8/18/2019 2011 - Artigo - Vídeos Digitais Na Periferia e Perspectivas de Inclusão Digital
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VÍDEOS DIGITAIS NA PERIFERIA E PERSPECTIVAS DE INCLUSÃO DIGITAL DEJOVENS
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)Márcio Henrique Melo de Andrade
[email protected]árcia Gonçalves Nogueira
[email protected] Maria dos Santos Silva
[email protected] Lopes de Santana
[email protected] Auxiliadora Soares Padilha
Introdução
A população jovem em nosso país tem se tornado foco de inúmeros projetos e estratégias,
oriundos da iniciativa privada, de órgãos governamentais e de associações privadas sem fins
lucrativos, por se tratar de um grupo responsável pela futura produção, consumo e
desenvolvimento da maior parte das atividades econômicas e culturais do país.
Observa-se que esses jovens vivem em um mundo marcado pelas tecnologias da
informação e comunicação e experimentam diariamente atividades mediadas pelos diversos
veículos de comunicação em massa, incluindo também as mídias digitais. Porém, uma parte
desses sujeitos apenas consome e reproduz as informações e serviços que são veiculadas através
das redes, mas não são agentes, produtores de sua própria história. Muitos desses jovens têm
acesso às tecnologias, mas não sabem utilizá-las adequadamente para seu benefício e de sua
coletividade, ou seja, não conseguem atender aos requisitos mínimos de letramento digital.
O projeto de extensão “Leitura, Interpretação e Produção de Conteúdos Digitais:
perspectivas de inserção social através de ações educativas de inclusão digital na periferia de
Recife e Olinda1” tem por objetivo desenvolver habilidades essenciais ao letramento digital -como leitura, interpretação e produção de conteúdos digitais -, de forma que jovens de
comunidades de periferia se tornem atores e produtores desses conteúdos, possibilitando a
inclusão digital numa perspectiva sociocultural. O projeto será realizado através de oficinas que
serão ofertadas para jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias e escolares nas cidades
1 Este é um projeto de extensão da Universidade Federal de Pernambuco aprovado pelo Edital MEC/SESu 2010
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acima citadas. Nessas oficinas, objetiva-se oferecer aos adolescentes novas oportunidades e
formas de interação na cultura digital através da releitura e recriação de sua própria história
dentro do seu contexto social.
As oficinas serão realizadas no segundo semestre de 2011, em comunidades da periferiade Recife e Olinda, cidades do estado de Pernambuco, a fim de que sujeitos – crianças e jovens –
que residam nas mesmas possam ampliar suas perspectivas de inclusão digital e social ao se
tornar atores e produtores de conteúdos em várias mídias – hipertextos, áudios, animações, vídeos
etc. A realização do projeto deseja proporcionar aos seus integrantes uma participação mais
efetiva e crítica na sociedade através de oficinas ministradas em bibliotecas comunitárias, por
considerarmos espaços de referência para produção e utilização da informação, por mestrandos
da área de Educação Tecnológica, por voluntários e bolsistas de extensão das áreas de Design,Administração, Biblioteconomia, Pedagogia e Licenciaturas diversas da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE).
Por Biblioteca Comunitária, compreendemos como um espaço vivo, onde a leitura possa
dialogar com as diversas linguagens artísticas, além de promover uma participação ativa de
moradores/as da comunidade onde a biblioteca está inserida, nos processos de gestão
(planejamento, execução e avaliação) da biblioteca. Ou seja, “trata-se de um novo tipo de
biblioteca formada pelo desejo de existência proveniente da própria comunidade, existindo, por
isso, um vínculo identitário entre aqueles sujeitos e a instituição, algo orgânico e visceral”
(BASTOS, 2010, p. 55).
Neste trabalho, discutir-se-á a importância da produção de artefatos audiovisuais para a
possibilidade de inclusão digital dos jovens participantes das oficinas. Acredita-se que essa
discussão seja muito importante já que, segundo Brant (2008), a mídia se configura como “um
dos espaços públicos proeminentes, central para a realização da democracia, em que circulam
ideias e valores e onde a sociedade se apropria da informação e da cultura, num processo de
constante (re)significação” (p. 72). Assim, escolheu-se, dentre as oficinas a serem ministradas, aProdução de Vídeo Digital, a fim de ampliar o conhecimento de jovens e adolescentes no uso das
técnicas e ferramentas da produção audiovisual, assim como fazer uma leitura crítica de suas
realidades, estimulando a re-significação e transformação de seus contextos. Da mesma forma,
almeja-se analisar os resultados obtidos durante o processo de construção de obras audiovisuais a
partir das oficinas realizadas com jovens de periferia. Essas conclusões colaborarão para uma
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discussão sobre as possibilidades que o processo de criação de produtos audiovisuais com o uso
de novas tecnologias pode proporcionar aos seus participantes, no que concerne à inclusão digital
e social.
Centrando-se na realização de oficinas de produção de narrativas e refletindo sobre ascontribuições destas no processo de inclusão digital de jovens de periferia, o objetivo geral deste
trabalho reside em promover ações socioeducativas em bibliotecas comunitárias com jovens
através de reflexões, leituras críticas e produção de conteúdos digitais. Como aprofundamento,
define-se os objetivos específicos como forma de detalhar melhor o projeto: a) proporcionar aos
participantes da oficina de conteúdos digitais uma reflexão sobre seu papel na sociedade; b)
possibilitar aos participantes uma leitura crítica de produtos audiovisuais digitais e sobre inclusão
digital dentro de seu contexto sociocultural; c) estimular os participantes à produção de conteúdosdigitais, especificamente vídeos digitais, a partir das discussões preliminares.
Ao proporcionar uma revisão das responsabilidades e direitos que podem exercer nos
espaços que habitam ou trabalham, os jovens participantes das oficinas podem encontrar
caminhos para fortalecer sua identidade, sua capacidade de criação e sua postura diante da
comunidade através da sensibilização e questionamento dos princípios de identidade, inclusão
social e digital e criação artística.
Aporte Teórico
Nesta parte do trabalho realizamos um resgate das principais discussões que estão
sustentando a realização do projeto. Para a compreensão dos principais temas que circundam este
trabalho, demanda-se a pesquisa e reflexão a respeito de estudos realizados anteriormente sobre
os seguintes temas: Tecnologias Digitais, Inclusão Social e Digital, Produção Audiovisual,
Cultura Jovem e Bibliotecas Comunitárias.
Inclusão Digital na Periferia
O desenvolvimento tecnológico oferece uma nova visão de infra-estrutura não voltada
apenas para um meio passivo de abordar a informação. A Tecnologia da Informação é mais
expansiva e mais democrática quando nos referimos àquele que faz a ação e recebe a resposta. A
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diversidade de recursos disponíveis para ser utilizado nos meios informáticos permite a
combinação de meios textuais, visuais e sonoros. Essa abordagem de utilizar os meios que antes
eram usados apenas em uma linha de mensagem, o receptor recebia de forma passiva e não
interferia na forma com que se processava a contextualização, ficou em um plano mais aberto àmedida que se tornou possível inserir jornais, revistas e cinema nos meios informáticos e dialogar
com diversas ferramentas do sistema de comunicação.
Assim, afirma Lima (2001), as “velhas mídias” dos meios de comunicação de massa –
rádio, cinema, imprensa e televisão – são consideradas veículos unidirecionais de informação por
meio dos quais a mensagem percorre apenas uma direção – do emissor ao receptor – as novas
tecnologias propiciam o diálogo entre esses dois pólos da comunicação, possibilitando que ambos
interfiram na mensagem. Esse diálogo demanda, por sua vez, do receptor um posicionamentodiferenciado, caracterizado através de habilidades e competências necessárias a um processo de
letramento digital. Por letramento digital, estamos chamando “um certo estado ou condição que
adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita
na tela, diferente do estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e
de escrita no papel” (SOARES, 2002, p.151). E, mais do que isso, considera-se que, para ser um
letrado digital, o sujeito precisa, além de ler e interpretar, produzir seus próprios textos - escritos,
sonoros, audiovisuais, etc. Ainda a respeito deste contexto, a autora define como letramento
não as próprias práticas de leitura e escrita, e/ou os eventos relacionados com o uso efunção dessas práticas, ou ainda o impacto ou as conseqüências da escrita sobre asociedade, mas, para além de tudo isso, o estado ou condição de quem exerce as práticassociais de leitura e de escrita, de quem participa de eventos em que a escrita é parteintegrante da interação entre pessoas e do processo de interpretação dessa interação – oseventos de letramento (SOARES, 2002, p.145. Grifos da autora).
Utilizar esse posicionamento de maneira inclusiva surge como uma ampliação das
possibilidades de inserção destes jovens na cultura digital, diante da descoberta de outras formas
de linguagem que possibilitam a comunicação. Por exemplo, estes jovens podem produzir vídeos
para expandir e expor a visão que possuem a respeito do dia-a-dia da comunidade em que o
mesmo está inserido. Desta forma, a Inclusão Digital, em seu sentido literal, refere-se à
possibilidade de inclusão informacional, ao mesmo tempo em que possibilita a inclusão social,
econômica e cultural do indivíduo. Ser incluído digitalmente não significa apenas ter um
computador, possuir conhecimento mínimo para utilizá-lo e ter acesso à internet. A expressão
“incluído digitalmente” vai além do sentido de ser portador de uma Tecnologia da Informação e
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Comunicação, referindo-se ao letramento por meio do acesso ao mecanismo de produção de
informação.
Um indivíduo incluído digitalmente pode ser capaz de filtrar as informações contidas no
meio a que tem acesso e usar essas informações para construir conhecimento. Produzir ecompartilhar informação de forma colaborativa no sentido de agregar um conteúdo às
comunidades a fim de gerar discussões e, ao mesmo tempo, promover uma maior participação
social no sentido de buscar melhorias econômicas e políticas para o lugar onde habitam. Nesse
sentido, Sorj e Guedes (2005), apontam que
o valor efetivo da informação depende da capacidade dos usuários de interpretá-la.Informação só existe na forma de conhecimento, e conhecimento depende de um longo
processo de socialização e de práticas que criam a capacidade analítica que transforma
bits em conhecimento. (p 19.)
Portanto, o processo de se incluir digitalmente ou incluir um “outro” nos meios digitais
demanda de seus atores o desenvolvimento de habilidades que ultrapassem o ensino ou
aprendizado técnico do uso de softwares ou redes sociais, mas o apropriar-se das informações
disponíveis na web de modo a aprimorar a criticidade destes sujeitos diante do contexto em que
estão inseridos. Entretanto, poderia ser considerado simplista somente legitimar atividades ou
posturas em que os atores colhem dados ou obras construídos por outras pessoas e os re-
significam à sua própria maneira, sendo, provavelmente, um dos maiores desafios dos projetos deinclusão digital, assim como da própria educação, o desenvolvimento de uma autonomia de
discurso diante da profusão desenfreada de informações na rede. Trata-se de estimular os autores
em potencial existentes em cada participante destes projetos a uma criação que imprima sua
personalidade na obra que almeja construir, ignorando os “caminhos fáceis” do apropriar-se do
que pertence ao outro para tentar “torná-lo” meu pela apropriação ou remixagem.
Ao ser compreendido como um ser capaz de criar, o ser humano pode descobrir formas de
se incluir na sociedade ao propor discursos que interfiram em seu contexto social, ao invés de lhe
anestesiar diante das opressões e intempéries que atravessa ao longo de sua jornada.
“Audiovisualizar” e Incluir a Periferia
Nesta perspectiva, propõe-se aprofundar as discussões sobre inclusão digital com questões
relacionadas à cultura, com o propósito de estimular a curiosidade e a percepção dos participantes
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no processo de criação dos produtos audiovisuais, levando-os a considerar e refletir sobre
diversos aspectos políticos, econômicos, culturais e históricos que fazem parte do seu contexto
social. Neste sentido, Hall (1997) deixa claro que atualmente não existe um novo despertar pela
cultura, mas sim, diversos olhares para tratar o mesmo tema, retomando antigos interesses como a proposição de novas questões e elementos de análise. Tal dinâmica possibilita a compreensão de
como a cultura permeia os diversos espaços sociais, mediando todos os aspectos do cotidiano, das
decisões tomadas e da construção de identidades e subjetividades sociais, que, neste processo de
construção, reveste-se de características como prazer e diversão ao utilizar tecnologias digitais
que, ao mesmo tempo, educam e produzem conhecimento. Nesta concepção, concorda-se com
Giroux(1992) quando define a cultura como
uma forma de produção, cujos processos estão intimamente ligados à estruturação dediferentes formações sociais, particularmente daquelas relacionadas a sexo, idade, raça eclasse. A cultura não é simplesmente um depósito de conhecimentos, formas, práticassociais e valores que são acumulados, armazenados e transmitidos aos estudantes.(GIROUX, 1992, p. 46)
Relacionando às oficinas que se almeja realizar na comunidade, este enfoque cultural
dado à inclusão digital permite estabelecer a relação existente entre sociedade, tecnologia e
cultura nas ações propostas pelo projeto, com o intuito de facilitar as etapas de criação, da
concepção à publicação do produto final nas redes sociais. Este processo inclui a construção de
determinadas práticas e identidades sociais pelos participantes, ao interpretar o mundo, ao narrarsua história e ao construir o seu conhecimento, individual e coletivamente. Compreendendo a
tecnologia como “resultado de interação de forças sociais, econômicas, políticas e culturais, que,
ao se estabelecer, afirmam e reforçam os valores que vão dominar nessa complexa resultante”
(BRANT, 2008, p. 71) e aprofundando esse enfoque cultural, a produção de vídeos digitais pode
permitir aos participantes da oficina ampliar suas perspectivas de inclusão digital em uma
vertente distinta dos projetos que tem sido realizados atualmente, com focos tecnicistas,
profissionalizantes, interpessoais ou educacionais da forma mais restrita.
Se, durante a década de 70, a produção de vídeo começou a ser utilizada com maior
veemência como ferramenta de articulação temática e política junto a movimentos sociais
(ZANETTI, 2008, p. 5), pode-se empregá-lo atualmente no contexto das redes digitais,
difundindo visões do mundo e narrativas distintas das que têm sido propagadas pela mídia de
massa. Segundo Silveira (2008), as redes digitais têm aprimorado constantemente “as
contradições do capitalismo cognitivo, ampliando os espaços democráticos da crítica, da criação
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cultural e da diversidade, bem como abrindo espaço para emergência de uma esfera pública
interconectada, com um potencial mais democrático que a esfera pública dominada pelos mass
media” (p. 31). A partir dessa arquitetura relativamente democrática da rede, ampliam-se as
possibilidades de produção e distribuição de criações individuais e coletivas no espaço da rede.Relacionando esta questão à produção audiovisual, Freitas (2002) afirma que essa evolução
tecnológica que estamos vivenciando apresenta-se de maneira
mais rápida e desordenada que as precedentes, colocando o cinema no meio de umsistema cultural complexo e instaurando uma sinergia entre a produção cinematográfica,as telecomunicações, o cabo e a informática, o que afeta a elaboração de imagens, seusmodos de produção e distribuição (p. 26).
Diante das perspectivas expostas ao longo deste trabalho, pode-se compreender os
aspectos técnicos e cognitivos que se desenvolvem e terminam por favorecer a emergência dos
sujeitos no papel de autores dentro do espaço cultural da comunidade, principalmente aqueles que
se percebem à margem desta denominada Sociedade da Informação. Ao se sentir pertencente a
uma comunidade que investe em uma produção cultural criativa, crítica e colaborativa, estes
sujeitos podem aprimorar sua relação com o espaço e com os “outros” que nele residem,
descobrindo novas formas de melhorar a qualidade de vida de seus semelhantes.
Metodologia
Através de uma abordagem interacionista, focada na “Mediação Cultural Dialógica”,
pretendemos lançar mão de atividades que viabilizem tanto o acesso quanto a apropriação de
conteúdos da cultura. Por Mediação Cultural Dialógica, entende-se neste trabalho como um
processo em que há um “conjunto de elementos de diferentes ordens (material, relacional,
semiológica), que se interpõem e atuam nos processos de significação” (PERROTI, 2007, p. 84).
Portanto é um processo ativo na leitura, produção, e interpretação da realidade, na construção de
sentidos e produção de significados. Este trabalho procura responder questões subjetivas na
apreensão e emprego da produção audiovisual numa perspectiva inclusiva, considerando a
dialogicidade entre as teorias que guiam as propostas de produção deste tipo de material e os
resultados que este obtém durante sua utilização.
A realização das oficinas de produção de vídeos digitais consiste na formação de turmas
de, no máximo, sete participantes, que, apropriando-se de algumas técnica e de estratégias
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utilizadas na concepção de obras audiovisuais digitais, trabalharão na expressividade de
sentimentos, pensamentos e fatos que os circundam. Em seguida, acompanhar-se-á o
desenvolvimento dos produtos audiovisuais construídos pelos participantes - auxiliados pelos
bolsistas e voluntários das áreas de Biblioteca, Administração, Design e Pedagogia –, verificandocomo as características da linguagem audiovisual são trabalhadas por eles, através da observação
e avaliação dos processos de criação desses jovens e suas percepções durante a oficina. A
finalidade destas oficinas reside em contribuir para uma dinâmica de construção de um produto
audiovisual por sujeitos que almejam exercer sua cidadania através da linguagem empregada no
mesmo, dividindo-se em duas modalidades: ficção e documentário. Segundo Nichols (2005), a
ficção compreende os filmes que
expressam de forma tangível nossos desejos e sonhos, nossos pesadelos e terrores [...],oferecem-nos mundos a serem explorados e contemplados; ou podemos simplesmentenos deliciar com o prazer de passar do mundo que nos cerca para esses outros mundos de
possibilidades infinitas” (p. 26)
Pode-se considerar os filmes ficcionais como responsáveis pela construção de um
universo simbólico e particular que se aproxima em diversos níveis da realidade concreta, mas
que não demanda, necessariamente, que se considere as ações dos sujeitos representados como
verdadeiras. Por sua vez, o mesmo autor compreende como documentário os filmes que
“representam de forma tangível aspectos de um mundo que já ocupamos e compartilhamos [...],expressam nossa compreensão sobre o que a realidade foi, é e que poderá vir a ser” ( idem), ou
seja, demandam do espectador uma relação de legitimidade ou autenticidade para os conteúdos
dispostos no produto.
Iniciando com uma identificação e reflexão sobre as percepções dos jovens em relação à
sua identidade cultural e participação dentro da comunidade, esta etapa visa a problematização
das ideologias e estratégias de influência midiática no seu cotidiano: “Gostam da comunidade em
que moram? Que lugares frequentam (dentro e fora do bairro onde moram)?” “O que gostam
mais de fazer?” “O que gostam menos de fazer?” Será que os meios de comunicação exercem
alguma influência no que gostamos e deixamos de gostar?” Se exerce, como e por quê? e se não,
por quê? “Como (que estratégias e meios) podemos mostrar o que gostamos e não gostamos?” A
partir destes questionamentos, o grupo definirá uma temática a ser desenvolvida através da
linguagem audiovisual com a produção de um vídeo.
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Prosseguindo com a exibição de vídeos de diversos gêneros e temáticas, os oficineiros
proporão uma leitura crítica a respeito dos mesmos, questionando-os a respeito dos conteúdos
abordados e das opções estéticas disponibilizadas na obra em questão, como afirma Becker:
É na diversidade de suas combinações que as associações texto-imagemrealizadas sob diferentes olhares da realidade, da história, e da produção científicaapontam múltiplas possibilidades de construção ou desconstrução deconhecimentos e acontecimentos. A análise televisual pode nos ajudar a interagirde modo diferente com as combinações entre texto e imagem constituintes dediferentes narrativas. E sob esta perspectiva filmes, vídeos científicos,reportagens, documentos e até telenovelas, podem nos oferecer acesso aconteúdos históricos e culturais nem sempre acessíveis. (2010, p.117)
Posteriormente, os oficineiros realizarão uma exposição introdutória a respeito dos
processos de construção de obras audiovisuais:
Pré-Produção – Criação de Roteiro e Planejamento de Filmagens
Produção – Gravação de Imagens e Sons
Pós-Produção - Edição e Finalização do Material Gravado
A partir dessas exposições iniciais, seguir-se-ão os processos de criação audiovisual
propriamente dito, em que a equipe de participantes escreverá, cooperativamente, um roteiro
detalhado que se relacione, de alguma forma, com o tema escolhido. Com exercícios baseados nacriação de pequenos improvisos gradativos – primeiro, de cenas ou sinopses; em seguida, de uma
sinopse completa e, finalmente, das ações e diálogos dos personagens -, estes processos de
criação demandarão dos participantes uma intensa participação para acompanhar a dinâmica da
construção colaborativa.
Anterior ao período de filmagem, os participantes serão responsáveis pela montagem de
um Esquema de Plano de Produção, organizando a disponibilidade de recursos materiais,
humanos e locações necessários para filmagem e os responsáveis para obtê-los; e de um Esquemade Plano de Filmagem, organizando a cronologia de filmagem, de acordo com a disponibilidade
de locações, pessoas e materiais e dos responsáveis para obtê-los. Depois de todos os detalhes
esquematizados, o processo de filmagem se iniciará, a fim de capturar imagens e sons nas
locações para a realização do vídeo, com os recursos humanos e materiais disponibilizados. Após
a filmagem, será realizada a edição do material bruto, selecionando-se os melhores resultados
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obtidos em imagem, som e atuações na filmagem, incluindo, se necessário, músicas, efeitos
sonoros e letreiros. Depois de finalizar o produto, será feita publicação / socialização do mesmo
em um blog e outras redes sociais, além de se abrir um debate sobre o processo de criação da
obra audiovisual, as motivações e as consequências do trabalho realizado nas perspectivas deinclusão digital dos participantes.
Resultados Esperados
Ao compreender as relações entre o indivíduo e o espaço que o circunda e as formas de
interação emergentes neste espaço - especificamente as comunidades de periferia, foco deste
trabalho -, percebe-se que o desenvolvimento e a utilização de novas tecnologias e novos meiosde informação e comunicação nos diversos setores sociais concorrem para as transformações que
buscam estabelecer a natureza social do ser humano e o condiciona à sua história e à sua cultura.
Dentro das comunidades periféricas de diversas cidades, começam a surgir de forma espontânea,
bibliotecas, rádios, oficinas de produção audiovisual, dentre outras atividades de cunho
sociocultural, possibilitando transformações culturais porque “aparecem em bairros onde vivem
pessoas de uma classe social menos favorecida, com experiência de lutas sociais” (BADKE,
1984, p. 18). Projetos que desenvolvam ações culturais dentro destas comunidades podem
potencializar as perspectivas de seus participantes em torno do combate à exclusão
informacional, cultural e social como forma de luta pela proposição de discursos contra-
hegemônicos que favoreçam a igualdade e a justiça social.
A partir da realização destas oficinas, almejamos que os jovens participantes possam
refletir mais sobre seu papel não somente dentro da comunidade em que reside, mas também na
sociedade como um todo, favorecendo a construção do diálogo com o outro e a criticidade diante
das ideologias e tecnologias que o cercam. Ao produzir vídeos digitais, os jovens podem
descobrir novas formas de criar e re-significar suas práticas e pensamentos, produzindo esocializando obras artísticas em que compartilhe sua cosmovisão através da construção
colaborativa e socializadora.
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Referências
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http://www.tverealidade.facom.ufba.br/coloquio%20textos/Daniela%20Zanetti.pdf. Acesso:08.07.11
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