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14/08/2013 - 03h30Empresas do cartel receberam R$ 401 mil de estatais da União
Cinco empresas de fornecimento investigadas por cartel no setor de ferrovias em São Paulo e Distrito Federal receberam desde 2003 ao menos R$ 401 milhões (valores atualizados) de estatais ferroviárias do governo federal.Alstom e CAF têm mais R$ 425 milhões a receber por contratos recentes com as estatais CBTU e Trensurb.
Custo de obra triplicou com grupo investigado por cartelA CBTU opera em Minas, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba, e a Trensurb, no Rio Grande do Sul. Além dos contratos nas duas estatais, a União repassou R$ 2 bilhões aos Metrôs de Fortaleza e Salvador.Dessas empresas, a maior recebedora federal é a espanhola CAF: desde 2009 já ganhou R$ 160 milhões e tem R$ 225 milhões a receber, a maior parte para fornecer trens ao metrô de Recife. A Alstom recebe desde 2005 da União: já ganhou R$ 106 milhões e tem mais R$ 200 milhões a receber de um contrato em Porto Alegre. A Siemens recebeu R$ 85 milhões.Bombardier e Balfour Beuty são as outras empresas que receberam das estatais federais.
SÃO PAULOO cartel envolvendo o fornecimento de equipamentos para metrôs e trens vieram à tona em julho, quando a Folha revelou que a multinacional alemã Siemens delatou um esquema do qual fazia parte às autoridades antitruste.O caso vem sendo investigado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) com base em "diários" que a Siemens forneceu. Lá estão registradas as negociações da empresa com representantes do Estado, indicando que o governo paulista teve conhecimento e avalizou a formação de um cartel para a licitação da linha 5 do Metrô de São Paulo. Os casos relatados vão de 1998 a 2008. Na denúncia, a Siemens aponta que as empresas Alstom (França), Bombardier (Canadá), Mitsui (Japão) e CAF (Espanha) eram as que operavam em cartel no país.O governo de São Paulo, depois de ter acesso, por ordem judicial, aos documentos relativos a apuração, declarou que irá processar a multinacional alemã. Mesmo assim, todos os contratos serão mantidos.O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin criticou repetidas vezes a necessidade de ir à Justiça para ganhar acesso aos arquivos que estão sendo investigados. O suposto esquema de corrupção teria envolvido as últimas três gestões do governo de São Paulo --Mário Covas, José Serra e o próprio Alckmin--, todas do PSDB.Em entrevista coletiva nesta terça, Alckmin disse que as irregularidades não se restringem ao Estado paulista: "Quero também recomendar a meus colegas governadores e ao governo federal, porque não houve cartel só aqui em São Paulo, uma investigação rigorosa em contratos de transporte e energia, para que nenhum ente federativo seja lesado."A Siemens afirmou que "coopera integralmente com as autoridades, manifestando-se oportunamente quando requerido e se permitido pelos órgãos competentes". Reiterou também que, em 2007, estabeleceu um sistema para "detectar, remediar e prevenir práticas ilícitas que porventura tenham sido executadas, estimuladas ou toleradas por colaboradores e chefias da Siemens em qualquer lugar do mundo".
O que é Cartel?
Cartel é um acordo explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente, fixação de preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de mercados de atuação, ou, por meio da
ação coordenada entre os participantes, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos, obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor.A formação de cartéis teve início na Segunda Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX.Cartéis normalmente ocorrem em mercados oligopolísticos, nos quais existe um pequeno número de firmas, e normalmente envolve produtos homogêneos. Na prática o cartel opera como um monopólio, isto é, como se fosse uma única empresa.Os Cartéis são considerados a mais grave lesão à concorrência e prejudicam consumidores ao aumentar preços e restringir oferta, tornando os bens e serviços mais caros ou indisponíveis.Ao artificialmente limitar a concorrência, os membros de um cartel também prejudicam a inovação, impedindo que novos produtos e processo produtivos surjam no mercado. Cartéis resultam em perdas de bem-estar do consumidor e, em longo prazo, perda de competitividade da economia com o um todo.Segundo estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os cartéis geram um sobrepreço estimado entre 10 e 20% comparado ao preço em um mercado competitivo, causando prejuízos de centenas de bilhões de reais aos consumidores anualmente.No Brasil, assim como em quase todos os países onde há leis antitruste, a formação de cartéis é considerada crime.