2011 - Artigo - Vídeos Digitais Na Periferia e Perspectivas de Inclusão Digital

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    VÍDEOS DIGITAIS NA PERIFERIA E PERSPECTIVAS DE INCLUSÃO DIGITAL DEJOVENS 

    Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)Márcio Henrique Melo de Andrade

    [email protected]árcia Gonçalves Nogueira

    [email protected] Maria dos Santos Silva

    [email protected] Lopes de Santana

    [email protected] Auxiliadora Soares Padilha

    [email protected]

    Introdução

    A população jovem em nosso país tem se tornado foco de inúmeros projetos e estratégias,

    oriundos da iniciativa privada, de órgãos governamentais e de associações privadas sem fins

    lucrativos, por se tratar de um grupo responsável pela futura produção, consumo e

    desenvolvimento da maior parte das atividades econômicas e culturais do país.

    Observa-se que esses jovens vivem em um mundo marcado pelas tecnologias da

    informação e comunicação e experimentam diariamente atividades mediadas pelos diversos

    veículos de comunicação em massa, incluindo também as mídias digitais. Porém, uma parte

    desses sujeitos apenas consome e reproduz as informações e serviços que são veiculadas através

    das redes, mas não são agentes, produtores de sua própria história. Muitos desses jovens têm

    acesso às tecnologias, mas não sabem utilizá-las adequadamente para seu benefício e de sua

    coletividade, ou seja, não conseguem atender aos requisitos mínimos de letramento digital.

    O projeto de extensão “Leitura, Interpretação e Produção de Conteúdos Digitais:

     perspectivas de inserção social através de ações educativas de inclusão digital na periferia de

    Recife e Olinda1” tem por objetivo desenvolver habilidades essenciais ao letramento digital -como leitura, interpretação e produção de conteúdos digitais -, de forma que jovens de

    comunidades de periferia se tornem atores e produtores desses conteúdos, possibilitando a

    inclusão digital numa perspectiva sociocultural. O projeto será realizado através de oficinas que

    serão ofertadas para jovens frequentadores de bibliotecas comunitárias e escolares nas cidades

    1 Este é um projeto de extensão da Universidade Federal de Pernambuco aprovado pelo Edital MEC/SESu 2010

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    acima citadas. Nessas oficinas, objetiva-se oferecer aos adolescentes novas oportunidades e

    formas de interação na cultura digital através da releitura e recriação de sua própria história

    dentro do seu contexto social.

    As oficinas serão realizadas no segundo semestre de 2011, em comunidades da periferiade Recife e Olinda, cidades do estado de Pernambuco, a fim de que sujeitos – crianças e jovens –

    que residam nas mesmas possam ampliar suas perspectivas de inclusão digital e social ao se

    tornar atores e produtores de conteúdos em várias mídias – hipertextos, áudios, animações, vídeos

    etc. A realização do projeto deseja proporcionar aos seus integrantes uma participação mais

    efetiva e crítica na sociedade através de oficinas ministradas em bibliotecas comunitárias, por

    considerarmos espaços de referência para produção e utilização da informação, por mestrandos

    da área de Educação Tecnológica, por voluntários e bolsistas de extensão das áreas de Design,Administração, Biblioteconomia, Pedagogia e Licenciaturas diversas da Universidade Federal de

    Pernambuco (UFPE).

    Por Biblioteca Comunitária, compreendemos como um espaço vivo, onde a leitura possa

    dialogar com as diversas linguagens artísticas, além de promover uma participação ativa de

    moradores/as da comunidade onde a biblioteca está inserida, nos processos de gestão

    (planejamento, execução e avaliação) da biblioteca. Ou seja, “trata-se de um novo tipo de

     biblioteca formada pelo desejo de existência proveniente da própria comunidade, existindo, por

    isso, um vínculo identitário entre aqueles sujeitos e a instituição, algo orgânico e visceral”

    (BASTOS, 2010, p. 55).

     Neste trabalho, discutir-se-á a importância da produção de artefatos audiovisuais para a

     possibilidade de inclusão digital dos jovens participantes das oficinas. Acredita-se que essa

    discussão seja muito importante já que, segundo Brant (2008), a mídia se configura como “um

    dos espaços públicos proeminentes, central para a realização da democracia, em que circulam

    ideias e valores e onde a sociedade se apropria da informação e da cultura, num processo de

    constante (re)significação” (p. 72). Assim, escolheu-se, dentre as oficinas a serem ministradas, aProdução de Vídeo Digital, a fim de ampliar o conhecimento de jovens e adolescentes no uso das

    técnicas e ferramentas da produção audiovisual, assim como fazer uma leitura crítica de suas

    realidades, estimulando a re-significação e transformação de seus contextos. Da mesma forma,

    almeja-se analisar os resultados obtidos durante o processo de construção de obras audiovisuais a

     partir das oficinas realizadas com jovens de periferia. Essas conclusões colaborarão para uma

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    discussão sobre as possibilidades que o processo de criação de produtos audiovisuais com o uso

    de novas tecnologias pode proporcionar aos seus participantes, no que concerne à inclusão digital

    e social.

    Centrando-se na realização de oficinas de produção de narrativas e refletindo sobre ascontribuições destas no processo de inclusão digital de jovens de periferia, o objetivo geral deste

    trabalho reside em promover ações socioeducativas em bibliotecas comunitárias com jovens

    através de reflexões, leituras críticas e produção de conteúdos digitais. Como aprofundamento,

    define-se os objetivos específicos como forma de detalhar melhor o projeto: a) proporcionar aos

     participantes da oficina de conteúdos digitais uma reflexão sobre seu papel na sociedade; b)

     possibilitar aos participantes uma leitura crítica de produtos audiovisuais digitais e sobre inclusão

    digital dentro de seu contexto sociocultural; c) estimular os participantes à produção de conteúdosdigitais, especificamente vídeos digitais, a partir das discussões preliminares.

    Ao proporcionar uma revisão das responsabilidades e direitos que podem exercer nos

    espaços que habitam ou trabalham, os jovens participantes das oficinas podem encontrar

    caminhos para fortalecer sua identidade, sua capacidade de criação e sua postura diante da

    comunidade através da sensibilização e questionamento dos princípios de identidade, inclusão

    social e digital e criação artística.

    Aporte Teórico

     Nesta parte do trabalho realizamos um resgate das principais discussões que estão

    sustentando a realização do projeto. Para a compreensão dos principais temas que circundam este

    trabalho, demanda-se a pesquisa e reflexão a respeito de estudos realizados anteriormente sobre

    os seguintes temas: Tecnologias Digitais, Inclusão Social e Digital, Produção Audiovisual,

    Cultura Jovem e Bibliotecas Comunitárias.

    Inclusão Digital na Periferia

    O desenvolvimento tecnológico oferece uma nova visão de infra-estrutura não voltada

    apenas para um meio passivo de abordar a informação. A Tecnologia da Informação é mais

    expansiva e mais democrática quando nos referimos àquele que faz a ação e recebe a resposta. A

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    diversidade de recursos disponíveis para ser utilizado nos meios informáticos permite a

    combinação de meios textuais, visuais e sonoros. Essa abordagem de utilizar os meios que antes

    eram usados apenas em uma linha de mensagem, o receptor recebia de forma passiva e não

    interferia na forma com que se processava a contextualização, ficou em um plano mais aberto àmedida que se tornou possível inserir jornais, revistas e cinema nos meios informáticos e dialogar

    com diversas ferramentas do sistema de comunicação.

    Assim, afirma Lima (2001), as “velhas mídias” dos meios de comunicação de massa –

    rádio, cinema, imprensa e televisão – são consideradas veículos unidirecionais de informação por

    meio dos quais a mensagem percorre apenas uma direção – do emissor ao receptor – as novas

    tecnologias propiciam o diálogo entre esses dois pólos da comunicação, possibilitando que ambos

    interfiram na mensagem. Esse diálogo demanda, por sua vez, do receptor um posicionamentodiferenciado, caracterizado através de habilidades e competências necessárias a um processo de

    letramento digital. Por letramento digital, estamos chamando “um certo estado ou condição que

    adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita

    na tela, diferente do estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e

    de escrita no papel” (SOARES, 2002, p.151). E, mais do que isso, considera-se que, para ser um

    letrado digital, o sujeito precisa, além de ler e interpretar, produzir seus próprios textos - escritos,

    sonoros, audiovisuais, etc. Ainda a respeito deste contexto, a autora define como letramento

    não as próprias  práticas de leitura e escrita, e/ou os eventos relacionados com o uso efunção dessas práticas, ou ainda o impacto ou as  conseqüências da escrita sobre asociedade, mas, para além de tudo isso, o estado ou condição de quem exerce as práticassociais de leitura e de escrita, de quem participa de eventos em que a escrita é parteintegrante da interação entre pessoas e do processo de interpretação dessa interação – oseventos de letramento (SOARES, 2002, p.145. Grifos da autora).

    Utilizar esse posicionamento de maneira inclusiva surge como uma ampliação das

     possibilidades de inserção destes jovens na cultura digital, diante da descoberta de outras formas

    de linguagem que possibilitam a comunicação. Por exemplo, estes jovens podem produzir vídeos

     para expandir e expor a visão que possuem a respeito do dia-a-dia da comunidade em que o

    mesmo está inserido. Desta forma, a Inclusão Digital, em seu sentido literal, refere-se à

     possibilidade de inclusão informacional, ao mesmo tempo em que possibilita a inclusão social,

    econômica e cultural do indivíduo. Ser incluído digitalmente não significa apenas ter um

    computador, possuir conhecimento mínimo para utilizá-lo e ter acesso à internet. A expressão

    “incluído digitalmente” vai além do sentido de ser portador de uma Tecnologia da Informação e

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    Comunicação, referindo-se ao letramento por meio do acesso ao mecanismo de produção de

    informação.

    Um indivíduo incluído digitalmente pode ser capaz de filtrar as informações contidas no

    meio a que tem acesso e usar essas informações para construir conhecimento. Produzir ecompartilhar informação de forma colaborativa no sentido de agregar um conteúdo às

    comunidades a fim de gerar discussões e, ao mesmo tempo, promover uma maior participação

    social no sentido de buscar melhorias econômicas e políticas para o lugar onde habitam. Nesse

    sentido, Sorj e Guedes (2005), apontam que

    o valor efetivo da informação depende da capacidade dos usuários de interpretá-la.Informação só existe na forma de conhecimento, e conhecimento depende de um longo

     processo de socialização e de práticas que criam a capacidade analítica que transforma

     bits em conhecimento. (p 19.)

    Portanto, o processo de se incluir digitalmente ou incluir um “outro” nos meios digitais

    demanda de seus atores o desenvolvimento de habilidades que ultrapassem o ensino ou

    aprendizado técnico do uso de softwares ou redes sociais, mas o apropriar-se das informações

    disponíveis na web de modo a aprimorar a criticidade destes sujeitos diante do contexto em que

    estão inseridos. Entretanto, poderia ser considerado simplista somente legitimar atividades ou

     posturas em que os atores colhem dados ou obras construídos por outras pessoas e os re-

    significam à sua própria maneira, sendo, provavelmente, um dos maiores desafios dos projetos deinclusão digital, assim como da própria educação, o desenvolvimento de uma autonomia de

    discurso diante da profusão desenfreada de informações na rede. Trata-se de estimular os autores

    em potencial existentes em cada participante destes projetos a uma criação que imprima sua

     personalidade na obra que almeja construir, ignorando os “caminhos fáceis” do apropriar-se do

    que pertence ao outro para tentar “torná-lo” meu pela apropriação ou remixagem.

    Ao ser compreendido como um ser capaz de criar, o ser humano pode descobrir formas de

    se incluir na sociedade ao propor discursos que interfiram em seu contexto social, ao invés de lhe

    anestesiar diante das opressões e intempéries que atravessa ao longo de sua jornada.

    “Audiovisualizar” e Incluir a Periferia

     Nesta perspectiva, propõe-se aprofundar as discussões sobre inclusão digital com questões

    relacionadas à cultura, com o propósito de estimular a curiosidade e a percepção dos participantes

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    no processo de criação dos produtos audiovisuais, levando-os a considerar e refletir sobre

    diversos aspectos políticos, econômicos, culturais e históricos que fazem parte do seu contexto

    social. Neste sentido, Hall (1997) deixa claro que atualmente não existe um novo despertar pela

    cultura, mas sim, diversos olhares para tratar o mesmo tema, retomando antigos interesses como a proposição de novas questões e elementos de análise. Tal dinâmica possibilita a compreensão de

    como a cultura permeia os diversos espaços sociais, mediando todos os aspectos do cotidiano, das

    decisões tomadas e da construção de identidades e subjetividades sociais, que, neste processo de

    construção, reveste-se de características como prazer e diversão ao utilizar tecnologias digitais

    que, ao mesmo tempo, educam e produzem conhecimento. Nesta concepção, concorda-se com

    Giroux(1992) quando define a cultura como

    uma forma de produção, cujos processos estão intimamente ligados à estruturação dediferentes formações sociais, particularmente daquelas relacionadas a sexo, idade, raça eclasse. A cultura não é simplesmente um depósito de conhecimentos, formas, práticassociais e valores que são acumulados, armazenados e transmitidos aos estudantes.(GIROUX, 1992, p. 46)

    Relacionando às oficinas que se almeja realizar na comunidade, este enfoque cultural

    dado à inclusão digital permite estabelecer a relação existente entre sociedade, tecnologia e

    cultura nas ações propostas pelo projeto, com o intuito de facilitar as etapas de criação, da

    concepção à publicação do produto final nas redes sociais. Este processo inclui a construção de

    determinadas práticas e identidades sociais pelos participantes, ao interpretar o mundo, ao narrarsua história e ao construir o seu conhecimento, individual e coletivamente. Compreendendo a

    tecnologia como “resultado de interação de forças sociais, econômicas, políticas e culturais, que,

    ao se estabelecer, afirmam e reforçam os valores que vão dominar nessa complexa resultante”

    (BRANT, 2008, p. 71) e aprofundando esse enfoque cultural, a produção de vídeos digitais pode

     permitir aos participantes da oficina ampliar suas perspectivas de inclusão digital em uma

    vertente distinta dos projetos que tem sido realizados atualmente, com focos tecnicistas,

     profissionalizantes, interpessoais ou educacionais da forma mais restrita.

    Se, durante a década de 70, a produção de vídeo começou a ser utilizada com maior

    veemência como ferramenta de articulação temática e política junto a movimentos sociais

    (ZANETTI, 2008, p. 5), pode-se empregá-lo atualmente no contexto das redes digitais,

    difundindo visões do mundo e narrativas distintas das que têm sido propagadas pela mídia de

    massa. Segundo Silveira (2008), as redes digitais têm aprimorado constantemente “as

    contradições do capitalismo cognitivo, ampliando os espaços democráticos da crítica, da criação

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    cultural e da diversidade, bem como abrindo espaço para emergência de uma esfera pública

    interconectada, com um potencial mais democrático que a esfera pública dominada pelos mass

    media” (p. 31). A partir dessa arquitetura relativamente democrática da rede, ampliam-se as

     possibilidades de produção e distribuição de criações individuais e coletivas no espaço da rede.Relacionando esta questão à produção audiovisual, Freitas (2002) afirma que essa evolução

    tecnológica que estamos vivenciando apresenta-se de maneira

    mais rápida e desordenada que as precedentes, colocando o cinema no meio de umsistema cultural complexo e instaurando uma sinergia entre a produção cinematográfica,as telecomunicações, o cabo e a informática, o que afeta a elaboração de imagens, seusmodos de produção e distribuição (p. 26).

    Diante das perspectivas expostas ao longo deste trabalho, pode-se compreender os

    aspectos técnicos e cognitivos que se desenvolvem e terminam por favorecer a emergência dos

    sujeitos no papel de autores dentro do espaço cultural da comunidade, principalmente aqueles que

    se percebem à margem desta denominada Sociedade da Informação. Ao se sentir pertencente a

    uma comunidade que investe em uma produção cultural criativa, crítica e colaborativa, estes

    sujeitos podem aprimorar sua relação com o espaço e com os “outros” que nele residem,

    descobrindo novas formas de melhorar a qualidade de vida de seus semelhantes.

    Metodologia

    Através de uma abordagem interacionista, focada na “Mediação Cultural Dialógica”,

     pretendemos lançar mão de atividades que viabilizem tanto o acesso quanto a apropriação de

    conteúdos da cultura. Por Mediação Cultural Dialógica, entende-se neste trabalho como um

     processo em que há um “conjunto de elementos de diferentes ordens (material, relacional,

    semiológica), que se interpõem e atuam nos processos de significação” (PERROTI, 2007, p. 84).

    Portanto é um processo ativo na leitura, produção, e interpretação da realidade, na construção de

    sentidos e produção de significados. Este trabalho procura responder questões subjetivas na

    apreensão e emprego da produção audiovisual numa perspectiva inclusiva, considerando a

    dialogicidade entre as teorias que guiam as propostas de produção deste tipo de material e os

    resultados que este obtém durante sua utilização.

    A realização das oficinas de produção de vídeos digitais consiste na formação de turmas

    de, no máximo, sete participantes, que, apropriando-se de algumas técnica e de estratégias

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    utilizadas na concepção de obras audiovisuais digitais, trabalharão na expressividade de

    sentimentos, pensamentos e fatos que os circundam. Em seguida, acompanhar-se-á o

    desenvolvimento dos produtos audiovisuais construídos pelos participantes - auxiliados pelos

     bolsistas e voluntários das áreas de Biblioteca, Administração, Design e Pedagogia –, verificandocomo as características da linguagem audiovisual são trabalhadas por eles, através da observação

    e avaliação dos processos de criação desses jovens e suas percepções durante a oficina. A

    finalidade destas oficinas reside em contribuir para uma dinâmica de construção de um produto

    audiovisual por sujeitos que almejam exercer sua cidadania através da linguagem empregada no

    mesmo, dividindo-se em duas modalidades: ficção e documentário. Segundo Nichols (2005), a

    ficção compreende os filmes que

    expressam de forma tangível nossos desejos e sonhos, nossos pesadelos e terrores [...],oferecem-nos mundos a serem explorados e contemplados; ou podemos simplesmentenos deliciar com o prazer de passar do mundo que nos cerca para esses outros mundos de

     possibilidades infinitas” (p. 26)

    Pode-se considerar os filmes ficcionais como responsáveis pela construção de um

    universo simbólico e particular que se aproxima em diversos níveis da realidade concreta, mas

    que não demanda, necessariamente, que se considere as ações dos sujeitos representados como

    verdadeiras. Por sua vez, o mesmo autor compreende como documentário os filmes que

    “representam de forma tangível aspectos de um mundo que já ocupamos e compartilhamos [...],expressam nossa compreensão sobre o que a realidade foi, é e que poderá vir a ser” ( idem), ou

    seja, demandam do espectador uma relação de legitimidade ou autenticidade para os conteúdos

    dispostos no produto.

    Iniciando com uma identificação e reflexão sobre as percepções dos jovens em relação à

    sua identidade cultural e participação dentro da comunidade, esta etapa visa a problematização

    das ideologias e estratégias de influência midiática no seu cotidiano: “Gostam da comunidade em

    que moram? Que lugares frequentam (dentro e fora do bairro onde moram)?” “O que gostam

    mais de fazer?” “O que gostam menos de fazer?” Será que os meios de comunicação exercem

    alguma influência no que gostamos e deixamos de gostar?” Se exerce, como e por quê? e se não,

     por quê? “Como (que estratégias e meios) podemos mostrar o que gostamos e não gostamos?” A

     partir destes questionamentos, o grupo definirá uma temática a ser desenvolvida através da

    linguagem audiovisual com a produção de um vídeo.

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    Prosseguindo com a exibição de vídeos de diversos gêneros e temáticas, os oficineiros

     proporão uma leitura crítica a respeito dos mesmos, questionando-os a respeito dos conteúdos

    abordados e das opções estéticas disponibilizadas na obra em questão, como afirma Becker:

    É na diversidade de suas combinações que as associações texto-imagemrealizadas sob diferentes olhares da realidade, da história, e da produção científicaapontam múltiplas possibilidades de construção ou desconstrução deconhecimentos e acontecimentos. A análise televisual pode nos ajudar a interagirde modo diferente com as combinações entre texto e imagem constituintes dediferentes narrativas. E sob esta perspectiva filmes, vídeos científicos,reportagens, documentos e até telenovelas, podem nos oferecer acesso aconteúdos históricos e culturais nem sempre acessíveis. (2010, p.117)

    Posteriormente, os oficineiros realizarão uma exposição introdutória a respeito dos

     processos de construção de obras audiovisuais:

    Pré-Produção – Criação de Roteiro e Planejamento de Filmagens

    Produção – Gravação de Imagens e Sons

    Pós-Produção - Edição e Finalização do Material Gravado

    A partir dessas exposições iniciais, seguir-se-ão os processos de criação audiovisual

     propriamente dito, em que a equipe de participantes escreverá, cooperativamente, um roteiro

    detalhado que se relacione, de alguma forma, com o tema escolhido. Com exercícios baseados nacriação de pequenos improvisos gradativos – primeiro, de cenas ou sinopses; em seguida, de uma

    sinopse completa e, finalmente, das ações e diálogos dos personagens -, estes processos de

    criação demandarão dos participantes uma intensa participação para acompanhar a dinâmica da

    construção colaborativa.

    Anterior ao período de filmagem, os participantes serão responsáveis pela montagem de

    um Esquema de Plano de Produção, organizando a disponibilidade de recursos materiais,

    humanos e locações necessários para filmagem e os responsáveis para obtê-los; e de um Esquemade Plano de Filmagem, organizando a cronologia de filmagem, de acordo com a disponibilidade

    de locações, pessoas e materiais e dos responsáveis para obtê-los. Depois de todos os detalhes

    esquematizados, o processo de filmagem se iniciará, a fim de capturar imagens e sons nas

    locações para a realização do vídeo, com os recursos humanos e materiais disponibilizados. Após

    a filmagem, será realizada a edição do material bruto, selecionando-se os melhores resultados

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    obtidos em imagem, som e atuações na filmagem, incluindo, se necessário, músicas, efeitos

    sonoros e letreiros. Depois de finalizar o produto, será feita publicação  / socialização do mesmo

    em um blog e outras redes sociais, além de se abrir um debate sobre o processo de criação da

    obra audiovisual, as motivações e as consequências do trabalho realizado nas perspectivas deinclusão digital dos participantes.

    Resultados Esperados

    Ao compreender as relações entre o indivíduo e o espaço que o circunda e as formas de

    interação emergentes neste espaço - especificamente as comunidades de periferia, foco deste

    trabalho -, percebe-se que o desenvolvimento e a utilização de novas tecnologias e novos meiosde informação e comunicação nos diversos setores sociais concorrem para as transformações que

     buscam estabelecer a natureza social do ser humano e o condiciona à sua história e à sua cultura.

    Dentro das comunidades periféricas de diversas cidades, começam a surgir de forma espontânea,

     bibliotecas, rádios, oficinas de produção audiovisual, dentre outras atividades de cunho

    sociocultural, possibilitando transformações culturais porque “aparecem em bairros onde vivem

     pessoas de uma classe social menos favorecida, com experiência de lutas sociais” (BADKE,

    1984, p. 18). Projetos que desenvolvam ações culturais dentro destas comunidades podem

     potencializar as perspectivas de seus participantes em torno do combate à exclusão

    informacional, cultural e social como forma de luta pela proposição de discursos contra-

    hegemônicos que favoreçam a igualdade e a justiça social.

    A partir da realização destas oficinas, almejamos que os jovens participantes possam

    refletir mais sobre seu papel não somente dentro da comunidade em que reside, mas também na

    sociedade como um todo, favorecendo a construção do diálogo com o outro e a criticidade diante

    das ideologias e tecnologias que o cercam. Ao produzir vídeos digitais, os jovens podem

    descobrir novas formas de criar e re-significar suas práticas e pensamentos, produzindo esocializando obras artísticas em que compartilhe sua cosmovisão através da construção

    colaborativa e socializadora.

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    Referências

    BADKE, Todêsca. Biblioteca popular: uma experiência no bairro das Laranjeiras. Palavra-Chave, São Paulo, n.4, p.18-9, maio, 1984.

    BASTOS, Gustavo Grandini. Bibliotecas Comunitárias em Discurso / Gustavo GrandiniBastos. Ribeirão Preto, SP, 2010. (Monografia).

    BECKER, Beatriz. Uma experiência de leitura de mídia: do mito da imagem ao diálogotelevisual. Cadernos de Letras (UFRJ), nº 26, jun. 2010

    BRANT, João. O lugar da educação no confronto entre colaboração e competição. In: PRETTO, Nelson De Luca; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. (orgs). Além das redes de colaboração:internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: EDUFBA, 2008.

    FREITAS, Cristiane. O cinema e “novas” tecnologias: o espetáculo continua. FAMECOS,Porto Alegre, nº18, agosto 2002.

    GIROUX, Henry A. Escola Crítica e Política Cultural. Tradução Dagmar M. L. Zibas. 3. EdSão Paulo: Cortez autores Associados, 1992.

    HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo.Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 15-46, 1997.

    SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação eSociedade, Campinas, v.23, n.81, p.143-160, 2002.

    LIMA, V. A. 2001. Mídia: Teoria e Política. São Paulo, Perseu Abramo

     NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas, SP: Papirus, 2005.

    PERROTTI, Edmir; PIERUCCINI, Ivete. In: LARA, Marilda Lopes Ginez de (Org.); FUJINO,Asa (Org.); NORONHA, Daisy Pires (Org.). Informação e contemporaneidade: perspectivas.Recife: Nectar, 2007. p. 47-97.

    SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Convergência Digital, diversidade cultural e esfera pública. In:PRETTO, Nelson De Luca; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. (orgs). Além das redes de

    colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: EDUFBA, 2008.

    SORJ, Bernardo; GUEDES, Luís Eduardo. Exclusão Digital : problemas conceituais,evidencias empíricas e políticas públicas, 2005. Disponível em:http://www.centroedelstein.org.br/pdf/exclusaodigital_problemasconceituais.pdf. Acesso:10.07.11.

    ZANETTI, Daniela. Crônicas urbanas: narrativas em torno de uma produção audiovisual de periferia. In: Colóquio Internacional Televisão e Realidade. Salvador, BA, 2008. Disponível em:

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