Vera Lucia M de Carvalho - O Voo da Gaivota 1

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Outros livros psicografados pela mdium vera Lcia Marinzeck de Carvalho: Com o Espirito Antnio Carlos: - Reconciliao - Cativos e Libertos - Copos que Andam - Filho Adotivo - Reparando Erros - A Manso da Pedra Torta - Palco das Encarnaes - Aconteceu - Muitos So os Chamados - O Talism Maldito Com o Espirito Patricia: - Violetas na Janela - Vivendo no Mundo dos Espritos - A Casa do Escritor Com Espiritos diversos: - Valeu a Pena - Perante a Eternidade Psicografado por Vera LCIA MARINZECK de Carvalho

Erir EniTorr E nisrriruinorr Tnr. Ruo Rtuo, 383 - V. Esperono/Penho - fone:(O11 ) 684-6000 CEP 03646-000 - 5o Poulo - SP Correspondncin pnrn: Caixa Postal 67545 - fg. flmeido limo - CEP -3102-970 So Paulo - SP

O VO DA GAIVOTA Copyright by Petit Editora e Distribuidora Ltda. 1996/1997 la edio/impresso: Julho/96 - 100.000 exemplares 2a edio/impresso: Maio/97 - 50.000 exemplares Capa: Criao e execuo: Flvio Machado Ilustrao: Daniel Zolyomi Fotolito da capa: Stap - Stdio Grfico

Editorao eletrnica: Petit Editora e Distribuidora Ltda. Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP Brasil) Patrcia (Esprito) O vo da gaivota / Patrcia ; psicografia de Vera Lcia Marinzeck de Carvalho. - So Paulo : Petit, 1996. ISBN 85-7253-032-0 1. Espiritismo 2. Psicografia I. Carvalho, Vera Lcia Marinzeck de. II. Ttulo 96-2032 CDD: 133.93 ndices para catlogo sistemtico: 1. Mensagens psicografadas : Espiritismo 133.93

Direitos autorais reservados. proibida a reproduo total ou parcial; de qualquer forma ou por qualquer meio, salvo com autorizao da editora. Ao reproduzir este ou qualquer livro pelo sistema de fotocopiadora ou outro meio, voce estar prejudicando a editora, o autor e a voc mesmo. Existem outras alternativas, caso voce no tenha recursos para adquirir a obra. Informe-se, melhor do que assumir dbitos.

Impresso no Brasil / Presita er Brazilo Com muita alegria volto literatura, motivada pelo carinho dos leitores. E a voc, amigo leitor, que dedico esta obra com imensa ternura. Tambm o fao a desencarnados e, principalmente, a encarnados que so teis por sua capacidade e tm como meta o progresso no aprendizado. Estendo-me aos annimos, desconhecidos dos encarnados, mas conhecidos do Plano Maior, que fazem o Bem por amor, sem sequer se importar com nomes clebres. Patrcia So Sebastio do Paraso, MG Palavras de um amigo

Patrcia, nossa jovem escritora, que nos tem presenteado com sua literatura simples, sincera, que nos traz bons e profundos ensinamentos, vem novamente nos brindar com mais este livro. Fala-nos da caminhada em que assume novas e diferentes tarefas, do seu desprendimento e desapego. Patrcia trabalha e estuda no Plano Espiritual, mas aceitou mais esta tarefa de escrever aos encarnados, na inteno de alert-los quanto ao engano de cultuar personagens famosas. A Doutrina Esprita no est nas mos de poucos, sejam encarnados ou desencarnados. So muitos os espritos que trabalham para o Bem da Humanidade. A nossa alegre escritora, na sua humildade, se acha pequena, mas com vontade de aprender, no querendo que a cultuem e que lhe dem maior valor do que se acha merecedora. O enredo deste livro muito interessante. Participando do socorro a um desencarnado toxicmano, ela nos narra importantes fatos que trazem muitos esclarecimentos sobre o prejuzo causado pelos txicos, o grande mal da atualidade. O desenrolar atraente desta histria faz deste livro mais um marco na Literatura Esprita. Antnio Carlos ndice

Introduo ... .. ... ... ... ... .. .... ... .. .... .. ... .. .. ... ... ... ..11 Assumindo uma Tarefa..... ... .. ... .. ... ... ... .. ... ... ... .. ..13 Ouvindo uma Histria ...... ... ... .... .. ... ... ... .. ... ... ... .. ..17 Colquio Interessante ... ... ... ... ... .. .. .. ..31 Amor e Desapego ..... ... .... .. ... ... ... ... .. ... ... ... .. .... ...37 Um Pedido Diferente .... ... ... .. .... .. ... ... ... .. .. .... .. ... ..46 O Mandante do Crime ... ... ... .. .... .. . ..55 Tnel Negro .... .65 Na Sala de Aula... ... .. .... ... .72 Desencarnaes ...... ... .. .... ... ... ... ... .. ... .. ... .... . .... .. 77 Numa Reunio Esprita.. .... ... .. ... ... ... ... ... .. ... ... ... ...90 Recuperao dos Socorridos... ... ... ... ... Natan ...... .. .. ... ... ... .. ... ... ... . . ... .. ... ... ... .. ... ......106 O Mdico Nazista.... ... ... ... ... .. .... ... .. ... .. ... ... ... ....115 A Histria de Elisa .... ... ... .. ... ... ... ... ... ... .. ... ... ... ...127 O Vo da Gaivota .... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. ... ... .. ....135

Introduo

Quando encarnada, por muitas vezes olhava maravilhada as gaivotas voando. Encantava-me com seus vos, que me transmitiam a sensao de liberdade. So to livres! tarde, andando pela praia, acompanhava suas movimentaes pelos ares. Livres e felizes, faziam acrobacias oferecendo um espetculo de rara beleza. O espao imenso o ambiente preferido das gaivotas. Mas elas no podem deixar de pousar na areia da praia, para completar a alimentao necessria manuteno do seu corpo. Mesmo pressentindo a possibilidade de encontrar predadores inimigos, essa corajosa ave no se intimida e, muito vigilante, pousa na praia. Se falhar na sua precauo, infeliz ter sido sua descida, pois ser presa fcil de algum inimigo natural. Se cuidadosa e atenta, feliz ser seu pouso. Pegar o que precisa e novamente alar vo, ficando na areia, at a prxima onda, apenas a marca de seus delicados passos, a indicar que ali passou uma gaivota, realizando com prazer e alegria a funo de viver e participar, com a vida, do anseio de ser e existir. Sabendo que venho raramente ao plano fsico, naquele dia Elisa me comparou com uma gaivota. - Gaivota, por que desce Terra? Procura alimento? No respondi de imediato. Olhei para a amiga que me viu como to belo pssaro. Seus olhos negros, meigos e bonitos brilhavam. Sorriu. Seu sorriso maravilhoso contagiava aqueles que a rodeavam, alm de deixar vista as fileiras de dentes 12 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

perfeitos. Elisa uma negra linda, a beleza dos seus sentimentos mostra e embeleza ainda mais seu perisprito. Fiquei a pensar no que me levava a voltar Terra. O que estaria fazendo ali? Ajuda? Tarefa? Trabalho? O Bem que fazemos um crdito, uma necessidade ou um alimento? Volitei e vi que a gaivota deixou marcas dos seus pezinhos no cho arenoso. Voltei o pensamento ao passado recente e me certifiquei de que, ao tentar ajudar os que ficaram na Terra, acabei por fazer muitos afetos. O Bem realizado deixaria marcas?

1 - Volitar, na literatura esprita, a denominao do ato de os espritos pesencarnados se movimentarem no espao, quando o fazem sem que os ps toquem o cho. Nos livros espritas, principalmente nos do esprito An N.A.E ) h ncontveis exemplos nesse sentido. (Nota da Autora Espiritual

Assumindo uma Tarefa

Encarnados nossas aes esto condicionadas a um fim pessoal, qual seja a aquisio monetria ou um diploma que nos habilitar a exercer funes bem remuneradas entre nossos companheiros de caminhada. Aqui, no Plano Espiritual, para aqueles que compreendem e vivem a unidade do Universo, trabalhar ou estudar no significa oportunidade de remunerao pessoal, mas sim ocasio propcia para no ficar margem da evoluo. A beleza da existncia est na sua dinmica atividade. Ela nunca montona. A vida se parece com imenso rio que, apesar de estar no mesmo lugar, nunca o mesmo, pois se renova a cada segundo. Nossa personalidade , por natureza, ociosa. Se no acordarmos para uma melhoria em nossa maneira de ser, correremos o risco de ver o rio da vida passar e ficarmos sua margem, perdendo a oportunidade de irmos juntos daqueles que com ele caminham rumo ao infinito. Aceitar novas incumbncias de trabalho, de maiores responsabilidades, motivo de alegria para todos ns que desejamos participar, em nome de Deus, da manuteno e do progresso de todos os seres humanos. Fui chamada a lecionar num curso de Reconhecimento do Plano Espiritual, no qual a professora titular, Marcela, se ausentara porque havia tambm aceitado incumbncia de trabalhos superiores. Apesar de feliz por ter sido lembrada, e radiante por me sentir til, no pude deixar de ter momentos de preocupaes, pois estariam vrios espritos sob minha responsabilidade. 14 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

Como de outras vezes, fui em busca de conselhos de meus amigos. Ao ver Maurcio, dirigi-me alegre ao seu encontro. Meu amigo sorriu. Como agradvel v-lo assim. Sempre me lembro de seu doce e confiante sorriso. Respondeu aos meus anseios, tranqilo, transferindo-me belos ensinamentos. - Patrcia, como comea o aprendizado de um professor universitrio na Terra? Nos primeiros anos escolares, aprende as primeiras letras. Estudioso, cursa todas as sries exigidas. Um dia, a escola terrena d por encerrados seus estudos e o classifica apto a lecionar - s vezes at na prpria escola em que se preparou. Se for sensato, reconhecer, com certeza, que sabe apenas "o razovel" do assunto em que se especializou e, ento, continuar estudando a vida toda. Mas o conhecimento adquirido patrimnio seu, conseguido por seu esforo. Querendo lecionar, pode e deve faz-lo, porque muitos nem tm este saber que voc considera moderado. E felizes os qup passam aos outros seus conhecimentos. Quantos se indagam: terei capacidade de lecionar? Se tm conhecimento da matria em questo, tero capacidade, sim. Aqui tambm assim. Todos temos que aprender para saber. Que tristeza seria sentir que no h mais nada para aprender. O aluno no deve ficar muito tempo na mesma srie. Seu estudo deve render at que passe de aluno a mestre. Tenho acompanhado seus estudos: voc aprendeu com amor e j est apta a ensinar o que adquiriu.

- Mas, Maurcio - insisti -, e se no estiver? - Est! O que pensa voc que um instrutor aqui no Plano Espiritual? somente um esprito dedicado, estudioso, que comeou seu aprendizado como todos. No se deve ser avaro de conhecimentos, no se julgar incapaz e nem ser presunoso com o que pensa saber. Necessrio e indispensvel o bom senso; porque atravs dele temos a exata medida de nosso cabedal, sem entretanto chegar vaidade. Depois, Patrcia, no se devem querer sumidades para ensinar, mas sim querer os que transmitem com amor os conhecimentos que possuem. Se a chamaram, porque a julgam apta. Aqui no existe o "jeitinho" que leva muitos a terem cargos imerecidos. Depois, os cursos vm prontos sua mo. E verdade que ter de O VO DA GAIVOTA 15

responder a muitas questes. Confio em voc. Aceite o encargo e tire bom proveito da experincia. Tambm fui conversar com vov Amaziles. Gosto muito de visit-la e a suas amigas, de suavizar a saudade que sinto da casa em que moram e que foi minha primeira acomodao, aps a desencarnao. Aps os abraos, falei da minha dvida. - Patrcia - respondeu vov -, esse curso muito importante. Nele se aprende muito do Plano Espiritual, na teoria e na prtica. Aquisio terica ou intelectual so apenas arquivos de informaes e conhecimentos. As excurses feitas durante o curso so a vivncia do fato. Com compreenso, todo aquele que viveu sabe como tomar a melhor atitude diante de cada problema. A inteno do curso que todos que o freqentem, tenham esta compreenso. Pois somente a vivncia desses fatos ou conhecimentos ser transmitida s nossas clulas perispirituais e, conseqentemente, impressionar as clulas fsicas. E, quando reencarnarmos, essas vivncias afloraro em nossa mente como dom nato ou como mente inconsciente. Aceite, voc capaz! Voc tem estudado tanto! Coloque em prtica o que aprendeu e ainda aprende. De Antnio Carlos, ouvi: - No fazer, por julgar-se incapaz, no aceito como desculpa nem aqui no Plano Espiritual, nem como encarnado. Se no , torne-se. Todos somos capazes. Principalmente, se no nos exigido o impossvel. Agiu certo, de modo prudente, consultando os amigos. Quando nos sentimos inseguros, devemos pedir opinies a amigos que consideramos, e por quem somos considerados. Com as sugestes recebidas, devemos ento optar pelo que melhor para ns mesmos e para os outros. No certo fazer o que no somos capazes, no momento. s vezes, imprudentemente, prejudicaremos a ns e aos outros, fazendo algo por ambio, poder e vaidade. No o seu caso. Aceite e lembre-se: aprendemos muito mais quando transmitimos conhecimentos. Tambm me aconselhei com papai e dele recebi preciosa lio. - Filha, a vida sabe melhor o que bom a cada um de ns. Estamos sempre sendo convidados a assumir alguma tarefa. PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARvAi un

Para mim, o melhor lugar aquele em que somos mais teis. Ao esquecermos de ns mesmos, vivendo entregues ao bem alheio, criamos condies para que Deus possa agir atravs da nossa humilde personalidade. E, nunca se esquea, tudo o que fizer, faa bem feito. E, ali estava eu, numa sala de estudo, ministrando uma aula sobre as Colnias. Sentindo-me perfeitamente vontade. A sala apresentava-se muito agradvel. Talvez no tivesse ta por para os outros, a mesma beleza vis mim. "Lugar de ensino deve ser um lugar diferente. O local onde se aprende precisa ser respeitado como um templo", dissera uma vez um amigo. Concordava com ele. Todas as escolas deveriam ser educandrios, que preparam para a vida til. A classe era pequena, tinha uma lousa e mesinhas confortveis, e duas grandes janelas com vista para o jardim que contornava a escola. O que a tornava to agradvel para mim era que ali nos reunamos para estudo. E aprender ensinando me fascina. - Por que esta Colnia tem o nome de Vida Nova? - perguntou Terezinha. - Todas as Colnias, Postos de Socorro, Casas de Auxlio tm uma designao pela qual so conhecidas. como na Terra, onde todos os lugares tm nome. Quando esta Colnia foi fundada, um dos seus idealizadores lhe deu este nome, na esperana de que todos que viessem para c tivessem realmente um reincio de esperana e mudanas para melhor, o que os levaria a uma vida nova. Da o nome. Os vinte e dois alunos prestaram muita ateno, e depois voltaram para as suas tarefas: descrever a Colnia que os abrigava. A Colnia Vida Nova fica no Plano Espiritual de uma cidade brasileira, pitoresca e de porte mdio. linda! Que interessante o amor incondicional. Quanto mais uma me olha seu filho, mais o acha bonito, no importando quantas vezes o faa. Assim acontece comigo. Todas as vezes que chego a uma Colnia, esta para mim maravilhosa. Emociono-me e alegro-me. Como agradvel estar no convvio de uma cidade no Plano Espiritual. E, assim, a aula transcorria tranqilamente. OuVindo uma Histria

As dissertaes ficaram muito boas. Aps a leitura de algumas, pelos prprios alunos, conclumos que nem todos tm a mesma impresso do Plano Espiritual. Albertina at me indagou: - Patrcia, como pode haver tantos modos de ver, sentir e ter sensaes diferentes, diante de um mesmo objeto ou lugar? - Realmente - respondi. - Podem existir muitas formas de sentir os acontecimentos pelos quais somos envolvidos. Estou lembrando agora de algo que ilustra bem este fato. H algum tempo, ouvi uma estorinha interessante. "Uma florzinha branca e mimosa floresceu beira da estrada. Por esse caminho, passavam muitas pessoas e muitas nem sequer a viam. Uma

mulher, ao defrontar-se com ela, disse: Veja, uma flor beira da estrada! Ela medicinal, muito boa para dores. bom saber que aqui existe, quando precisar, virei buscar. Um poeta que cantava as alegrias e tristezas, as belezas do mundo, tambm passou pela estrada, e ao ver a flor parou e exclamou comovido: Que linda flor! digna de enfeitar os mais lindos cabelos de uma mulher apaixonada! Mas, infelizmente, no momento no estou amando, seno a levaria para enfeitar minha querida! Em seguida passou pela estrada uma jovem que, ao ver a delicada flor, parou para admir-la. Que florzinha mais encantadora! Que perfeio em seus contornos! Como bonito ver uma flor a enfeitar uma estrada, suavizando a viso talvez to cansada e preocupada dos que passam por ela. Com um PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO gesto meigo, beijou a flor e seguiu seu caminho. Passou por ali tambm um materialista que, ao ver a flor, falou revoltado e furioso: Flor imbecil, por que veio florir nesta estrada poeirenta? Seu branco no combina com a sujeira do lugar. uma intil! Chutou-a e foi embora. Um senhor, de quem o tempo havia branqueado os cabelos, ao ver a flor ali solitria, beira da estrada, exclamou: Como a obra de Deus perfeita! Como o Senhor do Universo bondoso conosco, dando-nos belezas assim para nos alegrar! Seja bendita, florzinha branca! Obrigado por voc existir e nos alegrar! Sabiamente continuou seu caminho. E a singela flor continuou sendo a mesma para todos. S que, conforme a compreenso, o interesse, o estado de esprito, viam-na de maneiras diversas. Todos esses personagens, ao verem a flor, reagiram de com seu condicionamento. A mulher, preocupada com enfermidades fsicas, viu na flor seus dotes curativos. Para o poeta, a flor foi a causa ou o motivo para aflorar em sua mente os devaneios. O senil, j desiludido com as iluses mundanas, ansioso por unir-se a Deus, viu ali a manifestao Daquele que tanto procurava. Se falarmos a respeito disso com um mestre Espiritual, ele nos dir que o belo ou o feio que possamos sentir e ver conseqncia de nossa escolha pessoal. A vida no fez discriminaes nas suas manifestaes. O bem e o mal esto restritos ao mbito hominal, assim como o belo e o feio. Cosmicamente, eles no existem, pois nada h em que no haja a Onipresena Divina. Cada ser ou criatura tem sua razo de ser na cadeia das relaes em que a vida se manifesta. Toda manifestao tem os dotes que necessita, para desempenhar sua funo. muito importante que possamos aprender a ver as coisas como so e no como queremos que sejam. As Colnias, Albertina, so lugares que abrigam muitos temporariamente, como no Plano Fsico. E, dependendo de muitos fatores, cada qual as v como consegue ou quer. Este fato tambm acontece com os encarnados. Muitos se deslumbram diante de um jardim florido, da viso de um rio, de montanhas, enquanto que alguns nem os vem e para outros tudo isto indiferente. Considero as Colnias encantadoras. O VO DA GAIVOTA

Quando estava encarnada, maravilhava-me com os lugares belos da Terra. Achava lindo o mar, gostava de olhar o cu, as flores, deslumbrava-me e deslumbro-me ainda com tantas belezas. Nossa Terra bela! Descreverei, para melhor ilustrar este fato, uma redao escrita sobre o assunto. Quase todos a fizeram. Vou comentar o que achei mais interessante. Que coisa fantstica a vida, e por mais que a observemos, parece-nos sempre nova. Quando ouvimos a histria da vida de algum, sentimos a nossa prpria, pois ela nos traz notcias de um ser humano, portanto, a histria da prpria humanidade. Mas, normalmente, no ouvimos muito as pessoas, pois quase sempre vivemos fechados em nosso mundo interior de tal forma que, mesmo dando-lhes aparentemente ateno, no chegamos a entend-las. Para compreender uma histria, necessrio viver as emoes de quem narra os acontecimentos, seu estado psquico, de alegria, esperana, angstia, rancor, mgoa, gratido ou qualquer outra expresso emocional. Escutando com ateno a histria de Genoveva, uma pessoa comum, como a maioria dos encarnados ou desencarnados, teremos a oportunidade de entender o porqu de muitas vezes fazermos de nossas existncias uma verdadeira tragdia, da qual desfrutamos pequenos momentos de alegria e um tempo sem conta de desespero, frustraes, angstias e dores. A personagem possui a manifestao Divina. Amando a presena de Deus, que o autor de todas as manifestaes em cada criatura, teremos compaixo por todos os seres humanos que no momento representam, como atores, no palco da vida. Imbudos desses sentimentos, podemos ver a enormidade de nossa ignorncia. Como ela comeou no importa, o que interessa tir-la de ns. Isto est em nossas mos realizar. Portanto, no convm aplaudir ou censurar os erros ou os acertos de uma pessoa, mas compreender o que a humanidade tem feito com o privilgio de viver, ciente daquilo que somos: seres humanos. Genoveva comea contando sua desencarnao. Comento-a, porque chegamos concluso que est muito relacionada nossa maneira de viver encarnados, nossa desencarnao e 20 PATRCIA / VERA LCIA MpRINZECK DE CARVALHO nossa vivncia aqui, no Plano Espiritual. A prpria Genoveva leu sua redao para toda a classe. " Desencarnei jovem" - comeou Genovevato jovem. Tinha trinta e sete anos , isto no Amava a vida, possua l meus problemas como todo mundo, mas estava satisfeita. Casada, com dois filhos adolescentes, vivia feliz no meu lar. Um dia, como fazia sempre, sa para comprar roupas. Estava de carro, d ri do pr as e, distrada, atravessei a rua, quando um corria alm do um jovem embriagado, me atropelou. Ele ermitido e eu estava entretida: no deu para evitar o acidente. Desencarnei no ato. Se as pessoas que viram ficaram abaladas e confusas, imaginem eu. Senti-me jogada no cho e escutei meus ossos se quebrarem. No senti dor, mas fiqueiatordoada. Sentei-me, com dificuldade, na calada. No

direito e, ento, perdi os sentidos. Acordei num mido, com cheiro nada agradvel. Esfreguei os certeza de estar acordada uns dois metros de mim, que me observava calada. Era bem feia, estava suja, cabelos brancos es etados ou q achei-a horrvel. Ela fic quieta, enquanto eu a olhava detalhadamente. Conclu, como sempre fazia, que nem todos eram bonitos como eu". Resolvi indagar-lhe. A senhora sabe por que estou aqui neste lugar estranho?" "No estranho" - respondeu ela, sriacomo outro qualquer." , " um lugar "Mas como vim parar aqui? No me lembro..." - perguntei-lhe. Mas onde Vi, ento, delicadeza, tentando ser gentil com aquela estranha mulher "Uma tumza das que andam por aqui, a trouxe" aps um instante em silncio. - disse ela Escutei eles dizerem que a encontraram sem sentidos, aps o acidente. Como no havia ningum ao seu lado, pegaram-na e a deixaram a." "O acidente!" - exclamei. " aquele maluco! Lembro-me bem! O carro daMas no era para eu estar num hospital?" "Se no tivesse morrido, acho que sim, - respondeu a senhora com sua voz rouca, o que para mim, naquele momento era muito desagradvel. O VO DA GAIVOTA 21

conseguia ver lugar escuro, olhos. Tive a uma senhora a

"O que a senhora est me dizendo? Se no tivesse morrido? Por qu? Morri?" "Que acha? Claro que morreu!" - respondeu dando um sorriso cnico. "No e no! No morri!" - gritei. "Morreu! Morreu e morreu! - gritou ela mais do que eu. "O "carro passou em cima de voc e seu corpo morreu. Mas, como ningum morre de fato, aqui estamos vivas em esprito." "Faz tempo que estou aqui?" - perguntei assustada. "Um bom tempo. Estava a deitada sem sentidos. "Mas que lugar este?" - indaguei desesperada. "Pelo que v, no muito bom" - respondeu a senhora aps uns minutos calada. "Voc no deve ter sido boa coisa, seno teria sido levada para outro lugar." "Como se atreve?" - falei sentida. "Ora, ora, falo como quero. Voc morta! Morta!" "No e no!"

Repetia j duvidando. Chorei muito, revoltei-me, dei murros no cho at que cansei. A mulher saiu de perto de mim. Dormi. Acordei e senti-me pior, e ainda estava com sede, fome e me sentindo suja, de um jeito que detestava ficar. Pensei no acidente e tive dio do imprudente motorista, e comecei a sentir meu corpo doer. Percebi que era s pensar no acidente para ter dores, e assim esforcei-me para no pensar mais. Repolvi saber onde estava. Arrastando, locomovi-me alguns metros, e vi que me encontrava em pequena abertura de uma rocha. Perto, achei um filete dgua que, com nojo, tomei para amenizar a sede. Vi que outros, ali, a tomavam, alm de comerem pequenas ervas. Comi tambm. No me atrevi a ir mais longe; e , quando saa, voltava sempre rpido para a abertura. Aquela senhora igualmente se abrigava ali, s que saa e demorava a voltar, pois andava pelo Umbral. s vezes conversava comigo, e era a nica pessoa com quem eu falava. Sentia-me terrivelmente s." Fao uma parada na narrativa de Genoveva para explicar alguns detalhes. Muitos no vivem como parte integrante do 22 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO Universo, agem como entes separados da vida. A lagarta nos d um bom exemplo de como agir. Como lagarta, realiza com eficincia sua funo, vive para se empanturrar de folhas, adquirindo energia suficiente para que possa acontecer sua metamorfose. Muitos encarnados esbanjam energias insensatamente, de tal forma que, no momento da desencarnao, esto to defasados que o esprito no consegue abandonar a matria. No devemos negar as funes do viver, mas sim estarmos conscientes de que somos transeuntes; no fazer da existncia um acmulo de sensaes e prazeres como se isto fosse a finalidade nica para a qual reencamamos. Identifico Genoveva com muitos de ns. Nossa narradora se identificou com o que representava, um elemento feminino cheio de dotes e beleza fsica diante do sexo oposto, sentindo-se segura e confiante pois tinha mais que as outras . Nada lhe interessava a no ser ela mesma. Tudo o mais, at o marido e os filhos, era apenas apndice do seu "status". Meditando, conseguimos olhar o Universo como um todo orgnico, vendo a unidade de Deus. Assim compreendemos sua Onipresena em tudo e em todos entendendo, ento, que para a natureza no h nem bonito nem feio mas simplesmente um conjunto de manifestaes ou indivduos que juntos compem o Universo manifestado. Vemos que, assim o bonito e o feio fazem arte de nossa preferncia pessoal. Se conseguimos ver isto como um fato, nos libertamos do apego, desejos e sensaes de sermos melhores que os outros. O incio da verdadeira humildade no se sentir melhor que ningum. Entre milhares de desencarnaes que ocorrem diariamente, cada desencarnado tem uma sensao diferente da passagem do estado fsico para o espiritual. Mesmo em acidentes parecidos com o de Genoveva, cada qqual a sente de um modo. A desencarnao um fato comum e natural, mas que se diferencia de uma pessoa para outra. Genoveva foi desligada

bruscamente com o choque. Ao perder os sentidos, ficou em seguida foidlevado na calada, j que seu corpo fsico logo em para o necrotrio. Como no se afeioara a ningum de bem, isto , trabalhadores ou socorristas, para lhe velar e s no apsnvamsirizar nados que vagavam, a pegaram. Levaram p seus fluidos vitais, e a deixaram O VO DA GAIVOTA 23

l no Umbral. Se Genoveva tivesse adquirido afetos espirituais, atravs de sua vivncia fsica, teria sido levada para um posto de socorro. No exerccio da fraternidade incondicional, que o servir sem desejar nada em troca, nem mesmo recompensa da parte de Deus, emanamos boas vibraes. Essas vibraes atraem os bons espritos, como tambm impedem o assdio dos maus nossa volta. Tenho visto muitos acontecimentos, em que desencarnados perversos aprisionam recm-desencarnados imprudentes e os fazem escravos ou os levam para seus agrupamentos. No caso de Genoveva, porm, sugaram-lhe as energias e a deixaram num canto do Umbral. Voltemos sua narrao. "No sabia h quanto tempo estava ali, naquele lugar horroroso. S mais tarde soube que foram seis meses, os quais para mim pareceram ser mais de seis anos. Sentia, s vezes, meus filhos me chamarem. Respondia alto: - J vou filho, j vou!" Mas no ia. No sabia como fazer e nem tinha foras para me locomover. Sentia que oravam por mim e, nesses instantes, ficava mais calma. Comecei ento a me lembrar muito de Dona Rita, minha vizinha. Recordei que ela era aposentada, viva, e seu filho que morava longe, no lhe dava ateno. Passava por muitas necessidades. Dava-lhe muitas coisas, inclusive comida pronta, ora o almoo, ora o jantar, comprava-lhe remdios, alm de propiciar-lhe carinho. la v-la quase todos os dias e, agora, ela orava muito por mim. Escutava-a dizer: "Genoveva, pea ajuda a Deus. Ele nosso Pai e nos ama. Pea perdo! Queira ajuda!" Fiquei a pensar no que escutava. "pea ajuda, pea perdo". Mas eu estava revoltada, pois no queria ter morrido. Era bonita, cheia de vida e sade e, agora, estava sofrendo. E no queria continuar naquele estado, tinha que mudar, s que no sabia como. As oraes de Dona Rita fizeram diminuir minha revolta, acalmei-me e comecei a meditar. Nunca pensei que a morte viesse para mim, mas s para os outros. Ainda mais que me achava jovem para morrer... e eu no queria a morte nem na velhice. Ento percebi que por ali passavam outras pessoas, 24 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO diferentes, limpas e com semblantes tranqilos. J haviam tentado conversar comigo, porm no lhes dei ateno. Talvez vocs achem incoerente essa minha atitude, pois me incomodavam a sujeira e aquele lugar horrvel e dava ateno para aquelas pessoas assim mesmo, limpas e saudveis Mas

Sentia-me inferior a eles e isso me magoava. Tambm estava envergonhada por estar em estado to deprimente. que, quando encarnada agora era apenas um farrapo. Mas depois a e sentia rainha e poderiam me ajudar e acreditei que eles quando os vi de novo, os chamei, pensando firme nos dizeres da minha ex-vizinha. perdo!" "Pea ajuda! Pea "Senhores por favor, me dem ateno!" Aproximaram-se e, perto deles, percebi como eram felizes. Olhei-os emocionada. "O que quer?" - indagou um deles. Ajuda, perdo..." - respondi envergonhada. "Venha conosco. explices. Ao pedir o e d orao de Genoveva para alguns, no demonstrou que reconhecia os erros cometidos e que desejava mudar para melhor. Deus nunca se ende conosco, apenas nos ama. O que precisamos da renovao interior, para participarmos da renovao da humanidade. Normalmente, quando os familiares chamam os que desencarnaram, eles os atendem, indo para perto deles, se no tiverem conhecimentos da vida no Plano Espiritual. E Genoveva no os tinha. So muitos os que abandonam os Postos de Socorro, para atender aos chamados dos seus. O desconforto impele o desencarnado a voltar ao estado anterior, isto a sentir a vida que tinha, quando encarnado. A leva para onde o desejo os guia, vontade forte os perto de seus afetos quase sempre ao antigo lar ou nas Colnias Os recm-socorridos que esto abrigados maiores no saem, porque elas ficam mais longe da crosta e no to fcil sarem sem permisso. Mas muitos para atender insistentes chamados, pedem para O VO DA GAIVOTA 25

ir, mesmo sabendo o risco que correm ao voltarem sem estar preparados. Desencarnados que vagam pelo Umbral, costumam tambm atender a esses chamados. Mas nem todos voltam, como no caso de Genoveva. Primeiro, porque os chamados no teriam sido muito insistentes, segundo, por causa do medo de sair do lugar em que se est. Depois, Genoveva no amava ningum mais do que a ela mesma. Tambm, porque ela se sentia enfraquecida, sem foras psquicas. Quanto ajuda que recebeu de Dona Rita, foi uma reao de uma de suas aes. como meu pai sempre diz: "O Bem que fazemos, a ns mesmos fazemos." E ele lembra sempre das palavras do Nazareno, que como gosta de se referir a Jesus, nosso Grande Mestre. "Granear amigos com as riquezas da iniqidade, para que, quando vierdes a precisar, vos recebam nos tabernculos eternos." (Lucas, XVI:9).z Quando fazemos o Bem, fazemos amigos. Se um

deles nos for grato, ele nos ajudar quando necessitarmos. Genoveva fez algumas boas aes. E Dona Rita, grata, no a esqueceu. Orou com sinceridade e f para ela. Orao sincera no fica sem resposta. Genoveva recebeu o carinho de sua ex-vizinha da forma que precisava no momento.Ela recebia seus tluidos de nimo e conforto, embora sua ex-vizinha fizesse oraes decoradas que lhe ensinara a religio que seguia. Oraes envolvem o beneficiado com energias benfazejas, de modo a ajud-lo no que necessita. E para Genoveva seriam para seu arrependimento; para que pedisse perdo e perdoasse, que chamasse por ajuda, mudando assim seu padro vibratrio e possibilitando o socorro. E foi isto o que aconteceu. Continuemos com a interessante narrativa de Genoveva. "Fui amparada com delicadeza, quando um senhor e uma moa me levaram para uma casa enorme, um Posto de Socorro no Umbral. A moa me ajudou a tomar banho. Deliciei-me. Com roupas limpas, tomei um prato de sopa quente, que achei muito saborosa. Depois acomodei-me num leito perfumado e dormi tranqila. No estava doente, nem sentia dores, estava 2 - As citaes do Evangelho contidas neste livro foram tiradas da Biblia Traduo Vulgata. 26 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

s desorientada e com fraqueza. Recuperei-me logo. E fui transferida para esta Colnia. "Voc vai para a Colnia Vida Nova. Ver como ela linda." Ouvi muitos comentrios parecidos. E fiquei curiosa para v-la. Fui conduzida Colnia junto com outros que tambm se dirigiam a uma cidade no Plano Espiritual pela primeira vez. L, nos separamos, e fui conduzida para uma casa, onde fiquei hospedada. Que decepo! No vi nada das maravilhas que disseram. A casa, sem arranjos e enfeites, era simples demais. S tinha o necessrio. "Que beleza de jardim! "Que flores lindas! Tentava prestar ateno e descobrir onde estava a beleza do que ouvia. O jardim para mim parecia como outro qualquer da Terra. S que talvez mais cuidado e respeitado. As flores eram flores como sempre foram. Havia algumas diferentes mas eram plantas... Estava aptica. Tentava ser gentil com as pessoas que moravam comigo, porque era tratada com extrema delicadeza. Carinhosamente me levaram para conhecer a Colnia. Nada me entusiasmou. Achei-a extremamente sem atrativos, pois as belezas e sensaes de que gostava, no eram ali cultivadas. Havia muitas mulheres bonitas, mas elas agiam como se este fato no lhes importasse. Para mim, a minha beleza era um patrimnio importante. Gostava dessa aparncia, quando encarnada, pois sentia-me superior maioria das mulheres. A Colnia era um lugar como outro qualquer. Bem, como outro qualquer, no! Para ser sincera, comparando com o

lugar em que fiquei, no Umbral, naquela abertura da rocha, ali era o paraso. Os novos amigos muito me aconselhavam. Consideravam-me como amiga deles, mas eu no pensava assim: para mim eram somente pessoas boas que tentavam me ajudar Tudo fizeram para me tirar da apatia, sendo at convidada a fazer pequenas tarefas. No era preguiosa. Muito ftil e vaidosa, sim, mas ociosa, no. Aceitei, porque senti que deveria ocupar meu tempo. Fui trabalhar na Biblioteca, onde Maura, uma senhora alegre e extrovertida, me orientava. O VO DA GAIVOTA 27

"Genoveva, querida, coloque estes livros em ordem alfabtica." Fazia tudo direitinho. "Muito bem!" - incentivava ela. "Voc tem trabalhado com vontade. Voc no curiosa? No tem interesse no contedo destes livros? No gosta de ler? No a vejo nem folhe-los." Acabei por pegar um. Abri e li uma pgina. Era um livro que os encarnados tm tambm o privilgio de conseguir para leitura. Levei-o, emprestado. Minha apatia foi desaparecendo aos poucos com a ajuda e alegria dos meus amigos - agora sim, considero-os como amigos - e de lies ouvidas e lidas. Com o estudo e ateno fui compreendendo que meu corpo e tudo o que me rodeava no existiam para meu prazer e sensaes, mas sim como parte de um todo que a manifestao de Deus. Ento aconteceu o que no esperava, pois antes eu via e ouvia, mas nu todas as coisas. Agora vejo e ouo o que antes me passava despercebido. Comecei a esquecer de mim, para prestar ateno minha volta. Tempos depois, olhei para tudo novamente e encontrei as belezas que todos admiravam. Amo muito a Colnia, mas beleza para mim, por muito tempo, foram outras coisas: vestidos novos da moda, luxo e beleza fsica. S a compreenso faz vermos a beleza nas coisas simples. Aprendo a v-las. Estudei e estudo, trabalho e tenho Paz, e agora estou bem. Depois de um tempo por aqui, pedi permisso para visitar meus familiares. Pedidos esses, feitos por quase todos os que vm para c. Alguns dias aps ter solicitado, o responsvel do departamento que cuida desse atendimento, chamou-me para entrevista. "Tenho saudades dos meus familiares" - disse -, "quero v-los e saber como esto." Meu pedido foi aceito e, ao marcar dia e hora, lembrei de Dona Rita, e pedi outro favor. "Ser que no posso ir s um pouquinho casa de minha ex-vizinha?" "Pode" - responderam.

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Vamos parar um pouquinho com a narrativa para uma elucidao. Nessas primeiras visitas, os desencarnados seguem algumas normas da Casa, onde esto abrigados e que nem sempre so as mesmas para todos. Elas tm o objetivo de preservar o equilbrio do novato em sua nova maneira de viver. Para cada visitante determinado um tempo, conforme suas necessidades. Mas costume, nas primeiras vezes, irem com um companheiro experiente, que nem sempre fica junto durante a visita, mas que o acompanha para traz-lo de volta Casa em que est abrigado. Voltemos narrativa. "Emocionei-me ao ver meu esposo e meus dois filhos. Percebi que os amava de forma egosta. Tanto que, ao desencarnar, s pensei em mim. No julguei que eles sofreriam pela nossa separao. Os trs estavam muito unidos. Arrumaram uma empregada e tentavam ajudar um ao outro, levantando o nimo. Fiquei por horas esforando-me para seguir os ensinamentos e recomendaes que recebi, tais como ficar ale re orar por eles e no interferir em suas aes. Quase na hora de ir embora, fui ver Dona Rita e, para meu espanto, ela me sentiu por ser sensitiva, percebeu minha presena. No que tenha me visto, mas pensou em mim de maneira tema. Genoveva t Ob Deus a proteja onde esteja. Que seja feliz! Sou-lhe to gra rigada. Orou e me disse coisas carinhosas pelas quais me animei. Soube, tambm, que meu esposo continuou lhe dando, em minha inteno, todo ms, uma quantia em dinheiro. Eu os achei maravilhosos, ele e meus filhos. Na hora de voltar, aguardei meu acompanhante para retornarmos Colnia. Abracei-o e chorei. Afagou-me somente. Meu pranto era diferente. Fora muito feliz encarnada e queria voltar a ser... Mudei, tornei-me mais alegre e entusiasmada." Genoveva terminou a leitura e, como sempre, aps havia perguntas. Essas redaes no so obrigatrias e nem a sua leitura. Faz quem quer, podendo tambm o aluno, se preferir , O VO DA GAIVOTA 29

falar sobre o assunto. Mas, desta vez, foi Genoveva quem indagou: - Patrcia, ao visitar Dona Rita, quando ela me agradeceu, saram dela raios lindos, coloridos, que vieram at mim. Foi muito agradvel. Percebi que aquela sensao de carinho que. recebia dela, eu j a tinha recebido outras vezes, principalmente quando estava no Umbral. Tambm agradeci a Dona Rita, pois estava ali para isto. E vi que ao faz-lo tambm saram de mim esses raios, que lhe foram tambm muito agradveis. Como voc explica isto? - Quando estamos carentes - respondi -, que mais sentimos as vibraes de carinho, como aconteceu a voc no Umbral. Dona Rita orava, desejando-lhe que estivesse bem. O ato de agradecer muito bonito. A gratido sincera sai da alma e envolve a pessoa que agradece, com raios de suave colorido, os quais depois vo para quem estamos agradecendo, beneficiando

a ambos. Muitos pensam que bons e harmoniosos fluidos s acontecem em esferas elevadas e que s espritos superiores so portadores de tais vibraes. que ainda no perceberam que, por Deus, fomos dotados em estado potencial com a capacidade de amar e de sermos fraternos, cabendo-nos somente dinamizar este estado de vida. O estado psquico de gratido uma faculdade do ser humano. Somos filhos do amor. Mas no devemos nos importar com agradecimentos e, sim, compreender o que realmente somos, para que, ultrapassando o egosmo cheguemos ao estado de fraternidade, em que o reconhecimento seja uma situao natural de se viver. Beneficiamos a ns mesmos, quando cultivamos o sentimento sincero da gratido. Ningum fez mais perguntas e samos, para um pequeno intervalo. Fiquei a meditar. Muitos temem a desencarnao por no terem o preparo para essa continuao de vida. Muitos sofrem com essa mudana, que a vida nos impe, sem que tenhamos outra escolha. Outros a acham maravilhosa, pois, pela lei da afinidade, gostam muito do lugar para onde foram atrados. A natureza no d saltos, nada excepcional e a beleza est na simplicidade. Muito se tem falado da continuao da vida depois da morte fsica, mas cabe a cada um fazer 30 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

seu preparo, sem descuidar do tempo presente. Pois nele que construmos nosso futuro. Devemos viver bem e no Bem, sempre. A desencarnao pode ocorrer a qualquer momento. Que ela nos surpreenda, ento, de tal modo que possamos estar aptos a continuar a viver bem e felizes. Colquio Interessante Numa aula especial, trocamos idias sobre diversos assuntos do interesse da maioria. Lena, nossa querida colega, alegre como sempre, indagou: - Patrcia, por que uns se deslumbram tanto com as Colnias e outros, no? - Nada deve acontecer em excesso - expliquei. - O equilbrio precisa existir sempre. Colnias servem de lar a muitos desencarnados, mas temporariamente. necessrio amar, respeitar e dar valor a todas as formas de lar. Muitos, pela vibrao, se afinam mais com estes lugares de Paz e Harmonia que, para outros, so montonos e sem atrativos. Quando aprendemos a ver Deus em tudo e dentro de ns, qualquer lugar maravilhoso, pois no existem lugares ruins. Se estamos satisfeitos conosco, so ada nos para seremos felizes onde estivermos, se insatisfeito rece suficientemente bom. Josefino perguntou para elucidar-se. - Patrcia, as Colnias progridem?

- Sim e muito. As Colnias esto sempre progredindo pelo trabalho de seus moradores. Sempre se modificam para melhorar a vivncia temporria de todos que aqui vm. - Elas aumentam de tamanho? Quem as constri? - indagou Josefino novamente. - Normalmente - respondi -, as Colnias so criadas e quenas pelos seus fundadores. Vo sendo ampliadas conforme 32 PATRCIA / VERA LCIA MARIlVZECK DE CARVALHO

a necessidade. Seus fundadores so sempre desencarnados que amam o Bem e o prximo. Muitas vezes, aps a fundao, permanecem eles trabalhando nelas, para o Bem comum. Cada Colnia tem os seus fundadores; so eles orientados por espritos superiores, que trabalham como construtores, no Plano Espiritual. - Patrcia, nunca tive uma profisso, nem quando encarnado, nem quando vagava desencarnado - disse Josefino. - Aqui aprendi muito e, aps o curso, vou estudar enfermagem. - Fico contente por voc, porque conhecimentos s nos fazem bem e, quanto mais sabemos, mais podemos ser teis. - Patrcia - replicou Marlia -, continuaremos a exercer aqui a profisso que tnhamos quando encarnados? Fui advogada. Poderei trabalhar na advocacia? Quando encarnada preocupei-me tanto com isso! - Marlia, profisses devem ser temporrias. Encarnados, as temos tambm para a sobrevivncia. Aqui devemos ser teis, aprendendo as muitas formas de assim ser. Os conhecimentos que teve ao estudar e ao exercer sua profisso, fizeram que desenvolvesse sua inteligncia, pois, os conhecimentos que nos esforamos para obter, nos pertencem. Os encarnados no devem preocupar-se com o exerccio de suas profisses, no Plano Espiritual, ou inquietarem-se por no terem alguma. Quando queremos, achamos sempre um modo de ser til e de trabalhar. Aqui uma continuao de vida, mas muda-se muito, de vez que coisas que fazamos quando encarnados no h, muitas vezes, como e por que faz-las no Plano Espiritual. Aqui, nas Colnias, fazemos rodzio de muitas tarefas para aprender mais e tambm para escolher da que mais gostamos para a ela nos dedicarmos. Voc, Marlia, poder fazer muitas tarefas e muito lucrar com o aprendizado. - E no Umbral? - perguntou Marlia novamente. - Trabalham, por l? Exercem os desencarnados as profisses que tinham quando encarnados? - Os que sofrem no Umbral - elucidei - no fazem nada, a no ser os que so obrigados, como escravos. Os moradores, principalmente das regies umbralinas, trabalham, s que de O VO DA GAIVOTA 33

modo muito diferente dos desencarnados que o fazem para o bem comum. No Umbral, tudo feito com egosmo, vaidade e para o mal. Consideram estar trabalhando, quando esto vingando

obsediando e destruindo. L muitos tm conhecimentos, mas os usam de forma errada. Quanto s profisses que tinham , quando encarnados, quase sempre no tm como exerc-las, j que a vida fsica difere muito da que vivemos no Plano Espiritual. - Patrcia - disse Marlia -, quando eu ainda estava encarnada, um amigo meu desencarnou e, na ocasio, fiquei muito impressionada. Comecei a sentir muitas dores, como ele as sentia. Meu esposo me levou ao Centro Esprita e l me falaram que ele no estava comigo como julgvamos, mas sim num hospital no Plano Espiritual. Fui aconselhada a no pensar nele e, sim, melhorei. Lembrando agora deste fato, gostaria de entender o que se passou. - Vou lhe responder o que pode ter ocorrido. Porm no se pode dar uma resposta categrica para algo, sem se analisar bem o que aconteceu. Para cada fato h vrias explicaes. Esse seu amigo desencarnado no estava perto de voc, mas, ao pensar mito nele, voc se ligou mentalmente a ele. Quando isso acontece, o que pode suceder uma transmisso de vibraes, e at mesmo uma transfuso de energias. Por isso, somos incentivados pelos instrutores a fazer coisas boas e a nos ligar a pensamentos elevados ou a espritos bons, pois, assim procedendo, absorvemos suas vibraes. Aquele que tem mais, d ao que tem menos. Ao pensarmos coisas ruins, prendemo-nos a espritos afins e deles recebemos as ms vibraes, quando no, somos por eles vampirizados, principalmente se estivermos encarnados. Podemos tambm permutar vibraes de desarmonia e angstias. Voc, encarnada na poca e pensando forte, se ligou ao seu amigo desencarnado que, mesmo socorrido num hospital, estava ainda enfermo, e assim ocorreu a troca de fluidos. Ao no pensar mais nele to insistentemente, desligou-se e melhorou. Devemos orar para todos, sem atrair para ns nada que o outro esteja sentindo. preciso orar, mas somente enqar pessoa a querri oramos, bons fluidos, nimo, paz e alegria. 34 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

- Patrcia, por que h tantos desequilbrios? So muitos os desencarnados, perturbados, e tambm vemos encarnados com crebros danificados, portando doenas mentais. Este assunto me intriga - falou Olavo. - Voc, Olavo, deu a designao certa: desequilbrio - falei. - Encarnados, quando se alimentam demasiado , desequilibram o aparelho digestivo, e a m digesto certamente os incomodar. Do mesmo modo, podemos nos equilibrar ou no, como resultado de nossos atos. Aes boas nos equilibram, harmonizando-nos com a perfeio. Aes ms danificam o que est bem, desequilibram, trazendo sempre a doena e o sofrimento. E quando sofremos sem nos revoltar, acabamos por entender que foram nossos atos negativos que motivaram essa situao. Ao mudarmos nossa maneira de viver, teremos aprendido mais uma lio. E, se no aprendemos pelo amor , acabaremos aprendendo pela dor. A mente e o corpo no so criados

por ns, apenas os desenvolvemos. Tanto a mente como o corpo anseiam pela harmonia, que compe a natureza. Essa harmonia s possvel quando no h interesse pessoal e quando todos trabalham com um nico objetivo, o do Bem comum. Agindo egoisticamente, ns nos separamos espontaneamente do movimento da vida. como se o feto recusasse o sangue da me que o sustenta. A mente ou um corpo privados dos fluidos csmicos, pelo egosmo, entram em estado de perturbao. O remorso destrutivo tambm desequilibra bastante. Muitos, ao desencarnarem, percebem o tanto que erraram, perturbando-se demasiado e depois, sem um preparo especializado das Colnias, uma compreenso, ao reencarnar passam para o corpo esse desajuste. Essas deficincias tambm podem ocorrer quando abusam do corpo saudvel, danificando-o com drogas ou suicidando e, ento, se ressentiro, em outra encarnao, de um corpo perfeito. Igualmente, o desequilbrio mental ser causado por abuso da inteligncia, ao se prejudicar os outros. As anomalias fsicas no existem como punio de Deus, mas sim como conseqncias do nosso remorso destrutivo, advindo de vivncia com tins egosticos, como se no participssemos da humanidade. Reconhecer que erramos fundamental, mas punirmo-nos, por incrvel que parea, uma atitude de egosmo. O VO DA GAIVOTA 35 Que seria mais agradvel a Deus: ser um aleijado, representando um peso para a sociedade, ou reconhecer nossos desacertos e preparar-nos convenientemente para ser daqueles que constroem e enobrecem a humanidade? certamente, a segunda hiptese. Helena pediu para falar e, atendida, propiciou-nos valiosa lio. - Encarnada, tive uma deficincia mental. Meu crebro no funcionava normalmente. Doenas? Foram vrias, e a medicina tinha muitas explicaes. Tomei muitos medicamentos. Desencarnei aps sofrer muito. Que fiz para ter vivido assim? Este fato veio a me incomodar, depois de eu ter melhorado no hospital desta Colnia. As lembranas do passado vieram fcil minha mente, entretanto, quando encarnada, tambm as tinha e no as entendia, e elas vinham como sensaes desagradveis a me incomodar. Meus erros foram muitos, e me marcaram profundamente as recordaes que me vinham ao crebro, de forma difusa, levando-me a me perturbar ainda mais. No quero e no vou falar dos erros do passado. Contarei a vocs a minha vida como doente mental, sem generalizar, s narrando minha experincia particular. Reencarnei, por afinidade, numa famlia de classe mdia, tendo assim assistncia material e tambm afetiva. Desde criana, j era considerada estranha e esquisita. Quando entrava em crise, falava coisas desconexas, afirmando ser outra pessoa, com outro nome, algum desconhecido. Sentia-me realmente assim: duas personalidades. Na adolescncia, piorei muito e fui internada em hospitais, onde sofria bastante com a separao dos meus e com os medicamentos. Em algumas vezes, agia como sendo uma pessoa, em outras, agia diferente. Havia tambm perodos de melhora, quando conseguia reconhecer ser ora doente, ora normal. Queria me curar, pois envergonhava-me dos vexames que causava, me irritava e sofria com as chacotas e risos dos

outros. Aborrecia-me dizer coisas tolas, ser ridcula. No era agressiva, a no ser quando me irritava, a eu xingava as pessoas. Sendo catlica, ia sempre igreja, quando estava calma. Se me via nervosa, minha me no me deixava ir, porque no parava quieta, incomodando as pessoas. Gostava de ver Nossa 36 PATRCIA / VERA LCIA MARIIVZECK DE CARVALHO

Senhora Aparecida, a quem chamava de Parecidinha. No rezava de forma decorada, e minha contemplao representava minha orao. Familiares e conhecidos, para me chatear, mexer comigo, diziam que iam bater na imagem de Nossa Senhora, ento eu chorava desesperada e s parava quando me garantiam que no bateriam na minha Santinha. Fugia muito de casa para passear pelas ruas, andando de um lado a outro e, quando me cansava, voltava para casa. Dei muitos vexames e sofri por isso, porque no queria ser daquele jeito. Para meu orgulho era um enorme ridculo. Aprendi muito, s que desencarnei doente, com muitas dores e, nessa ocasio, uma equipe, que trabalhava em nome de Maria, veio me socorrer. Sarei aps um bom e longo tratamento espiritual, neste hospital da Colnia, e digo-lhes que agora tambm perdi o orgulho, que foi minha pior doena. Completei com a explicao: - Quando o desequilbrio mental muito grande, pode-se perder a capacidade de ser uma pessoa sadia. A recuperao s se faz com o auxlio de outros espritos e atravs de reencarnaes, ocasies em que se recebe novo crebro, mas que pode novamente ser danificado enquanto persistir a causa. O reequilbrio vem pouco a pouco, como a gua limpa em caixa suja, que, renovada, acaba por limpar todo o ambiente. E pela bondade de Deus, concedendo-nos a reencarnao, que acontece a recuperao. Muitas so as causas que levam os encarnados a terem doenas mentais, e suas sensaes diferem de uma pessoa a outra. Tenho escutado muitas narrativas diferentes de pessoas que, encarnadas, tiveram deficincias mentais. No existem duas experincias iguais, e, normalmente, so recuperaes difceis, pela dor, quando se poderia muito bem t-las feito pelo amor. Temos, para meditar, a narrativa de Helena, lembrando que no devemos ironizar o doente, porque poderia sermos ns a passar por essa experincia de recuperao. No tendo mais comentrios, a aula terminou com muito proveito para todos. Amor e Desapego Paula tudo escutava e ficava pensativa. No tinha muito tempo de desencarnada. Saindo de suas reflexes, indagou: - Ser que um dia irei gostar da vida de desencarnada? Sinto muita falta de tudo que era meu. Carlos Alberto demonstrou vontade de responder colega e, notando isso, dei-lhe permisso para falar. - Paula, tambm j me senti assim. Fiquei revoltado ao desencarnar. No aceitava, pois fui tirado da vida fsica cheio

de vitalidade, sonhos, planos, estava casado e com duas filhinhas para criar. Pensei muito: por que eu? Com tantos querendo morrer e continuando encarnados, e eu que gostava tanto da vida fsica, desencarnei. Minha av com muita pacincia tentava me confortar. Dizia-me sempre: "Carlos Alberto, aqui voc no ter a competio de um trabalho estafante, no ficar doente, no sentir frio ou calor. A vida aqui to boa!" "Gosto do trabalho competitivo, aprecio a luta pela sobrevivncia, gosto do frio e nada mais agradvel que sentir calor, e ainda: as doencinhas quebram a rotina" - respondia, sincero. Com o tempo, acabei conformado com o inevitvel. Aps muitos anos, entendi o porqu de ter-me sentido desse modo. Foi por no estar preparado e no ter informaes verdadeiras da desencarnao. Amava muito e de maneira incorreta a vida material, para entender a vida espiritual. E, quando me tornei 38 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

til, que passei a amar a vida, sem me importar se estava encarnado ou desencarnado. Paula, por que voc no aprende a amar? Todas as etapas de nossas existncias, no Plano Fsico ou Espiritual, nos so teis." - Achei muito vlida a opinio de Carlos Alberto - falei Paula, querendo ajud-la, como tambm para elucidar a turma sobre essa questo de interesse de todos, e que no estava no plano de aula. - Paula, tenho notado que voc se queixa muito. Agia assim, quando encarnada? - Acho que sim, tinha reumatismo, a me incomodar muito, morava com meu filho e no me dava bem com a nora... - Paula - interrompi -, muitos de ns costumamos reclamar por no aceitar o que temos e o que somos. Quando encarnada, voc se queixava de muitas coisas, e no mudou ao desencarnar. Ningum muda de imediato. Para nos transformarmos, necessitamos de muita compreenso. Temos sempre muitas possibilidades de ser felizes, s que quase sempre no as percebemos. s vezes, prefere-se desejar algo que no se tem, na iluso de ser, ou ter. Consideramos estar nos atos externos ou em terceiros a nossa to falada felicidade. E, na maioria das vezes, ao conseguir o que almejamos, a euforia passa logo, e voltamos a desejar outras coisas. Todavia a to sonhada felicidade est dentro de ns, no importando onde vivemos e o que fazemos; os atos externos no devem influir em nossa Paz interior. Muitos pensam que s sero felizes desencarnados. Outros, que s a vida fsica lhes trar alegrias. Ao colocar fatos externos como condio para sermos felizes, no seremos. E tambm no devemos esperar que outros resolvam, para ns, a dificuldade. Enquanto no solucionarmos nossos conflitos de ter e ser, permaneceremos insatisfeitos em qualquer lugar. A felicidade duradoura est na Paz conquistada, na harmonia, no equilbrio, na alegria de ser til, no Bem e ao caminhar para o progresso. Creio, Paula, que ir gostar da vida aqui, quando sua felicidade no depender de coisas ou de pessoas; no esperar recompensas, retorno; no exigir nada; quando voc amar a si mesma, a

vida e a todos que a rodeiam. O VO DA GAIVOTA 39

- Patrcia, por que no falamos um pouco sobre o amor?disse Helosa. - Sobre o Amor e o desapego. O assunto era deveras fascinante, tentei elucidar a turma. -Amar, de forma egosta, todos os seres humanos o fazem, nem que seja a si mesmos. Mas o amor de forma verdadeira, sem egosmo e posse, que demonstra que aprendemos. Ao amar verdadeiramente, anulamos erros e irradiamos alegrias em nossa volta. Amar e desapegar-se dos seres que amamos no fcil. Os encarnados, no aprendizado para se desprender do que lhes caro, chegam a ter sensaes de dor, porque sentem sufocada sua iluso de ter. necessrio amar tudo, mas sabendo que isso nos emprestado. E por quem? Pelo nosso Criador. Lembremos que com objeto emprestado, cuidado dobrado. Sim, realmente, o que temos, nos emprestado, j que no somos donos das coisas materiais, no possumos nada. Nosso amor pelas coisas deve ser sensato, para usar o que nos permitido, sem abusar. E tambm dar valor casa que nos serve de lar, s roupas que vestem o corpo, ao local em que trabalhamos, onde recebemos o necessrio para o sustento material, enfim, a todos os objetos que nos so teis. Porm, teremos um dia que deixar isso para outros, e que os deixemos da melhor forma possvel, a fim de que eles possam desfrutar dos objetos emprestados tanto quanto ns. At o corpo fsico temos que devolver natureza. E essa devoluo como difcil para muitos. At a, parece fcil, embora saibamos que muitos, possudos pelo desejo de ter, se esquecem desse fato e se apegam a coisas, objetos, julgando ser deles, mas, quando desencarnam, no querem deix-los e a eles ficam presos. H uma parte mais difcil, que amar nossos entes queridos sem apego. Quase sempre nos julgamos insubstituveis junto daqueles que amamos, pensando am-los mais que ningum, e ser indispensveis na vida deles. Apegamo-nos assim s pessoas, esquecendo que elas tambm so amadas por Deus e que somos companheiros de viagem, cabendo a cada um caminhar com seus prprios passos. E, ainda, muitas vezes nessas caminhadas, somos levados a nos distanciar um do outro, embora afetos sinceros no se separem. Podem estar ausentes, no separados. Deixar que 40 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

nossos afetos sigam sozinhos, sem ns, algo que devemos entender. o desapego. Ao desencarnar, ausentamo-nos do convvio de nossos entes queridos e, se no entendermos isso, consideraremos essa ausncia como separao definitiva. preciso aprender a amar com desapego, ampliar o nmero de nossos afetos, sem a iluso da posse. Se formos chamados a nos ausentar, pela desencarnao, continuemos a valoriz-los, respeitando-os, ajudando-os. Estaremos no caminho do desapego, e continuaremos a am-los da mesma forma. Terminei de falar e lembrei-me de Luiz, de sua histria, que poderia bem ilustrar este assunto. Convidei-o a falar de si,

para toda a classe, sabendo que sua narrativa seria importante para todos ns. Luiz comeou a falar: - Minha vida transcorria com normalidade. Minha famlia e eu vivamos numa propriedade rural, onde ganhvamos o po com trabalho honesto. Apesar de muitas dificuldades, ramos felizes, pois aprendemos com nossos pais a trabalhar e confiar em Deus. Estava com cinqenta anos, ao desencarnar. Quando me dei conta, sem saber quanto tempo havia passado, vi-me num ambiente agradvel e fraterno. Passados uns dias, senti, l no fundo, preocupao com minha famlia, e isso aumentava a cada instante. Quando o mdico que nos atendia, chegou para a visita diria, externei minhas preocupaes, que se transformavam numa grande angstia quase insuportvel. Com muita ateno e carinho, esclareceu-me que eu havia morrido, desencarnado, e que estava num Posto de Socorro, salientando que aquilo era percepo psquica do estado mental por que passava minha famlia, naquele momento difcil. Eu sentia daquele modo, porque era como se vivesse cada um dos pensamentos e angstias da minha esposa companheira e de meus filhos. Explicou-me tambm que todo sentimento muito forte, em relao a uma ou mais pessoas, nos une mentalmente a elas, e que estamos ligados pelo amor ou pelo dio. Eu estava ligado aos meus, por afeto. Ensinou-me tambm que eu, no momento, no podia fazer nada por eles a no ser orar, pedindo a Deus que lhes concedesse paz, amor, harmonia e a aceitao do ocorrido, pois a morte de um ente querido quase sempre muito dolorida. O VO DA GAIVOTA 41

um fato que ir acontecer em todas as famlias, no por estarmos sendo punidos, mas sim por circunstncias naturais do ciclo da vida. E, para que haja vida, necessrio o nascimento e a morte. Deveramos aceitar o fato assim como ele , no como queramos que fosse. Aquele ensino dirigido a mim, com palavras to carinhosas, no foi suficiente para aplacar minha angstia e preocupao, que aumentaram por saber que estava morto, desencarnado. Minha decepo e frustrao eram terrveis, pois fora, durante toda a vida fsica, muito religioso e "temente" a Deus. Obedecia sem questionar, como lei, a catequese de minha religio e acreditava nas palavras daquele que se dizia digno da possibilidade de doar bens divinos. E agora! - pensava aflito. - Estava morto e no estava no cu, em paraso nenhum! No vira Jesus Cristo! Mas, ponderava para mim mesmo, estava sendo bem tratado num local muito limpo e com carinho. O enfermeiro de planto, Antnio, do qual me tornei amigo, dava-me toda assistncia e nada me faltava. Mas tudo aquilo no foi suficiente para aplacar minha decepo e desejo de estar junto dos meus. Pensei muito, encontrei aqui tudo muito diferente do que imaginava. Mas, se existisse cu como acreditava, as pessoas que fossem para l, teriam, para ser felizes, que perder a individualidade. Porque, para mim, nenhum lugar seria um paraso, separado dos meus. Achava que tudo que desfrutei, quando encarnado, eram posses minhas: casa, stio e famlia. Os bens materiais, adquiri-os com trabalho honesto, mas eles no me

importavam, ainda mais que os deixei para os que amava. Chamei o enfermeiro e perguntei se poderia falar com o responsvel por aquele hospital. Logo ele voltou com a resposta que, como eu estava bem, iria ter alta no dia seguinte e nessa ocasio o diretor falaria comigo. No consigo descrever como senti lento o tempo que esperei at o momento da minha liberao do hospital. O que agravou bastante meu estado emocional foi o conflito de pensamentos, a preocupao com a famlia. Eu estava morto, sem estar preparado para o mundo que encontrei. No sabia onde me encontrava, nem o que ia fazer na nova vida. 42 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

Sentia os familiares em dificuldade e no tinha mais o corpo fsico. Como ajud-los? Foi em meio a todo este contlito e perguntas sem respostas que chegou Antnio, com roupas novas para mim, pedindo que me trocasse, pois o diretor do hospital estava minha espera para a entrevista to desejada. Aquelas palavras caram como bomba em cima de mim, pois at ento eu estava sendo bem atendido. As minhas dificuldades eram somente os contlitos dos meus pensamentos. Depois dessa entrevista, seria liberado, e para onde iria? Iria fazer o qu? O que um morto faz? Onde realmente estava? Foi com uma sensao indescritvel de desamparo, que me pus a caminho, com Antnio. Mas qual no foi minha surpresa, quando fui recebido pelo diretor. Se me sentia desamparado por Deus, ao ver aquela pessoa bondosa e atenciosa, senti logo o amor que emanava dele. O mal estar desaparecia medida que conversvamos, chegando a ponto de no me sentir mais decepcionado por no ter me encontrado com Jesus Cristo, pois encontrava ali um representante Dele. Com muito amor, o diretor foi me explicando tudo e delineando a minha recente maneira de viver, com nova acomodao e afazeres. Passado um tempo, acostumei, assumi a nova vida e gostei muito do local em que vivia. Era deveras bom, lugar de muita harmonia e fraternidade. Mas continuava a sentir minha famlia em dificuldades. Explicaram-me que, em breve, minha famlia se acomodaria com a nova situao. Com o passar do tempo, sentia minha companheira mais conformada com a falta, porm ela estava angustiada e o motivo no era a minha desencarnao, mas uma de minhas filhas. Como eu no estava suportando senti-los com dificuldades, comecei a ter remorso que, aos poucos, foi aumentando. Que esposo, que pai fora eu? Enquanto eles sofriam, eu vivia num lugar extraordinariamente bom. Fui falar com meu superior e confessei minhas preocupaes. Ouvi dele conselhos e explicaes, pois eu no tinha conhecimentos suficientes para O VO DA GAIVOTA 43

ajud-los. Mas, apesar de todas as recomendaes, no mudei de atitude, achei que, se nada pudesse fazer por eles, iria sofrer junto. No queria ter aquela vida maravilhosa e saber que eles sofriam. Seria solidrio com eles: se chorassem, queria abra-los e chorar tambm; se eram perseguidos, que me perseguissem; se machucados, que sentisse a dor de suas feridas. Pedi, insisti para voltar ao lar. Diante de minha atitude, meu superior autorizou a volta. Nossos desejos so sempre respeitados, quis voltar e o fiz. Apesar das explicaes e recomendaes, pensei estar preparado. Mas no estava. As dificuldades foram muito maiores do que esperava.3 Chegando em casa, deparei com dois mal encarados, espritos perturbados na maldade. Ao me verem, perguntaram-me se viera ver os familiares sofrerem. Eles obsediavam uma de minhas filhas e estavam prejudicando, infernizando toda a famlia. Quis impor a minha autoridade, pois era o chefe daquele lar, dono daquela propriedade. Quis expuls-los, porm eles se recusaram a sair. Isto me levou a ficar nervoso e era o que eles precisavam para que eu me perturbasse, ao contato com a vibrao ambiente. Senti primeiro uma violenta dor de cabea e logo em seguida uma agonia, como se tivesse desencarnado naquele instante. Perturbei-me por algum tempo, mas no sei precisar quanto, e esse meu estado s piorou a situao dos meus. Voltei ao equilbrio depois, numa reunio esprita, onde me senti unido a uma pessoa, havendo outra conversando comigo, explicando-me que eu precisava de auxlio e que Deus, atravs de seus enviados, estava me socorrendo. "Preciso ajudar os meus" - respondi. "Para auxiliar preciso ter condies" - esclareceu o orientador encarnado dessa reunio. "No se preocupe, os seus - normal querer auxiliar os que amamos. Mas s ajudamos quando preparados e, para esse preparo, no temos tempo determinado. Dependendo de muitos fatores, rpido para uns e demorado para outros. Podemos ajudar com conhecimentos e segurana, quando os orientadores do local que nos abriga, nos julgam capazes. Mas, mesmo assim nossa ajuda limitada, pois cada qual tem a lio que lhe cabe fazer. (N.A.E.) 44 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE (Arzvnr un

tambm esto sendo atendidos e, assim tambm, os agressores de sua famlia. Se no se quiser ter inimigos, necessrio tom-los, amigos. Estamos providenciando para que isso seja um fato. Senti-me melhor e o orientador me convidou: "Amigo, queira o socorro oferecido, v viver uma vida digna de um desencarnado. Ser que este o tipo de vida que seus familiares desejam para voc?" "No" - falei -, "eles me querem bem, pensam que estou no cu e que sou feliz." "Por que voc no faz o que eles querem? Por que no aprender a amar com desapego? O amigo no est esquecendo

que eles so, como voc, filhos de Deus? Se voc foi chamado a viver de outro modo, porque findou seu tempo como encarnado. E no ser egosmo a felicidade que se desfrutar numa casa de auxlio no Plano Espiritual, se a conseguiu por merecimento e afinidade. Faa o que tem que ser feito. No momento viver num abrigo para desencarnados, estudar e trabalhar, sendo til como fez quando encarnado. Vai, amigo, fazer o que lhe devido, no se envergonhe de ser feliz, porque, ao estarmos bem, irradiaremos alegrias que beneficiaro os outros." Mais tarde, na Colnia, j adaptado, que vim a saber que minha outra filha namorava o filho de um senhor, dirigente de um Centro Esprita, e o rapaz, vendo o que acontecia em minha casa, pediu ajuda ao seu genitor e esse auxlio no se fez demorar. Naquela ocasio, fomos todos orientados no Centro, os dois espritos que os atormentavam e eu. Com nosso afastamento, a situao melhorou muito. Minha esposa pensou ter alcanado uma graa que pedira a uma santa e a uma senhora desencarnada na cidade, tida como milagreira, por ter sido boa quando encarnada. Soube, mais tarde, que essa senhora no pde na poca ajud-los. E meus familiares nem ficaram sabendo que receberam tanto de desconhecidos, de um Centro Esprita. Hoje, estou bem, visito-os sempre e tento ajud-los dentro dos meus limites. Uma famlia grande sempre tem problemas, mas no me desespero quando no tenho como auxili-los. Luiz deu por finda sua narrativa, deixando-nos silenciosos. O VO DA GAIVOTA 45

Talvez porque todos ns j tivssemos passado por problemas parecidos e estvamos dispostos a aprender a amar sem apego. Aps a aula, meditei sobre o assunto. Muitos encarnados me tm pedido ajuda, talvez por acharem que posso muito, ou pelo que escrevo, atravs de livros. Porm nada sou, pouco posso. Esforo-me, isso sim, para aprender e trabalhar, pois almejo caminhar no Bem, rumo ao progresso. Devido s minhas tarefas, no posso atender a esses pedidos, porm eles no ficam sem resposta. A personalidade, aqui, no cultuada. Os bons espritos atendem em nome da f, da sinceridade, sem se importar de quem vem o pedido. Muitos, que os encarnados nem conhecem, so ativos no Plano Espiritual e atendem essas solicitaes. Constituem-se em obreiros, samaritanos, humildes trabalhadores dos Centros Espritas, desencarnados amigos e protetores dos que pedem. Fazem por amor, apenas pelo prazer de servir. Deve-se pedir a Deus, a Jesus, ao anjo protetor, que os bons desencarnados atendam e ajudem no que seja possvel. Conclu meus pensamentos com a certeza de que amo muito e que minha famlia aumenta constantemente, pois quero amar toda a humanidade. Mas tenho, pelos meus, imenso e infinito carinho, s que com desapego. Amo-os sem posse. o que todos ns devemos fazer: amar com desapego.

Um Pedido Diferente

Ao sair da classe, fui informada que havia uma visita para mim e me aguardava no jardim em frente da escola. Ao aproximar-me do local, veio ao meu encontro uma moa extremamente agradvel. - Patrcia! Sou Elisa! Gostaria de conversar com voc. - Oi, Elisa, como est? Sentemos aqui. Convidei-a e nos acomodamos num banco embaixo de uma frondosa rvore. Minha recm-conhecida falou de modo delicado. - Patrcia, vim lhe pedir uma ajuda muito especial. Na Casa do Escritor, me informaram que a acharia aqui. Antes , porm, fui procur-la num Centro Esprita, em que, disseramme, voc se manifestava. E, l, me decepcionei, porque a manifestante no era voc. Sorri, compreendendo. - Elisa, isso tem ocorrido. Gosto de Centros Espritas e muito mais ainda da Doutrina, que j abraara encarnada. Aps meus estudos de Reconhecimento do Plano Espiritual, s fui a alguns Centros Espritas para conhecer e estudar, no os tenho visitado mais. Quando vou Terra, apenas vejo meus familiares e, quando d, visito somente o Centro Esprita que meus familiares freqentam, para estar com eles e rever amigos. Isto porque optei por estudar e trabalhar com desencarnados em Colnias. O VO DA GAIVOTA 47

- Pensei que voc estivesse ditando mensagens por outros mdiuns - falou Elisa. - Tudo o que fao e que farei com muito amor - repliquei. - No meu trabalho desenvolver mdiuns, pois tarefa que exige muito preparo e pacincia. Tambm no tenho como incumbncia ser protetora de ningum, nem escrevo por outros mdiuns, a no ser por minha tia Vera. Isto porque ns duas nos rearamos durante anos, quando estvamos desencarnadas, par esse trabalho. Reencarnamos e tivemos, na vida fsica, grande afinidade, conseguia transmitir a ela o que pensava.4 Aps programar nosso trabalho, ns o executamos com dedicao, para que saia o melhor possvel. Tenho recebido muitas manifestaes de carinho por estes livros, e meu afeto por todos sincero e profundo. Gostaria de estar perto daqueles que desejam minha presena, mas impossvel, porque meu trabalho nas Colnias e no tenho condies de estar em muitos lugares ao mesmo tempo.5 - Voc vai visitar muito seus pais? Comunica-se no Centro Esprita que eles freqentam - Estou com eles sempre que me possvel. Meus familiares e eu somos espritos afins, unidos por um afeto puro e desinteressado. Na reunio que eles freqentam, no se valoriza o nome do comunicante, mas, sim, o bem que sua presena ou comunicao proporciona aos que esto presentes, sejam encarnados ou desencarnados. Quem organiza a parte espiritual

4 - Fato presenciado pelos familiares. (N.A.E.) 5 - Eu, Patrcia, autora dos livros Violetas na Janela, Vivendo no Mundo dos Espiritos, A Casa do Escritor e este O Vo da Gaivota, afirmo que no me manifestei e nem tenho me manifestado em nenhum lugar ou Centro Esprita nem por nenhum outro mdium, seja pela psicografia ou pela psicofonia. Recomendo muita cautela a esse respeito. Para que entendam bem o processo, sugiro que leiam e meditem sobre o captulo "O Engano" do livro Aconteceu, de Antnio Carlos. (N.A.E.) 6 - Agora que trabalhamos neste livro, como sempre com muito carinho, vou s nos horrios certos para ditar tia Vera. Continuo a estudar e a lecionar nas Colnias de Estudo. Por opo, volto Terra s para este trabalho. (N.A.E.) 48 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

nosso grande amigo Artur e seus colaboradores que so uma quantidade enorme de Joss, Anas, Joaquins, Marias, Antnios e muitos outros nomes comuns esquecidos dos homens, mas conhecidos de Deus. Meu pai nunca me invocou nem dei comunicao de forma espontnea. Reconheo que, nessas reunies, sou aprendiz e que meu pai, encarnado, sabe muito mais do que eu. E, quando l vou, o fao para escutar e aprender. Mas voc veio pedir ajuda. De que se trata? - Sei que os trabalhadores da Colnia Casa do Escritor tm atendido, em seu nome, inmeras pessoas. Estou ciente tambm que ao pedirmos nem sempre seremos atendidos por a quem fizemos as rogativas, pois muitas vezes so outros espritos que nos socorrem. Entretanto, me foi permitido vir at voc. Moro na Colnia Perseverana, trabalho como enfermeira em um dos hospitais, mas estou de licena, para cuidar de um assunto particular. Porm, analisando bem o problema que quero resolver, compreendi que no tenho como faz-lo sozinha. Conversei com um socorrista do Umbral e ele me informou que, para esse tipo de trabalho, seria aconselhvel pedir ajuda a um Centro Esprita, a uma pessoa que possua preparo especializado para a tarefa. Ouvi, surpresa, ele me dizer que seu pai poderia me ajudar. Em vez de ir logo ao Centro Esprita onde ele trabalha, vim primeiro at voc. Se considerar conveniente e me encaminhar a eles, o grupo do qual seu pai faz parte certamente me ajudar. - Certamente - respondi rindo. - O que no fazem os pais pelos filhos? Voc pensou bem... Achando que me devia mais explicaes, Elisa continuou a falar. - Fui, quando encarnada, muito doente. Logo que desencarnei, socorreram-me. Recuperei-me rpido e gostei da nova vida e da Colnia para onde fui levada. Era ainda jovem, vinte e trs anos, e deixei na Terra meus pais e dois irmos, que muito me amam e que me ajudaram muito com suas oraes. Estava contente, estudava e trabalhava. Foi ento que algo comeou a me inquietar, de vez que sentia grande necessidade de recordar

minha encarnao anterior, por certo ligada a acontecimentos O VO DA GAIVOTA 49

talvez, tivesse que solucionar, por isso sentia muita vontade lembrar. Fui, ento, procurar ajuda no departamento rprio e pedi para recordar meu passado. Estudando meu pedido, o pessoal especializado me atendeu e pude recordar. wmpreendi que minha preocupao era com um esprito, a ,quem sou muito ligada; pois inquietava-me por ele, s que no sabia onde estava, e quis encontr-lo. Aps algumas pesquisas, tomei conhecimento de que Walter est desencarnado e em um local do Umbral. Sinto culpa por ele ter cado no erro e estou triste por ele estar l. Elisa enxugou as lgrimas, aquietando-se por alguns segundos; respeitei seu silncio, aguardei e logo ela continuou: - Walter est no Umbral, numa fortaleza, e o chefe do local muito perigoso. - Ele pediu ajuda? - indaguei. - No, no tem condies para isso. Se tivesse pedido, um socorrista j o teria tirado de l. Ele est muito iludido, completamente perturbado. Sofre, esquece do Pai Maior e julga-se tambm esquecido. - Socorrer algum sem que ele queira difcil - falei. - por isso que venho pedir para voc me ajudar. Se o tirarmos de l e o levarmos ao Centro Esprita, para receber orientao, atravs de um mdium de incorporao, ele ir querer o socorro - falou Elisa esperanosa. - Elisa, por que Walter est perturbado? - Resgate, Patrcia, mas tambm pelos txicos. Sei que uma ajuda difcil. Drogados do muito trabalho, ainda mais os que no querem socorro. Mas eu o amo tanto! Seus olhos meigos encheram-se novamente de lgrimas. Sorri, animando-a e pedi: - Conte-me tudo. - Sabendo onde Walter estava, fui Colnia a que aquela regio do Umbral est vinculada. Pedi a eles informaes, 7 - O Umbral separado, para melhor haver socorro, por regies que esto vinculadas a uma Colnia. Ex.: uma cidade de encarnados tem seu Umbral, Postos de Socorro e Colnia. As regies como as cidades do Umbral tm nomes e essas designaes so muito repetidas. (N.A.E.) 50 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

inclusive por "vdeo"s, para conhecer o lugar. Entristeci-me mais ainda. O local era horrvel. Chama-se Tnel Negro, e consiste numa construo que tem s um porto de entrada. O chefe desse lugar chama-se Natan e, juntamente com outros desencarnados afins, ou seja, um bando, fazem experincias

com os toxicmanos desencarnados que vo l. Muitos ali sofrem horrores. Indaguei aos instrutores como faria para libert-lo de l e eles me disseram que, num ambiente trevoso daquela espcie, seria necessrio algum esprito ou espritos que tivessem conhecimentos em manipular foras primrias. E um encarnado o faria com mais facilidade, pois os desencarnados, mesmo sendo bons, teriam limitaes j que no mais possuem vibraes primrias.9 Tambm no bastaria s tir-lo daquele lugar ruim, porque, liberto, no se poderia traz-lo para um socorro que no quer, por estar revoltado, abobalhado e perturbado. No poderia deix-lo vagando no Umbral, porque seria novamente enturmado a seus afins e talvez ficasse em condies piores ou, ento, cairia em outras armadilhas que s lhe trariam sofrimentos, e poderia tambm vagar entre os encarnados, da sua mesma espcie, prejudicando-se mais. Para ajud-lo a querer regenerar-se, aconselharam-me que teria que orient-lo, fazendo com que entendesse que estava errado. Mas, no estado em que se encontra, no ir me escutar. Tendo o choque da incorporao, receber do mdium e dos orientadores, encarnados e desencarnados, que sustentam a reunio, o equilbrio de energias psquicas de que necessita. Receber mais, se o mdium for equilibrado, e compreender seu estado 8 -A palavra "vdeo" foi usada apenas como identificao, para que o leitor tenha uma idia aproximada do que seja o aparelho. (N.A.E.) 9 - Vibraes ou energias primrias so mais materiais, as quais espritos ligados matria possuem e encarnados tambm, por terem o corpo fsico. Espritos bons e esclarecidos normalmente no as possuem, pois esto mais voltados para o plano espiritual, mas podem comandar os que as tm. Elisa se referiu a quem lhe deu informaes, a ela e a mim, j contando com minha ajuda. Para auxiliar espritos trevosos necessrio saber, e ns duas no havamos aprendido. E quem manipula as foras primrias so os que j se libertaram dos condicionamentos do mundo fsico, pois a natureza obedece as suas ordens. (N.A.E.) O VO DA GAIVOTA 51

desencarnado. Tambm, recebendo uma boa orientao, r querer o socorro e assim eu o ajudarei. o Como v, seu e encaixa bem na ajuda de que preciso. Fez uma pausa e continuou: - Walter desencarnou jovem, completamente dominado txico. Foi assassinado aps uma briga com outro companheiro de vcio, e est to perturbado que nem sabe o que lhe aconteceu. Patrcia, voc poderia pedir por mim esse favor a eu pai? - O chefe no ir gostar se o tirarmos de l - eu disse. - ... No ir gostar - Elisa respondeu preocupada. - Voc e eu no podemos - expliquei -, no temos conhecimentos e nem sabemos como abordar esse chefe e seus seguidores. Para enfrentar desencarnados trevosos, no basta s ser bom, preciso saber como manipular o elemento primrio que compe a estrutura fsica da Terra. Essa fora uma s , e os bons a usam para o Bem, porm os maus, para dominar, destruir e se impor. Esse chefe possui tais conhecimentos,

inteligente e, assim, precisamos de algum que o enfrente altura. Vou lev-la at meu pai, certamente ele e seus companheiros desencarnados podero orient-la. Meu pai, antes de reencarnar, trabalhou muitos anos como socorrista no Umbral, e conhece a regio muito bem. E agora, encarnado, ele vai muito l prestar socorro, quando est desligado do corpo fsico pelo sono. Com certeza, ir conosco tirar seu ente querido, do Tnel Negro. Como a equipe que trabalha no Centro Esprita tambm laboriosa e dedicada, ela poder nos acompanhar e ajudar nesse socorro. - Patrcia, foi difcil para mim entender que um encarnado tem condies de ajudar a desencarnados que necessitam. Antes pensava que os encarnados s poderiam ajudar, em reunies de desobsesses, no Centro Esprita. Achava que s os desencarnados pudessem ir ao Umbral. 10 - Para muitos desencarnados, chegar perto de um mdium orientado no Bem, receber seus fluidos, como receber um choque que o faz despertar do seu torpor. (N.A.E.) 52 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVAr.un

- Claro que no - respondi. - Muitos desencarnados trabalham socorrendo e ajudando; no Umbral. Como tambm muitos encarnados, desligados do corpo fsico pelo sono, vo ao Umbral e s suas cidades, para confabular com espritos afins suas maldades, brigas, vinganas e, tambm, vo muito s suas festas. - Os socorristas no tm medo? - perguntou Elisa se assustando. - No. Todos ns, no importando se estamos vivendo num corpo fsico ou no, quando queremos e sabemos, somos muito teis no trabalho de socorro, no Umbral. Aqueles que sabem, devem faz-lo, pois l temos muitas oportunidades de praticar o bem. Quem sabe porque aprendeu, e os conhecimentos so tesouros adquiridos. No certo pensar que s desencarnados tm como ajudar no campo espiritual. Muitos encarnados tambm o tm, e o fazem. Devemos pensar que os desencarnados, que hoje ajudam com eficincia, sero os encarnados de amanh. E dos que esto no Plano Fsico, muitos foram os que socorreram com xito anteriormente. Meu pai nesta encarnao um homem comum, com todos os problemas de uma pessoa vinculada s necessidades da vida fsica, mas tambm trabalha espiritualmente. Vai muito ao Umbral embora seu tempo seja limitado pelo corpo fsico. Ele conhecido pelos maus, na regio umbralina onde trabalha, como feiticeiro. Talvez porque, durante centenas de anos, trabalhou no Umbral, onde adquiriu muitos conhecimentos. - Patrcia, Natan, o chefe do Tnel Negro, rancoroso. Conosco ele no poder fazer nada, por estarmos fora do espao de sua ira, mas e seu pai? Certamente esse chefe do mal ficar sabendo que foi o Sr. Jos Carlos quem nos ajudou. Estando seu pai encarnado, Natan poder atingi-lo. - Meu pai ama de forma especial esses desencarnados que temporariamente esto no caminho do mal. E, quanto mais espritos trevosos o pressionam, mais ele se lembra do passado, aperfeioando-se pouco a pouco na forma de lidar e ajud-los. Com ele trabalha uma equipe de desencarnados afns que lhe daro suporte. So companheiros de trabalho e tenho

certeza de que a ajuda ser bem maior do que voc pensa. O VO DA GAIVOTA. 53

Elisa sorriu, esperanosa. Mas, por ter que voltar aos meus afazeres, despedimo-nos. Nessa poca em que trabalhava na Colnia Vida Nova, tinha muito tempo livre e fui com ela aventurar-me na ajuda que, para mim, constituiu um trabalho diferente. No horrio marcado, encontrei-me com Elisa e volitamos at meu lar terreno. Lar sempre o lugar onde somos amados, e eu me sinto muito amada. Ali era minha ex-casa terrena, mas sempre o meu lar. Na sala, chamei por meu pai e, ele, desprendido do corpo fsico, veio ao meu encontro. - Papai... - Patrcia, minha filha! Abraamo-nos. E vendo que tnhamos visita, sorriu cumprimentando-a. - Papai, esta Elisa. Necessita de sua ajuda. - Sim... Contei-lhe tudo. - Vamos ajud-la. Patrcia, prcure saber de todos os detalhes sobre esse lugar e, amanh noite, iremos l, para que possamos planejar como libertar Walter. Agora, necessito continuar um trabalho... - Amanh mesmo traremos Walter? - perguntou Elisa. - No - respondeu meu pai. - Amanh visitarei o local e prepararei o Posto de Socorro que temos no Centro Esprita, para receber os que traremos do Tnel Negro, e tambm comunicarei aos meus companheiros desencarnados que trabalham conosco, para que tambm venham nos ajudar. - Mas no vamos socorrer um s, o Walter? - Elisa perguntou novamente. - Como ir l e libertar um s? - disse meu pai. - E os outros? Como deix-los? Se vamos socorrer, traremos todos os que querem ser libertados daquele lugar e os que esto, como Walter, incapazes de decidir. - Elisa - eu disse -, quando temos ocasio de socorrer, devemos sempre fazer, tanto com os que sofrem como com os que se perderam no caminho do erro. PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO - Sr. Jos Carlos - Elisa falou novamente com sinceridade -, Natan, o chefe, mau e... - Mas nosso irmo - respondeu meu pai m aqui ai - Amanh esteja neste horrio. Despedimo-nos de meu pai. E, na Colnia des edi Elisa, pois tinha uma reunio na escola. Combinamos de nos en contrar logo de manh para irmos ao Umbral. Chegaramos s ce o des do Tnel Negro para obter informaes e conhe- Ainda bem que vamos durante o dia! - exclamou Elisa. 54

- - respondi rindo -, mas noite voltaremos. Fui reunio, onde os instrutores do curso trocaram idias sobre o resultado obtido. Essas trocas de informaes so muito tdor e tnltores aproveitam muito. Depois, fui at ao orienda Colnia Vida Nova, onde eu estava temporariamente trabalhando, e pedi autorizao para fazer te autorizada.aE o' nos horrios de folga, no que fui prontamensse outro trabalho seria a a uda prometida a Elisa. O orientador geral de que falei, o responsvel pela govemador, instdrutorem muitas outras qualificaes, tais como: p etc. Trabalhando por pouco tempo ou por perodos indeterminados em um lugar, deve-se seguir as normas da casa, e tudo o que ser comunicado ou que for fazer, alm do ro ramado, deve pedir permisso. No dia seguinte, encontrei-me com Elisa e partimos para a Como combinamos, pela manh, Elisa e eu fomos ao Umbral. O local que amos observar ficava num vale enorme e muito sujo. Ns duas conhecamos aquela regio, pois tnhamos ido l para estudo e algumas tarefas. Mas sempre temos algo novo para conhecer, todas as vezes que vamos a uma das suas reas. O Umbral difere muito de uma regio para outra. E nunca havamos estado naquela parte. Elisa, como j tinha estado ali, me guiou. Nenhum esprito que j tenha algum conhecimento do Plano Espiritual, se perde no Umbral. Pode no achar o que procura e, se por acaso acontecer de no saber onde se encontra, s pensar na Casa em que trabalha, a que est vinculado, para receber ajuda de um socorrista ou entrar em sintonia com os que esto l e, em instantes, acha o caminho de volta. Pode tambm receber orientao no local em que se encontra. Como era de dia, o local tinha claridade, embora escassa, maneira do entardecer na Terra. Naquela regio, havia muitas pedras com, mais ou menos, um a dois metros de dimetro, a maioria cinza-escuro. O lugar era de pouca vegetao, com algumas rvores pequenas e tortas, pelo vento forte que costumava ter o lugar. Alguns filetes de gua corriam pelo cho, de cor marrom e, s vezes, era somente barro. Logo que chegamos s proximidades do Tnel Negro, vimos uma grande e slida construo. No encontramos nenhum desencarnado por perto, de vez que por ali no vagava 54 PATRCIA / VERA LCIA MARINZECK DE CARVALHO

ningum. Isso era mau sinal, significava que o local era temido; em lugares assim, sofredores e moradores que no pertencem ao bando, nem passam perto. Tnel Negro est localizado no Umbral, na parte fcil de visitar, ou seja, no local mais ameno. Muitos dos socorristas para se locomoverem melhor pela regio umbralina, e terem facilitados seus trabalhos, classificam o Umbral de trs modos: lugares amenos, medianos e profundos, de difcil acesso, onde

esto os abismos, os buracos e onde existem quase s trevas. Ns nos acautelamos, porque tudo estava muito silencioso, embora, s vezes, ouvssemos gritos alucinantes ou gargalhadas perturbadoras. No posso deixar de pensar que, se quando encarnada visse o Umbral, pensaria estar vivendo um filme de extremo horror. Entretanto, uma das Moradas do Pai, e onde tantos irmos nossos fizeram sua moradia. Alguns ali sofrem, outros reinam, mas existem aqueles que de l gostam, pois se iludem, enfim so todos infelizes. A criatura s ser infeliz quando se distancia do seu Criador. Uma trilha, um caminho, liga o Tnel Negro a uma cidade dos encarnados. Era de terra batida, contomando as pedras maiores. amos, assim, em ziguezague. Qualquer um no Umbral nos veria, por vibrarmos diferente, porm, se quisssemos, no seramos vistas. Os socorristas, quando trabalham na zona umbralina, se tornam visveis aos seus moradores, porque, assim, podem ser solicitados, facilitando os socorros. E, em visitas ao Umbral, temos sempre muitas oportunidades de ajudar e aprender. De repente, ouvimos vozes e, para melhor observar o grupo que passava, ficamos atrs de uma pedra maior perto da trilha. Como eles estavam distrados, no nos viram. No queramos que percebessem nossa presena. O bando que passou pela trilha, era de seis espritos, todos de aspecto ruim, armados, com roupas de couro e de tecido grosso, e alguns enfeitados com colares. As mulheres estavam muito maquiadas. Gargalhavam e falavam alto. Passavam rumo cidade dos encarnados. Bem perto de ns, dois deles, um casal, distanciaram-se do grupo, pararam para conversar. E ns os escutamos confabular: O VO DA GAIVOTA 57

- Nen - disse o homem -, vamos ver se o garoto toma a eira dose. Voc sabe que importante para mim vingaro pai dele. Orgulhoso e arrogante, sentir, vendo o nico homem viciar-se e se tornar um nada, um intil como a iria dos viciados. - Voc no gosta mesmo de viciados - falou, rindo, a mulher... - So uns fracos, uns bobos! - replicou ele. - Preste ateno, voc tem que fazer com que alguma das mocinhas viciadas se aproxime dele e namore o garoto. E da, apaixonado, ele star a um passo de se drogar. - O garoto costuma orar e no se afi