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Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, que sem ele
não teria toda essa inspiração para contar uma
história. Agradeço a minha mãe Neu, que teve
paciência e me apoiou em todas as etapas
dessa criação. E agradeço a minha amiga
Wangna, minha crítica número um. Sem ela eu
também não teria conseguido chegar aqui.
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Capítulo 1: Solidão
Era a manhã mais chuvosa que Arthur
vira em sua vida, pelo menos ele achava isso.
O pior de tudo é que estava previsto para dia
de sol e com poucas nuvens, o que era
estranho, quer dizer, não que a meteorologia
fosse sempre exata, mas acontecer uma
mudança tão drástica assim era meio bizarro.
Foi exatamente isso que passou na mente
desse menino magro e meio pálido que estava
deitado, olhando para o teto e com expressão
vazia, como se seu corpo estivesse desabitado
e sua alma estivesse a mil quilômetros dali.
Isso se ele tivesse alma. Arthur sempre se
perguntou se tinha uma alma, aliás, ele era
diferente das outras pessoas, ele se sentia oco e
não tinha capacidade de empatia pelos outros,
ele sempre ouvia rumores de que havia algo de
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errado com ele, mas atualmente estava
realmente acreditando nisso.
Arthur tinha 17 anos e estava no
terceiro ano do ensino médio, não aguentava
mais esperar para se formar; a única coisa que
queria era sair da escola o mais rápido
possível. Lá todos olhavam para ele como se
fosse um ser de outro mundo, e ele não
suportava isso, era difícil aguentar aqueles
olhares de como anjos olhavam para
demônios, eram olhos de repulsa,
estranhamento e às vezes até medo, o que não
era compreensivo já que aparentemente ele
não representava risco nem para uma formiga.
Havia um período em que Arthur ficava horas
se olhando no espelho e se perguntava sobre
sua beleza, ele deduzia que as pessoas o
achavam feio, mas ele não via feiura, ele via
um belo rosto sem nenhuma imperfeição, só
que isso não queria dizer nada, a beleza é
subjetiva, mas mesmo assim Arthur realmente
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não era feio, ele era um garoto com atributos
interessantes; tinha um belo olho castanho
claro que brilhava ao receber o reflexo da luz,
e além de possuir interessantes cabelos pretos
e lisos que pareciam os cabelos de um anjo das
trevas, aqueles cabelos realçavam ainda mais o
brilho dos seus olhos, mas em geral assustava
as pessoas pois remetia a algo sombrio. Eles
não enxergavam o tímido Arthur Sullivan, mas
pareciam ver o anjo das trevas na frente delas,
o anjo que levaria suas almas para o inferno.
O semblante de Arthur naquela manhã
estava mais caído do que de costume, era mais
um dia que tinha que ir para escola e ter que
aguentar os olhares dos seres abomináveis
chamados adolescentes.
- Filho, já acordou?- Perguntou uma
voz feminina e doce, esse sem dúvida era um
anjo, mas um anjo da luz.
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Uma mulher entrou no quarto escuro e
sem vida. Se tratava de Eli, a mãe jovem e
gentil do garoto. Dava para sentir
instantaneamente a diferença descomunal de
personalidade entre mãe e filho. Eli esbanjava
bondade e alegria em seu olhar, só de estar
junto dela já dava um tremendo entusiasmo,
ela sem dúvida tinha uma aura muito positiva,
enquanto Arthur esbanjava o nada.
- Ainda falta meia hora para eu acordar
- disse o rapaz ainda deitado e extremamente
entediado.
- Mas você já está acordado - contestou
a mãe do garoto.
- Tecnicamente sim, mas eu deveria
acordar daqui a trinta minutos, então eu posso
fingir que estou dormindo ainda e me arrumar
na hora certa.
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- Não seja bobo, vamos! Vá se arrumar,
aí dá tempo de eu te dar uma carona hoje, ou
você prefere pegar ônibus?
- Não, tudo bem, já que eu tenho que ir
mesmo, é melhor ir confortavelmente.
Eli deu um sorrisinho suspeito, pois
sabia que o garoto odiava pegar ônibus mais
do que qualquer coisa. Ela tentava não ficar
pensando nisso, mas sabia no fundo que seu
filho tinha um pouco de misantropia, não era
algo exacerbado, mas ainda sim não tinha
como ignorar o fato de que por pouco que
fosse, ainda sim estava lá.
Arthur nasceu em um primeiro de
novembro, um dia depois do dia das bruxas,
isso parecia até ironia. O garoto cresceu sem o
pai, que abandonara a família logo após seu
nascimento, desde então Eli teve que trabalhar
duro para criar seus dois filhos. Isso mesmo,
Arthur tinha um irmão de 21 anos chamado
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Kenny. Depois dessa desilusão amorosa, Eli
teve que se esforçar para conseguir sustentar
seus dois filhos sozinha, ela sofreu muito além
de ser humilhada de várias formas, mas teve
sua recompensa ao ser promovida de secretária
a gerente em uma empresa de negócios
corporativos. Atualmente a interessante
família morava em um belo apartamento na
capital de São Paulo e viviam uma vida calma
e bastante agradável, mas isso tudo não era o
suficiente, Eli desejava que seu filho caçula
fosse mais feliz, entretanto não fazia a menor
ideia de como aconteceria isso.
Kenny já estava na faculdade cursando
medicina, entrou numa das melhores do país,
antes disso havia estudado em uma renomada
escola australiana. Inteligência era um atributo
genético da família Sullivan, e essa foi a
característica mais marcante, pois graças a
genialidade de Eli em conseguir reestruturar
uma empresa quase em falência que lhe deu o
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cargo de gerente, foi a inteligência e raciocínio
avançado de Kenny que lhe deu a
oportunidade de ganhar uma bolsa para um
ótima universidade, e foi essa mesma
inteligência e alta capacidade analítica que fez
com que Arthur tivesse uma outra visão do
mundo e desenvolvesse essa personalidade tão
"peculiar".
Após beber um copo de leite puro,
Arthur pôs seus materiais na mochila e vestiu
seu casaco de couro marrom com pelinhos na
gola que eram muito confortáveis e o deixava
mais quentinho.
-MÃE, JÁ ESTOU PRONTO! - gritou
o garoto, com a voz meio rouca. Partiram.
Durante a pequena viagem até a escola
nenhum dos dois abriu a boca sequer para um
sussurro, principalmente Arthur que se
mantinha indiferente até o fim, como se sua
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expressão facial fosse sempre a mesma e não
fosse capaz de mudá-la.
Chegaram na escola em pouco tempo,
ainda não tinha trânsito e faltava uma hora
para a primeira aula começar. Arthur fora o
primeiro a entrar na sala, ainda estava tudo
escuro, dava para acender a luz, mas ele
gostava da escuridão, talvez se sentisse em
casa. Seu sossego não durou quase nada, pois
assim que sentou-se em sua cadeira de
costume, duas meninas entraram e acenderam
a luz. Uma delas deu um grito como se tivesse
visto um fantasma. Arthur as encarou
entediado, ele nem sabia o nome delas, na
verdade não se lembrava de nunca tê-las visto
em toda sua vida, mas aos poucos ia se
recordando de que se tratava de duas meninas
meio esquisitas que sempre sentavam juntas e
não conversavam muito com outras pessoas da
sala, além uma com a outra. Não entendia o
fato do susto, elas não eram menos excêntricas
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do que ele. Arthur pegou um livro de dentro da
sua mochila, cujo título era "O vampiro
espiritual" de uma escritora russa. Tratava-se
de um romance que contava a história de uma
garota de 15 anos que convivia com um
vampiro, mas não um vampiro popular que
todos conhecem, esse vampiro não sugava
sangue ou fluidos corporais, mas sim a força
espiritual da pessoa, o que tornava esse tipo
mais assustador e fascinante. O livro
terminava com o depoimento do vampiro que
contava como fora divertido enganar a pobre
infeliz. Esse era o tipo de romance que Arthur
gostava, histórias com finais horríveis e cheio
de tragédias.
As horas passaram tão devagar que
Arthur olhou para o relógio e ainda faltavam
dez minutos para começar a aula, e só haviam
chegado mais nove pessoas, as quais ele não
conversava com nenhuma delas; até que
chegara a primeira que Arthur não se sentia
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mal em trocar algumas palavras, sua "melhor
amiga" Areta.
Areta era uma garota magrela de
longos cabelos ruivos e meio baixinha. Possuía
uma inocência irritante aos olhos de Arthur no
começo, mas com o tempo fora se
acostumando com o jeito doce e calmo da
garota, que lembrava muito sua mãe
- Oi, Arthur!- cumprimentou animada.
Arthur deu um leve sorrisinho forçado,
ele não gostava que a amiga lhe visse sempre
de mau humor. Há algum tempo, havia
suspeitas de que Arthur tinha uma quedinha
pela garota, mas isso era totalmente inviável já
que ela tinha um namorado, mas de qualquer
forma, mesmo que esse suposto namorado não
existisse, não haveria a menor hipótese disso
acontecer, pois Arthur jamais se apaixonaria
por ninguém, ele não possuía essa capacidade,
pelo menos ainda não.
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Areta sentou-se em sua mesa de
costume, que era ao lado dele.
- Que livro é esse? - perguntou,
agarrando o livro das mãos do rapaz.
- É só um romance - respondeu meio
encabulado.
- O vampiro espiritual?! - olhou curiosa
para a capa do livro - parece ser meio, hã,
interessante!
Arthur arrebatou o livro de volta e
socou na mochila ligeiramente. O professor
entrara na sala finalmente, no mesmo
momento chegou mais um grupo de uns dez
alunos, aparentemente estavam do lado de fora
da sala esperando o professor chegar para
poderem entrar; é um pensamento lógico para
pessoas que odeiam ficar na sala, Arthur só
não entendeu como não pudera ter pensado
naquilo antes.
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- Bom dia! Abram os livros na página
122, hoje vamos falar de algo interessante.
Um dos alunos que sentara na frente mostrou-
se confuso quanto ao assunto a ser abordado,
então perguntou:
- O que isso tem a ver com história?
- Bom, é parte da história norte-
americana. Embora pareça meio desnecessária,
é fundamental para entendermos como era a o
modo de pensar das pessoas daquela época. -
respondeu o professor.
- Eu acho muito interessante a história
das bruxas de Salém, o mais legal de tudo isso
é que no final descobriram que nenhuma delas
eram bruxas de verdade - disse Areta ainda
animada.
- Claro que não, bruxas não existem -
disse Alana, uma garota que sentava próximo à
mesa do professor.
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- É claro que existe, eu tenho uma
amiga que ela é wiccan.
Arthur olhou intrigado para as duas
garotas. Ele sempre gostou de histórias de
terror e esoterismo, mas as bruxas de Salém
era uma bobagem e uma mentira, ele sabia
disso, aliás, se elas fossem bruxas mesmo não
teriam sido mortas. Naquele momento era
obrigado a concordar com Alana, bruxas não
existem.
O professor Davis ficou horas falando
sobre o acontecimento com as bruxas de
Salém e blá blá blá. Arthur já estava ficando
entediado, pois já sabia aquela história e tudo
o que o professor falava era redundante e sem
o menor sentido, achava aquilo tudo realmente
desnecessário, e o pior que ainda faltava vinte
minutos para acabar a aula.
Arthur se levantou e saiu da sala
furtivamente. Foi em direção do jardim da
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escola, que era feio e sem vida, e sentou-se
em um dos bancos. O pátio estava vazio,
exatamente do jeito que ele gostava. Porém,
achou um pouco arriscado ficar ali, era um
alvo fácil dos coordenadores de aluno, que
eram exímios caçadores, preparados para
arrancar as orelhas dos alunos que estivessem
cabulando aula. Arthur tinha seu orgulho, não
poderia aceitar a ideia de ser pego por um
desses corvos sedentos de sangue. Então
resolveu procurar um lugar menos exposto.
Pensou. A escola não era tão grande, qualquer
lugar que fosse ele seria pego, então a melhor
decisão a fazer era voltar para a maçante aula
do professor Davis.
No meio do caminho Arthur se
esbarrou com dois rapazes que estavam rindo
como se tivessem acabado de sair de um show
de stand up comedy. Arthur não conseguia
entender como as pessoas se divertiam por
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