Youblisher.com-876226-Mateus Vol 1 William Hendriksen

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COMENTÁRIO DO NOVO TESTAMENTO Mateus Volume 1 WILLIAM HENDRIKS EN

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  • COMENTRIO DO NOVO TESTAMENTO

    MateusVolume 1

    WILLIAM HENDRIKS EN

  • 2000, Hdilora Cultura CristO original desta obra loi publicado por Baker Book 1 louse. Grand Rapids. Michigan. U.S.A.. sob o titulo ,\ew Testament Commentary, Exposition o f the Gospel According to Mathew. Os direitos para publicao em lingua portuguesa foram cedidos por Baker Book I louse Kditora Cultura Crist.

    I * edio em Portugus - 2001 3.000 exemplares

    Traduo:Valter Graeiano Martins

    Reviso:Gordon Chown

    Claudete Agua de Melo

    Editorao:Rissato

    Capa: lixpresso h.xata

    Imprcsso e Acabamento Assah Grfica e Editora.

    Publicaio aprovada pelo Conselho Editorial: Cludio Marra (Presidente)

    Aproniano Wilson de Maccdo Augustus Nicodemus Lopes Fernando Hamilton Costa Sebastio Bueno Olinto

    CDVTORR CULTURA CRISTRua Miguel Teles Jnior, 382/394 - Cambuci 01540-040 - So Paulo - SP - Brasil C.Postal 15.136 - Cambuci - So Paulo - SP - 0159&-970 Fone: (0 11) 270-7099 - Fax: (0"11) 279-1255 www.cep.org.br - [email protected]: Haveraldo Ferreira Vargas

    Editor: Cludio A. B. Marra

  • NDICE

    Relao de Abreviaturas................................................. 5Introduo aos Evangelhos............................................. 9I. Introduo aos Quatro Evangelhos Mateus, Marcos,

    Lucas e Joo ............................................................... 11II. Introduo aos Trs Evangelhos: Mateus, Marcos

    e Lucas (os Sinticos)................................................ 15A. Sua Origem (o Problema Sintico)..................... 15B. Sua Confiabilidade................................................ 82

    Introduo ao Evangelho Segundo M ateus................. 117I. Caractersticas.............................................................. 119II. Autoria. Data e Lugar................................................. 137III. Propsito..................................................................... 145IV. Tema e Esboo........................................................... 147

    TEMA GERAL: A obra que lhe deste para fazer........ 151

    I. Seu incio ou Inaugurao........................................... 151Captulo 1 ......................................................................... 153Captulo 2 ......................................................................... 211Captulo 3 ......................................................................... 275Captulo 4.1-11 ................................................................. 309

    II. Seu Progresso ou Continuao Captulos 4.1220.34 331A. O Grande Ministrio G alileu .............................. 332

    Captulo 4.12-25................................................... 333Captulos 5 7 - Primeiro Grande Discurso .... 355Captulos 8, 9 ........................................................ 543Captulo 10 - Segundo Grande D iscurso.......... 629Captulo 11 ............................................................ 681

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  • MATEUSVolume 2

    Captulo 12 ............................................................ 9Captulo 13 - Terceiro Grande Discurso........... 63Captulo 14 ............................................................ 117Captulo 15.1-20................................................... 149

    B. O Retiro e os Ministrios em P eria .................. 168Captulo 15.21-39................................................. 169Captulo 16 ............................................................ 187Captulo 17 ............................................................ 227Captulo 18 - Quarto Grande Discurso............. 255Captulo 19 ............................................................ 295Captulo 2 0 ............................................................ 329

    III. Seu Clmax ou Culminao Captulos 21-28.20 ... 359

    A. A Semana cia Paixo............................................. 360Captulo 2 1 ............................................................ 361Captulo 2 2 ............................................................ 405Captulo 23 - Quinto Grande Discurso............. 441Captulos 24, 25 - Sexto Grande D iscurso...... 479Captulo 2 6 ............................................................ 553Captulo 2 7 ............................................................ 619

    B. A Ressurreio...................................................... 682Captulo 2 8 ............................................................ 683

    Bibliografia Selecionada................................................. 707Bibliografia G eral............................................................ 709

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  • R e l a o de A br ev ia t u r a s-----------------^ ------------------

    As abreviaturas de livros da Bblia so aquelas da traduo Almeida Revista e Atualizada no Brasil. As letras usadas em abreviaturas de outros livros so seguidas de pontos. Nas abreviaes de peridicos no constam pontos e elas esto em itlico. Assim possvel distinguir de relance se a abreviatura se refere a um livro ou peridico.

    A. Abreviaes de LivrosA.R.V. American Standard Revised VersionA.V. Authorized Version (King James)C.N.T. A.T. Robertson, Grammar o f the Greek New

    Testament in the Light o f Historical Research Gram.N.T. F. Blass and A. Debrunner, A Greek Grammar o f(Bl.-Debr) the New Testament and Other Early Christian

    LiteratureGrk.N.T. The Greek New Testament, organizado por Kurt(A-B-M-W) Aland, Matthew Black, Bruce M. Metzger, and

    Allen Wikgren I.S.B.E. International Standard Bible EncyclopediaL.M.T. (Th.) Thayers Greek-English Lexicon o f the TestamentL.N.T. W. F. Arndt and F. W. Gingrich, A Greek-English(A. and G.) Lexicon o f the New Testament and Other Early

    Christian Literature05

  • MATEUSM. M. The Vocabulary o f the Greek Testament Illustrated

    from the Papyri and Other Non-Literary Sources, por James Hope Moulton and George Milligan

    N.A.S.B. New American Standard Bible (New Testament)(N.T.) Novum Testamentum Graece, organizado por D.N.N Eberhard Nestle, revisado por Erwin Nestle e Kurt

    AlandN.E.B. New English BibleN.T.C. W. Hendriksen, New Testament CommentaryR.S.V. Revised Standard VersionS.BK. Strack and Billerbeck, Kommentar zum Neuen

    Testament aus Talmud und Midrasch S.M.E.R.K. The New Schaff-Herzog Encyclopedia o f Religious

    KnowledgeTh.D.N.T. Theological Dictionary o f the New Testament

    (organizado por G. Kittel e F. Friedrich, e traduzido do Alemo por G. W. Bromiley

    W.B.D. Westminster Dictionary o f the BibleW.H.A.B. Westminster Historical Atlas to the Bible

    B. Abreviaturas de PeridicosATR Anglican Theological ReviewBG Bibel und GemeindeBJRL Bulletin o f the John Rylands LibraryBtr Bible TranslatorBW Biblical WorldBZ Biblische ZeitschrftCT Cuadernos teolgicosCTM Concordia Theological MonthlyEB Estudios biblicosEQ Evangelical QuarterlyET Expository Times

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  • MATEUSExp The ExpositorGTT Gereformeerd theologisch tijdschriftJBL Journaul o f Biblical LiteratureJR Journal o f ReligionJTS Journal o f Theological StudiesNedTT Nederlands theologisch tijdschriftNTStud New Testament Studies; an International

    Journal publicado trimestralmente sob os auspcios da Studiorum Novi Testamenti Societas

    PTR Princeton Theological ReviewRSR Recherches de science religieuseTh Theology : A Journal o f Historic ChristianityThG Theologie un GlaubeTR Theologia ReformadaTS Theologische StudienTSK Theologische Studien und KritikenTT Theologisch tijdschriftWTJ Westminster Theological JournalZNW Zeitschrift f r die neutestam entliche

    Wissenschaft und die Kunde des Urchristentums

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  • I n t r o d u oa o s

    E v a n g e l h o s

  • I. I n t r o d u o a o s Q u a t r o E v a n g e l h o sM a t e u s , M a r c o s , L u c a s e J o o

    Como ponto de partida, devemos distinguir entre o evangelho" e os Evangelhos. O primeiro a mensagem de Deus aos homens. E as boas novas de Deus, o relato ou histria que nos conta o que Deus, por meio da encarnao, das andanas terrenas, dos poderosos feitos, do sofrimento, da morte e ressurreio de seu nico Filho, fez para salvar os pecadores. E o evangelho ou mensagem das boas novas, as alegres notcias de salvao endereadas a um mundo perdido no pecado. Este o termo bblico em seu sentido usual.1 No o que ns devemos fazer, mas o que Deus em Cristo j fez por ns a parte mais proeminente dessas boas novas. Todavia, o que os homens devem fazer para serem salvos e assim viverem suas vidas em benefcio de seus semelhantes e para a glria de Deus est tambm certamente includo (Mt 5.16; 11.25-30; Mc 2.17; 8.34; Lc 5.32; Jo 3.14-18).

    De acordo com o segundo e ltimo uso (ps-bblico) do termo, um Evangelho freqentemente grafado com E maisculo para fazer distino entre este e o primeiro uso um dos quatro livros em que essas boas novas so expostas com autoridade.

    Desde os primrdios da histria escrita da igreja do Novo Testamento tem havido quatro, e somente quatro evangelhos, amplamente reconhecidos. Para enfatizar o fato de que eles apresentam um nico e o mesmo evangelho, s vezes so descritos como o evangelho qudruplo ou o instrumento evanglico. Assim Tertuliano, em sua obra Contra Marcio (comeada cerca de 207 d.C.) declara:

    1 Ver C.N.T. sobre Fp 1.27 para uma anlise do conceito evangelho".

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  • MATEUSPostulamos como nosso princpio que o instrumento evan

    glico tem apstolos como seus autores, a quem o prprio Senhor designou para o dever de publicar o evangelho... Desses apstolos, portanto, Joo e Mateus so os primeiros a nos infundir a f, enquanto os homens apostlicos, Lucas e Marcos, a renovam (IV.2).

    Ainda um pouco antes, numa obra que data entre 182-188 d.C., o grande telogo e viajante, Irineu, resume o que parece ter sido o consenso da igreja toda nos seus dias, nestas palavras:

    No possvel que os Evangelhos possam ser nem mais nem menos do que eles so (Contra Heresias III.xi.8). Talvez no possamos aceitar a validade de alguns dos fundamentos sobre as quais ele baseia esta concluso, ou seja, que o mundo est dividido em quatro zonas, que h quatro ventos principais, e que os querubins so descritos, nas Escrituras, como tendo quatro rostos; podemos, entretanto, encontrar nessa declarao a confirmao da posio j expressa, ou seja, que desde os dias mais antigos tem havido quatro, e somente quatro, Evangelhos amplamente reconhecidos.

    Os ttulos dos Evangelhos, como encontrados nos antigos manuscritos gregos, apontam na mesma direo. Embora tais ttulos no possam ser datados com absoluta certeza, e no faam parte do documento original, seno que foram subseqentemente acrescidos por copistas, mostram que, provavelmente, antes do ano 125 d.C. os quatro livros referidos j estavam reunidos numa coleo para uso nas igrejas, aos quais se dava o ttulo: segundo Mateus, segundo Marcos, etc. Estritamente falando, a designao segundo de acordo com no indica necessariamente a autoria. Com o sentido de redigido em harmonia com o ensinamento de satisfaz o vocabulrio empregado. Contudo, h abundante evidncia para mostrar que os cristos primitivos davam ao ttulo uma conotao muito mais ampla, e consideravam a pessoa ali citada como sendo o verdadeiro autor. Criam num s evangelho, proclamado de forma escrita por quatro autores em quatro livros.

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  • INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    Ora, segundo a tradio, foi o apstolo Joo quem escreveu o ltimo dos quatro. Diz Clemente de Alexandria (entre 190-200):

    Finalmente Joo, percebendo que os fatos externos j tinham sido evidenciados nos evangelhos, sendo solicitado por seus amigos e inspirado pelo Esprito, comps um Evangelho espiritual.2

    Ora, nesse quarto Evangelho, a estrutura geral, como encontrada nos outros trs, mantida; ou seja, em todos os quatro a vinda de Jesus descrita em conexo com a obra e o testemunho de Joo Batista; a seguem registros da entrada de Cristo na Galilia, o entusiasmo da multido e a crescente oposio, a alimentao miraculosa da multido, a confisso de Pedro, a partida para Jerusalm e a entrada triunfante nela. a ceia do Senhor com seus discpulos, as experincias no horto (embora no se encontre em Joo o relato da agonia do horto), a priso, o julgamento e condenao, a crucificao, a morte e ressurreio.

    Os primeiros trs Evangelhos, considerados como um grupo, e o ltimo (Joo) se complementam entre si. Cada um depende do outro para ser plenamente entendido. Dessa forma que luz de Mt 10.5 (No tomeis rumo aos gentios), podemos entender a hesitao de Filipe em trazer os gregos a Jesus (Jo 12.20-22); e que, luz de Jo 1.15,29,30; 3.30 (Convm que ele cresa e que eu diminua), podemos entender o que Jesus disse com referncia grandeza de Joo Batista (Mt 11.11). A razo da viagem a Jerusalm (Mc 10.32), embora seja explicada nos sinticos (por exemplo, o versculo imediato, 10.33), ainda mais clara em Jo 11.1 ss. A presena de Pedro no ptio do palcio do sumo sacerdote (Mt 26.58,69ss) explicada em Jo 18.15.16. O lamento de Cristo, to repassado de sentimento: Jerusalm, Jerusalm... quantas vezes quis eu reunir os teus filhos... (Mt 23.37-39), bem como sua defesa: Todos os dias eu estava convosco no templo ensinando... (Mc 14.49), quando os sinticos dizem to pouco a respeito desse ministrio de Jesus em Jerusalm e no templo, toma-se evidente ao estudar-1 Citado por Kusbio. Histria Eclesistica. Vl.xiv.7.

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  • MATEUSmos Jo 2.14; 5.14; 7.14,28 [8.2]; e 10.22,23. A acusao contra Jesus, Mt 26.61 (cf. Mc 14.58): Este diz: posso destruir o santurio de Deus e reedific-lo em trs dias, toma-se clara quando a lemos em conexo com Jo 2.19. Alm disso, o tom das palavras e discursos de Jesus, como relatadas no Evangelho de Joo, de modo algum inconsistente com o tom daqueles apresentados nos sinticos (Jo 3.3, cf. Mt 18.3; Jo 4.35, cf. Mt 9.37; Jo 3.35; 10.15; 14.6, cf. Mt 11.27,28; etc.).3

    Apesar das alegaes em contrrio,4 no se pode apresentar a existncia de contradies reais entre Joo, por um lado, e Mateus, Marcos e Lucas, por outro. Todavia, tanto no estilo quanto no contedo o quarto difere dos trs em muitos aspectos. Assim, o Evangelho de Joo descreve, com poucas excees, a obra de Cristo na Judia antes que na Galilia, e dedica muito espao ao ensinamento do Senhor na forma que no seja de parbolas, mas de primorosos discursos diante de ou debates com amigos e/ou inimigos. Porm, o mesmo Senhor quem est falando em todos os quatro.

    3 O tema da relao entre os Sinticos e Joo tratado com mais detalhes e de forma mais completa em C.N.T. sobre Joo, pp. 12-18; 31-33. Ver tambm a dimenso que lhe dedicada em F. C. Grant. The Gospel ofSt. John, Nova York e Londres, 1956; B. 1'. Westcotl, The Gospel according lo St. John , Grand Rapids, 1954; e J. E. Davey. The Jesus ofSt. John, Londres. 1958. A elucidao mais recente e completa se encontra em Leon Morris, Studies in lhe Fourth Gospel. 1969; ver especialmente pp. 15-63.

    4 Ver, por exemplo, a tentativa recente feita por T. J. Baarda De Belrouwbaarheid van de livangelin, Kampcn, 1967, pp. 12ss, onde, por meio de um mapa (p. 13), ele trata os primeiros captulos do Evangelho de Joo como se descrevessem viagens consecutivas e diz que, segundo Marcos. Jesus viaja da Galilia margem oriental do Jordo (para a alimentao dos cinco mil), porm segundo Joo foi de Jerusalm (p. 16). No est Baarda estabelecendo uma contradio entre o Evangelho de Joo e os Sinticos que no justa? Seguramente ele sabe que Joo seleciona certos eventos importantes que revelam que Jesus o Cristo, o Filho de Deus, e que este evangelista no nos est fornecendo uma I'ida de Cristo (veja-se Jo 20.30.31). Especificamente, Joo introduz a narrativa da alimentao miraculosa como segue: "Depois destas coisas", significando simplesmente, Algum tempo depois, uma expresso muito indefinida, sem implicaes cronolgicas ou geogrficas. Ver C.N.T. sobre Jo 5.1.0 mesmo vale com respeito pretendida contradio entre os Sinticos e Joo no tocante ao dia da crucificao de Cristo. Nunca se pde provar que haja aqui um verdadeiro conflito. Veja-se a mesma obra. Jo 18.28.

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  • INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    I I . I n t r o d u o a o s T r s E v a n g e l h o s : M a t e u s , M a r c o s e L u c a s ( os S in t ic o s )

    A. Sua Origem (o Problema Sintico)

    Os primeiros trs Evangelhos apresentam o mesmo ponto de vista da vida e dos ensinos de nosso Senhor; por isso so chamados Sinticos (uma viso de conjunto). So semelhantes entre si, no entanto so tambm diferentes. Segundo revela um estudo detalhado desses Evangelhos, at onde vai essa semelhana? E sua diferena? Que problema cria o resultado de nosso estudo? O mesmo pode ser resolvido? Em concordncia com essas perguntas, os quatro ttulos principais deste estudo sero; 1. Sua Semelhana, pp. 15-29; 2. Sua Diferena, pp. 25-51; 3. O Problema Resultante, p. 51; 4. Os Elementos Que Entram na Soluo, p p .51-82.

    1. Sua Semelhana

    a. Em contedo ou tema

    Ao fazer um exame, descobre-se que o evangelho de Mateus contm, em substncia, quase tudo o que contm o evangelho segundo Marcos; de fato, dos 661 versculos de Marcos, 606 (cerca de 11/12) tm paralelo em Mateus. Tambm, mais da metade de Marcos (350 vv. cerca de 53%) est reproduzido em Lucas.

    Pondo de forma diferente, o material de Marcos que se encontra em Mateus est includo em cerca de 500 dos 1.068 versculos de Mateus; portanto, alcana pouco menos da metade desse evangelho. Os 1.149 versculos de Lucas tm amplo espao para os 350 versculos aproveitados de Marcos; de fato, dois teros do Evangelho de Lucas no contm nenhum material de Marcos.

    Tomou-se evidente que dos 661 versculos de Marcos, somente 55 no tm paralelo em Mateus. Contudo, desses 55, no menos de 24 esto representados no Evangelho de Lucas. Portanto, a semelhana no contedo material to grande que Marcos tem apenas 31 versculos que podem com propriedade

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  • MATEUSser chamados seus prprios. Quanto ao contedo, estes 31 versculos so como segue:1.1: no tocante ao incio do evangelho2.27: o sbado feito para o homem, no vice-versa3.20,21: a opinio de alguns de que Jesus estava fora de si4.26-29: a parbola do crescimento secreto da boa sem ente7.3,4: a explicao parenttica das purificaes dos fariseus7.32-37: a cura do surdo-mudo 8.22-26: a cura do cego em Betsaida9.29: o dito: Esta casta no pode sair seno por meio de orao

    [e je jum ]9.48,49: a referncia ao fogo que no se apaga e o ser salgado com

    fogo14.51,52: a histria do jovem que fugiu nu.

    Os seguintes diagramas so acrescentados para, de forma mais slida, imprimir estes fatos na mente:

    B B

    A = E vangelho de M ateus B - E vangelho de M arcos C = poro do E vangelho de M arcos

    com para le lo em Lucas D = poro do E vangelho de M arcos

    sem paralelo em M ateus E ~ poro do Evangelho de M ateus

    sem paralelo em M arcos

    A = E vangelho de Lucas B = E vangelho de M arcos C = poro do E vangelho de M arcos

    com para le lo em Lucas D = poro do Evangelho de M arcos

    sem para le lo em Lucas E = po ro do E vangelho de Lucas

    em paralelo em M arcos

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  • Ora, a declarao de que os trs Sinticos tm muito em comum no deve ser entendida de forma errnea. No quer dizer que em cada Evangelho dedicado igual espao a cada tema. Ao contrrio, os diferentes relatos das obras e palavras de nosso Salvador so registrados com um grau de plenitude amplamente variado. Por exemplo, o registro da tentao de nosso Senhor est muito mais detalhado em Mateus e em Lucas do que em Marcos. Este simplesmente nos informa que o Esprito impeliu Jesus para o deserto; que ele permaneceu ali quarenta dias, durante os quais foi tentado por Satans; que estava com as feras, e que anjos o serviam (1.12,13). Mateus e Lucas, por outro lado, nos do um relato mais detalhado das trs tentaes (Mt4.1-11; Lc 4.1-13). Por outro lado, o relato de Marcos com freqncia o mais detalhado. Leia-se, por exemplo, a histria da cura de um endemoninhado, como registrado em Mc 5.1-20; e compare a mesma com o relato mais condensado em Mt 8.28- 34 e em Lc 8.26-39. Outra ilustrao Mc 5.21-43; cf. Mt 9.18- 26; Lc 8.40-56.

    Feitas essas restries, podemos afirmar que os trs apresentam, cada um do seu prprio modo, a histria das peregrinaes terrenas de Cristo; isto , de seu ministrio, mormente na Galilia e seus arredores (em distino ao Evangelho de Joo, que pe a nfase no ministrio de Jesus na Judia, como j ficou indicado). Cada um dos trs descreve o princpio ou inaugurao, o progresso ou continuao, o clmax ou culminao da grande tarefa que o Mediador consumou.

    (1) Seu Princpio ou Inaugurao. O material comum aos trs, e que se refere a este perodo inicial da obra de Cristo na terra, est includo em Mc 1.1-13; Mt 1.1-4.11; Lc 3.1-4.13. Intencionalmente usamos a frase est includo em, que significa que as referncias indicadas designam a extenso do perodo. No significa que tudo o que se acha dentro dos limites dessas referncias comum aos trs Evangelhos, porque isso no seria verdadeiro. Todavia, no momento estamos tratando daquilo que nos trs relatos territrio comum. As diferenas sero estudadas posteriormente.

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

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  • MATEUSConseqentemente, os trs relatos, com maior ou menor

    variao de detalhes, descreve a vinda, a pregao e o modo de vida do precursor de Cristo, Joo Batista, sua recepo pelas multides e seu testemunho concernente a Jesus. Tambm nos trs registrada a histria do batismo de Jesus por Joo, bem como a das tentaes suportadas pelo Senhor no deserto. Con- tijdo, nada mais do que justo dizer ainda nesta altura que a diferena entre o espao dedicado a esses temas, em Marcos, por um lado, e respectivamente, em Mateus e Lucas, por outro, to grande que esse material tambm pode ser considerado como pertencente rea que no de Marcos, mas que comum a Mateus e Lucas; ver p. 35.

    (2) Seu Progresso ou Continuao. De acordo com os trs relatos, Jesus faz da Galilia especialmente Cafarnaum (Mc1.21; 2.1; cf. Mt 4.13; 8.5; 11.23; Lc 4.23,31; 7.1) seu quar- tel-general. Da, a primeira fase deste perodo ser com freqncia qualificada como o Grande Ministrio Galileu, que est compreendido em Mc 1.14-7.23; Mt 4.12-15.20; e Lc 4.14-9.17. Todos os trs relatam que Jesus convida certos pescadores para serem seus seguidores, realiza muitos milagres de cura, acalma uma tempestade, expulsa demnios e ainda restaura a vida filha do governador da sinagoga de Cafarnaum. Ele se dirige s multides em parbolas, algumas das quais so comuns aos trs Evangelhos, envia os Doze como seus embaixadores, e alimenta miraculosamente os cinco mil. Porm, j foi rejeitado por seu prprio povo (Mc 6.3; Mt 13.57; Lc 4.28,29).5

    A nfase agora se desloca das multides para os discpulos; da cidade para as aldeias, o campo e a montanha. Porquanto Jesus se retira com freqncia para as regies circunvizinhas da Galilia e para lugares onde possa estar a ss com seus discpulos essa segunda fase pode ser designada como o Ministrio do Retiro. Contudo, isso apenas um deslocamento na nfase,

    s Em Lucas, o relato da rejeio de Cristo em Nazar aparece no principio (4 .16 -3 1); em Marcos e Mateus aparece no final dessa seo (Mc 6 .1 -6; Mt 13.53-58). Quando se considera Jo 1.11, o arranjo de Lucas aqui no parece to estranho.

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  • pois mesmo aqui o senhor no perde o interesse pelo povo como um todo (Mc 8.1; 9.14; etc.) nem em Cafamaum (Mc 9.33). Mas so especialmente os Doze que esto sendo gradualmente preparados para os estranhos eventos que esto para acontecer: o sofrimento, a morte e a ressurreio do Messias. s vezes vagamente indicado o lugar ou o dia em que este ensinamento ministrado, ou onde e quando ocorre o milagre: por exemplo, as aldeias de Cesaria de Filipe (Mc 8.27; Mt 6.13; cf. Lc 9.18), um monte alto (Mc 9.2; Mt 17.1; cf. Lc 9.28), enquanto desciam do monte (Mc 9.9; Mt 17.9; cf. Lc 9.37).

    A fase final desse extenso perodo, como descrito nos sinticos, apresenta Jesus indo da Galilia para a regio dalm do Jordo, ou seja, a Peria (ver Mc 10.1; Mt 17.1). No de se estranhar, pois, que o termo Ministrio da Peria tenha sido usado para descrever a localidade das atividades e viagens de Cristo nesse perodo. O pequeno grupo, liderado por Jesus, se dirige para o sul. Em seguida, o poder portentoso de Cristo se manifesta em Jeric e suas proximidades. Em decorrncia da natureza indefinida de muitas das ocorrncias quanto a tempo e lugar, ou, s vezes, da sua completa omisso, nem sempre possvel dizer durante que fase (a segunda ou a terceira) do extenso perodo um dito foi pronunciado ou um evento ocorreu. Os escritores dos Evangelhos no esto escrevendo um dirio. Eles esto muito mais interessados em nos contar o que Jesus fez e ensinou do que em nos dar uma crnica contnua e diria.6

    O que comum a Marcos, Mateus e Lucas, ao descrever as atividades de Cristo durante a segunda e terceira fases (Ministrios do Retiro e da Peria) esl includo em Mc 7.24-10.52;

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    Por essa mesma razo, nunca ser possvel provar a existncia de uma contradio cronolgica entre o Evangelho segundo Joo, de um lado, e os Sinticos, de outro. H lugar para um segundo ministrio naJudia (sobre isso, ver Joo 7.2 10.39 e, talvez, Lc 9.51 13.21 como um todo ou em parte) intervindo entre o ministrio do retiro e o da Peria, assim como h lugar para um primeiro ministrio na Judia entre o ministrio da inaugurao e o grande ministrio da Galilia. Ver o breve sumrio no C.N.T. sobre o Evangelho segundo Joo, p. 36; c ver novamente o que se diz acima, na nota de rodap 4.

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  • MATEUSMt 15.21-20.34; e Lc 9.18-19.28. Contudo, a seo de Lucas difere to notavelmente da dos outros dois, que merece um tratamento distinto; ver p.30. No obstante, nas trs sees indicadas so registrados assuntos tais como: a pergunta de Cristo dirigida aos discpulos: Quem dizem os homens que eu sou?, e suas predies e ensinamentos acerca da cruz e da ressurreio ministradas em trs ocasies distintas (Mc 8.31; 9.31; 10.33,34; Mt 16.21; 17.22.23; 20.17-19; Lc 9.22,44; 18.31-34). Os relatos da transfigurao do Senhor no monte e da cura do menino endemoninhado no vale, um epilptico a quem os discpulos no puderam curar, so tambm encontrados aqui nos trs Evangelhos. O mesmo sucede tambm com a resposta de Cristo, dramaticamente ilustrada, pergunta dos discpulos: Quem de ns o maior?, e o dito muito consolador: Deixem que os pequeninos venham a mim, e no tentem impedi-los, porque aos tais pertence o reino de Deus.

    No relato do jovem rico, cuja riqueza o fizera cativo de modo tal que se negou a cumprir a exigncia de Cristo, chamada de forma vvida a ateno dos discpulos para o perigo das riquezas. E assim a viagem, alguns de cujos incidentes os trs relatam, mas no necessariamente numa completa ordem cronolgica, avana para sua concluso dramtica. Em Jeric, Jesus, uma vez mais, revela seu poder de realizar milagres, incluindo aquele da restaurao da vista. Assim, o grupinho, tendo Jesus por lder, avana para Jerusalm e para a cruz.

    (3) Seu Clmax ou Culminao. Os eventos narrados por todos so encontrados em Mc 11-16; Mt 21-28; e Lc 19.29- 24.53. Essas extensas sees descrevem os acontecimentos que transpiraram durante a semana da paixo, seguidos pela ressurreio. Lucas acrescenta o relato da ascenso. Quase a quinta parte do Evangelho de Lucas dedicada ao tema dos amargos sofrimentos do Salvador, desde o Getsmani ao Glgota,7 e aos eventos que imediatamente os precedem. Em Marcos e Mateus, a proporo ainda maior; cerca de um tero de cada um desses7 O nome "Getsmani ocorre somente em Mc 14.32 e Mt 26.36, no em Lucas.

    Semelhantemente. "Glgota" encontrado somente em Mc 15.22 e Mt 27.33.

    20

  • Evangelhos tem a ver com esses acontecimentos. Alm disso, o que certo com respeito aos Sinticos no menos vlido para Joo. Os quatro so Evangelhos da paixo com uma extensa introduo.8 verdade, sem dvida, que Jesus de seu trono nas alturas veio a este mundo para morrer, Por conseguinte, em oposio aos pontos de vista diversos e errneos, nunca ser demais pr nfase sobre o fato de que aqui no estamos tratando com Vidas de Cristo, e, sim, com Evangelhos, livros que contm as boas novas de salvao para os homens perdidos no pecado e na desgraa.

    E especialmente nesses captulos finais que os trs se desenvolvem num paralelismo surpreendente. Os trs registram os seguintes eventos: a entrada triunfal de Jesus em Jerusalm, como Prncipe da paz. As multides, com suas mentes dominadas por antegozos de glrias terrenas, lhe do boas-vindas com desenfreado entusiasmo. Chegado ao templo, notando que seu grande trio exterior havia se transformado em mercado, num antro de mafiosos, Jesus o purifica. Quando sua autoridade desafiada, mui apropriadamente ele inquire de seus crticos se o batismo de Joo o batismo praticado por esse mesmo Joo que tinha dado testemunho daquele que justamente agora est expulsando os mercadores era divino ou era simplesmente humano em sua origem. Para maior clareza, ele acrescenta a parbola dos lavradores maus. Ele responde s perguntas capciosas de seus oponentes, e por meio de uma pergunta que lhes dirige subentende claramente que o Filho de Davi nada menos que o Senhor de Davi.

    Num discurso pblico breve em Marcos e Lucas, mas de grande extenso em Mateus ele adverte as multides contra os escribas e fariseus, condenando-lhes a hipocrisia. Isso seguido pelo seu discurso acerca da queda de Jerusalm e do fim do mundo.

    Os lderes tramam sua morte. Por uma soma de dinheiro, Judas concorda em entreg-lo em suas mos. Jesus ento envia* M. Khler, Der sogenannte historische Jesus und de Geschichtliche, biblische

    Chrislus, Munique, 1956. p 591.

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    21

  • MATEUSdiscpulos segundo Marcos, dois"; segundo Lucas, Pedro e Joo a fazer os preparativos para a Pscoa. Durante a ceia pascal o traidor desmascarado. O Mestre prediz que ele ser abandonado por todos os discpulos, inclusive Pedro. Apesar dos veementes protestos deste, Jesus mantm sua predio. A instituio da Ceia do Senhor seguida pelas agonias no Getsmani. Com um beijo, Judas trai a Jesus. Este deixa-se agarrar. Ele levado casa do sumo sacerdote, onde maltratado e vilipendiado. Segue-se a narrativa das trs vezes que Pedro negou Jesus. De manh muito cedo o Sindrio condena Jesus. Este levado perante Pilatos, o governador romano, que o interroga a respeito de seu reino. Ante a chance de uma escolha, a multido pede o livramento de Barrabs, um perigoso criminoso, de preferncia a Jesus; e, instigada pelos principais sacerdotes e ancios, exige que Jesus seja crucificado. Pilatos, enfim, cede. De caminho para o local de execuo, Simo de Cirene compelido a carregar a cruz de Cristo. Em todos os trs Evangelhos algo dito sobre a inscrio (no cimo da cruz), as zombarias que Jesus suportou e as trs horas de trevas. Com um forte clamor, Jesus morre. O vu do templo partido. O centurio d seu testemunho. As mulheres que haviam seguido a Jesus desde a Galilia observam todas essas coisas e em seguida mantm viglia diante do sepulcro. Este era um sepulcro novo, e pertencia a Jos de Arimatia, um dos seguidores de Cristo, que obtivera permisso de Pilatos para remover o corpo de Jesus da cruz e sepult-lo.

    Na manh do primeiro dia da semana, as mulheres, chegando muito cedo, notam que a pedra do sepulcro fora removida. De um mensageiro celestial ou: de mensageiros celestiais (dois homens com vestes resplandecentes Lucas) receberam a assombrosa notcia: Ele ressuscitou.

    b. Nas palavras gregas idnticas, ou quase idnticas empregadas nos relatos paralelos.

    E surpreendente como, com quanta freqncia, no apenas o pensamento contido, porm ainda as prprias palavras empre

    22

  • gadas no original e refletidas na traduo so as mesmas, ou quase as mesmas, nos trs relatos. Quem quiser poder ver isso por si prprio justapondo os trs trechos em que a histria da purificao de um leproso narrada (Mc 1.40-44; Mt 8.2-4; e Lc 5.12-14); ou as passagens paralelas em que Jesus defende seus discpulos por festejarem, em vez de jejuarem (Mc 2.18- 22; Mt 9.14-17; e lc 5.33-39); ou o triplo relato da alimentao dos cinco mil (ver especialmente Mc 6.35-37; Mt 6 14.15, 16; e Lc 12,13; tam bm Mc 6.41-43; Mt 14 .19b,20; e Lc 9.16,17). Estes so apenas uns poucos dos exemplos que podem ser apresentados.9

    c. Na ordem dos eventos conforme so registrados nesses trs Evangelhos

    Essa semelhana na seqncia j est implcita no sumrio do contedo dos trs, como demonstrado supra, em 1 .a, (1), (2), (3). Demonstrou-se que, num sentido muito geral, a seqncia a mesma em todos os trs Evangelhos. Por exemplo, isso evidente a qualquer um que queira comparar a ordem em Mateus e em Marcos e notar que, com respeito ao primeiro, deve-se levar em conta seu mtodo temtico e os seis discursos. Ver pp. 42- 50. especialmente com respeito ao Evangelho de Lucas, contudo, que alguns vem uma dificuldade.10 Certo autor que fez um estudo do problema sintico diz: Em Lucas, como qualquer um que estudou sabe, distintamente mais difcil que nos outros evangelhos lembrar o arranjo e ordem dos eventos e se-

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    9 B. H. Streeter, The Four Gospel, pp. 160,161, diz que uma proporo de palavras que varia entre 30% e 60% das palavras em Marcos tambm encontrada em Mateus e Lucas, enquanto muitas das palavras restantes de Marcos so comuns em Marcos e Mateus e Lucas. De Solages. em sua gigantesca obra. A Greek Synopsis o f the Gospels (1.129 pginas!), Leiden, 1959, fornece listas detalhadas e muitos diagramas e tbuas. Ver tambm W. G. Rushbreah, Svnopticon, e A. Huch, Synopsis o f the First Tree Gospels.Todavia, contraste-se com a observao de E. J. Goodspeed. que chama Lucas de a delcia do harmonista, porm chama Mateus de seu desespero, Matthew Apostle and Evangelist, Fidadlfia e Toronto, 1959, p. 116. (Daqui em diante quando o nome deste autor for citado seguido de op. cit.. a referncia a este livro.)

    23

  • MATEUSes.11 Ora. verdade que para muitos certamente difcil guardar e especialmente reter na memria a ordem exata em que seguem nesse evangelho, o mais extenso dos quatro,12 os diversos eventos do relato dos primeiros tempos de nosso Senhor e seus muitos ditos. O que torna tudo mais difcil a circunstncia de que duas vezes neste Evangelho, num caso ao longo de dois captulos, e noutro por mais de oito, ele (Lucas) se afasta de suas fontes, e ento, com igual clareza e de forma igualmente despercebida, volta novamente ao seu fio derivado de Marcos.11 Por ltimo, porm no menos importante, a ordem dos eventos e o arranjo dos ditos na seo mdia de Lucas to livre, que freqentemente se torna difcil determinar exatamente quando ou onde esse incidente particular ocorreu ou foi pronunciado aquele orculo especfico.

    Contudo, embora tudo isso seja facilmente admitido, ainda possvel perceber um notvel grau de semelhana na ordem dos eventos como registrados por Marcos e por Lucas. Virtualmente, tudo o que o estudante tem a fazer a. memorizar a ordem geral dos grandes eventos em Marcos; b. levar em conta que o captulo 7 e os captulos 10a 17 de Lucas contm pouco material de Marcos; e c. concentrar-se nos nmeros 3 e 8. Com certas modificaes, que sero mencionadas em momento oportuno, algum pode ento dizer que para encontrar no Evangelho de Lucas um tema tratado em Marcos preciso adicionar 3 ao nmero do captulo nos primeiros captulos de Marcos, e 8 nos posteriores. No se pretende dizer que tudo o que ocorre no Evangelho de Marcos duplicado em Lucas, nem significa que quando os nmeros 3 e 8 so usados, o captulo exato sempre e imediatamente encontrado. s vezes preciso avanar um pouco para o captulo seguinte. Porm, continua sendo verdadeiro que pouco mais de 1/3 do que se encontra em Marcos 1 tambm11 J. I I. Ropes. The Synoptic Gospels, Cambridge. 1960. p. 72.IJ Embora Mateus tenha 28 captulos e Lucas apenas 24, na Bblia Edio Revista e

    Atualizada no Brasil, Mateus abrange 38 pginas e Lucas 4 1. Alm do mais, como se observou anteriormente, Mateus tem 1.068 versculos c Lucas 1.149. Todavia, aqui se deve dar espao ao lato de que a deciso de algum a respeito das diversas variantes poderia alterar bem de leve as cifras.

    n Na p. 73. Ropes se refere indubitavelmente a Lc 6.17 8.3 e 9.51 18.14.

    24

  • INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    aparece em Lucas 4 (1+3=4); cerca de 3/4 de Marcos 2 refletido em Lucas 5 (2+3=5). Teremos agora, uns poucos exemplos onde se adiciona 8 em vez de 3: mais da metade de Marcos 10 reproduzido em Lucas 18 (10+8=18); cerca de 2/3 de Marcos11 tem seu eco em Lucas 19 (11+8=19); etc.

    A similaridade na ordem dos eventos, mesmo entre Marcos e Lucas pode, ento, ser ilustrada como segue:14

    Paralelo entre Marcos e LucasSabendo que um

    tema tratado em

    MARCOS captulo

    1

    o tema adicione

    Jesus vence o tentador. 3Ele realiza milagres em Cafar-naum: cura um endemoninhado, asogra de Simo e muitos outros aoentardecer. Ele parte para um lugar deserto. Todos o buscam. Prega nas sinagogas da Galilia.

    e encontre seu parale

    lo em

    LUCAScaptulo

    4

    N Naturalmente, a coluna 2 no deve ser considerada como um esboo completo doEvangelho de Marcos. Alguns temas foram propositalmente omitidos porque no se lhe aplica a regra (Marcos + 3 "ou Marcos + 8), visto que tm paralelo em outros lugares no Evangelho de Lucas, ou este os omite. No primeiro caso, o paralelo s vezes ocorre muito perto do captulo cuja indicao numrica a soma do captulo de Marcos + 3 ou + 8; por exemplo, Mc 4.1 -20 no tem paralelo em Lc 7, segundo a regra 4 + 3 = 7, seno em Lc 8.4-15; Mc 11.27-33 no tm o paralelo em Lc 19(11+8=19), seno Lc 20.1-8. Portanto, claro que se a diviso de nossas Bblias em captulos tivesse sido mais coerente, seria mais fcil orientar-se em Lucas, uma vez conhecido Marcos, e seria ainda mais clara a semelhana em material e ordem do contedo em toda a sua extenso. Porm, quem disputar o fato de que como um todo Stephen Langton, a quem geralmente se atribui a diviso em captulos, fez uma tarefa excelente e til? Quem estaria disposto a criticar com severidade este homem ocupadssimo, este campeo da lei e da ordem, valente defensor da Carta Magna? Alm disso, mesmo como est, espero que a tbua se preste a dois servios teis: a. que cumpra o propsito primrio de demonstrar que os Sinticos neste caso Marcos e Lucas so deveras muito semelhantes ao registrar a ordem geral dos acontecimentos; e b. que ajude o leitor a descobrir o seu caminho nos evangelhos.

    25

  • MATEUSSabendo que um tema

    tratado em M ARCOS

    captulo 2

    o tema adicione

    Ele cura um para l t ico , cham a 3Levi (Mateus), e criticado porassociar-se com publicanos. Responde a uma pergunta sobre o j e jum.Ele cura um homem que tem uma 3mo mirrada e escolhe os Doze.

    Conta a parbola do Sem eador e 4acalma uma tempestade.Cura o endem oninhado gerase- 3no , ressuscita a filha de Jairo ecura a mulher que sofria de hemorragia.

    e encontre seu

    paralelo em

    LUCAS captulo

    5

    ( N o h material de M arcos em Lucas 7 ! ) 15

    8

    8

    15 No terceiro Evangelho, depois de 6.12-16 (a designao dos Doze: cf. Mc 3.13- 19). Lucas deixa por um momento de ser paralelo a Marcos. Neste ponto, o material que no aparece em Marcos se estende desde Lc 6.17-8.3 (ou, como alguns o vem, desde Lc 6.20 8.3). Lucas introduz o que popularmente conhecido como "O Sermo do Monte (6.17-19; cf. Ml 5.1,2). Contudo, compare-se Mt 5.1 ("o monte") com Lc 6 .17 (planura). Ele apresenta sua viso das Beatitudes (6.20-26; cf. Mt 5.3-12) e das sees cujos temas centrais so Amai vossos inimigos (6.27- 36; cf. Mt 5.43-48); no julgueis (6.37-42; cf. Mt 7.1-6); a rvore conhecida por seus frutos (6.43-49; cf. Mt 7.13-29). Lc 7.1-10 contm o relato desse evangelista acerca da cura do servo do centurio (cf. Mt 8.5-13); 7.11-17. o da ressurreio do filho da viva; 7.18-35, o da pergunta de Joo Batista e a resposta de Cristo (cf. Mt 11.2-19); 7.36-50. o da uno dos ps de Cristo praticada por uma mulher pecadora; e 8.1-3, o das andanas de Jesus, os Doze e algumas mulheres, "pelas cidades e vilas. Em 8.4ss (a parbola do semeador), o paralelo entre Lucas e Marcos resumido uma vez mais. De fato. esta histria terrena com significao celestial encontrada nos trs (cf. M c 4 .ls s e M t 13.1 ss).

    26

  • INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    Sabendo o tema adicioneque umtema

    tratado emM ARCOS

    captulo6 Envia os Doze numa m isso de

    pregar e curar. A perplexidade de Herodes. O s Doze regressam de sua misso. A alimentao dos cinco mil.

    3

    10 Jesus recebe as criancinhas. Histria do jo v em rico e sua aplicao. Jesus prediz o que lhe suceder em Jerusalm e d vista a um cego.

    8

    11 Jesus entra tr iunfalmente em Jerusalm e purifica o templo. Os lderes tentam destru-lo.

    8

    12 Ele conta a parbola dos Lavradores M aus (ou: A vinha ), responde a perguntas capc iosas e, por meio de uma contrapergunta, afirma que o Filho de Davi nada menos que o Senhor de Davi.

    8

    13 Sinais do fim da exortao vigilncia.

    8

    e encontre seu

    paralelo em

    LUCAScaptulo

    gi6

    19'

    20

    21

    No Evangelho dc Lucas o que segue 9 .18 (cf. Mc 6.43; e para Mc 6.44, vcja-se Lc 9.14) no paralelo de Mc 6.4ss, mas salta" para o tema discutido em Mc 8.27ss: Quem dizem os homens que eu sou?, etc. No nono captulo, tanto de Marcos como de Lucas, so tratados temas tais como: a transfigurao de Cristo, a cura do menino epilptico, quem o maior- e o exorcista desconhecido. Em Lc 9.51, a seo peculiar a Lucas comea e se estende at 18.14. Assim no so relatadas as histrias que se encontram em Mc 6.45 8.26: Jesus anda sobre o mar; responde uma pergunta concernente ao no lavar as mos; cura a filha de uma mulher siro- fencia; cura um surdo-mudo; responde ao pedido dos fariseus por um sinal do cu; e cura um cego em Betsaida. Isso facilmente lembrado: Marcos 7 no tem paralelo em Lucas, nem Lucas 7 tem paralelo em Marcos.

    Mais da metade de Lucas 19 material que no se encontra em Marcos (a histria de Zaqueu e a parbola das minas).

    27

  • MATEUSSabendo que um tema

    tratado em M ARCOS

    captulo 14

    15

    16

    o tema adicione

    Ao aproximar-se a Pscoa, os l 8deres planejam a morte de Cristo.Preparaes so feitas visando Pscoa. Instituio da C eia doSenhor . Predio da traio e negao. 0 pequeno grupo parte parao M on te das O liv e ira s ( is to ,Getsmani). A traio, priso e ojulgamento diante do conselho ju daico e a negao de Pedro.Julgam ento diante de Pilatos. 0 8povo pede que se liberte Barrabsem detrimento de Jesus. Pede queJesus seja crucificado. Simo deCirene. Cenas do Calvrio: a inscrio, as zombarias, as trs horasde trevas, o alto clamor, a morte, ovu do templo se rasga, o testemunho do centurio, o interesse demonstrado pelas mulheres e a parte que toma Jos de Arimatia naretirada do corpo da cruz e emcoloc-lo em seu prprio sepulcro.As mulheres observam que a pe 8dra do tmulo fora retirada. Explicao: Ele ressuscitou .

    e encontre seu

    paralelo em

    LUCAS captulo

    22

    23

    2 4 '

    A semelhana que caracteriza os sinticos tem sido assim estabelecida. Alm disso, dessa forma tem-se tornado um pou-

    IH I-c 24.9-53 (a entrevista de Jesus com Clopas e seu companheiro, a apario em Jerusalm e a ascenso) contm muito pouco material que tenha um paralelo nos demais Sinticos.

    28

  • co mais fcil orientar-se no estudo desses trs evangelhos. No tocante a Marcos, isso se evidencia imediatamente. Quanto a Lucas, o fato de que os captulos 1 e 2 contm as narrativas da natividade, e o captulo 3 a histria acerca de Joo Batista, acrescida da genealogia de Jesus, j bem conhecido. A memorizao dos temas das parbolas de Lucas (ver p. 38), acrescida de uma leitura freqente de Lucas 9.51-18.14 facilitar o domnio do contedo da seo intermediria desse Evangelho. Para completar o Evangelho, adicione-se a informao dada no esquema acima. Quanto a Mateus, ver pp. 40-48.

    2. Sua Diferena

    a. Em contedo ou temaNo tocante s parbolas, veja-se abaixo, sob o ponto (7), pp. 36-39.

    Ainda que, como j ficou demonstrado, num sentido geral o contedo seja o mesmo para os trs evangelhos, contudo certas histrias e ditos so encontrados somente em Mateus, alguns somente em Marcos, alguns somente em Lucas, alguns somente em Mateus e Marcos, alguns somente em Marcos e Lucas e, por fim, mas no menos importante, alguns em Mateus e Lucas, exaurindo assim todas as possibilidades.

    (1) Somente em Mateus. As passagens e narrativas que so peculiares a Mateus so: a linhagem genealgica (ou seja, aquela registrada em 1.1-17; cf. Lc 3.23-38); o nascimento de Jesus, como Mateus a narra, e a visita dos magos (1.18-2.23); a relutncia de Joo Batista em batizar Jesus (3.14,15); o estabelecimento de Jesus em Cafarnaum em cumprimento da profecia (4.13-16); seus ensinamentos e curas na Galilia (4.23-25 em parte); o Sermo do Monte (5.1 -8.1), at onde no tem paralelo em Lucas e, em muito menor extenso, em Marcos; a citao de Isaas 53.4 (8.17); a cura de dois cegos e de um endemoninhado (9.27-34; o envio dos Doze (9.35-10.42), na medida em que as frases no so refletidas em Marcos e Lucas; a referncia a Joo Batista como Elias (11.14); o prefcio aos ais sobre as cidades impenitentes (11.20); o convite vinde a mim (11.27-30;

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    29

  • MATEUSporm, ver tambm Lc 10.22); misericrdia quero, e no sacrifcio (12.5-7); a deduo de que as obras de misericrdia so permitidas no sbado (12.11,12; ver, todavia, Lc 14.5); um milagre que leva exclamao: Seria este o Filho de Davi? (12.22,23 em parte); de seus tesouros tiram-se coisas novas e velhas (13.51-53); a conduta de Pedro durante uma tempestade (14.28-31); Toda planta que meu Pai celestial no plantou ser arrancada (15.12,13); Mandai-a embora... senhor, ajuda- me! (15.23-25); a cura de grandes multides (15.30,31); Vocs no podem discernir os sinais dos tempos! (16.2,3); o fermento dos... saduceus (16.11,12); Bem-aventurado s, Simo Bar- Jonas (16.17-19); Isto jamais te acontecer (16.22); o medo dos discpulos com relao transfigurao de Cristo (17.6,7); a descoberta por eles de que Elias Joo Batista (17.13); o imposto do templo (17.24-27); Jesus e a atitude para com os pequeninos (18.3,4,10,14); exortao a perdoar um irmo em falta, inclusive regras de disciplina (18.15-20); observaes com respeito a eunucos (19.10-12); uma citao de Zc 9.9 em conexo com a entrada triunfal em Jerusalm (21.4,5); Este Jesus o profeta (21.10,11); os louvores das crianas (21.14-16); o reino de Deus ser tirado de vocs (21.43); o ltimo discurso de Cristo no templo, em parte (cap. 23); certas passagens de seu discurso sobre as ltimas coisas (cap. 24); todo aquele que tomar da espada perecer pela espada (26.52-54; cf. Jo 18.11); o remorso e o suicdio de Judas, o traidor (27.3-10; cf. At 1.18,19); o sonho e a mensagem da esposa de Pilatos (27.19); a auto- vindicao de Pilatos, inclusive a responsabilidade do povo pela morte de Jesus (27.24,25); os inimigos citam o Salmo 22.8 no intencionalmente (27.43); vrios milagres do Calvrio (27.51 - 53); aparecimento de Cristo s mulheres (28.9,10); estabelece- se a guarda, os soldados fogem e so subornados (27.62,63; 28.2- 4, 11-15); e, finalmente, a partida dos discpulos para a Galilia, onde Jesus os encontra (28.16-18,20).

    (2) Somente em Marcos. Veja-se acima, p. 15.(3) Somente em Lucas. O terceiro Evangelho, em sua se

    o inicial, contm os seguintes e importantes relatos distinti

    30

  • vos: o prembulo (1.1 -4); o nascimento de Joo Batista e de Jesus, e a infncia deste (1.5-2.52); a nota cronolgica com respeito ao ministrio de Joo Batista (3.1,2); perguntas de vrios grupos (que devemos fazer?) e sua resposta (3.10-14); uma genealogia do Messias (3.23-38); o regresso de Jesus Galilia (4.14,15; porm, ver Mc 1.14,15; Mt 4.17); uma pesca miraculosa, em sua maior parte peculiar a Lucas (5.1-11); os ditos de Cristo concernentes aos ricos, aos famosos e aos que emprestam (6.24-26,34); a ressurreio do filho da viva de Naim (7.11- 17); a atitude para com Jesus por parte daqueles batizados por Joo e da daqueles batizados por Ele (7.29,30); a uno dos ps de Jesus por uma mulher pecadora no lar de Simo, o fariseu (7.36-39); os que acompanhavam a Jesus (8.1-3); e a sonolncia dos discpulos que estavam com Jesus no monte da transfigurao (9.31,32).

    A seo central deste Evangelho rica em parbolas; ver item (7), pp. 36-39. Alm disso, esta seo tem os seguintes relatos e ditos exclusivos: um exemplo da falta de hospitalidade dos samaritanos (9.51 -56); qualquer um que olha para trs no apto para o reino (9.61,62); a misso dos setenta (10.1-24), na medida em que suas frases no tm paralelo noutro evangelho; Jesus recebido em casa de Marta e Maria (10.38-42); Bem- aventurado Bem-aventurados so os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam (11.27,28); fariseus e escribas censurados na casa de um fariseu (11.37-54; porm, cf. Mc 7.1 ss., e vrias passagens em Mt 23); no temam, pequenino rebanho (12.32,33; porm, vejam-se tambm Mt6.20; 19.21; Mc 10.21); Jesus, causador de divises (12.49-53; porm, cf. Mt 10.34-36); repreenso contra os que interpretam o aspecto do cu e no podem interpretar os sinais dos tempos em que vivem (12.54- 59; cf. Mt 16.1-3); curas no sbado (13.11-17; 14.1-6); Senhor, so poucos os que se salvam ? (13.22,23); advertncia concernente porta, que uma vez fechada no se voltar a abrir (13.25-27; cf. Mt 25.11,12); denncia de aquela raposa, Herodes Agripa (13.31-33); os escarnecedores repreendidos

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    31

  • MATEUS(16.14,15), a cura de dez leprosos, s um deles voltou para agradecer (17.11 -19); e a resposta de Cristo pergunta: quando o reino de Deus vir? (17.20-22, 28, 29, 32, 34). Boa parte de 17.20-37 tem paralelo em Mt 24.

    O que vem em seguida relatado exclusivamente ou, em alguns casos, quase exclusivamente por Lucas na seo final de seu Evangelho: o chamamento de Zaqueu (19.1-10); a solicitao dos fariseus para que Jesus repreendesse seus discpulos e sua resposta (19.39,40); o pranto de Jesus sobre Jerusalm e a predio de sua destruio (19.41-44); diversas passagens de seu discurso sobre as ltimas coisas (21.19,22,24,26, 28,34-38). Boa parte do captulo 21 , no obstante, refletida alhures, especialmente em Mc 13 e Mt 24. As palavras pronunciadas Mesa do Senhor e registradas exclusivamente (ou quase exclusivamente) pelo terceiro evangelista se encontram em22.15-18 (porm, ver Mt 26.29); 22.28-32 e 35-38. O relato distintivo das experincias de Cristo no jardim se encontra em 22.43, 44, 48, 49, 51 e 53. O olhar que despertou a memria de Pedro e lhe comoveu o corao se encontra em 22.61. Quanto verso de Lucas sobre a confisso de Cristo diante do Conselho, ver 22.68,70. De manh Jesus foi levado primeiro a Pilatos, em seguida a Herodes (23.2,4-12). Foi levado de volta a Pilatos (23.13- 19; veja-se tambm Mc 15.6-9). Outros relatos que so principalmente de Lucas no captulo 23 se referem a: a admoestao de Cristo dirigida a as filhas de Jerusalm (vv.27-36; cf. Mc 15.22,24; Mt 27.33-35); o ladro impenitente e o penitente (vv.39-41); a orao deste e a resposta de Cristo (vv.42,43); a stima palavra da cruz (v.46); e as multides que voltam para casa batendo no peito (v.48). H tambm uma descrio de Jos de Arimatia (v.51); um relato sobre seu ato de bondade (v.53; porm, ver Mc 15.46; Mt 27.59,60); uma nota que especifica o dia exato da semana em que Jesus foi descido da cruz e posto no sepulcro de Jos (v.54); e uma referncia s mulheres que preparam especiarias aromticas e perfumes (v.56). O captulo final de Lucas tem o seguinte contedo peculiar quele Evange

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  • lho entre os Sinticos: o efeito que a mensagem das mulheres sobre a ressurreio causa nos apstolos (vv. 10 e 11); a visita que Pedro faz ao sepulcro (v. 12; cf. Jo 20.2-10); a conversao do Ressuscitado com Clopas e seu companheiro (24.13-25; cf., porm, Mc 16.12,13); a oposio aos discpulos no domingo de manh (24.36-49; porm, cf. Mc 16.14; Jo 20.19-25); e a ascenso (24.50-53; cf., porm, Mc 16.19 e At 1.9-12).

    (4) Somente em Mateus e Marcos. Antes de tudo, h a referncia ao auditrio, alimentao e s vestimentas de Joo Batista (Mc 1.5,6; Mt 3.4,5). De acordo com Mc 3.7-12 e Mt 12.15- 21, Jesus cura um nmero grande de pessoas, porm probe publicidade. Este pargrafo tambm est em sua maior parte limitado a Mateus e Marcos; ver, contudo, Lc 4.41. Todavia, o detalhado relato de Marcos parece estar simplesmente resumido em Mt 12.15,16. Por outro lado, Mateus (vv. 17-21) adiciona a profecia que se acha em Is 12.1-4, adio esta que pode, tambm, ser apensa ao item (1) acima. Em seguida, h uma referncia a muitas parbolas de Cristo (Mc 4.33,34; Mt 13.34). Uma narrativa bem conhecida que fica bem neste ttulo somente em Mateus e Marcos aquela que relata a mpia festa de aniversrio de Herodes e, em conexo com isso, a macabra morte de Joo Batista por decapitao (Mc 6.17-29; mais breve em Mt 14.3-12).

    J se chamou nossa ateno para o fato de que Mc 6.45- 8.26 a grande omisso de Lucas (ver p. 26). Com exceo de dois milagres de cura gradual (Mc 7.32-37 e 8.22-26; para o qual ver p. 16), todo esse material pertence tambm ao paralelo Mateus e Marcos. Inicia-se com a vvida e consoladora histria de Jesus caminhando sobre o mar (Mc 6.45-56; Mt 14.22-36). porm, nem tudo isso tem paralelo; por exemplo, Mt 14.28-31 pertence matria contida no item (1). Ento vem o ensinamento de Cristo concernente impureza cerimonial (Mc 7.1-23; Mt 15.1-20); a cura da filha de uma mulher siro-fencia (Mc 7.24-31; Mt 15.21-29); a alimentao dos cinco mil (Mc 8.1-9; Mt 15.30-38); o pedido de um sinal (Mc 8.10-12; Mt 15.39-

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

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  • MATEUS16.4); e a advertncia contra o fermento dos fariseus (Mc 8.13- 21; Mt 16.5-12).

    digno de dvida se este titulo19 deve abranger Mc 9.28,29 (cf. Mt 17.19). porm verdade que a pergunta dos discpulos Por que no pudemos ns expuls-lo? (Mc 9.28) reproduzida em Mt 17.19. Em conexo com a predio de Cristo de que o Filho do homem ressuscitaria, os discpulos fazem a Jesus uma pergunta referente a Elias (Mc 9.10-13; Mt 17.10- 13). O ensino de Jesus com respeito ao divrcio e a segundas npcias tambm quase completamente reservado a Marcos (10.1-12) e Mateus (19.1-12); contudo, veja-se Lc 16.18. Ento vem o pedido dos filhos de Zebedeu (Mc 10.35-45; cf. Mt 20.20- 28; porm, veja-se tambm Lc 9.48 e 22.25); e a maldio sobre a figueira infrutfera (Mc 11.12-14.20-25; cf. Mt 21.18-22; porm, veja-se Lc 11.9; 17.6). Embora seja verdade que o discurso escatolgico de Cristo encontra-se nos trs, essa declarao deve ser restringida; por exemplo, a predio concernente aos falsos cristos e aos falsos profetas confinada aos primeiros dois Evangelhos (Mc 13.21-23; Mt 24.23-25); o mesmo sucede com o fato de que no se poder predizer o dia da segunda vinda de Cristo (Mc 13.32; Mt 24.36).

    Buscar-se- debalde no Evangelho de Lucas a uno ocorrida em Betnia. No se pode encontr-la em Lc 7.36ss., ainda que muitos paream pensar que ela a esteja. No que respeita aos sinticos, a histria aparece somente em Mc 14.3-9 e Mt 26.6-13. Fora dos Sinticos ela ocorre tambm em Jo 12.1-8. A partida para o Monte das Oliveiras, juntamente com uma importante predio, encontra-se tambm somente em Mc 14.26- 28; Mt 26.30-32.20 O julgamento no palcio do sumo sacerdote, imediatamente depois da priso, est extensamente confinado aos dois primeiros Evangelhos (Mc 14.55-65; Mt 26.59-66), embora Lucas, tanto quanto os outros, relate os maus tratos que

    lv Como o faz B. II. Streelcr. op. cil.. p. 196; porm, na pgina precedente inclui Mc9.29 na lista de passagens de Marcos que "faltam em Mateus e Marcos".Presume-se aqui que Lc 22.39 tenha seu prprio paralelo em Mc 14.32 e Mt 26.36.

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  • Jesus recebeu ali. Sobre o tema do silncio de Cristo perante Pilatos (Mc 15.2-5; Mt 27.11-14), Lucas mantm silncio! A escolha que o povo faz de Barrabs, em preferncia a Jesus, embora relatada nos trs evangelhos, encontra-se com mais detalhes nos dois primeiros (Mc 15.6-11; Mt 27.15-21) do que em Lucas. Dois outros importantes detalhes da histria da crucificao esto confinados a Marcos e Mateus, ou seja, a coroa de espinhos (Mc 15.17-20; Mt 27.29-31) e o grito de agonia de Cristo (Mc 15.34-36; Mc 27.46-49). Finalmente, excetuando Lc 24.47, a Grande Comisso est confinada aos dois primeiros Evangelhos. Embora essencialmente a mesma, as duas declaraes diferem em certos detalhes (Mc 16.15,16; Mt 28.19-21).

    (5) Somente em Marcos e Lucas. Os 24 versculos de Marcos que tm paralelo somente em Lucas so os seguintes: a expulso de um demnio em Cafarnaum (Mc 1.23-28; Lc 4.33- 37); o propsito de Cristo ao pregar (Mc 1.35-38; Lc 4.42,43); as lmpadas devem iluminar, e os ouvidos devem ouvir (Mc 4.21-24; Lc 8.16-18); o regresso dos Doze (Mc 6.30; Lc 9.10); o exorcista desconhecido (Mc 9.38-41; Lc 9.45,50); as casas das vivas e as duas moedas da viva pobre (Mc 12.40-44; Lc 20.47; 21.1-4).

    (6) Somente em Mateus e Lucas. A estimativa que h cerca de duzentos versculos comuns a ambos. Em seguida damos uns poucos exemplos:

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    MATEUS LUCAS TEM A3.7-10,12 3.7-9,17 Exemplo da pregao de Joo Batista4.1-11 4.1-13 A histria das tentaes de Cristo5.3,4,6,11,12 6.20-23 Algumas das bem-aventuranas5.18 6.17 Acerca da lei5.39-48 (em 6.27-36 Amai a vossos inimigos,sua maior parte) (maior parte) porque tambm Deus bom para com

    os maus.6.9-13 11.2-4 A Orao do Senhor6.19-21.25-33 12.22-34 No estejais ansiosos7.7-11 11.9-13 Exortao orao8.5-13 7.1-10 Histria da f do centurio

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  • MATEUSMATEUS 8.19-22 9.37,3810.26-3311.2-11,16-19

    LAJCAS9.57-6010.212.2-97.18-20,

    TEM AImplicaes do d iscipulado Exortao a orar por obreiros Vocs valem mais que muitos pardais" Histria da dvida de Joo Batista, e o

    22-28,31 -35 testemunho de Cristo acerca deste

    No tocante paixo e ressurreio no h narrativas paralelas que sejam peculiares a Mateus e Lucas.

    (7) Parbolas. As parbolas de nosso Senhor tm sido classificadas de diversas maneiras. Tambm, elas tm sido contadas de formas diferentes. Em parte se deve ao fato de que As Bodas do Filho do Rei (Mt 22.1-14) e A Grande Ceia (Lc14.15-24) so consideradas por alguns como variantes do que foi originalmente a mesma parbola. O texto mais antigo dessa parbola, segundo a teoria, encontra-se em Lucas. De acordo com esse ponto de vista, a reviso dela por Mateus pressupe a destruio da cidade de Jerusalm (70 d.C.).21 De forma semelhante, a Parbola das Minas (Lc 19.11-27) considerada por alguns como uma variante da Parbola dos Talentos (Mt 25.14-30).-

    21 Ver G. D. Kilpatrick, The Origins o f the Gospel according to St. Mathew , Oxford, 1946. p. 6. Algo semelhante o ponto de vista de G. Bomkamen, Jesus von Nazareth, Stuttgart, 1956, pp. 18ss, e de C. H. Dodd, The Parables o f the Kingdom , Londres, 1935. p. 121. R. V. G. Tasker, The Gospel according to St. Mathew (Tyndalc New Testament Commentaries), pp. 206 e 207. se une a eles em considerar essa teoria como uma possibilidade. Ainda que ele mesmo considere mais provvel a teoria das duas parbolas, ele v Mt 22.5.6 como uma adio marginal ou glosa incorporada ao texto depois da queda de Jerusalm.

    22 De lato. S. MacLean Gilmour produziu um relato que. assim diz ele. "foi bsico para ambas as vises". The Gospel according to St. Luke ( The Interpreters Bible). Nova York e Nashville. 1952. Vol. VIII. p. 327. Esse ponto de vista, de uma forma ou de outra, compartilhado por muitos outros, entre os quais se encontram Jlicher- Fascher. Weiss. H. Holzmann. Bultmann e Klostermann.A. Plummer, ao contrrio, observa: * provvel que esta [a parbola das minas] seja distinta da parbola dos talentos... mais provvel que Jesus tenha pronunciado semelhantes parbolas cm diferentes ocasies e no que Mateus ou Lucas tenham feito graves confuses quanto ao- detalhes da parbola assim como com respeito ao tempo e lugar em que foram pronunciadas". The Gospel according to St Luke (International Critical Commentary). Nova York, 1910, p. 437.

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  • Em ambos esses casos, contudo, as diferenas sobrepujam as semelhanas a uma extenso tal que pareceria no haver justificativa para considerar como uma .v as que o texto apresenta como duas.

    Quanto a Mt 22.1-14 e Lc 14.15-24, nos achamos sobre terreno firme ao desistirmos de todo esforo de reconstruir, e em ambos os casos aceitamos o texto grego apresentado nas melhores edies do Novo Testamento Grego. Quando fazemos assim, notamos que h, sem dvida, uma considervel rea de semelhana entre as duas parbolas. Em ambos os casos um banquete preparado, pessoas so convidadas, as quais menosprezam o convite, e ento os desvalidos so convidados, en- chendo-se assim a casa de hspedes. Porm, as diferenas no so ainda mais notveis? A parbola das Bodas ou Festa das Bodas do Filho do Rei (Mt 22.1-14) consiste de trs partes distintas (ver comentrio sobre essa passagem), das quais a ltima falta completamente na parbola da Grande Ceia. Na primeira dessas duas parbolas conta-se-nos de um rei que prepara uma festa para o casamento de seu filho; na segunda, sobre um homem que preparou uma grande ceia. Na primeira, os convidados simplesmente no fizeram caso do convite; na segunda, apresentaram excusas. Na primeira, alguns dos convidados maltrataram e at mesmo mataram os servos que lhes foram enviados com o convite; esse detalhe est completamente ausente da segunda. Assim tambm, naturalmente, na parbola de Lucas nada h que corresponda destruio dos assassinos e de sua cidade, uma ao mencionada na parbola em Mateus. Alm disso, o cenrio histrico de ambas as parbolas difere amplamente. Jesus contou a parbola da Grande Ceia quando Ele mesmo se achava reclinado numa mesa como convidado. A parbola da Festa das Bodas pertence a uma data posterior, atividade de Cristo em Jerusalm durante a semana da Paixo.

    A situao referente parbola das Minas, comparada com a dos Talentos, semelhante. difcil ver como a histria de um nobre que d a cada um de seus servos uma pequena soma

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

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  • MATEUSde dinheiro, em quantidades iguais, possa ter algo a ver com a de um homem que confia quantidades incomparavelmente maiores a seus servos, dando a cada um deles uma soma amplamente diferente!

    Outra razo para a diferena na contagem final das parbolas o fato de que ainda no se conseguiu uma resposta aceitvel a todos pergunta: O que uma parbola? Ainda quando se concorda que uma parbola um smile ampliado, em distino a uma alegoria que uma metfora ampliada distino til. porm no de todo correta no se conseguiu um acordo unnime. Todavia, a diferena de opinio no muito importante, j que diz respeito apenas a uns poucos dos ttulos que aparecem na seguinte lista:

    (a) Peculiares a Mateus O joio (13.24-30,36-43)O tesouro escondido (13.44)A prola de grande preo (13.45,46)A rede (13.47-50 O servo incompassivo (18.23-35)Os trabalhadores na vinha (20.1-16)Os dois filhos (21.28-32)A festa de bodas do Filho do Rei (ou as bodas do Filho do

    Rei, a festa de bodas, as bodas reais, 22.1-14)As cinco virgens prudentes e as cinco insensatas (25.1 -13) Os talentos (25.14-30)(b) Peculiares a MarcosA semente que cresce em secreto (4.26-29)(c) Peculiares a LucasOs dois devedores (7.40-50)O bom samaritano (10.29-37)O amigo importuno (ou o amigo meia-noite, 11.5-13)O rico insensato (12.13-21)Os servos vigilantes (12.35-40)A figueira estril (13.1-9)Os principais assentos (14.7-11)

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  • A grande ceia (ou o convite desprezado, 14.15-24)O construtor desprevenido (14.28-30)O rei desprevenido (14.31-33)A dracma perdida (15.8-10). Na verdade, a parbola de

    uma mulher que procura a sua moeda perdida, e sua alegria ao ach-la.

    O filho prdigo (inclusive seu irmo mais velho, 15.11- 32). Na verdade a parbola do amor saudoso de um pai.

    O mordomo previdente (ou o mordomo injusto, 16.1-13) O rico e Lzaro (16.19-31)O servo que lavra (ou o servo intil, 17.7-10)A viva perseverante (ou o juiz injusto, 18.1-8)O fariseu e o publicano (18.9-14)As minas (19.11-27)(d) Peculiares a Mateus e LucasOs dois construtores (Mt 7.24-27; Lc 6.47-49)Crianas assentadas nas praas (Mt 11.16-19; Lc 7.31-35) O regresso do esprito imundo (Mt 12.43-45; Lc 11.24-26) O fermento (Mt 13.33; Lc 13.20)A ovelha perdida (Mt 18.12-14; Lc 15.1-7). na verdadea

    parbola da busca da ovelha perdida, pelo pastor, e sua alegria ao ach-la.

    O servo fiel versus o infiel (Mt24.45-51; Lc 12.42-48)(e) Comuns aos trs EvangelhosO semeador (ou os quatro tipos de terrenos, Mc 4.3-9,

    14-20; Mt 13.3-9,18-23; Lc 8.4-15)A semente de m ostarda (Mc 4.30-32; Mt 13.31,32;

    Lc 13.18,19)Os arrendatrios malvados (ou os meeiros mpios, ou a vi

    nha. ou, para usar o ttulo antigo, os lavradores malvados, Mc 12.1-9; Mt 21.33-41; Lc 20.9-16)

    De tudo isso torna-se evidente que, como era vlido com respeito aos outros elementos constitutivos do contedo ou do tema dos primeiros trs Evangelhos, bem como no que concerne

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

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  • MATEUSs parbolas, h considervel variedade na distribuio. Marcos tem somente uma parbola que pode ser estritamente qualificada de sua, Mateus tem dez. Lucas tem dezoito,23 e h nove que aparecem em mais de um Evangelho. Assim, de acordo com essa lista, h 38 parbolas no todo. Ao ampliar-se o conceito de parbola, alguns acrescentariam vrias outras; por exemplo, uma lmpada debaixo de uma vasilha (Mt 5.14-16 e paralelos), um remendo de pano novo em roupa velha (Mt 9.16, etc.), vinho novo em odres velhos (Mt 9.17, etc.) e muitas outras. Embora o uso da palavra parbola seja plenamente legtimo, de modo que o nmero total fornecido por alguns autores chega a sessenta ou ainda a oitenta, aqui seguimos a definio mais geral de parbola como sendo um relato ilustrativo.

    b. No vocabulrio e estilo

    Embora seja verdade que com freqncia no s o pensamento, porm as prprias palavras usadas no original e refletidas nas tradues, sejam as mesmas, ou quase as mesmas, nos trs Evangelhos, isso, contudo, nem sempre assim. Onde os relatos so paralelos e registram mais as aes que os ditos de Jesus, Marcos geralmente (no sempre!) o mais difuso. Dessar- te, na histria em que Jesus acalma uma tempestade (a registrada em Mc 4.35-41; Mt 8.18,23-27; Lc 8.22-25), Marcos, no original, usa 118 palavras, Lucas 94 e Mateus 85. Como j ficou expresso (ver p. 15), 606 dos versculos de Marcos (de um total de 661) so comprimidos em quinhentos versculos de Mateus.

    Essa questo de palavras facilmente se desloca para a questo de estilo. Todavia, visto que, com respeito a Marcos e Mateus, este tema vir a lume novamente,24 no presente contexto s !J Lucas tambm tem seis milagres no registrados nos outros Sinticos: Mateus tem

    apenas trs peculiares ao seu Kvangelho: Marcos apenas dois. Os seis de l.ucas so: a pesca miraculosa (5 .1- 11 >. a ressurreio do filho da viva de Naim (7 .11- 17), duas curas no sbado (a cura da mulher que andava encurvada e do homem que sofria de hidropisia. 13.11-17 e 14.1-6). a purificao dos dez leprosos (17. II- 19) e a restaurao da orelha de Malco (22 .51). Cf. (3) acima.

    24 Para o eslilo de Marcos, ver p. 60. para o de Mateus, pp. 60 e 124. Quanto ao estilo de Lucas, consulte-se comentrio sobre esse Kvangelho.

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  • INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    necessrio assinalar, guisa de resumo, que o estilo de Marcos no somente o mais difuso, mas tambm o mais vvido; o de Mateus mais sucinto e rebuscado; e o de Lucas o mais verstil dos trs.

    c. Na "disposio e na ordem dos eventos registrados

    J ficou assinalado que, num sentido bem geral, a seqncia em que se seguem os grandes acontecimentos na peregrinao terrena de Cristo o mesmo nos trs Evangelhos (ver pp. 18-22). No obstante, h diferenas importantes. Essas aparecem quando algum segue, em primeiro lugar, o curso da narrativa de Marcos, e ento, tendo feito isso cuidadosamente, compara-a com a histria tal como desenvolvida em Mateus e Lucas. Uma ilustrao lanar luz sobre esse fato. Os trs Evangelhos podem ser contemplados sob o simbolismo de trs rios.

    O primeiro rio uma corrente que flui velozmente. Seu fluxo avana em torvelinho, e de forma turbulenta, atravs de terreno escabroso. Revolve-se e se retorce, em curvas abruptas, ora direita, ora esquerda. Suas margens exibem uma paisagem exuberante. Assim o Evangelho de Marcos. Leiam-se os primeiros cinco captulos. Note-se quo rapidamente a ao se move, embora, naturalmente, Jesus Cristo, poderoso em palavras e feitos, esteja sempre no centro dela. O panorama multicor se desloca rapidamente de uma a outra paisagem, cada qual mais inspiradora. Enfocamos um vislumbre de Joo Batista, vestido de pelo de camelo. Ele est pregando e batizando. Ele batiza at mesmo aquele que confessa ser infinitamente maior do que ele mesmo (Joo). H uma mudana de cenrio, e nos mostrado um deserto onde Satans derrotado pelo Descendente da mulher. Esta cena, tambm, passa quase to rapidamente quanto foi introduzida. Agora vemos o Senhor proclamando o evangelho do reino. Quatro pescadores surgem em cena. Eles so convocados a se fazerem pescadores de homens. Ali seguem cenas em que se revela de forma espantosa o poder do grande Mdico, ante o espanto dos espectadores: um homem possudo de um esprito imundo curado instantaneamente; assim tam

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  • MATEUSbm sucedeu sogra de Simo. E agora o sol se pe, e isso no somente no horizonte fsico, mas para muitos tambm sobre os seus dias de tristeza e desgraa: E ao chegar a noite, ao pr-do- sol, lhe trouxeram todos os que tinham enfermidades e os que eram possudos por demnios... E ele curou muitos que tinham diversas enfermidades e expulsou muitos demnios. Certamente que foi um belo pr-do-sol! Em seguida vemos um lugar solitrio. onde ainda muito cedo o Mdico dos mdicos derrama o seu corao em orao. A orao seguida de pregao, e esta. uma vez mais, seguida pela cura. Aqui um endemoninhado de quem expulso um esprito maligno; ali um leproso que purificado; e mais adiante, um paraltico. Os feitos de misericrdia so seguidos de palavras de misericrdia: concernente aos publicanos, ou em defesa da tese de que o sbado foi feito para o homem, e no vice-versa. Outros milagres so rapidamente seguidos pelo chamamento dos Doze, por uma breve exposio sobre a blasfmia contra o Esprito santo, por algumas parbolas, pela pacificao de uma tempestade e por novas manifestaes de poder curador, inclusive a ressurreio de um morto. Assim o Evangelho de Marcos, semelhana de um rio turbulento e pitoresco, se precipita impetuoso, at que, no captulo 16, se aproxima do tmulo, com sua grande pedra removida. Algumas mulheres, amigas de Jesus, fogem aps ouvirem que o ocupante do tmulo o deixara vazio, ressuscitara dos mortos!

    O segundo rio muito mais sereno. No se retorce nem serpenteia como o primeiro; antes, flui suave e majestosamente. As vezes at mesmo h um repouso, por assim dizer, criando um lago, permanecendo ali algum tempo, e ento fluindo uma vez mais, at que novamente se alargue numa expanso semelhante de guas. Essa ao repetida diversas vezes antes de o rio chegar ao seu destino. Assim o Evangelho de Mateus.

    Esta composio, realmente mui bela, do princpio ao fim; mantm o hbito de deter-se por algum tempo num tema importante, enquanto Marcos est sempre avanando apressadamente, apresentando ante os nossos olhos ora esta cena, ora aquela. dessa forma que Marcos apresenta Joo Batista (1.1-6). O

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  • INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    mesmo faz Mateus (3.1-6; cf. Lc 3.1-6). Entretanto, enquanto Marcos dedica apenas dois versculos pregao de Joo, Mateus se alonga sobre esse tema em no menos que seis versculos; Lucas ainda mais, em doze versculos. Aps um breve relato do batismo do prprio Jesus, por Joo, Marcos sumaria a tentao (1.12,13: novamente em apenas dois versculos). Mateus, no obstante, detm o luxo dos eventos usando onze versculos para relatar as trs tentaes de forma distinta (4.1-11; cf. Lc 4.1- 13). Marcos menciona o fato de que Jesus entrou na Galilia pregando o evangelho de (o reino de) Deus (1.14,15). Porm Mateus, tendo introduzido esse tema (4.17,23), dedica-lhe trs captulos, dando-nos uma amostra dessa pregao (O Sermo do Monte, 5.1-8.1). Marcos, em seu vvido relato de Jesus, passa do milagre orao, pregao, ao chamamento dos discpulos, etc., segundo j se demonstrou, sempre se deslocando de um tema para outro. Mateus, por outro lado, agrupa as histrias de seus primeiros milagres numa narrativa quase contnua que se estende ao longo de 68 versculos (8.1-9.34), com duas breves interrupes que num todo compreendem apenas treze versculos (8.19-22; 9.9-17). evidente que Mateus descobriu novamente um tema e se demora sobre ele. As seguintes colunas paralelas deixaro esclarecido. Comeando com Mateus, na primeira coluna, ver como esse evangelista enfeixa vrios dos milagres que em Marcos esto espalhados por quatro captulos. Ele adiciona um que encontrado tambm em Lucas (a cura do servo do centurio) e outros dois. A segunda e terceira colunas revelam que em tais casos em que Lucas forma um paralelo com Marcos, o paralelo geralmente muito estreito, de modo que aqui tambm vlida a regra mencionada anteriormente (ver pp. 25-28), ou seja, o captulo de Marcos + 3 s vezes + 4 igual ao captulo de Lucas.

    Tema Mateus Marcos LucasUm leproso 8.1-4 1.40-45 5.12-16O servo do centurio 8.5-13 7.1-10A sogra de Pedro 8.14,15 1.29,31 4.38,39Muitos enfermos ao entardecer 8.16,17 1.32-34 4.40,41

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  • MATEUSTema Mateus Marcos Lucas

    IJma tempestade 8.18,23-27 4.35-41 8.22-25Endemoninhados gadarenos 8.28-9.1 5.1-20 8.26-39Um paraltico 9.1-8 2.1-12 5.17-26A mulher com fluxo de sangue 9.20-22 5.25-34 8.43-48A filha de Jairo 9.18,19, 5.22-24, 8.40-42,

    23-26 35-43 49-56Os dois cegos 9.27-31I m endemoninhado mudo 9.32-34

    A mesma feio temtica ; tambm ev i dente em Mt 9.36-38, onde se enfatiza a necessidade de obreiros, seguida pelo captulo 10, o qual contm em detalhes a comisso para os obreiros. Contraste-se isso com os poucos versculos empregados por Marcos (6.7ss.) nessa conexo. Jesus apresentado como que falando por parbolas (Mc 4.1,2; cf. Mt 13.1-3a). Por um momento, mesmo Marcos se torna temtico, por assim dizer, e realmente relata algumas dessas parbolas (4.3-32), porm um historiador impetuoso demais para permanecer a por muito tempo. Em geral, ele aprecia relatar especialmente os feitos de Jesus, em vez de suas palavras. Por isso, sua breve reproduo dessas parbolas ele prontamente acrescenta uma concluso sumariada: E com muitas parbolas como essas ele (Jesus) lhes falou a palavra (4.33). Em seguida ele volta ao tema do Jesus operador de milagres em ao, que acalma uma violenta tempestade e igualmente cura um violento endemoninhado. Em contraste, o relato das parbolas feito por Mateus muito mais extenso (13.3-53). Igualmente, em Mt 18, a pergunta sobre quem era o maior se toma ocasio para um discurso extenso sobre a bondade dispensada aos pequeninos de Cristo, e, em geral, sobre a virtude da compaixo e o exerccio do esprito perdoador. Aqui, tambm, o tratamento em Mc 9 e Lc 9 mais condensado. A censura contra os escribas e fariseus sumariada de forma sucinta em Lucas (12.38-40), porm Mateus novamente dedica um captulo inteiro ao tema (cap. 23). E ainda o discurso

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  • escatolgico de Cristo cerca de duas vezes e meia mais longo em Mateus (caps. 24 e 25) do que em Marcos (cap. 13). Quando Mateus descobre um tema, ele se demora nele. Quando Marcos descobre uma ao, ele a retrata, e isso de uma maneira interessante e com muitos detalhes, de modo que, como j ficou expresso, em vrios desses casos seu relato o mais longo. O contraste , todavia, de modo algum absoluto. Marcos, tambm, tem um alto apreo pelas palavras de Jesus, e narra muitas delas. Porm, sua nfase posta na ao, enquanto Mateus a pe no discurso.

    Quando se apreende a estrutura bsica ou sistema de Mateus rio, lago; rio, lago; etc. . muito mais fcil algum encontrar o caminho nesse evangelho, depois de a direo principal de Marcos ter sido gravada na memria. Para comear, um fato bem conhecido que a genealogia e a histria da natividade no so encontradas no Evangelho de Marcos, porm respectivamente em Mt 1.1-17 (cf. Lc 3.23-38) e 1.18-2.23 (cf. Lc 1 e 2). Marcos comea abruptamente com o relato de Joo Batista, que se encontra tanto em Mc 1 como em Mt 3. J ficou demonstrado que Mateus, em seu modo caracterstico, se detm para dar-nos uma amostra bastante extensa da pregao de Joo, enquanto Marcos dedica apenas um par de versculos a esse tema. No surpreendente, pois, que o primeiro captulo de Marcos tenha tambm lugar para a histria da tentao de Cristo; enquanto, ao contrrio, no Evangelho de Mateus no captulo 4 que devemos procur-lo. Igualmente, o chamamento dos primeiros quatro discpulos encontrado tanto em Mc 1 como em Mt 4. Mt 5 a 7, como quase todos sabemos, contm o Sermo do Monte, com seu tema: o evangelho do reino. Este discurso, o primeiro entre seis, aparece em Marcos apenas em versculos avulsos. O contedo de Mt 8 e 9 j foi notado. Por meio dessas maravilhosas obras Jesus revela seu poder real sobre o universo fsico, sobre os espritos maus e sobre o domnio da doena e da morte. No de estranhar que a pregao do evangelho do reino, juntamente com a exibio de milagres do reino, seja seguida por Mt 10, onde se acha o registro do envio dos Doze como

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

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  • MATEUSembaixadores do reino, o segundo grande discurso; pelo captulo 11, onde se registram as palavras de Cristo em homenagem ao arauto do reino, ou seja, Joo Batista; pelo captulo 12, onde se registra a condenao dos inimigos do reino;25 e, finalmente, por M 13, onde se registra o terceiro grande discurso, que contm as parbolas do reino.

    Isto nos conduz ao captulo 14 do Evangelho de Mateus. Falando em termos gerais dando lugar, pois, s excees , a partir de Mt 14.13 (cf. Mc 6.32) em diante, o relato de Mateus segue em paralelo ao de Marcos de forma bastante estreita. Deve- se lembrar que, na seo final do Evangelho de Lucas, a chave para orientar-se era Marcos + 8. Ver pp. 25-28. Para orien- tarmo-nos no tocante a Mateus, o processo o mesmo. Todavia, como j foi indicado, de vez em quando Mateus se detm a fim de registrar um discurso de Jesus (o rio se dilata e se converte em lago). Ele faz isso com maior freqncia e em maior extenso do que Marcos e Lucas. Em conseqncia, no tocante a Mateus, frmula Marcos + 8 deve-se acrescentar gradualmente Marcos + 9", Marcos + 10, etc. Portanto, note-se o seguinte esquema, no qual, para cada captulo, indicou-se somente um evento principal:

    Sabendo que o assunto acrescentar e achar seuum tema paralelotratado em emM ARCOS MATEUS

    captulo Captulo6 A alimentao dos 5 m i l :6 8 14

    7 A cura da filha da mulher 8 15siro-fencia

    8 Q uem dizem os homens 8 16

    A

    que eu sou?8 179 A transfigurao

    Km Mt 16 .1 - 12 (cf. Mc 8 .11 -2 1) esse tema prossegue.Hm Marcos, a alimentao dos cinco mil e a dos quatro mil se encontram, respectivamente, nos captulos 6 e 8: em Mateus, respectivamente, nos captulos 14 e 15.

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  • Como j ficou demonstrado e geralmente se sabe , o captulo 18 de Mateus o quarto em que se registra o sexto discurso naquele Evangelho. Nele Jesus enfatiza a necessidade de se demonstrar bondade para com seus pequeninos, e um esprito perdoador para com todos. O captulo se encerra com a parbola do servo inclemente. Algumas das passagens desse captulo tm paralelos em Marcos e em Lucas, porm, como uma unidade individual peculiar a Mateus.

    Isso significa, naturalmente, que, a partir de Mt 10, para localizar o paralelo em Mateus, teremos de usar a frmula "Marcos + 9, em vez de Marcos + 8. Pelo fato de Mc 10 ser um captulo muito extenso (52 versculos), enquanto Mt 19 relativamente curto (trinta versculos), faremos bem em tratar Mc 10 como se fosse dois captulos (Mc 10a: vv. 1 -31; e Mc 10b: vv.32- 52).27 para localizar o material de Mc 10b em Mateus, a frmula ser. ento. Marcos + 10.

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    A lista, portanto, prossegue, assim:Sabendo que tema adicione e encontre

    um tema seu paralelotratado em emMARCOS MATEUScaptulo captulo

    10a o ensino de Cristo sobre o divrcio, os pequeninos e as riquezas terrenas (o jovem rico")

    9 19

    10b o auto-sacrifcio de Cristo ( um resgate por muitos) em contraste com o pedido dos filhos de Zebedeu por posies de glria

    10 20

    11 Entrada triunfal em Jerusalm e em seu templo (purificao do templo)

    10 21

    12 Perguntas capciosas e respostas com autoridade

    10 22

    27 Noiar a estreita similitude entre Ml l9 e M c l()a:M t 19.1-6 cf. Mc 10.1-9: Mt 19.7- 12 cf. Mc 10.11.12; Mt 19.13-15 cf. Mc 10.13-16: Mt 19.16-22 cf. Mc 10.17-22; Mt 19.23-26 cf. Mc 10.23-27: e Mt 19.27-30 cf. Mc 10.28-31. Mt 20.1-16 contm

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  • MATEUSMateus 23 contm o quinto grande discurso de Cristo: os

    sete ais, que terminam com um comovente clmax: Jerusalm, Jerusalm Esse material, em sua maior parte, est ausente em Marcos (ver, contudo, Mc 12.38-40). Portanto, tendo o Evangelho de Marcos como ponto de partida, a frmula para se localizar em Mateus o paralelo com o prximo captulo de Marcos (=o 13) agora se converte em Marcos + 11. Isso resulta no seguinte:

    13 | Sinais do fim e exortaes vigilncia I II I 24

    Em Mateus, todavia, esse tema geral da vigilncia ou seja. a fidelidade no exerccio do dever pessoal, com vistas segunda vinda de Cristo como Juiz e Galardoador prossegue no captulo seguinte, de modo que estes dois captulos (=24 e 25) contm o sexto grande discurso de Cristo. O contedo do captulo 25 (a parbola das dez virgens, a dos talentos e mais o majestoso retrato do Grande Juzo) no tem paralelo em Marcos e L,ucas. Significa que, para o contedo de Marcos 14.15 e 16, como refletido em Mateus, a frmula agora se converte em "Marcos + 12. E assim temos o seguinte resultado:

    14 Getsmani 12 2616 Calvrio 12 2716 Ele ressuscitou 12 28

    O terceiro rio tambm muitssimo interessante. Consiste de partes que se alternam, de modo que a corrente que est na superfcie da terra d lugar a outra que subterrnea, que suponhamos , por sua vez, surge na superfcie, formando outra corrente, a qual ento desce, e assim sucessivamente. O fato de que algumas das correntes so subterrneas no as faz menos interessantes do que aquelas que correm na superfcie. Nem as faz necessariamente invisveis. Algumas de nossas cavernas no

    a parbola, peculiar a Mateus, dos lavradores na vinha. Dali cm diante segue o estreito paralelo, agora entre Ml 19 e Mc 10b. assim: Ml 20-17-19 ct' Mc 10.32- 34: Mt 20.20-28 cl'. Mc 10.35-45: e Ml 20.29-34 cl. 10.46-52.

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  • contm correntes suavemente iluminadas, equipadas para navegar-se em meio a pitorescos ambientes?

    Este rio, com seus fluxos alternantes, descreve o evangelho de Lucas com seus blocos intercambiantes de material. Sobre isso Lucas difere de Mateus. Este parece que de forma alguma pode separar-se de Marcos. como se o ex-publicano, de um modo que lhe peculiar, estivesse completando ou ampliando o esboo de Marcos. Todavia, com Lucas o caso diferente. De maneira geral podemos dizer que o seu Evangelho consiste de blocos alternantes de materiais marcanos e no-marca- nos. Um bloco de material marcano de considervel extenso28 Lc 5.12-6.16. Ele nos conta de um leproso, de um paraltico, de Levi, do jejum, dos discpulos num trigal no dia de sbado, de um homem com a mo mirrada e do chamamento dos Doze. Todo esse material encontrado tambm em Mc 1.40-3.19, em sua maior parte na mesma ordem.29 Aqui segue um bloco no- marcano (Lc 6.17-8.3); ento novamente segue um bloco marcano (Lc 8.4-9.50; cf. Mc 3.31-6.44; 8.27-9.40). Ento vem uma extensa seo no-marcana (Lc 9.51-18.14), que, por sua

    INTRODUO AOS QUATRO EVANGELHOS

    2" Quanto aos primeiros captulos de Lucas, no h evidncias de um padro que se segue de forma definida c conseqente entre os Evangelhos de Marcos e Lucas. Lc1.1 3.12 (nascimento de Jesus c cronologia do incio do ministrio de Joo Batista) no tem paralelo nos outros Evangelhos. Em Lc 3.3-22 (o ministrio de Joo Batista), as passagens que no so exclusivamente de Lucas se assemelham a Mateus tanto e s vezes muito mais quanto a Marcos. A genealogia de Jesus em Lucas no tem um real paralelo com os demais Evangelhos (porm. cf. Ml 1.1-17). Lc 4.1-15 (a tentao de Jesus), apenas ligeiramente refletida em Marcos, muito mais extensa em Mateus, porm, em grande medida, exclusiva de Lucas em fraseologia e ordem. Lc 4.16-30 (rejeio em Nazar) outra vez predominantemente peculiar a Lucas (embora em certa medida tenha paralelo em Mc 6.1-6 e Ml 13.53-58). Lc 4.31 -44 (primeiros milagres em Cafamaum) tem um paralelo definido em Mc 1.21 - 39. seguido por Lc 5.1-11 (pesca miraculosa e pescadores homens") que em grande parte alheio a Marcos.Todavia, verdade que Mc 1.40 3.19 contm ainda mais material, especialmente um informe sobre a misso de cura (3.7-12: cf. Mt 12.15.16), intercalado entre o relato da mo mirrada e o chamamento dos Doze. Tambm certo que uma passagem como Mc 3 .11 refletida melhorem L c4.4l do que em algum lugar em Lc 5.12 6.16. Porm, deve-se ter em mente que aqui estamos fazendo a pergunta: "Como Lucas refletido em Marcos?, antes que: "Como Marcos refletido em Lucas?"

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  • MATEUSvez, introduz um bloco marcano (Lc 18.15-43; cf. Mc 10.13-34, 46-52). Lc 19.1-28 (Zaqueu e a parbola das minas) no marcano. Grande parte (de modo algum todo!) do que segue nos captulos finais de Lucas tem paralelo em Marcos, porm Lucas 24.13-52 (o dilogo no caminho de Emas, etc., concluindo com a ascenso de Cristo) peculiar ao Evangelho de Lucas (ver, contudo, o breve resumo em Mc 16.12,13).

    Muito mais poderia ser dito sobre as variaes na ordem em que os eventos so relatados nos Sinticos. Porm, com o intuito de assinalar o problema, no ser necessrio entrar em todos os detalhes. O seguinte deve bastar. J em Mc 2.23-28, esse evangelista relata o incidente de apanhar espigas no dia de sbado. Mateus no faz meno desse incidente at quase alcanar a metade de seu Evangelho (12.1 -8; cf. Lc 6.1 -5). Semelhantemente, a cura da mo mirrada est relatado em Mc 3.1-6, mas em Mateus no antes de 12.10-13 (cf. Lc 6.6-10). A rejeio de Cristo em Nazar est registrada em Lc 4.16-30, mas em Mateus no antes de 13.54-58 (cf. Mc 6.1-6). Em Mateus as trs tentaes esto alinhadas na seguinte ordem: Dize a estas pedras que se transformem em pes, Lana-te abaixo (do pinculo do templo), e Prostra-te e me adora (4.3,6,9). Em Lucas, contudo, inverte-se a ordem da segunda tentao e da terceira (4.7,9). E quanto seqncia dos ditos de Jesus a relatados, deve-se notar que, enquanto em Mateus 5 a 7 e Lucas 6.20-49 o Sermo do Monte apresentado como uma unidade, Lucas tambm lana suas mximas inspiradas atravs de vrios de seus captulos; por exemplo, cf. Lc 14.34 com Mt 5.13; cf. L.c 8.16 com Mt 5.15; cf. Lc 11.34 com Mt 6.22; e cf. Lc 11.9 com Mt 7.7. Algo semelhante sucede em conexo com Mateus 10; por exemplo, cf. Lc 12.11 com Mt 10.17; cf. Lc 21.16 com Mt 10.21; cf. Lc 12.2 com Mt 10.26; cf. Lc 6.40 com Mt 10.24; e cf. Lc 17.33 com Mt 10.39. tambm, em conexo com Mateus 18; por exemplo, cf. Lc 9.48 com Mt 18.5; e cf. Lc 17.1,2 com Mt 18.6,7. E assim sucede com freqncia onde Mateus ajunta (agrupa) Lucas espalha (separa). Ambos estavam plenamente justifica

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  • dos em assim proceder. Como todos sabemos, oradores, especialmente os que viajam, repetem algumas das coisas que disseram em ocasies anteriores.

    3. O Problema Resultante

    Os fatos tendo sido ora apresentados, ser evidente que o Problema Sintico consiste no fato de que, quanto ao contedo, redao e disposio, h considervel semelhana; todavia, h tambm uma notvel diferena. Se a semelhana fosse distante, no haveria problema. Por outro lado, se as divergncias fossem mnimas, haveria uma pronta resposta. Porm, no bem assim; e j que que a unidade quanto a diversidade se destacam, o problema real.

    O sumrio precedente tambm demonstrou:Primeiro, que cada Evangelho tem sua prpria estrutura

    distintiva.Segundo, que quando a estrutura distintiva de cada Evan

    gelho entendida, o caminho para penetrar-se nos Sinticos fica muito menos difcil. O que se acha nas pginas precedentes pode ser til nesse sentido. A leitura repetida e o estudo diligente dos Sinticos so, naturalmente, ainda mais necessrios.

    Terceiro, que aqueles que escreveram esses Evangelhos no foram menos compiladores, seno compositores; no meros copistas, porm autores.

    4. Elementos qu