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SOCIEDADE RECREATIVA E CULTURAL OS ZÍNGAROS: APONTAMENTOS INICIAIS SOBRE A TRAJETÓRIA DE UM CLUBE NEGRO DA CIDADE DE BAGÉ/RS NO PÓS-ABOLIÇÃO Tiago Rosa da Silva Mestrando em História pela UFPel [email protected] Resumo O objetivo do texto a seguir é expor apontamentos iniciais da pesquisa que versa sobre a trajetória do clube Recreativo e Cultural Os Zíngaros, situado na cidade de Bagé/RS. Forjado no pós-abolição, esta sociedade de negros e negras bageense que permanece em atividade até os dias atuais, buscou de várias formas manter-se ativa no cenário recreativo e social de Bagé, oferecendo uma alternativa de lazer e sociabilidade para a comunidade negra local. O carnaval aparece como uma importante ferramenta que o clube utilizava para a sua inserção no cenário recreativo da cidade, visto que nesta data o clube se projetava mais efetivamente, mostrando, assim, uma organização frente aos demais clubes sociais locais. A partir disso, também será esboçado alguns aspectos sobre a importância conferida pelo clube ao período do carnaval. Palavras-chave: associativismo negro; pós-abolição; negros; Bagé. Introdução As narrativas construídas sobre a história de Bagé 1 cidade localizada no interior do Rio Grande do Sul e que faz fronteira com o Uruguai, sempre deram conta de privilegiar alguns nomes de cidadãos que representam o progresso local, seja no âmbito da economia como também no cenário cultural. Um detalhe torna-se interessante: esses sujeitos (brancos) são as representações e os anseios de uma elite local, que não quis perceber a pluralidade dos sujeitos que historicamente ajudaram na constituição deste espaço, principalmente os negros e indígenas. 1 Cidade localizada no sul do Rio Grande do Sul, distante 374 km da capital Porto Alegre.

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SOCIEDADE RECREATIVA E CULTURAL OS ZÍNGAROS:

APONTAMENTOS INICIAIS SOBRE A TRAJETÓRIA DE UM CLUBE

NEGRO DA CIDADE DE BAGÉ/RS NO PÓS-ABOLIÇÃO

Tiago Rosa da Silva

Mestrando em História pela UFPel

[email protected]

Resumo

O objetivo do texto a seguir é expor apontamentos iniciais da pesquisa que versa sobre a

trajetória do clube Recreativo e Cultural Os Zíngaros, situado na cidade de Bagé/RS.

Forjado no pós-abolição, esta sociedade de negros e negras bageense que permanece em

atividade até os dias atuais, buscou de várias formas manter-se ativa no cenário

recreativo e social de Bagé, oferecendo uma alternativa de lazer e sociabilidade para a

comunidade negra local. O carnaval aparece como uma importante ferramenta que o

clube utilizava para a sua inserção no cenário recreativo da cidade, visto que nesta data

o clube se projetava mais efetivamente, mostrando, assim, uma organização frente aos

demais clubes sociais locais. A partir disso, também será esboçado alguns aspectos

sobre a importância conferida pelo clube ao período do carnaval.

Palavras-chave: associativismo negro; pós-abolição; negros; Bagé.

Introdução

As narrativas construídas sobre a história de Bagé1 cidade localizada no interior

do Rio Grande do Sul e que faz fronteira com o Uruguai, sempre deram conta de

privilegiar alguns nomes de cidadãos que representam o progresso local, seja no âmbito

da economia como também no cenário cultural. Um detalhe torna-se interessante: esses

sujeitos (brancos) são as representações e os anseios de uma elite local, que não quis

perceber a pluralidade dos sujeitos que historicamente ajudaram na constituição deste

espaço, principalmente os negros e indígenas.

1 Cidade localizada no sul do Rio Grande do Sul, distante 374 km da capital Porto Alegre.

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A atuação de negros em Bagé no pós-abolição se deu principalmente na

constituição de sociedades recreativas, blocos carnavalescos e no futebol amador.

Diversos foram os cordões, ranchos e blocos que congregavam a comunidade negra

local em torno dos festejos do Momo, bem como existiram também na cidade clubes

sociais voltados para a sociabilidade negra, como é o caso do Clube Recreativo

Palmeiras, Saca-Rolha, Primavera, Aurora Social Clube e o Clube Os Zíngaros.

A partir disso, o principal objetivo do texto a seguir é expor um pouco da

trajetória da Sociedade Recreativa e Cultural Os Zíngaros na cidade de Bagé, no qual

buscaremos perceber alguns projetos e as perspectivas de atuação desta sociedade de

negros(as) bageenses.

Para tal propósito, utilizaremos como fontes o Caderno de Estatutos do Clube,

jornais locais e a metodologia da História Oral. Infelizmente são escassos os registros

documentais do Zíngaros, restando apenas três cadernos de atas, que remetem aos anos

de 1989 até 1998. Sabemos da importância de se conferir analise nos documentos

produzidos pelos sujeitos estudados, pois como bem pontua Silva, essas fontes “são

tidas enquanto constructos narrativos culturais os quais necessitam ser analisados na sua

historicidade” (SILVA, 2013, p. 1). Porém, como tais documentos do Clube são

escassos, iremos analisar os registros documentais que dispomos.

Sobre a metodologia da História Oral, esta permite “mergulharmos” nas

memórias acerca da experiência do clube, possibilitando, através de entrevistas, obter

“outras” compreensões acerca das relações sociais em Bagé. Para Alberti (2008), a

importância da História Oral se dá pelo fato de ser um “caminho interessante para se

conhecer e registrar múltiplas possibilidades que se manifestam e dão sentidos a formas

de vida e escolhas de diferentes grupos sociais, em todas as camadas da sociedade”

(ALBERTI, 2008, p. 164).

Cabe frisar a importância da conjuntura no qual o Zíngaros emergiram, no caso

o pós-abolição. Nesse contexto de acentuação das relações raciais no Brasil, a

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comunidade negra buscou meios de driblar e lutar contra o preconceito racial e os

estigmas que as teorias racialistas2 pregavam para este grupo.

O período pós-abolicionista será tomado aqui enquanto campo de disputas, no

qual os sujeitos negros (re) elaboraram identidades e acionaram práticas e ações

políticas para sua afirmação dentro de um cenário, que evidentemente, estavam em

desvantagem. Mesmo estando em condições desfavoráveis os negros não foram sujeitos

submissos e que assistiram calados a implementação da República brasileira. Nesse

sentido, a afirmação de Domingues (2009) torna-se fundamental para entendermos as

(re) elaborações identitárias dos negros no pós-abolição, no qual segundo o autor,

As experiências acumuladas durante a escravidão (a saber: as

identidades plurais; a valorização da família; os laços de amizade,

solidariedade e compadrio; os padrões de moralidade, ética e honra; o

papel da mulher nas relações de gênero; as estratégias de negociação,

acomodação, conflito e politização do cotidiano; a vida associativa em

irmandades, confrarias e agremiações mutualistas) não foram

apagadas da memória, mas reelaboradas e projetadas dinamicamente

no período do pós-abolição (DOMINGUES, 2009, p. 239).

Na cidade de Bagé acreditamos não ter sido diferente, pois na pesquisa em

jornais locais e os relatos obtidos através da História Oral nos mostram que a

comunidade negra bageense buscou sua visibilidade numa sociedade demarcada

racialmente, seja através da formação de blocos de carnaval, de clubes recreativos e

inclusive na formação de uma liga de futebol voltada para o segmento negro3.

Para Silva (2013), estes espaços forjados pelo grupo negro foram criados como

resposta à sociedade ao qual estavam inseridos, configurando-se enquanto espaços

racializados. Interessante notar que em Bagé houve locais em que negros não

circulavam, como é o caso da calçada do clube Comercial, situado na Avenida Sete de

2Sobre as teorias racialistas, a análise de Lilia Schwarcz se torna interessante, em que a autora afirma que

tais teorias, gestadas na Europa do século XVIII foram muito bem recebidas no Brasil, “servindo assim

“para explicar as diferenças e [justificar] hierarquias” (SCHWARCZ, 1993, p. 65). 3 Encontramos referência a uma liga de futebol de negros em Bagé, a liga 13 de Maio. Tal competição

reunia times de futebol amador da cidade, tais como o Sport Club Palmeiras, Riachuelo Foot-Ball Clube e

o Sport Clube União. Houve também disputas de partidas amistosas entre times de Bagé contra equipes

de Pelotas que disputavam a Liga José do Patrocínio. Fontes pesquisadas: O Palmeira, 06/11/1927 e A

Revolta, 25/05/1925.

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Setembro, no centro da cidade 4 . Esses episódios evidenciam que numa sociedade

marcada pelo preconceito racial, para além de espaços públicos racializados, “as redes

sociais – de amizades, famílias, de contatos, de colaboração profissional – tendem a ser

racializadas” (MONSMA, 2013, p. 12).

Nesse sentido, a localidade de Bagé torna-se um importante lócus de estudo

sobre as relações raciais e sociais empreendidas pelos sujeitos negros no pós-abolição,

em que através da pratica da sociabilidade, os negros bageenses buscaram a valorização

do grupo mantendo diversas atividades entre os seus.

“De Qualquer Geito” surge os Zíngaros.

Com o objetivo de festejar o carnaval de rua em Bagé no ano de 1936, onze

homens acabaram por fundar, em dois de Janeiro deste ano, o Bloco Carnavalesco Os

Zíngaros5. O objetivo era o de congregar a comunidade negra bageense, proporcionando

um espaço de lazer e de folia pelas ruas da cidade. Em quatro de Abril de 1944, o bloco

é elevado à categoria de Sociedade Recreativa Os Zíngaros, mostrando, quem sabe

assim, seu crescimento na cidade e a necessidade de expandir suas atividades sociais e

recreativas. Já em quinze de Novembro de 1975, o clube passa a denominar-se

Sociedade Recreativa e Cultural os Zíngaros.

Desde o ano de seu surgimento que o clube ocupa lugar nas alternativas de

recreação local em Bagé, porém com um diferencial dos demais: é considerado pelos

bageenses como um espaço pertencente à comunidade negra, assim como os diversos

clubes negros que foram forjados no Rio Grande do Sul e demais estados brasileiros,

demarcando espaços de sociabilidade em um contexto de exclusão e discriminação

racial da população negra brasileira.

4 Segundo relato do Sr. Luis Barbosa, que pertenceu ao quadro diretivo do Zíngaros na década de 1970,

havia por parte da comunidade negra local consenso em ao chegar na calçada do clube Comercial,

atravessar a rua. 5 Fundaram o Bloco Carnavalesco Os Zíngaros: Pedro Mendes, Nadir Alves da Costa, Martím c.

Fernandes, Constantino Monteiro, Antonio Alves, Antonio S. Alves, Claudio Cavalheiro, Edmar C.

Madruga, Ferdinando Saraiva, Elias Bell e Gervasio Rodrigues. Estatutos da Sociedade Recreativa Os

Zíngaros. 1948. Typografia da Casa Maciel, Bagé.

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Em entrevista realizada com o Sr. Ivoncléo Monteiro, homem negro e professor

aposentado, que foi presidente do Zíngaros de 1965 a 1992, o mesmo disse que o bloco

dos Zíngaros foi fundado a partir do Rancho Carnavalesco De Qualquer Geito6. Como

observamos na pesquisa nos jornais locais, ainda no ano de 1938 encontra-se referência

ao Qualquer Geito no carnaval de rua de Bagé7. A partir disso, podemos cogitar a

hipótese de que o bloco do Zíngaros surgiu de uma dissidência do rancho De Qualquer

Geito. Essas dissidências eram comuns dentro dos espaços recreativos dos negros, pois

nem sempre tais espaços foram permeados por laços harmoniosos e houveram muitas

disputas em torno de projetos, cargos diretivos e os rumos que muitas sociedades

tomariam. Dentro do próprio Zíngaros aconteceu uma dissidência na década de 1960, no

qual alguns sócios, dentre eles o Sr. Ivoncléo Monteiro, fundaram o Aurora Social

Clube.

Este clube, que teve uma duração efêmera dentro do cenário recreativo negro

bageense, se caracterizou por manter certo padrão de exigência por parte da direção,

principalmente no que tange as vestimentas dos seus associados. Infelizmente não há

nenhum documento do clube que tenha resistido ao tempo, porém este ainda está

presente nas memórias do grupo negro bageense8.

Com relação ao Zíngaros, a partir do ano de 1944 este bloco torna-se uma

sociedade Recreativa, utilizando os salões da Sociedade União Operária para a

realização de seus bailes e festejos, localizado na atual rua João Teles, no centro da

cidade. No dia vinte e um de março ano de 1948 é aprovado em assembleia geral

extraordinária o primeiro estatuto da sociedade, que foi elaborada por uma comissão

composta por Manoel Arideu Monteiro, José Moraes de Lima, José Antônio Corrêa e

Santiago da Rosa.

Na época, a direção da sociedade era composta pelos seguintes sujeitos:

6 Depoimento do Sr. Ivoncléo Monteiro. Concedido ao autor no dia 16/05/2016. 7 Correio do Sul, 18/02/1938. 8 Em entrevista realizada pelo autor com o Sr. Vilmar Paiva dos Santos, no dia 10/05/2016, o mesmo

afirma que na década de 1960 o Aurora Social Clube recebeu a visita do cantor e sambista Jamelão, sendo

este um dos momentos mais marcantes da rápida existência do referido clube.

Nome Cargo Profissão

Antônio Alves Presidente de Honra --------------

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Fonte: Estatutos da

Sociedade Recreativa

Os Zíngaros.

1948. Typografia

da Casa Maciel,

Bagé. SRCZ.

Com relação a profissão dos membros da diretoria presentes no quadro acima,

percebe-se que há empregos que eram de difícil acesso para negros naquele contexto,

como é o caso de Manoel Arideu Monteiro, que era professor, e Norberto Moreira e

Oscar Martins Presidente de Honra --------------

Elias Bell Presidente de Honra Sapateiro

Santiago da Rosa Presidente Efetivo Escriturário

Amancio F. do Prado Vice-presidente --------------

José Antônio Corrêa 1º Secretário --------------

Eugênio Machado 2º Secretário --------------

Norberto Moura Moreira 1º Tesoureiro Escriturário

Hormar Santos Ramos 2º Tesoureiro --------------

Gregorio Dutra 1º Procurador --------------

Vilmar Rodrigues 2º Procurador --------------

José Moraes de Lima Orador --------------

Adão Silva Mércio Orador --------------

Constantino Monteiro Diretor Fiscal Pintor

Manoel C. Bittencourt Diretor --------------

Vicente Lopes Diretor --------------

Walter Santos Bell Diretor Sapateiro

Pedro Mendes Diretor Ferroviário

Elias Santos Bell Diretor Sapateiro

José Carlos Lima Diretor --------------

Moacir Corrêa Vieira Diretor --------------

Luiz Gonçalves Diretor --------------

Adão Santana Lacrote Diretor --------------

Nadir Alves da Costa Diretor Sapateiro

Manoel Arideu Monteiro Diretor Professor

Danglares C. Moraes Diretor --------------

Sebastião Santos Diretor --------------

Antonio P. Machado Diretor --------------

Martin Corrêa Fernandes Comissão de contas Marceneiro

Teodoro Gomes Garcês Comissão de contas --------------

João Pereira Moraes Comissão de contas --------------

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Santiago da Rosa, que exerciam a profissão de escriturário. O interessante é que se

levarmos em conta os empregos dos fundadores do bloco do Zíngaros, ainda no ano de

1936, dos onze nomes, seis aparecem com a profissão de sapateiro, um como pintor, um

eletricista, um enfermeiro, um ferroviário e um marceneiro. Atentando para essas

profissões, nota-se que na grande maioria eram empregos considerados estáveis

financeiramente.

Nesse sentido, a análise de Escobar (2010) se torna interessante, pois segundo a

autora, estar empregado e ser um profissional assalariado significava mobilidade social

para a população negra. O trabalho livre estável somado com a organização destes

profissionais negros viabilizou a formação de elites negras (ESCOBAR, 2010, p. 72).

Acredito que esses critérios devem ser levados em consideração com os membros

fundadores do Zíngaros, pois estes tinham cargos empregatícios que a grande maioria

dos negros não tinham acesso, como é o caso de Antonio Alves, cuja profissão era a de

enfermeiro.

Sobre o estatuto da sociedade, percebemos que há certa rigidez com relação a

postura que se deve ter para se associar, como é observado no artigo número dois do

referido estatuto, no qual escreve-se que “todo o cidadão para ser admitido como sócio é

preciso ser moralizado e que não se dê á prática de maus costumes, assim como a

senhora ou senhorita é preciso ser de conduta inatacável 9 . Observa-se assim certa

similaridade com as práticas adotadas pelo clube Fica Ahí da cidade de Pelotas, pois

segundo Loner E Gill (2007),

“O clube Fica Aí era o mais exigente em termos de seus estatutos e

contava com uma estrita vigilância por parte da diretoria sobre o

comportamento de seus membros, especialmente do sexo feminino,

mantendo uma acesa e feroz discriminação contra aqueles que não

aceitavam suas imposições sobre a moral e os costumes (LONER e

GILL, 2007, p. 2-3).

No Zíngaros também havia uma vigilância por parte da direção no

comportamento feminino, e isso se reflete não só em algumas partes do estatuto, como

também em relatos orais. No artigo 35 do estatuto observa-se que “só poderão fazer

parte da sociedade como sócias efetivas, as senhoras e senhoritas, cuja honestidade não

se possa por em duvida”10. Em depoimento do Sr. Ivoncléo Monteiro, o mesmo afirmou

que na década de 1960 presenciou uma cena no clube em que uma moça não pôde

9 Estatutos da Sociedade Recreativa Os Zíngaros. 1948. Typografia da Casa Maciel, Bagé. p. 4. 10 Estatutos da Sociedade Recreativa Os Zíngaros. p. 19.

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dançar, pois um membro da equipe diretiva descobriu que esta não era mais virgem. A

partir disso, a moça teve de permanecer sentada todo o momento em que os demais

sócios dançavam11.

Ao mesmo tempo em que eram submetidas a certos constrangimentos e

humilhações em um espaço regido majoritariamente por homens, as mulheres negras

presentes nos clubes sociais eram as principais responsáveis por certas atividades e

muitas vezes por ajudar a tirar os clubes de situações financeiras de risco.

Analisando a trajetória do Clube [negro] Gaúcho, forjado na cidade de Caxias do

Sul no ano de 1934, Fabrício Gomes (2008) percebeu que a ala feminina deste clube era

a principal responsável por ajudar nos momentos que a sociedade passava por

dificuldades financeiras. Também nesse sentido Taiane Lopes (2015) observou que a

atuação das mulheres negras do Clube Social negro 24 de Agosto foi fundamental na

consolidação de diversas atividades, mostrando que mesmo envolto de vários conjuntos

de normas e padrões impostos pelos homens, as mulheres negras presentes nos espaços

dos clubes sociais protagonizaram muitas ações e lutas e foram fundamentais para a

manutenção destes espaços.

Até o momento da pesquisa encontramos apenas uma referência a um centro

feminino que atuava dentro do clube Os Zíngaros, no ano de 194912. Ademais, além de

atuarem de forma decisiva para a manutenção do clube, mesmo não fazendo parte de

quadros diretivos, as mulheres também protagonizavam as escolhas das rainhas de

carnaval e da primavera, momentos de extrema importância na vida social do clube.

Como escrito anteriormente, assim que se consolidou enquanto sociedade, Os

Zíngaros realizavam seus bailes e festas nos salões da União Operária de Bagé. A partir

do ano de 1949 o clube começou a realizar uma campanha para a aquisição de sua sede

própria, como é possível perceber através do anúncio que transcrevemos abaixo:

Sociedade recreativa os zíngaros – baile de neve – Conforme vem

sendo amplamente anunciado esta sociedade, em continuação a seu

11 Depoimento do Sr. Ivoncléo Monteiro concedido ao autor no dia 16/05/2016. 12 No ano de 1949, o Jornal O Palmeira divulgou uma festa que será realizada pelo Zíngaros, sendo a

noticia a seguinte: “A Sociedade Recreativa Os Zíngaros, convida seus associados para o grandioso Baile

da Neve, que se realizará na noite de 27 do corrente, em sua sede social. Nota – Qualquer informação

com referencia a esta festa poderá ser dada aos cavalheiros pela diretoria e as senhoras e senhorinhas

pelo centro feminino da sociedade”. (grifos do autor). O Palmeira, 07/08/1949.

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programa de festas, realizará no próximo dia 27, o seu grande baile da

neve. Intensos são os trabalhos e o entusiasmo entre “Zíngaros”, para

esta festa, que esperam superar todas as já realizadas e que terá a

presença de comissões de outras cidades vizinhas. Em nosso próximo

numero, daremos maiores detalhes do que será essa noitada.

Campamha da sede própria – A diretoria desta sociedade também,

deu inicio a uma grande campanha, em prol de sua sede própria.

Diversas são as modalidades que os Zíngaros empregarão para a

aquisição de fundos para a compra de sua sede, constando uma delas

de um Livro de Ouro, o qual já foi aberto, por alta gentileza, pelos

exmos. Srs. Drs. Valter Jobim e Carlos Kluwe, digníssimos

governador do estado e prefeito municipal, respectivamente, livro este

que será levado a todos os associados e simpatizantes dos Zíngaros.

(O Palmeira, 07/08/1949).

O anúncio acima se torna interessante, pois percebemos que através da

campanha para a aquisição de sua sede o Clube manteve relações com figuras políticas

importantes, tanto no contexto estadual, como é o caso do então governador do Estado

do Rio Grande do Sul, Valter Jobim, como também em âmbito municipal, com o então

prefeito municipal de Bagé Dr. Carlos Kluwe. No mesmo ano de 1949 três membros da

equipe diretiva do Zíngaros, sendo eles Santiago da Rosa, Amazonas Bittencourt e Julia

da Rosa viajaram a Porto Alegre para negócios do clube e lá foram recebidos pelo

governador Valter Jobim (O Palmeira, 07/08/1949). Isso mostra que as redes políticas

estabelecidas pelos membros do Clube eram vastas, saindo das do âmbito do município

de Bagé.

Cabe frisar a importância do contexto em que tais relações foram estabelecidas

pelos membros do clube. O Estado Novo foi palco de transformações no imaginário da

construção da identidade nacional brasileira, influenciada principalmente pelos estudos

de Gilberto Freyre sobre a ideia de democracia racial, no qual negros e índios foram

incorporados enquanto integrantes da nação, pois havia a necessidade de uma unidade

nacional propagada pelo governo Vargas a partir da ideia de mestiçagem. Essa

conjuntura pode ter feito com que sujeitos negros ampliassem seus espaços de atuação,

aumentando suas redes políticas, sociais e profissionais, mesmo que de forma tímida.

Ao mesmo tempo em que mantinha relações com a elite política gaúcha,

membros do Clube também mantinham relações com entidades de classe, como é o caso

da Sociedade União Operária de Bagé - pois o clube usava seu espaço para a realização

de suas festas - bem como entidades de outros municípios. Em 1952 o clube realizou

uma excursão para a cidade vizinha de Lavras, onde foi convidado pelo Clube Operário

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1º de Maio daquele município para a realização de um espetáculo (O Palmeira,

26/07/1952).

Importante notar a relação de blocos carnavalescos e clubes negros com as

entidades de classe presentes em Bagé, como é o caso da União Operária e da Liga

Operária, em que estas sociedades classistas sediam seus espaços para que diversas

entidades realizassem suas atividades13.

Pesquisando as cidades de Pelotas e Rio Grande entre os anos de 1888 a 1930,

localidades que possuíam um grande número de negros, Loner (2001) afirma que estes

eram o elemento operário por excelência, especialmente em Pelotas, devido ao alto

número de trabalhadores localizados nas charqueadas. No pós-abolição, a opção para os

negros de se organizarem em entidades de classe, “era mais essencial do que para

qualquer outro grupo de trabalhadores, pois representava uma das poucas esperanças de

melhoria de vida” (LONER, 2001, p. 240).

Ainda nesse sentido, a mesma autora defende a posição de que,

Os negros tentaram sua integração na sociedade através de sua

consolidação como trabalhadores, neste sentido, a luta pela

organização da classe operária ocupou papel importante na estratégia

de suas principais lideranças, aos quais participam, ao mesmo tempo,

de associações classistas e de associações negras (LONER, 2008, p.

252).

Mapeando o surgimento do Clube Social [negro] 24 de Agosto, localizado na

cidade fronteiriça de Jaguarão no ano de 1918, Nunes (2010) observou que este clube

foi forjado no âmbito do Circulo Operário Jaguarense por trabalhadores negros que

eram impedidos de frequentarem certos espaços, no qual o principal eram os clubes

sociais existentes na cidade. Estas informações são importantes para percebermos que as

organizações negras do período pós-abolicionista extrapolaram apenas as de caráter

recreativo e cultural, chegando ao âmbito das associações de caráter classista.

No ano de 1959, o legislativo bageense através de um projeto de lei nº 774,

autorizou a prefeitura a doar um terreno para a Sociedade Recreativa Os Zíngaros

13 Encontramos referência ao clube Recreativo dos cozinheiros, que utilizava os salões da Liga Operária

de Bagé (O 28 de Setembro, 23/10/1938), bem como os Blocos De Qualquer Geito e As Teimosas, que

também realizavam bailes no salão da referida sociedade. (O Teimoso, 22/01/1928). O Sr. Vilmar Paiva

dos Santos afirma que o Clube Carnavalesco Piratas do Amor utilizava os salões da Liga Operária para a

realização de suas festas de carnaval. (entrevista realizada em 10/05/2016).

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edificar sua sede. Este terreno era localizado na Rua Dr. Veríssimo, próximo ao centro

da cidade. Segundo o projeto de lei, a construção deveria ser realizada no prazo de três

anos a partir da promulgação do oficio, ou seja, o Clube teria até o ano de 1962 para

concluir as obras, caso contrário o patrimônio seria revertido novamente ao município.

Devido à carência documental, não sabemos com exatidão se o Clube concluiu a

obra de sua sede no prazo dos três anos, porém o que sabemos é que no final da década

de 1960 o prédio do clube já estava de pé, situado no número 258-E da Rua Dr.

Veríssimo. Podemos atrelar a conquista da sua sede própria às relações políticas

estabelecidas pelos sujeitos do clube, pois não era fácil para um clube negro na cidade

de Bagé, uma localidade demarcada racialmente, conseguir através da prefeitura um

terreno para edificar sua sede.

Com a aquisição de sua sede, agora o clube teria mais fôlego para promover

atividades e fomentar os laços de solidariedade da comunidade negra bageense.

Também com a troca de sede, se deu uma renovação no quadro diretivo da sociedade,

entrando no ano de 1965 o professor Ivoncléo Monteiro. Monteiro é uma das figuras

mais ilustres do carnaval bageense, e foi enquanto presidente do Clube que ele

fomentou diversas atividades culturais e engajamento do grupo negro envolto do clube.

Ivoncléo Monteiro presidiu o Zíngaros de 1965 a 1992, período no qual o clube deu

destaque para o carnaval de rua de Bagé.

Em 1973, sob sua gestão, foi fundada a Academia de Samba Os Zíngaros, que

colocava o clube nas disputas do carnaval de escolas de samba de Bagé, disputando com

entidades tradicionais da cidade, como a Aliança, Ipanema e Copacabana. O fato de o

clube forjar uma escola de samba para concorrer no carnaval, denota que neste período

já existia um cenário competitivo no carnaval de rua de Bagé, no qual existiam diversas

entidades carnavalescas e escolas de samba localizadas em diversos bairros da cidade14.

A organização de sua escola de samba foi registrada pela imprensa local, como

por exemplo, o Jornal Correio do Sul, que no ano de 1973 publicou a seguinte matéria:

14 Sobre a importância do carnaval de rua de Bagé, ver: SILVA, Rafael Rosa. Nem confetes, nem

serpentina: a resistência do Bloco Burlesco Brasa Viva no carnaval de Rua de Bagé RS. Jaguarão:

UNIPAMPA, 2015 (trabalho de conclusão de Curso de Bacharelado em Produção e Política Cultural).

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Academia de Samba “Os Zíngaros” – A Sociedade Recreativa e

cultural Os Zíngaros já está se preparando para os grandes festejos do

reinado de Momo e seu presidente promete grandes surpresas para

este carnaval, não só no clube, como também no carnaval de rua,

quando o pessoal daquela sociedade apresentará para os bajeenses a

“Academia de Samba Os Zíngaros”, com enredo, bonitas fantasias e

muita animação (Correio do Sul, 04/01/1973).

Nesse mesmo contexto, o clube Os Zíngaros também possuía um departamento

de futebol, que era coordenado pelo operário Vanderlei Barbosa, figura de muita

importância no quadro social do clube. Tudo indica que através dos esforços da equipe

diretiva, o Clube atuou em diversas frentes, sendo o futebol e o carnaval algumas delas.

Essas frentes de ação do clube podem ser tomadas enquanto projetos desta

sociedade de negros bageense, que objetivavam mostrar a localidade de Bagé que estes

sabiam se organizar e fomentar diversas atividades culturais, proporcionando lazer e

diversão para seus sócios. Mostrar-se organizados e estruturados era muito importante,

pois além de dar visibilidade aos agentes envolvidos, também elevava a autoestima dos

sócios e de sua equipe diretiva, afirmando assim o que Silva (2011) chamou de

identidade negra positiva.

Diversos clubes sociais negros do pós-abolição bancaram projetos para suas

inserções dentro dos espaços em que estavam inseridos. Como exemplo, podemos citar

a atuação do Clube Gaúcho, que tentou sua interação na cidade de Caxias

primeiramente através da prática do futebol e posteriormente através da criação da

escola de samba Os Protegidos da Princesa (GOMES, 2008). Ambas as atividades deste

clube tornaram-se fundamentais para dar visibilidade e evidenciar o protagonismo dos

sujeitos envolvidos em torno do clube.

Tais projetos também foram presentes no Clube Renascença, localizado no Rio

de Janeiro. Giacomini (2006) percebeu a atuação do clube em vários momentos

distintos, seja através da sua consolidação enquanto espaço familiar, depois a

valorização da mulher negra através de concursos de misses e posteriormente o

momento de expressão da negritude, no qual a autora percebeu o diálogo dos sujeitos

envolvidos no clube com as tendências Black Power, muito característico do

movimento negro norte-americano.

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Percebe-se assim diversas estratégias de atuação de clubes negros no pós-

abolição. Seja no sul ou sudeste do Brasil, os sujeitos negros envolvidos em torno de

clubes sociais buscaram interagir de diversas formas nas localidades em que estavam

inseridos, configurando assim uma busca pela valorização da imagem e autoestima da

comunidade negra.

Para Os Zíngaros, a sua organização com relação ao carnaval deu frutos

positivos. A academia de Samba do clube ganhou o concurso de escolas de samba de

Bagé do ano de 1973, no primeiro ano em que desfilou, trazendo muito brilho, diversas

alas e maravilhosas fantasias (Correio do Sul, 08/03/1973).

O sucesso da academia de samba do clube foi tanto, que neste mesmo ano a

escola recebeu um convite para desfilar na cidade uruguaia de Melo. A imprensa local

cobriu esta excursão, momento em que a visibilidade do clube extrapolou as fronteiras

nacionais. Transcrevemos abaixo a matéria que o jornal publicou, pois mesmo sendo

um pouco longa, torna-se interessante para analisarmos a expansão das atividades

exercidas pelos membros do clube:

Na Passarela (sobre como foi em Melo) – No fim de semana, os

bageenses deram um “show” de carnaval para os vizinhos uruguaios.

Numa promoção do COMDETUR, atendendo a convite formulado

pela administração de Melo, esteve sábado naquela cidade a Escola de

Samba campeã do carnaval bageense. Contando com a participação de

todos os seus integrantes, a Escola de Samba Os Zíngaros desfilou e

sambou nas ruas da cidade oriental, mostrando aos uruguaios um

pouco do verdadeiro carnaval brasileiro. Além dos componentes da

escola, muita gente acompanhou a caravana e, o que é mais

importante, muitas pessoas que pareciam tão alheias ao samba, que

nos pareciam incapazes de vibrar com o carnaval, caíram na folia,

acompanhando o ritmo contagiante do Zíngaros. A opinião geral de

todos os que participaram da excursão é das mais favoráveis. “Tudo

certo, tudo muito bom”, é o que diz o pessoal que sábado esteve em

Melo. Isso é “Bagé em Expansão”. Nosso município, até bem pouco

vivendo apenas na lembrança dos velhos reinados momescos, agora,

podemos dizer, já exporta carnaval (Correio do Sul, 27/03/1973).

A Academia de Samba Os Zíngaros fez com que o nome do clube fosse levado

ao país vizinho, num momento muito importante da trajetória deste clube. O anúncio

acima se torna significativo, afirmando que agora a cidade de Bagé estava exportando

carnaval, e isso através da atuação de luxo de uma escola de samba formada pela

comunidade negra que atuava em torno do clube Os Zíngaros.

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Esse episódio evidencia que a importância conferida pela direção do clube ao

período do carnaval deu resultados positivos, fazendo com que a cidade de Bagé

passasse a conhecer mais o clube Os Zíngaros.

Outros projetos foram levados adiante pela administração do clube, como a

valorização da mulher negra através de concursos de beleza, principalmente a Boneca

Café do Brasil e o Miss Mulata Zona Sul. Estes momentos foram de extrema

importância para a trajetória social do Zíngaros, elevando a autoestima da mulher negra

e fazendo com que o clube dialogasse com outros clubes co-irmãos, levando seu nome

para outras regiões.

A análise em torno deste clube de negros de Bagé que hoje tem oitenta anos está

longe de se esgotar, assim como os estudos das ações utilizadas pelos sujeitos negros no

pós-abolição, porém são um passo interessante para se perceber uma outra Bagé,

mostrando que dentro de um espaço racializado, negros e negras buscaram sua

valorização construindo espaços próprios para a convivência entre os seus.

Referências Bibliográficas

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Jornal O 28 de Setembro, Bagé, ano de 1938 (Museu Dom Diogo de Souza).

Jornal A Revolta, Bagé, ano de 1925 (Museu Dom Diogo de Souza).

Jornal O Teimoso, Bagé, ano de 1928 (Museu Dom Diogo de Souza).

Jornal O Correio do Sul, Bagé, anos de 1938 e 1973 (Arquivo Público Municipal

Tarsísio Taborda).

Estatutos da Sociedade Recreativa Os Zíngaros. 1948. Typografia da Casa Maciel,

Bagé.

Bibliografia:

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