UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ......Aos meus colegas do Hospital Maria Alice...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
EFEITO ANTIINFLAMATÓRIO DE FUCANA EXTRAÍDA DA ALGA
PARDA Spatoglossum schroederii EM MODELOS EXPERIMENTAIS DE
PERITONITE, CHOQUE NÃO SÉPTICO E COLITE.
ANA KATARINA ANDRADE SILVA
NATAL/RN
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
EFEITO ANTIINFLAMATÓRIO DE FUCANA EXTRAÍDA DA ALGA
PARDA Spatoglossum schroederii EM MODELOS EXPERIMENTAIS DE
PERITONITE, CHOQUE NÃO SÉPTICO E COLITE.
Ana Katarina Andrade Silva
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas, do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas.
Orientador: Profª. Drª. Janeusa Trindade de Souto.
NATAL/RN
2011
Ana Katarina Andrade Silva
EFEITO ANTIINFLAMATÓRIO DE FUCANA EXTRAÍDA DA ALGA
PARDA Spatoglossum schroederii EM MODELOS EXPERIMENTAIS DE
PERITONITE, CHOQUE NÃO SÉPTICO E COLITE.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Profª Drª JANEUSA TRINDADE DE SOUTO – (Orientador)
Departamento de Microbiologia e Parasitologia – UFRN
_______________________________________________________________
Prof Dr PAULO MARCOS DA MATTA GUEDES – (Membro interno)
Departamento de Microbiologia e Parasitologia – UFRN
_______________________________________________________________
Prof. Dr. GEORGE JOÃO FERREIRA DO NASCIMENTO – (Membro externo)
Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami - UFPE
NATAL/RN 2011
iii
A Deus, por ter me dado forças em todos os momentos e guiado os meus passos em cada decisão.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado o dom da vida; por ter sido minha fortaleza nos momentos que eu busquei fé. Minha gratidão por ter me abençoado com tamanhas conquistas e jamais ter deixado de enviar seus anjos pra me proteger e me dar forças, sempre que
precisei.
Aos meus queridos pais, Antônio e Fátima, os meus verdadeiros alicerces e responsáveis por tudo que conquistei, e tudo que sou; que me ensinaram os primeiros passos,
palavras, assim como os valores humanos que adquiri ao longo de minha vida. Os meus amigos, entusiastas, que jamais deixaram de me incentivar, mesmo diante das minhas
idéias mais inusitadas. Tenho orgulho de ter vocês como meus pais, e não tenho palavras para expressar o quanto sou grata por tanta dedicação e amor! Amo muito
vocês!
Ao meu noivo Gustavo Bruno, por incansáveis momentos de dedicação, amor e paciência. A ele que me ajudou inclusive nos experimentos, que se horrorizava com as
injeções intravenosas (risos); que abdicou de tantos finais de semana pra eu não ir sozinha ao Centro de Biociências. Não bastasse tudo isso, jamais deixou de me
incentivar e dedicar tanto carinho. Você fez parte de mais essa conquista, e espero que faça parte pra sempre da minha vida! Amo meu “xinho”!
À toda minha família, minha irmã Kalinne, minhas avós Maria e Rogéria, minhas tias, primos; que cada um à sua maneira, me deram incentivo a continuar, que depositaram suas orações, muitas vezes até sem entender o que realmente eu fazia (risos), mas que
não mediram esforços pra me dar apoio, e torcer por minha felicidade.
À minha querida orientadora Janeusa Trindade de Souto, por ter sido sua “pupila”, e ter tido orgulho de ser sua orientanda. Agradeço por tanto ter se dedicado ao meu
trabalho, pela paciência aos meus “choros” e teimosias; e aproveito para pedir desculpas se tive de me dividir entre tantas atividades e mesmo assim ter tempo para
“importurnar” seus finais de semana (risos) e pedir tantos conselhos científicos. Levarei para o resto da minha vida... pessoal ou científica, tudo que aprendi com você.
Obrigada por tantas lições, obrigada por tudo!
Às minhas amigas queridas com as quais tive a dádiva de conviver no Laboratório de Imunofarmacologia – UFRN. À minha amiga Mariana Bitencourt (Marizinha) por tantos momentos de cumplicidade, congressos, experimentos exaustivos, conversas,
aflições, e muitas risadas! Obrigada por sua ajuda imprescindível. Vou sentir saudades! À Hylarina, apesar do pouco tempo do convívio pela companhia agradável e
as contagens exaustivas! (Risos). À Anaugusta pela ajuda, companhia nos experimentos e por ter ficado “expert” em retirar soro. (Risos). À Jessica Jales
(Jessicat!) por ter sido um anjo que apareceu no momento que mais precisava. Obrigada pelas conversas, faxinas (risos), e por momentos tão especiais.
v
Ao Professor Paulo Marcos da Matta Guedes, pelo aceite em fazer parte da banca de defesa; além de sua amizade em tantos momentos, e inclusive, ajuda valiosa em alguns
experimentos.
Ao Professor George J. F. do Nascimento, não apenas pelo aceite da banca de defesa, mas por sua amizade, seus conselhos (que antecederam ou não minha viagem à
Ribeirão), e exaustivos momentos de bom-humor (risos).
À Professora Regina dos Santos Braz, pelo aceite em participar da banca na qualificação, por ceder gentilmente seu laboratório sempre que precisei, pelas palavras
de incentivo e amizade.
Ao Professor Hugo Alexandre Rocha, por ter cedido gentilmente a fucana que é o alvo desse estudo, e sempre ter se rendido aos meus apelos e questionamentos (risos). Muito
obrigada pela paciência e confiança em mim depositadas.
À Professora Éricka Janine Dantas da Silveira, por ter se disponibilizado a compor a banca de qualificação, mesmo abdicando parte do seu precioso tempo ao lado do seu bebê, para realizar toda a análise histopatológica do meu trabalho. Muito obrigada
ainda pelas orientações imprescindíveis.
Às técnicas do laboratório de histologia – CB: Socorro e Mylena, pela ajuda nas amostras histológicas, e sempre por sua atenção e cordialidade. Vocês foram essenciais
meninas!
Ao Professor Ermeton Duarte, por sempre prestar seu incentivo de uma forma sempre tão descontraída. Agradeço pela sinceridade de pessoas assim especiais que torcem pelo
meu sucesso como você.
Aos demais professores do centro de Biociências, que me incentivaram sempre, e contribuíram assim para a realização desse trabalho. Em especial ao Professor Valter Ferreira, que não mediu esforços para que eu fosse bolsista do programa, sempre com
tamanha cordialidade seja em suas aulas, nas palavras de incentivo, ou qualquer outra ajuda que coubesse ao programa de pós-graduação.
Aos amigos do LBMG, GAGS; e ao laboratório de aulas práticas de Microbiologia, em especial à minha amiga “Alexandra” (Alessandra Marinho) por tantos auxílios e apoio
sempre; e tantos outros que sempre me ajudaram prontamente a utilizar qualquer equipamento que necessitei. Em especial ainda à Julianne, Dany e Lelinha, amigas do curso de pós-graduação, que levarei por toda minha vida. Sentirei saudades meninas!
vi
Aos amigos que fiz na USP - Ribeirão Preto:
Ao Professor Fernando Cunha – do laboratório de inflamação e dor, por ter me recebido de maneira tão cordial em seu laboratório; assim como as demais pessoas
iluminadas que conheci por lá.
A minha querida amiga Larissa (gêmea inversa), por ter me ajudado na padronização e no treinamento de experimentos, por sua atenção em todos momentos que precisei, e
mesmo a distância, por sua amizade sincera.
À querida Paulinha, pela amizade, pela dedicação, seja para lavar as roupas (risos) ou para me enviar os artigos; ou ainda diante de qualquer ajuda que precisei.
. Ao querido Spiller, pela atenção e por sempre me ajudar nos questionamentos sobre
sepse (risos); e pelas intermináveis palavras de incentivo.
À querida Fabi, pela excelência e prontidão em ajudar a quem precisa, sempre com um sorriso no rosto contagiante.
Aos meus queridos amigos e amigas:
Ana Cláudia, pelo simples fato de me entender em todas as aflições (risos) e pela amizade em todos os momentos. Anderson, pela amizade, apoio e conselhos
imprescindíveis em minha vida. Andréa, por tanto me ajudar com suas palavras contagiantes e conselhos inusitados (risos). Mirella, por sua amizade, e paciência
diante das tentativas incansáveis de me encontrar enquanto eu estava sempre “ausente” pelas atividades do mestrado. Marina, por sempre me dar forças, e torcer por cada conquista desde a monografia (risos). Luciana, por não importar o tempo que não temos uma pra outra (risos), mas sei que será sempre um alicerce e exemplo de amizade
eterna.
Ao amigo que mais me ajudou nas últimas apresentações de minha vida científica: Edilson Lobo. Agradeço pela imensa paciência e por se esforçar pra entender as minhas
idéias ilustrativas inusitadas, com tamanha riqueza de detalhes (risos).
ÀS PANDETES, minhas queridas amigas que encontrei na Biomedicina, pelos momentos eternizados que já vivemos, pela ajuda incontestável durante todo o período do mestrado. A Bibiana, Dayse Caroline, Priscila, Myrian e Tássia, agradeço a cada uma por sua contribuição imprescindível e única. Em especial a minha amiga Dayse
Santos (xafranga), mestranda como eu, que juntas pudemos compartilhar tantas aflições, angústias, mas também tantos momentos felizes, que só assim pude encontrar
forças pra continuar. Agradeço por tantos auxílios, nas vidrarias, na formatação, e ainda na caça a “Mr Jingles” (risos), ou em qualquer outra ajuda na qual nunca me foi negada. Tenho orgulho em ter uma amiga para sempre laureada e amiga pra vida toda!
vii
Aos meus colegas do Hospital Maria Alice Fernandes:
Ao Diretor técnico, Dr. Renilson, por sua cordialidade sempre, por ter liberado as folgas que precisei em um momento tão importante para conclusão do meu trabalho, e
pela expectativa e confiança depositadas em mim.
À Drª Narriman, pessoa iluminada que tanto foi paciente, generosa e compreensiva em todos os momentos que precisei.
Às bioquímicas Drª Selma, Drª Dayanne e Drª Lourdes, do setor de Análises Clínicas
que me ajudaram na realização das dosagens desse trabalho.
Às queridas Edinôra, Ana Maria, Drª Conceição e D.Graça, por tanto terem me ajudado direta ou indiretamente na finalização desse trabalho; além da companhia
agradável, dos conselhos e da dedicação.
À Dona Ana, bioterista do Centro de ciências da saúde – UFRN. Sem a sua prontidão e dedicação, não seria possível a execução desse trabalho ao ceder os pequenos seres
vivos que possibilitaram esse estudo - aos quais dedico todo meu respeito: os camundongos!
Aos meus queridos alunos, que tive a oportunidade de dar início à introdução à
docência, e que foram o ânimo para que eu continuasse em mais essa descoberta e vocação em minha vida.
À UFRN e aos funcionários, que individualmente contribuíram brilhantemente para a
produção desse trabalho.
Ao programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da UFRN, pelo auxílio sempre que precisei e pelo título almejado.
Ao programa REUNI, na qual fui bolsista e me sinto satisfeita e realizada por ter
feito parte dessa equipe.
Àqueles na maioria, anônimos, e que fazem jus ao nome: Pacientes! A essas pessoas agradeço por enxergar a necessidade constante de novos estudos que não sirvam apenas para meras publicações; e sim para amenizar a aflição de tantos que dividem os leitos
do serviço de saúde, sejam privados ou públicos, do nosso país.
A todas as pessoas que não foram citadas, mas que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desse trabalho.
viii
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal... Quando se vê, já terminou o ano...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.”
Trecho de “O TEMPO” - Mário Quintana.
ix
RESUMO
Fucana é uma denominação utilizada para polissacarídeos sulfatados,
que tem como característica estrutural mais marcante a presença de L-fucose
sulfatada, sendo encontrados em algas pardas (Phaeophyceae) e em
equinodermos (ouriços e pepinos do mar). Esses polissacarídeos tem sido
descritos por possuir atividade anticoagulante, anti-tumoral, anti-viral, anti-
proliferativa e anti-inflamatória. Portanto, no presente estudo foi avaliado o
efeito da fucana da alga parda Spatoglossum schroederii em modelos de
peritonite e choque não séptico induzido por zimosan, bem como em um
modelo murino de colite induzida por DSS. Dessa forma, o tratamento de
camundongos pela via intravenosa com a fucana foi capaz de reduzir a
formação do exsudato e a migração celular no modelo de peritonite aguda
induzida por zimosan durante a cinética de 6, 24 e 48 horas. De maneira
semelhante, no modelo de choque não-séptico induzido por zimosan a fucana
demonstrou efeito protetor ao inibir a migração celular para o peritônio, diminuir
os níveis de IL-6 sérico e no exsudato peritoneal, ao atenuar a perda de peso
do animais, além de reduzir os níveis séricos das transaminases hepáticas,
assim como a lesão no fígado. No modelo murino de colite, o tratamento com a
fucana reduziu a perda de peso dos animais, diminuiu os níveis de IL-17 e IFN-
produzidos no intestino e diminuiu a lesão intestinal ocasionada pela DSS.
Conclui-se então, que a fucana usada nesse estudo apresentou efeito protetor
significativo diante dos modelos murinos de inflamação.
Palavras-chave: Fucana, zimosan, peritonite, MODS, colite.
x
ABSTRACT
Fucans is a name used for sulfated polysaccharides, which is most
characteristic structure of the presence of sulfated L-fucose, are found in brown
seaweed (Phaeophyceae) and echinoderms (sea urchins and sea cucumbers).
These polysaccharides have been reported to possess anticoagulant, anti-
tumor, anti-viral, anti-proliferative and anti-inflammatory activities. Therefore, in
the present study was evaluate the effect of the fucan from the brown seaweed
Spatoglossum schroederii in models of peritonitis and non-septic shock induced
by zymosan, as well as in a murine model of colitis induces by DSS. So, the
mice treatment by intravenous route with the fucan was able to reduce the
exudate formation and the cell migration in the model of acute peritonitis
induced by zymosan during the kinetic of 6, 24 and 48 hours. Similarly, in the
model of non-septic shock induced by zymosan the fucan demonstrated a
protector effect to inhibited the cellular migration to the peritoneo, to decrease
the levels of IL-6 in the serum and in the peritoneal exudate, to attenuate the
lose of weight in the mice; beside to reduce the serum levels of hepatic
transaminases and as well as the liver injury. In the model of murine colitis, the
treatment with the fucan reduced the lose of weight of the animals, decreased
the levels of IL-17 and IFN- produced in the gut and decrease the intestinal
lesion induced by DSS. In conclusion, the fucan used in this study presented a
significant protector effect in the murine models of inflammation.
Keywords: Fucan, zymosan, peritonitis, MODS, colitis.
xi
SUMÁRIO
RESUMO ........................................................................................................................ ix
ABSTRACT .................................................................................................................... x
LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................... xiii
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. xiv
LISTA DE QUADROS ............................................................................................... xvi
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 17
2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 30
3. OBJETIVOS ...................................................................................................... 31
3.1. - OBJETIVO GERAL: ..................................................................................... 31
3.2. - OBJETIVOS ESPECÍFICOS: ....................................................................... 31
3.2.1. - Avaliar a atividade de fucana na cinética da migração celular em
modelo de peritonite aguda induzida por zimosan. ........................................................ 31
3.2.2. - Avaliar o efeito de fucana em modelo experimental de choque não
séptico induzido por zimosan. ........................................................................................ 31
3.2.3. - Avaliar o efeito de fucana em modelo experimental de colite. ............ 32
3.2.4. - Avaliar a produção de citocinas em modelos de choque não séptico e
colite. 32
4. MATERIAS E MÉTODOS ............................................................................... 33
4.1. Extração da FUCANA ..................................................................................... 33
4.2. Animais de experimentação ............................................................................. 33
4.3. Comitê de ética ................................................................................................ 33
4.4. Modelo de peritonite aguda induzida por zimosan .......................................... 33
4.5. Modelo murino de choque não séptico induzido por zimosan ........................ 35
4.5.1. Avaliação de toxicidade média ............................................................... 36
4.5.2. Dosagem sérica das transaminases hepáticas ......................................... 37
4.6. Modelo experimental de colite induzida por dextrana-sulfato (DSS) ............. 37
4.6.1. Obtenção de sobrenadante de cultura de intestino no modelo
experimental de colite induzida por DSS ....................................................................... 38
4.7. Dosagem de citocinas ...................................................................................... 39
4.8. Estudo morfológico .......................................................................................... 39
xii
4.9. Análise estatística ............................................................................................ 39
5. RESULTADOS .................................................................................................. 40
5.1. Efeito da fucana obtida da alga parda Spatoglossum schröederi sobre a
cinética de peritonite aguda experimental induzida por zimosan ............................... 40
5.1.1. Efeito da fucana de S. schroederi sobre exsudato peritoneal obtido do
modelo murino de cinética de peritonite aguda induzida por zimosan .......................... 40
5.1.2. Efeito da fucana de S. schroederi na migração celular para a cavidade
peritoneal em modelo murino de peritonite aguda induzida por zimosan. ..................... 40
5.2. Efeito de fucana da alga parda Spatoglossum schröederi em modelo de choque
não séptico induzido por zimosan .............................................................................. 41
5.2.1. - Efeito do tratamento da fucana sobre a perda de peso e toxicidade
sistêmica induzida por zimosan ...................................................................................... 41
5.2.2. - Efeito de fucana de S. schroederii na migração celular para cavidade
peritoneal no modelo murino de choque não séptico induzido por zimosan. ................ 45
5.2.3. - Efeito de fucana de S. schroederii sobre a concentração de IL-6 no soro
e no lavado peritoneal de camundongos submetidos ao choque não séptico ................. 49
5.2.4. - Efeito de fucana de S. schroederii sobre o dano hepático em modelo
murino de choque não séptico induzido por zimosan..................................................... 49
5.3. Avaliação do efeito da fucana extraída da alga parda Spatoglossum schröederi
em modelo experimental de colite induzida por dextrana sulfato de sódio (DSS)..... 54
5.3.1. – Efeito do tratamento de camundongos BALB/c com a fucana sobre a
perda de peso no modelo de colite induzida por DSS .................................................... 54
5.3.2. – Efeito de fucana sobre os níveis de citocinas obtidas em sobrenadante
de cultura de intestino no modelo murino de colite........................................................ 56
5.3.3. – Atividade da fucana de S. schroederii sobre o dano intestinal de
camundongos submetidos ao modelo de colite induzido por DSS ................................. 58
6. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 60
7. CONCLUSÕES ................................................................................................. 72
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 73
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS
ALT Alanino amino-transferase
AST Aspartato amino-transferase
COX Enzima ciclooxigenase
DII Doença inflamatória intestinal
DSS Dextrana sulfato de sódio
ELISA Enzyme linked immunosorbent assay – Ensaio Imunoenzimático
LPS Lipopolissacarídeo
MN Mononuclear
MODS Síndrome de disfunção múltipla de órgãos
MOF Falência múltipla de órgãos
PBS Tampão fosfato-salino
PGD2 Prostaglandina D - 2
PGE2 Prostaglandina E - 2
PGI2 Prostaciclina I - 2
PMN Polimorfonuclear
TGF- Fator de crescimento tumoral beta
TNF-α Fator de necrose tumoral alfa
Treg Linfócito T regulatório
ZIGI Inflamação generalizada induzida por zimosan
xiv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Processo de captura, rolamento e migração transendotelial de
leucócitos ao longo do vaso sanguíneo. ..................................................... 22
Figura 2. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a produção de exsudato
peritoneal em camundongos inoculados com zimosan ............................. 42
Figura 3. Efeito da fucana de S. schröederi na cinética de migração celular
para o peritônio de camundongos inoculados com zimosan .................... 43
Figura 4. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a cinética de migração
de PMN e MN em modelo de peritonite aguda induzida por zimosan ....... 44
Figura 5. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a toxicidade média
apresentada em camundongos submetidos ao choque não séptico
induzido por zimosan .................................................................................... 46
Figura 6. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a perda de peso em
camundongos submetidos ao choque não séptico induzido por zimosan
......................................................................................................................... 47
Figura 7. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a migração celular para
o peritôneo em camundongos submetidos ao choque não séptico
induzido por zimosan .................................................................................... 48
Figura 8. Efeito da fucana de S. schröederi sobre os níveis séricos e
peritoneais de IL-6 em camundongos submetidos ao choque não séptico
induzido por zimosan .................................................................................... 51
Figura 9. Efeito da fucana de S. schröederi sobre os níveis séricos de
enzimas hepáticas em camundongos submetidos ao choque não séptico
induzido por zimosan .................................................................................... 52
xv
Figura 10. Histologia do fígado de camundongos BALB/C submetidos ao
modelo de choque não séptico induzido por zimosan, efeito da fucana da
alga S. schroederi .......................................................................................... 54
Figura 11. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a perda de peso em
camundongos submetidos à colite induzida por DSS ................................ 55
Figura 12. Efeito da fucana de S. schröederi sobre os níveis de IFN- e IL-
17 em sobrenadante de cultura de intestino em camundongos submetidos
à colite induzida por DSS .............................................................................. 57
Figura 13. Histologia do cólon de camundongos, em modelo de colite
induzida por DSS 3% em camundongos BALB/C, avaliação do efeito da
fucana da alga S. schroederi ......................................................................... 59
xvi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Distribuição dos grupos em modelo de cinética de peritonite
induzida por zimosan - 6, 24 e 48 horas após estímulo .............................. 35
Quadro 2 – Distribuição dos grupos em modelo de choque não séptico
induzido por zimosan .................................................................................... 36
Quadro 3 – Distribuição dos grupos em modelo de colite induzida por
DSS .................................................................................................................. 38
Ana Katarina Andrade Silva 17
1. INTRODUÇÃO
As fucanas são polissacarídeos sulfatados, encontradas em algas
pardas (Phaeophyceae) e em equinodermos (ouriços e pepinos do mar). A
família das fucanas de algas pode ser dividida em três grandes grupos de
polissacarídeos: os fucoidans, cuja fucose perfaz ou quase perfaz a totalidade
do polissacarídeo; as xilofucoglucuronanas e as glucuronogalactofucanas ou
glucuronofucogalactanas (KLOAREG & QUATRANO, 1988). Esses dois últimos
grupos são formados por fucanas bastante heterogêneas, cuja proporção de
fucose e outros açúcares, como galactose, xilose, glicose, manose e ácido
glucurônico, variam muito. A estrutura desses polissacarídeos sulfatados varia
de acordo com a espécie de alga de onde são extraídos, e essa estrutura tem
muita relação com sua atividade biológica (CAMARA et al., 2011). Desde sua
primeira descrição, as fucanas de algas marinhas tem sido alvos de muitos
estudos, demonstrando que estes polissacarídeos apresentam um grande
espectro de propriedades biológicas como, por exemplo, atividade anti-tumoral
(RIOU et al., 1996), anti-proliferativa (RELIGA et al., 2000), anti-inflamatória
(DAVENPECK et al., 1997; ANASTASE-RAVION et al., 2001; MACHELSKA et
al., 2004), anti-ulcerativa (NAGAOKA et al., 2000), anti-coagulante
(ALBUQUERQUE et al., 2004), anti-trombótica (BOISSON- VIDAL et al., 2000;
ROCHA et al., 2005), anti-viral (PREEPRAME et al., 2001), bloqueadora de
selectinas (MACHELSKA et al., 2004), moduladora de citocinas e quimiocinas
(SWEENEY et al., 2002; MYTAR et al., 2004) e da ativação do sistema
complemento (ZVYAGINTSEVA et al., 2000). Também previnem hepatopatias,
renalpatias e uropatias (CAMARA et al., 2011).
Ana Katarina Andrade Silva 18
Relativo à ação de fucana em células do sistema imune, estudos
realizados por Heinzelmann e colaboradores (1998) e Anastase-Ravion e
colaboradores (2001) reportam a indução de citocinas pró-inflamatórias tais
como TNF- (Fator de necrose tumoral alfa), IL-1 (Interleucina 1), IL-6
(Interleucina 6) e da quimiocina IL-8/CXCL8 em monócitos humanos cultivados
com fucoidan, que é uma fucana comercial extraída da alga Fuccus
vesiculosus. Um dado interessante observado em um desses estudos foi que o
co-cultivo de monócitos humanos com fucoidan e lipopolissacarídeo (LPS) da
parede de bactérias Gram negativas, causa diminuição na produção de IL-8
/CXCL8 (ANASTASE-RAVION et al., 2001), sugerindo uma ação regulatória do
fucoidan sobre a indução dessa quimiocina quimioatraente de neutrófilos. No
entanto dados do nosso laboratório mostram que uma fucana obtida da alga
Spatoglossum schroederi não induz a produção de TNF ou IL-6 por macrófagos
murinos, nem inibe a capacidade do LPS em estimular a produção dessas
citocinas (SILVA et al., 2011).
Além disso, tem sido demonstrado que o fucoidan da alga F. vesiculosus
regula não somente a produção de quimiocinas, mas também a expressão de
alguns de seus receptores (DING et al., 2003). Esse polissacarídeo é capaz de
se ligar a L-selectina dos linfócitos do sangue periférico com consequente
aumento na expressão de CXCR4 (o receptor da quimiocina CXCL12). Isso
ocorre através da mobilização e inibição da internalização da L-selectina na
superfície de linfócitos humanos promovendo um aumento na ativação de
integrina e migração celular, em resposta à quimiocina CXCL12. Essa sua
capacidade reguladora pode ser um importante mecanismo de controle da
migração celular em uma resposta inflamatória (DING et al., 2003).
Ana Katarina Andrade Silva 19
Estudos têm reportado que polissacarídeos sulfatados extraídos de
algas marinhas são capazes de reduzir o rolamento de leucócitos, resultando
em um significante decréscimo na adesão e migração dessas células
(SWEENEY et al., 2000; WOODMAN et al., 2000; ZHANG et al., 2001).
Ostegaard e colaboradores (2000) mostraram que o tratamento intravenoso
com fucoidan reduz o recrutamento de leucócitos para o fluido cérebro espinhal
em coelhos com meningite, sendo sugerido que o tratamento com esse
polissacarídeo sulfatado pode ser mais benéfico que o tratamento convencional
com antibióticos, uma vez que esses fármacos promovem a liberação de
produtos bacterianos no espaço subaracnóide, ampliando a inflamação e
recrutamento de leucócitos - que é bastante prejudicial no curso da doença.
Nesse mesmo estudo, observou-se que o tratamento com fucoidan resultou em
um decréscimo nos níveis da IL-1, e em menor proporção uma diminuição nos
níveis de TNF- no fluido cérebro espinhal de coelhos com meningite, devido
ao bloqueio da entrada de leucócitos nesse fluido (OSTEGAARD et al., 2000).
Os resultados desse estudo sugerem que polissacarídeos sulfatados, que
bloqueiam o rolamento dos leucócitos, são agentes importantes na redução de
danos ao sistema nervoso central causados pela bactéria Streptococcus
pneumoniae (causadora da menigite peneumocócica). Esse dados corroboram
com dados do nosso laboratório onde foi observado que a fucana da alga S.
schroederi reduz significativamente a migração de neutrófilos em modelos
murinos de perotonite e injúria pulmonar aguda induzida por LPS (SILVA et al.,
2011).
Por outro lado, o estudo realizado por Verdrengh e colaboradores
(2000), mostrou que o tratamento com fucoidan embora previna os sintomas
Ana Katarina Andrade Silva 20
severos nos estágios precoces de artrite induzida por Staphylococcus aureus
em camundongos, acarreta em um atraso no recrutamento de fagócitos ao sítio
de inflamação diminuindo dessa forma a mortalidade dos patógenos invasores.
Isso se deve ao fato dessas células serem importantes na captura e destruição
dessas bactérias, e uma vez que sua migração foi prejudicada pelo tratamento
com o fucoidan, as bactérias tem a chance de proliferarem no tecido infectado,
agravando a doença. Contudo, outro estudo relata que a perfusão com esse
biopolímero sulfatado pode reduzir a infiltração de neutrófilos e
consequentemente a injúria miocárdica após uma isquemia (OMATA et al.,
1997).
O processo inflamatório consiste de uma intrincada, altamente
regulada e coordenada ação de várias moléculas e tipos celulares. Dessa
forma, esse processo quando devidamente regulado protege o hospedeiro de
infecções e permite o remodelamento da estrutura e re-estabelecimento da
função dos tecidos danificados após o processo de injúria (YAN e HASSON,
2007). Isso acontece porque após o contato inicial com o agente causador da
injúria tecidual, células da imunidade inata, como os fagócitos, produzem
citocinas pró-inflamatórias, tais como TNF- e IL-1 que agem sobre os vasos
sanguíneos mais próximos ativando-os (LUSTER, 1998). Essa ativação
vascular promove a expressão de moléculas de adesão (selectinas e
integrinas) importantes no processo de rolamento e adesão de células
sanguíneas que precisam migrar do sangue para os tecidos injuriados
(CHATTERJEE et al., 2005). Os eventos de captura e rolamento de leucócitos
ao longo do vaso sanguíneo (Figura 1) acontecem devido a ligações
reversíveis de glicoproteínas adesivas transmembranas chamadas selectinas
Ana Katarina Andrade Silva 21
(BEVILACQUA e NELSON, 1993), encontradas na maioria dos tipos celulares
de origem hematopoiética e em células endoteliais e vasos linfáticos
(WAGNER et al., 2000). Em poucos minutos de exposição das células
endoteliais a mediadores inflamatórios como produtos do complemento,
radicais livres derivados do oxigênio, ou citocinas como TNF- e IL-1
(WAGNER et al., 2000), observa-se que a P-selectina é mobilizada para a
superfície do endotélio vascular, onde pode interagir com seu respectivo
receptor, glicoproteína ligante-1 de P-selectina (PSGL-1; CD162), presente nos
leucócitos sanguíneos; sendo que destes, o primeiro a fazer essa interação,
são os polimorfonucleares (PMNs). Em seguida, a função da E-selectina
compreende manter o rolamento dos leucócitos já iniciado através da P-
selectina, visto que seu pico de atividade e expressão em células endoteliais in
vitro é de 4 a 6 horas após a exposição à citocinas inflamatórias (KLEIN et al.,
1995; SCHOLZ et al., 1996).
As citocinas TNF e IL-1 produzidas no sítio de inflamação irão agir no
endotélio vascular estimulando a síntese de quimiocinas por essa células
(WAGNER et al., 2000), essas quimiocinas por sua vez agem nos leucócitos
em rolamento no endotélio, ativando a expressão de integrinas da alta avidez.
A expressão das integrinas de alta avidez permite a interação firme do
leucócito com o endotélio vascular e sua passagem para os tecidos. Além de
mediar a ligação célula a célula, as integrinas também estão envolvidas nas
interações celulares com proteínas extracelulares como a laminina,
fibronectina, vitronectina e fibrinogênio, de modo a participarem na
transmigração celular de PMNs do endotélio para a matrix extracelular
(WAGNER et al., 2000). As primeiras células a chegarem ao sítio de injúria são
Ana Katarina Andrade Silva 22
os fagócitos polimorfonucleares, em seguida aparecem os monócitos, que nos
tecidos viram macrófagos, que tem um importante papel na fagocitose e
eliminação dos antígenos, através dos mecanismos microbicidas, inerentes a
essas células (ZARBOCK e LEY, 2008). Em um período mais tardio, migram os
linfócitos, células da imunidade adquirida, que auxiliam de modo direto ou
indireto as células da imunidade inata num mecanismo de amplificação da
resposta imune.
Figura 1. Processo de captura, rolamento e migração transendotelial de leucócitos ao
longo do vaso sanguíneo. FONTE: Murphy et al., 2010.
Essas células agem em conjunto para debelar a causa desse processo
inflamatório, e uma vez que o agente causador da injúria é eliminado, o sistema
volta à sua homeostasia, através da produção de substâncias anti-inflamatórias
e de remodelamento tecidual, como é o caso da IL-10, TGF-beta e lipoxinas
(SERHAM et al., 2008).
Ana Katarina Andrade Silva 23
No entanto, uma inflamação exagerada e desregulada pode levar a
vários processos inflamatórios agudos e crônicos sérios, tais como peritonite,
sepse, e danos teciduais observados nas doenças autoimunes, como na
doença de Crohn (SERHAM et al., 2008).
A sepse, quando acompanhada por falência múltipla de órgãos, contribui
para ser a principal causa de morte em unidades de terapia intensiva (MARTIN
et al., 2003). A falência sequencial de órgãos sistêmicos, que geralmente
ocorre diante de um período de latência de dias ou semanas após vários
insultos fisiológicos - que pode incluir pancreatite, trauma, queimaduras,
choque, infecções severas, aspirações, transfusões múltiplas de sangue, ou
complicações pulmonares - anteriormente conhecida como "Falência múltipla
de órgãos" (MOF), evoluiu para "Síndrome de disfunção múltipla de órgãos”
(MODS) (PAOLA et al., 2006). A MODS é definida como a presença de
disfunção de órgãos em pacientes gravemente doentes, na qual a homeostase
não pode ser mantida sem intervenção clínica (AMERICAN COLLEGE OF
CHEST PHYSICIANS CONFERENCE, 1992), e tipicamente consiste na
disfunção sequencial de diversos órgãos sistêmicos, envolvendo inicialmente
os pulmões e evoluindo com disfunções hepáticas, intestinais, renais,
hematológicas e enventualmente cardíaca, embora a ordem exata possa variar
em função de doenças preexistentes ou naturalmente do insulto da qual foi
originada (DEITCH, 1992; REGEL et al., 1996). Mesmo após mais de três
décadas da sua descrição inicial (TILNEY et al., 1973), a mortalidade por
MODS permanece praticamente inalterada e a elucidação de mecanismos
envolvidos no seu desenvolvimento necessitaria de uma extensa coleção de
Ana Katarina Andrade Silva 24
amostras teciduais e atuação de procedimentos invasivos, que reduzem as
possibilidades de pesquisa em humanos (VOLMAN et. al., 2005).
Assim, foi observado que a inoculação de altas doses de zimosan pode
reproduzir um modelo de inflamação generalizada em camundongous ou ratos,
chamada ZIGI, que é acompanhado por dano múltiplo de órgãos
(CUZZOCREA et al., 1999; HOU et al., 2009; VOLMAN et al., 2005; HOU et al.,
2009; MARZOCCO et al., 2004; PAOLA et al., 2006). Esse modelo murino
ainda é caracterizado por uma toxicidade sistêmica e significativa perda de
peso (PAOLA et al., 2006); e foi descrito desde 1986, tendo sido reconhecido
como aquele que mais se assemelha a MODS humana (GORIS et al., 1986),
tendo sido denominado como choque não séptico induzido por zimosan
(PAOLA et al., 2006; MARZOCCO et al., 2004). O zimosan é uma substância
derivada da parede celular do fungo Saccharomyces cerevisiae, e é composto
por cadeias polissacarídicas de vários pesos moleculares, contendo
aproximadamente 73% de polissacarídeos, 15% de proteínas e 7% de lipídios
e componentes inorgânicos (FITZPATRICK et al., 1964). Quando injetado em
animais promove a inflamação por uma larga produção de mediadores
inflamatórios, tais como componentes ativados do sistema complemento
(PILLEMER et al., 1941), prostraglandinas e leucotrienos (HUMES et al., 1982),
fator de agregação plaquetária (ROUBIN et al., 1982), reativos de oxigênio
(NAUSSEF et al., 1983), enzimas lisossomais (BONNEY et al., 1978); pode
agir diretamentamente ativando macrófagos (UNDERHILL, 2003), que após
fagocitar esse produto, produzem citocinas como, TNF- interleucina (IL)1-,
IL-6 e IL-8 (BONDESON et al., 1999). A produção excessiva desses
mediadores resulta em aumento de dilatação periférica, ativação celular
Ana Katarina Andrade Silva 25
leucocitária e endotelial, excessiva permeabilidade microvascular, e acentuada
coagulação microvascular (DAVIE et al., 1997), que somadamente contribuem
para o desenvolvimento de profundas mudanças em vários órgãos que podem
eventualmente levar à MODS (YAO et al., 1998; SHARMA et al., 2003).
Em modelos de inflamação aguda, como a MODS, bem como em
doenças crônicas ou autoimunes como nas doenças inflamatórias intestinais
(DIIs), os neutrófilos exercem um papel importante na patogênese, e sendo
assim, drogas que controlem o influxo dessas células para os sítios
inflamatórios, com pouco ou nenhum efeito colateral para os pacientes, podem
ser de grande auxílio no tratamento dessas doenças. Assim, diversos modelos
inflamatórios são adotados com o objetivo de avaliar a atividade anti-migratória
de diversas substâncias (HU et al., 2008; CUMASHI et al., 2007;
POCHECHUEVA et al., 2003). Os processos inflamatórios agudos como a
sepse pode levar o hospedeiro à morte; e inflamações crônicas, como as DIIs,
geram danos teciduais que podem ser irreparáveis com perda da função do
tecido ou órgão afetado.
A colite ulcerativa, assim como a doença de Crohn, são exemplos de
doenças inflamatórias intestinais (DIIs) e são manifestações de numerosas
desordens imunológicas associadas com resposta imune celular e humoral.
Apesar de sua etiologia e patogênese ainda não serem bem definidas, sabe-se
que fatores genéticos em combinação com fatores ambientais contribuem para
a iniciação dessas doenças (CHEN, et al; 2008), que se caracterizam por
sintomas como perda de peso, diarréia acompanhada de sangue e/ou muco,
febre, desmotilidade gástrica e dor abdominal (KWON, et al, 2007; YOON, et al,
2008).
Ana Katarina Andrade Silva 26
O desenvolvimento das DIIs atinge primariamente a camada superficial
da mucosa do cólon, onde análises histológicas mostram extenso dano às
criptas e ao epitélio, significante infiltração de granulócitos e células
mononucleares, edema tecidual e muitas vezes ulceração (STROBER et al,
2002). Evidências em modelos animais indicam que a falha nos mecanismos
de supressão da imunidade para antígenos intestinais estranhos ao organismo
leva a essa desordem inflamatória. Por exemplo, ativação de células imunes
como neutrófilos, macrófagos e células T citotóxicas, causa agressão e
destruição da barreira intestinal, quer seja através do contato direto ou indireto,
através da liberação de citocinas como TNF-α, IL-1-β e IL-6 (SARTOR, 2006;
PAPADAKIS e TARGAN, 2000).
Apesar da doença de Crohn e da colite ulcerativa apresentarem
semelhanças na resposta a antígenos na mucosa intestinal, essas duas
doenças apresentam fisiopatologia consideravelmente diferentes. Estudos
mostram que a doença de Crohn está associada a uma resposta mediada por
células Th1 (FICHTNER-FEIGL et al., 2005), promovendo um perfil de citocinas
(IFN-, IL-2 e TNF-α) que gera uma forte resposta imune celular; sendo essa
resposta geralmente observada em casos clínicos de inflamação crônica e
implicada tanto no desenvolvimento da doença de Crohn como na esclerose
múltipla e artrite (BONDER et al., 2005). Por outro lado, a colite ulcerativa está
associada a uma resposta Th2, mediada por células especializadas, como as
células T NK e secreção de IL-13 e IL-4 (FICHTNER-FEIGL et al., 2005; SHIG
e TARGAN, 2008). Acredita-se ainda que um fator que leva ao
desenvolvimento da colite ulcerativa é o desequilíbrio da resposta imune
Th1/Th2, tendo nesse tipo de doença predominância da resposta Th2 (IHARA
Ana Katarina Andrade Silva 27
et al, 2009), em que a liberação de citocinas, por exemplo, IL-4 e IL-13, esteja
associada com a hipercontratilidade do músculo liso intestinal, porém esse
mecanismo ainda não está totalmente esclarecido (AKIHO et al., 2005; IHARA
et al, 2009 ).
Tem sido mostrado também que o desequilíbrio da resposta das células
T leva a uma alteração na expressão de citocinas na mucosa e células
dendrídicas tem sido caracterizadas como células produtoras de citocinas (IL-6
e TGF-) que induzem um padrão de resposta imune Th17, que atua como
participante dessa reação inflamatória (TAKEDATSU et al, 2008). Afirma-se
também que a composição da microbiota intestinal é regulada pelo balanço
entre as células Th17 e T regulatórias (Treg) na lâmina própria e que o
desequilíbrio da expressão dessas células, com o consequente aumento das
células Th17 leva a susceptibilidade de um processo inflamatório, podendo
assim levar ao desencadeamento da colite (IVANOV et al, 2009). Células Th17
participam de respostas inflamatórias e têm funções essenciais na defesa do
hospedeiro contra patógenos, como bactérias e fungos, particularmente
aqueles encontrados nas mucosas. Também estão envolvidas no
desenvolvimento de doenças autoimunes como a colite ulcerativa, uma vez que
essas células produzem citocinas quimioatraentes de neutrófilos, sabidamente
envolvidos na fagocitose dos patógenos (AUJLA et al. 2008).
O tratamento das doenças inflamatórias intestinais (DII) só pode ser
iniciado a partir do diagnóstico do tipo de enfermidade. O diagnóstico assim
como diferenciação entre doença de Crohn e colite ulcerativa pode ser feito de
maneira precisa na maioria dos pacientes, baseado no histórico do paciente,
exame físico, ileocolonoscopia, exame por enema de duplo-contraste de bário,
Ana Katarina Andrade Silva 28
biopsia e análise microbiológica (BOUSSUYT et al., 2006). Dentre as
substâncias mais empregadas no tratamento de DIIs, destacam-se os
derivados do ácido 5-aminosalicílico, corticosteróides, imunossupressores e,
mais recentemente, as chamadas terapias biológicas, envolvendo o uso de
anticorpos anti-TNF (infliximab, adalimumab, certolizumab), anticorpos
bloqueadores de quimiocinas e moléculas de adesão (natalizumab), anticorpos
monoclonais anti-IL-12/IL-23 p40 (ustekinumab e ABT-874) e anti-IL-6
(tocilizumab), anticorpo anti-CD25 de células T (basiliximab), proteínas de
fusão que bloqueiam moléculas co-estimulatórias, como CD80/CD86
(abatacept), IL-10 humana recombinante (STALLMACH et al., 2010). O
tratamento convencional envolve uso de aminossalicilatos, corticosteróides e
imunossupressores, que demonstram eficácia na maioria das vezes, mas nem
todos os pacientes podem fazer uso desses medicamentos
concomitantemente, sendo uma alternativa o uso da terapia biológica com os
anticorpos (STALLMACH et al., 2010). De maneira geral, estes medicamentos
apresentam diversos efeitos colaterais, são de alto custo, na maioria das vezes
são ineficazes quando empregados isoladamente e a administração
concomitante pode elevar o número de efeitos colaterais (infecções, tumores),
sem considerar que existe uma alta taxa de reincidência da doença após a
realização do tratamento com tais fármacos (STALLMACH et al., 2010; CAO et
al., 2005).
No modelo de colite induzido por DSS (dextrana-sulfato), a patogênese
envolve a presença no epitélio intestinal de um infiltrado de células como
neutrófilos e macrófagos na resposta aguda, assim como um infiltrado de
linfócitos em uma resposta mais tardia (DIELEMAN et al., 1998).
Ana Katarina Andrade Silva 29
Em função disso, substâncias que possam controlar esses processos e
evitar danos teciduais e/ou morte do hospedeiro, causada por respostas
inflamatórias intensas são alvo de intenso estudo. E assim, baseado em todos
os estudos citados anteriormente que indicam o potencial de fucanas como um
possível agente regulador de processos inflamatórios, nos propomos a avaliar
a ação imunofarmacológica de fucana extraída da alga Spatoglossum
schroederi nos modelos de peritonite, choque não séptico e colite .
Ana Katarina Andrade Silva 30
2. JUSTIFICATIVA
Tendo em vista que previamente estudos vêm sendo realizados em nosso
laboratório na tentativa de analisar as atividades da fucana extraída da alga parda
Spatoglossum schröederi sobre células do sistema imunológico e em modelos de
inflamação, e que relatos na literatura sobre as atividades biológicas de
polissacarídeos sulfatados se limitam a uma preparação comercial do fucoidan
extraído da alga Fuccus vesiculosus, justifica-se a tentativa de avaliar a aplicação
desse polissacarídeo sulfatado como possível intervenção farmacológica em
algumas doenças de difícil tratamento - utilizando para isso primariamente modelos
murinos que mimetizam as patologias acometidas em humanos. Assim sendo, é
preocupante a ação inflamatória exacerbada ou prejudicial do sistema imunológico
na patogênese de diversas doenças e a resultante dificuldade de sua terapia, seja
em enfermidades agudas, como sepse ou crônicas, como asma e doenças
autoimunes. Em consequência disso, a descoberta de novos fármacos poderia (i)
melhorar a eficácia da terapia, (ii) minimizar os efeitos colaterais encontrados nos
tratamentos convencionais, ou ainda (iii) prover a sua utilização como adjuvantes em
tratamentos não responsivos. Dessa forma, a fim de garantir uma análise
abrangente da fucana, buscamos avaliar os distintos aspectos que envolvem a
manifestação das respostas imunológicas - em modelos murinos - seja em
síndromes agudas (peritonite, choque não-séptico) ou em enfermidades, que se
assemelham, às crônicas (colite) acometidas em humanos.
Ana Katarina Andrade Silva 31
3. OBJETIVOS
3.1. - OBJETIVO GERAL:
O objetivo geral desse estudo foi avaliar os efeitos imunofarmacológicos de
fucana extraída de alga marinha Spatoglossum schröederi obtida no litoral do Rio
Grande do Norte em modelos murinos de inflamações agudas e crônicas.
3.2. - OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
3.2.1. - Avaliar a atividade de fucana na cinética da migração
celular em modelo de peritonite aguda induzida por zimosan. Uma vez que a
atividade inibitória da fucana inoculada subcutaneamente sobre a migração celular
foi evidenciada em outros modelos murinos inflamatórios previamente realizados em
nosso laboratório (peritonite, inflamação em bolha de ar) (ANDRADE et al., 2011),
nesse estudo foi avaliado o efeito desse polissacarídeo em cinética de peritonite
induzida por zimosan quando inoculada intravenosamente.
3.2.2. - Avaliar o efeito de fucana em modelo experimental de
choque não séptico induzido por zimosan. Baseando-se em sua atividade
inibitória sobre a migração celular em modelos de inflamação agudos já descritos, foi
avaliado o efeito da fucana em um modelo de choque não séptico, induzido pela
injeção intraperitoneal de altas doses de zimosan, que mimetiza uma síndrome
aguda que gera consequências danosas em humanos através da produção
Ana Katarina Andrade Silva 32
excessiva de mediadores inflamatórios - conhecida como síndrome de disfunção
múltipla de órgãos (MODS).
3.2.3. - Avaliar o efeito de fucana em modelo experimental de
colite. Uma vez que tem sido mostrado que neutrófilos tem um papel relevante na
patologia dessa doença, e uma vez que já foi observado que a fucana em estudo
inibe migração de neutrófilos (Silva et al., 2011), foi pesquisado o efeito da fucana da
alga S. schröederi sobre a evolução dessa doença, bem como sobre o infiltrado
celular presente na mucosa intestinal nesse modelo estudado.
3.2.4. - Avaliar a produção de citocinas em modelos de choque
não séptico e colite. Para avaliar o efeito da fucana na resposta imune nos
modelos de choque e colite, foi pesquisada a produção de citocinas pró-
inflamatórias, tais como IL-6 no soro e no lavado peritoneal em animais submetidos
ao choque não séptico e citocinas imunoestimulatórias como IFN- (Th1), IL-4 (Th2)
e IL-17 (Th17), no sobrenadante de cultura de intestino nos animais submetidos à
colite.
Ana Katarina Andrade Silva 33
4. MATERIAS E MÉTODOS
4.1. Extração da FUCANA: a fucana foi obtida através extração a partir da
alga marinha Spatoglossum schröederi de acordo com a metodologia proposta em
Leite et al. (1998). Representante da classe Phaeophycea, e da ordem dictyotales,
essa alga foi coletada no litoral de Natal-RN, Brasil. A fucana foi fornecida
gentilmente pelo Profº Dr. Hugo A. de Oliveira Rocha, do Departamento de
Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Antes de cada
experimento, a fucana foi diluída em solução salina 0,9% nas doses desejadas e
filtrada em filtros de 0.22 m.
4.2. Animais de experimentação: foram utilizados camundongos BALB/c
com seis a oito semanas de idade, obtidos no biotério da Faculdade de Farmácia –
UFRN, os quais foram mantidos no biotério do centro de biociências com livre
disponibilidade de alimentação e água.
4.3. Comitê de ética: Os experimentos foram aprovados de acordo com a
comissão de ética no uso animal (CEUA) da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (Protocolo nº 008/2010).
4.4. Modelo de peritonite aguda induzida por zimosan: os animais foram
inoculados intraperitoneamente (i.p.) com zimosan (1mg/ml) e tratados
intravenosamente (i.v.) com fucana diluída em salina (0,9%) na dose de 20mg/Kg de
animal ou (i.p.) com 0,5 mg/Kg de dexametasona (DEXA) trinta minutos após
estímulo. Após 6, 24 e 48 horas, os camundongos foram sacrificados por
Ana Katarina Andrade Silva 34
deslocamento cervical, previamente anestesiados com a solução anestésica de
xilazina-ketamina via i.p., e o exudato peritoneal foi colhido pela injeção de 5 ml de
solução salina 0,9 % refrigerada para todos os grupos testados e foi mensurado
através do volume aspirado final. O exsudato obtido foi centrifugado a 250 X g, a
4ºC, durante 10 minutos, o sobrenadante colhido e congelado, e o botão celular foi
ressuspendido em 1 ml de solução salina 0,9 %. A concentração celular foi
determinada em câmara de Neubauer utilizando-se o corante azul de Turk. Foi
determinada a contagem total e diferencial de leucócitos. As lâminas para contagem
diferencial foram preparadas por citocentrifugação de uma alíquota (50 l) do lavado
peritoneal e coradas pelo corante panótico rápido (LaborClin; Brasil). As células
foram examinadas em microscópio óptico através da objetiva de imersão em óleo
(aumento de 100x). Foram então contadas 100 células por lâmina, diferenciando-se
dois tipos celulares: mononucleares e polimorfonucleares. Para o controle negativo,
camundongos BALB/c de mesma idade e condições foram inoculados tanto pela rota
intravenosa como intraperitoneal, com solução salina 0,9 %. Para o controle positivo,
o tratamento via intravenoso foi realizado com uso do veículo (solução salina 0,9 %)
e o estímulo peritoneal foi induzido por zimosan de modo semelhante aos animais-
teste.
Ana Katarina Andrade Silva 35
Quadro 1 – Distribuição dos grupos em modelo de cinética de peritonite induzida por zimosan
- 6, 24 e 48 horas após estímulo. Foram realizados 3 experimentos. n = 5 animais/grupo. IV =
intravenoso. IP = intraperitoneal.
GRUPOS TRATAMENTO i.v. ou i.p. ESTÍMULO i.p.
Grupo 1 100l Salina 0,9% i.v. 1 ml Salina 0,9%
Grupo 2 100l Salina 0,9% i.v. 1 ml zimosan (1mg/ml)
Grupo 3 100l Fucana (20mg/Kg i.v.) 1 ml zimosan ((1mg/ml))
Grupo 4 Dexametasona (0,5mg/Kg i.p.) 1 ml zimosan ((1mg/ml))
4.5. Modelo murino de choque não séptico induzido por zimosan: A
metodologia utilizada foi modificada de Paola et al. (2006). Camundongos BALB/c de
6-8 semanas de idade e de 20-25 (g) de peso foram randomicamente distribuídos
nos grupos demonstrados no quadro 2.Os grupos 2, 3, 4 e 5 foram estimulados pela
via intraperitoneal com 500 mg/Kg de zimosan. O grupo controle (Grupo 1) recebeu
apenas solução salina 0,9% como tratamento i.v. e estímulo i.p. Os grupos tratados
receberam diferentes doses de fucana pela rota intravenosa (20, 10 e 5mg/kg) uma
hora antes e 6 horas após receberem o estímulo com zimosan. Após 18 horas da
administração de zimosan, os camundongos foram anestesiados com a solução
anestésica de xilazina-ketamina via i.p.,o sangue foi colhido pelo plexo retro-orbital
para obtenção do soro e posterior dosagem de citocinas. Em seguida os animais
foram sacrificados por deslocamento cervical e o exsudato peritoneal de todos os
grupos testados foi colhido através da injeção de 5 ml de solução salina 0,9 %
Ana Katarina Andrade Silva 36
refrigerada na cavidade peritoneal. O exsudato obtido foi centrifugado a 250 X g, a
4ºC, durante 10 minutos. O sobrenadante foi colhido e estocado a -20°C, para
posterior dosagem de IL-6, e o botão celular foi ressuspendido em 1 ml de solução
salina 0,9 %. A concentração celular foi determinada em câmara de Neubauer
utilizando-se o corante azul de Turk. Em outra série de experimentos (n=10 por
grupo), os animais tratados com a fucana apenas na maior dose (20mg/Kg) foram
randomicamente distribuídos e monitorados quanto à perda de peso por 15 dias
após inoculação de salina ou zimosan.
Quadro 2 – Distribuição dos grupos em modelo de choque não séptico induzido por zimosan. Foram realizados 3 experimentos. n = 5 animais/grupo. IV = intravenoso. IP = intraperitoneal.
GRUPOS TRATAMENTO I.V. ESTÍMULO i.p.
Grupo 1 100l Salina 0,9% 250 l Salina 0,9%
Grupo 2 100l Salina 0,9% 250 l zimosam (500mg/Kg)
Grupo 3 100l Fucana (20mg/Kg) 250 l zimosam (500mg/Kg)
Grupo 4
100l Fucana (10mg/Kg) 250 l zimosam (500mg/Kg)
Grupo 5 100l Fucana (5mg/Kg) 250 l zimosam (500mg/Kg)
4.5.1. Avaliação de toxicidade média: A severidade clínica da injúria
sistêmica ocasionada pelo modelo de choque não séptico foi analisada de acordo
com Paola et al. (2006) com modificações. Uma escala de parâmetros clínicos foi
observada subjetivamente após 6 horas da injeção de zimosan: pêlo eriçado,
prostração e diarréia. Para cada parâmetro foi estipulado um score 1 (uma
Ana Katarina Andrade Silva 37
característica), 2 (duas características) ou 3 (três características), que somados
entre si foi estipulado para cada animal analisado. Esse período foi padronizado
como ideal para essa análise, visto que nesse modelo (ZIGI) os animais
curiosamente expressam esses sinais distintamente em três fases do choque: (i)
fase inicial aguda com evidência de sinais clínicos, nas primeiras 24 horas, (ii) fase
intermediária onde há remissão dos parâmetros, e aparente melhora na doença, e
por fim (iii) fase mais tardia do 7º ao 14º onde há agravamento dos sinais novamente
(VOLMAN, et. al., 2005).
4.5.2. Dosagem sérica das transaminases hepáticas: A dosagem
das enzimas hepáticas foi realizada no soro dos animais submetidos ao choque não
séptico, obtido 18 horas após a inoculação do zimosan. As amostras de soro foram
incubadas à temperatura ambiente durante uma hora para que houvesse retração do
coágulo. Em seguida, foram centrifugadas (1400 x g, 10’ a 4°C) e a dosagem das
enzimas hepáticas foi imediatamente realizada através dos kits de diagnóstico da
Labtest, expressas em UI/L.
4.6. Modelo experimental de colite induzida por dextrana-sulfato (DSS):
A colite experimental foi induzida através da administração de DSS diluída na água
de beber dos camundongos BALB/c, que são susceptíveis ao desenvolvimento da
colite, na concentração final de 3% (peso/volume) por 14 dias consecutivos, sendo
que no 15º, receberam apenas água. Os animais foram tratados pela via intravenosa
(i.v.) com a dose de 20 mg/kg da fucana a cada três dias durante o período
experimental. Os animais foram divididos em grupos que recebeu salina i.v. e bebeu
água normal, grupo que recebeu salina i.v. e bebeu água contendo dextrana, e o
Ana Katarina Andrade Silva 38
grupo que recebeu tratamento com a fucana e recebeu água contendo dextrana 3%
como demonstrado no quadro 3. O consumo de líquido foi monitorado diariamente
para certificar que cada grupo está consumindo quantidades equivalentes de água.
Os animais ainda foram monitorados quanto à perda de peso durante 15 dias. Após
esse período, os animais foram eutanasiados, o intestino foi colhido, o cólon retirado
e lavado exaustivamente com salina 0,9% estéril. Partes do cólon foram usadas para
análise histológica e outra parte foi usada para cultura e dosagem de citocinas.
Quadro 3 – Distribuição dos grupos em modelo de colite induzida por DSS. Foram realizados 3 experimentos. n = 5 animais/grupo. IV = intravenoso. IP = intraperitoneal.
GRUPOS TRATAMENTO I.V. Água de beber
Grupo 1 100l Salina 0,9% Água
Grupo 2 100l Salina 0,9% Água + DSS (3%)
Grupo 3 100l Fucana (20mg/Kg) Água + DSS (3%)
4.6.1. Obtenção de sobrenadante de cultura de intestino no
modelo experimental de colite induzida por DSS: As partes do cólon removidas
de cada animal submetido à colite foram dispostas em placas de Petri plásticas
contendo salina 0,9% estéril contendo antibiótico gentamicina e lavadas
exaustivamente com essa solução para remoção de material fecal, em fluxo laminar.
As porções do cólon foram distribuídas (parte de cólon de cada animal/poço) em
placa de 24 poços contendo meio de cultura RPMI suplementado com 10% de soro
bovino fetal e antibiótico gentamicina (20 g/ml). A placa foi incubada em estufa
Ana Katarina Andrade Silva 39
contendo 5% de CO2 umidificada por 24 horas. Após isso, os sobrenadantes foram
colhidos para determinação dos níveis de citocinas (IL-4, IL-17 e IFN-).
4.7. Dosagem de citocinas: A dosagem de citocinas foi realizada por
ELISA. Foras usados kits da Ebioscience para determinação dos níveis de IFN-, IL-
4 e IL- 17, seguindo o protocolo padrão fornecido pelo fabricante dos kits.
4.8. Estudo morfológico: Relativo ao modelo de choque não séptico, após
18 horas do inóculo do zimosan, os animais foram sacrificados como descrito acima,
partes do fígado, do rim e do baço dos animais de cada grupo, foram obtidos e
fixados em formol a 10% diluído em uma solução salina tamponada com fosfato
(PBS) – PBS-formol 10% - para posterior processamento histológico. No modelo de
colite induzido por DSS, as partes do cólon removidas foram lavadas com solução
salina 0,9% para remoção de todo material fecal e em seguida mantidas em solução
de PBS-formol a 10% para posterior processamento histológico. O material fixado foi
processado e emblocado em parafina, sendo posteriormente, feitos cortes de 5m
de espessura para coloração em H/E (Hematoxilina-Eosina). A análise morfológica
foi feita por um único observador em um estudo cego que analisou a estrutura do
parênquima e estroma dos órgãos comparando com o controle negativo.
4.9. Análise estatística: A análise estatística foi aplicada através da
análise de variância (ANOVA) e o método paramétrico de Tukey-Kramer para
determinar as diferenças entre os grupos experimentais. Esses métodos estatísticos
foram executados através do programa Graph-pad Prism – versão 5.0 (EUA).
Ana Katarina Andrade Silva 40
5. RESULTADOS
5.1. Efeito da fucana obtida da alga parda Spatoglossum schröederi
sobre a cinética de peritonite aguda experimental induzida por zimosan.
5.1.1. Efeito da fucana de S. schroederi sobre exsudato peritoneal
obtido do modelo murino de cinética de peritonite aguda induzida por zimosan.
A análise inicial desse modelo experimental foi mensurar a formação de
exsudato na cavidade peritoneal em animais estimulados intraperitonealmente com
zimosan. Os resultados observados demonstram que a fucana de S. schroederi foi
capaz de reduzir a formação do edema, o que sugere que a mesma atua no passo
inicial do processo inflamatório, que remete ao aumento da permeabilidade vascular
e consequentemente ao extravasamento do plasma para o tecido inflamado (Figura
2). Em contrapartida, a dexametasona, um fármaco corticosteróide de uso comercial,
não foi capaz de reduzir significativamente a formação do exsudato peritoneal,
quando comparado ao controle positivo.
5.1.2. Efeito da fucana de S. schroederi na migração celular para a
cavidade peritoneal em modelo murino de peritonite aguda induzida por
zimosan.
Estudos prévios do nosso laboratório tem mostrado que a fucana de S.
schröederi injetada intravenosamente inibe a migração de células em modelos de
peritonite e de injúria pulmonar aguda induzida pelo LPS (SILVA et al., 2011). Essa
ação inibitória também foi observada em modelo de peritonite induzida por zimosan,
quando os animais foram tratados subcutaneamente (ANDRADE et al., 2011).
Ana Katarina Andrade Silva 41
Prosseguindo esse estudo, foi avaliado o efeito da fucana de S. schroederii, após
tratamento intravenoso, sobre a cinética da migração celular em modelo de
peritonite induzido por zimosan. Os resultados obtidos (Figura 3) mostram que o
tratamento dos animais com a fucana inibiu de modo significativo a migração celular
para o peritônio, nos três tempos avaliados (6, 24 e 48 horas), similar ao que
aconteceu com grupo de animais tratados com a dexametasona (DEXA), que é um
agente antiinflamatório comercial que foi capaz de inibir a migração celular durante o
período estudado. Foi avaliado ainda o infiltrado celular peritoneal através da
contagem diferencial dos leucócitos que sofreram migração, e não foi encontrada
diferença no percentual de mononucleares e polimorfonucleares entre os grupos
controles e os animais tratados com a dexametasona e a fucana (Figura 4).
5.2. Efeito de fucana da alga parda Spatoglossum schröederi em
modelo de choque não séptico induzido por zimosan.
5.2.1. - Efeito do tratamento da fucana sobre a perda de peso e
toxicidade sistêmica induzida por zimosan.
Tendo em vista que na cinética de peritonite, o tratamento da fucana 30
minutos após a injeção i.p. de zimosan inibiu a migração celular nos três períodos
analisados, o próximo passo foi avaliar o efeito desse polissacarídeo em um modelo
de patologia aguda que mimetiza a síndrome de disfunção múltipla de órgãos em
humanos ou MODS. Com o intuito de analisar a ação da fucana sobre o choque não
séptico nesse modelo, nos propomos a investigar o papel desse polissacarídeo
sulfatado sobre o escore de toxicidade média através da análise de pêlo eriçado,
diarréia e prostração, nos animais submetidos a essa injúria sistêmica.
Ana Katarina Andrade Silva 42
Figura 2. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a produção de exsudato peritoneal em camundongos inoculados com zimosan. Camundongos foram tratados com salina (SAL), fucana (FUC) na dose de 20mg/Kg i.v. ou dexametasona (DEXA) i.p. trinta minutos após injeção i.p. de zimosan (ZYM) (1 mg/ml) e sacrificados por deslocamento cervical nos períodos de 6, 24 e 48 horas após injeção de zimosan. Os controles receberam apenas solução salina 0,9% i.p. e i.v . O exsudato peritoneal foi mensurado após lavagem peritoneal e posterior aspiração local, através da diferença entre o volume de solução salina inoculada e aspirada. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. ** P < 0,05 quando comparado com o grupo controle negativo. * P < 0,05 quando comparado ao controle positivo (ZYM).
Ana Katarina Andrade Silva 43
Figura 3. Efeito da fucana de S. schröederi na cinética de migração celular para o peritônio de camundongos inoculados com zimosan. Camundongos foram tratados com salina (SAL), fucana (FUC) na dose de 20mg/Kg i.v. ou dexametasona (DEXA) i.p. trinta minutos após injeção i.p. de zimosan (ZYM) (1 mg/ml) e sacrificados por deslocamento cervical nos períodos de 6, 24 e 48 horas após injeção de zimosan. Os controles receberam apenas solução salina 0,9% i.p. e i.v. A migração de células foi analisada através de lavado peritoneal e posterior contagem de células em câmara de Neubauer. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. * P < 0,05 quando comparado com o grupo controle negativo que recebeu apenas salina i.v. e i.p.
Ana Katarina Andrade Silva 44
A
B
Figura 4. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a cinética de migração de PMN e MN em modelo de peritonite aguda induzida por zimosan. Camundongos foram tratados com salina, fucana (FUC) na dose de 20mg/Kg i.v. ou dexametasona (DEXA) i.p. trinta minutos após injeção i.p. de zimosan (ZYM) (1 mg/ml) e sacrificados nos períodos de 6, 24 e 48 horas após injeção de zimosan. A contagem diferencial das células foi realizada a partir do lavado peritoneal, através da confecção de lâminas, seguida da coloração com Panótico comercial. Contagem de polimorfonucleares (PMN) peritoneais (A); Contagem de mononucleares (MN) peritoneais (B). * P < 0,05 quando comparado ao grupo tratado com salina i.v.
Ana Katarina Andrade Silva 45
Os resultados encontrados mostram que os animais que receberam zimosan
i.p. e foram tratados apenas com solução salina 0,9% i.v. apresentaram um escore
de toxicidade média estatisticamente semelhante àqueles animais que foram
tratados i.v. com a fucana nas diferentes doses de 20, 10 e 5mg/kg (Figura 5). Outro
parâmetro avaliado foi a perda de peso, que foi acompanhada até 15 dias após a
inoculação de zimosan, tendo sido avaliada apenas a dose de 20 mg/kg da fucana,
uma vez que representa a maior dose administrada comparada às demais.
Observou-se que nas primeira 18 horas, onde foram analisados os parâmetros da
toxicidade, não houve diferença de peso entre os grupos estudados. Essa diferença
tornou-se evidente após 24 horas da inoculação do zimosan. Sendo assim, foi
observado que a fucana (20mg/Kg) atenuou de modo discreto, mas estatisticamente
significante, a perda de peso característica nesse modelo murino de choque não
séptico (Figura 6).
5.2.2. - Efeito de fucana de S. schroederii na migração celular para
cavidade peritoneal no modelo murino de choque não séptico induzido por
zimosan.
Uma vez observado os efeitos da fucana na toxicidade sistêmica e perda de
peso dos animais causada pela injeção de altas doses de zimosan, o próximo passo
foi avaliar o efeito da fucana na migração celular para cavidade peritoneal dos
animais no modelo de ZIGI. Pode ser observado na figura 7 que o tratamento com a
fucana promoveu uma diminuição no número de células presentes na cavidade
peritoneal quando comparado com os animais que receberam zimozan i.p. e salina
i.v.. Foi observado que tanto a dose de 20mg/Kg, como a de 10mg/Kg de fucana,
foram eficazes na redução da migração celular.
Ana Katarina Andrade Silva 46
Figura 5. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a toxicidade média apresentada em camundongos submetidos ao choque não séptico induzido por zimosan. Os camundongos foram tratados com fucana na dose de 20, 10 e 5mg/Kg i.v. uma hora antes e seis horas após injeção i.p de zimosan e sacrificados 18 horas após injeção de zimosan (500mg/Kg). Os controles receberam apenas solução salina 0,9% i.v. A toxicidade média foi calculada baseada na presença dos parâmetros pêlo eriçado, prostração e diarréia, através da denotação subjetiva variando de 0 a 3 de acordo com a presença das características analisadas, 6 horas após a indução do choque não séptico. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. * P < 0,05 quando comparado ao grupo tratado com salina i.v.
Ana Katarina Andrade Silva 47
Figura 6. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a perda de peso em camundongos submetidos ao choque não séptico induzido por zimosan. O choque não séptico foi induzido através da inoculação intraperitoneal de zimosan (500mg/Kg). Os camundongos foram tratados com fucana na dose de 20mg/Kg i.v. uma hora antes e seis horas após injeção i.p de zimosan. Os controles receberam apenas solução salina 0,9% i.v. A perda de peso foi acompanhada durante 15 dias após a indução do choque e calculada de acordo com a média aritmética do peso de cada grupo analisado por dia. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. * P < 0,05 quando comparado ao grupo tratado com salina i.v. ** P < 0,05 quando comparado ao controle positivo (ZYM).
Ana Katarina Andrade Silva 48
Figura 7. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a migração celular para o peritôneo em camundongos submetidos ao choque não séptico induzido por zimosan. A migração de células foi analisada através de lavado peritoneal após 18 horas da indução do choque não séptico por zimosan (500mg/Kg) i.p.. Os camundongos foram tratados com fucana na dose de 20, 10 e 5mg/Kg i.v. uma hora antes e seis horas após injeção i.p de zimosan. Os controles receberam apenas solução salina 0,9% i.v. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. * P < 0,05 quando comparado ao grupo tratado com salina i.v., ** P < 0,05 comparado ao controle positivo. *** P < 0,05 comparado ao controle positivo.
Ana Katarina Andrade Silva 49
5.2.3. - Efeito de fucana de S. schroederii sobre a concentração
de IL-6 no soro e no lavado peritoneal de camundongos submetidos ao choque
não séptico.
Tem sido mostrado que, nos animais submetidos ao choque não séptico, o
zimosan induz a secreção de TNF-, Interleucina (IL)-1 IL-8 e IL-6 por macrófagos
(BONDESON et al., 1999). No intuito de continuar investigando a atuação
antiinflamatória desse composto de origem marinha, o passo seguinte foi avaliar o
efeito do tratamento da fucana nos animais submetidos ao choque não séptico
quanto aos níveis séricos e no exsudato peritoneal de IL-6, obtido desses animais
em experimentação. Sendo assim, os resultados apresentados na figura 8 mostram
que o tratamento com a fucana, na dose de 10, mas não de 20 mg/kg, diminuiu de
modo significativo os níveis séricos de IL-6 (A), enquanto que em nível de exudato
peritoneal (B) se observa uma inibição discreta da produção dessa citocina apenas
com a dose de 20 mg/kg. Apesar dessa inibição ter sido discreta, ela foi
estatisticamente significante.
5.2.4. - Efeito de fucana de S. schroederii sobre o dano hepático
em modelo murino de choque não séptico induzido por zimosan.
O passo seguinte foi avaliar a função de órgãos comprometidos no modelo
murino em estudo, na tentativa de confirmar o papel protetor e antiinflamatório da
fucana de S. schroederii. A administração de zimosan resulta em alterações
significativas nos níveis plasmáticos de bilirrubina, fosfatase alcalina, alanina amino-
transferase (ALT) e aspartato amino-transferase (AST), demonstrando o
desenvolvimento de injúria hepatocelular (PAOLA et al., 2006). Assim, em
camundongos controles, a administração i.p de salina 0,9% não resultou em
Ana Katarina Andrade Silva 50
nenhuma alteração significativa nos níveis séricos de AST (Figura 9A) e ALT (Figura
9B). Quando comparados com os animais controles, a administração de zimosan
resultou em um significativo aumento dos níveis séricos das transaminases, o que
nos leva a predizer o dano hepático consequente. O tratamento com a fucana nas
duas doses analisadas (20 e 10mg/Kg) diminuiu significativamente os níveis séricos
das transaminases avaliadas e conseqüentemente o dano hepático que pode ser
constatado através do estudo morfológico (Figura 10). Morfologicamente evidenciou-
se que os animais tratados com fucana exibiram discretas alterações nos
hepatócitos sem haver desorganização do parênquima hepático quando comparado
ao controle positivo. Essa proteção foi melhor evidenciada nos animais tratados com
a fucana na dose 10mg/Kg (Figura 10-G e 10-H). Já nos animais que receberam o
tratamento com a maior dose de fucana (20mg/Kg), observou-se uma menor
proteção à injúria hepática (Figura 10-E e 10-F). Tal efeito protetor pôde ser melhor
evidenciado quando comparado ao controle positivo (Figura 10-C e 10-D). Neste
controle, os espécimes de fígado exibiram extensas áreas de necrose confluentes,
hepatócitos exibindo degeneração em balão, picnose nuclear e fragmentação de
cromatina.
Ana Katarina Andrade Silva 51
A
B
Figura 8. Efeito da fucana de S. schröederi sobre os níveis séricos e peritoneais de IL-6 em camundongos submetidos ao choque não séptico induzido por zimosan. . Camundongos BALB/c foram tratados com fucana na dose de 20, 10 e 5mg/Kg i.v. uma hora antes e seis horas após injeção i.p de zimosan. O soro e o lavado peritoneal foram obtidos 18 horas após a indução do choque e mensuradas as concentrações de IL-6 do soro e do exudato peritoneal por ELISA. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. * P < 0,05 quando comparado ao grupo com salina i.v.. ** P < 0,05 comparado ao controle positivo (ZYM) (A). * P < 0,05 quando comparado ao grupo com salina i.v. *** P < 0,05 comparado ao controle positivo. ** P < 0,05 comparado ao controle positivo. (B).
SORO
LAVADO PERITONEAL LAVADO PERITONEAL
Ana Katarina Andrade Silva 52
A
B
Figura 9. Efeito da fucana de S. schröederi sobre os níveis séricos de enzimas hepáticas em camundongos submetidos ao choque não séptico induzido por zimosan. Camundongos BALB/c foram tratados com fucana nas doses de 20, 10 e 5mg/Kg i.v. uma hora antes e seis horas após injeção i.p de zimosan. A dosagem das enzimas hepáticas foi realizada no soro dos animais submetidos ao choque não séptico, obtido 18 horas após a inoculação do zimosan. AST (aspartato amino-transferase) / TGO (A); ALT (alanino amino-transferase) / TGP (B). Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. * P < 0,05 quando comparado ao grupo com salina i.v. ** P < 0,05 comparado ao controle positivo (ZYM).
Ana Katarina Andrade Silva 53
Ana Katarina Andrade Silva 54
Figura 10. Histologia do fígado de camundongos BALB/C submetidos ao modelo de choque não séptico induzido por zimosan, efeito da fucana da alga S. schroederi. A: Histologia do fígado do grupo controle, tratado apenas com salina, apresenta normalidade em todos os contituintes hepáticos. (H/E, 100x) B: Detalhe do parênquima hepático do grupo controle. (H/E, 200x) C: Fotomicrografia de fígado em animal que recebeu zimosan (500mg/Kg) evidenciando parênquima desorganizado e vários hepatócitos alterados com vacuolização citoplasmática, perda nuclear e picnose. (H/E, 100x) D: Detalhe de área periférica do fígado exibindo hepatócitos com diversas alterações irreversíveis: apoptose, degeneração balonizante. Áreas de extravasamento hemorrágico. (H/E, 200x) E: Histologia do fígado do grupo que recebeu fucana 20mg/Kg, detectando-se a presença de vasos congestos, desorganização parenquimatosa e hepatócitos com dano. (H/E, 100x) F: Detalhe das alterações dos hepatócitos: presença de picnose (cabeças de seta), vacuolizações citoplasmáticas (setas). Sinusóides congestos também podem ser evidenciados. (H/E, 200x). G: Histologia do fígado do grupo que recebeu fucana 10mg/Kg exibindo-se morfologicamente normal. (H/E, 100x) H: Detalhe dos hepatócitos exibindo discretas alterações compatíveis com áreas de regeneração. (H/E, 200x) VCB = veia centro lobular, EP = espaço porta, S = sinusóide. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo.
5.3. Avaliação do efeito da fucana extraída da alga parda
Spatoglossum schröederi em modelo experimental de colite induzida por
dextrana sulfato de sódio (DSS).
5.3.1. – Efeito do tratamento de camundongos BALB/c com a
fucana sobre a perda de peso no modelo de colite induzida por DSS.
Em seguida, procuramos investigar se a fucana teria efeito protetor não
apenas em modelos agudos de inflamação, como também em doenças crônicas e
de caráter autoimunes, como num modelo murino que mimetiza uma doença
inflamatória intestinal (DII) humana. Um modelo experimental que se assemelha à
DII, em camundongos, é a colite induzida por DSS (DIELEMAN et al., 1998). Os
resultados demonstraram que os animais submetidos à ingestão de água com
dextrana-sulfato de sódio tiveram uma significativa redução de peso (Figura 11),
quando comparados aos animais controles. Em contrapartida, os animais que foram
tratados com a fucana (20mg/Kg) tiveram uma atenuada perda de peso, e assim
esse composto sulfatado mostrou ter efeito protetor no modelo experimental
apresentado.
Ana Katarina Andrade Silva 55
Figura 11. Efeito da fucana de S. schröederi sobre a perda de peso em camundongos submetidos à colite induzida por DSS. O acompanhamento da perda de peso corporal foi realizado durante 15 dias após o início da ingestão de DSS em água. Os animais foram pesados diariamente e foi calculada uma média aritmética de cada grupo por dia analisado. A colite foi induzida por dextrana-sulfato de sódio (DSS) em camundongos que ingeriram água durante 14 dias. Os animais foram tratados com fucana na dose de 20mg/Kg i.v. uma hora antes e a cada três dias alternados após a ingestão de DSS. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. * P < 0,05 comparado com o grupo tratado com salina 0,9% i.v. ** P < 0,05 quando comparado ao grupo controle positivo (DSS).
Ana Katarina Andrade Silva 56
5.3.2. – Efeito de fucana sobre os níveis de citocinas obtidas em
sobrenadante de cultura de intestino no modelo murino de colite.
Com o intuito de continuar investigando a atividade da fucana no modelo de
colite, foi pesquisado o perfil de citocinas envolvidas no modelo experimental
abordado. Assim, foi analisada a produção de IFN- (citocina Th1), IL-4 (citocina
Th2) e IL-17 (citocina Th17) no intestino dos animais submetidos ao modelo de colite
induzida por DSS. Nos resultados encontrados, não foram detectados níveis
significativos de IL-4 nos sobrenadantes de cultura de intestino em nenhum dos
grupos estudados (Figura 12-A). Por outro lado, foram detectados níveis altos de
IFN- (Figura 12-B) e IL-17 (Figura 12-C) no sobrenadante de cultura do intestino
dos animais que receberam DSS na água de beber e foram tratados com salina i.v.
De modo interessante, os níveis dessas citocinas aparecem bastante reduzidos no
sobrenadante de cultura do intestino dos animais tratados com a fucana i.v, níveis
esses similares ao controle negativo.
Ana Katarina Andrade Silva 57
A
B
C
Figura 12. Efeito da fucana de S. schröederi sobre os níveis de IL-4, IFN-e IL-17 em sobrenadante de cultura de intestino em camundongos submetidos à colite induzida por DSS. A colite foi induzida por dextrana-sulfato de sódio (DSS) em camundongos que ingeriram água durante 14 dias. Após remoção de partes do cólon no 15º dia de experimento, essas amostras foram lavadas com salina 0,9% estéril, distribuídas em placa de 24 poços e submetidas à incubação em câmara de CO2 durante 24 horas. Após esse período o sobrenadante da cultura foi colhido e congelado para posterior dosagem das citocinas por ELISA, de acordo com as instruções do kit
comercial da Ebioscience. IL-4 (A); IFN- (B); IL-17 (C). ND: Não detectado. Foram realizados 3 experimentos independentes. n = 5 animais/grupo. * P < 0,05 comparado ao grupo que ingeriu água+ DSS, tratado com salina 0,9% i.v.
Ana Katarina Andrade Silva 58
5.3.3. – Atividade da fucana de S. schroederii sobre o dano
intestinal de camundongos submetidos ao modelo de colite induzido por
DSS.
Por fim, nos propomos a avaliar o efeito do tratamento dos animais com a
fucana sobre o dano tecidual ocasionado no intestino dos animais submetidos à
colite experimental. A fase aguda da colite induzida por DSS nos camundongos
BALB/c é caracterizada por lesões das criptas e inflamação secundária da mucosa e
submucosa, sendo mediada principalmente por neutrófilos e macrófagos produtores
de IL-6 e TNF-, onde a doença permanece localizada no cólon distal (DIELEMAN
et al., 1998). Nesse estudo foi observado que 14 dias de administração de DSS na
água que foi ingerida pelos camundongos resultou em uma inflamação aguda do
cólon (Figura 13 - C e D).
Os resultados obtidos demonstraram que o grupo controle que recebeu
apenas água apresentou uma morfologia de cólon normal (Figura 13 - A e B),
enquanto o grupo que recebeu DSS, na água de ingerir, apresentou intenso infiltrado
celular associado à formação de edema. Esse dano pode ser devido inicialmente à
DSS, que é tóxica para as células das criptas basais, causando uma completa
destruição (DIELEMAN et al., 1998), e em seguida favorecendo o recrutamento de
células inflamatórias ao foco da lesão. Sabe-se que os neutrófilos quando recrutados
podem causar danos teciduais, em diversas doenças. Sendo assim, podem
contribuir ativamente na lesão observada na colite. Nos resultados obtidos nesse
modelo estudado, os animais tratados com fucana apresentaram um reduzido
infiltrado celular e discreta formação de edema, quando comparado com o grupo não
tratado, resultando em um menor dano no cólon induzido por DSS (Figura 13 - E e
F).
Ana Katarina Andrade Silva 59
Figura 13. Histologia do cólon de camundongos, em modelo de colite induzida por DSS 3% em camundongos BALB/C, avaliação do efeito da fucana da alga S. schroederi. A: Histologia do cólon do grupo controle, administrado apenas água, apresenta parênquima intestinal normal (H/E, 100x). B: Detalhe do parênquima intestinal do grupo controle (H/E, 200x). C: Fotomicrografia de intestino em animal que recebeu dextrana 3% na água de beber exibindo desorganização celular e destruição do parênquima, com presença de edema e infiltrado inflamatório mononuclear difuso (H/E,40x). D: Visão aproximada do infiltrado inflamatório mononuclear (H/E, 200x). E: Fotomicrografia de animal tratado com fucana exibindo escasso infiltrado inflamatório mononuclear de permio ao parêquima intestinal discretamente desorganizado (H/E, 100x). F: Detalhe da área acima do escasso infiltrado inflamatório mononuclear entre o parênquima no intestino tratado com a fucana (H/E, 200x).
Ana Katarina Andrade Silva 60
6. DISCUSSÃO
Dentre os sinais cardinais da inflamação, o edema tem sido evidenciado como
primeiro sinal a surgir nesse processo (SUR et al., 2002). Nessa situação, os vasos
sanguíneos sofrem várias alterações que visam facilitar o movimento de proteínas
plasmáticas e células sanguíneas da circulação para o local da lesão ou da infecção.
Essas alterações são induzidas pela ação de vários mediadores, tais como
histamina, C5a, TNF, IL-1 e óxido nítrico, no músculo liso vascular; levando um
aumento no fluxo sanguíneo, seguida por um aumento da permeabilidade vascular
que leva ao extravasamento de líquido rico em proteína. O edema pode ser
consequência de diversas causas como obstrução linfática, insuficiência cardíaca e
mais comumente por patógenos causadores de enfermidades (FRACASSO, 2008).
Em estudos preliminares realizados em nosso laboratório, a fucana de S. schroederi
foi eficaz na redução do edema de orelha induzido por xilol em animais tratados
subcutaneamente e intravenosamente (ANDRADE et al, 2011). De tal modo, os
resultados obtidos nesse estudo (Figura 2) mostram que a fucana apresentou um
significante efeito na diminuição do exsudato peritoneal. Embora esse estudo não
tenha mostrado o mecanismo pelo qual a fucana está exercendo esse efeito, uma
possibilidade seria sua ação através da interferência com os mecanismos de
formação de fendas no endotélio venular que é geralmente reversível de curta
duração, conhecido como resposta imediata transitória; causados pela ligação de
mediadores químicos em seus receptores nas células endoteliais (FRACASSO,
2008) ou através da inibição da liberação de mediadores vasoativos presentes no
plasma ou produzidos por células teciduais (TEIXEIRA e HELLEWELL, 1997;
VILELLA et al., 2010) . Ainda pode ser descrita a função das prostaglandinas,
Ana Katarina Andrade Silva 61
produtos da ação das enzimas ciclo-oxigenases (COX), na inflamação. Esses
produtos contribuem diretamente para a gênese dos quatro sinais cardinais de
Celsus (rubor, tumor, calor e dor). A PGE2 e PGI2, em conjunto com a PGD2 (o
metabólito principal da via da COX nos mastócitos), causam vasodilatação e
potenciam a formação de edema (COLLINS, 1999). Recentemente, um estudo
encontrou efeito anti-edematogênico de um polissacarídeo sulfatado da alga
marinha marrom Lobophora variegata, e nele afirmou-se que esse efeito parece
ocorrer via inibição da atividade das enzimas óxido-nítrico sintetase e ciclo-
oxigenase (SIQUEIRA et al., 2011). Os resultados seguintes demonstraram que a
fucana de S. scrhoederii apresentou efeito antimigratório representativo ao reduzir o
infiltrado celular do peritôneo dos animais tratados (Figura 3), sendo esse efeito
inibitório mantido durante a cinética (6, 24 e 48 horas) de peritonite aguda. Quando
analisada a contagem diferencial desse infiltrado celular – entre células
polimorfonucleares e mononucleares – a fucana foi capaz de diminuir a migração de
ambos os tipos celulares, o que também pode ser observado para a ação inibitória
da dexametasona (Figura 4).
Estudos preliminares realizados em nosso laboratório corroboram com os
aqui encontrados, pois demonstraram que a fucana de S. schroederi, administrada
subcutaneamente, foi capaz de reduzir significativamente o infiltrado na cavidade
peritoneal de animais submetidos à peritonite induzida por peptona, tioglicolato de
sódio e zimosan (ANDRADE et al., 2011). Portanto, tanto a administração
subcutânea, quanto a intravenosa, se mostra efetiva em controlar a migração celular
em modelo de peritonite induzida por zimosan. De fato, tem sido mostrado que
fucoidans de L. saccharina interferem com L e P-selectinas, e então promovem o
decréscimo da transmigração de PMN para a cavidade peritoneal e bloqueio da
Ana Katarina Andrade Silva 62
indução de pertitonite aguda (USHAKOVA et al., 1999). Recentemente, outro
estudo, utilizando o mesmo modelo de peritonite aguda em ratos, explorou o efeito
de frações derivadas de L. saccharina na transmigração de PMN, onde se
demonstrou que ambas as frações polissacarídeas estudadas dessa alga inibiram o
influxo de PMN para a cavidade peritoneal dos ratos (CROCI et al., 2011).
Os polissacarídeos sulfatados por serem macromoléculas extremamente
ácidas, podem se ligar de forma inespecífica a qualquer domínio básico da
superfície de uma proteína em soluções com baixa força iônica, e o padrão de
sulfatação pode determinar diferentes afinidades desses polissacarídeos por
citocinas, fatores de crescimento e outras proteínas encontradas na superfície
celular e na matriz extracelular (MULLOY, 2005). Essas interações complexas entre
proteínas e carboidratos são capazes de influenciar a difusão de proteínas através
dos tecidos, bem como modelar a resposta celular a estas moléculas (MULLOY,
2005) e dessa forma contribuir para que esses compostos sulfatados possam
exercer diversas atividades biológicas (MCCAFFREY et al., 1992). Dessa forma, a
fucana foi capaz de diminuir a migração celular para o peritônio dos animais que
foram estimulados pelo zimosan, possivelmente ao interagir com receptores
celulares envolvidos no processo migratório de células do endotélio ao tecido alvo.
Assim, ao passo que o tráfico de leucócitos dos vasos sanguíneos até os sítios de
inflamação é um processo mútuo de cooperatividade envolvendo um rolamento
inicial de leucócitos no endotélio, mediado via família selectina de adesão molecular
(POCHECHUEVA et al., 2003), supõe-se que a fucana possa atuar como ligante de
L e P-selectinas (HEINZELMANN et al., 1998), e assim interferir com o rolamento
dessas células. No entanto novos estudos precisam ser realizados para se entender
Ana Katarina Andrade Silva 63
o mecanismo pelo qual esse polissacarídeo está interferindo com a migração de
leucócitos para os sítios inflamatórios.
A partir dos resultados obtidos, o próximo passo foi investigar o efeito da
fucana em modelo de inflamação generalizada induzida por zimosan (ZIGI) – que
mimetiza MODS em humanos, uma vez que mesmo em período relativamente
prolongado na cinética de peritonite, a fucana conseguiu manter um efeito
antimigratório, similar aquele observado quando se usou uma droga antiinflamatória
de referência (dexametasona). Portanto, os dados apresentados no nosso estudo
mostraram que o tratamento com a fucana, no modelo de ZIGI, embora não tenha
apresentado redução da toxicidade média (Figura 5), atenuou a perda de peso
(Figura 6), diminuiu a migração celular para a cavidade peritoneal dos animais
estimulados com o zimosan (Figura 7), bem como causou redução nos níveis de IL-6
(Figura 8), AST e ALT (Figura 9) no soro dos animais; além de proteger os animais
do dano hepático (Figura 10). O que sugere que de uma maneira sistêmica, a fucana
exerceu efeito protetor em modelo de choque não séptico induzido por zimosan,
resultados esses inéditos na literatura quanto à ação de fucanas no modelo murino
em estudo.
O zimosan é uma preparação de parede celular de Saccharomyces
cerevisiae e tem sido usado a cerca de 50 anos em um modelo de estímulo
inflamatório e fagocítico, tanto in vivo quanto in vitro (DI CARLO e FIORE, 1958;
PILLEMER e ECKER, 1941). Quando injetado em animais, o zimosan ativa
macrófagos via receptor tipo Toll (TLR2) e induz inflamação por estimular uma larga
produção de mediadores inflamatórios como citocinas, componentes ativados do
sistema complemento, enzimas lisossomais e reativos do oxigênio. Em função dele
não ser degradado, a fagocitose por macrófagos resulta em uma prolongada
Ana Katarina Andrade Silva 64
resposta inflamatória (VOLMAN et al., 2005), como observada no modelo de ZIGI.
Este agente indutor de inflamação é composto de -glucanas, mananas, quitinas, e
ativa diversos receptores de macrófagos, incluindo receptor de manose,
CD11b/CD18, TLR2 e dectina-1. Estes dois últimos receptores ativados,
sinergicamente, podem levar a um aumento da produção de TNF-, e atuar na
indução de IL-2, IL-10 e IL-6 (ROGERS et al., 2005).
Assim, possivelmente a fucana pode estar competindo antagonicamente com
alguns desses receptores, e dessa forma impedindo a transdução de sinais
estimulada pelo zimosan, impedindo sua ação como estímulo inflamatório no modelo
de choque não séptico.
Essas evidências sobre alguns receptores como ligantes de zimosan, podem
contribuir para explicar a redução dos níveis de IL-6 encontrados no soro de
camundongos tratados com fucana (10mg/Kg) (Figura 8 - A). Embora todas as
doses de fucana analisadas (20, 10 e 5mg/Kg) tenham causado uma diminuição
estatisticamente significante na dosagem de IL-6 no exsudato peritoneal, possa ser
que essa diminuição não tenha um efeito biológico relevante.
Como é possível então explicar esses achados? A primeira hipótese remete
(i) à ação da fucana como ligante de L e P-selectinas, como citado previamente, na
diminuição do recrutamento celular para o peritônio, o que ocasionaria - não
localmente devido ao excesso de mediadores inflamatórios produzidos - mas sim,
sistemicamente, uma redução de ativação de leucócitos e uma consequente
diminuição da produção de IL-6 no soro (Figura 8).
Ao passo que em um estudo revela-se que fucoidans inibem apoptose
induzida por ligantes do receptor de varredura SR-A em macrófagos, em cooperação
Ana Katarina Andrade Silva 65
com o receptor tipo Toll 4 (TLR 4) (SEIMON et al., 2006), a segunda hipótese seria
que (ii) a fucana possivelmente também possa se ligar nesses tipos de receptores.
Assim, o comprometimento da ativação celular medeada por zimosan poderia
ocorrer através de uma possível ligação da fucana ao receptor TLR2 presente nos
fagócitos, já que o zimosan é seu principal ligante (SATO et al., 2003 ; KELLY et al.,
2008); além da possível habilidade em ligar-se aos receptores varredores
(scavenger) de macrófagos.
Essas suposições são reforçadas diante de estudos que reportam que o
fucoidan atua como ligante do SR-A, e induz a fosforilação de proteínas kinases,
atividade da proteína kinase C (PKC), e leva à secreção de citocinas inflamatórias
através de vias específicas de ativação (HSU et al., 1998; HSU et al., 2001). Além
disso, outro achado na literatura afirma que um dos mecanismos utilizados por
fucoidans nos processos inflamatórios ocorre através da inibição do acúmulo de
polimorfonucleares (PNMs) nos sítios inflamatórios, por interferência com a atividade
de ligação de receptores varredores (scavenger) de macrófagos (BEARTEAU e
MULLOY, 2003; USHAKOVA et al., 1999).
Uma terceira hipótese consiste na possibilidade (iii) da fucana ligar a outro
tipo de receptor para o zimosan, a dectina-1. Este receptor, uma lectina tipo C,
reconhece -glucanas presnetes no zimosan, sinaliza independentemente de TLR2,
levando a indução de IL-2 e IL-10 (ROGERS et al., 2005), assim como está
envolvido no aumento da produção de TNF-GANTNER et al., 2003; BROWN,
2003). No dano de órgãos induzido por zimosan, TNF- parece ter uma função
importante (VOLMAN et. al, 2005), e durante as primeiras 24 horas após a
administração de zimosan, os níveis plasmáticos de TNF- e IL-6 são encontrados
aumentados (JANSEN et al., 1996). Desse modo, a fucana hipoteticamente poderia
Ana Katarina Andrade Silva 66
atuar como ligante de dectina-1 nos fagócitos, antagônico ao zimosan, interferindo
na produção de mediadores inflamatórios. De modo geral, a referida hipótese é que
a fucana possa estar ligando em um ou mais receptores celulares, impedindo a ação
inflamatória e o estímulo exercido pelo zimosan para a produção de IL-6.
Adicionalmente, no soro dos animais, apenas uma dose de fucana (10mg/Kg)
foi eficaz na redução dos níveis de IL-6 (Figura 8 - A), embora ao longo dos
resultados obtidos nesse estudo, até o presente momento as duas doses de fucana
(20 e 10mg/Kg) tenham apresentado uma resposta antiinflamatória equivalente. Em
um estudo, revela-se que a estimulação contínua de um receptor por um agonista
resulta em um estado de dessensibilização (também conhecido como
refratariedade). Neste estado o efeito obtido por exposição subsequente da mesma
concentração de droga é menor (GOZZANI, 1994). Diversos mecanismos podem ser
responsáveis por este fenômeno, tais como, alteração do receptor, sua destruição,
relocalização na célula (ROSSI et al., 1985). Assim, é possível que sistemicamente
esse polímero sulfatado possa apresentar esse fenômeno de refratariedade próximo
à dose da fucana de 20mg/Kg para o determinado receptor com o qual a fucana esta
ligando, não sendo observado efeito nos níveis séricos de IL-6 quando se usou essa
dose.
O dano hepático, por sua vez, pode ser mensurado através dos níveis das
enzimas hepáticas, onde os níveis séricos da aspartato amino-transferase (AST) e a
alanino amino-transferase (ALT) estão significativamente aumentados diante de uma
injúria hepática (HARGREAVES et al., 1961)..Assim, nos animais tratados com a
fucana nas duas doses (20 e 10mg/Kg) houve uma diminuição significativa nos
níveis séricos tanto da AST (Figura 9 - A), como da ALT (Figura 9 - B). A partir
desses resultados, pode-se sugerir mais uma vez a relação direta entre os níveis de
Ana Katarina Andrade Silva 67
IL-6, bem como a liberação de outros mediadores inflamatórios, sobre o dano
hepático. A MODS causada por zimosan em animais caracteriza-se por mudanças
funcionais e estruturais no pulmão, intestino, rins e fígado (GORIS et al, 1991;.
DEMLING et al., 1994;. VAN BEBBER et al, 1989;. CUZZOCREA et al, 1997;.
DEITCH et al, 1990). De tal modo, os resultados obtidos (Figura 10) demonstraram
que houve significativa alteração histopatológica hepática indicativa do gradual
desenvolvimento da resposta inflamatória generalizada, com extensiva injúria
tecidual com pontos hemorrágicos, observados nos animais controles positivos,
estimulados com zimosan (Figura 10 – C e D). Contudo, os animais que receberam
tratamento com a fucana (10mg/Kg) obtiveram uma lesão hepática de menor
intensidade, demonstrando inclusive ausência de pontos hemorrágicos, e
integridade dos cordões de hepatócitos de uma maneira geral (Figura 10 – G e H)
quando comparados aos controles positivos; embora a fucana na dose mais alta
(20mg/Kg) não tenha apresentado efeito protetor similar. Esses dados mais uma vez
sugerem um efeito refratário dessa dose no tratamento dos animais submetidos ao
choque não-séptico. Assim, sabendo-se que até os dias atuais, o tratamento de
pacientes com sepse e choque séptico é feito por meio de antibióticos e fármacos
que atuam nas alterações cardiovasculares, não interferindo na resposta
inflamatória, essa pode ser uma das causas da alta mortalidade de pacientes com
choque séptico (FRACASSO, 2008), e o que torna a fucana supostamente um
potencial agente terapêutico, pelos mecanismos já discutidos acima.
Em seguida, uma vez que foi observado efeito protetor sobre essa síndrome
aguda, foi avaliada então a possível atuação da fucana em um modelo murino que
mimetiza uma doença inflamatória intestinal (DII), como a colite induzida por DSS.
Observou-se que nos animais tratados com a fucana, houve uma atenuação sobre a
Ana Katarina Andrade Silva 68
perda de peso com significância estatística. Possivelmente, a ação da fucana sobre
o intestino ou sobre as células do sistema imune, impediu a agressão profunda da
mucosa que levou à desidratação e à dificuldade de absorção de nutrientes após
alimentação.
Para se comprovar esse efeito antiinflamatório, em seguida, procurou-se
analisar o efeito da fucana sobre o tipo de resposta imunológica apresentada na
colite induzida por DSS, através da produção local de citocinas, pela obtenção do
sobrenadante da cultura de intestino.
As citocinas desempenham um papel central na modulação do sistema imune
intestinal. Os níveis de muitas citocinas pró-inflamatórias (IL-1, TNF, IL-12, IL-6, IL-8)
e anti-inflamatórias (IL-4, IL-10, IL-1ra, IL-11) estão elevados em pacientes com
colite. A relação entre citocinas pró e antiinflamatórias é diminuída, levando a um
desequilíbrio, e ocasionando doenças inflamatórias do intestino (ROGLER, et al.,
2008). A expressão de citocinas tais como IL-6, IL-17 e IFN-, tem sido descritas por
participarem da patogênese da fase aguda no modelo de colite induzida por DSS
(ALEX et al., 2009).
Além disso, na doença inflamatória intestinal, ocorre um aumento dos níveis
de IL-1, TNF-, IL-6, IL-8, além de outras citocinas pró-inflamatórias, secretadas por
macrófagos, linfócitos e neutrófilos, cuja síntese é induzida pelo NF-kB, um fator de
transcrição envolvido na regulação de vários genes associados a inflamação
(ROGLER e ANDUS, 1998). As citocinas pró-inflamatórias são responsáveis por
determinar a natureza da resposta imune na colite ulcerativa, por estimular a rápida
síntese e secreção de mediadores inflamatórios, como as espécies reativas de
oxigênio, do nitrogênio, leucotrienos, fator de agregação plaquetária e
prostaglandinas (NEUMAN, 2007).
Ana Katarina Andrade Silva 69
O IFN- e a IL-12 agem nas células T CD4+ induzindo sua diferenciação para
células T helper ou auxiliares do tipo 1 (Th1) secretoras de IFN-, enquanto o TGF-β
e a IL-6 promovem a diferenciação desse linfócitos para a subpopulação de células
Th17, que produzem IL-17 e expressam o receptor da IL-23 (IL23R). A IL-23
produzida pela ativação das células dendríticas sustenta a resposta Th17 e também
ativa células inatas, incluindo as células mielóides e células natural killer para
produzir citocinas inflamatórias, incluindo a IL-6, TNF-α e IL-17 que induz inflamação
intestinal. A IL-17 estimula a produção de citocinas pelos macrófagos ativados e
pode induzir à produção de citocinas e quimiocinas pelas células endoteliais,
levando ao recrutamento de neutrófilos (McGOVERN e POWRIE, 2007).
Dessa forma, os níveis reduzidos dessas citocinas que remetem a um padrão
de resposta Th1 (IFN-) e Th17 (IL-17) (Figura 12), demonstram que a fucana possa
influenciar a presença dessas populações celulares na resposta imune em nível de
mucosa, o que pode acarretar na visível reconstituição do parênquima intestinal
observado (Figura 13), uma vez que os padrões de resposta imune Th1 e Th17 tem
sido mostrados por serem importantes na patologia das DIIs (ALEX et al., 2009). De
modo interessante não se observou níveis detectáveis de IL-4 no sobrenadante das
culturas dos intestinos dos grupos em estudo (Figura 12 – A). Apesar da literatura
mostrar que pode haver produção de IL-4 nesse modelo (ALEX et al., 2009), nossos
dados corroboram com aqueles mostrados por Mechnga e colaboradores (2010),
onde não se observa produção dessa citocina em macerado do intestino após
desenvolvimento desse modelo de colite induzida por DSS. No entanto para se
entender melhor esse mecanismo de regulação, os níveis de citocinas regulatórias
como TGF- e IL-10, devem ser avaliados, bem como a presença no infiltrado
Ana Katarina Andrade Silva 70
celular de células T regulatórias. Esses são alvos de estudos futuros do nosso
laboratório.
Uma vez determinado o perfil de citocinas no intestino no modelo de colite, o
próximo passo foi avaliar o dano intestinal ocasionado pela DSS, e a análise
histopatológica demonstrou efeito protetor da mucosa da fucana evidenciada nos
animais tratados, com redução visível do dano submetido à mucosa (Figura 13 - C).
Assim, pelos mecanismos já discutidos, a fucana pode estar atuando de
maneira protetora na colite, o que pode ser visualizado através da (i) redução da
perda de peso sofrida por estímulo da DSS, (ii) diminuição considerável nos níveis
de IFN- e IL-17 no sobrenadante de cultura intestinal, assim como no (iii) achado
histopatológico, onde nitidamente é observado a redução de infiltrado celular e a
manutenção da integridade dos componentes da mucosa, quando comparados aos
observados nos animais que ingeriram DSS apenas (Figura 13).
Dessa forma, de acordo com os resultados demonstrados, pode-se levantar
três hipóteses: que a fucana extraída da alga Spatoglossum schroederii possa atuar
na melhora do quadro da colite induzida por DSS (i) através da inibição da migração
celular, bem como (ii) na regulação do padrão de resposta imune de Th1 ou Th17
para um possível padrão T regulador ou (iii) ainda, hipoteticamente, através da
ligação direta em lectinas presentes na mucosa intestinal.
Lectinas são proteínas que têm afinidade por moléculas de carboidratos
específicos (ROOPASHREE et al., 2006) Elas se ligam às glicoproteínas no
revestimento intestinal e podem interromper o processo digestivo e de assimilação
de nutrientes (RANJEKAR et al., 2003). Lectinas são utilizados como um sistema
modelo para estudar as interações proteína-carboidrato, de tal modo a fucana de
Ana Katarina Andrade Silva 71
acordo com sua natureza polissacarídea pode, eventualmente, atuar como uma
lectina revestindo a mucosa intestinal dos animais tratados, e assim levar à proteção
sobre o dano induzido na mucosa pela DSS - ou através dos mecanismos que
envolvem a ação dos componentes do sistema imunológico ou dessa possível ação
protetora direta.
Ana Katarina Andrade Silva 72
7. CONCLUSÕES
7.1 – A fucana extraída da alga Spatoglossum schroederii, tratada
intravenosamente, foi capaz de reduzir a formação do exsudato peritoneal e inibir a
migração celular para a cavidade peritoneal de camundongos induzida por zimosan,
observada 6, 24 e 48 horas após o tratamento.
7.2 – No modelo murino que mimetiza a síndrome da disfunção múltipla de órgãos
em humanos, a fucana de S. schroederii, embora não tenha atuado na redução da
toxicidade sistêmica induzida por zimosan, foi capaz de atenuar a perda de peso,
assim como a migração celular para cavidade peritoneal; levou à diminuição da
concentração de IL-6 no soro e no exsudato peritoneal, bem como o dano hepático
ocasionado pelo choque não séptico, através dos níveis séricos das transaminases
hepáticas e análise histopatológica.
7.3 – Através do modelo de colite induzida por DSS, a fucana de S. schroederii foi
capaz de atenuar a perda de peso, reduzir os níveis de IFN- e IL-17 obtidas em
sobrenadante de cultura de intestino, além de reduzir o dano intestinal de
camundongos submetidos a essa patologia.
7.4 – De modo geral, pode-se concluir que de acordo com os resultados
apresentados, a fucana extraída da alga S. schroederii apresentou promissora
atividade imunofarmacológica, demonstrando assim significativa ação protetora anti-
inflamatória nos distintos modelos estudados, com perspectivas sobre sua possível
ação como fármaco terapêutico desde que novos estudos revelem o entendimento
do mecanismo de ação desse biopolímero sulfatado.
Ana Katarina Andrade Silva 73
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