Velho Do Restelo

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Velho do Restelo Obra(s): Os Lusíadas Autoria: Luís de Camões Data de publicação: 1572 Local de publicação: Lisboa No canto IV, estâncias 94 a 104, de Os Lusíadas , quando a frota do Gama se prepara para partir, de entre a população que comparece na praia para chorar a partida dos navegadores, individualiza-se a figura de um Velho, de "aspeito venerando", "meneando / Três vezes a cabeça, descontente", "Cum saber só de experiência feito". Apresentando uma opinião adversa ao projecto expansionista, acusa a "glória de mandar", a "vã cobiça" que, sob a designação de Fama, move o povo, desmontando o heroísmo sobre que assenta a gesta lusitana. Numa perspectiva pessimista, enumera as consequências desse engano, nomeadamente o desamparo e inquietação em que deixam familiares e o "desprezo da vida" que os faz ir ao encontro de desastres, perigos e morte. Ao mesmo tempo, o Velho do Restelo dá voz às camadas do poder que teriam preferido a continuação de uma política de conquista e cruzada no Norte de África, para o que apresentam os argumentos de defesa da fé cristã e de reforço da segurança nacional, já que a expansão por mar deixa criar "às portas o inimigo", provocando o despovoamento e enfraquecimento do reino. A expressão «Velho do Restelo» é actualmente utilizada para representar o conservadorismo. Estrutura externa – canto IV (94-104) Estrutura interna - Reinado de D. Manuel - Após os preparativos da viagem - Despedida de Belém Caracterização do Velho - a idade ("velho"), - o aspecto respeitável ("aspeito venerando"), - a atitude de descontentamento ("meneando a cabeça, descontente"), - a voz solene e audível ("A voz pesada”) - a sabedoria resultante da experiência de vida (“Cum saber de experiências feito; experto peito”)

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Page 1: Velho Do Restelo

Velho do Restelo

Obra(s): Os LusíadasAutoria: Luís de CamõesData de publicação: 1572Local de publicação: Lisboa

No canto IV, estâncias 94 a 104, de Os Lusíadas , quando a frota do Gama se prepara para partir, de entre a população que comparece na praia para chorar a partida dos navegadores, individualiza-se a figura de um Velho, de "aspeito venerando", "meneando / Três vezes a cabeça, descontente", "Cum saber só de experiência feito". Apresentando uma opinião adversa ao projecto expansionista, acusa a "glória de mandar", a "vã cobiça" que, sob a designação de Fama, move o povo, desmontando o heroísmo sobre que assenta a gesta lusitana. Numa perspectiva pessimista, enumera as consequências desse engano, nomeadamente o desamparo e inquietação em que deixam familiares e o "desprezo da vida" que os faz ir ao encontro de desastres, perigos e morte. Ao mesmo tempo, o Velho do Restelo dá voz às camadas do poder que teriam preferido a continuação de uma política de conquista e cruzada no Norte de África, para o que apresentam os argumentos de defesa da fé cristã e de reforço da segurança nacional, já que a expansão por mar deixa criar "às portas o inimigo", provocando o despovoamento e enfraquecimento do reino.

A expressão «Velho do Restelo» é actualmente utilizada para representar o conservadorismo.

Estrutura externa – canto IV (94-104)

Estrutura interna - Reinado de D. Manuel- Após os preparativos da viagem- Despedida de Belém

Caracterização do Velho - a idade ("velho"), - o aspecto respeitável ("aspeito venerando"),- a atitude de descontentamento ("meneando a cabeça, descontente"), - a voz solene e audível ("A voz pesada”) - a sabedoria resultante da experiência de vida (“Cum saber de experiências feito; experto peito”)

Discurso do Velhoa) Primeira parte (est. 95-97) - condena o envolvimento do país na aventura dos descobrimentosb) Segunda parte (est. 98-101)- propõe uma alternativa à geração de Adão: o Norte de África. c)Terceira parte (est.102-104)- recorda figuras míticas do passado que representam a ambição

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a) Visão negativa dos descobrimentos

Causas da aventura marítima « -"vã cobiça", “glória de mandar”,"vaidade", « - "fraudulento gosto", “inquietação de alma”, “digna de infames vitupérios"« - "Fama", "honra",“chamam-te ilustre, chamam-te subida", « - “chamam-te Fama e Glória soberana"

Consequências da aventura marítima:

- mortes, perigos, tormentas,- crueldades, desamparo das famílias,- adultérios, desastres,- empobrecimento material,- destruição de fazendas e impérios.

b) Razões para uma alternativa

- religiosa ("Se tu pola Lei de Cristo só pelejas?"), - material ("Se terras e riquezas mais desejas?"),- militar ("Se queres por vitórias ser louvado?").

Novas consequências maléficas

- fortalecimento do inimigo ("Deixas criar às portas o inimigo") - despovoamento e enfraquecimento do reino.

c)- Exemplificação através de figuras míticas

- o inventor da navegação à vela - "o primeiro que, no mundo, / Nas ondas vela pôs em seco lenho!".- Prometeu, criador da espécie humana -"Fogo que o mundo em armas acendeu”.- Os casos de Faetonte e Ícaro, “Não cometera o moço miserando e o grande arquitector co filho”

O que representa este Velho?

- a voz do bom senso - contrária à viagem para a Índia- opção pela ligação à terra-mãe

- voz do próprio Camões - o poeta humanista- o plano da sabedoria

- tese (antítese) a que a epopeia se contrapõe- lealdade ao Rei e à pátria (amor da pátria)- procura de um ideal (Ilha dos Amores)