A INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA DO BRASIL COM A BOLÍVIA E O
PARAGUAI
SOUSA, Robson Antonio - UTP.
RESUMO
Este artigo tem como objetivo estudar a integração energética brasileira em relação aos seus maiores fornecedores de energia após 1950. Identificar os interesses brasileiros em relação ao gás boliviano e a energia produzida por Itaipu e vendida pelo Paraguai, também será verificado o interesse brasileiro no desenvolvimento econômico e social dos países parceiros e analisar a influencia política brasileira na Bolívia e Paraguai. Palavras Chaves: Integração, Gás, Energia, Interesse, Influencia.
This article aims to study the Brazilian energy integration in relation to
its major energy suppliers after 1950.
Indentify the Brazilian interests in relation to Bolivia gas and the
energy produced by Itaipu and sold by Paraguay, will also verify the
Brazilian interest in the economic and social development in partner
countries and analyze the influence of Brazilian politcs in Bolivia and
Paraguay.
Keywords: Integration, Gas, Energy, Interest, Influence
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INTRODUÇÃO
Em um mundo cada vez mais competitivo a integração da América do Sul é
fundamental para o interesse coletivo dos seus povos.
O processo de criação de grandes blocos comerciais como a (UE) União
Européia, Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comercio), a América do Sul
passou a ser uma região onde o interesse se tornou mais forte, principalmente pelo
potencial de consumo, e o Brasil como principal país da região se tornou um grande
ator a nível mundial.
Integrante do BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) bloco de países considerados
emergentes o Brasil vem se destacando cada vez mais no cenário internacional, a
surpreendente recuperação econômica brasileira após a maior crise econômica dos
últimos 80 anos, mostrou o quanto o país está preparado para se tornar um grande
mercado em breve.
Porém o Brasil deverá priorizar os seus investimentos em infra-estrutura para
que sua indústria possa crescer cada vez mais e é justamente nesse sentido que sua
integração com os países da América do Sul, principalmente os que possam fornecer
algum tipo de energia, é de extrema importância, pois o Brasil no momento em que
passar a obter um crescimento sólido poderá passar por problemas de auto-suficiência
no seu abastecimento.
A principal questão enfrentada pelo Brasil é que os seus vizinhos sul-americanos
de longe são considerados países estáveis e de confiança para questões comerciais,
golpes militares ou não essa região é extremamente explosiva.
Quando se fala em questões energéticas não tem como citar a
dependência energética brasileira em relação ao Paraguai e a Bolívia, mas para isso é
preciso entender um pouco sobre esse dois países tão importantes, mas que são tão
poucos conhecidos.
Pretendo evidenciar neste trabalho um pouco da história destes dois países, bem
como evidenciar a influencia brasileira em suas economias suas políticas.
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Os Recursos Naturais e a Dependência Brasileira
O Paraguai país que desde 1984 produz energia com o Brasil pela Usina Bi-
nacional de Itaipu gera toda a energia necessária ao país, da qual tem direito e, vende
o seu excedente ao Brasil a um preço negociado em contrato desde o inicio das
operações da usina. Porém após as eleições de 2008 o presidente eleito Fernando
Lugo passou a exigir do Brasil compensação e reajustes dos valores aplicados.
A Construção do gasoduto Brasil-Bolívia no governo Fernando Henrique Cardoso
foi um grande marco para o Brasil no que se refere ao abastecimento e diversificação
do sistema energético que havia sofrido um colapso e provocado apagões pelo país
afora.
Como dito anteriormente para podermos analisar a situação energética temos a
necessidade de entender um pouco mais sobre a história desses países e suas
relações com o Brasil, principalmente no que se refere às obras para instalação da
usina de Itaipu e o gasoduto Brasil-Bolívia.
Os Países
Paraguai e Bolívia são paises com excelentes fontes de recursos naturais e exemplos
claros das problemáticas sul-americanas no que se refere à estabilidade política,
econômica e social; e são justamente os dois países com quais o Brasil mantém uma
forte dependência energética.
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República da Bolívia
Figura 1 - Bandeira da Bolívia
Figura 2 -Mapa da Bolívia
A Bolívia é um país localizado na região centro-oeste da América do Sul, onde se
desenvolveram diversas nações indígenas, principalmente os Incas, no Séc XVI os
espanhóis chegaram à região e passaram a dominar o país. Em 06 de agosto de 1825,
foi uma das primeiras colônias espanholas a se rebelar, conseguiu sua independência.
A Bolívia sempre foi um país de uma certa instabilidade política interna e externa,
se envolvendo em conflitos, com o Chile, quando perdeu seu acesso ao mar, com o
Paraguai, perdendo o território do Chaco e com o Brasil que para resolver um problema
com seringueiros brasileiros acabou por vender uma parte de seu território que hoje é o
estado do Acre.
A população do país é predominantemente indígena, tendo como principais
produtos à soja, castanha, a criação de caprinos e ovinos, e a extração de prata, ouro,
estanho petróleo e principalmente gás natural.
Neste trabalho será dada uma ênfase na história da Bolívia, sua economia,
principalmente após 1950 com seus índices econômicos e sociais. Serão abordados
também a construção do gasoduto, seus contratos e sua repercussão, a nacionalização
das empresas petrolíferas e acordos entre Petrobrás e a YPFB.
A Bolívia sempre foi marcada por sucessivos golpes militares e substituição de
seus presidentes, o que mostra a total instabilidade do país, acontecimentos esses
sempre intimamente ligados a questões dos recursos naturais bolivianos.
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Presidentes da Bolívia desde 1950
Tabela 1 – Presidentes da Bolívia
Fonte: Autor
Período Presidente
10/1949 – 05/1951 Mamerto Urriolagoitia Auto golpe
05/1951 – 04/1952 Hugo Ballivián Rojas Junta Militar
04/1952 – 04/1952 Hernan Siles Zuazo Junta Militar
04/1952 – 08/1956 Víctor Paz Estenssoro
08/1956 – 08/1960 Hernan Siles Zuazo
08/1960 – 08/1964 Víctor Paz Estenssoro
11/1964 – 11/1964 Alfredo Ovando Candía
11/1964 – 05/1965 René Barrientos Ortuño
05/1965 – 01/1966 René Barrientos Ortuño Golpe de Estado
08/1966 – 04/1969 Luis Adolfor Siles Salinas
09/1969 – 10/1970 Alfredo Ovando Candía
10/1970 – 10/1970 Junta Militar Golpe Militar
10/1970 – 08/1971 Juan José Torres Gonzales Governo militar
08/1971 – 08/1971 Jaime Florentino Mendieta Governo militar
08/1971 – 07/1978 Hugo Banzer Suárez Governo militar
07/1978 – 07/1978 Victor Gonzales Fuentes Governo militar
07/1978 – 11/1978 Juan Pereda Asbún Governo militar
11/1978 – 08/1979 David Padilla Arancibia Governo militar
08/1979 – 11/1979 Walter Guevara Arze Governo militar
11/1970 – 11/1979 Alberto Natusch Busch Governo militar
11/1979 – 07/1980 Lydia Gueiler Tejada Governo militar
07/1980 – 07/1980 Junta de Comandantes Governo militar
07/1980 – 09/1981 Luis Garcia Tejada Governo militar
09/1981 – 07/1982 Celso Torrelio Villa Governo militar
07/1982 – 07/1982 Junta Militar Governo militar
07/1982 – 10/1982 Guido Vildoso Calderón Governo militar
10/1982 – 08/1985 Hernan Siles Zuazo
08/1985 – 08/1989 Víctor Paz Estenssoro
08/1989 – 08/1993 Jaime Paz Zamora
08/1993 – 08/1997 Gonzalo Sanches de Lozada
08/1997 – 08/2001 Hugo Banzer Suárez
08/2001 – 08/2002 Jorge Quiroga Ramírez
08/2002 – 10/2003 Gonzalo Sanches de Lozada Renunciou
10/2003 – 06/2005 Carlos Mesa
06/2005 – 01/2006 Eduardo Rodríguez
01/2006 - Evo Morales
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Da Criação da YPFB
A criação da empresa YPFB (Yacimientos Petrolifros Fiscales Bolivianos), em
meados dos anos 30, foi o marco das nacionalizações no país. Porém em meio à crise
financeira e a necessidade de investimentos internos o país em 1955 cria o Código do
Petróleo que abria a possibilidade de investimentos externos na YPFB, beneficiando
principalmente a americana Gulf Company.
Em 1970 o então presidente Alfredo Ovando Candía, decreta o fim do Código do
Petróleo e a nacionalização da Gulf Company, estabelecendo relações com a URSS
(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), o que levaria o país a um novo golpe
militar desta vez orquestrado por Hugo Banzer, que faz com que os militares
permaneçam no poder até o início da década de 80.
Com um modelo de política voltada ao liberalismo econômico para atrair
investimentos estrangeiros a Bolívia privatizou algumas de suas mais importantes
empresas estatais entre elas a petrolífera (YPFB), por meio de decretos seguindo uma
cartilha que pregava o desenvolvimento do FMI (Fundo Monetário Internacional) o que
beneficiava empresas estrangeiras americanas e européias para a exportação do gás
boliviano para Inglaterra por meio dos portos chilenos o que novamente ocasionou uma
revolta popular atingindo diversas categorias do país e forçando o presidente Lozada a
renunciar ao cargo.
Não se pode negar que a privatização gerou um grande desenvolvimento no
setor, principalmente com a construção do gasoduto para o Brasil.
A idéia de se construir um gasoduto entre os países vem de longa data, porém
em virtude de negociações frustradas com o Brasil a Bolívia passou a negociar seu gás
com a Argentina, até que em 1992 com descobertas no país e uma produção auto-
suficiente a Argentina não renovou o contrato.
Um estudo em 1991 da SPG (Sociedade Privada de Gás), entidade que engloba
vários setores da economia, revelou que o Brasil deveria elevar sua participação de
consumo de gás de 2% em 1990 para 6% em 2010. Em 1993 o então Presidente do
Brasil Fernando Henrique Cardoso aprovou uma meta de 12% da participação do gás
natural no consumo de energia privada no Brasil em 2010.
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O consumo de gás proveniente da Bolívia, basicamente abastece boa parte da
região sul e sudeste do Brasil, como visto abaixo.
Tabela 2- Consumo de Gás Por Segmento
FONTE: GASBRASIL
Os Investimentos da Petrobrás
Os investimentos brasileiros principalmente da Petrobrás em território boliviano
foram de extrema importância para aquele país, já que a Bolívia não tinha condições de
tocar grande projetos de captação de gás.
O contrato inicial, assinado em 17/02/93 tendo como seu último aditivo em 1996
previa que a Petrobrás deveria adquirir inicialmente 08 milhões de m³/dia de gás,
podendo chegar a 16 milhões de m³/dia no oitavo ano em regime take-or-pay,
permanecendo assim até o vigésimo ano.
A YPFB (Yacimientos Petrolifros Fiscales Bolivianos) se comprometeu no mesmo
contrato à prioridade brasileira na compra de gás até o limite de 30 milhões de m³/dia,
desde que estivesse disponíveis.
O gasoduto Brasil-Bolívia possui uma extensão de 3.150 km sendo 557 km em
lado Boliviano e 2.593 em lado brasileiro, tendo uma capacidade máxima de transporte
de 30 milhões de m³/dia.
Vale ressaltar que a Petrobrás conseguiu com este contrato uma garantia de
operação nos principais campos fornecedores de gás ao Brasil e que a sua
rentabilidade estaria acima de 15%, gerando recursos suficientes para financiar as
operações e com uma taxa de retorno superior ao custo capital.
COMPANHIAS INDUST AUTO ( Postos)
RESID COMERCIAL GER. ELETR
COGERAÇÃO OUTROS MÊS ( 31 DIAS)
GAS BOLIVIANO %
COMGAS 10.330,41 984,98 352,48 235,85 195,99 756,81 53,94 399.109,00 74
COMPAGAS 521,56 86,09 6,28 9,15 - 219,21 151,42 30.805,00 100
GAS BRASILIANO 486,20 22,64 1,55 2,89 - - 89,13 15.911,00 100
MSGAS 175,20 25,11 0,61 3,02 1,81 5,28 98,88 9.607,00 100
MTGAS 0,00 5,55 - - - - 5,56 172,00 100
SÃO PAULO SUL 1.425,41 48,11 10,02 10,82 - - - 46.326,00 100
SCGAS 1.341,87 366,64 0,65 10,60 - - 38,99 53.312,00 100
SULGAS 883,93 219,79 0,78 15,35 - 255,82 44,82 42.645,00 100
TOTAL 15.164,59 1.758,90 372,40 305,69 197,8 1.237,11 482,74 597.887,00
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Figura 3 - Acordo da Petrobrás com YPFB
Fonte: www.petrobras.com.br
Figura 4 – Logomarcas da Petrobrás e YPFB / Mapa do Gasoduto Brasil-Bolívia
Fonte: http://ecen.com/eee10/gasp.htm
Os Riscos
O contrato envolvendo a Petrobrás e a YPFB, possui um adendo que informa
sobre os possíveis riscos de conflitos envolvendo as partes.
Figura 5 – Acordos Petrobrás e YPFB
Fonte: www.petrobras.com.br
Porém após as eleições de Evo Morales em dezembro de 2005 a situação se
alterou e o país teve de renegociar seus contratos ficando acertado que o Brasil pagaria
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um excedente de US$ 100 milhões/ano à Bolívia desde que o gás tivesse um
excedente de poder calorífico.
O Brasil com o Presidente Luiz Inácio lula da Silva tem conseguido grandes
avanços nas relações com a Bolívia graças a sua influência em relação ao presidente
Evo Morales um dos mais radicais presidentes da América do Sul.
Figura 6 – Exercito Boliviano em Refinaria da Petrobrás / Presidentes do Brasil e
Bolívia
FONTE: www.ypfb.gov.bo
República do Paraguai
Figura 7 – Bandeira do Paraguai
Figura 8 – Mapa do Paraguai
Fonte: www.abc-latina.com
Fundada em 15 de agosto de 1537 por Domingo Irala, a cidade de Assunção no
Paraguai marca o inicio de um país que desde o início sob a batuta das missões luta
por uma sociedade justa.
Em 14 de maio de 1811 sob uma junta militar liderada por Fulgencio Yegros o
Paraguai proclama a sua independência.
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O Paraguai é um país que se encontra na região central a América do Sul e não
possui saída para o mar, colonizado pela Espanha foi um dos primeiros países da
América do Sul a conquistar sua independência, o país era próspero e rico em seu
período pós-colonial, boa parte de sua população tinha acesso à educação e o país era
industrializado e forte no setor têxtil, porém após a guerra deflagrada contra Brasil,
Argentina e Uruguai em 1870 o país ficou em uma situação delicada já que boa parte
de sua infra-estrutura e população masculina (mais da metade dos 525.000 paraguaios
morreram) foi dizimada na guerra, ficando em torno de 29 mil homens vivos, tendo o
país de ser reconstruído basicamente pelas mulheres.
Entre 1870 e 1932 o país sofre seis golpes de estados e dois presidentes
são assassinados. Em 1932 o Paraguai deflagra uma das mais sangrentas guerras na
América do Sul perante a Bolívia conhecida como a Guerra do Chaco que lhe rende
120.000 km² adicionais.
Formado por 17 departamentos e 1 capital o Paraguai promulgou sua
nova constituição em 20 de junho de 1992.
Em 1954 assume o poder o general Alfredo Stroessner que permanece no poder
até 1989, sendo considerada a maior ditadura da América Latina, apenas em 1993
ocorreu à primeira eleição democrática no Paraguai.
Presidentes do Paraguai desde 1950
Período Presidente
09/1949 - 05/1954 Frederico Chaves Renunciou
05/1954 - 08/1954 Tomás Romero Perera Renunciou
08/1954 - 02/1989 Alfredo Stroessner Matiauda Deposto
03/1989 - 08/1993 Andrés Rodrigues Cumpriu Mandato
08/1993 - 08/1998 Juan Carlos Wasmosy Monti Cumpriu Mandato
08/1998 - 03/1999 Raúl Cubas Grau Renúncia
03/1999 - 08/2003 Luiz Angel Gonzáles Macchi Cumpriu Mandato
08/2003 - 08/2008 Nicanor Duarte Frutos Cumpriu Mandato
8/2009 - Fernando Lugo Está no Mandato Fonte: Autor
O Paraguai obteve grandes taxas de crescimentos principalmente nas décadas
de 60 e 70, em virtude da sua expansão agrícola e as construções de suas usinas Bi-
nacional de Itaipu (Brasil-Paraguai) e Yacyretá (Argentina-Paraguai), porém isso não foi
suficiente para que o país pudesse sair de uma situação de miséria. Corrupção em
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setores importantes do país e a falta de investimentos em infra-estrutura foram alguns
dos fatores que levaram o Paraguai a se estagnar economicamente.
Na contramão dos demais países que aos poucos foram diminuindo suas
importações e aumento seus parques industriais o Paraguai hoje importa quase tudo
que consome e não tem perspectiva alguma de mudança.
Suas atividades econômicas estão concentradas em poucas regiões como
Ciudad del Este e Assunção sua capital federal.A população paraguaia que em 2008
era de 6,8 milhões de habitantes se concentra em boa parte na área urbana do país
principalmente na região oriental.
Suas principais culturas são as de mandioca, algodão, trigo e fumo, porém o
Paraguai hoje tem como sua principal fonte de exploração à soja que corresponde por
boa parte das exportações paraguaias.
A industria paraguaia produz tecidos de algodão, carne em conserva, cigarro, e
cimento.
O setor comercial que também emprega um grande número de paraguaios,
principalmente em regiões como Ciudad del Leste. O PIB paraguaio em 2008 foi de
PYG 69.708.052 milhões de Guarani (Fonte: www.hacienda.gov.py) acesso em
17/04/10).
A dinâmica produzida pela construção da usina hidrelétrica de Itaipu na década
de 70 não foi suficiente para que o Paraguai pudesse se desenvolver e se tornar auto-
suficiente em energia elétrica, o país não possui acesso direto ao mar, dependendo
principalmente do Brasil para escoar sua produção agrícola pelo porto de Paranaguá no
Paraná. A conclusão da rodovia BR 277 deu-se após o governo militar do Presidente
Costa e Silva terminar um projeto que já se arrastava por duas décadas, facilitando
assim o escoamento da produção agrícola paraguaia e a chegada de produtos
importados ao país.
Apesar dos problemas internos como miséria o Paraguai hoje é um dos países
mais dinâmicos da América do Sul e sua economia vêem tendo um crescimento muito
rápido. Desde 1993 o país passou a dotar um processo de liberalização, diminuição das
despesas públicas e privatizações.
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O Paraguai é um parceiro de extrema importância ao Brasil no que se refere à
questão energética, por isso é de extrema importância uma boa relação entre os dois
países.
A Construção do Gigante
Em 1973 brasileiros e paraguaios percorrem um trecho do rio conhecido como
Itaipu que em tupi significa “pedra que canta” para indicar a melhor posição para a
construção da usina bi-nacional.
Itaipu
Figura 9 – Logomarca de Itaipu
Fonte: www.itaipu.gov.br
Entre 1975 e 1978 a obra se transforma em um formigueiro com a construção de
aproximadamente nove mil moradias, alterando completamente a estrutura da região,
foram removidos 55 milhões de metros cúbicos de terra e rocha para o desvio do rio
Paraná.
Em 1978 a obra atingiu um valor espantoso para a época 7.207m³ de concreto
em um único dia, o equivalente a 24 edifícios de 10 andares. O total de concreto
despejado em Itaipu foi de 12,3 milhões de metros cúbicos.
A economia paraguaia que vinha crescendo em média 5% em 1975 passou a
10,8% em 1978.
No ápice da construção em 1980 Itaipu chegou ter 40 mil funcionários, e a obra
foi finalizada em 1982. Em 05 de novembro de 1982 os presidentes João Figueiredo do
Brasil e Alfredo Stroessner inauguram a maior hidrelétrica do mundo.
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Figura 10 – Construção de Itaipu
Fonte: www.itaipu.gov.br
A construção de Itaipu se deu em um momento extremamente complicado para o
mundo, pois estava atravessando uma crise muito grande de energia justamente por
causa do petróleo, e com isso a busca de energias alternativas era de extrema
importância, principalmente para os países que buscavam um desenvolvimento
econômico sustentável.
Antes de Itaipu o Paraguai apenas dispunha da hidrelétrica de Icaray e o Brasil
dispunha de apenas 16 mil megawatts. Após a construção o Brasil adicionou ao se
potencial energético 14 mil megawatts. O custo da obra foi de US$ 14 bilhões e teve o
ápice de sua utilização no Brasil em 1997 respondendo por 26% do consumo nacional e
em 2000 gerou 93,4 bilhões de quilowatts-hora.
Em 2007 ano em que o Brasil e o Paraguai comemoraram o 33° aniversário do
tratado de Itaipu entrou em operação as ultimas duas das vinte unidades geradoras, o
que em condições favoráveis a geração poderá chegar a 100 bilhões de quilowatts-hora.
Figura 11 – Itaipu Pronta / Presidentes do Brasil e Paraguai
Fonte: www.itaipu.gov.br
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A região onde foi construída a hidrelétrica sempre foi de disputas entre Brasil e
Paraguai, desde o período colonial, o que com a descoberta do potencial hidrelétrico do
rio só fez aumentar, porém com uma decisão sábia os dois países procuraram unir
forças na década de 60.
Em 1962 foi cogitado a primeira vez a possibilidade dos dois paises aproveitarem
o potencial hidrelétrico, porém em 1965 com o envio de tropas brasileiras para a região
da disputa aumentou a possibilidade de uma guerra entre os dois países que só foi
diminuída após a construção da Ponte da Amizade que fez aumentar a perspectiva da
utilização do território brasileiro para escoamento da produção paraguaia às
exportações.
Em 1966 é assinada a Ata do Iguaçu manifestando o interesse dos dois países
em estudar o aproveitamento dos recursos do Rio Paraná e após uma solução proposta
por consórcios de empresas estrangeiras que previam o alagamento da área a ser
disputada selou a paz entre os dois países em relação ao litígio territorial.
O imbróglio da construção da usina agora era com a Argentina que chegou a
reclamar ao conselho de segurança da ONU em 1972 os seus direitos e interesses
sobre o rio Paraná, porém em 1979 houve um acordo entre os três países, “Acordo
Tripartite”, que determinou regras para o aproveitamento dos recursos hidráulicos
desde as sete quedas até foz do Rio da Prata.
Figura 12 – Região da Construção de Itaipu / Ponte da Amizade / Sete Quedas
Fonte: www.itaipu.gov.br
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As Intenções Brasileiras
Para que se possa entender a integração desejada pelo Brasil, principalmente
após o Governo de Luiz Inácio “Lula” da Silva, deve-se visualizar a questão econômica
e social de Bolívia, Paraguai, e os interesses brasileiros.
A Questão Agrária
Esta é uma questão que o Brasil tem procurado lidar com seus vizinhos de
maneira cautelosa, pois a quantidade de brasileiros residentes nos dois países é muito
grande e hoje são responsáveis por boa parte da produção agrícola de ambos.
Os brasileiros que hoje se concentram na parte oriental da Bolívia, região de
Santa Cruz de la Sierra, começaram a chegar no país no inicio da década de 90 vindos
de várias regiões, principalmente da região sul do Brasil, para tentar a vida no país
vizinho que não possuía uma agricultura muito forte, porém com a experiência brasileira
adquirida principalmente no Paraguai muitos brasileiros partiram para este desafio.
Em 2006 de um total de 700 mil hectares de terras na província de Santa Cruz
(Bolívia), plantadas com soja 210 mil hectares estavam concentrados nas mãos de
brasileiros, o que corresponde a aproximadamente 6% do PIB boliviano.
Para o governo boliviano e a população mais carente isso é visto como um sério
risco, pois uma população minoritária de outra nacionalidade passa a exercer influência
e até mesmo por em risco a soberania do país.
Um acordo firmado entre os dois países em 2008 prevê a retirada de brasileiros
residentes a menos de 50 km da fronteira entre os dois países, o que aproximadamente
atingiu de 400 a 1000 famílias ali residentes.A tensão aumentou com a chegada de
vários colonos bolivianos vindo de outras regiões para se instalarem no lugar dos
brasileiros, mas o fator preponderante é o discurso nacionalista dos mesmos.
O governo brasileiro também tem procurado ficar atento a toda movimentação
possível em território boliviano, principalmente em virtude da proteção dos brasileiros
que ali residem, pode-se destacar que a política adotada pelo governo boliviano foi uma
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política de alto risco e que se deve considerar um elevado grau de risco entre
brasileiros e bolivianos envolvendo até mesmo suas forças militares.
Figura 13 – Ocupação Brasileira na Bolívia
Fonte: www.folhauol.com.br
Os Brasiguaios
Em relação ao Paraguai a situação não se encontra muito diferente, porque hoje
boa parte de produção agrícola paraguaia está concentrada nas mãos de brasileiros
cerca de 400 mil conhecidos como “brasiguaios”, que em sua maioria cultivam soja.
Como ocorreu na Bolívia o presidente do Paraguai também optou por um
discurso nacionalista o que acirrou os ânimos entre Brasil e Paraguai. As fazendas de
brasileiros freqüentemente são invadidas por camponeses os que tem gerado sérios
conflitos. Em seus discursos o presidente paraguaio acusa os brasiguaios de utilizar
produtos químicos proibidos no Paraguai nas lavouras, violando as leis locais.
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Segundo o jornal “Lê Monde”, 1% da população controla aproximadamente 77%
das terras cultiváveis.
A preocupação paraguaia é que com uma elevada concentração de brasileiros
no país, isso possa levar a uma crise de identidade, pois a maioria da população fala
sua língua de origem e permanece com seus costumes influenciando a população local,
principalmente criança que passam a utilizar o português como sua segunda língua
abandonando o guarani. As questões raciais contribuem em muito para aumentar a
tensão entre os dois países, já que muitos brasileiros são descendentes de europeus e
os paraguaios de índios.
Outro fator importante a ser ressaltado no Paraguai é que com uma população
brasileira cada vez maior o risco de brasileiros serem eleitos para cargos do executivo e
legislativo são cada vez maiores.
O governo brasileiro atento a esta questão vem tomando medidas cautelares que
impeçam o governo paraguaio ou qualquer outro de por em risco brasileiros.
Em novembro de 2008 o governo paraguaio acusou o Brasil de violar a sua
soberania devido ao ingresso de tropas do exercito brasileiro adentrarem em território
paraguaio, o Brasil, porém informou que havia sido apenas um exercício militar.Mesmo
assim o embaixador brasileiro foi convocado a dar explicações para o governo
paraguaio.
O Brasil nos últimos tem exercido uma forte influencia sobre o Paraguai,
principalmente após as eleições do presidente Fernando Lugo, que o governo brasileiro
tem conseguido que não seja tão radical como os demais países que são governados
por presidentes ditos socialistas.
Considerações Finais
O Brasil em sua política de integração com os países da América do Sul tende a
cada vez mais abrir mão de alguns pontos fundamentais para que possa beneficiar aos
seus parceiros comerciais, para isso tanto o Paraguai quanto a Bolívia são países de
extrema importância para uma integração regional, tanto que o governo brasileiro
aceitou reavaliar os acordos firmados anteriormente no que se refere a questões
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energéticas, pois pelo entendimento brasileiro, não há possibilidade do Brasil se
desenvolver e deixar seus pares da América do Sul em um estado de miséria o que
levaria cada vez mais o ingresso da população destes países ao Brasil, ocasionando
sérios problemas sociais no país.
A avaliação brasileira é de que se seus vizinhos devem estar preparados para
enfrentar problemas econômicos e sociais, pois assim evitam uma migração em massa
ou até mesmo um retorno de sua população já instalada nestes países.
Por isso é de extrema importância à integração seja ela energética ou não. O
fator energético é que o Brasil mesmo tendo condições de explorar em seu território
prefere usufruir o material proveniente dos parceiros, pois em um momento mais
delicado e de escassez o Brasil poderá utilizar de suas reservas intocadas.
Referência Bibliográfica
LA,Raphael (2007).O gasoduto do sul e a integração energética sul-americana.
COSTA,Darc, PADULA,Raphael; MITIDIERE,Thiago L. América do sul: A ação recente
do Brasil, suas conseqüências comerciais e possíveis desdobramentos.comunicação e
Política (2006).
Dra. Maria Susana Arrosa Soares- mestre em relações internacionais UFRGS.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação e
documentação: citações em documentos: apresentação.Rio de Janeiro, 2002
Sites utilizados:
http://www.itaipu.gov.br/index.php?q=node/418&foto=sli_faq.jpg
http://www.voyagesphotosmanu.com/populacao_paraguai.html
http://ecen.com/eee10/gasp.htm - PASSOS, Maria de Fátima Salles Abreu
http://www.itaipu.gov.br/
http://www.brasilescola.com/historia-da-america/historia-bolivia.htm
http:www.folhauol.com.br
htpp:www.hacienda.gov.py
htpp:www.abc-latina.com
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