problema em inúmeras raças bovinas
e até em outras espécies animais. Ainda mais preocupantes foram as
colocações do Dr. Antônio Rosa que, com toda sutiliza que lhe é peculiar,
expressou o risco do rebanho chamado de “elite” se descolar da pirâmide que
representa a pecuária de corte no país.
O alerta dos pesquisadores diz respeito a duas situações frequentes na
atividade. Primeiro: técnicos e criadores, nos bastidores, criticam as vacas de
mais de uma tonelada, embora tais matrizes, muitas vezes, sejam progenitoras
de animais que se destacam nas pistas. Segundo: vários profissionais relatam
publicamente que, no momento de acasalar, trabalham com duas linhas bem
distintas, uma para pista e outra para o pasto.
Diante do exposto serão apresentados alguns questionamentos e
esclarecimentos sobre pistas de julgamento e avaliações genéticas.
Conhecendo as DEPs
As DEPs utilizadas neste estudo são informações públicas e podem ser
obtidas nos sites da ANCP e ABCZ. Aqui, em razão de ser mais didático
apresentar como os touros estão perante o programa, a qualidade genética não
está representada por valores das DEPs. Foram utilizados os TOPs, que é o
percentil que o animal ocupa com relação à população base avaliada.
Interpretar o TOP é bem simples: se o animal é 0,1% significa que é
melhor em cada 1000, se é 1%, melhor a cada 100 outros animais
considerados na base do programa, se 10% ainda está na frente de 90% da
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
base avaliada. Agora se é de 51 a 100%, significa que está entre os piores para
aquela característica ou índice.
Os valores dos TOPs, que são diretamente associados às DEPs, foram
destacados por diferentes cores, metodologia que facilita a leitura de
qualidades e limitações genéticas de um animal numa rápida batida de olho.
Os TOPs de 0,1 a 1% foram destacados pela cor azul, e significa que
são excepcionais para a característica em questão; de 2 a 10% pelo verde,
significando que são muito bons; de 11 a 29% pelo branco, dizendo que são
bons; de 30 a 50% de amarelo, alertando sobre a característica; e de 51 a
100% pelo vermelho, indicando animal abaixo da média, sendo TOP 100%,
entre os 1% piores. Somente foram consideradas DEPs com acurácia acima de
50%. O alerta fica sobre o cuidado ao interpretar DEPs específicas, pois a
característica em questão pode não ser um problema para raça ou para o
rebanho em particular (Tabelas 1 e 2).
Tabela 2 - ANCP 2011
Nome MGT MP120 DP210 DP450 DPE450
BITELO 10 5 3 10 50
BASCO 40 4 10 15
BIGBEN 10 100 1 2 100
JERU 15 80 2 3 90
HELIACO 0,5 20 0,5 2 10
BVLGARI 10 20 15 100
GUINCHO 40 2 30 100
ENLEVO 10 40 20 25 2
GANDHI 20 40 25 20 20
RANCHI 40 70 15 20 90
FAJARDO 10 15 10 10 70
1646 2 10 10 4 30
EDHANK 80 60 20 30 100
HOCK 50 15 4 100
ATMA 25 100 1 0,5 100
MÉDIAS 24 49 10 12 65
Tabela 1- PMGZ 2010
Nome IQG MP120 DP240 DP420 DPE420
BITELO 0,5 2 1 2 35
BASCO 3 68 1 3 0,1
BIGBEN 2 91 1 1 17
JERU 0,5 52 0,5 0,5 6
HELIACO 0,5 27 1 2 6
BVLGARI 1 29 2 4 22
GUINCHO 0,5 14 2 3 22
ENLEVO 3 29 7 6 0,1
GANDHI 3 15 12 10 6
RANCHI 10 54 5 8 28
FAJARDO 0,5 4 4 3 42
1646 0,1 0,5 3 2 28
EDHANK 9 50 7 8 96
HOCK 5 90 4 4 84
ATMA 3 99 0,5 0,5 78
MÉDIAS 3 42 3 4 31
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
A primeira DEP apresentada é a Maternal (MP120), avaliada através do
peso aos 120 dias de idade, onde se estima a produção de leite que deverá ser
transmitida para os descendentes, manifestado no “ambiente materno” das
filhas do touro e refletindo em seus netos. Touros com valores altos nas DEPs
são os mais indicados para produção de fêmeas de reposição boas de leite.
Em média, os líderes de sumário estão amarelos para esta característica, TOP
42% PMGZ e TOP 50% na ANCP.
As DP240 e DP210, analisada pelos pesos padronizados aos 240 e 210
dias, avaliam a capacidade de crescimento dos bezerros. São indicadas DEPs
elevadas, pois não se consegue um “boi”, ou prenhes precoce, sem que se
tenha um bezerro bem desmamado. Nesse quesito, os touros mencionados
estão muito bem. Destacados em verde, são em média TOP 3% e 10%
respectivamente no PMGZ e ANCP.
Para os pesos padronizados aos 420 e 450 dias, que expressam o
potencial de ganho em peso no período pós-desmama, animais com DEPs
elevadas são os mais indicados. Para essas características os reprodutores
citados possuem também média muito boa, 4% PMGZ e 12% ANCP.
O Perímetro Escrotal aos 420 e 450 dias (DPE420 e DPE450), além de
fácil mensuração, possui herdabilidade de média a alta magnitude, e apresenta
associação genética favorável com precocidade sexual e fertilidade. Para esta
característica os líderes do ranking, em média, amarelaram no PMGZ (TOP
31%) e avermelharam na ANCP (TOP 65%).
Os índices genéticos neste estudo são: IQG – PMGZ e MGT – ANCP.
Ambos buscam o melhor balanço entre as DEPs que estimam, mas ainda são
empíricos e definidos sem a realização de estudos específicos para buscar o
retorno econômico (Tabelas 3 e 4).
Tabela 3 - Características e ponderações que compõem o IQG – ABCZ/EMBRAPA
Características Ponderação Peso à fase materna (MP120) 10% Peso a desmama (DP240) 15% Total maternal do peso a desmama 20% Peso ao sobreano (DP420) 15% Ganho de peso pós-desmama 15% Idade ao primeiro parto 15% Intervalo entre 1 e 2º partos 5%
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
Perímetro Escrotal ao sobreano (DPE420) 5%
Fonte: www.abcz.org.br
Tabela 4 - Características e ponderações que compõem o MGT - ANCP
Características Ponderações Habilidade Maternal (MP120) 20% Peso aos 365 dias de idade (DP365) 20% Peso aos 450 dias de idade (DP450) 20% Perímetro Escrotal aos 365 dias (DPE365)
10%
Perímetro Escrotal aos 450 dias (DPE450)
10%
Idade ao primeiro parto 15% Período de gestação 5%
Fonte: www.ancp.org.br
Para o IQG, os líderes de sumário são muito bons, em média TOP 3%, e
para MGT bons, TOP 24%. Baseado somente nos índices, a interpretação de
que está tudo bem pode ser equivocada, levando a crer que ranking e
avaliações genéticas estão caminhando harmoniosamente na mesma direção.
As DEPs de pesos para efeito direto evidenciam que esses reprodutores
apresentam grande potencial para crescimento, bem como nos índices,
principalmente o IQG.
Outro ponto que cabe interpretação é a estrutura dos dados que compõe
o arquivo analisado pelos programas, pois o resultado das DEPs pode levar a
interpretações equivocadas de alguns touros, principalmente os de sêmen mais
raros. Tais reprodutores podem ter tido acasalamentos privilegiados, assim
como pré-seleção das progênies informadas para os centros de processamento
das avaliações genéticas.
Composição de Peso
Para melhor interpretação das características genéticas dos touros
líderes de sumário, serão apresentados resultados de outro grupo de DEPs
analisadas pela ANCP (Tabela 5).
Tabela 5
Nome Ed Pd Md Es Ps Ms DAOL DACAB
BITELO 10 100 40 10 100 100 100 100
BASCO 10 70 20 50 80 90 100 90
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
BIGBEN 30 70 40 40 80 50 1 10
JERU 0,1 50 5 1 100 70 HELIACO 10 50 10 10 80 25 4 100
BVLGARI GUINCHO 10 30 10 15 80 80 70 100
ENLEVO 20 70 60 40 90 100 50 100
GANDHI 90 70 90 40 10 20 70 90
RANCHI 30 25 15 70 40 30 80 100
FAJARDO 10 80 60 20 100 100 10 1
1646 30 20 15 20 40 20 20 100
EDHANK 30 70 20 90 100 100 HOCK
ATMA 3 25 20 10 15 50 80 4
MÉDIAS 22 56 31 32 70 64 53 72
DEPs para características morfológicas (ANCP–SAM®)
Primeiramente, é preciso entender um pouco sobre as DEPs
morfológicas. Os dados de EPM (Estrutura, Precocidade e Musculosidade) à
desmama são ajustados para 210 dias de idade, e os de sobreano para 550
dias. São informações coletadas com o padrão de qualidade ANCP – SAM, que
já analisou mais de 100 mil escores visuais.
1) Estrutura Corporal (E) ao Desmame e Sobreano (Ed e Es) são
DEPs que sinalizam o tamanho. DEPs mais elevadas indicam que o touro
deverá gerar produtos “grandes”, enquanto os valores baixos correspondem às
estimativas de progênies de menores tamanhos.
2) Precocidade (P) são DEPs analisadas pela relação entre a
profundidade de costelas e altura dos membros, considerando ainda a prega
da virilha. Maiores profundidades de costela e virilha mais baixa apontam para
o biotipo que tende a ser mais precoce em acabamento e sexual. Animais com
DEPs mais elevadas são indicados, principalmente, para sistemas de produção
a pasto.
3) Musculosidade (M) são DEPs obtidas por escores baseados na
distribuição, volume e comprimento dos músculos. Animais com DEPs mais
elevadas são indicados, tendo em vista à produção de progênies com maior
rendimento de carcaça.
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
As DEPs morfológicas devem ser interpretadas em conjunto, com uma
visão simultânea do que se espera na progênie para E (tamanho), P
(comprimento de costelas) e M (arqueamento de costelas e evidência de
massas musculares).
A interpretação do “desenho” das progênies dos reprodutores na
cocheira e no campo pode ser uma grande ferramenta para ajudar o
entendimento do desempenho dos diversos biótipos em diferentes sistemas de
produção.
Os escores de EPM atribuídos ao indivíduo é sempre relativo ao seu
grupo de manejo, onde ele pode se enquadrar como cabeceira, meio ou fundo
para cada uma das características de E, P e M. Assim, animais que não
expressam tamanho recebem notas baixas para E; se não expressam costelas
profundas, notas baixas para P; e caso não expressem arqueamento e
evidência de massas musculares o escore de M será baixo.
Podemos concluir que, em média, as progênies dos touros na fase de
desmama apresentam: tamanho bom Ed 22%, pouca profundidade de costela
e virilha mais alta Pd TOP 56% e Md mediana, TOP 31% e amarelo. Já na fase
de sobreano, em que não dispõem do leite materno, e que já passaram por um
período de seca, os animais demonstram serem menos adaptados ao sistema
de produção ao apresentarem desempenho ainda piores. Para Es são em
média TOP 32%, destacado em amarelo, para Ps 70% em vermelho e para MS
também em vermelho, TOP 64%.
DEPs para características de carcaça
Os dados de ultrassonografia seguem um padrão de qualidade
internacional preconizado pela AVAL, parceira da ANCP.
1) Área de Olho de Lombo (DAOL), obtida em idade de 576 dias. Está
relacionada com o rendimento da carcaça. Animais com DEPs médias a altas
são preferidos. Os líderes do ranking apresentam média TOP 53%, cor
vermelha.
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
2) Acabamento de Carcaça (DACAB) a DEP do touro a ser preferido
vai depender do sistema de produção. Os touros líderes do ranking apresentam
média TOP 72%, cor vermelha.
Conclusões
A partir da interpretação dos resultados apresentados fica evidente que,
em média, os campeões do ranking são bons para DEPs de crescimento
relacionadas ao tamanho e ao peso, mas deixam a desejar nas avaliações
genéticas que consideram características importantes do ponto de vista de
funcionalidade, adaptabilidade e retorno econômico, tais como nas DEPs
maternais, de perímetro escrotal, morfológicas e de carcaça.
Últimas reflexões
Retornando a colocação feita no simpósio da ABCZ sobre o risco do
gado de “elite” se descolar da pirâmide produtiva, é oportuno lembrar casos de
outras raças bovinas – que enfrentaram esse problema – para que não
aconteça as mesmas conseqüências na raça Nelore.
Quem não se recorda de alguma raça taurina continental, que
impressionava ao apresentar indivíduos enormes e pesadíssimos nas
exposições. Embora fosse um “belo” show, aquele animal grande, musculoso e
bem apresentado não tinha grande função para pecuária brasileira, e se
limitava a atender uma pequena população em volta das pistas de julgamento –
sem potencial de expansão para grandes rebanhos a campo.
Observa-se, atualmente, uma crescente procura e aumento nas médias
de preços dos touros CEIP. Programas como a Conexão Delta G, CFM, PAINT
e Qualitas, mesmo sem registro da associação, apresentam eficiência
produtiva e econômica. Os resultados obtidos por essas empresas estão sendo
clientes satisfeitos e fidelizados.
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte
Muitos rebanhos nelore PO também estão em evidência no mercado,
ofertando reprodutores funcionais e produtivos, porém, diferentes da
genealogia dos animais que ainda estão ganhando nas pistas.
O que faz uma raça forte é a possibilidade de sua genética atingir uma
boa fatia do rebanho comercial, que apresenta uma base de aproximadamente
70 milhões de matrizes – só nelore e aneloradas são cerca de 45 milhões de
vacas. Um bom exemplo, além do nelore funcional, é a raça Angus, que possui
características e funções tão bem fixadas, que conquista cada vez mais um
nicho de mercado exigente por suas qualidades específicas.
Se a genética de pista não gerar reprodutores eficientes no campo, seu
mercado ficará restrito a uma pequena fatia de “colecionadores”,
retroalimentando o universo em torno das competições, mas perdendo a
conexão com aqueles tantos milhões de matrizes citadas anteriormente.
Por isso, criadores e investidores deverão somar forças para que o
rebanho chamado de “elite” esteja coincidente com o rebanho seleção, e não
se desconecte da pirâmide produtiva.
Fontes: www.brasilcomz.com ; www.boicombula.com.br ; www.abcz.org.br e
www.ancp.org.br
Agradecimentos
À Equipe BrasilcomZ, pelas frequentes colaborações;
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