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XVIII SEDU - SEMANA DA EDUCAÇÃO I CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO
CONTEXTOS EDUCACIONAIS: FORMAÇÃO, LINGUAGENS E DESAFIOS
ANÁLISE DA CONCEPÇÃO DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AS ATIVIDADES NA ESCOLA: UM ESTUDO BASEADO NA PÓS-MODERNIDADE 1
CARVALHO, Egláia de Doutoranda em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Docente na Secretaria de Educação do Estado do
Paraná, Brasil [email protected]
ANDRADE, Mariana A. B. S. Profa. Doutora no Departamento de Ciências Biológicas, e Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciência e Educação Matemática
(PECEM). Universidade Estadual de Londrina (UEL) [email protected]
Eixo 2: Educação Básica
Resumo Este artigo objetiva mostrar que, apesar da sociedade atual demonstrar características pós-modernas (consumismo, narcisismo e hedonismo), por intermédio da análise dos dados obtidos neste trabalho, os alunos de sextos anos de uma escola pública na região norte do Paraná, Brasil apreciam atividades que priorizam a socialização e a integração nas relações interacionais entre si. Nossa sociedade passou por transformações, no foco da Pós modernidade, características que podem ser percebidas em nossa sociedade ocidental. A análise dos dados coletados a partir da aplicação de um questionário, permitiu a estruturação de projetos multidisciplinares que envolvessem professores de diferentes disciplinas, comunidade escolar e órgãos públicos. Os resultados demonstram que tais atividades, diferenciadas, são propícias para o engajamento dos alunos, pois estes se sentem motivados, o que permite um trabalho pedagógico voltado às emoções, à valorização do outro, ao trabalho em equipe, e contribuem para o desenvolvimento de valores como o sentimento de pertencimento, de valorização do espaço público, coletivo. Palavras-chave: Pós-modernidade; Multidisciplinaridade; Ensino.
Introdução
A prática da ação docente das autoras deste trabalho permite dizer
que, nos bancos escolares, estão sentados indivíduos que apresentam características
comuns: não têm muito interesse nas aulas, demonstram certa apatia nos
relacionamentos interpessoais, pois estão conectados a seus celulares, seja para
1 Este trabalho contém resultados parciais de uma pesquisa que se refere à tese de doutorado da autora. Os dados aqui apresentados
foram coletados no ano de 2017, durante as aulas de Ciências lecionadas na escola selecionada para objeto de estudo.
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ouvir música, para assistir vídeos, para tirar fotos para postá-las nas redes sociais,
etc. Esta espécie de inércia observada nas salas de aula tem sido fonte de discussões,
de debates, de preocupação de boa parte dos professores. O que fazer para que eles
se envolvam com as atividades escolares voltadas ao desenvolvimento cognitivo,
intelectual, à construção do saber?
Objetivos
O objetivo deste trabalho foi analisar como os alunos identificam a
escola como um lugar de aprendizagem e socialização.
Este artigo tem o intuito de mostrar os resultados dessa investigação,
que está relacionada à presença de características pós-modernas (consumismo,
narcisismo e hedonismo) nas relações interacionais entre os referidos alunos.
Metodologia
A escola em que o trabalho descrito foi desenvolvido é uma instituição
fundada em outubro de 2014, está localizada em um município da região norte do
Paraná e oferece ensino regular para turmas de Ensino Fundamental e para Ensino
Médio nos períodos matutino e vespertino. Até o momento da coleta dos dados (2018),
não havia turmas no noturno porque não havia demanda. No período matutino, havia
turmas de Ensino Médio e nonos anos do Ensino Fundamental, com um total de cento
e oitenta e sete alunos. No período vespertino havia turmas de sextos, sétimos e
oitavos anos, com trezentos e oitenta e dois alunos. A soma de alunos dos dois turnos
totalizava quinhentos e sessenta e nove, o que a caracterizava como escola de
pequeno porte. As salas de aula tinham, em média de vinte a vinte cinco alunos
matriculados e de dez a quinze alunos assíduos.
Este trabalho consistiu-se de algumas etapas. Houve a aplicação de
questionário aos alunos, por escrito, com posterior discussão, em sala de aula, a partir
das respostas encontradas. De posse das informações, foram elaborados os quadros
inseridos neste artigo. Em seguida, houve planejamento de atividades a partir do que
os alunos responderam, reunião com a equipe pedagógica da escola para colocá-la a
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par das intenções e das necessidades para a execução das atividades dos projetos
transdisciplinares elaborados.
Finalmente, as atividades planejadas foram desenvolvidas com os
alunos e o processo passou a ser descrito e analisado.
Referencial teórico
A instituição está situada em uma região de conflitos sociais, sendo
considerada uma zona violenta, epicentro de conflitos de disputas territoriais
associadas ao tráfico de drogas, o que justifica a falta de demanda para o ensino
noturno.
O Plano Político Pedagógico (PPP) da escola prevê o seguimento de
atividades curriculares sugeridas por outros documentos oficiais, como as Diretrizes
Curriculares Estaduais, por exemplo. No entanto, é necessário fazer bastante
adaptação curricular para atender a clientela, pois devido ao grande número de faltas
e para tentar evitar o abandono escolar, além do programa FICA2, os alunos passam
a ter um atendimento diferenciado, além daqueles já previstos para os alunos que
apresentam as mais diversas dificuldades de aprendizagem no decorrer do processo
pedagógico regular. Não consegui puxar o parágrafo para cá. No entanto, mesmo com
a implementação desse programa, ainda se observa um número expressivo de
evasão escolar, por diversos motivos, muitos deles fora do alcance da escola. Para
tentar diminuí-la, existe um esforço dos educadores seja por adaptações curriculares
ou por projetos extracurriculares.
Os alunos são oportunizados a realizar as mais diferentes atividades
avaliativas dentro das disciplinas curriculares existentes. Toda produção e todo
avanço do aluno são avaliados como positivos e continuados, desde que ele tenha
participado das atividades, que tenha se empenhado, se esforçado para fazer o seu
melhor. Em alguns casos, quando atitudes de integração, aumento de desempenho,
2 Para a instrumentalização do Programa foi criada a “FICA” (Ficha de Comunicação do Aluno Ausente). Tal instrumento teve e
tem como objetivo acompanhar os casos de evasão de todos os alunos a partir do momento em que apresentem ausência de 5 dias
consecutivos e 7 dias alternados. Com estes fins, a SEED assume o papel de mediar o contato com Secretarias do Estado, Ministério Público,
Patrulha Escolar. Isto se faz necessário também no enfrentamento aos principais motivos da evasão, que podem estar situados em fatores
para além dos pedagógicos (violência contra a criança e o adolescente, drogadição, trabalho infantil ou outros), os quais devem ser
comunicados e acompanhados por órgãos competentes (PARANÁ, 2013, p. 6).
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socialização e participação são observados pelos professores, é entendido como
progresso do aluno. Só não são atribuídas notas e conceitos positivos quando o aluno
se recusa a participar de toda e qualquer forma de atividade, ou não frequenta as
aulas, o que é bastante comum, já que alguns alunos têm intenção de permanecer
dentro da escola para a realização de atividades impróprias. Várias paredes, carteiras
e espaços comuns da escola possuem rabiscos, escritos, com os mais diversos
materiais (corretivo, caneta, giz). Alguns alunos ligam a caixa de som que trazem de
casa no corredor ou pátio, alguns fazem uso de drogas em locais aparentemente
isolados, alguns jogam bola quando deveriam realizar outras atividades propostas
pelo professor de Educação Física ou até por outros professores, alguns encontram
o(a) namorado(a)/ficante, etc. Ou seja, há muitos alunos com interesses alheios ao
que a escola se propõe a oferecer. Nesse contexto, há conflitos que, muitas vezes,
inclusive, extrapolam os muros da escola.
O indivíduo, hoje, está inserido num cenário tecnológico fabuloso: há
muitos recursos digitais atraentes, muitas possibilidades de interação do ser humano
com a máquina. Não podemos negar os aspectos positivos do avanço das
tecnologias. A partir de um clique, pagamos contas, transferimos dinheiro, enviamos
arquivos, compartilhamos fotos, notícias, reportagens, livros, filmes, músicas, tudo.
Por outro lado, essa interação homem-máquina, apesar de, aparentemente, ter unido
pessoas por intermédio da diminuição da distância, ainda que virtualmente, tem feito
com que as pessoas se distanciem umas das outras. Há um individualismo
exacerbado em muitas pessoas. Valores como altruísmo, solidariedade, empatia
estão faltando. Discursos de ódio são facilmente encontrados nas redes sociais. O
que a escola pode fazer em meio a tudo isso? O primeiro passo para se chegar às
respostas é, talvez, entender como o pensamento coletivo da sociedade se constitui.
Por isso, apresentaremos algumas características dos períodos chamados
Modernidade e Pós-Modernidade, uma vez que as relações humanas podem ser
explicadas observando-se alguns eventos.
De acordo com Escobar (2009), o marco inicial do período
denominado Modernidade é a Revolução Francesa. Naquele momento, a nova classe
social dominante passa a ser a burguesia. O capitalismo passa a ser a nova forma
econômica estabelecida e se consolida em diversos países. Essa transformação nas
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relações mercantis, associada à Revolução Industrial, modificou a sociedade em
muitos aspectos. O ser humano desenvolveu ferramentas, máquinas, recursos
tecnológicos que ampliaram a velocidade de transformação das matérias-primas em
produtos finais, prontos para serem consumidos. Junto a esse desenvolvimento, o
modo de agir e de pensar das pessoas também se transformou. Aqueles que queriam
vender e lucrar se dedicaram à expansão dos negócios, enquanto um público
consumista surgia, pouco a pouco. Havia um sentimento positivo em relação ao
progresso, havia crença nos ideais do Iluminismo. Era um período relativamente
eufórico, mas também cheio de conflitos entre a burguesia e a classe trabalhadora, o
que ocasionou lutas e correntes socialistas contrárias à exploração do trabalho
humano. As desigualdades sociais se contrapunham aos avanços tecnológicos. A
função do Estado era intermediar os conflitos, mas, como ele nasceu dos conflitos de
classe, ele se tornou:
a instituição controlada pela classe mais poderosa, a classe dominante. Assim, na maior parte dos Estados históricos, os direitos concedidos aos cidadãos são regulados de acordo com as posses dos referidos cidadãos, pelo que se evidencia ser o Estado, um organismo para a proteção dos que possuem contra os que não possuem (ESCOBAR, 2009, p.4).
Com tantos conflitos, o sentimento predominante passa a ser o de
descrédito em relação aos ideais iluministas e à razão, que até então predominavam.
Conforme Escobar (2009), para alguns estudiosos, não existe,
necessariamente, uma condição pós-moderna, uma vez que acreditam que houve
uma mudança radical nas bases da modernidade. Essa autora utiliza as ideias de
Harvey e diz que a “pós-modernidade é fruto dos avanços políticos e culturais da
modernidade. A pós-modernidade nasce da modernidade” (p. 4) e que, assim “os
avanços tecnológicos, como a microeletrônica, a internet, a robótica, que hoje
permitem uma nova forma de vivenciar o contemporâneo, são, na realidade, frutos da
própria modernidade” (p. 4).
Existem, por outro lado, conforme Escobar (2009) outros autores que
definem o período chamado de Pós-Modernidade como aquele que teve início após
1960, no final do século XX. Trata-se de um período pós-guerra caracterizado pelo
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desencanto cultural acompanhado da crise de conceitos fundamentais como verdade,
razão e progresso.
Todo esse conjunto de transformações afetou a existência humana.
A vida metropolitana requer um nível elevado de consciência e inteligência do homem. A intelectualidade se destina a preservar a subjetividade contra o poder avançado da vida na metrópole. O ser humano resiste à uniformização do indivíduo. Nesse sentido a metrópole enquanto sede mais alta da economia do trabalho, requer que o homem se especialize o tempo todo para preservar seu lugar, seu espaço e não ser substituído pelo outro (ESCOBAR, 2009, p. 6).
Quando o ser humano precisa se especializar para permanecer em
seu posto, passa a existir competitividade. O olhar sobre o outro passa a ser diferente.
Não mais prevalece a solidariedade, a empatia. O individualismo, o hedonismo e o
narcisismo prevalecem, características estruturantes da sociedade consumista do
início do século XXI (REICHOW, 2015).
Reichow (2015) elaborou um texto a partir da leitura de textos de
Bauman, Campbell, Lasch e Lipovetsky, tentando explicar as relações humanas na
sociedade contemporânea. Conforme essa autora, Lipovetsky chama o período atual
de hipermodernidade, que “não estabeleceu a ruptura com os tempos modernos, mas
vive o superlativo dos seus valores, com intensidade e urgência” (p. 87).
À medida que o indivíduo se desprende das grandes narrativas da era
moderna (da razão e da ciência) e passa a não valorizar as referências externas a si,
surge a individualidade e a realização pessoal torna-se a base para o desenvolvimento
da sociedade.
Cada vez mais longe da influência do que é externo de si mesmo, o ser humano passa a explorar seus próprios desejos, suas emoções e sua consciência. O individualismo ganha fôlego e suas manifestações são compreendidas como um direito: a liberdade de se conhecer e explorar suas próprias possibilidades. As pessoas agora estão liberadas para ‘ser elas mesmas’, para conhecer e desenvolver sua personalidade única e para aproveitar a vida ao máximo (REICHOW, 2015, p. 87).
Surge, assim, a sociedade do eu, e cada indivíduo tem suas
prioridades, cada um reivindica o seu direito de ser, de se desenvolver, de
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experimentar, de sentir, de viver. A preocupação predominante passa ser a do bem-
estar próprio. Com isso, os relacionamentos também são afetados, pois “na obsessão
por si mesmo, trabalha-se para libertar o Eu da necessidade do outro, em um desejo
de autonomia, para renunciar o amor, em uma tentativa de amar-se o suficiente para
não ser dependente de mais ninguém” (REICHOW, 2015, p. 89). E essa é a prova de
que existe o narcisista: uma vez que ele se desprende dos outros para ser auto-
suficiente, ele tem uma plateia, uma audiência que lhe confere as inúmeras qualidades
que ele acredita ter. É o que diz Reichow (2015) baseando-se nas ideias de Lasch. E
ela ainda acrescenta que:
A ilusão do desprendimento apenas aumenta a insegurança, que só consegue ser superada com notoriedade, com reconhecimento por parte da audiência. Esse investimento centrado no Eu apenas alimenta as dúvidas e os questionamentos, em que ‘o Eu se torna um espelho vazio à força de uma estrutura aberta indeterminada que exige sempre e cada vez mais terapia e anamnese’ (REICHOW, 2015, p. 89).
Outra característica comum no sujeito contemporâneo é o hedonismo,
que consiste na busca do prazer, definido pelo sentimento de sentir mais,
intensamente, a cada momento, imediatamente. Cada indivíduo passa a ser o centro
de sua vida e a exploração das sensações de prazer do corpo e da mente são as suas
prioridades. O mundo psíquico é dominado pelo ego, em projeções que não
correspondem à realidade. Para Reichow (2009, p. 90), o ser hedonista:
[...] explora as sensações nas projeções que faz, e com o uso da imaginação: como um artista, ele aperfeiçoa memórias e momentos e aperfeiçoa em sua própria mente, para que se sejam agradáveis. [...] Instala-se uma busca por encontrar o prazer que foi idealizado para cada momento.
O hedonismo é uma disposição fantasiosa, distante da realidade, em
que o indivíduo substitui estímulos verdadeiros pelos ilusivos e constrói seu próprio
mundo aprazível. Isso explica o consumismo, de acordo com Reichow (2009), que
menciona as ideias de Campbell. Nessa realidade ilusória, o indivíduo:
[...] projeta em objetos as suas fantasias de prazer, satisfação e alegria, em uma distorção do que é efetivamente vivenciado. O foco é
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o valor experiencial da aquisição dos produtos, vivenciado internamente, nas ilusões criadas pelo hedonista. É assim que, através do prazer que pode ser projetado nas aquisições, as compras prestam serviços para essas pessoas à procura de novas sensações (REICHOW, 2015, p. 90).
A busca das sensações de prazer projetadas em produtos de
consumo torna-se um ciclo, pois assim que a compra e a utilização do produto forem
realizadas surge a sensação de tédio, de decepção, motivando novos desejos, novas
compras, novas satisfações (REICHOW, 2009, p. 90).
O indivíduo consumista é aquele que se preocupa consigo mesmo,
com a obtenção do prazer. Ele crê na felicidade própria, tem a ilusão de felicidade no
produto que deseja e quem tem papel decisivo nesse processo é a mídia. O discurso
midiático celebra o direito individual de escolha, desprendido do julgamento dos
outros, tornando-se a representação do narcisista à procura do seu prazer
(REICHOW, 2009, p. 90-91).
Assim, temos a caracterização do sujeito na pós-modernidade: eu
individualista, eu hedonista, eu narcisista, eu consumista.
A escola, sendo parte integrante da sociedade, contém indivíduos que
pertencem a esse mundo, que pensam sob determinadas influências, priorizam
determinados valores, agem e interagem demonstrando as características
mencionadas. Na tentativa de tentar analisar se os discentes identificam a escola
como espaço de aprendizado e/ou espaço de socialização foram desenvolvidas
atividades pedagógicas com alunos de sextos anos em uma escola pública da região
norte do Paraná, no ano letivo de 2018. Houve algumas etapas para o
desenvolvimento do trabalho, que teve início com questões diagnósticas para avaliar
o perfil dos alunos, como a idade, a constituição familiar, a origem dos mesmos e suas
preferências na participação em atividades escolares. Em seguida, foram elaboradas
e desenvolvidas as atividades na escola.
Resultados e Discussão
Este instrumento foi elaborado para a composição do perfil dos
alunos. As perguntas envolvem idade, origem, constituição familiar e tipos de
atividades das quais os alunos de dois sextos anos do período vespertino gostam de
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fazer na escola. O Quadro 1 contém as questões que foram entregues para os alunos
em uma folha separada, para que respondessem por escrito e entregassem para a
professora.
Quadro 1 - Instrumento diagnóstico utilizado na escola
1. Idade
2. Quantas pessoas (contando com você) vivem na sua casa?
3. Você é natural desta cidade, e/ou já morou em outros estados?
4. Em relação à escola, qual é o seu tipo de atividade preferida?
Fonte: as autoras
Durante a execução da atividade, os alunos faziam perguntas como
por exemplo: “Eu vou fazer aniversário amanhã! Quantos anos eu coloco?”; “Eu morei
no bairro tal, depois fui para outro e agora moro aqui perto. Eu morei em três lugares.
É isso que é para responder?”. A professora respondia as perguntas à medida em que
surgiam, objetivamente, aguardando outro momento para a discussão das respostas.
A atividade mostrou que houve envolvimento emocional dos alunos para responder
as questões que são, a princípio, simples. Ou seja, eles gostaram de fazê-la porque
os envolvia. Cada um queria contar para o colega sobre algo relacionado à questão
em que estava, motivos que condicionaram a mudança de cidade/estado/escola. Foi
necessária uma aula para esta atividade. Após a tabulação dos dados encontrados
nas respostas, houve discussão dos mesmos em sala de aula, e os alunos puderam
complementar as respostas com informações como com que parentes viviam, a
professora pode observar que os alunos se sentiram muito satisfeitos em responder
essas questões tanto para a professora, quanto repartir essas informações com seus
colegas. Uma aula foi utilizada para esta atividade. Tudo foi anotado em um diário
feito pela autora desta pesquisa.
As respostas dadas pelos alunos na questão 1 da atividade anterior e
a discussão permitiram identificar os seguintes resultados em relação à idade. As duas
turmas de sextos anos, juntas, continham 56 alunos matriculados. No entanto, apenas
31 frequentavam as aulas no período letivo da coleta destes dados, e foram estes os
participantes envolvidos.
Por meio do Quadro 2 (abaixo) é possível observar a faixa etária dos
estudantes que responderam ao instrumento diagnóstico. Os resultados obtidos
demonstram que há muitos alunos com idade superior ao considerado como normal
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para a série em questão. São 11 alunos em idade que corresponde à série e 20
considerados mais velhos, que deveriam estar em séries seguintes.
Quadro 2 - Faixa etária dos alunos
Unidades de Contexto Unidades de
Registro Incidência Frequência relativa
Faixa etária que compõe a amostra
11 anos 3 9,68%
12 anos 8 25,80%
13 anos 17 54,84%
14 anos 3 9,68%
Total.................................................................... 31 100,00%
Fonte: as autoras
O fato de a classe possuir uma faixa etária heterogênea a torna
desafiadora, pois os motivos para essa variação estão relacionados, principalmente,
à multirrepetência. As dificuldades dos alunos são inúmeras, os interesses variados,
as motivações para estudar são poucas. O multirrepetência pode ser explicada pelo
alto número de faltas destes alunos às aulas. Atualmente um aluno tem que ter 75%
de presenças no ano letivo para ser aprovado, muitos alunos atingem e excedem o
número de faltas permitido, que é o percentual de 25% de faltas, que corresponde a
200 faltas. A equipe diretiva e a coordenação em conjunto com o Conselho Tutelar e
utilizando o projeto FICA, trabalham no esforço de diminuir a quantidade de
reprovações por faltas. Uma vez que o número de faltas fique igual ou superior a
duzentas faltas, mesmo que o aluno possua nota suficiente para aprovação, ele é
retido automaticamente pelo sistema.
O Quadro 3 (abaixo) foi realizado a partir das respostas obtidas na
questão 2 do Quadro 1, anteriormente citado, do instrumento de coleta, referente à
constituição familiar dos alunos. A intenção era verificar se moram com pais, avós,
tios, etc.
Quadro 3 – Constituição familiar dos alunos
Unidades de Contexto
Unidades de Registro Incidência Frequência relativa
Família constituída por pais e irmãos 11 35,48%
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Constituição do núcleo familiar dos
estudantes
Família constituída por pais, irmãos, madrasta/padrasto e seus
respectivos filhos 15 48,39%
Família constituída pela vivência com a mãe ou avós
2 6,45%
Família constituída por mais pessoas que moram com a família,
como primos e tios 3 9,68%
TOTAL ......................................................... 31 100%
Fonte: as autoras
Tradicionalmente, a ideia que se tem de família é aquela composta
por pai, mãe e filhos. Em nossa sociedade, esse modelo sofreu mudanças e a
configuração familiar se transformou. Ao observar os dados dispostos no quadro
acima, percebe-se que 35,48% dos alunos dessas duas salas de sextos anos
possuíam a família no formato tradicional. Coincidentemente, é o mesmo percentual
de alunos em idade escolar adequada considerando-se a relação idade-série. No
entanto, não é possível identificar se correspondem aos mesmos alunos. Durante as
discussões sobre o grau de parentesco, foi possível perceber que há alunos que
sofriam com a ausência de algum familiar. Alguns disseram que a mãe ou o pai foi
embora com outra pessoa, ou morreu, ou foi preso(a), ou disseram não conhecê-los.
Alguns têm familiares presos, mortos, e até que “não ligam pra mim”. Havia um quê
de pesar nas falas de alguns alunos. Foi observado também, pelas respostas dos
alunos, que muitos núcleos familiares convivem em uma única casa, o que coloca
muitas crianças vivendo em coletividade.
Ao observarmos as respostas para a questão que envolve a origem
dos alunos em relação ao município, foi possível elaborar o seguinte quadro:
Quadro 4 – Naturalidade dos alunos
Unidades de Contexto
Unidades de Registro Incidência Frequência relativa
Origem dos estudantes
Nascido em Rolândia 13 41,93%
Viveu em outra cidade e mudou-se para Rolândia
10 32,26%
Morou em mais de uma cidade antes de Rolândia
3 9,68%
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Morou em três cidades ou mais antes de Rolândia
5 16,13%
Total ................................................ 31 100,00%
Fonte: as autoras
De acordo com as primeiras leituras dos dados do Quadro 4 (acima),
podemos observar que cerca de 58,06% destes estudantes eram provenientes de
outras cidades, sendo que cinco destes alunos são oriundos de outros municípios e
destes, um quarto já havia morado em mais de uma cidade. De acordo com
discussões em sala acerca das frequentes mudanças, as causas variam desde
desemprego dos provedores da casa, divórcio entre os responsáveis, violência e até
desastres naturais. As características do bairro, por ser um local de conflito, fazem
com que os valores de aluguel sejam mais acessíveis, e justifica a quantidade de
núcleos familiares que vivem em um mesmo espaço/domicílio
Este dado é importante, pois podemos inferir que as atitudes
observadas de reafirmação de identidade verificadas nestes alunos, como a
necessidade de colocar seus nomes, sua marca no mundo em toda oportunidade
possível (janelas, paredes, carteiras, quadros, mesas, livros, pratos do refeitório),
atitudes de reafirmação, para minimizar o sentimento de vazio e apatia podem estar
relacionadas a esse aspecto, ao de não sentirem “pertencidos” ao local em que estão.
Uma vez que a mudança de estado/cidade é uma constante, o fato de colocar o nome
em partes e em objetos/móveis da escola poderia resultar na ideia de “isso é meu”,
ou seja à ideia de pertencimento. Isto seria assunto para outra pesquisa investigativa,
com leituras provenientes da área da Psicologia, por exemplo. Para este trabalho,
estas informações nos mostram que os alunos podem compreender a escola como
espaço de abrigo, interação e socialização, oferecendo uma identidade, e em muitas
situações significando também segurança, local e muitas vezes onde fazem a única
refeição do dia. Por isso, atividades de integração com os colegas, com o espaço
escolar são significativas para os mesmos.
Por fim, as respostas da última questão do questionário aplicado e
discutido com os alunos nos revelam suas preferências em relação às atividades
escolares. Ao observá-las, é possível perceber que há três aspectos que podem ser
elencados: a) aspectos relacionados ao tipo de disciplina ou matéria de que mais
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gostam; b) aspectos relacionados ao tipo de atividade de alguma disciplina; c)
aspectos relacionados a atividades extracurriculares.
Quadro 5 – Preferências de atividades escolares
Unidades de Contexto Unidades de Registro Incidência Frequência
relativa
Aspectos que evidenciam atividades relacionadas a
disciplinas
Palavras que evidenciam atividades realizadas por alguma disciplina: "aula no laboratório", "terrário", "aulas de frações com alimentos",
"futebol de sabão" e "aulas práticas".
11 35,48%
Aspectos que evidenciam atividades multidisciplinares
Palavras que evidenciam atividades em conjunto com outras disciplinas: "gincana",
"passeios". 5 16,13%
Aspectos que evidenciam atividades extracurriculares
Palavras que remetem a atividades relacionadas pelos alunos em eventos
escolares, como viagens e passeios: "Ody Park"e "cinema".
15 48,39%
Total......................................... 31 100%
Fonte: as autoras
Conforme podemos perceber, as respostas dos alunos não estão
associadas às atividades curriculares de leitura, produção escrita, cálculo, ou ainda
às disciplinas de História, Geografia, Inglês ou outra qualquer que são amplamente
cobrados pelas esferas administrativas da educação e que afetam diretamente o
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Ou seja, para os alunos, as
atividades preferidas são aquelas que fogem da divisão ou da classificação em
disciplinas ou das tarefas, das atividades que são próprias delas. Para os alunos, a
preferência está no que é diferente, naquilo que acontece de vez em quando e,
portanto, deve ser aproveitada ao máximo, como aulas em laboratórios, aulas práticas
como confecção de terrário, aulas de frações com alimentos, aulas de Educação
Física com futebol de sabão e atividades em que estão atuando ativamente. Gostam,
ainda, de passeios, de gincanas, de cinema (seja o filme de cunho didático ou não).
Ou seja, existe motivação nos alunos para atividades que não são, exatamente,
aquelas que compõem o currículo escolar. São as atividades que precisam ser
inseridas, em forma de projetos e, algumas vezes, em forma de atividades
multidisciplinares ou interdisciplinares. São atividades que precisam ser valorizadas,
pois podem fazer toda a diferença entre o aluno gostar da escola ou não, entre o aluno
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permanecer na escola ou não. Além disso, tais atividades podem proporcionar
momentos pedagógicos para um trabalho voltado às emoções, à valorização do outro,
ao trabalho em equipe e a muitos outros aspectos que, no dia a dia da sala de aula,
podem passar despercebidos, mas que são fundamentais para a construção do
indivíduo social
Após a aplicação do questionário e discussão para descobrir a faixa
etária dos alunos, com quem moram, se são da cidade há muito tempo, suas
preferências escolares, etc, houve planejamento de atividades voltadas ao
desenvolvimento do sentimento de pertencimento dos alunos em relação ao espaço
escolar, à perspectiva de futuro, à preocupação com o meio ambiente e à integração
do currículo. Tais atividades previram a transdisciplinaridade. A disciplina ora
ministrada é a de Ciências, mas para o desenvolvimento das atividades planejadas,
houve necessidade de ir além das fronteiras dos conteúdos nela previstos. Como
professores, acabamos nos aprisionando dentro da segurança de nossas disciplinas.
Para a execução das atividades elaboradas, foi necessário abordar tópicos
pertencentes à História e à Geografia, por exemplo. Na tentativa de integração dos
conteúdos, houve pesquisas em livros da biblioteca da escola e da biblioteca
municipal, e um projeto foi laborado. Ele é voltado à arborização da escola e à
integração espacial do educando com o espaço em que estuda. Primeiramente, os
alunos, durante o período letivo de 2018, fizeram um trabalho de resgate histórico da
cidade, por meio de biografias de colonizadores, registradas em livros do acervo
municipal. De posse deste material, que contém a descrição das árvores nativas
presentes na região, no período de colonização, a professora realizou uma visita ao
viveiro do Instituto Ambiental do Paraná, sediado na cidade e saímos de lá com mudas
de árvores nativas da região para serem plantadas no espaço da escola, envolvendo
os estudantes e a comunidade escolar em atividades de geolocalização das mudas,
área de sombra das árvores, espaço de copa, incidência geográfica, além de
confecção de cartazes com estas características para disponibilizar no espaço da
escola, explicando o projeto e a escolha daquelas árvores. O objetivo desse projeto é
a apropriação do espaço público pelos estudantes, para que se sintam pertencentes
ao local, deixando “pegadas”, mas, desta vez, “pegadas” permitidas, e até necessárias
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na comunidade da qual fazem parte, realizando atividades de bem comum e de longo
prazo.
Conclusões
Os indivíduos de nossa sociedade capitalista apresentam
características associadas ao individualismo, que é predominante desde o final do
século XIX e início do século XX, período denominado de Pós-Modernidade. E esse
individualismo é reforçado com o acesso às redes sociais a todo momento, o que
provoca um isolamento social entre as pessoas, ainda que pareçam estar conectadas.
Nesse contexto, o ser humano é hedonista, narcisista e consumista. Suas
preocupações estão voltadas aos próprios desejos, vontades. Por isso, é muito
importante que a escola esteja atenta a esse perfil social para desenvolver atividades
voltadas ao desenvolvimento de sentimentos de solidariedade, de empatia, de
altruísmo, além de colocar os alunos em contato uns com os outros, para que
aprendam a valorizar o que o outro pensa, respeitar as diferenças, sendo a escola
também um espaço de inclusão.
Considerar o contexto histórico apresentado, entender as
características do alunado, planejar atividades voltadas a propiciar momentos de
aprendizagem e desenvolvê-las compõem o material de análise cujos resultados
estão sendo expostos, ainda que de forma parcial. A análise desse processo permitiu
observar como os alunos enxergam o espaço escolar. Para eles, a escola é um local
de socialização e de aprendizagem. Pode-se afirmar que os alunos, apesar de
demonstrarem, em vários momentos, características comuns a uma sociedade cada
vez mais individualista, preferem estar junto de outras pessoas, preferem
namorar/ficar, jogar bola, revelando busca pela coletividade. E, ao deixar suas marcas
nos bens móveis/imóveis, percebe-se que querem “pertencer” ao espaço físico em
que estão inseridos. Assim sendo, é importante que isto seja considerado no
planejamento das aulas e redirecionado, de modo a construir, com os alunos, a ideia
de coletividade e de pertencimento, de forma producente.
Quando questionados sobre quais atividades preferem participar, os
alunos responderam que são as atividades elencadas que envolvem interações
sociais e a coletividade. Nenhuma resposta sobre atividades envolvendo jogos em
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celulares, ou equipamento multimídia, foi elencada, o que é interessante do ponto de
vista de que estes alunos ocupam muito tempo nessas atividades, mas não as listam
como atividades que gostam de desenvolver na escola, local em que prezam as
atividades de cunho coletivo e integrador. Podemos analisar, a partir dos dados, que
a escola é um espaço de socialização para os alunos.
A professora de Ciências desenvolveu atividades transdisciplinares
que foram planejadas a partir da aplicação de um questionário para diagnosticar
alguns dados dos alunos, como faixa etária, naturalidade, composição familiar e
preferências de atividades escolares dos alunos, e os resultados foram bastante
satisfatórios, pois houve envolvimento dos alunos em todas as etapas e a interação
entre eles foi bastante importante, e houve alunos considerados faltosos, que
deixaram de faltar nos dias que tinham aula de Ciências para que pudessem participar
das atividades propostas. Outra observação importante que a autora pode constatar
por meio de gravação áudiovisual, e anotação em seu diário de campo foi que os
alunos considerados “difíceis” na sala de aula, pois são muito inquietos, não param
sentados para prestar a atenção na aula, e/ou até mesmo considerados agressivos
com os colegas, adotam postura totalmente diferente quando retirados de sala de
aula, adotando postura de liderança das atividades e pró-atividade, canalizando sua
energia nas atividades propostas. Isso pode nos fazer refletir sobre este aspecto da
escola, em que muitos alunos são considerados maus alunos, quando na realidade
estão sendo subestimados, ou tendo suas habilidades suprimidas. Em contrapartida,
quando retornam em sala de aula para que os conceitos científicos que embasaram e
são o propósito da atividade sejam estudados, estes alunos tornam a ter a postura
anteriormente adotada de apatia, mesmo depois de terem vivenciado em prática os
assuntos que agora estão sendo abordados na forma teórica.
Tendo em vista os aspectos mencionados faz-se necessário que a
escola obtenha um olhar diferenciado para com os alunos, considerando os
documentos oficiais, e fazendo as adaptações necessárias com o contexto atual, de
respeito e valorização. Frente às características da pós-modernidade e toda uma
prática social hedonista, consumista e narcisista, ainda, na escola, estas crianças,
futuros cidadãos, encontram um refúgio durante a exploração de atividades de
valorização da vida, e meio ambiente, seja de modo sistemático ou prático.
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Referências
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