UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · hipertensão arterial, uso médio de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO HILDERJANE CARLA DA SILVA Trauma em idosos atendidos pelo serviço pré-hospitalar móvel NATAL 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

    CURSO DE MESTRADO ACADMICO

    HILDERJANE CARLA DA SILVA

    Trauma em idosos atendidos pelo servio pr-hospitalar mvel

    NATAL

    2013

  • HILDERJANE CARLA DA SILVA

    Trauma em idosos atendidos pelo servio pr-hospitalar mvel

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obteno do ttulo de Mestre.

    rea de Concentrao: Enfermagem na ateno sade. Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Tecnolgico em Sade e Enfermagem Orientadora: Prof. Dr. Rejane Maria Paiva de Menezes

    NATAL

    2013

  • HILDERJANE CARLA DA SILVA

    Trauma em idosos atendidos pelo servio pr-hospitalar mvel

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Enfermagem, do Centro de

    Cincias da Sade, Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte, como requisito parcial para a

    obteno do Ttulo de Mestre.

    Aprovada em: ___ de dezembro de 2013, pela banca examinadora.

    BANCA EXAMINADORA:

    ________________________________________________

    Prof. Dr. Rejane Maria Paiva de Menezes - Orientadora

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN

    ________________________________________________

    Prof. Dr. Bertha Cruz Enders - Titular

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN

    ________________________________________________

    Prof. Dr. Francis Solange Vieira Tourinho - Titular

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN

    _______________________________________________

    Prof. Dr. Maria do Rosrio Menezes - Titular

    Universidade Federal da Bahia UFBA

    ________________________________________________

    Prof. Dr. Maria do Socorro Costa Feitosa Alves - Suplente

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN

  • DEDICATRIA

    A toda equipe do SAMU/Natal que est diariamente nas ruas em busca do melhor

    atendimento s pessoas que se encontram em situaes de agravo sade frente

    s mais adversas situaes.

    Trabalho dedicado especialmente s enfermeiras Grayce Louyse Tinoco de Castro e

    Renata de Lima Pessoa, que me ensinaram o passo a passo do atendimento pr-

    hospitalar mvel, com nfase na reflexo das condutas a serem tomadas de forma

    imediata e sempre humanizadas.

    equipe que me conduziu nos diversos plantes nas unidades de suporte bsico e

    avanado: enfermeiros, mdicos, tcnicos de enfermagem e condutores socorristas.

    Aos que fazem parte do Ncleo de Educao Permanente, que me apoiaram de

    diversas formas: Janana, Camila, Manoela, Nice, Renata Campos, Edilson Pinto,

    Ivan, Kleiber, Rodrigo e todos os demais que apoiaram e colaboraram de forma

    direta para a consolidao deste estudo.

  • AGRADECIMENTOS

    Incondicionalmente a Deus, por me fortalecer todos os dias e me conduzir pelo

    melhor caminho com sua paz e luz!

    minha famlia (me, pai, irmos, avs, tios e primos), por contribuir para a minha

    formao como ser humano, antes do ser profissional.

    Ao meu amor e companheiro Vieira Jnior, pela compreenso nos momentos

    mais difceis, por lutar junto comigo na busca da realizao dos meus sonhos e na

    construo de novas metas e, principalmente, por no me deixar desistir diante das

    dificuldades.

    minha orientadora Rejane Menezes, por ter me despertado o amor direcionado

    s pessoas idosas e por ter aceitado o desafio de estudar as peculiaridades do

    atendimento pr-hospitalar. Obrigada pelos ensinamentos e por acreditar neste

    trabalho!

    Aos professores Bertha Cruz Enders, Francis Solange Vieira Tourinho e

    Marcos Antnio Ferreira Jnior, pelas valiosas contribuies no exame de

    qualificao.

    A todos os professores e amigos que fizeram parte da minha formao

    acadmica.

    s alunas Emily Mesquita, Heloza Talita e Tas pelo auxlio na fase de coleta de

    dados e na organizao da apresentao.

    A todos aqueles que contriburam at mesmo com o pensamento positivo,

    transmitindo boas energias para que este trabalho pudesse ser realizado.

  • O destino do traumatizado est

    nas mos de quem faz o primeiro

    curativo

    Nicholas Senn

  • RESUMO

    SILVA, H. C. Trauma em idosos atendidos pelo servio pr-hospitalar mvel. 2013. 153 fls. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, 2013.

    O objetivo deste estudo foi caracterizar a ocorrncia de traumas na populao idosa atendida pelo servio pr-hospitalar mvel, no municpio de Natal, Rio Grande do Norte. Trata-se de um estudo descritivo, de delineamento transversal e abordagem quantitativa, cuja populao foi constituda por 2.080 vtimas de trauma. A amostra, do tipo aleatria sistemtica, consistiu em 400 pessoas idosas, com idade a partir de 60 anos, assistidas pelo Servio de Atendimento Mvel de Urgncia de Natal/RN, entre janeiro de 2011 a dezembro de 2012. A coleta de dados teve incio aps consentimento da instituio e parecer favorvel de um Comit de tica em Pesquisa sob o n 309.505. Procedeu-se anlise documental retrospectiva das fichas de atendimento do servio atravs de um formulrio de elaborao prpria, validado por juzes especialistas, considerado como confivel (>0,75) e vlido (IVC=0,97) em sua clareza e relevncia. Os dados foram tabulados pelo software Statistical Package for Social Science, verso 20.0. Os resultados obtidos evidenciam que as vtimas idosas possuem idade mdia de 74,19 anos, com prevalncia do sexo feminino, acometimento por doenas crnicas, especialmente a hipertenso arterial, uso mdio de 2,2 medicamentos rotineiros, com sinais vitais dentro dos padres de normalidade. Os traumas prevaleceram no perodo diurno, na residncia das vtimas, zona norte da cidade e nos fins de semana. Entre os mecanismos de trauma destacaram-se as quedas, os acidentes de trnsito e as agresses fsicas, cujo tipo de trauma mais comum foi o cranioenceflico e principais consequncias os ferimentos passivos de sutura e as fraturas fechadas. As Unidades de Suporte Bsico estiveram como as mais acionadas para o atendimento pr-hospitalar (87,8%) e o principal local de destino consistiu no hospital de referncia em urgncia do Estado (57,5%). Entre os procedimentos mais realizados pela equipe de enfermagem destacaram-se a imobilizao com prancha rgida e colar cervical, bem como a puno venosa perifrica, e principal componente utilizado para reposio volmica a soluo fisiolgica. Houve relao significativa entre os bitos e o mecanismo de trauma; mecanismo de trauma e procedimentos realizados, exceto administrao de medicamentos; procedimentos realizados, exceto de imobilizao, e unidade destinada ao atendimento. Ressalta-se a prevalncia do trauma na populao idosa, o seguimento deficiente do protocolo Pre-Hospital Trauma Life Support e a incipincia dos registros de procedimentos de enfermagem realizados. H necessidade de um protocolo de atendimento ao trauma especfico s vtimas idosas e estratgias de educao para a preveno de eventos desta natureza.

    Palavras-chave: Enfermagem. Idoso. Traumatismos. Assistncia pr-hospitalar.

  • ABSTRACT

    SILVA, H. C. Trauma in elderly patients by the mobile pre-hospital service. 2013. 153 fls. Dissertation (Master degree) Post-Graduation Program in Nursing, Federal University of Rio Grande do Norte, Natal-RN, 2013. O The aim of this study was to characterize the occurrence of trauma in the elderly population served by the mobile pre-hospital service, in Natal, Rio Grande do Norte. This is a descriptive, transversal and quantitative approach and whose population consisted of 2,080 trauma victims. The sample, of systematic random type, consisted of 400 elderly people, aged from 60 years old, assisted by the Office of Mobile Emergency in Natal / RN, between January 2011 and December 2012. Data collection began after consent and assent of the institution of a Research Ethics Committee under No. 309 505. It was proceeded to documentary retrospective analysis of records of this service through a form of self-development, validated by expert judges considered reliable (> 0.75) and valid (CVI = 0.97) in their clarity and relevance. Data were tabulated by the Statistical Package for Social Sciences, version 20.0. The results show that older victims have an average age of 74.19 years old, with a prevalence of female involvement by chronic diseases, especially hypertension, average usage of 2.2 routine medications with vital signs within normal limits. The trauma prevailed during the daytime, in the residence of the victims, north of the city and on weekends. Among the mechanisms of trauma were falls, traffic accidents and physical aggression, whose most common type was brain-cerebral trauma and the main consequences were suture wounds and closed fractures. Basic Support Units were as more driven to pre-hospital care (87.8%) and the main destination place consisted of a referral hospital for emergency of the state (57.5%). Among the most commonly performed procedures by nursing staff immobilization with rigid board and neck collar and the peripheral venipuncture, and the main component used for volume replacement to saline were highlighted. There was a significant relationship between the deaths and the mechanism of injury, mechanism of injury and procedures, except medication administration procedures carried out, except immobilization and unit for service. It is highlighted the prevalence of trauma in the elderly, poor follow-up Pre-Hospital Trauma Life Support protocol and the paucity of records and nursing procedures performed. There is need for a protocol of care specific to elderly trauma victims and education strategies for the prevention of such events. Key words: Nursing. Elderly. Injuries. Pre-hospital care.

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 01 Escala de Coma de Glasgow............................................................ 34

    Quadro 02 Distribuio das variveis de identificao das ocorrncias de

    trauma atendidas pelo SAMU/Natal-RN. Natal, RN, 2013...................................

    49

    Quadro 03 Distribuio das variveis relativas ocorrncia e evoluo do

    trauma. Natal, RN, 2013. .....................................................................................

    50

    Quadro 04 Distribuio das variveis relativas ao atendimento do trauma.

    Natal, RN, 2013....................................................................................................

    51

    Quadro 05 Sugestes dos juzes para a incluso, modificao ou excluso de

    itens/subitens do instrumento de coleta de dados. Natal, RN, 2013....................

    55

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 Distribuio dos valores de de Cronbach quanto clareza e

    relevncia dos itens do instrumento de coleta de dados. Natal, RN, 2013..........

    54

    ARTIGO 01

    Tabela 01 Caracterizao das vtimas de trauma idosas atendidas pelo

    SAMU/Natal-RN, conforme sexo e faixa etria. Natal, RN, 2013........................

    66

    Tabela 02 Caracterizao de idosos vtimas de trauma atendidos pelo

    SAMU/Natal-RN, segundo antecedentes pessoais e faixa etria. Natal, RN,

    2013.....................................................................................................................

    67

    Tabela 03 Caracterizao dos sinais vitais das pessoas idosas vtimas de

    trauma (n=400). Natal, RN, 2013.........................................................................

    68

    Tabela 04 Caracterizao da avaliao neurolgica das pessoas idosas

    vtimas de trauma atendidas pelo SAMU/Natal-RN. Natal, RN, 2013..................

    69

    ARTIGO 02

    Tabela 01 Distribuio dos mecanismos de trauma em idosos. Natal, RN,

    2013.....................................................................................................................

    79

    Tabela 02 Caracterizao das ocorrncias de trauma em idosos conforme tipo

    de trauma. Natal, RN, 2013..................................................................................

    80

    Tabela 03 Distribuio das consequncias do trauma em idosos. Natal, RN,

    2013.....................................................................................................................

    80

    Tabela 04 Distribuio das ocorrncias de trauma conforme turno do evento e

    dia da semana. Natal, RN, 2013..........................................................................

    81

    Tabela 05 Distribuio das ocorrncias de trauma em idosos conforme local

    do evento e zona da cidade. Natal, RN, 2013......................................................

    82

    ARTIGO 03

    Tabela 01 Distribuio das ocorrncias de trauma em idosos atendidos pelo

    SAMU/Natal, conforme a unidade destinada. Natal, RN, 2013............................

    93

    Tabela 02 Distribuio das ocorrncias de trauma em idosos atendidos pelo 93

  • SAMU/Natal, conforme destino da vtima. Natal, RN, 2013.................................

    Tabela 03 Distribuio dos procedimentos realizados pela equipe de

    enfermagem ou com sua colaborao no atendimento pr-hospitalar mvel.

    Natal, RN, 2013....................................................................................................

    94

  • LISTA DE FIGURAS

    ARTIGO 01

    Figura 01 Distribuio das ocorrncias de trauma em idosos atendidas pelo

    SAMU/Natal-RN, conforme ms e ano. Natal, RN, 2013.....................................

    65

    Figura 02 Distribuio das ocorrncias de trauma em idosos atendidos pelo

    SAMU/Natal-RN conforme sexo e faixa etria. Natal, RN, 2013.........................

    66

  • LISTA DE APNDICES

    APNDICE A Instrumento de coleta de dados.................................................. 113

    APNDICE B Carta aos especialistas............................................................... 117

    APNDICE C Instrues para anlise e validao do instrumento................... 118

    APNDICE D Termo de consentimento livre e esclarecido aos especialistas.. 119

    APNDICE E Formulrio para validao do instrumento.................................. 121

    APNDICE F Instrumento de coleta de dados final.......................................... 125

    APNDICE G Carta de anuncia da instituio proponente............................. 129

    APNDICE H Carta de anuncia da instituio emitente.................................. 131

    APNDICE I Termo de concesso de informaes.......................................... 132

    APNDICE J Termo de confidencialidade........................................................ 133

    APNDICE K Termo de consentimento livre e esclarecido ao fiel guardio

    das informaes.................................................................................................

    134

    APNDICE L Aprovao do Comit de tica em Pesquisa.............................. 136

  • LISTA DE ANEXOS

    ANEXO A Normas da Revista Eletrnica de Enfermagem................................ 138

    ANEXO B Normas da Revista Cadernos de Sade Pblica............................. 146

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ACLS Advanced Cardiac Life Support

    APHM Atendimento pr-hospitalar mvel

    APVP Anos Potenciais de Vida Perdidos

    ATLS Advanced Trauma Life Support

    BDV Boletim Dirio de Viatura

    BLS Basic Life Support

    CID Classificao Internacional de Doenas

    CNS Conselho Nacional de Sade

    COFEN Conselho Federal de Enfermagem

    COREN Conselho Regional de Enfermagem

    DCNT Doenas Crnicas No Transmissveis

    ECGl Escala de Coma de Glasgow

    EUA Estados Unidos da Amrica

    GemRem. Sistema de Gerenciamento Modular de Regulao Mdica

    GSE Grupo de Socorro de Emergncia

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    MAST Manobras Avanadas de Suporte ao Trauma

    NEP Ncleo de Educao Permanente

    OMS Organizao Mundial da Sade

    OPAS Organizao Pan-Americana de Sade

    PALS Pediatric Advanced Life Support

    PHTLS Pre-Hospital Trauma Life Support

    PNAU Poltica Nacional de Ateno s Urgncias

    RN Rio Grande do Norte

    SAMU Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

    SAV Suporte Avanado de Vida

    SBGG Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

    SBV Suporte Bsico de Vida

    SES Secretaria Estadual de Sade

    SIH Sistema de Informaes Hospitalares

    SPSS Statistical Package for Social Science

  • SSP Secretaria de Segurana Pblica

    SUS Sistema nico de Sade

    TARM Telefonista Auxiliar de Regulao Mdica

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    USA Unidade de Suporte Avanado

    USB Unidade de Suporte Bsico

    UTE Unidade Ttica de Emergncia

    UTI Unidade de Terapia Intensiva

  • SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................. 19

    2 OBJETIVOS...................................................................................................... 23

    2.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................ 23

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS.......................................................................... 23

    3 REVISO DA LITERATURA........................................................................... 24

    3.1 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DA POPULAO ........................ 24

    3.2 O TRAUMA COMO CAUSA EXTERNA......................................................... 26

    3.3 O TRAUMA GERITRICO............................................................................. 29

    3.4 O ATENDIMENTO PESSOA IDOSA VTIMA DE TRAUMA....................... 32

    3.5 ASPECTOS DO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR MVEL.................... 36

    3.6 A ENFERMAGEM NO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR MVEL........... 40

    4. MATERIAL E MTODO.................................................................................. 45

    4.1 TIPO DE ESTUDO......................................................................................... 45

    4.2 LOCAL DO ESTUDO..................................................................................... 46

    4.3 POPULAO E AMOSTRA........................................................................... 47

    4.4 VARIVEIS DO ESTUDO.............................................................................. 49

    4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS.................................................... 52

    4.6 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS................................................. 56

    4.7 REGISTRO E ANLISE DOS DADOS.......................................................... 57

    4.8 ASPECTOS TICOS..................................................................................... 58

    5 RESULTADOS............................................................................................... 59

    5.1 ARTIGO 01 INCIDNCIA DE TRAUMA EM PESSOAS IDOSAS

    ATENDIDAS PELO SERVIO PR-HOSPITALAR MVEL...............................

    60

    5.2 ARTIGO 02 CARACTERSTICAS DO TRAUMA EM IDOSOS

    ATENDIDOS PELO SERVIO PR-HOSPITALAR MVEL...............................

    74

    5.3 ARTIGO 03 ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR MVEL S PESSOAS

    IDOSAS VTIMAS DE TRAUMA..........................................................................

    87

    6 CONCLUSES................................................................................................. 102

    REFERNCIAS............................................................................................... 103

    APNDICES.................................................................................................... 113

    ANEXOS ......................................................................................................... 138

  • 19

    1 INTRODUO

    No ranking de mortalidade mundial, o trauma ocupa o quinto lugar entre

    as vtimas idosas e definido como doena da sociedade moderna, de causa

    externa, que pode ser provocado por agresses mecnicas, qumicas, trmicas ou

    eltricas, de forma violenta (intencional) ou acidental (no intencional) (LIMA;

    CAMPOS, 2011; NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL

    TECHNICIANS, 2007).

    O envelhecimento, embora seja consequncia de conquistas nas reas

    sociais e da sade, representa novas demandas por servios e atenes que se

    constituem como desafios para a sociedade atual e futura, devido s especificidades

    do idoso, que podem exacerbar as sequelas do trauma e as chances de morte.

    Compreende-se que o processo de envelhecimento provoca diversas

    alteraes, tais como a fragilidade fsica, lentido mental e dos reflexos, queda da

    acuidade sensorial, prejuzo das funes psicolgicas e aumento do uso de

    medicamentos, que tornam o idoso mais susceptvel ao trauma (NATIONAL

    ASSOCIATION EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007; RAMOS, 2003).

    As comorbidades e os declnios fisiopatolgicos que comumente

    acometem os idosos podem mascarar os sinais precoces de deteriorao e

    aumentar as chances de um trauma simples isolado se constituir como um fator

    potencial de morte, alm de comprometer a avaliao da equipe de sade e a

    prestao dos primeiros cuidados (CAMPOS, 2007; FLEISCHMAN et al, 2010a;

    GAWRYSZEWSKI, 2010; LIMA; CAMPOS, 2011).

    Quando o atendimento vtima de trauma realizado precocemente, as

    chances de sequelas e de morte so reduzidas e, portanto, os primeiros cuidados

    realizados ainda no local da ocorrncia pelo Atendimento Pr-Hospitalar Mvel

    (APHM) so fundamentais (BRASIL, 2006a; NATIONAL ASSOCIATION OF

    EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007).

    O servio de APHM realiza assistncia a agravos clnicos, gineco-

    obsttricos, psiquitricos e traumticos populao de qualquer faixa etria,

    inclusive os idosos. A assistncia pr-hospitalar desenvolvida por uma equipe

    multiprofissional, formada por mdicos, condutores-socorristas e pela categoria de

  • 20

    enfermagem, composta por enfermeiros e tcnicos de enfermagem, que tem como

    fator primordial o elemento tempo (BRASIL, 2006a; MINAYO; DESLANDES, 2008).

    No APHM, enquanto o tcnico de enfermagem est presente na

    prestao de cuidados bsicos s vtimas, o enfermeiro realiza o suporte avanado,

    bem como o cuidado indireto, atravs de atividades burocrticas e educativas.

    O APHM normatizado no Brasil por meio da Poltica Nacional de

    Ateno s Urgncias (PNAU) e realiza a assistncia com base na regulao

    mdica das ocorrncias e em protocolos institudos internacionalmente (VARGAS,

    2006).

    Os protocolos existentes so nomeados de acordo com sua finalidade e

    faixa etria a qual se destinam. Dentre eles, podem ser citados: o Basic Life Support

    (BLS), voltado para o atendimento de suporte bsico s vtimas que se encontram

    com agravos clnicos; o Advanced Cardiac Life Support (ACLS), destinado ao

    suporte avanado em agravos de natureza cardiolgica; o Pediatric Advanced Life

    Support (PALS), direcionado para o suporte avanado em pediatria; o Advanced

    Trauma Life Support (ATLS), voltado para o suporte avanado no trauma; e o Pre-

    Hospital Trauma Life Support (PHTLS), destinado ao atendimento pr-hospitalar de

    vtimas de trauma.

    Percebe-se, ento, que no so encontrados protocolos especficos

    destinados ao indivduo idoso, cujas particularidades exigem uma assistncia

    individualizada, bem como so escassas tambm as polticas pblicas voltadas ao

    trauma geritrico, fato que se traduz no elevado ndice desse tipo de ocorrncia na

    populao.

    De acordo com o Ministrio da Sade, a Poltica Nacional de Sade da

    Pessoa Idosa (PNSPI) abrange em suas diretrizes a ateno integral sade dos

    idosos e tem como foco a promoo, proteo e recuperao da sade. Esta poltica

    ressalta, ainda, a realizao de aes de preveno incorporadas a todos os nveis

    de complexidade (BRASIL, 2010a). Entretanto, o que se v na prtica que as

    aes destinadas ateno sade do idoso se do prioritariamente de forma

    curativista.

    A nfase no curativismo ainda mais evidente no APHM, pois os

    cuidados de sade voltados ao trauma se concentram no tratamento aps o evento

    e pouca ateno atribuda ao entendimento das causas e sua preveno. Como

  • 21

    resultado, as vtimas podem sofrer traumas novamente e aumentar os gastos

    sade pblica, alm da maior chance de isolamento social (FRAGA, 2007).

    Conforme a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade

    (BRASIL, 2008a), entre as necessidades de pesquisas relacionadas sade dos

    idosos esto os estudos que englobam a magnitude, dinmica e compreenso dos

    problemas de sade do idoso; a compreenso dos mecanismos das doenas

    associadas ao processo de envelhecimento; e a avaliao das polticas, programas

    e servios.

    No que concerne violncia, acidentes e trauma, a referida Agenda

    prope a realizao de pesquisas sobre a organizao e avaliao de polticas,

    programas e servios; ensaios clnicos e estudos experimentais no atendimento pr,

    intra e ps-hospitalar; estudos de base populacional e sobre a magnitude, dinmica

    e compreenso do trauma (BRASIL, 2008a).

    Em contraposio ao exposto pela Agenda, a Poltica Nacional de

    Reduo da Morbimortalidade por Acidentes e Violncia salienta que so escassos

    os sistemas de informao epidemiolgica relacionados aos atendimentos de

    urgncia e emergncia, bem como os servios de atendimento pr-hospitalar no

    possuem uma ficha de atendimento em comum, com informaes bsicas, o que

    contribui para as graves distores nos dados referentes s causas externas. Nesta

    poltica ressalva-se ainda que no h estudos apurados relativos s violncias e

    acidentes (BRASIL, 2001).

    Diversos estudos internacionais versam sobre o trauma em idosos, porm

    a maioria tem como foco somente as quedas e leses relacionadas e so incipientes

    as pesquisas acerca de outros tipos de trauma, especialmente no Brasil (MINAYO;

    SOUZA; PAULA, 2010). O nmero de publicaes sobre a temtica ainda mais

    restrito quando se trata da assistncia pr-hospitalar. As informaes estatsticas

    sobre o trauma em idosos so tambm pouco consistentes e, portanto,

    negligenciadas pelos rgos pblicos sociais e de sade, o que contradiz as

    diretrizes propostas pelas polticas voltadas sade do idoso e reduo de

    morbimortalidade por causas externas.

    A partir da experincia prvia como acadmica de enfermagem durante

    estgio extracurricular em um servio de APHM durante 15 meses e como monitora

    de ensino de APHM, foi possvel perceber os frequentes acionamentos de

    atendimentos a ocorrncias de natureza traumtica entre os idosos. Porm, so

  • 22

    insuficientes as pesquisas voltadas para esta problemtica, o que dificulta o manejo

    da ocorrncia, pois o perfil destas vtimas pouco conhecido.

    Diante disto, surgiu o seguinte questionamento: quais as caractersticas

    dos traumas, bem como sua prevalncia, em idosos atendidos pelo servio de

    APHM no municpio de Natal/RN?

    Este estudo tem, ento, como objetivo caracterizar a ocorrncia de

    traumas na populao idosa atendida pelo servio pr-hospitalar mvel e entre as

    implicaes para a enfermagem est a produo de conhecimento sobre a

    ocorrncia de trauma em pessoas idosas assistidas pelo APHM.

    Vale salientar ainda que os resultados podem contribuir para o

    fortalecimento de polticas pblicas na rea, bem como a criao de estratgias e

    projetos educacionais relacionados preveno de situaes traumticas nos

    idosos, pois, comumente, os cuidados de sade ao trauma no APHM se concentram

    apenas no tratamento aps o evento.

  • 23

    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Caracterizar a ocorrncia de trauma na populao idosa atendida pelo

    servio pr-hospitalar mvel.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Identificar a prevalncia de traumas na populao idosa atendida pelo

    servio pr-hospitalar mvel;

    Identificar as caractersticas do trauma em idosos atendidos pelo

    servio pr-hospitalar mvel;

    Descrever o atendimento prestado ao idoso vtima de trauma no mbito

    pr-hospitalar mvel.

  • 24

    3 REVISO DA LITERATURA

    Este item apresenta um conjunto de elementos que pretende aprofundar a

    discusso a respeito do envelhecimento da populao e o consequente aumento

    dos ndices de trauma em idosos, bem como o papel da equipe de enfermagem no

    atendimento a estas vtimas no mbito pr-hospitalar a partir de pesquisas

    publicadas na literatura.

    Inicialmente, o captulo 3.1, intitulado como O processo de envelhecimento

    da populao, aborda os aspectos inerentes s mudanas demogrficas e

    epidemiolgicas da populao. O captulo subsequente, 3.2 O trauma como causa

    externa, traz as definies do trauma, seus tipos e mecanismos. J os captulos 3.3

    e 3.4, O trauma geritrico e O atendimento pessoa idosa vtima de trauma,

    versam sobre as particularidades dos idosos acometidos por situaes de natureza

    traumtica e o atendimento especfico para essas vtimas. Para finalizar, os

    captulos 3.5 e 3.6, intitulados como Aspectos do atendimento pr-hospitalar mvel

    e A enfermagem no atendimento pr-hospitalar mvel, so constitudos pela

    histria do APHM, seu funcionamento no Brasil e a insero da enfermagem neste

    mbito.

    3.1 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO DA POPULAO

    A queda da mortalidade provocou aumento da expectativa de vida, porm

    o fator decisivo para o envelhecimento da populao a queda da fecundidade,

    devido diminuio do contingente de indivduos mais jovens e aumento da

    populao da faixa etria mais idosa, j que as pessoas passam a viver mais tempo

    (VERMELHO; MONTEIRO, 2002).

    O envelhecimento da populao decorrente de transformaes

    demogrficas e epidemiolgicas que, apesar de acometerem todo o mundo,

    diferenciam-se entre os pases e mais evidente nos pases desenvolvidos

    (CARVALHO; RODRGUEZ-WONG. 2008; VERAS, 2007, 2009).

    No Brasil, considera-se como idoso o indivduo com idade a partir de 60

    anos e estima-se que a populao total brasileira, correspondente a 189,6 milhes

    de habitantes em 2008, com ndice de idosos de 9,5% (18 milhes de pessoas),

    aumente para 215,3 milhes em 2050, com consequente aumento do nmero de

  • 25

    pessoas com 60 anos ou mais de idade, cuja projeo de mais de 64 milhes

    (28%) (BRASIL, 1994; INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA,

    2008).

    Em termos demogrficos, a regio brasileira com maior nmero de idosos

    a Sudeste, onde residem 46,2% dos idosos brasileiros, e em segundo lugar

    encontra-se o Nordeste, com 26,4% dos indivduos idosos. Entre os estados

    nordestinos, o Rio Grande do Norte possui cerca de 340 mil pessoas idosas e ocupa

    o sexto lugar na regio (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E

    ESTATSTICA, 2010).

    Segundo o Censo Demogrfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica (IBGE), existem mais de 20 milhes de idosos no Brasil, dos quais a

    maioria (55,5%) composta pelo sexo feminino, j que as mulheres vivem mais que

    os homens, com a expectativa de vida de 76,7 anos (INSTITUTO BRASILEIRO DE

    GEOGRAFIA E ESTATSTICA, 2002, 2010).

    Os padres de sade e de doena esto diretamente relacionados aos

    fatores sociais, econmicos e demogrficos e, portanto, tambm se modificam com a

    populao, processo denominado de transio epidemiolgica (SHRAMM et al,

    2004; VERMELHO; MONTEIRO, 2002).

    Os autores Monteiro e Vermelho (2002) afirmam que a transio

    epidemiolgica nos pases desenvolvidos teve como principais determinantes os

    fatores ecobiolgicos e socioeconmicos, devido ao desenvolvimento da agricultura,

    comrcio, transporte e industrializao, que ocorreu antes das grandes descobertas

    da medicina. Diferentemente, os pases da Amrica Latina mostram a grande

    influncia da introduo da tecnologia e da medicina na transio epidemiolgica.

    Ao longo dos anos, houve diminuio dos nveis de morbidade e

    mortalidade por doenas infecciosas e parasitrias, em detrimento da elevao de

    doenas crnico-degenerativas, neoplasias e causas externas, j que o

    envelhecimento provoca diversas alteraes e morbidades (RAMOS, 2003;

    SHRAMM et al, 2004).

    Define-se como processo de envelhecimento a deteriorao progressiva e

    irreversvel do organismo, que pode ser compreendido de duas formas: senescncia

    e senilidade (BRASIL, 2006b).

    A senescncia um processo fisiolgico, no qual ocorre a diminuio da

    reserva funcional e, segundo Papalo-Netto, Salles (2001), Moraes e Silva (2008),

  • 26

    est associada a alteraes na composio, estrutura e funcionamento dos sistemas

    orgnicos, que sofrem influncia dos ambientes fsico e social.

    J a senilidade descreve o envelhecimento do ponto de vista

    patolgico, cujas caractersticas englobam as alteraes resultantes de doenas ou

    traumas que podem acometer o idoso (MORAES; SILVA, 2008).

    Entre as alteraes decorrentes do envelhecimento esto: o declnio da

    funo respiratria, ausncia parcial ou completa dos dentes, comprometimento do

    sistema cardiovascular, ressecamento da pele, hipotrofia muscular, deformidades da

    coluna vertebral e osteoporose, as quais resultam na fragilidade fsica, lentido

    mental e dos reflexos, queda da acuidade sensorial, prejuzo das funes

    psicolgicas e aumento do uso de medicamentos (CARPENTER; STERN, 2010;

    NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007;

    RAMOS, 2003).

    Tais modificaes trazem como consequncias a maior suscetibilidade ao

    trauma, comprometimento dos mecanismos compensatrios exigidos em situaes

    de trauma, dificuldade de diagnstico e manejo em decorrncia de alteraes

    crnicas dos parmetros vitais e aumento considervel das taxas de

    morbimortalidade, mesmo com leses de baixa e mdia gravidade (CARPENTER;

    STERN, 2010; NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL

    TECHNICIANS, 2007).

    Carpenter e Stern (2010), bem como Fleischman et al (2010a), afirmam

    que o trauma muitas vezes resultante de uma interao complexa e sinrgica entre

    a doena coexistente e os declnios fisiolgicos do processo de envelhecimento.

    Diante destes fatores, as taxas de internao e as despesas com

    tratamentos complexos aumentam e trazem maiores gastos aos servios de sade,

    alm de evidenciar que o crescimento da populao idosa exige assistncia e

    cuidados contnuos, o que impe a necessidade de novos modelos de prestao de

    servios sade e maior demanda de programas e recursos pblicos voltados ao

    idoso (CHAIMOWICZ, 1997; GATTIS, 2008).

    3.2 O TRAUMA COMO CAUSA EXTERNA

    Desde os primrdios da histria da humanidade, o trauma est presente e

    hoje se constitui como a doena mais significativa no que se refere aos anos

  • 27

    potenciais de vida perdidos (APVP), porm, s ganhou destaque como problema de

    sade na dcada de 1980, sob o termo de mortes violentas (BATISTA-NETO;

    GOMES, 2001).

    Em 1966, a Academia Nacional de Cincias dos Estados Unidos, atravs

    de estudo do Comit de Trauma, denominou o trauma como a doena

    negligenciada da sociedade moderna, pois provoca mais mortes e incapacidades

    do que as grandes guerras, mas no sensibiliza nem mobiliza a sociedade, bem

    como as autoridades governamentais (BATISTA-NETO; GOMES, 2001).

    A palavra trauma na medicina est ligada a eventos imprevistos e

    indesejveis de origem externa, que produzem de alguma forma ferimento ou leso

    de vrios tipos. Em outras palavras, pode-se definir o trauma como evento de causa

    externa que pode ser desencadeado por fatores mecnicos, qumicos, trmicos ou

    eltricos, denominados mecanismos de trauma (NATIONAL ASSOCIATION OF

    EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007; TAMBELLINI; OSANAI, 2001,

    2004).

    No plano da sade, os eventos traumticos podem ser classificados de

    duas maneiras: uma se refere s suas causas, a estrutura e a forma como se

    apresenta o trauma, alm de suas consequncias; a outra se baseia na leso

    propriamente dita, considera a etiologia, o quadro clnico, os antecedentes e o

    prognstico da leso (TAMBELLINI; OSANAI, 2001).

    A primeira classificao permite criar estratgias de preveno e controle

    do evento traumtico, enquanto a segunda permite a identificao de intervenes

    teraputicas eficazes para a cura ou tratamento da leso. Porm, ambas as

    classificaes se complementam (TAMBELLINI; OSANAI, 2001).

    A Organizao Mundial da Sade (OMS) instituiu desde 1994 a

    Classificao Internacional de Doenas (CID), que atualmente se encontra em sua

    dcima reviso (CID10) e adotada mundialmente. Neste sistema de classificao,

    as causas externas so estabelecidas nos captulos XIX e XX (INTERNATIONAL

    STATICAL CLASSIFICATION OF DISEASES AND RELATED HEALTH

    PROBLEMS, 2010).

    O captulo XIX, intitulado leses, envenenamento e algumas outras

    consequncias das causas externas, possui uma codificao que inclui os

    diferentes tipos de traumatismos, suas complicaes e sequelas. J o captulo XX,

    intitulado causas externas de morbidade e de mortalidade, complementa o captulo

  • 28

    anterior e classifica os fatores ambientais que podem desencadear o trauma, como

    acidentes de transporte, quedas, afogamentos, leses autoprovocadas, agresses,

    operaes de guerra, entre outros (INTERNATIONAL STATICAL CLASSIFICATION

    OF DISEASES AND RELATED HEALTH PROBLEMS, 2010).

    Os processos que do origem ao trauma podem ser intencionais ou no.

    Enquanto o trauma intencional est associado violncia interpessoal ou auto

    direcionada, o no intencional aquele que ocorre de forma no desejvel, tambm

    denominado de acidente (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL

    TECHNICIANS, 2007).

    O Comit do Pre-hospital Trauma Life Support (PHTLS) descreve que a

    etiologia do trauma pode classific-lo em contuso ou fechado, o qual inclui os

    acidentes automobilsticos (atropelamento, coliso e capotagem), as quedas,

    agresses fsicas, soterramentos e exploses; e penetrante, o qual mais

    representado pelos ferimentos por arma de fogo e arma branca (BATISTA-NETO;

    GOMES, 2001; NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL

    TECHNICIANS, 2007).

    Quanto ao tipo de trauma, este classificado conforme a regio corporal

    atingida, tais como: cranioenceflico, quando atinge a regio da cabea; de

    extremidades, quando atinge membros superiores ou inferiores; torcico, quando

    atinge o trax; abdominal, acomete a regio do abdmen; e, ainda, politraumatismo,

    nos casos em que mais de uma regio corporal acometida (NATIONAL

    ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007).

    No Brasil, as causas externas constituem importante ameaa ao processo

    de desenvolvimento humano, pois alteram a sade, geram sequelas e podem levar

    at mesmo a morte. Vale salientar ainda que as causas externas ocupam o terceiro

    lugar entre as causas de mortalidade na populao brasileira e so precedidas

    apenas pelas doenas cardiovasculares e neoplasias. Entre 1980 e 2006, a

    frequncia de bitos por causas externas sofreu um aumento de 78%, com o registro

    de 2.824.093 bitos (BRASIL, 2001; 2008b).

    O perfil das vtimas de causas externas evidencia que o sexo masculino

    o mais frequente entre os bitos (84%) e h o predomnio da faixa etria entre 20 e

    29 anos. Entretanto, quando se consideram os acidentes, comparados com os

    eventos violentos, percebe-se que h o predomnio da faixa etria entre 0 e 9 anos e

    com 60 anos ou mais de idade. Em outras palavras, pode-se dizer que os adultos

  • 29

    jovens brasileiros so mais acometidos pelos eventos relacionados violncia,

    enquanto as populaes peditrica e geritrica so as maiores vtimas dos acidentes

    (BRASIL, 2008b).

    Os acidentes e violncias so decorrentes de aes humanas e sofrem a

    influncia de fatores tcnicos e sociais. A violncia definida como qualquer ao

    realizada por indivduos ou grupos que provocam danos fsicos, emocionais, morais

    e espirituais a si prprios ou a outras pessoas. J o acidente compreendido como

    evento no intencional e evitvel, que ocasiona leses fsicas e emocionais, que

    pode ocorrer em diversos ambientes (BRASIL, 2001).

    Com a finalidade de reduzir a morbidade e a mortalidade decorrentes das

    causas externas no Brasil, em 2001 foi implementada a Poltica Nacional de

    Reduo da Morbimortalidade por Acidentes e Violncias. Esta poltica estabelece

    em suas diretrizes: a promoo da adoo de comportamentos e de ambientes

    seguros e saudveis; monitorizao da ocorrncia de acidentes e violncia;

    sistematizao, ampliao e consolidao do atendimento pr-hospitalar; assistncia

    interdisciplinar e intersetorial s vtimas de acidentes e violncias; estruturao e

    consolidao do atendimento voltado recuperao e reabilitao; capacitao de

    recursos humanos; e apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas (BRASIL,

    2001).

    3.3 O TRAUMA GERITRICO

    Com a expectativa de vida prolongada, o idoso est mais ativo no

    mercado de trabalho, nas atividades fsicas e atividades da vida diria, mesmo

    diante das mudanas previsveis do envelhecimento e comorbidades, o que o torna

    mais susceptvel ao trauma, suas consequncias e maiores dimenses (CAMPOS,

    2007; LIMA; CAMPOS, 2011).

    Estudos demonstram que o trauma provoca a morte de 14 mil pessoas

    diariamente em todo o mundo e se constitui como a quinta causa de mortalidade

    entre os idosos e, quando no provoca a morte do indivduo, pode gerar leses,

    incapacidades e internaes em instituies hospitalares ou lares, assim como o

    isolamento social (DEGANI, 2011; DIVANI et al, 2009; LIMA; CAMPOS, 2011).

  • 30

    Em estudo de coorte realizado por Fleischman et al (2010b), evidenciou-

    se que a demanda de atendimentos de emergncia a idosos vtimas de trauma

    correspondeu a 75%, nmero mais elevado quando comparado aos jovens (49%).

    Devido aos efeitos do envelhecimento, o idoso pode sofrer qualquer tipo

    de trauma. Apesar de exigir as mesmas condutas, o atendimento ao trauma no idoso

    torna-se diferente do adulto, pois se deve estar atento s alteraes nos sistemas

    orgnicos e a uma gama maior de complicaes, j que o idoso pode ser acometido

    por dficits auditivos, visuais e neurolgicos, que dificultam a comunicao e,

    consequentemente, a avaliao (CAMPOS, 2007; GAWRYSZEWSKI, 2010; SOUZA;

    IGLESIAS, 2002).

    O trauma pode envolver outros rgos e sistemas alm daquele atingido

    diretamente pelo mecanismo de leso, o que leva uma fratura a ocasionar

    alteraes cardiovasculares, respiratrias ou neurolgicas, que so exacerbadas por

    problemas de sade previamente existentes (CAMPOS, 2007).

    No sistema cardiovascular, ocorrem alteraes, como aumento da

    resistncia miocrdica, diminuio da conduo eletrofisiolgica, perda da massa

    celular miocrdica e suprimento sanguneo diminudo, que podem ocasionar

    arritmias, insuficincia cardaca e morte. Diante disto, o corao no suporta a perda

    de volume, a hidratao rpida e o uso excessivo de medicamentos. So comuns,

    ainda, as tromboses, embolias e isquemias, decorrentes da imobilizao no leito e

    alteraes de volume (CARNEIRO, 2001).

    O trauma em idosos pode desencadear um quadro de insuficincia

    respiratria aguda e pneumonia devido s modificaes que acontecem com o

    decorrer do envelhecimento no sistema respiratrio, tais como diminuio da caixa

    torcica e da elasticidade pulmonar, alm de reduo dos alvolos, que resultam na

    diminuio da capacidade vital e da superfcie de trocas gasosas (CARNEIRO,

    2001).

    Com o envelhecimento, a capacidade de filtrao dos rins tambm

    reduzida, devido perda de massa e nfrons, o que leva o idoso a ter mais

    dificuldade de compensar a perda de volume. Com o declnio do clearence da

    creatinina, aumenta a reteno de sdio e, por conseguinte, as chances de

    desenvolvimento de edema pulmonar. Diante disto, deve-se estar atento para a

    administrao de soluo salina, eletrlitos e drogas nefrotxicas ao idoso vtima de

    trauma (JUC, 2001).

  • 31

    As alteraes neurolgicas no idoso envolvem a reduo do fluxo

    sanguneo cerebral e perda de neurnios, com consequente atrofia do crebro. O

    espao aumentado em volta do crebro, apesar de proteg-lo de contuso, causa

    estiramento dos vasos sanguneos, os quais passam a ser mais susceptveis a

    rompimentos diante de impactos (ADVANCED TRAUMA LIFE SUPPORT, 2008).

    Alm das modificaes cardiovasculares, respiratrias e neurolgicas, o

    sistema imunolgico do idoso tambm sofre alteraes, como a funo reduzida dos

    linfcitos T, macrfagos e resposta imuno-humoral, o que compromete a produo

    de anticorpos e torna o idoso mais vulnervel a infeces diante de um trauma

    (CARNEIRO, 2001).

    Vale salientar ainda que os indivduos idosos so comumente portadores

    de doenas crnicas, tais como hipertenso, diabetes mellitus e incontinncia

    urinria, que podem desencadear o trauma e influenciar diretamente suas

    consequncias (CAMPOS, 2007; DIVANI et al, 2009).

    A presena destas doenas leva o idoso a fazer o uso concomitante de

    diversos medicamentos, que tambm podem torn-lo mais susceptvel ao trauma,

    bem como dificultar a resposta compensatria ao mecanismo de trauma e o manejo

    de uma reanimao (ASCHKENASY; ROTHENHAUS, 2006).

    A morte imediata ocorre nos primeiros minutos at uma hora aps o

    evento e provocada por leses cerebrais, seco alta da medula, leses cardacas

    ou de vasos calibrosos e em 80% dos casos provocada por hipovolemia. A morte

    precoce ocorre nas primeiras duas horas seguintes ao acidente, decorrente de

    choque hemorrgico. J a morte tardia ocorre aps a primeira semana do trauma,

    como consequncia, na maioria das vezes, de tromboembolismo pulmonar,

    infeces, traumatismo cranioenceflico ou falncia de mltiplos rgos (NATIONAL

    ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007; THOMAZ; LIMA,

    2000).

    O ndice de mortalidade em idosos decorrente de eventos traumticos

    pode ser influenciado tambm pelo nvel do trauma, tratamento incompleto ou

    cuidados inadequados realizados no ambiente domiciliar devido aos recursos

    existentes e os primeiros cuidados realizados no local da ocorrncia (FLEISCHMAN

    et al, 2010a; NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL

    TECHNICIANS, 2007).

  • 32

    Malvestio (2005) afirma que a sobrevivncia das vtimas depende de

    diversos fatores, como a gravidade do trauma, as condies do paciente e a

    assistncia prestada nos mbitos pr e intra-hospitalar.

    3.4 O ATENDIMENTO PESSOA IDOSA VTIMA DE TRAUMA

    A prestao de primeiros cuidados imediatos, preferencialmente ainda no

    local do evento, contribui para o melhor prognstico da pessoa idosa vtima de

    trauma. Estudos demonstram que em vrios casos as vtimas com leses graves

    morrem ainda no trajeto entre o local da ocorrncia e o hospital ou nas primeiras

    horas do acidente, perodo denominado como hora de ouro do traumatizado

    (THOMAZ; LIMA, 2000).

    Assim como no adulto, a assistncia pr-hospitalar pessoa idosa vtima

    de trauma na hora de ouro inicia-se com a avaliao primria da vtima de trauma,

    que corresponde sequncia mnemnica A-B-C-D-E, onde: A (air way)

    corresponde abertura de vias areas, com elevao do queixo e trao anterior da

    mandbula, e proteo da coluna cervical; B (breathing), avaliao da respirao e

    oxigenao adequadas; C (circulation), avaliao da circulao com controle de

    hemorragias; D (disability), avaliao do estado neurolgico atravs da Escala de

    Coma de Glasgow; E (exposure), exposio da vtima e proteo do ambiente

    (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007).

    Na primeira etapa, as vias areas, quando comprometidas, devem ser

    abertas enquanto se mantm a proteo da coluna cervical. Esta proteo consiste

    em manter o pescoo da vtima em posio neutra durante a abertura das vias

    areas para no ocasionar ou agravar leses neurolgicas a partir da medula

    espinhal. A presena de cifose, artrite e osteoporose podem dificultar a proteo das

    vias areas e da coluna cervical nas pessoas idosas (CALLAWAY; WOLFE, 2007;

    NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007).

    A avaliao da respirao e oxigenao deve ser realizada atravs da

    exposio do trax e identificao da presena de prteses dentrias, as quais

    devem ser removidas. Deve-se assegurar que as vias areas estejam prvias e,

    caso a vtima no apresente respirao, iniciar imediatamente a ventilao assistida

    com dispositivo de mscara facial acoplada a oxignio suplementar (CALLAWAY;

  • 33

    WOLFE, 2007; NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL

    TECHNICIANS, 2007).

    O atendimento das vias areas pode envolver o uso de cnula

    orofarngea ou intubao orotraqueal, que, por sua vez, podem ocasionar

    hemorragias e complicaes nos idosos, j que estes apresentam as mucosas mais

    delicadas.

    O controle de hemorragias deve ser feito atravs da presso direta do

    local do sangramento, elevao do membro (com cuidado nos casos de fratura ou

    luxao) e, somente como ltima alternativa, o uso de torniquetes. Quando h

    suspeita de hemorragia interna, necessria a rpida reposio de fluido

    endovenoso. O controle de hemorragias uma prioridade para a manuteno da

    circulao em uma vtima de trauma.

    Em estudo realizado por Malvestio (2005), evidenciou-se que as vtimas

    que necessitaram de procedimentos circulatrios bsicos, como realizao do

    curativo compressivo, demonstraram menores chances de sobrevivncia aps

    acidentes de trnsito quando comparadas s pessoas que necessitaram de outros

    procedimentos.

    Como muitas causas de hemorragia so difceis de controlar fora do

    ambiente hospitalar, fundamental dar ateno e prioridade ao transporte rpido da

    vtima por uma equipe devidamente preparada (NATIONAL ASSOCIATION OF

    EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007).

    A manuteno da circulao uma etapa difcil em vtimas idosas, pois

    estes indivduos comumente so hipertensos, o que dificulta o diagnstico de

    choque hipovolmico, j que a perda de volume pode levar falsa interpretao de

    que a presso arterial encontra-se normal (YOUNG; AHMAD, 1999).

    Depois de avaliar e corrigir as condies respiratrias e circulatrias da

    vtima de trauma, segue-se com a avaliao neurolgica, que, ao analisar a funo

    cerebral, permite identificar indiretamente se h oxigenao no crebro. Esta

    avaliao se d atravs do uso da Escala de Coma de Glasgow (ECGl), que permite

    determinar o nvel de conscincia do indivduo a partir de trs parmetros: abertura

    ocular, melhor resposta verbal e melhor resposta motora, conforme o quadro abaixo.

  • 34

    Quadro 01 - Escala de Coma de Glasgow

    Indicadores Resposta Pontos

    Abertura Ocular (AO) Espontnea 4

    Com estimulo verbal 3

    Com estmulo doloroso 2

    Nenhuma resposta 1

    Melhor Resposta Verbal (MRV) Orientado 5

    Confuso 4

    Palavras imprprias 3

    Sons incompreensveis 2

    Nenhuma resposta 1

    Melhor resposta motora (MRM) Obedece 6

    Localiza e retira estmulos 5

    Localiza o estmulo 4

    Responde em flexo 3

    Responde em extenso 2

    Nenhuma resposta 1

    Total = AO+MRV+MRM

    Fonte: BARROS, A. B. L.; et al, 2002, p. 98.

    A pontuao da ECGl atribuda de acordo com a melhor resposta para

    cada parmetro. O escore mximo de 15 pontos, que indica ausncia de dano

    neurolgico, e o mnimo de 3 pontos, sinal de dano grave. Uma pontuao menor

    que 8 indica leso grave, entre 9 e 12, leso moderada, e de 13 a 15, leso mnima.

    Durante a abertura ocular, as pupilas tambm so avaliadas quanto ao tamanho,

  • 35

    simetria e fotorreao, cujas alteraes podem indicar hemorragia cerebral

    (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007).

    Nos idosos, a avaliao neurolgica pode ser comprometida pela

    presena de doenas como glaucoma e catarata, que confundem o exame ocular.

    Existem, ainda, estmulos auditivos e visuais que podem inibir a capacidade do idoso

    compreender e responder s perguntas do exame neurolgico. Portanto, preciso

    estar mais atento durante a avaliao neurolgica do idoso, pois sinais de mudanas

    do estado mental identificados por profissionais despreparados so erroneamente

    atribudos ao processo fisiolgico do envelhecimento (CALLAWAY; WOLFE, 2007;

    STEVENSON, 2004).

    A exposio da vtima fundamental para identificar todas as leses,

    porm, depois que todo o corpo examinado no sentido cfalo-caudal, a vtima deve

    ser coberta para proteg-la da hipotermia. Em idosos, somente a rea do corpo a

    ser examinada deve ser descoberta, pois o risco de hipotermia maior devido aos

    mecanismos regulatrios da temperatura estarem comprometidos com o processo

    de envelhecimento (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL

    TECHNICIANS, 2004; THOMAZ; LIMA, 2007).

    Aps a avalio primria no local do evento, ocorre a reanimao, onde

    os problemas encontrados so solucionados conforme a prioridade, ao fornecer

    tratamento para as vias areas e controle das hemorragias atravs da correo das

    perdas de volume (CANETTI et al, 2001).

    Segundo Malvestio (2005), as imobilizaes devem ser realizadas na fase

    de APHM, pois consistem em procedimentos padronizados que foram realizados em

    98,9% dos sujeitos de seu estudo.

    O tempo mximo na cena do evento deve ser limitado a 10 minutos,

    exceto em circunstncias excepcionais, j que o transporte de vtimas de trauma

    deve ser iniciado rapidamente e para o local mais adequado e prximo. O tempo na

    cena correspondente ao perodo em que ocorre a avaliao da vtima, realizao

    de procedimentos e contato com a Central de Regulao (MALVESTIO, 2005;

    NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007).

    Quando a vtima est estvel, a avaliao secundria pode ser realizada

    no local do evento. Entretanto, as vtimas mais graves recebem esta segunda

    avaliao durante o transporte para o hospital (CANETTI et al, 2001).

  • 36

    A avaliao secundria realizada somente aps a reanimao e

    consiste em identificar o histrico da vtima e na realizao de exame fsico

    completo, com a finalidade de identificar leses no encontradas no exame primrio.

    Nesta fase, so aferidos os sinais vitais e identificados sinais e sintomas especficos

    de danos internos e doenas (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY

    MEDICAL TECHNICIANS, 2007; THOMAZ; LIMA, 2000).

    O histrico da vtima de trauma deve ser obtido rapidamente e, para isso,

    utiliza-se o cdigo mnemnico AMPLA: A corresponde s alergias, principalmente

    a medicamentos; M, medicamentos em uso; P, passado mdico e antecedentes

    cirrgicos; L, lquidos e alimentos ingeridos, pois muitas vtimas de trauma

    necessitam ser submetidos a procedimentos cirrgicos e a ingesto recente de

    bebidas e alimentos pode aumentar o risco de aspirao por vmito induzido durante

    a anestesia; e A consiste no ambiente e eventos que desencadearam o evento de

    trauma (NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS,

    2007).

    Os aspectos essenciais a serem considerados no trauma em idosos esto

    relacionados identificao das mudanas fisiolgicas do envelhecimento,

    conhecimento da biomecnica do trauma no idoso e dos princpios do tratamento,

    identificao das peculiaridades do atendimento ao idoso e realizao do transporte

    adequado at uma instituio hospitalar com os recursos apropriados (NATIONAL

    ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS, 2007).

    Diante de uma situao de trauma, a qualidade do atendimento est

    diretamente relacionada competncia e ao preparo dos profissionais que

    realizaram a assistncia. Os primeiros cuidados ainda na cena do evento e o

    transporte rpido at uma unidade hospitalar com recursos apropriados para o

    tratamento definitivo fazem do APHM um fator determinante na sobrevivncia das

    vtimas.

    3.5 ASPECTOS DO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR MVEL

    O APHM consiste na assistncia realizada de maneira direta ou indireta

    ao indivduo que se encontra em situao crtica fora do mbito hospitalar, como nas

    ruas, residncias e locais de trabalho, com a finalidade principal de minimizar as

  • 37

    sequelas ou agravos decorrentes da falta de socorro precoce, em situaes clnicas,

    peditricas, gineco-obsttricas, psiquitricas e traumticas (BRASIL, 2006a).

    Os primeiros relatos da assistncia pr-hospitalar advm do perodo

    napolenico, durante a Revoluo Francesa, quando o baro Dominick Jean Larrey,

    cirurgio e chefe militar, observou que os cuidados prestados precocemente aos

    feridos em guerra evitavam complicaes. Tal fato contribuiu para a criao da Cruz

    Vermelha Internacional, em 1863, e foi comprovado durante as grandes Guerras

    Mundiais, em que os soldados recebiam atendimento rpido ainda nos campos de

    batalha e eram transportados para locais onde recebiam tratamento adequado

    definitivo (RAMOS; SANNA, 2005).

    Romanzini (2007) ressalta que o Dr. J. D. Keke Farrington e

    colaboradores do Colgio Americano de Cirurgies e do Comit em Trauma

    instituram as bases para o APHM que prevalecem atualmente, por meio do

    estabelecimento dos princpios fundamentais, assim como materiais e equipamentos

    necessrios para esse tipo de assistncia. Tais estudiosos afirmaram que a chance

    de sobrevivncia da vtima influenciada pelo tempo resposta rpido, o qual inclui a

    proviso de ventilao e suporte de oxignio adequado e transporte imediato.

    Ao longo dos sculos, as guerras foram fator contribuinte para a evoluo

    da assistncia pr-hospitalar e transporte dos feridos, que inicialmente era realizado

    por trao animal, no sculo XVIII, em seguida, pelo uso de bales de ar quente, no

    sculo XIX, resgate com avies na I Guerra Mundial e helicpteros, em 1920, pelos

    ingleses e franceses (ROMANZINI, 2007).

    Somente em 1955, na Frana, foram criadas as primeiras equipes mveis

    de assistncia, com a finalidade de atender s vtimas de acidentes de trnsito e

    transferncias inter-hospitalares. Os mdicos viram a necessidade de aumentar as

    chances de sobrevivncia dos pacientes a partir de cuidados bsicos e avanados,

    centrados na respirao e circulao adequadas e, na dcada de 60, foi oficializado

    o primeiro Service dAide Mdicale Urgente (Servio de Atendimento Mvel de

    Urgncia - SAMU) (LOPES; FERNANDES, 1999).

    No Brasil, o APHM teve incio a partir de 1808, com a chegada da Famlia

    Real Portuguesa, porm restringia-se somente ao transporte de acidentados. A

    assistncia s vtimas no local da ocorrncia passou a ser realizada em 1893,

    quando o Senado da Repblica aprovou a lei que pretendia estabelecer o

  • 38

    atendimento mdico de urgncia em vias pblicas do Rio de Janeiro, at ento

    capital do pas (SO PAULO, 2001; SILVA, 2010).

    Na dcada de 80, por solicitao do Ministrio da Sade, o SAMU foi

    institudo atravs de um acordo bilateral estabelecido entre o Brasil e a Frana. O

    modelo francs foi adotado pelo Brasil por exigir a presena do mdico e do

    enfermeiro no suporte avanado, diferente dos padres americanos, que exigem a

    presena do paramdico na assistncia, profissional inexistente no Brasil (CUNHA;

    SANTOS, 2003; LOPES; FERNANDES, 1999).

    O Estado de So Paulo foi um dos primeiros do Brasil a utilizar o APHM,

    que tomou impulso em 1989, aps ter sido oficializado o SAMU Resgate atravs

    de acordo entre as Secretaria Estadual de Sade (SES) e a Secretaria de

    Segurana Pblica (SSP) Corpo de Bombeiros. Ao longo da dcada de 90, vrios

    Estados brasileiros implantaram o APHM em parceria com o Corpo de Bombeiros

    (SO PAULO, 2001).

    Ramos e Sanna (2005) afirmam que uma das maiores dificuldades que o

    APHM enfrentou no Brasil foi a ausncia de legislao especfica, o que levou

    criao e implantao de vrias estruturas de APHM em diferentes cidades.

    Em 2002, o Ministrio da Sade implantou a Portaria n 2.048, que ao

    considerar a necessidade de maior atendimento de urgncia e emergncia, devido

    ao crescente ndice de violncia urbana, estabeleceu oficialmente a criao do

    APHM. Este normatizado no Brasil pela Poltica Nacional de Ateno s Urgncias

    (PNAU), implantada pela Portaria n 1.863 de 2003, que tem entre suas finalidades

    organizar, estruturar e estabilizar o atendimento s urgncias (BRASIL, 2006a).

    Dentro da PNAU, alm das Portarias n 2.048/2002 e n 1.863/2003,

    existe a Portaria n 1.864/2003, que institui o componente pr-hospitalar mvel em

    municpios e regies de todo o territrio brasileiro por meio do SAMU, o qual

    constitui um importante avano nos sistemas de sade do Brasil, pois funciona

    atravs de uma Central de Regulao (SILVA, 2010).

    A Central de Regulao funciona 24 horas por dia e acionada por meio

    de ligao gratuita ao nmero 192, na qual o mdico regulador identifica a

    emergncia e, por sua vez, decide entre fornecer orientaes sobre as condutas a

    serem tomadas ou destinar uma viatura com estrutura adequada para prestar o

    atendimento vtima que se encontra em agravo (BRASIL, 2006a; ODWYER,

    2010).

  • 39

    Desta forma, a Central de Regulao permite a hierarquizao e

    regionalizao dos servios na ateno s urgncias, bem como reduzir a lentido

    do atendimento e a lotao dos hospitais e prontos-socorros com casos no

    pertinentes (BRASIL, 2006a; ODWYER, 2010).

    J o APHM, representado pelo SAMU, divide-se em Suporte Bsico de

    Vida (SBV), que consiste em procedimentos no invasivos de manuteno das

    condies vitais do indivduo, e Suporte Avanado de Vida (SAV), realizado por meio

    de prticas invasivas de suporte ventilatrio e circulatrio, em casos de maior

    gravidade e maior complexidade (BRASIL, 2006a).

    O SAMU atua no atendimento primrio, quando acionado por um cidado,

    e secundrio, quando solicitado por um servio de sade que j tenha realizado os

    primeiros procedimentos necessrios estabilizao das vtimas, mas que a

    situao exige tratamento de maior complexidade e, por isso, o transporte se faz

    necessrio (BRASIL, 2011).

    De acordo com a PNAU (BRASIL, 2006a), o transporte realizado pelo

    APHM pode ser desenvolvido pelo uso de ambulncias, meio mais comum adotado

    nas grandes zonas urbanas; aeronaves, mais indicadas quando preciso o

    transporte imediato em locais que no dispem de instituio hospitalar com

    recursos adequados para estabilizao da vtima; e embarcaes, indicadas para os

    locais que no dispem de acesso por via terrestre (BRASIL, 2006a).

    Conforme as circunstncias e o tipo de assistncia necessria, as

    ambulncias podem ser classificadas em Unidades de Suporte Bsico (USB) e

    Unidades de Suporte Avanado (USA). As USB so destinadas ao transporte de

    pacientes com risco de vida conhecido ou atendimento pr-hospitalar em situaes

    de risco de vida desconhecido. J as USA funcionam como Unidades de Terapia

    Intensiva mveis (UTI mveis) e so direcionadas aos pacientes mais graves, que

    necessitam de cuidados intensivos (BRASIL, 2006a).

    Existem ainda os veculos de interveno rpida, tais como as motos,

    denominadas motolncias, que oferecem os cuidados iniciais s vtimas at a

    chegada da ambulncia adequada e prestam suporte s outras equipes (BRASIL,

    2006a).

    Para acionar as equipes adequadas, o nvel de complexidade definido

    atravs do mdico regulador, por protocolos, que incluem situaes de emergncia,

    situaes identificadas pelo telefonema ou pela equipe de suporte bsico durante o

  • 40

    atendimento, ou situaes implcitas, como vtimas de desabamentos ou de grandes

    acidentes (PEREIRA; LIMA, 2006).

    O APHM realizado por uma equipe multiprofissional, j que a de SBV

    composta por um condutor-socorrista e por um tcnico de enfermagem e a de SAV

    formada por um condutor-socorrista, um mdico e um enfermeiro. Estes profissionais

    lidam constantemente com as caractersticas peculiares do APHM, tais como espao

    restrito das ambulncias, exposio a ambientes adversos, mal estado de

    conservao das estradas e avenidas, alm do curto perodo de tempo com o

    paciente, j que o atendimento deve ser realizado rapidamente (MINAYO;

    DESLANDES, 2008; VIEIRA; MUSSI, 2008).

    Pode-se, ento, resumir o funcionamento do SAMU da seguinte forma: o

    servio pr-hospitalar acionado gratuitamente pelo nmero nacional 192; a ligao

    atendida pelos Tcnicos Auxiliares de Regulao Mdica (TARM), na Central de

    Regulao, que identificam a situao e passam a ligao para o mdico regulador.

    Este avalia a situao, classifica o nvel de gravidade e define o recurso mais

    adequado ao atendimento. A equipe destinada ao local realiza os cuidados pr-

    hospitalares e entra em contato com a Central de Regulao, que define a instituio

    hospitalar para a qual a vtima ser transportada.

    O APHM se firmou no Brasil e em todo o mundo devido crescente

    guerra moderna de morbidade e mortalidade por causas externas e violncia. Tal

    circunstncia aumenta a necessidade de atendimento de urgncia e emergncia,

    alm de provocar impacto no nmero de internaes hospitalares, gastos com

    medicamentos, reduo do tempo de produtividade das vtimas e gerao de nus

    sade pblica, que em nosso pas representada pelo Sistema nico de Sade

    (SUS) (BRASIL, 2006a).

    3.6 A ENFERMAGEM NO ATENDIMENTO PR-HOSPITALAR MVEL

    A participao da enfermagem no APHM passou a ter maior destaque no

    sculo XIX, atravs de Florence Nightingale, a qual prestou cuidados aos soldados

    feridos na guerra da Crimia (1854-1856) e teve sua imagem imortalizada como a

    Dama da Lmpada, e da enfermeira brasileira Anna Nery na guerra do Paraguai

    (1864-1870) (ROMANZINI, 2007).

  • 41

    A enfermagem tambm teve colaborao marcante nas duas Guerras

    Mundiais, alm das guerras da Coria (1950) e do Vietn (1962-1973). Um grupo

    formado por 67 enfermeiras voluntrias participou na prestao da assistncia aos

    feridos na II Guerra Mundial, alm de enfermeiras treinadas pela marinha e pelo

    exrcito americano para assistncia nos grandes avies cargueiros, as quais foram

    ento denominadas como Flight Nurses (MERLO, 2009; RAMOS; SANNA, 2005).

    A formao do enfermeiro para atuar no APHM distinta em diversos

    pases e at mesmo em algumas regies. Nos EUA, essa formao se d por meio

    de cursos extensos que variam em cada Estado, assim como a experincia de no

    mnimo 1 a 3 anos de assistncia em emergncia ou a pacientes crticos. J na

    Frana, o enfermeiro comea a adquirir as competncias para atuar no APHM ainda

    na graduao, em unidades de cuidados intensivos e suporte avanado (MERLO,

    2009).

    No Brasil, o preparo profissional para o enfermeiro que pretende trabalhar

    no mbito pr-hospitalar ainda recente e se restringe aos cursos de especializao

    (latu sensu), conforme as diretrizes do Conselho Regional de Enfermagem (COREN)

    e Ministrio da Educao. Por ser uma rea pouco abordada durante a graduao e

    na qual ainda h pouco desenvolvimento cientfico, o enfermeiro sente-se muitas

    vezes despreparado para prestar assistncia nesse nvel ou at mesmo desconhece

    essa possibilidade de insero no mercado de trabalho (GENTIL; RAMOS;

    WHITAKER, 2008; OLIVEIRA, 2010; ROMANZINI; BOCK, 2010).

    Gentil, Ramos e Whitaker (2008) afirmam em seu estudo que os

    enfermeiros no APHM lidam com situaes diferentes do mbito intra-hospitalar e

    que exigem rpida tomada de deciso, destreza e habilidade para suportar o

    estresse, o que exige o reforo na capacitao desses profissionais.

    No entanto, estudo realizado por Vargas (2006) evidenciou que os

    enfermeiros se sentem despreparados diante de algumas situaes no APHM que

    no costumam ocorrer no hospital e no so contempladas nos cursos de

    graduao. Para suprir suas deficincias, segundo Thomaz e Lima, Romanzini e

    Bock (2010), esses profissionais buscam o aprofundamento terico na literatura e

    em muitos casos a realizao de cursos bsicos e avanados, tais como o

    Advanced Cardiac Life Support (ACLS), Advanced Trauma Life Support (ATLS), Pre-

    hospital Trauma Life Support (PHTLS), Basic Life Support (BLS) e Manobras

    Avanadas de Suporte ao Trauma (MAST) (VARGAS, 2006).

  • 42

    Por ser um tipo de assistncia realizado em locais e circunstncias

    adversas, o APHM impe ao enfermeiro situaes de estresse, desgaste fsico e

    emocional, assim como a necessidade de possuir conhecimento cientfico e

    habilidade tcnica para agir diante das ocorrncias (ROMANZINI, 2007).

    Bernardes et al (2009) apontam, ainda, que o enfermeiro deve

    acompanhar a equipe e identificar as possveis dificuldades, para, desta forma,

    propor aes que possam se adequar s diversas situaes e promover melhorias.

    Para Ramos e Sanna (2005), uma das maiores dificuldades enfrentadas no Brasil

    pelo APHM foi a falta de legislao especfica.

    Com o intuito de legalizar as atividades desempenhadas pela

    enfermagem no APHM, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) instituiu em

    24 de maro de 2004, a Resoluo n 290, a qual fixa o APH como especialidade de

    enfermagem e de competncia do enfermeiro, porm no especifica sua formao e

    aes desenvolvidas. Esta resoluo foi revogada pela Resoluo n 389, de

    outubro de 2011, que atualiza no mbito do sistema COFEN/COREN os

    procedimentos para registro de ttulo de ps-graduao (CONSELHO FEDERAL DE

    ENFERMAGEM, 2004; 2011).

    Em 2011, o COFEN instituiu tambm a Resoluo n 375, que dispe

    sobre a obrigatoriedade da presena do enfermeiro durante a assistncia de

    enfermagem nas unidades de APHM e em situaes de risco.

    O preparo profissional imprescindvel, pois a enfermagem tem destaque

    no APHM, j que desenvolve suas atividades tanto nas USB, pelo tcnico/auxiliar de

    enfermagem, quanto nas USA, pelo enfermeiro, e diferencia-se especialmente na

    composio de sua equipe (CICONET; MARQUES; LIMA, 2008).

    No APHM, alm de realizar a assistncia direta ao paciente, o enfermeiro

    tem atribuies burocrticas e educativas, como a elaborao de protocolos,

    capacitao e cursos de treinamento e reciclagem, administrao de recursos

    materiais e humanos (CARVALHO et al, 2011). Thomaz e Lima (2000) destacam

    que o enfermeiro realiza atividades em trs fases: antes, durante e depois do

    atendimento.

    A primeira fase engloba a checagem e reposio do material, verificao

    do funcionamento de equipamentos e manuteno dos kits de atendimento. Na

    segunda fase, durante o atendimento, prestada a assistncia direta s vtimas,

    definio das prioridades, avaliao primria e secundria e transporte seguro da

  • 43

    vitima at uma instituio hospitalar que prestar os cuidados definitivos. Na terceira

    fase, o enfermeiro deve repor o material utilizado na ocorrncia, cuidar da limpeza e

    desinfeco dos equipamentos e registrar os procedimentos realizados.

    Para Pereira e Lima (2006), Mello e Brasileiro (2010), o enfermeiro no

    APHM constitui um elo entre a assistncia e a gerncia, pois transita em quase

    todos os espaos, j que atua junto equipe de SBV, atravs da superviso e

    educao permanente, e com a equipe de SAV, na prestao de cuidados aos

    pacientes mais graves.

    Conforme Romanzini e Bock (2010), a presena do enfermeiro garante

    maior segurana equipe na tomada de deciso, j que este profissional tem

    iniciativa para a realizao de procedimentos que beneficiam o paciente.

    Coutinho (2011) afirma que a presena do enfermeiro essencial no

    APHM, pois atua em todas as etapas do atendimento, e Bernardes et al (2009)

    salientam que o desenvolvimento de competncias tcnicas pelo enfermeiro no

    suficiente, pois so necessrias tambm a coordenao e superviso de recursos

    humanos.

    De acordo com a Portaria n 2048/2002 do Ministrio da Sade, as

    competncias e atribuies do enfermeiro incluem: supervisionar e avaliar as aes

    de enfermagem da equipe no APHM; executar prescries mdicas por

    telemedicina; prestar cuidados de enfermagem de maior complexidade tcnica a

    pacientes graves e com risco de vida que exijam conhecimentos cientficos

    adequados; realizar partos sem distcia; prestar assistncia gestante, parturiente

    e ao recm-nato; conhecer equipamentos e realizar manobras para extrao de

    vtimas (BRASIL, 2002).

    Ao tcnico e auxiliar de enfermagem cabe auxiliar o enfermeiro na

    assistncia ao paciente; prestar cuidados sob a superviso do enfermeiro;

    administrar medicamentos conforme prescrio por telemedicina; fazer curativos;

    garantir o conforto e a segurana do paciente; e realizar manobras de extrao

    manual de vtimas (BRASIL, 2006a).

    Durante as ocorrncias de trauma, a equipe de enfermagem deve seguir

    os protocolos estabelecidos e tem como principais responsabilidades manter o

    controle das vias areas, estabelecer acesso venoso ou intrasseo para

    administrao de medicamentos conforme prescrio mdica, controle e

    manuteno dos sinais vitais e garantir o transporte seguro e imediato do paciente

  • 44

    at a unidade hospitalar definida pela Central de Regulao (BRASIL, 2006a;

    RAMOS; SANNA, 2005).

    A Lei n 7.498/1986 regulamenta o exerccio profissional da enfermagem

    e impe entre suas tarefas privativas os cuidados diretos a pacientes graves e que

    exijam assistncia mais complexa, baseada no conhecimento cientfico e tomada de

    deciso imediata.

  • 45

    4 MATERIAL E MTODO

    4.1 TIPO DE ESTUDO

    Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem quantitativa e

    delineamento transversal, caracterizado como documental retrospectivo a partir de

    dados secundrios, cujo objetivo caracterizar a ocorrncia de traumas na

    populao idosa atendida pelo servio pr-hospitalar mvel.

    Considera-se como estudo descritivo aquele que delineia as

    caractersticas existentes em um grupo investigado atravs da observao, registro

    e anlise de fatos ou fenmenos sem manipul-los. Os dados obtidos so descritos

    e sintetizados atravs de mdias e porcentagens (CERVO; BERVIAN; DA SILVA,

    2007; GIL, 2001; POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).

    Entre as formas que a pesquisa descritiva pode assumir esto os estudos

    que visam identificar o perfil de indivduos e grupos, a pesquisa de opinio, a

    pesquisa de motivao, os estudos de caso e a pesquisa documental (CERVO;

    BERVIAN; DA SILVA, 2007).

    O uso da abordagem quantitativa frequente nos estudos descritivos,

    pois garante a preciso dos resultados, evita distores de anlise e interpretao. A

    quantificao adotada tanto na coleta de dados, como na anlise dos resultados

    atravs de tcnicas estatsticas. A anlise estatstica dos resultados nos estudos

    quantitativos o que garante o maior poder de generalizao dos achados

    cientficos (GAUTHIER et al,1998; RICHARDSON et al, 1989).

    O delineamento transversal tem sua coleta de dados realizada em um

    dado ponto do tempo e aplicado na maioria dos estudos retrospectivos, pois

    permite que as variveis dependente e independente sejam coletadas

    simultaneamente e a varivel independente permite captar eventos ocorridos no

    passado (POLIT; BECK, HUNGLER, 2004).

    A pesquisa documental se caracteriza por ter sua coleta de dados

    realizada a partir de documentos. Pode ser classificada em contempornea, quando

    os dados so compilados pelo autor durante a ocasio, ou retrospectiva, na qual os

    dados so compilados aps o evento, a partir de fontes secundrias (MARCONI;

    LAKATOS, 2006),

    A anlise de dados secundrios consiste no uso de dados existentes para

  • 46

    investigar questes de pesquisa que se distinguem das finalidades para as quais as

    informaes foram coletadas. Entre suas vantagens est a economia de tempo e de

    recursos financeiros; como desvantagem est o fato de que a seleo da populao

    a ser estudada, dados a serem coletados, a qualidade dos dados e a forma como as

    variveis so aferidas e registradas so predeterminadas (GRADY; HEARST, 2008).

    Os dados secundrios podem ser provenientes de estudos prvios,

    registros hospitalares, arquivos de cobrana, certides de bito, entre outras fontes

    (GRADY; HEARST, 2008).

    Grady e Hearst (2008) descrevem como passos para a realizao de

    pesquisas que envolvem dados secundrios: a escolha de um tpico de pesquisa; a

    familiarizao com a literatura acerca da temtica; verificao das questes de

    pesquisa elaboradas quanto possibilidade de serem investigadas com a base de

    dados existente; e obteno da permisso para o uso dos dados. Tais passos

    propostos foram seguidos pelo presente estudo.

    4.2 LOCAL DO ESTUDO

    A presente pesquisa foi realizada no SAMU/Natal-RN, cuja sede est

    localizada no Bairro Dix-Sept Rosado, em Natal, Rio Grande do Norte. O SAMU foi

    escolhido como local para a realizao do estudo devido maior cobertura de

    APHM quando comparado a outros servios pr-hospitalares privados, j que atua

    em todos os estados brasileiros, em 1.468 municpios, com atendimento a mais de

    110,55 milhes de pessoas (BRASIL, 2010c).

    O SAMU/Natal-RN faz parte da rede do SUS atravs da PNAU e

    regulamentado pelas Portarias n 2.048/2002, n 1.863/2003 e n 1.864/2003, as

    quais definem o APHM e trazem suas normas de funcionamento, como rea fsica,

    nmero de viaturas e equipes destinadas ao atendimento pr-hospitalar de

    qualidade.

    Segundo Minayo e Deslandes (2008), o SAMU preconiza alguns

    parmetros demogrficos para exercer suas atividades, tais como uma equipe de

    SBV para cada 100/150 mil habitantes (um motorista, um auxiliar/tcnico de

    enfermagem e uma ambulncia de SBV); uma equipe de SAV para cada 400/450 mil

    habitantes (um motorista, um mdico, um enfermeiro e uma ambulncia de SAV);

  • 47

    um mdico regulador para cada Central de Regulao e um Ncleo de Educao em

    Urgncia em cada capital.

    O SAMU/Natal-RN mantido pelo rgo municipal, funciona desde 17 de

    setembro de 2002 e possui uma frota composta por trs USA, cada uma tripulada

    por um mdico, um enfermeiro e um condutor-socorrista, e nove USB, cuja equipe

    composta por um condutor-socorrista e um tcnico de enfermagem. Existem, ainda,

    06 motolncias tripuladas por tcnicos de enfermagem, voltadas para o SBV. O

    servio conta com equipe de 55 mdicos, 23 enfermeiros, 85 tcnicos de

    enfermagem e 69 condutores-socorristas, que trabalham nas unidades mveis de

    atendimento. Desta forma, o APHM escolhido atende aos parmetros determinados

    pela PNAU para o atendimento populao.

    4.3 POPULAO E AMOSTRA

    A populao deste estudo foi composta pelos pacientes com idade a partir

    de 60 anos, cujos registros correspondem s ocorrncias de trauma atendidas pelas

    equipes de SBV e SAV do SAMU/Natal-RN, no perodo de Janeiro de 2011 a

    Dezembro de 2012.

    Escolheu-se o perodo de 2011 a 2012, devido disponibilidade das

    informaes. Os registros relacionados s ocorrncias anteriores ao ano de 2011 no

    so atualizados no sistema eletrnico do servio, o que dificultaria o levantamento dos

    dados das vtimas de trauma da populao geral para comparao com a populao

    idosa.

    Os critrios de elegibilidade foram: pacientes com 60 anos ou mais de idade,

    acometidos por trauma, atendidos entre os anos de 2011 a 2012 pelo SAMU/Natal-RN.

    Como critrios de excluso foram adotados os registros incompletos, bem como

    aqueles que dificultaram a leitura, devido ao preenchimento ilegvel.

    Os registros analisados neste estudo encontram-se armazenados na sede

    do SAMU/Natal-RN, na sala de arquivos, sob a responsabilidade da Coordenao

    do Ncleo de Educao Permanente (NEP).

    Para estimar o tamanho da amostra antes de conhecer a populao,

    procedeu-se ao seguinte clculo:

  • 48

    (Fonte: BARBETTA, 2001, p. 187)

    Onde, Z2 o valor correspondente ao intervalo de confiana IC de 95%

    (Z=1,96), 2 proporo que se espera encontrar (=1/2, ou seja, 0,5) e E20

    equivalente ao erro amostral tolerado (E =0,05).

    Assim, obteve-se o nmero mnimo amostral correspondente a 384 registros

    de trauma necessrios para a realizao do estudo.

    Aps conhecer a populao de pessoas idosas vtimas de trauma, a qual

    correspondeu a 2.080 entre os anos de 2011 a 2012, substituiu-se a frmula anterior

    por:

    (BARBETTA, 2001, p. 187)

    Onde, N corresponde populao total de idosos vtimas de trauma

    atendidos pelo SAMU/Natal-RN no perodo de Janeiro de 2011 a Dezembro de 2012

    (2.080) e n0 ao nmero mnimo amostral obtido atravs da frmula anterior (384).

    Por meio deste ltimo clculo, cujo poder de preciso maior, devido ao

    conhecimento da populao a ser estudada, obteve-se o nmero de 324 ocorrncias

    necessrias para alcanar os objetivos deste estudo, arredondando-se este valor para

    400, a fim de minimizar os riscos de erro amostral e de possveis perdas da amostra.

    A seleo da amostra ocorreu por meio do processo de amostragem

    aleatria sistemtica, a qual utiliza um intervalo de seleo preestabelecido (VIEIRA,

    2008). O primeiro elemento da amostra foi sorteado e os demais obedeceram ao

    intervalo:

    (BARBETA, 2001)

    Onde, N corresponde populao (2.080) e n amostra (400), obtendo-se a

  • 49

    constante K=5.2, cujo valor foi arredondado para K=5. Desta forma, uma das cinco

    primeiras ocorrncias foi sorteada e, a partir dessa, a cada cinco ocorrncias de trauma

    em idosos, a quinta foi selecionada para a caracterizao.

    4.4 VARIVEIS DO ESTUDO

    Para Marconi e Lakatos (2006), as variveis podem ser consideradas

    quantificaes ou medidas; uma quantidade que varia; um conceito operacional que

    apresenta valores; um aspecto ou propriedade discernvel em um estudo e que

    possvel ser mensurado. As variveis podem apresentar valores ou ser

    representadas em categorias, com a finalidade de mensurar um fenmeno.

    As variveis consideradas nesta pesquisa, segundo as informaes

    presentes nas fichas de ocorrncia do SAMU/Natal-RN, conforme seu plano de

    anlise, foram categorizadas de acordo com a identificao das ocorrncias de

    trauma atendidas pelo SAMU/Natal-RN, a ocorrncia e evoluo do trauma, assim

    como o atendimento do trauma, conforme os quadros 02, 03 e 04.

    Quadro 02 - Distribuio das variveis de identificao das ocorrncias de trauma

    atendidas pelo SAMU/Natal-RN. Natal, RN, 2013.

    Variveis Critrios Plano de anlise

    Idade da vtima Idade em anos Quantitativa numrica e

    independente

    Sexo da vtima Masculino ou Feminino Qualitativa nominal e

    independente

    Data do evento Dia, ms e ano Quantitativa numrica e

    independente

    Dia da semana do evento Domingo a sbado Qualitativa nominal e

    independente

    Turno do evento Turno Qualitativa nominal e

    independente

    Local do evento Via pblica, residncia,

    instituio, local de

    trabalho, outros

    Qualitativa nominal e

    independente

    Bairro da ocorrncia Nome do bairro Qualitativa nominal e

    independente

  • 50

    Quadro 03 - Distribuio das variveis relativas ocorrncia e evoluo do trauma.

    Natal, RN, 2013.

    Variveis Critrios Plano de

    anlise

    Antecedentes

    pessoais

    Alergias, Hipertenso Arterial, Diabetes

    Mellitus, Cardiopatias, Doena Neurolgica,

    nenhuma doena de base, no registrado,

    outra patologia (especificar), uso de

    medicamentos (especificar)

    Qualitativa

    nominal e

    independente

    Mecanismo do

    trauma

    Queda (altura ou prpria altura), acidente de

    trnsito (coliso, capotamento, atropelamento,

    outros), queimadura (1, 2 e 3 grau; agente

    etiolgico; superfcie corporal queimada),

    ferimento por arma de fogo (transfixante,

    projtil alojado), ferimento por arma branca

    (superficial, profundo e empalamento),

    afogamento (praia, rio/lagoa, piscina, outro),

    envenenamento (agente etiolgico), outros

    (especificar)

    Qualitativa

    nominal e

    dependente

    Tipo de trauma Cranioenceflico, cervical, raquimedular,

    torcico, abdominal, de extremidades, femoral,

    plvico, politraumatismo, outros

    Qualitativa

    nominal e

    dependente

    Consequncias

    do trauma

    Fratura fechada, fratura exposta, luxao,

    escoriaes, amputao traumtica, outros

    (especificar)

    Qualitativa

    nominal e

    dependente

    Sinais vitais Frequncia cardaca e respiratria, presso

    arterial, temperatura,

    Quantitativa

    numrica e

    dependente

    dor, ausentes Qualitativa

    nominal e

  • 51

    dependente

    Outros sinais ndice de saturao de oxignio; ndice de

    glicemia capilar

    Quantitativa

    numrica e

    dependente

    Avaliao

    neurolgica

    ndice na Escala de Coma de Glasgow Quantitativa

    numrica e

    dependente

    Conscincia (consciente, inconsciente);

    orientao (orientado, desorientado)

    Qualitativa

    nominal e

    dependente

    Quadro 04 - Distribuio das variveis relativas ao atendimento do trauma. Natal,

    RN, 2013.

    Variveis Critrios Plano de anlise

    Unidade

    destinada ao

    atendimento

    Suporte bsico, suporte

    avanado ou motolncia

    Qualitativa nominal e

    dependente

    Procedimentos

    realizados

    Respiratrios (oxigenioterapia,

    cnula orofarngea, aspirao,

    intubao orotraqueal,

    traqueostomia, outros);

    circulatrios (curativ