Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas...

40
Universidade Mackenzie - São Paulo MANUAL DE RADIODOCUMENTÁRIO PRODUÇÃO: MÁRCIA DETONI Este manual foi produzido exclusivamente para orientação dos alunos do curso de Radiojornalismo II da Universidade Mackenzie a partir de experiências pessoais e de várias fontes internacionais. Não deve ser utilizado ou reproduzido, mesmo com menção à fonte, fora da referida disciplina.

Transcript of Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas...

Page 1: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Universidade Mackenzie - São Paulo

MANUAL DE RADIODOCUMENTÁRIO PRODUÇÃO: MÁRCIA DETONI

Este manual foi produzido exclusivamente para orientação dos alunos do curso de

Radiojornalismo II da Universidade Mackenzie a partir de experiências pessoais e de

várias fontes internacionais. Não deve ser utilizado ou reproduzido, mesmo com menção

à fonte, fora da referida disciplina.

Page 2: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

O que é um documentário? Cambridge Dictionary: “filme ou programa de rádio ou TV que oferece informação

factual sobre um tema”.

Oxford Dictionary: “relato factual de determinado assunto ou atividade usando imagens,

gravações etc... de pessoas envolvidas; filme ou programa de rádio ou de TV”

Novo Aurélio: “(...)2. filme, em geral de curta metragem, que registra, interpreta e

comenta um fato, um ambiente, ou determinada situação.”

Dicionário Houaiss: “(...)2. CINE TV filme informativo e/ou didático feito sobre pessoas

(geralmente de conhecimento público), animais, acontecimentos (históricos, políticos,

culturais etc.) ou ainda sobre objetos, emoções, pensamentos, culturas diversas etc...”

Definição da UNESCO:

“No noticiário, o apresentador CONTA o que aconteceu na sociedade. No documentário,

nós MOSTRAMOS o que acontece na sociedade. Falamos com os envolvidos. Eles

mostram o fato em vez de nós o relatarmos. Mas nós compomos a forma como o fato é

apresentado.

O documentário de rádio funciona como o de TV. Busca mostrar a verdade sobre um

determinado tópico, sobre certo incidente ou local ou sobre relacionamentos entre

pessoas.

Num documentário, o apresentador tem um papel secundário. O mais importante é as

pessoas ligadas aos fatos contarem elas mesmas o que aconteceu.

Num documentário, usamos os sons da realidade como um poderoso instrumento de

comunicação.

O documentário tem um elemento humano que dá ao ouvinte a chance de interpretar a

realidade sozinho em vez de ser informado sobre ela. Um bom documentário muda

nossa percepção da realidade”.

Page 3: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência dos documentários feitos

no cinema. Produtores percebem que o formato poderia tornar o rádio mais interessante e “vivo”.

- Por cerca de quatro décadas, os produtores usaram narradores para contar histórias, ilustradas

com música, efeitos sonoros, e atores.

- Os gravadores portáteis, ainda pesados e primitivos, dificultavam a coleta de sons ambientais e

de vozes fora do estúdio. Os sons e entrevistas, quando obtidos, tinham a mesma função das

citações entre aspas no texto escrito: serviam de “evidência” ou “ilustração”.

- As revoluções sociais e acadêmicas dos anos 60 e 70 fizeram com que a fórmula soasse

ultrapassada. A voz solene narrando protestos pacifistas e feministas soava completamente fora

da realidade.

- Com EUA e Europa substituindo o consenso pelo pluralismo, as emissoras passaram a abrir o

microfone para mulheres, trabalhadores, negros e outras minorias.

- Quando a National Public Radio entra no ar, nos anos 70, o principal programa do novo sistema

de rádio não-comercial é apresentado por uma mulher. O forte da rede são os “sound pieces”

(peças sonoras), nos quais as pessoas contavam suas próprias histórias.

- Na nova fórmula, a figura do narrador desaparece. O produtor/autor abandona o microfone, mas

continua “dando as cartas” no estúdio.

- A mudança foi possível graças aos novos gravadores de fitas analógicas K-7, portáteis, baratos

e com boa qualidade de som, que facilitaram as gravações em campo.

- Nos anos 80 e 90 surgem os “sound artists” ou “radio artists”, que passam a produzir peças

sonoras só com sons ambientais, sem usar a voz.

- Atualmente, sob o signo da convergência, todas as fórmulas são usadas em documentários e

reportagens especiais por emissoras dos EUA, Canadá Reino Unido, Alemanha, Holanda,

França, Austrália, etc... O formato mais usado tem sido, no entanto, o documentário conduzido

pelo repórter por causa dos custos, da facilidade de produção e de exposição da mensagem.

Page 4: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Tipos de radiodocumentário

Classificação por tema:

1. Documentários jornalísticos

- Ligados a questões e contemporâneas (Meio-ambiente e poluição, racismo,

desenvolvimento urbano, lutas indígenas, reforma agrária, educação...)

Podem examinar apenas um aspecto desses temas ou tentar, de forma mais ampla,

examinar como eles afetam a sociedade.

Podem ainda retratar apenas uma única pessoa, um evento ou uma atividade (uma

descoberta científica, a construção do avião Concorde, a vida de uma celebridade, o

trabalho de uma determinada fábrica, grupo teatral ou escola).

- O objetivo é abordar as questões com mais profundidade que o noticiário. Vai além das

manchetes. EXPLICA o que está acontecendo e ABRE UMA JANELA PARA O MUNDO.

- São organizados a partir do trabalho de reportagem.

2. Documentários históricos

- Relembram e reinterpretam o passado.

- Podem ser investigativos e reveladores, expondo fatos novos sobre determinado

acontecimento.

- Usam gravações históricas, pesquisa jornalística, entrevista com testemunhas, inclusão

de vozes excluídas pela história oficial.

3. Documentários culturais

Page 5: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

- Têm como tema as artes em geral, permitindo um uso maior de música, poesia e

drama.

4. Documentários de abordagem filosófica ou psicológica

- Tratam de temas que não perdem a atualidade:

Temas filosóficos: identidade, crença, existência, amor, vingança

Temas psicológicos: relações interpessoais (familiares, de trabalho, homem e mulher

etc...), comportamento humano.

Classificação pela narrativa:

1. Observacional

Dispensa o narrador. Não busca interpretar ou criticar, apenas mostrar um fato e

provocar reflexões.

2. Conduzido pelo narrador ou repórter

O repórter o narrador faz os links explicativos, ajudando o programa a desenrolar-se

de forma lógica e informativa. O repórter/narrador dá o contexto, dados estatísticos,

faz as apresentações.

3. Autoral

O repórter ou narrador não é neutro. Ele dá a sua própria visão de determinado

acontecimento ou narra a sua própria experiência.

Page 6: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

DOCUMENTÁRIO X FEATURES (ESPECIAIS)

São histórias contadas através dos sons: o som da voz humana, das atividades

humanas e da música. Ambos visam a informar e entreter. A diferença básica está na

seleção e tratamento do material usado.

Documentário

É totalmente factual, baseado em evidências documentadas (registros escritos,

entrevistas atuais, fontes mencionáveis)

O objetivo é prioritariamente informar, e o produtor se dispõe a fazer um relato

completo, equilibrado e verdadeiro sobre alguma coisa ou alguém.

Feature (Especial)

O produtor não está preocupado em abordar determinado fato de forma profunda e

abrangente. Também não há preocupação de se ater totalmente ao factual.

Um especial pode incluir música, poesia e ficção para ajudar a ilustrar o tema.

O formato é totalmente livre. O produtor pode dar asas à imaginação mesmo

trabalhando com fatos reais.

A distinção nem sempre é fácil por causa dos híbridos (documentários “especiais”,

semidocumentários, dramadocumentários), que usam todas as técnicas sonoras e

narrativas disponíveis.

Page 7: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

5. Planejamento e Produção de Documentários

Idéia inicial

Tudo pode virar um documentário, desde assuntos quentes na mídia até pautas do

cotidiano. As possibilidades estão em todas as partes: nas notícias dos jornais, nas

esquinas das cidades, no dia-a-dia do próprio produtor.

Planejamento

Após a idéia inicial, a primeira coisa que o produtor deve fazer é responder a duas

perguntas:

- Qual é o objetivo desse documentário? (O que quero contar ou mostrar)

- O que quero deixar para o ouvinte? (mensagem)

As respostas a essas perguntas ajudam a definir o ângulo do documentário. São de

grande valia na hora de decidir o que entra no programa ou sai. O objetivo pode mudar

ao longo do trabalho quando somos confrontados com novos dados e situações, mas

saber o que se quer atingir é fundamental para estruturar o programa.

Não há uma técnica única e infalível de planejamento. Cada produtor segue seu próprio

método. Mas é fundamental fazer uma boa pesquisa sobre o tema e anotar os tópicos

que devem entrar no documentário:

- pessoas a serem entrevistadas

- locais de gravação

- sons ambientais

- possibilidades de música.

Com base nesse roteiro é que vamos decidir quais técnicas usar para contar a história.

Page 8: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

O planejamento e a pesquisa também ajudam a definir melhor o ângulo. Podemos, por

exemplo, escolher contar a história tendo como fio condutor “um dia no parque” (da

abertura ao fechamento dos portões) ou “um domingo no parque”.

Montagem do projeto – Veja o exemplo abaixo sobre um documentário sobre o parque do Ibirapuera

Título: geralmente é decidido após a realização do documentário (pode, inclusive, sair de uma

frase de um entrevistado)

Objetivo:

(O que quero contar ou mostrar)

- Mostrar como é o parque, atrações que oferece ao público, como ele contribui para a qualidade

de vida das pessoas.

(O que quero deixar para o ouvinte? mensagem)

- Incentivar o ouvinte urbano a ver os parques como alternativas prazerosas de lazer e de contato

com a natureza e não apenas como espaços que enfeitam a cidade.

Duração: 15 minutos

Informações a serem levantadas:

Dados históricos, importância ambiental, características (área, flora e fauna), estimativa de

público, número de funcionários, de bebedouros, de banheiros e de lanchonetes, gastos com

manutenção, atrações (shows, jardinagem, leitura, quadras de esporte, áreas para ginástica,

áreas de descanso, passeios de bicicleta....)

Conteúdo do documentário:

- descrição do parque e de suas atrações;

Page 9: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

- influência no cotidiano das pessoas: como o público o utiliza.

Tópicos-chave:

- O que o parque significa na vida e na saúde das pessoas que o frequentam?

- Histórias humanas e engraçadas envolvendo público/funcionários e o parque.

- Pessoas que ganham a vida no parque (funcionários e ambulantes).

- Pessoas que tem vida social e cultural no parque.

Entrevistados:

- Administradores/

- Funcionários da limpeza e manutenção, responsáveis pelo cuidado das plantas e aves

- Guardas que fazem a segurança

- Vendedores de balas e picolés/ Artistas de rua

- Responsável pelo aluguel das bibicicletas

- Público: os que caminham, correm, tomam sol, fazem ginástica, jogam, andam de bicicleta,

patins e skate, levam crianças, idosos e cães para passear.

Sons:

- som ambiente/ aves

- crianças brincando e nos balanços/ pessoas correndo

- bicicletas (aluguel de bicicletas)

- água jorrando no lago

- quadras de futebol e basquete

- ginástica (música ou instruções)

- músicos e artistas de rua

- pessoas conversando nos bares/shows

Page 10: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Formato e Técnicas de Narração

Após a pesquisa sobre o tema (entrevista com a administração do parque para obter

dados e checar pontos fortes) teremos condições de decidir melhor que técnicas usaremos para contar a história.

A escolha do formato deve levar em conta o material obtido, a melhor forma de passar a

mensagem e o tipo de público que se quer atingir.

Narração do repórter em estúdio intercalada de trechos de entrevistas, sons e música

O narrador faz os links. O script é montado a partir das entrevistas. A presença do

narrador facilita bastante a produção e o andamento do documentário, fazendo com que

progrida de forma lógica e informativa. O narrador faz as apresentações, expõe a maior

parte dos dados estatísticos e esclarece o contexto das opiniões. Com a ajuda do

narrador, se pode dizer muito em menos tempo, mas é aqui que mora o perigo! O

programa pode ficar muito “picado” e passar uma impressão de formalidade ou frieza. U

Dica: O narrador deve sempre ligar e nunca interromper. Não há necessidade de usar a

voz do narrador entre cada entrevistado.

Exclusão do narrador - colagens de sonoras

Os próprios entrevistados contam a história a partir de colagens de sonoras. Pode-se

também usar um personagem para apresentar a história. Os documentários sem

narrador geralmente são mais atmosféricos. Mas é preciso fazer com que cada item siga

um fluxo natural formando uma justaposição inteligível.

Page 11: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Dica: Nesse formato é importante pedir que o entrevistado faça a própria apresentação,

diga quem é, o que faz, qual a sua relação com a história. As respostas devem incluir

todas as informações necessárias e deixar claro quem está falando.Exemplo: - “Como

administrador do parque, eu acho que.....”

- “Eu corro aqui todos os dias há 15 anos... Sou bancário, tenho uma vida sedentária e

preciso me exercitar...”

- “Eu trabalho numa metalúrgica, mas vendo picolé nos domingos aqui no parque há dez

anos..”.

A apresentação do entrevistado não precisa necessariamente estar nas primeiras frases

dele, mas deve aparecer logo em seguida. Não deixe o ouvinte muito tempo sem saber

quem está falando. A experiência mostra que os ouvintes reagem mal quando não

entendem o que está no ar.

Mix de narração em estúdio com gravações externas

Passagens gravadas ao estilo da reportagem de TV e pequenas entrevistas in loco. A

reportagem interage com os entrevistados.

O programa deve ser consistente na estrutura, no desenvolvimento da idéia. Mas a forma

e o estilo podem ser flexíveis e variados. Podemos usar várias técnicas dentro de um

mesmo programa. É importante explorar novas formas de apresentar o tema. A chave

é a clareza.

Page 12: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Sons Ambientais

Pare, ouça, grave!

Quando você estiver no local da gravação use as orelhas para ter idéias sobre sons.

Tente identificar os sons que caracterizam o ambiente.

Não deixe escapar nenhum barulho. Grave todos os tipos de sonoridade: telefone

tocando, cães latindo, relógios badalando, portas abrindo ou batendo, crianças

brincando, máquinas em operação, trânsito, buzinas, helicópteros, aviões, trens, sinos de

igreja, água correndo, mensagens de telefone, pessoas cantando ou tocando

instrumentos.

Peça para que cantem para você. Grave sistemas de rádio, sirenes da polícia ou de

ambulâncias, o cantar dos pássaros, ondas, cachoeiras, torcidas de futebol, protestos de

rua, programas de rádio e TV, noticiário.

Todos esses sons são muito importantes para ajudar na ambientação e quebrar a rigidez

de textos longos. São eles que enriquecem os documentário ou reportagens. As palavras

podem dizer muito mas são os sons que transportam o ouvinte para o local do fato.

Não perca a chance!

Toda a vez que você notar alguém fazendo algum som que possa ser útil, tente gravar

na hora, porque dificilmente você terá outra oportunidade. Esteja com o gravador pronto

para gravar a qualquer momento.

Grave antes, durante e depois!

Você pode começar a gravar ainda antes de fazer a entrevista. Se você ligar o gravador

antes de entrar no local, por exemplo, o som da porta, a conversa com a secretária, ou a

Page 13: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

troca de cumprimentos podem ser úteis. Mas fique atento à ética. Nem sempre é

apropriado gravar sem o consentimento das pessoas.

Essa técnica é indicada quando o entrevistado tem uma relação com o local em que

está, como uma família que vai falar sobre seu cotidiano.

Sempre tente gravar o som daquilo que as pessoas fazem. Se você não estivesse lá, o

que elas estariam fazendo? Ouvindo rádio ou TV? Operando algum equipamento?

Lavando roupa? Dando aula?

Não esqueça de gravar pelo menos um minuto do som da sala onde você fez a

entrevista. Será muito útil na mixagem.

Peça ajuda

Quando marcar a entrevista, mencione que você estará gravando também som

ambiente. Isso fará com que o entrevistado comece a pensar em termos de sons.

Quando você chegar, pergunte novamente: “Que sons eu poderia gravar aqui?

Como usar o som ambiental:

A função dos sons ambientais é ajudar a criar atmosfera. Além disso, para os ouvintes

que conhecem o assunto, o reconhecimento de sons autênticos aumenta a autoridade do

programa.

Nos documentários factuais, jornalísticos, é possível usarmos efeitos sonoros de arquivo.

Mas esses efeitos devem ser usados com cuidado. Eles precisam passar uma

impressão de autenticidade.

Sons artificiais misturados a sons verdadeiros confundem o ouvinte de um documentário

factual, que espera ouvir material genuíno.

Page 14: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Como usar a música:

A música é a moldura do documentário ou especial

- Cria atmosfera e aumenta o impacto sonoro

- Faz com que as palavras soem verdadeiras ou heróicas, ou urgentes...

- Ajuda a acordar e surpreender o ouvinte

- Um trecho ou uma frase de uma canção também podem servir de gancho para o

comentário inicial do narrador. Exemplo:

Técnica: Música do Skank : “Ganja, legalize já...Ganja, legalize já... uma

erva natural não pode lhe prejudicar....”

Narrador: A legalização da maconha....

Quanta música devemos usar?

Nos documentários e reportagens jornalísticas a música deve ser usada com

parcimônia para não competir com o conteúdo e tirar sua autoridade.

O programa soa mais verdadeiro se a atmosfera for criada com sons e situações

verdadeiras.

Geralmente usa-se de 3 segundos a 15 segundos de música separando trechos de voz.

Nos especiais, a música é um elemento forte de ambientação. Uma boa música anima e

dá vida às vozes e textos.

Page 15: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Dicas para uma boa entrevista

1. Bons entrevistadores não brilham, quem brilha são seus entrevistados

Não use a entrevista para demonstrar seus conhecimentos, vocabulário, charme ou a

bela voz nem faça da entrevista um debate.

2. Aproxime-se com simpatia e respeito

Seja positivo e confiante. Pressuponha que a pessoa em questão queira falar com você.

A forma como as pessoas respondem depende da forma como você as aborda. O

segredo é fazer com que elas perceberem a importância do seu projeto.

3. Explique a razão da entrevista

Diga para que programa ou projeto você está fazendo a entrevista e deixe claro que tudo

pode ser e será editado. Esclareça qual é o objetivo do documentário, o ângulo

abordado, as implicações de uma exposição no rádio.

É necessário proteger o entrevistado, omitindo o seu nome ou alterando a voz? Há

nomes que não podem ser mencionados?

Com um “código de conduta” firmado, o entrevistado se sentirá mais seguro para falar e

terá mais confiança em você.

4. Procure uma posição confortável

Mova cadeiras para que você fique perto do entrevistado. Sente-se na ponta da mesa e

não do outro lado dela. Assim, o microfone ficará próximo do entrevistado e o braço não

fraquejará.

Page 16: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

5. Evite ruídos indesejados

Se a entrevista for importante e você quiser gravá-la em local silencioso, tente conversar

com o entrevistado em um quarto ou numa sala com tapete e cortinas. Não deixe a

entrevista ser prejudicada pelo ruído de lâmpadas florescentes, ar-condicionado,

telefones, rádio, TV e geladeira ou pelo som do trânsito e do vento. Os ruídos podem

desviar a atenção do ouvinte e dificultar a edição. Algumas vezes, queremos o som

ambiente, mas é melhor gravar separadamente para mixar mais tarde.

6. Em ambientes barulhentos, aproxime o microfone da boca

Se barulho é exatamente o que você quer, coloque o microfone bem perto da sua boca

ou da boca do entrevistado para que a voz fique clara.

7. Deixe as pessoas a vontade

Lembre o entrevistado que ele pode errar e repetir a fala e que o material será editado

mais tarde. Aja de forma natural em relação ao microfone. Segure-o, inicialmente, de

maneira displicente. Você pode encostá-lo no queixo (para mostrar que não morde!).

Ligue o gravador sem formalidade e faça algum comentário sobre o tempo ou sobre o

equipamento. Só depois coloque o microfone na posição para gravar. Isso evita o

constrangedor “Ok. Vamos gravar”, aliviando a tensão.

8. Mantenha o contato de olhos

Não esqueça de olhar nos olhos do entrevistado. Faça a entrevista como se estivesse

conversando normalmente com ele. Não deixe o microfone ser o centro das atenções.

9. Entrevista é uma mão de duas vias

Page 17: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

O sucesso de uma entrevista depende, em parte, de fazermos a pergunta certa. Mas

estabelecer um clima amistoso com o entrevistado é muito importante. Às vezes é

preciso contar alguma coisa sobre nós mesmos. Para que a entrevista se transforme

numa conversa honesta e aberta, as pessoas precisam sentir que realmente nos

interessamos pelo que elas estão dizendo e que vamos respeitar suas opiniões.

10. Faça uma lista de perguntas, mas não fique preso a ela

Deixe a lista a mão para, no final da entrevista, checar se todos os pontos importantes

foram abordados.

11. Identificação das entrevistas

No início da entrevista, sempre peça que o entrevistado se apresente, dizendo nome,

idade, profissão. Isso facilita a identificação dos tapes, mas também ajuda o entrevistado

a relaxar, enquanto você vai ajustando o nível da gravação.

12. Faça perguntas curtas

Seja objetivo e elabore perguntas que exijam respostas mais longas que um sim ou não.

Em vez de perguntar, por exemplo, “João da Silva era um bom patrão?”, pergunte “O que

os funcionários achavam de João da Silva como patrão?”

13. Aborde uma questão de cada vez

Algumas vezes os entrevistadores fazem várias perguntas ao mesmo tempo.

Provavelmente o entrevistado responderá apenas a primeira ou a última.

14. Algumas perguntas produzem boas respostas em documentários e especiais:

Como você vê (o mundo, a vida, a cidade..) desde que aconteceu ( o acidente, o assalto,

a demissão)? O que você sente quando passa pelo local?

Page 18: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

15. Não se preocupe em construir frases perfeitas

Uma ou outra pergunta gaguejada ou insegura ajudam a deixar o entrevistado a vontade

à medida que ele percebe que você não é perfeito e que ele também não precisa ser.

16. Adie a polêmica

Comece com as perguntas menos polêmicas. Deixe as mais delicadas, se houver

alguma, para quando você e o entrevistado já tiverem estabelecido um contato maior.

17. Não tenha medo de perguntar o óbvio

Perguntas óbvias podem produzir respostas interessantes. Pergunte o óbvio e o sutil.

18. Faça silêncio enquanto o entrevistado estiver falando

A menos que sua intenção seja interagir com o entrevistado, não dê risadas altas ou diga

“uh-hun” durante a entrevista porque você não conseguirá editar esses trechos. A sua

presença no tape elimina a sensação de que o entrevistado está se comunicando

diretamente com o ouvinte. Deixe o entrevistado saber que você está acompanhando o

que ele diz balançando a cabeça ou através do contato do olhar.

19. Deixe a fita rolando...

Não ligue e desligue o gravador durante pausas na entrevista. É melhor desperdiçar um

pouco de fita do que perder uma boa história contada na última hora.

20. Faça entrevistas individuais.

Page 19: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

As entrevistas geralmente rendem mais se forem realizadas individualmente. Algumas

vezes dois ou mais entrevistados podem ser ouvidos simultaneamente com sucesso ,

mas geralmente eles se saem melhor quando estão sozinhos.

21. Não alugue o entrevistado!

Termine a entrevista num tempo razoável. Uma hora e meia é o máximo. Depois disso,

tanto você quanto o entrevistado estarão cansados.

22. Olhe, além de ouvir.

Logo após a entrevista, faça anotações específicas sobre o que você viu e sentiu. Anote

a forma como as pessoas estavam vestidas e outros detalhes que poderão ajudar no

script.

INCENTIVANDO O ENTREVISTADO FALAR MAIS E MELHOR...

23. Deixe as pessoas falarem e permita o silêncio.

Não se apresse em fazer a pergunta. Freqüentemente as pessoas dizem algo verdadeiro

após um silêncio.

24. Refaça a pergunta se for necessário.

Não se sinta constrangido em perguntar a mesma coisa de diversas formas até

conseguir uma resposta que o satisfaça. Você pode editar o começo de uma resposta

com o final de outra.

Para fazer com que a pessoa repita um resposta ou fale com mais entusiasmo pergunte:

“O quê?”, “É mesmo?” “Você está brincando?” “Sério?”

Page 20: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Se o barulho interferir, faça a pergunta novamente.

25. Peça descrições de pessoas.

É difícil para os entrevistados descreverem pessoas. Uma forma fácil de começar é pedir

a eles que descrevam a aparência da pessoa em questão. A partir daí é mais provável

que o entrevistado passe a descrever a personalidade.

26. Abordagem negativa pode render mais que a positiva.

Pergunte sobre aspectos negativos de determinada situação.

Por exemplo, ao perguntar sobre uma pessoa, não comece com uma descrição muito

positiva:

“Sei que o prefeito era uma pessoa muito generosa e inteligente. Você achava

isso dele?”

Poucos entrevistados vão contestar uma declaração dessas mesmo que eles não

gostem do prefeito. Você terá uma resposta mais forte se salientar algum aspecto

negativo:

“Apesar de o prefeito ter uma boa reputação pelo trabalho que desenvolveu, ouvi

dizer que ele era um homem de temperamento difícil”...

Se o entrevistado admira muito o prefeito, ele sairá em defesa dele dizendo por que a

afirmação que você fez está equivocada. Se ele achava o prefeito uma figura difícil, sua

pergunta dará a ele a chance de comentar algumas das características desagradáveis do

prefeito.

Page 21: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

RECONSTITUINDO A HISTÓRIA.......

27. Tente estabelecer em cada ponto importante da história onde o entrevistado estava e

qual era o seu papel no evento para identificar o quanto a informação é testemunhal ou

se baseia no depoimento de outros.

“Onde o senhor estava na hora do desabamento do prédio? O senhor falou com

algum sobrevivente mais tarde?”

Faça isso com cautela para não parecer que você está duvidando do depoimento.

28. Não questione relatos que você acha que podem ser incorretos. Em vez disso, tente

obter o maior número possível de informações para descobrir, depois, o que realmente

ocorreu. O entrevistado pode estar contando corretamente o que ELE viu.

Pesquisadores que falaram com sobreviventes do Titanic dizem que cada senhora

entrevistada dizia estar no último bote que deixou o navio. Mais tarde, estudando o local

onde estavam os botes, os pesquisadores perceberam que os passageiros não

conseguiam ver os outros botes, o que fez com que acreditassem que estavam no último

deles.

29. Diga, com tato, ao entrevistado que há uma versão diferente da que ele está

contando: “ Eu ouvi.... ou eu li que...”. Isso não é para questionar o relato do entrevistado,

mas para dar a oportunidade a ele de trazer outras evidências que rebatam a versão

oposta ou para esclarecer por que aquela versão surgiu.

30. Peça para as pessoas “fazerem”coisas

Além da entrevista sentada, peça que o entrevistado lhe mostre, por exemplo, o álbum

de fotos da família ou o funcionamento de uma determinada máquina. Gravar uma

Page 22: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

entrevista em movimento funciona muito bem e ajuda o entrevistado a relaxar. Peça que

o entrevistado mostre o local onde vocês estão, descrevendo o ambiente, o que vocês

estão vendo, o que está acontecendo. Isso faz com que o ouvinte se sinta mais próximo

do local e reforça a sensação de ação e imediatismo.

VOX POP (Povo Fala)

Para ouvir a opinião do público vá onde as pessoas estão esperando: ponto de ônibus,

frente de escolas, filas longas etc.... É mais fácil aborda-las quando estão paradas.

ÚLTIMA, MAS GRANDE DICA PARA UMA BOA ENTREVISTA

Para fazer com que as pessoas falem de maneira aberta e honesta você precisa de uma

coisa muito simples, mas fundamental: sentir uma curiosidade verdadeira pelo mundo

que o cerca.

SE O NARRADOR FOR O PRÓPRIO ENTREVISTADO....

1. Defina a história antes de começar a gravar:

Repasse a história com o entrevistado. Ambos têm de concordar sobre como a história

será contada. É comum o entrevistado e o entrevistador terem prioridades e expectativas

diferentes. Peça que o entrevistado conte o fato de forma abreviada. Isso também fará

com que ele se sinta mais confortável porque já sabe o que tem de contar.

Page 23: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Existe uma crença de que a primeira versão é mais espontânea. Mas a experiência

mostra que isso não é verdade. Uma boa história é uma boa história e pode ser contada

muitas vezes.

2. Explique o método da entrevista:

Explique que a entrevista não segue o tradicional estilo “pergunta-resposta”. A entrevista

é um projeto conjunto. Você e o entrevistado compartilham o projeto de contar uma

história ou resgatar memórias.

O objetivo comum é reconstruir uma realidade para a “tela do rádio”.

Como não há links, o entrevistado precisa apresentar-se, dizer quem é, o que faz, qual a

sua relação com a história. As respostas devem incluir todas as informações

necessárias e deixar claro quem está falando.

Ex: “O que o senhor achou da decisão? Como advogado da vítima, eu achei que.....”

A apresentação do entrevistado não precisa necessariamente estar nas primeiras frases

dele, mas deve aparecer logo em seguida. Não deixe o ouvinte muito tempo sem saber

quem está falando. A experiência mostra que os ouvintes reagem mal quando não

entendem o que está no ar.

Às vezes é preciso pedir que o entrevistado acrescente algumas informações e

estatísticas a sua fala, já que não haverá narrador.

Page 24: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Como Recontar a História

A entrevista pode começar com uma pergunta como:

“Imagine que você voltou no tempo e está naquele lugar onde tudo começou. O que você

sente, vê, pensa...?

Os entrevistados não estão acostumados com esse método de entrevista. Eles

geralmente começariam contando o que aconteceu:

“O plano era jogar uma granada no primeiro carro da polícia que chegasse na ponte. Eu

decidi me esconder atrás de uma pilastra e jogar a granada de lá”.

Insista para que ele traga algumas imagens e movimentos para a primeira cena.

Colocando o entrevistado novamente naquela situação você também consegue

transportar o ouvinte para aquela realidade.

O começo poderia ser:

“Eu estava parado atrás de uma pilastra da ponte. Comecei a ouvir o barulho dos carros

do Exército se aproximando. Havia fumaça no ar. Eu ainda não estava certo de qual era o

melhor momento para jogar a granada contra o comboio. A velha ponte começou a

tremer...”

Você também pode decidir contar a história no presente para dar maior impacto a

narrativa:

“Estou parado atrás de uma pilastra da ponte. Posso ouvir o barulho dos carros do

Exército se aproximando. Há fumaça no ar. Ainda não estou certo de qual é o melhor

momento para jogar a granada contra o comboio. A velha ponte começa a tremer....”

Se você escolher contar a história no presente, terá de ficar de ouvidos muito atentos

principalmente nos primeiros 15 ou 20 minutos da entrevista até que o entrevistado se

acostume com a forma.

Page 25: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

O presente e passado podem ser usados conjuntamente para contar a história. Você

pode escolher o presente para destacar certas cenas e contar o resto no passado.

O resto da entrevista é uma busca conjunta por lembranças, cenários, desdobramentos,

imagens, formas, cores, diferentes pontos de vista, pensamentos, falas, cheiros, sons,

sentimentos....

Seu papel como entrevistador é cuidar para que toda a história seja contada. Você

conseguir registrar todas as cenas de forma clara e com todos os detalhes importantes?

Todas as cenas estão na ordem correta, permitindo que as pessoas entendam o que

aconteceu?

Uma entrevista como essa geralmente é feita em duas ou mais etapas. Às vezes, o

entrevistado não lembra de tudo no primeiro dia, mas a entrevista acaba reavivando a

memória.

Se a entrevista for feita com cuidado, você terá todos os elementos necessários para

recriar o fato, cena por cena. Você poderá, inclusive, editar o material, dando maior

impacto as falas sem alterar o contexto:

“Há fumaça no ar. Minhas pernas estão tremendo. Posso ouvir o barulho dos carros do

Exército se aproximando...”

Diferentes cenas podem ser combinadas em ordem diferentes para tornar a narrativa

mais interessante. Ou duas pessoas podem contar a mesma história, de forma

intercalada, a partir de pontos de vista diferentes:

“Eu estava dirigindo o primeiro caminhão do Exército. Quando chegamos na ponte....”

Page 26: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Dicas de gravação • Fique íntimo de seu equipamento. Aprenda a usá-lo, descubra todos os

recursos. Se você estiver a vontade com o equipamento e seguro em relação ao

manuseio, as gravações ocorrerão de forma muito mais tranqüila.

• Deixe o microfone a dez centímetros (uma mão) da boca. Se o barulho for

muito intenso você terá de aproximá-lo mais. Isso também vale para sussurros. Para

gargalhadas altas ou vozes muito altas, afaste o microfone.

• Sempre use fones de ouvido durante a gravação. Com o fone de ouvido, você

terá a noção exata da qualidade do que está sendo gravado. Se alguma coisa não soar

bem, pare e detecte o problema. Os problemas mais comuns são “pops”, vento e o

barulho feito pelo cabo do microfone. Mas também podem ocorrer interferências de

equipamentos e rádios. Prenda o cabo na mão e não o deixe balançando contra o corpo.

Cheque se os cabos estão bem conectados. Use o corpo para proteger o microfone do

vento, ficando de costas contra ele.

• Preste atenção nos "P" pops. Se você ouvir "P" pops, mova o microfone um

pouco para o lado da boca do entrevistado, afastando-o da área central de projeção da

voz. Os pops ocorrem na área em frente ao centro da boca, mas são evitados com uma

leve inclinação do microfone para a lateral. (Faça um teste: diga a palavra "pop" com a

mão na frente da boca, depois mova a mão levemente para o lado enquanto diz a

palavra pop. Veja como o “p” desaparece rapidamente!)

• Cuidado com o botão da pausa. Sempre cheque para ver se a fita está

rodando. Se você estiver usando o fone de ouvido, pode ser enganado pelo botão da

pausa e achar que a entrevista está sendo gravada.

• Sempre tenha pelo menos um conjunto extra de pilhas e mais de uma fita ou mini-disc à mão. Calcule uma fita de 90 minutos para cada entrevistado, já que uma

entrevista com mais de uma hora e meia é insuportável tanto para ele quanto para você.

Page 27: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

• Coloque etiquetas nas fitas e as numere antes de começar a gravação. As

etiquetas evitam que, na pressa, você use fitas gravadas pensando serem novas. Depois

da gravação, marque todo o conteúdo conforme a sequência de entrevistas e sons.

• Use o contador, se houver. Zere o contador no início de cada fita e anote o

número cada vez que coisas novas acontecerem. Isso facilita a localização do material

na hora da edição.

Repetindo:

• Sempre grave um ou dois minutos de som ambiente após a entrevista. Isso é

particularmente importante se você está gravando num local barulhento. Quando você

começar a editar o seu documentário, precisará desse som para suavizar as passagens

de entrada e saída da cena e entre a voz do narrador e a do entrevistado. Se você está

fazendo a entrevista num ambiente que é normalmente barulhento (numa sala onde o

radio está sempre ligado), faça a entrevista com o rádio desligado, depois grave dois

minutos de som ambiente e mais cinco minutos do som do rádio. Você poderá usar o

som do ambiente com o rádio ligado embaixo da entrevista na mixagem final para dar

uma “sensação de lugar”. Pense no documentário como se fosse um filme – pense em

termos de cenas, de sons e de transições.

Page 28: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Montagem do Script

1.Transcreva as entrevistas

A única forma de lidar adequadamente com o material e não perder o foco é passar as

entrevistas para o papel. Não há necessidade de transcrever todas as palavras, mas faça

um roteiro com as idéias básicas. É mais fácil trabalhar com papel que com uma

montanha de tapes.

2. Destaque os trechos mais importantes

Marque as partes mais contundentes, dramáticas, engraçadas ou sensíveis da

entrevista. Se você está trabalhando com vários sub-temas, use uma cor para cada um

deles:

Numa série sobre drogas:

Amarelo – causas da dependência

Azul – tratamento

Vermelho – papel da família na recuperação

3. Faça a edição final junto com o script

A escolha final dos trechos da entrevista e a edição do material deve ser feita no

momento em que você escreve o script. É aí que você decide o que realmente entra, o

que precisa ser acrescentado ou alterado para dar movimento ao documentário.

Page 29: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

4. Escreva para o ouvido.

Repare como você conta uma história a um amigo. Repare nas coisas que você diz e na

ordem em que diz. É assim que você deve escrever. Se houver alguma frase no script

que você não diria numa conversa informal, reescreva.

Evite frases longas, com muita pontuação. Procure usar a ordem direta e expressar um

mínimo de idéias em cada sentença.

“Porque os ouvintes de rádio, ao contrário do leitor de jornal, têm de guardar na memória

o que foi dito para compreender o sentido da frase, sentenças invertidas como esta que

você está lendo agora devem ser evitadas!”

Usar linguagem simples não significa escrever sem estilo, cor ou energia. O texto deve

ter vivacidade.

6. Evite o monólogo

- Parágrafos curtos em torno de dez ou 12 linhas (30”a 35”);

- Intercale narração com sons e vozes. Use o som ambiente para fazer passagens

suaves do estúdio para a gravação.

- O depoimento do entrevistado também não deve ser muito longo, a menos que seja

animado o bastante para prender atenção do ouvinte (30” a 45” );

- Só deixe correr a entrevista se for intercalada de perguntas;

- Evite repetição: a chamada para o entrevistado não deve dizer o mesmo que ele.

Apenas introduza o assunto ou a pessoa;

Page 30: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

- Selecione os trechos mais contundentes da entrevista e não esqueça que momentos de

humor descontraem e despertam o ouvinte;

- A música e as ilustrações sonoras devem estar relacionadas com o texto e o assunto.

Tente encaixar a música no texto, fazendo com que comece sob a voz e suba nas frase

melodiosas;

- Em reportagens noticiosas, a música deve ser usada com parcimônia para não virar

poluição sonora e truncar a mensagem;

VALE A PENA ME OUVIR!

ABERTURA

Tente capturar a atenção do ouvinte já no começo usando os sons e a criatividade para

fazê-lo entrar no clima. Uma reportagem de rádio pode começar com:

1. Música – Tocar em torno de 10” a 15”. Pode desaparecer sob a voz ou ser mantida em

volume baixo para subir e descer, marcando intervalos;

2. Declarações de entrevistados. Frase ou frases curtas e relevantes sobre o tema em

discussão;

3. Sons ambientais – o repórter pode estar dentro de um trem ou avião, numa escola,

numa igreja...

4. Mix de sons (música, vozes e sons ambientais);

Page 31: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

SEQUÊNCIA

Não há regras quanto à seqüência do documentário. O importante é que o resultado faça

sentido.

A falha mais comum dos documentários não está no conteúdo, mas na estrutura: falta de

identificação dos entrevistados, uso de uma voz ouvida anteriormente sem nova

identificação, uso inadequado de música, falta de contexto....

Quando estamos muito envolvidos com o tema é fácil ignorarmos informações

fundamentais para a compreensão do ouvinte.

ENCERRAMENTO

As possibilidades são ilimitadas. Algumas sugestões:

- Narrador faz um apanhado final e esclarecedor sobre o tema.

- Entrevistado dá a última palavra, repetindo algum ponto-chave do documentário.

- Narrador especula sobre o futuro, levantando novas questões.

- Repetição de vozes e sons usados na abertura.

- Não apresentar nenhuma conclusão, deixando que o ouvinte forme o seu próprio

parecer sobre o tema.

PONTOS PERIGOSOS!

Atenção para certos momentos-chave no documentário.

Produtores americanos dizem, com base na própria experiência, que, num programa de

meia hora, há vários momentos em que a atenção da audiência tende a diminuir a menos

que algo novo e interessante aconteça no programa.

Page 32: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Para manter aceso o interesse dos ouvintes, eles recomendam o uso de música, novas

vozes ou novos sons e idéias nesses “pontos perigosos”.

Partindo do início do programa (00:00), os pontos perigosos são: 3, 5, 8, 16, 21 e 27 minutos.

SÉRIES

Um documentário de rádio é geralmente programado como uma série. O tema é

desmembrado em vários programas, cada qual abordando um aspecto.

O importante é que cada programa tenha o seu próprio conteúdo e faça sentido

separadamente.

Para que os programas prendam a atenção do ouvinte, segmente o documentário

sempre por sub-temas e não por categoria. Mantenha sempre a pluralidade de vozes e

sons.

Page 33: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Script na Prática LESTE EUROPEU DO COMUNISMO AO CAPITALISMO, UM RETRATO DA TRANSIÇÃ0 PRODUÇÃO E REPORTAGEM: MÁRCIA DETONI

PROGRAMA 7 : SÉRVIA

DURAÇÃO: 14 minutos

FEVEREIRO 1994

CD SÉRVIA FAIXA 3 – TOCAR POR 9”/ FADE OUT

MD MÁRCIA FAIXA 1 - DUR: 25”

Entra: São dez horas da manhã...

Sai: ...vou encontrar por lá (som do trem)

CD SÉRVIA RETOMAR MÚSICA – FADE IN AOS 24” DO MD MÁRCIA

TOCAR POR 6”/ FADE OUT

NARRADOR (MÁRCIA): As sanções internacionais e o apoio do governo iugoslavo à

luta dos sérvios da Bósnia arruinaram completamente a economia do país, e a Sérvia

conseguiu bater todos os recordes históricos com uma inflação de 300 milhões por cento

só em janeiro deste ano. É isso mesmo que você ouviu: 300 milhões por cento em

apenas um mês. Nem os brasileiros, acostumados com inflação alta, conseguem

imaginar o que seja isso. Mas, uma semana antes de eu chegar a Belgrado, no início de

fevereiro, o governo introduziu um pacote econômico atrelando o dinar ao marco alemão.

A medida conseguiu estabilizar os preços, e o que eu encontrei ao desembarcar na

capital do que restou da Iugoslávia foi uma cidade aparentemente calma.

Page 34: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

MD SONS FAIXA 1 – FADE IN - TOCAR POR 3” – FADE OUT

MD MÁRCIA FAIXA 2 – DUR: 2:00

Entra: Esta é a ...

Sai: ...esse tipo de coisa

MD SONS FAIXA 2 – FADE IN ( 1:59” DO MD)

TOCA POR 8” FADE OUT

MD SÉRVIOS FAIXA 1 (34” de música) – TOCAR POR 9”/ VAI A BG

MD MÁRCIA FAIXA 3 – DUR: 16”

Entra: A Sanja está dizendo...

Sai: não se costumava vender

MD SONS SOBE MÚSICA/ TOCAR ATÉ O FIM DA FAIXA (dur: 9”)

NARRADOR (MÁRCIA) As ruas de Belgrado estão agora também cheias de músicas

nacionalistas e antigas canções sérvias. Esse nacionalismo que se vê hoje não só em

Belgrado mas em toda a antiga Iugoslávia sempre existiu, mas vinha sendo mantido sob

controle desde a Segunda Guerra Mundial pelo governo de Tito. Com a morte do

general, em 1980, o sentimento nacionalista voltou a crescer, e o colapso do comunismo

no leste europeu criou o momento para a Croácia e a Eslovênia declararem a

independência, em 1991. O Exército federal, liderado pela Sérvia reagiu atacando as

duas Repúblicas, mas foi derrotado e recuou. Em seguida, os sérvios da Croácia e da

Page 35: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Bósnia se rebelaram contra a fragmentação da Iugoslávia e começaram a lutar para

continuarem ligados à Sérvia. O apoio do presidente sérvio Slobodan Milosevic à luta dos

sérvios bósnios levou a ONU a impor um embargo comercial contra o país, que

deteriorou completamente o padrão de vida da população.

MD SONS FAIXA 3 – TOCA POR 12”– FADE OUT

NARRADOR (MÁRCIA): Nos restaurantes de Belgrado, uma minoria que ainda pode

pagar 50 dólares por uma refeição tenta esquecer a crise relembrando canções de uma

época em que a Iugoslávia era bem mais próspera. De todos os países comunistas do

leste europeu, a Iugoslávia era o que possuía o regime mais aberto. As pessoas tinham

liberdade para viajar e abrir pequenos negócios e um padrão de vida invejável, como

observa o economista Yuri Baiets, do Instituto de estudos econômicos de Belgrado.

MD SÉRVIOS FAIXA 2 – TOCA POR 7”- VAI A BG

MD MÁRCIA FAIXA 4 – DUR: 14”

Entra: Três anos atrás...

Sai: ...praticamente desapareceu.

MD SÉRVIOS SOBE SOM POR 10”/ FADE OUT

MD MÁRCIA FAIXA 5 – DUR: 18”

Entra: A população está vivendo ...

Sai: ...alimentos para a cidade.

Page 36: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

NARRADOR (MÁRCIA): Sérvia e Montenegro são auto-suficientes em produção

agrícola, e as sanções internacionais atingiram principalmente a população urbana.

MD SONS FAIXA 4 – FADE IN

TOCAR POR 5”/ VAI A BG

MD MÁRCIA FAIXA 6 – DUR: 21”

Entra: Como você pode ouvir...

Sai: ...com esse tipo de negócio

MD SONS SOBE O SOM – TOCA POR 3”/ VAI A BG

MD MÁRCIA FAIXA 7 - DUR: 29”

Entra: Mas se o trânsito...

Sai: ... que estão por aqui.

MD SONS SOBE O SOM – TOCAR POR 3”/ CROSSFADE COM MD FEIRA

MD FEIRA FAIXA 1 – TOCA POR 3”/ VAI A BG

FADE OUT NO NARRADOR

MD SÉRVIOS FAIXA 3 – TOCA POR 15”/ FADE OUT

MD MÁRCIA FAIXA 8 – DUR:

Entra: É não fui muito feliz...

Page 37: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Sai: comprando frutas....

MD SÉRVIOS FAIXA 4 – TOCA POR 7” FADE OUT

MD MÁRCIA FAIXA 9 – DUR: 20”

Entra: ela diz que...

Sai:.. acontecendo na Bósnia.

MD SÉRVIOS FAIXA 5 – TOCA POR 7” / FADE OUT

MD MÁRCIA FAIXA 10 - DUR: 22”

Entra: Esse jovem com uma cicatriz...

Sai:.. muçulmanos e croatas.

MD SÉRVIOS FAIXA 6 – TOCA POR 6”/ VAI A BG

MD MÁRCIA FAIXA 11 – DUR: 10”

Entra: Já esse senhor...

Sai: ..acabaram votando nele.

MD SÉRVIOS SOBE SOM/ TOCAR ATÉ O FINAL DA FAIXA (3”)

NARRADOR (MÁRCIA) Uma das coisas que mais me impressionaram em Belgrado foi

a resignação dos sérvios. Apesar de todas as dificuldades econômicas não há qualquer

Page 38: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

sinal de rebeldia contra o governo. Eu conversei sobre essa questão com o deputado da

oposição Vladeta Jankovic, vice-presidente do Partido Democrata da Sérvia.

MD SÉRVIOS FAIXA 7 – TOCA POR 7”/ FADE OUT

MD MÁRCIA FAIXA 12 – DUR: 20”

Entra: É preciso ter em mente...

Sai: ...em outras repúblicas.

Page 39: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

Histórias no Ar

O rádio é um excelente veículo para contarmos histórias. Mas nem todas as histórias

conseguem engajar o ouvinte e capturar a sua atenção.

As histórias que geram mais curiosidade são as que podem ser contadas numa

seqüência de ações.

Veja esse exemplo tirado do programa “This American Life”, produzido para a National

Public Radio, nos EUA:

Brett estava na plataforma do trem. Horário de pico. Estação lotada. Ele avista um

rapaz no final da plataforma. O rapaz caminha em sua direção parando, de pessoa

em pessoa, para dizer alguma coisa. É um rapaz bem vestido que parece estar

pedindo esmola. Ele chega cada vez mais perto. Vai de pessoa em pessoa,

dizendo rapidamente alguma coisa. Conforme ele se aproxima, Brett começa a

ouvir o que ele está dizendo...

A essa altura está todo mundo ligado. Por quê? A história não podia ser mais banal, mas

contém um elemento fundamental para o sucesso da narrativa:

Seqüência de ações: a história é contada numa ordem lógica

Sempre que houver uma sequência de eventos – aconteceu isso, depois aquilo... –

vamos querer saber o que aconteceu depois.

Essa história banal consegui despertar uma curiosidade: O que o rapaz estava dizendo?

E o ouvinte provavelmente vai ficar ligado até descobrir .

... e o que ele está dizendo é: “Você fica. Você cai fora. Você pode ficar. Você tem

de ir”... Quando ele chega na frente de Brett, se aproxima e diz: “Você pode ficar”.

Page 40: Universidade Mackenzie - São Paulo · História do radiodocumentário: evolução das narrativas radiofônicas - Os documentários falados surgem no final dos anos 20, por influência

E Brett sente euforia! Não há outra palavra para descrever o que Brett sente.

Euforia!!! Ele sabe, no seu íntimo, que não tem motivo para se sentir assim. Mas,

no fundo de seu coração, o fato de o rapaz ter dito que ele podia ficar o deixou

realmente feliz! É que existe alguma coisa muito forte em relação ao julgamento

que os estranhos fazem da gente. Parece que, por serem estranhos, eles têm uma

outra visão, uma visão especial, de nós...

Depois da seqüência de fatos, vem uma reflexão. E essa reflexão sobre o significado da

seqüência de atos é outro elemento importante da narrativa.

Trata-se de uma estrutura milenar de contar histórias. É a mesma estrutura de uma

parábola ou de um sermão, uma estrutura que consegue manter a atenção das pessoas

do começo ao fim.

“O Rádio é um meio peculiarmente didático. Não basta contar a história. Você tem de

explicar o que ela significa. Se a história de Brett não tivesse uma reflexão sobre o

julgamento dos outros não teria o mesmo efeito”. (IRA GLASS – produtor de “This

American Life”)