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2 Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente 19 a 22 de Outubro de 2014/ Belo Horizonte- Minas Gerais Eixo 1. Desenvolvimento socioeconômico e conflitos territoriais Sustentabilidade e Saúde: Tecnologias Sociais para promoção do desenvolvimento e conservação em comunidades quilombolas
Roberto dos Santos Lacerda1
Climene Laura de Camargo2
1 Universidade Federal de Sergipe 2Universidade Federal da Bahia
Email: [email protected]
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A população negra no Brasil vem, historicamente, vivenciando de diversas formas e manifestações, situação de exclusão e negação de direitos. Em várias estados brasileiros, principalmente na região nordeste existe um número significativo de comunidades quilombolas cuja população vive excluída de políticas e ações sociais voltadas para o seu desenvolvimento sustentável. Sendo assim, suas potencialidades e recursos disponíveis não são aproveitados para promover o desenvolvimento local e a qualidade de vida. Neste contexto este projeto visou estimular o fortalecimento comunitário na produção e implementação de tecnologias sociais para o desenvolvimento sustentável das comunidades de Praia Grande (Ilha de Maré) e Moreré e Monte Alegre (Ilha de Boipeba), tendo como eixo norteador a promoção da saúde. Apesar de serem lugares riquíssimos pela fauna e flora, pelo potencial histórico, cultural e turístico que ostentam, a população dessas comunidades vive em situação de abandono e pobreza generalizada. Cabe salientar que tanto Ilha de Maré como Monte Alegre constituem-se em comunidades quilombolas e Moreré em uma comunidade litorânea. Apesar de todo potencial dessas localidades, seus habitantes possuem poucas oportunidades de emprego e geração de renda, o que reflete negativamente no desenvolvimento local. O projeto é executado pelo grupo Crescer da Escola de Enfermagem da UFBA, que há quase 10 anos vem executando projetos nessas comunidades. Os participantes desse projeto são adolescentes e adultos jovens, na faixa etária de 12 a 25 anos, residentes nas comunidades em questão. O projeto está sendo desenvolvido com base em concepções teóricas que estimulem e valorizem o protagonismo individual e coletivo, sendo estas o Interacionismo simbólico e a pedagogia da problematização. As ações são desenvolvidas em três etapas: 1o- Mobilização Comunitária, que busca promover a integração e mobilização das comunidades na identificação dos problemas e soluções, bem como para elaboração dos planos de capacitação e produção; 2o- Capacitação: realizadas por meio de oficinas teóricas e práticas em que os temas relacionados à promoção da saúde, são apresentados e debatidos como eixo norteador das ações de sustentabilidade. Os sujeitos estão sendo capacitados em fabricação de doces caseiros, persianas e placas acústicas, a partir de resíduos gerados na comunidade. Ainda, participarão de discussões de temáticas relacionadas ao desenvolvimento sustentável, associativismo, técnicas de vendas, higiene e saúde, entre outros; 3o- Produção Comunitária, estímulo ao aproveitamento sustentável dos recursos naturais disponíveis nas comunidades como forma de geração de renda e desenvolvimento local. Espera-se com a realização desse projeto contribuir para o desenvolvimento das comunidades em estudo, preservando os valores e tradições locais, a preservação e sustentabilidade do território e promoção da saúde e qualidade de vida das populações quilombolas. Palavras-chave:Desenvolvimento Sustentável, promoção da saúde, territorialidade Trabalho resultado de Projeto de Pesquisa aprovado pela Fundação de Amparo à pesquisa da Bahia. Edital de Apoio às Tecnologias Sociais e Ambientais 010/2011desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia em parceria com as seguintes instituições: Universidade Estadual de Maringá-UEM / Universidade Federal de Sergipe-UFS / Associação Beneficente Educacional e Cultural da Ilha de Maré- ABECIM / Associação dos remanescentes de quilombo de Monte alegre- ARQMA / Associação dos Moradores e Amigos de Moreré e Monte Alegre- AMAMOS
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Sustentabilidade e Saúde: Tecnologias Sociais para promoção do desenvolvimento e conservação em comunidades quilombolas INTRODUÇÃO A população negra no Brasil vem, historicamente, vivenciando de diversas
formas e manifestações, situação de exclusão e negação de direitos. Em muitas
comunidades quilombolas a população vive excluída de políticas e ações sociais
voltadas para o seu desenvolvimento sustentável.
Em todo o mundo, os grupos vulneráveis e socialmente desfavorecidos
adoecem e morrem mais cedo do que os grupos que possuem posição social mais
privilegiada. A maior parte dos problemas de saúde pode ser atribuída às condições
sociais nas quais os grupos mais vulneráveis estão expostos: essas condições se
determinam “determinantes sociais de saúde”. (IRWIN et al. 2006).
Os territórios quilombolas resultam de um tipo particular de percepção e
apropriação do espaço, sendo constituídos por formas de organização social,
comunicação grupal e laços de solidariedade comunitária específicos, ligando os
indivíduos a um passado ou origem étnica comum e uma relação harmônica com o
seu território.
Diegues & Arruda (2001) afirmam que estas populações tradicionais
convivem com esta biodiversidade, e são capazes de nomear e classificar as
espécies vivas segundo suas próprias categorias e nomes. Estes autores definem
este conhecimento como o conjunto de saberes e saber-fazer, não só do mundo
natural como o sobrenatural, transmitido oralmente de geração em geração.
Diversas iniciativas tem buscado dar respostas efetivas na construção de
territórios sustentáveis e saudáveis, fomentando a inclusão social e o
desenvolvimento humano sustentável. As estratégias tem em comum os objetivos
de promover o acesso à cidadania, a preservação do meio ambiente, o
desenvolvimento econômico e a qualidade de vida, a gestão participativa e
fortalecimento comunitário.Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a
Secretária de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Ministério do Meio Ambiente
e Ministério da Saúde tem buscado, elaborar ações que contemplem nacionalmente
as comunidades quilombolas, promovendoa valorização dos territórios, a promoção
da saúde e cidadania.
Na Bahia, a despeito das riquezas naturais e do potencial produtivo do
Estado como um todo, observa-se que várias localidades, principalmente as
comunidades quilombolas são as mais excluídas de políticas e ações sociais que
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estimulem a produção comunitária e o associativismo, o que contribui para o não
aproveitamento das suas potencialidades e dos recursos disponíveis.Como exemplo
de pobreza e descaso público no Estado da Bahia, podemos citar os povoados de
Praia Grande, situado em Ilha de Maré, Morere e Monte Alegre situados em Ilha de
Boipeba. Apesar de serem lugares riquíssimos pela fauna e flora, pelo potencial
histórico, cultural e turístico que ostentam, sua população vive em situação de
abandono e pobreza generalizada. Cabe salientar que tanto Ilha de Maré como
Monte Alegre constituem-se em comunidades quilombolas e Moreré em uma
comunidade litorânea. Apesar de todo potencial dessas localidades, seus habitantes
possuem poucas oportunidades de emprego e geração de renda, o que reflete
negativamente no desenvolvimento local.
Em Ilha de Maré a principal fonte de renda é a pesca e a mariscagem. Os
homens da Ilha se dedicam á pesca e ao artesanato de vime, enquanto as mulheres
atuam na mariscagem, renda de bilro e produção de doces caseiros. Em Moreré
(Ilha de Boipeba), os homens se dedicam a pesca e as mulheres se ocupam com os
afazeres do lar. Em Monte Alegre, homens e mulheres se dedicam á agricultura
familiar, onde cultivam milho, feijão e aipim. Estas três comunidades apesar de
distantes entre si têm em comum a pobreza que assola seus habitantes e o não
aproveitamento dos recursos naturais que dispõem em abundância. Esta pobreza
influencia diretamente nas condições de saúde desta população.
Neste contexto este projeto visou estimular o fortalecimento comunitário na
produção e implementação de tecnologias sociais para o desenvolvimento
sustentável das comunidades de Praia Grande (Ilha de Maré) e Moreré e Monte
Alegre (Ilha de Boipeba), tendo como eixo norteador a promoção da saúde. Apesar
de serem lugares riquíssimos pela fauna e flora, pelo potencial histórico, cultural e
turístico que ostentam, a população dessas comunidades vive em situação de
abandono e pobreza generalizada com poucas oportunidades de emprego e
geração de renda.
OBJETIVOS - Fomentar o fortalecimento comunitário na identificação e produção de tecnologias
sociais para desenvolvimentosustentável nas comunidades de Praia Grande (Ilha de
Maré), Moreré e Monte Alegre (Ilha de Boipeba);
- Fabricar Placas Acústicas com material fibroso descartado em diversas atividades
dos moradores de Ilha de Maré,além de avaliar a possível utilização de outros
materiais identificados.
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- Implementar a produção de doces caseiros e persianas com matéria prima da
região ;
- Capacitar adolescentes e adultos jovens nas áreas de desenvolvimento
sustentável, associativismo, técnicas devendas, tecnologias sociais, liderança, etc.
- Promover atividades de Educação em Saúde com a população das comunidades
em estudo.
METODO
O projeto foi executado pelo grupo Crescer da Escola de Enfermagem da
UFBA tendo sido desenvolvido em 3 (três) etapas, por meio de metodologias
específicas norteadas pelo Interacionismosimbólico.
As ações foram desenvolvidas nas seguintes etapas:
1o- Mobilização Comunitária, que buscou promover a integração e mobilização das
comunidades na identificação dos problemas e soluções, bem como para
elaboração dos planos de capacitação e produção. Nessa etapa foram
desenvolvidas rodas de conversa entre os moradores e pesquisadores para elaborar
o planejamento participativo, levantando as potencialidades e fragilidades da
comunidade, bem como as estratégias para alcance dos objetivos do projeto ;
2o- Capacitação: segunda etapa foi realizada com metodologia problematizadora
por meio de oficinas teóricas e práticas em que os temas relacionados à promoção
da saúde, foram apresentados e debatidos como eixo norteador das ações de
sustentabilidade. Foram executadas rodas com crianças, adolescentes e adultos das
comunidades.Os sujeitos foram capacitados em fabricação de doces caseiros,
persianas e placas acústicas, a partir de resíduos gerados na comunidade. Ainda,
participaram de discussões de temáticas relacionadas ao desenvolvimento
sustentável, associativismo, técnicas de vendas, higiene e saúde, hábitos saudáveis,
entre outros;
RESULTADOS
A terceira etapa do projeto consistiu na Produção Comunitária, por meio do
estímulo ao aproveitamento sustentável dos recursos naturais disponíveis nas
comunidades como forma de geração de renda e desenvolvimento local. Atualmente
as comunidades estão produzindo doces, persianas artesanais e placas acústicas
para construção civil (Anexos).
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A fabricação de doces artesanais utiliza as frutas típicas da região. A
fabricação de persianas utiliza com matéria-prima a piaçava ou a palha de dendê. Já
a fabricação de placas acústicas tem como base a utilização de resíduos que seria
descartados de forma inadequada no meio ambiente, tais como cascas de côco,
resíduo da bananeira, resíduos de fabricação de barcos no estaleiro da região.
Além disso, destaca-se o protagonismo comunitário e a coesão como bons
resultados das ações, visto que algumas das comunidades se mobilizaram e
conseguiram outras conquistas para além dos objetivos do projeto, como construção
e manutenção das oficinas, articulação como outros apoiadores e parceiros para
auxílio e suporte para continuação do projeto; profissionalização e geração de renda
para alguns moradores das comunidades e maior engajamento e participação na
vida social e política da comunidade.
CONCLUSÃO Espera-se com a realização desse projeto que as comunidades
envolvidas fortaleçam a coesão e o protagonismo no desenvolvimento de
ações preservando os valores e tradições locais e promovendo a
conservação ambiental e sustentabilidade do território como estratégias de
epromoção da saúde e qualidade de vida das populações quilombolas.
Destaca-se a importância da implementação das políticas públicas que
contemplam as comunidades quilombolas, bem como a abertura de editais e
linhas de financiamento para o pequenos empreendimentos comunitários
espalhados pelo Brasil, promovendo o desenvolvimento humano e
comunitário e consequentemente melhorando as condições de vida e saúde
nas comunidades quilombolas. Destaca-se a importância da união do
conhecimento científico aos saberes tradicionais no desenvolvimento de
estudos de ações capazes de minimizar e resolver os problemas ambientais,
sanitários e sociais nas comunidades em situação de vulnerabilidade em
nosso país.
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REFERÊNCIAS IRWIN A, Valentine N, Brown C, Loewenson R, Solar O, et al. (2006) The
Commission on Social Determinants of Health: Tackling the Social Roots of Health
Inequities. PLoS Med 3(6): e106. doi:10.1371/journal.pmed.0030106.
MALCHER, M. A. F. (2006). A Geografia da Territorialidade Quilombola na
Microrregião de Tomé-açu: o caso da ARQUINEC – Associação das Comunidades
Remanescentes de Quilombos Nova Esperança de Concórdia do Pará. Belém:
CEFET. (Trabalho de Conclusão de Curso).
DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R. S. V. Saberes Tradicionais e Biodiversidade no
Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP; 2001.
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