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 Ova l o r deuma“cur t i d a” E S C R I T O P O R F A B I O B L A N C O | 0 5 J U N H O 2 0 1 3  A R T I G O S - C U L T U R A  As r ed es s oci ai s sã o u m sucesso, e sp eci al mente o F ace bo ok . Qu an do Ma rk Zuckerberg criou esse instrumento, talvez não imaginasse o quanto ele se transformaria em um meio indispensável para a expressão pessoal. Lembro-me de minha juventude e o quanto era difícil conseguir que duas ou três pessoas, ao mesmo tempo, ouvissem o que eu tinha para dizer. Quando conseguia, sentia-me realmente popular. Hoje, com as redes sociais, qualquer expressão é imediatamente vista por dezenas, centenas e até milhares de pessoas. Isto, sim, é uma mudança de paradigma. No entanto, erra quem entende que a popularização das mídias sociais se deu única e principalmente por causa do desejo das pessoas de serem reconhecidas. Há muito mais envolvido nisso. Inclusive, boa parte dos usuários parece ser de gente sem grandes pretensões de sucesso. O que levou tantas pessoas a usar de maneira tão insistente essa tecnologia é a possibilidade de serem ouvidas, de saberem que o que dizem, ainda que seja absolutamente trivial, está sendo percebido pelos outros. Pois aí encontra-se a síntese do homem pós-moderno: essa insegurança existencial que clama por atenção e feedback, esse medo de passar desaper  cebido, de tornar-se um fantasma, imperceptível aos olhos humanos. O indivíduo contemporâneo é uma mistur  a de incerteza ontológica e ansiedade perpétua. Mas tudo isso é mero fruto dos nossos tempos. Antigamente, quando Deus era o centro da vida social, quando sua existência era incontestável, não havia como o homem sentir-se só. Ainda que isolado em uma caverna no deserto, não havia dúvida para o indivíduo que os olhos divinos lhe acompanhavam. Assim, seja em meio à multidão, seja encerrado em um mosteiro, a sensação era de participação na existência. Tanto que não havia maior terror que a excomunhão, que era exatamente a ruptura com a eternidade. Desde Descartes, porém, e com o contemporâneo afastamento de Deus dos negócios humanos, o homem começou a investigar o eu, porém, desde aquele momento, a partir de si mesmo, não de uma existência anterior e superior. Por isso, chega a colocar em dúvida a própria existência, já que não há mais um ponto de partida exterior e transcendente. E mesmo quando conclui pela própria existência, faz isso baseado em algo que verificou unicamente em seu interior. Não há testemunhas de que vive, nem mesmo o testemunho divino. Há apenas uma tíbia confirmação interna.  A p ar tir d al i, o h om em ini cia a tr aje tór ia d e u ma pa ra do xal bu sca de si me smo e a fa stam en to d e D eu s. Qua nto mais investiga seus próprios fundamentos, distancia-se deles. Nesse caminho, tentando encontrar-se, se perde, pois segue para longe de sua origem. A história do pensamento moderno é isto: uma ininterrupta tentativa de retomar aquilo que ele mesmo destruiu: a certeza de existir, a confiança em uma ordem transcendente e a esperança de um futuro melhor. Já não há mais um Deus onde buscar as próprias razões; Ele foi esquecido. Mas a necessidade de encontrá- las persiste. Quem é este homem? E quem pode confirmá-lo? O pensamento, seguindo a conclusão cartesiana, até testemunha a própria existência, mas, isoladamente, é um testemunho frágil, quase vão. Não é difícil perceber que desde que a subjetividade reclamou por autonomia o homem se esforça na tentativa de substituir a transcendência que lhe fundamentava a vida. Porém, o abismo alargou-se de tal maneira que o eu encontrou-se só, isolado e perdido. Em Schopenhauer, por exemplo, já no século XIX, o indivíduo não é nada mais além do que um fenômeno fugaz. Ao expulsar a Divindade dos negócios humanos, não há ninguém mais que confirme sua existência, a não ser um outro idêntico a ele. Portanto, quando vejo as pessoas clamando por atenção, pela busca do reconhecimento e por serem percebidas, estou certo que isso é o resultado desses séculos de vagar existencial. As mídias sociais respondem, assim, a um anseio que encontra-se impregnado na alma do indivíduo e que vem se acumulando na proporção inversa do afastamento da transcendência da vida humana. Em nossos dias, a única maneira que as pessoas têm para sentir-se alguém é pelo testemunho do outro. Somente há a certeza da própria existência quando alguém confirma isso. Por isso, uma curtida no Facebook pode ter uma valor bem mais alto do que jamais sonharia mesmo o mais otimista acionista em Wall Street. Fabio Blanco é advogado e teólogo. N a  v e g a ç ã o Aborto Ambientalismo Ciência Conservadorismo Cultura Desarmamento Desinformação Direito Economia Educação Eleições 2010 Entrevistas Globalismo Governo do PT Humor Internacional América Latina China Estados Unidos Europa Oriente Médio Rússia Movimento Revolucionário Religião Terrorismo T a g s  Amé rica Latina  |  A rgen tina  | Bolívia | Brasil | Castro | Che Guevara  | Chávez | Colômbia | Colômbia. Farc  | Cuba | Dilma Rousseff   | Direito | Estados Unidos | Europa | FARC | FH C | Farc | Fidel Castro | Folha de S. Paulo | Foro de S. 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  • O valor de uma curtidaE S C R I T O P O R F A B I O B L A N C O | 0 5 J U N H O 2 0 1 3 A R T I G O S - C U L T U R A

    As redes sociais so um sucesso, especialmente o Facebook. Quando MarkZuckerberg criou esse instrumento, talvez no imaginasse o quanto ele setransformaria em um meio indispensvel para a expresso pessoal.

    Lembro-me de minha juventude e o quanto era difcil conseguir que duas ou trspessoas, ao mesmo tempo, ouvissem o que eu tinha para dizer. Quando conseguia,sentia-me realmente popular. Hoje, com as redes sociais, qualquer expresso imediatamente vista por dezenas, centenas e at milhares de pessoas. Isto, sim, uma mudana de paradigma.

    No entanto, erra quem entende que a popularizao das mdias sociais se deunica e principalmente por causa do desejo das pessoas de serem reconhecidas. H muito mais envolvidonisso. Inclusive, boa parte dos usurios parece ser de gente sem grandes pretenses de sucesso.

    O que levou tantas pessoas a usar de maneira to insistente essa tecnologia a possibilidade de seremouvidas, de saberem que o que dizem, ainda que seja absolutamente trivial, est sendo percebido pelosoutros.

    Pois a encontra-se a sntese do homem ps-moderno: essa insegurana existencial que clama por ateno efeedback, esse medo de passar desapercebido, de tornar-se um fantasma, imperceptvel aos olhos humanos.O indivduo contemporneo uma mistura de incerteza ontolgica e ansiedade perptua.

    Mas tudo isso mero fruto dos nossos tempos. Antigamente, quando Deus era o centro da vida social,quando sua existncia era incontestvel, no havia como o homem sentir-se s. Ainda que isolado em umacaverna no deserto, no havia dvida para o indivduo que os olhos divinos lhe acompanhavam. Assim, seja emmeio multido, seja encerrado em um mosteiro, a sensao era de participao na existncia. Tanto queno havia maior terror que a excomunho, que era exatamente a ruptura com a eternidade.

    Desde Descartes, porm, e com o contemporneo afastamento de Deus dos negcios humanos, o homemcomeou a investigar o eu, porm, desde aquele momento, a partir de si mesmo, no de uma existnciaanterior e superior. Por isso, chega a colocar em dvida a prpria existncia, j que no h mais um ponto departida exterior e transcendente. E mesmo quando conclui pela prpria existncia, faz isso baseado em algoque verificou unicamente em seu interior. No h testemunhas de que vive, nem mesmo o testemunho divino.H apenas uma tbia confirmao interna.

    A partir dali, o homem inicia a trajetria de uma paradoxal busca de si mesmo e afastamento de Deus. Quantomais investiga seus prprios fundamentos, distancia-se deles. Nesse caminho, tentando encontrar-se, seperde, pois segue para longe de sua origem. A histria do pensamento moderno isto: uma ininterruptatentativa de retomar aquilo que ele mesmo destruiu: a certeza de existir, a confiana em uma ordemtranscendente e a esperana de um futuro melhor.

    J no h mais um Deus onde buscar as prprias razes; Ele foi esquecido. Mas a necessidade de encontr-las persiste. Quem este homem? E quem pode confirm-lo? O pensamento, seguindo a conclusocartesiana, at testemunha a prpria existncia, mas, isoladamente, um testemunho frgil, quase vo.

    No difcil perceber que desde que a subjetividade reclamou por autonomia o homem se esfora na tentativade substituir a transcendncia que lhe fundamentava a vida. Porm, o abismo alargou-se de tal maneira que oeu encontrou-se s, isolado e perdido. Em Schopenhauer, por exemplo, j no sculo XIX, o indivduo no nada mais alm do que um fenmeno fugaz. Ao expulsar a Divindade dos negcios humanos, no h ningummais que confirme sua existncia, a no ser um outro idntico a ele.

    Portanto, quando vejo as pessoas clamando por ateno, pela busca do reconhecimento e por serempercebidas, estou certo que isso o resultado desses sculos de vagar existencial. As mdias sociaisrespondem, assim, a um anseio que encontra-se impregnado na alma do indivduo e que vem se acumulandona proporo inversa do afastamento da transcendncia da vida humana.

    Em nossos dias, a nica maneira que as pessoas tm para sentir-se algum pelo testemunho do outro.Somente h a certeza da prpria existncia quando algum confirma isso. Por isso, uma curtida no Facebookpode ter uma valor bem mais alto do que jamais sonharia mesmo o mais otimista acionista em Wall Street.

    Fabio Blanco advogado e telogo.

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    Ano IX Ter, 21 de Julho de 2015 Nmero 227MSM EDITORIAL COLUNISTAS ARTIGOS MEDIA WATCH TRUE OUTSPEAK VIDEOS ARQUIVO

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