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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         ENTRE ATOS DE LEITURA: SURGEM SUJEITOS, ENFRENTA OS DIAGNÓSTICOS, ENRIQUECE APRENDIZAGENS E OPORTUNIZA INTERVENÇÕES PRECOCES.     Resumo O presente trabalho aborda a importância da identificação precoce do autismo em crianças matriculadas na Educação Infantil, tendo como foco o município de Porto Alegre  RS, para uma inclusão efetiva e na contribuição no desenvolvimento social, cultural. Neste sentido, interroga o principio de mediação e o uso de recursos digitais mediados pelo SCALA. Tratase de um estudo misto, realizado a partir do diálogo entre a perspectiva históricocultural, as diretrizes inclusivas, a função constitutiva da escola e do educador, e o banco de dados do INEP. A partir da análise compreendese que um diagnóstico aberto propicia: constituir uma leitura mais flexível e generosa em relação a inclusão e a antecipação de uma aprendizagem para além do engessamento do diagnostico clínico; significa a escola, o profissional e o aluno que habitam a mesma. Destas posições têmse a possibilidade de não  oferecer acesso à escola, mas sustentar a aprendizagem, o pertencimento legítimo para o principio da inclusão. A mediação, nesse sentido, implica um professor que sustenta, antecipa, oportuniza, capacita e potencializa um aprender rico de significado e inúmeras leituras.  Palavraschave: Identificação Precoce; Inclusão Escolar; Transtorno Espectro Autista (TEA); Mediação; Comunicação Alternativa.   Barbara Terra do Monte [email protected]   Liliana Maria Passerino [email protected]    

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    ENTRE ATOS DE LEITURA: SURGEM SUJEITOS, ENFRENTA OS DIAGNÓSTICOS, ENRIQUECE APRENDIZAGENS E OPORTUNIZA INTERVENÇÕES PRECOCES.    

 

Resumo O presente trabalho aborda a  importância da  identificação precoce do autismo em crianças matriculadas na Educação Infantil, tendo como foco o município de Porto Alegre – RS, para  uma  inclusão  efetiva  e  na  contribuição  no desenvolvimento social, cultural. Neste sentido, interroga o principio de mediação e o uso de recursos digitais mediados pelo SCALA. Trata‐se de um estudo misto, realizado a partir do  diálogo  entre  a  perspectiva  histórico‐cultural,  as diretrizes  inclusivas,  a  função  constitutiva  da  escola  e  do educador, e o banco de dados do  INEP. A partir da análise compreende‐se  que  um  diagnóstico  aberto  propicia: constituir uma leitura mais flexível e generosa em relação a inclusão e a antecipação de uma aprendizagem para além do engessamento do diagnostico clínico; significa a escola, o  profissional  e  o  aluno  que  habitam  a  mesma.  Destas posições têm‐se a possibilidade de não só oferecer acesso à escola,  mas  sustentar  a  aprendizagem,  o  pertencimento legítimo  para  o  principio  da  inclusão.  A mediação,  nesse sentido,  implica  um  professor  que  sustenta,  antecipa, oportuniza,  capacita  e  potencializa  um  aprender  rico  de significado e inúmeras leituras.  Palavras‐chave: Identificação Precoce; Inclusão Escolar; Transtorno Espectro Autista (TEA); Mediação; Comunicação Alternativa.  

 Barbara Terra do Monte [email protected] 

  

Liliana Maria Passerino [email protected] 

  

 

ENTRE ATOS DE LEITURA: SURGEM SUJEITOS, ENFRENTA OS DIAGNÓSTICOS, ENRIQUECE APRENDIZAGENS E OPORTUNIZA INTERVENÇÕES PRECOCES.  Barbara Terra do Monte ‐ Liliana Maria Passerino 

 

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INTRODUÇÃO 

A  busca  constante  de  resposta  às  questões  cotidianas,  principalmente  aquela 

pautadas na Educação Inclusiva, que nos remetem a grupos sociais e culturais diversos e 

nas diferentes  circunstâncias de  uma  sala de  aula, muitas  vezes  se  faz  repensar o  ato 

inicial de leitura de um sujeito pautado no diagnóstico clínico, a proposta pedagógica e a 

identidade enquanto sujeitos/educadores. 

Por  este  princípio,  o  presente  trabalho  tem  por  tema  a  importância  da 

identificação precoce1 dos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), tendo a Educação 

Infantil como um espaço em potencial, sobretudo quando nos  referirmos a  inclusão de 

crianças com TEA. Considera‐se esta  temática  significativa, pois possibilita  intervenções 

precoces  no  desenvolvimento  social,  cultural,  cognitivo  dessas  crianças,  a  partir  de 

ambientes potentes em experiências sociais e de ensino e aprendizado para a promoção 

de um sujeito capaz.  

Em  consonância  com  esta  premissa,  tal  trabalho  baseia‐se  na  reflexão  da 

mediação2, um “processo dinâmico” (WERTSCH, 1998, p. 28 e 29), dos Recursos Digitais 

através do SCALA3, como um instrumento norteador que busca contribuir para a inclusão 

de  crianças  com  TEA.  O  estudo  parte  dos  dados  do  INEP4,  que  evidência  de  forma 

quantitativa a importância da identificação precoce, para uma intervenção inicial antes do 

ingresso da criança no ensino fundamental. 

A  relevância  social  e  cientifica  deste  trabalho,  busca  entender  as  barreiras  da 

inclusão  de  crianças  com  autismo, mesmo  após  a  instituição  da  Política  Nacional  de 

                                                            1 As sintomatologias do TEA, na sua grande maioria, aparecem em torno dos 36 meses de idade, conforme 

expressa  APA  (2002).  No  entanto,  estudos  como  os  de  Chakrabarti  (2009),  indicam  que comprometimentos do transtorno apresentam seus sintomas  iniciais entre os  12 e 24 meses. Entre os estudos, alguns revelam que antes mesmo dos 12 meses de idade a criança pode demonstrar sintomas do  transtorno,  assim  como destaca Maestro  et  al  (2001,  2002), principalmente  ao que  se  refere  aos comportamentos do desenvolvimento social. Segundo Zanon (2012, p. 19): “Os bebês com TEA parecem ter dificuldades em utilizar mecanismos básicos de socialização que são característicos da fase inicial da vida, como a atenção seletiva para vozes agudas, faces sorridentes ou para brincadeiras.”. 

2O conceito de mediação, como um processo complexo, é entendido como a “interação homem‐ambiente pelo uso de instrumentos ao uso de signos” como cita Cole e Scribner, (2007). 

3  Sistema  desenvolvido  em  2009  visando  a  criação  de  uma  tecnologia  assistiva  que  apoie  o desenvolvimento de crianças com autismo com déficit na comunicação, com embasamento na  teoria sócio ‐ histórica. 

4 Os dados foram extraídos do banco Micros‐dados do site do INEP, no dia 29/03/2014 às 11h 29m, no qual apresenta referencial quantitativo do Município de Porto Alegre – RS. 

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Educação  Especial  na Perspectiva da  Educação  Inclusiva  (Brasil,  2008),  como  aponta  a 

literatura (Bosa, 2002a; Camargo e Bosa, 2012). E, promove um exercício para considerar a 

intervenção no princípio da mediação, conforme a perspectiva sócio‐histórica, como um 

paradigma,  desafiador  e  extremamente  oportuno,  por  antecipar  a  ação  educativa,  a 

partir de instrumentos como SCALA, que potencializem um pertencer e um aprender rico 

de significado. 

Neste contexto o trabalho organiza‐se em: descrever a mediação do professor, 

pautada  na  legislação  brasileira;  o  tempo  de  construir  uma  permanência  possível, 

possibilitando  uma  nova/outra  visão  em  relação  ao  diagnóstico  clínico;  analisar  a 

mediação enquanto promotor de uma ação educativa potente,  interligado aos recursos 

digitais  SCALA.  Nas  considerações  preliminares,  retomam‐se  os  principais  conceitos 

trabalhados ao longo do artigo. 

 

PERMANÊNCIA? SUJEITO OU DIAGNÓSTICO 

 

O trabalho educativo precisa ser orientado para o domínio de atividades culturalmente relevantes, para a elevação dos níveis de generalidade do 

pensamento e para a capacidade de significar o mundo  (GÓES, 2008, p. 40). 

 

Dos  direitos  humanos  à  inclusão  escolar,  este  aspecto  da  trajetória  humana 

perpassou por muitas transformações ao longo do processo civilizatório. Nesse caminho, 

envolveu  conceitos e propostas  institucionais em busca de uma educação desafiadora, 

capaz de  reconhecer as diferenças do alunado, bem  como de viabilizar modificações e 

aperfeiçoamentos das práticas educacionais. São diferentes, assim, os movimentos que 

buscam sustentar a cidadania, a inclusão social, a educação e o desenvolvimento humano 

àqueles considerados marginalizados. As exigências crescem diariamente, principalmente 

na educação básica, assim, são necessárias novas/outras formas de ser e de fazer escola, 

como afirma Meirieu (1998). 

A  instituição  de  ensino,  entre  esse  fazer  e  ser,  muitas  vezes  paralisa‐se  ao 

encontrar‐se com crianças que interrogam as tradicionais formas de organizar o cotidiano 

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e  os  espaços  escolares.  Dentre  estas  crianças,  àquelas  com  autismo  são  as  que mais 

mobilizam  medos  e  inseguranças.  Ou  como  Vigotsky  (2001,  p.  389)  ressalta  “essas 

crianças costumam ser lentas em termos de formação de novos reflexos condicionados e, 

por  consequência,  são  antecipadamente  limitadas5  em  termos  de  possibilidades  de 

elaborar um modo de comportamento suficientemente rico, diversificado e complexo”.  

No  processo  de  constituir  um  aluno  e  uma  educação  possível,  o  diagnóstico 

médico‐clínico  apresenta‐se  como  a  primeira  leitura,  o  ato  inicial  que  poderá marcar 

definitivamente  as  possibilidades  de  um  (des)encontro  e  de  uma  intervenção  precoce 

satisfatória.    Segundo manuais  classificatórios,  como  o  CID‐10,  DSM  IV  e/ou  o  DSM‐V, 

categoria onde o autismo infantil encontra‐se, caracterizam‐se por alterações qualitativas 

das  interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de 

interesses e atividades restritas, estereotipadas e repetitivas (OMS, 2001). A partir destas 

“lentes”  produz‐se  um  sentido  carregado  de  preconceitos,  rótulos  e,  sobretudo,  a 

expectativa de que “o autista” é único, idêntico aos “manuais”. 

No  âmbito  educacional,  tal  perspectiva  é  interpretada,  geralmente,  como 

impossibilidade e, frequentemente, os alunos são deixados em segundo plano na sala de 

aula ou são encaminhados para uma  reeducação comportamental. Esta  leitura  torna‐se 

legível nas afirmações de Serra (2008, p.41 e 42): 

mesmo compreendendo o autismo a partir das correntes psicológicas, a educação  pode  e  deve  ser  usada  como  técnica  para  o  alcance  dos objetivos  educacionais  dessas  crianças.  Esses  objetivos,  normalmente, giram  em  torno  de  adquirir  as  habilidades  básicas,  desenvolvimento, especialmente das habilidades de comunicação e a autonomia.  

 

A  educação  como  técnica  de  normatização,  melhoramento  e  adaptação!  Tal 

perspectiva  segue modelos  ideais,  tomando a diferença como  falha a  ser corrigida. É a 

educação  baseada  em  uma  racionalidade  técnica  e  objetivadora  do  humano.  Nesta 

perspectiva,  não  existe  um  outro/novo  olhar  sem  ser  do  diagnóstico  prescrito  e 

classificável  que  define  as  práticas  pedagógicas  conforme  o  comprometimento  da 

comunicação,  o  déficit  social  e  as  alterações  no  comportamento.  Esse  engessamento 

                                                            5 Grifos nossos. 

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pode  ser  facilmente observado nos  currículos educacionais  voltados para  intervenções 

rígidas,  com roteiros de atividades para a não‐desorganização do sujeito.  

O  presente  trabalho  possui  outra  perspectiva  e,  para  tanto,  aposta  na 

identificação  precoce,  tendo  um  posicionamento  fulcral  do  professor  para  que  esta 

função estabeleça‐se e produza efeitos nos campos subjetivo, social, etc. Trata‐se de uma 

presença  forte, propositiva de  intervenção. Um Ato! Ato  capaz de mediar  significados, 

iniciativas e experiências sociais e culturais. Uma mediação preocupada com a qualidade 

da  interação  professor‐criança,  criança‐criança  e  o  encontro  da  criança  com  objetos, 

conforme expressa Góes  (1997), ou seja, a completude da  fase diádica6 e a  triádica. Os 

indícios para a  identificação e a  intervenção estão baseados no desenvolvimento  típico 

dos  sujeitos, principalmente  aos primórdios da  interação  social, da  linguagem  e,  assim 

logo, aos processos de planejamentos de suas ações. 

Tal  importância  de  uma  identificação  precoce  fica  clara  ao  percebermos 

quantitativamente  o  número  de  crianças  que  poderiam  receber  intervenção  inicial 

significativa pautada no principio da  interação social. Não se trata do diagnóstico como 

fim, e sim como um meio para atingir uma finalidade: de uma formação consistente, tanto 

a  inicial quanto a  continuada que destaca a  importância de uma educação  conforme a 

necessidades  singulares de  cada  sujeito;  a  compreensão da  adaptação  curricular  como 

estratégias,  assim  como,  a utilização de  recursos que promovam  e/ou potencializam o 

ensino e a aprendizagem.  

Assim sendo, como aponta o gráfico abaixo, das 19374 crianças matriculadas no 

ensino regular, na Educação Infantil na cidade de Porto Alegre ‐ RS, 3592 estão vinculadas 

                                                            6 Segundo Bosa (2002b, p. 80), diádico é “o período denominado de “subjetividade primária” corresponde 

àquele no qual o olhar e as expressões afetivas do bebê  são  seletivamente dirigidos e  integrados ao comportamento social das pessoas (intersubjetividade). A comunicação envolve interação face‐a‐face e as trocas afetivas entre o bebê e seus cuidadores precedem a atividade gestual.”. O conceito triádico, “consiste,  primordialmente,  em  comportamentos  não‐verbais  (gestos  e  vocalizações)  para  pedir  ou rejeitar  objetos/ações  e  comentários  acerca  do  próprio  self  ou  objetos/eventos.  Enfatiza‐se  que  tais comportamentos  são  acompanhados  pelo  desenvolvimento  afetivo,  o  qual  progride  de  simples expressões  de  sorrisos  ou  distress  para  diferentes  emoções,  tais  como  medo,  ira  e  tristeza.  Tal diferenciação na expressão efetiva auilia a interação do bebê com o meio, pois permite a comunicação de estados internos. No primeiro ano de vida, o bebê passa a utilizar palavras para expressar intenções. No período que vai dos 18 aos 24 meses, expande‐se o leque de intenções expressadas, culminando com a capacidade discursiva.”. 

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19374

2233

313937

27

Total Crianças

Crianças Desenvolvimento típico RedeEstadualCrianças com autismo na Rede Estadual

Crianças Desenvolvimento típico RedePrivadaCrianças com autismo na Rede Privada

as escolas municipais, sendo que desde número somente 14 apresentam o diagnóstico de 

autismo, entre 5 e 6 anos de idade. 

 

 

Sendo que, o número de crianças com TEA matriculadas em escolas estaduais e 

privadas  também  são  extremamente  inferiores  as  crianças  consideradas  com  o 

desenvolvimento típico, como apresenta o gráfico: 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apesar  do  número  de  matriculas  evidenciadas  através  do  censo  de  2013  é 

considerada  “baixa”,  expõe  uma  outra/nova  realidade,  o  aumento  de  crianças 

diagnosticada com autismo nos últimos anos, em que os professores não estão, na sua 

totalidade, capacitados, possa a uma identificação precoce. O gráfico abaixo apresentam 

uma analise entre o estado do Rio Grande do Sul e a cidade de Porto Alegre ao que se 

19374

359214

Escolas Municipais de Porto Alegre

Total Crianças

Crianças Desenvolvimentotípico

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refere a matricula de crianças com autismo na Educação Infantil na modalidade de ensino 

municipal: 

 

 

Isso  recorre  dos  manuais  clínicos,  o  qual  também  precede  de  perspectivas 

questionadoras da noção de incapacidade localizada única e exclusivamente nos sujeitos, 

desconsiderando os diferentes contextos constitutivos das possibilidades de ser e estar 

na escola, são apresentadas na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da 

Educação Inclusiva (2008). Como diretrizes propõe: 

assegurar  a  inclusão  escolar  de  alunos  com  deficiência,  transtornos globais  do  desenvolvimento  e  altas  habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação  infantil  até  a  educação  superior;  oferta  do  atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional  especializado  e  demais  profissionais  da  educação  para  a inclusão;  participação  da  família  e  da  comunidade;  acessibilidade arquitetônica,  nos  transportes,  nos  mobiliários,  nas  comunicações  e informação;  e  articulação  intersetorial  na  implementação  das  políticas públicas (BRASIL, 2008).  

 

No que se refere ao autismo, temos a seguinte definição: 

Alunos  com  transtornos  globais  do  desenvolvimento:  aqueles  que apresentam  um  quadro  de  alterações  no  desenvolvimento 

39

65

126

319

4 3 9 140

50

100

150

200

250

300

350

2010 2011 2012 2013

Estado RS

Porto Alegre

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neuropsicomotor,  comprometimento  nas  relações  sociais,  na comunicação  ou  estereotipias  motoras.  Incluem‐se  nessa  definição alunos com autismo clássico,  síndrome de Asperger,  síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da  infância  (psicoses) e  transtornos  invasivos sem outra especificação. (BRASIL, 2009, p.1) 

 

Pensando  em  crianças  com  TEA,  o  documento  inova  ao  focar  os  contextos 

institucionais, pedagógicos, culturais e históricos. Ao questionar diagnósticos realizados 

com  categorizações  fechadas  sobre  quem  são  os  sujeitos  e  quais  suas  possibilidades 

subjetivas e educacionais: 

As  definições  do  público  alvo  devem  ser  contextualizadas  e  não  se esgotam na mera categorização e especificações atribuídas a um quadro de  deficiência,  transtornos,  distúrbios  e  aptidões.  Considera‐se  que  as pessoas se modificam continuamente transformando o contexto no qual se inserem (BRASIL, 2008). 

 

Considerando  estas  diretrizes  e  a  abordagem  histórico‐cultural,  o  aluno  com 

autismo não deve ser pensado somente a partir das sintomatologias e outras “falhas”. Tal 

leitura, centrada no déficit, engessa as propostas pedagógicas e empobrece a potência 

do espaço escolar. A  intenção (e o desafio) é focar o potencial apresentado pelo aluno, 

mediando as múltiplas formas de relação com o outro, consigo e com o conhecimento. É 

assim que  se  ressalta a possibilidade de  a escola  constituir‐se de  forma mais  flexível e 

generosa em relação as suas fronteiras, espaços e formas de ocupação e pertencimento, 

e, especialmente, de um interferir precocemente. Vygotsky acredita que: 

é tarefa natural da educação de tais crianças estabelecer aquelas reações vitais  sumamente  importantes  para  a  vida,  que  poderiam  realizar  uma adaptação mínima das  crianças ao meio,  fazer delas membros úteis da sociedade e criar para elas uma vida dotada de sentido e com trabalho. Em  linhas  gerais,  os  métodos  da  educação  desse  tipo  de  criança coincidem com os métodos normais, sendo o seu ritmo apenas um pouco atenuado  e  retardado.  Do  ponto  de  vista  psicológico,  é  de  suma importância não fechar essas crianças em grupos específicos mas praticar com elas o convívio com outras crianças da  forma mais ampla possível. (VIGOTSKY, 2001, p. 389) 

 

Assim,  refletir  sobre  a  identificação  precoce  e  a  mediação  do  processo  de 

escolarização de alunos com autismo envolve alargar perspectivas, sobretudo no que se 

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refere aos atos necessários à  construção de um pertencimento, que é posterior  (e em 

nada garantido) a matricula ou ao acesso à escola, o qual é fundamental ao referir‐se a 

intervenção precoce para um progresso do quadro de autismo.  

Em um primeiro tempo de escolarização, a criança vivência situações motivação 

social  ao  ocupar‐se  de  um  lugar  entre  salas,  de  diversos  contextos  e  com  diferentes 

autores.  Logo,  (re)conhecer  as múltiplas  formas de habitar  a  escola  como um  recurso 

institucional  e  pedagógico  importante,  possibilita  a  criança  envolver‐se  num  ambiente 

promissor  com  diversos  meios  de  comunicação,  interação  social,  afeto,  ou  seja,  de 

atenção  compartilhada  (TOMASELLO,  2003)7.  Este  dispositivo  busca  construir  uma 

possibilidade de pausa e reflexão de uma  inclusão promissora e efetiva. E nesse  intervir 

precocemente, é necessário compreender este espaço institucional, para além da sala de 

aula  e  do  silenciar  dos  pensamentos,  pois  a  escola  é  um  dos  agentes  desse  processo 

complexo, delicado e sútil. A mediação dos espaços e lugares implica um ato importante 

no sentido de contemplar as  inquietudes do aluno no planejamento pedagógico. Mediar 

tal possibilidade de pertença implica compreender que  

(...) o lugar não é uma realidade pronta ou apenas externa ao indivíduo. É uma  realidade psicológica viva. Algo que não está  lá  fora, mas sim aqui dentro  na  forma  de  signo  carregado  de  valor.  Essa  condição  cria  um mútuo pertencimento entre os indivíduos, grupos e lugar. Constituímos o lugar e somos por ele constituídos. (VASCONCELLOS, 2004, p. 79‐80). 

 

Considerando o conceito vygotskyniano de “mediação” compreende‐se que na 

construção da  rotina pedagógica é  fundamental a organização do espaço para além da 

dimensão física, mas como constituído e constitutivo de significados culturais, simbólicos, 

subjetivos e afetivos. Conforme Tuan (1983, p. 151), “o espaço transforma‐se em  lugar à 

medida  que  adquire  definição  e  significado”.  Os  efeitos  deste  processo  de mediação 

evidenciam‐se nos diferentes ritmos e tempos apresentados por uma criança com TEA.  

O espaço transforma‐se, torna‐se mais flexível e generoso para todos. Pensar a 

escolarização de crianças com TEA a partir destas lentes parece potente. Ao contrário de 

                                                            7 Na perspectiva de Tomasello (2003), a Atenção Compartilhada ocorre quando a criança percebe o outro 

como  um  agente  intencional,  em que  a  interação  se  torna  fulcral  na  realidade  social  compartilhada, fornecendo uma intersubjetividade ao contexto de um processo de subjetividade. 

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um script  já pronto, derivado de um diagnóstico e centrado nas falhas e/ou sintomas, o 

que  se  tem  é  uma  cena  que  coloca  em  ato  a  potência  de mediar  encontros  a  fim  de 

construir  um  lugar  possível  para  ensinar  e  aprender  e,  de  permitir  uma  identificação 

precoce que provoque mudanças no desenvolvimento desses sujeitos,  influenciando de 

forma significativa no processo de ensino e aprendizado. 

 

 ERA UMA VEZ... O SCALA MEDIANDO UMA APRENDIZAGEM  

Do ponto de vista da abordagem histórico‐cultural o bom ensino é aquele que se 

adianta  ao  desenvolvimento.  O  fundamento  desta  posição  sustenta‐se  na  ideia  da 

mediação: do simples espaço a  inclusão; do espaço “entre” sujeitos e diagnósticos; dos 

espaços as conquistas de uma formação  inicial e continuada consistente; de um espaço 

repleto de aprendizagens  já adquiridos pelas crianças e aquelas que, para se efetivarem, 

dependem  da  mediação  do  professor,  ou  seja,  de  uma  intervenção  precoce.  Para 

Vygotsky (1984, p.97) trata‐se da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): 

define  aquelas  funções  que  ainda  não  amadureceram,  que  estão  em processo  de  maturação,  funções  que  amadurecerão,  mas  que  estão presentes em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de  “brotos”  ou  “flores”  do  desenvolvimento,  ao  invés  de  “frutos”  do desenvolvimento. 

 

Ter uma  identificação precoce efetiva possibilita trabalhar em tal zona, ou seja, 

significar e perceber o que a criança é capaz de fazer e antecipar um aprendizado através 

da  interação com o outro de modo complexo. Não  se  trata de  focar na capacidade de 

realização já demonstrada pela criança, o estabelecido e, ainda, a projeção da escola para 

os êxitos e fracassos em seu desenvolvimento futuro, como pré‐requisito para um novo 

aprender. A ZDP está para além de uma pedagogia tradicional, idealizada, com questões 

do domínio escolar e disciplinar: constatações! Ela implica um outro/novo olhar a criança, 

um  indagar múltiplo, um decodificar o conhecimento desta sobre o mundo expandidos 

nos  processos  interpessoais  (intersubjetivos)  incorporados  nos  pensamentos  e  nas 

linguagens  da  realidade  vivenciada  repletas  de  estratégias  e  dinâmicas.  É  saber  e  ter 

sensibilidade de oportunizar fazeres além dos quais a criança poderia realizar sozinha. É 

saber construir uma obra de arte! 

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Acredita‐se  na  importância  do  professor  perceber  a  ZDP  e  inscrever/mediar 

novas  possibilidades  para  e  entre  seus  alunos.  Ou  como  Baptista  (2006)  expõe: 

“questiona  os  ideais  educativos  e  fomentar  nossa  coragem  de mostrar  habilidades  na 

construção  de  tendas”.  Nesse  sentido,  a  mediação  implica  antecipar  habilidades  e 

conhecimentos ainda não constituídos, mas que, por serem antecipados e sustentados, 

poderão, no futuro, constituírem‐se.  

Entre essas interfaces que a mediação possibilita, principalmente quando ocorre 

uma  intervenção precoce, a criação de narrativa oportunizado através das histórias em 

rede  do  SCALA  permite  “a  iniciativa  de  narrar  acontecimentos,  reportando‐se, 

principalmente,  ao  vivenciado  e,  ocasionalmente,  ao  imaginado”,  como  aborda  Góes 

(1997, p. 12). Mediar às experiências que a criança já possui constituídos no seu cotidiano 

e nas suas “teorias” sobre o mundo, alicerçado por uma linguagem com outros sujeitos e 

com  uma  ferramenta  de  comunicação,  promoverá  novos  aprendizados,  capacidades, 

potenciais, habilidades. Possibilitará distintas  linguagens e pensamentos,  imaginações e 

emoções,  sentimentos...  uma  zona  de  desenvolvimento  proximal...  um  sujeito  ativo  e 

interativo. 

As construções de histórias possibilitadas pelo SCALA,  iniciou no ano de 2011 na 

versão web nos módulos prancha e narrativas, semelhantes a versão dispositivo móvel 

Tablet (Plataforma Android 3.0). A metodologia utilizada para o desenvolvimento de tal 

tecnologia baseou‐se inicialmente a alguns estudos já existentes, originando conflitos em 

relação  aos  conceitos  e  ao  foco  do  estudo.  Estes,  na  sua  maioria,  centralizavam  no 

sujeito.  O  objetivo,  a  estratégia,  ao  desenvolver  o  Sistema  SCALA  era  ultrapassar  os 

limites da  interação sujeito‐objeto e, pensar, na  interação e na comunicação de crianças 

com  TEA  com  os  outros  indivíduos  integrantes  do  contexto  social.  Tal  metodologia 

nomeou‐se  Desenvolvimento  Centrado  em  Contexto  de  Uso  (DCC),  assim,  amplia  a 

percepção  de  práticas  culturais  que  envolvem  a  comunicação  e  o  letramento  com 

diferentes  sujeitos,  possibilitando  o  significar  das  ações mediadoras  numa  perspectiva 

sócio‐histórica através da  tecnologia assistiva. Bez  (2012), menciona a efetividade dessa 

metodologia quanto ao uso da versão web e dispositivo móvel tablet. 

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Logo,  o  desenvolvimento  do  sistema  preocupou‐se  na  ideia  de  usabilidade  de 

alto nível e de atratividade na utilização de pictogramas, sintetizador de voz e espaços de 

edição,  conforme  expresso  por  Bez  (2012).  A  seguir,  ilustração  mostra  as  inúmeras 

funcionalidades do  sistema  através do diagrama de  caso de uso do Módulo narrativas 

visuais do SCALA, no qual podemos perceber sua ampla função e relação do sujeito com o 

meio (figura 1). 

 

Figura 1: Diagrama caso de uso – módulo narrativas visuais 

 

Abaixo,  apresenta‐se  o  layout  do Módulo  Narrativas  visuais  (figura  2),  o  qual 

simula  a  construção  de  uma  pequena  história  e  de  uma melhor  compreensão  da  sua 

funcionalidade. 

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Figura 2: layout e edição módulo narrativas visuais 

 

A – Tela  inicial do 

Módulo 

Narrativas 

B – Layout para a 

construção  das 

narrativas. 

C  –  Criando  a 

história  através 

de pictogramas. 

D  –  Primeiro 

layout da história 

salva e  registrada 

na página inicial. 

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Ler! Mediar! O Sistema Scala permite narrar gestos a  serem escrito e  registrado 

entre  inúmeras vozes e olhares construídos na  interação com o outro, na utilização da 

ferramenta  como  um  suporte  valioso  para  a  aprendizagem  e  para  o  desenvolvimento 

cognitivo e social.  A escola e o professor, através desse suporte, podem oferecer outras 

interpretações para  seu  aluno. A  função  constitutiva da escola e do professor  implica, 

através de um planejar criativo e  responsável, questionar o diagnóstico classificatório e 

seus efeitos em termos de impossibilidades escolares, bem como sustentar a antecipação 

de aprendizagens e funções as quais estão em vias de se efetivarem. Nessa perspectiva, 

compreende‐se  o  papel  fundamental  da  identificação  e  da  intervenção  precoce  para 

mediação do professor no processo de escolarização de  alunos  com  TEA na educação 

infantil.   Esta  leitura desloca o  foco do autismo e suas características para o aluno com 

suas singularidades e o professor que lê nos comportamentos inquietações de um corpo 

disposto a aprender. Assim, é 

impossível  pensar  o  ser  humano  privado  do  contato  com  um  grupo cultural que lhe fornecerá os instrumentos e os signos que possibilitarão o  desenvolvimento  das  atividades  psicológicas  mediadas,  tipicamente humanas. O aprendizado, nesta concepção, é o processo fundamental na construção do ser humano (...) sempre envolve a interferência, direta ou indireta, de outros  indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos significados (OLIVEIRA, 1997, p. 79).  

Considerando os  instrumentos mediadores, o  jogo do faz‐de‐conta das Histórias 

em  Rede  do  SCALA,  permite  a  liberdade  à  criança  de  extrapolar,  defrontar  os  limites 

dados  por  seu  desenvolvimento  real  e  incita  a  agir  constituindo  seu  desenvolvimento 

proximal  em  ser  o  que  ainda  não  é,  conforme  o  significado  atribuído  ao  objeto,  ao 

personagem ou  a  situação. Como Vygotsky  (1984) mesmo diz,  uma  esfera  imaginativa 

que cria intenções voluntárias no mais alto nível de desenvolvimento ao formular planos 

da vida real e a dirigir comportamentos significativos. Um impulso criativo de ações reais 

e  simbólicas! Para Horn  (2004),  faz parte da  vida das  crianças o protagonizar  enredos 

mediando a diversidade de  linguagens simbólicas e a relação entre pensamento e ação. 

Para  crianças  com autismo, muitas vezes,  tal possibilidade é negada em nome de uma 

suposta  dificuldade  de  compreender  metáforas.  Isso  remete  ao  fato  do  sujeito  ser 

produto das circunstâncias.  

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A mediação entre o sobrenatural e o  imaginário, faz‐se necessário refletir sobre 

linguagens  de  modo  mais  aprofundado  possibilitando  não  somente  o  criar  dos 

educandos, mas  sim  de  perceber  suas  criações,  como  alguém  que  se  relaciona  com  o 

mundo  e  vice‐versa.  Um  sujeito  em  potencial!  Mediar  possibilita  uma  zona  de 

desenvolvimento potencial e não mais real. 

Dê‐me um ponto de apoio no sujeito e ajudá‐lo‐ei a aprender, a apropriar‐se da novidade, a compreender um pouco mais o mundo e a si mesmo. Um  ponto  de  apoio  e  não  todos  os  pontos  de  apoio;  [...]  Talvez aprenderá a dizer isto ou aquilo porque saberá outra coisa ou quererá, a qualquer preço, atingir uma outra que nem imaginamos. [...] Na verdade, nada  diz  que  o  que  encontramos  de  fato  não  nos  permitirá  articular aprendizagens  que,  por  sua  vez,  permitirá  instaurar  novas  estruturas cognitivas  e  adquirir  capacidades  cuja  emergência  espontânea poderíamos esperar em vão. (MEIRIEU, 1998, p. 41)   

Todos nós, enquanto sujeitos, fazemos a transição entre o real e a fantasia, seja 

entre  leituras de  livros ou através de outras ferramentas, como o tablet. Neste sentido, 

cria‐se uma nova  linguagem, um  instrumento  importante que para Vygotsky é essencial 

no desenvolvimento dos processos de pensamento. Uma  linguagem gestual,  simbólica 

presente  no mundo  cultural  de  signos  e  condutas,  permitindo  o  compartilhar  com  a 

sociedade. Desta forma, o signo  linguístico utilizado na ferramenta de histórias em rede 

traz 

a resposta mediada ao mundo se transforma num processo intrapsíquico. A natureza  social do  indivíduo  se  imprime em  sua natureza psicológica através desta  interiorização dos modos historicamente determinados e culturalmente organizados de operar com  informações (LURIA,  1992, p. 49 e 50). 

 

A  configuração  da  mediação,  lida  nas  entrelinhas  de  um  aprendizado, 

constituídos pelas capacidades antecipadas de um sujeito, acontece entre o envolver‐se, 

perceber algo novo através de uma ferramenta de comunicação. Ou seja, é um momento 

invisível e significativo no qual possibilita os professores  indagarem‐se, questionarem‐se 

sobre  a  sua  formação  e  por  sentirem‐se  incapazes  de  lidar  com  certas  situações  e 

compreenderem que 

quando a criança – na sua condição de infans (aquele que não fala) – não consegue  se  encontrar  com  uma matriz  simbólica  capaz  de  configurar sua condição de sujeito, ela se precipite, ora nos automatismos radicais 

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do autismo, ora nas repetições incessantes de perguntas sem respostas, na medida em que qualquer resposta que seja dada não virá a encontrar uma  função  simbólica  que  a  signifique.  Lançada  fora  da  orla  da linguagem (no autismo) (...) a criança ou bem entra no mutismo, ou bem pode chegar a farfalhar sob a forma de tornar audível o registro de uma aparente fala que, apesar de emitida por sua boca, não se acerta, a saber, quem é seu sujeito. (...) uma fala que padece a cada palavra, até mesmo a cada  som,  de  um  trágico  desencontro  com  a  língua.  Comparece  aí  o desencontro com o Outro, portador da lei, e sinalizador dos significantes capazes  de  serem  representantes  dos  valores  fálicos,  a  saber:  aqueles que, associados ao nome sujeito (...) configuram, em cada nova posição que  ele ocupa, os  traços  de  seu  reconhecimento,  a  intervenção que  o afeta e o valor que o assiste. (JERUSALINSKY, 2008, p. 126 e 127) 

 

Entre criar novas interlocuções com o SCALA, a mediação desperta um processo 

complexo do domínio de suas habilidades, em que modifica, ocasionando transformações 

futuras de conduta, como afirma Vygotsky (1984), principalmente do professor. 

 

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS: O DESVELAR  

Neste momento pausamos e refletimos: o jogo do faz de conta se revela. É a porta 

que  permite  que  o  conhecimento  ultrapasse  os  engessamentos  causados  por 

diagnósticos clínicos e dos currículos de outrora. Um  jogo de aprendizado! Um  jogo que 

jogamos juntos, pois assim o SCALA nos permite nas mediações de suas configurações. 

Assim,  através de  um  aporte  com  a Política Nacional de  Educação  Especial  na 

Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) há o incremento das matrículas de alunos com 

autismo e da busca por uma  inclusão de qualidade, por um  intervir precocemente e por 

um a  identificação que possibilita,  sim, um desenvolvimento mais  rico e gratificantes à 

essas  crianças,  que  por  anos  foram marginalizadas. O  presente  trabalho  realizou  uma 

aproximação dos conceitos de mediação e autismo, em diálogo com as histórias em rede 

do Sistema do SCALA, apresentou dados do INEP, referentes à crianças com TEA incluídas 

nas  redes  de  ensino,  tais  dados  provocam  um  repensar  sobre  práticas  e  intervenções 

efetivas, e propomos a mediação como resposta educacionais do desafio da  inclusão de 

alunos com TEA. Os seguintes dados apontam resultados parciais, que se apresenta em 

fase  inicial  de  desenvolvimento,  vinculada  a  um  projeto  amplo,  que  evidência  as 

apropriações lúdicas mediadas pelas as narrativas visuais do Sistema SCALA. 

ENTRE ATOS DE LEITURA: SURGEM SUJEITOS, ENFRENTA OS DIAGNÓSTICOS, ENRIQUECE APRENDIZAGENS E OPORTUNIZA INTERVENÇÕES PRECOCES.  Barbara Terra do Monte ‐ Liliana Maria Passerino 

 

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Neste sentido, compreende‐se que a sala de aula, como uma grande porta aberta 

ao processo de ensino e aprendizagem, possibilita compartilhar  /  inventar aquele  lugar 

chamado  escola.  Assim,  flexibilidade  escolar  propicia  a mediação. Ou  seja,  (1) mediar 

significa  sustentar  o  encontro  pedagógico  para  além  do  diagnóstico  clínico,  das 

supostas  falhas  e  dos  sintomas  considerados  limitadores  do  aprender;  (2) mediar  os 

espaços e lugares implica a possibilidade de a escola constituir‐se de forma mais flexível 

e  generosa  em  relação  as  suas  fronteiras,  espaços,  tempos,  formas  de  ocupação  e 

pertencimento;  (3) mediar  como  antecipação  de  uma  aprendizagem  e  de  um  aluno 

apresenta o professor como um “leitor/inventor” de capacidades e potencialidades. 

Tal posição  implica  a  relação da  criança  com o professor o qual  adentra  a  cena 

sendo  um  sujeito  ativo,  propositivo;  que  lê  seu  aluno  de  forma  a  capacitá‐lo  e 

potencializá‐lo,  um  intervir  efetivo  de  uma  identificação  precoce.  O  trabalho,  assim, 

descobre,  inventa caminhos, oportunizando as  idas e vindas das crianças com autismo, 

permitindo  jogar, estabelecer e quebrar regras, encenar através das histórias em rede o 

seu  aprender.  E,  neste  palco  sempre  a  se  transmutar,  o  espetáculo  do  conhecimento 

acontece. 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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