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INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTES PORTADORES DE ENXAQUECA PHYSIOTHERAPY INTERVENTION IN ENXAQUECA CARING PATIENTS Barbara Eduarda Berthelli Cabbaz – [email protected] Valdirene Trisch Melo – [email protected] Graduandos em fisioterapia – UNISALESIANO Lins Prof. Me. Marco Aurélio Gabanela Schiavon – UNISALESIANO Lins [email protected] Prof.ª Ma. Jovira Maria Sarraceni – UNISALESIANO Lins – [email protected] RESUMO A enxaqueca ou migrânea é um dos tipos mais frequentes de dor de cabeça, com evidências que indicam que é uma doença neurológica com origem na intimidade do sistema nervoso e com bases genéticas. A migrânea ocasiona uma série de comportamentos de evitamento que desencadeiam consequências sociais, físicas e psicológicas nos indivíduos afetados. Pode- se dizer que as maiores causas da enxaqueca que acomete indivíduos hoje, com maior frequência, ocorrem devido ao estresse e a vida agitada. O objetivo desse estudo foi de verificar a eficácia da intervenção fisioterapêutica em portadores de enxaqueca com a aplicação de um protocolo que inclui respiração diafragmática, terapia manual, tração de cervical e alongamento. Com utilização de dois tipos de questionários, o de recrutamento para triagem e o Hit-6 para análise do impacto da dor de cabeça, e a escala de EVA quantificando a dor do paciente. Com resultados positivos das voluntárias ao longo de oito sessões pode-se concluir que os portadores de enxaqueca que fizeram parte da amostra deste estudo apresentaram melhora no quadro álgico. Palavras Chave: Fisioterapia. Enxaqueca. Migrânea. Tratamento. ABSTRACT Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul- dez de 2016

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INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTES PORTADORES DE ENXAQUECA

PHYSIOTHERAPY INTERVENTION IN ENXAQUECA CARING PATIENTS

Barbara Eduarda Berthelli Cabbaz – [email protected] Trisch Melo – [email protected] em fisioterapia – UNISALESIANO Lins

Prof. Me. Marco Aurélio Gabanela Schiavon – UNISALESIANO Lins – [email protected]

Prof.ª Ma. Jovira Maria Sarraceni – UNISALESIANO Lins –[email protected]

RESUMO

A enxaqueca ou migrânea é um dos tipos mais frequentes de dor de cabeça, com evidências que indicam que é uma doença neurológica com origem na intimidade do sistema nervoso e com bases genéticas. A migrânea ocasiona uma série de comportamentos de evitamento que desencadeiam consequências sociais, físicas e psicológicas nos indivíduos afetados. Pode-se dizer que as maiores causas da enxaqueca que acomete indivíduos hoje, com maior frequência, ocorrem devido ao estresse e a vida agitada. O objetivo desse estudo foi de verificar a eficácia da intervenção fisioterapêutica em portadores de enxaqueca com a aplicação de um protocolo que inclui respiração diafragmática, terapia manual, tração de cervical e alongamento. Com utilização de dois tipos de questionários, o de recrutamento para triagem e o Hit-6 para análise do impacto da dor de cabeça, e a escala de EVA quantificando a dor do paciente. Com resultados positivos das voluntárias ao longo de oito sessões pode-se concluir que os portadores de enxaqueca que fizeram parte da amostra deste estudo apresentaram melhora no quadro álgico.

Palavras Chave: Fisioterapia. Enxaqueca. Migrânea. Tratamento.

ABSTRACT

Migraine of migranea is one of the most frequent types of headache, with evidence indicating that it is a neurological disease that originates in the intimacy of the nervous system and on a genetic basis. Migraine causes a series of avoidance behaviors that trigger social, physical and psychological consequences in affected individuals. It can be said that the major causes of migraine that affects individuals today, more often, occur due to stress and hectic life. The objective of this study was to verify the efficacy of the physiotherapeutic intervention in migraine patients with the application of a protocol that includes diaphragmatic breathing, manual therapy, cervical traction and stretching. Using two types of questionnaires, recruitment for screening and Hit-6 for analysis of the impact of headache, and the EVA scale quantifying the patient's pain. With positive results of the volunteers over eight sessions it can be concluded that the migraine patients who were part of the sample of this study showed improvement in the pain.

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Keywords: Physiotherapy. Migraine. Migranea. Treatment.

INTRODUÇÃO

Têm-se relatos a mais de dois mil anos do mal da enxaqueca estar presente

em todas as gerações do homem moderno, no entanto, é de consentimento tanto

pelas pessoas leigas quanto pelos profissionais da área da saúde que pouco se

sabe sobre a enxaqueca e que menos ainda se sabe sobre o que fazer em relação a

esta doença. (SACKS,1996).

Conforme Vincent (1998) o grau de importância das cefaleias tem aumentado

quando comparados aos grandes temas neurológicos por ter uma prevalência

elevada com consequências para o bem estar do indivíduo e a produtividade que ele

vem a exercer em empresas, comunidades e nações.

De acordo com Sacks (1996) a enxaqueca afeta uma significativa minoria da

população, ocorrendo em todo o mundo e tem sido examinada desde os primórdios

da história escrita. Ter a enxaqueca como um fato cotidiano é frequente na vida de

milhões de enxaquecosos anônimos que sofrem na sua vida pessoal e em silêncio,

fato esse que pode vir a ser um tormento ou um incentivo.

Conforme Sacks (1996) é verdade que a enxaqueca é descrita em alguns

livros didáticos de medicina, mais comum nos de neurologia, mas em geral é

descrito muito sucintamente. Muitas vezes relacionadas à cefaleia deixando a

enxaqueca descrita como mais uma forma de dor de cabeça.

Norteando o trabalho faz-se necessária a apresentação da seguinte pergunta

problema: Terapia manual, manobras de alongamento e tração de cervical,

realizados duas vezes por semana nos pacientes portadores de enxaqueca

tensional diminuem a duração e a frequência das crises de enxaqueca? Essa era a

pergunta problema e como hipótese descreveu-se que a fisioterapia com suas

técnicas manuais (alongamentos e tração cervical) têm sim condições de tratar um

paciente com enxaqueca com a possibilidade de diminuir as crises e sua duração.

Os objetivos específicos desse trabalho foram: recrutar pessoas que se

enquadram no diagnóstico de enxaqueca e realizar a intervenção fisioterapêutica

com técnicas de terapia manual, manobras de alongamento e tração de cervical.

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O Headache Impact Test – versão 6 (HIT-6) questionário de impacto da dor

de cabeça é utilizado neste estudo antes do início da aplicação das sessões e após

as oito sessões. Com este método poderemos quantificar e qualificar se ocorreu ou

não melhora no quadro de enxaqueca das voluntárias.

Outro método utilizado foi a escala visual analógica (EVA) que segundo

Rigotti e Ferreira (2005) consiste em uma linha que representa uma qualidade

continua de intensidade e dados verbais – nenhuma dor ou dor máxima. Ela é mais

indicada uma vez que o questionado marca em qualquer ponto, ao contrário da

escala verbal descritiva em que deve escolher uma palavra.

Conforme Gonçalves et al. (2012) técnicas de terapia manual como

massagem, alongamento e compressão progressiva podem beneficiar pacientes

com enxaqueca. Essas técnicas alteram o fluxo sanguíneo pela mobilização de

tecidos superficiais com relação a estruturas mais profundas gerando então um

alivio na tensão muscular. A partir dessa informação foi elaborado um protocolo com

técnicas que incluíam terapias manuais, alongamento e tração de cervical.

O protocolo foi aplicado durante quatro semanas, sendo dois atendimentos

semanais totalizando oito sessões.

1. Enxaqueca

Vincent (1998) relata que ainda é completamente desconhecido o mecanismo

fisiopatológico da enxaqueca, com muitas hipóteses, mecanismos e causas

relacionadas, tais como alimentos, alergias, alterações sistêmicas, desordens

plaquetárias, menstrual, ou origem psicogênica. Evidências indicam que a

enxaqueca é uma doença neurológica que tem origem na intimidade do sistema

nervoso, com bases genéticas.

Puccini e Bresolin (2003) descrevem a enxaqueca ou migrânea com

características de manifestação álgica de moderada/forte intensidade,

frequentemente interferindo nas atividades cotidianas, podendo ser acompanhada

por sintomas gastrointestinais (náuseas e vômitos), fotofobia e/ou fonofobia.

Segundo Martins et al. (2010) os pacientes com enxaqueca tem que tomar

decisões acerca de empregos, vem a evitar situações sociais ou festas em que

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possam desencadear crises, o que indica que a enxaqueca diminui

significativamente a qualidade de vida não somente durante os ataques, como

também em períodos Inter-críticos, quando a ansiedade, medo e incerteza

contribuem para que ocorra uma constante retirada dos contatos sociais evitando

saídas do lar do indivíduo.

Conforme Gonçalves et al. (2012) os limiares reduzidos de dor a pressão e

presença de pontos gatilhos musculares são frequentes em pacientes com

enxaqueca e a fisioterapia costuma ser útil para esses pacientes.

Segundo Kansaon (apud SANTOS, 2014), a enxaqueca acomete

principalmente mulheres, que se queixam de dores unilaterais da cabeça. A

intensidade vai de moderada a intensa; o caráter pode ser pulsátil, na maioria a dor

se inicia na região occipital e cervical, irradiando-se anteriormente no mesmo lado,

uma dor latejante como se o coração estivesse batendo na cabeça. Náuseas e

vômitos, fonofobia e fotofobia podem ocorrer, os ataques são provocados por

movimentação do pescoço ou digito pressão.

Conforme Morais e Benseñor (2009) classificam a migrânea como uma

cefaleia primária, pois a dor por si só é o sintoma principal. Também como uma

doença neurológica crônica que acomete estimativamente 15% da população em

geral e provoca um grande impacto socioeconômico e consequências na qualidade

de vida do individuo.

Vincent (1997) relata que a enxaqueca não é caracterizada pela presença da

dor de cabeça, mas pela susceptibilidade constante que tem um individuo com

enxaqueca onde o mesmo permanece sujeito a ter uma crise, mediante os fatores

desencadeantes. Para que o fator provocador possa vir a motivar uma crise (que

nem sempre é obrigatório que o faça), é necessária a pré-existência da

susceptibilidade enxaquecosa comum a todos os doentes.

De acordo com Martins et al. (2010) quando pacientes com enxaqueca são

comparados a outros tipos de pacientes com condições crônicas como por exemplo

osteoartrose, depressão ou diabetes melittus, os enxaquecosos obtiveram os piores

escores de qualidade de vida, juntamente com os portadores de depressão.

O diagnóstico de enxaqueca para adultos prevê a ocorrência de mais de cinco

crises, com duração entre quatro e setenta duas horas, e de duas horas para os

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menores de quinze anos, além de critérios relativos à localização, intensidade da dor

e presença de náuseas ou vômitos, fotofobia e fonofobia. (Headache Classification

Subcommittee of the International Headache Society, 2004).

De acordo com Clay e Pounds (2003) a observação clinica confirma que

muitas das cefaleias originam-se em pontos-gatilho dos músculos cervicais. As

cefaleias podem ser amenizadas em frequência e intensidade, quando não

completamente eliminadas, quando os pontos-gatilhos forem parcialmente

eliminados.

Devido a cabeça ser bem pesada Clay e Pounds (2003) destacam a

importância da mobilidade da cabeça para a utilização dos sentidos (principalmente

da visão), os músculos da cervical são numerosos e na sua maioria espessos e

fortes, todos suscetíveis a dor e à disfunção.

De acordo com Martins et al. (2010) um estudo neuropsicológico sobre

migrânea foi constatado que pessoas com enxaqueca tem tendência a

apresentarem um pior desempenho em tarefas que exigem habilidades de memoria

verbal, velocidades de processamento visio-motor e função de execução rápida,

quando comparados a pessoas sem migrânea.

De acordo com Gonçalves et al. (2012) a palpação de pontos de gatilho

costumam iniciar ou piorar as cefaleias. Pacientes com migrânea costumam

apresentar limiares mais baixos de dor a pressão nos músculos craniocervicais,

além da posição da cabeça projetada para frente, sobretudo também costumam ter

vários pontos gatilhos miofasciais ativos na região craniocervical.

ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO

Krymchantowski (apud MARTINS et al., 2010) relata que o tratamento agudo

da enxaqueca tem como objetivo restaurar a função normal do paciente de forma

rápida, eficiente e consistente, também levando em conta o alivio ou eliminação da

dor e seus sintomas associados para então permitir um alivio sustentado da crise e

evitar seu retorno antes de 24 horas do tratamento.

Conforme Gonçalves et Al. (2012) técnicas de terapia manual como

massagem, alongamento e compressão progressiva podem beneficiar pacientes

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com enxaqueca. Essas técnicas alteram o fluxo sanguíneo pela mobilização de

tecidos superficiais com relação a estruturas mais profundas gerando então um

alívio na tensão muscular e consequentemente uma melhora na dor.

1.1.1 TREINAMENTO RESPIRATÓRIO DO DIAFRAGMA

Segundo Bevilaqua-Grossi (2016) a técnica de treinamento respiratório

diafragmático liso deve ter duração de quinze minutos para relaxamento, com

movimentos suaves realizados pelo paciente, onde o mesmo deve puxar para baixo

suas costelas superiores ao realizar a expiração.

De acordo com Kisner e Colby (2009) as técnicas de respiração controlada,

com ênfase na respiração diafragmática, são elaboradas para melhorar a eficiência

da ventilação, diminuir o trabalho da respiração, aumentar o movimento do

diafragma, melhorar a troca gasosa e a oxigenação, promover o relaxamento e

aliviar o estresse.

1.1.2 ALONGAMENTO PASSIVO DOS MÚSCULOS DO PESCOÇO

Segundo Kisner e Colby (2009) alongamento vem a aliviar a tensão e a dor

muscular, pois ele é uma definição para descrever qualquer manobra fisioterapêutica

elaborada para aumentar a extensibilidade dos tecidos moles fazendo com que

melhore a flexibilidade com o aumento do tamanho das estruturas que, de forma a

se adaptarem, encurtaram-se e tornaram-se hipomóveis com o decorrer do tempo.

De acordo com Bevilaqua-Grossi (2016) o alongamento passivo deve ser

realizado após o paciente se sentar confortavelmente em uma cadeira com os dois

pés ao solo, tornozelos, joelhos e quadris a noventa graus, costas apoiadas ao

encosto da cadeira e braços relaxados sobre os joelhos. Os movimentos a serem

realizados devem ser flexão frontal, extensão, flexão lateral (inclinação) para a

direita e para a esquerda e rotação bilateral. Todos os movimentos devem ser

realizados por três vezes para flexão de pescoço e rotação associado com as

direções de flexão ipsilaterais, usando uma força moderada, dentro dos limites da

dor do paciente, e mantida por trinta segundos.

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1.1.3 COMPRESSÃO DIGITAL EM PONTOS DE GATILHO MUSCULAR

Os dois médicos que mais pesquisaram a respeito de ponto-gatilho dando

uma grande contribuição na compreensão a respeito dos mesmos foram Janet

Travell e David Simons. Em 1992 Simons relacionou o ponto-gatilho à ausência

significativa de oxigênio no centro do mesmo, Travell confere a permanência e

aumento do ponto-gatilho a vários fatores: deficiência nutricional de vitaminas C,

complexo B e ferro, desiquilíbrio hormonal (período pré-menstrual, tiroide baixa e/ou

menopausa), infecções (bactéria, fungo e vírus), alergias (principalmente a lácteos e

trigo) e baixa oxigenação dos tecidos que são agravadas por tensão, estresse,

inatividade e respiração insatisfatória. (CHAITOW, 2001)

Segundo Bevilaqua-Grossi (2016) a compressão digital deve durar 90

segundos em pontos-gatilhos identificados, devendo ter como limite a compressão

de oito pontos-gatilhos dos músculos craniocervical por sessão.

De acordo com Chaitow a maior parte dos pontos-gatilho ativos são os da

região do pescoço e do ombro, que também agem como músculos respiratórios

suplementares, particularmente os músculos escalenos. Em situações de grande

ansiedade e fadiga crônica podem surgir sintomas secundários como dores de

cabeça, pescoço, ombro e braço, tontura, palpitações, desmaio e estresse.

Conforme Simons e Travell (1976) um ponto gatilho pode ser percebido à

palpação como uma área rígida, localizada e dolorosa, envolvendo uma área de

referencia para a qual a dor ou outros sintomas são referidos.

Para a terapia dos pontos-gatilho terem eficiência ela deve ser seguida de

exercícios de alongamento miofascial. O alongamento é diferente do alongamento

comum, ele é específico para o músculo em tratamento e precisa de uma amplitude

terapêutica estreita. (SIMONS E TRAVELL, 2005).

1.1.4 ................................................MASSOTERAPIA E LIBERAÇÃO MIOFASCIAL

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Bevilaqua-Grossi (2016) descreve que a massoterapia e a liberação

miofascial deve ter duração de quinze minutos com a realização conjunta de

massagem profunda sobre os músculos craniocervicais.

Segundo Kisner e Colby (2009) o relaxamento muscular local pode ser

aumentado através da massagem. Em situações de estresse, ansiedade ou dor as

técnicas leves devem ser feitas durante o processo de relaxamento. A massagem

aumenta a circulação para os músculos e diminuindo o espasmo muscular, vindo a

auxiliar os exercícios de alongamento. Com a massagem miofascial as forças do

alongamento serão aplicadas através das fáscias ou entre os músculos e os septos.

1.1.5 MOBILIZAÇÕES E TRAÇÃO DE CERVICAL

Segundo Kisner e Colby (2009) manipulação e mobilização são duas palavras

com o mesmo significado e, portanto, podem ser usadas como sinônimos. São

técnicas de terapia manual passiva que demandam destreza, e que podem ser

usadas em articulações e em tecidos moles ligados a velocidades e ADM variadas,

com movimentos fisiológicos ou acessórios com fins terapêuticos.

Bevilaqua-Grossi (2016) descreve que a técnica de mobilização deve ocorrer

de forma lenta e progressiva, com alongamento regular do tecido mole, devendo o

fisioterapeuta posicionar as mãos sobrepostas de forma que descansem na região

suboccipital do paciente, seguidos por tração da coluna cervical, enquanto o

paciente continua a respiração diafragmática.

Conforme Kisner e Colby (2009) o conceito de Brain Mulligan de mobilização

com movimento é a continuação do progresso natural de desenvolvimento da

fisioterapia manual, dos exercícios ativos de alongamento para o movimento

fisiológico passivo aplicado pela fisioterapia.

2 METODOLOGIA DO TRABALHO

Consistia na realização da aplicação de um protocolo que contém técnicas de

terapia manual, alongamento e respiração diafragmática. Com aplicação das

técnicas em oito sessões divididas por quatro semanas.

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Anteriormente ao início das sessões foi realizado o recrutamento das alunas

que tinham o quadro de enxaqueca em sala de aula passando por um questionário

de triagem e as que vieram a se enquadrar no perfil requerido para o projeto

responderam ao questionário HIT-6 que foi aplicado antes do inicio das sessões e

após a oitava no término do experimento.

Das dez convidadas a participar do estudo somente quatro se encaixaram nos

pré-requisitos para a pesquisa que eram ocorrência de mais de cinco crises nas

ultimas quatro semanas anteriores a resposta do questionário, com duração entre

quatro e setenta duas horas, além de critérios relativos à localização, intensidade da

dor e presença de no mínimo dois fatores de náuseas ou vômitos, fotofobia e

fonofobia, e ainda foi incluída a questão que indagava a possível dor a nuca para

diagnóstico de rigidez muscular por tensão e/ou estresse.

Outros dois fatores que também se encontram no questionário de triagem é a

interferência da dor na prática de exercícios físicos durante a crise de enxaqueca e a

presença de dor na nuca, que pode ter relação à presença de estresse, que foi

estipulado à resposta sim como pré-requisito para inclusão da pesquisa.

2.1 QUESTIONÁRIO PRÉ E PÓS-ATENDIMENTO

O HIT-6 é composto por seis questões que tem como resposta as seguintes:

nunca, raramente, às vezes, com muita frequência e sempre. O respondente é

instruído a assinalar apenas uma alternativa.

O HIT-6 também mede a incapacidade causada pelas dores de cabeça,

porém em um período de 30 dias. Ele está disponível em 22 idiomas, incluindo o

português, e é composto por seis questões que avaliam a gravidade da dor de

cabeça e a frequência em que essa dor promove cansaço, alterações cognitivas e

de humor e limitações na capacidade laboral e realização de atividades sociais

(KOSINSKI et al., 2001; COSTA, 2007).

O HIT-6 é uma ferramenta utilizada para quantificar a dor de cabeça e o

quanto a mesma vem a interferir em atividades diárias, sejam no trabalho, estudos,

em casa ou na vida social. Este questionário foi elaborado por uma equipe

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internacional de especialistas em dor de cabeça, a equipe era formada por

neurologistas e clínicos gerais.

Para calcular o resultado do HIT-6 é necessário realizar a soma de todas as

respostas sendo que cada uma tem um valor correspondente conforme descrito

abaixo:

a) Nunca: seis pontos cada

b) Raramente: oito pontos cada

c) Ás vezes: 10 pontos cada

d) Com muita frequência: 11 pontos cada

e) Sempre: 13 pontos cada

Quanto mais alto o total de pontos maior é o impacto da dor de cabeça na

vida do individuo. O escore total do HIT-6 varia de trinta e seis a setenta e oito

pontos e através do mesmo pode-se caracterizar quatro níveis de impacto da

cefaleia.

a) Pouco ou nenhum impacto: 38 a 49 pontos

b) Algum impacto: 50 a 55 pontos

c) Impacto substancial: 56 a 59 pontos

d) Impacto muito severo: 60 ou mais pontos

Neste questionário também é encontrado, em uma segunda folha, as

respostas para a soma de valores:

a) - 60 pontos ou mais: suas dores de cabeça estão causando um

impacto muito severo em sua vida. Você pode estar experimentando

dor incapacitante ou outros sintomas que são mais graves do que

aqueles experimentados por outras pessoas que sofrem com dores de

cabeça. Não permita que suas dores de cabeça impeçam-no de

aproveitar as coisas importantes de sua vida, como sua família,

trabalho, estudo ou atividades sociais.

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b) - Entre 56 e 59 pontos: suas dores de cabeça estão causando um

impacto substancial em sua vida. Como resultado você pode estar

sofrendo fortes dores e outros sintomas, que fazem com que você

perca tempo que estaria dedicando a sua família, trabalho, estudos ou

atividades sociais.

c) - entre 50 e 55 pontos: suas dores de cabeça parecem estar causando

algum impacto em sua vida. Suas dores de cabeça, porém,  não fazem

com que você perca tempo que estaria dedicando a sua família,

trabalho, estudos ou atividades sociais. 

d) - 49 pontos ou menos: suas dores de cabeça parecem estar causando,

atualmente, pouco ou nenhum impacto em sua vida. Sugerimos que

você faça o HIT-6 mensalmente e continue a verificar como suas dores

de cabeça afetam sua vida.

2.2 ESCALA VISUAL ANALÓGICA

Segundo Rigotti e Ferreira (2005) a escala visual analógica (EVA) consiste

em uma linha que representa uma qualidade continua de intensidade e dados

verbais. Sua utilização é de uso frequente em situações clínicas nas quais se deseje

mensurar a intensidade da dor como resultado de um tratamento, sendo fácil de

administrar e marcar. Esta escala produz dados nivelados em intervalos de zero a

dez, onde zero é nenhuma dor e dez dor insuportável, podendo ser usados

parâmetros estatísticos na análise.

Neste estudo foi utilizado a Escala visual analógica para as quatro voluntárias

com a indagação de qual o grau de dor no dia da primeira, quarta e oitava sessão de

atendimento.

2.3 RESULTADOS

Os resultados serão apresentados a partir desse momento. O primeiro item

a ser descrito é a caracterização da dor, pelos pacientes, através de escala visual

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analógica (EVA) onde se observa que a quantificação da dor pelos pacientes mostra

uma melhora clínica com diminuição de escala numérica em alta incidência.

Tabela 1: Escala de dor referida (Eva) pelas pacientes no dia da primeira, quarta e oitava sessão de

atendimento.

Primeiro atendimento Quarto atendimento Oitavo atendimento

Paciente 1 8 7 0

Paciente 2 7 5 0

Paciente 3 4 2 0

Paciente 4 7 0 2

Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

Realizando análise estatística dos dados apresentados acima foi comprovada

a eficácia do tratamento. Para comprovar o protocolo estabelecido foi proposto a

realização do teste t de student presumindo variâncias diferentes comparando a

primeira sessão com a oitava sessão, ou seja, inicio e final de tratamento.

Conforme Silva (2014) o teste t-Student ou somente teste t é um teste de

hipótese que usa conceitos estatísticos para rejeitar ou não uma hipótese nula

quando a estatística de teste segue uma distribuição t-Student.

Os resultados mostraram um p=0,001 o que mostra que o tratamento

proposto foi eficaz considerando a escala utilizada.

Porém realizando o mesmo teste comparando a primeira sessão com a quarta

(médio do tratamento) observou-se o valor p=0,14 o que não refere eficácia do

tratamento nesse intervalo de sessões. Para análise do efeito de significância foi

utilizado o valor de p≤0,05.

O próximo item a ser descrito é o HIT-6 aplicado no início e no final das

sessões. Foi elaborada a tabela a seguir onde se pode verificar melhora no quadro

álgico de todas as voluntárias ao se comparar a pontuação inicial com a final.

Tabela 2: Comparativo de pontos obtidos com as respostas adquiridas do questionário HIT-6 nas

pacientes voluntárias do estudo, respondido antes e após o tratamento fisioterapêutico.

Pontos antes do

tratamento

Pontos após o

tratamento

Paciente 1 74 67

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Paciente 2 70 58

Paciente 3 66 40

Paciente 4 70 55

Fonte: elaborado pelos autores, 2016.

2.4 CONCLUSÃO

A aplicação do protocolo proposto vem a trazer bons resultados na melhora

do quadro da dor dos voluntários com quadro de enxaqueca ao longo de quatro

semanas. É evidente a melhora no impacto da vida social, familiar e no trabalho,

pois a dor que impossibilita muitas vezes a realização de tarefas e convívio social e

familiar tem seu grau diminuído.

Concluindo pode-se dizer que os portadores de enxaqueca que fizeram parte

da amostra deste estudo apresentaram melhora no quadro álgico e melhora na

pontuação do questionário HIT-6 que sugere melhoras nas áreas sociais, físicas,

mental e psicológica das voluntárias. Sugere-se a realização de outros estudos, com

um número maior de voluntários.

REFERÊNCIAS

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