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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ CURSO DE TURISMO BACHARELADO Diana Rayssa dos Santos Guerra AULA DE CAMPO COMO MÉTODO DE VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL: UM ESTUDO DE CASO Currais Novos/RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CURSO DE TURISMO BACHARELADO

Diana Rayssa dos Santos Guerra

AULA DE CAMPO COMO MÉTODO DE VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL:

UM ESTUDO DE CASO

Currais Novos/RN

2016

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Diana Rayssa dos Santos Guerra

AULA DE CAMPO COMO MÉTODO DE VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL:

UM ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, campus Currais Novos, como pré-requisito para obtenção do grau de bacharel em turismo.

Orientadora: Profa. Dra. Mabel Simone de Araújo Bezerra Guardia

Currais Novos/RN

2016

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ensino Superior do Seridó - CERES Currais Novos

Guerra, Diana Rayssa Dos Santos.

Aula de Campo como Método de Valorização Patrimonial: um estudo de caso / Diana Rayssa Dos Santos Guerra. - Currais

Novos, 2016.

81f.: il. color.

Orientadora: Profa. Dra. Mabel Simone de Araújo Bezerra Guardia.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino

Superior do Seridó. Departamento de Ciência Sociais e Humanas. Bacharelado em Turismo.

1. Turismo - Monografia. 2. Método de Ensino - Monografia. 3.

Valorização Patrimonial - Monografia. I. Guardia, Mabel Simone de

Araújo Bezerra. II. Título.

RN/UF/BSCN CDU 338.48

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AULA DE CAMPO COMO MÉTODO DE VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL:

UM ESTUDO DE CASO

O trabalho apresentado foi julgado e aprovado para obtenção do grau de bacharel

em Turismo, no curso de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte – UFRN.

Currais Novos/RN, ___ de ___________ de 2016.

____________________________________________________

Profa. Dra. Carolina Todesco

Coordenadora do Curso de Turismo

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Profa. Dra. Mabel Simone de Araújo Bezerra Guardia

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Orientadora

__________________________________________________ Profa. Dra. Paula Rejane Fernandes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Examinadora

__________________________________________________ Profa. Dra. Carolina Todesco

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Examinadora

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de Direito e que se fizerem necessários, que assumo

total responsabilidade pelo material aqui apresentado, isentando a Universidade

Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, à Coordenação do Curso, a Banca

Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do aporte

ideológico empregado ao mesmo.

Conforme estabelece o Código Penal Brasileiro, concernente aos crimes contra a

propriedade intelectual o artigo n.º 184 – afirma que: Violar direito autoral: Pena –

detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus parágrafos 1º e 2º,

consignam, respectivamente:

§1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, no todo ou em parte,

sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena – reclusão,

de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, (...).

§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda,

aluga, introduz no País, adquire oculta, empresta troca ou tem em depósito, com

intuito de lucro, original ou cópia de obra intelectual, (...) produzidos ou reproduzidos

com violação de direito autoral.

Diante do que apresenta o artigo n.º 184 do Código Penal Brasileiro, estou ciente

que poderei responder civil, criminalmente e/ou administrativamente, caso seja

comprovado plágio integral ou parcial do trabalho,

Currais Novos-RN, ___ de ____________ de 2016.

________________________________

Diana Rayssa dos Santos Guerra

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Dedico este trabalho a Deus, e a minha

família, que também fazem parte dessa

conquista.

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AGRADECIMENTOS

Os meus mais sinceros agradecimentos a Deus e todos os santos e

santas, todos aqueles que intercederam por mim, acalentando-me durante as várias

frustrações nos momentos de nervosismo e incertezas ao longo do curso, já que

tratando-se de mim não é uma tarefa fácil.

Agradeço a minha mãe Marinês, meu maior exemplo de educadora, que

sempre acreditou, lutou e sofreu junto com todos os seus alunos, com a esperança

de uma educação melhor, e que sempre rezou por mim. A meu pai Geoval, que me

ensinou a nunca ser submissa perante as injustiças, que me apoio e falou tudo que

eu precisava ouvir. A meu irmão Diêgo, que me ajuda a pôr em prática minhas

ideias. A meu irmão Diôgo que de todas as pessoas do mundo, é você quem sempre

lembra-me de rir das coisas da vida. Saibam que vocês são meu porto seguro, que

me acompanharam de perto, e me auxiliaram nessa faze da minha vida.

Principalmente nos momentos tempestuosos, que sentia estar nadando contra a

maré, mesmo nascida e criada no semiárido.

Arthur meu amigo, não poderia esquecer de ti, ainda divirto-me à beça ao

recordar-me dos nossos complexos planos de conspiração, que eram criados

meticulosamente nos intervalos das numerosas aulas. Juliana a garota da discórdia,

brincadeiras à parte, adorava discutir com você sobre a vida o universo e tudo mais.

De modo geral a minha turma que me ajudou muito ao longo do curso.

As professoras Mabel, Carolina, Paula e Kaká saibam que vocês foram

responsáveis por fazer uma verdadeira bagunça na minha vida nos últimos períodos

do curso. Que fique registrado, vocês me mostraram que existe muitas formas de

buscar conhecimento, mas que em resumo a vida sempre vai ensinar o que se

precisa aprender, seja por bem ou por mal.

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Que bom rever-te assim, cidade linda, Onde, outrora, feliz, tive o meu teto, Trago-te muitas flores, trago afeto E essa saudade imensa, que não finda.

Doutor Luiz Gonzaga de Souza

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RESUMO

Ao abordar o turismo e a educação como áreas que podem ser interligadas, surgiu o interesse em saber sobre o turismo como método de ensino, visto que a prática de realização de aulas de campo na educação já ocorre há bastante tempo, mas é pouco estudada pelo turismo. Desta forma, o que instigou a pesquisar sobre este assunto foi conhecer os benefícios da aula de campo como método de valorização patrimonial na cidade de Currais Novos. A metodologia de trabalho utilizada na pesquisa é dividida em: um estudo de caso realizado na Escola Municipal Ausônio Araújo que tem um caráter qualitativo, e fundamentado no método de Educação Patrimonial, e como trata-se de crianças, também foi utilizado a Zona de Desenvolvimento Proximal, conceito este desenvolvido por Lev Vygotsky, para avaliar o aprendizado, observando como se deu o desenvolvimento dos alunos no decorrer da atividade. Para o levantamento dos dados foi realizada uma entrevista com a professora responsável pela turma, para conhecer os conteúdos que são lecionados ao 3º ano do ensino fundamental e as dificuldades na realização de uma atividade externa, além de utilizar levantamentos bibliográficos para subsidiar os capítulos teóricos, buscando temas como o turismo e a educação, o patrimônio e o turismo e o ensino da história local. Os resultados foram apresentados em quatro etapas de acordo com o método de Educação Patrimonial, analisando-os com base no referencial teórico, o que possibilitou o conhecimento dos benefícios que a aula de campo proporcionou a educação como método de ensino, e por fim, buscou-se relacionar os resultados de outras pesquisas realizadas com temática parecidas, comparando aos resultados obtidos. Com isso, constatou-se que a aula de campo é um método que auxiliou no aprendizado das crianças.

Palavras-Chaves: Aula de Campo. Método de Ensino. Valorização Patrimonial.

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ABSTRACT

In dealing with the tourism and the education as areas that can be interconnected, it has developed the interest in knowing about tourism as method of teaching, as long as the practice of field classes in education has been going on for a long time, but this practice is little studied by the tourism. In this way, what encourage us to research about this topic was to know the benefits of the field class as method of patrimonial valorization in the city of Currais Novos. The methodology used in our research is divided in: a case study carried out in the municipal school Ausônio Araújo, a qualitative research and this research is based on the method of patrimonial education, and how it deals with children, it was also used the Zone of proximal development, concept developed by Lev Vygotsky, to assess the learning and observing the development of the students during the activity. For data collection, it was carried out an interview with the teacher to know the contents taught in the 3rd grade of the elementary education and the difficulties in realising of an outdoor activity. In addition to use bibliographic search to produce the theoretical chapters, searching themes related to tourism and education, patrimony and tourism, and the teaching of the local history. The results were presented in four steps according to the method of patrimonial education, analysing them according to the theoretical frame, what provided the knowledge of the benefits of a field class provided to the ducation as method of teaching. In conclusion, it was searched to relate the results of similar researches comparing the results. Therefore, we found that the field class is a method which helped in the children learning of the students.

Key-words: Field class. Method of teaching. Patrimonial valorisation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Ilustração da Igreja e da Imagem de Sant’Ana .......................................... 39

Figura 2. Matriz de Sant’Ana .................................................................................... 41

Figura 3. Monumento em homenagem a Ulysses Telêmaco.................................... 41

Figura 4. Praça Cristo Rei ........................................................................................ 42

Figura 5. Monumento de Cristo Rei do Seridó .......................................................... 42

Figura 6. Praça Cívica Desembargador Tomaz Salustino ........................................ 43

Figura 7. Estátua do Desembargador Tomaz Salustino ........................................... 43

Figura 8. Residência de Desembargador Tomaz Salustino ..................................... 44

Figura 9. Palácio Municipal “Prefeito Raul Macêdo” ................................................. 45

Figura 10. Coreto Guarany ....................................................................................... 45

Figura 11. Tungstênio Hotel ..................................................................................... 46

Figura 12. Monumento do Primeiro Centenário da Fundação de Currais Novos ..... 47

Figura 13. Fundação Cultural “José Bezerra Gomes” .............................................. 47

Figura 14. Apresentação das fotos dos patrimônios de Currais Novos. ................... 55

Figura 15. Participação dos alunos na apresentação. .............................................. 56

Figura 16. Explicação da atividade. .......................................................................... 57

Figura 17. aluno pesquisando no livro sobre patrimônio .......................................... 57

Figura 18. Momento da leitura compartilhada .......................................................... 59

Figura 19. Percurso realizado no Itinerário Sobretudo Currais Novos ...................... 60

Figura 20. Início do itinerário Sobretudo Currais Novos ........................................... 60

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Método de Educação Patrimonial ............................................................ 19

Quadro 2. Principais características e cuidados de crianças entre 7 e 12 anos ....... 25

Quadro 3. Agrupamento com o método DSC das elaborações textuais e ilustrações

da turma antes da aula de campo. ............................................................................ 58

Quadro 4. Agrupamento com o método DSC das elaborações textuais e ilustrações

da turma após a aula de campo. ............................................................................... 61

Quadro 5. Agrupamento com o método DSC das elaborações textuais e ilustrações

da turma, após a aula de campo e textos complementares. ..................................... 64

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AEE: Sala de Atendimento Educacional Especializado

BBC: Corporação Britânica de Radiodifusão1

CNE: Conselho Nacional de Educação

DSC: Discurso do Sujeito Coletivo

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICOMOS: Conselho Internacional de Monumentos e Sítios2

IDEB: Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

INEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

IPHAN: Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

MEC: Ministério da Educação

PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais

PDITS: Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável

PE: Pernambuco

PNAIC: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

PNE: Plano Nacional de Educação

RN: Rio Grande do Norte

UNESCO: Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura3

ZDP: Zona de Desenvolvimento Proximal

1 British Broadcasting Corporation.

2 International Council of Monuments and Sites.

3 United Nations Educational Scientific and Cultural Organization.

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SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................. 14

1 Turismo e Educação .............................................................................................. 20

1.1 Principais apontamentos sobre o turismo e a educação .................................. 21

1.2 Aula de campo como metodologia de ensino .................................................. 23

1.3 Breve Caraterização da Faixa Etária ............................................................... 25

2 Turismo e Educação Patrimonial ............................................................................ 27

2.1 Principais apontamentos sobre o patrimônio ................................................... 28

2.2 Patrimônio e a relação com a identidade local ................................................. 30

2.3 Educação patrimonial ...................................................................................... 33

3 História Local e o Patrimônio .................................................................................. 36

3.1 Contextualização Histórica de Currais Novos .................................................. 37

3.2 Os Patrimônios de Currais Novos .................................................................... 40

3.3 O ensino da história local e o Patrimônio ......................................................... 48

4 Análise do Processo de Valorização Patrimonial dos Alunos do 3º ano da Escola Municipal Ausônio Araújo .......................................................................................... 51

4.1 Apresentação e análise dos dados .................................................................. 52

4.1.1 Etapa 1: Observação................................................................................. 55

4.1.2 Etapa 2: Registro ...................................................................................... 56

4.1.4 Etapa 4: Apropriação................................................................................. 61

4.2 Discussão dos resultados ................................................................................ 65

Considerações Finais ................................................................................................ 68

Referências ............................................................................................................... 70

Anexos ...................................................................................................................... 74

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INTRODUÇÃO

A educação brasileira tem gerado comoção nos últimos anos, sendo

estudada com o objetivo de desenvolver métodos e técnicas para melhoria da

qualidade do ensino-aprendizado. Estudos esses que resultaram em documentos

como o Plano Nacional de Educação 2014-2024 (PNE), sancionado em junho de

2014, que foi o resultado de quatro anos de pesquisas e consultas públicas, sendo

ouvidos professores de todos os níveis e a população no geral (CRUZ; MONTEIRO,

2016).

No site do Ministério da Educação (MEC), é possível observar os esforços

do governo para uma melhoria efetiva da educação no Brasil. O Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do

Ensino Médio, são ações do PNE que o Governo Federal comprometeu-se a

desenvolver para a capacitação dos professores do ensino fundamental e médio.

O Anuário Brasileiro da Educação Básica do ano de 2016, organizado por

Cruz e Monteiro (2016) tem como finalidade avaliar o desenvolvimento do PNE,

analisando se as metas foram alcançadas, na qual alguns prazos já seguem

inalcançados desde 2015. Outra ação que visa a melhora da educação brasileira foi

resultado de uma série de estudos, seminários, pesquisas, debates e audiências

públicas do Conselho Nacional de Educação (CNE) que resultaram na atualização

das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica de 2016. Documento que

possui orientações novas para o ensino, de grande importância.

O MEC também apresenta o Índice de Desenvolvimento da Educação

Básica (IDEB), que foi criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), como forma de medir a qualidade

do aprendizado em nível nacional, instituindo metas para a melhoria da qualidade do

ensino. Com isso, de acordo com o INEP:

O índice nos anos iniciais do Ensino Fundamental vem evoluindo progressivamente desde que o Ideb começou a ser calculado, em 2005, permitindo o monitoramento das escolas e das redes de ensino. O Ideb passou de 3,8, em 2005; para 5,5, em 2015, superando as metas estipuladas. Este ano, apenas três estados não alcançaram as metas: Amapá, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Essa média é calculada de acordo com índices de cada escola como a

taxa de rendimento escolar e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo

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INEP. Embora o governo brasileiro esteja reunindo esforços para conseguir melhorar

e educação do país, e gradualmente tenha alcançado alguns resultados positivos,

está longe dos países referências em educação de qualidade.

Sintomas de que a educação ainda tem um grande percurso para

melhoria efetiva, são algumas reportagens que apresentam o baixo desempenho do

Brasil em rankings relacionados a educação. O relatório realizado pela Global

Information Technology, em Genebra na Suíça aponta o Brasil em 133ª posição

entre 139 nações, sobre a qualidade da educação em matemática e ciências,

necessitando apenas do domínio de conceitos básicos (VEJA, 2016)

Bem como, uma notícia publicada pela BBC Brasil (2016), aponta que a

educação básica brasileira para a formação de capital humano, teve o pior

desempenho da América Latina. Segundo a BBC Brasil (2016), embora seja o país

com a oitava maior economia do mundo, a educação básica apresenta-se como um

problema para a formação profissional, refletindo na qualificação do capital humano,

no qual foi responsável pelo baixo desempenho verificado no estudo do Fórum

Econômico Mundial sobre o êxito dos países na preparação da população para

desenvolver um valor econômico.

Desta forma, ao problematizar a realidade vivenciada no país, o turismo

unindo-se a educação, se torna um meio de aproximar a teoria da prática como uma

tentativa de melhorar a qualidade do ensino, pois o conteúdo estudado é a base,

mas é interessante a análise crítica da sociedade para a construção de

conhecimento. Com isso, se faz necessário entender a ligação do patrimônio com o

turismo, para assim compreender a relação que existe entre a educação e a

formação do indivíduo. De acordo com Rodrigues (2007, p. 17):

Hoje entendemos que, além de servir ao conhecimento do passado, os remanescentes materiais de cultura são testemunhos de experiências vividas, coletiva ou individualmente, e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaço, de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepção de um conjunto de elementos comuns, que fornecem o sentido de grupo e compõem a identidade coletiva. Assim, acreditamos que preservar o patrimônio cultural [...] é garantir que a sociedade tenha maiores oportunidades de perceber a si própria.

Nesse sentido, ao instigar a análise do patrimônio da cidade de Currais

Novos, a escola viabiliza o estudo da história local por meio do turismo, sendo uma

possibilidade de democratização do acesso a informação cultural. O turismo assume

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a função de ferramenta metodológica para o ensino, podendo ser um diferencial na

formação acadêmica dos discentes. Assim, esse assunto torna-se de interesse

social amplo, pois envolve a educação e a formação dos indivíduos, na posição de

futuros cidadãos.

A análise de como auxiliar a educação por meio do turismo faz-se

relevante, pois trata-se de um tema pouco estudado, e a produção de novas

pesquisas representa o desenvolvimento de um segmento do turismo que está em

ascensão, o turismo pedagógico. Nesta pesquisa, o foco foi a valorização

patrimonial, assunto esse que possui poucos estudos na região.

É nessa linha de pensamento que surgiu o interesse em pesquisar sobre

a relação do turismo e a educação, como o turismo pode ser uma forma de melhoria

do ensino. Assim, emerge a pergunta: Quais são os benefícios da aula de campo

como método de valorização patrimonial. Para isso foi realizado um estudo de caso

no 3º ano “A” da Escola Municipal Ausônio Araújo, em Currais Novos/RN.

O objetivo da pesquisa foi: Conhecer os benefícios da aula de campo

como método de valorização patrimonial. Bem como, interessava saber outros

fatores que influenciam na realização da atividade, assim, também eram objetivos:

observar o envolvimento dos alunos na atividade; Verificar o aprendizado após a

aula de campo; E levantar as dificuldades da escola na realização da atividade

externa.

TIPO DO ESTUDO

Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa, Strauss e Corbin (2008)

afirmam que são resultados que não se alcança por meios estatísticos, por

corresponder a pesquisa sobre movimentos sociais, experiências vividas,

fenômenos culturais, comportamentos, emoções e sentimentos, de modo geral

sobre a vida das pessoas. Assim, é qualitativa porque pretende-se observar a

experiência vivenciada pelos alunos, encaixando-se no conceito citado. Mas, isso

não significa que as pesquisas qualitativas não utilizem dados quantificados, de

acordo com Strauss e Corbin (2008, p. 23-24)

Alguns dados podem ser quantificados, como no caso do censo ou de informações históricas sobre pessoas ou objetos estudados, mas o grosso da análise é interpretativa. Na verdade, o termo “pesquisa

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qualitativa” é confuso porque pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Alguns pesquisadores reúnem dados através de entrevistas, técnicas normalmente associadas aos métodos qualitativos. Porém, eles codificam os dados de uma forma que permita que sejam estatisticamente analisados. Esses são, na verdade, dados qualitativos quantificados.

Nesse sentido, a utilização de gráficos e tabelas são principalmente para

conseguir analisar possíveis padrões, relacionando os dados de forma a facilitar o

entendimento. Com isso, a pesquisa qualitativa não caracteriza-se pela ausência de

dados numéricos, mas pela forma e os objetivos da análise, buscando pesquisar

fenômenos subjetivos da vida das pessoas, como sentimentos e experiências de

vida, no qual os números não traduzem a complexidade do fato, apenas facilitam a

análise interpretativa dos dados coletados.

O tipo da pesquisa é exploratória e descritiva. É exploratória porque

segundo Veal (2011 p.29), “[...] procura descobrir, descrever ou mapear padrões de

comportamento em áreas ou atividades que não foram previamente estudados”. Na

região possui poucas pesquisas sobre turismo pedagógico e educação patrimonial.

De acordo com o pensamento de Souza, Fialho e Otani (2007, p. 28), é

descritiva pois “trata-se da descrição do fato ou fenômeno através de levantamentos

ou observações”. Desta forma, as observações e as informações coletadas são

descritas apresentando as características do fato assim como foram percebidos.

Caracteriza-se como pesquisa ação, que de acordo com Souza, Fialho e

Otani, (2007, p. 42) apresenta que é um “tipo de pesquisa que envolve a

participação efetiva do pesquisador e a ação por parte das pessoas ou grupos

envolvidos no problema objetivo do estudo [...]”. Nesse caso, busca analisar as

consequências da intervenção no ambiente escolar, como os alunos passaram a

perceber a história e o patrimônio da cidade.

Também é um estudo de caso, que de acordo com Souza, Fialho e Otani,

(2007, p.42) Grifo da autora.

[...] é uma pesquisa que se caracteriza por um estudo aprofundado e exaustivo de um caso específico, que seja relevante pelo potencial de abrangência, de forma a permitir, um amplo e detalhado conhecimento do caso, fato ou fenômeno estudado, através do processo de análise e interpretação.

Essa pesquisa é um estudo de caso porque utiliza a análise de uma sala,

ou seja o 3º ano A, do turno matutino da Escola Municipal Ausônio Araújo como

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objeto de estudo, onde a pesquisa foi aplicada. Assim, foi observado o aprendizado

do patrimônio em sala antes da visita e após, comparando os resultados obtidos

para identificar o que os alunos compreenderam na aula de campo. Para essa

pesquisa foram necessários também o levantamento bibliográfico e documental,

consultas em trabalhos científicos e periódicos, bem como a coleta de dados

empíricos.

CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO DE ESTUDO

O universo de estudo, segundo Gil (2009), é um grupo de elementos que

tem alguns atributos em comum, nesse caso a pesquisa visa conhecer a valorização

patrimonial na percepção das crianças, sendo a característica principal a faixa etária

entre 7 e 12 anos, esse foi o universo da pesquisa. Uma escola com fundamental 1

é um meio de amostragem que consegue atingir esse universo.

COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Foi utilizado o método de entrevista que segundo Gil (2009 p. 109) “pode-

se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao

investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que

interessam à investigação”. Desta forma, ao entrevistar a professora responsável

pela turma, buscou-se levantar as informações sobre as dificuldades na realização

de uma atividade fora da escola, e os conteúdos trabalhados com a turma sobre os

patrimônios e a história local.

Foi elaborado um itinerário que segundo Bahl (2004 p. 41) é um “[...]

caminho a seguir de um local a outro”, aplicando-o como aula de campo. Para o

planejamento do itinerário foi levantado informações bibliográficas sobre os

patrimônios de Currais Novos. Como forma de ilustrar o percurso foram utilizadas

imagens do Google Earth, indicando o percurso realizado.

Também foi utilizado para a análise e coleta de dados o método de

educação patrimonial apresentado por Grunberg (2007), em que o desenvolvimento

possui quatro (4) etapas. O quadro 2, sobre a método de educação patrimonial,

expõe as etapas e explica o que cada uma delas objetiva.

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Quadro 1. Método de Educação Patrimonial

ETAPAS BREVE DESCRIÇÃO DAS ETAPAS

ETAPA 1 OBSERVAÇÃO

Para a observação inicial, usamos exercícios sensoriais por meio de perguntas, experimentações, provas, medições, jogos de adivinhação e detetive, etc., de forma que se explore, ao máximo, o bem cultural ou tema a ser conhecido.

ETAPA 2 REGISTRO

Ocorre por meio de desenhos, descrições verbais ou escritas, gráficos, fotografias, maquetes, mapas, busca-se fixar o conhecimento percebido, aprofundando a observação e o pensamento lógico e intuitivo.

ETAPA 3 EXPLORAÇÃO

A análise do bem cultural ocorre com discussões, questionamentos, avaliações, pesquisas em outros lugares (como bibliotecas, arquivos, cartórios, jornais, revistas, entrevistas com familiares e pessoas da comunidade), desenvolvendo as capacidades de análise e espírito crítico, interpretando as evidências e os significados.

ETAPA 4 APROPRIAÇÃO

Ocorre a recriação do bem cultural, através de releitura, dramatização, interpretação em diferentes meios de expressão (pintura, escultura, teatro, dança, música, fotografia, poesia, textos, filmes, vídeos, etc.), provocando, nos participantes, uma atuação criativa e valorizando assim o bem trabalhado

Fonte: adaptado pela autora de Grunberg (2007)

Utilizou-se também do método de análise do Discurso do Sujeito Coletivo

(DSC) apresentado por Figueiredo et. al. (2013), no qual consiste em uma síntese

qualitativa das respostas do grupo pesquisado, destacando assim, as palavras

chaves e a ideia principal apresentado pelo conjunto de respostas do grupo, para

elaboração de um discurso homogêneo, representando o pensamento conjunto do

grupo estudado.

Para analisar o aprendizado das crianças, também foi utilizado Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP), auxiliando na identificação dos conteúdos que os

alunos conhecem mas não dominam sendo necessário a ajuda da professora, e o

que passaram a realizar sem ajuda ao conhecer os patrimônios. A pesquisa foi

definida em 4 etapas com base no método de educação patrimonial, e a análise dos

dados foi através do ZDP.

O trabalho foi estruturado de forma a apresentar inicialmente o

embasamento teórico, sendo dividido em três seções, Turismo e Educação, Turismo

e Educação Patrimonial, História Local e o Patrimônio. Em seguida foi realizada a

apresentação e discussão dos resultados, expondo os dados coletados e

relacionando com outras pesquisas com temáticas parecidas.

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1 TURISMO E EDUCAÇÃO

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1.1 PRINCIPAIS APONTAMENTOS SOBRE O TURISMO E A EDUCAÇÃO

As primeiras formas de turismo vinculadas a educação surgiram por volta

dos séculos XVIII e XIX na Inglaterra. Eram costumes comuns das famílias nobres

inglesas mandarem os filhos juntamente com seus mestres, para realizarem o grand

tour nos centros culturais europeus, sob a obstinada denominação de viagens de

estudos (ANDRADE, 2004). Essas viagens eram para aprender sobre a cultura e a

linguagem dos diferentes povos da Europa, conhecendo a arte, a literatura, a

música, a política, e outros aspectos sociais que contribuem para a formação do

indivíduo. Nesse sentido, as viagens de estudos, representam um enriquecimento da

formação acadêmica, unindo a teoria e a vivência da prática.

Essas viagens de estudos, segundo Andrade (2004) tinham a duração

média de três anos, e quando concluídas lhes concediam significativo status social,

apesar da programação ser estruturada com base na visita de vários atrativos

prazerosos, a finalidade principal era aprender sobre a cultura e os costumes

europeus, considerados na época como mais evoluído. Assim, pode-se considerar

que “[...] ao aliar as viagens ao processo educativo, o grand tour seja o antecessor

do que hoje se denomina turismo pedagógico” (SOUZA; MELO; PERINOTTO, 2011,

p. 54).

Nesse sentido, ao longo dos anos o turismo como forma de ensino foi

adaptando-se à cultura dos povos, sendo utilizado como uma forma diferenciada de

aprendizado, para alguns como meio de interligar a teoria e a prática, para outros

uma forma de aquisição de novos conhecimentos culturais, político, sociais e demais

fatores que fazem parte da vivência humana. Assim, Beni (2002) apresenta que o

uso do turismo como aula de campo é um resgate de uma prática a bastante tempo

utilizada no ensino particular dos Estados Unidos, e no Brasil começou a ser usado

em algumas escolas de elite, na qual a visita era conveniente para o

desenvolvimento educacional dos alunos.

Para compreender essa relação intrínseca entre o turismo e a educação,

faz-se relevante entender que, o principal ponto de interseção entre ambos, são as

interações sociais que estão presentes nas duas atividades. Para o participante as

experiências são significativas, capazes de instigar a reflexão sobre as diversas

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relações humanas, e as diferentes formas de entender e organizar o mundo

(SOUZA; MELO; PERINOTTO, 2011).

Sabendo disso, para qualquer finalidade, a definição de turismo que

melhor representa a linha de raciocínio desse trabalho é exposto no pensamento de

Matos (2012, p.3), que “considera-se turismo pedagógico toda atividade didático -

pedagógica que acontece fora do ambiente físico escolar e que pode ser identificada

por meio de uma excursão, viagem ou visita técnica”.

Desta forma, as atividades didático-pedagógicas realizadas fora da sala

de aula devem ser organizadas em conformidade com o conteúdo, e inseridas no

currículo escolar. Como o processo de ensino-aprendizado vai além dos limites da

sala de aula, o turismo como aula de campo é um meio de apresentar o indivíduo

aos problemas reais da sociedade, educando-o para o exercício da cidadania,

apresentando-se como uma proposta de ensino multidisciplinar (MATOS, 2012).

Ao aproximar a escola da realidade, é possível tratar de fatores sociais

complexos que os livros não conseguem retratar. “A realização do turismo

pedagógico pretende reunir a atividade pedagógica, voltada para o desenvolvimento

cognitivo, social e afetivo do aluno, e a ludicidade encontrada naturalmente nos

passeios” (SOUZA; MELO; PERINOTTO, 2011 p.55).

Com isso, Matos (2012, p.4) apresenta que um elemento pertinente para

o aprendizado das pessoas é a “representação de conteúdos, seus símbolos e

contextos em que são inseridos, isto é, quando o indivíduo encontra um sentido para

aquele conteúdo a ser compreendido, portanto, estudado, é certa a possibilidade da

construção de saberes”.

Assim, Orunbia (1996) expõe que na vertente construtivista o aluno é o

sujeito ativo no processo de aprendizagem, sendo ele quem arquiteta, transforma,

enriquece e diversifica suas ideias e conhecimento sobre os conteúdos escolares,

partindo do significado e do sentido que podem atribuir a eles e o próprio fato de

assimilá-los. A autora alerta para a natureza sociocultural dos saberes que o

discente precisa aprender, com isso, o processo ativo do aluno não pode ser

confiado ao acaso a escola, também não pode haver uma separação de uma

atuação externa, planejada e sistemática, para guiar o aluno no sentido esperado

pelas finalidades educativas presentes no currículo escolar.

Para a construção do conhecimento por meio do turismo pedagógico, o

planejamento é um elemento muito importante segundo Scremin e Junqueira (2012),

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pois para a consolidação do objetivo educativo da atividade, contribuindo na

formação dos alunos, é necessário a elaboração de um roteiro como auxílio

pedagógico, ilustrando os conteúdos de forma lúdica e diferenciada. Quando o

planejamento não é adequado, o próprio aluno pode atribuir uma conotação negativa

para atividade, sendo sinônimo de bagunça, perde-se o sentido da busca por novos

conhecimentos, mesmo que sejam apresentados de forma divertida e interativa.

1.2 AULA DE CAMPO COMO METODOLOGIA DE ENSINO

Para compreender como a aula de campo pode ser utilizada como

metodologia de ensino, faz-se necessário uma conceituação. Desta forma, Fonseca

e Caldeira (2008, p.71) definem aula de campo como um “recurso didático, [...] em

ambientes naturais principalmente aqueles que encontrados espacialmente

próximos aos alunos por sua facilidade e pela possibilidade dos alunos possuírem

experiência prévia com o ambiente objeto de estudo”.

A aula de campo torna-se um meio de ensinar ao estudante um pouco

sobre o ambiente externo a escola. É caracterizada por levar o aluno a estudar o

ambiente por meio da visitação ao local, para assim estimular os sentidos para um

aprendizado lúdico e interativo, tornando-se com isso, imprescindível a articulação

de aulas de campo com as atividades desenvolvidas em sala para algumas

disciplinas (VIVEIRO; DINIZ, 2009).

Desta forma, a educação como um processo de ensino-aprendizado

requer um olhar amplo, no qual o professor juntamente com os alunos ultrapasse a

barreira da divisão das disciplinas, passando a enxergar o conhecimento como um

todo de uma realidade complexa, que pode e deve ser mudado e recriado pelos

cidadãos. Segundo Aranha (1996, p.240) “a abordagem holística do conhecimento

supõe a superação das disciplinas fragmentadas, por meio da existência de uma

complementariedade entre as áreas do saber”.

Assim, no pensamento de Onrubia, o construtivismo tem o processo

social como veículo do aprendizado humano, pois na corrente de pensamento

vygotskiana, todo aprendizado requer a mediação seja com suporte intelectual ou

instrumental. É a isso que se refere um dos principais conceitos desenvolvidos por

Vygotsky, a Zona de Desenvolvimento Proximal, “a ZDP é definida como a distância

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entre o nível de resolução de uma tarefa que uma pessoa pode alcançar atuando

independentemente e o nível que pode alcançar com a ajuda de um colega mais

competente ou experiente nessa tarefa4” (ONRUBIA, 1996).

Com isso, no pensamento de Matos (2012), o turismo pedagógico na

forma de aula de campo é uma metodologia de ensino capaz de interligar a teoria e

a prática como uma prática social, dando suporte ao professor para instigar o aluno

a explorar o espaço, com uma abordagem multidisciplinar. Nessa perspectiva, por

meio de uma visita ou viagem, o aluno pode perceber e formar questionamentos

sobre história, geografia, matemática, português e outras disciplinas que estuda em

sala, com uma ajuda do professor.

No pensamento construtivista o professor, segundo Onrubia (1996), vai

intervir com a ajuda ajustada5, para poder abordar conteúdos que dialoguem com as

capacidades do aluno. Ou seja, em meio a milhares de informações o professor

auxilia o aluno a desenvolver por meio das ferramentas metodológicas o

aprimoramento de atividades nas quais ele não tem domínio, combinando as

próprias habilidades com os instrumentos de suporte fornecidos pelo professor para

conseguir realizar posteriormente o processo de forma autônoma.

Onrubia (1996) expõe que o ensino deve ser uma prática que busque

aprimorar as capacidades do aluno, auxiliando nos conhecimentos e

comportamentos que ele não tem domínio, que não realiza ou que não domina o

suficiente. Para a autora, o professor deve exigir constantemente dos alunos

expondo-os a experiências que os forcem a participar com esforço para entenderem

e atuarem, ao passo que o professor também ajuda dando apoio e suporte

intelectual e emocional para possibilitar a superação das exigências e desafios.

Vale ressaltar que no mundo globalizado em que vivemos a educação

passa a ter um papel mais representativo na vida dos alunos, exigindo deles a

compreensão das informações a sua volta, e um censo crítico para analisá-las, pois

Matos, (2012, p. 3) afirma que:

Todo este cenário dinâmico e globalizado faz com que os alunos tenham rápido e facilitado acesso às informações, todavia nem sempre estas podem ser consideradas como conhecimento propriamente dito, pois o acúmulo de informações pode levar o ser

4Para uma melhor compreensão dessa abordagem, indica-se a leitura do livro O construtivismo na sala de aula, de César Coll at. al, 1996. 5 Termo utilizado no construtivismo.

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humano a um mundo de alienações ocupado por ideias soltas, sem encadeamento, portanto, sem conhecimento.

De acordo com Luck (1995), é necessário construir um sentido

significativo nas experiências pedagógicas, pois o conhecimento continuará sempre

incompleto se a forma de abordagem e explicação dos conteúdos permanecerem no

formato fragmentado. Cada disciplina apresentando uma forma unilateral de

conhecimento e de interação com a realidade prejudica a aplicabilidade dos

conteúdos, nesse sentido as disciplinas precisam dialogar entre si para que o aluno

consiga compreender que são conhecimentos complementares, e a aula de campo

possibilita fazer isso na prática.

1.3 BREVE CARATERIZAÇÃO DA FAIXA ETÁRIA

Como a pesquisa foi direcionada a crianças entre 8 e 9 anos, no nível de

3º ano do fundamental 1, faz-se necessário compreender um pouco sobre as

principais características dessa faixa etária. De acordo com Andrade (2001) as

crianças e os pré-adolescentes aplicam por prazer todo o tempo disponível, seja

longo ou curto, na movimentação corporal, atividades que possam se movimentar

com liberdade, correndo, pulando, gesticulando, falando e gritando sem a

preocupação com limites.

Andrade (2001) ainda apresenta que, nessa faixa etária a maior diversão

é fazer tudo o que signifique a rompimento e libertação de princípios e normas

disciplinares, que representem ordem estabelecida na sua moradia ou de

estabelecimentos que passe um tempo da sua vida cotidiana. Nesta perspectiva o

quadro 2, demostra as principais características dessa faixa etária.

Quadro 2. Principais características e cuidados de crianças entre 7 e 12 anos

CARACTERÍSTICAS DESCRIÇÃO BREVE

FÍSICAS O crescimento físico é semelhante entre meninos e meninas; Estão aptos para quaisquer habilidades ou aprendizado; Estão na fase de combinar as habilidades;

AFETIVO-SOCIAIS Gostam de Brincar de “violação de direitos”, exemplo: “Aqui meninas não entram”; Andam em grupos separados, os meninos andam em grupos

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maiores e são mais receptivos, necessitam de espaços maiores, já as meninas possuem grupos reduzidos e locais reduzidos; As competições dos meninos são entre amigos, as das meninas, entre desconhecidas;

PSICOLÓGICAS Começam a desenvolver um autoconceito de suas qualidades e defeitos. Não aceitam facilmente o fracasso.

COGNITIVAS Criam regras para jogos. Conseguem aceita-las e entendem o porquê delas. Alguns exigem o cumprimento das regras em demasia

CUIDADOS ESPECIAIS

Higiene: não querem tomar banho, escovar dentes, usar roupas limpas; Segurança: Acham-se independentes, principalmente quem já conhece o local; Identificação: ao realizar alguma atividade externa, sempre ter crachás com a identificação; Autorização: ter autorização por escrito dos pais ou responsáveis pela criança e telefone de contato; Ficha Médico–social: Se a criança tem medo de algo, se tem alergia a medicamento ou insetos, se está em tratamento médico.

Fonte: adaptado pela autora de Larizzatti (2005).

Nesse sentido, é necessário compreender segundo Andrade (2001), que

crianças identificam-se e se relacionam com as atividades de diversão e recursos

que apresentam-se como novidade, excentricidade, esquisitice ou desafio. Eles

ainda precisam de locais espaçosos e longos períodos para executar as atividades,

no qual vivem profundamente as situações de extravagância e diversidade.

Além disso o autor explica que “a fantasia deles é o elemento

dimensionador do universo imaginário que domina todos os seus anseios e ameniza

a seriedade e as dificuldades do mundo real em que vivemos e cujas razões não

conseguem entender” (ANDRADE 2001, p. 129-130). Desta forma, o modo de

desenvolver uma atividade com crianças é diferente de um adulto ou idoso, pois as

crianças não compreendem a complexidade do mundo, além de apreciarem o

descumprimento de regras. As formas de apresentação do conteúdo necessitam de

algo para chamar a atenção, prender a curiosidade, com isso a aula de campo é

uma possibilidade de instigar a procura por conhecimento.

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2 TURISMO E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

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2.1 PRINCIPAIS APONTAMENTOS SOBRE O PATRIMÔNIO

Para uma discussão sobre o tema de patrimônio é pertinente a

explanação do que é considerado na sua definição. Vale ressaltar uma das primeiras

organizações que ajudou a desenvolver a conceituação de patrimônio no Brasil ao

longo dos anos, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que

foi criado por meio da Lei nº 378, em 13 de janeiro de 1937, assinada pelo

presidente Getúlio Vargas. A instituição:

[...] é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura que responde pela preservação do patrimônio cultural brasileiro. Cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras (IPHAN, 2014).

O IPHAN desde sua criação já previa o patrimônio material e imaterial,

sendo os artefatos e as manifestações do saber. Por outro lado, a Constituição

Federal só incluiu o patrimônio imaterial na sua atualização de 1988. Que de acordo

com o IPHAN (2014):

A Constituição Federal de 1988 revitalizou e ampliou o conceito de patrimônio estabelecido pelo Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, substituindo a nominação Patrimônio Histórico e Artístico, por Patrimônio Cultural. Essa alteração incorporou o conceito de referência cultural e significou um aprimoramento importante na definição dos bens passíveis de reconhecimento, sobretudo os de caráter imaterial.

Assim, é possível observar que a preservação do patrimônio passa a ter

cunho mais democrático, tendo em vista que os artefatos são predominantemente

da elite, e por sua vez, as manifestações do saber tem caráter popular (IPHAN,

2014). Com isso, temos na Constituição Federal de 88, Seção II – Cultura, Artigo

216: “Constitui o patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à

identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira”.

Na constituição apresenta uma visão ampla em conformidade com a do

IPHAN, que abarca o patrimônio material e imaterial, no qual tem relevância para a

identidade, a memória e o conhecimento do povo brasileiro. Desta forma, a

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preservação de um artefato possui significância, não se trata de culto ao objeto, é

um meio de nortear os valores morais da identidade, preservando a memória

coletiva material ou imaterial, mantendo viva a cultura da sociedade.

Para entender melhor essa questão, deve-se levar em consideração que

patrimônio pode ser dividido em três grupos, segundo Lemos (2004), no qual a

primeira caracteriza-se como os recursos naturais, sendo a ambiência no estado

natural sem modificações do homem. A segunda categoria refere-se ao

conhecimento, o domínio do saber e do saber fazer, o conjunto das técnicas

desenvolvidas pela sociedade. E a terceira apresenta-se como os recursos naturais

que são transformados e moldados com o saber fazer para atender as necessidades

de consumo, em outras palavras, é a cultura de um povo expressa em um artefato

material ou em manifestações imateriais do saber.

Cada sociedade possui uma cultura distinta da outra, na qual foi

paulatinamente formada pelas técnicas de transformar os recursos naturais que

estão à disposição. Não se pode pensar que as diferentes culturas ficarão “puras”

definitivamente, e a globalização tornou o processo de intercâmbio cultural mais

rápido e mais fácil, principalmente pela produção em massa dos produtos industriais

e de franquias comerciais que atuam no mundo todo.

Isso levanta questionamentos sobre o que preservar, tendo em vista que

os artefatos antes eram produzidos de forma artesanal endógena, sendo atribuído

um caráter único e um valor artístico, representando um grupo social do lugar. Por

outro lado, atualmente os artefatos produzidos são de grandes linhas de produção,

produzindo o mesmo artefato para o mundo todo, ou seja produtos padronizados, e

muitas vezes esses artefatos são de origem estrangeira. Assim, deve-se levar em

consideração que:

Preservar não é só guardar uma coisa, um objeto, uma construção, um miolo histórico de uma grande cidade velha. Preservar também é gravar depoimentos, sons, músicas populares e eruditas. Preservar é manter vivo, mesmo que alterado, uso e costumes populares (LEMOS; 2004, p.29).

Ao preservar mantêm-se vivos os laços sociais que estão presentes na

construção do artefato, e seu significado cultural adquirido com o tempo. Mesmo que

seja feita adaptações na forma de uso, os artefatos passam a expressar um valor

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subjetivo para as pessoas, mantendo suas características principais entrelaçadas à

memória popular.

Desta forma, deve-se ter cautela ao preservar os artefatos, pois quando

descontextualizado torna-se uma apreciação do patrimônio como alegoria, atribuindo

um valor de troca, ou seja, passa a ser comercializada a cultura das pessoas. A

significância do artefato para as pessoas deve ter influência maior na preservação

do que o valor comercial do material que é construído. Gerando um pensamento que

“cada classe social, cada grupo econômico, cada meio, cada preocupação está a

selecionar elementos culturais de seu interesse para que sejam guardados como

testemunhos de sua preocupação” (LEMOS, 2004 p.30).

Com isso, faz-se necessário a preservação de um artefato que represente

as semelhanças sociais de um povo, minimizando suas diferenças, apresentando

um ícone que desperte o sentimento de pertencimento aquele lugar. Tendo em vista

a fragmentação da identidade do sujeito pós-modernidade, podendo tornar-se um

entrave na preservação caso haja um conflito ideológico. Nesse aspecto, de acordo

com Rodrigues (2007, p.16)

[...] o patrimônio passou a constituir uma coleção simbólica unificadora, que procurava dar base cultural idêntica a todos, embora os grupos sociais e étnicos presentes em um mesmo território fossem diversos. O patrimônio passou a ser, assim, uma construção social de extrema importância política.

Assim, “o turismo, ao ser utilizado como uma estratégia de ensino-

aprendizagem garante a aprendizagem tanto das matérias curriculares, quanto de

valores como o respeito à diversidade cultural e ao meio ambiente” (SOUZA; MELO;

PERINOTTO, 2011, p.57). O turismo passa a ser um aliado da educação para

trabalhar essa problemática social em sala de aula, pois os alunos pertencem a uma

cultura, e o aprendizado por meio da análise dos patrimônios da cidade, ajuda ao

discente a refletir seu papel como cidadão.

2.2 PATRIMÔNIO E A RELAÇÃO COM A IDENTIDADE LOCAL

Na pós-modernidade o sujeito passa a ser caracterizado como

fragmentado, e paulatinamente as pessoas passaram a identificar-se com uma série

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de artefatos ao mesmo tempo, por vezes criando conflitos de interesses pela

facilidade de mudança, nem sempre sendo fácil de aceitar que algo pode ser tão

mutável. Assim, vale ressaltar que:

A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidade possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (HALL, 2006 p.13).

Ao ponderar sobre essa afirmativa, notamos que a globalização facilitou o

acesso a informação, influenciando na identidade do sujeito por bombardear as

pessoas com inúmeras possibilidades de identidades, significados e significantes

que foram criados por comprimir as distâncias geográficas existentes e diminuir o

tempo gasto, causando impactos socioculturais globais.

O patrimônio fica fragilizado pela rapidez e facilidade na mudança de

interesses. Com essa instabilidade, o que garante a preservação do artefato se não

houver o interesse das pessoas? São questionamentos como esse que geram

reflexões, pois preserva-se o que representa as pessoas, mas o sentimentos e

representatividade tornaram-se temporárias. Isso requer que o patrimônio seja

símbolo de comunhão entre as diferenças, ressaltando o que os sujeitos possuem

em comum, o lugar em que viveram, suas histórias, seus costumes, tornando-o

símbolo da subjetividade da sociedade, e um objeto de interesse social.

Sabendo disso, Camargo (2002) ao escrever sobre a temática apresenta

que, os embates ideológicos muitas vezes podem apropriar-se de um artefato que

simbolize o poder exercido por uma das partes, neste caso torna-se de interesse do

opositor a destruição de tal monumento, uma vez que o artefato passa a ter uma

carga de significados opressivos e intimidadores. Por isso, requer o sentimento de

pertencimento representado no artefato, ao preservar não se guarda apenas o

material, salvaguarda-se também a subjetividade que cada indivíduo atribui ao

objeto.

A identidade do indivíduo pós-moderno, de acordo com Hall (2006) é

fragmentado e por vezes contraditória, assumindo uma postura por conveniência.

Não possuímos uma identidade essencial ou permanente, passamos por um

processo de mudanças contínuas, reformulando o comportamento, transformando-o

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a cada instante, interagindo e sendo influenciados pelo meio em que vivemos. Para

orientar os alunos em sala, faz-se necessário entender que:

O patrimônio no Brasil oscila entre tornar-se um cenário teatralizado, como o Pelourinho, na Bahia, ou mal conservado, situação cujos exemplos são numerosos, entre os dois extremos cabem alguns projetos, como o do bairro da Luz, em São Paulo, que pretende revitalizar uma grande área para finalidades culturais. Em qualquer caso, porém, o patrimônio histórico e arquitetônico no Brasil ainda não foi assumido pelo poder público como objeto de políticas que favoreçam a solução de graves problemas sociais [...] (RODRIGUES, 2007, p.22-23).

Deve-se ter em mente que o patrimônio está intrinsecamente ligado aos

interesses, aos valores, as práticas do saber fazer, os costumes, as crenças, as

tradições de uma sociedade. Com o turismo pedagógico por meio da educação

patrimonial, o professor tem a possibilidade de transmitir a influência do artefato na

construção histórica do lugar, podendo resgatar nas crianças o interesse e

curiosidade na preservação dos artefatos, e assim na preservação da própria

história.

Com isso, faz-se necessário a abordagem do patrimônio na ótica

educacional, como um objeto capaz de transmitir significado para a construção do

conhecimento atemporal de uma sociedade, mantendo uma base histórico-cultural

entre gerações. Partindo dessa visão, por meio do:

[...] patrimônio cultural é possível conscientizar os indivíduos, adequando os mesmos a obtenção de conhecimentos, e assim a sua compreensão da história local, adaptando com sua própria história. A principal característica de um patrimônio é que sua conservação venha a ser de interesse público, e que sua conexão esteja relacionada aos fatores inesquecíveis da história do lugar e de seu povo, quer tenha seu valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico (GONÇALVES, 2013 p. 26).

Em outras palavras, a educação patrimonial intervém diretamente nos

conflitos de identidade, por transmitir para a identidade do sujeito a significância do

patrimônio, e ao possuir o sentimento de pertencimento ao local, passa a fazer parte

de uma coletividade de memórias arraigadas não apenas ao espaço físico, mas

também as pessoas, pois são elas que denotam significado ao patrimônio,

construindo assim a história local.

A Unesco em seu fórum diz que “a memória é um motor fundamental da

criatividade. Tal afirmação aplica-se tanto aos indivíduos quanto aos povos que

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encontraram em seu patrimônio – natural e cultural, material e imaterial – os pontos

de referência de sua identidade e as fontes de sua inspiração” (CARNEIRO 2006,

p.19). Nesse sentido, o patrimônio cultural representa para o povo um meio de se

reinventar, construir, e modelar a si próprio para preparar-se para o futuro.

2.3 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

A educação patrimonial é um assunto que várias organizações defendem,

além de promover a conscientização das pessoas, apresentando como direito

humano a preservação e o diálogo sobre o patrimônio. De acordo com Rodrigues

(2007) em 1998, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Conselho

Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), um órgão da Unesco, divulgou um

documento que reafirma o direito ao patrimônio cultural, no qual é parte dos direitos

humanos. Assim:

Todo homem tem direito ao respeito aos testemunhos autênticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande família humana; tem direito a conhecer seu patrimônio e o dos outros; tem direito a uma boa utilização do patrimônio; tem direito de participar das decisões que afetam o patrimônio e os valores culturais nele representados; e tem direito de se associar para a defesa e pela valorização do patrimônio (RODRIGUES, 2007 p. 23)

Como direito humano, o patrimônio passa a representar parte da história

do povo, e cada sociedade passa a ser responsável pela conservação do artefato ou

manifestação cultural, e a transmissão para as futuras gerações. Com isso,

Cerqueira (2005) apresenta que a educação patrimonial possui dois parâmetros de

atuação, a primeira é a educação da comunidade escolar, e a segunda da

comunidade em geral, a partir daí a realização da atividade assume vários formatos,

seja atividades lúdicas ou atividades pedagógicas para a formação do cidadão. O

autor também apresenta que o turismo é uma possibilidade de atividade educadora

para promover o desenvolvimento de políticas e ações de preservação do

patrimônio.

Com a perspectiva de que o patrimônio por meio do turismo pode vir a ser

um instrumento de educação, temos um universo de possibilidades no processo de

ensino-aprendizagem do saber cultural, no qual:

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[...] compreendemos que uma das funções mais importantes de um museu, de um centro de memória ou de uma biblioteca, é a educativa. Estando abertas ou fechadas estas instituições transmitem informações, comunicam. Portanto, são instrumentos de formação, constroem valores e ideologias, e a educação como área de conhecimento entraria como ferramenta produtora de diálogos dos saberes e fazeres herdados, acumulados e ressignificados permanentemente pela sociedade (TAMANINI E PEIXER, 2011, p. 45).

Sabendo disso, é interessante o desenvolvimento de estratégias de

educação continuada, que estimule a busca por conhecimento exercitando o

pensamento crítico, instigando as pessoas a entenderem o significado do

patrimônio. Isso quer dizer que, é necessário o desejo de aprender sobre a história

do patrimônio, entendendo a influência do significado do artefato para instigar a

busca e reformulação de um significado próprio, atribuído pela experiência do estudo

do artefato, e por conseguinte, tornando essa educação continuada um fenômeno

prazeroso e não obrigatório.

O patrimônio é uma forma do saber na prática, podendo ser usado para

instigar a busca por conhecimento, e do reconhecimento dos valores preservados

com o patrimônio, assim os alunos ao conhecer sua realidade, aprendem sua

história, reformulando a significância do artefato para produzir conhecimento sobre o

novo contexto social, adequando-o as novas formas do saber, e quais são as

práticas culturais que são atribuídas a memória do artefato. Na visão de Tamanini e

Peixer (2011, p. 46-47):

[...] a valorização do patrimônio só será compreendida e assumida socialmente quando construirmos com mais intensidade relações democratizadoras em nossas instituições culturais e educativas. À medida que a sociedade tiver espaço de formação, participação, ela saberá optar e decidir sobre o significado de preservar a sua memória, a sua identidade e a sua história.

É nesse ponto que a educação possibilita uma visão dialogada sobre a

importância de preservar os bens culturais que pertencem a sociedade, e que

futuramente os estudantes poderão compreender a simbologia presente no

patrimônio, pois quando disponibilizado aos alunos o conhecimento necessário para

estudar o patrimônio, tem a possibilidade de inseri-los no processo de preservação.

Deste modo, é interessante que o processo educacional vinculado ao

patrimônio ocorra gradativamente, respeitando os saberes já existentes, e as etapas

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do aprendizado da criança, demostrando o conceito de patrimônio ludicamente,

adequando-o a realidade dos alunos, transformando em um processo contínuo,

estimulando um aprendizado endógeno, não desvinculando o significado atribuído

de cada indivíduo ao artefato, mas tendo ciência que tal simbologia pertence a uma

coletividade.

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3 HISTÓRIA LOCAL E O PATRIMÔNIO

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3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE CURRAIS NOVOS

A cidade de Currais Novos está situada na Região do Seridó, fazendo

divisa com Frei Martinho e Picuí ao Sul, no Estado da Paraíba, e seis cidades no

Estado do Rio Grande do Norte, Lagoa Nova e Cerro-Corá ao Norte, São Tomé e

Campo Redondo ao Leste, e São Vicente e Acari ao Oeste (SOUZA, 1978).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a

cidade de Currais Novos está situada em uma região do Seridó com o bioma

Caatinga, caracterizando-se por ser semiárido com dias quentes e secos, e noites

frias e agradáveis. A população no censo de 2010 do IBGE, estava por volta 42.652

mil pessoas.

Segundo o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável

do Polo Seridó (PDITS, 2011), a colonização da Região do Seridó deu-se por meio

do deslocamento vagaroso de famílias proprietárias de terra para o interior do

estado, por causa do domínio dos latifundiários canavieiros, não sobrando espaço

para a criação de gado.

Assim, como muitas cidades do interior do Estado do Rio Grande do

Norte, Currais Novos inicialmente foi colonizada por criadores de gado, que

estabeleceram-se na região do Totoró por volta da metade do século XVIII. As

principais economias foram o ciclo do gado, o ciclo do algodão, o ciclo da mineração

que destaca-se a liderança da Mina Brejuí, e posteriormente o comércio (PDITS,

2011).

A história da origem da cidade de Currais Novos é conhecida e contada

por vários autores locais. Entretanto existe uma história mais conhecida sobre a

origem do povoamento e criação da cidade, sendo apresentada por Alves (1985) em

Retoques da História de Currais Novos, e Souza (2008) em Totoró, Berço de Currais

Novos, contando uma narrativa mais linear, que popularizou-se ao longo do tempo.

Mas, cabe destacar também, os fatos apresentados por Gomes (1975) em Sinopse

do Município de Currais Novos, e Quintino Filho (2009) em Histórias de Currais

Novos, em que apontam para outra origem pautada em registros históricos.

Embora tenham algumas contradições nos fatos que originaram a cidade,

como as datas de construção das primeiras casas e sítios, todos apontam para o

local de início do povoamento sendo na região do Totoró e nas mediações do Rio

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São Bento. Onde o Coronel Cipriano Lopes Galvão e seu filho de mesmo nome o

Capitão-mor Galvão, tiveram grande influência na criação da cidade.

De acordo com Alves (1985) e Souza (2008), os acontecimentos que

levaram a colonização do Seridó foram as concessões de Sesmarias e Datas de

Terra, que levam os pecuaristas para o sertão a dentro. Os autores apresentam

esse fato como antecessor à história da cidade, uma vez que o colonizador é

considerado o Coronel Cipriano Lopes Galvão e sua chegada foi por volta de 1755.

A história mais conhecida aconteceu da seguinte forma, segundo Alves

(1985) e Souza (2008) foi por volta do ano 1755 foi erguida a casa para abrigar o

Coronel Cipriano Lopes Galvão, natural de Igarassu – PE. O Coronel e dono da

fazenda Totoró possuía a maior cativeiro de escravo da região. Mas a escassez de

chuva dificultava cada vez mais a criação do gado no local, e com a descoberta de

um poço nas mediações do Rio São Bento, foi transferido à fazendo para este local,

e foi construído três currais novos para comportar o gado, fato este que deu origem

ao nome da cidade de Currais Novos.

No pensamento de Alves (1985) e Souza (2008) foi com a escassez

persistente de chuva, que o Coronel recorreu a sua fé, clamou a graça de chuvas

para o sertão seridoense, pedindo assim a intercessão de Sant’Ana para salvar seu

gado que perecia aos poucos a falta d’água, e caso sua suplica fosse atendida,

prometeu construir uma capela em homenagem a Sant’Ana. Com isso, a graça foi

alcançada, mas o Coronel faleceu em 1764 e não pagou a promessa, seu filho o

Capitão-mor Galvão também muito religioso, para honrar a promessa de seu pai

conseguiu em 1808 a permissão do Bispo de Olinda para construir a capela.

Foi comprada e trazida de Recife a imagem de Sant’Ana no ano de 1806,

o Capitão-mor Galvão guardou em sua casa até a conclusão da capela. A

construção iniciou-se no ano de 1808, sendo concluída cinco anos depois. Com a

inauguração foi entronizada na capela a imagem de Sant’Ana, que permanece até

hoje como padroeira da cidade. E no ano de 1884 foi elevada à Paróquia, e após

uma reforma em 1889 a estrutura de capela, transformou-se no atual templo

(SOUZA 2008).

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Figura 1. Ilustração da Igreja e da Imagem de Sant’Ana

Fonte: Souza (2008)

Já a segunda história, existe uma comprovação de registros históricos

apresentado por Quintino Filho (2009), em que o Gomes (1975) já havia descrito em

seu livro, embora não despreza-se a primeira história. Que o topônimo Currais

Novos já aparece em registros de 1744, contradizendo a história amplamente

difundida dos novos currais que ocorreu entre 1755 e 1808. Desta forma, os autores

apresentam a existência de um sítio e uma vila que coexistiram distintamente, mas

com o mesmo nome, Currais Novos.

Com isso, o advento do Coronel Cipriano Lopes Galvão para a fazenda

Totoró, dez anos após o primeiro registro do nome Currais Novos, indica que a

cidade ganhou o nome por outro fator. No pensamento de Quintino Filho (2009) o

Capitão-mor Galvão em posse do sítio Currais Novos as margens do Rio São Bento,

herdou a fazenda Totoró após a morte de seu pai, tendo grande influência para o

nome da cidade uma vez que já possuía o sítio com o referido nome.

A construção da capela também influenciou a criação da cidade e do

nome. Pois de acordo com Gomes (1975) o Capitão-mor Galvão recebeu uma

doação de meia légua de terras do Bispo de Olinda sendo designado para a

construção do patrimônio religioso requerido pelo Capitão-mor Galvão. Essas

extensões de terras era parte do atual território do município, que cresceu ao redor

da capela.

Assim, embora existam contradições na origem do nome, alguns fatos

que dificultam o entendimento da história, como a existência de sete (7) Cipriano

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Lopes Galvão na região que é apresentado por Quintino Filho (2009), nota-se que a

cidade tem acontecimentos que são marcos históricos, independente de detalhes

contados diferentes, a história sempre segue o mesmo rumo, com a concessão de

Sesmarias e Datas de terra, a chegada do Coronel Cipriano Lopes Galvão e seu

filho o Capitão-mor Galvão, que após uma seca prologada fez a promessa para a

construção da capela de Sant’Ana, e a construção da cidade em volta do templo

religioso.

Desta forma, a cidade de Currais Novos cresceu aos arredores da capela

de Sant’Ana, sendo construídas praças, casas, prédios institucionais e comércio ao

longo do tempo, em outras palavras foi formando-se e desenvolvendo-se passo a

passo com fazendas, sítios e vilas, e posteriormente como município e cidade. De

acordo com o PDITS (2011 p. 51)

Assim como diversas cidades coloniais do Brasil, as cidades da Região do Seridó apresentam uma configuração semelhante: com a praça, a igreja matriz, prédios institucionais, área de comércio e um conjunto arquitetônico do período de fundação da cidade, contribuindo na legibilidade e identidade da área.

Nesse sentido, Albuquerque et. al. (2012) apresenta que conhecer um

pouco da história local, significa compreender a sociedade onde se está inserido,

conhecer a origem do povo, saber o sentido dos costumes e tradições transmitidos

por meio do patrimônio histórico cultural que representa um bem coletivo, que

transmite muito sobre a identidade cultural de um grupo social.

3.2 OS PATRIMÔNIOS DE CURRAIS NOVOS

3.2.1 Matriz de Sant’Ana

A matriz de Sant’Ana é considerada o centro da cidade de Currais Novos,

pois o desenvolvimento social deu-se aos arredores da igreja, sendo construído

casas, praças, comércios e prédios institucionais. A Capela foi construída no ano de

1808, pelo Capitão-mor Galvão, por ser muito religioso, honrou a promessa de seu

pai a Nossa Senhora Sant’Ana, por ter mandado chuva para o sertão e salvado sua

criação de gado. Foi no ano de 1884 que foi elevada a Paróquia, desmembrando-se

de Acari. Em 1889, transformou-se na arquitetura grandiosa atual, no estilo gótico-

romano com detalhes rococó no frontal (SOUZA, 2008).

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Figura 2. Matriz de Sant’Ana

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

3.2.2 Monumento em Homenagem a Ulysses Telêmaco

Ulysses Telêmaco de Araújo Galvão formou-se em contabilidade, mas

ganhou grande destaque como jornalista e escritor. Criou uma escola que durou

alguns anos, e foi o fundador do jornal A Voz do Povo. Em 1891, foi nomeado o

Primeiro Secretário de Administração da Prefeitura. Por sua importância e

representatividade da cultura currais-novense o monumento em homenagem a

Ulysses Telêmaco foi inaugurado no ano de 1927. Com os dizeres em cada face do

obelisco: I A memória de Ulysses Telêmaco 1928 – II Homenagem de Currais Novos

a Seu filho e Benfeitor – III * 3 de março de 1872 – IV + 21 de dezembro de 1907

(SOUZA, 2008).

Figura 3. Monumento em homenagem a Ulysses Telêmaco

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

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3.2.3 Praça Cristo Rei

Em 1937, o local foi selecionado para a realização do 2° Congresso

Eucarístico Paroquial. Com isso, a estátua Cristo Rei do Seridó foi um presente

concedido pelo casal Manoel Salustino de Macedo e Dona Ananília Regina. A praça

inicialmente era apenas um espaço entre monumento em homenagem a Ulysses

Telêmaco o Cristo Rei, foi apenas em 1947 que o então Prefeito Doutor Neófito

Pinheiro Galvão, adornou o local com postes, bancos, pedras e o coreto central

(SOUZA, 2008).

Figura 4. Praça Cristo Rei

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

Figura 5. Monumento de Cristo Rei do Seridó

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

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3.2.4 Praça Cívica Desembargador Tomaz Salustino

Inaugurada no ano de 1971 como forma do município homenagear

desembargador Tomaz Salustino, pioneiro da mineração mecanizada no Nordeste.

A praça possui um monumento em tamanho real do seu homenageado, fundida em

bronze sobre um pedestal em blocos de pedra (SOUZA, 2008).

Figura 6. Praça Cívica Desembargador Tomaz Salustino

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

Figura 7. Estátua do Desembargador Tomaz Salustino

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

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3.2.5 Residência de Desembargador Tomaz Salustino

Como Desembargador Tomaz Salustino teve grande influência econômica

e social para a cidade de Currais Novos, sendo dono da Mina Brejuí, do Tungstênio

Hotel e outros empreendimentos que auxiliaram o desenvolvimento da cidade, como

uma Agência do Banco do Brasil, uma pista de pouso e um cinema. Sua residência

destaca-se pela arquitetura com um detalhamento minucioso e uma elaborada

ornamentação. Na parte lateral apresenta uma balança, símbolo da justiça, a data

da construção em algarismos romanos: MCMXXIX (1929) fica sobreposto em um

escudo (SOUZA, 2008).

Figura 8. Residência de Desembargador Tomaz Salustino

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

3.2.6 Palácio Municipal “Prefeito Raul Macêdo”

O edifício foi construído com recurso da prefeitura, partindo de uma

iniciativa do prefeito Raul Macêdo em 1933. É admirado pela sua arquitetura

neoclássica francesa, e por possuir grade detalhamento na fachada, com o forro e a

escada central que leva ao segundo pavimento é toda trabalhada em madeira. Foi

apenas no ano de 1987 que o prefeito José Dantas de Araújo, após a realização de

uma restauração completa do prédio, homenageou o prefeito Raul Macêdo.

(SOUZA, 2008).

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Figura 9. Palácio Municipal “Prefeito Raul Macêdo”

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

3.2.7 Coreto Guarany

O coreto foi construído em 1922 por uma iniciativa de Dona Adélia

Salustino para comemorar o Centenário da Independência do Brasil. Mas, em 1947

o então prefeito Doutor Neófito Pinheiro após alegar questões de segurança e

higiene pública, demoliu o coreto, embora houvesse alguns protestos. Foi apenas no

mandato de Zé Dantas (1983-1988) que o Coreto Guarany foi reconstruído (SOUZA,

2008).

Figura 10. Coreto Guarany

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

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3.2.8 Tungstênio Hotel

O Tungstênio Hotel teve sua construção iniciada em 1953, pelo

Desembargador Tomaz Salustino, como meio de hospedagem de referência para

acomodar seus parceiros comerciais. Foi inaugurado nas bodas de ouro do casal

Tomaz Salustino Gomes de Melo e Terezinha Salustino no ano seguinte (DUTRA,

2006).

Figura 11. Tungstênio Hotel

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

3.2.9 Monumento de Centenário

A construção do monumento ao Primeiro Centenário da Fundação de

Currais Novos, foi resultado de uma mobilização criada pelo jornal A Voz do

Potiguar, tendo como responsáveis Ulysses Telêmaco, Vivaldo Pereira e Abílio

Chacon. Foi erguido em 1908, e em cada face os dizeres: Primeiro centenário –

1808/1908 – Homenagem ao Fundador Capitão-mor Galvão – Monumento

comemorativo da fundação de Currais Novos (SOUZA, 2008).

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Figura 12. Monumento do Primeiro Centenário da Fundação de Currais Novos

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

3.2.10 Fundação Cultural “José Bezerra Gomes”

Teve início em 1948, quando o poeta-vereador José Bezerra Gomes

apresentou o projeto de lei criando a Diretoria de Documento e Cultura da Prefeitura

Municipal de Currais Novos, sendo o responsável pelo levantamento dos artefatos e

documentários. A lei número 5 previa o incentivo artístico para a infância e a

juventude, também a leitura. O Museu tem o objetivo de salvaguardar o patrimônio

da cidade e as artes populares do Seridó. Prevendo também o estímulo ao turismo,

a rede hoteleira, a culinária e ao esporte. Foi apenas em 1990 que foi criado o

instituto com o intuito de preservar o acervo do seu patrono e os demais materiais

reunidos que passara a pertencer a fundação (SOUZA, 2008).

Figura 13. Fundação Cultural “José Bezerra Gomes”

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

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3.3 O ENSINO DA HISTÓRIA LOCAL E O PATRIMÔNIO

De maneira geral, o ensino da história e do patrimônio na escola

possibilita a valorização dos bens culturais desde muito jovem, os alunos acabam

aprendendo a participar das discussões sobre o patrimônio, e da construção da

história local. De acordo com Ribeiro e Santos (2008, p. 2):

[...] é importante ressaltar que esta valorização do patrimônio passa pela eleição de valores que este patrimônio possui para a comunidade local onde ele está ou estão inseridos e para os grupos de atores sociais que ali vivem. Esta concepção de valores percorre caminhos como a oralidade, a educação formal além de mecanismos como a criação de políticas públicas de educação, de preservação e manutenção.

Com isso, Freitas (2010) apresenta que a construção da narrativa da

história para crianças, preocupa-se com a adaptação de conceitos e fatos,

configurando assim uma sequência temporal e casual que facilitem o entendimento.

O autor também expõe que a disciplina escolar história, é dependente dos

interesses não apenas dos historiadores, pois a vontade dos pais, dos alunos, dos

professores, de Estado entre outros também influencia no ensino-aprendizado,

principalmente da história local.

Nota-se que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 2001) de

história e geografia, já consta a preocupação da valorização da história local e do

patrimônio. Possibilita com isso, o desenvolvimento de identidades distintas dos

diferentes povos que formam a sociedade brasileira, e assim, os alunos aprendem a

respeitar e valorizar os grupos sociais presentes na realidade vivenciada. Segundo o

PCN (2001), ressaltar a importância da história local é um meio de fornecer ao aluno

um repertório intelectual e cultural, além de mostrar as crianças que as histórias

individuais associam-se e fazem parte da história nacional.

Vale ressaltar que a história está constantemente em um processo de

reformulação, em que os historiadores realizam a descoberta de novos documentos

e arquivos, além de sofrer influência dos interesses da sociedade e dos próprios

pesquisadores. Na concepção de Freitas (2010 p. 126):

A natureza do conhecimento histórico escolar guarda semelhanças e diferenças com o conhecimento histórico produzido pelos historiadores, dentro das universidades e demais instituições de

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pesquisa. A escrita da História escolar é também transitória, dependendo da geração, dos interesses dos historiadores, dos avanços dos métodos de pesquisa e da descoberta de novas fontes. Mas a sua reescrita, diferentemente da ciência de referência, modifica-se de forma muito mais lenta e depende também de uma rede de agentes que atuam no entorno e, principalmente, no interior da escola.

Com isso, no pensamento de Fonseca, (2003) o professor de história

necessita conhecer além dos conteúdos específicos da disciplina que leciona, uma

vez que, a história não deve ser trabalhada como fragmentos que não tem ligação

com a realidade vivida pelos alunos. Assim, “é na instituição escolar que as relações

entre os saberes docentes e os saberes dos alunos defrontam-se com as demandas

da sociedade em relação à reprodução, à transmissão e à produção de saberes e

valores históricos e culturais” (FONSECA, 2003, p.71). Nesse sentido, o ensino da

história, é sobretudo o ensino da cultura, da identidade, das relações sociais, da

política e outros fatores que construíram historicamente a sociedade tal como ela é

atualmente.

Assim, Barbosa (2006 p.66) apresenta que:

[...] o ensino de história local ganha significado e importância no ensino fundamental, exatamente pela possibilidade de introduzir e de prenunciar a formação de um raciocínio histórico que contemple não só o indivíduo, mas a coletividade, apreendendo as relações sociais que ali se estabelecem, na realidade mais próxima.

O autor mostra que, por meio do ensino da história nos níveis

fundamentais, é possível manter viva a história do local, não apenas resgatando o

passado, mas ensinando a valorizar o patrimônio que salvaguarda parte da memória

coletiva de um povo, bem como outros acervos culturais como livros, literatura de

cordel, poemas, músicas, fotografias, documentos e arquivos, e a própria exploração

das fontes vivas que são os depoimentos orais.

Para estudar a história local, o patrimônio é uma forma de ilustrar para as

crianças o conteúdo apresentado em sala, torna-se um meio de interação com a

cultura, possibilitando ao aluno visualizar outras épocas que mantem-se preservadas

na memória popular e materializa-se na arquitetura de um prédio construído outrora.

Desta forma a educação patrimonial é uma forma também de ensinar e valorizar a

história local, para isso Cerqueira (2005 p.108) expõe que:

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A educação patrimonial precisa ser desenvolvida de forma criativa, sendo positiva sua inserção entre as atividades extracurriculares. Os professores precisam ser preparados para enfrentar esse novo desafio. Para tanto, é necessário que conheçam a legislação nacional sobre preservação do patrimônio cultural, assim como as experiências desenvolvidas em escolas com o fito6 de aplicar programas de educação patrimonial.

É nesse contexto de multidisciplinaridade que Fonseca (2003) explica que

o professor de história precisa articular diferentes saberes para a formação dos

alunos. Logo, a história como disciplina curricular precisa ser tratada com ética, pois

possui conceitos subjetivos que constrói não apenas uma narrativa linear e utópica,

é a representação dos acontecimentos sociais, das tradições, das ideias, dos

símbolos e representações que atribuem sentido a história de um povo.

6 Palavra que segundo o dicionário Aurélio significa: alvo.

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4 ANÁLISE DO PROCESSO DE VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL DOS ALUNOS DO 3º ANO DA ESCOLA MUNICIPAL AUSÔNIO ARAÚJO

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4.1 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A entrevista com a professora7 responsável pela turma, foi conduzida por

tópicos definidos de acordo com os objetivos da pesquisa, e foi realizada no dia 4 de

novembro de 2016. Por meio da entrevista foi possível levantar as principais

informações sobre a escola, os alunos e os conteúdos que foram trabalhados ao

longo do ano.

A Escola Municipal Ausônio Araújo trabalha com alunos do fundamental

1, tem aula no turno matutino com turmas do 1º ao 5º ano, e no vespertino com

turmas do 3º ao 5º ano, totalizando doze 12 turmas. A escola possui Sala de

Informática, Sala de Leitura, e a Sala de Atendimento Educacional Especializado

(AEE).

O corpo docente é composto por 16 professores, 12 com o ensino

polivalentes distribuídos nas séries, e 4 nas salas de atendimento especifico, além

de contar com 2 coordenadoras pedagógicas. E a escola sempre trabalha com

projetos didáticos envolvendo todas as séries. E os pais dos alunos tem uma boa

participação nas atividades desenvolvidas na escola.

A turma do 3º ano “A” é formada por 29 alunos, sendo 19 meninas e 10

meninos, no qual dois destes possuem deficiências diagnosticadas que afeta o

processo de aprendizado. Todos possuem idade entre 8 à 9 anos. Em relação as

habilidades necessárias para a série, a turma tem um bom desempenho no geral,

sendo que 5 crianças não conseguem ler nem com ajuda, 6 conseguem ler palavra

por palavra, e textos simples com ajuda, e 18 conseguem ler fluentemente.

Já as habilidades de escrita, 3 crianças não escrevem seguindo a

ortografia de palavras simples, 2 conseguem copiar textos existentes, e 1 apenas

rabisca. 7 crianças conseguem escrever palavras com alguns erros ortográficos,

necessitando de ajuda da professora, e 19 alunos escrevem as palavras

corretamente de acordo com as habilidades exigidas pelo nível da série.

Com relação a produção textual, 13 conseguem produzir textos com

autonomia, compreendendo a sequência lógica dos fatos, organizando o texto sem

ajuda. 9 alunos produzem um texto com começo, meio e fim, com frases simples,

7Marinês Clementino dos Santos Guerra concedeu uma entrevista para a pesquisa, a descrição da escola, dos alunos e dos conteúdos trabalhados foram retirados das informações verbais fornecidas.

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sem ajuda. E 7 as produções das ideias ainda são representadas por meios de

desenhos.

Assim, quando questionada sobre os conteúdos de história que foram

apresentados no 3º ano, a professora afirmou que, “foi trabalhada a história do

município, vendo a diferença entre a paisagem urbana e a rural com suas

modificações... também a diversidade cultural da cidade”.

Ao longo do ano é feito a explanação de vários conteúdos, e muitas vezes

a consolidação de uma atividade ou projeto necessita de uma aula de campo, para

possibilitar ao aluno a visualização das informações que estudou em sala. Desta

forma, a professora explica que:

[...] no terceiro bimestre foi trabalhado a história de Currais Novos, a história local e do cotidiano do aluno, os conteúdos sobre os monumentos, patrimônio histórico e cultural, como a Mina Brejuí, o Totoró, a comunidade Negros do Riacho, a Matriz de Sant’Ana, as praças, a Fundação José Bezerra Gomes e o Museu de Acari, foram apresentados para o aluno em sala de aula, com leituras de textos, produções textuais e ilustrações, mas não foi possível a visita, porque quando solicitado o transporte da prefeitura, estava quebrado ou ocupado.

Esses conteúdos já foram trabalhados, mas a professora diz que dificulta

a fixação das informações quando o aluno não realiza a visita, comprovando o que

foi apresentado na sala. Quando isso ocorre, as crianças esquecem com mais

facilidade, pois segundo Andrade (2001), essa faixa etária tem dificuldade em

compreender o mundo real. Quando questionada sobre as dificuldades da escola na

realização da aula de campo, a professora diz que:

A dificuldade de realizar a aula de campo é o transporte, os que são próximos a escola, a visita é possível, como o Espaço Cultural Monsenhor Ausônio, e a Matriz da Imaculada Conceição, que é uma forma dos alunos observarem e fixar o conteúdo das formas geométricas e um pouco da história desses locais.

Nota-se exclusivamente o empecilho do meio de transporte, que a

prefeitura precisa fornecer para todas as escolas, sendo o primeiro ano que não

realizam as atividades previstas, e como alternativa optaram por levar a turma

caminhando, pois os locais são próximos a escola. A observação da professora

possui semelhança com o pensamento de Luck (1995), Aranha (1996), Fonseca

(2003) e Barbosa (2006), que apresentam a necessidade de superar a fragmentação

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das disciplinas, apresentando as informações como ao dinâmico e completo,

abrangendo várias disciplinas, não um recorte que torna-se distante da realidade.

No terceiro bimestre também foi trabalhado um projeto sobre folclore, e a

professora expõe que:

O projeto sobre folclore foi para apresentar a importância, e incentivar a valorização da cultura, por exemplo, para a culminância do projeto cada turma ficou responsável por uma apresentação, o 5º ano ficou com um teatro, o 4º ano ficou com a dramatização de uma música, 1º e 2º ano ficou com cantigas de roda, e o 3º ano ficou com o hino de Currais Novos, e fizeram a abertura cantando em forma de coral, os alunos gostaram muito e cantam até hoje

Com isso, é possível observar o que Lemos (2004) apresenta sobre as

diferentes formas de patrimônio, seja material ou imaterial, preservar é manter vivo

esses costumes e tradições. Essas práticas escolares de resgatar festividades e

manifestações culturais, apresentando para os pais das crianças é uma forma de

educação patrimonial. Na concepção de Cerqueira (2005), existe duas vertentes, a

conscientização da comunidade escolar e da comunidade em geral.

Com relação a colaboração dos pais dos alunos, a professora destaca

que são muito prestativos, além de ter grande participação nos eventos da escola,

diz que “[...] os pais dos alunos sempre colaboram nas viagens que necessitam

pagar, por exemplo a do Totoró e da Mina Brejuí, que tem a taxa para o guia e da

entrada para a visitação, e as crianças adoram, e sempre fecham a visita com um

piquenique”.

A pesquisa com os alunos foi realizada em quatro etapas de acordo com

o método de educação patrimonial. Dessas quatro etapas as duas primeiras foram

realizadas no dia 7 de novembro de 2016, e as duas restantes foram realizadas nos

dois dias seguintes, 8 e 9. O método do discurso do sujeito coletivo foi adaptado

para a realidade das crianças, quando realizou-se um agrupamento para identificar o

aprendizado dos alunos no desenvolvimento da pesquisa, estruturando as principais

ideias apresentadas pela coletividade em um discurso unificado para cada grupo.

A turma do 3º ano “A”, possui 29 alunos, mas nos dias de aplicação da

pesquisa não foram todas as crianças. Assim, no primeiro dia compareceram vinte e

23 crianças, no segundo dia foram 24, e no terceiro dia foi realizado com 24 alunos.

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4.1.1 ETAPA 1: OBSERVAÇÃO

O primeiro contato com os alunos foi para possibilitar reflexão e diálogo

sobre a história e o patrimônio da cidade de Currais Novos. Para isso, utilizou-se de

equipamentos de projeção visual para mostrar os patrimônios do município, no

processo foi observado as indagações e apontamentos realizados pelos alunos. A

etapa 1, foi utilizada para identificar principalmente se os alunos já tinham algum

conhecimento, e se já visitaram os patrimônios.

Os alunos mostraram empolgação, sendo observado que no primeiro

momento eles não vincularam os conteúdos estudados durante o ano com a palavra

patrimônio, e quando questionados se conheciam e poderiam dar exemplos, listaram

“escolas, universidades, alunos, bairros e casas”, mas quando perguntou-se o

porquê da resposta, não souberam argumentar.

Para gerar uma discussão inicial, foi exposto aos alunos, por meio de

projeção na sala de informática, fotos dos patrimônios do centro de Currais Novos.

As fotos funcionaram como um ponto de partida para a reflexão, assim como um

conceito simplificado, como sugere Freitas (2010) ao trabalhar com crianças, sendo

representado na Figura 14 e 15.

Figura 14. Apresentação das fotos dos patrimônios de Currais Novos.

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

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Figura 15. Participação dos alunos na apresentação.

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

Os alunos observando as fotos, e manifestaram-se dizendo “essa é a

Matriz de Sant’Ana”, “eu conheço esse daí”, “eu já fui nessa praça”, “eu já fui ai com

minha mãe”, entre outras que indicavam que já conheciam e que já visitaram muitos

dos patrimônios expostos.

Nesse primeiro momento, os próprios alunos começaram a indicar

patrimônios e um sujeito histórico que eles têm mais conhecimento, sendo listados

“eu conheço a Matriz de Sant’Ana, a praça Cristo Rei e o Tomaz Salustino”. Nota-se

que estão de acordo com o pensamento de Ribeiro e Santos (2008), pois as

crianças mesmo que inconscientemente, fizeram uma eleição dos patrimônios que

achavam mais representativos para a história local.

4.1.2 ETAPA 2: REGISTRO

Como forma de registro, foi discutido em sala com os alunos e a

professora sobre a importância e a história dos patrimônios locais, assim registrando

por meio de produção textual e ilustrações sobre o que eles conseguiram entender

inicialmente. As produções dos alunos foram o ponto de partida para analisar o que

eles aprenderam, pois os conhecimentos iniciais podem apresentar variação após a

aplicação da aula de campo.

Nessa etapa embora discutido e ilustrado com fotos, os alunos sentiram a

necessidade de realizar mais pesquisas, assim a maioria teve a iniciativa de buscar

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em dicionários e nos livros didáticos sobre o patrimônio, notando-se assim a

presença da concepção de Orubia (1996), que aponta para a busca por suporte para

auxiliar o desenvolvimento das produções, como apresentado na Figuras 16 e 17.

Figura 16. Explicação da atividade.

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

Figura 17. aluno pesquisando no livro sobre patrimônio

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

O resultado foi analisado seguindo a divisão de elaboração do texto e

ilustração. Dividiu-se em quatro tipos de discursos, pois foram agrupados de acordo

com as ideias apresentadas nos textos e nas ilustrações, como mostra o Quadro 3.

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Quadro 3. Agrupamento com o método DSC das elaborações textuais e ilustrações da turma antes da aula de campo.

GRUPOS PRODUÇÃO TEXTUAL DESENHOS

Grupo 1 Ausente Patrimônios são Igrejas, casas,

obeliscos e o monumento do Cristo Rei.

Grupo 2 Patrimônio é história, também é

igrejas, praças Cristo Rei e a estátua do Tomaz Salustino.

Ausente.

Grupo 3

Patrimônio é muito legal, são Igrejas, praças, casas, prefeitura, coreto,

estatua do Tomaz Salustino e pessoas.

Patrimônios são Igrejas, praças, estatuas, monumento do Cristo Rei, prefeitura e a Matriz de Sant’Ana.

Grupo 4 Patrimônio é a lembrança das coisas e pessoas que marcam a história, como

igrejas, praças, casas, prédios.

Patrimônios são Igrejas, a Matiz de Sant’Ana, e a estátua como a do

Tomaz Salustino.

Fonte: Elaboração da autora (2016)

Dessa forma, o grupo 1 representa os alunos que apenas ilustraram,

tendo uma predominância de patrimônio materiais que visualizaram nas fotos, no

qual o elemento que destaca-se é o monumento do Cristo Rei, como patrimônio do

município. O grupo 2, foi construído apenas por meio de produção textual,

vinculando o patrimônio a história, a memória do Tomaz Salustino, as igrejas e a

praça Cristo Rei, existindo no texto o conhecimento de mais elementos que

representam a cidade.

O grupo 3 representa a maioria dos alunos, e realizaram uma produção

mista com texto e desenho, essas crianças mostraram um apego ao dizer que o

patrimônio é legal, além de vincular elementos genéricos como igrejas, casas,

prefeitura e coreto, lembraram da estátua do Tomaz Salustino como parte da cidade.

De acordo com, Carneiro (2006) ao apresentar o patrimônio como parte da

identidade e fonte de inspiração, com a exposição das fotos e discussão sobre o

assunto, as crianças começam a identificar-se com os patrimônios da cidade.

O grupo 4 apresentou uma compreensão mais profunda do significado de

patrimônio, vinculando a lembrança de coisas e pessoas que marcaram a história,

exemplificando nos textos e desenhos com igrejas, praças, casas, e os elementos

presentes que fazem parte de Currais Novos que são a Matriz de Sant’Ana e a

estátua do Tomaz Salustino, contendo vários elementos do conceito apresentado

pela Constituição Federal de 88 e pelo IPHAN (2014). Novamente os alunos fazem

uma eleição para apresentar na opinião deles os patrimônios que são mais

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representativos. Como apresentado no pensamento de Ribeiro e Santos (2008).

Para visualizar as produções textuais dessa etapa, consultar anexos B e C.

4.1.3 Etapa 3: Exploração

Nessa etapa foi aplicado o Itinerário Sobretudo Currais Novos8, elaborado

no desenvolvimento da pesquisa. Concentrando-se nos patrimônios do centro da

cidade, apresentando para os alunos um pouco da história dos patrimônios e sua

importância para a cidade e para os currais-novenses. Antes de iniciar a visitação ao

centro da cidade, foi realizado uma leitura compartilhada sobre o patrimônio, para

reforçar e acrescentar as informações que os alunos tinham visto no dia anterior.

Figura 18. Momento da leitura compartilhada

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

O itinerário Sobretudo Currais Novos, teve início na Matriz de Sant’Ana, a

visitação seguiu em direção ao monumento a Ulysses Telêmaco, Praça Cristo Rei,

Monumento a Cristo Rei, a casa do Desembargador Tomaz Salustino, a praça Cívica

Desembargador Tomaz Salustino, o monumento em homenagem ao

Desembargador Tomaz Salustino, o Palácio Municipal “Prefeito Raul Macêdo”, o

Coreto Guarany, o Tungstênio Hotel, monumento do Centenário de Currais Novos e

encerrando na Fundação Cultural “José Bezerra Gomes”.

8Referência ao poema de mesmo nome feito pelo José Bezerra Gomes, para o Aniversário do Fórum da Cidade, em 29 de novembro de 1920.

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Figura 19. Percurso realizado no Itinerário Sobretudo Currais Novos

Fonte: Adaptada pela autora do Google Earth.

O itinerário foi elaborado tendo como base o caminho iniciando na Matriz

de Sant’Ana para explicar sobre o início do povoamento da cidade, e a partir desse

ponto apresentando o desenvolvimento urbano que teve ao longo do tempo, tendo

como base os autores Gomes (1975), Alves (1985), Souza (2008) e Quintino Filho

(2009).

Partindo da Matriz seguiu-se esclarecendo a história e a importância dos

patrimônios para o município e para o povo currais-novense, interrompendo em

alguns momentos para sanar dúvidas e mostrar os detalhes e as estruturas dos

monumentos.

Figura 20. Início do itinerário Sobretudo Currais Novos

Fonte: Acervo pessoal da autora (2016)

As crianças apresentaram grande envolvimento na atividade, tudo no

centro mostrava-se como estimulante e divertido para os alunos, assim, como no

pensamento de Andrade (2001), expõe que as crianças gostam de novidades.

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Embora prestassem atenção nas explicações, a dinâmica social que encontraram no

ambiente, chamava a atenção e instigava curiosidade sobre o movimento dos

carros, pessoas e lojas durante o percurso. De acordo com Matos (2012), a visita

proporciona uma análise do ambiente externo à escola, das relações sociais, do

cotidiano no geral, Scremin e Junqueira (2012) destacam a importância do

planejamento para conseguir cumprir seu objetivo educativo.

4.1.4 ETAPA 4: APROPRIAÇÃO

A proposta de apropriação foi pensada como a elaboração em conjunto

de um livro sobre a experiência vivenciada, apresentando o que os alunos

aprenderam no itinerário Sobretudo Currais Novos. Assim, eles produziram um texto

e as ilustrações para o livro alguns com a ajuda da professora. Com essa produção,

foi analisado se os alunos passaram a apropriar-se dos conteúdos apresentados,

comparando com os dados levantados na primeira etapa, também observou-se as

respostas dos alunos para identificar as ideias principais da construção do texto,

apresentados no Quadro 4.

Quadro 4. Agrupamento com o método DSC das elaborações textuais e ilustrações da

turma após a aula de campo.

GRUPOS PRODUÇÃO TEXTUAL DESENHOS

Grupo 1 Ausente

Patrimônios são a igreja de Sant’Ana, o Cristo Rei

e o obelisco do centenário.

Grupo 2

Currais Novos tem Patrimônios e são igrejas, praça Cristo Rei, obeliscos, prefeitura, Coreto Guarany,

casa e estatua do Tomaz do Salustino, Hotel Tungstênio, Museu José Bezerra Gomes.

O patrimônio é Igreja, Monumento a Cristo Rei,

casa do Tomaz Salustino, obelisco do centenário de Currais

Novos.

Grupo 3

Os Patrimônios são para guardar, sendo como a homenagem a Tomaz Salustino, a casa dele que

ninguém mora, também é a Praça, o Hotel Tungstênio e o museu.

Patrimônio é A matriz de Sant’Ana e Cristo Rei

Grupo 4 Os Patrimônio são homenagens, e são histórias

muito legais e importantes, servem para lembrar a história entre gerações, como a Matriz de Sant’Ana

Matiz de Sant’Ana, Monumento a Ulysses, praça e monumento ao

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que foi onde começou Currais Novos, o monumento a Ulysses, praças, monumento ao Cristo Rei, casa do Tomaz Salustino pela formação diferenciada, a estátua do Tomaz Salustino, prefeitura, coreto, os

monumentos aos centenários do Brasil (Coreto Guarany) e Currais Novos (obelisco), e museus. A

visita foi muito divertida.

Cristo Rei, a casa e a estátua do Tomaz

Salustino

Fonte: Elaboração da autora (2016)

Após a visita, os alunos não sentiram a necessidade de pesquisar

informações extras, tendo autonomia para desenvolver os textos solicitados,

pediram ajuda a professora apenas para tirar dúvidas de português, a aula de

campo foi uma ferramenta metodológica que auxiliou no processo de ensino-

aprendizado, pois as crianças encontraram sentido após a visita para as

informações que viram em sala, fazendo os alunos compreenderem e ter

propriedade para produzir sobre o conteúdo. Como apresentado nos pensamentos

de Matos (2012) e Onrubia (1996).

O grupo 1, continuou com a produção de ilustrações, isso porque ainda

não aprenderam a escrever, pois estão começando o processo de alfabetização.

Poucos alunos representaram os patrimônios vistos na visita exclusivamente em

desenhos, todos ilustrados fazem parte da cidade de Currais Novos. Andrade (2001)

apresenta que as crianças têm dificuldade em compreender a realidade, e como a

alfabetização está no processo inicial, eles acabam recorrendo para a representação

do que foi visto, o patrimônio material.

O grupo 2, foi constituído de alguns alunos com produções mistas, textos

e ilustrações, também começaram a vincular o patrimônio com a cidade. Esse grupo

montou o texto como uma narrativa descritiva da visita, apresentando os

monumentos que existem no centro como patrimônios da cidade. Esse grupo,

apresenta uma análise do ambiente relatando o que visualizaram, assim como visto

na concepção de Matos (2012).

O grupo 3 é composto por poucos alunos, compreenderam em parte o

conceito de patrimônio, listando alguns do município de Currais Novos que visitaram,

mas vincularam a ideia de alegoria, de um bem sem utilidade, uma vez que ao

observar a casa do Tomaz Salustino estava fechada sem utilização. Além dos

monumentos como os obeliscos e o coreto que não apresentaram serventia para

eles. Assim, foi entendido que Currais Novos possui patrimônio, mas que serve

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apenas para salvaguardar ao longo do tempo, longe da realidade e da dinâmica

social.

Com isso, nota-se o pensamento de Rodrigues (2007) que ressalta a

importância de uma boa conservação, no Brasil oscila entre um patrimônio alegórico

mas bem cuidado, e a negligência de bens culturais, como a casa do Tomaz

Salustino, citado pelas crianças. Bem como, a concepção de Tamanini e Peixer

(2011), que apresenta as casas históricas, museus e instituições culturais, abertas

ou fechadas, significam e transmitem sentido, nesse caso, de coisas sem utilidades.

O grupo 4 representou a maior parte dos alunos, eles compreenderam o

significado do patrimônio, mostrando um entendimento profundo das explicações

realizadas na visita. Passaram a vincular a história da cidade com os patrimônios,

reconhecendo a importância para Currais Novos. Além de apresentar um grande

envolvimento na atividade, gostaram e se divertiram com a visitação, conversando

com o pensamento de Souza, Melo e Perinotto (2011) e de Viveiro e Diniz (2009)

que expõem a aula de campo como o desenvolvimento do aprendizado de forma

lúdica e divertida.

Após a aula de campo, os alunos construíram uma sequência lógica dos

fatos, como o relato da Matriz de Sant’Ana ser o início da cidade, compreendendo a

importância dos monumentos, como a casa do Tomaz Salustino que possui valor

arquitetônico, e também foi mostrado nas produções textuais. Resgatando muitos

elementos dos conceitos apresentados pela Constituição Federal de 88 e pelo

IPHAN (2014), e passaram a compreender o patrimônio como parte da história da

cidade de Currais Novos.

As crianças conseguiram apontar acontecimentos e monumentos que são

parte do município, como expõem Gomes (1975), Alves (1985), Souza (2008) e

Quintino Filho (2009). De acordo com Matos (2012), a visitação proporcionou a

análise do lugar, apresentando os patrimônios de Currais Novos como parte

importante da história e da identidade currais-novense. Para visualizar as produções

textuais dessa etapa, consultar anexos D e E.

Após o levantamento das produções textuais dos alunos, foi entregue um

texto sobre o assunto para colar no caderno de história. No dia seguinte, 9 de

novembro a professora fez a leitura de um texto sobre patrimônio que o livro didático

possui, e para o encerramento do conteúdo solicitou uma nova produção de texto e

ilustração, que inicialmente não entraria na pesquisa, mas como a professora

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forneceu as produções, tornou-se mais um material para analisar o aprendizado das

crianças. Assim, os resultados estão expostos no Quadro 5.

Quadro 5. Agrupamento com o método DSC das elaborações textuais e ilustrações da

turma, após a aula de campo e textos complementares.

GRUPOS PRODUÇÕES TEXTUAIS DESENHOS

Grupo 1

A cidade de Currais Novos tem muitos patrimônios bonitos, como a Matriz de

Sant’Ana, a casa e a estátua do Tomaz Salustino, a prefeitura que é linda, a estátua e

a praça Cristo Rei, a praça do Tomaz Salustino, o Tungstênio hotel, obeliscos e museus, patrimônio também é uma cidade

limpa.

Patrimônio é a Matriz de Sant’Ana, a casa

do Tomaz Salustino, o monumento a Cristo Rei, as praças e os

obeliscos.

Grupo 2

A história do patrimônio é muito legal, como a da Matriz de Sant’Ana que é o começo da nossa cidade. Patrimônio também é uma

forma de homenagem, como o obelisco de Ulysses, que foi uma pessoa importante, e o

Tomaz Salustino que sabia muito sobre mineração. Também é a praça e o

monumento a Cristo Rei, o coreto, Tungstênio hotel, a casa do Tomaz Salustino, prédios, museus e a prefeitura. Patrimônio é muito interessante, é guardado para lembrar da história de Currais Novos, e é importante porque é o maior tesouro da cidade. Tem muitos patrimônios bonitos, eu gostei, foi

muito bom e divertido.

Patrimônio é a Matriz de Sant’Ana, a

prefeitura, Monumento ao Centenário de Currais Novos, o

monumento e a praça Cristo Rei.

Fonte: Elaboração da autora (2016)

Em relação a apropriação, os alunos começaram a atribuir sentido ao

patrimônio, nessa perspectiva Camargo (2002), apresenta que o patrimônio tem um

significado coletivo, mas também cada pessoa atribui sentido aos artefatos, como

feito pelas crianças quando apresentam que o patrimônio é uma história legal,

importante, e divertiram-se muito na visitação.

Em cada etapa que foi realizada produções textuais, os alunos tiveram

uma homogeneização paulatina, relembrando e aprendendo informações sobre o

conceito e a importância do patrimônio. Com isso, é possível observar a zona de

desenvolvimento proximal dos alunos, no qual necessitam de uma ajuda ajustada da

professora, fornecendo materiais como suporte do aprendizado, assim como

apresentado por Onrubia (1996).

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Essa etapa houve apenas uma exceção, a aluna com deficiência

diagnosticada, que participou da produção solicitada, representando os patrimônios

com rabiscos. Ela consegue compreender comandos básicos, com isso pode

participar da produção, mas necessita de uma ajudante para realizar todas as

atividades, seja para ir ao banheiro, se alimentar ou fazer as tarefas.

Desta forma, o grupo 1 representa quase a metade da turma, que

passaram a reconhecer o patrimônio da cidade de Currais Novos. Mas, a

fragmentação da identidade levou, ao longo da pesquisa, os alunos a transitarem

entre as representações do patrimônio, hora narrando e descrevendo a visita, hora

apresentando vários elementos que representam uma valorização e um apego.

Estando de acordo com o que foi apresentado por Hall (2006), sendo influenciado

também pelo nível de alfabetização de cada aluno.

O grupo 2 representa a maioria da turma, conseguiram novamente

representar o patrimônio de Currais Novos de forma bem exemplificada. Segundo

Albuquerque et. al. (2012), conhecer a história local é compreender a sociedade, e

as crianças passaram a compreender nas suas limitações a história, criando um

sentimento de pertencimento, mesmo que inconstante, significa sentir-se parte da

cultura currais-novense, valorizando o patrimônio e tendo consciência da

importância da preservação. Para visualizar as produções textuais dessa etapa,

consultar anexos F e G.

Com isso, a aula de campo auxilia no processo de ensino-aprendizado,

mas em hipótese alguma substitui os conteúdos apresentados no currículo escolar,

é uma forma de interligar a teoria com a prática, ajudando o aluno a compreender as

informações por visualizar no cotidiano o que estudou em sala de aula, o aluno

passa a ter um papel mais atuante na própria educação.

4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Como trata-se de um estudo de caso, analisar outras produções

relacionadas a temática de pesquisa é relevante, sendo possível discutir os

resultados com diferentes pontos de vista, comparando com os dados de outras

pesquisas que tem o foco Turismo e Educação. Não foram encontrados trabalhos

que utilizaram crianças de oito (8) à nove (9) anos como universo de estudo, todos

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optaram para utilizar alunos de ensino médio. Mas, quando observado os resultados

com cautela, as diferenças não foram significativas, apenas a forma de trabalhar é

que possui a maior diferença, no qual as crianças precisam de outras formas de

avaliação.

Desta forma, foram analisados o trabalho de Nascimento (2015):

Educação Patrimonial em São Vicente/RN: um estudo do pertencimento e da

valorização do patrimônio cultural; de Oliveira (2016): Turismo Pedagógico Como

Instrumento do Processo Ensino-aprendizagem: o caso da Escola Estadual Tristão

de Barros – Currais Novos/RN; e o de Fonseca (2014): Turismo pedagógico em

Escola Pública: uma atividade ao auxílio da educação.

Na pesquisa de Nascimento (2015), problema detectado foi que os jovens

da cidade de São Vicente não conheciam a história local, resultando na

desvalorização do patrimônio. Mas em nosso caso, as crianças estudadas já

conheciam e estudavam sobre a história e os patrimônios de Currais Novos, e a aula

de campo é uma atividade que já é prevista no calendário acadêmico.

Os pais da Escola Municipal Ausônio Araújo, incentivam o conhecimento

dos bens culturais, e sempre participam das atividades realizadas na escola, talvez

seja por tratar-se de crianças. Já no estudo de Nascimento (2015), a realidade da

escola estudada é diferente, os pais incentivam mais os filhos a visitar praias ou

shopping, e não bens culturais.

Os resultados de Nascimento (2015) mostram que após a pesquisa-ação

que realizou, os alunos passaram a ter de fato um sentimento de pertencimento, e

assim passaram a valorizar o patrimônio da cidade. Como ocorreu também com as

crianças, a diferença é que elas apenas reforçaram essa valorização com a aula de

campo, uma vez que já estudavam ao longo do ano a história, o folclore e os

patrimônios históricos e culturais do município de Currais Novos.

Para compreender a aula de campo como método de ensino, e os

benefícios para a educação, temos os resultados das pesquisas de Fonseca (2014)

realizada em Niterói, e a de Oliveira (2016) feita em Currais Novos, que apresentam

a aula de campo e o turismo pedagógico como uma forma do aluno ter um papel

mais participativo no processo de ensino aprendizado. E mesmo ambas sendo

estudos de casos, os resultados mostram muitas semelhanças.

De acordo com Fonseca (2014) e Oliveira (2016), a aula de campo é um

método de ensino importante para os professores, pois proporcionou aos

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participantes a vivência na prática do que foi visto em sala, sendo um auxílio para o

aprendizado dos conteúdos do currículo escolar. Além de preparar os alunos para a

realidade, tornando-os responsáveis e participativos na sociedade, como futuros

cidadãos. Isso também ocorreu na pesquisa com as crianças, embora tenham suas

limitações, passaram a entender que o patrimônio faz parte da história local, e é

importante salvaguarda-lo para as futuras gerações, pois representa a identidade

currais-novense, isso só foi possível quando realizaram a visita porque ajudou a fixar

todo o conteúdo estudado no ano.

A aula de campo segundo Fonseca (2014), mostra-se como uma forma

de aprendizado divertido, que foge das aulas tradicionais que o aluno conhece.

Assim, é um meio de unir o aprendizado com uma atividade prazerosa, incentivando

também o professor por ter um retorno positivo. Os resultados são parecidos com as

crianças, que mostram que gostaram muito e divertiram-se com a visita, e a

professora também apresenta como um trabalho gratificante.

A maior dificuldade encontrada para realizar atividades fora da escola na

pesquisa de Oliveira (2016), foram fatores relacionados aos recursos financeiras e a

preocupação dos responsáveis com a saída para outras cidades. Como trata-se de

uma escola estadual, os recursos financeiros são para custear até mesmo o

transporte, elevando os valores mesmo de uma viagem na região. Com as escolas

municipais a prefeitura consegue, por vezes, fornecer o transporte para atividades

dentro e próximo a cidade, como a visita a Mina Brejuí, ao Totoró e em Acari, a

maior dificuldade é justamente conseguir reservar o ônibus para realizar a visita, e

os pais sempre incentivam muito a participação dos filhos.

Como proposta de solução de alguns dos problemas encontrados,

Oliveira (2016) e Fonseca (2014), sugerem uma parceria entre a universidade e as

escolas, pois o curso de Turismo especificadamente, é capaz de auxiliar as escolas

públicas no desenvolvimento de atividades externas. E a parceria dessas instituições

para planejar e organizar visitas só gera benefícios, para a educação é um método

de ensino-aprendizado que instiga o aluno, e para o turismo é uma forma de

laboratório para o curso.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para o desenvolvimento da atividade turística, primeiro é necessário a

população compreender e preservar o patrimônio da cidade como parte da

identidade, pois não transforma-se o patrimônio histórico e cultural em uma alegoria,

e com essa valorização dos bens culturais desde crianças torna-se um trabalho

valoroso para a sociedade posteriormente desenvolver um turismo cultural, não

sendo apenas um espetáculo para turistas. O patrimônio sobretudo representa a

cidade de Currais Novos e a cultura currais-novense.

As dificuldades encontradas na realização da pesquisa, foram

principalmente a forma de avaliar o aprendizado dos alunos, tendo em vista alguns

estarem no processo de alfabetização. Mesmo compreendendo as informações

apresentadas, as produções textuais possuem muitos erros ortográficos, alguns não

apresentam uma sequência lógica, contendo apenas frases soltas, outros recorrem

ao relato da visita, mas muitos conseguiram vincular algumas palavras chaves com o

sentido de patrimônio, sendo considerado assim a ideia central dos textos e

ilustrações.

A dificuldade identificada para a realização de uma atividade externa

durante o levantamento dos dados, foi o meio de transporte. Assim, mesmo

trabalhando durante todo o ano sobre a história, a cultura, o folclore e o patrimônio

da cidade, a escola não conseguiu um ônibus para realizar as visitas necessárias,

que já são previstas no calendário acadêmico. A prefeitura geralmente fornece o

transporte, mas esse ano quando solicitado, encontrava-se ocupado ou quebrado,

tornando-se inviável as aulas de campo.

Os professores organizaram-se e realizaram a visitação dos locais

próximos a escola, caminhando com os alunos, como alternativa para a falta do

ônibus. Com isso, possibilitaram uma forma de visualizar conteúdos abstratos que

as crianças apresentam dificuldade para compreender, como as formas

geométricas, citadas pela professora.

A valorização do patrimônio após a visita realmente aconteceu, os alunos

estudaram a história e a importância dos patrimônios ao longo do ano, mas foi com a

visitação que encontraram sentido e significado nos conteúdos, passando a

apropriar-se dos bens culturais, reconhecendo que fazem parte da história local,

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embora necessitem de uma ajuda ajustada da professora para consolidar as

informações e adquirirem autonomia, pois os resultados apresentam uma variação

na representação dos patrimônios na quarta etapa.

Com a aula de campo os alunos ficaram animados para aprender mais

sobre a história e a cultura, assim como nos projetos desenvolvidos pela escola, os

alunos tornam-se sujeitos ativos no processo de aprendizado, participando de forma

lúdica das atividades educativas que são trabalhadas de forma diferenciada.

As crianças também apresentaram grande envolvimento na aula de

campo, participando de todas as tarefas que foram solicitadas, e se divertiram muito

no processo. A professora observou que os pais dos alunos mostraram grande apoio

quando trata-se do ensino da história e cultura de Currais Novos, e além de

incentivar aos filhos, participam das atividades desenvolvidas na escola.

Os objetivos da pesquisa foram todos cumpridos, e cabe ressaltar que só

foi possível com a colaboração da escola, toda a equipe mostrou-se receptiva e

acolhedora, bem como as crianças que participaram. A direção e os professores

relataram a necessidade de desenvolver mais trabalhos em parceria com a

universidade, e a escola ficou disponível para realização de futuras pesquisas.

Desta forma, ao estudar a relação entre turismo e a educação, acredita-se

que tem muito potencial que pode ser explorado, uma vez que os turismológos tem a

capacidade de auxiliar o planejamento, a organização e execução de projetos,

pesquisas, e visitas trabalhadas juntamente com as escolas, sobre assuntos

diversos como a valorização patrimonial, conscientização turística, turismo

pedagógico entre outros com o objetivo de fornecer métodos de ensino que vincule o

aprendizado com uma atividade prazerosa.

A pesquisa foi muito gratificante, possibilitou uma visão de como é

desenvolver um estudo com crianças, que mostram-se muito dispostas a participar

de tudo, entregando-se totalmente a proposta do trabalho. Sempre fazendo muitas

perguntas, os alunos gostaram de participar de uma pesquisa ação, que interfere no

cotidiano das aulas tradicionais. Embora sejam importantes, a aula de campo é um

método que auxilia no processo de ensino-aprendizado de forma divertida, tendo um

retorno positivo para os alunos.

Como sugestão para alguns dos problemas encontrados, principalmente o

transporte, faz-se interessante a criação de uma parceria com a Universidade

Federal de Rio Grande do Norte, com o curso de Turismo para desenvolver essas

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atividades. O curso de Turismo pode ajudar no planejamento e na execução das

atividades externas, ajudando o professor a selecionar os locais que proporcionem a

ligação da teoria e a prática, fornecendo aos alunos uma experiência diferenciada, e

divertida. Assim como apontado em outros estudos que pesquisaram o turismo e a

educação.

Tendo em vista a importância dos resultados deste e de outros trabalhos,

faz-se relevante o desenvolvimento de mais pesquisas para estudar o turismo e a

educação, explorando os potenciais que as duas áreas unidas podem proporcionar

aos alunos, professores e universitários. Desta forma, espera-se que os resultados

aqui apresentados, sirvam para levantar mais questionamentos, auxiliando e

inspirando futuros trabalhos a serem realizados com essa temática.

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ANEXOS

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ANEXO A: CAPA DO LIVRO FEITO PELAS CRIANÇAS

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ANEXO B: PRODUÇÕES TEXTUAIS ANTES DA AULA DE CAMPO

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ANEXO C: PRODUÇÕES TEXTUAIS ANTES DA AULA DE CAMPO

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ANEXO D: PRODUÇÕES TEXTUAIS APÓS A AULA DE CAMPO

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ANEXO E: PRODUÇÕES TEXTUAIS APÓS A AULA DE CAMPO

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ANEXO F: PRODUÇÕES TEXTUAIS APÓS A AULA DE CAMPO E LEITURAS

COMPLEMENTARES

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ANEXO G: PRODUÇÕES TEXTUAIS APÓS A AULA DE CAMPO E LEITURAS

COMPLEMENTARES