VIDA EM PROL DA PRESERVAÇÃO E DEFESA DA ARTE DE GINGAR

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SALVADOR SÁBADO 20.11.2010 6 ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA Ê, CAMARÁ! SALVADOR SÁBADO 20.11.2010 7 ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA Ê, CAMARÁ! PERSISTÊNCIA Praticantes de capoeira desde a infância, os dois mestres fizeram história e revolucionaram os estilos que optaram praticar. Pastinha codificou o que ficaria conhecida como Capoeira Angola. Já Bimba criou a Capoeira Regional VIDA EM PROL DA PRESERVAÇÃO E DEFESA DA ARTE DE GINGAR CAPOEIRA AINDA NA INFÂNCIA Pastinha ainda tinha 10 anos e morava na Rua do Tijolo, 2, Centro Histórico, quando um africano chamado Benedito, após vê-lo tomar uma surra de um garoto, ensinou-lhe a arte da defesa e do ataque Pastinha : o mestre dos gestos ágeis e da boa prosa MEIRE OLIVEIRA A voz mansa, os movimentos ágeis com o corpo e longas his- tórias eram os instrumentos de transmissão do conhecimento que ia além das rodas. O projeto de mestre Pastinha consistia no desenvolvimento pleno do in- divíduo, além do fortalecimento e preservação da essência da Capoeira Angola. Aos discípulos, hoje espalha- dos pelo mundo, pregava que a virtude de um bom capoeirista era dominar-se para ter controle sobre o oponente. Agregado a isso teria que ser “disfarçado, calculista, ladino, malicioso” pa- ra combater a força de um ad- versário. O princípio básico para isso era a ginga, um balé suave com braços e pernas, jogados de um lado e outro com aparência dispersa. O balanço do corpo que ia e voltava em várias di- reções eram estratégicos. Pastinha distraía, enganava e deixava o adversário vulnerá- vel. Era a forma de estudar o outro, identificar o ponto fraco e, em seguida, atingi-lo com precisão. Ou marcar o camarada onde ele seria tocado e finalizar com um sorriso exibindo supe- rioridade. Ao mesmo tempo o enfrentamento também era ba- seado na lealdade ao outro e obediência às regras do jogo como garantia de uma prática universal e sem violência. Um seguidor dos ensinamentos de Pastinha não provoca briga, mas também não apanha. A exigência era outra marca do capoeirista que tinha um guar- da-chuva sempre apoiado no bra- ço em tempo de chuva ou sol e o terno branco de linho que per- manecia alvo mesmo após um jogo, pois capoeirista só suja as mãos. Seus alunos não jogavam descalços ou sem camisa. Todos tinham carteirinha e cadastro em um livro de atas, com nomes co- mo o artista Tom Zé. No uniforme de gala – camisa amarela e a calça de tergal preta – trazia a home- nagem ao Ypiranga Futebol Clube e, no peito, o desenho bordado identificava o olhar do mestre so- bre o estilo de cada aluno. A receptividade era acompa- nhada de desconfiança. As in- formações eram dosadas e per- sonalizadas de acordo com o cri- vo do mestre para cada aluno. A condição era o preparo de cada um para obter determinado co- nhecimento. Pastinha observa- va muito e falava pouco. Os as- suntos eram variados e iam de conselhos aos efeitos medici- nais das folhas. Mas para ser bom mestre o caminho era mais longo. Era ne- cessário ser completo "nos fun- damentos do esporte": jogar, cantar, tocar e dominar as re- gras, os rituais de comporta- mento e as artimanhas da ca- poeira. A cobrança não deixou de existir nem no final da vida, quando já debilitado pela ce- gueira continuava a frequentar as aulas. Sentia e consertava o movimento do aluno pelo vulto e, não raro, interrompia a aula ao perceber que qualquer ins- trumento não estava sendo to- cado do jeito que ensinara. E assim Pastinha seguiu até que sua condição financeira foi piorando após a deficiência vi- sual. Contou com a ajuda de seus alunos que faziam apresenta- ções e lhe davam a renda e ami- gos que fez ao longo da trajetória como o escritor Jorge Amado, o pintor Carybé, dentre outros. Após algumas decepções por conta do mau tratamento rece- bido da sociedade baiana ao fi- nal de uma vida dedicada à ca- poeira, Pastinha morreu como interno do abrigo D. Pedro II. FONTES: MESTRES JOÃO GRANDE, JOÃO PEQUENO, GILDO ALFINETE, CURIÓ, JANJA E BOLA SETE Bimba: mestre educador nato e visionário da capoeira JULIANA BRITO Manoel dos Reis Machado já nasceu dividindo opiniões. O apelido Bimba (nome popular do órgão sexual masculino em crianças) foi fruto de uma aposta entre a mãe e a parteira sobre o sexo do bebê. Essa última ga- nhou a disputa e o pequeno Manoel um apelido que o acom- panharia pela vida. Mestre Bimba foi mesmo um protótipo de virilidade. Alto, for- te e destemido, ficou famoso na capital baiana pelo carisma que tinha com as mulheres - chegou a manter quatro esposas simul- taneamente – e devido, espe- cialmente, à criação de uma mo- dalidade mais vigorosa de ca- poeira, com golpes mais altos e ágeis, que ficou conhecida como capoeira regional. O método ainda incluía rituais até então inexistentes como as cerimônias de batismo e de formatura. A invenção de Bimba gerou, à época, críticas de seus pares. Muitos julgaram a luta regional como uma descaracterização da capoeira. Mas essa não era a única polêmica em torno de mestre Bimba, que também foi acusado de embranquecer o jo- go criado por negros escravos. “Ele enegreceu o branco”, de- fende o doutorando em História Social, Jaime Sodré. Mesmo com pouca instrução e um histórico de trabalhos bra- çais, mestre Bimba destacou-se, paradoxalmente, pela inteli- gência incomum. Os métodos desenvolvidos para a criação da capoeira regional até hoje im- pressionam quem os conhece. O talento visionário do mes- tre também é notório. “Ele é um modernizador e por isso cria a capoeira regional baiana com o nome de luta regional para adaptá-la à nova era dos espor- tes”, observa o doutor em his- tória, Carlos Eugênio Líbano. Mas, entre os que conhece- ram o pai da luta regional, a característica que mais provoca nostalgia é a sua verve nata de educador. Apesar de reservado, o capoeirista sempre tinha um conselho para oferecer a quem o procurasse. O mestre também adorava citar máximas popula- res, a fim de transmitir lições de vida a seus discípulos. Na roda e em casa, o ex-es- tivador era rígido quanto aos estudos dos jovens. Marinalva Nascimento Machado, a Nalvi- nha, e o irmão, Manoel Nas- cimento Machado, o mestre Ne- nel, são dois dos 12 filhos do capoeirista. A imagem que guardam de Bimba é de um pai carinhoso. “A melhor recorda- ção que tenho é da nossa in- fância, quando chegava do tra- balho e brincava bastante com a gente”, lembra Nalvinha. A despeito de ter sido um exímio lutador, mestre Bimba detestava desordem. Não estimulava seus alunos a briga, que considerava “coisa de otário”. Mas era enfático sobre a importância de estar alerta à presença inimiga. Uma das téc- nicas que desenvolveu, neste sen- tido, foi a emboscada. Ironicamente, a única embos- cada a qual o mestre sucumbiu foi fatal, criada pelo seu próprio or- gulho. Desiludido com a falta de reconhecimento na Bahia e ao mesmo tempo deslumbrado com o tratamento que recebera em viagem a Goiânia, decidiu mu- dar-se para a capital de Goiás em 1972. Em pouco tempo percebeu que fora iludido, mas não estava disposto a dar o braço a torcer. “Se não gozar nada em Goiânia, vou gozar do cemitério", dizia. A pro- fecia cumpriu-se em 5 de feve- reiro de 1974, quando mestre Bimba “morreu de banzo”. FONTES: JAIME SODRÉ, CARLOS EUGÊNIO LÍBANO, MARINALVA NASCIMENTO MACHADO E MESTRE NENEL ESPORTE NACIONAL Em 23 de julho de 1953, mestre Bimba é cumprimentado no Palácio do Governo pelo então presidente da República Getúlio Vargas, que declara: “A capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional” A persistência em defen- der sua arte e a falta de reconhecimento no fi- nal da vida une as his- tórias das maiores re- ferências da capoeira: mestres Pastinha e Bimba. O primeiro optou por preser- var os conhecimentos que ob- teve, desde o início da prática, e foi responsável por instituir re- gras que formalizaram o ensino. Defendia o jogo rasteiro e ma- licioso dos seus antepassados. O segundo, também com a mesma formação, preferiu ino- var. Reuniu golpes de outras lu- tas e criou outro estilo: a re- gional. Sua ousadia já lhe ren- deu o título póstumo de doutor honoris causa da Ufba, pelos serviços prestados à cultura baiana. No entanto, eles não colheram frutos do legado que deixaram. Considerados refe- rência nos caminhos que trilha- ram, ambos terminaram a vida sem o devido reconhecimento. VIDA DEDICADA À CARREIRA ARTÍSTICA Aprendeu música e pintura na Escola de Aprendizes de Marinheiro, onde ficou dos 12 aos 20 anos. Nunca deixou de pintar e escrever poesias. Seu passatempo predileto era uma rodada de dominó SEMPRE ALERTA Ao encontrar com Bimba em um elevador, um ex-aluno foi repreendido por entrar no local sem averiguar quem estava atrás. "Você gastou o seu dinheiro à toa, pois já vi que não aprendeu nada comigo", resmungou AUTOR DESCONHECIDO “Coração bate mais forte Que deixa marca levar Berimbau bem amarrado De beriba prepara Com dois pandeiros de couro De pele bem esticada É roda de regional Com três palmas bem marcadas Camará..aguá de bebê (Êêêê aguá de bebê, camará) Ê aruande (Êêêê aruande, camará) Olha Bimba deus do céu (Êêêê Bimba deus do céu, camará) Iê viva meu mestre (Êêêê viva meu mestre, camará)” GLOSSÁRIO CANTOAMARRADO Cantolento, monótono CAPOEIRASOLTEIRO Sójoga.Não tocaberimbaunemcanta CANTIGA Vamos ao nosso próximo ícone, o Mestre Bimba: “É na Palma de Bimba, é 1,2,3, é na palma de Bimba, é 1,2,3...”. Vamos incentivar uma viagem dos nossos alu- nos pelo universo do mestre que criou a chamada Ca- poeira Regional. Que tal uma peça teatral sobre a vida, o estilo e as biografias dos seus mais fa- mosos discípulos? O perfil traçado por esta matéria nos auxilia na composição. Claro que precisaremos de uma pesquisa ampla sobre as peculiaridades do tema. A Capoeira Regional de Bimba é uma das responsáveis pelo crescente número de adep- tos e difusão mundial. Vamos nos debruçar sobre a Capoeira Regional: o que é? Qual é o seu ritmo? Quais os seus cantos e golpes? Quais são as suas principais di- ferenças em relação à Ca- poeira Regional? A turma poderá navegar, in- vestigar, criar, atuar e de- senvolver o seu projeto de apresentação por meio des- sa linguagem artística cha- mada teatro. Os professores de história, português, artes e educação física poderão fazer uma be- la parceria para desenvolver o projeto. Valem visitas a academias que praticam a Capoeira Regional e convite a mestres da modalidade para discutir o assunto. O bate-papo pode ser numa academia para torná-lo ain- da mais interessante. Em se- guida, é partir para a mon- tagem do espetáculo com muita criatividade. PARA SABER MAIS Mestre Bimba – A capoeira iluminada (Luiz Fernando Goulart, 2005) Mestre Bimba – Corpo de mandinga (Muniz Sodré, 2002) PARA USAR NA ESCOLA MESTRE PASTINHA “Na minha academia tenho “dois menino” Todos dois se chama João Um é cobra mansa E o outro é gavião Quando um anda “pelos ar” O outro se enrosca pelo chão, camaradinha” “Bahia, minha Bahia, Bahia do Salvador, Quem não conhece Capoeira, Não lhe pode dar valor. Todos podem aprender, General e até Doutor, Mas, p’ra isso é necessário, Procurar um Professor” GLOSSÁRIO MANDINGUEIRO Capoeirista ladino,cheiodenegaçasetruques CAMADEGATO Armadilhaoutocaia paraoutrocapoeirista CANTIGA As aulas de artes poderão não ser mais as mesmas. Vamos preparar um docu- mentário sobre a vida desse mestre? Só o projeto de pes- quisa é suficiente para ani- mar a turma e exercitar vá- rias linguagens. A ideia é apropriada para turmas do 1º ano do ensino médio. Uma questão que pode di- recionar o projeto é a prin- cipal característica da Ca- poeira Angola. O primeiro capítulo dessa história é a vida de mestre Pastinha. Os alunos podem realizar entrevistas com fa- miliares e seus discípulos. Uma aula interativa e in- teressante é a visita a al- guma associação de Capoei- ra Angola, onde os alunos vão tentar identificar os ele- mentos que caracterizam es- te estilo – o ritmo, os cantos, os instrumentos, os golpes, enfim, os seus símbolos. A partir daí, a tecnologia será uma grande aliada. De posse do material de pe- quisa, vamos aos laborató- rios de informática e esti- mular que os alunos deem asas ao uso da criatividade. Dividida em grupos, a turma deve começar a planejar co- mo será formatado o do- cumentário. O tipo de nar- rativa pode ser uma ponte para as aulas de português. É necessário também indicar quem vai fazer parte da pro- dução, roteiro e direção. Os alunos podem também de- cidir se irão ter intérpretes para os personagens. A es- colha dos papéis, por exem- plo, já é garantia de uma divertida sessão. PARA SABER MAIS Capoeira Angola (Mestre Pastinha , 1988) Pastinha! Uma vida pela capoeira (Antônio Carlos Muricy, 1998) Site Portal da Capoeira http://portalcapoeira.com PARA USAR NA ESCOLA MESTRE BIMBA Manoel dos Reis Machado 23.11.1899 05.02.1974 DISCÍPULO ACERVO ACERVO CARINHO Em manuscritos, mestre Pastinha deixou ensinamentos sobre sua arte. Objetos pessoais dele, como o passaporte, bengala, dentre outros, pertencem ao discípulo, mestre Gildo Alfinete “Guardo a lembrança de um pai muito carinhoso” MESTRE NENEL, um dos 12 filhos biológicos de mestre Bimba, o criador da capoeira regional “Ele pediu para eu tomar conta da capoeira para o nome dele não desaparecer” MESTRE JOÃO PEQUENO DE PASTINHA O berimbau foi feito pelo mestre Bimba. O facão, de acordo com o seu filho Nenel, era utilizado na confecção dos instrumentos e nas aulas do curso de especialização que engloba o manuseio de armas MARTELO CAPOEIRA REGIONAL CHAMADA DE FRENTE CAPOEIRA ANGOLA 1968 Publica o livro Capoeira Angola, onde defende o caráter não violento do jogo. Filiação: José Señor Pastinha (comerciante) e Eugênia Maria de Carvalho (baiana de acarajé e lavadeira) Também trabalhou de engraxate, gazeteiro, garimpeiro e operário no Porto de Salvador 1941 Funda o Centro esportivo de Capoeira Angola. Em 1966, a convite do Ministério das Relações Exteriores, representa o Brasil no Festival Mundial de Arte Negra Senegal-Dakar 12 Idade que inicia na capoeira, na Estrada das Boiadas, com o africano mestre Bentinho, capitão da Cia. de Navegação Bahiana. O grito "Bimba é bamba" surgiu das lutas com praticantes de artes marciais 1930 Abertura da sua academia, a primeira de capoeira na história. O alvará só saiu em 9/7/1937. O filho de Maria Martinha do Bonfim e Luiz Cândido Machado começou a ensinar aos 18 anos Também conhecido como Rei Negro, mestre Bimba nasceu no bairro do Engenho Velho de Brotas Fotos Gildo Lima / Ag. A TARDE MESTRE PASTINHA Vicente Joaquim Ferreira Pastinha 05.04.1889 13.11.1981

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Bimba: mestre educador nato e visionário da capoeira

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SALVADOR SÁBADO 20.11.20106 ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA Ê , CAMARÁ! SALVADOR SÁBADO 20.11.2010 7ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA Ê , CAMARÁ!

PERSISTÊNCIAPraticantes decapoeira desde ainfância, os doismestres fizeramhistória erevolucionaram osestilos que optarampraticar. Pastinhacodificou o queficaria conhecidacomo CapoeiraAngola. Já Bimbacriou a CapoeiraRegional

VIDA EM PROL DAPRESERVAÇÃO EDEFESA DA ARTEDE GINGAR

CAPOEIRA AINDANA INFÂNCIA

Pastinha ainda tinha 10 anose morava na Rua do Tijolo, 2,Centro Histórico, quando umafricano chamado Benedito,após vê-lo tomar uma surrade um garoto, ensinou-lhe aarte da defesa e do ataque

Pastinha : o mestre dosgestos ágeis e da boa prosa

MEIRE OLIVEIRA

A voz mansa, os movimentoságeis com o corpo e longas his-tórias eram os instrumentos detransmissão do conhecimentoque ia além das rodas. O projetode mestre Pastinha consistia nodesenvolvimento pleno do in-divíduo,alémdofortalecimentoe preservação da essência daCapoeira Angola.

Aos discípulos, hoje espalha-dos pelo mundo, pregava que avirtude de um bom capoeiristaera dominar-se para ter controlesobre o oponente. Agregado aisso teria que ser “disfarçado,calculista, ladino, malicioso” pa-ra combater a força de um ad-versário. O princípio básico paraisso era a ginga, um balé suavecombraçosepernas, jogadosdeum lado e outro com aparênciadispersa. O balanço do corpoque ia e voltava em várias di-reções eram estratégicos.

Pastinha distraía, enganava edeixava o adversário vulnerá-vel. Era a forma de estudar ooutro, identificar o ponto fracoe, em seguida, atingi-lo comprecisão. Ou marcar o camaradaonde ele seria tocado e finalizarcom um sorriso exibindo supe-rioridade. Ao mesmo tempo oenfrentamento também era ba-seado na lealdade ao outro eobediência às regras do jogocomo garantia de uma práticauniversal e sem violência. Umseguidor dos ensinamentos dePastinha não provoca briga,mas também não apanha.

A exigência era outra marca docapoeirista que tinha um guar-da-chuva sempre apoiado no bra-ço em tempo de chuva ou sol e oterno branco de linho que per-manecia alvo mesmo após umjogo, pois capoeirista só suja asmãos. Seus alunos não jogavamdescalços ou sem camisa. Todostinham carteirinha e cadastro emum livro de atas, com nomes co-

mo o artista Tom Zé. No uniformedegala–camisaamarelaeacalçade tergal preta – trazia a home-nagemaoYpirangaFutebolClubee, no peito, o desenho bordadoidentificava o olhar do mestre so-bre o estilo de cada aluno.

A receptividade era acompa-nhada de desconfiança. As in-formações eram dosadas e per-sonalizadas de acordo com o cri-vo do mestre para cada aluno. Acondição era o preparo de cadaum para obter determinado co-nhecimento. Pastinha observa-va muito e falava pouco. Os as-suntos eram variados e iam deconselhos aos efeitos medici-nais das folhas.

Mas para ser bom mestre ocaminho era mais longo. Era ne-cessário ser completo "nos fun-damentos do esporte": jogar,cantar, tocar e dominar as re-gras, os rituais de comporta-mento e as artimanhas da ca-poeira. A cobrança não deixoude existir nem no final da vida,quando já debilitado pela ce-gueira continuava a frequentaras aulas. Sentia e consertava omovimento do aluno pelo vultoe, não raro, interrompia a aulaao perceber que qualquer ins-trumento não estava sendo to-cado do jeito que ensinara.

E assim Pastinha seguiu atéque sua condição financeira foipiorando após a deficiência vi-sual. Contou com a ajuda de seusalunos que faziam apresenta-ções e lhe davam a renda e ami-gosquefezaolongodatrajetóriacomo o escritor Jorge Amado, opintor Carybé, dentre outros.Após algumas decepções porconta do mau tratamento rece-bido da sociedade baiana ao fi-nal de uma vida dedicada à ca-poeira, Pastinha morreu comointerno do abrigo D. Pedro II.

FONTES: MESTRES JOÃO GRANDE, JOÃO

PEQUENO, GILDO ALFINETE, CURIÓ, JANJA E

BOLA SETE

Bimba: mestre educador natoe visionário da capoeira

JULIANA BRITO

Manoel dos Reis Machado jánasceu dividindo opiniões. Oapelido Bimba (nome populardo órgão sexual masculino emcrianças)foi frutodeumaapostaentre a mãe e a parteira sobre osexo do bebê. Essa última ga-nhou a disputa e o pequenoManoel um apelido que o acom-panharia pela vida.

Mestre Bimba foi mesmo umprotótipo de virilidade. Alto, for-te e destemido, ficou famoso nacapital baiana pelo carisma quetinha com as mulheres - chegoua manter quatro esposas simul-taneamente – e devido, espe-cialmente, à criação de uma mo-dalidade mais vigorosa de ca-poeira, com golpes mais altos eágeis, que ficou conhecida comocapoeira regional. O métodoainda incluía rituais até entãoinexistentescomoascerimôniasde batismo e de formatura.

A invenção de Bimba gerou, àépoca, críticas de seus pares.Muitos julgaram a luta regionalcomo uma descaracterização dacapoeira. Mas essa não era aúnica polêmica em torno demestre Bimba, que também foiacusado de embranquecer o jo-go criado por negros escravos.“Ele enegreceu o branco”, de-fende o doutorando em HistóriaSocial, Jaime Sodré.

Mesmo com pouca instruçãoe um histórico de trabalhos bra-çais, mestre Bimba destacou-se,paradoxalmente, pela inteli-gência incomum. Os métodosdesenvolvidos para a criação dacapoeira regional até hoje im-pressionam quem os conhece.

O talento visionário do mes-tre também é notório. “Ele é ummodernizador e por isso cria acapoeira regional baiana com onome de luta regional paraadaptá-la à nova era dos espor-tes”, observa o doutor em his-tória, Carlos Eugênio Líbano.

Mas, entre os que conhece-ram o pai da luta regional, acaracterística que mais provocanostalgia é a sua verve nata deeducador. Apesar de reservado,o capoeirista sempre tinha umconselho para oferecer a quemo procurasse. O mestre tambémadorava citar máximas popula-res, a fim de transmitir lições devida a seus discípulos.

Na roda e em casa, o ex-es-tivador era rígido quanto aosestudos dos jovens. MarinalvaNascimento Machado, a Nalvi-nha, e o irmão, Manoel Nas-cimento Machado, o mestre Ne-nel, são dois dos 12 filhos docapoeirista. A imagem queguardam de Bimba é de um paicarinhoso. “A melhor recorda-ção que tenho é da nossa in-fância, quando chegava do tra-balho e brincava bastante com agente”, lembra Nalvinha.

Adespeitodetersidoumexímiolutador, mestre Bimba detestavadesordem. Não estimulava seusalunos a briga, que considerava“coisa de otário”. Mas era enfáticosobrea importânciadeestaralertaà presença inimiga. Uma das téc-nicas que desenvolveu, neste sen-tido, foi a emboscada.

Ironicamente, a única embos-cadaaqualomestresucumbiufoifatal, criada pelo seu próprio or-gulho. Desiludido com a falta dereconhecimento na Bahia e aomesmotempodeslumbradocomo tratamento que recebera emviagem a Goiânia, decidiu mu-dar-se para a capital de Goiás em1972. Em pouco tempo percebeuque fora iludido, mas não estavadispostoadarobraçoatorcer.“Senão gozar nada em Goiânia, vougozar do cemitério", dizia. A pro-fecia cumpriu-se em 5 de feve-reiro de 1974, quando mestreBimba “morreu de banzo”.

FONTES: JAIME SODRÉ, CARLOS EUGÊNIO

LÍBANO, MARINALVA NASCIMENTO MACHADO

E MESTRE NENEL

ESPORTE NACIONAL

Em 23 de julho de 1953,mestre Bimba écumprimentado no Paláciodo Governo pelo entãopresidente da RepúblicaGetúlio Vargas, que declara:“A capoeira é o único esporteverdadeiramente nacional”

Apersistência em defen-der sua arte e a falta dereconhecimento no fi-nal da vida une as his-tórias das maiores re-

ferências da capoeira: mestresPastinha e Bimba.

O primeiro optou por preser-var os conhecimentos que ob-teve, desde o início da prática, efoi responsável por instituir re-gras que formalizaram o ensino.Defendia o jogo rasteiro e ma-licioso dos seus antepassados.

O segundo, também com amesma formação, preferiu ino-var. Reuniu golpes de outras lu-tas e criou outro estilo: a re-gional. Sua ousadia já lhe ren-deu o título póstumo de doutorhonoris causa da Ufba, pelos

serviços prestados à culturabaiana. No entanto, eles nãocolheram frutos do legado quedeixaram. Considerados refe-rência nos caminhos que trilha-ram, ambos terminaram a vidasem o devido reconhecimento.

VIDA DEDICADA ÀCARREIRA ARTÍSTICA

Aprendeu música e pinturana Escola de Aprendizes deMarinheiro, onde ficou dos 12aos 20 anos. Nunca deixou depintar e escrever poesias. Seupassatempo predileto erauma rodada de dominó

SEMPRE ALERTA

Ao encontrar com Bimba emum elevador, um ex-aluno foirepreendido por entrar nolocal sem averiguar quemestava atrás. "Você gastou oseu dinheiro à toa, pois já vique não aprendeu nadacomigo", resmungou

AUTOR DESCONHECIDO

“Coração batemais forteQue deixa marcalevarBerimbau bemamarradoDe beriba preparaCom doispandeiros decouroDe pele bemesticadaÉ roda de regionalCom três palmasbem marcadasCamará..aguá debebê (Êêêê aguáde bebê, camará)Ê aruande (Êêêêaruande, camará)Olha Bimba deusdo céu (ÊêêêBimba deus docéu, camará)Iê viva meumestre (Êêêê vivameu mestre,camará)”

GLOSSÁRIO

CANTO AMARRADO Canto lento,monótonoCAPOEIRA SOLTEIRO Só joga. Nãotoca berimbau nem canta

CANTIGA

Vamos ao nosso próximoícone, o Mestre Bimba: “Éna Palma de Bimba, é 1,2,3,é na palma de Bimba, é1,2,3...”. Vamos incentivaruma viagem dos nossos alu-nos pelo universo do mestreque criou a chamada Ca-poeira Regional.Que tal uma peça teatralsobre a vida, o estilo e asbiografias dos seus mais fa-mosos discípulos? O perfiltraçado por esta matéria nosauxilia na composição.Claro que precisaremos deuma pesquisa ampla sobreas peculiaridades do tema. ACapoeira Regional de Bimbaé uma das responsáveis pelocrescente número de adep-tos e difusão mundial.Vamos nos debruçar sobre aCapoeira Regional: o que é?Qual é o seu ritmo? Quais osseus cantos e golpes? Quaissão as suas principais di-ferenças em relação à Ca-poeira Regional?A turma poderá navegar, in-vestigar, criar, atuar e de-senvolver o seu projeto deapresentação por meio des-sa linguagem artística cha-mada teatro.Os professores de história,português, artes e educaçãofísica poderão fazer uma be-la parceria para desenvolvero projeto. Valem visitas aacademias que praticam aCapoeira Regional e convitea mestres da modalidadepara discutir o assunto. Obate-papo pode ser numaacademia para torná-lo ain-da mais interessante. Em se-guida, é partir para a mon-tagem do espetáculo commuita criatividade.

PARA SABER MAIS

Mestre Bimba – A capoeirailuminada (Luiz FernandoGoulart, 2005)

Mestre Bimba – Corpo demandinga (Muniz Sodré,2002)

PARA USAR NA ESCOLA

MESTRE PASTINHA

“Na minhaacademia tenho“dois menino”Todos dois sechama JoãoUm é cobra mansaE o outro é gaviãoQuando um anda“pelos ar”O outro se enroscapelo chão,camaradinha”

“Bahia, minhaBahia,Bahia do Salvador,Quem não conheceCapoeira,Não lhe pode darvalor.Todos podemaprender,General e atéDoutor,Mas, p’ra isso énecessário,Procurar umProfessor”

GLOSSÁRIO

MANDINGUEIRO Capoeiristaladino, cheio de negaças e truquesCAMA DE GATO Armadilha ou tocaiapara outro capoeirista

CANTIGA

As aulas de artes poderãonão ser mais as mesmas.Vamos preparar um docu-mentário sobre a vida dessemestre? Só o projeto de pes-quisa é suficiente para ani-mar a turma e exercitar vá-rias linguagens. A ideia éapropriada para turmas do1º ano do ensino médio.Uma questão que pode di-recionar o projeto é a prin-cipal característica da Ca-poeira Angola.O primeiro capítulo dessahistória é a vida de mestrePastinha. Os alunos podemrealizar entrevistas com fa-miliares e seus discípulos.Uma aula interativa e in-teressante é a visita a al-guma associação de Capoei-ra Angola, onde os alunosvão tentar identificar os ele-mentos que caracterizam es-te estilo – o ritmo, os cantos,os instrumentos, os golpes,enfim, os seus símbolos.A partir daí, a tecnologiaserá uma grande aliada. Deposse do material de pe-quisa, vamos aos laborató-rios de informática e esti-mular que os alunos deemasas ao uso da criatividade.Dividida em grupos, a turmadeve começar a planejar co-mo será formatado o do-cumentário. O tipo de nar-rativa pode ser uma pontepara as aulas de português.É necessário também indicarquem vai fazer parte da pro-dução, roteiro e direção. Osalunos podem também de-cidir se irão ter intérpretespara os personagens. A es-colha dos papéis, por exem-plo, já é garantia de umadivertida sessão.

PARA SABER MAIS

Capoeira Angola (MestrePastinha , 1988)

Pastinha! Uma vida pelacapoeira (Antônio CarlosMuricy, 1998)

Site Portal da Capoeirahttp://portalcapoeira.com

PARA USAR NA ESCOLA

MESTRE BIMBAManoel dos Reis Machado

23.11.1899

05.02.1974

DISCÍPULO ACERVOACERVO CARINHO

Em manuscritos,mestre Pastinhadeixou ensinamentossobre sua arte.Objetos pessoais dele,como o passaporte,bengala, dentreoutros, pertencem aodiscípulo, mestre GildoAlfinete

“Guardo alembrança deum pai muitocarinhoso”

MESTRE NENEL, um dos 12 filhosbiológicos de mestre Bimba, ocriador da capoeira regional

“Ele pediu paraeu tomar contada capoeira parao nome dele nãodesaparecer”MESTRE JOÃO PEQUENO DEPASTINHA

O berimbau foi feitopelo mestre Bimba. Ofacão, de acordo como seu filho Nenel, erautilizado na confecçãodos instrumentos enas aulas do curso deespecialização queengloba o manuseiode armas

MARTELOCAPOEIRA REGIONAL

CHAMADA DE FRENTECAPOEIRA ANGOLA

1968Publica o livro CapoeiraAngola, onde defende ocaráter não violento do jogo.Filiação: José Señor Pastinha(comerciante) e EugêniaMaria de Carvalho (baiana deacarajé e lavadeira)

Também trabalhoude engraxate,gazeteiro,garimpeiro eoperário no Portode Salvador

1941Funda o Centro esportivo deCapoeira Angola. Em 1966,a convite do Ministério dasRelações Exteriores,representa o Brasil no FestivalMundial de Arte NegraSenegal-Dakar

12Idade que inicia na capoeira,na Estrada das Boiadas, como africano mestre Bentinho,capitão da Cia. de NavegaçãoBahiana. O grito "Bimba ébamba" surgiu das lutas compraticantes de artes marciais

1930Abertura da sua academia,a primeira de capoeira nahistória. O alvará só saiu em9/7/1937. O filho de MariaMartinha do Bonfim e LuizCândido Machado começou aensinar aos 18 anos

Também conhecidocomo Rei Negro,mestre Bimbanasceu no bairrodo Engenho Velhode Brotas

Fotos Gildo Lima / Ag. A TARDE

MESTRE PASTINHAVicente Joaquim Ferreira Pastinha

05.04.1889

13.11.1981

SALVADOR SÁBADO 20.11.2010 7ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA Ê , CAMARÁ!

VIDA EM PROL DAPRESERVAÇÃO EDEFESA DA ARTEDE GINGAR

Bimba: mestre educador natoe visionário da capoeira

JULIANA BRITO

Manoel dos Reis Machado jánasceu dividindo opiniões. Oapelido Bimba (nome populardo órgão sexual masculino emcrianças)foi frutodeumaapostaentre a mãe e a parteira sobre osexo do bebê. Essa última ga-nhou a disputa e o pequenoManoel um apelido que o acom-panharia pela vida.

Mestre Bimba foi mesmo umprotótipo de virilidade. Alto, for-te e destemido, ficou famoso nacapital baiana pelo carisma quetinha com as mulheres - chegoua manter quatro esposas simul-taneamente – e devido, espe-cialmente, à criação de uma mo-dalidade mais vigorosa de ca-poeira, com golpes mais altos eágeis, que ficou conhecida comocapoeira regional. O métodoainda incluía rituais até entãoinexistentescomoascerimôniasde batismo e de formatura.

A invenção de Bimba gerou, àépoca, críticas de seus pares.Muitos julgaram a luta regionalcomo uma descaracterização dacapoeira. Mas essa não era aúnica polêmica em torno demestre Bimba, que também foiacusado de embranquecer o jo-go criado por negros escravos.“Ele enegreceu o branco”, de-fende o doutorando em HistóriaSocial, Jaime Sodré.

Mesmo com pouca instruçãoe um histórico de trabalhos bra-çais, mestre Bimba destacou-se,paradoxalmente, pela inteli-gência incomum. Os métodosdesenvolvidos para a criação dacapoeira regional até hoje im-pressionam quem os conhece.

O talento visionário do mes-tre também é notório. “Ele é ummodernizador e por isso cria acapoeira regional baiana com onome de luta regional paraadaptá-la à nova era dos espor-tes”, observa o doutor em his-tória, Carlos Eugênio Líbano.

Mas, entre os que conhece-ram o pai da luta regional, acaracterística que mais provocanostalgia é a sua verve nata deeducador. Apesar de reservado,o capoeirista sempre tinha umconselho para oferecer a quemo procurasse. O mestre tambémadorava citar máximas popula-res, a fim de transmitir lições devida a seus discípulos.

Na roda e em casa, o ex-es-tivador era rígido quanto aosestudos dos jovens. MarinalvaNascimento Machado, a Nalvi-nha, e o irmão, Manoel Nas-cimento Machado, o mestre Ne-nel, são dois dos 12 filhos docapoeirista. A imagem queguardam de Bimba é de um paicarinhoso. “A melhor recorda-ção que tenho é da nossa in-fância, quando chegava do tra-balho e brincava bastante com agente”, lembra Nalvinha.

Adespeitodetersidoumexímiolutador, mestre Bimba detestavadesordem. Não estimulava seusalunos a briga, que considerava“coisa de otário”. Mas era enfáticosobrea importânciadeestaralertaà presença inimiga. Uma das téc-nicas que desenvolveu, neste sen-tido, foi a emboscada.

Ironicamente, a única embos-cadaaqualomestresucumbiufoifatal, criada pelo seu próprio or-gulho. Desiludido com a falta dereconhecimento na Bahia e aomesmotempodeslumbradocomo tratamento que recebera emviagem a Goiânia, decidiu mu-dar-se para a capital de Goiás em1972. Em pouco tempo percebeuque fora iludido, mas não estavadispostoadarobraçoatorcer.“Senão gozar nada em Goiânia, vougozar do cemitério", dizia. A pro-fecia cumpriu-se em 5 de feve-reiro de 1974, quando mestreBimba “morreu de banzo”.

FONTES: JAIME SODRÉ, CARLOS EUGÊNIO

LÍBANO, MARINALVA NASCIMENTO MACHADO

E MESTRE NENEL

ESPORTE NACIONAL

Em 23 de julho de 1953,mestre Bimba écumprimentado no Paláciodo Governo pelo entãopresidente da RepúblicaGetúlio Vargas, que declara:“A capoeira é o único esporteverdadeiramente nacional”

O segundo, também com amesma formação, preferiu ino-var. Reuniu golpes de outras lu-tas e criou outro estilo: a re-gional. Sua ousadia já lhe ren-deu o título póstumo de doutorhonoris causa da Ufba, pelos

serviços prestados à culturabaiana. No entanto, eles nãocolheram frutos do legado quedeixaram. Considerados refe-rência nos caminhos que trilha-ram, ambos terminaram a vidasem o devido reconhecimento.

SEMPRE ALERTA

Ao encontrar com Bimba emum elevador, um ex-aluno foirepreendido por entrar nolocal sem averiguar quemestava atrás. "Você gastou oseu dinheiro à toa, pois já vique não aprendeu nadacomigo", resmungou

AUTOR DESCONHECIDO

“Coração batemais forteQue deixa marcalevarBerimbau bemamarradoDe beriba preparaCom doispandeiros decouroDe pele bemesticadaÉ roda de regionalCom três palmasbem marcadasCamará..aguá debebê (Êêêê aguáde bebê, camará)Ê aruande (Êêêêaruande, camará)Olha Bimba deusdo céu (ÊêêêBimba deus docéu, camará)Iê viva meumestre (Êêêê vivameu mestre,camará)”

GLOSSÁRIO

CANTO AMARRADO Canto lento,monótonoCAPOEIRA SOLTEIRO Só joga. Nãotoca berimbau nem canta

CANTIGA

Vamos ao nosso próximoícone, o Mestre Bimba: “Éna Palma de Bimba, é 1,2,3,é na palma de Bimba, é1,2,3...”. Vamos incentivaruma viagem dos nossos alu-nos pelo universo do mestreque criou a chamada Ca-poeira Regional.Que tal uma peça teatralsobre a vida, o estilo e asbiografias dos seus mais fa-mosos discípulos? O perfiltraçado por esta matéria nosauxilia na composição.Claro que precisaremos deuma pesquisa ampla sobreas peculiaridades do tema. ACapoeira Regional de Bimbaé uma das responsáveis pelocrescente número de adep-tos e difusão mundial.Vamos nos debruçar sobre aCapoeira Regional: o que é?Qual é o seu ritmo? Quais osseus cantos e golpes? Quaissão as suas principais di-ferenças em relação à Ca-poeira Regional?A turma poderá navegar, in-vestigar, criar, atuar e de-senvolver o seu projeto deapresentação por meio des-sa linguagem artística cha-mada teatro.Os professores de história,português, artes e educaçãofísica poderão fazer uma be-la parceria para desenvolvero projeto. Valem visitas aacademias que praticam aCapoeira Regional e convitea mestres da modalidadepara discutir o assunto. Obate-papo pode ser numaacademia para torná-lo ain-da mais interessante. Em se-guida, é partir para a mon-tagem do espetáculo commuita criatividade.

PARA SABER MAIS

Mestre Bimba – A capoeirailuminada (Luiz FernandoGoulart, 2005)

Mestre Bimba – Corpo demandinga (Muniz Sodré,2002)

PARA USAR NA ESCOLA

MESTRE BIMBAManoel dos Reis Machado

23.11.1899

05.02.1974

ACERVO CARINHO

Em manuscritos,mestre Pastinhadeixou ensinamentossobre sua arte.Objetos pessoais dele,como o passaporte,bengala, dentreoutros, pertencem aodiscípulo, mestre GildoAlfinete

“Guardo alembrança deum pai muitocarinhoso”

MESTRE NENEL, um dos 12 filhosbiológicos de mestre Bimba, ocriador da capoeira regional

O berimbau foi feitopelo mestre Bimba. Ofacão, de acordo como seu filho Nenel, erautilizado na confecçãodos instrumentos enas aulas do curso deespecialização queengloba o manuseiode armas

MARTELOCAPOEIRA REGIONAL

12Idade que inicia na capoeira,na Estrada das Boiadas, como africano mestre Bentinho,capitão da Cia. de NavegaçãoBahiana. O grito "Bimba ébamba" surgiu das lutas compraticantes de artes marciais

1930Abertura da sua academia,a primeira de capoeira nahistória. O alvará só saiu em9/7/1937. O filho de MariaMartinha do Bonfim e LuizCândido Machado começou aensinar aos 18 anos

Também conhecidocomo Rei Negro,mestre Bimbanasceu no bairrodo Engenho Velhode Brotas

Fotos Gildo Lima / Ag. A TARDE