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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1          espaço para o ensino de Empreendedorismo em um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia?     Resumo O presente artigo se propõe a discutir o ensino de Empreendedorismo em um tradicional campus de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Partindo do pressuposto teórico de que o conceito de currículo transcende a matriz curricular, o projeto pedagógico e demais balizadores da prática pedagógica, tornandose um local em que permanentemente ocorre a ressignificação da vida, esta pesquisa dividese em dois momentos. Primeiramente são identificados os componentes curriculares que abordam a temática ‘Empreendedorismo’, e posteriormente são apresentados e discutidos dados de um excerto de um survey realizado junto a docentes do campus em questão. Considerando que o Empreendedorismo não é apenas um fenômeno econômico, mas também social e cultural, e que a difusão da cultura empreendedora pode promover reais mudanças sociais, entendese que a educação para o Empreendedorismo é necessária e importante, bem como que as instituições de ensino em geral tem um papel a desenvolver nesse âmbito. Após analisar os dados, é possível concluir que existe espaço para o ensino do Empreendedorismo, delimitado não apenas pelas matrizes curriculares como também por meio das opiniões manifestadas pelos participantes do survey.  Palavraschave: Ensino. Empreendedorismo. Currículo. Docentes.    Erica Pereira Martins Instituto Federal Sulriograndense [email protected]   Márcia Helena Sauaia Guimarães Rostas Instituto Federal de Educação, Ciencias e Tecnologia SulRioGrandense ‐ IFSul  [email protected]    

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    Há espaço para o ensino de Empreendedorismo em um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia?    

 

Resumo O  presente  artigo  se  propõe  a  discutir  o  ensino  de Empreendedorismo  em  um  tradicional  campus  de  um Instituto  Federal  de  Educação,  Ciência  e  Tecnologia. Partindo  do  pressuposto  teórico  de  que  o  conceito  de currículo  transcende  a  matriz  curricular,  o  projeto pedagógico  e  demais  balizadores  da  prática  pedagógica, tornando‐se  um  local  em que permanentemente ocorre  a ressignificação  da  vida,  esta  pesquisa  divide‐se  em  dois momentos.  Primeiramente  são  identificados  os componentes  curriculares  que  abordam  a  temática ‘Empreendedorismo’, e posteriormente são apresentados e discutidos  dados  de  um  excerto  de  um  survey  realizado junto a docentes do campus em questão. Considerando que o  Empreendedorismo  não  é  apenas  um  fenômeno econômico, mas  também social e cultural, e que a difusão da cultura empreendedora pode promover reais mudanças sociais,  entende‐se  que  a  educação  para  o Empreendedorismo é necessária e  importante, bem  como que  as  instituições  de  ensino  em  geral  tem  um  papel  a desenvolver  nesse  âmbito.  Após  analisar  os  dados,  é possível  concluir  que  existe  espaço  para  o  ensino  do Empreendedorismo, delimitado não apenas pelas matrizes curriculares  como  também  por  meio  das  opiniões manifestadas pelos participantes do survey.  Palavras‐chave: Ensino. Empreendedorismo. Currículo. Docentes.   

 Erica Pereira Martins 

Instituto Federal Sul‐rio‐grandense [email protected] 

  

Márcia Helena Sauaia Guimarães Rostas Instituto Federal de Educação, Ciencias e 

Tecnologia Sul‐Rio‐Grandense ‐ IFSul  [email protected] 

  

 

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Introdução 

A  abordagem  da  temática  ‘Empreendedorismo’  durante  a  formação  escolar  e 

acadêmica  nos  indivíduos  nem  sempre  se  faz  presente.  Não  são  todas  as  matrizes 

curriculares que abrangem  componentes em que a  temática  se  faça presente,  ficando, 

muitas vezes, a critério do professor expandir o conteúdo nesse sentido ou não. 

Da  mesma  forma,  sabe‐se  que  em  instituições  de  ensino  como  os  Institutos 

Federais  de  Educação,  Ciência  e  Tecnologia,  há múltiplas  interpretações  a  respeito  da 

pertinência  do  ensino  do  Empreendedorismo. O  objetivo  primeiro  dessas  instituições, 

definido por meio de decreto, está expresso como:   

[...] ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação profissional  nos  diversos  setores  da  economia,  com  ênfase  no desenvolvimento  socioeconômico  local,  regional  e  nacional.  (BRASIL, 2008, s.p.)  

Frequentemente  essa  finalidade  é  interpretada  como  estritamente  vinculada  à 

educação  profissional,  automaticamente  ligada  à  formação  de  mão‐de‐obra.  Nesse 

sentido,  nem  sempre  se  consegue  perceber  a  pertinência  do  ensino  do 

Empreendedorismo, uma vez que sua definição está popularmente – e equivocadamente 

– ligada à abertura de empresas. 

Cabe salientar que a associação do propósito dos Institutos Federais de Educação, 

Ciência  e  Tecnologia  exclusivamente  à  formação  de  mão‐de‐obra  é  não  menos 

equivocada.  A  partir  do  momento  em  que  essas  instituições  se  propõem  a  formar 

cidadãos  que  possam  ser  atores  no  desenvolvimento  socioeconômico,  uma  série  de 

outras possibilidades advém dessa iniciativa. 

Essa  breve  contextualização  contribui  para  apresentar  a  problemática  que  deu 

origem  ao  presente  artigo:  há  espaço  para  o  ensino  de  Empreendedorismo  em  um 

Instituto  Federal  de  Educação,  Ciência  e  Tecnologia?  Com  o  objetivo  de  discutir  a 

existência  (ou  não)  desse  espaço,  foi  desenvolvido  este  trabalho.  A  fim  de  investigar 

aspectos  do  problema  identificado,  se  definiram  duas  estratégias  metodológicas. 

Primeiramente, foi realizado um  levantamento entre as matrizes curriculares dos cursos 

do  Campus  analisado,  pertencente  a  um  Instituto  Federal,  buscando  identificar  quais 

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componentes  comportam  a  temática Empreendedorismo em  seus planos de ensino. O 

intuito de tal estratégia se dá partindo do princípio que o primeiro espaço para investigar 

a existência do ensino de uma determinada disciplina é dentro do instrumento que busca 

definir  formalmente  o  que  ‘deve’  ser  ensinado.  Nesse  sentido,  a  matriz  curricular 

primeiramente se define como esse espaço. Porém, cabe salientar que a matriz curricular 

é apenas um componente do currículo, o qual, de acordo com a definição de Silva (1995, 

p.184) consiste no “conjunto de todas as experiências de conhecimento proporcionadas 

aos/às estudantes”. Sendo assim, fica evidente que o espaço para essa discussão não se 

encerra na matriz, o que será discutido posteriormente. 

Em um segundo momento foram analisados dados de um survey realizado por um 

grupo de pesquisa do Campus que  foi  cenário do estudo, o qual objetivou  conhecer  a 

percepção  da  equipe  docente  a  respeito  da  temática.  Foram  identificadas  algumas 

questões que contribuem para o objetivo desse estudo, as quais são  trazidas para essa 

pesquisa a fim de contribuir com a problematização proposta. 

Ao  final,  com base nos dados  levantados  e  analisados,  se propõe uma  reflexão 

sobre a problemática original, apontando caminhos e perspectivas. 

 

Por que ensinar Empreendedorismo? 

Segundo  Dornelas  (2008,  p.22)  Empreendedorismo  pode  ser  definido  como  “o 

envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias 

em  oportunidades”.  Adicionalmente,  Dolabela  (2008,  p.  59)  define  o  termo 

Empreendedorismo  como  “[...]  um  neologismo  derivado  da  livre  tradução  da  palavra 

entrepreneurship, utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor”.  

Nesse  sentido,  vale  conceituar  o  que  é  empreendedor.  Fillion  apud  Dolabela 

(2008) afirma que o uso e o significado do termo variam de acordo com a região e época 

em  que  são  utilizados. Nos  séculos  XIX  e  XX,  empreendedores  eram  considerados  os 

grandes  proprietários  de  indústrias.  Na  atualidade,  empreendedor  é  um  termo  mais 

utilizado para se  referir a características comportamentais, superando a  ideia antiga de 

que  empreendedor  é  somente  aquele  que  tem  um  negócio.  Uma  definição  mais 

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contemporânea para o conceito de empreendedor é apresentada por Chiavenato (2003, 

p.  365),  que  define  que  “o  empreendedor  é  a  pessoa  que  consegue  fazer  as  coisas 

acontecerem”. O  autor  também  aponta,  na mesma  obra,  que  três  características  são 

intrínsecas ao empreendedor: necessidade de realização; disposição para assumir riscos, 

e autoconfiança.  

Dornelas (2008, p.1) afirma que “o conceito de empreendedorismo tem sido muito 

difundido no Brasil nos últimos anos”. Uma das possíveis razões para esse fenômeno no 

país  tem  a  ver  com preocupação governamental e de entidades de  classe em especial 

acerca  das micro  e  pequenas  empresas. Dada  a  oscilação  nos  índices  de  desemprego, 

sabe‐se que empreender um pequeno negócio acabou se tornando a realidade de muitas 

pessoas. 

O  Empreendedorismo  ainda  é  uma  área  de  estudo  bastante  recente,  cerca  de 

quatro décadas, de  acordo  com Dolabela  (2008), mas  tendo em  vista que está,  via de 

regra,  ligada ao desenvolvimento econômico das  regiões, e considerando as  flutuações 

da economia mundial, vem gradualmente conquistando reconhecimento como antídoto 

às  recessões  ou  mesmo  deseconomias.  Segundo  Dolabela  (2008,  p.  61),  “o 

Empreendedorismo  deve  conduzir  ao  desenvolvimento  econômico,  gerando  e 

distribuindo riquezas e benefícios à sociedade”. O empreendedor, por sua característica 

de estar sempre buscando o novo, evolui e avança em virtude das descobertas que faz, as 

quais podem  se  referir  a  uma  infinidade de  elementos,  como  novas oportunidades de 

negócios,  novas  formas  de  comercialização,  vendas,  tecnologia,  gestão,  etc.  Estas 

características dos empreendedores ratificam a  importância do Empreendedorismo para 

a  sociedade  contemporânea  e  a  necessidade  da  incorporação  da  educação 

empreendedora no sistema  formal de ensino, a  fim de manutenção da sustentabilidade 

dos sistemas econômicos.      

A  questão  fundamental  quando  se  pensa  em  Educação  Empreendedora  ou 

Educação  para  o  Empreendedorismo  é  saber  se  uma  pessoa  pode  aprender  a  ser 

empreendedora e de que maneira alcançar esse objetivo. 

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Shane  e  Venkataraman  (2000)  acreditam  ser  improvável  explicar  o 

Empreendedorismo  somente  pelas  características  pessoais,  independentemente  da 

influência das  situações  e do  ambiente  em que  essas pessoas  se  encontram.  Segundo 

Dolabela apud Freitas e Martens (2008), ainda não existe resposta científica para saber se 

é possível ensinar alguém a ser empreendedor, mas sabe‐se que é possível aprender a sê‐

lo, sendo para isso fundamental a criação de um ambiente que propicie esse aprendizado. 

Na  visão  desses  autores  fica  claro  que, mais  do  que  fatores  internos  ao  indivíduo,  o 

desenvolvimento  do  Empreendedorismo  provém  do meio  externo  e  das  experiências 

vivenciadas. 

A partir da  identificação desse  aspecto,  inserem‐se  as  instituições de  ensino,  as 

quais podem ser responsáveis por promover essa mudança necessária nos  indivíduos de 

modo a desenvolver empreendedores por meio da educação. Mas para isso é necessária 

a  adoção  de  mecanismos  e  procedimentos  pedagógicos  que  estimulem  o 

desenvolvimento de competências básicas empreendedoras, a partir de uma nova leitura 

por parte do educador, vislumbrando a maior aproximação entre o ensino e o mercado, 

de acordo com Crisostimo e Scabeni (2008).  

Uma das vantagens em adotar o ensino para o empreendedorismo já na educação 

básica, segundo Degen apud Crisostimo e Scabeni (2008), é o acúmulo do aprendizado ao 

longo da vida, sendo que a maioria das pessoas aprende mais rapidamente na juventude, 

o que  torna  esse  um momento propício para preparar  um  indivíduo para  empreender 

uma  atividade  ou  negócio.  Para  Dolabela  (2004),  além  de  trabalhar  com  estudantes 

universitários, é essencial que se trabalhe esse assunto em todos os âmbitos, em todos os 

níveis de educação. 

Dolabela  (2004)  afirma  que  o  empreendedorismo  é  não  só  um  instrumento  de 

geração  de  riqueza, mas  também  um  fenômeno  social  e  cultural.  Por  esse motivo  a 

educação empreendedora deve fundamentar‐se numa forte conexão e cooperação com 

as  forças  vivas  da  comunidade.  Assim,  o  professor  deve  estar  disposto  a  enfrentar  o 

desafio  de  introduzir  novos  conteúdos,  novos  processos  didáticos,  e  a  superar  os 

obstáculos  que  inevitavelmente  se  apresentam  a  quem  quer  inovar,  de  acordo  com 

Dolabela  apud  Freitas  e Martens  (2008).  A  posição  do  autor  ratifica  a  importância  da 

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influência  externa  para  a  construção  do  perfil  empreendedor  e  a  necessidade  de 

superação das dificuldades que cercam as tentativas de empreender.  

Outra questão é a forma como o Empreendedorismo deve ser trabalhado em sala 

de  aula.  Por  se  tratar  de  um  assunto  muito  prático  e  que  envolve  principalmente 

experiências e vivências, a pura explanação teórica pode tornar‐se um empecilho para o 

ensino  dessa matéria. Os  autores  Solomon, Duffy  e  Tarabishy  apud  Freitas  e Martens 

(2008) apontam para algumas das principais ferramentas de aprendizagem, como: planos 

de  negócios,  contatos  com  empresas  iniciantes,  conversas  com  empreendedores, 

simulações  computacionais,  simulações  comportamentais,  entrevistas  com 

empreendedores no ambiente de negócios, história de vida de empreendedores, viagens 

a campo e uso de vídeos e filmes. 

Dolabela  apud  Freitas  e  Martens  (2008),  criador  da  metodologia  para  o 

desenvolvimento de empreendedores denominada Oficina do Empreendedor, afirma que 

o  professor  passa  a  ter  nova  função:  ser  o  criador  do  ambiente  favorável  ao 

desenvolvimento  do  empreendedor;  ele  passa  a  ser  o  organizador  da  cultura 

empreendedora. O autor salienta que o professor não é um especialista em apresentar 

respostas  certas, mas,  pelo  contrário,  deve  buscar  adquirir  a  capacidade  de  formular 

perguntas  que  possam  desencadear  nos  estudantes  os  processos  de  criatividade, 

identificação  de  oportunidades,  análise  de  viabilidade,  adoção  de  medidas  de 

minimização de riscos. 

Diante dessas argumentações, pode‐se constatar que a abertura de espaço para o 

ensino do empreendedorismo do ensino básico à pós‐graduação aparece como uma boa 

prática para disseminar os conceitos e aplicações da matéria, bem como minimizar a ideia 

de que é preciso que a pessoa nasça com perfil próprio para ser empreendedor. E se o 

ambiente  influencia  diretamente  nesse  processo,  é  de  fundamental  importância  a 

preparação das instituições de ensino e dos educadores para a oferta dessa disciplina. 

 

 

 

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Como se define o que se ensina e para quem? 

Conforme  até  aqui  explanado,  percebe‐se  que  existem  vários  argumentos 

favoráveis ao ensino do Empreendedorismo e os possíveis benefícios que podem surgir 

dessa atividade. Porém, sabe‐se que o processo pelo qual se legitima um conteúdo não é 

tão  simples.  Para  compreender  esse  processo,  cabem  algumas  reflexões  teóricas  a 

respeito.  

Primeiramente,  ao  avaliar  a  existência  ou  não  de  uma  determinada  temática 

dentro  de  uma  proposta  curricular,  tende‐se  a  pensar  em  consultar  as  matrizes 

curriculares estabelecidas. Porém, cabe salientar que uma matriz curricular é apenas uma 

lista  de  conteúdos  e  disciplinas  que  também  fazem  parte  do  currículo.  A matriz  não 

encerra  todas  as  possibilidades  de  ensino  que  uma  instituição  tem  a  oferecer.  Nesse 

sentido, é necessário pensar em termos de uma perspectiva mais abrangente: o currículo. 

A  definição  de  Silva  para  currículo,  apresentada  anteriormente,  traz  a  ideia  de  que  o 

currículo está – ou deveria estar – no foco das discussões sobre educação. 

Pacheco  (2005,  p.29)  destaca  que  “o  termo  currículo  foi  dicionarizado  pela 

primeira  vez  em  1663”.  Sua  definição  inicial  remetia  para  a  ideia  de  curso  regular  de 

estudos em escola ou universidade. Sacristián (2000), por sua vez, afirma que ao passo 

que o uso do conceito de currículo é relativamente recente, sua prática, ao contrário, é 

uma realidade fortemente estabelecida por meio de comportamentos de ordens diversas: 

didática, política, administrativa, econômica, etc. 

Paralelamente,  Silva  (2005,  p.12)  chama  atenção  para  os  riscos  que  se  corre  ao 

tentar definir currículo; segundo ele “um discurso sobre o currículo (...) não se restringe a 

representar uma coisa que seria o ‘currículo’, que existiria antes desse discurso e que está 

ali,  apenas  à  espera  de  ser  descoberto”. Descrever  um  currículo  puramente  com  esse 

propósito apenas produz uma noção específica e particular  sobre o que ele possa  ser. 

Nesse sentido, Silva (2005, p.13) apresenta fortes críticas às noções de Franklin Bobbitt, 

ao iniciar o que veio a ser a Teoria Curricular Tradicional, afirmando que ele “se limitou a 

descobrí‐lo [o currículo] e descrevê‐lo”. Adicionalmente, Pacheco (2005, p.35) afirma que 

“devido  à  sua  natureza  e  dimensão  pouco  consensual,  qualquer  tentativa  de  definir 

currículo  converte‐se  em  uma  tarefa  árdua,  problemática  e  conflitual”.  Os 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

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questionamentos  que  emergem  da  problematização  do  conceito  de  currículo  são 

inúmeros.   

Silva  (2010,  p.10)  afirma  que  “a  tradição  crítica  compreendeu,  há muito,  que  o 

currículo está no centro da relação educativa, que o currículo corporifica os nexos entre 

saber, poder e identidade”. Nesse sentido, fica evidente a posição política que o currículo 

ocupa, sendo frequentemente principal alvo em reformas educacionais. O currículo serve 

como  veículo  para  que  determinadas  ideologias  e  visões  de  mundo  possam  ser 

reforçadas ou rejeitadas.  

Com  relação  ao  objeto  do  currículo,  Silva  (2005,  p.  14)  afirma  que  “a  questão 

central que serve de pano de fundo para qualquer teoria do currículo é a de saber qual 

conhecimento deve ser ensinado”. Como resposta ao questionamento proveniente dessa 

situação,  diversas  teorias  surgem,  construindo  respostas  com  base  em  diferentes 

enfoques. Adicionalmente, Silva  (2005, p.  15) argumenta que “nas  teorias do  currículo, 

entretanto, a pergunta ‘o quê?’ nunca está separada de uma outra importante pergunta: 

‘o que eles ou elas devem ser?’, ou melhor, ‘o que eles ou elas devem se tornar?’.” Essas 

reflexões conduzem o pensar sobre o currículo a uma questão também de identidade. Se 

for  considerado  o  atual momento  social,  em  que  cada  vez mais  novas  identidades  se 

constroem e  se  reconstroem,  fica mais evidente ainda o poder que o currículo carrega 

consigo. Pacheco  (2005)  aponta que os  estudos de gênero devem ganhar  força nesse 

cenário, uma vez que  identidades podem ser destruídas e construídas nos processos de 

escolarização. Sacristán (1995) acrescenta a esse poder do currículo a  ideia de educação 

multicultural, fortemente defendendo a  ideia de que a educação precisa ter capacidade 

de acolher a diversidade. 

Um  sujeito que merece destaque na  sua  relação  com o  currículo é o professor. 

Sacristán (2000, p.147) afirma que “o professor (...) tem, de fato, importantes margens de 

autonomia da modelação do que será o currículo na realidade.” Para que o docente possa 

fazer  uso  adequado  das  margens  que  lhe  são  permitidas  nesse  processo,  se  faz 

necessário um direcionamento pedagógico e institucional bem definido. Sacristán (2000, 

p.166) reforça essa ideia afirmando que “o currículo molda os docentes, mas é traduzido 

na prática por eles mesmos – a influência é recíproca”. Na prática o docente sempre será 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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o  responsável  primeiro  –  embora  ele  seja  apenas  uma  engrenagem  de  uma  maior 

estrutura – pela concretização do currículo. 

Reconhecida  a  grandiosidade  da  atividade  do  sujeito  docente  no  processo  de 

vivência e  consolidação do  currículo, Morgado  (2004, p.123)  afirma  ser  “imprescindível 

que  os  docentes  alterem  suas  práticas  escolares,  abandonando  o  tradicional, mas  em 

muitos  casos  ainda  vigente,  papel  técnico  de  transmissores  e  executores  de  decisões 

educativas  tomadas  fora  da  escola”,  acrescentando  que  tal  atitude  poderia  inclusive 

transformar substancialmente a educação. Assim, a resposta ao questionamento  ‘como 

se  define  o  que  se  ensina  e  para  quem?’  passa  essencialmente  por  reflexões  sobre 

ideologia,  identidade,  aprendizado,  educação,  que  são  transformadas  diariamente  em 

práticas por meio da ação docente, a qual deve ser discutida e planejada com base em 

uma concepção que leve em conta tudo o que o currículo é – revelado ou oculto – e o que 

ele pode ser. 

 

Metodologia 

Para  investigar  o  objetivo  proposto,  foram  definidas  duas  estratégias 

metodológicas.  

Primeiramente serão analisadas as matrizes curriculares dos cursos oferecidos em 

ensino  de  pós‐graduação  stricto  senso  (um  programa),  ensino  de  pós‐graduação  lato 

senso  (três  cursos),  ensino  superior  (sete  cursos),  e  ensino  técnico  de  nível  médio 

(totalizando  nove  cursos,  que  ofertam  distintas  modalidades  entre  integrado, 

concomitante e subsequente). 

Foram  selecionados  para  essa  análise  apenas  os  cursos  com  oferta  presencial, 

porém  a  Instituição  analisada  oferta  alguns  desses  e  outros  cursos  na modalidade  à 

distância. O propósito dessa  atividade é  identificar em quais  cursos existem disciplinas 

que  abordem  a  temática  ‘Empreendedorismo’,  bem  como  quais  os  nomes  destas 

disciplinas. A metodologia para o tratamento desses dados é a análise de conteúdo, que 

de acordo com Bardin (1977), se organiza em três tempos: pré‐análise, fase inicial em que 

se  realiza  a  organização  do  material  a  ser  estudado;  exploração  do  material  a  ser 

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estudado/categorização, que consiste na seleção do material a ser analisado de acordo 

com  os  objetivos  da  pesquisa  e  posterior  operação  de  classificação  de  elementos  de 

acordo com critérios que melhor respondam aos objetivos; e, tratamento dos resultados, 

que consiste em interpretar teoricamente os dados encontrados. 

Em um  segundo momento  foram escolhidas  algumas questões extraídas de um 

survey  fruto de um projeto de pesquisa  intitulado  “O olhar docente  sobre  a Educação 

Empreendedora”,  realizado  por  um  grupo  de  pesquisa  pertencente  à  instituição  de 

ensino, objeto desta análise. Em termos de classificação metodológica, a pesquisa original 

consistiu  em  uma  pesquisa  exploratória  com  relação  aos  seus  objetivos  e  um 

levantamento de acordo com seus procedimentos, de acordo com Gil (1991). A pesquisa 

foi  aplicada  com  os  docentes  de  todos  os  níveis  de  ensino  da  instituição  em  questão 

durante  o  ano  de  2013,  totalizando  235  respondentes  de  um  universo  de 

aproximadamente 350 profissionais. A  fim de contribuir para o objetivo proposto nesta 

investigação, foram selecionadas, de um total de 16 itens, os resultados encontrados para 

as  seguintes  questões:  ‘Há  quanto  tempo  você  atua  na  área  de  docência?’;  ‘Qual  seu 

vínculo  de  trabalho  com  a  Instituição?’;  ‘Você  já  havia  ouvido  falar  sobre 

Empreendedorismo?’;  ‘ Você considera relevante que temas sobre o Empreendedorismo 

estejam  presentes  em  todos  os  níveis  e  modalidades  de  ensino?’;  ‘Você  tem 

conhecimento sobre as possibilidades de atuação profissional e mercado de trabalho de 

todos  os  cursos  para  os  quais  ministra  aulas?’;  e,  ‘Você  considera  que  o  aluno  que 

formamos  na  instituição  deve  essencialmente  procurar  sua  colocação  no mercado  de 

trabalho como empregado?’.  

 

Análise das matrizes curriculares 

Para  realização  desta  etapa  da  pesquisa,  a  qual  busca  identificar  componentes 

curriculares  que  contemplem  a  temática  ‘Empreendedorismo’,  foram  levadas  em 

consideração para tal análise as matrizes curriculares mais atualizadas de cada curso.   

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Nos  cursos  de  pós‐graduação,  tanto  lato  senso  quanto  stricto  senso,  não  foram 

encontradas disciplinas em que a temática esteja presente, conforme ilustrado na tabela 

a seguir: 

 Curso  

Não foram encontradas disciplinas 

Pós‐Graduação Lato Senso em Educação hab. Docência  x 

Pós‐Graduação Lato Senso em Educação  x 

Pós‐Graduação  Lato  Senso  em  Linguagens  Verbais,  Visuais  e  suas Tecnologias 

Programa de Pós‐Graduação Stricto Senso em Educação  x 

Tabela 1 – Cursos de Pós‐Graduação 

Uma possível explicação para tal realidade é em função de que tais cursos estão 

voltados  para  uma  atuação  profissional  bem  específica,  de  acordo  com  a  natureza 

conceitual  da  pós‐graduação  cujas  matrizes  foram  planejadas  contemplando  saberes 

estritamente específicos das áreas. Uma vez que  todos os cursos se destinam à prática 

docente e  suas  atividades  correlatas, possivelmente não  foi  levado em  consideração  a 

inclusão  dessa  temática  nas  matrizes  curriculares  –  o  que  pode  ser  considerado  um 

equívoco, dependendo do conceito adotado para Empreendedorismo. 

Nos  cursos  de  graduação  foram  identificadas  oito  disciplinas,  distribuídas  em 

quatro cursos, conforme ilustrado na tabela a seguir: 

Curso   Disciplinas identificadas  Não foram encontradas disciplinas 

Bacharelado em Design  ‐ Agenciamento e Empreendedorismo Total: 1 

 

Engenharia Elétrica  ‐ Administração aplicada à Engenharia ‐ Engenharia Econômica ‐ Empreendedorismo Total: 3 

 

Licenciatura em Computação    x 

Tecnologia em Gestão Ambiental  ‐ Gestão Empresarial Total: 1 

 

Tecnologia  em  Saneamento Ambiental 

  x 

Tecnologia em Sistemas para Internet  ‐ Relações Humanas no Trabalho ‐ Perfil Empreendedor 

 

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‐ Gestão de Negócios Total: 3 

Engenharia Química  Matriz curricular em fase de aprovação, sujeita a alterações. 

Tabela 2 – Cursos de Graduação 

Dentre os  sete  cursos  superiores presenciais oferecidos pela  Instituição,  quatro 

apresentam disciplinas com afinidade teórica com a temática em questão. Considerando 

a defesa de que a educação para o Empreendedorismo é necessária, pode‐se avaliar que 

tal  quadro  é  positivo.  Embora  não  haja  padronização  na  nomenclatura  das  disciplinas, 

algumas delas aproximam‐se substancialmente em seus planos de ensino. Pode‐se avaliar 

que o movimento em prol do Empreendedorismo  tem espaço nas matrizes curriculares 

dos  cursos  superiores,  cabendo  salientar  que  cabe  também  ao  professor  o  papel  de 

conduzir  a  disciplina,  o  que  na  prática  pode  resultar  o  privilegiamento  de  algumas 

temáticas em detrimento de outras, bem como que não é apenas na matriz curricular que 

se define quais assuntos estarão sendo tratados na escola. Cabe salientar também que a 

matriz curricular do curso de Engenharia Química não pôde ser analisada em virtude de 

estar em fase de aprovação, sendo passível de alterações. 

Nos cursos de ensino técnico de nível médio foram identificadas cinco disciplinas, 

distribuídas em sete cursos, conforme ilustrado na tabela a seguir: 

 Curso/Modalidade 

 Disciplinas identificadas 

Não foram encontradas disciplinas 

Comunicação Visual ‐ integrado  ‐ Gestão e Empreendedorismo I ‐ Gestão e Empreendedorismo II ‐ Relações Humanas Total: 3 

 

Design de Interiores ‐ integrado  ‐ Gestão e Empreendedorismo I ‐ Gestão e Empreendedorismo II ‐ Relações Humanas Total: 3 

 

Edificações – integrado  ‐ Relações Humanas Total: 1 

 

Edificações – subsequente     x 

Eletromecânica – concomitante  ‐ Gestão Industrial   

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Total: 1 

Eletrônica – integrado  ‐ Gestão Empresarial ‐ Relações Humanas Total: 2 

 

Eletrônica – concomitante  ‐ Gestão Empresarial   

Eletrotécnica – integrado  ‐ Gestão  ‐ Relações Humanas Total: 2 

 

Eletrotécnica – subsequente    x 

Execução,  Conservação  e  Restauro  de Edificações – integrado EJA 

‐ Gestão  ‐ Relações Humanas Total: 2 

 

Mecânica – concomitante  ‐ Relações Humanas Total: 1 

 

Mecânica – subsequente  ‐ Gestão  ‐ Relações Humanas Total: 2 

 

Química – integrado  ‐ Gestão Industrial Total: 1 

 

Química – subsequente  ‐ Gestão Industrial Total: 1 

 

Telecomunicações – subsequente    x 

Tabela 3 – Cursos de Ensino Técnico de Nível Médio 

Um aspecto positivo que as matrizes analisadas na tabela 3 mostram é que dentre 

as 15 ofertas distintas, em 12 delas se  identificam disciplinas que comportam a temática 

considerada  no  presente  estudo.  Novamente  se  identifica  a  não  padronização  da 

nomenclatura  das  disciplinas  entre  os  cursos,  embora  seus  planos  de  ensino  sejam 

bastante  similares.  Outro  aspecto  relevante  é  a  não  existência  de  padronização  da 

quantidade  de  disciplinas  ofertadas  na  mesma  modalidade  de  ensino,  havendo,  por 

exemplo,  cursos na modalidade  integrado  com  três disciplinas que  abordem  temáticas 

afins, ao passo que outro curso na mesma modalidade comporta apenas uma disciplina 

na sua matriz. Uma oportunidade para um estudo diferenciado poderia ser empreendida 

no que diz respeito ao curso que é ofertado na modalidade de Ensino de Jovens e Adultos 

(EJA), uma vez que tem características bastante peculiares e diferenciadas dos demais.   

Após a categorização das disciplinas e seus respectivos níveis de ensino, se torna 

possível  afirmar  que,  em  termos  de matriz  curricular,  existe  um  espaço  sacramentado 

para  a  abordagem  da  temática  ‘Empreendedorismo’.  Embora  esse  espaço  não  esteja 

presente  em  todos os  níveis de  ensino,  uma  vez que os  cursos  e o programa de pós‐

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graduação  não  contemplam  tais  componentes  curriculares,  pode‐se  afirmar  que  a 

instituição  identifica  a  importância de que esse  tema esteja presente na  formação dos 

estudantes.  Por  outro  lado,  a  divisão  das matrizes  em  cursos,  e  em  equipes  docentes 

próprias desses cursos, pode comprometer a universalidade desta abordagem, e inclusive 

a quantidade de atenção dispensada para o trabalho da temática. Em contraponto, uma 

vez que o docente é um sujeito dotado de características próprias e é também um agente 

em  ação  e  reflexão  de  suas  práticas,  e  que  pode  imprimir  suas marcas  pessoais  no 

processo  de  ensino‐aprendizagem,  o  fato  de  um  conteúdo  estar  previsto  de  forma 

padronizada  nos  componentes  também  não  traz  garantia  de  que  será  trabalhado  de 

forma similar pelos diversos docentes que o ministram.  

 

Análise das questões escolhidas do survey 

A seguir serão apresentados e discutidos os resultados das seis questões extraídas 

da pesquisa  supracitada. Considera‐se que os  resultados  são  relevantes uma vez que o 

índice de respondentes relacionado com o universo de sujeitos totaliza aproximadamente 

70%. Todos os resultados serão apresentados em forma de gráfico e tabela para melhor 

compreensão dos dados. 

A  primeira  questão  a  ser  analisada  é  ‘Há  quanto  tempo  você  atua  na  área  de 

docência?’. O resultado apresentado foi: 

Até 3 anos  49 

Entre 4 e 10 anos  53 

Entre 10 e 15 anos  32 

Acima de 15 anos  101 

Total  235 

Tabela 4 – Tempo de docência 

 

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  Gráfico 1 – Tempo de docência 

Dentre os respondentes observa‐se que a grande 57% atua como docente em um 

período superior a 10 anos, o que representa que o quadro é composto por profissionais 

experientes  em  sua  atividade.  Pressupõe‐se  que  já  vivenciaram  diversos  aspectos 

próprios da atividade docente no que diz respeito a formação e reflexão de suas práticas, 

uma vez que se faz necessário para o adequado exercício da atividade em sua mais ampla 

finalidade.  Por  outro  lado,  o  grupo  com  menos  tempo  de  experiência  não  é  muito 

pequeno, o que implica em uma miscigenação no jeito de ser professor, proporcionando 

aos estudantes em geral experiências distintas com relação à atuação profissional de seus 

docentes. 

A  segunda  questão  a  ser  analisada  é  ‘Qual  seu  vínculo  de  trabalho  com  a 

Instituição?’. O resultado apresentado foi: 

Efetivo   181 

Substituto/temporário   54 

Total  235 

Tabela 5 – Vínculo institucional 

Série1; Até 3 anos; 49; 21%

Série1; Entre 4 e 10 anos; 53; 

22%

Série1; Entre 10 e 15 anos; 32; 14%

Série1; Acima de 15 anos; 101; 43%

Até 3 anos

Entre 4 e 10 anos

Entre 10 e 15 anos

Acima de 15 anos

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Gráfico 2 – Vínculo institucional 

Considerando  as  características  legais  para  provimento  de  pessoal  no  serviço 

público federal, conhecer esse dado se faz necessário para que se possa ter uma ideia de 

qual é a composição e o perfil do corpo docente em atuação. O  fato de 23% do quadro 

atual ser composto por profissionais que estão em atuação por um período determinado 

revela  diversos  aspectos.  Reforça  a  defasagem  do  quadro  de  efetivos  na  instituição, 

pressupõe que os docentes em situação de vínculo não efetivo estejam com sobrecarga 

de  horas‐aula  em  alguns  semestres  e mostra  que muitos  embora  se  envolvam  com  o 

planejamento de atividades  institucionais de  longo prazo, tem trajetórias passageiras na 

atividade. 

Essas duas questões apresentadas contribuem singelamente para que se possa ter 

uma breve  ideia acerca dos docentes em exercício na  instituição analisada. A pesquisa 

original delimita o perfil do corpo docente com mais propriedade, mas  transcrevê‐la na 

íntegra no presente estudo não teria frutífero propósito, uma vez que seu objetivo é mais 

abrangente. 

A  terceira  questão  a  ser  analisada  é  ‘Você  já  havia  ouvido  falar  sobre 

Empreendedorismo?’. O resultado apresentado foi: 

 

Série1; Efetivo; 181; 77%

Série1; Substituto/ 

temporário; 54; 23%

Efetivo

Substituto/ temporário

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 Há espaço para o ensino de Empreendedorismo em um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia?  Erica Pereira Martins ‐ Márcia Helena Sauaia Guimarães Rostas 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

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Sim  231 

Não   4 

Total  235 

Tabela 6 – Conhecimento sobre a temática 

 

Gráfico 3 – Conhecimento sobre a temática 

 

Para  responder  ao  bloco  de  questões  referente  especificamente  à  temática  do 

Empreendedorismo, os participantes foram apresentados a uma definição sobre o tema, 

a  fim  de  garantir  que  haveria  uma  mínima  universalidade  conceitual  dentre  os 

respondentes. Essa questão especificamente revela um aspecto positivo, uma vez que a 

temática era do conhecimento da expressiva maioria dos respondentes. Buscar promover 

a cultura do Empreendedorismo em um ambiente que a grande maioria  tem uma base 

conceitual mínima  se  torna uma  tarefa que não parte de um princípio  tão embrionário 

como poderia ser caso fosse um conceito totalmente alheio à instituição. Certamente isso 

é  reflexo  dos  componentes  curriculares  bastante  distribuídos  entre  as  matrizes,  que 

fazem com que exista um território para a temática dentro da escola. 

Série1; Sim; 231; 98%

Série1; Não; 4; 2%

Sim

Não

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.18 

 

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A quarta questão a ser analisada é  ‘Você considera  relevante que  temas sobre o 

Empreendedorismo estejam presentes em todos os níveis e modalidades de ensino?’. O 

resultado apresentado foi: 

Sim  144 

Não  89 

Não resposta  2 

Total  235 

Tabela 7 – Trabalhar a temática em todos os níveis de ensino 

 

Gráfico 4 – Trabalhar a temática em todos os níveis de ensino 

 

Alguns  teóricos  da  Educação  Empreendedora,  conforme  citado  anteriormente, 

afirmam que a  temática pode – e deve – ser  inserida  já nas séries  iniciais dos primeiros 

níveis de ensino. Porém, sabe‐se que não há consenso a respeito dessa afirmativa, o que é 

reforçado por essa resposta, situação em que 38% afirma não ser relevante sua  inserção 

em todos os níveis e modalidades de ensino. Novamente aqui se faz presente a discussão 

inserida  na  contextualização  inicial  acerca  do  papel  da  educação  profissional  e 

tecnológica,  bem  como  a  finalidade  dos  institutos  federias  de  Educação,  Ciência  e 

Série1; Sim; 144; 61%

Série1; Não; 89; 38%

Série1; Não respondido; 2; 

1%

Sim

Não

Não respondido

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.19 

 

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Tecnologia.  Uma  das  barreiras  identificadas  para  a  plena  difusão  da  cultura 

empreendedora  consiste  no  fato  de  que  muitos  docentes  avaliam  que  o  papel  da 

instituição se restringe à formação de mão‐de‐obra. 

A  quinta  questão  a  ser  analisada  é  ‘Você  tem  conhecimento  sobre  as 

possibilidades de atuação profissional e mercado de trabalho de todos os cursos para os 

quais ministra aulas?’. O resultado apresentado foi: 

Sim  137 

Não  12 

Parcialmente  83 

Não resposta  3 

Total  235 

Tabela 8 – Conhecimento sobre o mercado de trabalho 

 

Gráfico 5 – Conhecimento sobre o mercado de trabalho 

Para dar  início a uma discussão que passa  fundamentalmente sobre concepções 

de atuação profissional e mundo do trabalho se  faz necessário ter conhecimento sobre 

esse dado. O docente que não tem conhecimento sólido sobre a finalidade da formação 

Série1; Sim; 137; 58%

Série1; Não ; 12; 5%

Série1; Parcialmente; 83; 

36%

Série1; Não respondido; 3; 

1%

Sim

Não

Parcialmente

Não respondido

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.20 

 

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que  está  proporcionando  ao  estudante  corre  o  risco  de  não  poder  contribuir 

positivamente para  sua  formação. Nessa  reflexão  vêm  à  tona  as discussões  acerca do 

currículo como  território de poder. Ora,  se o docente é o  sujeito que mais  influencia o 

currículo em prática, e se esse mesmo sujeito não está apropriado de para qual destino 

está encaminhando o estudante – cabe ressaltar que o mundo do trabalho não é o único 

destino,  porém  é  um  dos  principais  ao  se  considerar  os  objetivos  e  expectativas  do 

estudante com  relação à educação – possivelmente algum aspecto da  reflexão sobre a 

ação está falho.  

A sexta questão a ser analisada é  ‘Você considera que o aluno que formamos na 

instituição deve essencialmente procurar  sua  colocação no mercado de  trabalho  como 

empregado?’. O resultado apresentado foi: 

Sim  69 

Não  157 

Não resposta  9 

Total  235 

Tabela 9 – Colocação no mercado de trabalho 

 

 

Gráfico 6 – Colocação no mercado de trabalho 

Série1; Sim; 69; 29%

Série1; Não; 157; 67%

Série1; Não respondido; 9; 4%

Sim

Não

Não respondido

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As respostas apresentadas nessa questão se relacionam com a análise proposta na 

questão  anterior. Nesse  resultado  fica  expresso, na medida  em que  29% dos docentes 

avalia  que  o  estudante  egresso  da  instituição  deve  procurar  colocação  no  mercado 

essencialmente como empregado, que existe uma cultura vigente, ainda que pequena, 

que defende  a  associação  entre  educação profissional  e  tecnológica  e mão‐de‐obra. O 

aspecto positivo é que a grande maioria dos respondentes enxerga essa questão de outra 

forma, o que abre mais caminho para a difusão do Empreendedorismo, uma vez que a 

temática é frequentemente – e erroneamente – apontada exclusivamente como voltada 

apenas para abertura de empresas. 

 

 

 

Concluindo... 

O presente estudo discutiu alguns aspectos que permeiam o currículo escolar, com 

foco direcionado para a temática  ‘Empreendedorismo’. Percebeu‐se que a temática está 

presente  em  diversos  componentes  curriculares,  o  que  pode  ser  considerado  positivo 

uma vez que o embasamento teórico utilizado assume ser necessária a difusão da cultura 

empreendedora.  Percebeu‐se  também  que  o  corpo  docente  em  exercício  demonstra 

algumas opiniões favoráveis a preceitos chave da temática, o que pode facilitar a inserção 

de atividades com esse propósito na comunidade escolar.  

A  fim de  reforçar a  importância de  trabalhar  a  temática do Empreendedorismo, 

cabe referenciar o relatório de auditoria operacional realizada pelo Tribunal de Contas da 

União na Rede Federal de Educação Profissional, o qual aponta:  

[...]  entende‐se  oportuno  recomendar  à  Setec/MEC  que,  em  conjunto com os  Institutos Federais,  institua plano voltado a ampliar as ações de inserção profissional de alunos da Rede Federal de Educação Profissional, Científica  e  Tecnológica  que  contemple:  a)  fomento  à  instalação  de incubadoras  de  empresa,  empresas  juniores  e  cursos  de empreendedorismo, com ênfase nos campi situados fora das capitais; b) incentivo  a  realização  de  estágios  conscientizando  os  alunos  da importância  da  empregabilidade;  c)  acompanhamento  da empregabilidade  dos  alunos  egressos;  d)  supervisão  das  políticas  de 

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incentivo ao empreendedorismo e de  fomento a estágios que vierem a ser adotadas pelos Institutos. (2011, p.44)  

Novamente  se  mostra  evidente  a  necessidade  da  difusão  da  cultura 

empreendedora,  em  especial  ao  se  considerar  que  figura  como  recomendação  de 

auditoria de um órgão governamental de controle.  

Cabe  salientar  que  o  presente  estudo  abordou  apenas  alguns  aspectos  da 

infindável  abrangência  que  tem  o  currículo,  podendo  a  pesquisa  ser  expandida  em 

especial no que diz respeito à relação entre a temática e o currículo oculto, definido por 

Silva (2005, p.78) como “todos os aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do 

currículo  oficial,  explícito,  contribuem,  de  forma  implícita,  para  aprendizagens  sociais 

relevantes”. 

Por fim, respondendo ao questionamento  inicial, há espaço – e necessidade – do 

ensino  de  Empreendedorismo  em  todos  os  Institutos  Federal  de  Educação,  Ciência  e 

Tecnologia. O que se faz necessário é que a  iniciativa seja  institucionalizada por meio do 

currículo, para que se possa refletir sobre seu papel e planejar sua concretização. 

 

 

Referências 

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 

BRASIL. Decreto n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007‐2010/2008/lei/l11892.htm>, acessado em 15/04/2014. 

______. Tribunal de Contas da União. Relatório TC 026.062/2011‐9. Relator José Jorge. Sessão de 13/03/2013. 

CHIAVENATO, Idalberto. Planejamento Estratégico. 12ª reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 

CRISOSTIMO, A.; SCABENI, N. A importância da educação empreendedora na formação inicial do administrador. Ed. 6, Revista Eletrônica Lato Sensu – Unicentro, 2008. 

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 Há espaço para o ensino de Empreendedorismo em um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia?  Erica Pereira Martins ‐ Márcia Helena Sauaia Guimarães Rostas 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.23 

 

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Disponível em < http://web03.unicentro.br/especializacao/ Revista_Pos/P%C3%A1ginas/6%20Edi%C3%%20A7%C3%A3o/Aplicadas/PDF/2‐Ed6_CS‐ImpEd.pdf>, acessado em 14/04/2014. 

DOLABELA, Fernando. Oficina do Empreendedor. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. 

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DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 

FREITAS, H. ; MARTENS, C. Influência do ensino de empreendedorismo nas intenções de direcionamento profissional dos estudantes. Estudo & Debate, Lajeado, 2008, v. 15, n. 2, p. 71‐95. 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.24 

 

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____________________. O currículo como fetiche. A poética e a política do texto curricular. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 

____________________. Os novos mapas culturais e o lugar do currículo numa paisagem pós‐moderna in SILVA, Tomaz Tadeu da. MOREIRA, Antonio Flávio. (orgs.) Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995.