Walter Kohan - Infância e Educação Em Platão

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  • 7/17/2019 Walter Kohan - Infncia e Educao Em Plato

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    Infncia e educao em Plato

    Walter Omar KohanUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

    Resumo

    Este trabalho estuda, desde uma perspectiva filosfica, o concei-to de infncia em Plato, com nfase nos seguintes dilogos!"lcib#ades $, %rgias, " &ep'blica e "s (eis)

    *um primeiro momento, situamos a +uesto da infncia no mar-co mais ampliado do proeto filosfico e pol#tico de Plato) "seguir, propomos +uatro traos principais do conceito de infn-

    cia em Plato! a. como possibilidade /as crianas podem ser+ual+uer coisa no futuro.0 b. como inferioridade /as crianas 1como as mulheres, estrangeiros e escravos 1 so inferiores emrelao ao homem adulto cidado.0 c. como superfluidade /a in-fncia no 2 necessria 3 plis.0 d. como material da pol#tica /autopia se constri a partir da educao das crianas.)

    *o h a pretenso de levar Plato a algum tribunal) 4usca-seapenas delimitar um problema e uma forma espec#fica de enfrent-lo, com vistas a contribuir para a anlise da produtividade dessa

    perspectiva na histria da filosofia da infncia e da educao oci-dental, bem como nas atuais teorias e prticas educacionais) "o

    mesmo tempo, de forma impl#cita, procura-se oferecer elementospara problemati5ar uma viso consolidada entre os historiado-res da infncia 1 particularmente desde o clssico 6istriasocial da infncia e da fam#lia de Philippe "ri7s 1, segundo a+ual a infncia seria uma inveno moderna e ela no teria sido8pensada9 pelos antigos en+uanto tal)

    Palavras-chave

    Plato 1 $nfncia 1 :ilosofia da infncia)

    Correspondncia:Walter Omar Kohanv! "ernam#eti#a$ %%&'$ (loco )&$pto! *'&&&+*'-')) , Rio de aneiro , Re-mail: .alter/o0uol!com!#r

    Educao e Pes+uisa, ;o Paulo, v), p) >>-

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    Childhood and education in Plato

    Walter Omar KohanUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

    Abstract

    This work investigates from a philosophical perspective the conceptof childhood in Plato, with an emphasis on the following dialo-

    gues: Alciiades !, "orgias, The Repulic, and The #aws$!nitiall%, we situate the issue of childhood within the wider scenarioof Plato&s political and philosophical pro'ect$ (e then propose fourmain features of the concept of childhood in Plato: a) as possiilit%

    *children can ecome an%thing in future)+ ) as inferiorit% *children like women, foreigners and slaves are inferior to the male adultcitien)+ c) as superfluousness *childhood is not necessar% to the

    polis., and d. as matter of politics /the utopia is built from theeducation of children.)$t has not been our intention here to put Plato on trial) We have

    ust sought to delimit an issue and a specific manner of tacCling itDith the aim of contributing to the analsis of the productivit ofthis perspective in the histor of the philosoph of childhood and ofWestern education, as Dell as of current education theories and

    practices) "t the same time, De have implicitl tried to offer

    elements to problemati5e a vision Dell established among historiansof childhood F particularl after Philippe "ri7s alread classic

    Genturies of childhood! a social histor of famil life F according toDhich childhood Dould be a modern invention and Dould not have

    been 8thought9 as such b the ancients)

    Keywords

    Plato .hildhood Philosoph% of childhood$

    Contact:

    Walter Omar Kohan

    Av. Sernambetiba, 442, !loco "2,

    A#to. $2

    22%$&"" ' (io de )aneiro ' ()

    e&mail: walter*o+uol.com.br

    >< Educao e Pes+uisa, ;o Paulo, v), p) >>-

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    Os filsofos gregos do per#odo clssi- Os traos de um pro#lemaco deram, de forma +uase unnime, importn-cia singular 3 educao) ;abemos, por eHem-

    plo, +ue os sofistas foram educadores profis-sionais) Eles teori5aram sobre o sentido e ovalor de educar, ainda +ue seus principaisescritos no tenham chegado at2 ns /Plato,

    %iles Ieleu5e e :eliH %uattari afirmam+ue entender um filsofo comporta compre-ender os problemas +ue esse filsofo traoue os conceitos +ue criou para tentar resolvertais problemas />==B, p) JA.) Pensamos +uea infncia era parte indissocivel de um pro-

    blema fundamental para Plato e +ue, pormeio de seus dilogos, pode-se reconstituirtanto os traos fundamentais de tal problema+uanto a soluo conceitual proposta porPlato)

    /0pias 1aior 232-c)$ Entre eles, Antifonte,4ue afirma, segundo um fragmento conserva-do, ser a educa5o o 4ue h6 de principal paraos seres humanos e 4ue, 4uando se semeia emum corpo 'ovem uma nore educa5o, esta

    floresce para sempre, com chuva ou sem chuva*78 39 ;ANd.) Em sua 'ltimaobra, "s (eis, afirma +ue 2 imposs#vel no fa-lar da educao das crianas e +ue, diferente-mente de outras +uestLes tratadas em relao3 plis, o far para instruir e para sugerir, no

    para legislar /$$, Na.! acerca da educao,di5 ali, 8O "teniense9, ser uma aporia legislar eao mesmo tempo torna-se imposs#vel permane-cer em silncio /Nb-c.)

    Este teHto trata de como nesses dilo-

    gos de Plat=o > nos 4ue haitam tra5os do4ue ho'e chamamos de filosofia da educa5o> foi demarcado um certo conceito de inf?n-

    cia, proficuamente reproduido e muito pou-co prolematiado no posterior desenvolvi-mento da filosofia da educa5o ocidental$ @sua maneira, de forma epl0ci ta ou impl0c ita,por meio de um discurso aporBt ico e imposs0velde silenciar, com alusCes diretas ou metafDri-cas, Plat=o deu forma a um retrato espec0ficoda inf?ncia$ A seguir, nos ocuparemos de de-linear esse retrato$

    )! Para as referncias #i#lio1r2ficas das o#ras dos pensadores 1re1os$tradu3imos os te4tos curtos diretamente do ori1inal! Para al1uns di2lo1osde Plato utili3amos$ como #ase$ as tradues da (i#lioteca Cl2ssica5redos67adri: )89*-)88& nas ;uais introdu3imos modificaes! Citamosntifonte pela edio caniel3 eW! Kran3 em >ie ?ra1mente der @orso/rati/er 6(erlim$ )8&*$ se1undo asi1la >K$ se1uida do nAmero atri#uBdo nesta edio e o nAmero dofra1men-to! o caso de Plato$ citamos$ como D ha#itual$ pela edio de "tephanus!O nAmero corresponde E p21ina e a letra E coluna! Fuando necess2rio$incluBmos em romano o nAmero do livro! Citamos os persona1ens dosdi2lo1os de Plato entre aspas 6por e4emplo$ G"Hcrates$ para diferenci2-los dos indivBduos histHricos!

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    Gomo enfrentar o problema da degra- os termos pat2omai /8comer9.0 pastos /8semcomer9, 8em eum9, em latim impastus.0 pat2r

    dao dos ovensQ O +ue fa5er para canali5ar asmelhores nature5as para o melhor proeto po-l#ticoQ " chave de interpretao de Plato paraeHplicar o problema 2 educativa! esses ovens secorromperam por+ue no receberam a atenoe o cuidado +ue merece +uem se dedicar agovernar o conunto) ;ua aposta tamb2m o 2!2 necessrio, ento, pensar outro cuidado, outracriana, outra educao, uma eHperincia infan-til da verdade e da ustia +ue preserve e cul-tive o +ue nessas nature5as h de melhor e o

    ponha a servio do bem comum)

    /8pai9, 8o +ue alimenta9, em latim pater.0 pa#5o/ogar como uma criana9, 8divertir-se9, 8fa5ercriancices9.0 pa /8pasto9, em latim pasto.0

    poimBm *FpastorG, Fo 4ue leva para comerG, emlatim pastor)+ paid0on *F'ogoG, Fdivers=oG)+

    paidi6 *F'ogoG, FpassatempoG)+ paide0a *Fcultu-raG, Feduca5oG)+ paidBo *FformarG, FeducarG)+

    paidagogDs *Fo 4ue condu a crian5aG, Fpeda-gogoG) *.astello, A$ + 16rcico, .$, HH3)$

    Em grego clssico, paRs tem uma de-notao muito ampla, refere-se a crianas e

    ovens de diversas idades, no caso dos meni-nos, at2 chegar 3 cidadania e, no caso dasmeninas, caso menos fre+Mente, at2 o matri-mSnio /%olden, >==A.) *a verdade, paRs usa-se mais com o sentido de filho ou filha /na-tural ou adaptado. e menos com o sentido decrianas e, por eHtenso, como escravo ou es-crava /ovens de diversas idades at2 limitessemelhantes aos do paRs.) *esse sentido, seuuso 2 eHtremamente amplo /designa, poreHemplo, o membro subordinado de um ca-sal de homens homosseHuais, no importa suaidade. e no implica uma reao emocional

    intensa entre os membros de uma fam#lia oudo mesmo grupo social /%olden, >=T.) Essamesma associao est presente no termolatino puer) "inda +ue chamativa, essa amplia-o pode ter como base um v#nculo afetivo ecultural +ue relacionava o escravo com seusenhor, no totalmente dessemelhante, ao+ue vinculava o pai com seu filho /Gastello,") 0 rcico, G), >==.)

    " viso platSnica da infncia se en+ua-

    dra, ento, em uma anlise educativa comintencionalidades pol#ticas) Plato no fa5 dainfncia um obeto de estudo em si mesmo re-levante) Ie certo, a infncia no 2, en+uanto in-fncia, um problema filosfico relevante paraPlato) *o h em seus dilogos uma par-ticular ateno em retratar as caracter#sticas psi-colgicas da infncia /contra, Gharlot, >=NN.) "infncia 2 um problema filosoficamente relevan-te na medida em +ue se tenha de educ-la demaneira espec#fica para possibilitar +ue a plis

    atual se aproHime o mais poss#vel da idea-li5ada) Iessa maneira, Plato inventa uma po-l#tica /no sentido mais prHimo de sua etimo-logia. da infncia, situa a infncia em uma pro-

    blemtica pol#tica e a inscreve no ogo pol#ti-co +ue dar lugar, em sua escrita, a uma plis

    mais usta, mais bela, melhor)"ntes de analisar a forma em +ue Plato

    pensou a infncia, 2 interessante eHpor algumas+uestLes vindas da l#ngua) ;abemos +ue a rela-o entre a histria das palavras e a histria do

    pensamento 2 eHtraordinariamente compleHa,mas, em todo caso, no +ueremos deiHar passaralguns esclarecimentos, pistas ou sugestLes)

    " outra palavra mais usada por Plato

    para designar a criana 2 n2os, literalmente,8ovem9, 8recente9, 8+ue causa uma mudana9,8novo9) U uma palavra mais ovem ligada a umarai5 de significado temporal, nu, de onde vem,

    por eHemplo, nVn, 8agora9 /Ghantraine, P),>=NT.) Em usos antigos aplica-se no s 3s

    Plato se refere 3s crianas, basicamen-te, por meio de duas palavras! paRs e n2os)>-

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    como o ancio /$ ?J?a.) "o legislar sobre +uemdespoa os deuses, trai 3 plis, ou corrompe suasleis, refere-se a +uem poderia fa5er essas aescomo louco ou enfermo0 trata-se de algu2m

    ultrapassado em velhice ou 8tomado pela infan-tilidade, o +ue em nada se diferencia dos esta-dos anteriores9 /$Z ?Jd.)

    +ue se ele +uer ter algum sucesso na vidapol#t ica ele deve antes ocupar-se de si mesmo)T

    8;crates9 toma como eHemplo os per-sas) " primeira diferena est ao nascer) ^uan-do nasce um filho de um rei persa, toda a `siao festea) Os atenienses, +ueiHa-se 8;crates9,no comemoram os nascimentos, no lhes doimportncia, no lhes oferecem a menor aten-o) ^uando nasce um ateniense, nem os vi5i-nhos ficam sabendo />c-d.)T Yampouco valo-ri5am a criao /troph2. dos pe+uenos) En-+uanto os persas disponibili5am os melhoreseunucos e, aos N anos, pLem os pe+uenos emcontato com os cavalos e os levam 3 caa, osatenienses escolhem uma escrava de pouco

    valor para cuidar do rec2m-nascido />d.0aos >J, os persas os confiam aos seus +uatromelhores homens! o mais sbio, o mais usto,o mais prudente e o mais coraoso />e.) "um s tempo, o pedagogo de "lcib#ades foipiro, o mais in'til entre os escravos de P2-ricles />ABa->>Bc.0 na segunda, analisam as diferentes for-mas de se relacionar com o conhecimento e asimplicaes pol#ticas de cada relao analisada/>>Bd->BTe.)

    *o in#cio, 8;crates9 +uestiona a 8"lci-

    b#ades9 +ue, desde criana, no duvidara sobreo usto e o inusto, mas +ue falara desses as-suntos com segurana e presuno) 8"credita-vas saber, apesar de ser criana, sobre o ustoe o inusto9, recrimina-o) 8Gomo poderia sab-lo9, 8;crates9 censura a 8"lcib#ades9, 8se nohavia tido tempo de aprend-lo ou descobri-loQ9 />>Aa->>Ac.) *a infncia no 2 poss#velsaber sobre o usto e o inusto0 2 o tempo daincapacidade, das limitaes no saber e, tam-

    b2m, no tempo0 2 a etapa da falta de eHperin-cia0 2 a imagem da ausncia do saber, do tem-

    po e da vida)

    *essa passagem, a figura da infncia 2,como a vergonha, uma metfora da inferiorida-de) " uventude de "lcib#ades 2 uma das ra5Les

    pelas +uais a me do rei persa se surpreenderiaao tentar rivali5ar-se com "taHerHes />esse te4to comentou 7ichel ?oucault: Go cuidado de si aparece comouma condio peda1H1ica$ Dtica e tam#Dm ontolH1ica$ para che1ar a serum #om 1overnante! Constituir-se em sueito ;ue 1overna implica ;ue setenha constituBdo em sueito ;ue se ocupa de si 6Mthi;ue du souci de soicomme prati;ue da li#ertD! In: >its et Qcrits$ I@! Paris: 5allimard$ )88%!p! &)-&&!

    +! ;uei4a de G"Hcrates no pode ser tomada literalmente! 7! 5oldenfrisa ;ue havia$ entre os atenienses$ ao menos um rito cerimonial para aaceitao social do recDm-nascido! Cele#rava-se entre cinco e sete diasdepois do nascimento e incluBa$ pelo menos$ um sacrifBcio$ reunio familiare decorao na porta da casa 6coroa de oliveira para o meninoS l para amenina! s famBlias mais po#res davam o nome ao recDm-nascido nessamesma cerim

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    mesmo modo +ue "lcib#ades sentiria vergonhaperante a opulncia dos persas, se sentiria umacriana diante da prudncia, mod2stia, destre5a,

    benevolncia, magnanimidade, disciplina, valor,

    constncia, disposio, competitividade e hon-ra dos espartanos />

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    entre eles so in'teis 3 plis e este 2 o mal me-nor +ue os filsofos provocam /" &ep'blica $JNc-d.)

    infncia como o outrodespre3ado

    ;crates conversa com ovens em mui- Ie todos, +uem apresenta o argumentotos dos primeiros dilogos de Plato e afirmana "pologia +ue para ele 2 a mesma coisa con-versar com pessoas de diversas idades /BBa.)Gontudo, Plato no destinou nenhum lugarespecial para o dilogo filosfico com ovensnos proetos educativos de " &ep'blica e de

    mais contundente contra a filosofia 2 8Glicles9no %rgias, reafirmando essa associa-o entrefilosofia e infncia afirmada por 8"dimanto9)8Glicles9 entra na conversa enfurecido pelaforma +ue 8;crates9 tratou 8%rgias9 e 8Polo9,seus dois interlocutores anteriores) Ele perguntaa 8;crates9 se este fala s2rio ou se est brin-cando) 8;crates9 responde +ue ambos com-

    partilham um mesmo afeto, por2m, diferemcom relao ao obeto desse afeto! en+uantoele ama a "lcib#ades e 3 filosofia, Glicles ama

    Iemos e ao povo ateniense /ou sea, ele amaa retrica e a pol#tica, filodemia. /J>c-d.)8Glicles9 responde com a clssica contra-po-sio entre nature5a /phsis. e lei /nmos./J

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    " proHimidade 8natural9 entre filosofia idade +ue ainda filosofa e +ue no renunciaa isto creio, ;crates, +ue este homem deveser aoitado) /JTa-d.

    e infncia se eHplica, nessa passagem, pelainade+uao social de ambas! +uando somos

    ovens podemos permitir essa diverso e dedi-car-nos a coisas sem importncia, mas se dedi-camos toda a vida 3 filosofia seremos ineHpe-rientes /ape#ron. para manearmos os assuntosmais importantes, +ue so os assuntos da vida

    p'blica da plis0 desconheceremos as leis, nosaberemos tratar os outros cidados, em p'-

    blico e no campo privado, no seremos, nes-te caso, esclarecidos nem bem considerados/2mpeiron.) U isso o +ue sucede a ;crates)" filosofia, como a infncia, est ligada 3falta de eHperincia) O filsofo 2 to rid#culo

    e infantil nos assuntos p'blicos como ospol#ticos o so nas conversas filosficas/JJd-e.) 8Glicles9 avana um pouco maisna comparao!

    Ie um lado a filosofia, a educao, o

    falar mal, o balbuciar, o brincar0 de outro lado,o homem adulto, a pol#tica, o falar bem, o fa-lar com clare5a) Por nature5a, a filosofia e aeducao esto untas e so prprias de umaidade tenra, como o falar mal, o balbuciar e o

    brincar) Para 8Glicles9, o problema no est nemna filosofia, nem na infncia, em termos absolu-tos) Pelo contrrio, +uando acontecem untas emuma etapa da vida, so proveitosas! 8est bemocupar-se da filosofia na medida em +ue serve

    para a educao /paide#as.9, afirma 8Glicles9) "filosofia vale como entretenimento e formao dealgumas disposies) O problema, em sua opi-nio, 2 +uando as coisas no respondem a seustempos naturais) " liberdade ou a escravido, acomplacncia ou os aoites, os risos ou a f'ria de8Glicles9 viro da manuteno ou da +uebradessa linha divisria, de seguir a nature5a ou deviolent-la) Ie modo +ue, para 8Glicles9, a infn-cia e a filosofia podem estar untas por+ue ambasso, por nature5a, coisas sem importncia)

    Est muito bem ocupar-se da filosofia namedida em +ue serve para a educao e no2 feio filosofar en+uanto se 2 ovem0 mas+uando se 2 velho, o fato torna-se vergo-nhoso, ;crates, e eu no eHperimento amesma impresso ante os +ue filosofam do

    +ue ante aos +ue falam mal e brincam) Gomefeito, +uando veo brincar e balbuciar umacriana, +ue por sua idade deve ainda falarassim, me causa alegria e me parece gracio-so, prprio de um ser livre e ade+uado 3 suaidade) Ie modo contrrio, +uando escutouma criana falar com clare5a, parece-mealgo desagradvel, irrita-me o ouvido e o

    ulgo prprio de um escravo) Ie outro lado,+uando se ouve um homem falar mal ou ovemos brincando, fica rid#culo, degradado edigno de aoites) Esta mesma impresso eH-

    perimento tamb2m a respeito dos +ue filo-sofam) Gertamente, vendo a filosofia em um

    ovem, tenho compra5er, me parece ade+ua-do e considero +ue este homem 2 um ser li-vre0 pelo contrrio, o +ue no filosofa me

    parece servil e incapa5 de ser estimado, a-mais digno de algo belo e generoso) as,

    por outro lado, +uando veo um homem de

    Plato responder algumas poucas ve5esa esse argumento com uma estrat2gia semelhan-te! no plano do +ue 2, a filosofia 2 in'til, por+uea plis est sem rumo, perdida, desordenada, comos valores invertidos) *o plano do +ue deve ser,os filsofos se ocupam do mais importante! ogoverno da plis)

    *o Yeeteto, 8;crates9 considera +uemesmo +ue os filsofos paream in'teis, eles fo-ram criados como homens livres) Os hbeis

    retricos, por outro lado, como escravos! dealmas pe+uenas e no retas, so servos do tem-po e de seus discursos />NNBb.) Em umacitada passagem da &ep'blica, 8;crates9 res-

    ponde 3s obees de 8"dimanto9 com a 8"lego-ria do *avio9! no relato, +uem manea umaembarcao no tem nenhum conhecimento doof#cio, todos ali comem e bebem at2 empantur-rarem-se, se regem pelo pra5er e no pelo saber!consideram in'til o 8verdadeiro9 piloto, +ue ul-

    Educao e Pes+uisa, ;o Paulo, v), p) >>-

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    ga ser necessrio ter em conta as estaes, oestado do tempo, o movimento dos astros eoutras coisas tais para condu5ir ade+uadamen-te a embarcao /Ja-J=a.) Em um navio

    como este, afirma 8;crates9, os filsofos socertamente in'teis, mas no so responsveis porisso, +ue o natural seria +ue os homens +uetm necessidade de governo fossem em busca de+uem tem capacidade para fa5-lo /J=b-c.)

    da da sa'de de seus pacientes e no de seupra5er) Gomo tampouco os pol#ticos de "tenaspercebem +ue o verdadeiro pol#tico busca obem e no o pra5er) *essa imagem do ulga-

    mento, as crianas ocupam o mesmo lugar +ueocupavam os bbados e os gulosos +ue toma-vam o controle da embarcao na 8alegoria donavio9) ;o os +ue no tm dom#nio e nemcontrole sobre si)

    *o %rgias, 8;crates9 responde di- "ssim, 8;crates9 responde a 8Glicles95endo +ue ele, o filsofo, 2 um dos poucos, seno o 'nico, ateniense +ue se dedica 3 8ver-dadeira9 arte da pol#tica /Td.) O +ue se fa5na plis 2 sof#stica e retrica, no pol#tica) Yal+ual o 8verdadeiro9 piloto do navio, em "&ep'blica, o verdadeiro pol#tico se preocupacom o bem e no com o pra5er) 8;crates9considera uma hipot2tica acusao e um even-tual u#5o contrrio, na plis, pela seguinteimagem!

    com sua mesma moeda! 8as crianas so vocs9)"s crianas so sempre os outros) Esse talve5sea o 'nico ponto em +ue 8;crates9 e 8Gli-cles9 coincidem) Iiscordam sobre +uase tudo!sobre a filosofia, sobre a pol#tica, a retrica, o

    bem, o pra5er) as em uma coisa coincidem!8as crianas so vocs, os outros9) "s crian-as so a figura do no deseado, de +uemno aceita a prpria verdade, da des+ua-lificao do rival, de +uem no compartilhauma forma de entender a filosofia, a pol#tica,a educao e, por isso, dever-se- venc-la)"s crianas so, para 8;crates9 e para 8G-licles9, portanto para Plato, uma figura dodespre5o, do eHclu#do, o +ue no merece en-trar na+uilo de mais valioso disputado por

    Plato, teoricamente, com os sofistas! a +uemcor-responde o governo dos assuntos da

    ;e me ocorre o mesmo +ue eu di5ia a Polo,+ue serei ulgado como o seria, diante deum tribunal de crianas, um m2dico acu-sado por um co5inheiro) Pensa, com efei-to, de +ue modo poderia defender-se o

    m2dico posto em tal situao! 8Grianas,este homem lhes causou muitos males0aos menores de vocs, ele os destroa cor-tando e +ueimando seus membros, e osfa5 sofrer enfra+uecendo-os, sufocando-os0 d a vocs as bebidas mais amargas eos obriga a passar fome e sede0 no comoeu +ue os fartarei com toda a sorte demanares agradveis9) O +ue crs +ue po-deria di5er o m2dico posto neste perigoQOu melhor, se dissesse a verdade! 8Eu fa-5ia tudo isso, crianas, por sua sa'de9) O+uanto cr +ue protestariam tais u#5esQ

    *o gritariam com todas as suas forasQ/%rgias Te-T

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    termos de se precaver de cometer inustia,mais do +ue de padec-la, e +ue o melhormodo de vida consiste em praticar e eHortar osoutros a praticar a ustia e todas as outras

    virtudes /T>-