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hristian de Portzamparc, em texto já clássico no meio arquitetônico brasileiro, defende a quadra aberta como uma solução contemporânea para os grandes aglomerados urbanos. Segundo o arquiteto francês, seria uma conciliação entre as cidades da primeira e segunda eras, abrindo as portas para a terceira era da cidade. Uma conciliação entre as qualidades da rua- corredor da cidade tradicional e dos edifícios autônomos da cidade moderna. Estamos diante de um urbanismo de síntese, aonde a resultante "quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por aberturas visuais e pela luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos, mas ligados entre eles por regras que impõem vazios e alinhamentos parciais. Formas individuais e formas coletivas coexistem. Uma arquitetura moderna, isto é, uma arquitetura relativamente livre de convenção, de volumetria, de modenatura, pode desabrochar sem ser contida por um exercício de fachada imposto entre duas fachadas contíguas" (1). Cidades da primeira e segunda eras, croquis. Arquiteto Christian de Portzamparc [PORTZAMPARC, Christian de. A terceira era da cidade] Ao contrário do que os críticos mais apressados disseram - alguns até em tom de chacota -, Portzamparc não estava se propondo "inventar" a quadra aberta, mas sim preocupado em dar sentido histórico e consistência conceitual para um fenômeno urbano que acontecia de forma crescente em diversas grandes cidades. Na cidade de São Paulo, mesmo que na forma de exceção, alguns exemplos de "quadra aberta" podem ser encontrados, sendo ao menos quatro deles de excelente qualidade. Os projetos são de períodos diferentes - anos 1960, 1970, 1980 e 2000 - e o tipo de investimento, o aporte tecnológico e os princípios formais presentes nas edificações expressam em grande medida características específicas de cada período. Contudo, as diferenças flagrantes da arquitetura dos edifícios não prejudica a percepção do elemento urbano que os aproxima: a permeabilidade do solo, que possibilita a integração de edificações privadas com o espaço público que os envolve. Pode-se observar também, nesta aproximação inicial, que tais diferenças demonstram que a tipologia urbana "quadra aberta" não é exclusiva de determinados mecanismos econômicos e/ou princípios estéticos, mas uma possibilidade potencial, que pode ou não ser usada, dependendo da escolha dos projetistas e, principalmente, dos investidores.

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hristian de Portzamparc, em texto já clássico no meio arquitetônico

brasileiro, defende a quadra aberta como uma solução contemporânea para os

grandes aglomerados urbanos. Segundo o arquiteto francês, seria uma

conciliação entre as cidades da primeira e segunda eras, abrindo as portas

para a terceira era da cidade. Uma conciliação entre as qualidades da rua-

corredor da cidade tradicional e dos edifícios autônomos da cidade moderna.

Estamos diante de um urbanismo de síntese, aonde a resultante

"quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por

aberturas visuais e pela luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos,

mas ligados entre eles por regras que impõem vazios e alinhamentos parciais.

Formas individuais e formas coletivas coexistem. Uma arquitetura moderna, isto

é, uma arquitetura relativamente livre de convenção, de volumetria, de

modenatura, pode desabrochar sem ser contida por um exercício de fachada

imposto entre duas fachadas contíguas" (1).

Cidades da primeira e segunda eras, croquis. Arquiteto Christian de Portzamparc

[PORTZAMPARC, Christian de. A terceira era da cidade]

Ao contrário do que os críticos mais apressados disseram - alguns até em tom

de chacota -, Portzamparc não estava se propondo "inventar" a quadra aberta,

mas sim preocupado em dar sentido histórico e consistência conceitual para um

fenômeno urbano que acontecia de forma crescente em diversas grandes cidades.

Na cidade de São Paulo, mesmo que na forma de exceção, alguns exemplos de

"quadra aberta" podem ser encontrados, sendo ao menos quatro deles de

excelente qualidade. Os projetos são de períodos diferentes - anos 1960, 1970,

1980 e 2000 - e o tipo de investimento, o aporte tecnológico e os princípios

formais presentes nas edificações expressam em grande medida características

específicas de cada período. Contudo, as diferenças flagrantes da arquitetura

dos edifícios não prejudica a percepção do elemento urbano que os aproxima: a

permeabilidade do solo, que possibilita a integração de edificações privadas

com o espaço público que os envolve. Pode-se observar também, nesta

aproximação inicial, que tais diferenças demonstram que a tipologia urbana

"quadra aberta" não é exclusiva de determinados mecanismos econômicos e/ou

princípios estéticos, mas uma possibilidade potencial, que pode ou não ser

usada, dependendo da escolha dos projetistas e, principalmente, dos

investidores.

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Centro Comercial, implantação, Bom Retiro, São Paulo. Arquiteto Lucjan Korngold

Mapamontagem de Luis Espallargas

O primeiro deles é o Centro Comercial do Bom Retiro, projeto de 1959 e

inaugurado durante os anos 1960, no Bom Retiro, de autoria de Lucjan Korngold.

O arquiteto, judeu polonês que migra para o Brasil em 1940, projeta o

empreendimento comercial para um grupo de investidores da comunidade hebraica

formado por Charles Wolkowitz, Jose Solboln, Filip Citron, Erwin Citron e

Benjamin Citron. Segundo Anat Falbel, arquiteto e investidores fazem parte de

uma"imigração específica, cosmopolita, com origens na média e alta burguesia

judaica europeia, que [..] traz consigo uma experiência empresarial, e que no

Brasil divide suas iniciativas imobiliárias entre um restrito número de

arquitetos imigrantes, pertencentes ao mesmo grupo,criando assim as

associações entre o capital e o trabalho profissional" (2).Aproveitando o

miolo de quadra, que pode ser acessado por dois lotes em ruas distintas - José

Paulino e Ribeiro de Lima -, o arquiteto polonês projetou uma edificação

contínua, com quatro pisos, que se encosta nos muros dos fundos dos lotes

lindeiros, conformando uma clareira, no centro da qual dispôs uma pequena

torre com dez andares. A arquitetura é fortemente marcada pela simplicidade

geométrica do modernismo europeu, que se acomoda às restrições orçamentárias

de um edifício voltado ao empreendimento imobiliário.

Ao contrário de Hautes Formes, onde Portzamparc solta a maioria de suas

pequenas torres das construções lindeiras, Korngold – seguramente para

aproveitar ao máximo o terreno disponível, afinal se tratava de um

empreendimento privado e voltado para o mercado imobiliário – preferiu

encostar a edificação contínua na linha divisória do terreno. Contudo, a

disposição distinta dos volumes em Hautes Formes e no Centro Comercial do Bom

Retiro não impede uma curiosa semelhança entre as duas implantações, com seus

dois acessos locados em vias em lados opostos do terreno.

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Centro Comercial, acesso rua José Paulino, Bom Retiro, São Paulo. Arquiteto Lucjan

Korngold [KORNGOLD, Lucjan. Centro comercial do Bom Retiro. Acrópole, São Paulo, n.

253, nov. 1959]

Mesmo tendo sido publicado, ainda na condição de projeto, na

revistaAcrópole (3), a crítica de arquitetura não deu muita atenção a centro

comercial. Anat Falbel, a pesquisadora que foi mais a fundo sobre a obra de

Korngold, menciona-o rapidamente em artigo para a revista AU, mas com a

suficiente clareza acerca da qualidade do projeto:

"a proposta inovadora do Centro Comercial do Bom Retiro (1957) na Rua José

Paulino (iniciativa original entre os inúmeros projetos de galerias comerciais

construídas no Centro de São Paulo no período)"(4).

Centro Comercial, acesso rua Ribeiro de Lima, Bom Retiro, São Paulo. Arquiteto

Lucjan Korngold [KORNGOLD, Lucjan. Centro comercial do Bom Retiro. Acrópole, São

Paulo, n. 253, nov. 1959]

O centro comercial encontra-se até hoje em pleno funcionamento, totalmente

adequado ao comércio popular da região. A conservação não é muito esmerada e

algumas das lojas no avarandado superior – correspondente ao terceiro piso e

que circunda todo o complexo – encontram-se fechadas. Mas a ocupação no térreo

é total e o edifício no centro do lote abriga serviço e comércio em todos os

seus pisos.

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Centro Comercial, plantas, Bom Retiro, São Paulo. Arquiteto Lucjan Korngold

[KORNGOLD, Lucjan. Centro comercial do Bom Retiro. Acrópole, São Paulo, n. 253,

nov. 1959]

Centro Comercial, corte longitudinal, Bom Retiro, São Paulo. Arquiteto Lucjan

Korngold [KORNGOLD, Lucjan. Centro comercial do Bom Retiro. Acrópole, São Paulo, n.

253, nov. 1959]

A segunda quadra aberta bem resolvida na capital paulista é a Cetenco Plaza,

localizada na esquina da avenida Paulista, esquina com a alameda Ministro

Rocha Azevedo, projeto de Rubens Carneiro Vianna e Ricardo Sievers, construída

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nos anos 1970, no momento em que a cidade de São Paulo vivenciava a mudança

importante deslocamento de atividades econômicas entre regiões distintas da

cidade. Heitor Frúgoli relaciona o surgimento de "dois edifícios de inspiração

modernista" – o Conjunto Nacional (David Libeskind, 1956) e o Masp (Lina Bo

Bardi, 1968) – antecipação de

"uma série de significativas alterações na região, respectivamente nas

atividades comercial e cultural, incluindo as primeiras etapas da migração de

outras atividades do Centro tradicional para ali, o que consolidaria

plenamente na passagem dos anos 70, com a ida de várias empresas para a

Paulista, quando passa a constituir efetivamente uma nova centralidade na

metrópole" (5).

Neste momento, os principais bancos do centro velho, em geral localizados na

rua Boavista e imediações, se mudam para o divisor de águas entre o centro e o

Jardim Paulista, como parte da dinâmica paulistana dos anos 1960 e 1970. O

novo complexo da Avenida Paulista, construído pela Cetenco para locação para

serviços, vai abrigar principalmente atividades bancárias (a Caixa Econômica

Federal e o extinto Banespa ocuparam por anos os térreos das duas torres),

confirmando o processo apontado acima de mudança de centralidade.Atendendo ao

programa proposto pelos investidores, os arquitetos Rubens Carneiro Vianna e

Ricardo Sievers projetam duas torres gêmeas, de planta quadrada, totalmente

envidraçadas em tom esverdeado, com radical simplificação do volume graças à

supressão da tradicional divisão tripartite entre embasamento, corpo e

coroamento, ainda muito presente nos edifícios modernos até os anos 1960. A

dupla de arquitetos opta por posicionar uma das torres na esquina e deslocar a

segunda torre do conjunto para o fundo do terreno, o que permitiu a criação de

um espaço livre rico em diversidades, com praças e passagens, inclusive com um

percurso por detrás do Banco Sul-americano – atual Banco Itaú, projeto do

escritório Rino Levi Arquitetos Associados –, permitindo o acesso ao conjunto

por uma terceira rua, a Frei Caneca. O projeto paisagístico, uma solução bema

articulada ao projeto arquitetônico, é de autoria do arquiteto paisagista

Luciano Fiaschi.

Cetenco Plaza, esquina da Avenida Paulista e Alameda Ministro Rocha Azevedo, São

Paulo. Arquitetos Rubens Carneiro Vianna e Ricardo Sievers [Norma Fonseca. Espaços

coletivos. Espaços privados com áreas coletivas, p. 60]

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O resultado final é uma grande permeabilidade disponível ao pedestre, que pode

andar pelo interior dos terrenos privados, sem maiores obstáculos. Um dos

edifícios lindeiros, localizado na avenida Paulista, se aproveitou muito bem

da potencialidade da quadra aberta, pois os arquitetos José Magalhães Júnior e

Samuel Szpigel abriram os fundos do edifício para a área livre, ampliando as

conexões na cota do térreo (6).

Contudo, poucos anos depois da inauguração do complexo, a avaliação de Ruth

Verde Zein não era muito positiva. Em texto onde faz ampla avaliação das

torres da avenida Paulista, Zein ressalta “o jogo de reflexos frios e

cambiantes da desolada praça ‘nova-iorquina’ entre o edifício do Banco de

Crédito Comercial, de José Magalhães e Samuel Szpigel, e as duas torres da

Caixa Econômica Federal”, opinião crítica reforçada na legenda das fotos: “a

desolada praça ‘nova-iorquina’, o império da rainha do gelo, um cenário de

reflexos cambiantes” (7).

Cetenco Plaza, Alameda Ministro Rocha Azevedo, São Paulo. Arquitetos Rubens

Carneiro Vianna e Ricardo Sievers

Foto Abilio Guerra

Que as eventuais qualidades da área livre tenham escapado a uma crítica tão

experiente é prova concreta do quanto as avaliações dependem de um tacão de

medida estabelecido. A quadra aberta não era um valor em meados dos anos 1980.

Contudo, o uso mais restrito da Avenida Paulista naquele período – a

diversificação de usos só vai ocorrer após a inauguração da linha verde do

metrô, em 1991 –, talvez realmente desse às áreas livres o ar desértico

apontado pela crítica. O que, em certo sentido, demonstra a antevisão dos

arquitetos responsáveis, que previram com enorme acerto o uso intenso que

teria o espaço muitos anos depois, quando as largas ruas da Avenida Paulista

são tomadas por multidões nas horas de pico e as áreas livres lindeiras passam

a funcionar como bem vindos escapes do tumultuado vai e vem de pessoas.

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Centro Empresarial Itaú, implantação. Itauplan e Aflalo & Gasperini [CUPERTINO,

Jaime Marcondes. Centro Empresarial Itaú: do edifício à cidade, p. 47]

O Centro Empresarial Itaú é nosso terceiro exemplo de quadra aberta

qualificada em São Paulo. Trata-se de um empreendimento absolutamente incomum

na capital paulista no que diz respeito aos aspectos legais e urbanísticos,

pois na prática se efetivou uma PPP – Parceria Público-Privado – bem antes que

este tipo de iniciativa fosse discutido conceitualmente no Brasil e colocado

em vigência através de lei.

Centro Empresarial Itaú, plantas do embasamento. Itauplan e Aflalo & Gasperini

[CUPERTINO, Jaime Marcondes. Centro Empresarial Itaú: do edifício à cidade, p. 50-

56]

Uma lei municipal específica atribui a gestão do empreendimento à Emurb –

Empresa Municipal de Urbanização –, empresa pública, o que permitiu a

conciliação dos interesses públicos presentes na implantação da estação

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Conceição da linha norte-sul do metrô e os interesses privados, representados

pelo Banco Itaú, proprietário do terreno, e investidores imobiliários. O

projeto contou com duas fases, a primeira a cargo da Itauplan, sob a liderança

dos arquitetos João De Gennaro, Javier Judas y Manubens e Jaime Marcondes

Cupertino, quando foi desenvolvido o embasamento do conjunto, conciliando a

presença da estação no subsolo, sua relação com a praça externa e os acessos

diversos às áreas públicas e privadas.

A segunda fase, voltada para as torres, foi encomendada pelos empreendedores

ao escritório Aflalo e Gasperini, com a equipe de trabalho liderada pelos

arquitetos Eduardo Martins Ferreira, Felipe Aflalo e Jaime Marcondes Cupertino

(este último é o único a participar das duas fases). No total, são cinco

torres, construídas em momentos diferentes. As três primeiras – dispostas

junto à rua das Carnaubeiras – têm formato cúbico – com estrutura periférica e

caixa central com elevadores, escadas e banheiros – e elevações que alternam

faixas horizontais opacas (estrutura e alvenaria) e transparentes (esquadrias

envidraçadas), modelo seguido, com algumas modificações nas proporções, pela

quinta torre, a última a ser construída junto à Avenida Dr. Hugo Beochi. A

quarta torre, destinada à Itausa, é totalmente envidraçada e conta com

estrutura central na periferia da caixa de circulação vertical e banheiros,

resultando em arrojado balanço da periferia da edificação.

Centro Empresarial Itaú, alternativas de implantação das torres. Itauplan e Aflalo

& Gasperini [CUPERTINO, Jaime Marcondes. Centro Empresarial Itaú: do edifício à

cidade, p. 31]

O complexo – projeto e construção datados dos anos de 1980 a 1985 – localiza-

se em gleba na zona sul de São Paulo, delimitada pela Avenida Armando Arruda

Pereira e ruas locais. O contraste entre as torres com desenho prismático e o

embasamento com formas orgânicas resulta da divisão original do projeto, que

foi levado à frente por arquitetos de duas equipes distintas. O projeto

original do embasamento é de autoria de Javier Judas y Manubens e Jaime

Cupertino, sendo que este último explica assim a decisão projetual: “a única

fonte comum aos dois [arquitetos] era a grande admiração por Oscar Niemeyer, o

que aparece de forma clara em todo o desenho do embasamento, desde as lajes

curvas do embasamento e a solução de paisagismo até a escolha do grande painel

de Sergio Camargo" (8).

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Centro Empresarial Itaú, elevação e corte longitudinal do conjunto. Itauplan e

Aflalo & Gasperini [CUPERTINO, Jaime Marcondes. Centro Empresarial Itaú: do

edifício à cidade, p. 48]

Ao contrário do que aconteceu com o Cetenco Plaza na Avenida Paulista, neste

caso a avaliação de Ruth Verde Zein é amplamente positivo. A autora aponta com

clareza as qualidades da implantação do projeto na cidade, em especial a

conectividade do trânsito de pedestres:

“Outra decisão de grande importância para o projeto foi a integração da área

do terreno com a praça pública lindeira, inclusive com passagem de pedestres

por dentro do conjunto [...]. O convênio entre o Grupo Itaú e a prefeitura

municipal permitiu essa integração, exigindo que o tratamento das áreas

públicas fosse executado às expensas do CIC. Com isso obteve-se um caráter

extremamente urbano, apenas encontrável no centro das grandes cidades, onde

galerias e passagens particulares são uma extensão das calçadas e ruas” (9).

O quarto exemplo é o Brascan Century Plaza (10), de autoria dos

arquitetos Jorge Königsberger e Gianfranco Vannucchi, implantado no início dos

anos 2000 no Itaim Bibi. Bairro que passou, ao longo dos anos 1990, por

profunda transformação, com verticalização intensa e mudança de usos, o Itaim

torna-se uma região nobre, com prédios de apartamentos, equipamentos e

serviços adequados aos novos habitantes locais. Antigas moradias de baixo

padrão e antigas plantas industriais são erradicadas e é em um terreno

anteriormente ocupado pela fábrica de chocolates Kopenhagen que vai ser

erguido o novo conglomerado projetado pela Königsberger & Vannucchi. Hoje se

encontra esgotado o estoque de terrenos de porte no bairro, o que praticamente

inviabiliza novos investimentos do tipo – "no Itaim não tem mais um terreno

deste à disposição" (11), assinala Gianfranco Vannucchi – e provoca o

deslocamento dos investimentos imobiliários para outras regiões da cidade, em

especial para a Avenida Berrini e proximidades.

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Brascan Century Plaza, implantação. Arquitetos Jorge Konigsberger e Gianfranco

Vannucchi

Imagem KV

O conjunto Brascan Century Plaza conta com três torres com típicas

preocupações contemporâneas – tecnologia de última geração e grande variedade

formal não só entre os edifícios, mas até mesmo entre as elevações da mesma

edificação –, encravadas na área livre do térreo, que, por sua vez, se

articula com as calçadas de três das ruas que conformam a quadra - Joaquim

Floriano, Bandeira Paulista e Tamandaré Toledo. O grande jardim – que ocupa

praticamente toda a área livre do térreo e dá acesso às lojas, cafés e cinemas

– foi projetado por Benedito Abbud e conta com espelho d'água, vegetação e

escultura em madeira de Elisa Brancher. Um dos autores do projeto, o arquiteto

Gianfranco Vannucchi, comenta o valor urbano aportado no projeto: "as pessoas

não aguentam mais ficar fechadas dentro de um shopping. [...] É um projeto

[...] que vai na contramão dos condomínios fechados, das grades, dos muros,

quer dizer, do enclausurar; pelo contrário, é um projeto que se abre para a

cidade" (12).

É justamente este projeto, o mais recente dos quatro exemplos selecionados,

que é o mérito da entrevista com um dos seus autores, o arquiteto Jorge

Königsberger, que se mostra muito animado em sua avaliação da potencialidade

da quadra aberta, com áreas privadas se articulando com as áreas públicas da

cidade:

"Vimos, já há anos, desenvolvendo projetos imobiliários privados e vimos nos

opondo ás tendências segregacionistas entre espaços públicos e privados.

Consideramos ser perfeitamente possível suprir boa parte das carências e

fragilidades urbanísticas brasileiras através do maior suprimento de novos

espaços públicos privados qualificados integrados ao espaço público existente,

dentro do modelo econômico vigente" (13).

Convidamos o leitor a ler neste número da revista Projetos do portal Vitruvius

a íntegra da entrevista com Jorge Königsberger.

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Brascan Century Plaza, praça de acesso coletivo, Itaim Bibi, São Paulo. Arquitetos

Jorge Konigsberger e Gianfranco Vannucchi

Foto Nelson Kon