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SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

USO DA IMAGEM NO ENSINO DA HISTÓRIA

PEDRO GREBOGE FILHO

Orientadora: Dr.ª Claudia Madruga Cunha, UFPR.

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Dedicatória

A memoria de Pelágia Chapieski Greboge,

Mae, mestre, lavradora, estudou apenas um ano, caminhava 9 km descalça para chegar a escola, mas a vida lhe proporcionou poder falar e ler em Português e Polonês.

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RESUMO

Este artigo problematiza para o professor de História a utilização de imagens

das quais lança mão como fontes históricas, que tratam de possibilidades

diversificadas de indicar múltiplas visões de mundo. Quando quer trabalhar uma

História contada pelo olhar do aluno, dispõe das imagens ou da busca e da seleção

critica de imagens, de objetos, de outros como um meio que o coloca no centro do

processo educativo. O uso e a construção de murais como instrumentos didáticos

aponta para a necessidade de que os alunos percebam, de forma mais ampliada, as

diversas versões dadas para um fato. Os murais são confeccionados traduzindo a

História através de imagens, tais como: fotografias, gravuras, reproduções e

imagens diversas. Notadamente, relacionam e interagem com imagens que se

encontram nos livros didáticos provocando “estranhamento” e novas oportunidades

no aprendizado da história.

Palavras-chaves; imagem, murais didático-pedagógico, ensino da história, comunidade local

ABSTRACT: This article aims at discussing, for the History teacher, the use of

images that the teacher selects as historical sources for his job as a way of showing

the students new possibilities of improving different views of the world. When the

educator wants to teach the History told by the view of the students, he uses their

own images or selects critical ones, other objects and other Medias as a way of

placing this student in the center of the learning process. The use and the

construction of wall charts as teaching instruments made to display the History

through images, as a tool for this process, show the needs of the students to

perceive, in a broader way, the different views given to a same fact. Actually, these

wall charts are linked and related to images present in didactic books causing the

reader a kind of “strangeness” and new opportunities in the process of learning

History.

Key words: image, didactic and pedagogical wall charts, the teaching of History, local community

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USO DA IMAGEM NO ENSINO DA HISTÓRIA

Autor; Prof.Pedro Greboge Filho1

Orientadora: Profa. Dra.Cláudia Madruga Cunha2

Norteia este texto a preocupação com o uso da imagem na disciplina de

História. Problematiza-se, especialmente, a contribuição de uma noção de imagem

no ensino da História ou o modo como imagens documentam e figuram aspectos

vinculados a História na comunidade escolar. Resgata-se por este aspecto, uma

compreensão da História e, através da construção de murais, se discorre sobre

perspectivas que implicam a transição entre o passado histórico e o presente.

Para chegar a isto se fez um processo que começa pelo estudo da imagem,

principalmente, fotográficas e outras mais, ligadas a História tradicional. As imagens

explicitam representações temporais, seleções de uma visão de mundo que se

tornam mais explícitas, por exemplo, na fotografia.

A ideia de usar este estudo sobre a imagem e aplicá-lo no ensino da História

referindo-o às representações do ambiente escolar diz um esforço de um

profissional que quer de algum modo explicitar seu interesse de trabalho quando

utiliza a imagem. Ora as imagens, normalmente, perpassam a instituição escolar e

conduzem a um modo de pensar a fotografia e outras telas, regularmente,

presentes, quando da utilização, principalmente, de livros didáticos em sala de aula.

No ensino da História os conteúdos, muitas vezes, se distanciam do meio no

qual a escola, com sua trajetória mostra um passado no qual a comunidade, muitas

vezes não é contemplada. Sobre este aspecto é pretensão reunir ou fazer dialogar,

uma História geral com uma História local, produzindo pelo recolho e seleção de

imagens, novos sentidos, comunicações, representações a respeito do dado

historiográfico.

1 Graduação ...Professor de História na Escola XX 2 Licenciada em Filosofia (UFPEL), Mestre Filosofia (PUCRS), Doutora em Educação (UFRGS) é professora adjunto UFPR.

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Pretende-se fazer da imagem um elo entre os conteúdos da História Geral e

as representações sobre o passado local vindas do senso comum e explicitadas

pela comunidade. Faz-se do aluno o ator e mediador deste trabalho, que começa na

busca destas representações pela seleção de objetos e imagens que ele considera

importante selecionar, para depois construir murais os que possam dizer da História

local. Uma História contada pelo olhar do aluno, pois nele que se deposita o objetivo

deste processo.

O uso e a construção de murais como instrumentos didáticos aponta para a

necessidade de que os alunos percebam, de forma mais ampliada, as diversas

versões dadas para um fato. Os murais são confeccionados traduzindo a História

através de imagens, tais como: fotografias, gravuras, reproduções e imagens

diversas. Notadamente, relacionam e interagem com imagens que se encontram nos

livros didáticos provocando “estranhamento”. Já em um segundo momento, se

utilizando outras imagens associadas à documentação digitalizada, vídeos, filmes,

fotografia, etc se questiona o uso diferente destas imagens, através da eleição e

escolha de focos a serem mostrados na construção de murais. Assim, se propicia

autonomia do registro dos próprios alunos. Objetiva-se construir por diferentes

fontes um ensino onde a História no se efetive o dialogo com a realidade local.

A ideia é contribuir para que o professor de História possa discutir a utilização

de imagens quando lança mão de fontes históricas que tratam de possibilidades

diversificadas e das múltiplas visões de mundo, selecionando as que

necessariamente precisam fazer parte do estudo da História.

Seguramente há imagens e textos que circulam nas escolas em outros

formatos documentais e que operam com funcionalidades diversas sem deixarem de

representar uma visão de mundo. As imagens cooperam na construção de

representações e, naquilo que é representado, algo de cunho ideológico persiste.

Pode se dizer que a imagem e a ideologia são produções de um indivíduo ou de um

grupo em um tempo e lugar específicos e tendem a mostrar formas de tornar a

realidade algo explicitado.

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Há uma tendência da linguagem em se construir por imagens, ajudar a

compor e a manter símbolos no anseio de tornar determinadas proposições em

verdades a respeito do que acontece. A partir desta noção inicial de imagem a

escola pode passar a ser vista não apenas como um tipo de “suporte”, mas como

uma instituição que se iguala a outras produtoras de conhecimento, onde se

investiga, se pesquisa e se ensina entre outras variadas ações.

Sobre o processo didático experimentado pode-se dizer que o princípio que

rege a História não é o passado, mas um olhar sobre o passado. O conhecimento

histórico não é o espelho fiel da realidade, mas uma imagem, uma representação.

Por isso sua construção que deve ser questionada e bem fundamentada. Busca-se

trabalhar a relação passado/presente, interagindo com conteúdos de outras áreas do

conhecimento. Essa concepção passa transparecer no desenvolvimento das aulas

quando se utilizam documentos com linguagens diversas: textos oficiais,

autobiográficos, cartas pessoais, depoimentos, peças arqueológicas, moedas,

gravuras, fotografias, objetos de uso cotidiano e outros.

A análise de imagens fotográficas no ensino de História torna visíveis

realidades desconhecidas, no tratamento de determinados conteúdos e temas. Haja

vista que estes se distanciam do tempo histórico, do aluno e da escola. O trabalho

com imagens faz o aluno a observar, interpretar e exercitar sua capacidade de

expressão tanto oral como escrita. De algum modo, o estimula ao uso da

intertextualidade que emerge no confronto entre imagem e a fonte escrita, tal como o

fazem os historiadores em suas pesquisas. Partindo-se dessas considerações foi

possível a elaboração e exposição de murais de História dispostos nas áreas

próximas à sala de aula e em áreas de circulação da escola que serviram como

expositores adequados.

Imagem e História

A presença da imagem para o ensino das disciplinas escolares é marcada

pelo avanço tecnológico que forja suas características na histórica do processo

educativo. Entretanto, as imagens como qualquer outra fonte histórica, exigem de

quem as emprega o reconhecimento de suas possibilidades. É preciso saber

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aproveitá-las, e inventar com elas novas utilizações para o aprendizado da História.

Como disse o autor “A tarefa daquele que possui grandes recursos é muito mais

difícil: tem de inventar o próprio uso dos meios de ação" (DIEUZEIDE, 1973, p.157).

Levando em conta as potencialidades das imagens como fontes históricas é que se

escolheu explorar a imagem no aprendizado da disciplina de História.

A exploração dessa área encontra respaldo em Paiva (2006), ao relatar que

as imagens são lidas em cada época, por cada observador, de acordo com os

valores, as preocupações, os conflitos, os medos e os projetos. O uso de imagens

possibilita o amadurecimento de algumas questões que favorecem não só os alunos

no seu processo de aquisição do conhecimento, mas alcança também os

professores que podem começar a incluir no seu processo de formação continuada

o estudo, o uso e as possibilidades de trabalhar as imagens na prática de ensino.

Quando se abre o livro didático é possível observar que as imagens dominam

a ampla maioria das páginas. Ali podem ser encontradas fotos, pinturas, desenhos,

entre outros, que muitas vezes não são utilizadas pelos professores. Para Kossoy

(1989) a fotografia é um documento visual revelador de informações e detonador de

emoções. As fontes fotográficas são possibilidades de investigação e de

descobertas. O original fotográfico é uma fonte primária e se constitui num objeto

museológico, tendo atrás de si, toda uma História. Olhar para a fotografia do

passado é refletir sobre a trajetória por ela percorrida.

Mesmo assim, não se deve esquecer que a fotografia, embora seja um

documento histórico não se reúne a um conhecimento definitivo; ou seja, ela é

apenas uma amostra do passado e por ocasião de sua produção se faz um

documento que pode ter sido criada para distorcer certas cenas ou ambientes.

A utilização da pintura como documento histórico, especialmente dos retratos

e das gravuras, tanto na pesquisa historiográfica quanto na sala de aula, precisa

levar em conta, que quando se trabalha com uma produção ficcional, faz-se um

recorte, do “congelamento” de um instante que existiu no passado. As informações

não são dadas pelas imagens, mas pelos textos e pelos arranjos informacionais com

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os quais se faz um acompanhamento do conteúdo, o provendo de explicações,

legendas entre outros elementos (ABUD, 2010).

Zamboni (1998) reforça essa ideia complementando que as imagens são

representações, carregadas de valores, de traços culturais e ideologias, entre

outras. A amplitude da possibilidade de trabalhar com as imagens em sala de aula

não gera benefícios imediatos apenas para os educandos, mas democratiza de fato

a relação professor/aluno, promovendo avanços significativos nas relações de trocas

pertinentes ao processo ensino/aprendizagem.

Já Abud (2010, p. 148) citando Saliba (1999) irá dizer que:

Ao contrário do que se costuma dizer, a “imagem não fala... por si só”. Penso aqui nas imagens cruas, sem nenhum comentário ou legenda. Tais imagens podem interessar, impressionar, seduzir, comover e apaixonar, mas não podem informar. O que nos informa são as palavras.

As imagens de outras épocas são fundamentais quando analisadas

sistematicamente para a reconstituição histórica dos cenários, das memórias de vida

e de fatos do passado. A reconstituição por meio da fotografia não se esgota na

competente análise iconográfica. Um tema pode reconstituir-se sobre um

determinado passado, por meio de imagens requer uma sucessão de construções

imaginárias (ABUD, 2010).

É característica das escolas pretenderem transmitir "conhecimento" em

sentido absoluto ou universal, embora seja óbvio que escolas diversas, em épocas

diversas e em países diversos, transmitam versões seletivas diferenciadas ou

variadas, das práticas, dos conhecimentos e da História.

As imagens são importantes e muitas delas apresentam uma herança do

passado que nos vincula a um tipo de representação. Toda imagem contém

necessariamente um entendimento e ao interagir com a escola. Em suas múltiplas

formas, também interfere no desenvolvimento da consciência dos alunos a respeito

da realidade. Tal consciência quando refere ao passado magnetiza uma experiência

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não vivida, impedindo que se faça uma compreensão critica e coerente dos fatos já

ocorridos, importantes para educação do aluno.

As imagens são lidas sempre no presente, por meio de filtros e de chaves.

Por isso elas adquirem novos significados a cada nova leitura, a cada nova época, e

oferecem novas respostas às novas indagações que são colocadas. O uso da

imagem, da iconografia e das representações gráficas pelo historiador vem

propiciando a apresentação de trabalhos renovadores e instigando novas reflexões

metodológicas. É por isso que ela não se esgota em si, segundo Paiva (2006).

Bittencourt (2004) em sua obra analisa a utilização das imagens no ensino de

História. Esta autora relata que imagens mesmo sustentadas em diferentes

suportes, como quadros, vitrais, desenhos rupestres, etc. podem formar uma série

de representações iconográficas. Tais representações são reproduzidas por grande

quantidade de técnicas e se distinguem das chamadas “imagens tecnológicas”, são

importantes registros para o conhecimento da arte e das formas de comunicação de

sociedades e grupos diversos.

Os métodos de análise dessas diferentes imagens necessitam estabelecer

relações com outras fontes, notadamente com os textos escritos. Parafraseando

(Bittencourt, 2004) as propostas pedagógicas para o uso da fotografia são, em

síntese, as seguintes:

a) na seleção de imagens, um primeiro ponto a levar em conta é a escolha

de imagens fortes que sejam capazes de causar um impacto visual, para

motivá-los e de trazer informações substantivas sobre o tema ou gerar

questionamentos;

b) o estudo da fotografia pode favorecer o entendimento das mudanças e

permanências, por intermédio de um estudo comparativo;

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c) com base em fotos de dois períodos, os alunos podem identificar o espaço

e as mudanças ocorridas, além das diferenças entre as fotos no aspecto

mais técnico;

d) pinturas em diferentes suportes, como quadros, vitrais, desenhos

rupestres e toda uma série de representações iconográficas, que são

produzidas por grande quantidade de técnicas e se distinguem das

chamadas imagens tecnológicas, são importantes registros para o

conhecimento da arte e das formas de comunicação de sociedades e

grupos diversos. Os métodos de análise dessas diferentes imagens

necessitam estabelecer relações com outras fontes, notadamente com os

textos escritos.

Já Paiva (2006) colaborando com o proposto acima vai dizer: a imagem não

se esgota em si e por meio dela e tomando-a em comparação, é possível ao

historiador e ao professor a análise de outros temas, em contextos diversos.

Pensando na realidade escolar pode-se dizer que a discussão teórica não garante o

uso do documento fotográfico no ensino da História, em função das barreiras

encontradas na própria escola onde falta a manutenção tecnológica e são escassos

os recursos e os materiais.

Com a finalidade de reconstruir o passado é preciso estimular o confronto da

imagem fotográfica com documentos escritos, testemunhos orais, bibliografia. Assim

se pratica através do uso de imagens a intertextualidade. Há de se considerar que a

análise do documento fotográfico no ensino da História possibilita ainda a

concretização dos conteúdos procedimentais. Fica claro que o impacto disso no

ensino, consiste em não se restringir apenas ao livro didático, mas buscar outras

formas de documentos a serem utilizadas, tais como imagens do cotidiano de cada

família. A análise de imagens em sala de aula não garante que a práxis se

concretize, mas pode orientar o professor a conduzir a análise de imagens, mesmo

que este tenha que se restringir ao livro didático.

Os murais como instrumentos didáticos

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Para Piletti (2010), o mural didático é um conjunto de elementos subordinados

a um tema, dispostos harmoniosamente com o fim de transmitir determinada

mensagem. Para Nérici (1983), o mural didático é um recurso utilizado para

evidenciar um fato ou fenômeno, de maneira sugestiva e ampla.

A intenção fundamental que regeu este trabalho foi despertar a atenção para

o tema pesquisado, assim como, ampliar com fotos, amostras, recortes de jornal,

revistas e outros documentos pesquisados pelos alunos, com o fim de aviltar os

fatos significantes acontecidos. Foi um exercício que buscou refletir as diversas

representações sobre o passado, apresentando em suas linhas essenciais, a

estrutura fundamental do tema estudado, facilitando a apreensão de um tema como

um todo e consolidando, ao mesmo tempo, a aprendizagem conquistada.

No entanto, é preciso ressaltar que os murais didáticos, até bem pouco,

tinham finalidade mais ilustrativa, quando mostravam ao aluno um objetivo de

confirmar o que havia sido explicado. O material era apenas “mostrado”, uma vez

que era, de modo geral, “intocável” para o aluno. Aqui o mural didático teve outra

finalidade, a de ilustrar, e também levar o aluno a trabalhar, a investigar, a descobrir

e a construir.

A construção desta intenção pedagógica se faz mais viável, na medida em

que, a instituição escolar vai se modernizando mediante a aquisição de novos

recursos tecnológicos. Toda escola com seus materiais escolares e com seus

recursos humanos propicia uma educação que assume características

diferenciadas. Se uma das características próprias do homem é criar, modificar e ser

modificado permanentemente pelo meio sociocultural, as imagens só podem se

mostrar legítimas quando com interagem com o humano que as recria.

No caso dos alunos as imagens presentes no cotidiano escolar reproduzem

ideias e pensamentos. Mas esta nova geração que hoje frequenta a escola tem uma

estrutura de sensibilidade distinta: ela apropria-se à sua maneira do feeling que

herda, mesmo considerando as continuidades e a reprodução de inúmeros

elementos de sua cultura. Os jovens de hoje sentem naturalmente que é diferente

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sua vida e configuram suas experiências como "resposta criativa" em uma nova

estrutura de sentimentos (WILLIAMS, 2003, p.53-58).

A escola utiliza e produz "artefatos" materiais que nem sempre foram

nomeados por ela ou inseridos no foco de suas análises, a ponto de serem

esquecidos. Assim, os murais didáticos fabricados no dia a dia escolar, possuem

uma trajetória e finalidades específicas em si mesmo, muito embora suas formas e

utilizações variem segundo o tempo e o local em que se inscrevem. Deve-se revelar

que nem sempre se pode contar com um espaço de conservação ou de preservação

que, na escola, disponibilizasse estes documentos modo qualitativo.

A equipe de alunos realiza a pesquisa bibliográfica, organiza o estudo

historiográfico nas bibliotecas, mídia eletrônica, livros revistas, jornais, arquivos

públicos, museus e domicílios da comunidade escolar. Como resultado, os grupos

apresentam objetos regionais, a tradição local presente nas roupas e nos objetos

coletados em documentos oficiais.

Forma-se uma equipe, um grupo de alunos que se organiza em torno de um

tema. Depois o grupo inicia a montagem e seleção de um local, mede o espaço,

dimensiona os quadros, escolhe as paredes e aramados para fixar as imagens.

Definem a melhor visualização, facilitam alguns acessos a documentos e vão

atraindo uns a outros para uma leitura daquilo que propõem como legendas.

Compartilharam-se espaços e enfeites referentes aos conteúdos.

Na sequencia, chegam algumas vezes, a reproduzir músicas regionais da

época. Alguns grupos partem ou se dedicam à montagem de vídeo clipes de fotos e

imagens. Estes jovens participam do áudio e da narração, assim como selecionam

músicas de fundo que tornam o ambiente mais agradável, convidativo, receptivo

para acolher um trabalho sobre o passado. Nesse conjunto de ações o interessante

é o envolvimento da comunidade local que se vê presente e se reconhece como

coadjuvante do processo histórico.

A exposição de murais, criada como instrumento didático, permaneceu aberta

para outros estudos de imagens “in loco”. Embora os trabalhos filmados estivessem

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disponíveis de serem acessados pela internet, houve participação da comunidade

escolar que aderiu com avaliação, a certa denúncia de situações atuais que os

murais remetiam e busca de solução para os problemas locais. O resultado atingiu a

comunidade local e quem viu e leu com atenção estes quadros informativos sobre o

passado, quis saber mais. Entretanto para a definição dos temas/conteúdos

considerados significativos para o desenvolvimento do estudo pode-se dizer o

previsto para o aluno como leitura, estudo e interpretação se efetivou tal como foi

agendado.

O mural com imagens pode mostrar aos alunos como analisar documentos,

inseridos em contextos diferentes, fornecer informações sobre o que em muitos

aspectos, era viver no passado. Assim, os alunos pesquisam com o professor a

respeito das roupas, dos locais onde moravam, posições que adotavam nas

fotografias, entre outros; o que permitiu explicar as configurações das famílias

atuais.

É interessante observar que deve partir do professor de História o despertar

da curiosidade, do interesse, da atenção e da disposição para as tarefas,

contribuindo com a autoestima do aluno, para que a aprendizagem desta disciplina

seja satisfatória.

Envolvendo os conteúdos da história com o contexto local se sugeriu a

produção de um resumo histórico a respeito do desenvolvimento socioeconômico da

cidade de Araucária. A partir daí se produziu os cartazes ilustrados com fotografias.

Priorizou-se o destaque dos fatos locais que indiretamente interagiram com o que

está proposto na grade curricular. Tem como objetivo fazer com que alunos se

estimulassem pela “História”, se usou a estratégia de motivá-los ao se fazer um

estudo que localizasse os temas do passado no presente. Sem perder de vista que

o fato e as causas são processos mais amplos, com raízes e consequências

nacionais e internacionais” (ABUD, 2010, p. 161).

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Interessa observar que se fez reconhecer a História do Município de

Araucária seus desafios e conquistas, sua ocupação humana e o impacto do

desenvolvimento socioeconômico. São temas que dizem do vivido pelo povo da

cidade de Araucária, do progresso e os consequentes problemas enfrentados pela

comunidade gerados em períodos anteriores, que hoje desafiam este lugar.

Para fazer com que os alunos buscassem outras imagens que de algum

modo contassem a historia a seu modo, se partiu de uma mostra das

representações das telas de Rugendas e de Debret. Pintores que criaram

representações pictórias sobre o Brasil Império e colônia, muito utilizadas nos livros

didáticos de história. Montar este processo de construção do conhecimento fez com

que os alunos fiquem entusiasmados e comprometidos, os incentivou a continuar e

desenvolver outras atividades a respeito deste conteudo.

Quando se implementa um mural didático na escola, a ideia é de apresentar

momentos de afirmação, de participação, de questionamentos onde os conteúdos da

História se mostrem um verdadeiro paradigma de interrogações. Estimula a

autogestão dos alunos para descontruir determinadas narrativas e construir novas

versões que sem fugir ao dado conceitual e ao fato histórico reinventa um sentido

para o conhecimento que vem da história. Força os seguintes questionamentos: O

que realmente eu sei e onde estou? Onde e como o fato aconteceu? Essa imagem é

verdadeira ou um simulacro uma simulação? Olhares se cruzam, voltam, perguntam,

fotografam e diante desses fatos, se perguntam: o mundo pode ser diferente?

Considerações sobre o processo

Este professor de história se abre, se envolve e se transforma quando

comunga através da experiência didático-pedagógica realizada na escola com os

murais de uma narrativa que vem da Filosofia, disciplina que também interpreta a

história. Tal narrativa, como disse Cunha (2011) mostra que “uma teoria torna-se um

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olhar, um respirar, um perceber e nisso uma pessoa esquece que uma professora já

não tem olhos no mundo, nem corpo, apenas desejo perseguido no interior daquilo

que a afeta” (p. 35). Um professor não apenas se emociona, mas vive e interpreta

aquilo que inventa, no intuito de oferecer algo novo a seus alunos.

Neste contexto, construir um mural de imagens temáticas apresenta uma

expectativa, um olhar no escuro, desprender-se da História e entrar num escuro e

começar a conhecer a História do nada. Desaprender para iniciar a compreender tal

como aponta Bertolt Brecht em “O operário que sabe ler”. Num momento era um

conhecedor num outro um operário, um chefe ou uma aparência e nada mais. Os

que se destacam entre imagens explicitadas e formas ocultas são os heróis ou os

anti-heróis. Outros nem se quer tem legenda, são rostos desconhecidos povos

anônimos, massa humana que reproduz e se torna escrava, massa de manobra

consumista.

A imagem impõe seu domínio exigindo reconhecimento, “o fotógrafo, quando

destaca algo ou alguém na foto, escolhe um foco que lhe choca e encanta, algo que

inventa o universo” ou “uma falsa imagem do mundo” (CUNHA, 2011).

Imagens de fatos históricos de heróis e de inquisitores, ditadores, déspotas e

imagens de livros didáticos do tipo “lex Dura sed Lex”. Nas escolas utópicas, cada

uma constrói seu ideológico, sua História, suas conquistas. Tem sempre o que

explicita suas lições de vida edificadas pela justiça, estética e liberdade.

A seguir relata-se algumas expressões sobre os murais na Escola Fazenda

Velha do Município de Araucária; expressões da comunidade anotadas e

selecionadas pelos alunos

-Eu vi imagens, muitas imagens que recordam um olhar vivo de sentimentos de dor,

amor, cores, dores e gritos, choros.

-Vi imagens Testemunhais

-O desespero dos refugiados de Ruanda

- O horror de holocaustos de Aushwitz na Polônia

-Convidados a vida trabalhadores soterrados das minas

-Caos sem explicação das ondas gigantes no Japão

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-A fome num pedaço de pão entre refugiados do Kurzaquistão

-Vi a morte nos hospitais através dos que vem pedir socorro

-Vi a banalidade humana no meio da comunicação

-Vi o gatilho na violência bandido que executa vitimas

-O Sol brilhar pelas vitórias

- A tecnologia avançando nas ciências

-Ressurreição dos doentes com novos recursos

-Pátria na bandeira dos estudantes

-Mãe governando o mundo embalando seu filho

-Professor, quadro negro, livros, revistas, TV, computador, fotos, desenhos, grafites,

riscos, pinturas, mundo de imagens interagindo, sonhando um sonho nunca

sonhado.

Considera-se que o trabalho realizado propôs-se a ser uma contribuição

significativa para os que lecionam a disciplina de História. Buscou seus objetivos,

previstos através da construção de murais com o trabalho com imagens como uma

das estratégias metodológicas no processo ensino-aprendizagem na disciplina de

História.

Certamente, este trabalho vai contribuir para que os docentes possam lançar

novos olhares quando se fala em metodologia para o ensino de História, como

também vai levar outros professores a se interessarem pelo assunto e sentirem o

desejo de difundir novas práticas.

O projeto teve boa aceitação entre os alunos e professores, propiciando o

diálogo pedagógico e a apropriação de novos saberes. Conduziu seus participantes

a se envolverem com uma prática inovadora, que se abre ao professor de outras

disciplinas para a análise de outros temas, em contextos diversos. Trata-se de um

recurso relativamente fácil de obter e de utilizar. Basta que a capacidade imaginativa

vença a inércia e o comodismo, para que se encontre na comunidade e no mundo

do aluno um farto material a ser manipulado na disciplina de História ou qualquer

outra disciplina da grade curricular escolar.

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Referencias bibliográficas

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CUNHA, Cláudia Madruga. Filosofia-Rizoma: Metamorfoses do pensar. Curitiba:

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DIEUZEIDE, Henri. As técnicas audiovisuais no ensino. Lisboa: Europa-América, 1973.

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NÉRICI, Imídio Giuseppe. Didática Geral Dinâmica. São Paulo: Atlas, 1983.PAIVA, Eduardo França. História e imagens. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

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