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URBANIDADE: VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE E PERCEPÇÃO NOS ESPAÇOS URBANOSEDIFÍCIOS COMO ARTICULADORES E ESTRUTURADORES DE
URBANIDADE NO CENTRO EXPANDIDO DA CIDADE DE SÃO PAULO
MARIA VICTORIA MARCHELLI
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE . 2016
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
MARIA VICTORIA MARCHELLI
URBANIDADE: VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE E PERCEPÇÃO NOS ESPAÇOS URBANOS
EDIFÍCIOS COMO ARTICULADORES E ESTRUTURADORES DE URBANIDADE NO CENTRO EXPANDIDO DA CIDADE DE SÃO PAULO
São Paulo2016
MARIA VICTORIA MARCHELLI
URBANIDADE: VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE E PERCEPÇÃO NOS ESPAÇOS URBANOS
EDIFÍCIOS COMO ARTICULADORES E ESTRUTURADORES DE URBANIDADE NO CENTRO EXPANDIDO DA CIDADE DE SÃO PAULO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, na linha de pesquisa Urbanismo Moderno e Contemporâneo: Representação e Intervenção da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Isabel Villac
Com apoio: CAPES e MackPesquisa
São Paulo2016
.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profa. Dra. Maria Isabel Villac, pelo incentivo, disponibilidade,
troca de conhecimentos e pelos ricos momentos de discussão.
À Profa. Dra. Lizete Rubano e ao Prof. Dr. Vladimir Bartalini pelas sugestões
apresentadas no momento do exame de qualificação, de grande importância
para a construção final deste trabalho.
Ao Mackenzie e à CAPES pela concessão de bolsa de estudos para a elaboração
deste trabalho.
Ao escritório Brasil Arquitetura e Aflalo & Gasperini Arquitetos pela disponibilização
de material iconográfico.
Às Administradoras dos edifícios Copan, Itália, Galeria Metrópole e Praça das Artes
pelo atendimento fornecido e pelas informações e materiais disponibilizados.
Ao Prof. Dr. Roberto Righi pelo auxílio na construção de artigos acadêmicos.
Aos amigos da turma da pós-graduação, em especial a Paola Nese, Michelle
Taveira e Lara Citó pela troca de informações e companheirismo nestes dois anos.
A colega de mestrado e amiga Roberta Squaiella, pelo apoio durante o percurso
do trabalho, através de troca de informações e textos, produção de artigos,
construção da pesquisa e motivação e força constante.
À querida amiga Cristiane Martins Novo pelo auxílio dado para a elaboração
gráfica deste trabalho e parceira em algumas das visitas in loco.
Aos amigos pela força e compreensão das ausências constantes.
À minha família, especialmente Alejandro, Ana Lia e Gianfranco, pelo apoio, força
e paciência durante este período.
Nada substitui a visão e o estudo direto dos fenômenos sobre o terreno. O observador exercitado pode ali captar as relações múltiplas entre os fatores físicos e o homem, que escapam à descrição livresca ou à representação cartográfica. Mas veja bem, para ser capaz de fazer estas observações ao vivo, é necessário saber viajar e saber olhar (E.ARDILLON, 1901, apud BESSE, 2014, p. 73).
A presente dissertação tem como objetivo construir o conceito de urbanida-
de por meio da relação entre os aspectos de verticalização, de densidade e
de percepção com os objetos arquitetônicos e os elementos morfológicos
que compõem o espaço urbano. Expandindo-se da definição enciclopé-
dica de “cordialidade” e de “civilidade”, entende-se esse conceito como o
conjunto de qualidades entre o espaço e o objeto que se materializam na
cidade (AGUIAR, 2012). Foram escolhidos 04 (quatro) edifícios para analisar
a relação entre o objeto construído e a paisagem urbana, de maneira a
identificar as características que contribuem para a conformação de urba-
nidade. Os edifícios em questão dividem-se em duas categorias. A primeira
trata-se dos edifícios Copan (1952), Galeria Metrópole (1956) e Edifício Itália
(1959), representando o período moderno em que, pela mudança de le-
gislação, conseguiram atingir altas densidades, verticalização acentuada e
maior reprodutividade do solo urbano. A segunda categoria analisa o edi-
fício Praça das Artes (2012), representante da contemporaneidade e com
maiores desafios legislativos. Os elementos atuantes e presentes nesses
edifícios como permeabilidades, menores barreiras entre os espaços públi-
co e privado, multifuncionalidade de usos, entre outros, contribuíram para a
qualidade do espaço urbano resultante. Assim, esses elementos apresenta-
ram relações de escala e de permanência e tiveram poder de propulsão de
urbanidade (FRANCO, 2005). Procura-se explorar o conceito de urbanidade,
de forma a identificar que na paisagem urbana o que prevalece não é apenas
o caráter quantitativo (densidade, verticalização, coeficientes), e sim a relação
dos elementos para conformar espaços com qualidade, funcionalidade, esté-
tica e urbanidade. É a partir da integração que a cidade se desenha, se aproxi-
ma da escala humana e garante maior urbanidade, dinamicidade e vitalidade.
Palavras chave: Urbanidade. Verticalização. Densidade. Percepção. Paisa-
gem urbana. São Paulo.
RESUMO
This thesis aims to build the concept of urbanity through the relationship
between verticalization, density and perception aspects with architectural
objects and morphological elements that build up the urban space. Furthering
the encyclopedic definition of “cordiality” and “civility,” this concept is
understand as a set of qualities between space and object that are materialize
in the city (AGUIAR, 2012). They were chosen 04 (four) buildings to examine
the relationship between the built object and the urban landscape, in order
to identify the characteristics that contribute to the shaping of urbanity. The
buildings in question are divided into two categories. The first of them consists
of Copan Building (1952), Galeria Metrópole (1956) and Italia Building (1959),
representing the modern period in which the change in legislation, provide
them to reach high densities, strong verticalization and greater reproducibility
of urban land. The second category analyzes the Praça das Artes complex (2012),
representative of contemporaneity and with major legislative challenges. The
active elements present in these buildings as permeabilities, smaller barriers
between public and private spaces, multifunctional uses, among others,
contributed to the quality of the resulting urban space. Thus, these elements
presented scaling and persistence relationships and had urbanity propulsion
power (FRANCO, 2005). It is seek to explore the concept of urbanity, in order to
identify that in the urban landscape what prevails is not only the quantitative
approach (density, vertical, coefficients), but the relationship of the elements
to conform spaces with quality, functionality, aesthetics and urbanity. It is
from the integration that the city is drawn, approaches the human scale and
ensures greater urbanity, dynamism and vitality.
Key words: Urbanity. Verticalization. Density. Perception. Urban Landscape.
São Paulo.
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1. Vista aérea da região central de São Paulo. 20
Figura 1.2. Comparação das densidades e das alturas (alta, baixa e média). 39
Figura 1.3. Comparação entre a cidade de Parma e o projeto Saint-Dié (Le Corbusier). 48
Figura 1.4. Recorte do centro de São Paulo (figura e fundo). 49
Figura 1.5. Esquema de espaços positivos (centrípeto) e negativos (centrífugo). 54
Figura 1.6. Esquema de espaço exterior negativo. 55
Figura 1.7. Esquema de espaço exterior positivo. 55
Figura 1.8. Esquema de transformações dos espaços. 55
Figura 1.9. Esquema de transformações dos espaços. 55
Figura 2.1. Mapa São Paulo, 1895. 64
Figura 2.2. Mapa São Paulo, 1913. 65
Figura 2.3. Mapa São Paulo, 1924. 65
Figura 2.4. Mapa São Paulo, 1951. 65
Figura 2.5. Implantação dos edifícios no Centro Novo de São Paulo. 66
Figura 2.6. Imagem área do centro de São Paulo. 67
Figura 2.7. Edifício Copan. 68
Figura 2.8. Implantação Edifício Copan. 69
Figura 2.9. Imagem aérea. 69
Figura 2.10. Planta pavimento térreo. 70
Figura 2.11. Acesso pela Rua Araújo. 71
Figura 2.12. Visual desde a Rua Unaí (sentido Vila Normanda). 71
Figura 2.13. Visual desde a Rua Unaí (sentido Avenida Ipiranga). 71
Figura 2.14. Copan - Figura e fundo. 73
Figura 2.15. Copan - Figura e fundo. 73
Figura 2.16. Copan - Espaço positivo - permeabilidade. 73
Figura 2.17. Percurso interno. 74
Figura 2.18. Percurso interno. 75
Figura 2.19. Elevação sudeste. 76
1111
Figura 2.20. Elevação sudoeste. 77
Figura 2.21. Visual desde a Rua Unaí. 78
Figura 2.22. Copan - Detalhe do brise da fachada. 79
Figura 2.23. Copan - Vista aérea. 80
Figura 2.24. Copan - Vista aérea. 80
Figura 2.25. Visual desde a Rua Araújo. 81
Figura 2.26. Visual desde a Rua Araújo. 81
Figura 2.27. Copan - Relação entre distância e altura. 82
Figura 2.28. Visual desde a Avenida Ipiranga. 83
Figura 2.29. Visual desde a Rua da Consolação, destaque para o skyline urbano. 84
Figura 2.30. Figura e fundo a partir da figura 2.29. 85
Figura 2.31. Edifício Itália. 86
Figura 2.32. Planta pavimento térreo. 87
Figura 2.33. Entrada desde a Avenida Ipiranga. 88
Figura 2.34. Visual da entrada desde o interior do edifício. 88
Figura 2.35. Visual da galeria interna. 88
Figura 2.36. Edifício Itália - Figura e fundo. 89
Figura 2.37. Edifício Itália - Figura e fundo. 89
Figura 2.38. Edifício Itália - Espaço positivo- permeabilidade. 89
Figura 2.39. Desenho esquemático- volumetrias e setorização. 90
Figura 2.40. Corte longitudinal. 91
Figura 2.41. Detalhe do brise da fachada. 92
Figura 2.42. Visual para o Edifício Itália desde a esquina da Praça da República. 93
Figura 2.43. Montagem do mapa com base no Mapa Digital da Cidade (MCD). 94
Figura 2.44. Visual desde o terraço do Circolo Italiano. 95
Figura 2.45. Edifício Itália, 1970. 95
Figura 2.46. Visual desde a varanda do Circolo Italiano. 96
Figura 2.47. Visual desde a varanda do Circolo Italiano. 96
12
Figura 2.48. Edifício Itália - Relação distância e altura. 97
Figura 2.49. Ponto nodal no1. 98
Figura 2.50. Ponto nodal no2. 98
Figura 2.51. Ponto nodal no3. 98
Figura 2.52. Montagem do mapa com base no Mapa Digital da Cidade (MCD). 99
Figura 2.53. Visual para o Edifício Itália desde o Edifício Copan. 100
Figura 2.54. Avenida Ipiranga, São Paulo, 1953. 100
Figura 2.55. Centro de São Paulo. 101
Figura 2.56. Centro de São Paulo. 103
Figura 2.57. Galeria Metrópole - Maquete. 104
Figura 2.58. Implantação. 105
Figura 2.59. Corte longitudinal. 105
Figura 2.60. Planta do pavimento térreo (Passeio São Paulo). 106
Figura 2.61. Planta da 3a sobreloja (Passeio Capri). 106
Figura 2.62. Visual do vazio central desde interior do edifício. 107
Figura 2.63. Galeria Metrópole - Figura e fundo. 109
Figura 2.64. Galeria Metrópole - Figura e fundo. 109
Figura 2.65. Galeria Metrópole - Espaço positivo- permeabilidade. 109
Figura 2.66. Elevação. 110
Figura 2.67. Corte longitudinal. 111
Figura 2.68. Visual do pórtico de entrada desde a Praça Dom José Gaspar 113
Figura 2.69. Visual desde a Avenida São Luís. 113
Figura 2.70. Visual desde a Praça Dom José Gaspar. 113
Figura 2.71. Visual desde a Praça Dom José Gaspar. 113
Figura 2.72. Visual interna, destacando-se o vazio central. 113
Figura 2.73. Conexão visual entre os jardins por meio do vazio central. 114
Figura 2.74. Distribuição de usos ao redor do vazio central. 115
Figura 2.75. Visual desde o jardim da cobertura - continuidade com a Praça Dom José Gaspar. 116
13
Figura 2.76. Visual para a Praça Dom José Gaspar desde a 3a sobreloja. 116
Figura 2.77. Visual para a Rua Basílico da Gama desde a 3a sobreloja. 116
Figura 2.78. Conexão dos espaços interior e exterior por meio das aberturas 117
Figura 2.79. Visual desde a 20 sobreloja para a calçada e a Avenida São Luís. 118
Figura 2.80. Galeria Metrópole - Relação distância e altura. 119
Figura 3.1. Planta de situação - recorte centro de São Paulo. 123
Figura 3.2. Praça das Artes. 124
Figura 3.3. Planta de situação. 125
Figura 3.4. A quadra 27 e seu entorno, São Paulo, 1925. 126
Figura 3.5. Vista aérea São Paulo, 1930. 126
Figura 3.6. Visual desde o edifício Martinelli, São Paulo, 1930. 126
Figura 3.7. Imagem aérea. 127
Figura 3.8. Planta pavimento térreo. 128
Figura 3.9. Percurso interno da quadra. 129
Figura 3.10. Planta primeiro pavimento. 130
Figura 3.11. Planta segundo pavimento. 130
Figura 3.12. Panorâmica da praça - uso para ensaio fotográfico. 131
Figura 3.13. Praça sendo usada para o Mercado Mundo Mix Afro. 131
Figura 3.14. Inauguração Praça das Artes, apresentação Escola de dança. 132
Figura 3.15. Praça das Artes - Figura e fundo. 133
Figura 3.16. Praça das Artes - Espaço positivo- permeabilidade. 133
Figura 3.17. Programa. 134
Figura 3.18. Programa detalhado. 135
Figura 3.19. Corte longitudinal, visual para Avenida São João. 136
Figura 3.20. Corte longitudinal. 136
Figura 3.21. Visual desde a calçada da Avenida São João. 137
Figura 3.22. Visual desde o pórtico para a Rua Conselheiro Crispiniano. 138
Figura 3.23. Visual desde a entrada pela Rua Conselheiro Crispiniano, para o pórtico. 138
14
Figura 3.24. Croqui- projeto. 139
Figura 3.25. Croqui- projeto. 139
Figura 3.26. Panorâmica, conexão Rua Conselheiro Crispiniano e Avenida São João. 140
Figura 3.27. Panorâmica, conexão Rua Conselheiro Crispiniano e Vale Anhangabaú. 140
Figura 3.28. Visual desde a praça, destaque para os caixilhos e as passarelas/marquises. 142
Figura 3.29. Visual interna - aberturas. 143
Figura 3.30. Visual interna - aberturas. 143
Figura 3.31. Visual para Anhangabaú, destaque do Edifício Martinelli. 144
Figura 3.32. Visual para Conselheiro Crispiniano. 145
Figura 3.33. Visual para Conselheiro Crispiniano. 145
Figura 3.34. Visual desde a varanda para o Vale do Anhangabaú. 146
Figura 3.35. Elevação desde a Rua Formosa. 147
Figura 3.36. Elevação desde a Avenida São João. 147
Figura 3.37. Visual desde a Rua Conselheiro Crispiniano. 148
Figura 3.38. Visual desde o Edifício Martinelli. 149
Figura 3.39. Vista aérea com inserção do projeto. 149
Figura 3.40. Praça das Artes - Relação distância e altura. 150
Figura 3.41. Vista Praça das Artes. 151
Figura 4.1. Visual da região central de São Paulo desde a cobertura do Edifício Copan. 155
Figura 4.2. Edifício Copan. 159
Figura 4.3. Edifício Itália. 159
Figura 4.4. Galeria Metrópole - Maquete. 159
Figura 4.5. Praça das Artes. 159
Figura 4.6. Comparação das densidades e alturas (alta, baixa e média). 159
15LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
Gráfico 1.1. Esquema dos conceitos. 25
Gráfico 1.2. Esquema dos conceitos com o espaço urbano. 58
Gráfico 1.3. Esquema conceitual de síntese. 61
Gráfico 4.1. Comparação das densidades físicas permanentes. 156
Gráfico 4.2. Comparação das densidades físicas transitórias. 156
Gráfico 4.3. Comparação dos coeficientes de aproveitamento. 157
Gráfico 4.4. Comparação das alturas. 158
Gráfico 4.5. Comparação da área do terreno versus a área construída. 160
Tabela 1.1. Quadro populacional, crescimento de São Paulo. 33
Tabela 1.2. Número médio de construções em São Paulo. 35
Tabela 4.1. Urbanidade centrípeta e centrífuga. 163
Tabela 4.2. Síntese dos 04 (quatro) edifícios analisados. 164
Av. Avenida.
CA Coeficiente de aproveitamento.
CEP Código de Endereçamento Postal.
D Distância.
Dr Doutor.
H Altura.
Ha Hectare.
Hab Habitantes.
Km² Quilômetro quadrado.
M Metros.
N Norte.
N0 Número.
ONU Organização das Nações Unidas.
S/ Sem.
1. URBANIDADE : VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE, PERCEPÇÃO 32
Elenco de conceitos para a construção de urbanidade 32
1.1 Verticalização 32
1.1.1 Processo de verticalização na cidade de São Paulo 33
1.2 Densidade 36
1.2.1 Densidade física 36
1.2.2 Densidade percebida 36
1.2.3 Densidade urbana 37
1.3 Percepção 41
1.3.1 Ambiência 41
1.3.2 Construção da imagem na paisagem urbana 42
1.3.3 Figura e Fundo - Teoria de Gestalt 46
1.4 Urbanidade 50
1.4.1 A construção do conceito 50
1.4.2 Construção dos espaços livres, fluentes e, das permeabilidades 52
1.4.3 Morfologia urbana 56
1.4.4 Indicadores de análise de urbanidade 58
SUMÁRIO PROPOSTO
17
2. REPERTÓRIO MODERNO NA CIDADE TRADICIONAL 64
Análise dos edifícios Copan, Itália e Galeria Metrópole 64
2.1 Desenho do centro da cidade de São Paulo 64
2.1.1 Permeabilidades centrais urbanas 66
2.2 Edifício Copan 68
2.2.1 Ficha técnica 68
2.2.2 Implantação do edifício e traçado urbano 69
2.2.3 Espaços positivos e permeabilidades 72
2.2.4 Embasamento 76
2.2.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada 78
2.2.6 Escala e paisagem urbana 81
2.3 Edifício Itália 86
2.3.1 Ficha técnica 86
2.3.2 Implantação do edifício e traçado urbano 87
2.3.3 Espaços positivos e permeabilidades 88
2.3.4 Embasamento 90
2.3.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada 92
2.3.6 Escala e paisagem urbana 94
2.4 Galeria Metrópole 104
2.4.1 Ficha técnica 104
2.4.2 Implantação do edifício e traçado urbano 105
2.4.3 Espaços positivos e permeabilidades 107
2.4.4 Embasamento 110
2.4.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada 112
2.4.6 Escala e paisagem urbana 115
3. REPERTÓRIO CONTEMPORÂNEO NO CENTRO EXPANDIDO 122
Análise do edifício Praça das Artes 122
3.1 Relações urbanas 122
3.1.1 Articulação entre os edifícios modernos e a Praça das Artes 122
3.2 Praça das Artes 124
3.2.1 Ficha técnica 124
3.2.2 Implantação do edifício e traçado urbano 125
3.2.3 Espaços positivos e permeabilidades 133
3.2.4 Embasamento 134
3.2.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada 137
3.2.6 Escala e paisagem urbana 146
3.3 Síntese de urbanidade nos edifícios analisados 152
19
CONSIDERAÇÕES FINAIS 166
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 168
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 156
4.1 Verticalização e densidade física (permanente e transitória) 156
4.2 Espaços positivos e permeabilidades urbanas 161
4.3 Paisagem, percepção e urbanidade 161
4.4 Urbanidade centrípeta e centrífuga 162
Figura 1.1 Vista aérea da região central de São Paulo. Fonte: Revista Acrópole, no 295-296, jun. 1963, p. 27.
INTRODUÇÃO
As cidades, estabelecimentos humanos do território, têm passado por
grandes mudanças, sendo que, desde 2014, 54 % (cinquenta e quatro) da
população mundial reside nelas (ONU, 2014). Dessa maneira, são hoje palco
de novas transformações e discussões, assim como suscetíveis a falta de
planejamentos adequados para uma integrada urbanização.
Milton Santos (2009) verificou, na década de oitenta, que 77 % (setenta e
sete) da população brasileira era urbana. Segundo o relatório Estado das Ci-
dades de América Latina e Caribe 2012 ,1 a população urbana se aproximaria
de 90 % (noventa) até 2050. O processo de urbanização dos países da Amé-
rica Latina, descrito por Paul Singer (1979) deveu-se à ação conjunta entre
dois fatores. O primeiro trata-se da migração rural decorrente do exceden-
te da população, cujo deslocamento foi produzido por fatores de estagna-
ção das forças produtivas, devido à falta de recursos. O segundo, por sua
vez, insere-se no cenário da restruturação das relações de produção frente
a imposição de desenvolvimento no sistema capitalista. Com a especializa-
ção e as novas tecnologias, ocorreu a liberação da força de trabalho devi-
do a que a produção se encaminhava para o mercado e os cultivos foram
abandonados para o consumo local.
Conforme ressaltado por Franco (2005, p. 10), demorou apenas um século
para que a vila de São Paulo se transformasse em “uma das maiores me-
trópoles industriais do mundo contemporâneo”. A implantação dos siste-
mas de transporte sobre trilhos e a inserção dos automóveis estruturaram
a cidade, contribuindo para o espraiamento da mesma. Dessa maneira, a
cidade fragmentou-se em vários núcleos urbanos, conformando os cha-
mados centros expandidos, e assim, os locais de moradia foram separados
dos locais de trabalho, de educação, de cultura, de lazer e de indústria. Essa
separação virou uma das maiores torturas dos países em desenvolvimento:
a ida e a volta do trabalho (VILLAÇA, 1986).
Com a urbanização, São Paulo também passou por um processo de ver-
ticalização para atender à demanda demográfica. Nunca ocorreu um pla-
1 ONU HABITAT. Programa das Nações Unidas para assentamentos humanos. Estado de las ciudades de América Latina y Caribe 2012: rumbo a una nueva transición urbana.
23
nejamento consistente e efetivo que conseguisse aproveitar o crescimen-
to vertical para criar um traçado urbano, organizar a paisagem urbana e
promover altas densidades. Como salientado por Somekh (2014, informa-
ção verbal),2 São Paulo é “aparentemente vertical mas não é densa,” ten-
do como coeficiente de aproveitamento médio 1,2 (SOMEKH, 2013). Ao in-
vés de concentrar-se, a cidade se expandiu desordenadamente. Segundo
Somehk (2013, p. 98), a combinação entre “o desenvolvimento do capital
imobiliário na busca de terrenos mais baratos, uma legislação aparente-
mente restritiva e a recorrente desistência de investimentos em transporte
de massa, por parte do poder público”, contribuíram para a configuração
de uma cidade dispersa e elitista, acentuando-se a perda da qualidade do
centro, elemento fundamental das cidades.
O arquiteto e urbanista Vishaan Chakrabarti (2013) expôs no seu livro A
country of cities: A manifesto for an Urban America que precisamos construir
um país de cidades, isto é, um país de trens, torres e árvores e deixar para trás
um país de autoestradas, casas e gramados. Esse modelo está inteiramente
ligado ao entendimento de que as cidades precisam se organizar dentro
do seu tecido urbano, a partir de um adensamento adequado para garantir
uma melhor mobilidade, usufruir de menor espaço físico e proporcionar
maior sustentabilidade, buscando, assim, uma melhor qualidade de vida
para seus habitantes. Segundo Richard Rogers (2001), precisa-se pensar
e planejar as cidades, visando intensificar o uso de sistemas eficientes de
transporte e privilegiar as ruas em favor do pedestre e da comunidade.
Em suma, o economista Edward Glaeser (2011), no seu livro Os centros
urbanos: a maior invenção da humanidade, argumenta que a população
urbanizada deveria viver em cidades densas, construídas em torno
do elevador, em vez de regiões expandidas, as quais são em torno do
automóvel. Esse legado pós fordista, influência das elites norte-americanas
e que virou parte da cultura de vários países, levou às cidades a base do
automóvel e tem criado nelas um grande caos, transcrevendo-se nos
2 Nota fornecida por Nadia Somekh durante a aula de pós-graduação, O edifício e a cidade: produção, planejamento e projeto, ministrada na Universidade Mackenzie em 19 ago. 2014.
24
problemas atuais de congestionamentos, poluição sonora e ambiental,
ausência de áreas verdes e transporte público precário.
O fenômeno de cidade dispersa com baixa densidade somado à verticali-
zação, transformou a cidade de São Paulo em um território fragmentado
em que as relações entre edifício e urbe ficaram fragilizadas, assim como a
qualidade dos espaços públicos. Somados à falta de segurança, predomi-
nam, atualmente na cidade, os edifícios gradeados com térreos sem per-
meabilidade. Conforme Somekh (2013, p. 93), o modo que a verticalização
aconteceu em São Paulo, “contribuiu para que a cidade nunca concretizas-
se um projeto de urbanidade consistente e efetivo.”
A falta de planejamentos adequados contribuiu para a expansão do es-
paço residual, conforme denominado pelo Koolhas (2013), de espaço lixo.
Este último interfere na clareza (legibilidade) e na identidade do espaço.
Para transpassar tal efeito, deve-se ultrapassar a artificialidade e, o edifí-
cio relacionar-se com a cidade. Os espaços públicos têm perdido seu valor,
sendo que cada vez menos são incentivados os projetos com urbanidade-
“síntese de qualidade e do caráter da vida urbana” (CULLEN, 2009, p. 66).
A cidade de São Paulo, um verdadeiro palimpsesto arquitetônico, possui
um legado modernista de influência. O centro da cidade representa esse
caráter influente. Ainda que o urbanismo moderno, com seus ditames, não
conseguiu resolver todas as questões da cidade, existem elementos con-
cretos que foram construídos durante esse movimento e que se articulam
com a cidade, estabelecendo um diálogo atuante. Segundo Harvey (2012),
o modernismo foi responsável por espaços sem ligação com o entorno e
subservientes à função social. Pontua-se que o movimento moderno não
resolveu totalmente os males das cidades, principalmente por se basear
em uma série de dogmas. Ainda assim, existem edifícios modernos que
conseguiram ultrapassar tais barreiras.
No centro de São Paulo, especialmente durante o período de 1950-1960,
foram construídos alguns edifícios que se contrapõem a tal visão e deram
25Introdução
vitalidade à região, a partir da integração entre os espaços interno e o
externo. Tais edifícios foram projetados com a preocupação de serem
espaços onde as barreiras público-privadas fossem anuladas, já que
dialogam com o traçado do modelo de cidade tradicional. Edifícios, os
quais, devido à legislação vigente, conseguiram atingir altas densidades e
usufruíram de elementos arquitetônicos para estabelecer um diálogo entre
a cidade, o edifício e o pedestre. Permeabilidades, marquises, galerias, são
alguns desses elementos.
Segundo Moimas (2014), “De acordo com Costa, a arquitetura brasileira
era, por um lado, resultado da fusão de princípios europeus e da
cultura nacional brasileira e, por outro, o produto de um ‘gênio nativo’”.
A arquitetura moderna brasileira surgiu de modo peculiar porém foi
influenciada pelas ideias europeias modernas, sendo Le Corbusier o
principal vetor de difusão. Destaca-se a destreza dos personagens
brasileiros, como Oscar Niemeyer e dos estrangeiros, Franz Heep e David
Libeskind (influenciado pela cultura brasileira).
Diante deste cenário, o objetivo desta pesquisa é construir o conceito de
urbanidade, entendido como a relação entre os aspectos de verticaliza-
ção, de densidade e de percepção e sua transformação no espaço urbano
(Gráfico 1.1), o qual é composto de objetos arquitetônicos e de elementos
morfológicos. A partir dos conceitos elencados, realizaram-se ensaios de
aproximação (análises) nos edifícios multifuncionais escolhidos, de manei-
ra a exemplificar o conceito de urbanidade.
Gráfico 1.1. Esquema dos conceitos. Fonte: AUTORA, 2015.
VERTICALIZAÇÃO DENSIDADE PERCEPÇÃO
ESPAÇO URBANO
URBANIDADE
26
Os edifícios escolhidos foram selecionados como objeto de estudo por te-
rem programa de uso misto, inovação na implantação do lote, apresenta-
rem permeabilidade no térreo, promoverem altas densidades e terem a
intenção de criarem espaços coletivos. São de fato edifícios localizados na
área central, centro expandido, da cidade de São Paulo e que, até os dias de
hoje, estabelecem um diálogo atuante com a paisagem urbana, por meio
dos elementos que geram urbanidade.
Os conceitos de verticalização e de densidade estão presentes nesses edi-
fícios. Eles não são sinônimos, são complementares e codependentes, po-
dendo contribuir para uma configuração com urbanidade a partir da arti-
culação com o espaço construído. A relação entre a matéria construída (o
edifício) e o urbano (a cidade) depende das inter-relações físicas, espaciais,
funcionais, morfológicas, figurativas, estéticas, entre outras. Essas relações,
que precisam ser percebidas, ganharão destaque ao longo do trabalho e se-
rão os indicadores de análise. Alguns desses elementos são: a implantação
no lote, as permeabilidades, as volumetrias e as escalas, etc. Isto é, elemen-
tos de percepção visual que fornecem subsídios para a compreensão das
questões estudadas. Esses indicadores também baseiam-se no tripé concei-
tual e estruturador da tese de Fernando de Mello Franco (2005), compreen-
dido pelos elementos: escala, permanência e poder de propulsão.
Os edifícios em análise dividem-se em duas categorias, sendo que a pri-
meira trata-se daqueles construídos durante o movimento moderno: Edifí-
cio Copan (1952), Galeria Metrópole (1956) e Edifício Itália (1959). Surgiram
como experimentações, já que a legislação vigente permitiu-lhes atingir
altas densidades, verticalidade e reprodutividade do solo urbano. Anuncia-
vam também as novas possibilidades de desenho da época, em que a ra-
cionalidade, expressada em formas arquitetônicas funcionais, sobressaia-
se. Por sua vez, o concreto armado vinculava-se com as novas tecnologias
e a busca por funcionalidade evidenciava-se nos partidos e nos desenhos
arquitetônicos. Dessa maneira, os edifícios, majoritariamente, eram multi-
funcionais (sobreposição de usos) para assim atender à dinâmica urbana.
27Introdução
A segunda categoria analisa a Praça das Artes (2012), edifício projetado e
construído na contemporaneidade, que possui características modernas,
tanto no uso do concreto, quanto na inserção urbana e na tipologia. Por
conseguinte, as ligações dos edifícios com as vias circundantes, permitindo
as permeabilidades, assim como a fragmentação do partido arquitetônico
em diferentes volumes, são características que podem ser lidas como mo-
dernas, ficando explicita a intenção dos arquitetos em estabelecer relações
de continuidade entre o edifício e o passeio público.
Como salientado por Thibaud (2011), as transformações da cidade moder-
na ocorreram a partir de suas ambiências, da “fabricação sensível de terri-
tórios urbanos” (informação verbal)3. Falar da “ambientação” dos espaços
urbanos é compreender como as mudanças da cidade se encarnam e se
difundem na vida cotidiana. O domínio sensível, perceptivo, é de funda-
mental importância para o entendimento do espaço urbano. Uma ambiên-
cia, por sua vez, é a junção de vários elementos, tornando-os um conjunto
integrado. Buscar, portanto, compreender a dinâmica urbana, é estudar as
relações entre os elementos construídos, a arquitetura, e o observador, ser
humano que habita e interfere no espaço urbano. Compreende-se que a
qualidade do espaço urbano surge de uma interpretação e para ser enten-
dida precisa ser observada diretamente, ao vivo, e por isso é necessário
“saber olhar” (BESSE, 2014). Desse modo, destaca-se que todos os edifícios
foram visitados e percebidos pela autora.
Resumindo-se, a construção do conceito de urbanidade deve-se à busca
por uma equação entre verticalização, densidade e percepção, os quais
servem como elementos de transformação do espaço urbano, contribuin-
do para melhorias na vitalidade (JACOBS, 2013), dinamicidade e na quali-
dade da paisagem urbana. Os edifícios, por sua vez, são compreendidos
como elementos articuladores e estruturadores de urbanidade.
3 Nota fornecida por Jean Paul Thibaud no Seminário Internacional URBICENTROS - “Morte e Vida dos Centros Urbanos “-, Maceió, 2011.
28
Abordagens
A construção do raciocínio científico surgiu mediante a coleta de dados e
referencial teórico em conjunto com as análises dos quatro estudos de ca-
sos (Edifício Copan, Edifício Itália, Galeria Metrópole e Praça das Artes). Tra-
balhou-se nos campos quantitativo e qualitativo.
Primeiramente, ocorreu a revisão bibliográfica, a qual consistiu no levanta-
mento de dados para a construção da base conceitual da pesquisa, isto é,
o conceito de urbanidade baseado no entendimento sobre verticalização,
densidade e percepção. Somado a isso, acrescentou-se o conceito de mor-
fologia urbana para compreender os elementos que integram o espaço
urbano. Sendo que, neste último, os objetos arquitetônicos também estão
presentes, tornando-se elementos de análise.
Em paralelo, e uma vez escolhidos os edifícios a serem analisados, come-
çaram-se as visitas aos objetos de estudo. Mediante entrevistas com as
Administradoras dos edifícios, conseguiram-se informações fundamentais
para suas análises. Nesse intervalo de tempo, ocorreu também a coleta
de documentos de órgãos públicos tais como: levantamentos, censos de-
mográficos, legislações, leis de zoneamento, mapas, plantas, entre outros.
A partir das visitas aos campos de estudo, foram realizados levantamen-
tos in loco por meio de fotografias, observações e redesenho de algu-
mas áreas, com o intuito de registrar graficamente os dados coletados.
Uma vez tendo visitado os edifícios e definido o conceito de urbanida-
de, fruto da articulação dos demais conceitos, começou a etapa ana-
lítica, a qual constituiu na busca por elementos delimitadores de ur-
banidade, que tornaram-se os indicadores de análise. Para isso, foram
explorados os dados levantados e comparados os edifícios entre si.
29Introdução
Estrutura
A presente pesquisa foi estruturada em 04 (quatro) capítulos, cujos princi-
pais assuntos são:
Capítulo 1: Apresenta o elenco de conceitos e suas diferentes vertentes.
No campo da verticalização, apoia-se em Somekh (1987; 2013; 2014); no da
densidade em Rapoport (1975), Alexander, Reed e Murphy (1988), Cheng
(2010) e Acioly e Davidson (2011); no da percepção, os autores Lynch (1960),
Cullen (1961), Rowe e Kotter (1977), Ashihara (1982) e Thibaud (2010; 2012)
ganham destaque. O conceito de urbanidade constrói-se pelos textos
dos autores Alexander (1977), Rolnik (1993), Franco (2005), Cullen (2009),
Holanda (2010), Lamas (2011) e Aguiar (2010, 2012, 2015).
Capítulo 2: Analisa os edifícios Copan, Itália e a Galeria Metrópole, repre-
sentativos do período moderno. A partir da pesquisa documental, icono-
gráfica e dos dados históricos, buscam-se elementos visuais, projetuais,
morfológicos e conceituais que gerem urbanidade e, consequentemente,
interfiram na paisagem urbana. Apoia-se nos principais autores: Alexander
(1977), Ashihara (1982), Cullen (2009) e nos específicos de cada projeto.
Capítulo 3: Analisa a Praça das Artes, destacando-se pelo seu caráter con-
temporâneo. Nesse capítulo, também serão buscados elementos visuais,
projetuais, morfológicos e conceituais que gerem urbanidade e, conse-
quentemente, interfiram na paisagem urbana. Apoia-se nos principais
autores: Alexander (1977), Ashihara (1982), Cullen (2009) e em relatos de
Brasil Arquitetura (2015). Sintetiza-se o conceito de urbanidade, presente
nos edifícios analisados, a partir da reflexão dos elementos de escala, per-
manência e poder de propulsão (FRANCO, 2005) e das características que
se sobressaíram.
Capítulo 4: Discussão dos resultados a partir da comparação das análises
dos edifícios, por meio de gráficos comparativos.
VERTICALIZAÇÃO
DENSIDADE
PERCEPÇÃO
1
URBANIDADE
1. URBANIDADE : VERTICALIZAÇÃO, DENSIDADE, PERCEPÇÃO
Elenco de conceitos para a construção de urbanidade
A construção do conceito de urbanidade deve-se à busca por uma equa-
ção entre verticalização, densidade e percepção, os quais servem como
elementos de transformação do espaço urbano. As descrições e diferentes
vertentes desses conceitos serão apresentadas ao longo deste capítulo.
1.1 Verticalização
A verticalização é compreendida como a “multiplicação efetiva do solo ur-
bano” (SOMEKH, 1987, p. 9), a partir do aproveitamento intensivo da terra
urbana e, como resultante, a construção do espaço vertical.
Com o surgimento dos elevadores, as alturas das construções alavancaram
e ampliaram-se as possibilidades de multiplicação de pavimentos. As
novas tecnologias, como as estruturas de aço e de concreto, contribuíram
para a “reprodutividade do solo urbano, uma vez que o desenvolvimento
da técnica está diretamente ligado às necessidades de produção do
capital” (Ibid, p. 8-9).
O berço da verticalização foi nos Estados Unidos, sendo apoiado pelo de-
senvolvimento capitalista. Como descrito por Somekh,
A verticalização, dentro do modo de produção capitalista, passa a ser lógica. Num dado desenvolvimento tecnológico, que possibilitou o uso do elevador de passageiros e grandes estruturas de aço (no Brasil especificamente de concreto), era de se esperar que a preços fundiários elevados correspondem uma utilização mais intensiva. Com uma mesma quantidade de terra era possível obter mais área construída (SOMEKH, 1987, p. 16).
Segundo Somekh (Ibidem), a verticalização fragmenta-se em dois
processos: crescimento vertical terciário e verticalização residencial. A
habitação é imprescindível para a sobrevivência, é o abrigo da civilização
humana, no entanto, os escritórios estão “ligados a uma divisão técnica da
produção” (Ibid, p. 9).
Os conceitos de verticalização e densidade costumam ser confundidos.
Discorre-se que a “multiplicação da terra urbana, verticalização, implica
33
necessariamente de altas densidades construídas” (SOMEKH, 1987, p. 8).
Porém isso não é correto, a altura não determina a densidade. O centro de
Paris é um exemplo claro disso, já que, devido a uma legislação rigorosa,
que determina um gabarito a ser cumprido, não ultrapassa-se da média de
5 (cinco) a 6 (seis) pavimentos, mas a sua densidade é de aproximadamente
209 hab/ha (duzentos e nove) (SÃO PAULO, 2013). Em contrapartida, ape-
sar da exacerbada verticalização, o município de São Paulo atinge apenas
74,58 hab/ha (SMDU, 2010), pois mesmo que alguns edifícios atinjam mais
de 100 (cem) metros de altura, apresentam baixa densidade.
1.1.1 Processo de verticalização na cidade de São Paulo
A cidade de São Paulo passou por uma extensa transformação, decorrente
de um crescimento territorial, econômico e demográfico desde 1990. No in-
tervalo de 20 (vinte) anos, a população de São Paulo dobrou de tamanho.
Verifica-se esse crescimento na tabela a seguir,
Tabela 1.1. Quadro populacional, crescimento de São Paulo.
Fonte: AUTORA, 2015, com base em dados da aula de Marcos José Carrilho e Alessandro José Castroviejo Ribeiro durante a aula de pós-graduação, O edifício e a cidade: produção, planejamento e projeto, ministrada na Universidade Mackenzie em 03 set. 2014.
Ano População hab
1900 239.620
1910 375.439
1920 579.033
1940 1.326.261
1940 2.198.096
O seu crescimento territorial foi potencializado pela criação do Plano
Prestes Maia em 1929, o qual possibilitou o surgimento de um novo sistema
viário estrutural, com avenidas radiais em torno do centro para estruturar
o crescimento horizontal da cidade, facilitando a movimentação entre o
centro comercial/administrativo, a partir das áreas residenciais.
34
Este plano também visava a criação de novas centralidades e polos de ati-
vidades, incentivando a construção de edificações nas áreas centrais. Por
sua vez, eram estimuladas as construções altas ao longo das avenidas e a
cidade configurava-se a partir de um novo elemento, o automóvel.
Em 1920, a Lei n° 2.332, menciona os elevadores, estabelecendo-se que sua
existência não eliminava a necessidade da escada (SOMEKH, 1987). Em suma,
estabelecia o Padrão Municipal para controlar a altura dos edifícios. As altu-
ras máximas permitidas eram determinadas em função da largura das ruas:
[…] naqueles construídos no alinhamento das vias públicas a altura deveria ser de no mínimo 5 metros, e de no máximo duas vezes a largura da rua, quan-do esta tivesse menos de 9 metros; de duas vezes e meia, quando a largura fosse de 9 a 12 metros; de três vezes, quando a largura ultrapassasse 12 metros (SOMEKH, 2013, p. 105).
No entanto, “abria-se a possibilidade de aumentar a altura dos edifícios,
cedendo-se um recuo à via pública equivalente as medidas da largura”
(SOMEKH, 2013, p. 105). Em outras palavras, possibilitava-se um maior nú-
mero de pavimentos, caso os edifícios garantissem tais recuos.
Até 1939, a verticalização em São Paulo era um fenômeno central em que
o solo era mais valorizado. A chamada febre dos arranha-céus ocorreu na
década de 1940 e foi incentivada pelo slogan: “São Paulo, a cidade que
nunca para”. A fisionomia da cidade de São Paulo se transformou, os sobra-
dos converteram-se em prédios residenciais, porém, na sua maioria, sem
homogeneidade de alturas entre os edifícios, já que o importante era fazer
render o terreno urbano, valorizar o capital (Tabela 1.2). A lógica comercial,
marcada pelo desejo de lucro, sobrepõe a busca por uma paisagem urbana
ordenada, diferenciando-se, assim, São Paulo das cidades europeias.
O desenvolvimento tecnológico, vinculado à construção vertical, permiti-
ram a afirmação das propostas modernistas em São Paulo e o arranha-céu
foi a representação simbólica desse movimento e o marco do progresso da
cidade (SOMEKH, 1997).
35Capítulo 1 Elenco de conceitos
Ano Por mês Por dia (25 por mês) Por hora (8 por dia)
1941 1.042 41.7 5.2
1945 923 36.9 4.6
1946 1.243 49.9 6.2
1947 1.243 44.1 5.5
1948 1.499 59.9 7.5
1949 1.641 65.6 8.2
1950 1.486 59.4 7.4
1951 1.624 64.8 8.1
1952 1.626 65 8.11
Tabela 1.2. Número médio de construções em São Paulo. Fonte: AUTORA, 2015, com base em MENDONÇA, 2007.
Nesse período, dentre os edifícios escolhidos para análise, Edifício Copan,
Edifício Itália e Galeria Metrópole, apoiados nas novas tecnologias cons-
trutivas, tiveram seu máximo aproveitamento construtivo.
No decorrer dos anos seguintes, alguns fatores permitiram o espraiamento da
cidade e o distanciamento das áreas centrais: a legislação começa a interferir
na verticalização restringindo a potencialidade construtiva; o Projeto de Lei
n° 5.261 (1957) determina os coeficientes 6 (seis) para projetos de escritórios e
comerciais e 4 (quatro) para projetos residenciais e a busca por terrenos mais
baratos (fruto da capitalização realizada em bolsa de valores) em conjunto
com o uso exacerbado do automóvel. Com essa mudança de coeficientes
ocorreu a “elitização da verticalização” (SOMEKH, 2013, p. 111) já que
delimitou-se a construção de unidades de habitação de 35 m² (trinta e cinco),
resultantes de uma cota mínima de terreno por unidade, sendo definida uma
densidade demográfica de 600 (seiscentos) hab/ha (habitantes/hectare),
inviabilizando as pequenas unidades como as kitchenettes.
36
Em síntese, a verticalização de São Paulo expandiu-se ao longo da Região
Metropolitana sem produzir uma cidade compacta e a elitização do cres-
cimento vertical acabou estimulando as desigualdades sociais. A cidade
nunca conseguiu concretizar um “[…] projeto de urbanidade consistente e
efetivo” (SOMEKH, 2013, p. 98).
1.2 Densidade
A dificuldade da análise das densidades deve-se ao abrangente leque de
definições e contextualizações. Estudam-se as seguintes perspectivas: fí-
sica (populacional e construída), percebida e urbana. Ao mesmo tempo,
desenvolvem-se as relações desse conceito com os custos de urbanização,
especulação imobiliária e da eminência da economia criativa.
1.2.1 Densidade física
A densidade física é: “uma unidade numérica que representa a concentração
de indivíduos ou estruturas físicas, para uma dada unidade geográfica. Ela é
objetiva, quantitativa e um indicativo espacial neutro” (CHENG, 2010, p. 7).
A relação entre a população e uma determinada área é usualmente expres-
sa-se em habitantes por hectare (hab/ha) ou habitantes por quilômetro
quadrado (hab/km²). Sendo que 1 (um) km2 equivale a 100 (cem) ha.
Por sua vez, a densidade construída é a razão de edifícios construídos em
um lote (CHENG, 2010). No Brasil, a densidade construída é anunciada pelo
coeficiente de aproveitamento (CA), o qual indica a quantidade máxima
de metros quadrados passíveis de serem construídos em um determinado
lote, somando-se as áreas de todos os pavimentos.
1.2.2 Densidade percebida
A densidade percebida é definida pela percepção e estimativa individual
do número de pessoas presentes em uma determinada área, o espaço dis-
37Capítulo 1 Elenco de conceitos
ponível e sua organização (RAPOPORT, 1975 apud CHENG, 2010). Apoian-
do-se em Rapoport (1975), os autores Ernest R. Alexander, K. David Reed
e Peter Murphy salientam em Density measures and their relation to urban
form, de 1988, que:[…] ‘densidade é na sua essência uma experiência percebida’, criada de um sistema físico que se transforma em um percebido e que quando combinado com normas pessoais e culturais, produz uma ‘densidade afetiva’ que transcreve contemplações avaliativas como senso de isolamento, sentimento de conforto ou percepção de adensamento (RAPOPORT, 1975, p. 134-135, apud ALEXANDER et al., 1988, p. 3, tradução da autora). 1
Existem dois aspectos que auxiliam a descrição desse conceito: densidade so-
cial e densidade espacial. A primeira trata das interações entre os indivíduos
e os espaços/ambientes, assim como da interação dos indivíduos no espaço.
Já a densidade espacial refere-se à percepção de densidade, em respeito da
relação entre elementos como altura, espaço e justaposição (CHENG, 2010).
1.2.3 Densidade urbana
Densidade urbana é um tema que permanece altamente polêmico.
Formou-se a ideia de que a alta qualidade de vida só é atingida a partir
de densidade populacional baixa (MASCARÓ, 1987, p. 168). “Porém
essa afirmação não é verdadeira, pois cidades como Nova York e Hong
Kong, proporcionam qualidade de vida alta, sistemas de infraestrutura
urbana eficientes e a sua interferência ambiental é menor do que outras”
(MARCHELLI et al., 2015, p. 6).
1 Tradução do texto pela autora. Texto original: “ ‘density itself is a perceived ex-perience’, made up of a physical system which is transformed into a perceived sys-tem and, when matched against personal and cultural norms, generates an ‘affec-tive density’ that communicates evaluative judgments like a sense of isolation, a feeling of comfort, or a perception of crowding”. In: ALEXANDER, E.R; REED, David K; MURPHY, Peter. Density measures and their relation to urban form. Center for Architecture and Urban Planning Research Monographs. Book 37, 1988.
38
Segundo os autores do livro Densidade Urbana: Um instrumento de planeja-
mento e gestão urbana:
Densidade torna-se um referencial importante para se avaliar tecnicamente e financeiramente a distribuição e consumo de terra urbana, infraestrutura e serviços públicos em uma área residencial. Em princípio, es-pecialistas em habitação têm assumido que, quanto maior a densidade, melhor será a utilização e a maxi-mização da infraestrutura e do solo urbano (ACIOLY, DAVIDSON, 2011, p. 14).
O desenvolvimento urbano que promove altas densidades, “[…] trata de
250 hab/ha de modo qualificado, ou seja, com adequado e planejado uso
misto do solo urbano, misturando funções urbanas (habitação, comércio
e serviços)” (LEITE, 2012, p. 158). Esse sistema é baseado em transporte de
massa, pois a sua densidade é suficiente para suportá-lo, já que permite
que os serviços de transporte público sejam rentáveis. Quanto maior o nú-
mero de habitantes, menores são os custos por grupo familiar.
Por sua vez, Mascaró (1987, p. 175), no seu livro Desenho Urbano e Custos
de Urbanização, exibe como as densidades urbanas interferem nos custos
de urbanização, a partir da realização de gráficos que exemplificam a
incidência do custo de urbanização por família. Em um desses, visualiza-se
que “o custo das redes de infraestrutura é de 2500 dólares/família quando
a densidade é da ordem de 75 hab/ha (densidade global da maioria das
cidades brasileiras),” já quando a densidade atinge valores de 500 hab/ha,
“o custo diminui para 400 dólares/ família, isto é a sexta parte do anterior”.
Evidencia-se que a baixa densidade de ocupação do território de forma
sustentável só é possível em padrões elevados, devido ao alto custo da
infraestrutura urbana. É necessário investir em altas ou médias densidades,
em que parte da população viva de forma concentrada, para que os custos
de urbanização possam ser socializados e diminuam-se os impactos sobre
o meio ambiente (MARCHELLI et al., 2015a).
39Capítulo 1 Elenco de conceitos
Como já foi expressado, a associação de que altas densidades só podem
ser atingidas por uma verticalização acentuada, é um conceito errado. No
diagrama representado na figura 1.2, mostra-se como para uma mesma
quadra, podem-se articular diferentes tipologias e volumetrias, atingindo-
se a mesma densidade. O último dos três tipos demonstra uma melhor dis-
tribuição dentro do terreno, privilegiando os usos mistos e possibilitando
a criação de áreas permeáveis, as quais, potencialmente, podem tornar-se
espaços semipúblicos.
Figura 1.2. Comparação das densidades e das alturas (alta, baixa e média). Fonte: ROGERS, 1999, adaptada pela autora.
Alta verticalidade -
Baixa ocupação
75 unidades/ha
Baixa verticalidade -
Alta ocupação
75 unidades/ha
Média verticalidade -
Média ocupação
75 unidades/ha
Observação
Procure uma mistura de atividades
Inclua uma variedade de tipologias residenciais
Equipamentos comunitáriosLojas e escritóriosDuplexCasasApartamentos
Conforme Gordon Cullen (2009, p. 9), “uma cidade é algo mais do que o
somatório dos seus habitantes: é uma unidade geradora de um excedente
de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem,
independentemente de outras razões, viver em comunidade a viverem iso-
ladas”. Isto é, com as altas densidades estimulam-se os laços de comunida-
des e integração. Assim, observa-se que a densidade ultrapassa a condição
de coeficiente, ou seja, de apenas ser um elemento numérico, quando in-
centivam-se nos projetos, formas e espaços de integração.
40
No âmbito do mercado imobiliário e da construção civil, a busca por mode-
los eficientes e com maior cuidado com o meio ambiente são importantes
para o desenvolvimento urbano com teor sustentável. Para que o espaço
urbano não seja dominado apenas pelos interesses imobiliários a partir
de mecanismo informais como a verticalização ou expansão territorial da
construção, os governos locais precisam assumir a monitorização do mer-
cado imobiliário, garantindo um sistema de gestão urbana que maximize
as potencialidades das áreas (ACIOLY; DAVIDSON, 2011).
É inegável a incidência de novas construções nas cidades, porém deve existir
um controle enquanto a sua quantidade e, principalmente, sua qualidade. As
construções são resultados da vitalidade econômica, da pressão do mercado
imobiliário e das necessidades humanas, porém não são representativas do
sucesso urbano se estão em abundância (GLAESER, 2011, p. 134). Em suma, o
economista Glaeser relata: “Se a história das cidades se transformar em uma
camisa de força, elas perderão um de seus maiores triunfos: a capacidade de
construir”, sendo que é necessário avaliar a relevância das construções para
não criar uma excessividade sem propósito.
Glaeser (Ibidem) também argumenta que o excesso de preservação impe-
de que as cidades propiciem construções mais novas, mais altas, mais den-
sas e melhores para seus habitantes, como é apontado:
A frase do Shakespeare: “O que é a cidade senão seu povo?” é verdadeira, mas as pessoas precisam de construções. As cidades crescem construindo para cima ou para fora e, quando a cidade não constrói, as pessoas são impedidas de vivenciar a mágica da proximidade urbana. A preservação da cidade pode exigir, de fato, a destruição de parte dela (GLAESER, 2011, p. 134).
Portanto, pode-se pautar que o mercado imobiliário deve entrar como um
agente contribuidor e não dominador para o desenvolvimento urbano das
cidades, propiciando o crescimento, a densificação e a verticalização de
maneira ordenada.
41Capítulo 1 Elenco de conceitos
Estabelece-se que a configuração urbana que propicia a propagação dos
conhecimentos entre a população, seja a que incentiva as altas densidades.
Conforme Glaeser (2011) conclui no seu livro, o triunfo das cidades é resulta-
do da aproximação em conjunto das pessoas, pois a partir desta, a cultura,
o conhecimento e as inovações se perpetuam, se transmitem e se realizam.
O teórico e urbanista norte-americano Richard Florida (2005) criou o con-
ceito de economia criativa como sendo a aglomeração e a concentração de
pessoas talentosas e produtivas que impulsionam a verdadeira força eco-
nômica. Novas ideias são geradas e a produtividade aumenta quando os
habitantes se localizam próximos uns aos outros nas cidades. “Uma pessoa
inteligente encontrou outra e produziu uma nova ideia. As ideias se movem
de pessoa para pessoa, dentro dos densos espaços urbanos, e essa troca
eventualmente gera milagres da criatividade humana” (GLAESER, 2011, p. 19).
As cidades, desde as civilizações mais antigas, foram o meio mais eficaz de
transmitir conhecimento e obter informações. A proximidade dentro do am-
biente urbano permite a conexão entre as culturas, possibilitando a colabo-
ração e a produção conjunta de conhecimentos. As cidades bem-sucedidas
sempre investiram nos seus habitantes, aumentando a riqueza da energia
humana. Não existe cidade de sucesso sem capital humano. De fato, é o con-
tato entre as pessoas que permite tais trocas e a arquitetura e o urbanismo
têm um papel fundamental nessas questões. Em termos arquitetônicos, lo-
cais de convívio tornam-se indispensáveis, pois é com a troca de experiên-
cias que as pessoas interagem umas com as outras (MARCHELLI et al., 2015).
1.3 Percepção
1.3.1 Ambiência
A percepção sensível tem se tornado não só o caminho, como inevitável
para os pesquisadores que buscam “captar e restituir a concretude da ex-
periência urbana” (THIBAUD, 2012, p. 4).
42
Bestetti (2014), descreve que o termo ambiência é oriundo do francês “am-
biance” e, significa meio ambiente, tanto no sentido material, quanto no
efeito que o meio físico induz nos indivíduos (sujeitos).
Considera-se ambiência como parte das propriedades materiais do meio am-
biente e “dos estados afetivos do sujeito sensível” (THIBAUD, 2012, p. 10). A
ambiência é definida como “o espaço-tempo experimentado pelos sentidos”
(Ibid, p. 9). Uma ambiência, por sua vez, é a junção de vários elementos,
tornando-os um conjunto integrado e indissociável.
Por sua vez, Thibaud (Ibidem) descreve que entre o sujeito que percebe e
o objeto percebido, existe um terceiro termo, denominado de “médium”.
Funciona como meio pelo qual a percepção é possível e, por meio deste, o
objeto se torna sensível, visível, audível, entre outros.
Como salientado por Thibaud (2011), as transformações da cidade moder-
na ocorreram a partir de suas ambiências, da “fabricação sensível de terri-
tórios urbanos” (informação verbal)2. Falar da “ambientação” dos espaços
urbanos é compreender como as mudanças da cidade se encarnam e se
difundem na vida cotidiana. O domínio sensível, perceptivo, é de funda-
mental importância para a compressão do espaço urbano, permitindo sua
qualificação e estimulando ambientes mais convidativos e receptivos para
a recreação de atividades humanas.
1.3.2 Construção da imagem na paisagem urbana
A percepção é determinada como o processo mental que permite a re-
lação do homem com seu entorno. A partir dos sentidos, os indivíduos
constroem uma representação, uma imagem. Pode-se salientar que a me-
todologia de Lynch (2006) é uma interpretação dessa teoria. Em 1960, no
seu célebre livro A Imagem da cidade, retoma-se a concepção da percep-
ção como elemento estruturador. Essa percepção, segundo o autor, não é
2 Nota fornecida por Jean Paul Thibaud no Seminário Internacional URBICENTROS - “Morte e Vida dos Centros Urbanos, “ Maceió, 2011.
43Capítulo 1 Elenco de conceitos
abrangente e sim parcial, fragmentária, misturada “[…] com considerações
de outra natureza. Quase todos os sentidos estão em operação, e a ima-
gem é uma combinação de todos eles” (LYNCH, 2006, p. 2).
No seu livro, são estabelecidos dois conceitos: “imaginabilidade” e “legi-
bilidade”. O primeiro é “a característica, num objeto físico, que lhe confere
uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer obser-
vador dado” (Ibid, p. 11). A “legibilidade” trata-se da clareza da paisagem,
sendo que a partir das imagens constrói-se uma visão clara e organizada
da cidade. Define-se também como a visibilidade em “que os objetos não
são apenas passíveis de serem vistos, mas também nítida e intensamente
presentes aos sentidos” (Ibid, p. 11). O entorno, portanto, tem a capacidade
de comunicar uma clara imagem de si mesmo e, ainda que a imagem varie
de indivíduo a indivíduo, existem elementos em comum que emergem e
permitem constituir grupos de imagens (SANZ, 1992).
Lynch (2006) também evoca que a imagem ambiental pode ser fragmenta-
da em três componentes: identidade, estrutura e significado. Uma imagem
primeiramente precisa da identificação do objeto, descrito também como
identidade, logo deve estruturar-se espacialmente ou paradigmaticamente,
isto é, estabelecer uma relação com o observador e outros objetos. E, por
último, o objeto precisa ter algum significado para o observador, tanto de
conotação prática quanto emocional. Ressalta-se que a relevância na estru-
turação da imagem é a percepção, elemento referente ao ser humano que
é protagonista da visão analítico-perceptiva (SANZ, 1992).
Sendo o pioneiro na introdução da percepção, Lynch (2006) estruturou 05
(cinco) elementos que conformam a paisagem urbana, são eles:
– Vias: “os canais de circulação ao longo dos quais o observador se lo-
comove de modo habitual, ocasional ou potencial” (LYNCH, 2006, p. 52).
Podem ser expressas em ruas, alamedas, canais, ferrovias, etc.
– Limites: “elementos lineares não usados ou entendidos como vias pelo
observador” (Ibid, p. 52). São as barreiras, as fronteiras que têm como papel
separar visualmente duas áreas.
44
– Bairros: “regiões médias ou grandes de uma cidade, concebidos como
dotados de extensão bidimensional” (Ibid, p. 52). Ao adentrar o bairro, o
observador reconhece características dele e faz uma associação mental
desse espaço. A identificação é feita pelo lado interno, mas podem ser usa-
dos como referência externa quando visíveis desde fora.
– Pontos nodais: “pontos, lugares estratégicos de uma cidade através dos
quais o observador pode entrar, são os focos intensivos para ou quais ou a
partir dos quais ele se locomove” (Ibid, p. 52). Exemplificam-se a partir de
junções, cruzamentos ou convergências de vias, momentos de passagem,
entre outros.
– Marcos: o observador não adentra neles, sendo externos e “objetos físi-
cos definidos de maneira muito simples: edifício, sinal, loja ou montanha”
(Ibid, p. 53). Alguns deles se destacam pois podem ser avistados de diver-
sos ângulos e distâncias.
O autor expõe que a visualização desses elementos depende das circuns-
tâncias do modo de observação e, a disposição destes na conformação da
paisagem urbana ocorre em conjunto e não isoladamente.
Gordon Cullen (2009), por sua vez, descreve a paisagem urbana como a arte
de tornar coerente e organizado, visualmente, o emaranhado de edifícios,
ruas e espaços que constituem o ambiente urbano (paisagem construída),
buscando entender como as paisagens suscitam reações emocionais nas
pessoas (público). Cullen busca, portanto, compreender o espaço urbano
como um conjunto, que, ao ser percebido simultaneamente, ativa recorda-
ções e emoções nos observadores.
Para estruturar esse conceito, Cullen (Ibidem) recorre a três aspectos. O pri-
meiro é a ótica, entendida pela visão serial, a qual é formada por uma su-
cessão de percepções sequenciais dos espaços urbanos para o observador
que se locomove. Como exemplificado pelo autor, um transeunte durante
seu percurso tem como primeiro ponto de vista a rua, a seguir, ao entrar
em um pátio, revela-se uma nova visual e por fim depara-se com uma outra
45Capítulo 1 Elenco de conceitos
imagem, um monumento. Ainda que esse aspecto tenha sido um grande
aporte para a arquitetura, vale ressaltar que a visão serial não determina a
observação natural do ser humano, a qual é abrangente e não controlada.
O segundo fator é o local, que diz respeito às relações do sujeito com a sua
posição no espaço, exemplificado pelo sentido de localização, “estou cá
fora”, e posteriormente, “estou a entrar ali para dentro”, e finalmente, “es-
tou aqui, dentro”. Essas percepções estão ligadas às sensações provocadas
pelos espaços, sejam eles abertos, fechados, altos, baixos, etc. O terceiro
aspecto abordado é o conteúdo, que se relaciona com a constituição da ci-
dade, as suas cores, texturas, escalas e estilos que caracterizam os edifícios
e os setores do tecido urbano.
Essa visão também é salientada por Yoshinobu Ashihara (1982) em El diseño
de espacios exteriores, validando que as percepções dos indivíduos dentro
dos espaços, são importantes para a configuração da paisagem. Por sua
vez, descreve que o espaço é uma resultante do conjunto de relações que
vinculam o objeto com o ser humano que o percebe.
O espaço se forma por meio do conjunto de relações que vinculam um objeto com o ser humano que o percebe. Esta correspondência se estabelece, em primeiro lugar, por intermédio da ótica/visual, mas se nos movimentamos em um espaço arquitetônico participam também o olfato, a audição e o tato (Ibid, p. 10, tradução da autora).3
Segundo Lynch (2006), o ser humano usa “as sensações visuais de cor, for-
ma, movimento ou polarização da luz, além de outros sentidos como o
olfato, a audição, o tato, a cinestesia […]” (LYNCH, 2006, p. 5).
Ao longo deste trabalho serão exploradas as relações visuais e expostas as
sensações provocadas.
3 Tradução do texto pela autora. Texto original: “[…] el espacio se forma por medio del conjunto de relaciones que vinculan un objeto con el ser humano que lo perci-be. Esta correspondencia se establece, en primer lugar, por medio de la vista, pero si nos movemos en un espacio arquitectónico participan también el olfato, el oído y el tacto”. In: ASHIHARA, Yoshinobu. El diseño de espacios exteriores. Barcelona: Gustavo Gili, 1982, p. 10.
46
1.3.3 Figura e Fundo - Teoria de Gestalt
Seguindo a lógica entre sujeito e objeto, a Teoria de Gestalt (1910) se en-
quadra nesse contexto. Ela é do ramo da psicologia experimental e foca na
dinâmica das organizações de elementos visuais em padrões ou configura-
ções, com o intuito de auxiliar na percepção do mundo. Enfatiza a questão
da relação entre o todo e a parte, acreditando que, na visual, o todo é maior
que a soma das partes (CHENG, 2010).
O termo Gestalt, oriundo do alemão, define-se em dois significados “(1) a
forma; (2) uma entidade concreta que possui entre seus vários atributos
a forma” (ENGELMANN, 2002). A forma é definida: “[…] como a figura ou
a imagem visível do conteúdo. De um modo mais prático, ela nos informa
sobre a natureza da aparência externa de alguma coisa. Tudo o que se vê
possui forma” (FILHO, 2003, p. 39).
Para a Gestalt, a arte se manifesta no princípio da pregnância da forma, isto
é, na formação e estruturação de imagens. A pregnância, por sua vez, é a lei
básica da percepção visual e define-se em: “Qualquer padrão de estímulo
tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quan-
to o permitam as condições dadas” (FILHO, 2003, p. 36). Uma boa pregnân-
cia significa uma melhor organização formal do objeto.
Para a teoria de Gestalt, percebemos campos estruturados e organizados,
“constituídos de figura e fundo, de tema e campo temático, ou ainda de
formas e horizontes nos quais elas se recortam e em função dos quais se
projetam como unidades ou totalidades figurais” (BARKI et al.; [20??], não
paginado). Destacam-se os seguintes aspectos:
1. Só a figura possui forma sendo o fundo desprovido dela;
2. As linhas de contorno que delimitam o componente figural do resto do campo pertencem à figura;
3. Mesmo encoberto pela figura, o fundo parece continuar por detrás dela, sem se interromper ou perder a unidade;
4. A figura é sempre percebida em plano mais próximo do perceptor;
47Capítulo 1 Elenco de conceitos
5. A figura constitui-se em componente privilegiado para evocação, pois é a parte melhor vista e dotada de maior condição de estabilidade;
6. No que concerne aos limites discriminatórios, as diferenças perceptíveis são maiores quando produzidas sobre a figura;
7. Na superposição de 02 elementos de superfícies distintas e homogêneas e de tamanhos diferentes, geralmente percebemos o menor elemento como figura;
8. Quando de dois campos de cores distintas e homogêneas, um é consideravelmente maior que o outro e o encerra, o campo pequeno encerrado é geralmente percebido como figura;
9. Se um contorno divide um campo em parte superior e inferior, a parte inferior aparece mais prontamente como figura;
10. As propriedades dos elementos figurais não são permanentes ou imutáveis (reversibilidade) (BARKI et al., [20??], não paginado).
Koffka (1975, p. 194), no seu livro Princípios da Psicologia de Gestalt, argumenta
que a “figura depende sobre o qual aparece.” Isto é, o fundo funciona
como uma estrutura que emoldura a figura, determinando-a. Destaca que
o maior interesse remanesce sobre a figura em vez do fundo, descritivos
como elementos sólidos (figura) e fluidos (fundo). Koffka (Ibidem) também
expõe que existe uma relação entre a dimensão e a contemplação, ou seja,
quanto maior for a parte do fundo, menor contemplação ela requer.
Colin Rowe e Fred Kotter elaboram no livro Collage City (1977) uma crítica à
arquitetura moderna e usufruem da técnica do diagrama de figura-fundo
para uma análise da qualidade do tecido urbano e assim desenvolver uma
teoria que serviu de influência aos ideais pós-modernos. Buscavam, a partir
dessa, revelar a dicotomia entre a cidade tradicional e a moderna, desta-
cando a primeira como densa, compacta e unitária e, não isolada e abstrata
como a segunda.
Como pode-se perceber na figura 1.3, uma é essencialmente preta, a outra
branca, sendo que a primeira é entendida como um acúmulo de vazios em
sólidos não manipuláveis e a segunda, como uma acumulação de sólidos
em vazio não manipulável. Representando-se, figurativamente, como es-
paço na primeira e objeto na segunda.
48
Na configuração da cidade tradicional nota-se a interdependência do
edifício e do vazio, sendo ambos protagonistas da concepção urbana. No
entanto, destaca-se que os modernistas priorizavam o objeto (o edifício),
concebendo os projetos a partir da figura, delimitadora do fundo (vazios).
Nomeia-se esse efeito, por Rowe e Koetter (1977), como a crise do objeto,
em que o edifício moderno não é considerado capaz de conformar o espaço
público. Como apontado por Francis D.K Ching (1999), tendemos a organizar
a estrutura física das cidades tanto no espaço edificado que é percebido
Figura 1.3. Comparação entre a cidade de Parma e o projeto Saint-Dié (Le Corbusier). Fonte: ROWE; KOETTER, 1977, p. 62-63.
49Capítulo 1 Elenco de conceitos
Figura 1.4. Recorte do centro de São Paulo (figura e fundo). Fonte: RIBEIRO, 2010, p. 16.
como a forma (o cheio) e o espaço não edificado, o fundo (vazio). O fundo
tem uma forma visual e a sua qualidade, dimensão e escala derivam de
elementos formais. Como apontado por Baker (1974 apud CHING, 1999), a
definição da forma arquitetônica é resultante do encontro entre massa e
espaço, podendo ter o papel de definição do espaço urbano.
No entanto, os edifícios alternam seu papel na escala urbana, consolidando-
se como elementos estruturadores ou panos de fundo dos espaços com
identidade urbana. Cabe analisar cada caso para obter a qualidade do
espaço urbano resultante, dispensando atribuições de caráter único.
No caso do centro de São Paulo, figura 1.4, assim como afirmado por Ribeiro
(2010, p. 24), não é ao todo correto afirmar uma crise do objeto, “[...] a rua e
os demais espaços públicos abertos e os internos pelas galerias comerciais
continuam a figurar como nas cidades tradicionais.” O edifício e o espaço
público se relacionam, formando parte da paisagem urbana.
50
1.4 Urbanidade
1.4.1 A construção do conceito
Milton Santos (1992, p. 241) diferenciou os termos cidade e urbano, afir-
mando que a primeira “é o concreto, o conjunto de redes, enfim a mate-
rialidade visível do urbano, enquanto que este é o abstrato, porém o que
dá sentido e natureza à cidade”. De forma geral, pode-se definir a cidade
como o local onde as relações urbanas acontecem.
Expandindo-se da definição enciclopédica: “conjunto de formalidades
e procedimentos que demonstram boas maneiras e respeito entre os ci-
dadãos; afabilidade, civilidade, cortesia, cordialidade” (HOUAISS, 2001, p.
2809), compreende-se neste trabalho o conceito de urbanidade a partir
da sua relação com a escala urbana. Esse conceito, conforme salientado
por Aguiar (2012), é afeito ao conjunto de qualidades que distinguem uma
cidade, estando presente “no modo como a relação espaço/corpo se mate-
rializa”. Objetiva-se compreender o termo urbanidade enquanto realidade
física, que a partir da arquitetura relaciona-se ao entorno, ao local, à cidade,
à paisagem. Segundo Holanda (2010), os elementos precisam se articular
entre si para garantirem qualidade e vitalidade urbana,
[…]para seu florescimento a urbanidade precisa de uma arquitetura com determinados atributos: espaço público bem definido, forte contiguidade entre edifí-cios, frágeis fronteiras entre espaço interno e externo, continuidade e alta densidade do tecido urbano, etc. (HOLANDA , 2010, p. 1).
A qualidade do ambiente é destacada pelo Lamas (2011, p. 26), argumen-
tando que “a arquitetura introduz no planejamento e no urbanismo um
objetivo fundamental, a construção da forma do espaço humanizado”. Se-
gundo Jacobs (2013), quando esse espaço se torna público, é visto como
tendo o papel de valorizar e de articular a vitalidade e a diversidade da
cidade. Conforme apontado por Cullen (2009, p. 66), o conceito de urbani-
dade representa a “síntese de qualidade e do caráter da vida urbana.”
51Capítulo 1 Elenco de conceitos
Por sua vez, Castelo (2007 apud Aguiar, 2015) destaca que a qualidade do
espaço público urbano é de fundamental importância para caracterizar a
urbanidade, apontando-a:
[…] como uma qualidade típica e única do ambiente construído, uma qualificação vinculada a dinâmica das experiências existenciais, conferidas as pessoas pelo uso que fazem do ambiente urbano público, através da capacidade de intercâmbio e comunicação de que está imbuído esse ambiente (CASTELO, apud AGUIAR, 2015, p. 59).
Segundo Rolnik (1993), o território ultrapassa a noção de espaço quando
existe uma relação com o sujeito. A existência do território vai além da sua
configuração física, ele não existe sem o processo produzido pelas relações
sociais, sendo essa a marca que faz o território. Segundo ela:
[…] há uma relação de exterioridade do sujeito em re-lação ao espaço e uma ligação intrínseca com a sub-jetividade quando se fala em território. O território é uma noção que incorpora a ideia de subjetividade. Não existe um território sem sujeito, e pode existir um espaço independente do sujeito. O espaço do mapa dos urbanistas é um espaço; o espaço real vivido é o território” (ROLINIK, 1993, p. 28).
Como apontado por Fernando de Mello Franco (2005) na sua tese de dou-
torado, o desafio das cidades é a construção de uma relação de urbanidade
a partir da integração sistêmica entre as infraestruturas com a cidade. A
tese (Ibid, p. 62) descreve que na cidade de São Paulo decidiu-se “[…] as-
sociar a implantação dos principais sistemas infra-estruturais responsáveis
pela modernização da cidade com as áreas de várzea”, visando o cresci-
mento da própria cidade. Porém, como apontado por Franco (Ibid, p. 63),
as infraestruturas foram “esvaziadas de uma condição de urbanidade,” não
tendo na sua conformação a função de articulação com a cidade. Destaca-
se que a essência da tese aplica-se na forma em que relacionam-se e arti-
culam-se os projetos nos espaços implantados, podendo-se simplificar em:
“espacialidades que promovessem continuidades” (Ibid, p. 152).
52
Franco (Ibidem) delimita 03 (três) elementos estruturantes do ambiente
construído na sua tese: escala, permanência e poder de propulsão. A escala
transcreve-se na magnitude das infraestruturas (redes de ferrovias, margi-
nais, entre outros) na cidade e na sua relação com a mesma. A permanência
“é aquilo que resulta de um valor decantado ao longo do tempo” (Ibid, p.
15), persistindo e desenvolvendo-se. Os sistemas de transporte são consi-
derados por Franco como os principais agentes de propulsão do espaço na
metrópole, pois eles incentivam novas relações de uso e ocupação.
Os 03 (três) elementos foram assimilados e transcritos nas seguintes rela-
ções neste trabalho, já que possuem potencial de articulação e de criação
de associações:
ESCALA: a relação intrínseca entre o edifício e a cidade, a qual apresenta-
se no projeto arquitetônico.
PERMANÊNCIA: a obra permanece como foi projetada inicialmente, sen-
do tanto a sua relação com a morfologia urbana, como o uso dado a ela.
PODER DE PROPULSÃO: o que a obra impulsiona na construção da di-
nâmica urbana e da morfologia da cidade, propulsionando relações de
urbanidade.
Concordando-se com Franco (2005), as intervenções locais têm capacidade
de reverberar sobre a escala urbana. A arquitetura apresenta-se como
instrumento delimitador dessas relações, conferindo-lhe significados às
formas de uso do cotidiano das cidades. Conforme apontado por Aguiar
et al. (2010, p. 3), a cidade, as ruas e os edifícios são “participantes ativos”
na construção de urbanidade. Busca-se, por meio da urbanidade, atingir
uma “cordialidade do espaço”, ou seja, criar projetos com integração,
função e articulação.
1.4.2 Construção dos espaços livres, fluentes e, das permeabilidades
Compreendendo-se a importância do espaço público e livre para a urba-
53Capítulo 1 Elenco de conceitos
nidade das cidades, Gordon Cullen (2009, p. 12) destaca-se por defender a
dinâmica urbana. Para ele, a cidade tem vigor e dramatismo devido a seus
contrastes, sem eles a cidade passa desapercebida e sem características. Re-
lata ainda que os centros urbanos deveriam ser projetados seguindo a ótica
da “pessoa que se desloca (quer a pé, quer de automóvel),” possibilitando
percursos pelos contrastes entre espaços comprimidos e vazios, espaços am-
plos e delimitados e, alternância de momentos de tensão e tranquilidade.
Como apontado por Norberg-Schulz (1975), o lugar não é apenas uma lo-
calização geográfica e sim uma manifestação concreta do habitar humano.
Considera assim, o espaço como sendo existencial e o espaço arquitetôni-
co pode concretizar-se como tal.
Segundo Cullen (2009), o espaço exterior precisa ter dinamismo e ser usu-
fruído pelos habitantes.
Ao homem não bastam as galerias de pintura; ele necessita de emoção, do dramatismo que é possível fazer surgir do solo e do céu, das árvores, dos edifícios, dos desníveis e de tudo o que o rodeia, através da arte do relacionamento (CULLEN, 2009, p. 30).
Como salientado por Magnoli (2006, p. 217), os espaços livres no tecido ur-
bano são os lugares de vida urbana. “A cidade densamente construída é o
lugar por excelência do espaço livre público contemporâneo. É a esse espa-
ço que cabe o papel de requalificar a cidade existente.”
Ashihara (1982) descreve os espaços livres como sendo positivos e nega-
tivos. A positividade é decorrente de uma intencionalidade humana ou
de um determinado planejamento do espaço em questão. No entanto, a
negatividade de um espaço implica em sua espontaneidade e falta de pla-
nejamento. Esses conceitos estão fundamentados na Teoria do Espaço, na
qual descreve o espaço positivo como centrípeto, pois as forças convergem
com um propósito, já o negativo é o centrífugo, uma vez que as forças se
espalham (Figura 1.5).
54
Partindo do princípio de figura e fundo, para Christopher Alexander (1977)
existem dois tipos de espaço exterior, o negativo e o positivo. No seu livro,
A Pattern Language, considera o espaço como sendo negativo quando os
edifícios se localizam de tal maneira que o espaço resultante é apenas re-
sidual e amorfo. Por outro lado, o espaço exterior é positivo quando tem
uma forma distinta e consolidada e, em termos de importância, destaca-se
como as formas dos edifícios que o rodeiam.
Para visualizar esses conceitos, precisa-se observar o espaço consolidado
na concepção geométrica, por meio do uso de diagramas de figura e fundo
reversos. Na figura 1.6, o espaço exterior é negativo já que os edifícios con-
solidam-se como figuras e o restante é fundo, não existindo reversibilida-
de. Na figura 1.7 identifica-se um espaço positivo, já que tanto os edifícios
quanto o espaço exterior aparecem como figuras, contra o fundo formado
pelos edifícios. Existe aqui a reversibilidade.
Segundo Alexander (1977), os espaços positivos são parcialmente enclau-
surados e sua designação é importante pois as pessoas sentem-se mais
confortáveis neles, assim como se apropriam deles. Um espaço negativo
pode transformar-se em positivo quando outros edifícios se articulam a
ele, criando as positividades (Figuras 1.8 e 1.9).
Figura 1.5. Esquema de espaços positivos (centrípeto) e negativos (centrífugo). Fonte: ASHIHARA, 1982, p. 21, adaptada pela autora.
positivo
negativo
55Capítulo 1 Elenco de conceitos
Figura 1.6. Esquema de espaço exterior negativo. Fonte: ALEXANDER, 1977, p. 518.
Figura 1.7. Esquema de espaço exterior positivo. Fonte: ALEXANDER, 1977, p. 518.
Figura 1.8. Esquema de transformações dos espaços. Fonte: ALEXANDER, 1977, p. 521, adaptada pela autora.
Figura 1.9. Esquema de transformações dos espaços. Fonte: ALEXANDER, 1977, p. 522, adaptada pela autora.
transformar este......... para issotransformar este......... para isso
A busca por uma entidade “positiva” deve ser transcrevida para a escala do
edifício. Na concepção desse último, delimitam-se os espaços internos e
deve ocorrer a integração tanto entre eles quanto com os espaços circun-
dantes (CHING, 1999).
A permeabilidade interfere também na positividade e na qualidade do
espaço interno e urbano. “[…]Na arquitetura se induz à ideia de movimento,
de percurso, de trânsito de um lugar a outro, de passagem e ultrapassagem,
de penetrar e chegar ao outro lado” (VIEIRA, 2015, p. 77). A permeabilidade
compreende-se na diminuição de um percurso por passagens dentro das
quadras de edifícios, permitindo assim, a articulação entre os espaços
público e privado. A ênfase nos espaços e nas articulações é de suma
importância já que a paisagem urbana é, na sua essência, um patrimônio
coletivo de herança natural e social.
56
Os espaços livres de permanência e circulação, forma, uso e apropriação
encontram-se em minoria em algumas cidades, principalmente na cidade
de São Paulo. A renúncia pelos espaços públicos é de responsabilidade
tanto dos arquitetos e urbanistas, quanto das legislações vigentes. Como
afirmado por Robert Venturi, “talvez a mais audaciosa contribuição da ar-
quitetura moderna ortodoxa seja seu chamado espaço fluente, usado para
realizar a continuidade de interior e exterior” (VENTURI, 2004, p. 90).
1.4.3 Morfologia urbana
A cidade está em constante transformação e para compreendê-la é neces-
sária a leitura da sua forma, sua morfologia. Esta última é importante para a
construção da urbanidade, pois a cidade estrutura-se a partir dos elemen-
tos morfológicos, os quais se articulam entre si e com a cidade.
O conceito de morfologia urbana consiste no estudo “[…] do objeto- a for-
ma urbana- nas suas características exteriores, físicas, e na sua evolução no
tempo” (LAMAS, 2011, p. 38). Destacando-se as relações recíprocas entre
a estrutura construída e a paisagem urbana, a partir da leitura de instru-
mentos que exprimam a relação objeto-observador. A morfologia urbana
baseia-se em instrumentos de leitura urbanísticos e arquiteturais.
O termo forma urbana corresponde a como se organizam e estruturam os
elementos morfológicos constituintes dos espaços urbanos, em relação
aos aspectos de organização quantitativos, funcionais, qualitativos e figu-
rativos. Conforme salientado,
A forma, sendo o objetivo final de toda a concepção, está em conexão com o ‘desenho’, quer dizer, com as linhas, espaços, volumes, geometrias, planos e cores, a fim de definir um modo de utilização e de comuni-cação figurativa que constitui a ‘arquitetura da cida-de’ (LAMAS, 2011, p. 44).
– Aspectos Quantitativos: tudo aquilo que possa ser quantificado na reali-
dade urbana: densidades, superfícies, fluxos, coeficientes.
– Aspectos de organização funcional: relacionado com as atividades hu-
57Capítulo 1 Elenco de conceitos
manas e as apropriações de uso para uma determinada área: habitar, co-
merciar, tratar-se.
– Aspectos qualitativos: se refere ao tratamento dado aos espaços, seu
conforto e a comodidade do utilizador: isolamento térmico, acessibilida-
des, conforto acústico.
– Aspectos figurativos: relação com a comunicação estética.
Por sua vez, Lamas (2011) apresenta hierarquicamente os elementos mor-
fológicos que compõem o espaço urbano:
– Solo: entendimento do território, sua topografia e o desenho da cidade.
– Edifícios (o elemento mínimo): por meio deles constitui-se “[…] o espaço
urbano e se organizam os diferentes espaços identificáveis e com ‘forma
própria’: a rua, a praça, o beco, a avenida, etc” (Ibid, p. 84).
– Quarteirão: “[…] agrega e organiza os outros elementos da estrutura ur-
bana: o lote e o edifício, o traçado e a rua e as relações que se estabelecem
com os espaços públicos, semipúblicos e privados” (Ibid, p. 94).
– A fachada: elemento pelo qual a relação entre o edifício e o espaço urbano
é processado. As fachadas manifestam “ […] as características distributivas
(programa, funções, organização), o tipo edificado, as características e lin-
guagem arquitetônica (o estilo, a expressão estética, a época), em suma, um
conjunto de elementos que irão moldar a imagem da cidade” (Ibid, p. 94).
– O logradouro: espaço privado do lote que não está ocupado por cons-
truções. “É através da utilização do desenho do logradouro que se faz par-
cialmente a evolução das formas urbanas do quarteirão até o bloco cons-
truído” (Ibid, p. 98).
– O traçado (a rua): “estabelece a relação mais direta entre a cidade e o
território […] É o traçado que define o plano, intervindo na organização da
forma urbana a diferentes dimensões” (Ibid, p. 98).
– A praça: “[…] distingue-se de outros espaços, que são resultado aciden-
tal de alargamento ou confluência de traçados […] A praça pressupõe a
vontade e o desenho de uma forma e de um programa” (Ibid, p. 100).
58
– O monumento: “[…] elemento morfológico individualizado pela sua pre-
sença, configuração e posicionamento na cidade e pelo seu significado”,
tornando-se um polo estruturante da cidade (Ibid, p. 104).
– A árvore e a vegetação: “caracterizam a imagem da cidade, [...] são ele-
mentos de composição e do desenho urbano, servem para organizar, defi-
nir e conter espaços” (Ibid, p. 106).
– Mobiliário urbano: situa-se na dimensão setorial, na escala da rua, sendo
de “[…] grande importância para o desenho da cidade e a sua organização,
para a qualidade do espaço e comodidade” (Ibid, p. 108).
O modo como os elementos se “posicionam, organizam e articulam” (Ibid,
p. 44) condicionará os espaços urbanos e diferenciará um do outro, possi-
bilitando “a comunicação estética do objeto arquitetônico” (Ibid, p. 80). Na
escala urbana, os objetos são os edifícios que se articulam e relacionam
com o espaço urbano.
1.4.4 Indicadores de análise de urbanidade
Conceitua-se neste trabalho que a relação entre os conceitos de densida-
de, de verticalização e de percepção, conforma espaços urbanos com urba-
nidade. Para compreender os espaços urbanos é necessário fazer uma lei-
tura dos elementos morfológicos e dos objetos arquitetônicos, presentes
na realidade urbana (Gráfico 1.2).
Gráfico 1.2. Esquema dos conceitos com o espaço urbano. Fonte: AUTORA, 2015.
URBANIDADE
VERTICALIZAÇÃODENSIDADEESPAÇO URBANO
objetos arquitetônicos
elementos morfológicos PERCEPÇÃO
quantitativa
qualitativafigurativa/estética
59Capítulo 1 Elenco de conceitos
Como salientado por Besse (2014) na obra de Ardaillon: “primeiro é preciso
olhar, depois é preciso ‘ir ver’, ir a campo” (Ibid, p. 73). Esse olhar difere-se
de uma “dissecação analítica”, reforçando a “visão de conjunto” por meio
dos sentidos. “Se o objeto é a paisagem, o sujeito deste julgamento é o
olhar” (Ibid, p. 74). Conforme descrito por Lynch (2006, p. 6), o sujeito (ob-
servador) deve ter um papel ativo na percepção da paisagem e uma “parti-
cipação criativa no desenvolvimento da sua imagem.”
As análises dos edifícios escolhidos são ensaios de aproximação para evi-
denciar os elementos que auxiliam a geração de urbanidade nos espaços
urbanos. Partindo-se da ótica visual e perceptiva, dos conceitos analisa-
dos e dos elementos - escala/permanência/poder de propulsão, busca-se
constituir uma série de atributos (indicadores) que auxiliem nas análises
dos objetos escolhidos, por meio de aspectos quantitativos, qualitativos,
morfológicos e figurativos/estéticos (Gráfico 1.3):
1) Ficha técnica: breve apresentação do edifício, destacando o arquiteto da
obra, características gerais e elementos técnicos, como a área do terreno, a
área construída, a altura do edifício, o número de pavimentos, a tipologia,
a densidade física (permanente e transitória), 4 entre outros.
2) Implantação do edifício e traçado urbano: relação do edifício com o ter-
reno e as vias circundantes, destacando-se o uso das irregularidades do ter-
reno para conformação do projeto. Descrevem-se os percursos criados, re-
sultantes do projeto arquitetônico e da sua inserção na morfologia urbana.
3) Espaços positivos e permeabilidades: mediante os gráficos de figura-
fundo, representam-se as áreas resultantes positivas dos edifícios. A partir
da apropriação do pavimento térreo para atividades de uso público, pro-
porcionam-se maiores funcionalidades e permeabilidades nos espaços.
4 Os números referentes as densidades foram estimados pelas Administradoras dos edifícios analisados, em função de uma projeção calculada em relação aos usos dos espaços.
60
4) Embasamento: distribuição do programa e sua representação geomé-
trica em volumes.
5) Pregnância da forma e tratamento de fachada: destacam-se os elemen-
tos de projeto que contribuem para a uniformidade dos edifícios e possibi-
litam o “convite” no território urbano. Por exemplo, as marquises permitem
melhores condições uma vez que protegem os pedestres e, dessa maneira,
humanizam os edifícios gerando, assim, maior urbanidade. Destacam-se
também os tratamentos de fachada que contribuem para a consolidação
da imaginabilidade (LYNCH, 2006).
6) Escala e paisagem urbana: compreender a relação do edifício com seu
entorno, elencando os elementos da paisagem que encontram-se próxi-
mos, tais como praças, parques, edifícios, etc. Serão realizados estudos
gráficos para determinar a relação com os edifícios da frente, consideran-
do a rua como elemento de separação e distanciamento das construções.
Simplifica-se essa relação em D/H, distância por altura, (ASHIHARA, 1982).
Quando o coeficiente é maior do que 1 (um), segundo Ashihara, tem-se a
impressão de que a distância que os separa é menor.
61Capítulo 1 Elenco de conceitos
Gráfico 1.3. Esquema conceitual de síntese entre os conceitos, os indicadores de urbanidade, os elementos transcritos pela tese de Franco (2005) e a estrutura do trabalho.
Fonte: AUTORA, 2015.
FICHA TÉCNICA
IMPLANTAÇÃO DO EDIFÍCIO E TRAÇADO URBANO
EMBASAMENTO
PREGNÂNCIA DA FORMA E TRATAMENTO DE FACHADA
ESPAÇOS POSITIVOS E PERMEABILIDADES
verticalização e densidade percepção e ótica visual
PROPULSORES
DE URBANIDADE
ESCALA PERMANÊNCIA
ESCALA E PAISAGEM URBANA
Edifício Copan
Edifício Itália
Galeria Metrópole
Análises dos edifícios multifuncionais modernos 000002
2
2. REPERTÓRIO MODERNO NA CIDADE TRADICIONAL
Análise dos edifícios Copan, Itália e Galeria Metrópole
2.1 Desenho do centro da cidade de São Paulo
A cidade de São Paulo passou por grandes transformações, mas seu centro
preservou o traçado original das antigas formações que consistem, na sua
maioria, em quadras irregulares e lotes profundos.
Conforme salientado por Lamas (2011, p. 94), o quarteirão foi um instru-
mento urbanístico presente na produção da cidade tradicional, “[…] per-
mitindo a localização e a definição da arquitetura e relacionando-a com a
estrutura urbana”. As praças também tiveram destaque, evidenciando na
sua constituição a relação entre o “vazio (espaço de permanência)“ com os
edifícios e suas fachadas (LAMAS, 2011, p. 102). A praça se diferencia do res-
tante dos vazios, por enfatizar no seu desenho urbano, o caráter coletivo.
A arquitetura moderna “já nasce marcada pelo tecido antigo, pelas assimi-
lações e distorções” (RIBEIRO, 2007) (Figuras 2.1 a 2.4). Acredita-se que esse
seja o motivo pelo qual, ao serem inseridos na malha urbana, os edifícios
modernos não perderam o papel de articulação de espaços e de criação de
permeabilidades, remetendo ao modelo de cidade tradicional. Por meio da
Figura 2.1. Mapa São Paulo, 1895.Fonte: SÃO PAULO, 2015.
65
Figura 2.2. Mapa São Paulo, 1913.Figura 2.3. Mapa São Paulo, 1924.Figura 2.4. Mapa São Paulo, 1951.Fonte: SÃO PAULO, 2015.
apropriação dos alinhamentos e dos limites dos terrenos, desenharam-se
os espaços públicos. Como apresentado no capítulo anterior, o centro de
São Paulo não carece da crise do objeto (ROWE; KOETTER, 1977), já que “os
edifícios não nascem isolados como objetos; mas contaminados pela vida;
formas difíceis” (RIBEIRO, 2007). Trata-se de uma arquitetura de assimilação
e de continuidades, a qual se expressa na trama urbana e tem como papel
a criação de um espaço público coletivo que se conecta com a paisagem
urbana e, tem também o poder de intervenção na produção da cidade.
66
2.1.1 Permeabilidades centrais urbanas
Os edifícios modernos escolhidos para serem analisados no seu contexto
possuem uma alta “imaginabilidade” e “legibilidade”, conforme teoria do
Lynch (2006). Eles representam a imagem do centro da cidade de São Paulo.
São as figuras que se destacam no fundo da paisagem e conformam os es-
paços públicos da cidade.
Os edifícios icônicos Copan, Itália e Galeria Metrópole localizam-se próximos
uns aos outros, e criam, por meio de seus passeios, permeabilidades que
transformam a malha urbana, tornando-se um diferencial da área central.
O uso do pavimento térreo para a criação de espaços público-privados, as
galerias, permitiram dinamicidade na cidade. Os percursos, as passagens e
os atalhos desenham o tecido urbano e provocam vitalidade na cidade. Do
edifício Copan pode-se chegar à Galeria Metrópole passando pelo edifício
Conde Silvio Penteado e atravessando a Avenida São Luís. Trata-se de um
pequeno percurso, porém representativo dos princípios da arquitetura e do
urbanismo modernos em São Paulo, nos quais os edifícios estabelecem re-
1
2
3
4
5
6
14
7
8
9
1516
13
12
11
10
17
Figura 2.5. Implantação dos edifícios no Centro Novo de São Paulo, destacando-se os térreos permeáveis. Fonte: SERAPIÃO, 2011, p. 111, adaptada pela autora com base em FONTENELE, 2010, p. 169.
1-Edifício Copan
2-Edifício Itália
3-Edifício Conde Silvio Penteado
4-Edifício Louvre
5-Conjunto Zarvos e Ambassador
6-Galeria Metrópole
7-Edifício Esther e Arhur Nogueira
8-Galeria Califórnia
9-Galeria Louzã
10-Conjunto Presidente
11-Galeria Guatapará
12-Galeria Itá e R. Monteiro
13-Galeria Nova Barão
14-Galeria das Artes
15-Galeria 7 de Abril
16-Galeria Ipê
17- Galeria Itapetininga
67
Figura 2.6. Imagem área do centro de São Paulo. Fonte: GOOGLE EARTH, 2015, adaptada pela autora.
lações de dependência com o traçado urbano, a partir das permanências e
permeabilidades estabelecidas (Figuras 2.5 e 2.6).
Segundo o autor Franco (2005, p. 15), os monumentos, os edifícios icônicos,
“mantêm sua importância pelos valores arquitetônicos da matéria, da for-
ma e da capacidade de estruturar relações urbanas no contexto atual que
elas se inserem”.
1
2
3
4
5
6
7
1-Edifício Copan
2-Edifício Itália
3-Praça da República
4-Galeria Metrópole
5-Praça Dom José Gaspar
6- Biblioteca Mário de Andrade
7- Praça Ramos de Azevedo
8- Teatro Municipal
8
68
(Companhia Pan-Americana (Co-Pan) de Hotéis e Turismo)Empreendimento idealizado para compor o IV Centenário da cidade.
Arquiteto: Oscar Niemeyer
Colaborador: Carlos Alberto Cerqueira Lemos
Ano: 1952-1956
Localização: Avenida Ipiranga, 200 - República
Vias: Avenida Ipiranga, Vila Normanda, Rua Araújo e Rua Unaí
Tipologia: Mista (Habitacional e Serviços)
Altura: 130 m
Número de pavimentos: 32
Área do terreno: 6006,35 m2 / 0,6 ha
Área construída: 116.152,00 m² / 11,62 ha
Coeficiente de aproveitamento (CA): 19
População permanente (habitantes + funcionários): 5225 hab
População transitória (população permanente + visitantes): 8225 hab
Densidade física permanente (população/área construída): 450,00 hab/ha
Densidade física transitória (população/área construída): 708,00 hab/ha
Figura 2.7. Edifício Copan. Fonte: WIKIPÉDIA, 2015.Quadro 2.1. Quadro Edifício Copan. Fonte: AUTORA, 2015 com base nos dados cedidos pela Administração do Condomínio Edifício Copan, maio. 2015.
2.2 Edifício Copan
2.2.1 Ficha técnica
O edifício Copan, nomeado o “Maciço Turístico Copan” foi idealizado pelo
arquiteto Oscar Niemeyer. Como apontado por Carlos Lemos (ANGIOLILLO
2014), co-autor do projeto: “Não se sabendo bem o que fazer com essa classe
(classe média), Loureiro e Frias chegaram a uma conclusão que era lógica. Fazer
um prédio grande, variado e ver o que vendia. Uma espécie de laboratório.”
Esse edifício tornou-se paradigma do modelo de “cidade vertical” e possui até
seu próprio Código de Endereçamento Postal (CEP).
O programa original do edifício constava de um hotel de 600 aptos, com sa-
lões, restaurantes e lojas, um cinema para 3500 pessoas, um teatro para 700
pessoas, uma garagem para 500 carros, uma área residencial de 900 aptos e
uma galeria com mais de 100 lojas. Compreendendo-se a dinâmica turística,
foi alterado o projeto para abrigar 1160 unidades habitacionais, divididas em
seis blocos de A a F, e o hotel foi substituído pela sede do banco Bradesco. No
total remanesceram 73 lojas (Quadro 2.1).
69Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
2.2.2 Implantação do edifício e traçado urbano
O lote original e irregular foi dividido em dois e separado pela rua Unaí,
a qual possui uma configuração sinuosa e, além disso, tem como função
conectar os edifícios para criar uma unidade de conjunto. De um lado foi
projetada uma lâmina regular e do outro uma lâmina curva. Como enfa-
tiza Lemos: “E aquele ‘s’ não é gratuito não. Ele está concordando com as
irregularidades das divisas posteriores. Ele se harmoniza muito bem com
aquilo” (LEMOS, 2004 apud BARBARA, 2004, p. 220) (Figuras 2.8 e 2.9).
A distribuição das galerias no térreo é perimetral, criando um percurso a ser
seguido e permitindo as conexões entre a Avenida Ipiranga (primeira peri-
metral do Plano de Avenidas Prestes Maia), a Vila Normanda, a Vila Unaí e a
Rua Araújo. Os corredores das galerias são sinuosos e rampeados, pois incor-
poram a topografia descendente do terreno natural, promovendo o ajuste
dos níveis entre as ruas circundantes. O desnível entre a Vila Normanda e a
Rua Araújo é de quatro metros (BARBARA, 2004).
Figura 2.8. Implantação Edifício Copan. Fonte: OUKAWA, 2010, p. 26, adaptada pela autora.Figura 2.9. Imagem aérea. Fonte: MILIAUSKAS ARQUITETURA, 2015.
Avenida Ipira
nga
Avenida Consolação
Avenida São João
BRADESCO
Rua
Ara
újo
Vila Norm
anda
Rua Unaí
EDIFÍCIO COPAN
N
70
As galerias configuram um espaço de circulação interno que trata-se de
um passeio semipúblico, o qual expressa uma continuidade com o espaço
público externo. A curva, por sua vez, delimita o compasso do pavimento
térreo, o ritmo, traçando seu percurso e possibilitando o passeio urbano,
definindo-o como um espaço com urbanidade (Figura 2.10).
O espaço exterior integra-se, também, com o interior a partir das gene-
rosas aberturas, que são cinco no total. Ainda que o acabamento do piso
interno seja diferente do da calçada, a conexão entre ambas as partes não
fica comprometida. Devido à implantação do edifício, as calçadas também
se alargam e se integram com o térreo e, consequentemente, estende-se
o espaço público (Figuras 2.11 a 2.13).
Pode-se destacar que o passeio criado é sinuoso, assim como sua forma
e, conforme Mendoça (2007), contraria a máxima corbusiana que “diz
que o homem que sabe onde vai, vai em linha reta” (LE CORBUSIER apud
MENDOÇA, 2007, p. 105). A ondulação é objetiva, um desvio obrigatório a
um eixo, com vista a “querer oferecer uma desaceleração do fluxo veloz da
cidade pela introdução da curva” (Ibid, p. 105).
Figura 2.10. Planta pavimento térreo.Fonte: GALVÃO, 2007, p. 26, adaptada pela autora.
A
B
C
E
FD
Circulação - 26 % da área do pavimento térreo
Acesso - Blocos de apartamentos
Acesso pedestres
Acesso estacionamento
A
E
E
E
s/escala
71Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.11. Acesso pela Rua Araújo. Figura 2.12. Visual desde a Rua Unaí (sentido Vila Normanda).Figura 2.13. Visual desde a Rua Unaí (sentido Avenida Ipiranga).Fonte: AUTORA, mar. 2015.
72
Como descrito por Dardel (2013), a reta é uma imposição do homem em
uma condição geográfica, a curva, no entanto, expressa maior naturalida-
de. Na ótica do local, Cullen (2009) destaca a ondulação como um item
importante da paisagem urbana. A descreve como um desvio obrigatório
com um objetivo e que, dentre algumas qualidades, proporciona elemen-
tos vitais como a luz e a sombra.
A partir do percurso e da possibilidade do atalho, estabelece-se o diálogo
com a cidade. Nos dizeres de Argan, “o edifício não interrompe o movimen-
to da cidade, a arquitetura não fecha nem segrega, e sim filtra e intensifica
a vida” (ARGAN, 1992, p. 197), proporcionando maior urbanidade.
No projeto original, existia uma maior conectividade entre os dois edi-
fícios, já que eram previstas lojas nas duas laterais da rua Unaí. Essa úl-
tima não atuaria como um separador, como nos dias atuais, mas como
um conector. A conexão se estenderia no nível dos terraços, pois ambos
ligariam-se mediante uma passarela. Porém, com a construção da sede
bancária, a passarela nunca foi realizada.
2.2.3 Espaços positivos e permeabilidades
Como pode-se perceber nas figuras ao lado, o edifício (figura) predomi-
na no fundo. A implantação do edifício delimita-se com o aproveitamento
máximo da quadra. No entanto, o edifício conforma no seu interior o espa-
ço semipúblico, sendo ele positivo, pois se destaca dentro da figura e pos-
sui uma forma distinta e coerente. Como salientado por Bloomer e Moore
(1982), o edifício pode estimular potencialmente o movimento. O percurso
interno é um espaço positivo e permeável, transcreve-se na curva e deli-
mita-se pelas entradas. A transposição da quadra ocorre pela circulação, a
qual possibilita maior fluidez entre o espaço exterior e interior. Por sua vez,
a permeabilidade representa 26 % (vinte e seis) da área total do pavimento
térreo (Figuras 2.14 a 2.16).
73Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.14. Copan - Figura e fundo. Figura 2.15. Copan - Figura e fundo. Figura 2.16. Copan - Espaço positivo - permeabilidade. Fonte: AUTORA, 2015.
N
Permeabilidade - 26% da área do pavimento térreo
Figura
30 m
Figura
Fundo
Espaço positivo
FundoFigura
74
A importância da percepção dos espaços construídos é salientada por
Geoffrey Scott na sua obra La Arquitectura del Humanismo (1914). Nela, trata
sobre os termos de escala e ornamento nos edifícios, expondo que:
Em qualquer edifício, podem distinguir-se três coisas: a magnitude que realmente tem (medida mecânica), a magnitude que parece ter (medida visual), e a sensação de magnitude que produz (medida corporal). As duas últimas têm sido muitas vezes confundidas, porém a única que possui valor estético é a sensação de magnitude (SCOTT, 1914 apud BLOOMER; MOORE, 1982, p. 40, tradução e grifo da autora). 1
Adentrando o edifício Copan, depara-se com um pé direito avantajado.
Acredita-se que, se o pé direito fosse mais próximo da escala humana, em
termos perceptivos, o espaço ficaria enclausurado. O aumento significativo
do pé direito provoca a percepção da sensação de magnitude do espaço
construído. O fato desse percurso ter comércios e serviços torna-o um es-
paço com funcionalidade e uso urbano (Figuras 2.17 e 2.18).
Figura 2.17. Percurso interno. Fonte: AUTORA, dez. 2014.
1 Tradução do texto pela autora. Texto original: “En cualquier edificio pueden distin-guirse tres cosas: la magnitud que realmente tiene (medida mecánica), la magnitud que parece tener (magnitud visual), y la sensación de magnitud que produce (medi-da corporal). Las dos últimas han sido muchas veces confundidas, pero la única que posee valor estético es la sensación de magnitud. In: SCOTT, 1914 apud BLOOMER, Kent C.; MOORE, Charles W. Cuerpo, memoria y arquitectura. Introducción al diseño arquitectónico. Madrid: Blume, 1982.
75
Figura 2.18. Percurso interno. Fonte: AUTORA, mar. 2015.
76
2.2.4 Embasamento
Concordando-se com Barbara (2004, p. 208), o Copan: “com seus diversos
programas, é desenhado como um trecho da cidade; mais do que um edifí-
cio, pode ser entendido como um complexo equipamento urbano.”
Rua
Ara
újo
Vila
Nor
man
da
Área permeável - pavimento térreo
Figura 2.19. Elevação sudeste. Fonte: OUKAWA, 2010, p. 39, adaptada pela autora.
Rua Unaís/escala
resi
denc
ial
com
erci
al
77Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Av.
Ipir
anga
Área permeável - pavimento térreo
Figura 2.20. Elevação sudoeste. Fonte: OUKAWA, 2010, p. 39, adaptada pela autora.
Rua Unaí
s/escala
O embasamento do programa ocorre em dois volumes, ou blocos, o co-
mercial (base de 12 (doze) a 16 (dezesseis) metros de altura) e o residencial
(lâmina vertical de formato sinuoso e longínquo). A bipartição em volumes,
permitiu a separação dos usos e contribuiu para suavizar a robustez do edi-
fício, impactando na paisagem urbana (Figuras 2.19 e 2.20).
78
2.2.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada
O edifício Copan ganha proporções mais próximas da escala do pedestre,
com a presença dos balcões das sobrelojas os quais avançam sobre as en-
tradas, funcionando tanto como superfícies de projeção como também de-
marcações dos acessos ao prédio. Essas formas arquitetônicas delimitam
espaços de uso público, permitindo a ocupação e a apropriação do territó-
rio urbano, por meio de elementos de caráter transitório como o conjunto
de mesas e cadeiras dos bares e dos restaurantes (CULLEN, 2009) (Figura
Figura 2.21. Visual desde a Rua Unaí. Fonte: AUTORA, dez. 2014.
79Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.22. Copan - Detalhe do brise da fachada. Fonte: SKYCRAPERCITY, (Cristiano Mascaro), 2003.
2.21). A partir da definição dos usos nos espaços, amplificam-se as relações
de urbanidade.
O uso de brises de concreto nas fachadas da lâmina vertical e residencial
acentuam a horizontalidade da fachada e criam ritmo. Sua textura fica evi-
dente pela proximidade com a escala do observador (ASHIHARA, 1982).
Porém, para visualização do conjunto como uma unidade, é necessário
afastar-se. Como definido por Cullen (2009), esse conceito chama-se de
perspectiva delimitada, pois o observador é convidado a recuar a fim de
contemplar. Quanto maiores as distâncias, melhor é a compreensão da in-
serção do edifício na escala urbana.
Conforme ressaltado por Barbara (2004), o espaçamento de um metro entre
as lâminas dos brises cria um efeito um tanto curioso. O observador, ao olhar
para eles, desde a cota da rua, visualiza uma uniformidade. Já ao afastar-se
amplia-se a visibilidade do interior dos apartamentos, contrapondo o cheio
ao vazio (Figuras 2.22 e 2.23).
80
Figura 2.24. Copan - Vista aérea. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013.
Figura 2.23. Copan - Vista aérea. Fonte: UOL, 2012.
81Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
2.2.6 Escala e paisagem urbana
O afastamento do conjunto em relação à Avenida Ipiranga permite esta-
belecer proporções de amplitude e a materialização da lâmina no espaço
urbano fica menos densa (ALEXANDER et al., 1988) (Figura 2.24).
O próprio volume sinuoso participa nessa concepção, pois cria um espaço
central aberto, representado pela Rua Unaí, que melhora a percepção de
amplitude. O Copan, em ambas extremidades, tem suas empenas limítrofes
a outros edifícios, os quais possuem um gabarito menor. Como a maior face
da lâmina, a curva, é livre de contatos, o edifício expande-se no território.
(Figuras 2.24 a 2.26).
Figura 2.25. Visual desde a Rua Araújo. Fonte: GOOGLE EARTH, 2015.Figura 2.26. Visual desde a Rua Araújo. Fonte: AUTORA, mar. 2015.
82
Um outro elemento de análise é a relação entre as alturas dos edifícios
vizinhos (H) e sua separação em relação ao distanciamento das constru-
ções (D) (ASHIHARA, 1982). Aplicando-se esse conceito, compreendido
pela simplificação D/H, teremos 52/130 m = 0.4 (Figura 2.27). Porém, no
caso do Copan, tanto a implantação do edifício quanto a largura da ave-
nida contribuem para a qualidade do espaço, ainda que o coeficiente seja
menor do que 1 (um). Na escala do pedestre, o espaço resultante não é
enclausurador, já que a forma curva do edifício gera movimento e espa-
cialidade (Figuras 2.28 e 2.10).
Figura 2.27. Copan - Relação entre distância e altura. Fonte: AUTORA, 2015.
H
D
Av.
Ipir
anga
30 m
83Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.28. Visual desde a Avenida Ipiranga. Fonte: GOOGLE EARTH, 2015.
Ao analisarmos o Copan desde a Rua da Consolação, percebemos que ele
dialoga com o gabarito da Paróquia da Nossa Senhora da Consolação, pois,
ainda que se sobressaia em termos de altura, existe um certo distancia-
mento com a Paróquia e por causa da sua implantação, nesta perspectiva,
não visualizamos a total dimensão do Copan. Portanto, a Paróquia não per-
de seu protagonismo na conjuntura da paisagem (Figura 2.29).
Nas figuras 2.29 e 2.30, existe uma mistura arquitetônica entre as constru-
ções formais horizontais e verticais, sendo que perceptualmente a compo-
sição destaca-se pela sua verticalidade (FILHO, 2003). Os elementos cons-
trutivos conformam ao todo um equilíbrio dinâmico que, pelas linhas e
contornos irregulares, denotam certa proporção e apresentam relações de
escala. Os edifícios são as figuras que delimitam o skyline urbano.
Figura 2.10. Planta pavimento térreo.Fonte: GALVÃO, 2007, p. 26.
s/escala
84
Figura 2.29. Visual desde a Rua da Consolação, destaque para o skyline urbano.Fonte: AUTORA, 2015.
Edifício Copan
Paróquia da Nossa Senhora da Consolação
Edifício Ipiranga 165
Edifício Itália
85Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.30. Figura e fundo a partir da figura 2.29.Fonte: AUTORA, 2015.
Figura Fundo
86
Patrocinado pelo Circolo Italiano.
Arquiteto: Franz Heep
Ano: 1959
Localização: Avenida Ipiranga, 344 - República
Vias: Avenida Ipiranga e Avenida São Luís
Tipologia: Mista (Comercial e Serviços)
Altura: 165/168 m
Número de pavimentos: 46
Área do terreno: 2.382,00 m2 / 0,24 ha
Área construída: 52.000,00 m² / 5,2 ha
Coeficiente de aproveitamento (CA): 22
População permanente (condôminos + funcionários): 4800 hab
População transitória (população permanente + visitantes) : 8000 hab
Densidade física permanente (população/área construída): 923,00 hab/ha
Densidade física transitória (população/área construída): 1538,00 hab/ha
Figura 2.31. Edifício Itália. Fonte: GOUVEIA, 2013.Quadro 2.2. Quadro Edifício Itália. Fonte: AUTORA, 2014, com base nos dados cedidos pela Administração do Condomínio Edifício Itália, mar. 2015.
2.3 Edifício Itália
2.3.1 Ficha técnica
O edifício Itália foi idealizado pelo Circolo Italiano, tradicional clube da co-
lônia italiana de São Paulo. Até 1962, era o edifício mais alto da América
Latina e do mundo em concreto armado (MENDONÇA, 2007).
O programa consiste de uma galeria comercial com 14 lojas, um auditório
para 350 pessoas, um conjunto de escritórios (240 condôminos no total)
e, no 44º andar, um restaurante, que tem a vista panorâmica do centro da
cidade como sua maior atração. O pavimento do restaurante possui um
caráter simbólico, pois torna-se um mirante do espetáculo urbano.
Uma das curiosidades do edifício é que ele não foi projetado para atender a
uma demanda significativa de número de pessoas, em relação à proporção
de número de vagas no subsolo. Existem apenas 04 vagas, o restante do
pavimento é destinado para a infraestrutura do edifício (Quadro 2.2).
87Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
2.3.2 Implantação do edifício e traçado urbano
Situa-se em um lote de esquina, formado pela confluência da Avenida Ipi-
ranga com a Avenida São Luís. O arquiteto Franz Heep aproveitou a dimen-
são total do terreno, ocupando o pavimento térreo por toda a sua extensão
(Figura 2.32). Na sua concepção original, o térreo possuía maior permeabi-
lidade, já que para ambos os lados das avenidas existia uma entrada ativa.
Ainda que remanesceu a área das galerias, as quais se dispõem perime-
tralmente (lojas, café, sede bancária), o fechamento da entrada pela Aveni-
da São Luís (grades foram colocadas por segurança e apenas usa-se para
triagem) impede o fluxo dinâmico do passeio público. O projeto, na sua
concepção, tinha maior diálogo entre as áreas público e privada. A própria
entrada pela Avenida Ipiranga é gradeada e composta por uma escadaria,
o que bloqueia a continuidade da calçada com o espaço interior, além de
não ser acessível (Figuras 2.33 e 2.34).
Figura 2.32. Planta pavimento térreo.Fonte: MENDOÇA, 2007, p. 75, adaptada pela autora.
Circulação - 33 % da área do pavimento térreo
Acesso pedestres
Avenid
a Ipira
nga
Avenida São Luís Acesso estacionamentoE
E
s/escala
N
Acesso - Bloco escritório e restaurante
Acesso - Bloco Circolo Italiano
B
C
B
B
B
B
C
88
A dinâmica de circulação do edifício se dá pela coluna central que possui
19 (dezenove) elevadores no total. Desse último, 12 (doze) dão acesso ao
conjunto de escritórios e 02 (dois) acessam o restaurante e o terraço, ponto
atrativo do edifício. Além disso, existem outros 05 (cinco) elevadores de uso
exclusivo do Circolo Italiano.
Figura 2.33. Entrada desde a Avenida Ipiranga. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.34. Visual da entra-da desde o interior do edifício. Fonte: AUTORA, dez. 2014.
Figura 2.35. Visual da galeria interna.Fonte: AUTORA, dez. 2014.
2.3.3 Espaços positivos e permeabilidades
Percebe-se novamente a predominância da figura no
fundo. Porém, destacam-se os espaços positivos inte-
riores que são resultantes da delimitação da figura. Na
sua totalidade, 33 % (trinta e três) é área permeável em
relação ao pavimento térreo (Figuras 2.36 a 2.38). No
entanto, devido ao fechamento da entrada da Avenida
São Luís, o fluxo dentro do edifício ficou mais contido.
A falta de definição de usos no decorrer do pavimento
térreo torna-o menos funcional e, em termos de uso,
não muito convidativo. O que predomina nesse pavi-
mento são os elementos de circulação vertical e a falta
de adensamento faz com que o pé direito se destaque
em relação à escala humana (Figura 2.35).
89Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.36. Edifício Itália - Figura e fundo. Figura 2.37. Edifício Itália - Figura e fundo. Figura 2.38. Edifício Itália - Espaço positivo- permeabilidade. Fonte: AUTORA, 2015.
Permeabilidade - 33% da área do pavimento térreo
Permeabilidade interrompida
15m
Fundo
Fundo
Figura
Figura
Figura
Espaço positivo
N
90
Figura 2.39. Desenho esquemático- volumetrias e setorização.Fonte: AUTORA, 2015 com base em maquete da Administração do Edifício Itália.
anexo- conjunto de escritórios
Torre - lâmina verticalconjunto de escritórios
base- serviços + acessos
Circolo Italiano
2.3.4 Embasamento
O edifício se divide em 03 (três) partes: o embasamento, a torre e dois edi-
fícios laterais (Figuras 2.39 e 2.40). O embasamento se projeta acima da su-
perfície do lote e dele emergem a torre e os edifícios laterais. Estes últimos
funcionam como pano de fundo na composição arquitetônica e a simples
vista não parecem conformar parte do mesmo edifício. Dentro da base, a
partir da galeria cria-se “um fluxo urbano para dentro do limite do lote”
(MENDONÇA, 2007, p. 82).
91Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Av.
Ipir
anga
Área permeável - pavimento térreo s/escala
Figura 2.40. Corte longitudinal. Fonte: ITÁLIA, 2015, adaptada pela autora.
92
Figura 2.41. Detalhe do brise da fachada. Fonte: AUTORA, mar. 2015.
2.3.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada
O uso dos brises na fachada não só auxiliam nas rela-
ções de iluminação como também criam uniformidade
na fachada, de maneira a ocultar elementos que possam
interferir esteticamente, como é o caso dos pilares, caixi-
lhos (Figuras 2.41 e 2.42). O uso de brises móveis auxilia-
ram nessa ocultação:
De tudo, então, resulta não apenas a unidade da fachada que tantos alardeiam, mas uma formulação orgânica, cuja projeção externa não revelará ao espectador onde começa e onde acaba - o monumento é para ser visto de todos os lados, a noção da fachada foi totalmente eliminada, como preconiza a moderna arquitetura. Tudo o que o edifício Itália oferece, externamente, é face, é frente, é unidade (HABITAT, s/n apud MENDOÇA, 2007, p. 83).
A entrada ao edifício destaca-se por seu pé direito duplo
e o acesso recuado permite que a mesma esteja coberta
pelo pavimento superior. Atualmente, as grades delimi-
tam a entrada, direcionando-a a uma menor porção do
espaço. Ainda assim, preserva-se o espaço entre a grade
e o portão, o qual pode ser usado publicamente.
Elementos construtivos, como a extensão do pavimento
superior possibilitando uma área de proteção ao pedes-
tre, aumentam a área de calçada, tornando-se exemplos
de caráter humano, que geram maior urbanidade.
93Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.42. Visual para Edifício Itália desde a esquina da Praça da República. Fonte: AUTORA, mar. 2015.
94
2.3.6 Escala e paisagem urbana
A torre configura-se mediante uma planta elíptica, direcionando a menor
porção para o vértice. Isso deixa o edifício mais esbelto nessa fachada e
menos denso na paisagem urbana. Pela sua forma singular, o edifício cria
diferentes perspectivas, ora parece circular, ora retangular (Figuras 2.43 e
2.45). Posicionando-se na Praça da República, o edifício adquire propor-
ções grandiosas, como nomeado por Cullen (2009). Ele se destaca da paisa-
gem, dominando-a e induzindo uma sensação de onipresença.
O edifício adquire caráter de símbolo/ícone quando não só se destaca mas
auxilia na valorização do seu entorno. Segundo Ashihara (1982), a monu-
mentalidade fundamental, na sua essência, é adquirida quando uma obra
arquitetônica é isolada. Porém, ela também pode acontecer quando ao
redor dessa obra existam outros conjuntos de edifícios com relações de
influência entre uns com os outros, denominada de monumentalidade
Edifício Itá
lia
Praça da República
Figura 2.43. Montagem do mapa com base no Mapa Digital da Cidade (MCD). Fonte: S. PAULO 2015, adaptada pela autora.
E2
E1 = eixo Avenida IpirangaE2 = eixo Praça da República
E1
95Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
complexa. Esse é o caso do Edifício Itália, o qual é capaz de “perturbar” o
espaço e de atingir certos atributos como luminosidade e penumbra, per-
meabilidade, humanidade e urbanidade (Ibidem).
O bloco que se estende sobre a calçada, conforme salientado anteriormen-
te, possui o terraço, o qual faz parte do Circolo Italiano (Figura 2.44), por-
tanto seu uso é restrito. No entanto, o restaurante do Circolo possui uma
varanda, a qual abre-se para a mesma visual (Figuras 2.46 e 2.47).
Ambos ambientes criam uma nova condição de contemplar o entorno;
desde o terraço, a visual se dá pela copa das árvores, criando uma conti-
nuidade com a Praça da República. Nesse patamar, o próprio barulho da
rua minoriza-se. A proximidade com o pedestre é maior desde a varanda,
podendo contemplar a dinamicidade urbana.
Figura 2.44. Visual desde o terraço do Circolo Italiano. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.45. Edifício Itália em 1970. Fonte: S.P In Foco, 2015.
96
Figura 2.46. Visual desde a varanda do Circolo Italiano. Figura 2.47. Visual desde a varanda do Circolo Italiano. Fonte: AUTORA, maio. 2015.
Praça da República
97Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Baseando-se no conceito de Ashihara (1982), a relação D/H, tem-se
como resultado 35/160 m = 0.22, e mais uma vez, o coeficiente deu
abaixo de 1 (um). Acredita-se que o afastamento visual com a Praça
da República e a própria implantação do conjunto no lote funcionem
como elementos desestimuladores, contribuindo para que exista um
distanciamento entre o edifício e o seu entorno, resultando em um
espaço que ao ser percebido é agradável e não enclausurador (Figura
2.48). A configuração do edifício em formato de vértice contribui
também para a espacialidade resultante (Figura 2.32).
H
D
Av.
Ipir
anga
Figura 2.48. Edifício Itália - Relação distância e altura. Fonte: AUTORA, 2015.
20 m
Figura 2.32. Planta pavimento térreo.Fonte: MENDOÇA, 2007, p. 75.
s/escala
98
Para os 03 (três) pontos nodais representados na figura 2.52, seguindo a
metodologia de Lynch (2006), percebe-se que os edifícios, tanto Copan,
quanto Itália, se destacam na paisagem e se tornam marcos dela. Eles não
apenas integram o espaço construído, como dão dinamicidade (Figuras
2.49 a 2.51).
Existe uma conexão visual entre ambas as partes; dos pavimentos do edifí-
cio Copan pode-se visualizar a esbelteza da forma do edifício Itália. Quando
analisamos o Copan, especificamente, o formato sinuoso permite a leveza
e o desmembramento dos edifícios ao seu redor. Ele se destaca, irreduti-
velmente, ao ser comparado com seu entorno, mas não atua como uma
barreira visual, pois a curva permite a criação de diferentes visuais. Como
visualiza-se na figura 2.53, desde o Copan é possível ver o Edifício Itália, e
ambos têm uma relação simbiótica, pois juntos caracterizam e dialogam
com a área central da cidade.
Percebe-se que o posicionamento da planta elíptica do Edifício Itália, como
ilustrado na figura 2.55, acompanha o movimento da curva do Edifício
Copan e também relaciona-se com o Edifício Ipiranga 165 (antiga sede do
Hotel Hilton e projetado por Mário Bardelli).
Figura 2.49. Ponto nodal no1. Figura 2.50. Ponto nodal no2. Figura 2.51. Ponto nodal no3.
Fonte: AUTORA, mar. 2015.
99Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.52. Montagem do mapa com base no Mapa Digital da Cidade (MCD).Fonte: S. PAULO, 2015, adaptada pela autora.
pontos nodais
vias
Edifício Ipiranga
165
Praça da República
Edifício Itália
Edifício Copan
1
2
3
100
Figura 2.53. Visual para o Edifício Itália desde o Edifício Copan.Fonte: STENERI, s/data.
Figura 2.54. Avenida Ipiranga, São Paulo, 1953.Fonte: JAYO, 2013.
Como representado na figura 2.56, o centro de São Paulo se expandiu
verticalmente e desordenadamente, criando um skyline peculiar. Na
paisagem urbana, os edifícios Copan e Itália se destacam. A figura 2.54 ilustra
o centro de São Paulo antes dos edifícios Copan e Itália serem construídos.
101
Figura 2.55. Centro de São Paulo.Fonte: Acervo Administração Copan, 2015, adaptada pela autora.
Edifício Itália
Edifício Copan
Edifício Ipiranga 165
102
103Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.56. Centro de São Paulo.Fonte: SP Turis (Caio Pimenta), 2015.
104
2.4 Galeria Metrópole
2.4.1 Ficha técnica
O Conjunto Maximus nomeado posteriormente de Centro Metropolitano
de Compras, é também conhecido por Galeria Metrópole.
O projeto é fruto de um concurso fechado que previa a construção de uma
galeria comercial nos pavimentos inferiores, sobre os quais seria erguida
uma torre de escritórios.
No arranjo final do projeto, a galeria comercial abriga 402 lojas, uma sala
de cinema com capacidade para 1200 espectadores e, no corpo vertical,
distribuem-se os conjuntos comerciais (Quadro 2.3).
Centro Metropolitano de Compras
Arquitetos: Giancarlo Gasperini e Salvador Candia
Ano: 1956
Localização: Avenida São Luís, 187
Vias: Avenida São Luís, Praça Dom José Gaspar e Rua Basílio da Gama
Tipologia: Mista (Comercial e serviços)
Altura: 76,5 m
Número de pavimentos: 23
Área do terreno: 4.627,21 m2 / 0,46 ha
Área construída: 35.151,00 m² / 3.51 ha
Coeficiente de aproveitamento (CA): 7,6
População permanente (condôminos + funcionários): 1200 hab
População transitória (população permanente + visitantes): 5200 hab
Densidade física permanente (população/área construída): 342 hab/ha
Densidade física transitória (população/área construída): 1481,00 hab/ha
Figura 2.57. Galeria Metrópole - Maquete. Fonte: SERAPIÃO, 2011, p. 53.Quadro 2.3. Quadro Galeria Metrópole.Fonte: AUTORA, 2015 com base nos dados cedidos pela Administração do Condomínio da Galeria Metrópole, maio. 2015.
105Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
2.4.2 Implantação do edifício e traçado urbano
A riqueza da Galeria Metrópole encontra-se na sua implantação, circunda-
da de três vias, Avenida São Luís, Praça Dom José Gaspar e Rua Basílio da
Gama. A Avenida São Luís teve seu alargamento na década de 1940, sendo
parte do Perímetro de Irradiação do Plano de Avenidas e é um eixo urbano
caracterizado pela presença de vegetação. Adjacente à galeria, encontra-
se a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, que foi inaugurada durante
a administração do prefeito Prestes Maia. A conexão entre ambos ocorre
pela Praça Dom José Gaspar, sendo que, nos dias atuais, o gradil que con-
torna a biblioteca acaba criando um isolamento maior (CECCO; PERRONE,
2005) (Figuras 2.58 e 2.59).
Praça Dom José Gaspar
Galeria MetrópoleBiblioteca Mário
de Andrade
Avenida São Luís
Rua
Cons
olaç
ãoRua Dr. Brulio Gomes
Figura 2.58. Implantação. Fonte: CECCO; PERRONE, 2005, adaptada pela autora.Figura 2.59. Corte longitudinal. Fonte: CECCO; PERRONE, 2005, adaptada pela autora.
Área permeável
s/escala
N
s/escala
Rua Basílio da Gama
106
Figura 2.61. Planta da 3a sobreloja (Passeio Capri). Fonte: Acervo AFLALO; GASPERINI, 2015.
Circulação - 43% da área do pavimento térreo
Acesso - Bloco escritório
Acesso pedestres
B
Acesso estacionamentoE
E
B
B
Figura 2.60. Planta do pavimento térreo (Passeio São Paulo). Fonte: Acervo AFLALO; GASPERINI, 2015, adaptada pela autora.
N
s/escala
s/escala
107Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Figura 2.62. Visual do vazio central desde interior do edifício. Fonte: AUTORA, dez. 2014.
Atualmente é possível ter acesso pela Rua São Luís (utilizando-se de um acesso
rampeado) e pela Praça Dom José Gaspar (em nível). A entrada pela Rua Basílio da
Gama, para acompanhar o nível do terreno, é composta por uma escadaria.
Os elevadores e as escadas são componentes da circulação vertical. As escadas ro-
lantes estabelecem as ligações entre os pavimentos comerciais, sendo elementos
mecânicos que permitem maior fluxo vertical (Figuras 2.60 e 2.61).
2.4.3 Espaços positivos e permeabilidades
O edifício atua como figura e a permeabilidade no pavimento térreo é de 43 % (qua-
renta e três) (Figuras 2.63 a 2.65). Distribuem-se comércios e serviços, possibilitando
o uso e a função do edifício.
O espaço interno resultante é agradável e a somatória entre o pé-direito duplo e a
presença do vazio central garantem-lhe amplitude (Figura 2.62).
108
Figura
Figura
Fundo
Fundo
N
109Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Permeabilidade - 43% da área do pavimento térreo
Figura
Espaço positivo
30 m
Figura 2.63. Galeria Metrópole - Figura e fundo. Figura 2.64. Galeria Metrópole - Figura e fundo. Figura 2.65. Galeria Metrópole - Espaço positivo- permeabilidade. Fonte: AUTORA, 2015.
N
Nesse edifício, a permeabilidade não concentra-se apenas no pavimento térreo mas
distribui-se pelos andares superiores, tendo o vazio como elemento central dessa dis-
posição. A permeabilidade, portanto, expande-se horizontalmente e verticalmente,
intensificando as conexões de urbanidade.
110
2.4.4 Embasamento
O programa segmenta-se em dois blocos, horizontal (comércio e serviços)
e vertical (escritórios). As três vias que contornam o edifício criam um per-
curso com urbanidade a ser seguido (Figuras 2.66 e 2.67).
A Galeria Metrópole foi projetada como uma quadra urbana vertical: são ao
todo 05 (cinco) pavimentos de galeria comercial, sendo eles o pavimento
inferior (Passeio Nova York), o térreo (Passeio São Paulo), a 1ª sobreloja
(Passeio Londres), a 2ª sobreloja (Passeio Paris) e a 3ª sobreloja (Passeio Capri).
Figura 2.66. Elevação.Fonte: SERAPIÃO, 2011, p.32., adaptada pela autora.
s/escala
escr
itór
ios
com
erci
al
Av.
São
Luí
s
111Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Área permeável
Figura 2.67. Corte longitudinal.Fonte: Acervo AFLALO; GASPERINI, 2015, adaptada pela autora.
s/escala
Av.
São
Luí
s
112112
2.4.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada
No pavimento térreo, as lojas da galeria são dispostas ao redor de um jar-
dim interno (praça), que é visualizado em qualquer um dos níveis, median-
te a existência de um vazio central que serve como elemento conector e
de estruturação do espaço interno. Ao redor do vazio, estão voltadas as
frentes das lojas e dos restaurantes e o espaço resultante serve tanto como
travessia do público, como também para atividades de permanência.
Essa sutileza no projeto reforça a integração de continuidade entre o espa-
ço interno e o exterior, compreendido pela Praça Dom José Gaspar, sendo
elemento de importância para o conceito de urbanidade. Acima desse jar-
dim, localiza-se uma abertura zenital que permite a incidência de luz na-
tural (Figura 2.72). O pavimento térreo, portanto, configura-se como uma
extensão do espaço urbano e funciona como um centro de confluência e
irradiação de percursos para os pedestres.
O corpo horizontal avança em projeção, 1.20 metros (CUNHA, 2007, p. 198),
sobre o espaço público que contorna o edifício. Esse artifício é relevante,
pois não só suaviza as entradas, como também serve de proteção para os
transeuntes e permite ser apropriado para diferentes usos (Figura 2.69).
A entrada à Galeria, desde a Praça Dom José Gaspar, é emoldurada por um
pórtico, o qual tem como função enquadrar a paisagem (Figuras 2.68, 2.70
e 2.71). Esse elemento arquitetônico funciona como transição entre os espa-
ços público e privado, onde o observador consegue distinguir “estou aqui
dentro,” “estou aqui fora” (CULLEN, 2009). De fato, desde o interior do edi-
fício consegue-se apreciar a praça, e esse é um dos pontos principais, em
que o observador é convidado a contemplar. A praça não só tem um grande
fluxo de passagens, como também é ocupada para fins sociais e comercias,
como é o caso do conjunto de mesas e cadeiras, objetos de apoio dos res-
taurantes da galeria.
A apropriação do espaço público dá maior vitalidade à praça, deixando de
ser apenas um local de transição e podendo ser destinado para a contem-
plação, as relações sociais, comerciais e de trabalho, entre outros.
113113
Figura 2.68. Visual do pórtico de entrada desde a Praça Dom José Gaspar.Fonte: AUTORA, dez. 2014.Figura 2.69. Visual desde a Avenida São Luís. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.70. Visual desde a Praça Dom José Gaspar. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.71. Visual desde a Praça Dom José Gaspar. Fonte: AUTORA, mar. 2015.Figura 2.72. Visual interna, destacando-se o vazio central.Fonte: AUTORA, dez. 2014.
114
Figura 2.73. Conexão visual entre os jardins por meio do vazio central. Fonte: AUTORA, dez. 2014.
115Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
2.4.6 Escala e paisagem urbana
No último pavimento da área comercial, aproveitando-se do espaço dei-
xado pela ausência das escadas rolantes, consolida-se mais um jardim que
visualmente integra-se com a Praça Dom José Gaspar, a partir da continui-
dade espacial. Esse pavimento funciona como belvedere urbano (Figuras
2.73, 2.74, 2.75 e 2.76).
A implantação do edifício, com o bloco horizontal estendendo-se perime-
tralmente pelo limite da quadra e o volume vertical em uma proporção
menor, delimitou um recuo/afastamento com as construções circundantes.
Dessa maneira, permitiu-se melhor iluminação e ventilação nas salas co-
mercias, como também aproveitaram-se as esquinas, as quais possibilitam
ângulos de apreciação da paisagem urbana.
A relação com o seu entorno permite a formação de permeabilidades vi-
suais. Ainda que a Galeria Metrópole esteja implantada entre volumes de
edificações preexistentes, ela se destaca. Não representa apenas um pas-
seio, mas dialoga diretamente com o seu entorno a partir das aberturas,
elementos que enquadram a paisagem.
Figura 2.74. Distribuição de usos ao redor do vazio central. Fonte: AUTORA, dez. 2014.
116
Figura 2.75. Visual desde o jardim da cobertura - continuidade com a Praça Dom José Gaspar.Figura 2.76. Visual para a Praça Dom José Gaspar desde a 3a sobreloja. Figura 2.77. Visual para a Rua Basílico da Gama desde a 3a sobreloja. Fonte: AUTORA, mar. 2015.
Praça Dom José Gaspar
117Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
Os balcões, extensões dos pavimentos da galeria, também têm essa função,
pois a partir deles consegue-se dialogar com a paisagem. Eles funcionam
como “passeios sobrepostos” (GASPERINI, 1960, apud, CUNHA, 2007, p. 173).
Como salientado por Cunha (2007), o “passeio sobreposto” representava
a cultura da cidade da época, que tinha como um dos costumes de maior
agrado sentar-se em volta de um café e “ver” a cidade (Figuras 2.78 e 2.79).
A ocupação em esquina, por sua vez, permite os diferentes ângulos e vi-
suais (Figura 2.77).
Figura 2.78. Conexão dos espaços interior e exterior por meio das aberturas (ligação com a Praça Dom José Gaspar).Fonte: AUTORA, maio. 2015.
118
Figura 2.79. Visual desde a 20 sobreloja para a calçada e a Avenida São Luís.Fonte: AUTORA, maio. 2015.
119Capítulo 2 A
nálises - Repertório Moderno
D
Av.
São
Luí
s
H
Utilizando-se do conceito do Ashihara (1982), D/H= 43/100 m = 0.43, o coe-
ficiente resultou em um número menor do que 1 (um), porém como salien-
tado anteriormente, a própria implantação do edifício e o recuo do bloco
vertical permitem uma melhor configuração urbana e, portanto, a percep-
ção do espaço não fica comprometida (Figuras 2.80 e 2.60). A distribuição
do programa em diferentes níveis e no pavimento térreo, garantem-lhe ao
projeto maior espacialidade, sendo que o projeto se abre para a rua.
Figura 2.80. Galeria Metrópole - Relação distância e altura. Fonte: AUTORA, 2015. 20 m
Figura 2.60. Planta do pavimento térreo (Passeio São Paulo). Fonte: Acervo AFLALO; GASPERINI, 2015.
s/escala
Praça das Artes
Análise do edifício contemporâneo000003
3
1223. REPERTÓRIO CONTEMPORÂNEO NO CENTRO EXPANDIDO
Análise do edifício Praça das Artes
3.1 Relações urbanas
3.1.1 Articulação entre os edifícios modernos e a Praça das Artes
Os edifícios anteriormente analisados no capítulo 02 (dois) - Edifício Copan,
Edifício Itália e Galeria Metrópole - se assemelham, na sua configuração, ao
edifício Praça das Artes pois têm como característica projetual se amoldar
ao terreno, garantindo conexões no nível térreo (Figura 3.1).
A conectividade dos projetos ocorre, também, pela conexão com os espa-
ços verdes (vazios permeáveis, decorrentes da cidade tradicional) circun-
dantes que permitem um respiro na cidade de São Paulo, conformando um
ritmo entre volumes abertos e fechados.
O projeto Praça das Artes, surge da apropriação de resíduos da cidade tra-
dicional, os logradouros e, a partir deles, busca estabelecer conexões. Ao
ser implantado em uma diferente década e com maiores restrições legais
(coeficientes de aproveitamento, taxa de ocupação, gabarito de altura, en-
tre outros), poderia ter comprometido a qualidade urbana, porém uma sé-
rie de atributos, que serão indicados a seguir, não o permitiram.
Destaca-se que o modelo de cidade tradicional comparte arquiteturas de
diferentes estilos e décadas sem perder o elo de conexão urbana.
123
1- Edifício Copan
2- Edifício Itália
3- Praça da República
4- Galeria Metrópole
5- Praça Dom José Gaspar
6- Biblioteca Mário de Andrade
Figura 3.1. Planta de situação - recorte centro de São Paulo. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015, adaptada pela autora.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
7- Teatro Municipal
8- Praça Ramos de Azevedo
9- Vale do Anhangabaú
10- Edifício Praça das Artes
11- Central de Correios
12- Largo do Paissandu
11
12
124
Praça das artes
Arquitetos: Brasil Arquitetura e Marcos Cartum (representante da
Secretaria da Cultura)
Ano: 2006 - 2012
Localização: Avenida São João, 281 - República, São Paulo
Vias: Avenida São João, Rua Conselheiro Crispiniano e Rua Formosa
Tipologia: Educacional e Cultural
Altura: 04 a 50 m
Número de pavimentos: 02 a 13
Área do terreno: 7.210 m2 / 0, 72 ha
Área construída: 28.461,63 m² / 2,84 ha
Coeficiente de aproveitamento (CA): 4
População permanente (alunos + funcionários): 2500 hab
População transitória (população permanente + visitantes): 3000 hab
Densidade física permanente (população/área construída): 880,00 hab/ha
Densidade física transitória (população/área construída): 1056 hab/ha
3.2 Praça das Artes
3.2.1 Ficha técnica
A Praça das Artes consiste em um complexo cultural e educacional que
abriga grupos artísticos do Teatro Municipal de São Paulo; é sede da Escola
Municipal de Música, da Escola de Dança, da administração da Fundação
Teatro Municipal e do SP-Cine (TEATRO MUNICIPAL, 2015). Dessa maneira,
com o projeto atendeu-se a demanda de falta de espaço do Teatro Municipal
que era um problema que já vinha se estendendo há anos (Quadro 3.1).
O projeto da quadra Q27 consistiu na desapropriação de lotes e na restaura-
ção do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e da antiga fachada
do Cine Cairo, para conformar o grupo de volumes monolíticos. No seu en-
torno, existem outros edifícios tombados e com alto teor histórico, destacan-
do-se o edifício dos Correios (1922) e o Teatro Municipal (1911), obra de Ra-
mos de Azevedo. O conjunto abriga o Centro de Documentação, uma galeria
de exposições, restaurantes, cafés e um estacionamento, distribuído em dois
níveis de subsolo. Futuramente, no edifício a ser construído em nova fase,
abrigará a Discoteca Oneyda Alvarenga e um auditório para 250 pessoas.
Figura 3.2. Praça das Artes. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013.Quadro 3.1. Quadro Praça das Artes. Fonte: AUTORA, 2015 com base nos dados cedidos pela Administração da Praça das Artes, out. 2015.
125Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
3.2.2 Implantação do edifício e traçado urbano
O terreno pertencia, até o início de 1970, ao Exército Brasileiro e foi usado
como área de transbordo de lixo e, ao ser transferido para o Município, o
edifício do Exército foi demolido, criando uma falha inicial no terreno. O
projeto da Praça das Artes, surge da conciliação de três elementos: terreno
com fundo de lote, lotes vizinhos e preservação do Conservatório Dramático
e Musical de São Paulo, objetivando a regeneração de uma zona central
(FERRAZ apud GALERIA ARQUITETURA, 2014).
Segundo o arquiteto Marcelo Ferraz (ARQ BACANA, 2013): “O projeto tem um
papel urbanístico importante de recuperar parte do centro, de mostrar que
esses fundos de lote, espaços ociosos, uma herança do nosso lote colonial,
podem se transformar em áreas densamente urbanas, em áreas de grande
atividade.” A complexidade do projeto consistia na apropriação do terreno
ocioso de maneira a criar um espaço com qualidade e funcionalidade urbana.
O terreno possui uma forma em formato de “T” e liga a Rua Conselheiro
Crispiniano à Avenida São João (liberada ao pedestre desde a iniciativa dos
anos 1970) e com a desapropriação de outros terrenos expandiu-se até a
Rua Formosa/Vale do Anhangabaú (esse trecho da praça ainda não está
realizada e será feita na próxima fase, que não tem data definida até o mo-
mento) (Figura 3.3).
Figura 3.3. Planta de situação. Fonte: CARVALHO, 2014, adaptada pela autora.
Rua Formosa
Rua Conselheiro Crispiniano
Praça das Artes
1
2
1- Teatro Municipal
2- Praça Ramos de Azevedo
3- Vale do Anhangabaú
4- Central de Correios
5- Largo do Paissandu
3
5
4
Aveni
da S
ão Jo
ão
126
Figura 3.4. A quadra 27 e seu en-torno, São Paulo, 1925. Figura 3.5. Vista aérea São Paulo, 1930.Figura 3.6. Visual desde o edifício Martinelli, São Paulo, 1930.Fonte: NOSEK, 2013, p. 6-7, 22, 18-19, adaptada pela autora.
1
1- Viaduto do Chá
2- Teatro São José
3- Sede da Companhia Light
4- Palacete Prates
5- Cinema Cairo
6- Conservatório Dramático e
Musical
7-Departamento Fiscal
8- Praça dos Correios
9- Hotel Esplanada
1- Palacete Prates
2- Edifício Martinelli
3- Edifício Frontão Nacional
4- Cinema Cairo
5- Cinema Marrocos
6- Conservatório Dramático e
Musical
7-Departamento Fiscal
8- Central de Correios
9- Praça dos Correios
10- Edifício Companhia Light
11- Viaduto do Chá
12- Teatro Municipal
3
6
5
8
7
4
4
9
2
8
34
7
2
6
1
5
9
1
1
8
6
7
4
3
1210
11
127Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
Figura 3.7. Imagem aérea. Fonte: NOSEK, 2013, p. 26, adaptada pela autora.1- Teatro Municipal
2- Praça Ramos de Azevedo
3- Vale do Anhangabaú
4- Central de Correios
5- Largo do Paissandu
6- Praça das Artes
7 - Edifício Martinelli
8- Viaduto Santa Efigênia
9- Mosteiro de São Bento
1
2
3
4
5
67
8
9
128
Destaca-se nas figuras 3.4 a 3.7 que o projeto tem como desafio a aproxi-
mação com edifícios icônicos vizinhos que conformam a paisagem urbana.
Como salientado por Ferraz (apud OLIVEIRA, 2007), “não é preciso destruir
a cidade velha e construir uma nova: elas andam paralelamente.”
Buscando-se constituir um projeto com bom aproveitamento da quadra,
em que prevalecesse além do edifício, a praça, surge um desenho com um
miolo de quadra central que se distribui pelas três frentes de acesso, crian-
do um percurso permeável com urbanidade a ser seguido.
O percurso criado na quadra remete ao traçado modernista das galerias
comerciais, como apresentado no capítulo anterior, que ligavam ruas pa-
ralelas ou confluentes. Esse percurso, representado pela praça, “rasga” o
terreno e “costura” a malha urbana (Figuras 3.8 a 3.11).
O projeto da Praça das Artes não nasce de uma ideia pronta, ele se amolda
ao terreno, realizando conexões com o tecido urbano e seguindo o declive
Rua
Form
osa
Futura Expansão
Circulação - 60 % da área do pavimento térreo
Acesso- Blocos
Acesso pedestres
B Acesso estacionamentoE
B B
E
Av. São João
Rua
Cons
elhe
iro
Cris
pini
ano
Praça central
Figura 3.8. Planta pavimento térreo. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013, adaptada pela autora.
129Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
natural. Tem caráter irradiador, pois, por meio do interior da quadra expandem-se
as conexões com as ruas circundantes. Para reforçar as articulações entre os espaços
interno e externo, os térreos dos volumes foram mantidos livres. Já os volumes dos
edifícios elevaram-se para que o térreo fosse livre para o pedestre.
Conforme salientado por Fanucci (apud INSTITUTO DE ENGENHARIA, 2013), o pro-
jeto consiste em : […] uma arquitetura intestina que vai entrando pelas entranhas e se apropria dos vazios. A Praça das Artes foi uma apropriação de um lugar como ele estava e se ofereceu, mas ao mesmo tem-po foi uma provocação de novas situações urbanas, uma pre-paração para futuras transformações naquele espaço urbano (FANUCCI apud INSTITUTO DE ENGENHARIA, 2013, s/n.)
O espaço público, decorrente da praça, é o elemento de destaque do projeto e,
como salientado por Luís António Jorge:
Espaço público é um intervalo: uma noção de espaço-tempo que pode ser representada por um vazio, uma abertura, uma ausência, uma suspensão, uma pausa no intenso fluxo da me-trópole (JORGE apud NOVEK, 2013, p. 68).
Figura 3.9. Percurso interno da quadra. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015.
130
A praça transforma-se de um vazio central para um vazio urbano quando assume o papel de conexão den-
tro do perfil da cidade. Torna-se não apenas um lugar de passagem, mas de permanência, estimulando o
convívio e o encontro. Potencializam-se as trocas de experiências, já que a praça é usada para ensaios foto-
gráficos, por grupos artísticos, feiras, entre outros. Dessa maneira, a praça está constantemente mudando,
sendo altamente versátil e irradiando urbanidade (Figuras 3.12 a 3.14).
Figura 3.10. Planta primeiro pavimento. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013.
Figura 3.11. Planta segundo pavimento. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013.
131
Figura 3.12. Panorâmica da praça - uso para ensaio fotográfico. Fonte: AUTORA, nov. 2015.
Figura 3.13. Praça sendo usada para o Mercado Mundo Mix Afro. Fonte: TEATRO MUNICIPAL, 2015.
132
Figura 3.14. Inauguração Praça das Artes, apresentação Escola de dança. Fonte: SÃO PAULO, 2012.
133Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
Permeabilidade - 60% da área do pavimento térreo
Figura
Figura
Fundo
Fundo
N
30 m
Figura 3.15. Praça das Artes - Figura e fundo. Figura 3.16. Praça das Artes - Espaço positivo- permeabilidade. Fonte: AUTORA, 2015.
3.2.3 Espaços positivos e permeabilidades
A permeabilidade predominante do projeto concentra-se na área destina-
da à praça (coberta e descoberta), representando 60 % (sessenta) do total
do pavimento térreo. A praça é a essência do projeto, estruturando e irra-
diando as conexões para o interior do edifício. Conforme salientado por
Alexander (1977), a praça neste caso funciona tanto como figura quanto
como fundo, atendendo ao conceito de reversibilidade e tornando-se um
espaço positivo (Figuras 3.15 e 3.16).
134
3.2.4 Embasamento
Segmenta-se o programa em 07 (sete) volumes, que se distribuem escalo-
nadamente, conformando a espacialidade do projeto. Por meio da posição
e da fragmentação dos volumes, criam-se espaços de contraste, cheios e
vazios, que proporcionam qualidade ao projeto. As alturas dos volumes fo-
ram definidas pelas distâncias e alinhamentos com os edifícios vizinhos, de
maneira a não ofuscar a paisagem urbana existente. Conforme salientado
por Dornellas (apud FRAJNDLICH, 2013), “o projeto é moldado nos prédios
vizinhos” (Figuras 3.17 e 3.18).
Figura 3.17. Programa. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013.
135Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
Figura 3.18. Programa detalhado. Fonte: INFRAESTRUTURA URBANA, 2012, adaptada pela autora.
Edifício Anexo/Administrativo:
13 andares com estrutura e vedação em concreto e grandes “panos de vidro”.
Programa: Hall de acesso com circulação (elevadores e escadas), sanitários, áreas de apoio às escolas, e áreas administrati-vas nos quatro últimos pavimentos.
Edifício Escola:
Cinco andares com estrutura e acabamen-to em concreto e revestimentos acústicos internamente.
Programa: Escola de música e dança do município de São Paulo, áreas administra-tivas e restaurante de todo o conjunto.
Edifício Auditório/Discoteca (a ser construído na nova fase):
Sete andares com estrutura e vedação em concreto. Auditório. Ampliação da escola de música e dança. Discoteca Oneyda Alvarenga.
Edifício conservatório (restaurado):
Sala de exposições no térreo.
Sala de concertos no 1o pavimento.
Centro documentação:
Acervo técnico e de partituras de todo o conjunto.
Praça com área construída de 2 mil m²
(a ser construída na nova fase).
Edifício Corpos Artísticos:
12 andares com estrutura e acabamento em concreto e revestimentos acústicos internamente.
Programa: Salas de ensaios da Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experi-mental de Repertório, óperas, Coral Líri-co, Coral Paulistano e balé da cidade.
PROGRAMA PRAÇA DAS ARTES
Praça Ramos de Azevedo
Rua Conselheiro Crispiniano
Avenida São João
Rua Formosa
Prédio 04 andares
Cine Cairo
Edifício sindicato dos comerciários
Sobrado 03 (antigo depósito dos comerciários)
Sobrado 02
Sobrado 01
Conservatório
Cine Saci
Limite do projeto Prédios demolidos
136
Figura 3.19. Corte longitudinal, visual para Avenida São João. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015, adaptada pela autora.
Figura 3.20. Corte longitudinal. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015, adaptada pela autora.
Pórtico - Área coberta Pé-direito livre Praça - futura expansão
Pórtico - Área coberta Pé-direito livre
Pé- direito livre
Ave
nida
São
Joã
o
Rua
Form
osa
Rua
Cons
elhe
iro
Cris
pini
ano
Rua
Form
osa
Área Permeável
Área Permeável
10 m
5 m
10 m5 m
137Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
3.2.5 Pregnância da forma e tratamento de fachada
Desde a calçada da Avenida São João, a entrada é emoldura por um pórtico
de concreto, o qual segue o gabarito do Conservatório Dramático e Musical
e, torna-se um ponto de convite para adentrar a quadra, além de um espaço
de transição entre o espaço interior do exterior (CULLEN, 2009). Esse pórtico
se estende até o limite do lote, faceando com a empena cega do edifício
vizinho e cria um espaço de convívio e permanência coberto, com mobiliá-
rio urbano. Essa área diferencia-se do espaço a céu aberto, aproximando-se
da escala do pedestre, já que, ao ser coberto, o pé direito é reduzido. Esse
é um espaço que marca o contraste, já que ao avançar para ambas laterais,
desemboca-se em espaços abertos e com pé direito livre, que evidenciam a
verticalidade dos edifícios do seu entorno (Figuras 3.19 a 3.27).
Figura 3.21. Visual desde a calçada da Avenida São João. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013, adaptada pela autora.
138
Figura 3.22. Visual desde o pórtico para a Rua Conselheiro Crispiniano. Fonte: AUTORA, out. 2015.
Figura 3.23. Visual desde a entrada pela Rua Conselheiro Crispiniano, para o pórtico. Fonte: AUTORA, out. 2015.
Empena Cega
Pórtico
139Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
Edifícios vizinhos -verticalidade
Figura 3.24. Croqui- projeto. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013, adaptada pela autora.Figura 3.25. Croqui- projeto. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013, adaptada pela autora.
Conselheiro Crispiniano
São João
Conselheiro Crispiniano
Anhangabaú
São
João
140
Figura 3.26. Panorâmica, conexão Rua Conselheiro Crispiniano e Avenida São João. Figura 3.27. Panorâmica, conexão Rua Conselheiro Crispiniano e Vale Anhangabaú. Fonte: AUTORA, nov. 2015.
141Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
142
O uso de concreto aparente nas fachadas confere-lhe identidade e per-
mite estabelecer um diálogo com os edifícios vizinhos, pois destaca a sua
contemporaneidade sem ter caráter opressor, já que ele estabelece uma
neutralidade. O concreto assume uma duplicidade de funções, sendo tanto
estrutura quanto vedação. Pode-se salientar que, a partir da neutralidade
da fachada, reforça-se a urbanidade do espaço.
Por sua vez, as lajes e as marquises tornam-se locais de sombra e proteção
aos pedestres, sendo, projetualmente, espaços vazios dentro dos cheios
(Figura 3.28). As janelas (aberturas), no entanto, foram projetadas para ga-
rantirem maior ligação e conexão entre interior e exterior. Conforme sa-
lientado por Fanucci (apud GALERIA ARQUITETURA, 2014), por meio delas
Figura 3.28. Visual desde a praça, destaque para os caixilhos e as passarelas/marquises.Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013, adaptada pela autora.
143Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
revela-se o que ocorre dentro do prédio e, ao mesmo tempo, desde dentro, visuali-
za-se o movimento da cidade. A composição das aberturas “faz alusão à irregulari-
dade das partituras de John Cage” (WISNIK, apud FRAJNDLICH, 2013).
A composição das aberturas cria ritmo na fachada, interferindo na dinamicidade
urbana. Dessa maneira, o edifício (volume sólido) não se fecha para o seu entorno,
permitindo a contemplação do centro da cidade desde diferentes pontos visuais. O
edifício, portanto, recorta e filtra a cidade (Figuras 3.29 a 3.33).
Figura 3.30. Visual interna - aberturas. Fonte: GALERIA ARQUITETURA, 2014.
Figura 3.29. Visual interna - aberturas. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015.
144
Figura 3.31. Visual para Anhangabaú, destaque do Edifício Martinelli. Fonte: NOVEK, 2013, NELSON KON, p. 90.
145Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
Figura 3.32. Visual para Conselheiro Crispiniano. Fonte: NOVEK, 2013, NELSON KON, p. 84.
Figura 3.33. Visual para Conselheiro Crispiniano. Fonte: NOVEK, 2013, NELSON KON, p. 84.
146
Figura 3.34. Visual desde a varanda para o Vale do Anhangabaú. Fonte: AUTORA, out. 2015.
Edifício Martinelli
3.2.6 Escala e paisagem urbana
A distribuição do projeto em volumes e a sua implantação permitiram a
articulação com a paisagem urbana, estabelecendo-se um diálogo entre o
novo e o antigo, em outras palavras, entre o contemporâneo e o patrimô-
nio histórico e cultural. Respeitando-se os gabaritos dos edifícios vizinhos,
o edifício Praça das Artes destaca-se, constituindo-se em espaços abertos e
fechados, determinados pelas diferentes alturas dos volumes, que direcio-
nam visuais distintas. A disposição dos volumes do projeto e a sua articula-
ção com os edifícios adjacentes ocorre pelos recuos, os quais conformam
vazios que recortam a cidade em diferentes ângulos e permitem o diálogo
com ela. Os recuos estabelecidos permitem o afastamento, soltando do
seu entorno o bloco monolítico (Figuras 3.35 e 3.36).
Desde a varanda, em direção ao Vale do Anhangabaú, consegue-se visua-
lizar o Edifício Martinelli (primeiro arranha-céu de São Paulo, figura 3.34). A
partir do tom avermelhado do concreto da torre vertical que comporta o
bloco de circulação do projeto, estabelece-se a relação visual entre ambos
edifícios (Figura 3.38).
147Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
Recuo Recuo
Recuo
Figura 3.35. Elevação desde a Rua Formosa. Fonte: NETLAND, 2015, adaptada pela autora.
Figura 3.36. Elevação desde a Avenida São João. Fonte: NETLAND, 2015, adaptada pela autora.
148
Estando dentro da quadra, por meio da conexão visual estabelecida, ex-
põe-se a essência do centro da cidade, a verticalidade dos edifícios e a pre-
dominância do concreto (Figura 3.37).
Ao mesmo tempo, desde a Avenida São João visualiza-se o skyline da ci-
dade de São Paulo, destacando-se os edifícios analisados neste trabalho,
Edifício Copan e Itália (Figura 3.38).
Ainda que as conexões entre o projeto Praça das Artes, o Teatro Municipal
e a Central de Correios não sejam físicas, se articulam a partir do vazio ur-
bano (Figura 3.39).
Mantendo uma verticalidade média, o projeto Praça das Artes não sobre-
põe sua volumetria acima dos monumentos, mas, ainda assim, se destaca,
tanto pelo material escolhido, quanto pela articulação dos volumes, ou
seja, pelos elementos que auxiliam na urbanidade.
Figura 3.37. Visual desde a Rua Conselheiro Crispiniano. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013.
149Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
Edifício Copan Edifício Itália Torre avermelhada (Praça das Artes)
Teatro Municipal
Central de Correios
Central de Correios
Figura 3.38. Visual desde o Edifício Martinelli. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013, adaptada pela autora.Figura 3.39. Vista aérea com inserção do projeto. Fonte: NETLAND, 2015, adaptada pela autora.
150
D
Rua
Cons
elhe
iro
Cris
pini
ano
H
H
Utilizando-se do conceito do Ashihara (1982), D/H= 13,5/10 m = 1.35 e 35/10
m = 3.5, o coeficiente resultou em um número maior do que 1 (um) e, se-
gundo Ashihara (Ibidem), esse coeficiente permite ter uma percepção de
que o espaço de separação é maior. A implantação do edifício e o recuo
do bloco vertical permitiram um respiro na quadra, contribuindo para a
percepção do espaço (Figuras 3.40 e 3.8).
Figura 3.40. Praça das Artes - Relação distância e altura. Fonte: BRASIL ARQUITETURA, 2015, adaptada pela autora. 20 m10 m
05 m
Figura 3.8. Planta pavimento térreo. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013.
151Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
Figura 3.41. Vista Praça das Artes. Fonte: ARCHDAILY BRASIL (Nelson Kon), 2013.
152
3.3 Síntese de urbanidade nos edifícios analisados
Percebe-se que os edifícios tiveram, em ambas categorias, a capacidade de
estabelecer relações com o seu entorno a partir da articulação da malha
urbana, da criação de percursos e da sua configuração espacial. Assim, os
edifícios, como descrito por Lynch (2006), por meio dos componentes de
estrutura e identidade, compuseram a imagem urbana.
Os percursos criados tornaram-se espaços coletivos, expandindo as re-
lações do interior da quadra para o exterior e, dessa maneira, criaram-se
espaços fluentes (VENTURI, 2004), irradiando conexões que representam
urbanidade. Em outras palavras, a morfologia da cidade adentrou-se e
dissolveu-se nos edifícios. As permeabilidades, por sua vez, remontam a
característica de formação da cidade tradicional e estiveram presentes em
todos os edifícios. A partir das galerias, ou mesmo da praça criada no edifí-
cio Praça das Artes, recortou-se a cidade, permitindo a conexão entre dife-
rentes vias e pontos da cidade.
Dessa maneira, o Edifício Copan surge como uma experimentação que se
acerta com as formas da cidade tradicional, o Edifício Itália adquire a for-
ma urbana e a Galeria Metrópole vai além da morfologia no nível térreo,
introduzindo a rua elevada. Esses edifícios transcenderam o caráter monu-
mental para estabelecerem associações. O edifício Praça das Artes, por sua
vez, faz uma revisão dos conceitos de cidade tradicional, malha urbana e
percursos urbanos.
É na malha urbana e na cidade que se estabelecem as relações de legibilida-
de e legitimidade do espaço. O espaço urbano precisa apresentar urbanida-
de, entendida dentre as suas características, como valor e direito, objetivan-
do ser universal a todos os cidadãos.
Os edifícios inserindo-se na malha urbana, têm como responsabilidade ar-
ticular a vida urbana. E conforme apontado no capítulo 1 (um) destacam-se
três elementos: escala, permanência e poder de propulsão (FRANCO, 2005),
que permitem estabelecer relações e criar espaços com urbanidade. O ter-
153Capítulo 3 A
nálises - Repertório Contemporâneo
mo escala, nos edifícios analisados, esteve presente na forma em que os
arquitetos embasaram o programa em diferentes volumes e como permi-
tiram as conexões com seu entorno, a paisagem urbana. Destacando-se
nos edifícios modernos a contraposição entre público e privado, represen-
tados na forma projetada em volume horizontal (comercial/uso público) e
vertical (privado - escritórios ou residências). Ocorreu, assim como na Praça
das Artes, a sobreposição de usos e funções. A criação dos espaços coleti-
vos, semipúblicos e com funcionalidades, permitiu torná-los em espaços
de permanência, que se relacionam com a morfologia urbana. Isto é, locais
com usos e estimuladores de encontros que possam não só acentuar a vi-
talidade urbana, como também beneficiar aos pedestres. Dessa maneira, o
espaço construído relaciona-se com o espaço público, garantindo-lhe qua-
lidade ao edifício e a cidade. E nessa articulação, os objetos arquitetônicos
têm a capacidade de reverberar e de propulsionar as relações urbanas, in-
centivando as conexões entre as diferentes escalas: rua, edifício, cidade,
metrópole (VIÉGAS, 2003).
Destaca-se que a cidade tradicional, inevitavelmente, cria relações de ur-
banidade. A cidade precisa funcionar como um sistema (FRANCO, 2005)
em que seus elementos devam se articular como um todo e estruturar
o ambiente construído. O edifício, a partir dos seus coeficientes, sua im-
plantação, suas permeabilidades, sua forma, sua escala, entre outros, tem
a capacidade de se relacionar com a paisagem urbana e de criar relações
de urbanidade. Conseguindo, assim, trazer a cidade para seu interior. Na
conformação de urbanidade a forma material do edifício abstrai-se, já que
a expressão e as relações criadas se sobrepõem, prevalecendo e perpe-
tuando na cena urbana.
4DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Figura 4.1. Visual da região central de São Paulo desde a cobertura do Edifício Copan. Fonte: AUTORA, maio. 2015.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 Verticalização e densidade física (permanente e transitória)
Como foi observado, os edifícios em análise possuem alta verticalidade e
variam uns dos outros em relação a sua densidade física. As densidades
alteram-se também de acordo com a inserção do fluxo transitório diário.
Porém, os edifícios que sobressaíram-se, em termos de densidade, foram o
Edifício Itália e a Praça das Artes. A densidade da Galeria Metrópole sofreu
uma oscilação maior, decorrente do uso do edifício para o horário de almo-
ço (Gráficos 4.1 e 4.2).
Gráfico 4.1. Comparação das densidades físicas permanentes. Fonte: AUTORA, 2015.
Gráfico 4.2. Comparação das densidades físicas transitórias. Fonte: AUTORA, 2015.
450,00
923,00
342,00
880,00
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
900,00
1.000,00
Ed. Copan Ed. Itália Galeria Metrópole Praça das Artes
Comparação densidade física permanente (hab/ha)
708,00
1.538,001.481,00
1.056,00
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1.000,00
1.200,00
1.400,00
1.600,00
1.800,00
Ed. Copan Ed. Itália Galeria Metrópole Praça das Artes
Densidade física transitória (hab / ha)
157
19
22
7,60
4,00
0
5
10
15
20
25
Ed. Copan Ed. Itália Galeria Metrópole Praça das Artes
Comparação coeficiente de aproveitamento (CA)
Gráfico 4.3. Comparação dos coeficientes de aproveitamento. Fonte: AUTORA, 2015.
Os edifícios modernos (Copan, Itália e Galeria Metrópole), ultrapassaram
os coeficientes 6 (seis) e 4 (quatro), conforme descrito no Projeto de Lei n°
5.261. É evidente que, caso os edifícios analisados fossem decorrentes da
legislação atual, não poderiam ter sido construídos nesta configuração (Grá-
fico 4.3), tanto pelo descumprimento dos coeficientes quanto por não res-
peitarem os recuos obrigatórios.
Evidencia-se que o edifício Praça das Artes, apesar de ter o menor coe-
ficiente de aproveitamento, conseguiu atingir alta densidade (resultados
maiores que 250 hab/ha). Esse edifício é também o que apresenta menor
verticalidade, sendo que, devido à distribuição da espacialidade do proje-
to no terreno, permitiu-se o maior aproveitamento do solo e da densidade
(Gráficos 4.1 a 4.4).
Destaca-se que, como no caso da Praça das Artes, a qualidade do projeto
não fica comprometida pela legislação e pode-se multiplicar a área do terre-
no em prol de área construída com qualidade.
158
Gráfico 4.4. Comparação das alturas. Fonte: AUTORA, 2015.
130
168
76,50
50
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Ed. Copan Ed. Itália Galeria Metrópole Praça das Artes
Altura (m)
Os 04 (quatro) edifícios modernos ultrapassaram dos 50 (cinquenta) me-
tros de altura (Gráfico 4.4), mas atingiram, proporcionalmente, densidades
menores. Portanto, destaca-se mais uma vez que a verticalidade não de-
termina a densidade, ela apenas é um instrumento.
Em termos volumétricos, a distribuição do edifício Praça das Artes (Figura
4.5) aproxima-se mais do modelo número 03 (três) do desenho de Richard
Rogers (Figura 4.6) em que a partir de uma relação entre o número de vo-
lumes médios e uma altura média, atingem-se densidades satisfatórias e o
espaço não ocupado fisicamente é liberado para praças, jardins internos,
entre outros. Já os edifícios Copan, Itália e Galeria Metrópole se aproxi-
mam do modelo 01 (um), o qual trata-se de um volume único, altamente
verticalizado (Figuras 4.2 a 4.4).
Destaca-se que o modelo de número 03 (três) representa uma melhor dis-
tribuição do projeto, em volumes, pelo território, permitindo a concepção
de edifícios com áreas permeáveis, que podem ser usadas para a criação
de espaços semipúblicos com urbanidade.
159Capítulo 4 D
iscussão dos resultados
1
2
3
1 11
3
Figura 4.2. Edifício Copan. Fonte: AUTORA, 2015.Figura 4.3. Edifício Itália. Fonte: AUTORA, 2015.Figura 4.4. Galeria Metrópole - Maquete. Fonte: SERAPIÃO, 2011, p. 53, adaptada pela autora.Figura 4.5. Praça das Artes. Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2013, adaptada pela autora.Figura 4.6. Comparação das densidades e alturas (alta, baixa e média). Fonte: ROGERS, 1999, adaptada pela autora.
160
Gráfico 4.5. Comparação da área do terreno versus a área construída. Fonte: AUTORA, 2015.
6006,35
2.382,00
4.627,21
7.210,00
116.152,00
52.000,00
35.151,00
28.461,63
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000
Ed. Copan
Ed. Itália
Galeria Metrópole
Praça das Artes
Comparação área do terreno versus área construída
Área construída (m²) Área do terreno (m²)
No gráfico 4.5, visualiza-se a desproporção dos edifícios entre a área do terre-
no e a área construída, tendo o edifício Copan com a maior diferença. Porém,
ao ser bem articulada, essa desproporção permitiu que os edifícios criassem
espaços semipúblicos com qualidade e vitalidade, respectivamente.
Destaca-se que deve ocorrer uma relação entre a verticalização, a
densidade e o poder público. Esse último, a partir da legislação, tem que
disciplinar o processo de verticalização, por meio de zoneamentos e
definição de gabaritos. Ele assume o papel de destaque quando é gestor
do desenvolvimento. Porém, as legislações não podem ser privativas, de
maneira a não permitirem maiores densidades mesmo que exista tanto o
espaço físico quanto a necessidade para tal. Caso contrário, repercutirmos o
fenômeno da atualidade, a estandardização da fisionomia urbana, dominada
pelo mercado imobiliário, negligenciando as necessidades urbanas. A
legislação acaba muitas vezes amarrando as construções e interferindo
diretamente na dinâmica urbana. A falta de planejamentos adequados
contribui para a expansão do espaço residual, conforme denominado pelo
Koolhas (2013), de espaço lixo.
161Capítulo 4 D
iscussão dos resultados
4.2 Espaços positivos e permeabilidades urbanas
Apesar de os edifícios modernos serem implantados com maior aprovei-
tamento e ocupação no seu lote, a articulação entre a rua/calçada com o
espaço interno permitiu as permeabilidades e a dissolução das barreiras
público-privadas. Já a Praça das Artes, por meio do percurso interno, tor-
nou-se permeável e irradiadora de conexões urbanas. Esse último, por sua
vez, é um edifício contemporâneo que adquire características modernas, na
conservação da conformação da quadra, possibilitando a criação do espaço
positivo. No caso da Galeria Metrópole, a não restrição dos espaços coleti-
vos ao pavimento térreo e sua continuação pelos 04 (quatro) pavimentos,
ampliou as permeabilidades e as conexões visuais, possibilitando maiores
fluxos urbanos. O recurso utilizado pelos arquitetos, compreendido pelos
terraços, marquises, passarelas e caixilhos, aumentou a conectividade entre
o interior do projeto e o exterior, além de recriar diferentes pontos de con-
templação da paisagem urbana.
A leitura desses edifícios no tecido urbano incentiva o questionamento do
papel do arquiteto e urbanista. Precisa-se, ao projetar a cidade, não se esque-
cer do quadro geral e da criação de elementos na arquitetura, as chamadas
gentilezas urbanas, que permitem maiores proximidades com a escala hu-
mana e conexões com a cidade. Dessa maneira, desenham-se espaços com
caráter coletivo e urbano, valorizando os encontros e ao pedestre.
4.3 Paisagem, percepção e urbanidade
A integração dos edifícios analisados na paisagem urbana faz com que eles
não sejam apenas materializações de dados numéricos (densidade construí-
da, verticalização, coeficiente de aproveitamento, entre outros) e sim objetos
de percepção, conexão, convívio e urbanidade.
A menor complexidade ornamental, característica do movimento moderno,
e que repercutiu na contemporaneidade, permitiu também uma melhor in-
tegração. Como salientado anteriormente, os edifícios modernos dialogam
162
com a cidade até os dias atuais. Eles se destacam do seu entorno, mas não bloqueiam as relações dos
edifícios circundantes existentes.
Os edifícios analisados, ao dialogar com a paisagem urbana, têm vitalidade, dinamicidade, qualida-
de e urbanidade. O espaço público, portanto, adentra e solidifica-se na construção multiuso, crian-
do um espaço coletivo, possibilitando-se, assim, relações de escala diferentes: rua/avenida; quadra,
edifício, metrópole (VIÉGAS, 2003). A arquitetura possui grande responsabilidade no âmbito urba-
no, portanto sua concepção deve ser coerente, tanto nas questões espaciais quanto funcionais.
Nos dias atuais predominam maus exemplos e esse círculo vicioso deve terminar.
Compreender os edifícios como figuras da paisagem urbana significa atribuir-lhes um caráter
de integração. O desmembramento da figura em espaços “sensíveis”, articuláveis e com usos
permite o estabelecimento de relações entre o espaço interior e o exterior. Com a fabricação das
ambiências, aumenta-se a vitalidade dos espaços urbanos. Como salientado por Ursini (2012, p.
5), o espaço é considerado “franco” quando apresenta “titularidade privada mas com conotações
públicas de uso”. Destaca-se, portanto, a importância dos usos para qualificar os espaços e
estimular as conectividades urbanas.
Objetiva-se que deve ocorrer uma integração entre os elementos quantitativos (verticalização e
densidade) com o qualitativo (percepção). Essa integração, e a devida interpretação dos ambien-
tes, é que permitirá construir urbanidade. Pode-se destacar que os conceitos por si só não são
capazes de criar urbanidade, tornando-se apenas indicadores. No entanto, quando se integram e
se equacionam, interferem na conformação urbana. São codependentes, pois a verticalização não
se sustenta se não há densidade e o espaço precisa ser percebido para ter significado.
Um dos desafios das cidades é criar projetos com urbanidade, ultrapassando as funções primárias
para que contemplem “uma articulação sistêmica na mesma medida em que confiram significado
às formas de uso cotidiano da cidade” (FRANCO, 2005, p. 254, adaptada pela autora).
4.4 Urbanidade centrípeta e centrífuga
Ao longo das análises, percebeu-se que a primeira categoria apresenta uma urbanidade centrípe-
ta, ou seja, a permeabilidade e as conexões ocorrem dentro do espaço interno, o pavimento tér-
reo. No entanto, a Praça das Artes se expande centrifugamente, tendo como ponto de conversão
o interior da quadra permeável, a partir do qual as conexões com os pavimentos térreos e as ruas
circundantes estabelecem-se.
163Capítulo 4 D
iscussão dos resultados
PERMEABILIDADES URBANIDADE
EDIFÍCIO COPAN CENTRÍPETA
CENTRÍPETA
CENTRÍPETA
CENTRÍFUGA
EDIFÍCIO ITÁLIA
PRAÇA DAS ARTES
GALERIA METRÓPOLE
Tabela 4.1. Urbanidade centrípeta e centrífuga. Fonte: AUTORA, 2015.
164
- Percurso interno- Térreo dinâmico - alto- Permeabilidade - 26% - Terraço - baixo- Cobertura (acessível mesmo que seja controlada ao público)
- Percurso interno- Térreo dinâmico - moderado- Permeabilidade - 33%- Varanda- moderada- Terraço- moderado (exclusivo)- Cobertura (acessível mesmo que seja controlada ao público)
- Percurso interno e praça urbana - Térreo dinâmico - alto- Permeabilidade - 60%
- Percurso interno- Térreo dinâmico - alto- Pavimentos superiores dinâmicos- Permeabilidade - 43%- Sobrelojas - funcionam comoterraços ativos- Cobertura (não acessível)
Tabela 4.2. Síntese dos 04 (quatro) edifícios analisados. Fonte: AUTORA, 2015.
- Pé direito duplo- Marquise - localizada-Brises
- Pé direito duplo- Marquise - localizada- Brises
- Pé direito duplo- Marquises- Praça- Caixilhos
- Pé direito duplo- Marquise - perimetral- Vazio central
PERMEABILIDADES ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS
165Capítulo 4 D
iscussão dos resultados
EDIFÍCIO COPAN
EDIFÍCIO ITÁLIA
PRAÇA DAS ARTES
GALERIA METRÓPOLE
02 (dois) (horizontal + vertical)
- Praça da República- Edifício Itália- Edifício Ipiranga 165- Avenida Ipiranga, Vila Normanda, Rua Araújo e Rua Unaí
- Praça da República- Edifício Copan- Edifício Ipiranga 165- Avenida Ipiranga e Avenida São Luís
- Rua Formosa- Rua Conselheiro Crispiniano- Avenida São João-Teatro Municipal- Vale Anhangabaú- Praça Ramos de Azevedo
- Praça Dom José Gaspar- Biblioteca Mário de Andrade- Avenida São Luís e Rua Basílico da Gama
03 (três)(01 horizontal + 02 verticais)
07 (sete) (horizontal + vertical)
02 (dois) (horizontal + vertical)
RELAÇÕES IMEDIATAS COM A PAISAGEM URBANA
NÚMERO DE VOLUMES
166
A dissertação tratou, em um primeiro momento, de definir os 03 (três) conceitos es-
colhidos, verticalização, densidade e percepção. Eles foram selecionados para cons-
truir o conceito de urbanidade. Como a cidade em que foram analisados os edifícios
trata-se de São Paulo, o conceito de verticalização é de suma importância. Nessa ci-
dade, os edifícios, na sua maioria, são verticais porém não possuem densidade. Este
último conceito, tem fomentado altas discussões, pois, ao projetar com densidade,
potencializa-se o uso do terreno, liberando o espaço para as permeabilidades. A per-
cepção, por sua vez, se articula a partir da ótica, das sensações criadas e das relações
realizadas entre os objetos e os observadores.
Partindo-se dos 03 (três) conceitos e compreendendo-se que um projeto urbano
depende do objeto arquitetônico e dos elementos morfológicos, conceituou-se a
urbanidade. Para conseguir visualizar esse conceito na realidade urbana, foram reali-
zadas análises de 04 (quatro) edifícios. Os 03 (três) primeiros comportaram o período
moderno (Edifício Copan, Itália e Galeria Metrópole) e o quarto edifício foi projetado
e construído na contemporaneidade (Praça das Artes). A análise dos dois períodos
permitiu compreender como as relações urbanas se preservam ao longo do tempo
e também quais características reverberam nos projetos atuais. Expõe-se que desde
o seu início, o projeto da Praça das Artes não teve um perímetro claro para a sua
construção, tendo que se adaptar ao longo do processo projetual e articular-se com
o entorno predominante. Os edifícios modernos, no entanto, tiveram uma quadra
definida e surgiram antes da conformação do centro. Embora os edifícios modernos
e o contemporâneo sejam de épocas diferentes e pensem a cidade de maneira diver-
sa, ambas categorias “respeitam e se inserem” na morfologia da cidade tradicional,
destacando-se como virtude a relação intrínseca entre a arquitetura e a cidade, pro-
movendo essa articulação “necessária” para a urbanidade.
As semelhanças entre ambos os períodos deram-se pelos seguintes elementos: per-
meabilidades, conexões entre o espaço interno e o externo, conformação da quadra,
segmentação do projeto em volumes, altas densidades, tratamento de fachada, en-
tre outros, distinguindo-se entre elementos quantitativos, qualitativos, perceptivos e
estéticos que se tornaram os indicadores de análise. Esses apresentaram relações de
escala e permanência, além de destacarem-se como elementos irradiadores e propul-
sores de urbanidade, permitindo que os edifícios ultrapassassem a formalidade para
efetuar relações urbanas que acentuam o diálogo entre o edifício e a cidade, passando
CONSIDERAÇÕES FINAIS
167
da escala local para a urbana (FRANCO, 2005). Assim, com maior diálogo, maiores são as dinâmicas urba-
nas, induzindo a vitalidade na paisagem urbana.
As altas densidades dos edifícios distribuíram-se pelos volumes projetados. No caso dos edifícios
modernos, as alturas atingidas são maiores e as densidades são altas, porém o edifício Praça das
Artes, com menores alturas, sobressaiu-se na densidade. Acentua-se que a verticalização não só
precisa se relacionar com a densidade para que o projeto tenha qualidade, como também depende
dela para se sustentar.
Destaca-se que os coeficientes são representativos da potencialidade e capacidade que cada edi-
fício comporta. A forma que esses recursos são articulados é que permite salientar as relações de
urbanidade, valorizando a cidade e seus cidadãos. A relação de Ashihara (1982) compreendida por
D/H é um exemplo claro disso, já que os coeficientes resultantes não mensuraram as espacialidades
criadas, dependendo da implantação, volumetria e distribuição do programa de cada edifício. A
maneira em que os recursos são usados, ou seja as densidades, os coeficientes, entre outros, é que
permitirá valorizar a vida urbana.
Ressalta-se que projetar qualificadamente significa projetar com urbanidade, por meio da articulação
dos recursos. Os edifícios não podem ser pensados isoladamente, eles precisam se articular com o seu
entorno, a paisagem urbana. Eles não foram concebidos de maneira autônoma, não fecham-se em si
mesmos, e sim integram-se e relacionam-se com o espaço urbano. As análises, por sua vez, serviram
como lições dos elementos representativos de urbanidade. E, como apontado, podem existir duas
formas de urbanidade: centrípeta e centrífuga. Na primeira, as forças convergem para o centro, na
segunda, a partir do centro se espalham. Essa distinção é importante, pois as relações de urbanidade
aumentam quando o espaço público transcende do interior do edifício e se espalha pela quadra.
Expõe-se que o arquiteto tem como responsabilidade ética desenhar espaços públicos. Uma cidade
que segrega e não se articula não tem urbanidade. Ela torna-se obsoleta e é a relação entre os elemen-
tos e os conceitos que permite desenhar a cidade urbanamente, e não apenas quantitativamente. A
cidade surge de números e coeficientes, porém não pode ser dominada pelos mesmos. Projetar com
urbanidade destaca-se como um dos desafios atuais das cidades. E se não ocorrer a integração entre
os objetos construídos e o espaço urbano, essa relação não é possível, comprometendo a qualidade da
cidade. O edifício, portanto, tem o papel de articulador e estruturador para a construção de urbanida-
de. As relações na cidade são mais significativas do que o edifício em si, já que a expressão do mesmo
no espaço urbano sobressai a forma.
Estendendo-se o debate, abre-se a possibilidade de novas investigações que objetivem compreender
novos elementos conformadores de urbanidade.
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