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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Orientador: Prof°. Dr. ORIVALDO PIMENTEL LOPES JÚNIOR OS BATISTAS REGULARES E AS ARMADILHAS HISTÓRICAS DO ILUMINISMO FRANCISCO JEAN CARLOS DA SILVA NATAL DEZEMBRO/2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Orientador: Prof°. Dr. ORIVALDO PIMENTEL LOPES JÚNIOR

OS BATISTAS REGULARES E AS ARMADILHAS HISTÓRICAS DO ILUMINISMO

FRANCISCO JEAN CARLOS DA SILVA

NATALDEZEMBRO/2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Orientador: Prof°. Dr. ORIVALDO PIMENTEL LOPES JÚNIOR

OS BATISTAS REGULARES E AS ARMADILHAS HISTÓRICAS DO ILUMINISMO

FRANCISCO JEAN CARLOS DA SILVA

Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais, sob a orientação do professor Dr. Orivaldo Pimentel Lopes Júnior.

NATALDEZEMBRO/2005

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PARA:JESUS CRISTO

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FRANCISCO JEAN CARLOS DA SILVA

OS BATISTAS REGULARES E AS ARMADILHAS HISTÓRICAS DO ILUMINISMO

Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como exigência parcial para obtenção do título de mestre do curso em Ciências Sociais.

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

Profº. Dr. Orivaldo Pimentel Lopes Júnior – Orientador Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Profº. Dr. José Willington Germano (Membro) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Profº. Dr. Lemuel Dourado Guerra (Membro) Universidade Federal da Paraíba – UFCG

Profº. Dr. José Antônio Spinelli Lindoso (Suplente) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

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AGRADECIMENTOS

Ao término deste trabalho, gostaria de agradecer a todas as pessoas que contribuíram direta

e indiretamente para sua realização. Em primeiro lugar agradeço ao Triúno Deus, Salvador

e Senhor de minha vida. Agradeço a minha esposa Cláudia e minhas filhas, Brena e Raquel,

que são especiais na minha vida. A meu orientador, Profº. Dr Orivaldo P. L. Júnior, por

ensinar-me a pensar e fazer ciência de modo mais acurado. Aos Batistas Regulares do Rio

Grande do Norte porque sempre disponibilizaram todo material e informações para a

construção deste trabalho. A Igreja Batista Regular do Candelária pelo apoio e confiança a

mim dispensados. Aos meus colegas que dividiram comigo as inquietações da Pós-

Graduação. Ao Grupo de Estudos da Religião: “Espiritualidade, Saber e Arte” e ao

GRECOM (Grupo de Estudos da Complexidade) pela grande contribuição dos textos

discutidos. Ao secretário da Pós-Graduação Edmilson de Jesus que de modo eficiente e

amoroso sempre nos atendeu. Aos coordenadores João Emanuel e Edmilson Lopes pela

colaboração na conclusão deste trabalho.

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RESUMO

Tomando como campo de pesquisa as Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte, o

trabalho procura contribuir para uma nova visão mais acurada do novo quadro da

religiosidade protestante brasileira. Instaladas desde 1938, as Igrejas Batistas Regulares têm

representado e produzido seu discurso através de suas 58 igrejas espalhadas pelo estado,

além de contar com uma Escola Teológica, dois Acampamentos, uma Associação

(AIBRERN) e uma Casa de Assistência Espiritual aos Dependentes de Drogas (CAEDD).

Uma reflexão sobre o substrato simbólico da espiritualidade do grupo acompanha a

descrição externa de sua presença no RN. Entendemos que os Batistas Regulares

representam mais uma tradução de um discurso religioso da modernidade e que seu

enfoque é a herança de um fundamentalismo cristão pautado pelo racionalismo iluminista.

Assim, observamos esse agrupamento procurando encontrar em suas doutrinas, práticas e

regras de condutas, uma demonstração de que o espírito da pós-modernidade desafia o

grupo a uma nova dinâmica no modelo conservador de sua espiritualidade.

Palavras-Chave: Modernidade; Fundamentalismo; Doutrina e Batistas.

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ABSTRACT

Taking the Regular Baptist Churches of Rio Grande do Norte as the research field, this

paper seeks to contribute to a new, more appropriate vision of the new picture of the

religiosity of the Brazilian Protestantism. Established since 1938, the Regular Baptists

Churches have been representing and producing their speech through their 58 churches

spread throughout the state, besides a Theological School, two camps, an association

(AIBRERN) and a House of Spiritual Assistance to Drug Dependents (CAEDD). A

reflection of the symbolic substratum of the spirituality of the group agrees with the

external description of its presence in RN. We understand that the Regular Baptists

represent yet one more translation of a modern religious speech and that their focus is on

the inheritance of a Christian fundamentalism based on the illuminist rationalism. In this

way, we observed this group trying to find in its doctrines, practices and rules of conduct a

demonstration that the spirit of the post-modernism challenges the group to new dynamics

in the conservative model of its spirituality.

Key words: Modernism, Fundamentalism, Doctrine and Baptist.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

Metodologia e Pesquisa de Campo.............................................................................02

1 A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS BATISTAS REGULARES

1.1 Os Batistas na Inglaterra......................................................................................07

1.2 Os Batistas nos Estados Unidos..........................................................................11

1.3 Os Batistas no Rio Grande do Norte...................................................................15

2 FUNDAMENTALISMO E OS BATISTAS REGULARES

2.1 Origem do Fundamentalismo.............................................................................34

2.2 Fundamentalismo e o Evangelicalismo..............................................................41

2.3 Fundamentalismo e o Engajamento Político......................................................44

2.4 A Crise do Fundamentalismo.............................................................................46

3 CRISTIANISMO E MODERNIDADE NOS BATISTAS REGULARES

3.1 Cristianismo.......................................................................................................53

3.2 Modernidade......................................................................................................57

3.3 Os Batistas Regulares e a influência do iluminismo..........................................62

4 TENSÕES NOS BATISTAS REGULARES

4.1 Batistas Regulares e o Núcleo Duro..................................................................66

4.2 Batistas Regulares e a Baixa Complexidade.....................................................69

4.3 Batistas Regulares e o Rito...............................................................................74

5 CONCLUSÃO......................................................................................................76

6 REFERÊNCIAS..................................................................................................80

7 APÊNDICES.......................................................................................................85

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INTRODUÇÃO

Os formidáveis desenvolvimentos científicos e técnicos não causaram o declínio das religiões nem a morte dos mitos (MORIN).

Diante de um quadro em mudanças do mundo contemporâneo, especificamente no perfil

religioso do protestantismo brasileiro, as novas expressões de espiritualidade assumem novos

contornos. Com relação a esse aspecto, se faz importante entender quais foram e como ocorreram as

alterações na espiritualidade das Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte em suas relações

internas e externas na segunda metade do século XX.

Diante da pujança dos estudos da religião na atualidade, se faz necessário a Universidade

Federal do Rio Grande do Norte embarcar nesse processo para compreender as mudanças do novo

perfil religioso do protestantismo brasileiro. Os estudos da religião têm acontecido no mundo inteiro,

dezenas de agências acadêmicas de estudo, associações e sociedades de pesquisadores realizam

anualmente vários congressos, conferências, consultas, encontros e simpósios locais, regionais,

nacionais, continentais e mundiais de estudos da religião. Só a título de ilustração, citamos as

seguintes entidades: a Association for the Sociology of Religion (ASR), a Religions Research

Association (RRA), a Religions Research Fellowship (RRF), Society for the Scientific Study of

Religion (SSSR) e Sociological Research Association (SRA), além do vasto material publicado

mundialmente, tais, como, The Review of Religions Research (desde 1959), o Journal for the

Scientifc Study of Religions (JSSR), Journal of the American Academy of Religions (desde 1932). A

Academy também publica o Religious Studies News, um jornal tablóide de 40 páginas, que tem por

objetivo buscar a comunicação e eventos, anúncios, datas e lançamentos de estudos acadêmico da

religião, especialmente daquelas ligadas às sociedades de estudos avançados no campo da religião.

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Também temos o Instituto de Estudos da Religião, com sede no Rio de Janeiro, que publica uma

série de periódicos, sendo o mais famoso Religião e Sociedade1.

Ao utilizar o conceito de parcerias cognitivas poderemos através deste trabalho ter a

possibilidade de conhecer junto para auto-criticar o discurso dos Batistas Regulares que pousa sob as

premissas de um fundamentalismo cristão. Também este trabalho se faz importante para um futuro

aprofundamento que possibilite uma reflexão mais apurada do substrato simbólico da espiritualidade

dos Batistas Regulares.

Devido à ausência de trabalhos acadêmicos sobre os Batistas Regulares no Brasil, se faz

importante esta pesquisa porque mostra a construção de uma compreensão parcial do quadro da

religiosidade brasileira, como também esta produção de conhecimento problematizará reflexões

fundamentais acerca da relação entre espiritualidade, valores humanos e compreensão de mundo

neste início de século.

Essa empreitada possibilita compreender a idéia de que um fluxo missionário tardio dos

Batistas Regulares no Brasil e no mundo dá-se por uma incompreensão da história desse grupo. Os

Batistas Regulares eram Batistas que faziam parte da grande Convenção Batistas dos EUA, que em

1882 enviou o casal Bagby à Bahia e, por isso, davam-se por satisfeitos com o crescimento

missionário dos Batistas da Convenção, da qual faziam parte no Brasil e no mundo realizado pela

junta de missões de Richmond, Virginia, USA.

Somente em 1932, devido à controvérsia sobre o Liberalismo e o Fundamentalismo no

seio da Convenção Batista dos EUA, os Batistas Regulares se organizaram como um grupo separado

daquela convenção por optar pela posição fundamentalista. A partir de então, sentem os Batistas

Regulares que deveriam (como um grupo recém-nascido) iniciar seu trabalho missionário no mundo

1 Ver projeto de pesquisa da base de pesquisa Religião e Sociedade: Espiritualidade, Saber e Arte. Coordenado pelo professor Dr Orivaldo Pimentel L. Júnior da UFRN.

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como um grupo Batista Conservador, em contraposição ao grupo batista já estabelecido no campo

missionário.

Esta pesquisa nasceu do interesse preliminar de observar as novas formas de

espiritualidade que foram e são simbolicamente representadas ao longo das últimas cinco décadas do

século XX. Observamos esse agrupamento religioso através de entrevistas, questionários, análise de

documentos e leituras sobre sua história. Analisamos essa tradição, que não permaneceu intocável,

através de elementos metodológicos que nos possibilitou verificar as hipóteses por nós levantadas.

As Igrejas Batistas Regulares, instaladas em 1944 em solo potiguar, têm representado e produzido

seu discurso através de suas 58 igrejas espalhadas pelo estado, além de contar com uma escola

teológica, dois acampamentos, uma escola de ensino fundamental, uma associação, um trabalho com

crianças de rua e uma casa de assistência aos dependentes de drogas.

Tentaremos compreender as relações do cristianismo e a modernidade relacionando com

a prática dos Batistas Regulares. Pretendemos neste trabalho defender a idéia de que apesar das

novas configurações no perfil do protestantismo brasileiro, os Batistas Regulares reproduzem uma

expressão religiosa típica da modernidade. Trabalhamos no primeiro capítulo sobre a trajetória

histórica dos Batistas, tentando encontrar uma explicação que melhor demonstre a origem desse

povo, para que o leitor possa ter o conhecimento histórico sobre o campo de análise observado. No

segundo capítulo apresentamos a temática do fundamentalismo, pois os Batistas Regulares do Rio

Grande do Norte se intitulam como aqueles que continuam na defesa dos fundamentos essenciais das

Escrituras que foram postulados, promovidos e defendidos no início do século XX. Também

mostramos nesse capítulo várias temáticas relacionadas com o fundamentalismo e seu conceito

original e atual. Já no terceiro capítulo, apresentamos que os Batistas Regulares são uma expressão

religiosa da Modernidade. Trabalhamos o desenvolvimento do cristianismo e o conceito de

modernidade relacionando com a postura de nosso campo de análise. O quarto capítulo mostra as

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tensões dos Batistas Regulares. Utilizamos dados recolhidos durante a pesquisa e fazemos uso de

alguns aportes teóricos, como Edgar Morin, que faz comentários que poderão ser pertinentes para

compreendermos melhor a situação das relações humanas acontecidas no âmbito desse grupo.

A proposta de análise aqui exposta tem como eixo central o pressuposto de que os

Batistas Regulares como uma expressão da modernidade têm encontrado dificuldades em adaptar-se

às novas configurações do quadro religioso atual, que parece ser marcado pelo espírito pós-moderno.

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1 - A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS BATISTAS REGULARES2

1.1 – Os Batistas na Inglaterra

Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno (II Coríntios 4:18).

Os Batistas Regulares defendem a crença de que suas raízes históricas estão fincadas nas

práticas bíblicas do Novo Testamento, porém, pelo que tudo indica, ele deriva do ramo batista que

apareceu no cenário religioso do cristianismo, na primeira metade do século XVII, a partir dos

movimentos separatistas da Inglaterra, em contato com o movimento da Reforma Radical em curso

na Europa Continental.

No discurso dos principais teólogos do movimento, como Clarence Walker “os batistas

são a mesma seita dos cristãos que antes foram descritas como anabatistas3. Realmente parece ter

sido o seu princípio dominante desde o tempo de Tertuliano até o presente”. O professor H. Leon

Mcbeth admite a teoria do surgimento dos batistas à influência dos anabatistas. Thomas Crosby, em

sua obra “História dos Batistas Ingleses” e J. M. Carroll, no livro “Rasto de Sangue” defendem a

teoria conhecida como Seqüência Ininterrupta, chamada como a teoria JJJ, uma alusão à tríade João

Batista, Jordão e Jerusalém. De acordo com essa teoria, os batistas vêm de uma seqüência

ininterrupta de grupos cristãos dissidentes da Igreja Católica Romana que, ao longo de toda a Idade

Média, permaneceram separados da Igreja oficial e, apesar de adotar nomes diferentes, defendiam as

principais doutrinas geralmente aceitas hoje por todos os batistas. Possivelmente, como não há

evidência documentária para defender as duas teorias anteriores, esse discurso reveste-se de caráter

fundante para a constituição mítica do grupo. Pode ser mais plausível relatar que os batistas

2 Foto: Adelaide e Carl Matthews fundador dos Batistas Regulares do Rio Grande do Norte. 3 Anabaptistas (re-batizadores, vem dos vocábulos grego: “Ana e Baptizo”; em alemão: “wiedertäufer”) foram os cristãos da chamada “ala radical” da Reforma Protestante. São assim chamados porque os convertidos eram batizados em idade adulta, até mesmo aqueles que já tivessem sido batizados quando criança. Os Anabatistas só consideravam o verdadeiro batismo quando as pessoas tinham se convertido conscientemente a Cristo. (http://pt.wikipedia.org/wiki/protestantismo-Acesso em: 10/08/2005 às 14:29 h).

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historicamente vieram do separatismo inglês provocado por Henrique VIII, quando resolveu romper

com a Igreja Católica Romana. Essa reforma promovida pelo rei assumiu um caráter político em

função de que o controle de muitas propriedades por parte da Igreja Romana e os impostos papais

enviados para Roma faziam frente com os interesses do reino inglês. Por esta razão, a reforma na

Inglaterra começou como um movimento político, prosseguiu como um movimento religioso,

terminando no governo da rainha Elisabeth, em meados do século XVI. Devido à enorme extensão

da colonização britânica, ela se expandiu por todo o mundo. No contexto dessa reforma, o rei

Henrique VIII fez nascer a Igreja Anglicana, da qual surgiram dois grupos dissidentes, os puritanos e

os separatistas. O primeiro pretendia purificar a igreja da Inglaterra de seus “males”. Estes aceitavam

a doutrina oficial da Igreja Anglicana, mas não toleravam as pompas, cerimônias e o relaxamento

dos costumes. Adotavam uma forma rígida de cristianismo que a alegre corte de Londres não podia

suportar.

Já os separatistas, que também não estavam satisfeitos com a igreja, queriam ter igrejas

independentes do Estado e cultuar a Deus com liberdade. Então, por não conseguirem tais mudanças,

emigraram para Amsterdã, na Holanda. Foram liderados por John Smyth em 1607, quando na

ocasião receberam forte influência dos anabatistas. Os anabatistas possivelmente surgiram na

Alemanha e na Suíça, na segunda metade do século XVI, depois se espalharam pela Europa, como a

Itália, Holanda, Moravia e Inglaterra. Há várias teorias acerca do surgimento dos anabatistas. A

primeira diz que sua origem está escondida nas profundezas da antiguidade e é, portanto,

extremamente difícil de ser verificada, pelo fato de que os anabatistas surgiram como que de repente

em vários lugares do continente europeu, indicando a existência desse grupo através dos tempos. A

segunda faz os anabatistas descenderem em linha direta dos movimentos pré-reformadores

medievais. Finalmente, a teoria que parece mais aceitável é a de que os anabatistas começaram em

Zurique, na Suíça, quando Conrado Grebe (1498-1526), ex-estudante da universidade de Viena e

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Paris, discordou de seu mestre Zuínglo sobre o batismo infantil, falando com veemência de que tal

prática era um erro, pois somente pessoas em condições de professarem a fé e realmente regeneradas

poderiam ser batizadas. Muitos que aderiram a esse discurso foram perseguidos pelos aparelhos

dominantes da época, a ponto de alguns serem afogados em Limmont, Zurique, em 1527. Também,

destacam-se outros anabatistas como: Baltasar Hubmaier, Meno Simons e Miguel Satter, um ex-

beneditino que foi executado no dia 20 de maio de 1527 na cidade de Rotemburgo sob algumas

acusações como: ensinar e crer que o batismo infantil não dá salvação; desprezar e aviltar a mãe de

Deus e condenar os santos; ensinar e crer que o corpo e o sangue de Cristo não estão presentes no

sacramento e ter dito que se os turcos invadissem o país, não se lhes deveria oferecer resistência. Em

seu termo de sentença, encontramos:

Miguel Satter devera ser entregue ao carrasco. Este o levará até a praça e aí primeiro lhe cortará a língua. Depois o amarrará a uma carroça e com tenazes incandescentes tirará, por duas vezes, pedaços de seu corpo. Em seguida, a caminho do lugar da execução fará isso cinco vezes mais e depois queimará seu corpo até o pó como um arqui-herege (PEREIRA, 1979: p. 59).

As doutrinas principais dos anabatistas eram: igrejas formadas somente de crentes

regenerados e batizadas após a profissão de fé; separação do Estado e independentes entre si; a ceia

era um ato memorial da morte do Senhor Jesus; a Bíblia era autoridade suprema em matéria de fé e

prática, e eram pacifistas.

Em 1611, Thomas Helwys e mais dez companheiros da congregação independente de

Smyth voltaram para Inglaterra e organizaram a primeira Igreja Batista na Inglaterra, num lugar

chamado Spitalfields, perto de Londres. Com o crescimento numérico do agrupamento batista,

surgiram novas igrejas que foram chamadas de Batistas Gerais, devido a sua doutrina que sustentava

uma expiação geral para todos os homens. A trajetória histórica do cristianismo dos batistas

demonstra a paixão batista pela liberdade através de seus líderes como Thomas Helwys que

“advogava explicitamente a completa liberdade religiosa, não somente para seu próprio grupo

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religioso, minoritário na época, mas para todos os demais, inclusive os não-cristãos e os ateus”

(SHURDEN, 2005: p. 12). Esse entendimento sobre a liberdade religiosa como sendo uma das

principais motivações da fundação dos batistas ajuda a compreender os batistas da atualidade como

um cristianismo com suas diversidades de interpretações e divisionismos.

A paixão batista pela liberdade é uma das principais razões pelas quais há tanta diversidade na vida batista. Os batistas divergem, e suas diferenças são freqüentemente amplas e profundas. Mas isso sempre foi assim. Já no princípio da vida batista, na Inglaterra do século XVII, por exemplo, os batistas surgiram como dois grupos teológicos separados e bastante distintos, chamados Batistas Gerais e Batistas Particulares (SHURDEN, 2005: p. 18).

Segundo o pensamento de Walter Shurden, o papel do povo batista está fundamentado em

quatro liberdades: a liberdade da Bíblia, ou seja, ela é o parâmetro central da vida do indivíduo e da

igreja. Sendo que cada indivíduo é livre para estudar e obedecer a Escritura; a liberdade individual

em que cada pessoa é livre para se relacionar com Deus sem a imposição de credos, cleros ou

governo civil; a liberdade da igreja, entendida como uma liberdade para organizar seus trabalhos

sem imposição de uma ordem superior e a liberdade religiosa, compreendida como a separação da

Igreja do Estado, princípio fundamentado nas palavras de Jesus Cristo: “Daí, pois, a César o que é

de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21).

Pregando na escadaria leste do edifício do Congresso Americano, em 16 de maio de 1920, Truett disse que a palavra de Jesus sobre dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus foi uma das mais revolucionárias e historicamente transformadoras declarações ditas pelos seus lábios divinos. Aquela declaração, disse Truett, de uma vez por todas marcou o divórcio entre Igreja e o Estado. Ele falou da necessidade de que a doutrina de uma igreja livre num estado livre tenha aceitação universal (SHURDEN, 2005: p. 62).

A herança batista de liberdade religiosa assume um caráter diferenciado da tolerância

religiosa que é apenas uma concessão. A liberdade religiosa defendida pelos batistas oferece o

direito ao outro de crer ou não crer. Embora não concorde com outros credos religiosos e até não

simpatizem. Esse grupo essencialmente é contrário a todas as formas de coerção ou perseguição

religiosa.

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Em 1633, houve uma cisão nas igrejas Batistas da Inglaterra, quando se formou um grupo

separado que recebeu o nome de Batistas Particulares, pois, diferentemente dos Batistas Gerais,

acreditavam que a salvação era exclusivamente para os eleitos por Deus. Somente depois de muitos

anos, em 1891, esses grupos se uniram. Já aqui se faz presente o espírito da modernidade que não

aceita a convivência de teorias divergentes sob o mesmo teto.

1.2 – Os Batistas nos Estados Unidos

Apesar das mudanças promovidas pela transição da pré-modernidade para modernidade,

a Europa no início do século XVI ainda sofria com a intolerância religiosa, fato esse que contribuiu

para os batistas chegarem no início do século XVII em solo norte-americano. Presumivelmente em

março de 1639, com onze membros fundadores foi organizada a primeira Igreja Batista no atual

Estado Rhode Island por Roger Willians, um britânico emigrado para América do Norte, foi o

principal responsável pelo estabelecimento das Igrejas Batistas nos Estados Unidos.

No final do século XVII e começo do XVIII, existia uma longa cadeia de colônias

britânicas na América do Norte que foram fundadas, em parte, por motivos religiosos. Essas

parecem que tentaram adotar a liberdade de consciência como alternativa viável à intolerância

religiosa que tanto sangue havia custado na Europa. Através do século XVII, os batistas foram

severamente perseguidos em todas as colônias na Nova Inglaterra, com exceção de Rhode Island que

havia liberdade religiosa. Essas perseguições incluíram prisões, multas, açoites ou deportação. A

causa da perseguição dos batistas foi devido a sua insistência na liberdade da consciência, separação

completa da igreja do Estado e a rejeição do batismo infantil. Além disso, fatores como o regime

escravista, as grandes plantações e a exportação dos índios ofuscaram o fervor religioso do

protestantismo colonial. Devido a esse esfriamento, a partir de 1734 surgiu um movimento chamado

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de “Grande Avivamento”, que em sua fase inicial foi promovido pelo pastor congregacionalista

Jonatham Edwards, formado com 17 anos pela Universidade de Yale em 1720. Sua pregação

influenciou os estados de Massachusetts e Connecticut. Quatro anos depois George Whitefield

promoveu o “avivamento” em outros estados. Edwards, Whitefield e alguns presbiterianos pregavam

com um novo brio em suas próprias igrejas, mostrando a necessidade de uma experiência pessoal de

conversão. Pecadores se arrependiam de seus pecados em meio a lágrimas e gritos de entusiasmos

por receberem o perdão de seus pecados. Eram experiências que davam um novo sentido ao culto e à

doutrina cristã.

Muitos presbiterianos e congregacionalista que tinham sido levados pelo “avivamento”

acabaram por negar o batismo de criança tornando-se batistas. Devido ao espírito do “grande

avivamento” os Batistas e Metodistas passaram a ser os mais numerosos nas treze colônias

americanas. Possivelmente, esse movimento contribuiu para a criação de um sentimento comum

entre as colônias que, aliado a uma série de mudanças políticas na Europa e nos interesses da pujante

burguesia, impulsionou os delegados das treze colônias a decidirem, no congresso continental em

Filadélfia, proclamar sua independência da coroa britânica, em 4 de julho de 1776.

No fim do século XVIII e durante o século XIX, desencadeou-se uma grande onda

imigratória da Europa para os Estados Unidos. Isso aconteceu devido às guerras napoleônicas, às

convulsões sociais causadas pela industrialização, à tirania de alguns regimes e à disponibilidade das

grandes extensões de terra ao ocidente da nova nação. Assim, a nação norte-americana recebeu

imigrantes de vários credos religiosos: católicos, luteranos, menonitas, morávios, husitas, ortodoxos

gregos e russos, etc. Todos fizeram parte do complicadíssimo caleidoscópio religioso dos Estados

Unidos. O século XIX foi também marcado pela atitude de pessoas que se opunham à imigração

ilimitada de católicos, alegando que a democracia norte-americana de origem protestante era

incompatível com o catolicismo romano. Essas idéias reacionárias contribuíram para surgir no

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cenário da sociedade o grupo xenófobo Ku Klux Klan4, que defendia a idéia de uma nação branca,

protestante e democrática. Conseqüentemente, perseguiram os negros, católicos e judeus.

Os negros que a organização caçava, ou aqueles que se confraternizavam com eles –

políticos e pastores incluídos tinham os cabelos raspados, eram marcados na testa com três iniciais

klânicas, açoitados ou ainda cobertos por asfalto, no qual enfiavam-se plumas. Apresentando-se

como guardiã da moralidade pública, a Klan punia as mulheres adúlteras, os médicos charlatões, as

prostitutas e os marginais. O cenário era repleto de crimes assustadores, como o de “justiçados”

moídos por um trator (BLANRUE, 2005: p. 59).

Esse movimento terrorista ocidental, estadunidense, se originou em Stone Mountain,

quando Simons e quinze amigos subiram a montanha, construíram apressadamente um altar de

pedras e colocaram sobre ele uma bandeira americana, uma Bíblia aberta, uma espada

desembainhada e um cantil de água. Ao lado, erigiram uma cruz de madeira e atearam-lhes fogo.

Então, sob aquela luz das chamas, todos se ajoelharam e fizeram o sagrado juramento de fidelidade

ao Império Invisível. Mesmo com os avanços tecnológicos promovidos na modernidade, o

sentimento de ódio e intolerância faz parte do “menu” de alguns grupos religiosos, configurando-se

racismo e religião dentro de um único kuklos. Infelizmente, hoje ainda sobrevive forte e

influenciadora as idéias da Ku Klux Klan.

A postura dos batistas sobre a questão da escravatura pareceu ambígua, porque

inicialmente não expulsaram de seu meio as pessoas que insistiam em ter escravos, porém,

paradoxalmente, sustentavam posturas abolicionistas. Em 1814, foi formada a Convenção Geral

Missionária da Denominação Batista dos Estados Unidos do Norte (também chamada de Convenção

Trienal) que tinha como propósito a realização de missões estrangeiras. Em 1845, a Convenção

4 Egresso do Center College do Kentucky, Kennedy adotou a palavra grega kuklos, que significa “círculo”. Crowe a dividiu em dois e mudou o final, chegando a “Ku Klux”. Observando que os fundadores eram de origem escocesa, Lester propôs acrescentar ao nome uma evocação ao “clã”, em harmonia com a ortografia adotada. (BLANRUE, Paul Eric. Revista História Viva, Ano II, nº 21, julho de 2005, p.54)

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Trienal mudou seu nome para União Missionária dos Batistas Americanos. Durante os primeiros

anos do século XIX, o sentimento anti-escravagista foi se concentrando no Norte, enquanto que no

Sul a economia dependia da escravidão em grau muito maior, começou-se a buscar justificativas

para continuá-la. Em 1857, os batistas negaram comissionar uma pessoa recomendada pela

Convenção da Geórgia, que tinha escravos. Então, os batistas desse estado e do resto do Sul se

reuniram em Augusta, Geórgia, para formar a Convenção Batista do Sul. Assim, nessas

circunstâncias, as igrejas do Sul preferiram permanecer separadas das do Norte com suas práticas

racistas.

A Convenção Batista do Norte era uma das maiores representações do protestantismo

norte-americano. Pautados pelo escopo doutrinário legado pelo fundamentalismo cristão do início do

século XX, os batistas convencionais não estavam preparados para as novas configurações que o

cenário religioso apontava na Europa e influenciava diretamente as crenças essenciais defendidas

pelos convencionais, especialmente a chamada ala mais tradicional.

Para o norte americano Robert Delney:

A Convenção do Norte em 1922 precisava de uma declaração doutrinária. O materialismo, racionalismo, pietismo, criticismo da Bíblia e o evolucionismo foram idéias que penetraram na Convenção. Em 1925 muitos batistas não aceitaram essas idéias e tentaram modificar o quadro que ameaçava os fundamentos essenciais da fé cristã. Depois de muitos debates, colocamos em votação a proposta para expulsar os liberais de nosso meio e perdemos de 740 a 560 votos. Então saímos da Convenção e organizamos uma nova associação. (Informação obtida em entrevista realizada no dia 08/07/2003).

A nova associação de que falou Robert Delney recebeu o nome de Associação Geral de

Igrejas Batistas Regulares. Assim, “o nome regular apareceu no contexto histórico como sinônimo

de conservador em suas doutrinas e práticas” (LIMA, 1997: p 27). Então, poderemos sugerir que o

termo regular designa um grupo de igrejas Batistas que se separaram da Convenção Batista do Norte

dos Estados Unidos, em 1932. A formação da Associação Geral das Igrejas Batistas Regulares

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aconteceu na Igreja Batista de Belden Avenue, Chicago, com a presença de 34 representantes de oito

estados. Harry G. Hamilton, pastor da primeira Igreja Batista de Buffalo, Nova York, foi eleito

presidente da Associação. Em 1950, as organizações aprovadas pela associação eram: Associação

Batista para Evangelização Mundial (ABWE); o Concílio Geral das Missões Batistas Cooperativas

da América do Norte (MID-MISSIONS); Missões Cristãs Batistas; Missões Batistas Independentes

da Terra de Hiawatha e a Sociedade Batista para Missões Nacionais. Em 1950, já havia 567 igrejas

afiliadas à Associação com um total de mais de 97.000 membros. Havia oitocentos missionários no

campo estrangeiro que vieram dos membros destas igrejas associadas. As ofertas missionárias, em

1949, chegaram a US$ 1. 737.027. Em 1962, já existiam mais de mil igrejas afiliadas à Associação

Geral de Igrejas Batistas Regulares.

1. 3 - Os Batistas Regulares no Rio Grande do Norte

Em 1860 Thomas Jefferson Bowem, missionário enviado ao Brasil pela Junta de

Richmond, associação de igrejas Batistas do Sul dos Estados Unidos, aportou na cidade do Rio de

Janeiro. Porém foi impedido pelas autoridades de propagar a doutrina Batista no Brasil. Então

Bowen acabou ficando no país por apenas nove meses. Com a Guerra de Secessão (1859-1865) entre

os estados do Norte e do Sul dos Estados Unidos, milhares de imigrantes americanos vieram para o

Brasil, estabelecendo principalmente em Santa Bárbara D’Oeste, Piracicaba e Americana, no interior

paulista.

Depois de várias tentativas de implantarem o cristianismo evangélico em solo brasileiro,

em 1871, em Santa Bárbara, São Paulo, foi fundada a 1ª Igreja Batista entre os americanos. Somente

em 1882, no dia 15 de outubro, aconteceu a organização da primeira igreja Batista voltada para os

brasileiros, localizada na rua Maciel de Baixo,43, no centro de Salvador, cidade que tinha seus 250

mil habitantes, a segunda cidade do Brasil em população. A Igreja foi fundada pelos missionários

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William Bagby e Zacarias Taylor e o ex-padre católico Antônio Teixeira de Albuquerque que tinham

chegado à Bahia, no dia 31 de agosto de 1882, com suas famílias.

Os primeiros evangélicos no Rio Grande do Norte a fundarem uma igreja foram os

presbiterianos, em 1885, em Mossoró. Depois vieram os batistas, que em 1896 iniciaram uma Igreja

Batista em Natal, que só se manteve por 10 anos. Essa Igreja se reorganizou no dia 13 de maio de

1919 como a 1ª Igreja Batista de Natal. Depois vieram “a Segunda Igreja Batista do Natal, em 1933;

a Primeira Igreja Batista de Mossoró, em 1944; a Igreja Batista de Nova Cruz, em 1947 e a Igreja

Batista de Parnamirim, em 19485. Somente em 14 de abril de 1949 foi organizada a Convenção

Batista Norte Rio Grandense, em Natal6. Essa Convenção hoje conta com 70 igrejas espalhadas em

solo potiguar. Além dos Batistas da Convenção também apareceram em solo potiguar os Batistas

Independentes e os Batistas do Sétimo Dia nas décadas de 40 e 50. Em 1938, chegaram ao Rio

Grande do Norte os Batistas Regulares. Eram liderados pelo reverendo Carl F. Matthews, da

“Gospel Furtherance Band Inc” de Appleton, Nova York.

Tivemos a oportunidade de entrevistar Ricardo Mateus, filho do casal de missionários

fundadores, o qual nos contou que:

Meus pais vieram para o Brasil em 1932 para o estado da Paraíba. Em 1933 ou 34 mudaram-se para Maranguape, Ceará. Depois de terem ido para os Estados Unidos voltaram para São José do Mipibu em 1938, onde a primeira igreja de nossa associação (Associação de Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte) foi estabelecida em 1939. No início da construção da base aérea em Parnamirim, o governo americano pôs pressão sobre ele para ser o intérprete principal e organizar os escritórios na base. Ele trabalhou ali por seis anos. O Senhor usou isso para a divulgação do Evangelho no estado e outros lugares no Brasil (Ricardo Mateus, filho de Carl Matheus, em depoimento exclusivo para essa pesquisa em 08/01/2005).

A Igreja Batista de São José do Mipibu foi organizada no dia 30 de setembro de 1939.

Na ocasião, recebeu o nome de Igreja Batista Independente, e não Batista Regular. Somente em

5 Informação obtida do livro: Mensageiro da Convenção Batista Norte Rio Grandense, p. 251. 6 Informação obtida na ata de fundação da Convenção Batista Norte Rio Grandense, de 14/04/1949.

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1944, quando o casal Adelaide e Carl Matthews ingressou na Association Of Baptists For Word

Evangelism (ABWE), a igreja recebeu o nome de Batista Regular. O termo regular, no seu sentido

etimológico, é uma palavra que vem do latim “regulare”. O dicionário Aurélio B. de Holanda

Ferreira expressa o seu significado básico como: “conforme às leis, às normas, às regras, às praxes”.

Já o significado histórico da palavra regular surgiu entre os holandeses em Nova Jerssey em reação

ao “grande avivamento,” de 1726, nos Estados Unidos. Esse movimento era caracterizado pelos

elementos “sensacionalistas e carismáticos”, os novos ritos e novas configurações usados por George

Whitefield, um metodista calvinista inglês, e por Jonathan Edwards, um pastor congregacional

avivalista. Assim, as igrejas batistas que não deram apoio ao movimento avivalista foram

denominadas de “regulares” ou “velhas luzes”.

Adelaide e Carl Mattews fundador dos Batistas Regulares no RN

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1º Igreja Batista Regular do RN – São José do Mipibu, fundada em1939.

As conseqüências dos investimentos no envio de missionários para propagação dos

credos do protestantismo norte americano resultaram na instalação de várias igrejas no Brasil e,

conseqüentemente, em solo potiguar, como os Batistas Regulares que estão presentes na sociedade

através de suas 58 igrejas distribuídas em 40 municípios dos 167 do Estado.

Batistas Regulares em 40 municípios do RN

Além das igrejas, os Batistas Regulares contam com a escola teológica Seminário

Instituto Batista Bereiano (SIBB), a Casa de Assistência aos Dependentes de Drogas (CAEDD), os

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acampamentos Elim e Momentos de Paz, a Associação Feminina, a Associação Missionária

Evangélica Nacional (AMÉN), o ministério com crianças de rua e o apoio das missões estrangeiras:

Association of Baptists for Word Evangelism (ABWE), Baptists Mid-Missions (MID-MISSIONS) e

a Missão Evangélica Amazonas (MEA). Essas entidades são afiliadas a Associação de Igrejas

Batistas Regulares do Rio Grande do Norte (AIBRERN).

A escola teológica nasceu com o nome de Instituto Bíblico Batista no dia 07 de março de

1950, na cidade de São José do Mipibu-RN. Essa entidade foi fundada por Carl Mathews. Em 1952,

o Instituto mudou-se para sua nova sede, no acampamento Elim, na Lagoa do Bonfim, município de

Nísia Floresta.

Em 1954, aconteceu a mudança dessa escola teológica para uma casa alugada em Natal

na Av. Junqueira Ayres e depois para outra casa na Avenida Hermes da Fonseca. Somente em 1957,

foram inauguradas as novas dependências da escola na Av. Hermes da Fonseca, com o nome de

Seminário e Instituto Batista Bereiano, nome que permanece até hoje. Atualmente essa escola

funciona na Av. Alenxandrino de Alencar, 1630.

Escola Teológica dos Batistas Regulares – 1950

Município de São José do Mipibu-RN

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Escola Teológica dos Batistas Regulares em Bom Fim – 1952

Município de Nísia Floresta

Escola Teológica dos Batistas Regulares – 1957

Av. Hermes da Fonseca – Natal/RN

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Escola Teológica dos Batistas Regulares em Natal – 1963

Bairro Tirol

Escola Teológica dos Batistas Regulares em Natal – 2005

Av. Alexandrino de Alencar, 1630.

A Casa de Assistência Espiritual aos Dependentes de Drogas (CAEDD), fundada pelo

missionário Leon Franklin Small, em 17 de maio de 1989, é uma entidade civil, sem fins lucrativos e

duração por tempo indeterminado, com sede situada na rua João da Fonseca Neto, nº 556, bairro

Passe e Fica, em Ceará-Mirim/RN. Essa instituição tem como finalidade a recuperação de pessoas,

independentemente de raça, cor, sexo ou religião.

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A Casa de Assistência Espiritual para Dependentes de Drogas tem por finalidade a

recuperação através de uma assistência espiritual, médica e social do drogado, e realizar um trabalho

de evangelização com a intenção de conduzir as pessoas ao conhecimento de Jesus Cristo como

Senhor e Salvador de suas vidas, o qual, segundo a visão desse grupo, pode tornar o indivíduo pleno

da capacidade de viver em sociedade, sendo útil a si e ao meio em que vive.

Refeitório da CAEDD – 2005

Ceará Mirim/RN

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Campo de Terapia da CAEDD – 2005

Ceará Mirim/RN

O Acampamento Elim, localizado na Lagoa do Bom Fim, município de Nísia Floresta,

oferece um lugar de notável beleza. Inicialmente o patrimônio desse acampamento foi adquirido pelo

missionário Carl Mattews, em 1939, do Sr. João Became Dantas, por 5.000 réis. Em 1946, a metade

desse patrimônio foi vendida à Missão ABWE e, posteriormente, a outra metade foi doada pela

esposa do missionário Carl Mattews, dona Adelaide, a mesma missão. O teólogo Batista Regular

Randy Cook descreveu o Elim como: “Uma porção de felicidade no litoral do lindo lago, em Bom

Fim, foi adquirida por Carl Matthews, em 1948. O Acampamento Bom Fim é o primeiro

acampamento Cristão organizado no Brasil”7.

7 A piece of property on the shore of beautiful lake Bom Fim was acquired by Carl Matthews, and the first camp was held there in 1948. Camp Bom Fim is the first organized Christian camp in Brazil (COOK. 1980: p. 3).

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Refeitório do Acampamento Elim - 2005

Município de Nísia Floresta

Dormitório do Acampamento Elim - 2005

Município de Nísia Floresta

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Praia do Acampamento Elim - 2005

Município de Nísia Floresta

Tabernáculo do Acampamento Elim - 2005

Município de Nísia Floresta

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O Acampamento Momentos de Paz está situado na praia de Morro Pintado, município de

Areia Branca. Semelhantemente ao Elim, oferece durante o ano atividades recreativas e religiosas.

Esse acampamento foi fundado no final da década de 70 pelo missionário Robert Flanklim.

A Associação Feminina dos Batistas Regulares foi fundada em 1975 com a finalidade de

promover a edificação espiritual através de dois encontros anuais das mulheres batistas regulares do

Estado. Essa entidade também desenvolve um trabalho de assistência social para algumas entidades.

A agência missionária AMÉN (Associação Missionária para Evangelização Nacional) foi

fundada em 1973 pelo Pr. Seziom Batista. Atualmente, mantém dois missionários no campo norte-

riograndense com algumas dificuldades.

O trabalho com crianças de rua tem sido realizado a partir de 2004 pela missionária Nilze

Costa dos Santos, na rua Madre Tereza de Calcutá, Parnamirim – RN. Esse ministério ainda está em

fase inicial, funcionando parcialmente, pois ainda é carente de toda uma infra-estrutura para seu

desenvolvimento integral.

A Association Of Baptists For Word Evangelism (ABWE-Norte-Americana) instalada

em solo potiguar desde 1937 tem ajudado diretamente no desenvolvimento dos Batistas Regulares

através de aquisições de terrenos, construções de templos e no processo de implantação da filosofia

doutrinária do movimento. A Baptist Mid-Missions (Norte-Americana) semelhantemente tem

realizado o mesmo trabalho. A Missão Evangélica Amazonas (MEA-Irlandeses) chegou em campo

potiguar em 1985 e tem centralizado seus esforços missionários na mesorregião do agreste potiguar,

cooperando com as igrejas já implantadas e organizando novas igrejas.

A Associação de Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte (AIBRERN) foi

formada em 1946 com a presença das lideranças estaduais e missionários na sede da Igreja Batista

Regular em Parnamirim. As Igrejas Batistas Regulares de São José do Mipibu, Parnamirim e Lagoa

Seca foram as igrejas fundadoras dessa instituição, sendo hoje a entidade de maior

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representatividade dos Batistas Regulares do Rio Grande do Norte. Conforme seus estatutos, essa

associação tem a finalidade de:

I. Associar Igrejas, Congregações e entidades Batistas Regulares que subscrevem os

Estatutos e Artigos de Fé adotados pela AIBRERN;

II. Motivar, promover e incentivar entre Igrejas, Congregações e Entidades afiliadas,

interdependência e cooperação recíprocas no estabelecimento de novas Igrejas, no

sustento de Missionários, Escolas, Imprensa, Acampamentos, Seminários, Abrigos,

etc., prestando inclusive assistência jurídica;

III. Arbitrar os litígios ético-doutrinários entre os afiliados, quando para isto convocada,

respeitando o princípio de autonomia e,

IV. Operacionalizar a completa separação de movimentos ou organizações que firam a

Declaração Doutrinária da AIBRERN, os Estatutos e os Princípios Históricos dos

Batistas Regulares, tais como: Modernismos teológicos, modernismo prático, Neo-

Ortodoxia, Neo-Evangelicalismo, Evangelho Social, Ecumenismo, Cultismo

(profético, carismático e oriental)

(Art. 3º - Capítulo I - Estatuto da AIBRERN)

A finalidade do ponto IV da Associação Batista Regular do RN estar pautada na

doutrina que consiste na prática da separação de qualquer grupo que não defenda os mesmos

princípios doutrinários dessa associação. Para os Batistas Regulares existe uma preocupação

notória em evitar a infiltração das doutrinas, filosofias e práticas que não estão de acordo

com seus postulados, tais como, os gritos de glória a Deus, aleluia e louvado seja o nome do

Senhor, visões, revelações extra bíblica, falar línguas, cultos ecumênicos, danças, ritmos

musicais como samba, rock, baião etc. Essa postura do movimento Batista Regular

possivelmente acontece devido ao entendimento desse grupo de que essas praticas violam os

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princípios da Bíblia, da ordem e decência do culto ao Senhor. Também para esse grupo

muitas dessas expressões de espiritualidade são induzidas pelo emocionalismo e,

conseqüentemente, não resultando em sincera adoração, em “espírito e em verdade” com

toda reverência, conforme o padrão da Bíblia.

O Batista Regular José Soares, em entrevista concedida para nosso trabalho, falou

sobre a importância da Associação dos Batistas Regulares do RN :

A Importância da Associação de Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte está no que diz a sua própria razão de existência: associar igrejas e entidades da mesma fé e ordem; encorajar ao enfoque missionário; promover a comunhão entre o povo Batista Regular e alertar quanto aos perigos dos ataques do inimigo que têm os mesmos e antigos ideais. A associação de um povo que tem a mesma fé e desenvolve as mesmas práticas baseadas nos mesmosprincípios da eterna Palavra de Deus. Isto é, visando à glória de Deus, a edificação de seu povo e a salvação dos pecadores (Informação obtida ementrevista realizada no dia 20/09/2004).

Logotipo da AIBRERN

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O símbolo da Associação das Igrejas Batistas Regulares expressa dois significados

essenciais para compreensão de sua práxis. Os Batistas Regulares escolheram o fogo e a espada

como figuras que aparecem na Bíblia para, simbolicamente, representar a totalidade de sua

representação na sociedade. A palavra fogo que muitas vezes aparece na Bíblia geralmente é usada

de modo figurado. Possivelmente, os Regulares escolheram esse simbolismo para fazer parte da

configuração de seu logotipo, fundamentado em alguns textos da Bíblia, como: “E sucedeu que,

posto o sol, houve escuridão; e eis um forno de fumo, e uma tocha de fogo, que passou por metades”

(Gênesis 15:17). Esse texto mostra uma tocha de fogo movendo-se como se fosse a assinatura de

Deus do contrato ou aliança de Deus com Abraão. “E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama

de fogo do meio de uma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia”

(Êxodo 3:2). O fogo aparece com uma conotação de purificação que protegia o lugar sagrado. “E

todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo: e o seu fumo subiu como

fuma dum forno, e todo monte tremia grandemente” (Êxodo 19:18). Assim como a coluna de fogo

que servia de guia para o povo judeu em sua peregrinação à terra prometida como garantia aos fiéis

que eles estavam sendo levados e seguidos pela presença divina. O fogo nesse texto também

manifesta a presença do divino no Monte Sinai. Já em Gênesis 19:24, o fogo aparece como

simbolismo de julgamento sobre as cidades de Sodoma e Gomorra, quando naquela ocasião foram

consumidas pelo fogo.

O vocábulo grego para fogo (pyr) em sua raiz comum se refere primariamente ao poder

que o fogo contém. Observa-se que no Novo Testamento os derivados dessa palavra são empregados

em conexão com a atividade de Deus. Paradoxalmente, na história da religião e da cultura, o fogo

aparece tanto no sentido positivo como negativo, como força que dá vida e a destrói. No caso do

logotipo da AIBRERN, o fogo aparece representando o poder do evangelho no sentido de expressar

a proclamação do plano de salvação para o homem perdido, de modo poderoso como o fogo. Em

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Hebreus 12:18 a expressão “não tendes chegado ao fogo palpável e ardente” mostra que a revelação

mosaica de aliança do Antigo Testamento foi dada no meio do fogo. O fogo nesse texto pode

carregar um sentido de força com suas circunstâncias externas e um sentido espiritual carregado de

graça, acolhimento e temor daqueles que pretendem aproximar-se da nova aliança como o homem

tinha que aproximar-se do Monte Sinai, lugar que Deus revelou a Moisés os dez mandamentos8.

A arma mais freqüentemente usada na Bíblia é a espada, usada metaforicamente pelos

Batistas Regulares como um símbolo de batalha da fé. Essa batalha para os Regulares está

principalmente fundamentada no texto: “Amados, procurando eu escrever-vos com toda diligência

acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que

uma vez foi dada aos santos” (Judas9 3 – Novo Testamento). A espada no livro aos Hebreus é

comparada com a Palavra de Deus, no sentido de ter uma conotação de poder e eficácia para até

atingir as partes mais íntimas da personalidade do indivíduo. Trata-se de uma arma para ser usada

pelo crente, no combate aos inimigos da alma. “Pois a Palavra de Deus é viva e eficaz e mais afiada

do que qualquer espada de dois gumes; ela penetra a ponto de dividir alma espírito, juntas e medulas,

e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 12:4 – Novo Testamento).

O Batista Regular José Erinaldo, confirma o fato de uma ênfase dos regulares na luta

para proteger suas “fronteiras religiosas” ao comentar a frase: “Se por um tempo os evangélicos

parecem fadados à derrota, que morram lutando” (Charles Haddson Spurgeon (1834-1892), pregador

protestante).

Sabemos que nos últimos quatro anos de sua vida Spurgeon travou uma batalha contra as tendências do modernismo, por entender que ele seria uma ameaça para o cristianismo. Spurgeon tinha razão, quando fez esta citação sabia que gigante que combatia não morreria e traria estragos irreparáveis na igreja de sua época e que refletiria na igreja dos nossos dias a passos largos. Mas sua luta não foi vã, seu brado foi ouvido por muitos e sua luta encorajou outros a seguir o

8 Ver Êxodo 19:18. 9 Judas se identifica como irmão de Tiago (Jd 1), o líder da igreja em Jerusalém (At 15) e meio irmão do Senhor Jesus. Judas é alistado entre os meios irmãos de Jesus em Mt 13:55 e Mc 6:3 (RYRIE, 1994: p. 1585).

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seu exemplo, tanto em sua época como em nossos dias, cem anos depois. Seremos sempre minoria, mas nossa disposição em lutar até as últimas conseqüências contribuirá para que um remanescente fiel permaneça existindo até a vinda de Cristo (Informação obtida em entrevista realizada no dia 13/08/2003).

Assim, os Batistas Regulares têm as espadas em seu logotipo como uma representação

simbólica que assume um tom de proteção ao seu capital religioso. Essa proteção também é

confirmada no livro de atas da Igreja Batista Regular de João Câmara que encontramos o seguinte

texto: “Foi feita uma proposta para que a irmã Etelvina Cirilo fosse eliminada desta igreja, por ter a

mesma se casado com um crente da Igreja Pentecostal, tendo resolvido ingressar naquela igreja,

sendo feita a proposta e aceita por unanimidade de votos” (Ata nº 28 da Igreja Batista Regular em

João Câmara, de 1952).

O símbolo produz representações que, na percepção, se projetam no mundo exterior, e se identificam com a realidade percebida. Ressuscitada pela e na rememoração, a representação restitui, apesar da ausência, a presença concreta dos seres, coisas e situações que evoca (MORIN, 1986: p. 146).

O logotipo da AIBRERN é um símbolo que muito bem representa a manifestação da

espiritualidade dos Batistas Regulares, revelando consideravelmente a identidade desse grupo.

O símbolo suscita o sentimento de presença concreta daquilo que é simbolizado, e, na plenitude da sua força, constitui, numa só palavra ou numa só figura, uma implicação ou concentração hologramática original da totalidade que ele torna presente (MORIN, 1986: p. 148).

Segundo o pensamento de Pierre Bourdieu, o processo de sistematização das práticas e

crenças religiosas aparecem como um resultado da monopolização da gestão dos bens de salvação

por um corpo de especialistas religiosos que exercem a função de produzir e reproduzir um

conhecimento organizado. Esse que pode ser chamado de capital religioso no sentido de que,

enquanto trabalho simbólico acumulado, assume uma postura de superioridade ao pressupor que os

outros, por não possuir esse capital religioso, ocupam uma posição inferior.

Este capital religioso depende do estado, em um dado momento do tempo, da estrutura das relações objetivas entre a demanda religiosa (ou seja, os interesses

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religiosos dos diferentes grupos ou classes de leigos) e a oferta religiosa (ou seja, os serviços religiosos com tendência ortodoxa ou herética) que as diferentes instâncias são compelidas a produzir e a oferecer em virtude de sua posição na estrutura das relações de forças religiosas (ou seja, , em função de seu capital religioso) e, do outro lado, este capital religioso determina tanto a natureza, a forma e a força das estratégias que estas instâncias podem colocar a serviço da satisfação de seus interesses religiosos (BOURDIEU, 1987: p. 57).

Os Batistas Regulares têm o interesse de proteger seu capital religioso Telle Quelle

através de reforços que apontem para promessas de salvação e justificações que são capazes de

libertar as pessoas da angústia existencial, da miséria biológica, do sofrimento e da morte. Além

disso, oferece ao indivíduo o direito de existir em uma posição social determinada.

O funcionamento do campo religioso dos Batistas Regulares acontece à medida que o

monopólio de seu capital religioso tem a intenção de perpetuar-se de modo a impedir

veementemente a entrada de novas expressões religiosas.

A igreja visa conquistar ou preservar um monopólio mais ou menos total de um capital de graça institucional ou sacramental (do qual é depositária por delegação e que constitui um objeto de troca com os leigos e um instrumento de poder sobre os mesmos) pelo controle do acesso aos meios de produção, de reprodução e de distribuição dos bens de salvação (ou seja, assegurando a manutenção da ordem no interior do corpo de especialistas) e pela delegação ao corpo de sacerdotes (funcionários do culto intercambiáveis e, portanto, substituíveis do culto do ponto de vista do capital religioso) do monopólio da distribuição institucional ou sacramental e, ao mesmo tempo, de uma autoridade (ou uma graça) de função (ou de instituição) (BOURDIEU, 1987: p. 58).

A primeira Igreja Batista Regular do Rio Grande do Norte confirma o pensamento de

Bourdieu: “Falando-se da ausência de alguns membros, foi apresentada à irmã Helena Xavier da

Silva que devíamos enviar-lhe uma carta esclarecendo que a irmã deve procurar ouvir as doutrinas

da igreja e não doutrinas pentecostais” (Ata da Igreja Batista Regular em São José do Mipibu – 4 de

dezembro de 1944, p. 3).

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2 – FUNDAMENTALISMO E OS BATISTAS REGULARES10

2.1 – Origem do Fundamentalismo

Hay que endurecerce sin perde la ternura (Che Guevara)

A Conferência Bíblica do Niagara no final do século XIX anunciou os cinco

“fundamentos da fé” cristã: (1) a crença na inerrância da Bíblia; (2) o nascimento virginal e a

divindade de Cristo; (3) a morte vicária e expiatória de Jesus Cristo; (4) a ressurreição pessoal de

Jesus Cristo e (5) a segunda vinda de Cristo. Esses fundamentos aliados aos cinco pontos da

Declaração da Assembléia Geral Presbiteriana, em 1910, e a crença no milenarismo11 foram os

principais dogmas influenciadores do pensamento fundamentalista. Essa Conferência ocorreu porque

os protestantes conservadores reagiram contra às novas idéias liberais sobre evolução, criticismo

bíblico e coisas semelhantes, assim, esse grupo insistiu na defesa de algumas doutrinas que no

entendimento deles eram inegociáveis.

Fundamentalismo é um nome que serve para identificar o Cristianismo Americano

Conservador após 1920. Esse nome possivelmente foi cunhado em 1920 por Curtis Lee Laws no

jornal The Baptist Watchman Examiner. “Num encontro da Northern Baptist Convention em 1920,

Curtis Lee definiu fundamentalista como alguém que está disposto a recuperar territórios perdidos

para o Anticristo e a lutar pelos fundamentos da fé” (ARMSTRONG, 1991: p. 199). O termo

fundamentalismo recebeu essa nomenclatura devido a uma série de publicação de 12 volumes com

90 ensaios em defesa das doutrinas do Cristianismo. Estes foram publicados entre 1910–1915 com o

título de “The Fundamentals”. Essa obra foi financiada pelos empresários do petróleo, os irmãos

Lyman e Milton Stewart que investiram 200 mil dólares para publicação, promoção e distribuição

10 Foto: Michelangelo Meresi Caravaggio. The Incredulity of Saint Thomas – Disponível em: <www.secrel.com.br> 11 Essa crença é defendida pelos chamados pré-milenistas que defende em sua doutrina escatológica a espera do retorno de Jesus Cristo para inauguração de uma era de paz e prosperidade para os salvos durante o período literal de mil anos na terra.

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dos mais de trezentos mil volumes aos pastores, missionários e cristãos ao redor do mundo. Os

Fundamentos eram uma coleção escrita com o propósito essencial de defender a doutrina cristã

através dos assuntos tratados em seus artigos que incluía: inspiração da Bíblia; deidade de Cristo;

nascimento virginal de Cristo; ressurreição de Cristo; expiação de Cristo; segunda vinda de Cristo;

evangelismo, missões, evolução e arqueologia. Esses artigos revelam um propósito inicial de

defender e exaltar a visão tradicional da Bíblia, já que em sua maioria eram dedicados a mostrar a

infalibilidade e inspiração das Escrituras. O surgimento desse movimento foi uma reação ao

movimento chamado de Liberalismo Teológico, nascido na Alemanha, que defendia em seus

principais pressupostos tais como a aceitação das teorias das ciências da natureza a respeito da idade

e forma de surgimento do universo e da vida; teoria das fontes12; história das religiões comparadas;

teoria da revelação progressiva; aceitação do naturalismo como explicação filosófica do mundo e do

emprego de métodos e técnicas originários das ciências históricas, sociais e naturais no estudo da

Bíblia e de seus manuscritos.

Um dos teólogos do liberalismo, Kirsopp Loke, comenta:

É um erro, geralmente cometido por pessoas educadas que têm pouco conhecimento de teologia histórica, supor que o fundamentalismo é uma forma de pensar nova e estranha. Ele não é nada disto, ele é... sobrevivente de uma teologia que uma vez sustentada universalmente por todos os cristãos. O fundamentalismo pode estar errado; eu penso que ele está. Mas somos nós que temos nos desviados da tradição, não eles, e eu sinto pelo fato que alguém argumente com os fundamentalistas na base da autoridade. A Bíblia e o corpus

theologicun da igreja estão do lado fundamentalista (MCLACHLAN, 1993: p.4).

Em linhas gerais, podemos dizer que o Liberalismo Teológico representava para os

fundamentalistas um perigo para os princípios fundamentais do Cristianismo. As correntes

teológicas e filosóficas que abriram caminho para o surgimento do liberalismo foram idealizadas sob

as premissas de alguns pensadores, como Immanuel Kant, Schleiermacher e Hegel.

12 Proveniente do domínio, então recém-criado, da crítica bíblica, essa teoria rejeitava a autoria mosaica do Pentateuco e explicava a formação dos livros da lei através da compilação tardia de várias tradições.

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Immanuel Kant (1724-1804), nascido em Königsberg, Prússia oriental, foi professor de

filosofia, lógica e matemática em Königsberg. Segundo seu pensamento, o cristianismo era uma

maneira de ensinar ética para os menos sofisticados em filosofia.

Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (1768-1834) era ministro de uma comunidade

reformada alemã conhecida como Igreja da Trindade, em Berlim. Introduziu a idéia da religião como

uma condição do coração, cuja essência é o sentimento. Esse pensamento colocava a experiência

acima da Bíblia; conseqüentemente, as Escrituras não passavam de uma coletânea de escritos

provenientes das experiências emocionais e intuitivas de autores religiosos. Para Schleiermacher, a

Bíblia não era uma obra infalível. Suas expressões teológicas contribuíram para o surgimento do

liberalismo e o movimento pentecostal.

Schleiermacher tornou-se pastor e professor universitário. Ao lado de sua carreira como professor de Teologia e de sua função de diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Berlim, pregou quase que dominicalmente na Igreja da Trindade. Com Wilhelm Von Humboldt (1767-1835) fundou a Universidade de Berlim. Lecionou todas as disciplinas teológicas, exceto o Antigo Testamento. Suas obras teológicas vão da obra- prima apologética Sobre

a Religião: aos cultos dentre seus desdenhadores (1799) até a dogmática A Fé

Cristã (1821-1822) (DREHER, 2002: p. 66).

Goerge W. F. Hegel (1770-1831), nascido em Stuttgart, formado pela Universidade de

Tübingen, foi professor de filosofia na Universidade de Berlim. O pensamento de Hegel sobre

religião corroborou com a premissa de que não há acesso a Deus fora da experiência e que não existe

nenhum conhecimento de Deus por meio da teologia natural ou revelada.

Devido às idéias de alguns pensadores da época, os chamados “guardiões da fé” cristã

reagiram ao movimento chamado liberalismo.

Comenta Armstrong:

A maioria dos fundamentalistas era batista ou presbiteriano, e em seu meio travaram-se os combates mais acirrados. Em seu célebre livro Christianity and

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Liberalism (1923), o teólogo presbiteriano J. Greshan Machen13 (1881-1937), o mais intelectual dos fundamentalistas, classifica os liberais como pagãos que, ao negar a verdade literal de doutrinas essenciais como o nascimento virginal, negavam o próprio cristianismo (ARMSTRONG, 1994: p. 202).

Com o desenvolvimento do fundamentalismo, a maioria das denominações protestantes nos

Estados Unidos pôde perceber a clara distinção entre liberalismo e fundamentalismo. Pareceu que o

fundamentalismo tinha triunfado sobre o liberalismo. No entanto, em 1925, o caso Scopes

desacreditou o movimento de tal modo que ficou evidente a derrota dos fundamentalistas na batalha

contra o ensino do evolucionismo nas escolas norte-americanas. O espírito do caso Scopes de julho

de 1925 vez por outra tem renascido na sociedade; nele, o professor John Scopes foi levado a

julgamento no Tennessee por ensinar na pequena cidade de Dayton a teoria da evolução. Esse caso

provocou na época a consolidação de uma forma disjuntiva14 de pensar a relação entre ciência e

religião. Através dos ataques do político democrata e presbiteriano William Jennigs Bryan (1860-

1925), que lançou várias cruzadas nos Estados Unidos da América contra o ensino da teoria da

evolução nas escolas e faculdades, podemos confirmar esse pensamento disjuntivo que emergiu na

sociedade norte-americana.

Fundamentado nos livros: The Science Of Power (1918), de Benjamin Kidd e

Headquarter Nights (1917), de Vernan L. Kellogg, Bryan achava que o responsável pelas

atrocidades da 1ª Guerra Mundial fora o darwinismo, como também advogava que a ciência

eliminava da Bíblia o miraculoso e o sobrenatural. Então concluiu que a teoria da evolução era

13 Teólogo conservador norte-americano, professor de grego, de teologia do Novo Testamento, controversista eclesiástico. Filho de presbiterianos formou-se com altas honras na Universidade John Hopkins. Estudou com os eruditos B. L. Gildersleeve, Benjamim Warfield, Charles Patton, Gehard Von e R. D. Willson, na Universidade de Princetton. Machan estudou um ano na Alemanha (pós-graduação) nas Universidades de Marburg e Götingem. Mesmo sendo instruído por teólogos liberais schleiermachereanos como Wilhelm Hermann, continuou irredutível em seu compromisso com a ortodoxia teológica, defendendo a infalibilidade das Escrituras Sagradas e as doutrinas tradicionais da Teologia Reformada Histórica. 14 Vários elementos compõem o quadro do paradigma da disjunção: o primeiro desses elementos é o dualismo, provavelmente a semente de todo o paradigma disjuntivo. Outros elementos são: a fragmentação do saber, a especialização, o mecanicismo, o ateísmo militante e o desencantamento do mundo. O paradigma da DISJUNÇÃO provoca uma lista de dualismos que se sobrepõem: matéria-espírito, sujeito-objeto, cultura-natureza, alma-corpo, qualidade-quantidade, finalidade-causalidade, sentimento-razão, liberdade-determinismo, existência-essência (LOPES JR., 2003: pp. 39 e 42).

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incompatível com a moralidade, a decência e a sobrevivência da civilização. Em defesa da ciência a

American Civil Libertus Union enviou Clarence Darow (1857-1938) para defender a liberdade que a

ciência devia ter para expressar-se e progredir.

Com sensacionalismo, Darrow convocou o próprio Bryan, como testemunha para a

defesa, e gastou noventa minutos interrogando-o cruelmente acerca de seu conhecimento de ciência,

teologia e religiões comparadas como tentativa de ridicularizar a crença conservadora.

Infelizmente esse julgamento do jovem professor John Scopes extrapolou os canais da

tolerância e da convivência e assumiu uma dimensão de um embate entre Deus e a ciência. No final

das argüições (ataques e defesas), Scopes foi condenado, mas a American Civil Libertus Union

pagou a fiança e a “guerra fria” entre ciência e religião continuou.

Comenta Lopes Jr.:

Os jornais aproveitaram ao máximo o episódio para criticar os evangélicos, tidos na época como equivalentes aos fundamentalistas. Darrow registrou prazer mórbido pela vitória ao comentar num jornal, em termos pouco elegantes a morte de Bryan, ocorrida uma semana após o julgamento. Na representação popular norte-americana, o episódio teve como efeito a idéia de que os evangélicos eram intelectualmente limitados (LOPES JR, 2005: p. 82).

Ciência é ciência, religião é religião, parece que se fizermos uma leitura atual do relato

no evangelho segundo João, podemos ver em certos momentos essa realidade. Jesus ressuscitado

aparece primeiro diante de Maria Madalena, no domingo chamado da ressurreição, e depois diante

de todos os discípulos, com a exceção de Tomé. A história famosa conta o seguinte: Jesus volta

depois para concluir o conto moral de um homem corajoso e curioso, atormentado pela dúvida, mas

punido e perdoado com uma lição gentil que serve para todos nós. Então Jesus veio, com as portas

fechadas, e ficou no meio dos discípulos e disse: “Paz a todos”. E dirigindo-se a Tomé disse:

“estenda a mão, e toque nas minhas; estenda mais a mão, e toque no meu flanco; e não seja

incrédulo, mas acredite”. E Tomé respondeu-lhe: “Meu Senhor e meu Deus”.

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The Incredulity of Saint Thomas – Caravaggio, Michelangelo Merisi da.

Podemos observar na reprimenda de Jesus uma revelação que diferencia

fundamentalmente a fé e a ciência; por isso, Jesus disse: “Tomé, tu acreditaste porque me viste; bem-

aventurados sejam os que acreditam sem ter visto”. Possivelmente Jesus também esteja dizendo que

o campo da ciência é um e o da religião é outro, “a esfera ou o magistério da ciência engloba o

mundo empírico; de que é feito o universo (fato) e por que ele funciona de determinada maneira

(teoria). O magistério da religião engloba questões de significados definitivos e valor moral”

(GOULD, 2002: p 13). Provavelmente por se tratar de magistérios diferentes, não há como unificar

ou mesmo sintetizar a ciência com a religião. Possivelmente a reflexão apontada na tese “O Espelho

de Procrustro”, de Orivaldo P. Lopes Júnior, possa mostrar um caminho que cruze o grande abismo

existente no relacionamento ciência e religião pela via da interação que se dá pela base do não-

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dualismo, isto é, pela negação da barreira intransponível da distinção ontológica. Ciência e religião

não lidam com duas realidades ou com dois lados do mesmo ser humano, mas com o ser humano

integral numa realidade integral e complexa. O saber fragmentado deve ser substituído com indica

Heisenberg:

Por sua atitude aberta, em face de todos os tipos de conceitos, a física moderna faz renascer a esperança de que, no estado final de unificação, tradições culturais distintas possam viver lado a lado, podendo mesmo combinar diferentes tentativas humanas em um novo equilíbrio entre pensamento e ação, entre atividade e meditação (HEISENBERG, 1998: p. 285).

GOULD, no livro “Pilares do Tempo“, defende que a ciência e a religião devem se

constituir e considerarem-se mutuamente como magistérios não interferentes e que devem se

cumprimentar com respeito e interesse no terreno distintamente humano da palavra. Seu

pensamento é semelhante ao do físico Freeman Dyson, para quem a religião e ciência podem

conviver harmonicamente na alma humana, e que cada uma respeite a autonomia da outra, contanto

que nenhuma delas se arrogue à infalibilidade.

Aceitar o diálogo como algo legítimo e sem pensamentos preconceituosos,

possivelmente, pode ser uma ponte que cruze o atual abismo entre ciência e religião. A religião tem

que estar pronta a ser analisada até em seus pressupostos mais profundos, e a ciência terá de abrir

mão de certos preconceitos. Além disso, cada uma deve manter seus campos de atuação e optar por

um equilíbrio que ofereça dignidade e distinção a cada uma dessas áreas, de modo que ciência e

religião coexistam de forma pacífica. Assim, é imperativo banir o grande abismo da intolerância e

sectarismo, e buscar a construção de cruzamentos desse grande abismo, na intenção de que religião e

ciência (juntas) enriqueçam nossas vidas.

A possibilidade de interação ciência e religião no início do século XX, nos Estados

Unidos era impensável devido o movimento fundamentalista sentir-se ameaçado pelo novo modo de

interpretar a Bíblia. Conseqüentemente, esse movimento colaborou para acentuar a disjunção entre

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ciência e religião. As palavras do escritor americano Dave Hunt atesta o fato da permanência dessa

disjunção na atualidade:

A psicologia é um dos problemas mais tristes da igreja hoje. São os novos projetos, os líderes deles são populares (nos EUA), eles são os conferencistas mais requisitados hoje, muito disso diz respeito ao dinheiro quando exponho o que é a psicologia chamada cristã” (Informação obtida em entrevista no dia 10/10/2003).

2.2 – O Fundamentalismo e o Evangelicalismo (neo-evangelicalismo)

Entre 1920-1925, o fundamentalismo batalhou em outra frente nas grandes

denominações (Metodistas, Batistas e Presbiterianas). Era uma luta contra os que toleravam e os que

negavam os fundamentos da fé tradicional. O sermão “Irão os Fundamentalistas Vencer?” do

pregador batista não-fundamentalista, Harry Emerson Fordick, mostrava a divisão existente no seio

das denominações protestantes. Já um dos representantes do movimento fundamentalista Clarence E.

Macartney ratificava essa divisão com o artigo “Irá a Descrença Vencer?”.

Para Marsden:

O sermão de Fordick captou exatamente os sentimentos liberais do momento e recebeu uma larga divulgação. Diferente de autores e outros ataques liberais que tentavam diminuir o fundamentalismo associando-o com outras formas de extremismo, Fordick mostrou-se bem informado sobre a natureza do movimento. Fundamentalistas, ele disse, eram especialmente conservadores intolerantes... Repetidamente ele enfatizou que o alvo dos fundamentalistas era forçar aqueles com outras idéias para fora das igrejas. O tema central de sua mensagem era a urgente necessidade de tolerância para ambos os lados (MARSDEN, 1980: p. 171).

A derrocada causada pelo caso Scopes e as constantes divisões nas denominações

fundamentalistas provocaram o surgimento de várias organizações, como: Igrejas Fundamentalistas

Independentes da América (1930); Associação Geral de Igrejas Batistas Regulares (1932); Igreja

Presbiteriana da América (1936); Igreja Presbiteriana Ortodoxa; Igreja Presbiteriana Bíblica (1938);

Associação Batista Conservadora da América (1947), Universidade Bob Jones, Instituto Bíblico

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Moody e o Seminário Teológico Dallas, todos reapresentavam o fundamentalismo. Por outro lado,

surgiu o movimento chamado de evangelicalismo ou neo-evangelicalismo15.

O neo-evangelicalismo foi um termo criado pelo primeiro presidente do Seminário

Teológico Fuller, Harold J. Ockenga, em 1947. Esse movimento surgiu devido à crise instalada entre

os cristãos ortodoxos que pareciam incapazes de enfrentar a alta crítica alemã, o evolucionismo

darwinista, a psicologia freudiana, o socialismo marxista, o niilismo de Nietzsche e o naturalismo da

nova ciência. As idéias do evangelicalismo foram promovidas pela Associação Nacional dos

Evangélicos (1942), Seminário Teológico Fuller (1947) e a revista Christianity Today (1956). Essas

instituições representavam as expressões mais significativas para consolidação do pensamento neo-

evangélico.

No pensamento de Hordern, a diferença entre os neo-evangélicos e os fundamentalistas

deve-se ao fato de que os primeiros são mais abertos ao diálogo teológico com os liberais, a outras

correntes e não são definidos com respeito a algumas doutrinas, tais como pré-milenismo e

interpretação literal das Escrituras; já os fundamentalistas têm definição mais acurada nestas

questões. Para Ashbrook “a separação é a doutrina que se situa na intersecção entre o

fundamentalismo e o neo-evangelicalismo” (ASBROOK, 1992: p. 4).

O Pastor Francisco Xavier, um Batista Regular, refletindo sobre o tema da separação

disse:

Para ser fundamentalista cristão, tem de ser bíblico, e para ser bíblico, tem de ser separatista. Mantemos separação das falsas doutrinas como: a Adventismo e suas ramificações, Russelismo, ou os “chamados Testemunhas de Jeová”, Mormonismo, Espiritismo, Catolicismo Romano, Ocultismo, Feitiçaria, Ciência Cristã, as Confusões Pentecostais, A Renovação Carismática, do Grupo G 12, etc. (Informação obtida em entrevista realizada no dia 10/03/2004)

15 Movimento entre evangélicos que começou na década de 40. Foi gerado a partir de divergências entre ortodoxos e conservadores. O ponto de concordância entre eles é a crença comum na fé histórica da igreja cristã. O ponto de divergência está na ênfase e estratégia bíblica em relação ao mundo de nossos dias”. (Willson, T. Apostilha de Teologia Contemporânea. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1989)

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Já alguns neo-evangélicos têm chamado os fundamentalistas de radicais, intolerantes,

anti-mundanistas, anti-intelectuais e indispostos a aplicar sua fé a contextualização cultural.

Enquanto isso alguns fundamentalistas fazem coro com a afirmação de Shaeffer:

Infelizmente, podemos dizer que, em geral, o evangelicalismo moderno tem se acomodado às formas do espírito mundano nas diversas maneiras em que este se expressa na atualidade. Afirmo isto com pesar e não desistirei de permanecer firme e orar. Manifestando tristeza, precisamos recordar que muitos daqueles com os quais temos alguma discordância a respeito dessa questão de acomodar-se são nossos irmãos em Cristo. Mas, no sentido mais elementar, o evangelicalismo tem se tornado profundamente mundano (SHAEFFER, 1984: p 142).

Segundo o pensamento de Orivaldo P. Lopes Júnior, as querelas que são discutidas no

meio do protestantismo atual em busca de uma identidade podem ser demarcadas por um alistamento

de crenças aceitáveis e não-aceitáveis que poderão servir para alimentar um certo narcisismo.

Comenta Lopes Jr. “Quando tomamos a identidade como forma de narcisismo, logo nos

apressamos a rejeitar as companhias que não nos alimentam o ego. Em vez disso, a identidade serve

como ferramenta para o diálogo, coisa impossível de ocorrer no gueto e no ecletismo” (LOPES JR,

2004, p. 162).

Presumivelmente, a busca ou a reafirmação de uma identidade religiosa pode ser

louvável como também abominável por um lado; a idéia de identidade entendida como

pertencimento pode indicar fronteiras fechadas que muitas vezes a inclusão implica a exclusão. A

questão da identidade também pode assumir uma postura de pertencimento que pode suscitar

rivalidades, comparações, limites e fronteiras fechadas ao diálogo. Talvez quanto mais o indivíduo

não defender com unhas e dentes seus pertencimentos, ele poderá contribuir para reparar injustiças e

mais amplamente a desgraça humana. Também cada vez mais que são enfatizadas as nomenclaturas

denominacionais mais distante pode se tornar a possibilidade de um diálogo que construa relações

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harmoniosas. Por outro lado, a reafirmação de uma identidade pode ser benéfica quando entendemos

que a possibilidade de um diálogo só será possível devido a sua existência.

2.3 – O Fundamentalismo e o Engajamento Político

Nas últimas duas décadas do século XX, os fundamentalistas entraram numa nova fase.

Parece que a distinção entre fundamentalistas e neo-evangélicos tinha sido obscurecida; então, a já

instalada e consolidada crise religiosa da América promovida pelo humanismo secular representava

para os fundamentalistas a responsável pela erosão sofrida por igrejas, escolas, universidades,

governo e família.

Comenta Armstrong: “Os fundamentalistas tinham verdadeiro pavor do humanismo

secular e de tudo que ele representa. Viam-no como uma conspiração das forças do mal contra Deus,

contra a moral, contra o auto-controle e contra a América” (ARMSTRONG, 2001: p. 305).

Os fundamentalistas lutaram contra os considerados inimigos da fé e dos valores morais

fundamentados no cristianismo. Entre eles destacam-se as lutas contra a moralidade frouxa,

perversão sexual, socialismo, comunismo e qualquer diminuidor do absoluto e autoridade da

inerrância bíblica.

A promoção desse novo momento foi liderada pela geração de fundamentalistas da

mídia escrita e televisiva, que se expressava através dos nomes como Jerry Falwell, Tim La Haye,

Hal Lindsey e Pat Robertson. Essa fase pode ser conhecida devido o movimento King James Bible

Only e o engajamento político de grande parte dos fundamentalistas, quando em 1980 dirigiram a

campanha eleitoral de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos. Fato esse que contraria o

princípio da separação Igreja e Estado, defendido, por exemplo, pelos Batistas Regulares.

Essa fase do fundamentalismo é considerada para alguns dos Batistas Regulares como

um neo-fundamentalismo, o qual surge como uma expressão do fundamentalismo, mas não é

aprovado por ele, caracteriza-se por seu engajamento político em defesa do capitalismo, pureza

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americana, disseminação forçada da democracia, intervenção militar em outros países, purismo e

catequese lingüística. Na prática, no final da Guerra Fria, esses neo-fundamentalistas engajados se

tornaram aliados políticos do governo americano através da mídia e influência nas igrejas, apoiaram

diretamente a eleição e governo de Ronald Reagan na década de 1980, que por ironia era

economicamente liberal, e atuaram na forma de passeatas, bandeiradas, slogans e cartazes na luta da

pureza social americana, receberam cargos políticos e sob a idéia de purismo lingüístico e difusão da

língua inglesa defenderam uma única versão da Bíblia aceitável como a King James Bible. A idéia

era de uma religião fundamentalista universal e não particular.

Parece que os fundamentalistas, que de um certo modo haviam se afastado da sociedade

depois do caso Scopes, voltaram a assumir uma postura em defesa da moralidade e de alguns

princípios do Cristianismo.

Os fundamentalistas dos primeiros anos da década de 1980 eram, de muitas maneiras, pessoas muito diferentes de seus antecessores e enfrentavam muitas questões desiguais. Mas continuavam a apresentar traços importantes que os fundamentalistas tiveram em comum, desde a década de 1920 até os primeiros anos de 1980. Tinham certeza de possuir o conhecimento verdadeiro dos fundamentos da fé e de que, portanto, representavam o Cristianismo verdadeiro baseado na autoridade de uma Bíblia literalmente interpretada. Acreditavam que seu dever era continuar a grande batalha histórica, a batalha entre Deus e Satanás, entre a luz e as trevas, e a lutar contra todos os inimigos que subvertessem o Cristianismo e os Estados Unidos. Enfrentando essa luta tectônica, tendiam a considerar que os demais cristãos não fundamentalistas eram infiéis a Cristo ou não eram genuinamente cristãos. Conclamavam a volta à Bíblia inerrante e infalível, à declaração tradicional das doutrinas e a uma moralidade de que, segundo acreditavam, prevalecia antigamente nos Estados Unidos. Para fazer tudo isto, criaram um número de organizações e ministérios separados para propagar a fé e a prática fundamentalista (McINTIRE, 1990: p. 190).

No limiar desse novo século, a América do Norte revela que ainda os princípios do

fundamentalismo cristão estão bem disseminados em sua sociedade. Assim, é plausível afirmar que

o fundamentalismo cristão não morreu, apenas, em alguns aspectos, recebeu uma nova roupagem.

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Os números abaixo mostram que o pensamento fundamentalista ainda permanece vivo na sociedade

norte-americana.

Nos Estados Unidos:

“44% acreditam que só através de Jesus pode haver salvação;

30% dizem ter “renascido”;

28% acham que se deve interpretar a Bíblia literalmente e

27% negam que a Bíblia continha erros científicos e históricos” (ARMSTRONG, 2001:

p. 392).

2.4 – A Crise do Fundamentalismo

O “ambiente belicoso” já observado entre os fundamentalistas e os neo-evangélicos serviu

para compreendermos algumas diferenças desses movimentos. No entanto, de uma certa forma os

dois são fundamentalistas, pois têm idéias fixas e deterministas. Observamos que nenhum deles

aceitaria uma mistura entre Deus e os orixás ou a negação da doutrina da expiação e também outras

premissas estabelecidas em suas doutrinas. Isso mostra que todo grupo religioso tem em si mesmo

seus critérios hermenêuticos e autolegitimadores de sua posição. As palavras de Gondim ratificam

esse pensamento: “A singularidade de Cristo e sua obra no calvário são limites para mim. Sempre

que forem ultrapassados, gritarei, protestarei, mesmo que pareça um fundamentalista” (GONDIM,

1997: p. 53).

Os chamados fundamentalistas da atualidade parecem reivindicar ser o autêntico

fundamentalismo, como comenta Addson Araújo da Igreja Batista Regular:

Hoje o problema está pior que antes do Pacto de Lausanne (1974) no Brasil, não dá para identificar quem é neo-evangélico, liberal ou neo-ortodoxo, está tudo misturado. E só se identifica um fundamentalista se ele estiver num grupo fundamentalista, caso contrário, é no mínimo um neo-evangélico (COSTA, 2005: p. 14).

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Observamos que das 58 igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte, 11 igrejas

recebem o nome de Igreja Batista Fundamentalista, nome que foi adotado pelo missionário norte-

americano Benjamin Peterson. Possivelmente a escolha desse nome foi devido à influência do

movimento fundamentalista no início do século XX.

Benjamin Peterson, fundador de 9 Igrejas Batistas Fundamentalistas

Atualmente o termo fundamentalista ganhou uma conotação pejorativa devido à

associação com o Fundamentalismo Islâmico e alguns Fundamentalistas Americanos que causam

assombro. Esse termo tem sido utilizado por várias pessoas e muitos evangélicos de modo

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discriminatório. Esses nomeiam os fundamentalistas de um grupo de reacionários, xiitas, fanáticos e

intolerantes. Os epítetos apontados aos fundamentalistas ganharam mais força após os

acontecimentos do 11 de setembro de 2001, quando aviões foram lançados intencionalmente nos

dois edifícios norte-americanos, em Nova York, e contra o coração militar norte-americano, o

Pentágono, em Washington. A utilização do termo fundamentalista passou a ser um peso para os

Batistas Regulares que se auto-intitulam de autênticos Fundamentalistas, sendo tarefa difícil para

esse grupo permanecer se auto-intitulando de Fundamentalistas Cristãos. Parece que a utilização

desse termo está associada com tudo aquilo que manifeste intolerância e terrorismo. O rabino Henry

Sabel disse, um dia após a tragédia do 11 de setembro de 2001, que “toda forma de fundamentalismo

deve ser banida da face da terra”.

Já Ricardo Gondim afirma: “Compreende-se hoje por fundamentalista uma pessoa

intolerante, fanática, fechada ao diálogo” (GONDIM, 1997: p. 53).

As posturas rígidas, firmes e convictas de seus postulados doutrinários tidos como

absolutos têm tornado a opção pelo Fundamentalismo Cristão uma postura impopular, tornando-se

ofensivo à mentalidade desta época. Além disso, alguns fundamentalistas têm sido indivíduos de

personalidade dominadora, inquisitorial, belicosa e, até mesmo grosseira. Para Dave Hunt, o

Fundamentalismo tem sido rejeitado por, pelo menos, três razões:

“Os erros e exageros de alguns fundamentalistas; a compreensão errônea do que seja o

Fundamentalismo Cristão e sua associação indevida ao Fundamentalismo Islâmico” (HUNT, 1999:

p. 12).

Também comentou Dave Hunt em entrevista no dia 10/10/2003:

“Nos Estados Unidos, aqueles que se intitulam fundamentalistas, infelizmente são

vistos como extremistas. Eu sou um fundamentalista, mas há pessoas na América do Norte que se

intitulam fundamentalistas que acabaram atribuindo ao fundamentalismo uma má reputação”.

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A visão dos que se intitulam herdeiros do Fundamentalismo Cristão, no caso, os

Batistas Regulares, assevera que esse movimento surgiu na história em defesa de algumas asserções

históricas do Cristianismo e da pureza comportamental da igreja visível. Neste caso, para os Batistas

Regulares, o fundamentalismo mostra-se um movimento útil a Deus e à sociedade, posto que

defende a pureza da proclamação e a prática do plano de Deus para salvação da humanidade.

Sobre seu valor para a sociedade, comenta o sociólogo Bauman: “O fundamentalismo

tem uma singular capacidade de revelar os males da sociedade” (BAUMAN, 1998: p. 230).

Para o antropólogo britânico Ernest Gellner:

O fundamentalismo é útil para a sociedade no sentido de que esse movimento torna-se um aliado no reconhecimento do caráter absoluto da verdade, evitando a auto-ilusão fácil personificada pelo relativismo universal, nossos antepassados intelectuais. Sem ceder à tentação da veneração excessiva da ancestralidade, é importante referir que lhes devemos o nosso respeito (GELLNER, 1994: p. 13).

Também esse movimento se apresenta como uma autoridade que promete emancipar os

convertidos das agonias garantindo-lhes certezas presentes e futuras. Assim, as pessoas do grupo

tomam decisões sabendo para onde olhar sem correr riscos.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman ratifica esse pensamento:

O fundamentalismo é um remédio radical contra esse veneno da sociedade de consumo conduzida pelo mercado e pós-moderna – a liberdade contaminada pelo risco (um remédio que cura a infecção amputando o órgão infeccionado – abolindo a liberdade como tal, na medida em que não há nenhuma liberdade livre de riscos). O fundamentalismo promete desenvolver todos os infinitos poderes do grupo que quando disposto – compensaria a incurável insuficiência de seus membros individuais, e justificaria, dessa maneira, a indiscutível subordinação das escolhas individuais a normas proclamadas em nome do grupo (BAUMAN, 1998: p. 228).

Segundo a visão dos Batistas Regulares, o movimento Fundamentalista Cristão

conclama toda a Igreja Cristã a pensar a missão da igreja, salvação dos homens, à luz de sua própria

história, palco onde ocorre desvirtuamentos, decomposições e revisionismos chamados

irresponsáveis e maléficos. Para os fundamentalistas militantes, pesa a responsabilidade de guardar a

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doutrina e prática prescrita na Bíblia em meio a um mundo caótico. Também para um

fundamentalista cristão, a história é o palco no qual se deflagra os atos salvívicos de Deus em favor

de uma humanidade caída e rebelde. A história é dilemática, pois Deus escreve a história da salvação

dentro da história da perdição dos homens; isto é, o plano perfeito de Deus se delineia para dentro da

estrutura da sociedade humana degradada pelo peso da queda espaço-temporal de Adão. Também

tem por certo, portanto, que Deus age; mas também é certo que o maligno age, e que os homens

estão mais propensos a aceitar as propostas do maligno que as de Deus.

Além disso, para os Batistas Regulares parece que o Espírito Pós-Moderno e o

Fundamentalismo se enfrentam nesta arena: a história conflituosa dos homens. Enquanto o

fundamentalismo dito bíblico reafirma que o problema do homem, o pecado, e a solução de Deus, o

evangelho, não mudam; o Espírito Pós-Moderno de uma certa forma se apresenta proclamando que o

homem tem de libertar-se da ordem para viver na anarquia, posto que uma nova época exige novos

valores. Também indica estar claro para os fundamentalistas fazer a distinção do que é de Deus e o

que é do mundo que jaz no maligno, segundo a compreensão do texto citado pelo apóstolo João na

sua primeira epístola: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno” (I João

5:19). Essa visão dos regulares ocorre devido o entendimento deste grupo de que o novo momento

chamado Pós-Moderno é geralmente caracterizado como uma estratégia demoníaca para desacreditar

suas crenças. Talvez esse pensamento seja conseqüência das preposições racionalistas.

Portanto, diante do quadro apresentado, compreendemos que as leituras da realidade

religiosa sobre os grupos chamados fundamentalista como os Batistas Regulares, que pousam suas

doutrinas sob as premissas do movimento fundamentalista fundante se derivam do senso comum que

pode ser uma leitura equivocada, ou no mínimo, nebulosa da realidade. O cuidado com um tipo de

conhecimento que serve para ocultar o verdadeiro conhecimento deve ser um compromisso com uma

leitura de mundo que perpasse as experiências das coisas, de como ela às vezes de modo ingênuo se

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apresenta para nós. Assim, procuramos compreender uma manifestação de um grupo religioso de

modo que o olhar alterado e limitado seja esconjurado.

Ninguém pode olhar a realidade a partir de um Unmaked Place (lugar não-determinado), de um ponto de vista “neutro”, “objetivo”, capaz de captar os limites das posições dos outros sem incorrer, por sua vez, num olhar “deformador” da realidade, que corresponde à sua esfera de influência ou à sua concepção de verdade, isso significa que acusar de fundamentalismo um movimento ou uma religião é já uma “transgressão”, uma vez que se usa um critério de avaliação geral muito aleatório, dado que nasce e se situa inevitavelmente num contexto “perspectivo”, colocando-se com habilidade fora de contextos análogos e além de um horizonte limitado (TERRIN, 1998: p. 44).

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3 – CRISTIANISMO E MODERNIDADE DOS BATISTAS REGULARES 16

3.1 – Cristianismo

Então, irmãos, estai firmes e retendes as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa (II Tessalonicenses 2:15).

O cristianismo defende a idéia de ter sido fundado por Jesus de Nazaré, um judeu da

Galiléia, nascido quando Roma dominava a palestina. Possivelmente o cristianismo tem sua origem

estabelecida quando Jesus aos 30 anos reuniu alguns discípulos e começou a ensinar um novo

método, uma nova filosofia de vida que apontava para uma renovação de pensamento nas vidas dos

indivíduos. Além disso, seu fundador se apresentava como o messias17, segundo apontava a teologia

do Antigo Testamento.

O pai do cristianismo, no entendimento teológico neo-testamentário protestante tradicional, é

considerado em linhas gerais como: Deus (João 1: 1-3 e 14); o Deus que tornou-se homem

(Filipenses 2:5-8); um homem que viveu sem pecado (I Pedro 2:22); teve uma vida de poder (Atos

10:38); morreu por nossos pecados (Isaías 53: 5-6); ressuscitou (Romanos 8:34); foi exaltado

(Filipenses 2: 9-11) e voltará (Mateus 24:30).

O discurso de Jesus Cristo era pautado por algumas temáticas como: a paz, liberdade,

harmonia, respeito a um único Deus, amor entre os homens e a salvação da humanidade. Esse tipo de

discurso levou as classes dominantes a acusarem e condenarem Jesus sob o peso de representar uma

ameaça subversiva às ordens políticas e religiosas da época. Sob a égide do Imperador de Roma,

Tibério e o procurador da Judéia, Pôncio Pilatos, Jesus Cristo foi crucificado. Segundo a tradição

cristã, depois de cinqüenta dias após a sua morte, durante a festa de pentecostes, os discípulos

anunciavam que Ele ressuscitara e os enviava a pregar por todo mundo a boa nova de salvação e

16 Foto: Salvador Dali. Criança Geopolítica observando o Nascimento do homem novo – Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/cultura/especiais/salvadordali/dali07.htm>

17 O Antigo Testamento empregava o termo Masiach (Ungido, aquele que é ungido) para designar o Salvador que havia de vir, Jesus (HARRIS, 1998: p. 886).

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perdão dos pecados, conforme verificamos na Bíblia o discurso do apóstolo Pedro: “Arrependei-vos,

pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham os tempos de refrigério

pela presença do Senhor” (Atos 3:19).

Durante o percurso histórico, o cristianismo apareceu no cenário mundial com diferentes

manifestações religiosas. Segundo Hans Küng pode subdividir-se toda história do cristianismo em

seis grandes “paradigmas”, que são os seguintes18:

1) O paradigma apocalíptico do Cristianismo Primitivo.

2) O Paradigma helenístico do Período da Patrística.

3) O Paradigma Católico Romano Medieval.

4) O Paradigma Protestante (da Reforma).

5) O Paradigma Moderno do Iluminismo.

6) O Paradigma Ecumênico Emergente.

As diferenças entre as seis subdivisões da história do cristianismo enumeradas por Küng têm a ver, em grande parte, com as diferenças no quadro geral de referência entre uma era e outra e somente em um grau menor com diferenças pessoais, confessionais e sociais per se. O mundo do cristianismo helenístico do século 2 e seguintes era qualitativamente diverso do “mundo do cristianismo primitivo, que ainda se encontrava bastante impregnado pelo etos do Antigo Testamento hebraico. E há disparidades comparáveis entre as outras épocas mencionadas acima... Cada uma dessas épocas, segundo Küng, reflete um “paradigma” teológico profundamente distinto de qualquer um de seus predecessores. Em cada era, os cristãos do período compreenderam e experimentaram sua fé de um modo apenas parcialmente comensurável com a compreensão e a experiência dos crentes de outras eras (BOSCH, 2002: p. 229).

O legado dos Batistas na história do cristianismo no que diz respeito à liberdade religiosa é

inquestionável até que provem o contrário, porém, pode ser plausível dizer que apesar do mundo

ocidental de maneira geral usufruir a liberdade religiosa, ainda os grupos cristãos estão distantes de

uma prática convincente dos princípios fundantes do cristianismo. Parece que os grupos religiosos

18 Ver livro Missão Transformadora de David J. Bosch.

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precisam compreender uma ética que deve estar presente de modo imperativo em qualquer

comunidade que prime por valores universais. Esses que deverão ser utilizados para o bem da

humanidade.

A universalização da ética para todo ser humano, seja qual for a sua identidade, só começará com as grandes religiões transculturais como o budismo, cristianismo, islamismo e, enfim, com o humanismo europeu; mas esse universalismo permanecerá limitado, com lacunas, frágil e será incessantemente acuado pelos fanatismos religiosos e pelos etnocentrismos nacionais (MORIN, 2005: p.24).

Atualmente os fundamentos da ética estão em crise no sentido de que a produção de

solidariedade, amor, perdão e fraternidade no viver em coletividade tem sofrido um enfraquecimento

através de um hiper desenvolvimento do princípio egocêntrico que degrada o viver em comunidade.

A crise ética da nossa época é, ao mesmo tempo, crise da religação indivíduo/sociedade/espécie. Importa refundar a ética; regenerar o circuito de religação indivíduo-espécie-sociedade na e pela regeneração de cada uma dessas instâncias. Essa regeneração pode partir do despertar interior da consciência moral (MORIN, 2005: p. 29).

A religação que Morin propõe deve se manifestar pela solidariedade, fraternidade, amizade e

o amor que é a expressão superior da ética. “O amor é a experiência fundamental de religação dos

seres humanos” (MORIN, 2005: p. 37). Um dos principais escritores do Novo Testamento disse: “E

ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que

tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria” (I

Coríntios 13:2).

Infelizmente, historicamente a religião do amor, o cristianismo, sofreu várias banalizações ao

longo dos tempos, tornando-se em muitas ocasiões uma religião sangrenta e cruel. A insuficiência de

um senso crítico pode determinar muitos desvios éticos provocando uma cegueira de difícil cura.

Atualmente é importante primar por uma ética que reformule as relações entre indivíduos de

uma mesma comunidade, família, povo, etc. O câncer dos mal-entendidos, maledicências,

animosidades, inimizades e incompreensões de si e do outro precisam ser vistos como um problema

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ético fundamental de fracasso das relações humanas. É possível que mesmo ao apostar numa ética da

concórdia não quer dizer que seja eliminado da sociedade a diversidade, mas “que comportaria mais

religação, compreensão, consciência, solidariedade, responsabilidade...” (MORIN, 2005: p. 87).

A purificação ética passa também pela expulsão da moralina19 das relações sociais. Evitar o

outro como indigno de refutação em nome de uma superioridade serve como obstáculo ao

conhecimento e à compreensão do outro. “A ética para si pode ser definida, como resistência à nossa

barbárie interior” (MORIN, 2005: p. 101). A necessidade de banir a ira, ódio, baixeza, calúnia e

desprezo pelo outro pode contribuir para diminuir o egocentrismo que cada um de nós carrega e

externaliza quando transformamos o diferente em cão, porco ou, pior ainda, em dejeto e excremento.

“A ética altruísta é uma ética da religação que exige manter a abertura ao outro, salvaguardar o

sentimento de identidade comum, consolidar e tonificar a compreensão do outro” (MORIN, 2005: p.

103).

A falta de compreensão do outro direciona a uma redução enclausurada que somente

consegue ver um único aspecto do humano e não o considera na sua multidimensionalidade. Quando

defendemos nossas idéias, devemos ter o cuidado de não a possuirmos ao ponto de que nos tornemos

incompreensivos com os que estão possuídos por outra idéias e os que não se deixam possuir por

nossas idéias.

Para Morin, as miniaturas dos infernos vividos nas relações humanas precisam de dois

mandamentos: “disciplinar o egocentrismo e desenvolver o altruísmo”. Assim, poderá ser possível

que o cristianismo e outros setores da sociedade passem por uma regeneração ética como única

possibilidade de sobrevivência e desenvolvimento da humanidade. “É impossível que o mal

19 A moralina julga e condena com base em critérios exteriores ou superficiais de moralidade, apropria-se de bem e transforma em oposição entre o bem e o mal aquilo que, na realidade, não passa de conflito de valores (MORIN, 2005: p. 98).

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desapareça, dizia Sócrates em Teteto. Sim, mas é preciso tentar impedir o seu triunfo” (MORIN,

2005: p. 193).

A crise ética instalada na atualidade pode ser compreendida como uma crise da modernidade

que reflete nas atitudes dos Batistas Regulares. O atual momento direciona esse agrupamento para

uma reforma ética no âmbito de algumas práticas.

3.2 – Modernidade

A descoberta do “Novo Mundo”, o Renascimento e a Reforma foram os três grandes

acontecimentos por volta de 1 500 que constituem a transição epocal da Idade Média à Idade

Moderna. A partir do século XVII, a modernidade emergiu na Europa como um estilo, costume de

vida ou organização social, configurando-se um novo momento vivido pela sociedade. Acreditava-se

que o acúmulo de conhecimento gerado por muitas pessoas trabalhando livremente e criativamente

conduziria à emancipação humana. O domínio científico da natureza, pelo homem, anunciava o

almejado atendimento das necessidades básicas das pessoas. Tratava-se de um momento que

apontava para liberdade humana de seus males sob o domínio humano do mundo natural.

O advento da modernidade trouxe para o mundo ocidental uma significativa alteração em seu

pensamento: o papel da religião foi reduzido e o da nova ciência aumentado. A ciência, como filha

rebelde da religião, deixou a casa e buscou sua própria independência.

A idéia da auto-suficiência humana minou o domínio da religião institucionalizada não prometendo um caminho alternativo para a vida eterna, mas chamando a atenção humana para longe desse ponto; concentrando-se, em vez disso, em tarefas que os seres humanos podem executar e cujas conseqüências eles podem experimentar enquanto ainda são “seres que experimentam” e isso significa aqui, nesta vida (BAUMAN, 1998: p. 213).

A sociedade moderna, influenciada pelo racionalismo, expulsou de seu mundo a magia e o

sagrado e, em seu lugar, adotou a relação causal objetivamente explicada num mundo mecanicista e

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previsível. Além disso, o pensamento da sociedade moderna produziu uma separação do

conhecimento quando a ciência moderna passou a compreender que as questões do mito e logos

deveriam passar pelo crivo de uma cientificidade. Sendo que, para essa ciência, o mito era entendido

como um pensamento infantil ou simplista.

Segundo o pensamento de Morin, devemos compreender o duplo pensamento, mytos-logos

como dois modos de conhecimento e de ação que coexistem, entreajudam-se e que estão em

constantes interações e ao mesmo tempo são uno e duplo.

Os nossos antepassados caçadores-coletores que, ao longo de dezenas de milhares de anos, desenvolveram as técnicas da pedra, depois elaboraram as do osso e do metal, dispuseram e usaram, nas suas estratégias de conhecimento e de ação, de um pensamento empírico/lógico/racional, e produziram, acumulando e organizando um formidável saber botânico, zoológico, tecnológico, uma verdadeira ciência. Todavia estes mesmos arcaicos faziam acompanhar todos os seus atos técnicos de ritos, crenças, mitos, magias, e os antropólogos do começo do século puderam até pensar que, fechados num pensamento mítico-mágico, estes “primitivos” ignoravam toda racionalidade (MORIN, 1986:p. 144).

Etimologicamente mytos e logos significa palavra, discurso. Eles nascem juntos, mas não são

a mesma coisa. A distinção entre mytos e logos ocorre no sentido de que o logos torna-se o discurso

racional, lógico e objetivo, enquanto o mytos assume “o discurso da compreensão subjetiva, singular

e concreta de um espírito que adere ao mundo e o sente a partir do interior” (MORIN, 1986: p. 149).

Apesar do pensamento racionalista da ciência moderna ter provocado uma fragmentação do

entendimento sobre o mytos/logos, podemos compreender que os dois modos de pensamento são

duplos porque são autônomos no sentido de que cada um possui sua própria esfera de verdade. Por

outro lado, apesar das distinções nas atividades empíricas/técnicas/racionais e simbólicas/

mitológicas/mágicas, elas vivem naturalmente a unidualidade deste universo mesmo quando se

tiverem tornado antagonistas.

Mortais e imortais vivem em dois mundos ligados num único e mesmo mundo. Assim, como julgamos, não há um espaço e um tempo propriamente míticos; há um desdobramento mítico do espaço e do tempo na manutenção da sua unidade,

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e quem quer que exerça os dois pensamentos, o empírico/técnico/racional e o simbólico/mitológico/mágico, vive muito naturalmente de maneira uma e dúplice a consubstancialidade dos dois mundos diferentes (MORIN, 1986: p. 152).

Uma ciência aberta pode possibilitar a compreensão de que os dois modos de pensamentos

abordados possam vencer o obstáculo da fragmentação do conhecimento e caminhar para uma

alternativa que aponte um diálogo consciente dos dois pensamentos, sem reduzir um ou outro a

qualquer tipo de inferioridade.

Tudo parece indicar que com esse novo quadro de uma modernidade já estabelecida, a

religião ocidental, que era permeada pelo sagrado estava fadada a perder seu encantamento. As

emoções e a intuição e tudo aquilo que não pudesse ser provado cientificamente eram considerados

como fraquezas a serem vencidas, resquício de uma época infantil e primitiva. A razão e a técnica

passaram a ser considerado o pilar da humanidade moderna.

O racionalismo científico, fonte de poder e de sucesso ocidentais, desacreditara o mito e proclamara-se o único meio de se chegar à verdade. A razão podia, porém, debater as questões essenciais; tal debate nunca foi da competência do logos. Conseqüentemente, a fé tradicional tornou-se impossível para um número crescente de ocidentais (ARMSTRONG, 2001: p. 162).

Segundo o pensamento de Max Weber o desencantamento da religião acontece quando ela se

propõe a passar de um estado mágico e carismático para um racionalizado e burocrático. Weber, em

suas análises sobre a religião, critica o protestantismo ascético porque entende que esse tipo de

protestantismo produz uma rigidez doutrinária que repudia todos os elementos sensuais e

emocionais, pois na análise de Weber sobre o calvinismo, as emoções e a subjetividade eram inúteis

para salvação e fomentavam ilusões e superstições. A teologia calvinista não demonstra nenhuma

tendência capitalista, e não pressupõe, por si só, uma ética econômica. Só que Weber não se

fundamenta na teologia calvinista, mas no estilo de vida ascético do protestante com sua devoção

metódica e racional ao trabalho.

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Talvez os Batistas Regulares, em certo sentido, tenham adotado um tipo de asceticismo

cristão que penetra exatamente numa prática meticulosa, amoldando-se a uma vida racional que

pode tornar a espiritualidade fria e calculista, típico de um protestantismo ascético, diferente do

cristianismo em sua manifestação primitiva. Weber critica a religião sem fraternidade e denuncia o

desencantamento como uma espécie de doença do mundo moderno.

O contexto do mundo moderno inicialmente foi permeado pela razão que surgiu como uma

poderosa arma com a finalidade de destruir a fé. Entretanto, não conseguiu dar respostas a todas as

experiências do humano, por exemplo: a interrogação humana sobre a origem da morte. A tentativa

da modernidade de instituir uma ordem somente humana na terra, tentando substituir Deus pelo

homem, colocando-o no centro do universo parece que com o passar do tempo naufragou. A

promessa de “salvação” pelo avanço científico e tecnológico já não conseguia transformar a terra

num “lugar seguro”. A luta pelo poder, a ganância desmedida dos grandes, as duas grandes guerras,

o desequilíbrio ecológico e a exploração descontrolada dos recursos naturais apontava claramente

para o fracasso do sonho da modernidade. Por outro lado, a modernidade de um certo modo trouxe

um sentimento de segurança e oportunidade que não era muito evidente na pré-modernidade.

O desenvolvimento das instituições sociais modernas e sua difusão em escala mundial criaram oportunidade bem maiores para os seres humanos gozarem de uma existência segura e gratificante que qualquer tipo de sistema pré-moderno (GIDDENS, 1991: p. 16).

A postura dos Batistas Regulares no contexto da sociedade moderna pode ser entendida

como uma comunidade de fiéis que, semelhantemente ao discurso da modernidade, anelam por um

lugar aconchegante, confortável e seguro. Toda comunidade carrega um certo imprinting defendendo

a idéia de que fora de sua convivência não há segurança. “E ainda: numa comunidade podemos

contar com a boa vontade dos outros. Se tropeçarmos e cairmos, os outros nos ajudarão a ficar de pé

outra vez. Ninguém vai rir de nós, nem ridicularizar nossa falta de jeito e alegrar-se com nossa

desgraça” (BAUMAN, 2003: p. 8).

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Por outro lado, parece que o tipo de comunidade em que o cuidado de uns aos outros

almejados de modo pleno não passa de apenas um sonho, uma busca pelo paraíso perdido que

precisa ser alcançado. Se entendermos que os Batistas Regulares representam uma coletividade que

pretende ser a comunidade do aconchego e dos sonhos, então, precisamos primeiramente

compreender que toda vida em comunidade exige lealdade incondicional aos seus postulados sob

pena de quem não se enquadrar nos acordos do grupo ser considerado como traidor.

A segurança prometida na vida em comunidade, de certa forma,limita a liberdade individual.

Paradoxalmente para alguém alcançar uma desejada segurança é necessário abrir mão da liberdade

individual, ganha-se uma coisa e perde-se outra. “Não ter comunidade significa não ter proteção;

alcançar a comunidade, se isto ocorrer, poderá em breve significar perder a liberdade” (BAUMAN,

2003: p. 10). Talvez o grande desafio das comunidades existentes na atualidade seja em verificar até

que ponto os seus valores tornam mais visível à contradição entre segurança e liberdade. Cada vez

que essa contradição é mais alimentada na convivência humana dificilmente ocorrerá um conserto

que possa diminuir equilibradamente essa contradição, pois não podemos ter segurança e liberdade

simultaneamente na quantidade que quisermos.

A existência da sobrevivência das comunidades na atualidade ocorre porque a vida moderna

não é capaz de oferecer a segurança desejada pelos indivíduos que cada vez mais vivem atolados na

incerteza e insegurança, filhas da própria modernidade. Então, a necessidade de encontrar um lugar

seguro parece está presente neste início de século. “O sentido de lugar se baseia na necessidade de

pertencer não a uma “sociedade” em abstrato, mas a algum lugar em particular; satisfazendo essa

necessidade, as pessoas desenvolvem o compromisso e a lealdade” (BAUMAN, 2003: p. 110).

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3.3 – Batistas Regulares e a influência iluminista

O início do século XVI foi marcado por um novo ideal de humanidade, o ocidente passava

por um processo de tecnização que introduziu um modo diferente na vivência da sociedade. Essa

mudança de curso da história mundial, e especificamente no ocidente, afetou diretamente o papel da

religião. O processo de modernização trouxe um movimento chamado iluminismo, que se

caracterizava de modo geral como o libertador das “irracionalidades” da religião, superstição e do

uso arbitrário do poder. Sob este ideário, esse movimento constituiu uma ruptura com a tradição e

floresceu com doutrinas de igualdade, liberdade, crença na inteligência humana e na razão universal.

“As ciências ocidentais não aceitavam nada como certo assim, e os pioneiros estavam cada vez mais

dispostos a arriscar um erro ou derrubar autoridades e instituições estabelecidas como a Bíblia, a

igreja e a tradição cristã” (ARMSTRONG, 1994: p. 298).

O iluminismo se contrapõe às trevas medievais como uma espécie de sol que ilumina o

mundo ocidental pela racionalidade que tem a função de libertar os homens das cadeias autoritárias

de um passado aprisionado pelos aparelhos ideológicos dominantes da época. Parece que esse

ideário de salvação dos problemas do homem expressados pelo espírito do iluminismo, em certo

sentido, expressa um protestantismo que também defende a liberdade, democracia, modernidade e

progresso. Evidentemente, estamos falando de um protestantismo que se caracteriza pelo fato de

privilegiar a concordância com uma série de formulações doutrinárias, tidas como expressões da

verdade, e que devem ser afirmadas sem nenhuma sombra de dúvida, como condição de “salvação”

e participação na comunidade eclesial.

A nova estrutura promovida pelo iluminismo na sociedade afetou a fé cristã de modo que

seus dogmas descritos na Bíblia precisavam provar sua reinvindicação à verdade e à validade. Então,

o cristianismo se agarrou com uma nova disciplina teológica: “apologética cristã”. Os papéis parece

terem se invertidos, a fé que tinha prioridade sobre a razão passou a ser suplantada pela razão.

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No paradigma iluminista, todos os problemas eram, em princípio, solucionáveis. É óbvio que muitos ainda não estavam equacionados, mas isso se devia simplesmente ao fato de ainda não termos dominado todos os dados relevantes. Tudo era possível explicar ou, no mínimo, tornar explicável (BOSCH, 2002: p. 325).

O iluminismo exerceu uma profunda influência sobre o protestantismo, especialmente depois

do século XVII, considerado por muitos como o século do racionalismo. A ilusão que permeava o

pensamento iluminista de criar um mundo de pessoas iguais e felizes foi incorporada pelo modo de

fazer missões dos protestantes que adotaram o preceito iluminista de que todas as pessoas eram

indivíduos emancipados e autônomos.

Os Batistas Regulares potiguares que vieram do ramo do protestantismo americano adotaram

a opção pela doutrina do pré-milenarismo, uma doutrina influênciada pelo pensamento iluminista,

pois operava sob a bandeira de uma escatologia segura, fechada e determinista. Essa visão apontava

para um futuro de bem-aventurança, uma utopia típica moderna.

O movimento pré-milenarista tem suas raízes complexas e entretecidas nas tradições do reavivamentismo, evangelicalismo, pietismo, americanismo e diferentes ortodoxios do século XIX. Ele deu origem a uma série de subespécies: adventismo, o movimento de santidade, pentecostalismo, fundamentalismo e evangelicalismo conservador. Todos estes, sem exceção, tornaram-se extremamente ativos em projetos missionários de âmbito mundial. Embora possam, às vezes, diferir significativamente entre si, compartilham uma gama de características comuns (BOSCH, 2002: p. 381).

A visão dicotômica dos Pré-Milenistas apontava para uma conversão ao cristianismo como

condição única de passagem das trevas absolutas para a luz absoluta. “A motivação missionária

passou gradualmente da ênfase na profundidade do amor de Deus para a concentração na iminência

e no horror do juízo divino” (BOSCH, 2004: p. 383). Além disso, a motivação missionária aconteceu

por diversos motivos, como: o amor a Cristo; a compaixão pelas pessoas consideradas eternamente

perdidas; o sentimento de dever; a consciência de superioridade cultural e a competição com os

esforços missionários católicos.

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Se os missionários de antanho não tivessem sido gigantes espirituais, não teriam ficado impunes pelo que fizeram, mas eram homens santos, de imensa coragem e personalidade. Sua bondade era translúcida, e sua intolerância, embora de todo desconcertante para não cristão, foi, não obstante, perdoada. (BOSCH, 2002: p. 414).

Além da visão Pré-Milenista dos Batistas Regulares que é uma subsunção ao iluminismo não

anti-religioso que surgiu nos Estados Unidos, outras crenças expressam a espiritualidade desse

grupo, como o “culto racional”, no sentido de que em sua liturgia não há espaço para invocações que

modifique significativamente o modelo adotado. A certeza doutrinária, que aponta para uma vida

eterna de total felicidade e conseqüentemente a salvação dos males desse mundo. O separatismo, que

segundo o entendimento dos Batistas Regulares é parte integrante de suas principais doutrinas. O

Batista Regular Addson Araújo faz o seguinte comentário sobre o tema da separação:

Adotamos a separação do mundo, da ideologia e influência do mundo, inclui também o Governo (Romanos 12:1-2), a separação particular, que é guardar-se santo, isento da corrupção do mundo e a sujeição da carne para que o Espírito trabalhe (Tiago 1:27). Ao contrário do que muitos imaginam separação não é uma opção mas um mandamento (Informação obtida em entrevista realizada no dia 10/09/2004).

Encontramos no ideário iluminista do indivíduo emancipado e certo da vitória dos males do

mundo semelhanças no paradigma missionário do grupo estudado. Agora resta o questionamento de

como tem sido realizado o empreendimento missionário do novo quadro do cristianismo protestante.

Será que ainda permanece sob a sombra do iluminismo?

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4 – TENSÕES DOS BATISTAS REGULARES20

4.1 – Batistas Regulares e o Núcleo Duro

Nenhuma ética no mundo pode nos dizer (...) em que momento e em que medida um fim moralmente bom justifica os meios e as conseqüências moralmente perigosas (Max Weber)

Os axiomas defendidos pelos Batistas Regulares poderão ser compreendidos como um

sistema de idéias fechadas, no sentido de que se protege contra qualquer pensamento diferente de

seus postulados. Por outro lado, por ser uma religião, é um sistema aberto porque se alimenta de

confirmações e verificações do mundo exterior.

Existem dois sistemas de idéias que são diferenciados: as teorias e as doutrinas. O

primeiro assume que há prioridade de abertura em relação ao encerramento. O segundo, as doutrinas,

podem ser entendidas como o sistema de idéias em que o encerramento é prioritário.

A teoria é aberta no sentido de que existe uma dependência do mundo empírico no qual

ela se relaciona. Esse tipo aberto pode ser chamado de auto-eco-organização que proporciona à

teoria uma certa resistência ao dogmatismo e à racionalização. A teoria pode ser entendida como

aquela que tem a capacidade de adaptação e modificação na articulação entre seus subsistemas

chegando a ponto de até abandonar um subsistema ou substituí-lo. Entretanto, não está disposta a

mudar seus parâmetros. “Uma teoria aberta é uma teoria que aceita a idéia da própria morte”

(MORIN, 1991: p. 118).

A doutrina assume uma postura de incontestação. Ela é irrefutável quando se alimenta

apenas do mundo exterior para confirmar seus postulados, pois recusa tudo o que se rebela contra a

sua lógica racionalizadora. A doutrina se fecha como modo de proteção aos seus dogmas, sua

verdade. Ela não aceita qualquer argumento que balance sua estrutura ortodoxa. “A doutrina

mantém-se em estado de mobilização permanente e inflama de maneira contínua o entusiasmo dos

20 Foto: Igreja Batista Bereiana Tirol, em Natal. Igreja desfiliada do movimento Batista Regular em 1994.

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seus fiéis violentamente ofensivo, ela ataca sem trégua as teorias e as outras doutrinas que ela

anatematiza” (MORIN, 1991: p. 119).

Apesar da doutrina se considerar estabelecida de uma vez por todas através da

realimentação de seus princípios, ela não pode ser considerada como uma coisa petrificada, pelo

contrário, são mais ardentes do que as teorias no sentido de que a dedicação dos fiéis e o culto

constituem elementos ativadores da doutrina.

Qualquer sistema de idéias tem uma tendência ao autoconservadorismo, incluindo as teorias

científicas. A teoria e a doutrina comportam em sua estrutura uma espécie de núcleo duro.

O núcleo duro é constituído por postulados indemonstráveis e por princípios ocultos (paradigmas), estes são indispensáveis à constituição de qualquer sistema de idéias, incluindo o científico. O núcleo determina os princípios e regras de organização das idéias, comporta os critérios que legitimam a verdade do sistema e selecionam os dados fundamentais nos quais se apóia; determina portanto, a rejeição ou ignorância do que contradiz a sua verdade e escapa aos seus critérios; elimina aquilo que, em função de seus axiomas e princípios lhe parece destituídos de sentido ou de realidade (MORIN, 1991: p. 116).

Os Batistas Regulares por se identificarem como um grupo conservador, autodoxo21,

indicam em suas doutrinas uma sistematização de dogmas fechados, constituindo em suas práticas

um núcleo duro que resiste a tudo que possa ameaçar, alterar de modo inovador a sua homeostasia.

Essa está delineada em seus acrósticos que foram aprovados pela XXV Asssembléia das Igrejas

Batistas Regulares do Brasil, em 23 a 27 de abril de 2003, Caraquatatuba, São Paulo. Posteriormente

publicados pela Editora Batista Regular com o título: “Os Distintivos Batistas Regulares”22.

Doutrinas que estão pautadas em 10 tomos: Bibliologia; Teologia; Cristologia; Pneumatologia;

Antropologia e Harmatiologia; Soteriologia; Angelologia e Demonologia; Eclesiologia; Prática

Eclesiástica e Escatologia. Esse é o núcleo de verdades incontestáveis dos Batistas Regulares.

21 É o que comporta-se em função dos seus princípios e das suas regras e tende a tornar-se ortodoxo (MORIN, 1991: p. 117).22 Sobre as doutrinas dos Batistas Regulares, ver livro: “Os Distintivos Batistas Regulares” (Editora Batista Regular, São Paulo, 2003).

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“Existe em toda religião um núcleo de verdades incontestáveis; existe um momento de

inserção no real e no social através de um conjunto de crenças que dá a uma determinada religião

uma face e uma fisionomia próprias” (TERRIN, 2004: p. 392).

A necessidade de cada religião se afirmar acontece devido suas narrativas estarem

pautadas numa espécie de carta de fundação, ou seja, em seus livros sagrados que se tornam

intérpretes autênticos de um conjunto de doutrinas que contém as verdades em que é necessário

acreditar. O credo de uma religião assume uma espécie de profissão de fé e uma coletânea de

verdades da fé.

Talvez a necessidade de um credo nas igrejas cristãs esteja ligada também ao ius, ao direito romano de que ainda se sente a influência e por um modo específico de conceber a religião não como fato de consciência, mas como fato comunitário que comprometia do ponto de vista jurídico (TERRIN, 2004: p. 393).

Segundo o pensamento de Terrin, o crer é um ato do coração, é uma expressão interior.

Porém, com o passar do tempo esse termo passou a denotar algo como “uma verdade”. O credo

como profissão de fé é um compromisso diante de uma comunidade, é um modo de testemunhar e

reforçar a verdade de uma religião. Esse assume um comprometimento diante das verdades contidas

no escopo doutrinário. É um tipo de crença que comporta uma verdade incontestável. Já o credo

como coletânea de verdades da fé se apresenta com o significado de “estar firme”, declarando uma

coisa como sólida.

Terrin aponta para uma reflexão extremamente relevante quando faz uma comparação entre

as religiões em que o credo é dado com mais ênfase e as que o credo não aparece com tanta

evidência. “Onde a religião tem menos caráter jurídico e social e assume principalmente o valor de

uma experiência profunda do homem, a fé não tem necessidade de se traduzir em fórmulas que

correm o risco de parecer verdades superficiais, objetivas, coisificadas” (TERRIN, 2004: p. 401).

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Possivelmente qualquer grupo religioso que a ênfase no credo seja mais explicitada, pode

ocorrer um mascaramento do insondável mistério da própria fé religiosa. Talvez os Batistas

Regulares se encaixem nesse tipo de expressão de fé porque como uma religião fundamentalista

cristã aspira a voltar a doutrinas claras e crenças fortes. O credo é transformado num “fazer”, em

princípios éticos e na severidade dos princípios morais em que se inspira.

As formações fundamentalistas, por sua vez, que ainda conservam o “credo” e a exigência do “crer”, vêem-se forçadas a transferir os seus dogmas mais para vertente “pragmática”, onde, se a verdade é intrinsecamente fraca, está porém em condições de passar a vez à ação e à moral” (TERRIN, 2004: p.404).

Atualmente no mundo ocidental que tende a julgar contraditória toda verdade porque respira

o espírito pós-moderno das incertezas, o credo das religiões passa a correr o risco de apenas fazer

parte de uma história do passado mais do que presente. Assim, como as religiões não podem não

enfatizar as suas verdades, sob pena de perderem a sua identidade e de não terem um fundamento

para a sua existência histórica.

Atentemos também para o fato de que a cultura contemporânea não adere às fórmulas dos

credos, mas aponta para a valorização das experiências do sobrenatural vividas pelo próprio sujeito.

Os crentes de hoje são empurrados pela cultura para ter um pedaço de paraíso agora e não apenas

viver olhando de longe o eventual vislumbre de luz que nasce no horizonte. Talvez isso seja um dos

motivos pelo qual as igrejas pentecostais e neopentecostais têm crescido mais do que as igrejas

Batistas.

4.2 – Batistas Regulares e a Baixa Complexidade

Os Batistas Modernos constituem um dos maiores grupos protestantes do mundo. Esse

grupo religioso conta hoje com aproximadamente cinqüenta milhões de membros23, não incluídos os

23 Fonte: www.bwanet.org – Acesso em 29/10/2005 às 14 h.

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não batizados e as crianças. Em nosso país, segundo as estatísticas de 200124, os batistas estão

representados por um milhão e oitocentos mil membros distribuídos em dez mil templos. Essa

representação numérica dos batistas no Brasil está espalhada nos principais grupos: a Convenção

Batista Brasileira; os Batistas Regulares; os Batistas Bíblicos; os Batistas Independentes e a

Convenção Batista Nacional.

O Rio Grande do Norte conta com pelo menos catorze mil batistas. Sendo que a

representatividade maior entre os Papa-Jerimuns está com os Batistas da Convenção, que contam

com sete mil membros distribuídos em seus setenta templos25 e os Batistas Regulares, com seus mais

de três mil membros distribuídos em seus 58 templos.

Os Batistas Regulares do Rio Grande do Norte durante sua trajetória histórica em solo

potiguar, têm sofrido algumas divisões. Essas que, de uma certa forma, têm sido característica

marcante do protestantismo ao longo dos séculos, possivelmente devido ao grande legado desse

grupo para humanidade que é a liberdade religiosa. No final da década de 40, os Regulares perderam

três igrejas: Igreja Batista Regular, em Parnamirim; Igreja Batista Regular, em Martins e a Igreja

Batista Regular, em Mossoró. Em 1994, saíram mais três igrejas: Igreja Batista Betel, em Mossoró;

Igreja Batista Bereiana, em Natal e a Igreja Batista Regular, em Lagoa Seca, Natal. Em 2002, saíram

as igrejas: Batista Missionária, em Ponta Negra, Natal; Batista Fundamentalista e a Batista Regular

da Fé, ambas em Mossoró. Totalizando nove igrejas que saíram da comunhão da Associação de

Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte. Atualmente quatro dessas igrejas estão na

Convenção Batista Norte-Rio-Grandense; três assumiram uma postura de batista “independente” e

duas assumiram posturas diferentes das doutrinas dos batistas de modo geral.

24 Fonte: Revista Veja – Em 3 de julho de 2002, p. 95. 25 Fonte: Livro Mensageiro da Convenção Batista Norte-Rio-Grandense, 2005, pp. 78-79.

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Batistas Regulares no RN

Membros Ativos 3244

Ex-Membros 2115

Total 5359

Batistas Regulares no RN em 2005

61%

39%Membros Ativos

Ex-Membros

Comenta o secretário da Associação das Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do

Norte, Sebastião Tenório:

Pode ser observado que, em alguns casos, obreiros não fundamentalistas, porémtravestidos, infiltrados em nosso meio, conseguem enganar. Não contentes, aplicam o golpe de misericórdia retirando suas igrejas da comunhão. Em geral, nunca colocaram um tijolo, por isso, não podem ter amor pela obra (Informaçãoobtida em entrevista realizada no dia 10/06/2005)

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Batistas Regulares no RN

Igrejas Afiliadas 58

Igrejas Desfiliadas 9

Total 67

9

58

0

10

20

30

40

50

60

Igrejas Afiliadas

Igrejas Afiliadas

Igrejas Desfiliadas

Observamos que as saídas de algumas igrejas do movimento26 Batista Regular, algumas

das quais eram as mais numerosas em termos de participantes, especificamente as que saíram nas

últimas duas décadas. Também verificamos que essas igrejas desfiliadas continuam em suas praticas

assumindo algum tipo de fundamentalismo e algumas até ainda continuam afirmando que são

Batistas Regulares.

A Associação de Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte, em reunião extraordinária realizada na Igreja Batista Regular de Satélite, em Natal, no dia 1º de outubro de 1994 resolve que as igrejas Batista Bereiana do Tirol, Natal; Batista Regular do Natal, em Lagoa Seca, Natal e a Igreja Batista Regular Betel, em Mossoró, não fazem mais parte de movimento Batista Regular por divergência doutrinária (Ata da Associação das Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte, em 01/10/1994, p. 30).

26 Sociologicamente um movimento é uma reação coletiva de indivíduos coalizados em torno de uma ideologia a fim de agirem em busca de objetivos previamente estabelecidos. É uma mobilização direcionada(BOUDON, R. E BOURRICAUD, F. Dicionário crítico de sociologia. São Paulo: Ed. Ática, 1993).

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A saída das igrejas aconteceu devido às novas configurações no quadro do protestantismo

brasileiro e as conseqüências da baixa complexidade vivenciadas nas relações entre essas igrejas.

Podemos tomar o conceito de baixa complexidade27 de Edgar Morin para compreendermos que esses

divisionismos também aconteceram devido à organização rígida e centralizada nas doutrinas e

porque esse grupo não dispõe de uma rica competência para manter sob controle os desviantes das

doutrinas que constituem seu núcleo duro. A baixa complexidade pode ser compreendida como

aquela que não permite a expressão dos seus antagonismos, nem tolera incertezas ou desordens e

nunca está pronta a correr riscos. Assim podemos perceber que a fraca comunicação entre as igrejas

e indivíduos é um dos elementos da baixa complexidade que, possivelmente, pode servir como uma

das possíveis compreensões das saídas de igrejas do movimento Batista Regular.

O apóstolo Paulo, escrevendo aos efésios, disse:

“Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,

de quem todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si

mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função” (Efésios 4:15-16).

Parece que a proposta de ligação apontada pelo texto acima deixou de acontecer entre os

Regulares no momento em que aconteceram as divisões em seu corpo, metaforicamente falando,

entre as Igrejas Batistas Regulares. O apóstolo Paulo usa o exemplo do corpo humano para comparar

com a Igreja. Lembremos que as juntas do corpo humano fazem a ligação entre os ossos, e os

ligamentos são tecidos muito fortes que prendem os ossos uns aos outros e também os órgãos do

corpo. Na prática, quando essas juntas e ligamentos não estão assumindo o papel de ligação forte a

tendência é a separação das partes ou a doença delas. Possivelmente essa linguagem de juntas e

ligamentos foi usada na intenção de que os membros da Igreja de Cristo estejam bem unidos uns aos

outros.

27 Tecido de elementos heterogêneos inseparavelmente associados que apresentam a relação paradoxal entre o uno e o múltiplo (DANTAS, 2004: p. 26).

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4.3 – Batistas Regulares e o Rito

“Os ritos acontecem. O que é rito? É aquilo que faz com que um dia seja diferente dos outros

dias, uma hora, das outras horas” (Saint-Exupéry).

O rito pode ser melhor compreendido quando recorremos a um entendimento do termo:

“sacramentum”, do mundo latino; e “samskara”, do mundo hindu. O primeiro (sacramentum),

nasceu no mundo militar dos sanitas, servindo para indicar uma consagração a Deus por parte dos

milites. Era uma espécie de juramento que faziam os soldados sob pena de perder sua vida caso

deixasse de cumprir suas obrigações. Idéia empregada por Tertuliano, ao defender que a fé cristã

deveria ser defendida como os iniciados defendiam os mistérios de Mitra. Posteriormente esse

termo se ligou à vulgata e recebeu uma conotação mais branda, assumindo um teor religioso cristão.

O segundo (samskara), é uma expressão do mundo hindu que mais se aproxima com a idéia de

“sacramento” do mundo latino. A expressão indica literalmente “o que é posto junto”, “o que leva a

perfeição” (que dá a perfeição). A idéia que sustenta essa concepção dos sacramentos é a de que

somente quem é iniciado através dos ritos e dos sacrifícios leva uma vida digna, perfeita, santa; é

purificado, transformado; torna-se um dvija (“nascido uma segunda vez”) (TERRIN, 2004: p. 287).

Segundo Aldo Natale Terrin, o “rito-sacramento” é a forma mais completa de performance,

uma performance global a que acompanha o que Turner chama de “fluxo, identificação,

participação” (TERRIN, 2004: p. 290). O rito é vivido, experimentado e participado, são momentos

acolhidos de modo especial que servem para criar um efeito forte e duradouro sobre a pessoa que

crê. “É preciso especialmente aceitar que quem reza e realiza ritos é o verdadeiro crente, é aquele

que sempre tem razão (The believer is always right) com relação à sua fé e ao seu comportamento

religioso” (TERRIN, 2004: p. 316).

A possibilidade dos Batistas Regulares não terem o rito como elemento de grande enfoque

em suas práticas pode ser devido a um interesse maior em cuidar de proteger suas doutrinas.

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Podemos afirmar que, nas crenças dos Batistas Regulares, o rito ganha pouco espaço, contudo, de

modo geral, as poucas expressões das performances rituais desse agrupamento criam um efeito forte

e duradouro sobre a pessoa que crê. Apesar do rito ser baseado na crença, não são as regras que

constituem a sua verdade profunda, mas o seu procedimento, o seu desenvolvimento através da

execução consecutiva e ordenada é que cria uma totalidade de significado. Poder-se-ia dizer que é a

série ordenada de sintagmas e a regularidade do desenvolvimento que possibilitam transcender a

consciência individual dos participantes e criar a unidade de significado, tanto para os participantes

quanto para os observadores.

Atualmente pode ser relevante fazer o seguinte questionamento: até que ponto as

performances e os ritos, que são por si mesmos um momento de recolha de todas as forças em vista

da estruturação dos próprios campos simbólicos para afirmar o espaço organizado, poderão

sobreviver? Parece existir no momento atual uma subversão das performances rituais no sentido de

que essa banalização pode ser atribuída à desorganização dos sinais, de certo modo à “paratoxia” que

domina incontestavelmente o âmbito do nosso representar e do nosso representar-nos hoje. Assim, o

rito na atualidade nada mais é que “a arena de perspectivas contraditórias e contestáveis, onde os

participantes têm as próprias razões, os seus pontos de vistas e os próprios motivos” (TERRIN,

2004: p. 388).

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5 – CONCLUSÃO

A linguagem mítica não pode traduzir-se em linguagem racional sem perder sua razão de ser. Ao tentar transformar-se em ciência, a teologia só conseguiu produzir uma caricatura de discurso racional, porque essas verdades não se prestam à demonstração científica (Karen Armstrong).

A forte ênfase conservadora dos Regulares ocorre devido ao conservadorismo teológico

que surgiu no início do século XX. Os Batistas Regulares do Rio Grande do Norte estão alicerçados

e realimentados sob os princípios doutrinários do Fundamentalismo Cristão que surgiu no início do

século XX.

O desafio que na atualidade parece se impor para os que se intitulam fundamentalistas é

o de uma reforma no Fundamentalismo. Talvez, primeiramente com uma reforma no sentido de um

retorno aos fundamentos. De modo que a verdade desse agrupamento possa ser defendida com

fineza, bom senso e misericórdia, sem confundir as idiossincrasias com um tipo de fundamentalismo

que se pretende praticar. Possivelmente, para isso acontecer seria necessária a adoção de uma

postura dinâmica, comunitária e integralizadora. Além disso, é preciso uma abertura para o diálogo e

uma revisão profunda de suas convicções cerradas, excludentes e ainda dependentes do iluminismo,

visando negociar até o limite da razoabilidade de modo que o reconhecimento do outro e seu direito

de existir possam contribuir para, no mínimo, uma convivência civilizada em meio à diversidade.

Além disso, talvez o máximo que podemos refletir e compreender sobre o fundamentalismo

cristão é de que hoje represente uma forma de expressão do discurso religioso adaptado do

cristianismo ao iluminismo, tornando-se uma forte expressão da modernidade. Em outras palavras,

resgatar a alta complexidade da religiosidade fundamental.

O fundamentalismo é expressão da própria Modernidade. A própria modernidade criou fundamentalismos, como a crença no fim da religião, no progresso da história... O fundamentalismo não é mero tradicionalismo ou

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antimodernismo. Seja permitido um trocadilho: ele é um antimodernismo moderno (DREHER,2002: p. 87).

Conseqüentemente, o fundamentalismo cristão coloca a segurança e a certeza em primeiro

lugar e condena tudo o que solapa essa certeza, presumivelmente considerada uma certeza

cartesiana. Também podemos observar uma atitude ambígua que os fundamentalistas detêm em

relação à modernidade, “pois se de um lado rejeitam alguns dos seus valores, como liberalismo, o

pluralismo, o progressismo e o secularismo, do outro apresenta traços modernistas como o

individualismo e o acesso às conquistas tecnológicas” (ALVES, 2005: p. 199). Possivelmente os

Batistas Regulares que têm suas premissas pousadas no fundamentalismo cristão expressem em certo

sentido um discurso religioso da modernidade através da opção de utilizar uma linha de interpretação

das Escrituras histórico-literal-gramatical que diretamente entra em sintonia com o pensamento

científico do século XIX. “No final do século XIX, ciência e racionalismo estavam na ordem do dia,

a religião tinha de ser racional para ser levada a sério” (ARMSTRONG, 2001, p. 166).

O fundamentalismo protestante de modo amplo acaba sendo oportunista, no sentido de que a

humanidade caminha de modo desorientado, cambaleando, sem um projeto que tente apontar para

resolução do caos planetário estabelecido. Apropriando-se de um mundo que aparentemente está à

deriva, o fundamentalismo cristão transmite aos seus fiéis a sensação de estar seguro, abrigado e

certo do futuro. Por um lado apresenta-se como uma opção de salvação e por outro aparenta uma

certa recusa ao enfrentar os dilemas de nosso tempo.

A situação pluralista ligada à secularização28 mergulha, de uma certa forma, o

fundamentalismo cristão numa crise de credibilidade e faz com que fique mais difícil manter ou

construir uma nova estrutura de plausibilidade para esse movimento. Entretanto, isso não quer dizer

que o fundamentalismo cristão está fadado ao fracasso ou desaparecimento.

28 Por secularização entendemos o processo pelo qual setores da sociedade e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos religiosos (BERGER, 1985: p. 119).

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Segundo o pensamento de Peter Berger, a situação pluralista oferece as instituições religiosas

duas opções ideais típicas: acomodar-se à situação, ou seja, modificar o produto de acordo com o

consumidor ou recusar-se a se acomodar ao entrincheirar-se atrás de quaisquer estruturas

sociorreligiosas que possam manter ou construir e continuar a professar as velhas objetividades tanto

quanto possível, como se nada tivesse acontecido. A segunda opção parece a que mais tem sido

acolhida pelos Batistas Regulares do Rio Grande do Norte.

O espírito da Pós-Modernidade sugere uma nova dinâmica no modelo tradicional da

espiritualidade nas Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte na atualidade. Entendemos

por espírito Pós-Modernista, um movimento intelectual que pretende abarcar todas as esferas da

cultura e da sociedade, com pretensões de fundar uma nova visão de mundo, criando um novo

paradigma epistemológico e cultural no âmbito das idéias em uma estrutura epocal no âmbito sócio-

histórico. Apesar do termo Pós-Moderno já ter sido cunhado pelo historiador Arnold Toynbee em

1947, popularizado pelo teórico francês Jean Franções Lyortard em 1979, e defendido por alguns

pensadores, especialmente os da Escola Francesa em Ciências Sociais, existe no meio universitário

uma vasta discussão acerca da viabilidade de usar o termo Pós-Modernidade para designar a época

atual. Visto que para alguns teóricos a utilização do termo Pós-Modernidade é inviável para designar

nossa época, já que, segundo eles, a era moderna ainda não foi superada. “A sociedade que entra no

século XXI não é menos moderna que a que entrou no século XX, o máximo que se pode dizer é que

ela é moderna de um modo diferente” (BAUMAN, 2001: p. 36). Lembremos que o surgimento da

modernidade deu-se sob a bandeira da esperança, assim, hoje não podemos dizer que não existe

ainda um certo tipo de esperança moderna. Então, a princípio, vamos considerar o Pós-Modernismo

como uma crítica aos valores e projetos da modernidade, sendo ele próprio um dos frutos dessas

conseqüências.

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Portanto, demonstramos a hipótese de que esse novo momento histórico aliado à crise de

plausibilidade dos agrupamentos religiosos, provocado pelo espírito Pós-Modernista, direciona os

Batistas Regulares a adaptar-se às novas configurações na sua práxis da espiritualidade. Também

entendemos que esse grupo por representar uma expressão da modernidade adota uma fixidez pratica

doutrinária que diferencia do eixo da estratégia de vida pós-moderna que tem como pressuposto não

fazer com que as práticas religiosas se fixem. Entendemos por espiritualidade os valores e crenças

de uma doutrina que mostra como deve ser o comportamento na vida diária. “Espiritualidade é na

maior parte das vezes freqüentemente descrita experimentalmente em termos de fé em um Deus ou

poder superior” (MOBERG, 2001: p 1).

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6 - REFERÊNCIAS

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7 – APÊNDICES

Igrejas Batistas Regulares do Rio Grande do Norte

1ª Igreja Batista Central em São José do Mipibu Fundador: Carl Mattews, em 1939. Total de Membros: 100 Rua Prefeito Inácio Henrique, S/N CEP 59 162-000

Templo antigo

Templo novo

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2ª Igreja Batista Regular em João CâmaraFundador: Carl Mattews, em 1946.Total de Membros: 30 Rua João Pessoa, 244CEP: 59 550-000

3ª Igreja Evangélica Batista em ParnamirimFundador: Carl Mattews, em 1946.Total de Membros: 80 Av Brigadeiro Everaldo BreveCEP 59 140-200

4ª Igreja Batista Regular em MacauFundador: Carl Mattews, em 1953.Total de Membros: 80 Rua Padre João Clemente, S/NCEP 59 500-000

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5ª Igreja Batista Regular em CaicóFundador:Daniel Holdem, em1954.Total de Membros: 75 Rua Joel Damasceno, 940CEP 59 300-000

6ª Igreja Batista Regular em Areia Branca Fundador: Walmar Mitchell, em1956.Total de Membros: 70 Rua Mestre Silvério Barreto, 417CEP 59 655-000

7ª Igreja Batista Regular em AssuFundador: Walmar Mitchell, em1956.Total de Membros: 110 Rua Bernardo Vieira, S/NCEP 59 650-000

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8ª Igreja Batista Bereiana em Ceará-MirimFundador: George Wisner,em1958.Total de Membros: 90 Rua Irmã Maria José, 33 – CohabCEP 59 570-000

9ª Igreja Batista Regular em CarnaubaisFundador: Fred Mc Clanaham, em1960.Total de Membros: 25 Rua Manoel B LacerdaMontenegro, 66CEP 59 665-000

10ª Igreja Batista Regular em IpanguaçuFundador: Raymond Lews, em1960.Total de Membros: 35 Av Norte, S/NCEP 59 508-000

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11ª Igreja Batista Regular em Poço Branco Fundador: Benjamin Peterson, em1963.Total de Membros: 10 Rua Nóbrega Machado, S/NCEP 59 560-000

12ª Igreja Batista Regular em Cidade da Esperança - Natal Fundador: Ricardo Mateus, em1970.Total de Membros: 120 Rua Condado, S/NCEP 59 071-290

13ª Igreja Batista Regular em Igapó - Natal Fundador: Dorothy Le Veness, em1970.Total de Membros: 65 Rua Isabel de Brito Lima, 723CEP 59 104-220

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14ª Igreja Batista Fundamentalista em Currais NovosFundador: Benjamin Peterson, em1972.Total de Membros: 100 Rua Sílvio Bezerra, 789CEP 59 380-000

15ª Igreja Evangélica Batista em Campo Redondo Fundador: Benjamin Peterson, em1972.Total de Membros: 80

Rua Senador João Câmara, 101CEP 59 230-000

16ª Igreja Batista Regular Lagoa Nova - MartinsFundador: Peter Brooks, em 1973.Total de Membros: 30 Povoado Lagoa Nova – MartinsCEP 59 801-000

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17ª Igreja Batista Regular em MossoróFundador: Robert Franklin, em1975.Total de Membros: 80 Rua Manoel Cirilo, 795 – Bairro Aeroporto CEP 59 605-020

18ª Igreja Batista Regular Filadélfia em UmarizalFundador: Peter Brooks, em1975.Total de Membros: 65 Av Rio Umari, S/NCEP 59 865-000

19ª Igreja Batista Regular Maranata em Mossoró Fundador: Fred Mc Clanaham, em1978.Total de Membros: 100 Rua Marieta Miranda, S/N – Abolição IICEP 59 619-640

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20ª Igreja Batista Regular em Neópolis - Natal Fundador: Richard Glenis, em 1980. Total de Membros: 60 Rua dos Ipês, 225CEP 59 080-200

21ª Igreja Batista Regular em Santa Catarina- Natal Fundador: Ricardo Mateus, em1980.Total de Membros: 195 Rua Guadalupe, 2020CEP 59 112-560

22ª Igreja Evangélica Batista em Parnamirim (congregação) Fundador: Nilton Ferreira, em 1980 Total de membros: 15 Rua São Joaquim, 128 – Rosa dos VentosCEP 59 150-000

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23ª Igreja Batista Regular Casa de Oração – Povoado de Malhada VermelhaFundador: João Marinho, em 1981. Total de Membros: 15 Povoado de Malhada Vermelha – CampoRedondoCEP 59 230-000

24ª Igreja Batista Regular Maranata - Martins Fundador: Pedro Brooks, em 1982. Total de Membros: 40 Rua Juselim, S/NCEP 59 800-000

25ª Igreja Batista Regular em Satélite - Natal Fundador:Willian Paul Branda, em1983.Total de Membros: 80 Rua das Perdizes, S/N – Cidade SatéliteCEP 59 067-480

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26ª Igreja Batista Fundamentalista em Santa CruzFundador: Benjamin Peterson, em1983.Total de Membros: 140 Rua Marechal Castelo Branco, 320 – Bairro 3 a 1CEP 59 200-000

27ª Igreja Batista Regular em Candelária - Natal Fundador: Sezion Batista, em1984.Total de Membros: 40 Rua Valdir Targino, 3585CEP 59 065-670

28ª Igreja Batista Fundamentalista em São Bento do Trairi Fundador: Benjamim Peterson, em 1985.Total de Membros: 35 Rua Teodorico Bezerra, S/NCEP 59 210-000

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29ª Igreja Batista Fundamentalista em Nova CruzFundador: Benjamim Perterson, em 1988. Total de Membros: 100 Rua Coronel José de Brito, 625CEP 59 215-000

30ª Igreja Batista Fundamentalista em Santo Antônio Fundador: Benjamim Peterson, em 1989. Total de Membros: 95 Rua Marechal Floriano, 646CEP 59 255-000

31ª Igreja Batista Fundamentalista em TangaráFundador: Benjamin Peterson, em 1989.Total de Membros: 45 Rua João Ataíde de Melo, 545CEP 59 240-000

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32ª Igreja Batista Regular Central - MossoróFundador: Robert Franklin, em 1990. Total de Membros: 75 Av Mota Neto, 349 – Nova BetâniaCEP 59 625-300

33ª Igreja Batista Fundamentalista em Monte Alegre Fundador: Benjamin Peterson, em 1991.Total de Membros: 55 Rua Alfredo Xavier, S/NCEP 59 182-000

34ª Igreja Batista Regular Bomfim – Nísia Floresta Fundador: Benjamin Peterson, em1991.Total de Membros: 10 Povoado de Nísia Floresta – Próximoao Acampamento Elim

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35ª Igreja Batista Regular Planície das Mangueiras - Natal Fundador: Jonas Ribeiro, em 1992. Total de Membros: 25 Av Maranguape, 2650CEP 59 111-000

36ª Igreja Batista Regular Parque dos Coqueiros - Natal Fundador: José Bispo, em 1992.Total de Membros: 60 Rua Vale do Jaguaribe, 92CEP 59 115-227

37ª Igreja Batista Regular em Pajuçara- Natal Fundador: Ricardo Mateus, em 1992.Total de Membros: 65 Rua Moema Tinoco Cunha Lima, 3681CEP 59 133-090

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38ª Igreja Batista Regular em Nova Parnamirim - Natal Fundador: Willian Paul Branda, em 1992.Total de Membros: 85 Rua Madre de Calcutá, S/NCEP 59 150-000

39ª Igreja Batista Regular Emanuel – Frutuoso Gomes Fundador: Peter Brooks, em 1993.Total de Membros: 90 Rua Padre Carlos, 10CEP 59 800-000

40ª Igreja Batista Regular em Capim Macio - NatalFundador: Willian Paul Branda, em 1994.Total de Membros: 85 Rua Neuza Farache, 1985CEP 59 082-100

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41ª Igreja Batista Regular em Angicos Fundador: Francisco Verde, em 1995. Total de Membros: 55 Rua São José, 23259 515-000

42ª Igreja Batista Regular Brasil Novo - NatalFundador: Ricardo Mateus, em 1999. Total de Membros: 15 Rua Canto das Florestas, 279CEP 59 122-000

43ª Igreja Batista Shekinah - Natal Fundador: Valmir Paes, em 1999.Total de Membros: 85 Av Santos Dumont, 478 – MirassolCEP 59 078-200

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44ª Igreja Batista Regular em ParnamirimFundador: Aureliano Colaço, em 1999 Total de Membros: 80 Rua Felisbela Vanderlei da Silva, 64Loteamento II – Rosa dos Ventos - ParnamirimCEP: 59 150-000

45ª Igreja Batista Fundamentalista em Coronel EzequielFundador: José Soares, em 2000. Total de Membros: 15 Rua Escola Estadual José Amorim, S/NCEP 59 220-000

46ª Igreja Batista Regular em Lajes PintadasFundador: Trevor, em 2000. Total de Membros: 30Rua Francisco Marques, 244CEP 59 235-000

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47ª Igreja Batista Regular em Caiçara dos Rios dos Ventos Fundador: Sebastião Tenório, em 2000.Total de Membros: 07 Rua João Vitorino, 58 – CentroCEP 59 540-000

48ª Igreja Batista Fundamentalista Paraíso – Santa CruzFundador: Billy Jones, em 2000. Total de Membros: 25 Rua Paulo Afonso, S/NCEP 59 200-000

49ª Igreja Batista Regular Manancial - NatalFundador: Sebastião Tenório, em 2001. Total de Membros: 60 Rua Maravilha, 06 – Neópolis I. Conj. JiquiCEP 59 086-090

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50ª Igreja Batista Regular em Santo Antônio do Pontengi Fundador: Douglas, em 2002. Total de Membros: 15 Rua Engenheiro Luciano Barros, 40CEP 59 289-000

51ª Igreja Batista Regular Boas Novas em Nísia Floresta Fundador: José Menino da H. Júnior, em2002. Total de Membros: 10 Rua Bela Vista, S/NCEP 59 162-000

52ª Igreja Batista Regular Jardim Aeroporto - Natal Fundador: Emídio Viana, em 2003. Total de Membros: 15 Rua Maria Amélia Machado, S/N

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53ª Igreja Batista Regular Sião em São José do Mipibu Fundador: Paulo, em 2003. Total de Membros: 10 Rua Praia da Barreta, 111CEP 59 162-000

54ª Igreja Batista Regular em ExtremozFundador: José Bispo, em 2004.Total de Membros: 25 Av dos Expedicionários, 225. P dos CoqueirosCEP 59 114-400

55ª Igreja Batista Regular em ItaúFundador: Willian Fernandes, em 2004. Total de Membros: 15 Rua Getúlio Vargas, S/NCEP 59 855-000

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56ª Igreja Batista Regular Macaíba Fundador: Sebastião Tenório, em 2005.Total de Membros: 10 Rua 27 de outubro, 26 – Morada da FéCEP: 59 280-000

57ª Igreja Batista Fundamentalista - Povoado de Santo Antônio Fundador: José Soares, em 2005. Total de Membros: 07 Povoado Santo Antônio – Coronel Ezequiel CEP: 59 220-000

58ª Igreja Batista Fundamentalista em Santa LuziaFundador: Laércio, em 2005.Total de Membros: 10 Bairro Santa Luzia – Nova CruzCEP: 59 215-000