Voz Nativa_comunicação e turismo de base comunitária

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Voz Nativa Uma experiência de comunicação e turismo de base comunitária na Ilha Grande COLEÇÃO VOZ NATIVA #5

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Este livro conta a história do Voz Nativa na Ilha Grande. Ele apresenta o projeto, sua trajetória e resultados, como forma de compartilhar a experiência.

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#5

Voz NativaUma experiência decomunicação e turismo de base comunitária

na Ilha Grande

COLEÇÃO VOZ NATIVA

#5

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Voz NativaUma experiência decomunicação e turismo de base comunitária

na Ilha Grande

COLEÇÃO VOZ NATIVA

#5

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PROJETO JUVENTUDE PROTAGONISTA ILHA GRANDE / RJVOZ NATIVA

MARCIO RANAUROCoordenador Geral

MARINA ROTENBERGCoordenadora de Comunicação

ARNALDO OLIVEIRACoordenador Administrativo

IVAN BURSZTYNCoordenador Pedagógico

ANDRÉ PAZCoordenador Multimídia

ANA LAÍSEBEATRIZ LUZ

IVANA RIBEIROAssistentes de Coordenação

LUISA SOBRALAssistente de Campo

GUARACI LAGEDesigner e Diagramador

Patrocínio:

Projeto Juventude Protagonista Ilha Grande

Realização:

www.alternativaterrazul.org.br

Apoio:

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2016_ALTERNATIVA TERRAZUL

Tiragem: 1000 exemplaresDistribuição GratuitaImpresso no Brasil

A reprodução de todo ou parte deste documento é permitida somente para fins não lucrativos e com a autorização prévia e formal da Associação Civil Alternativa Terrazul ou do Projeto Juventude Protagonista Ilha Grande/RJ - Voz Nativa, desde que citada a fonte.

EQUIPE RESPONSÁVEL PELA PUBLICAÇÃO

ORGANIZAÇÃOMarcio Ranauro e Marina Rotenberg

TEXTOSIvana Ribeiro, Luísa Sobral, Marcio Ranauro e Marina Rotenberg

FOTOGRAFIASEquipe e parceiros do projeto

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃOGuaraci Lage

ILUSTRAÇÃOGuaraci Lage

1ª EdiçãoIlha Grande - RJ_2016

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Índice

Ficha técnica do Projeto

Ficha técnica da Publicação

Apresentação

Voz Nativa

Turismo de Base Comunitária,

Comunidades Tradicionais e Áreas Protegidas

Comunicação Comunitária

A Ilha Grande

Unidades de Conservação

A experiência do Voz Nativa

Novos caminhos para o TBC na Ilha Grande

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Apresentação Este livro que você tem em mãos conta a história do projeto Voz Nativa na Ilha Grande, Rio de Janeiro, entre os anos de 2014 e 2016. Nosso objetivo aqui é apresentar um pouco de nossos desafios e conquistas e, quem sabe, servir de inspiração e aprendizado para pessoas e instituições que se dedicam a promover o protagonismo de jovens moradores no desenvolvimento de suas comunidades, principalmente no desenvolvimento de um turismo de base comu-nitária a partir da conservação dos recursos naturais e da valoriza-ção de história e memória de suas localidades. Buscamos contar como o Voz Nativa foi executado, a fim de com-partilhar nossa forma de trabalhar, apresentar nossos aprendiza-dos, sistematizar nossas práticas e apontar nossos resultados, con-tribuindo, assim, com projetos similares em todo o Brasil.

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Voz Nativa A partir de um projeto de pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, que buscava observar como conteúdos de educação ambiental poderiam ser melhor compreendidos e apro-priados por comunidades tradicionais, é que nasce o Voz Nativa. Durante a pesquisa, em atividades com alunos de ensino médio foi possível identificar que a comunicação se dava de forma mais eficiente quando realizada pela linguagem e valores da própria co-munidade e não por um ator externo. Assim nasceu, em 2002, o Jornal Voz Nativa, uma mídia comu-nitária feita por jovens da Ilha Grande com o intuito de apresentar suas questões em relação à comunidade, bem como levantar deba-tes ambientais de forma acessível a toda a população. Com o jornal, temas considerados relevantes para os jovens eram debatidos entre eles e depois traduzidos, com suas próprias palavras, para todos os moradores da Ilha. A adesão do jornal na época foi tão grande que em sua primeira edição as matérias já geraram reflexões e mudança de atitude, colo-cando os “novos jornalistas” em diálogo junto a governos, organi-zações sociais e sua própria comunidade. A visão crítica e colabora-tiva do jornal Voz Nativa era, nesse momento, importante para dar luz aos problemas e o cotidiano na Vila do Abraão. Dez anos depois, em 2014, o jornal Voz Nativa se transformou no projeto Voz Nativa, a partir de parcerias entre atores locais, insti-tuições públicas e universidades e viabilizado pelo patrocínio do Programa Petrobras Desenvolvimento e Cidadania - depois trans-formado em Programa Petrobras Socioambiental. O projeto, então, passou a promover uma série de atividades que buscavam ampliar não só a voz dos moradores, mas a participa-ção destes na definição de um modelo de desenvolvimento da Ilha Grande que considerasse suas demandas e expectativas, os colo-cando como protagonistas do processo.

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Durante os dois anos em que atuou neste novo formato, 2014 a 2016, o Voz Nativa se consolidou como um projeto atualizado para o momento turístico da Ilha Grande, oferecendo cursos nas áreas de turismo, comunicação comunitária, empreendedorismo e gas-tronomia. Além da oferta de cursos e oficinas práticas, o projeto promoveu eventos de interação entre jovens de toda a Ilha, e forta-leceu a comunicação comunitária na Ilha Grande, com o aprimora-mento do jornal periódico Voz Nativa e a edição de livros colabora-tivos sobre memória e cultura local.

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Turismo de Base Comunitária, Comunidades Tradicionais e Áreas Protegidas São muitos os impactos que as atividades humanas causam ao meio ambiente. O turismo, por exemplo, pode causar diversos pro-blemas para comunidades e áreas protegidas ao mesmo tempo que pode se constituir como um fator importante para a preservação do meio ambiente e da geração de renda dessas co munidades. A diferença se dá quando o turismo tem a própria comunidade lo-cal como protagonista, sendo utilizado por ela como uma fonte de renda que permita o desenvolvimento sem a exploração predatória do ambiente. O turismo de base comunitária (TBC), portanto, tem esse viés: apoia o desenvolvimento do turismo a partir da valoriza-ção das culturas, do modo de vida das comunidades tradicionais e da conservação das áreas protegidas. No Brasil, um modelo de Desenvolvimento Sustentável deve con-siderar diferentes temas, três de suma importância são a valoriza-ção das culturas e do modo de vida das comunidades tradicionais; a conservação das áreas protegidas em todo o território nacional; e o desenvolvimento de um turismo de base comunitária que seja inclusivo e de baixo impacto social e am biental.

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O que são Comunidades Tradicionais

Segundo a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo DECRETO Nº 6.040, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2007, compreende-se por:

I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição;

II - Territórios Tradicionais: os espaços necessários a reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas, respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da Constituição e 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais regulamentações; e

III - Desenvolvimento Sustentável: o uso equilibrado dos recursos naturais, voltado para a melhoria da qualidade de vida da presente geração, garantindo as mesmas possibilidades para as gerações futuras.

Nesse sentido, o Projeto Voz Nativa experimentou uma metodo-logia de empoderamento de comunidades tradicionais que levasse esses temas em consideração, buscando o desenvolvimento de um turismo de base comunitária com a conservação ambiental de seu território. Com a expansão do turismo no país, as áreas protegidas se tor-naram importantes destinos de visitação. E é por abrigar beleza cênica e natural, florestas, rios, cachoeiras, praias e comunidades

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O que são Áreas Protegidas

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), área protegida é “uma área com limites geográficos definidos e reconhecidos, cujo intuito, manejo e gestão buscam atingir a conservação da natureza, de seus serviços ecossistêmicos e valores culturais associados de forma duradoura, por meios legais ou outros meios efetivos. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), uma das convenções internacionais assinadas na Rio-92, traz a seguinte definição de área protegida “significa uma área definida geograficamente que é destinada, ou regulamentada, e administrada para alcançar objetivos específicos de conservação.

Fonte: Instituto Socioambiental www.uc.socioambiental.org

tradicionais que estas áreas puderam se tornar atrativos turísticos importantes e muitas vezes famosos, como é o caso da Ilha Grande. Essa união de características promoveu uma rápida expansão de modelos turísticos como turismo ecológico, ecoturismo, turismo de trilhas, turismo de observação de aves, entre outros. Nem todos es-tes modelos são realmente capazes de preservar a natureza ou in-cluir as comunidades que nelas vivem. Muitas vezes, o que ocorre é o contrário . Sem controle, o turismo passa a ser um projeto econômico que esgota a natureza e expulsa as comunidades locais para dar espaço para grandes empreendimentos, muitas vezes de empresários dis-tantes da realidade local, e pouco preocupados com o lugar e com as comunidades e culturas que vivem ali. Em muitos casos, regiões bem preservadas foram tão visitadas que a natureza se esgotou, as características culturais não mais existem e aquilo que atraia tantos visitantes deixou de existir.

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Relação do TBC com áreas protegidas

Em relação às áreas protegidas, o turismo de base comunitária é um modelo que se sustenta na sua conservação. Por ser uma pro-posta de baixo impacto ambiental e social, o TBC depende de um modelo que seja planejado para o longo prazo, e, desta forma, não existe TBC sem que a natureza seja protegida e esteja sempre ofe-recendo oportunidades para que a atividade turística seja desen-volvida. A relação do TBC com as áreas protegidas é então fundamental, pois não existe um sem o outro. Um TBC depende da natureza onde vivem as comunidades tradicionais .

Características do TBC na Ilha Grande

Na Ilha Grande o turismo se desenvolveu de diferentes formas. Cada comunidade, a depender de suas características, apresenta hoje um perfil de turismo e de visitantes. Pode-se encontrar tanto modelos de turismo de massa, como de turismo de base comuni-tária. Todas as praias da Ilha Grande abrigam ou já abrigaram comu-nidades tradicionais e, assim, as atividades turísticas que já se de-senvolveram na Ilha se envolvem de alguma maneira com estas comunidades. Nem sempre o tu rismo se organiza pelos moradores das comunida des caiçaras, japonesas e pescadoras ou a partir da troca com estes. Pelo contrário, em muitos casos o turismo se de-senvolve a partir da chegada de novos moradores, que compram as terras das comunidades locais, as fazendo migrarem para outros lugares e sem o diálogo necessário. Atualmente mais de dez comunidades da Ilha recebem turistas, algumas com pequenos campings e pousadas, outras com diversos restaurantes, pousadas e ofertas de serviços. Em todas elas, muitos moradores das comunidades tradicionais participam das ativida-des turísticas, seja como donos de pousadas, campings, bar cos e restaurantes, seja trabalhando para empresários não nativos.

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De todas as comunidades turísticas, a Vila do Aventureiro se des-taca como aquela que mantém um turismo de base comunitária mais original, pois todo o receptivo existente é de propriedade de famílias caiçaras, que mantêm campings, pequenos quartos e bares. Do outro lado da Ilha temos o oposto. A Vila do Abraão com um enorme fluxo turístico dividido em empreendimentos de morado-res locais e “de fora”, sem que o turismo seja dedicado ao desenvol-vimento cultural e econômico das comunidades tradicionais. Por existir ainda muitas comunidades em que o turismo não se consolidou, a possibilidade de um TBC é muito grande na Ilha Grande, principalmente naquelas praias em que a comunidade ain-da mantém o perfil e as características das antigas famílias caiçaras. Comparando os efeitos e os problemas do turismo de massa que se vê no Abraão, é urgente a promoção e apoio das outras comu-nidades para a construção de um turismo desejado por elas e que respeite seu tempo, sua cultura, seus laços sociais e a natureza.

Por ser a porta de entrada da Ilha Grande, a Vila do Abraão vivenciou um desenvolvimento turístico acelerado e descontrolado. Com pousadas, bares, lojas, agências e restaurantes, o Abraão apresentou um avançado processo de urbanização sem que a infraestrutura necessária acompanhasse seu ritmo de crescimento. Com a diversidade de empreendimentos, turistas e moradores de fora passaram a buscar no Abraão uma oportunidade de trabalho e local de moradia, ampliando para além da capacidade de suporte os serviços públicos e a oferta de emprego. A falta de infraestrutura e a disputa pelo mercado de trabalho transforma a vila em um local de intensa atividade turística sem controle, especialmente na alta temporada.

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Comunicação Comunitária Uma das formas mais eficientes de fortalecer a cultura e a iden-tidade local passa pela comunicação comunitária. Através da co-municação comunitária uma vila, um grupo de pessoas ligadas à uma identidade étnica ou mesmo uma instituição representativa de uma comunidade, pode fortalecer seus laços, conhecer melhor seus problemas coletivos e se posicionar sobre o seu desenvolvimento. Pela experiência vivida em 2002 com o jornal Voz Nativa é que surgiu a proposta de transformar o jornal, na nova fase do projeto, em uma mídia para toda a Ilha Grande, envolvendo escolas, insti-tuições e moradores.

Da comunidade para a comunidade

É da necessidade de democratizar o acesso à informação, dar voz às comunidades, efetivar o direito à liberdade de expressão e criar uma forma de comunicar alternativa aos grandes meios de comuni-cação que surge a comunicação comunitária, alternativa, popular, contra hegemônica, dialógica. Essa comunicação pode ter diferentes nomes e é complexa não só pela forma de nomear, mas pelos desafios que enfrenta. Ela mostra o ponto de vista do cidadão, a notícia por quem vive aquela realida-de e a informação que é de fato importante ali. Ela é planejada, apu-rada, produzida e direcionada pela e para a própria comunidade. A comunicação comunitária é uma alternativa às grandes cor-porações de comunicação de massa, que cada vez mais deixam de lado o objetivo de informar dando prioridade ao lucro e aos inte-resses econômicos e políticos. Ao mesmo tempo que ela informa sobre agenda e dia a dia da

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comunidade, ela valoriza a cultura local, resgata história, tradições e memórias, identifica problemas, reivindica direitos e aponta pos-síveis soluções. Ela provoca a reflexão e a crítica, ela une e engaja, ela é militância e luta.

A comunicação comunitária como fim e processo Através das rádios comunitárias, jornal-mural, jornais de bairro, rádio-poste, fanzine, cineclubes, redes sociais, blogs e outros, a co-municação comunitária cumpre um papel social, pois a população de determinado território se organiza para olhar para a própria re-alidade, e, a partir daí, debater, analisar, planejar, produzir e criar conteúdo. A riqueza da comunicação comunitária está não só no fim, mas também no processo, uma vez que, por meio da educação e do di-álogo, ela conta com a participação ativa do morador como produ-tor do próprio conteúdo, o colocando no exercício de sua cidadania e do direito à liberdade de expressão. Reuniões de pauta, brainstorm e roteiros tomam outra forma na medida em que se tornam um espaço que une parte daquela comu-nidade para pensar a própria comunidade. Um evento, o proble-ma com o lixo, o resgate de uma memória, a escolha de um perso-nagem, um dado histórico, qualquer conteúdo que seja escolhido para ser veiculado faz parte de um processo decisório democrático que representa o que aquela comunidade deseja refletir de si. Cada encontro se torna um processo educativo, deles, por eles e para eles.

Empoderamento local

A comunicação comunitária coloca, antes de tudo, o cidadão como protagonista no processo de comunicação, sendo ele ao mes-mo tempo emissor e receptor. A comunicação comunitária é um processo educativo para quem recebe e para quem produz, unindo essas duas pontas pelo que eles têm em comum, pelos laços que os unem, pelas experiências, pela cultura e pelas tradições.

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A comunicação, portanto, contribui no processo de empodera-mento, cidadania e participação comunitária, já que para comu-nicar, o cidadão passa a perceber seu lugar no mundo, troca com os pares, atenta-se às demandas locais, enxerga-se como parte de um grupo e, mais que tudo, valoriza e luta por sua identidade e território. Processos de comunicação comunitária demandam esforços, re-cursos materiais e financeiros e atenção à legislação. Mas é, tam-bém, por esses desafios que um veículo de comunicação comunitá-ria se fortalece sendo um canal que ecoa a voz de uma comunidade, dando a ela visibilidade, valor e empoderamento.

A Comunicação Comunitária e o Voz Nativa

No contexto do projeto Voz Nativa, a comunicação comunitária tem um papel importante de empoderar as comunidades locais nas ações do cotidiano e do desenvolvimento da Ilha Grande. É uma ferramenta para apoiar as comunidades a valorizarem sua cultura, expressarem sua opinião, e trocarem com outras comunidades in-formações sobre o que acontece em toda a Ilha. A construção coletiva do Jornal Voz Nativa tem como objetivo promover um canal de comunicação entre a Ilha Grande, seus vi-zinhos e turistas. Com os moradores escrevendo suas matérias, o Voz Nativa passa a ser a voz das comunidades, e pode passar a ser o canal de construção de um modelo de desenvolvimento do turismo que valorize as culturas locais, seus modos de viver e fazer turismo. A construção do jornal é parte do projeto de empoderamento, é um estímulo a pensar nos acontecimentos da comunidade, em valorizar características culturais e se posicionar. Construído por jovens, crianças e adultos, o jornal Voz Nativa se tornou o espaço de trocas entre os moradores da Ilha Grande.

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A Ilha GrandeHistória

A Ilha Grande é parte da cidade de Angra dos Reis, no sul do Es-tado do Rio de Janeiro. Essa região foi importante desde a chegada dos primeiros portugueses no Brasil, pois foi área de transito de embarcações que navegavam entre a Europa e o Brasil. Antes, já era habitada por índios Tamoios e há alguns milênios por populações que deixaram marcas de uma longa histó ria na for-ma de Sambaquis. A Ilha Grande também passou pelo pe ríodo co-lonial, piratas, tráfico negreiro e sempre figurou na história do Rio de Janeiro, quando colônia e quando capital do país. Passou pelo ciclo da cana de açúcar e do café e com isso vivenciou um período de grandes fazendas, produções e desmatamento. No último século teve sua história marcada pela presença de uma Colônia Penal Agrícola e, mais tarde, pela presença de um presídio de segurança máxima, o Presídio Candido Mendes, local onde sur-giu o Comando Vermelho, famosa organização criminosa do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, no século XX, a Ilha Grande vivenciou o fim do ciclo das grandes fazendas de café e viu se desenvolver um ciclo de pesca da sardinha. Em diversas comunidades, colônias japone sas construíram fábricas de sardinha enlatada que abasteciam o Rio de Janeiro, marcando um ciclo econômico importante em toda a Ilha Grande. Nesse período, se consolidaram também as comunidades caiça-ras e japonesas. Vivendo principalmente da pesca e da roça, essas comunidades ocuparam muitas vilas pela Ilha, algumas desapare-cidas pela proximidade com o presídio, outras até hoje existentes, mantendo antigos modos de vida tradicionais e se adaptando ao turismo em crescimento nos últimos 20 anos. Com a chegada das Unidades de Conservação (UC) na década de 80, a Ilha Grande sofreu uma grande modificação. Ao mesmo

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tempo que as UC possibilitaram a recuperação das florestas da Ilha, interferiram no modo de vida das comunidades tradicionais, que viviam da pesca e da roça, práticas hoje controladas ou proibidas em toda a Ilha. Foi no contexto do fim do presídio, em 1984, que visitantes desco-briram o paraíso. Desde então a Ilha Grande vem se desenvolvendo rapidamente como um destino turístico internacional, oferecendo uma nova oportunidade para as comunidades locais e dependendo da conservação ambiental para que se mantenha atraente e susten-tável ao longo do tempo.

Perfil das comunidades e dinâmica socioeconômica e cultural

Atualmente a Ilha Grande abriga 15 povoados distribuídos por toda sua costa, a maioria voltada para o continente. A caracte rística principal das vilas da Ilha são as comunidades caiçaras, com algu-mas famílias de descendentes japoneses e moradores chegados de todas as partes do Brasil e do mundo. Como a Ilha Grande recebe um fluxo turístico intenso, principal-mente na Vila do Abraão, sua população é flutuante, variando en-tre 10.000 a mais de 20.000 moradores - segundo informações não oficiais e estatísticas de instituições locais. Apenas quatro comuni-dades abrigam mais de 1.000 habitantes, sendo elas Abraão, Araça-tiba, Provetá e a Enseada das Estrelas. Todas as outras apresentam entre 150 a 700 moradores, conforme tabela a seguir que apresenta informações oficiais do IBGE:

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Fonte: Sistema de Ordenamento Turístico Ilha Grande –Angra dos Reis –RJ

Censo IBGE 2000

2000

0

115

5

95

1234

0

290

125

396

0

292

0

424

0

1481

54

0

4511

PGRS (projeção)

2006

0

141

6

117

1517

0

356

154

487

0

359

0

521

0

1821

66

0

5545

Censo IBGESetores

2010

7

116

11

96

1025

191

265

152

107

274

109

49

424

71

1971

118

2

5021

População fixa da Ilha Grande

Lopes Mendes

Dois Rios

Parnaioca

Aventureiro

Provetá

Praia Vermelha

Araçatiba

Praia da Longa

Enseada do Sítio Forte

Matariz

Bananal

Freguesia de Santana

Enseada das Estrelas

Guaxuma (Japariz)

Vila do Abraão

Enseada de Palmas

Ponta dos Castelhanos

Total

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O que é ser Caiçara

Entende-se por Caiçaras as comunidades formadas pela mescla da contribuição étnico-cultural dos indígenas, colonizadores portugueses e, em menor grau, dos escravos africanos. Os caiçaras apresentam uma forma de vida baseada em atividades de agricultura itinerante, da pequena pesca, do extrativismo vegetal e do artesanato. Essa cultura desenvolveu-se principalmente nas áreas costeiras dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e norte de Santa Catarina.

As comunidades caiçaras mantiveram sua forma tradicional de vida até a década de 1950, quando as primeiras estradas interligaram as áreas litorâneas com o planalto, ocasionando o início do fluxo migratório.

Os caiçaras passaram a chamar a atenção de órgãos governamentais e pesquisadores mais recentemente em virtude das ameaças cada vez maiores à sua sobrevivência material e cultural e pela contribuição histórica que essas populações têm dado à conservação da biodiversidade, por meio do conhecimento sobre a fauna e a flora e os sistemas tradicionais de manejo dos recursos naturais de que dispõem. Essas comunidades se encontram hoje ameaçadas em sua sobrevivência física e material, por uma série de processos e fatores.”

Fonte: www.mosaicobocaina.org.br

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Por ser turística, a Ilha Grande é caracterizada por uma grande variação populacional. Veranistas e turistas aumentam conside-ravelmente a população da Ilha na alta temporada. Dos visitantes que chegam nos cruzeiros e passam poucas horas na Ilha a veranis-tas que passam algumas semanas e até meses, a população da Ilha Grande sofre aumentos populacionais que impactam o cotidiano dos moradores. Além disso, a Ilha Grande atrai muitos viajantes que se estabele-cem por um tempo maior, de alguns meses até anos. Esse grupo se estabelece principalmente no Abraão e impacta o mercado de tra-balho local. Nessa realidade, o projeto Voz Nativa pretendeu atuar no estímulo do turismo de base comunitária, fortalecendo a iden-tidade cultural caiçara ao mesmo tempo em que ofereceu capaci-tação técnica dos moradores nativos voltada para o turismo. Essa combinação foi a forma que o Voz Nativa encontrou para atender a demanda da população da Ilha Grande por formação em diversas áreas ligadas ao turismo. Na maioria das outras vilas, as comunidades se dividem entre ati-vidades turísticas, pesqueiras e funcionalismo público, com uma maioria de moradores descendentes de populações caiçaras e mui-tos jovens. São comunidades mais isoladas, sem transporte público e com baixa urbanidade. Como o serviço de educação pública ainda é muito recente e frágil em toda Ilha Grande, as comunidades não tiveram oportunidades de formação no ensino médio e posteriormente de formação pro-fissional e universitária. Essa realidade fez com que sua população não estivesse preparada para o crescimento turístico, que aconte-ceu de forma rápida e desordenada. Com isso, as melhores condições de emprego são de moradores de fora da Ilha, entre eles muitos estrangeiros. A inserção do morador tradicional no desenvolvimento turístico é muitas vezes precária, o que não contribui também para a manutenção do modo de vida local, da valorização das culturas caiçaras e do desenvolvimento de um turismo de base comunitária.

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O mesmo ocorre em relação a propriedade dos estabelecimentos. A maioria deles é de empresários de fora da Ilha que vieram com mais recursos financeiros que os moradores locais. As proprieda-des melhor localizadas do Abraão, na parte baixa, especialmente de frente para o mar, são em sua maioria de empresários que vieram para a Ilha Grande com o objetivo de implementar negócios. Dessa forma, o protagonismo do turismo (empreendimentos e empregos melhores) está com pessoas que não têm uma relação estabelecida com o meio ambiente da Ilha nem com a cultura local.

Desenvolvimento do Turismo na Ilha

O turismo na Ilha Grande se desenvolveu de várias formas, ne-nhuma delas planejada ou necessariamente orquestrada pelas co-munidades locais. Em cada praia um tipo de visitante passou a de-mandar por estrutura turística, e assim o turismo foi acontecendo e cada comunidade encontrou uma forma de receber e aproveitar as oportunidades de turismo, ainda em expansão. Com as proibições ambientais, o turismo passou a ser uma al-ternativa de emprego e renda para as famílias da Ilha. Importante ressaltar que na Ilha Grande o turismo não foi fortalecido a partir de uma demanda da comunidade, mas surgiu para ela como uma possibilidade de geração de renda, após a proibição das formas tra-dicionais de subsistência. Dessa forma, o turismo não necessaria-mente é um desejo da comunidade mas uma necessidade que se impõe a ela, e por consequência uma oportunidade. Enquanto a Vila do Aventureiro, no lado oceânico, recebia turistas jovens e mochileiros a procura de um lugar calmo e paradisíaco para acampar, surfar e dançar forró, a Vila do Abraão foi se es-truturando como uma vila de turismo internacional, com diversas pousadas, restaurantes, lojas e agências de turismo náutico. As características geográficas e culturais de cada comunidade de-terminaram a forma como o turismo foi se organizando, determi-nando também como as comunidades tradicionais se inseriam no desenvolvimento desse turismo.

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Nas comunidades de tradição japonesa, antigas fábricas de sar-dinha se tornaram pousadas. Nas comunidades caiçaras, quintais viraram campings ou abrigaram pequenos quartos ou pousadas. Enquanto o nativo da Ilha procura acompanhar o fluxo do turis-mo para se inserir nele, empreendedores de todo o mundo chegam com recursos e experiências para montar seus restaurantes e pou-sadas. Enquanto nativos se esforçam para comprar pequenos bar-cos e lanchas para vender passeios, agências de fora chegam com grandes lanchas e saveiros. A consolidação de um modelo de turismo na Ilha Grande ainda está em construção. Como a Ilha é quase toda preservada por Par-que Natural e Reserva Biológica, o turismo se concentra nas co-munidades de seu entorno e nas dezenas de praias paradisíacas e passeios náuticos. Enquanto um modelo de turismo de massa já cobra seu preço na Vila do Abraão, onde gestão de lixo, saneamento e infraestrutura pública estão aquém das necessidades, comunidades como Araça-tiba, Praia Vermelha e Bananal procuram inserir cada vez mais o morador nativo no desenvolvimento turístico, antes que as comu-nidades tradicionais desapareçam e as vilas se tornem polos turís-ticos descaracterizados.

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Unidades de Conservação

Lagoa Azul

Enseadado Bananal

Enseada de Sítio Forte

Enseada de Araçatiba

Vila de Provetá

Praia do Sul e do Leste

Vila doAventureiro

REBIO da Praia do Sul “A Reserva Biológica da Praia do Sul foi criada com a finalidade de preservar, sob rigoroso controle do governo estadual, os ecossistemas naturais que abrigam exemplares de flora e fauna indígenas.”

Lagoa Verde

Parnaioca

RDS do Aventureiro“A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Aventureiro é composta por uma porção terres-tre e outra marinha, objetivando conciliar a preservação dos ecossistemas locais com a cultura caiçara, valorizando os modos de vida tradicio nais, assim como as práticas em base sustentáveis desenvolvidas pela população tradicional beneficiária”

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Unidades de Conservação

Parque Estadual da Ilha Grande:“O PEIG tem como objetivo assegurar a preservação de recursos naturais e o incentivo a atividades turísticas.”

Vila do Abraão

Enseada das Estrelas

Lopes Mendes

VilaDois Rios

Lagoa Azul

Enseada das Palmas

APA de Tamoios “A APA de Tamoios foi criada com o objetivo de assegurar a proteção do ambiente natural, das paisagens de grande beleza cênica e dos sistemas geo-hidrológicos da região, que abrigam espécies biológicas raras e ameaçadas de extinção, bem como comunidades caiçaras integradas naqueles ecossistemas.”

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Praia da Longa

Vila do Abraão

Provetá

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A experiência do Voz Nativa

Objetivos e Expectativas

O projeto Voz Nativa foi orientado por ações que pretendiam for-talecer o papel dos nativos no desenvolvimento do turismo da Ilha. Todos os passos do projeto foram planejados para a promoção de um turismo de base comunitária, principalmente nas comunidades onde o turismo ainda não se consolidou. Dessa forma, a estratégia do projeto foi de promover uma série de atividades, que, em conjunto, pudessem apoiar o empreendedoris-mo dos jovens e nativos em ações dedicadas ao desenvolvimento turístico de suas comunidades. Ao mesmo tempo, com os investi-mentos em comunicação comunitária, promover maior valoriza-ção e conhecimento das culturas tradicionais da Ilha, fortalecendo assim a voz e a presença das comunidades nativas no cotidiano do turismo da Ilha Grande.

O Voz Nativa pretende ser um projeto que contribua com inciativas turística idealizadas por moradores da Ilha Grande, se tornando também uma referência no diálogo e na troca entre comunidades tradicionais de localidades onde exista o turismo de base comunitária em unidades de conservação.

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Metodologia Proposta

São três as ações principais do Voz Nativa: 1. Ofertar cursos e oficinas em turismo, meio ambiente, comunica-ção comunitária, gastronomia e empreendedorismo; 2. Construir de forma participativa um projeto de comunicação comunitária para toda a Ilha Grande, com jornal e livros que resga-tem a cultura caiçara; 3. Produzir eventos de interação entre jovens e nativos de diversas comunidades, ao mesmo tempo em que se estimule a trocas de sa-beres entre moradores e temas relevantes para o cotidiano local.

A prática sempre foi de estimular processos participativos de to-mada de decisão, nos quais reuniões, pesquisas e conversas com a comunidade foram as formas de ouvir as demandas e chegar nos melhores formatos das atividades a serem oferecidas. Duas comissões de acompanhamento foram previstas para intera-gir com o projeto, uma com instituições e parceiros, outra apenas com jovens. Estas comissões se tornaram os espaços de interação e consulta entre o projeto e a comunidades antes da realização das atividades. Nas reuniões com as comissões, todos tomavam as deci sões para que as ações acontecessem na prática, desde qual curso realizar, formas de divulgação, público a ser priorizado, local, cro nograma das atividades, até possíveis parcerias. Em todas as comu nidades o projeto buscava interagir com lideranças, instituições e jovens, para que cada passo fosse realizado de forma colaborativa.

CursosEventos

ComunicaçãoComunitária

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Terrazul

A Associação Civil Alternativa Terrazul foi fundada em 1999 como uma ONG socioambientalista. Sua missão é contribuir para uma reflexão sobre o nosso futuro enquanto espécie habitante do Planeta Terra, proporcionando debate e reflexão sobre os problemas ambientais, relacionando-os com as questões econômicas, sociais e políticas e culturais, através da educação para a sustentabilidade ampla e transformadora. Criada em Fortaleza (CE), com escritório em Brasília (DF) e no Rio de Janeiro (RJ), mantém atuação em todo o território nacional através da articulação em redes e em parcerias com outras ONGs, com o poder público, os movimentos sociais, as universidades e a sociedade.

Fonte: www.alternativaterrazul.org.br

Para qualquer financiador é preciso estabelecer metas, cronogra-mas e atividades previamente descritas. Assim, foi preciso conci-liar a execução participativa com o projeto patrocinado. Isso só foi possível porque a construção do pro jeto foi realizada a partir de um profundo conhecimento da comu nidade e de um diagnóstico que incluiu a percepção dos próprios moradores. Dessa forma, as mudanças que ocorreram puderam ser absorvidas na estrutura do projeto, pois elas não alteravam signifi cativamente a essência do proposto.

Parcerias Envolvidas

O Voz Nativa é um projeto construído a partir de diversas parce-rias que viabilizaram toda a metodologia adota da. Para isso, dois conjuntos de parcerias aconteceram para a reali zação do projeto: os parceiros diretos e os apoiadores locais. Cada instituição que se envolveu com o Voz Nativa deu a sua con-tribuição e os resultados alcançados foram fruto desta conquista.

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Parcerias do início do projeto

Para que a proposta do projeto fosse posta em prática, algumas instituições foram fundamentais. Alcançar o objetivo de oferecer cursos gratuitos, construir uma comunicação comunitária e mobi-lizar jovens e moradores de toda a Ilha Grande só seria possível se um grupo de instituições pudesse contribuir com suas habilidades. Nascido de um projeto de pesquisa da UERJ em 2001, o Voz Na-tiva se viabilizou nessa nova fase a partir da parceria com a Asso-ciação Civil Alternativa Terrazul, uma organização não governa-mental presente em Brasília e no Ceará dedicada à projetos e ações socioambientais em todo o território nacional. O Terrazul foi um parceiro fundamental para a gestão do projeto, tendo possibilitado a concorrência do Voz Nativa junto ao Edital Petrobras Desenvol-vimento e Cidadania. Outro parceiro central e também um realizador do Voz Nativa foi o Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social da Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro (LTDS/COOPE/UFRJ). O LTDS assumiu a coordenação pedagógica e a realização de todos os cur-sos oferecidos pelo Voz Nativa, tendo adequado sua experiência em projetos de turismo, gastronomia e empreendedorismo à reali-dade da Ilha Grande. Todos os alunos que completaram os cursos receberam certificados emitidos pela UFRJ.

LTDS

O Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social – LTDS vem, desde 1996, unindo a reflexão acadêmica ao enfrentamento de carências sociais, reunindo e formando profissionais preparados para aplicar critérios ético-valorativos à criação, gerenciamento e avaliação de modelos inovadores de intervenção e desenvolvimento. O LTDS é formado por um grupo de pesquisadores e está vinculado à área de Gestão e Inovação do Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ.

Fonte: www.ltds.ufrj.br

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Parque Estadual da Ilha Grande

O Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) foi criado em 1971 com 4.330 ha (43,30 km²), ampliado em 2007 para 12.052 ha (120,52 km²), passando a preservar 62,5% da área total da Ilha Grande – 193 km². A administração do Parque é de responsabilidade do INEA, Instituto Estadual do Ambiente, com sede na Vila do Abraão. Fonte: www.ilhagrande.com.br

O Parque Estadual da Ilha Grande – PEIG, uma Unidade de Conser-vação de Proteção Integral gerida pelo Instituto Estadual do Ambiente – INEA, também foi importante para a realização do projeto, pois além de oferecer apoio estrutural para ações do Voz Nativa, foi um elo importante para os debates relativos à conservação e proteção da Ilha Grande.

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Ilha Grande Humanidades

O site pretende ser um local para compartilhar de forma sistematizada as pesquisas nas áreas de ciências sociais e humanas na Ilha Grande e possibilitar a troca de ideias e socialização de materiais. O título ILHA GRANDE HUMANIDADES, embora referido a áreas acadêmicas, pretende recobrir algo mais amplo do que o campo de pesquisas, podendo atender acadêmicos e também a qualquer pessoa interessada na Ilha Grande.

Fonte: www.ilhagrandehumanidades.com.br

Tendo nascido na UERJ, o Voz Nativa se tornou também parceiro de um projeto mais recente da Universidade, que tem como objeti-vo criar um banco de dados sobre a Ilha Grande e disponibilizá-lo na web através do site www.ilhagrandehumanidades.com.br Para a mobilização dos jovens e comunidades, o Voz Nativa con-tou com o apoio da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande, ONG local que se dedica a atividades para jovens de toda a Ilha Grande Essencial para a realização do projeto, o Programa Desenvolvi-mento e Cidadania da Petrobras, foi o parceiro que viabilizou toda a proposta a partir do patrocínio direto do Voz Nativa. Tendo lan-çado um edital de projetos em 2012, com o objetivo de patrocinar projetos de formação profissional para jovens, a Petrobras permitiu que o projeto fosse escrito, submetido para avaliação e então apro-vado para iniciar em 2014.

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• AMA - Associação de Moradores do Abraão • APEB - Associação de

Pousadas da Enseada do Bananal e Sítio Forte • Arena Cultural Ilha

Grande • As Vermelhas • Assembleia de Deus de Araçatiba • Assembleia

de Deus de Provetá • Associação de Meios de Hospedagem da

Ilha Grande • Associação de Moradores da Enseada das Estrelas •

Associação de Moradores de Araçatiba • Aves da Ilha Grande • Bar

do Nego • Bar Sinuca • Barco Escola Irmãos Unidos • Brigada Mirim

Ecológica Ilha Grande • C.E.H.I.M Monsenhor Pinto de Carvalho •

Caipirinha do Nelson • CEADS • Centro Cultural Constantino Cokotós

• Che Lagarto • Churros Ilha Grande • Colégio Estadual Brigadeiro

Nóbrega • Colégio Estadual Pedro Soares • Connect • Cooperativa

Abraão Taxi Boat • COPPE • Ecomuseu • Equipe Athos • Escola Municipal

Ayrton Senna • Escola Municipal Bananal • Escola Municipal Brigadeiro

Nóbrega • Escola Municipal Matariz • Escola Municipal Pedro Soares

• Escola Municipal Sítio Forte • Escola Municipal Sylvestre Travassos •

Escola Municipal Thomaz Henrique Mac Cormick • Estúdio Líquido •

Faperj • Flexboat Natiga • GTNA - Grupo de Turismo Náutico do Abraão

• Guia Arnaldo Paes • Guia Ecológico João Pontes • Guia Waldeck

• Idearia • Idílio Materiais de Construção • INEA • Instituto Tibá • IVT

Instituto Virtual do Turismo • Jornal O ECO • Fazenda de Maricultura de

Araçatiba • LTDS • Mercadinho Central • NBS • Objetiva Tour • OSIG •

Padaria do João • Padaria Pães e Cia • Parque Estadual da Ilha Grande •

Pousada Bem Natural • Pousada Caiçara • Pousada do Bené • Pousada

do Bicão • Pousada do Gabriel • Pousada Pouso do Sol • Pousada

do Preto • Pousada Dolce Vita • Pousada Lagamar • Pousada Mar de

Araçatiba • Pousada Nautilus • Pousada Recanto dos Lima • Quiosque

da Josi • Raízes em Movimento • Restaurante Pepe Bueno • Restaurante

Lua e Mar • Restaurante Morango de Palmas • Restaurante Ponta da

Barca • RIOCOM Design • Site Ilhagrande.com.br • Tambores do Abraão

• Turisangra • UFRJ

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Parcerias estabelecidas durante o projeto

Assim que o Voz Nativa ancorou na Ilha Grande seus apoios não pararam de surgir. A cada reunião das comissões para a imple-mentação do projeto, um novo apoio ia se integrando, para con-tribuir e participar das ações, permitindo que o Voz Nativa alcan-çasse toda a Ilha Grande e oferecesse de forma gratuita cursos e oficinas, distribuísse o jornal por toda a Ilha, e envolvesse cada vez mais jovens e moradores em suas atividades. Assim, se aproximaram do Voz Nativa colégios estaduais e escolas municipais, empresários de turismo náutico, de hospedagens e res-taurantes, barqueiros autônomos, associações de moradores, lide-ranças comunitárias, pontos de cultura, igrejas, jornais locais, orga-nizações não governamentais, universidades, grupos de mulheres, agências de publicidades, empresas de internet, órgãos municipais e muitos pequenos empreendedores do turismo das co munidades. A partir das parcerias firmadas muito pôde ser realizado. Como o projeto buscou ser construído com os moradores e as instituições locais, sem competições, mas somando com as atividades já desen-volvidas na Ilha Grande, todos os apoios e parcerias foram parte fundamental do Voz Nativa. Cada instituição apoiou com o que tinha ou com o que já realizava, numa construção coletiva. Como contrapartida, o Voz Nativa deu visibilidade às instituições através do uso do nome e/ou logomarca no jornal, nos cartazes, no blog e na sua página do Facebook.

Resultados das Parcerias

A partir do envolvimento dos parceiros e apoiadores locais, o Voz Nativa pôde realizar cursos e oficinas em sete comunidades; envol-ver moradores de toda a Ilha na construção do jornal e dos livros; e realizar eventos de integração entre colégios do Abraão e de Pro-vetá. Como o Voz Nativa mantinha sede apenas na Vila do Abraão, to-das as atividades realizadas nas outras comunidades foram possí-

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veis a partir de hospedagens locais, apoios de restaurantes, envol-vimento de escolas e colégios; e transporte de agências de turismo náutico e barqueiros autônomos. Essas parcerias permitiram que 700 horas de cursos pudessem ser distribuídas em toda Ilha Gran-de, possibilitando que mais de 1000 moradores fossem contempla-dos pelas atividades do projeto.

O projeto na Prática

Por se tratar de um projeto social de cunho participativo e comu-nitário, o Voz Nativa, ao longo de sua execução, ouviu seus parcei-ros e participantes com o intuito de se adequar da melhor forma às demandas e necessidades locais. Dessa maneira, muito do planeja-do foi revisto e readaptado, permitindo que, por meio do diálogo, o projeto fosse chegando cada vez mais perto do que a comunidade da Ilha Grande precisava. Pelo caráter participativo, a mobilização e o envolvimento dos jovens e parceiros era peça fundamental, pois toda a construção das ações seguiria as decisões tomadas colaborativamente. O pro-jeto encontrou uma realidade bem diversa entre as comunidades da Ilha Grande, e logo o ritmo das atividades teve que se adaptar às respostas de cada comunidade. A descrição que segue neste capítulo procura apresentar as expec-tativas de cada momento do projeto e como as coisas aconteceram. Estruturação

Planejado para ter uma sede na Vila do Abraão, o Voz Nativa es-truturou uma sede com auditório, sala de aula, escritório e aloja-mentos. A organização previu hospedagem de parceiros, alunos e professores e a execução de cursos e atividades para toda a comu-nidade da Ilha Grande. A dinâmica turística da vila fez com que, pela baixa fre quência no período de alta temporada, os cursos não fossem realizados, intensificando-se os eventos, articulações e co-municação comunitária nesse período.

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Como o fluxo turístico é muito intenso, principalmente nos finais de semana e feriados, todas as atividades eram direcionadas por público, não funcionando cursos muito longos ou que precisassem acontecer em períodos de grande visitação. Mesmo com a previsão desse fator houve a necessidade de adaptação do cronograma. É preciso ter muita atenção às diferen ças de temporada para comu-nidades que vivem do turismo. A dinâmica de cada estação é dife-rente da outra. Essas dinâmicas da Ilha fizeram com que o projeto fosse ajustado para atender da melhor forma os jovens e moradores, o que per-mitiu uma maior adaptação às necessidades e expectativas locais, e as ações eram distribuídas no cronograma conforme as dinâmicas sociais de cada comunidade.

Mobilização Comunitária

A mobilização foi o maior desafio do início do projeto. Após 11 anos da realização da primeira fase na Vila do Abraão, a Ilha Grande mudou muito, o fluxo turístico aumentou, a população do Abraão teve seu perfil alterado e o projeto ainda era pouco conhe-cido para ter a confiança das comunidades. Aliada à dinâmica turística, que impedia que a rotina de cursos se estruturasse conforme o planejamento inicial, a comunidade nati-va, principalmente a caiçara, apresenta um perfil reservado. Com um tempo diferente de se envolver com as atividades “de fora”, os nativos da Ilha Grande participam da dinâmica turística adaptan-do seu cotidiano à recepção dos visitantes e às oportunidades que surgem. Essa particularidade dos nativos da Ilha Grande fez com que o projeto, inicialmente dedicado aos seus jovens, fosse estendido para toda a comunidade, independente de idade e procedência. Tal estratégia teve o intuito de integrar nativos e não nativos na participação dos cursos. O foco da mobilização, porém, continuou a ser o público prioritário do projeto, os nativos da Ilha. Ao final, o projeto teve 42% de participantes diretos nativos e deste total 37,4%

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jovens entre 18 e 29 anos. Pela falta de investimento e iniciativas de cunho social em praias mais isolas da Ilha Grande, a participação nas atividades por parte dos moradores nesses lugares foi muito maior e, consequentemen-te, o aproveitamento e os resultados se mostraram bastante supe-riores. As parcerias com escolas e colégios facilitaram a realização das ati vidades em comunidades e com o tempo o projeto passou a in-teragir mais com o dia a dia dos moradores, o que foi ainda fortale-cido com as ações de comunicação. A mobilização e comunicação foram então ações permanentes, para que o projeto pudesse envol-ver cada vez mais os moradores e entrar para a rotina local.

Equipe

Umas das primeiras adaptações do projeto foi na formação da sua equipe. Como a expectativa de montar uma equipe com jovens da Ilha Grande não foi possível, por seu intenso envolvimento com atividades turísticas, a estratégia foi outra, de formar uma equipe com jovens de fora, com perfil para a mobilização social. Foi então construída uma equipe jovem, disposta a mobilizar e interagir com as juventudes locais, em um processo de escuta e de tomada de decisão, o que permitiu maior envolvimento do projeto

Equipe Fixa

Coordenador Geral - Assistente para Sistematização - Assistente de Coordenação - Coordenadora de Comunicação- Designer - Coordenador Financeiro - Assistente Financeiro- Contador - Coordenador Pedagógico - Assistente de Campo - Professores de Inglês

Além da equipe fixa do projeto, outros profissionais se envolveram, participando como professores nos cursos da UFRJ, apoiando a produção das mídias comunitárias e dando apoio para a gestão do projeto.

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com o cotidiano da Ilha Grande. Ainda assim, o Voz Nati va envol-veu em sua equipe fixa e temporária sete moradores da Ilha. Destes, três eram jovens entre 18 e 29 anos.

Oficinas e Cursos

Durante dois anos o Voz Nativa realizou 700 horas de cursos em par ceria com a UFRJ e mais de 450 horas de inglês para turismo na Vila do Abraão, em 3 turmas. A oferta gratuita de cursos de formação profissional se estruturou como objetivo central dessa fase do Voz Nativa e, em parceria com o Laborató rio de Tecnolo-gias e Desenvolvimento Social da UFRJ, os cursos foram pensados para atender demandas e oportunidades identificadas em toda Ilha Grande. Foram sete as comunidades que receberam cursos diretos, algumas mais - como Abraão, Araçatiba e Provetá - e outras com atividades pontuais, como Saco do Céu, Longa, Matariz e Praia Vermelha. Em todas elas as escolas e colégios foram parceiros funda mentais na cessão de salas de aula e as lideranças comunitárias importantes para todo o processo de divulgação e mobilização. Muitas vezes os cursos e oficinas aconteciam em pousadas ou espaços cedidos por igrejas, como forma de atender melhor os públicos e facilitar o seu acesso.

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Os cursos e oficinas foram distribuídos em áreas: turismo; comu-nicação comunitá ria; empreendedorismo e gastronomia. Conforme a demanda e os objetivos de cada ação, os módulos eram realizados em cursos de conteúdo ou em oficinas práticas. Todos eles eram organizados pelo LTDS, com professores da UFRJ ou profissionais com experiência em cada um dos temas. No total, foram realizados 59 cursos e a UFRJ, em parceria com o Voz Nativa, pôde en tregar mais de 700 certificados de conclusão para alunos com mais de 50% de presença em cada curso.

Pesquisas

Uma pesquisa de opinião foi realizada em parceria com a Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande com aproximadamente 200 jovens da Vila do Abraão, o que nos permitiu conhecer o perfil destes jo-vens, saber sua inserção no turismo e identificar suas demandas por cursos, experiências e formação. Foi a partir daí que oficinas foram organizadas e disponibilizadas pela Ilha Grande, como forma de atender às expectativas e contribuir para qualificar os trabalhos que já existiam e apoiar a formação de novos empreendimentos.

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Ouvindo as demandas para cursos e oficinas

A experiência dos cursos demonstrou que a construção de con-teúdos demandados pe las comunidades é mais eficaz do que a ofer-ta de cursos prontos. Adaptar os cursos e ofici nas à linguagem e à necessidade de cada público conferiu maior adesão e pôde qualifi-car todo o investimento realizado. Disponibilizar cada oficina no tempo certo e nos melhores dias para cada público tam bém tornaram a participação mais eficaz, o que foi possível a partir do envolvimento dos parceiros locais em todo o processo de decisão e realização. E o mais importante: muitos conteúdos são essenciais de serem tratados quando o tema é desenvolvimento local e turismo de base comunitária. Mesmo que um curso não apresente uma procura grande de participantes, sua importância se dá pela qualificação de lideranças locais e pessoas que necessitam ter acesso a certas infor-mações para o pro cesso de empoderamento comunitário. Para isso, além dos cursos e oficinas, o Voz Nativa promoveu cara-vanas entre as comunidades para debater o desenvolvimento local, tirar dúvidas sobre as Unidades de Conservação e buscar soluções comunitárias para os problemas mais importantes.

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Cursos e OficinasTurismo

Atendimento e Hospitalidade Turismo de Base Comunitária e Meio Ambiente da Ilha Grande Gestão Sustentável dos Meios de Hospedagem Fundamentos de Turismo

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Atendimento e Hospitalidade

Objetivos: Capacitar o jovem para se inserir no novo mundo do trabalho em sua comunidade, desenvolver a sua competência interpessoal, instrumentá-lo para o reconhecimento da importância do comportamento ético profissional.

Professores: Ana Elizabeth Queiroz, Lúcia Miranda Boaventura e Maria Martha Maciel.

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (16h; 8h; 16h); Praia Grande de Araçatiba (16h); Matariz (8h); Praia Vermelha (16h).

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Turismo de Base Comunitária e Meio Ambiente da Ilha Grande

Objetivos: Construir o entendimento sobre meio ambiente e sua relação com o turismo, a partir da reflexão e troca de conhecimentos e experiências sobre as potencialidades e contradições vivenciados no cotidiano. Ampliar o conhecimento dos jovens da Ilha Grande sobre as questões ambientais que envolvem a Ilha e as Unidades de Conservação locais.

Professores: Eloise Botelho, Marcio Ranauro, Waldeck Tenório.

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (16h; 16h); Praia Grande de Araçatiba (16h)

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Gestão Sustentável dos Meios de Hospedagem

Objetivos: Oferecer aos alunos um maior conhecimento sobre as tipologias existentes de Meios de Hospedagem, entendendo sua importância dentro da cadeia de desenvolvimento turístico, demonstrando as estruturas mínimas de cada tipo de empreendimento, sobre as regras de certificação do Ministério do Turismo, bem como apresentando a legislação aplicada ao setor, experiências de qualificação de serviços, comunicação e marketing aplicados.

Professores: Ana Pimentel.

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (40h); Praia Grande de Araçatiba (16h).

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Fundamentos de Turismo

Objetivos: Despertar nos alunos do Ensino Médio um conhecimento sobre os dados e fatos que tornam o turismo um investimento importante na atualidade, proporcionando maior entendimento da interferência da atividade turística nos diversos lugares e reconhecer o turismo como gerador de benefícios sociais internos e promotor de divisas.

Professores: Waldeck Tenório.

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (16h).

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Cursos e OficinasComunicação

Jornalismo Comunitário Fotojornalismo Instagram Multimídia Introdução à Fotografia Profissional Graffiti Design e Produção de Cartazes Produção de Vídeo Design e Produção de Identidade Visual Percussão Criação Musicall Teatro

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Jornalismo Comunitário

Objetivos: Capacitar jovens moradores da Ilha Grande em comunicação comunitária e formar uma equipe de comunicadores locais para atuar junto ao jornal Voz Nativa

Professores: Silvia Noronha e Marina Rotenberg

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (20h); Praia Grande de Araçatiba (20h); Provetá (24h)

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Fotojornalismo

Objetivos: Oficina voltada para o uso de câmeras e smartphones para o fotojornalismo, com dicas de técnicas fotográficas e do olhar jornalístico. A oficina trabalhou o olhar fotográfico, apresentando os tipos de fotografia para a comunicação, com demonstrações e técnicas para fotos de paisagens, retratos, cenas, detalhes, além de regras de composição, iluminação e aulas práticas

Professores: Gabriel Bursztyn.

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (8h)

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Instagram

Objetivos: A oficina teve o objetivo de apresentar o Instagram como uma mídia social que tem possibilitado e potencializado inúmeros casos de empreendedorismo entre os jovens. Nessa oficina foi criado o Ilhagram, perfil do Instagram do projeto Voz Nativa

Professores: André Paz e Graziele Saraiva

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (8h)

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Multimídia

Objetivos: A oficina teve como objetivo apresentar um conjunto de casos de iniciativas sociais com jovens que utilizam mídias digitais, internet, vídeos e fotografia para potencializar o empreendedorismo local. Entre os projetos apresentados vale destacar: Fundação Casa Grande (Nova Olinda, Cariri), ESPOCC (Maré) e Rede Mocoronga de Comunicação (Projeto Saúde Alegria)

Professores: André Paz e Gabriel Bursztyn

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (8h)

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Introdução à Fotografia Profissional

Objetivos: A proposta da oficina foi apresentar a fotografia como uma ferramenta profissional, de produção de conteúdo e de expressão artística. Foram apresentados diversas formas de fotografia e um repertório de referências. Os alunos foram iniciados no uso prático das câmeras fotográficas, fizeram uma série de exercícios práticos e, ao final, estavam aptos para participar com conteúdo fotográfico tanto no jornal, blog e mídias sociais do Voz Nativa como empreenderem seus próprios caminhos com a fotografia

Professores: Felipe Varanda

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (20h; 4h; 20h); Praia Grande de Araçatiba (20h); Provetá (20h)

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Graffiti

Objetivos: Apresentar aos jovens algumas possibilidades de produção artística utilizando-se das técnicas do Graffiti a partir de sua pluralidade como ferramenta de comunicação e intervenção no meio social

Professores: David Amém e Wallace Bidú

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (8h; 25h)

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Design e Produção de Cartazes

Objetivos: Apresentar o que é o design e experimentar a criação de cartazes com a técnica do Stencil

Professores: Thiago Venturotti

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (8h)

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Produção de Vídeo

Objetivos: Introduzir os alunos na linguagem audiovisual, através da realização conjunta da produção de vídeos sobre suas experiências de vida na Ilha GrandeProfessores: André Paz e alunos da New School de Nova Iorque

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (28h); Provetá (16h)

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Design e Produção de Identidade Visual

Objetivos: Construção colaborativa da identidade visual e da logomarca do grupo Abraão Taxi Boat, e da Associação de Moradores do Abraão, destacando a importância da comunicação visual e da valorização da imagem como elemento de afirmação identitária

Professores: Marcos Lins Langenbach

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão: Taxi Boat (12h); AMA (8h)

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Percussão

Objetivos: Contribuir para a inclusão sociocultural dos participantes, musicalizar os jovens da comunidade visando a sua socialização e/ou profissionalização, fortalecer a cultura musical local e estimular o interesse pela música e pela cultura local. Levar os participantes a atuar em diversas frentes musicais, como: igrejas, grupos, bandas e outros; transformar materiais recicláveis/sucatas em instrumentos musicais e outros produtos do som; promover a reflexão sobre a importância da arte para a questão ambiental, com ênfase na reciclagem como forma de conscientização

Professores: Rodrigo Retonde

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (8h)

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Criação Musical

Objetivos: Estimular e aprofundar a prática de criação musical. Através de técnicas de composição e musicalização aplicadas ao grupo, busca-se estimular o desenvolvimento de ideias musicais e a escuta coletiva. Noções de forma, performance e estilo são exercitados de forma lúdica e consistente, com a intenção de ampliar a capacidade criativa musical dos participantes

Professores: Felipe Trotta

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (4h)

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Teatro

Objetivos: Proporcionar a jovens e adultos uma breve vivência no universo poético cênico, através de uma investigação partindo do corpo e da respiração

Professores: Elaine Escobar, Henrique Escobar e Maria del Carmen

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (4h)

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Cursos e OficinasEmpreendedorismo

Oficina Prática de Bioarquitetura e Agroecologia Empreendedorismo Comunitário Introdução à Economia Solidária e ao Cooperativismo Oficina de Agenciamento e Precificação Taxi Boat Oficina de Associativismo Grupo Turismo Náutico do Abraão

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Prática de Bioarquitetura e Agroecologia

Objetivos: Realizada em parceria com o Instituto Tecnologia Intuitiva e Bio-arquitetura (TIBA), esta oficina tem como objetivo resgatar técnicas de construção tradicionais, capacitando os jovens da Ilha Grande para sua aplicação em empreendimentos turísticos

Professores: Peter Van Lengen e Melina Goulart de Paula

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (28h)

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Empreendedorismo Comunitário

Objetivos: Oficina organizada para apoiar o processo de mobilização e engajamento de um grupo de barqueiros nativos da Ilha Grande no entorno da formação de uma cooperativa de Taxi Boat, objetivando despertar maior conhecimento sobre a realidade do setor de turismo náutico, e despertar uma escolha da forma mais adequada de associativismo

Professores: Marcio Ranauro

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (16h)

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Introdução à Economia Solidária e ao Cooperativismo

Objetivos: Apoiar a estruturação e a implantação da cooperativa de Taxi Boat da Vila do Abraão através dos seguintes tópicos do curso:1) Cooperativismo Popular na perspectiva da Economia Solidária; 2)Construção do Estatuto Social; 3) Autogestão e a divisão de responsabilidades; 4) Composição e coordenação geral; 5) Plano de divulgação e marketing da cooperativa; 6) Assembleia Geral para criação da Cooperativa.

Professores: Josinete Maria Pinto

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (20h)

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Agenciamento e Precificação Taxi Boat

Objetivos: Apoiar a estruturação e a implantação da cooperativa de Taxi Boats da Vila do Abraão, com enfoque na criação e agenciamento de roteiros turísticos

Professores: Ana Elizabeth Valle de Queiroz

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (16h)

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Associativismo Grupo Turismo Náutico do Abraão

Objetivos: Oficina organizada para a mobilização de empreendedores do Turismo Náutico para o planejamento coletivo do setor. As oficinas práticas orientaram um diagnóstico participativo do grupo e a definição de regras e padrões para o desenvolvimento do setor em busca de qualificação da atividade na Vila do Abrão.

Professores: Marcio Ranauro.

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (16h).

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Cursos e OficinasGastronomia

Gastronomia Drinks e Coquetéis

7172

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Gastronomia

Objetivos: Capacitar o jovem para se inserir no novo mundo do trabalho em sua comunidade, desenvolver habilidades e técnicas sobre como oferecer serviços de alimentação aliados a hospitalidade• Características de serviços de alimentação;• Características do bem-receber e valorização da culinária e ingredientes locais;• Introdução a boas práticas de manipulação de alimentos;• Desenvolvimento de ficha técnicas;• Elaborando um menu para serviços de alimentação;• Preparo do menu com: entrado, prato principal e sobremesa.

Professores: Marcella Sulis, Mariana Aleixo, Moacyr Sobral, Fabíola Santos, Vênus Lobato

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (8h); Provetá (8h); Praia Grande de Araçatiba (12h); Praia Vermelha (8h)

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Drinks e Coquetéis

Objetivos: Desenvolver habilidades de prestação de serviço em salão e bar com ênfase em bebidas fermentadas e destiladas; noções de classificação de bebidas a partir do processo de produção e matéria-prima; noções de análise sensorial de vinhos e cervejas; habilidades de elaboração de drinks e coquetéis à base de frutas

Professores: Renata Monteiro e Felipe de Sousa

Praias em que foi realizado: Vila do Abraão (16h)

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Caravanas

Caravana Voz Nativa

Objetivos: Promover uma série de encontros nas comunidades da Ilha Grande, envolvendo moradores e lideranças comunitárias, para debater o desenvolvimento local e as principais questões relativas a cada localidade. Os encontros foram espaços de apresentação das Unidades de Conservação da Ilha Grande, seus zoneamentos e como as UC interferem e beneficiam o desenvolvimento sustentável das comunidades e da Ilha

Professores: Marcio Ranauro

Praias em que foi realizado: Saco do Céu (4h); Praia Grande de Araçatiba (4h); Praia Vermelha (4h); Praia da Longa (4h)

Page 76: Voz Nativa_comunicação e turismo de base comunitária

74

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75

Comunicando o Projeto

A comunicação do projeto foi uma ação central para a mobili-zação dos cursos e eventos, importante também para dar maior visibilidade às atividades. Além de informar as ações e seu crono-grama, a comunicação apresentava para os moradores o que estava sendo realizado em toda a Ilha Grande. Com o tempo, as respostas de mobilização e procura pelo projeto se ampliaram e o Voz Nati-va passou a ser conhecido para muito além dos seus participantes diretos. Uma equipe de comunicação foi formada dentro do projeto, com uma coordenadora e um designer. A função era dar visibilidade às ações do projeto junto a comunidade e parceiros, e produzir, de forma participativa, toda a comunicação comunitária, com livros e jornais.

Canais estabelecidos

Além de produzir materiais que pudessem circular as comunida-des para informar as ações do projeto, a comunicação buscou as ferramentas de maior uso dos participantes do projeto para dina-mizar a informação. Diversos veículos foram utilizados para comunicar o projeto, cada um direcionado a um perfil e com uma função. Parte da comu-nicação foi impressa, e precisou de recursos para ser produzida, contando com o patrocínio para o investimento em cartazes A3 (couchê colorido), utilizados para divulgar todas as ações e cam-panhas; folder apresentando o projeto; kit para cada aluno inscrito (camiseta, boné, caderno, pasta, caneta e bolsa); banners para utili-zação nos eventos e cartas impressas em A4 no escritório do proje-to, destinadas a instituições, alunos e públicos específicos. Por necessitar menor investimento, o projeto se utilizou de mí-dia online, como a criação de uma página no Facebook; a constru-ção de um blog para registro das atividades; e o uso de grupos do Whatsapp para divulgação das ações para cada comunidade.

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76

Os números de telefone, fixo e celular, eram disponibilizados para a população, mas foram raramente utilizados pela mesma. O Whatsapp e o Facebook se mostraram os principais canais de co-municação com os diferentes públicos. Toda a produção de conteúdo acontecia no escritório do projeto, com envolvimento direto da coordenação de comunicação e do de-sign. A produção de conteúdo era dinâmica, enquanto os jornais e livros eram editados a geração de informações para cursos e even-tos deveria ser produzida para dar amplo conhecimento do projeto.

Resultados e alcance

Se tratando de um projeto dinâmico, e que não apresentava uma rotina preestabelecida de horários e locais de atividade, a comu-nicação se mostrou fundamental. Apesar do projeto manter um escritório com sala de aula, auditório e alojamento, nem todas as atividades eram realizadas na sede, uma forma de adaptar ao que melhor atendia aos públicos de cada curso. Essa dinâmica, que se repetia em cada praia, dependia de uma rotina organizada de co-municação. Dessa forma, todas as atividades contavam com uma circulação prévia de cartazes e mensagens no Whatsapp e Face-book, para que as notícias circulassem para as comunidades antes dos cursos, eventos e oficinas. Com isso, a comunicação se concen-trou nas comunidades em que ocorriam atividades e pôde envolver parceiros e estabelecimentos mais próximos.

O investimento na qualidade gráfica dos jornais e livros da Coleção Voz Nativa foi uma decisão central do projeto. Como se tratavam de materiais construídos coletivamente, a boa impressão e alta qualidade gráfica eram fundamentais para valorizar o trabalho da comunidade e tornar o material atraente, durável e colecionável.

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77

Toda a identidade visual do projeto foi desenvolvida por duas agências de publicidade que apoiaram o projeto: NBS e Idearia.

O Voz Nativa e a Comunicação Comunitária

Se tratando de uma das ações mais importantes do Voz Nativa, a estratégia de comunicação comunitária foi organizada para aproxi-mar o projeto dos participantes, ao mesmo tempo criar veículos de comunicação para uso da comunidade. O projeto se estruturou para montar um escritório disponível para as ações de comunicação, com uma coordenação e um design trabalhando para dar suporte à equipe e contato com os participan-tes. Em parceria com o LTDS, as possibilidades de comunicação se ampliaram, e a UFRJ também investiu na comunicação através da produção de um webdocumentário (http://ilhagrande.website/) com patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Todo o processo de produção de mídias comunitárias foi fortale-cido por oficinas destinadas às escolas e colégios para desenvolver com os jovens habilidades para sua contribuição na construção do jornal Voz Nativa. Foram realizadas oficinas em diversas escolas e comunidades, englobando jornalismo comunitário, fotografia, produção de vídeo. Todas as oficinas que contavam com módulos práticos e teóricos tinham como objetivo despertar nos jovens o interesse pela comu-nicação, ao mesmo tempo em que se produzia material para os jornais e vídeos. As oficinas pretendiam também despertar o inte-resse dos jovens pelas questões que atravessavam as comunidades, exercitando um olhar crítico sobre a realidade e fomentando um posicionamento objetivo, o que se expressava em matérias para o Voz Nativa. Com o patrocínio, o projeto pôde investir na editoração de 10 edi-ções do jornal Voz Nativa “5.000 exemplares”, e na publicação de 5 livros “1.000 exemplares”. Todos os materiais foram produzidos

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com investimento em qualidade gráfica, com o uso de papel couchê e todo colorido. O investimento em impressões de qualidade teve o objetivo de valorizar o material produzido colaborativamente entre equipe e moradores e estimular que os livros e jornais fossem guardados e colecionados. Essa escolha foi valorizada tanto pelos jovens como pela comunidade, pois o Voz Nativa investiu em canais que valori-zaram a Ilha Grande, sua cultura, história e pessoas. Para além do processo de comunicação do Voz Nativa, uma ação central foi a produção de publicações de forma participativa e co-laborativa com jovens e moradores da Ilha Grande. Os investimen-tos em Comunicação Comunitária fazem parte da proposta central do projeto de apoiar a construção de canais de comunicação que ampliem a voz dos jovens e moradores da Ilha Grande buscando valorizar a cultura caiçara e dar maior visibilidade às questões que atravessam o cotidiano dos moradores nativos.

Page 81: Voz Nativa_comunicação e turismo de base comunitária

Jornal Voz Nativa

Para isso, o jornal Voz Nativa se tornou peça central do projeto, sendo construído por moradores de toda Ilha Grande. Em 10 edi-ções, o jornal construiu espaços para que cada praia apresentasse as questões locais, seus problemas, suas belezas, suas iniciativas atu-ais, suas lendas, seu vocabulário, personagens icônicos e lideranças. O jornal era espaço também para apresentar as ações do próprio projeto, com detalhes dos cursos, agenda e campanhas, além de ser um canal para que instituições parceiras apresentassem seu traba-lho e informações de interesse público. A qualidade dos textos, diagramação, papel e impressão transfor-mou os jornais em mais do que periódicos pontuais, mas um mate-rial de valor, que trazia fatos e curiosidades das culturas nativas, o tornando atemporal e, para muitos moradores, colecionável.

A partir dos cursos de comunicação comunitária, reuniões de pauta com a comissão do jornal e contato cotidiano da equipe do projeto com escolas, colégios e lideranças comunitárias surgiam e eram definidas as matérias para o jornal, que eram escritas pelos próprios moradores e parceiros.

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80

Distribuição

A distribuição do jornal Voz Nativa se dava pela própria equipe em cada praia. Além da entrega dos jornais em locais estratégicos pré estabelecidos, como mercados, restaurantes, associação de mo-radores, colégios, escolas, a entrega era feita também pessoalmente, nas mãos das pessoas que estavam nesses lugares e nas ruas/praias. Tal estratégia era fundamental por três principais motivos.

1. Grande parte da população idosa da Ilha Grande é analfabeta ou semianalfabeta, portanto, no momento da entrega era possível trocar, falar sobre as matérias, apresentar as fotos e ilustrações, atri-buindo mais sentido àquele material para os que não sabem ler, incluindo-os como público daquele material; 2. Na hora da entrega do jornal, era possível discutir novos temas e surgiam dos próprios moradores novas pautas para as futuras edi-ções do jornal; 3. No momento da entrega era possível ver a reação das pessoas, o reconhecimento do morador nas matérias, a insatisfação com al-gum tema, a felicidade de ver um assunto ser abordado, a reação positiva ao ver sua praia sendo apresentada, a alegria de ver pessoas que não viam há muito tempo em fotos e textos. Aí era possível ter uma avaliação qualitativa dos impactos do jornal, visto a partir da troca e do olho no olho com o público o qual o jornal se destina.

Mesmo com poucos recursos destinados à distribuição e com o grande tempo que tal ação demanda, ela é parte fundamental para que se atinjam os objetivos de um veículo comunitário.

Page 83: Voz Nativa_comunicação e turismo de base comunitária

Impactos dos jornais

O efeito dos jornais Voz Nativa nas ruas superou as expectativas. Enquanto o projeto mantinha como expectativa proporcionar aos jovens e as comunidades uma experiência de comunicar, de ocupar o espaço social com sua voz e enxergar melhor a dinâmica comuni-tária, os impressos nas ruas apresentavam novos resultados. A cada edição, 5.000 exemplares se espalhavam pela Ilha Grande, Angra dos Reis e o mundo, levado por visitantes de todas as partes. A cada edição mais comunidades participavam com suas matérias. A cada edição o jornal crescia e deixava mais evidente a complexi-dade da comunidade nativa da Ilha Grande, apresentando as bele-zas de suas memórias e tradições. A construção coletiva do jornal, que ocorria em oficinas de jor-

No contexto do projeto e dos objetivos desejados, os investimentos em comunicação comunitária demonstraram a sua importância central em movimentos de empoderamento comunitário. A construção de mídias comunitárias se mostrou uma importante ferramenta de fortalecimento de identidades e sua valorização. E, para um projeto de turismo de base comunitária, a comunicação apresentou vários papeis: o de unir a comunidade, de valorizar seu modo de vida e de ressaltar na cena do desenvolvimento local a voz do nativo.

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82

nalismo comunitário e visitas às escolas e moradores, despertou nas comunidades o desejo de participar e relatar as questões que consideravam importantes para elas. O impacto era, então, o seu envolvimento com uma ferramenta de comunicação comunitária e o reconhecimento de um espaço dedicado para a sua comunicação. Em paralelo, algumas escolas, professores e mesmo moradores, cultivaram a vontade de criar também os seus canais de comunica-ção, com pequenos fanzines escolares, blogs e páginas de facebook dedicados às suas comunidades ou às suas ideias. O efeito dos jor-nais para as comunidades foi a necessidade de sua representação no contexto da Ilha Grande, entendendo que comunicar era uma forma de dar visibilidade àquilo que tinha importância, que deve-ria ser criticado ou valorizado. Foi a partir de matérias críticas e reivindicações que o jornal mos-trou a potência da Voz Nativa nas ruas. Já nas primeiras edições um cais de atracação de barcos foi reformado. Dois jovens escreveram uma matéria criticando o estado de conservação do cais, de onde partia o barco escola, e meses depois a prefeitura fez a sua reforma. Outros impactos do jornal também foram percebidos. Postes de luz consertados para responder a denuncias dos jovens; mutirões para limpeza de praias; melhora da coleta de lixo por moradores e poder público; histórias e memórias propagadas; alunos organiza-dos para pedir melhorias de escolas; debates em salas de aula sobre matérias comunitárias; a descoberta de poetas, o registro de man-dingas e tradições e muito mais. Os resultados deram visibilidade e o jornal não era mais uma ex-periência de comunicação, mas um ator social no contexto da Ilha Grande. O efeito não apenas despertou os jovens para o que esta-vam fazendo, mas demonstrou a eficácia da comunicação comuni-tária. A experiência que fica dos impactos de uma mídia comunitária só o tempo pode contar. Da interação dos moradores com as histórias locais às respostas de críticas e denúncias, um universo de possi-bilidades pode acontecer com os jornais nas ruas e no processo de sua construção.

Page 85: Voz Nativa_comunicação e turismo de base comunitária

Voz Nativa na mídia

A equipe de comunicação também se dedicou a fazer um trabalho de assessoria de imprensa, entrando em contato com veículos de comunicação locais e nacionais a fim de inserir as ações do projeto na mídia. Foi de grande valia o trabalho, que rendeu matérias em rádios e jornais locais, dando credibilidade e força ao trabalho.

O programa Como Será, da Rede Globo, criou a série “Tá no Quadro” que apresentava experiências exitosas de projetos sociais em todo o Brasil, o Voz Nativa foi destaque com a experiência de comunicação comunitária na Ilha Grande, com o jornal e os resultados do veículo para a comunidade de Palmas, quando o cais foi reformado a partir da matéria de dois jovens moradores.

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84

Coleção Voz Nativa

Na área de comunicação comunitária, era prevista também a edição de livros colaborativos, buscando valorizar a memória e a cultura local, envolvendo os moradores em seus processos de pro-dução. Os livros foram também pensados junto a moradores e par-ceiros, buscando registrar características do morador e do nativo, como um resgate histórico e um registro para as comunidades atu-ais. Assim foi criada a Coleção Voz Nativa, uma série de livros com o objetivo de registrar a cultura nativa da Ilha Grande e dar maior vi-sibilidade às riquezas da diversidade local. O primeiro livro, Cultu-ras Caiçaras da Ilha Grande - Pelos jovens da ilha foi construído em parceria com os colégios de ensino médio de Provetá e do Abraão. Reúne redações dos alunos, em que cada um conta sua história, de-sejos e vivências. É um registro do ser jovem na Ilha Grande atual. O segundo livro, #Ilhagram: Olhares da ilha foi um livro cons-truído a partir de fotos de moradores e visitantes da Ilha Grande postadas com a hashtag #ilhagram, no aplicativo Instagram. O Voz Nativa criou desafios em seu perfil @Ilhagram e a cada novo desa-fio pessoas de todo o mundo postavam fotos. As melhores imagens foram selecionadas e compuseram o livro de fotografias, que tam-bém virou uma exposição de fotos na Vila do Abraão. O terceiro livro da coleção foi o Histórias Vividas na Ilha Grande - Pelos antigos da ilha, um livro de histórias contadas por 22 anti-gos moradores de diversas comunidades. No livro são apresentadas suas histórias de vida, de trabalho e de amor, de como viveram, vivem e vêem a Ilha Grande. É um livro que conta a história da Ilha através da história de antigos moradores. O quarto livro, Guia da Culinária Badjeca: sobre a formação da cultura alimentar da Ilha Grande, fez parte de uma pesquisa reali-zada por professores do curso de Gastronomia da UFRJ. Enquanto o LTDS desenvolvia os cursos de gastronomia do Voz Nativa, uma pesquisa foi feita para identificar a culinária nativa, registrar anti-gos cozinheiros e apresentar suas receitas “badjecas”. O livro é uma

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85

No movimento de fortalecer os jovens e nativos nos debates sobre o desenvolvimento local, a comunicação comunitária se mostrou como ferramenta estratégica, pois permitiu que a cultura e os valores locais fossem ampliados na cena do turismo da Ilha Grande. Da mesma forma, as opiniões e questões relativas às demandas da população nativa, muitas vezes esquecida para dar lugar ao o desenvolvimento turístico a qualquer custo, foi retomada e fortalecida.

publicação de histórias de personagens e suas receitas, um registro de pratos típicos e da culinária praticada antigamente e que ainda se mantém nas cozinhas caiçaras da Ilha. O quinto livro é este que se apresenta aqui, e busca ser um registro da história e realização do projeto Voz Nativa na Ilha Grande a fim de inspirar projetos de comunicação e turismo de base comunitária em todo o Brasil e no mundo.

Eventos

Os eventos realizados pelo Voz Nativa eram espaços de interação e troca entre jovens e moradores de diferentes praias da Ilha Gran-de. Como estratégia de aproximar os jovens de diferentes comuni-dades, e, ao mesmo tempo, promover a troca de saberes e informa-ções sobre a Ilha Grande, o Voz Nativa realizou com parceiros os chamados ‘Encontros Voz Nativa.’

COLEÇÃO VOZ NATIVA

#4

#4

Gui

a da

Cul

inár

ia B

adje

ca -

Sobr

e a

form

ação

da

cultu

ra a

limen

tar d

a ilh

a G

rand

e

Patrocínio:

Projeto Juventude Protagonista Ilha Grande

Realização:

Apoio:

Sobre os autores

Ivan Bursztyn Designer, professor do curso de gastronomia do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro. Possui mes-trado e doutorado em Engenharia de Produção com ênfase em Gestão e Inovação. É pesquisador associado ao Laborató-rio de Tecnologia e De-senvolvimento Social da COPPE/UFRJ, onde atua em projetos de pesquisa e extensão com a temá-tica do turismo de base comunitária. É coorde-nador pedagógico do projeto Voz Nativa.

Marcella Sulis Gastrônoma, profes-sora do curso de gastro-nomia do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mes-tre em Ciências em En-genharia de Produção, especializada em pani-fi cação e confeitaria. É pesquisadora nas áreas de Alimentação e Cultu-ra, com ênfase nas tradi-ções de comensalidade e sociabilidade alimentar brasileira.

Coleção Voz Nativa

#1Culturas Caiçaras da Ilha Grande - Pelos Jovens da Ilha

#2Ilhagram - Olhares da Ilha

#3Histórias Vividas na Ilha Grande - Pelos Antigos da Ilha

#4Guia da Culinária Badjeca - Sobre a fomação alimentar da Ilha Grande Guia da

Culinária Badjeca

Sobre a formação da cultura alimentar da Ilha Grande

COLEÇÃO VOZ NATIVA

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Patrocínio:

Projeto Juventude Protagonista Ilha Grande

Realização:

Apoio:

Sobre os autores

Ivan Bursztyn Designer, professor do curso de gastronomia do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro. Possui mes-trado e doutorado em Engenharia de Produção com ênfase em Gestão e Inovação. É pesquisador associado ao Laborató-rio de Tecnologia e De-senvolvimento Social da COPPE/UFRJ, onde atua em projetos de pesquisa e extensão com a temá-tica do turismo de base comunitária. É coorde-nador pedagógico do projeto Voz Nativa.

Marcella Sulis Gastrônoma, profes-sora do curso de gastro-nomia do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mes-tre em Ciências em En-genharia de Produção, especializada em pani-fi cação e confeitaria. É pesquisadora nas áreas de Alimentação e Cultu-ra, com ênfase nas tradi-ções de comensalidade e sociabilidade alimentar brasileira.

Coleção Voz Nativa

#1Culturas Caiçaras da Ilha Grande - Pelos Jovens da Ilha

#2Ilhagram - Olhares da Ilha

#3Histórias Vividas na Ilha Grande - Pelos Antigos da Ilha

#4Guia da Culinária Badjeca - Sobre a fomação alimentar da Ilha Grande Guia da

Culinária Badjeca

Sobre a formação da cultura alimentar da Ilha Grande

COLEÇÃO

VOZ NATIVA

#3

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HIST

ÓRIA

S V

IVIDA

S NA

ILHA

GRA

NDE

- PE

LOS

ANTI

GOS

DA IL

HA

Patrocínio:

Projeto

Juventude

Protagonista

Ilha Grande

Realização:

Apoio:

Entre 2014 e 2016

o Projeto Voz Nativa

atuou na Ilha Grande

com o objetivo de

promover o turismo

de base comunitária, a

conservação ambiental

e a valorização histórica

e cultural da ilha, a

partir da interação com

sua população nativa.

Realizamos cursos

e ofi cinas de formação

profi ssional, caravanas,

eventos culturais e um

jornal comunitário,

com participação de

moradores jovens e

adultos.

Acreditamos que falar

sobre sua própria rea-

lidade é um importan-

te instrumento para o

fortalecimento da iden-

tidade e sentimento de

pertencimento de pes-

soas e comunidades.

Por isso, temos bus cado

ampliar as vozes dos

moradores, mostrando

uma Ilha Grande vivida

na prática. Nesse mo-

vi mento, criamos a

‘Coleção Voz Nativa’,

série de livros onde as

hsitórias contadas são

histórias vividas.

O primeiro “Cul-

turas Caiçaras da Ilha

Grande – Pelos Jovens

da Ilha” foi elaborado

em parceria com os Co-

légios Estaduais e é um

registro do ser jovem na

Ilha atual, com textos

escritos pelos alunos

sobre suas vidas e suas

histórias.

“#Ilhagram: olhares

da Ilha” foi construído a

partir da interatividade

de moradores e turistas

com a Ilha Grande

por meio da rede

social Instagram, onde

pessoas do mundo todo

postaram fotos com a

hashtag #ilhagram e

as melhores imagens

foram selecionas para

compor o livro.

Este livro, “Histórias

Vividas na Ilha Grande

- Pelos Antigos da

Ilha”, é o terceiro da

coleção e pretende

apresentar o passar do

tempo na Ilha a partir

de histórias pessoais de

quem viveu e vive aqui.

É um registro de como

as histórias de vida e

a história da Ilha se

cruzam, transformando

esse lugar em tudo que

ele é hoje.

HISTÓRIAS

VIVIDAS

NA ILHA GRANDE

PELOS ANTIGOS DA ILHA

COLEÇÃO

VOZ NATIVA

#3

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HIST

ÓRIA

S V

IVIDA

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ILHA

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LOS

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GOS

DA IL

HA

Patrocínio:

Projeto

Juventude

Protagonista

Ilha Grande

Realização:

Apoio:

Entre 2014 e 2016

o Projeto Voz Nativa

atuou na Ilha Grande

com o objetivo de

promover o turismo

de base comunitária, a

conservação ambiental

e a valorização histórica

e cultural da ilha, a

partir da interação com

sua população nativa.

Realizamos cursos

e ofi cinas de formação

profi ssional, caravanas,

eventos culturais e um

jornal comunitário,

com participação de

moradores jovens e

adultos.

Acreditamos que falar

sobre sua própria rea-

lidade é um importan-

te instrumento para o

fortalecimento da iden-

tidade e sentimento de

pertencimento de pes-

soas e comunidades.

Por isso, temos bus cado

ampliar as vozes dos

moradores, mostrando

uma Ilha Grande vivida

na prática. Nesse mo-

vi mento, criamos a

‘Coleção Voz Nativa’,

série de livros onde as

hsitórias contadas são

histórias vividas.

O primeiro “Cul-

turas Caiçaras da Ilha

Grande – Pelos Jovens

da Ilha” foi elaborado

em parceria com os Co-

légios Estaduais e é um

registro do ser jovem na

Ilha atual, com textos

escritos pelos alunos

sobre suas vidas e suas

histórias.

“#Ilhagram: olhares

da Ilha” foi construído a

partir da interatividade

de moradores e turistas

com a Ilha Grande

por meio da rede

social Instagram, onde

pessoas do mundo todo

postaram fotos com a

hashtag #ilhagram e

as melhores imagens

foram selecionas para

compor o livro.

Este livro, “Histórias

Vividas na Ilha Grande

- Pelos Antigos da

Ilha”, é o terceiro da

coleção e pretende

apresentar o passar do

tempo na Ilha a partir

de histórias pessoais de

quem viveu e vive aqui.

É um registro de como

as histórias de vida e

a história da Ilha se

cruzam, transformando

esse lugar em tudo que

ele é hoje.

HISTÓRIAS

VIVIDAS

NA ILHA GRANDE

PELOS ANTIGOS DA ILHA

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Os eventos, construídos a partir do planejamento participativo, eram momentos de aproximar comunidades distantes em torno de temas que lhes seriam importantes. Os eventos eram divididos em festas de integração e realização de oficinas curtas para que o proje-to identificasse os cursos de maior interesse entre os participantes. Eram momentos também de promover debates e seminários, de apresentar informações importantes sobre a Ilha Grande e possibi-litar que diversas instituições com ações na Ilha pudessem interagir com as comunidades.

Os Encontros Voz Nativa ajudaram o projeto a ajustar suas atividades ao interesse dos jovens e a se aproximar ainda mais dos moradores, e se mostraram importantes momentos de troca entre comunidades, promovendo não só a interação entre jovens de diferentes praias, mas possibilitando uma visão ampliada da Ilha Grande e sua conexão com outras instituições, seus estudos e informações.

Page 89: Voz Nativa_comunicação e turismo de base comunitária

87

No total, foram realizados três ‘Encontros Voz Nativa’, um evento ‘Conhecendo a Ilha Grande’, em homenagem à Semana de Meio Ambiente e um evento de Lançamento do livro e exposição foto-grafia #Ilhagram: Olhares da Ilha. Em todos os eventos a parceria com os colégios de ensino médio, a Casa de Cultura Constanti-no Cokotós e o Parque Estadual da Ilha Grande foi fundamental. Parcerias com o Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimen-to Sustentável da Ilha Grande – CEADS/UERJ possibilitaram que pesquisas acadêmicas desenvolvidas na Ilha fossem apresentadas para todos, jovens e adultos, como forma de ampliar o conheci-mento sobre o meio ambiente e as características locais. Além destes, quatro eventos de entrega de certificados acontece-ram nas comunidades de Araçatiba, Praia Vermelha, Provetá, Ma-tariz e Abraão. Foram momentos de compartilhar com alunos e parceiros as conquistas e realizações do Voz Nativa em cada comu-nidade.

Conquistas e Resultados Gerais

A avaliação constante do projeto é um fator essencial. Por meio dela podemos realizar as adequações necessárias para que os obje-tivos sejam alcançados e principalmente para que os participantes sejam atendidos nas suas demandas. Para acompanhar o desenvolvimento do Projeto Voz Nativa e avaliar o impacto das suas ações foi estruturado um modelo de acompanhamento que consistiu na aplicação de questionários e no posterior processamento dos dados gerados. Isso permitiu que avaliássemos o perfil dos nossos participantes e suas demandas. A avaliação quantitativa não deve ser preponderante sobre a quali-tativa. Ambas constituem ferramentas de avaliação que devem ser utilizadas conjuntamente para diagnosticar pontos que precisam de atenção. Para a avaliação quantitativa, utilizamos dois modelos de questionário, um menor para oficinas de até 4 horas de duração e outro mais extenso para os cursos e oficinas longas. Para cada atividade era aplicado um tipo único de questionário

Page 90: Voz Nativa_comunicação e turismo de base comunitária

88

que continha as informações básicas dos alunos (importantes não só para o projeto, mas também para o cadastro do patrocinador), além de dados do perfil socioeconômico, religioso e das suas de-mandas em relação ao projeto. Os questionários eram preenchidos pelos participantes e poste-riormente criticados e inseridos no banco de dados e no sistema de monitoramento do patrocinador. A crítica e alimentação do banco de dados foi realizada por dois jovens moradores da Ilha Grande que receberam qualificação para a realização do trabalho.

Impactos dos cursos

Os cursos do Voz Nativa atuaram nas comunidades da Ilha Gran-de inicialmente como uma oportunidade de profissionalização e consequente melhoria das condições socioeconômicas dos jovens. Foram realizados cursos e oficinas em parceria com o LTDS/CO-PPE/UFRJ em sete comunidades, atingindo centenas de pessoas de idades variadas. Ao longo desse processo, as atividades foram adaptadas para cada comunidade, respeitando seu cotidiano, com práticas e horários adequados para que as oficinas fossem nos melhores locais e horá-rios para todos, além da adequação de linguagem e conteúdo para cada comunidade. O planejamento dos cursos passou a considerar o que interessava a cada comunidade e dentro do âmbito do projeto isso foi crucial para que as atividades profissionalizantes tivessem adesão e resul-tados. Trabalhar com cursos variados, que estivessem diretamente liga-dos aos nossos objetivos, foi definidor na visibilidade do projeto e no estabelecimento de uma conexão com as comunidades. Dessa forma, o projeto foi se adaptando e tomando outra forma, por meio da interação entre alunos, professores e parceiros. Priorizando a demanda da comunidade utilizamos ferramentas novas - câmeras, sprays – ou cotidianas – caderno e caneta – para captar momentos e lugares de uma Ilha Grande que toma um outro

Page 91: Voz Nativa_comunicação e turismo de base comunitária

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significado a partir de uma nova prática, principalmente se existe um produto final e se ele se materializa em um jornal, um livro de fotografias ou um webdocumentário que roda o mundo inteiro. Aos poucos, foi se constituindo a conexão entre cursos e produ-tos. No momento em que, em curso de atendimento e hospitalida-de, os alunos contam suas histórias para encenar os desafios que vi-venciam no dia a dia do turismo ou, em um curso de gastronomia, usam sua experiência diária para cozinhar um prato local, o projeto alcança seu objetivo de promover novas experiências de reflexão e novos modos de fazer. Os cursos foram, então, um investimento de vivências e experiên-cias, que passavam por conhecer novos conteúdos ou testar novas práticas. A expectativa era de ampliar o horizonte de possibilida-des que o desenvolvimento do turismo pode trazer e fomentar o protagonismo dos jovens no modelo de turismo desejado em suas comunidades.

No total o Voz Nativa realizou em parceria com a UFRJ/LTDS 48 cursos, totalizando oficialmente 677 horas/aula em 7 comunidades da Ilha Grande. Durante dois anos foram 1.100 alunos inscritos, com 72% de aproveitamento dos cursos. Em parceria, o Voz Nativa expediu 797 certificados da UFRJ em toda Ilha Grande. Além dos cursos realizados pela UFRJ, o Voz Nativa contratou professores de inglês moradores da Ilha Grande para formar três turmas em turnos diferentes, oferecendo Inglês para Conversação em Turismo, totalizando mais de 450 horas/aula na Vila do Abraão.

Como resultados diretos, os cursos de empreendedorismo apoia-ram a formação da primeira associação de barqueiros Taxi Boat da Vila do Abraão, o que gerou uma organização entre os barqueiros e irá gerar a criação de uma cooperativa. Após os cursos, alunos se

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interessaram em cursar turismo na universidade e se aprofundar na sua qualificação técnica. Moradores da Ilha Grande se torna-ram professores do projeto, se juntando ao grupo de professores da UFRJ. Os cursos de comunicação possibilitaram a participação de deze-nas de jovens em matérias publicadas no jornal Voz Nativa, além de suas participações na construção dos livros e de vídeos docu-mentários. Os cursos de gastronomia apoiaram a organização de cozinhas caseiras para a oferta de alimentação para turista, além de apoiar a formação de cardápios e preços. Diversas outras oficinas de bioarquitetura, agroecologia, fotografia, vídeo, drinks e gastro-nomia puderam promover vivências e experiências de qualificação do trabalho de muitos jovens moradores.

Perfil dos alunos

Uma das formas de avaliação do projeto foi a criação de um banco de dados com os registros dos participantes. Ao todo cadastramos 931 participantes. Como além do nosso cadastro interno precisá-vamos cadastrar esses participantes no Sistema Mais, sistema de acompanhamento da patrocinadora Petrobras, separamos os parti-cipantes entre aqueles que se enquadravam no requisito do Sistema Mais e os que não eram enquadráveis. Os requisitos eram: ser brasileiro e ter mais de 14 anos (esse últi-mo devido ao projeto ser voltado à capacitação profissional). Dessa forma, o banco interno do Voz Nativa não incluiu os 36 alunos es-trangeiros que realizaram atividades. Apesar de não serem o publi-co alvo das nossas atividades, optamos por não os excluí-los. Entendemos que o espaço das atividades pôde, dessa forma, con-tribuir para a construção coletiva também com os estrangeiros que residem por tempo maior ou menor na Ilha. Isso propiciou um es-paço de integração importante, dada a crescente tensão entre os estrangeiros que permanecem por mais tempo (majoritariamente argentinos) e os moradores brasileiros. O mesmo ocorreu com os menores de 14 anos. Oferecemos ativi-

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dades que foram muito procuradas por essa faixa etária, especial-mente as oficinas de música e grafitti. Eles também foram incluídos e os dados foram computados em sistema a parte. Ao todo foram 102 participantes menores de 14 anos. Excluídos esses participantes construímos um banco de dados com 793 cadastros, que utilizamos para a avaliação do Projeto Voz Nativa. A seguir temos alguns de nossos dados coletados.

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Escolaridade0,1%

4,5%15,1%

29,9%20,3%

0,4%0,1%

10,6%7,1%

11,9%

Não alfabetizadosEnsino Fundamental incompletoEnsino fundamental completoEnsino médio incompletoEnsino médio completoTécnico profissionalizante incompletoTécnico profissionalizante completoEnsino universitário incompletoEnsino universitário completoNão respondeu

Sexo

53,3% 46,7%

CorBrancaPretaPardaAmarelaIndígenaNão respondeu

21,8%7,5%23,8%1,1%1,6%0,8%

Não respondeu

Indígena

Amarela

Parda

Preta

Branca

Cor

Não respondeu

Indígena

Amarela

Parda

Preta

Branca

Cor

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Idade12-1415-1718-2930-5960+

4,0%16,0%

37,1%42,2%

0,6%

Salário20,1% Sem renda17,5% Menos de 1 36,6% 1 a 210,3% 2 a 35,2% 3 a 51,5% 5 ou mais8,8% N R*

Renda

b

b

b

b

b

b

b

a

b

b

b

b

b

b

b

a

Abraão 57,3% Saco do Céu 3% Praia Brava 0,1%

Palmas 0,3% Provetá 7,4% Sítio Forte 0,1%

Aventureiro 0,1% Vermelha 3,4% Camiranga 0,1%

Araçatiba 9% Longa 1,6% Passaterra 0,1%

Bananal 1,6% Praia de Fora 0,1% Não se aplica 3,0%

Sítio Forte 0,1% Matariz 3,2% N R* 9,3%

Praia de residência

* Não sabe / Não respondeu

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94* Não sabe / Não respondeu

Praia Sim Não Dentro e fora da Ilha

N R*

Abraão 29% 27% 4% 1%

Araçatiba 18% 5% 4% 1%

Longa 1% 0% 0% 0%

Vermelha 6% 0% 0% 0%

Matariz 1% 0% 0% 0%

Não se aplica 0% 1% 0% 1%

N R* 1% 2% 0% 1%

Total 55% 36% 7% 3%

Estudou na Ilha Grande

Praia Carteira assinada

Informal MEI Concurso público

Diarista Outro Não se

aplica

N R*

Abraão 17% 10% 3% 2% 2% 16% 9% 2%

Araçatiba 3% 4% 2% 2% 3% 4% 8% 3%

Longa 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0%

Vermelha 2% 0% 0% 1% 1% 0% 2% 1%

Matariz 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0%

N A* 0% 0% 0% 1% 0% 0% 1% 0%

N R* 0% 0% 1% 0% 1% 1% 1% 1%

Total 22% 13% 5% 6% 5% 21% 22% 7%

Tipo de contratação

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Como demonstrado no gráfico Praia de Residência, a comuni-dade do Abraão, que sediava o Voz Nativa, foi a mais impactada em número de participantes. Em números proporcionais, a comu-nidade com maior adesão ao Projeto foi Araçatiba, com 37% da população participando de ao menos uma atividade do Projeto. Se-guida do Abraão (23%) e Vermelha (16%). Esses percentuais foram avaliados ao longo do Projeto, redirecionando as atividades e as comunidades de atuação. Estes números são relativos à contagem da população realizada pelo IBGE em 2010, porém, não considera o aumento dos moradores e a população flutuante, o que alteraria o percentual geral. Apesar das dificuldades apontadas aqui em relação à mobilização dos participantes e à dinâmica econômica da Ilha, podemos ver que atingimos o público desejado em relação à idade. Do mesmo modo, os dados finais expressam a diversidade dos participantes.

Desafios e superações

Em dois anos de atividades, o projeto superou diversos desafios. Não é tarefa simples conquistar e gerir um projeto, que depende de parcerias e engajamento dos participantes, em uma ilha e com comunidades tão diferentes e distantes entre si. Entretanto, com o tempo, a compreensão da realidade local, o en-volvimento com as pessoas e a adequação das atividades, foi possí-vel superar as dificuldades e realizar tudo com êxito. As estruturas mais importantes que fizeram com que o projeto funcionasse bem:

1. Gestão financeira, que depende de patrocínio e uma gestão ágil e organizada; 2. Equipe qualificada e com o perfil para as ações; 3. Parcerias locais, que possam contribuir nas decisões do projeto; 4. Organização de atividades alinhadas e orientadas ao público 5. Avaliação constante e adequação do projeto.

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Todas essas estruturas tiveram que ser adequadas à dinâmica do projeto, para que ele pudesse ser melhor executado. A simples rea-lização das atividades não é garantia de retorno dos objetivos, mas a sua adequação a realidade local permite o máximo proveito de cada investimento.

Surpresas e oportunidades

É comum aos projetos sociais a incerteza. Diferente de qualquer programação exata, os projetos sociais são realizados nas relações. Os resultados são parte da interação entre as partes e os combina-dos apenas expectativas. É no fazer que os resultados acontecem, nem sempre como esperado, podendo ser menos ou mais. A experiência do Voz Nativa não poderia ser diferente. Se de um lado a resposta de retorno dos primeiros cursos foi menor do que se esperava, o engajamento dos parceiros e das comunidades no “fazer” do projeto foi muito acima das expectativas. O processo de-monstrou que o tempo ajusta as atividades e que é a relação que vai dizer o que deve ser feito, para aonde seguir. O sistema de monitoramento de impactos do projeto, numa inter-venção de dois anos, mostrou que apenas com o tempo impactos como aumento de renda, empregabilidade, empreendedorismo e associativismo podem ser sentidos. A intenção do projeto era identificar quais atividades mais con-tribuíam para os resultados acima, porém, o tempo das atividades não foi suficiente para identificar essas diferenças. Algumas intervenções sociais precisam de mais tempo e de ajustes monitorados para que seus impactos possam de fato demonstrar melhorias nas condições de vida, e no caso do Voz Nativa, na cons-trução de um turismo de base comunitária com empoderamento de jovens nativos em uma Ilha Grande preservada.

A adequação à realidade local e à sua dinâmica social deve orientar toda a implementação do projeto.

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Novos caminhos para o TBC na Ilha Grande O desenvolvimento do turismo de base comunitária nas diferen-tes comunidades da Ilha Grande depende de algumas intervenções e políticas públicas. O modelo normal de expansão do turismo se organiza por um ritmo de investimentos e empreendedorismo di-ferente do tempo das comunidades nativas. Enquanto os nativos se organizam para se adaptar às oportunida-des que chegam, investimentos de fora, já experientes à pratica do turismo, chegam em maior velocidade, ocupando os espaços locais, sem necessariamente corresponder ao tempo das comunidades ou gerar empregos e oportunidades para seus moradores. O turismo de base comunitária na Ilha Grande precisa de maior formação comunitária, de maior formação profissional de seus jo-vens e de investimentos para organizar um receptivo local, que va-lorize a cultura e as características tradicionais. Um TBC depende de uma comunidade coesa e organizada para receber as oportuni-dades que o turismo possa oferecer, definindo sua capacidade de carga, o perfil de seus turistas e os impactos sociais e ambientais aceitáveis. São muitas as comunidades em que o turismo pode se ampliar na Ilha Grande. E são muitas as famílias e seus jovens ainda em formação buscando seu lugar no turismo, na pesca ou em alguma oportunidade fora da ilha. O TBC ainda pode ser uma oportunida-de de manter as comunidades da Ilha Grande fazendo o que sem-pre fizeram, morando onde desejam morar e oferecer aos jovens da Ilha oportunidades de escolher se preferem ficar ou sair da ilha.

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O protagonismo local já é um fato entre os nativos e seus jovens, e em muitas comunidades empreendimentos e ações locais são prati-cadas pelos nativos. Porém, o movimento do turismo de fora ainda é maior do que dos nativos, e experiências e oportunidades para o turismo nativo devem ser fomentadas para que a Ilha Grande de-senvolva seu receptivo turístico em um modelo de valorização das culturas locais e que tenham na conservação ambiental uma visão de futuro.

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100

Projeto Voz Nativawww.voznativa.eco.br

[email protected]/juventudeprotagonistarj

@ilhagram+ 55 24 99903 5776

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#5

Patrocínio:

Projeto Juventude Protagonista Ilha Grande

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