VERSÃO PRELIMINAR – não circular

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12 o Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política 19 a 23 de Outubro de 2020 Evento Online Área Temática – Comportamento Político VOTO EVANGÉLICO? O EFEITO DA RELIGIÃO NAS DISPUTAS PRESIDENCIAIS (2002-2018) Marcela Tanaka Unicamp [email protected] VERSÃO PRELIMINAR – não circular 1

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12o Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política

19 a 23 de Outubro de 2020

Evento Online

Área Temática – Comportamento Político

VOTO EVANGÉLICO?

O EFEITO DA RELIGIÃO NAS DISPUTAS PRESIDENCIAIS (2002-2018)

Marcela Tanaka

Unicamp

[email protected]

VERSÃO PRELIMINAR – não circular

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Resumo

O objetivo deste artigo é colocar em xeque a visão unitarista da existência de um votoevangélico. Argumentamos que existe diferença entre os evangélicos e que, quandocontrolados pela ideologia, o efeito é diferente no resultado das eleições presidenciais.Utilizando regressões logísticas binárias a partir dos dados dos ESEBs 2002 a 2018,encontramos que quando o eleitor se diz da religião evangélica as chances dele escolherum candidato conservador aumentam, mas que se declarar evangélico e conservadortornam essas chances ainda maiores. Isto é, mostramos que a religião evangélica importapara a escolha do candidato à presidência, mas que ela varia conforme o posicionamentodesse mesmo eleitor na escala esquerda-direita. Assim, discutimos a importância de se atermais detalhadamente quando o objeto de estudo é a religião na política, sobretudo aevangélica, cuja diversidade interna impacta no comportamento eleitoral de seus fiéis.

Palavras-chave: evangélicos, comportamento eleitoral, religião e política, conservadorismo.

Abstract

The main goal of this paper is to question the view about the existence of an evangelicalvote. We argue that there is a difference among evangelicals and that when their ideology istaken into account, the effect of being religious changes their presidential candidate choice.Using binary logistic regressions upon ESEBs database from 2002 to 2018, we find thatwhen the voter professes an evangelical religion the odds that he would choose aconservative candidate increases, but when the voter declares being evangelical andconservative these odds go even higher. This is, we show that being evangelical matters tochoosing the presidential candidate, but it varies according to the voter’s position at the left-right scale. Therefore, we discuss the importance of understanding in detail when the objectis the religion in the politics, overall the evangelical one, whose internal diversity affects thevoting behavior of its believers.

Key words: evangelicals, voting behavior, religion and politics, conservatism.

Introdução

Em entrevista ao jornalista Marcos Augusto Gonçalves, no podcast da Ilustríssima da

Folha de São Paulo1, o Pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho, afirma: “eu

reconheço que existe um apoio majoritário dentro do campo evangélico ao presidente

Bolsonaro, reconheço que existem setores evangélicos hoje com muito poder político,

midiático e econômico e que esses setores são muito conservadores com uma agenda ultra

violenta com relação a democracia, diversidade e Direitos Humanos. Reconheço também

que o campo evangélico é plural, que existe uma tradição evangélica progressista, que

minha fala não é um voo solo, não é uma fala descolada de uma fala protestante

progressista”. Em outra oportunidade, o pastor chega a afirmar que “se cairmos na ladainha

de que todo evangélico é conservador, entregamos de bandeja o futuro do nosso País nas

1 Disponível em: https://open.spotify.com/episode/7Hz53YFiCvNhiFiro3TTGQ (Acesso em 28/09/2020)

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mãos dos coronéis da fé. (…) Se Malafaia é evangélico, Martin Luther King também era”2. O

pastor em questão é expoente de um movimento pouco estudado em relação ao campo

evangélico, que é o campo progressista. Filiado ao Partido Socialista e Liberdade (PSOL),

Pastor Henrique Vieira se coloca em disputa no campo político em oposição a membros

também de sua religião. No Rio de Janeiro, Henrique Vieira chama Marcelo Crivella, Prefeito

da cidade e ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, de coronel da fé e vendilhão do

templo3. Para além dele, movimentos como, por exemplo, a Frente de Evangélicos pelo

Estado de Direito rebatem o rótulo conservador que, por muitas vezes, é associado

irredutivelmente à sua religião. Os pequenos trechos expostos levantam a questão a ser

explorada neste artigo: ser evangélico, em oposição a outra religião qualquer e similar em

outras características, torna esse eleitor mais inclinado a votar de uma forma específica?4

Se é verdade que 92,7% da bancada evangélica eleita em 2018 está em partidos

que estão do centro à direita do espectro político, também é verdade que existe uma parcela

de 7,3% de deputados federais evangélicos que estão do centro à esquerda do espectro5.

Assim, o conservadorismo evangélico é, de fato, majoritário, mas passa longe de ser

unânime. O debate da literatura põe no centro gravitacional o protagonismo dos evangélicos

a partir da ótica do conservadorismo (ALMEIDA, 2017, 2019; BOHN, 2004, 2007;

LACERDA, 2018). Ao passo que também admite que existe uma diversidade

denominacional e estrutural evangélica que deve ser levada em consideração (ALENCAR,

2013; RODRIGUES-SILVEIRA; CERVI, 2019). Nosso artigo propõe desviar o olhar deste

centro gravitacional e explorar qual o impacto da religião evangélica nas eleições

presidenciais brasileiras, levando em consideração as diferenças internas do segmento

evangélico. Assim, nosso artigo coloca em xeque a visão unitarista do evangelismo

brasileiro.

Não é novidade a intersecção entre religião e política no Brasil. A própria construção

e desenvolvimento do Estado brasileiro esteve fortemente associada ao cristianismo, com

grande influência da Igreja Católica. Velho (1995), afirma que no cerne da sociedade

brasileira está uma “cultura cristã bíblica”, que pressupõe a presença de elementos da fé

cristã difundidos ao longo da sociedade, presente nos espaços e debates públicos. Contudo,

o crescimento evangélico e, sobretudo, pentecostal na sociedade e na arena política trouxe

um novo ator para o centro da discussão sobre participação nas esferas de deliberação. O

aumento sistemático da presença de parlamentares nas câmaras representativas desde a

2 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=m6XVzQwmKLU (Acesso e 28/09/2020)3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Jj0dbE_1S3A (Acesso em 29/09/2020)4 Agradeço especialmente ao Professor Taylor Boas (CAS/Boston University) pela contribuição nesse debate.5 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar

(DIAP).

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Constituinte de 1988 fez com que os olhares se voltassem ao perfil socioeconômico,

demográfico e partidário desses atores.

O debate se coloca, a princípio em duas chaves: de um lado a explicação do “voto

evangélico” e do outro a preocupação com a secularização e a laicidade do Estado a partir

da presença de atores religiosos na arena pública. Nosso artigo se coloca no meio desse

debate, mostrando que o voto evangélico, como compreendido por boa parte da literatura,

não leva em consideração a diversidade interna evangélica e que a presença de

parlamentares religiosos na esfera pública não é um sintoma de dessecularização. Aqui,

buscamos identificar que há diferença entre ser evangélico e ser um evangélico conservador

na escolha eleitoral.

Nossas análises são exploratórias e descritivas e tem como dados as cinco ondas do

Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB), feitas pelo Centro de Estudos de Opinião Pública

(CESOP/Unicamp) e nossa metodologia é quantitativa. Nossa variável dependente é uma

dummy entre candidato Conservador e Progressista no segunto turno das eleições

presidenciais brasileiras de 2002 a 2018. São três as variáveis independentes: a religião do

eleitor entrevistado (evangélico e não-evangélico), auto-localização do eleitor no espectro

ideológico (conservador e não conservador) e evangélicos conservadores versus todos os

outros; também controlamos os resultados por Raça, Escolaridade e Sexo. Os resultados

mostram que ser evangélico, independentemente da posição ideológica, implica mais

chances de escolha de candidatos conservadores. Da mesma forma, declarar-se evangélico

e conservador ampliam ainda mais essas chances. Os resultados serão discutidos em maior

detalhe nas seções adiante.

Evangélicos na política

O movimento de expansão do pentecostalismo brasileiro não se restringe ao caso

nacional. O seu desenvolvimento tem raiz norte-americana e se expandiu para o Brasil e

América Latina desde o início do século XX (ALENCAR, 2013; TANAKA, 2018). A despeito

de nosso trabalho ser um estudo de caso sobre o Brasil, é importante que não se perca de

vista que o processo histórico e social que o pentecostalismo está inserido pode ser

comparado internacionalmente, sobretudo na América Latina, onde foram capazes de

angariar uma influência desproporcional às outras religiões (BOAS; SMITH, 2015).

Comparativamente, a incursão dos evangélicos na América Latina compreende processos

singulares em suas unidades, contudo, todos eles partem de uma alteração do status dos

evangélicos que deixam de ser minoria perseguida, de fato e juridicamente, e passam a ser

um broker e aliado político importante (BOAS, 2020; CAMURÇA, 2020; LOPES JR, 2020).

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Há também a importante contribuição de uma nova interpretação teológica sobre a

construção do Reino de Deus na Terra, que deixa de lado a concepção ascética em relação

ao mundo e se coloca disponível para o engajamento político. Esse processo se deu em

grande medida pelo engajamento do clero (neo)pentecostal latinoamericano tais como

Humberto Lay e Julio Rosas no Peru, Efraín Rios Montt na Guatemala, Salvador Pino

Bustos no Chile, os líderes da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil e quase todos os

políticos evangélicos na Colômbia (BOAS, 2019; ORO, 2003). O papel do clero para os

processos políticos e o comportamento eleitoral dos fiéis será tratado mais a frente neste

trabalho.

Em todo caso, parte significante dos estudos sobre os evangélicos no Brasil partem

da preocupação sobre a forma e a maneira que os evangélicos se comportariam nas

eleições presidenciais, investigando o seu impacto, potencial homogeneidade de formação

de grupos e identidades (BOHN, 2007; CARREIRÃO, 2004). Os resultados para as eleições

federais de 2002, 2010, 2014 e 2018 são especialmente interessantes pois estavam na

disputa pelo menos um candidato evangélico à Presidência da República. Em 2002, o

candidato era Anthony Garotinho (PSB), em 2010 e 2014 a principal concorrente evangélica

era Marina Silva (PV e PSB, respectivamente) e em 2018 dois novos nomes aparecem além

de Marina Silva (agora filiada à REDE): Cabo Daciolo (PATRI) e Jair Bolsonaro (PSL/Sem

partido). O primeiro é pastor e ganhou expressividade na disputa eleitoral por mobilizar o

conteúdo do sagrado no debate público. O segundo, a despeito de não ser assumidamente

evangélico, autodenominando-se apenas como cristão, chegou a ser batizado no Rio Jordão

em Israel, em 2016, para além da sinalização constante de proximidade com o setor

evangélico organizado.

O que esses cenários mostram é a presença sistemática de atores políticos

evangélicos, ou ligados ao pentecostalismo, na disputa do maior cargo eletivo do país,

chegando inclusive à presidência em 2018. Alguns trabalhos que buscam compreender as

eleições para a presidência da república nestes anos ressaltam a importância da variável

religião para se compreender o resultado eleitoral (AMARAL, 2019; ARQUER; TANAKA,

2016; MARIANO; ORO, 2011; PEIXOTO; RENNÓ, 2011; PIERUCCI, 2011). Contudo, outros

trabalhos buscaram compreender a relação entre religião e política em outros níveis de

competição, indo do município à unidade federativa estadual (BORGES, 2007;

RODRIGUES; FUKS, 2015; RODRIGUES-SILVEIRA; CERVI, 2019; TANAKA, 2018). Outros,

por sua vez, buscam compreender dimensões distintas dessa relação, tais como o papel

central das lideranças, o culto a personalidade, a organização eclesial, o uso estratégico de

mídias, o financiamento de campanha e o papel dos cabos eleitorais religiosos (ALMEIDA;

5

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PEIXOTO, 2017; BOAS, 2005, 2012; BOAS; HIDALGO, 2011; CERQUEIRA, 2017;

DENSON, 2011; FRESTON, 2001; GONTIJO, 2019; LACERDA, 2017, 2018; NETTO, 2016;

ORO, 2003; SMIDT et al., 2005; VALLE, 2013).

Todavia, nestes trabalhos, os evangélicos são tidos como uma unidade quase

indistinguível entre si. Ou seja, quando se argumenta, por exemplo, que os evangélicos são

menos escolarizados, mais periféricos e com menor renda (BOHN, 2007), ainda que em

média seja uma afirmação verdadeira, não se faz a necessária distinção entre eles. Assim, o

que boa parte da literatura têm discutido é o efeito médio da religião nos resultados políticos,

e não o efeito potencialmente condicional da religião, o que é o interesse deste trabalho.

Não cabe no mérito deste artigo discutir as diferenças denominacionais, das quais parte dos

trabalhos citados acima tratam. Nosso objetivo é compreender as diferenças de

comportamento político e eleitoral deste segmento. Isto porque os trabalhos que se

concentram na explicação do voto dos candidatos vencedores dos pleitos presidenciais se

concentram em uma ampla gama de variáveis que explique as razões e determinantes do

voto. O que significa que, em geral, a religião entra como uma das variáveis explicativas do

voto no Presidente A, B, ou C no ano X, Y ou Z. Aqui, nosso objetivo é discutir, tendo como

universo de análise as eleições presidenciais, de que maneira o eleitor evangélico se

posiciona enquanto evangélico e quando se posiciona na escala esquerda-direita do

espectro político. Ou seja, buscamos ir além da sentença de que “religião importa”, para

compreender de que forma ela importa e para quem.

Ou seja, não é novo que a religião figure como variável significativa nos modelos

apresentados pelas autoras e autores. Em 2002, quando Anthony Garotinho (PSB) foi

candidato à presidência, Bohn (2004) afirma que a maioria dos evangélicos votou no

candidato. No segundo turno, mais de 60% deles haviam escolhido Lula (PT) ao invés de

José Serra (PSDB). Em 2006, a mesma autora investiga como foi o comportamento do

eleitorado evangélico para a Presidência, agora sem um candidato identificado como

evangélico e argumenta que não houve “uniformidade detectável no voto do segmento

evangélico” (BOHN, 2007, p. 374). Para as eleições de 2010, Mariano e Oro (2011), Rennó

e Ames (2014), Peixoto e Rennó (2011) e Nicolau (2014) mostram que a mobilização da

identidade assembleiana de Marina Silva (PV) teria sido fundamental para angariar os votos

desse segmento no primeiro turno das eleições. Os resultados desses autores são

corroborados por Arquer e Tanaka (2016) que encontram que se declarar evangélico

aumentava, em 2010, em 65% a chance de escolher Marina Silva do que Dilma Rousseff

(PT) e em 45% em José Serra (PSDB) em relação aos católicos. O mesmo acontece em

2014, quando as autoras mostram que ser evangélico aumentava em 76% a chance de

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escolher Marina Silva (PSB) do que Dilma (PT) e 62% do que Aécio Neves (PSDB) em

relação aos católicos. Por fim, Amaral (2019) mostra que ser de religião evangélica

aumenta em duas vezes a chance de escolha em Jair Bolsonaro (PSL) em comparação a

Fernando Haddad (PT) quando a categoria de referência são os católicos.

O que nosso artigo inova em relação aos anteriores é quando busca entender que,

tomado o segundo turno das eleições presidenciais, qual o efeito de ser evangélico em

relação às demais religiões ao longo do tempo? Ser evangélico importa da mesma maneira

em todos os pleitos? Há uma sincronicidade entre ser evangélico e ser conservador, ou ser

conservador é uma outra forma de escolher um candidato? Assim, nossa hipótese geral é

que diante de uma escolha forçada entre dois candidatos, ser evangélico importa mais nas

chances de escolher um conservador do que um progressista se comparado aos demais

eleitores. Especificamente buscamos testar as três hipóteses descritas abaixo.

H1: O eleitor evangélico tem mais chances de escolher um candidato conservador

quando comparado aos eleitores de outras religiões.

H2: O eleitor conservador tem mais chances de escolher um candidato conservador,

independentemente da religião, quando comparado ao eleitor não-conservador.

H3: Ser evangélico e conservador aumenta ainda mais as chances de escolha de um

candidato conservador em relação às outras duas categorias separadamente.

Metodologia6

Utilizamos as cinco ondas do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) como fonte de

dados. Assim, trabalhamos com os anos de 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018. Esse conjunto é

interessante porque compreende eleições das quais há variação substancial do resultado da

participação de candidatos evangélicos, ao mesmo tempo em que há regularidade na

disputa do segundo turno no qual o Partido dos Trabalhadores (PT) é o ator constante no

setor progressista. Por outro lado se até 2014 o Partido da Social Democracia Brasileira

(PSDB) era o desafiante, em 2018 há uma alteração e o desafiante passa a ser o Partido

Social Liberal (PSL). Para além disso, é um conjunto de dados que permite a compreensão

da movimentação do eleitorado evangélico ao longo do tempo, dado que em 2002, 2006,

2010 e 2014 a vitória da presidência foi do candidato progressista e em 2018 quem levou a

cadeira foi o lado oposto do espectro7.

6 Dados compilados e trabalhados por meio do R. Materiais de replicação e códigos abertos estão disponíveis via requerimento no e-mail: [email protected]

7 Agradeço especialmente ao Dr. Vitor Vasquez (DCP/Unicamp) pelos comentários e contribuições ao debate metodológico.

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A Tabela 1 abaixo contém as variáveis utilizadas nos modelos, suas recodificações e

o valor assumido. Nossa variável dependente é uma dummy do voto no candidato do

segundo turno das eleições presidenciais para todos os anos. Optamos pela escolha do

segundo turno por duas razões: a primeira é de ordem racional. Isto é, quando a escolha é

necessariamente entre duas opções, muitas vezes o eleitor é forçado a fazer uma escolha

sub-ótima, do qual terá que se orientar por atalhos cognitivos, já que é possível que nenhum

dos dois candidatos seja sua primeira escolha. A segunda razão é porque no segundo turno

há muito a se ganhar ou perder, ou seja, espera-se que o eleitor escolha o candidato que

melhor represente seus interesses, dado que, se vencedor, leva tudo (winner takes it all),

além disso, o segundo turno presidencial aconteceu em todas as eleições pós-

redemocratização no Brasil.

Assim, separamos a variável dependente entre conservadores e progressistas.

Sabemos que entre os dois extremos existe uma escala, não uma dicotomia, entretanto,

optamos por separar como Conservador quando o partido do candidato foi classificado do

centro à direita. O candidato foi classificado como Progressista quando o seu partido foi

classificado do centro a esquerda, segundo o Brazil Legislative Survey (BLS) (POWER;

RODRIGUES-SILVEIRA, 2019). Portanto, quando o eleitor escolheu entre PSDB ou PSL, a

variável assumiu valor 1 (Voto Conservador) e quando escolheu o PT a variável assumiu

valor 0 (Voto Progressista).

Tabela 1 – Recodificações das variáveis utilizadas nos Modelos de Regressão Logística

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Variável Dependente

Conservador 1

Progressista 0

Variáveis Independentes

ReligiãoEvangélico 1

Não evangélico 0

Ideologia do eleitorConservador 1

Não conservador 0

EvangélicosConservador 1

Não conservador 0

Não EvangélicosConservador 1

Não conservador 0Sim 1Não 0

Variáveis de Controle

Raça/CorBranco 1

Não branco 0

Escolaridade

0Ensino Fundamental completo 1

Ensino Médio completo 2Ensino Superior ou mais 3

SexoMasculino 0Feminino 1

Voto no candidato (2Turno)

Evangélico Conservador

Até 4a série do Fundamental

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As variáveis independentes também foram transformadas em dummies e pensadas

em termos experimentais. Isto é, se pudéssemos ter grupos de controle e tratamento feitos

previamente à realização do survey. Assim, buscamos comparar os efeitos apenas da

religião evangélica, portanto, Evangélicos (que assumi valor 1) versus Não-Evangélicos

(valor 0). Depois, apenas os efeitos do auto-posicionamento ideológico do eleitor:

Conservador (valor 1) são aqueles que se deram nota 7 a 10 na escala que varia de 0 a 10

e Não-Conservador (valor 0) são aqueles que se deram nota 0 a 6 na mesma escala. Por

fim, buscando compreender a interação entre religião e ideologia, separamos os

Evangélicos Conservadores (valor 1) dos Evangélicos não-Conservadores (valor 0) e Não-

Evangélicos Conservadores (valor 1, são aqueles que declararam ter qualquer outra religião

exceto a evangélica e se deram nota de 7 a 10 na escala esquerda-direita) e Não-

Evangélicos Não-Conservadores (valor 0, que são aqueles que declararam ter qualquer

outra religião exceto a evangélica e se deram nota de 0 a 6 na escala esquerda-direita).

Também criamos uma variável em que separa o eleitor Evangélico e Conservador (valor 1)

dos demais eleitores, isto é, todos os outros, independentemente de posicionamento na

escala ideológica e religião. Por último, Utilizamos as variáveis de controle descritas abaixo.

Cabe lembrar que o ESEB do ano de 2006 não conta com a pergunta de Raça/Cor e,

portanto, essa variável não será utilizada nos modelo longitudinal que compreende todos os

anos. Os Gráficos descritivos das recodificações e tamanho da amostra estão disponíveis

no Anexo.

Para testar as hipóteses H1 e H2 realizamos duas regressões logísticas binárias

(modelo logit), resultando nos Modelos descritos abaixo. O primeiro deles, Modelo 1, é o

modelo base e busca testar o efeito de ser evangélico, ser conservador e a interação

desses dois termos ao longo de todos os anos na escolha do candidato no segundo turno,

conforme descrito abaixo. Além deste primeiro modelo rodamos uma segunda regressão,

Modelo 1.1, com a adição das variáveis de controle.

Modelo 1. Regressão Logística Binária - Teste H1 e H2

P(Votono SegundoTurno=1)=e β0+β1 Religião+β2 Ideologia+β1Religião∗B2 Ideologia

1+eβ 0+β1Religião+β2 Ideologia+β1Religião∗B2 Ideologia

Já os Modelos 2 e 3 compreendem o efeito de ser evangélico conservador, ser

conservador (independentemente da religião) e ser apenas evangélico na mesma variável

dependente. Aqui, o objetivo é testar se o eleitor que é tanto evangélico quanto conservador

tem efeito na escolha do perfil do candidato do segundo turno. Logo, esse segundo modelo

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busca aferir a validade da hipótese H3 e é descrito nos termos abaixo. Da mesma forma

como feito no Modelo 1, também rodamos o Modelo 2.1 e 3.1 incluindo as variáveis de

controle.

Modelo 2. Regressão Logística Binária – Teste H3

P(Votono SegundoTurno=1)=e β0+β1 EvangélicoConservador+β2 Ideologia

1+eβ 0+β1EvangélicoConservador+β2 Ideologia

Modelo 3. Regressão Logística Binária – Teste H3

P(Votono SegundoTurno=1)=e β0+β1 EvangélicoConservador+β2Religião

1+eβ 0+β1EvangélicoConservador+β2Religião

Também realizamos uma série de Modelos idênticos ao Modelo 1, porém específicos

ano a ano, isto é, um para cada ano analisado. Aqui o objetivo era observar se os resultados

obtidos no Modelo 1 geral variavam conforme o ano analisado. Os resultados para cada ano

específico foram consistentes com o Modelo 1 geral, o que nos permitiu não apresentá-los

neste trabalho. Existe apenas uma única exceção, que é o ano de 2006, do qual nenhuma

variável apresentou significância estatística, embora estivessem com os sinais corretos. Não

coincidentemente é também o único ano em que não houve na disputa presidencial nenhum

candidato publicamente evangélico. Discutiremos os resultados desses modelos na seção a

seguir.

Resultados e Discussão

Pensar o conservadorismo e a religião têm sido fundamental para compreender os

processos políticos contemporâneos não só brasileiros, assim ao investigar de que maneira

dois posicionamentos específicos do eleitor se comportam na escolha da presidência

também abarca uma questão teórica mais ampla. Discute-se, em primeiro lugar, o vínculo

entre evangelismo e conservadorismo. Assim como as falas do Pastor Henrique Vieira que

dão início a este trabalho, faz-se necessário compreender todo o espectro do evangelismo

para afirmar que “religião importa”. Os trabalhos anteriores mencionados discutem

validamente que em média o evangélico é mais conservador do que os demais eleitores, o

que nós trouxemos aqui é que é possível separar evangélicos de conservadores e

evangélicos conservadores dos demais e que o efeito dessas categorias é distinto no

resultado final.

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Assim, o crescimento político pentecostal surge, a priori, como uma busca pela

legitimação e regulamentação de status religioso. Ou seja, entra na esfera pública a partir da

discussão sobre a liberdade de culto, de consciência e de religião, especialmente no embate

direto aos privilégios católicos perante ao Estado. Mais recentemente, junto com a conquista

do reconhecimento do status legal da religião, a transição da concepção de minoria

perseguida para um importante aliado político e a amenização do conflito entre o

pentecostalismo e o catolicismo, surge uma nova agenda no início dos anos 2000. Nesse

novo rol de disputas entram as temáticas valorativas do século XXI, especialmente em

relação ao aborto e aos direitos LGBT+ que movimentou os setores religiosos (BOAS, 2019;

SMITH, 2019).

Nesse sentido, esses novos conflitos perpetuam a guerra cultural entre atores

seculares e religiosos e entre evangélicos e outras religiões, especificamente católicos, cujo

principal catalisador é o clero (SMITH, 2019). Assim, a virada à esquerda em termos de

políticas públicas sobre gênero, sexualidade e família junto com a competição religiosa por

“almas e dinheiro” (SMITH, 2019, p.4) é razão para o ativismo do clero. Este ativismo é

importante porque o clero é um ator capaz de influenciar comportamentos e atitudes de seus

fiéis, ainda que de forma parcial e assimétrica, afetando mais os cidadãos conservadores

que os demais (SMITH, 2019). Ou seja, os fiéis mais seculares tendem a ser menos

persuadidos que os conservadores e “denominações e indivíduos mais conservadores

tendem a ser mais coerentes em suas atitudes e escolhas eleitorais” (SMITH, 2019, p.41).

Para além disso, o ativismo do clero têm se mostrado altamente antipartidário,

especialmente em relação ao PT, o que teria levado este clero a induzir sutilmente o seu

rebanho na direção de algumas opções partidárias (SMITH, 2019). Esta afirmação é

especialmente interessante no nosso caso porque dado que o segundo turno das eleições

analisadas o candidato petista é sempre constante, espera-se que o eleitorado evangélico

seja sempre mais propenso a votar no candidato em oposição a ele, tanto porque é mais

conservador, quanto porque é muito antipetista.

O Gráfico 1 abaixo mostra a porcentagem dos Evangélicos conservadores em

relação aos demais eleitores ao longo dos anos. Nota-se que há um aumento substantivo e

constante na série histórica que permite dizer que os eleitores evangélicos têm, também, se

identificado como mais conservadores. Mas o que o Gráfico 1 também mostra é que os

eleitores que são capazes de se identificar como Evangélicos e Conservadores não são

unânimes. De toda forma, esperamos, seguindo a argumentação de Smith (2019), que o

eleitorado evangélico conservador seja coerente ao longo dos anos na escolha para a

presidência e que tenha mais chances de votar em um candidato também conservador em

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oposição ao PT e em relação aos evangélicos em geral e aos conservadores

(independentemente de sua religião).

Gráfico 1 – Porcentagem de eleitores segundo religião e ideologia (2002-2018)

Os resultados da regressão do Modelo 1, e subsequentes, estão apresentados em

formato de Razão de Chance (Odds Ratio). O primeiro termo é a interação entre Religião e

Ideologia, que viola a significância estatística. Sabemos que em modelos não-lineares a

interpretação da significância estatística e do sinal do termo precisam ser feitos com cautela

(AI; NORTON, 2003), contudo, o que esse resultado mostra é que o efeito da Religião seria

independente do efeito da Ideologia na escolha do candidato no segundo turno das eleições

para a Presidência. O segundo termo compara ser evangélico com não ser evangélico na

chance de optar por um candidato conservador em relação a um candidato progressista. O

12

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que esse termo mostra é que existe 54,6% mais chances de um evangélico escolher um

candidato conservador do que um eleitor não-evangélico, o que confirma nossa primeira

hipótese. Isto é, independentemente de quem esteja na disputa presidencial, um eleitor que

se declara evangélico tem 54,6% mais chances de optar por um candidato mais

conservador do que um eleitor de qualquer outra religião. Esse resultado também dialoga de

forma muito próxima com a literatura sobre conservadorismo, mas o que é interessante é

que ele é contraintuitivo quando pensado longitudinalmente. Por exemplo, em 2002, os

modelos que buscavam compreender o voto nos candidatos daquele ano mostraram que ser

evangélico importava na escolha de Lula (progressista) se comparado ao Serra

(conservador). O que nosso resultado mostra é que ao longo do tempo, essa relação é

invertida.

Modelo 1. Teste da hipótese H1 e H2 – Religião e Conservadorismo do eleitor nas eleições

presidenciais (2002-2018).

Fonte: Elaboração da autora com base nos ESEBs

13

Page 14: VERSÃO PRELIMINAR – não circular

O último termo desta regressão aponta, no mesmo sentido, para a confirmação da

hipótese H2. Isto é, seja qual for a religião do eleitor, quando ele se considera conservador

há uma chance de 57% de que ele opte por um candidato também conservador em

comparação a um eleitor não-conservador. Empiricamente falando esse resultado quer dizer

que não importa se o eleitor é católico ou evangélico, se ele se considera conservador ele

tem mais chances de escolher um candidato conservador do que aqueles que não se

consideram conservadores. Esses resultados não apenas confirmam as hipóteses

levantadas por este trabalho, mas dialogam com a literatura sobre o pentecostalismo e o

conservadorismo. Ainda que pareçam intuitivas, as respostas geradas por essa regressão

apontam dois caminhos possíveis de escolha eleitoral quando considerados apenas a

religião e a ideologia. Assim, a princípio, ser evangélico, conservador ou progressista, ou

conservador, independentemente da religião, eleva as as chances de um eleitor escolher um

candidato conservador. A implicação teórica dessa constatação é que a efervescência das

pautas políticas de gênero, sexualidade e LGBT somados ao ativismo dos cleros e à

propensão dos eleitores mais conservadores de serem mais influenciáveis (SMITH, 2019)

pode potencializar ainda mais o empuxo dos evangélicos para a direita.

Todavia, conforme argumentamos acima, existe uma minoria evangélica que não é

conservadora. Assim, para testar a diversidade interna evangélica formalizada em H3,

trouxemos os resultados abaixo. O Modelo 2 mostra as razões de chance de um eleitor

evangélico e conservador escolher um candidato também conservador em relação aos

demais eleitores. Também traz as chances de um eleitor conservador, independentemente

de sua religião, de escolher um candidato conservador. A regressão aponta que há 73,5% a

mais de chance de um evangélico conservador escolher um candidato conservador em

relação a qualquer outro eleitor, incluindo evangélicos não-conservadores. E, além disso,

mostra que essa chance é maior do que ser apenas conservador, cuja chance é de 42,5%

neste Modelo. Ou seja, dentro da categoria dos evangélicos, aqueles que também se

posicionam à direita têm mais chance de escolher um candidato conservador. Isso significa

que, em certa medida, o eleitor evangélico progressista é diferente do eleitor evangélico

conservador, ainda que, na média, todos os evangélicos escolham mais conservadores que

progressistas no segundo turno das eleições presidenciais. 8

8 Nós também testamos a mesma variável dependente só que comparando Evangélicosconservadores de Evangélicos Não conservadores e o resultado é consistente com o modeloapresentado. Neste caso, existe uma chance de 76,3% a mais de um evangélico conservadorescolher um candidato conservador comparado com o evangélico não conservador. Por razões deespaço optamos por não apresentar esse modelo.

14

Page 15: VERSÃO PRELIMINAR – não circular

Modelo 2. Teste da hipótese H3 – Evangélicos conservadores e Ideologia nas eleições

presidenciais (2002-2018).

Fonte: Elaboração da autora com base nos ESEBs

Esse resultado é corroborado pelo Modelo 3 abaixo. Quando comparamos as

chances dos evangélicos conservadores optarem por um candidato conservador em

comparação com os demais eleitores junto com a variável Religião, que compara

evangélicos de não-evangélicos, o efeito também se mantém. Ou seja, se há 35,8% de

chance de um eleitor evangélico optar um candidato conservador em relação a um eleitor

não-evangélico, há 76,3% de que o eleitor evangélico conservador opte pelo mesmo

candidato em relação ao demais eleitores. Isto é, há uma relação entre o conservadorismo e

o pentecostalismo que dificilmente pode ser negada, contudo, essa relação não pode ser

interpretada de maneira universalista, dado que o evangélico conservador tem maiores

chances de escolher um candidato conservador do que ser apenas ser evangélico. Assim,

nossos resultados apontam para a necessidade de tratar pentecostalismo e

conservadorismo sob óticas diferentes. Para além disso, para a necessidade de pensar o

eleitor evangélico a partir de seu pluralismo e para as diferenças internas que considerem a

possibilidade de resultados políticos muito diversos.

15

Page 16: VERSÃO PRELIMINAR – não circular

Modelo 3. Teste da hipótese H3 – Evangélicos conservadores e Evangélicos em geral nas

eleições presidenciais (2002-2018).

Fonte: Elaboração da autora com base nos ESEBs

Considerações Finais

Se partirmos da sentença de que a religião é uma variável que importa, precisamos

perguntar: importa quanto e importa para quem. Nosso artigo buscou explorar estas

questões ao trazer a discussão do lugar do pentecostalismo no debate público e na arena

política. Argumentamos que existe uma pluralidade interna, não apenas denominacional,

mas ideológica entre os evangélicos que faz com que o efeito de professar uma fé

evangélica precise ser observado em detalhes. Mostramos que o crescimento pentecostal

na arena política foi motivado, em um primeiro momento, pela busca da legitimidade do

status de religião e, em um segundo momento, pelo embate ideológico em relação ao

avanço de pautas progressistas, especialmente de gênero, sexualidade e LGBT+. Esse

avanço mobilizou um clero, que passa a ser ativista e broker entre o fiel e o representante e

que também exerce um papel fundamental na influência do comportamento eleitoral de seu

rebanho. Essa efervescência mobilizou um contingente evangélico político conservador, mas

também provocou reações de setores progressistas pentecostais. Ou seja, ainda que

majoritários, os evangélicos conservadores estão longe de serem unânimes tanto na

sociedade quanto no parlamento.

16

Page 17: VERSÃO PRELIMINAR – não circular

A partir do Estudo Eleitoral Brasileiro de 2002 a 2018 e de regressões logísticas

binárias, apontamos que independentemente de quem esteja na disputa presidencial no

segundo turno, quando separados entre conservadores e progressistas, o eleitor evangélico

tem 54,6% mais chances de escolher o candidato conservador do que o eleitor não-

evangélico, independentemente de seu posicionamento ideológico. Ao mesmo tempo, o

eleitor conservador tem 57% mais chances de escolher um candidato também conservador,

a despeito de sua confissão religiosa e, por fim, o eleitor evangélico e conservador tem

76,3% a mais de chance de escolher um candidato conservador em relação a qualquer

outro eleitor. Em termos teóricos mais gerais, buscamos investigar as diferenças internas

entre evangélicos, mas não as denominacionais, que a literatura têm explorado com êxito,

mas a ideológica, visando colocar em xeque a ideia de um “voto evangélico”. É evidente,

entretanto, que é necessário irmos além, o que não é possível com os dados dos surveys

analisados.

Por fim, nosso artigo está imerso em uma agenda de pesquisa que visa entender um

ator político coletivo, altamente organizado e eficiente politicamente a partir de dentro. Isto é,

entender os evangélicos pelos evangélicos e não em comparação a outras variáveis. Ou

seja, permite pensar, por exemplo, em perguntas futuras como o efeito da conversão no

comportamento eleitoral. Seguindo na linha que trouxemos aqui, um eleitor que se converte

ao (neo)pentecostalismo também se torna mais conservador? E, ao contrário, qual o efeito

esperado de um evangélico tornar-se ateu, budista, católico ou umbandista? Se fosse

possível separar evangélicos convertidos e evangélicos que sempre foram da mesma

religião, existe diferença no comportamento eleitoral? Estas são algumas questões que este

artigo não permite responder, mas que guia possibilidades experimentais na criação de

novas hipóteses e trabalhos que avancem na compreensão de um fenômeno que já faz

parte da realidade política brasileira.

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19

Page 20: VERSÃO PRELIMINAR – não circular

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VELHO, O. Besta-fera: recriação do mundo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.

ANEXO

Gráficos descritivos das recodificações de variáveis para o banco que contém todos os anos (2002-2018)

Voto do eleitor no Segundo Turno (em porcentagem %) Religião (em porcentagem %)

Fonte: Elaboração da autora a partir dos ESEBS. N=10235 Fonte: Elaboração da autora a partir dos ESEBS. N=11148

20

Progressista Conservador0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

50,344,7

Não-Evangélico Evangélico0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

76

23,3

Page 21: VERSÃO PRELIMINAR – não circular

Ideologia do eleitor (em porcentagem %) Evangélicos (em porcentagem %)

Fonte: Elaboração da autora a partir dos ESEBS. N=11062 Fonte: Elaboração da autora a partir dos ESEBS. N=11134

Não-Evangélicos (em porcentagem %) Evangélicos conservadores (em porcentagem %)

Fonte: Elaboração da autora a partir dos ESEBS. N=11068 Fonte: Elaboração da autora a partir dos ESEBS. N=11142

21

Não-Conservador Conservador0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

71

29

Não-Conservador Conservador0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

54

21,6

Não Sim0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

10092,7

7,3

Não-Conservador Conservador0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

15,9

7,3

Page 22: VERSÃO PRELIMINAR – não circular

Sexo (em porcentagem %) Escolaridade (em porcentagem %)

Fonte: Elaboração da autora a partir dos ESEBS. N=11156 Fonte: Elaboração da autora a partir dos ESEBS. N=11142

22

Masculino Feminino0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

4753

Até 4a Série EF EF completo EM Completo ES completo ou mais0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

27,630,2

34,3

7,9