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XVIII SEDU - SEMANA DA EDUCAÇÃO I CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO CONTEXTOS EDUCACIONAIS: FORMAÇÃO, LINGUAGENS E DESAFIOS ANÁLISE DA CONCEPÇÃO DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AS ATIVIDADES NA ESCOLA: UM ESTUDO BASEADO NA PÓS-MODERNIDADE 1 CARVALHO, Egláia de Doutoranda em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Docente na Secretaria de Educação do Estado do Paraná, Brasil [email protected] ANDRADE, Mariana A. B. S. Profa. Doutora no Departamento de Ciências Biológicas, e Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciência e Educação Matemática (PECEM). Universidade Estadual de Londrina (UEL) [email protected] Eixo 2: Educação Básica Resumo Este artigo objetiva mostrar que, apesar da sociedade atual demonstrar características pós-modernas (consumismo, narcisismo e hedonismo), por intermédio da análise dos dados obtidos neste trabalho, os alunos de sextos anos de uma escola pública na região norte do Paraná, Brasil apreciam atividades que priorizam a socialização e a integração nas relações interacionais entre si. Nossa sociedade passou por transformações, no foco da Pós modernidade, características que podem ser percebidas em nossa sociedade ocidental. A análise dos dados coletados a partir da aplicação de um questionário, permitiu a estruturação de projetos multidisciplinares que envolvessem professores de diferentes disciplinas, comunidade escolar e órgãos públicos. Os resultados demonstram que tais atividades, diferenciadas, são propícias para o engajamento dos alunos, pois estes se sentem motivados, o que permite um trabalho pedagógico voltado às emoções, à valorização do outro, ao trabalho em equipe, e contribuem para o desenvolvimento de valores como o sentimento de pertencimento, de valorização do espaço público, coletivo. Palavras-chave: Pós-modernidade; Multidisciplinaridade; Ensino. Introdução A prática da ação docente das autoras deste trabalho permite dizer que, nos bancos escolares, estão sentados indivíduos que apresentam características comuns: não têm muito interesse nas aulas, demonstram certa apatia nos relacionamentos interpessoais, pois estão conectados a seus celulares, seja para 1 Este trabalho contém resultados parciais de uma pesquisa que se refere à tese de doutorado da autora. Os dados aqui apresentados foram coletados no ano de 2017, durante as aulas de Ciências lecionadas na escola selecionada para objeto de estudo.

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CONTEXTOS EDUCACIONAIS: FORMAÇÃO, LINGUAGENS E DESAFIOS

ANÁLISE DA CONCEPÇÃO DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AS ATIVIDADES NA ESCOLA: UM ESTUDO BASEADO NA PÓS-MODERNIDADE 1

CARVALHO, Egláia de Doutoranda em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Docente na Secretaria de Educação do Estado do

Paraná, Brasil [email protected]

ANDRADE, Mariana A. B. S. Profa. Doutora no Departamento de Ciências Biológicas, e Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciência e Educação Matemática

(PECEM). Universidade Estadual de Londrina (UEL) [email protected]

Eixo 2: Educação Básica

Resumo Este artigo objetiva mostrar que, apesar da sociedade atual demonstrar características pós-modernas (consumismo, narcisismo e hedonismo), por intermédio da análise dos dados obtidos neste trabalho, os alunos de sextos anos de uma escola pública na região norte do Paraná, Brasil apreciam atividades que priorizam a socialização e a integração nas relações interacionais entre si. Nossa sociedade passou por transformações, no foco da Pós modernidade, características que podem ser percebidas em nossa sociedade ocidental. A análise dos dados coletados a partir da aplicação de um questionário, permitiu a estruturação de projetos multidisciplinares que envolvessem professores de diferentes disciplinas, comunidade escolar e órgãos públicos. Os resultados demonstram que tais atividades, diferenciadas, são propícias para o engajamento dos alunos, pois estes se sentem motivados, o que permite um trabalho pedagógico voltado às emoções, à valorização do outro, ao trabalho em equipe, e contribuem para o desenvolvimento de valores como o sentimento de pertencimento, de valorização do espaço público, coletivo. Palavras-chave: Pós-modernidade; Multidisciplinaridade; Ensino.

Introdução

A prática da ação docente das autoras deste trabalho permite dizer

que, nos bancos escolares, estão sentados indivíduos que apresentam características

comuns: não têm muito interesse nas aulas, demonstram certa apatia nos

relacionamentos interpessoais, pois estão conectados a seus celulares, seja para

1 Este trabalho contém resultados parciais de uma pesquisa que se refere à tese de doutorado da autora. Os dados aqui apresentados

foram coletados no ano de 2017, durante as aulas de Ciências lecionadas na escola selecionada para objeto de estudo.

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ouvir música, para assistir vídeos, para tirar fotos para postá-las nas redes sociais,

etc. Esta espécie de inércia observada nas salas de aula tem sido fonte de discussões,

de debates, de preocupação de boa parte dos professores. O que fazer para que eles

se envolvam com as atividades escolares voltadas ao desenvolvimento cognitivo,

intelectual, à construção do saber?

Objetivos

O objetivo deste trabalho foi analisar como os alunos identificam a

escola como um lugar de aprendizagem e socialização.

Este artigo tem o intuito de mostrar os resultados dessa investigação,

que está relacionada à presença de características pós-modernas (consumismo,

narcisismo e hedonismo) nas relações interacionais entre os referidos alunos.

Metodologia

A escola em que o trabalho descrito foi desenvolvido é uma instituição

fundada em outubro de 2014, está localizada em um município da região norte do

Paraná e oferece ensino regular para turmas de Ensino Fundamental e para Ensino

Médio nos períodos matutino e vespertino. Até o momento da coleta dos dados (2018),

não havia turmas no noturno porque não havia demanda. No período matutino, havia

turmas de Ensino Médio e nonos anos do Ensino Fundamental, com um total de cento

e oitenta e sete alunos. No período vespertino havia turmas de sextos, sétimos e

oitavos anos, com trezentos e oitenta e dois alunos. A soma de alunos dos dois turnos

totalizava quinhentos e sessenta e nove, o que a caracterizava como escola de

pequeno porte. As salas de aula tinham, em média de vinte a vinte cinco alunos

matriculados e de dez a quinze alunos assíduos.

Este trabalho consistiu-se de algumas etapas. Houve a aplicação de

questionário aos alunos, por escrito, com posterior discussão, em sala de aula, a partir

das respostas encontradas. De posse das informações, foram elaborados os quadros

inseridos neste artigo. Em seguida, houve planejamento de atividades a partir do que

os alunos responderam, reunião com a equipe pedagógica da escola para colocá-la a

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par das intenções e das necessidades para a execução das atividades dos projetos

transdisciplinares elaborados.

Finalmente, as atividades planejadas foram desenvolvidas com os

alunos e o processo passou a ser descrito e analisado.

Referencial teórico

A instituição está situada em uma região de conflitos sociais, sendo

considerada uma zona violenta, epicentro de conflitos de disputas territoriais

associadas ao tráfico de drogas, o que justifica a falta de demanda para o ensino

noturno.

O Plano Político Pedagógico (PPP) da escola prevê o seguimento de

atividades curriculares sugeridas por outros documentos oficiais, como as Diretrizes

Curriculares Estaduais, por exemplo. No entanto, é necessário fazer bastante

adaptação curricular para atender a clientela, pois devido ao grande número de faltas

e para tentar evitar o abandono escolar, além do programa FICA2, os alunos passam

a ter um atendimento diferenciado, além daqueles já previstos para os alunos que

apresentam as mais diversas dificuldades de aprendizagem no decorrer do processo

pedagógico regular. Não consegui puxar o parágrafo para cá. No entanto, mesmo com

a implementação desse programa, ainda se observa um número expressivo de

evasão escolar, por diversos motivos, muitos deles fora do alcance da escola. Para

tentar diminuí-la, existe um esforço dos educadores seja por adaptações curriculares

ou por projetos extracurriculares.

Os alunos são oportunizados a realizar as mais diferentes atividades

avaliativas dentro das disciplinas curriculares existentes. Toda produção e todo

avanço do aluno são avaliados como positivos e continuados, desde que ele tenha

participado das atividades, que tenha se empenhado, se esforçado para fazer o seu

melhor. Em alguns casos, quando atitudes de integração, aumento de desempenho,

2 Para a instrumentalização do Programa foi criada a “FICA” (Ficha de Comunicação do Aluno Ausente). Tal instrumento teve e

tem como objetivo acompanhar os casos de evasão de todos os alunos a partir do momento em que apresentem ausência de 5 dias

consecutivos e 7 dias alternados. Com estes fins, a SEED assume o papel de mediar o contato com Secretarias do Estado, Ministério Público,

Patrulha Escolar. Isto se faz necessário também no enfrentamento aos principais motivos da evasão, que podem estar situados em fatores

para além dos pedagógicos (violência contra a criança e o adolescente, drogadição, trabalho infantil ou outros), os quais devem ser

comunicados e acompanhados por órgãos competentes (PARANÁ, 2013, p. 6).

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socialização e participação são observados pelos professores, é entendido como

progresso do aluno. Só não são atribuídas notas e conceitos positivos quando o aluno

se recusa a participar de toda e qualquer forma de atividade, ou não frequenta as

aulas, o que é bastante comum, já que alguns alunos têm intenção de permanecer

dentro da escola para a realização de atividades impróprias. Várias paredes, carteiras

e espaços comuns da escola possuem rabiscos, escritos, com os mais diversos

materiais (corretivo, caneta, giz). Alguns alunos ligam a caixa de som que trazem de

casa no corredor ou pátio, alguns fazem uso de drogas em locais aparentemente

isolados, alguns jogam bola quando deveriam realizar outras atividades propostas

pelo professor de Educação Física ou até por outros professores, alguns encontram

o(a) namorado(a)/ficante, etc. Ou seja, há muitos alunos com interesses alheios ao

que a escola se propõe a oferecer. Nesse contexto, há conflitos que, muitas vezes,

inclusive, extrapolam os muros da escola.

O indivíduo, hoje, está inserido num cenário tecnológico fabuloso: há

muitos recursos digitais atraentes, muitas possibilidades de interação do ser humano

com a máquina. Não podemos negar os aspectos positivos do avanço das

tecnologias. A partir de um clique, pagamos contas, transferimos dinheiro, enviamos

arquivos, compartilhamos fotos, notícias, reportagens, livros, filmes, músicas, tudo.

Por outro lado, essa interação homem-máquina, apesar de, aparentemente, ter unido

pessoas por intermédio da diminuição da distância, ainda que virtualmente, tem feito

com que as pessoas se distanciem umas das outras. Há um individualismo

exacerbado em muitas pessoas. Valores como altruísmo, solidariedade, empatia

estão faltando. Discursos de ódio são facilmente encontrados nas redes sociais. O

que a escola pode fazer em meio a tudo isso? O primeiro passo para se chegar às

respostas é, talvez, entender como o pensamento coletivo da sociedade se constitui.

Por isso, apresentaremos algumas características dos períodos chamados

Modernidade e Pós-Modernidade, uma vez que as relações humanas podem ser

explicadas observando-se alguns eventos.

De acordo com Escobar (2009), o marco inicial do período

denominado Modernidade é a Revolução Francesa. Naquele momento, a nova classe

social dominante passa a ser a burguesia. O capitalismo passa a ser a nova forma

econômica estabelecida e se consolida em diversos países. Essa transformação nas

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relações mercantis, associada à Revolução Industrial, modificou a sociedade em

muitos aspectos. O ser humano desenvolveu ferramentas, máquinas, recursos

tecnológicos que ampliaram a velocidade de transformação das matérias-primas em

produtos finais, prontos para serem consumidos. Junto a esse desenvolvimento, o

modo de agir e de pensar das pessoas também se transformou. Aqueles que queriam

vender e lucrar se dedicaram à expansão dos negócios, enquanto um público

consumista surgia, pouco a pouco. Havia um sentimento positivo em relação ao

progresso, havia crença nos ideais do Iluminismo. Era um período relativamente

eufórico, mas também cheio de conflitos entre a burguesia e a classe trabalhadora, o

que ocasionou lutas e correntes socialistas contrárias à exploração do trabalho

humano. As desigualdades sociais se contrapunham aos avanços tecnológicos. A

função do Estado era intermediar os conflitos, mas, como ele nasceu dos conflitos de

classe, ele se tornou:

a instituição controlada pela classe mais poderosa, a classe dominante. Assim, na maior parte dos Estados históricos, os direitos concedidos aos cidadãos são regulados de acordo com as posses dos referidos cidadãos, pelo que se evidencia ser o Estado, um organismo para a proteção dos que possuem contra os que não possuem (ESCOBAR, 2009, p.4).

Com tantos conflitos, o sentimento predominante passa a ser o de

descrédito em relação aos ideais iluministas e à razão, que até então predominavam.

Conforme Escobar (2009), para alguns estudiosos, não existe,

necessariamente, uma condição pós-moderna, uma vez que acreditam que houve

uma mudança radical nas bases da modernidade. Essa autora utiliza as ideias de

Harvey e diz que a “pós-modernidade é fruto dos avanços políticos e culturais da

modernidade. A pós-modernidade nasce da modernidade” (p. 4) e que, assim “os

avanços tecnológicos, como a microeletrônica, a internet, a robótica, que hoje

permitem uma nova forma de vivenciar o contemporâneo, são, na realidade, frutos da

própria modernidade” (p. 4).

Existem, por outro lado, conforme Escobar (2009) outros autores que

definem o período chamado de Pós-Modernidade como aquele que teve início após

1960, no final do século XX. Trata-se de um período pós-guerra caracterizado pelo

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desencanto cultural acompanhado da crise de conceitos fundamentais como verdade,

razão e progresso.

Todo esse conjunto de transformações afetou a existência humana.

A vida metropolitana requer um nível elevado de consciência e inteligência do homem. A intelectualidade se destina a preservar a subjetividade contra o poder avançado da vida na metrópole. O ser humano resiste à uniformização do indivíduo. Nesse sentido a metrópole enquanto sede mais alta da economia do trabalho, requer que o homem se especialize o tempo todo para preservar seu lugar, seu espaço e não ser substituído pelo outro (ESCOBAR, 2009, p. 6).

Quando o ser humano precisa se especializar para permanecer em

seu posto, passa a existir competitividade. O olhar sobre o outro passa a ser diferente.

Não mais prevalece a solidariedade, a empatia. O individualismo, o hedonismo e o

narcisismo prevalecem, características estruturantes da sociedade consumista do

início do século XXI (REICHOW, 2015).

Reichow (2015) elaborou um texto a partir da leitura de textos de

Bauman, Campbell, Lasch e Lipovetsky, tentando explicar as relações humanas na

sociedade contemporânea. Conforme essa autora, Lipovetsky chama o período atual

de hipermodernidade, que “não estabeleceu a ruptura com os tempos modernos, mas

vive o superlativo dos seus valores, com intensidade e urgência” (p. 87).

À medida que o indivíduo se desprende das grandes narrativas da era

moderna (da razão e da ciência) e passa a não valorizar as referências externas a si,

surge a individualidade e a realização pessoal torna-se a base para o desenvolvimento

da sociedade.

Cada vez mais longe da influência do que é externo de si mesmo, o ser humano passa a explorar seus próprios desejos, suas emoções e sua consciência. O individualismo ganha fôlego e suas manifestações são compreendidas como um direito: a liberdade de se conhecer e explorar suas próprias possibilidades. As pessoas agora estão liberadas para ‘ser elas mesmas’, para conhecer e desenvolver sua personalidade única e para aproveitar a vida ao máximo (REICHOW, 2015, p. 87).

Surge, assim, a sociedade do eu, e cada indivíduo tem suas

prioridades, cada um reivindica o seu direito de ser, de se desenvolver, de

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experimentar, de sentir, de viver. A preocupação predominante passa ser a do bem-

estar próprio. Com isso, os relacionamentos também são afetados, pois “na obsessão

por si mesmo, trabalha-se para libertar o Eu da necessidade do outro, em um desejo

de autonomia, para renunciar o amor, em uma tentativa de amar-se o suficiente para

não ser dependente de mais ninguém” (REICHOW, 2015, p. 89). E essa é a prova de

que existe o narcisista: uma vez que ele se desprende dos outros para ser auto-

suficiente, ele tem uma plateia, uma audiência que lhe confere as inúmeras qualidades

que ele acredita ter. É o que diz Reichow (2015) baseando-se nas ideias de Lasch. E

ela ainda acrescenta que:

A ilusão do desprendimento apenas aumenta a insegurança, que só consegue ser superada com notoriedade, com reconhecimento por parte da audiência. Esse investimento centrado no Eu apenas alimenta as dúvidas e os questionamentos, em que ‘o Eu se torna um espelho vazio à força de uma estrutura aberta indeterminada que exige sempre e cada vez mais terapia e anamnese’ (REICHOW, 2015, p. 89).

Outra característica comum no sujeito contemporâneo é o hedonismo,

que consiste na busca do prazer, definido pelo sentimento de sentir mais,

intensamente, a cada momento, imediatamente. Cada indivíduo passa a ser o centro

de sua vida e a exploração das sensações de prazer do corpo e da mente são as suas

prioridades. O mundo psíquico é dominado pelo ego, em projeções que não

correspondem à realidade. Para Reichow (2009, p. 90), o ser hedonista:

[...] explora as sensações nas projeções que faz, e com o uso da imaginação: como um artista, ele aperfeiçoa memórias e momentos e aperfeiçoa em sua própria mente, para que se sejam agradáveis. [...] Instala-se uma busca por encontrar o prazer que foi idealizado para cada momento.

O hedonismo é uma disposição fantasiosa, distante da realidade, em

que o indivíduo substitui estímulos verdadeiros pelos ilusivos e constrói seu próprio

mundo aprazível. Isso explica o consumismo, de acordo com Reichow (2009), que

menciona as ideias de Campbell. Nessa realidade ilusória, o indivíduo:

[...] projeta em objetos as suas fantasias de prazer, satisfação e alegria, em uma distorção do que é efetivamente vivenciado. O foco é

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o valor experiencial da aquisição dos produtos, vivenciado internamente, nas ilusões criadas pelo hedonista. É assim que, através do prazer que pode ser projetado nas aquisições, as compras prestam serviços para essas pessoas à procura de novas sensações (REICHOW, 2015, p. 90).

A busca das sensações de prazer projetadas em produtos de

consumo torna-se um ciclo, pois assim que a compra e a utilização do produto forem

realizadas surge a sensação de tédio, de decepção, motivando novos desejos, novas

compras, novas satisfações (REICHOW, 2009, p. 90).

O indivíduo consumista é aquele que se preocupa consigo mesmo,

com a obtenção do prazer. Ele crê na felicidade própria, tem a ilusão de felicidade no

produto que deseja e quem tem papel decisivo nesse processo é a mídia. O discurso

midiático celebra o direito individual de escolha, desprendido do julgamento dos

outros, tornando-se a representação do narcisista à procura do seu prazer

(REICHOW, 2009, p. 90-91).

Assim, temos a caracterização do sujeito na pós-modernidade: eu

individualista, eu hedonista, eu narcisista, eu consumista.

A escola, sendo parte integrante da sociedade, contém indivíduos que

pertencem a esse mundo, que pensam sob determinadas influências, priorizam

determinados valores, agem e interagem demonstrando as características

mencionadas. Na tentativa de tentar analisar se os discentes identificam a escola

como espaço de aprendizado e/ou espaço de socialização foram desenvolvidas

atividades pedagógicas com alunos de sextos anos em uma escola pública da região

norte do Paraná, no ano letivo de 2018. Houve algumas etapas para o

desenvolvimento do trabalho, que teve início com questões diagnósticas para avaliar

o perfil dos alunos, como a idade, a constituição familiar, a origem dos mesmos e suas

preferências na participação em atividades escolares. Em seguida, foram elaboradas

e desenvolvidas as atividades na escola.

Resultados e Discussão

Este instrumento foi elaborado para a composição do perfil dos

alunos. As perguntas envolvem idade, origem, constituição familiar e tipos de

atividades das quais os alunos de dois sextos anos do período vespertino gostam de

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fazer na escola. O Quadro 1 contém as questões que foram entregues para os alunos

em uma folha separada, para que respondessem por escrito e entregassem para a

professora.

Quadro 1 - Instrumento diagnóstico utilizado na escola

1. Idade

2. Quantas pessoas (contando com você) vivem na sua casa?

3. Você é natural desta cidade, e/ou já morou em outros estados?

4. Em relação à escola, qual é o seu tipo de atividade preferida?

Fonte: as autoras

Durante a execução da atividade, os alunos faziam perguntas como

por exemplo: “Eu vou fazer aniversário amanhã! Quantos anos eu coloco?”; “Eu morei

no bairro tal, depois fui para outro e agora moro aqui perto. Eu morei em três lugares.

É isso que é para responder?”. A professora respondia as perguntas à medida em que

surgiam, objetivamente, aguardando outro momento para a discussão das respostas.

A atividade mostrou que houve envolvimento emocional dos alunos para responder

as questões que são, a princípio, simples. Ou seja, eles gostaram de fazê-la porque

os envolvia. Cada um queria contar para o colega sobre algo relacionado à questão

em que estava, motivos que condicionaram a mudança de cidade/estado/escola. Foi

necessária uma aula para esta atividade. Após a tabulação dos dados encontrados

nas respostas, houve discussão dos mesmos em sala de aula, e os alunos puderam

complementar as respostas com informações como com que parentes viviam, a

professora pode observar que os alunos se sentiram muito satisfeitos em responder

essas questões tanto para a professora, quanto repartir essas informações com seus

colegas. Uma aula foi utilizada para esta atividade. Tudo foi anotado em um diário

feito pela autora desta pesquisa.

As respostas dadas pelos alunos na questão 1 da atividade anterior e

a discussão permitiram identificar os seguintes resultados em relação à idade. As duas

turmas de sextos anos, juntas, continham 56 alunos matriculados. No entanto, apenas

31 frequentavam as aulas no período letivo da coleta destes dados, e foram estes os

participantes envolvidos.

Por meio do Quadro 2 (abaixo) é possível observar a faixa etária dos

estudantes que responderam ao instrumento diagnóstico. Os resultados obtidos

demonstram que há muitos alunos com idade superior ao considerado como normal

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para a série em questão. São 11 alunos em idade que corresponde à série e 20

considerados mais velhos, que deveriam estar em séries seguintes.

Quadro 2 - Faixa etária dos alunos

Unidades de Contexto Unidades de

Registro Incidência Frequência relativa

Faixa etária que compõe a amostra

11 anos 3 9,68%

12 anos 8 25,80%

13 anos 17 54,84%

14 anos 3 9,68%

Total.................................................................... 31 100,00%

Fonte: as autoras

O fato de a classe possuir uma faixa etária heterogênea a torna

desafiadora, pois os motivos para essa variação estão relacionados, principalmente,

à multirrepetência. As dificuldades dos alunos são inúmeras, os interesses variados,

as motivações para estudar são poucas. O multirrepetência pode ser explicada pelo

alto número de faltas destes alunos às aulas. Atualmente um aluno tem que ter 75%

de presenças no ano letivo para ser aprovado, muitos alunos atingem e excedem o

número de faltas permitido, que é o percentual de 25% de faltas, que corresponde a

200 faltas. A equipe diretiva e a coordenação em conjunto com o Conselho Tutelar e

utilizando o projeto FICA, trabalham no esforço de diminuir a quantidade de

reprovações por faltas. Uma vez que o número de faltas fique igual ou superior a

duzentas faltas, mesmo que o aluno possua nota suficiente para aprovação, ele é

retido automaticamente pelo sistema.

O Quadro 3 (abaixo) foi realizado a partir das respostas obtidas na

questão 2 do Quadro 1, anteriormente citado, do instrumento de coleta, referente à

constituição familiar dos alunos. A intenção era verificar se moram com pais, avós,

tios, etc.

Quadro 3 – Constituição familiar dos alunos

Unidades de Contexto

Unidades de Registro Incidência Frequência relativa

Família constituída por pais e irmãos 11 35,48%

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Constituição do núcleo familiar dos

estudantes

Família constituída por pais, irmãos, madrasta/padrasto e seus

respectivos filhos 15 48,39%

Família constituída pela vivência com a mãe ou avós

2 6,45%

Família constituída por mais pessoas que moram com a família,

como primos e tios 3 9,68%

TOTAL ......................................................... 31 100%

Fonte: as autoras

Tradicionalmente, a ideia que se tem de família é aquela composta

por pai, mãe e filhos. Em nossa sociedade, esse modelo sofreu mudanças e a

configuração familiar se transformou. Ao observar os dados dispostos no quadro

acima, percebe-se que 35,48% dos alunos dessas duas salas de sextos anos

possuíam a família no formato tradicional. Coincidentemente, é o mesmo percentual

de alunos em idade escolar adequada considerando-se a relação idade-série. No

entanto, não é possível identificar se correspondem aos mesmos alunos. Durante as

discussões sobre o grau de parentesco, foi possível perceber que há alunos que

sofriam com a ausência de algum familiar. Alguns disseram que a mãe ou o pai foi

embora com outra pessoa, ou morreu, ou foi preso(a), ou disseram não conhecê-los.

Alguns têm familiares presos, mortos, e até que “não ligam pra mim”. Havia um quê

de pesar nas falas de alguns alunos. Foi observado também, pelas respostas dos

alunos, que muitos núcleos familiares convivem em uma única casa, o que coloca

muitas crianças vivendo em coletividade.

Ao observarmos as respostas para a questão que envolve a origem

dos alunos em relação ao município, foi possível elaborar o seguinte quadro:

Quadro 4 – Naturalidade dos alunos

Unidades de Contexto

Unidades de Registro Incidência Frequência relativa

Origem dos estudantes

Nascido em Rolândia 13 41,93%

Viveu em outra cidade e mudou-se para Rolândia

10 32,26%

Morou em mais de uma cidade antes de Rolândia

3 9,68%

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Morou em três cidades ou mais antes de Rolândia

5 16,13%

Total ................................................ 31 100,00%

Fonte: as autoras

De acordo com as primeiras leituras dos dados do Quadro 4 (acima),

podemos observar que cerca de 58,06% destes estudantes eram provenientes de

outras cidades, sendo que cinco destes alunos são oriundos de outros municípios e

destes, um quarto já havia morado em mais de uma cidade. De acordo com

discussões em sala acerca das frequentes mudanças, as causas variam desde

desemprego dos provedores da casa, divórcio entre os responsáveis, violência e até

desastres naturais. As características do bairro, por ser um local de conflito, fazem

com que os valores de aluguel sejam mais acessíveis, e justifica a quantidade de

núcleos familiares que vivem em um mesmo espaço/domicílio

Este dado é importante, pois podemos inferir que as atitudes

observadas de reafirmação de identidade verificadas nestes alunos, como a

necessidade de colocar seus nomes, sua marca no mundo em toda oportunidade

possível (janelas, paredes, carteiras, quadros, mesas, livros, pratos do refeitório),

atitudes de reafirmação, para minimizar o sentimento de vazio e apatia podem estar

relacionadas a esse aspecto, ao de não sentirem “pertencidos” ao local em que estão.

Uma vez que a mudança de estado/cidade é uma constante, o fato de colocar o nome

em partes e em objetos/móveis da escola poderia resultar na ideia de “isso é meu”,

ou seja à ideia de pertencimento. Isto seria assunto para outra pesquisa investigativa,

com leituras provenientes da área da Psicologia, por exemplo. Para este trabalho,

estas informações nos mostram que os alunos podem compreender a escola como

espaço de abrigo, interação e socialização, oferecendo uma identidade, e em muitas

situações significando também segurança, local e muitas vezes onde fazem a única

refeição do dia. Por isso, atividades de integração com os colegas, com o espaço

escolar são significativas para os mesmos.

Por fim, as respostas da última questão do questionário aplicado e

discutido com os alunos nos revelam suas preferências em relação às atividades

escolares. Ao observá-las, é possível perceber que há três aspectos que podem ser

elencados: a) aspectos relacionados ao tipo de disciplina ou matéria de que mais

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gostam; b) aspectos relacionados ao tipo de atividade de alguma disciplina; c)

aspectos relacionados a atividades extracurriculares.

Quadro 5 – Preferências de atividades escolares

Unidades de Contexto Unidades de Registro Incidência Frequência

relativa

Aspectos que evidenciam atividades relacionadas a

disciplinas

Palavras que evidenciam atividades realizadas por alguma disciplina: "aula no laboratório", "terrário", "aulas de frações com alimentos",

"futebol de sabão" e "aulas práticas".

11 35,48%

Aspectos que evidenciam atividades multidisciplinares

Palavras que evidenciam atividades em conjunto com outras disciplinas: "gincana",

"passeios". 5 16,13%

Aspectos que evidenciam atividades extracurriculares

Palavras que remetem a atividades relacionadas pelos alunos em eventos

escolares, como viagens e passeios: "Ody Park"e "cinema".

15 48,39%

Total......................................... 31 100%

Fonte: as autoras

Conforme podemos perceber, as respostas dos alunos não estão

associadas às atividades curriculares de leitura, produção escrita, cálculo, ou ainda

às disciplinas de História, Geografia, Inglês ou outra qualquer que são amplamente

cobrados pelas esferas administrativas da educação e que afetam diretamente o

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Ou seja, para os alunos, as

atividades preferidas são aquelas que fogem da divisão ou da classificação em

disciplinas ou das tarefas, das atividades que são próprias delas. Para os alunos, a

preferência está no que é diferente, naquilo que acontece de vez em quando e,

portanto, deve ser aproveitada ao máximo, como aulas em laboratórios, aulas práticas

como confecção de terrário, aulas de frações com alimentos, aulas de Educação

Física com futebol de sabão e atividades em que estão atuando ativamente. Gostam,

ainda, de passeios, de gincanas, de cinema (seja o filme de cunho didático ou não).

Ou seja, existe motivação nos alunos para atividades que não são, exatamente,

aquelas que compõem o currículo escolar. São as atividades que precisam ser

inseridas, em forma de projetos e, algumas vezes, em forma de atividades

multidisciplinares ou interdisciplinares. São atividades que precisam ser valorizadas,

pois podem fazer toda a diferença entre o aluno gostar da escola ou não, entre o aluno

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permanecer na escola ou não. Além disso, tais atividades podem proporcionar

momentos pedagógicos para um trabalho voltado às emoções, à valorização do outro,

ao trabalho em equipe e a muitos outros aspectos que, no dia a dia da sala de aula,

podem passar despercebidos, mas que são fundamentais para a construção do

indivíduo social

Após a aplicação do questionário e discussão para descobrir a faixa

etária dos alunos, com quem moram, se são da cidade há muito tempo, suas

preferências escolares, etc, houve planejamento de atividades voltadas ao

desenvolvimento do sentimento de pertencimento dos alunos em relação ao espaço

escolar, à perspectiva de futuro, à preocupação com o meio ambiente e à integração

do currículo. Tais atividades previram a transdisciplinaridade. A disciplina ora

ministrada é a de Ciências, mas para o desenvolvimento das atividades planejadas,

houve necessidade de ir além das fronteiras dos conteúdos nela previstos. Como

professores, acabamos nos aprisionando dentro da segurança de nossas disciplinas.

Para a execução das atividades elaboradas, foi necessário abordar tópicos

pertencentes à História e à Geografia, por exemplo. Na tentativa de integração dos

conteúdos, houve pesquisas em livros da biblioteca da escola e da biblioteca

municipal, e um projeto foi laborado. Ele é voltado à arborização da escola e à

integração espacial do educando com o espaço em que estuda. Primeiramente, os

alunos, durante o período letivo de 2018, fizeram um trabalho de resgate histórico da

cidade, por meio de biografias de colonizadores, registradas em livros do acervo

municipal. De posse deste material, que contém a descrição das árvores nativas

presentes na região, no período de colonização, a professora realizou uma visita ao

viveiro do Instituto Ambiental do Paraná, sediado na cidade e saímos de lá com mudas

de árvores nativas da região para serem plantadas no espaço da escola, envolvendo

os estudantes e a comunidade escolar em atividades de geolocalização das mudas,

área de sombra das árvores, espaço de copa, incidência geográfica, além de

confecção de cartazes com estas características para disponibilizar no espaço da

escola, explicando o projeto e a escolha daquelas árvores. O objetivo desse projeto é

a apropriação do espaço público pelos estudantes, para que se sintam pertencentes

ao local, deixando “pegadas”, mas, desta vez, “pegadas” permitidas, e até necessárias

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na comunidade da qual fazem parte, realizando atividades de bem comum e de longo

prazo.

Conclusões

Os indivíduos de nossa sociedade capitalista apresentam

características associadas ao individualismo, que é predominante desde o final do

século XIX e início do século XX, período denominado de Pós-Modernidade. E esse

individualismo é reforçado com o acesso às redes sociais a todo momento, o que

provoca um isolamento social entre as pessoas, ainda que pareçam estar conectadas.

Nesse contexto, o ser humano é hedonista, narcisista e consumista. Suas

preocupações estão voltadas aos próprios desejos, vontades. Por isso, é muito

importante que a escola esteja atenta a esse perfil social para desenvolver atividades

voltadas ao desenvolvimento de sentimentos de solidariedade, de empatia, de

altruísmo, além de colocar os alunos em contato uns com os outros, para que

aprendam a valorizar o que o outro pensa, respeitar as diferenças, sendo a escola

também um espaço de inclusão.

Considerar o contexto histórico apresentado, entender as

características do alunado, planejar atividades voltadas a propiciar momentos de

aprendizagem e desenvolvê-las compõem o material de análise cujos resultados

estão sendo expostos, ainda que de forma parcial. A análise desse processo permitiu

observar como os alunos enxergam o espaço escolar. Para eles, a escola é um local

de socialização e de aprendizagem. Pode-se afirmar que os alunos, apesar de

demonstrarem, em vários momentos, características comuns a uma sociedade cada

vez mais individualista, preferem estar junto de outras pessoas, preferem

namorar/ficar, jogar bola, revelando busca pela coletividade. E, ao deixar suas marcas

nos bens móveis/imóveis, percebe-se que querem “pertencer” ao espaço físico em

que estão inseridos. Assim sendo, é importante que isto seja considerado no

planejamento das aulas e redirecionado, de modo a construir, com os alunos, a ideia

de coletividade e de pertencimento, de forma producente.

Quando questionados sobre quais atividades preferem participar, os

alunos responderam que são as atividades elencadas que envolvem interações

sociais e a coletividade. Nenhuma resposta sobre atividades envolvendo jogos em

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celulares, ou equipamento multimídia, foi elencada, o que é interessante do ponto de

vista de que estes alunos ocupam muito tempo nessas atividades, mas não as listam

como atividades que gostam de desenvolver na escola, local em que prezam as

atividades de cunho coletivo e integrador. Podemos analisar, a partir dos dados, que

a escola é um espaço de socialização para os alunos.

A professora de Ciências desenvolveu atividades transdisciplinares

que foram planejadas a partir da aplicação de um questionário para diagnosticar

alguns dados dos alunos, como faixa etária, naturalidade, composição familiar e

preferências de atividades escolares dos alunos, e os resultados foram bastante

satisfatórios, pois houve envolvimento dos alunos em todas as etapas e a interação

entre eles foi bastante importante, e houve alunos considerados faltosos, que

deixaram de faltar nos dias que tinham aula de Ciências para que pudessem participar

das atividades propostas. Outra observação importante que a autora pode constatar

por meio de gravação áudiovisual, e anotação em seu diário de campo foi que os

alunos considerados “difíceis” na sala de aula, pois são muito inquietos, não param

sentados para prestar a atenção na aula, e/ou até mesmo considerados agressivos

com os colegas, adotam postura totalmente diferente quando retirados de sala de

aula, adotando postura de liderança das atividades e pró-atividade, canalizando sua

energia nas atividades propostas. Isso pode nos fazer refletir sobre este aspecto da

escola, em que muitos alunos são considerados maus alunos, quando na realidade

estão sendo subestimados, ou tendo suas habilidades suprimidas. Em contrapartida,

quando retornam em sala de aula para que os conceitos científicos que embasaram e

são o propósito da atividade sejam estudados, estes alunos tornam a ter a postura

anteriormente adotada de apatia, mesmo depois de terem vivenciado em prática os

assuntos que agora estão sendo abordados na forma teórica.

Tendo em vista os aspectos mencionados faz-se necessário que a

escola obtenha um olhar diferenciado para com os alunos, considerando os

documentos oficiais, e fazendo as adaptações necessárias com o contexto atual, de

respeito e valorização. Frente às características da pós-modernidade e toda uma

prática social hedonista, consumista e narcisista, ainda, na escola, estas crianças,

futuros cidadãos, encontram um refúgio durante a exploração de atividades de

valorização da vida, e meio ambiente, seja de modo sistemático ou prático.

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Referências

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BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. ______. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007a. ______. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007b. BRASIL. Educação fiscal no contexto social. 5ª edição. Brasília: ESAF. 2014. ______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n.º 8.069, de 13 de Julho de 1990. ______. Projeto de Lei 6583 de 2013. Disponível em <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=597005>. Acesso em: 20 nov. 2016. ESCOBAR, Karin Alves do Amaral. Modernidade e Pós-Modernidade: promessas, dilemas e desafios à condição humana. In: IV Jornada Internacional de Políticas Públicas. Universidade Federal do Maranhão. São Luís-MA, 25 a 28 ago. 2009. HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. IFPR. Projeto Pedagógico do Curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio. Resolução nº 48, de 16 de dezembro de 2014. PARANÁ. Programa FICA Comigo: enfrentamento à evasão escolar / Secretaria de Estado da Educação. Curitiba: SEED – Pr., 2009. REICHOW, Lisandra Darde Krüger. Individualismo, hedonismo e narcisismo na hipermodernidade. In: Anais do Salão de Pesquisa da Faculdades EST, v. 14, 2015, p. 86-93.