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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E SAÚDE DENISE PIRES DE ANDRADE PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo Rio de Janeiro 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E

SAÚDE

DENISE PIRES DE ANDRADE

PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE:

leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo

Rio de Janeiro

2013

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Denise Pires de Andrade

PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM

SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo

Dissertação de mestrado apresentada

ao Programa de Pós-Graduação

Educação em Ciências e Saúde do

Núcleo de Tecnologia Educacional para

a Saúde da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em

Educação em Ciências e Saúde.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho

Rio de Janeiro

2013

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Ficha

elaborada pela Biblioteca de Recursos Instrucionais/NUTES

A553p Andrade, Denise Pires de.

Produção e recepção audiovisual em educação em saúde / Denise Pires de Andrade. – Rio de Janeiro: NUTES, 2013.

120 f. : 21 cm.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Coimbra de Rezende Filho.

Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) -- UFRJ, NUTES, Rio de Janeiro, 2013.

Bibliografia: f. 71-75. 1. Tecnologia educacional. 2. Recursos audiovisuais.

3. Educação em saúde. I. Título. II. Rezende Filho, Luis Antonio Coimbra de.

CDD 372.3

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Denise Pires de Andrade

PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras

de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação Educação

em Ciências e Saúde, Núcleo de

Tecnologia Educacional para a Saúde,

Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como requisito parcial à obtenção do

Título de Mestre em Educação em

Ciências e Saúde.

Aprovado em __________________________________

______________________________________________________

Prof. Dr. Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho – UFRJ

______________________________________________________

Profa. Dra. Rosalia Maria Duarte – PUC-Rio

______________________________________________________

Profa. Dra. Miriam Struchiner – UFRJ

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que com palavras ou silêncios contribuíram para a

realização desta pesquisa. Seus nomes estão aqui para eternizar sua entrada

em cena: à Fátima com sua paciência disfarçada de mau-humor, à Prof. Anaíse

com sua irreverência inconfundível, ao Prof. Strauss, colega de trabalho e

apaixonado pela Filosofia. Ao Prof. Previato sempre simples e atencioso, à

Lenilda, que me apresentou ao NUTES, à Indira, com suas sugestões

pedagógicas, a todos os meus colegas de turma em especial Ana Carla Beja,

Rachel Mariano e Célia Patriarca, com as quais divido inquietações sociais e

existenciais. Aos meus colegas de Laboratório: Marcus, Américo, Inês, Heloisa,

Wagner, Dayane, Alinne e Julianne. Ao professor Luiz Rezende.

Aos meus colegas de trabalho: Iolanda, João, Ronaldo e Gil.

Agradeço à Viviane que se tornou além de parceira de academia, uma

amiga para a vida. À Geruza, uma amiga que o carnaval me trouxe de

presente, à Taís que faz me sentir adolescente. Agradeço à Sheila Lins, que

me dá esperança com seu trabalho. À Teresa e aos meus amigos do IBDD. À

Bruna que me lembra muito a mim mesma. Agradeço à Ilza e à D.Elza pelos

sábados e pelas histórias. À Adriana e nossas diferenças que nos fazem

crescer. Agradeço à Mara que tem a gargalhada mais sincera que já vi.

Agradeço aos novos amigos: Junior, Marcelo e à turma do curso de cinema

que me lembraram que ainda sei atuar. Aos meus amigos de Impro liderados

por Cláudio Amado que nos lembra sempre: “a história só vai pra frente quando

todos trabalham juntos”. Agradeço aos meus amigos palhaços e ao mais

inadequado deles, Marco Andrade. Agradeço também à Vitor Pordeus e aos

meus novos amigos do Hotel e do Spa da Loucura, da Universidade Popular de

Arte e Ciência, e, do Norte Comum onde me sinto em casa para experimentar

as paixões alegres do afeto incondicional. Ocupa Nise! Evoé!

A meu pai, Sr. Francisco, esse cara que é antes de tudo um forte, de

quem herdei a persistência que às vezes nos faz parecer inflexíveis.

À Djair que me inspira diariamente a caminhar.

E à Luizim pelo carim dos Girassóis da Rússia.

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EPÍGRAFE

Estamos todos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo.

Cora Coralina

o homem ordinário inventa o cotidiano com mil maneiras de “caça não autorizada,

escapando silenciosamente à conformação.

Michel de Certeau – A invenção do cotidiano.

Do princípio de incompletude de todos os saberes decorre a possibilidade de diálogo e

de disputa epistemológica entre os diferentes saberes. O que cada saber contribui

para esse diálogo é o modo como orienta uma dada prática na superação de uma

certa ignorância. O confronto e o diálogo entre os saberes é um confronto o e um

diálogo entre diferentes processos através dos quais práticas diferentemente

ignorantes se transformam em práticas diferentemente sábias.

Boaventura de Souza Santos

Conhecimento Prudente para uma Vida Decente (2006)

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RESUMO

ANDRADE, Denise Pires de. PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um

vídeo educativo. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação

em Ciências e Saúde). Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

Esta pesquisa propõe uma reflexão sobre a produção de sentido de

jovens produtores de audiovisual para a Educação em Saúde de integrantes do

projeto de educação não formal “Rede de Adolescentes Promotores da Saúde”

– RAP da Saúde. Para isto foram realizadas análises de suas leituras acerca

do vídeo educativo “Tuberculose: um perigo real” produzido pelo Núcleo de

Tecnologia Educacional para a Saúde da UFRJ (NUTES). A metodologia

utilizada foi a Análise Fílmica Francesa na abordagem teórica de Vanoye &

Goliot-Lété (1994) e a Análise das Posições de Leitura do modelo

multidimensional de Hall/Schrøder (2003), em três de suas dimensões, a saber:

Compreensão, Discriminação e Posição. Os resultados mostram as reflexões

destes jovens sobre o vídeo produzido quanto à forma e ao conteúdo. Conclui-

se que esses jovens têm um olhar sensível para as questões abordadas em

virtude de sua experiência em um projeto não formal de Educação em Saúde e

sua relação com a produção audiovisual o que ratifica a premissa de se

considerar as referências culturais e o contexto social dos atores pesquisados.

Palavras-chave: Recepção Audiovisual; Educação em Saúde; Jovens.

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ABSTRACT

ANDRADE, Denise Pires de. PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um

vídeo educativo. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação

em Ciências e Saúde). Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

This research proposes a reflection about the sense production from

young producers of audiovisual for Health Education to members of the non-

formal education project “Rede de Adolescentes Promotores da Saúde” - RAP

da Saúde. For this, it was performed analysis on their readings of the

educational video " Tuberculose: um perigo real" produced by the Núcleo de

Tecnologia Educacional para a Saúde da UFRJ (NUTES). The methodology

used was the French Filmic Analysis on the theoretical approach of Vanoye &

Goliot-Lété (1994) and the Positions and Reading Analysis of the

multidimensional model of Hall / Schrøder (2003), in three dimensions, namely:

Comprehension, Discrimination and Position. The results show their reflections

about the video produced regarding its form and content. We concluded that

these young people have a sensitive view to the issues raised by their

experience in a non-formal project of Health Education and its relation to the

audiovisual production, what confirms the premise of considering the cultural

references and social context of actors surveyed.

Key-words: Audiovisual Reception; Health Education; Youth.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

BISS – Body Image State Scale

CEDAPS – Centro de Promoção da Saúde

CIEP – Centro Integrado de Educação Pública

CINEDUC Cinema e Educação

DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis

DSS – Determinantes Sociais de Saúde

FAETEC – Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro

FUNARTE – Fundação Nacional de Arte

GERAES – Grupo de Estudos de Recepção Audiovisual para Educação em

Ciências e Saúde

INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo

LVE - Laboratório de Vídeo Educativo

NUTES – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

ONG – Organização não governamental

PROSAD – Programa de Saúde do Adolescente

RAP da Saúde – Rede de Adolescentes Promotores da Saúde

SMSDC – Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil

UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

UPA - Unidade de Pronto Atendimento

UPAC – Universidade Popular de Arte e Ciência

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 13

3 A PRODUÇÃO E A RECEPÇÃO AUDIOVISUAL .............................................. 18

3.1 A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL PARA EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL: UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO ............................................... 18

3.2. PESQUISAS EM RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE .............................................................................................................. 21

3.3 REFERENCIAL TEÓRICO: ANÁLISE FÍLMICA E O MODELO MULTIDIMENSIONAL DE ANÁLISE DE RECEPÇÃO ...................................... 24

4 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL, SAÚDE E CULTURA ........................................... 31

5 OBJETIVOS ....................................................................................................... 36

5.1 GERAL ......................................................................................................... 36

5.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................. 36

6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 37

6.1 PRODUÇÃO: ............................................................................................... 37

6.1.1 Relatório NUTES ................................................................................... 37

6.1.2 Análise fílmica ....................................................................................... 38

6.1.3 Entrevista com o produtor do vídeo “Tuberculose: um perigo real” ....... 39

6.2 RECEPÇÃO ................................................................................................. 39

6.2.1 Questionário sociocultural ..................................................................... 39

6.2.2 Estudo da recepção fílmica ................................................................... 40

6.2.3 Entrevista em profundidade com um integrante do RAP da saúde ....... 40

6.2.4 Análise das dimensões de leitura .......................................................... 41

6.2.5 Cenário da pesquisa ............................................................................. 41

7 RESULTADOS ................................................................................................... 47

7.1 RELATÓRIO DO PROJETO DE PRODUÇÃO DO VÍDEO .......................... 47

7.2 ANÁLISE FÍLMICA “TUBERCULOSE: UM PERIGO REAL” ........................ 47

7.3 ENTREVISTA COM O PRODUTOR DO VÍDEO “TUBERCULOSE: UM PERIGO REAL” ................................................................................................. 53

7.4 PERFIL SOCIOCULTURAL ......................................................................... 54

7.5 GRUPO DE DISCUSSÃO ............................................................................ 58

7.6 ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE COM UM INTEGRANTE DO RAP DA SAÚDE ........................................................................................................ 62

8 DISCUSSÃO DE RESULTADOS ....................................................................... 64

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 69

10 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 71

APÊNDICES .......................................................................................................... 75

Apêndice I – Análise Fílmica - Tuberculose: Um Perigo Real............................ 76

Apêndice II – Glossário de termos técnicos utilizados na análise fílmica. ......... 90

Apêndice III – Entrevista com o produtor do vídeo ............................................ 91

Apêndice IV - Entrevista em profundidade......................................................... 96

Apêndice V – Transcrição do Grupo de Discussão .......................................... 99

Apêndice VI - Roteiro de Grupo de Discussão ................................................ 111

Apêndice VII – Questionário Sociocultural ....................................................... 112

Apêndice VIII - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................... 115

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ANEXOS ............................................................................................................. 116

Anexo I – Ficha Técnica Vídeo – Tuberculose: Um Perigo Real ..................... 117

Anexo II – Ficha Completa do VTE .................................................................. 120

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1 INTRODUÇÃO

A reflexão sobre os processos de produção e recepção midiática passou

a fazer parte de meus estudos acadêmicos a partir do final dos anos de 1990

quando entrei na Universidade. Como bolsista de Iniciação Científica do

Laboratório de Mídia e Política do Departamento de Ciência Política do Instituto

de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, participei de discussões acerca das

relações entre o processo eleitoral ocorrido em 1989 e os conteúdos veiculados

pela TV brasileira nesse período. Apontada como responsável pela criação do

“Fenômeno Collor” por meio da “manipulação” da informação, a grande mídia

(TV e rádio) era tema de diversas pesquisas deste laboratório que dentre

outras atividades analisava a cobertura realizada pelas emissoras de TV do

movimento que ficou conhecido como “Campanha pelas Diretas Já”. O estudo

de autores como Jesús Martím-Barbero (1997) que forneciam suporte teórico à

compreensão dos processos pelos quais os espectadores recebem e

reelaboram os diversos conteúdos exibidos pela mídia - iniciou o caminho para

a pesquisa sobre a programação televisiva naquele momento histórico e

acendeu a fagulha que a experiência como atriz alimentaria.

Conciliei durante três anos a rotina universitária com as aulas diárias da

Escola de Formação de Atores Martins Penna1, onde estudava teóricos e

dramaturgos e pensava sobre como o público se apropria daquilo que assiste.

Como ele reinterpreta uma peça de teatro, um filme ou a programação da TV?

Ao estudar a História do Teatro e pesquisar autores de diferentes

correntes estéticas – do Realismo de Ibsen ao Expressionismo de Wedekind ou

ainda o “teatro épico” de Brecht e o Absurdo de Ionesco – além de assistir a

filmes como Um Cão Andaluz, de Luiz Buñuel, Metrópolis de Fritz Lang e o

brasileiro Limite de Mário Peixoto – foi possível refletir sobre os processos de

reinterpretação ou recriação artística a partir das referências culturais que

forjam o olhar de cada autor.

Durante o curso de Licenciatura em Ciências Sociais realizado na

Faculdade de Educação da UFRJ as disciplinas que compunham a grade

curricular, em especial a Sociologia da Educação, redesenhava o

1 Escola ligada até 2009 à Fundação Nacional de Arte – FUNARTE e a partir de então à

Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro – FAETEC.

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questionamento: a partir daquele momento em vez de um público genérico o

interesse era sobre o estudante e sua relação com a mídia. Como o jovem se

relacionava com os conteúdos que recebia da TV que era muitas vezes sua

única fonte de informação?

Os questionamentos suscitados pelo estudo de textos de Ciências

Sociais e Arte foram se intensificando e tornaram-se uma questão de pesquisa

quando assisti ao filme “Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do

lado de cá”. No documentário de oitenta e nove minutos dirigido em 2001 por

Silvio Tendler o sociólogo Milton Santos discorre sobre “uma multiplicidade de

fenômenos de baixo” (TENDLER, 2001, 0:51:54 m’). As diversas experiências

de apropriação e utilização de recursos digitais por moradores de regiões

pobres do Brasil apresentadas no filme me instigaram a estudar as percepções

dos espectadores sobre a produção audiovisual. Minha atenção se concentrou

especialmente nos jovens moradores de regiões periféricas da cidade do Rio

de Janeiro, comunidades ou favelas que a partir da popularização dos meios

de produção e veiculação de conteúdo, artístico ou não, se tornaram

produtores.

A partir do ingresso no Programa de Pós-graduação do Núcleo de

Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) a questão de pesquisa foi se

construindo no sentido de se buscar compreender a experiência do jovem com

o audiovisual em um projeto de educação em saúde. Assim optou-se por

investigar a produção de sentido de jovens produtores de audiovisual sobre um

vídeo educativo que aborda questões de saúde. A partir das discussões com

os colegas pesquisadores do Grupo de Estudos de Recepção Audiovisual em

Ciências e Saúde - GERAES – defini o referencial teórico que guiou a

pesquisa. O modelo multidimensional de estudo de recepção de Schrøder com

suas dimensões de leituras foi o suporte epistemológico para as reflexões

realizadas.

Dessa forma, aliando tal compreensão do fenômeno com o campo de

pesquisa, a Rede de Adolescentes Promotores da Saúde (RAP da Saúde) 2 se

tornou o grupo estudado, por se tratar de um projeto de educação não formal

que utiliza a produção audiovisual como um recurso para a Educação em

2 A aproximação com o RAP da Saúde deu-se em função deste configurar-se como um

projeto da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro com jovens moradores de comunidades da cidade.

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Saúde com jovens moradores de comunidades do Rio de Janeiro. O trabalho

desenvolvido no RAP da Saúde possibilita o estudo dos processos pelos quais

esses jovens compreendem conteúdos classificados como educativos e a

reflexão sobre suas atitudes de adesão ou resistência a esses materiais.

Para melhor compreensão desta pesquisa, a presente dissertação foi

estruturada da seguinte forma: Justificativa, a Produção e a Recepção

Audiovisual, Objetivos, Procedimentos Metodológicos, Resultados, Discussão e

Considerações Finais.

Na primeira parte apresento a justificativa e, em seguida, um breve

panorama histórico da Educação em Saúde no Brasil por meio do Audiovisual.

Problematizo a criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo – INCE –

quando o poder público iniciou o processo educativo que, de acordo com o

pensamento da época, iria promover os hábitos adequados para a boa saúde

do trabalhador – o símbolo da nação brasileira - bem nos moldes do regime

ditatorial varguista. O desenvolvimento tecnológico ampliou e a diversificou os

centros de produção audiovisual fazendo com que as Universidades se

destacassem nesse processo. Recentemente, as experiências de produção

audiovisual em projetos não formais de educação alteraram profundamente a

relação dos jovens com os meios. Sobre a Recepção Audiovisual, apresento

pesquisas sobre a Recepção Audiovisual em Educação em Saúde, realizadas

nos últimos dez anos e as perspectivas teóricas que as guiaram.

Em seguida, os Objetivos e os Procedimentos Metodológicos dessa

pesquisa, seguidos das descrições das informações coletadas no campo e das

discussões desses resultados. A partir dessas análises é possível observar a

relação que os jovens pesquisados têm construído com o audiovisual e como

compreendem os conteúdos para educação em saúde a partir de suas

experiências e referências culturais.

As Considerações Finais foram desenvolvidas a partir das análises

sobre as leituras dos jovens: suas escolhas, preferências e atitudes

atravessadas por seu contexto social e os aspectos culturais de seu meio.

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2 JUSTIFICATIVA

A familiaridade é a marca da relação do jovem brasileiro com o

audiovisual, pois ele convive diariamente com produções de diversos veículos

(TV, cinema, Internet, etc). Para Fisher (2008), a televisão – meio de produção

audiovisual de maior alcance no país - é parte indiscutível do cotidiano: ela

existe como necessidade, presença, lazer e companhia, como se operasse

como uma grande mãe cultural, plenamente acolhedora. Essa mãe cultural

existe não só como lazer e distração: existe para ocupar um importante lugar

de “proteção”. De acordo com Alegria (2005), durante grande parte de sua

existência, “a televisão foi um meio de comunicação autoritário, na medida em

que pressupunha e exigia um público passivo, imobilizado na sala de estar

diante da telinha”. No entanto, a partir do final da década de 1990 e

principalmente nos anos 2000 essa relação familiar sofreu uma transformação

definitiva: o público passou a produzir e difundir, por meio da Internet diversos

conteúdos. Para Alegria (2005) e Miranda, (2007), nunca foi tão fácil com aval

das novas tecnologias, produzir e veicular músicas, ter sua página de Internet,

ou mesmo, sua própria TV. Em menos de uma década a distância entre

produção e consumo encurtou-se consideravelmente.

Nunca foi tão fácil e barato gravar imagens, editar essas imagens na forma de uma mensagem, associando a ela sons e informações gráficas. Nunca foi tão fácil gravar um disco, criar e difundir para milhares de pessoas ao mesmo tempo mensagens textuais, visuais e sonoras (ALEGRIA, 2005, p.02).

A popularização do uso das novas mídias digitais em função do

barateamento de seus custos a partir do início do século XXI possibilitou uma

autonomia na produção e circulação de informações e conteúdos sem

precedentes. Simultaneamente, a expansão da Internet engendrou novas

configurações de consumo e produção estreitando os laços entre as atividades

de recepção e expressão nos ambientes movidos pela informática. Essa

sociedade em rede suscitou diversas questões, entre as quais, no campo da

Educação, estão a aquisição da capacidade intelectual de aprender a aprender

ao longo de toda a vida e o debate em torno de uma “nova pedagogia” baseada

na interatividade e na personalização (COCCO, GALVÃO & SILVA. 2003;

CASTELLS, 2003). As transformações na relação entre o espectador e a mídia

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podem ser verificadas por meio do mapeamento realizado por Toledo (2010)

que mostra o volume crescente da produção de vídeos realizados em espaços

de educação não formal. Tais vídeos são produzidos por jovens integrantes de

“entidades e projetos que promovem gratuitamente, e para públicos

historicamente excluídos socialmente, o ensino dos meios de realização

audiovisual” (TOLEDO, 2010, p. 56).

Já no final da década de 1990 era possível verificar o destaque

conferido por documentos oficiais à importância da atuação de instituições não

escolares para a ampliação das possibilidades do aprender. Como essas

instituições em virtude de suas próprias metodologias específicas - que nascem

a partir da “problematização da vida cotidiana” (GOHN, 2010. pág. 46) -

poderiam colaborar no sentido de fornecer subsídios a um educando autônomo

na construção e gestão de seu conhecimento aprendido em um cotidiano cada

vez mais informatizado e midiatizado. Em 1998 foi publicado o Relatório

“Educação: Um Tesouro a Descobrir” da Comissão Internacional sobre

Educação para o século XXI a pedido da UNESCO, cujo texto assinado por

quatorze especialistas em educação de todas as regiões do mundo destacava

a importância a ser dada

ao fato destas novas tecnologias estarem gerando, sob os nossos olhos, uma verdadeira revolução que afeta tanto as atividades ligadas à produção e ao trabalho como as ligadas à educação e formação” (UNESCO, 1998).

O relatório ressaltava em vários de seus artigos questões referentes ao

desenvolvimento da informação e às implicações sociais e educativas que as

novas tecnologias provocavam. Este documento enfatizava que começava

então a surgir nas salas de aula novos tipos de relacionamento entre professor

e estudante uma vez que esta constitui o cerne do processo pedagógico

também em processos educativos “extra-escolares” (UNESCO, 1998).

O processo de apropriação dos meios de produção audiovisual por

jovens integrantes de projetos não formais de educação apresentado por

Toledo (2010) alimentou o questionamento sobre as mudanças que estão

ocorrendo na relação do jovem com o audiovisual. Como produtores de

conteúdos audiovisuais, quais seriam suas leituras sobre um vídeo educativo?

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Como veem e se posicionam a respeito do teor e dos recursos utilizados na

produção desses vídeos?

Em virtude do trabalho que desenvolve junto aos jovens de diversas

comunidades da cidade do Rio de Janeiro, o projeto Rede de Adolescentes

Promotores da Saúde – o RAP da Saúde foi escolhido para essa pesquisa.

Uma de suas atividades é a oficina de produção audiovisual como meio de

levantar discussões sobre questões de saúde com o público jovem. Em sua

pesquisa sobre o RAP, Culpti (2010) assinala que, na maioria das vezes, o

jovem só procura os serviços de saúde quando quer se prevenir de doenças

sexualmente transmissíveis ou vive a experiência de uma gravidez precoce. –

A escolha por este campo investigativo, qual seja, a comunidade da Rocinha,

permitiu a problematização do uso do audiovisual em espaços que sofrem com

a falta de investimentos em políticas públicas de diversas áreas, tais como

saúde, educação e saneamento básico e, até há menos de uma década não

tinham qualquer acesso a meios de produção audiovisual.

Então surgiu a questão: como integrantes do Projeto RAP da Saúde

veem o vídeo “Tuberculose: um perigo real”? Esse vídeo foi escolhido em

função de seu conteúdo abordar questões relativas à tuberculose que vão além

de seu quadro epidemiológico ampliando o escopo da discussão para o

contexto social da doença. Suas cenas mostram, por meio do protagonista, as

dificuldades de acesso da população aos serviços de saúde pública, a falta de

medicamentos nas farmácias dos postos de saúde, a relação médico-paciente,

a falta de informação e o preconceito.

Descoberta no século XIX, a tuberculose é uma doença infecto-contagiosa

causada por uma bactéria (Bacilo de Koch) que afeta principalmente os

pulmões e foi declarada em 1993, pela a Organização Mundial da Saúde

(OMS) como emergência mundial. Seus índices oscilam de acordo com o

incremento ou a retração de políticas públicas de promoção da equidade social.

A precarização dos serviços públicos, como os da área de saúde, contribuiu

grandiosamente para a volta de endemias e agravamento de doenças que já

estavam controladas (SOARES, 2002). O Brasil é um dos 22 países priorizados

pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nas ações de prevenção à doença,

porque está no grupo de nações que concentra cerca de 80% dos casos de

tuberculose em todo o mundo.

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Na Rocinha o número casos de tuberculose ultrapassa os índices

permitidos pela Organização Mundial da Saúde – OMS. Tal quadro levou

Alexandre Chieppe, sanitarista e superintendente de Vigilância Epidemiológica

e Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde, a escrever em artigo publicado

pelo jornal O Globo em 25 de novembro de 2011:

O estado do Rio de Janeiro, a despeito dos inúmeros avanços obtidos recentemente nas ações de prevenção e tratamento, é o estado da Federação com o maior coeficiente de incidência de tuberculose. Dados de 2010 revelam a ocorrência de mais de 70 casos para cada 100.000 habitantes, com a ocorrência de 815 óbitos (taxa de mortalidade de 5,1 a cada 100.000). Na comunidade da Rocinha temos um dos piores resultados e uma das maiores taxas de tuberculose no mundo. A incidência da doença na Rocinha em 2010 foi de 386,7 casos por 100.000 habitantes. Isto reforça a tese de que o controle da tuberculose deve englobar necessariamente a correção das desigualdades decorrentes das condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham

(http://www.rj.gov.br/web/ses/exibeconteudo?articleid=690498 2011).

A tuberculose é uma das doenças que guardam estreita relação entre

sua incidência e os Determinantes Sociais de Saúde (DSS), que segundo o

Ministério da Saúde (2012) se referem às condições socioeconômicas,

ambientais e às referências culturais de determinada sociedade. Estes

aspectos relacionam-se, intrinsecamente, com as condições de vida e trabalho

dos membros que a compõem: habitação precária, ambiente de trabalho

desfavorável, saneamento e serviços de saúde ausentes ou falhos, educação

deficitária, incluindo também a trama de redes sociais (MS, 2012).

Recentemente alguns espaços possibilitam a valorização dos saberes

populares, comunitários, e costumes tradicionais em prol da saúde (SMSDC,

2011).

Os jovens do projeto RAP da Saúde levam para as oficinas temas que

do seu cotidiano e as questões relativas à tuberculose e, os DSS são

recorrentes em virtude de sua experiência com familiares ou amigos

acometidos pela tuberculose. Campanhas e eventos para o esclarecimento

sobre o diagnóstico e tratamento da tuberculose são frequentes em com ações

em diversos espaços da comunidade.

Assim sendo, esta pesquisa, tal como aponta Gohn (2011), visa

conhecer a voz ou as vozes dos sujeitos, emocionadas e expressando os

pensamentos e desejos. Também pretende estar alinhada ao pensamento

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freireano para quem é fundamental que a prática educativa se dê em uma

relação dialética com o ambiente em que vive o educando (FREIRE, 2011).

Entende-se que a busca pela compreensão dos processos de produção

de sentido acionados por jovens integrantes do projeto RAP da Saúde, cuja

experiência com o audiovisual se situa na relação de espectadores-produtores,

permite investigar como “um sujeito social dotado de valores, crenças, saberes

e informações próprios de sua (s) cultura(s) interage de forma ativa, na

produção dos significados da mensagem” (DUARTE, 2009).

Portanto, essa pesquisa se caracteriza por abordar questões que se

complementam no sentido de compreender o olhar desses jovens sobre o

audiovisual, sua utilização como recurso educativo e sobre sua própria atuação

como protagonista na promoção da saúde. Assim, pretende contribuir, dentro

de seus limites, para ampliar a reflexão sobre essas temáticas.

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3 A PRODUÇÃO E A RECEPÇÃO AUDIOVISUAL

3.1 A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL PARA EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO

BRASIL: UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO

A crença em um projeto de educação salvacionista concebido para a

introjeção de práticas e hábitos sanitários modernos em um país com milhões

de analfabetos, diverso geográfica, cultural e etnicamente foi a base da criação

do Instituo Nacional de Cinema Educativo – INCE - em março de 1936.

Resultante dos esforços de educadores do movimento escolanovista, de

intelectuais e de políticos este Instituto pretendia veicular informação e

aprendizagem para públicos diferentes: desde estudantes de escolas primárias

até trabalhadores em suas associações profissionais.

Implementado em pleno Estado Novo e inspirado nas experiências dos

regimes ditatoriais alemão e italiano, o INCE foi o primeiro projeto brasileiro de

educação por meio da produção de conteúdo audiovisual e criado não por

acaso pelo Ministério da Educação e Saúde, que reunia essas duas áreas

naquele momento de fortalecimento das concepções eugênicas. Segundo

SCHVARZMAN (2004), “melhorar o homem, na sua saúde, suas qualidades

morais e aptidões intelectuais para fazer dele um eficiente trabalhador” por

meio da educação e da cultura, sintetizava os objetivos do INCE que estavam

baseados em uma mentalidade saneadora e prescritiva de transmissão de

conhecimento de alguns detentores do saber para grupos de incultos carentes

de orientação e tutela (op.cit. p. 197).

Durante seus trinta anos de existência, o INCE desenvolveu diversas

atividades, entre elas a exibição, remessa e assistência às escolas e

instituições de todo país. O INCE produziu aproximadamente quatrocentos

filmes, dos quais trezentos e cinquenta e sete sob o comando de Humberto

Mauro, que esteve à frente do órgão desde a criação até sua aposentadoria,

quando o Instituto perdeu seu caráter exclusivamente educativo e foi absorvido

pelo INC – Instituto Nacional de Cinema em 1967. Apesar da concepção

saneadora e diretiva da época Mauro, conseguiu realizar filmes que fugiam à

ótica prescritiva das diretrizes oficiais e que primavam pelos pressupostos

construtivistas de aprendizagem (GRUZMAN & LEANDRO, 2005). Primeiro

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representante do Brasil em um congresso cinematográfico internacional no

Festival de Veneza, em 1938, Humberto Mauro é considerado precursor do

neorrealismo por ter mostrado, já em 1935 o morro carioca em “Favela dos

Meus Amores”.

A trajetória da produção audiovisual com finalidades educativas é

marcada pelo desenvolvimento dos Centros Universitários na década de

setenta quando vídeos com propósitos de divulgação científica eram

realizados. Essas experiências de produção audiovisual universitária são

posteriores a propostas de TV’s Educativas – a TV USP (Universidade de São

Paulo) inaugurada em 1969 – quando objetivo era a exibição do vídeo como

auxiliar de ensino em sala de aula e Universidade Federal de Pernambuco - a

primeira televisão educativa do Brasil, em 1968, com a finalidade de “ampliar

os horizontes da educação, arte e cultura pernambucana e nordestina”

(BORTOLIERO, 2002).

Segundo a autora, instituições como a Universidade Estadual de

Campinas (UNICAMP) têm papel importante e seu Laboratório Interdisciplinar

para Melhoria do Ensino e Currículo (LIMEC), criado no Instituto de Matemática

da Universidade, ratificando seu caráter interdisciplinar, produziu diversos

programas na área de Saúde.

A UNICAMP, por meio de seu Centro de Comunicação, chegou a

compor um acervo de quinhentos títulos com registros de acontecimentos

importantes da história brasileira como o acidente nuclear de Goiânia em 1987

e o assassinato do seringueiro e ambientalista Chico Mendes em 1989.

Na década de oitenta, havia um total de vinte centrais de produção de

vídeos nas universidades a maioria na região Sudeste, onde também estavam

as centrais mais bem equipadas para elaboração de material educacional e

científico.

Bortoliero (2002) descreve o desenvolvimento dos recursos técnicos

desde os anos de 1950, com a criação do “primeiro gravador de fita de vídeo

utilizado pela BBC na Inglaterra” e destaca os anos entre as décadas de 1970

e 1980 como decisivos para esse desenvolvimento apontando o surgimento

dos sistemas U-matic da Sony e Betacam como desencadeadores de um

incipiente processo de barateamento de gravação de vídeos (BORTOLIERI,

2002).

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Temos quase 50 anos de evolução tecnológica no campo da imagem e do som. No Brasil, as diversas formas de aplicação do vídeo nos anos 80, modificaram o cotidiano, facilitaram discussões e debates sobre problemas nacionais, permitiram maior acesso à cultura popular, geraram maior incentivo à produção independente, maior participação nas emissoras abertas e se tornaram fundamentais para a democratização do saber científico, permitindo o acesso de um número maior de pessoas ao conhecimento (op.cit p.02).

Entre os mais antigos centros universitários de produção de vídeo está o

Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, criado em 1972, como

Unidade Suplementar do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com financiamento de organismos

internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização

Pan-Americana de Saúde (OPAS).

Durante seus quase quarenta anos de existência o NUTES por meio de

seu Setor Audiovisual, protagonizou a produção de material instrucional a fim

de utilizá-lo no ciclo básico dos cursos de graduação com o objetivo de auxiliar

na formação dos futuros profissionais da área de saúde (PRETTO, 2009).

Em 1993 o Setor Audiovisual desmembrou-se em Laboratório de Vídeo

Educativo e Programação Visual, este último com trabalhos que incluíam

fotografia e arte (Relatório de Atividades do LVE/NUTES, 1994-1995). O LVE

tem, entre suas diretrizes, recuperar o acervo de imagens na área da Educação

em Saúde e desenvolver linhas de pesquisa sobre produção e recepção

audiovisual.

Atualmente, esse laboratório conta com um acervo de mais de duzentas

produções tendo sido o único com concentração preferencial sobre a área das

Ciências da Saúde até o final dos anos 1980 (BORTOLIERI, 2002). É

considerado modelo por “sua especificidade de seu trabalho da e para a saúde”

(PRETTO, 2009).

A importância histórica do acervo de centros de produção audiovisual

para a Educação em Saúde como o NUTES torna fundamental o estudo de

suas obras e o crescimento de experiências audiovisuais por jovens em

projetos não formais de Educação em Saúde possibilitadas pelas inovações

técnicas conduz a uma investigação que priorize o olhar desses sujeitos.

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3.2. PESQUISAS EM RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM

SAÚDE

O procedimento de coleta de artigos foi realizado da seguinte forma: no

primeiro momento foram realizadas buscas no portal CAPES utilizando-se os

seguintes termos de modo independente: “recepção”, “mídia”, “audiovisual”,

“educação em saúde”. Em seguida, na intenção de contextualizar a Recepção

Audiovisual em Educação em Saúde, a partir do ano de 2002, foram escolhidos

cinco artigos científicos na base Scielo. Desse material, dois deles referem-se a

artigos internacionais e, os restantes a pesquisas realizadas no Brasil. Os

artigos encontrados mostram como as pesquisas realizadas compreendem os

processos de recepção audiovisual em saúde.

Watson et al. (2003) realizaram na Austrália, uma pesquisa por meio de

16 grupos focais com 117 estudantes do Ensino Médio a respeito de imagens

impressas e audiovisuais sobre o fumo. Foi desenvolvida uma escala

semântica (AMOS et al, 1998), na qual as respostas dos sujeitos foram

agrupadas em quatro categorias distintas: aceitação social, atributos de saúde

física, atributos de humor e atributos de aparência ou imagem. Os resultados

mostraram que os jovens investigados perceberam o fumo nestas mídias

selecionadas como normal e aceitável. Embora estes jovens tenham

demonstrado perceber os males ocasionados pelo fumo, eles se identificaram

com as mensagens veiculadas por meio de imagens positivas do hábito de

fumar: alívio do stress e aspectos sociais e viram o ato de fumar como algo

“legal”. Na Inglaterra, Bell & Dittamar (2011) realizaram uma pesquisa

evolvendo 199 meninas adolescentes com idades entre 14 e 16 anos a respeito

de suas a percepções sobre a idealização de um corpo perfeito. Para analisar a

insatisfação relacionada ao peso do corpo, foi utilizada uma versão padrão de

tratamento do Estado de Aparência Física (PASTAS; REED et al.1991). Esta

versão é uma escala que mede o efeito negativo associado ao controle de

peso. A insatisfação relacionada à aparência foi medida utilizando o Body

Image State Scale (BISS; Bell et al, 2007), que mensura a insatisfação não

apenas com o próprio corpo, mas também com a aparência em geral. Após

serem expostos a imagens que idealizavam o corpo perfeito os sujeitos da

pesquisa demostraram significativamente uma maior insatisfação com a

aparência de acordo com os resultados desta pesquisa.

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Quanto aos artigos brasileiros, Roso (2000) realizou um estudo de

recepção com 38 mulheres pobres com idades entre 18 e 51 anos. Durante a

pesquisa foram exibidas sete propagandas de prevenção da AIDS (Síndrome

de Imunodeficiência Adquirida) que eram veiculadas na televisão. A abordagem

é qualitativa, empregando a hermenêutica de profundidade, que enfatiza os

aspectos ideológicos dos meios de comunicação de massa e a teoria feminista,

que coloca a mulher no centro de seus estudos, a fim de investigar a ideologia

e as relações de gênero que perpassam as mensagens das propagandas. Os

resultados desta pesquisa mostraram diferenças nas percepções dessas

mulheres em relação ao que assistiam. Segundo o autor, as mulheres que

participavam de grupos de discussões sobre AIDS/HIV viam, nestas

mensagens a voz da ideologia que operava através de uma variedade de

estratégias para criar e estabelecer relações de dominação. Enquanto as

mulheres que não participavam de tais debates concordaram e se identificaram

com a maioria das mensagens e imagens das propagandas. Para os dois

grupos de mulheres, a televisão é uma importante fonte de informações

relacionadas à AIDS, embora elas acreditem que as propagandas não

estimulam o uso do preservativo.

Alencar et al. (2010) realizaram uma pesquisa quali-quantitativa a

respeito da recepção de estudantes do Ensino Médio sobre as campanhas

antidrogas veiculadas na mídia nacional. Para analisar os dados, a pesquisa

utilizou o referencial da teoria funcionalista desenvolvida pela Escola norte-

americana. Os resultados deste estudo apontaram para o que foi classificado

como uma “clara manipulação dos meios de comunicação de massa”, nos

quais a publicidade interfere na vida dos cidadãos e fazem com que eles

consumam produtos que pareçam garantir satisfação ou qualidade de vida

(op.cit. grifo nosso).

Minuzzi & Crus (2010) realizaram um estudo a respeito da percepção da

ecopropaganda Hora do Planeta, da Organização Não Governamental WWF,

por estudantes do ensino fundamental e de pós-graduação de diferentes áreas.

Através da mediação da socialidade desenvolvida por Jesús Martin- Barbeiro

(2003), este estudo analisa a relação que a mídia, a escola, a família e a

cotidianidade têm na formação dos valores ecológicos destes estudantes.

Segundo os autores, apesar dos meios comunicacionais e a propaganda, em

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particular, auxiliarem na construção dos valores ecológicos das pessoas, a

reflexão efetiva sobre o tema encontra dificuldades de ser instaurada no

cotidiano desses jovens – talvez porque exija o reconhecimento de falhas

individuais e sugira a mudança de atitudes no dia-a-dia dos indivíduos. As

mensagens e os valores ecológicos transmitidos pela mídia tinham rápida

absorção e rápido esquecimento, o que traria a noção abrangente (mas

superficial) sobre o tema e a conscientização a respeito dos problemas

ambientais.

Ao refletir sobre os resultados dessas pesquisas, foi possível observar

que alguns autores entendem os processos comunicativos em uma relação

linear entre o estímulo audiovisual e as respostas dos receptores que “se

identificaram com as mensagens veiculadas por meio de imagens positivas do

hábito de fumar” (WATSON et al. 2003) e “apresentaram significativamente

uma maior insatisfação com a aparência, após serem expostas a imagens que

idealizavam o corpo perfeito” (BELL & DITTAMAR, 2012). Expressões como “a

clara manipulação dos meios de comunicação de massa” (ALENCAR et al,

2010) revelam o entendimento dos meios de produção dos conteúdos

audiovisuais como agentes onipotentes operando sobre um público que

absorve passivamente, ou seja, um receptor que tem uma reação provocada

sem a possibilidade de reelaboração ou ressignificação.

Segundo esses autores, a emissão de uma mensagem por um meio de

produção (TV, Internet etc) é transmitida e recebida por um receptor passivo e

“manipulável” que “absorve” tal conteúdo. Essas análises guardam

semelhanças com teorias que propõem um esquema linear de PRODUÇÃO ►

MENSAGEM ►RECEPÇÃO sob o pressuposto da neutralidade das instâncias

emissora e receptora em uma abordagem sistêmica ou funcional da informação

(Teoria da Informação) (MATTERLART, 2000 p.60). Ou ainda, concepções que

entendem o “receptor isolado” como um indivíduo subjugado pelos meios de

massa, conforme a Teoria Crítica (MATTERLART, 2000. p.83).

No entanto, é possível que até mesmo a pesquisa que aponta para a

existência de uma “voz da ideologia por trás das mensagens que operava

através de uma variedade de estratégias para criar e estabelecer relações de

dominação” (ROSO, 2000) reconheça que há diferenças na recepção entre “as

mulheres que participavam de grupos de discussões sobre AIDS/HIV” e as que

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não participavam (ROSO, 2000). Tais resultados mostram que nos processos

comunicativos deve-se considerar a importância das relações entre os

integrantes dos grupos aos quais os sujeitos pertencem.

Minuzzi & Crus (2010) se diferenciam em suas análises dos demais

autores citados porque, embora considerem que há uma rápida absorção das

mensagens e dos valores ecológicos transmitidos pela mídia, apontaram o

“rápido esquecimento” em função das possíveis dificuldades de mudança de

atitudes no cotidiano desses jovens. Minuzzi & Crus (2010) adotam a noção de

mediação desenvolvida por Jesús Martin-Barbero (2003), levando em

consideração as relações existentes entre a mídia, a escola, a família e a

cotidianidade na construção das concepções destes jovens.

Assim sendo as análises de Minuzzi & Crus (2010) são as que mais se

aproximam das referências teóricas que embasam esta pesquisa que

considera, assim como Martin-Barbero (2003), que um determinado conteúdo

ao ser recebido não é “absorvido” direta e passivamente por seu espectador,

mas passa por uma série de processos de produção de sentido em que

operam suas experiências cotidianas particulares e específicas, suas relações

afetivas advindas de seu grupo familiar e de suas referências culturais

implementadas em suas práticas sociais. Os significados são construídos a

partir de mediações entre emissores e receptores. Essas mediações incluem

processos de negociação, resistência, oposição, cumplicidade “no qual o

receptor, portanto, não é simples decodificador daquilo que o emissor

depositou na mensagem, mas também um produtor” (MARTÍN-BARBERO,

2008, p.289).

3.3 REFERENCIAL TEÓRICO: ANÁLISE FÍLMICA E O MODELO

MULTIDIMENSIONAL DE ANÁLISE DE RECEPÇÃO

Este trabalho se inscreve sob a perspectiva inaugurada por Stuart Hall

(2003) que operou um deslocamento no núcleo da análise do processo de

produção e consumo dos conteúdos midiáticos. Este autor realizou suas

análises baseado no conceito de hegemonia cultural de Antonio Gramsci e

deslocou o enfoque das pesquisas sobre comunicação até então

predominantemente concentradas em estudar os “meios” (como faziam os

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autores da Escola de Frankfurt3) para os estudos sobre as possibilidades de

um receptor ativo (MATTELART, 1999. p.74). Mas, Stuart Hall também não

realiza suas análises tendo por base a onipotência do receptor em detrimento

do emissor, mas sim as compreende em um processo de circularidade.

Ao contrário das perspectivas hegemônicas, Hall (2003) sugeriu que no

processo comunicativo se articulam momentos distintos, mas interligados de

produção – circulação - distribuição/consumo – reprodução, ou seja, uma

relação estreita de circularidade entre os dois pólos: produção e recepção. De

acordo com Hall (2003), de um lado há a produção (codificação) projetando seu

sentido preferencial - conteúdo com base em um conjunto de concepções,

ideológicas, estéticas: valores, identidades, tradições e visão de mundo que

são codificadas e oferecidas pelos produtores aos seus espectadores.

A produção, além de projetar seu sentido preferencial, tenta conduzir ou

seduzir o receptor para uma leitura preferencial, qual seja, uma decodificação

específica a mais próxima possível do sentido projetado no momento da

produção. Para esse autor, portanto, a produção concebe um sentido

preferencial utilizando recursos para provocar uma leitura preferencial que é a

maneira como o produtor deseja ver sua produção decodificada pelos

receptores.

De outro lado, decodificação assumida pelo receptor pode subverter

essa leitura “preferida”, uma vez que os códigos acionados pelo receptor no

momento da leitura podem ser diferentes dos imaginados pelo produtor. É

claro que os códigos utilizados pelo receptor no momento da decodificação

podem “coincidir” com o sentido preferencial escolhido pelo produtor, mas não

há qualquer garantia de que essa decodificação será exatamente como a

desejada pelo produtor (HALL, 2003).

Essa assimetria entre os momentos de codificação e decodificação, ou

seja, de emissão e recepção, acontece, de acordo com Hall (2003), porque há

diferenças de códigos e referências sociais entre os dois polos, o que, ainda

segundo o autor, gera uma “autonomia relativa” do receptor nos processos

comunicativos, uma impossibilidade de controle sobre a leitura realizada pelo

receptor. Exatamente por reconhecer que há assimetria entre os processos de

codificação e decodificação, Hall (2003) identificou três categorias de análises

3 Entre os estudiosos desta escola, pode-se citar Theodor Adorno, Max Horkheimer,

Walter Benjamin, dentre outros.

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ou tipos de leitura: a) dominante ou hegemônica; b) contestatória ou

oposicional; c) negociada.

A leitura dominante ou hegemônica se caracteriza pela completa

correspondência entre codificação e decodificação. O receptor compreende a

mensagem de maneira muito próxima ao sentido pretendido pela produção. Ele

“adere” integralmente à intenção do produtor. Pode-se dizer que leitura

preferencial e sentido preferencial estão juntos.

Na leitura contestatória ou oposicional não há nenhuma ou quase

nenhuma correspondência entre codificação e decodificação. O receptor

compreende a mensagem de forma inversa à que lhe foi proposta realizando

uma leitura absolutamente distante do sentido preferencial projetado pelo

produtor.

A leitura negociada é, segundo Hall, o tipo de leitura que predomina

entre os espectadores e tem como característica uma correspondência

“adaptada” entre codificação e decodificação. O receptor compreende parte da

mensagem dentro dos parâmetros imaginados pelo sentido preferencial do

produtor, no entanto esse espectador mantém certa distância, criando um

sentido próprio a partir da mensagem recebida.

Esse modelo de análise de Hall (2003) rejeita a concepção unilinear de

transmissão de mensagens fixas entre produtor e receptor e se propõe a

estudar a complexidade dos processos envolvidos na produção de sentido.

De acordo com a concepção de Hall (2003), em que o processo

comunicativo envolve a circularidade entre os dois polos: produção e recepção,

esta pesquisa analisou os materiais relativos à produção e à recepção do vídeo

“Tuberculose: um perigo real”. Para a análise do vídeo “Tuberculose: um perigo

real” foi utilizada a Análise Fílmica Francesa de Vanoye & Goliot-Lété (1994).

Segundo esta abordagem teórica analisar um filme ou um fragmento é

“decompô-lo (...) despedaçar, descosturar, desunir, extrair, separar, destacar e

denominar materiais que não se percebem a ‘olho nu’ pois se é tomado pela

totalidade”. Há ainda uma segunda fase na qual os “elos entre os elementos

isolados são estabelecidos a fim de que se possa compreender como eles se

associam”. Portanto, para a realização de uma análise do texto fílmico existem

duas etapas diferentes e complementares que são a desconstrução,

equivalente à descrição, e a reconstrução, que “corresponde ao que se chama

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com frequência a interpretação”, que é também “situá-lo num contexto” (op.cit,

p.15-23).

A partir do modelo analítico de Stuart Hall - publicado em (1973)

(traduzido para o português em 2003), Schrøder (2000) criou um novo modelo

por entender que era necessário enfatizar não somente as questões

ideológicas das mensagens, como, segundo Schrøder, (2000) Hall fazia.

Schrøder (2000) busca então aprofundar a discussão de questões diversas

como a motivação e a compreensão das mensagens. Ao modelo

unidimensional de Hall (2003), Schrøder propôs o modelo multidimensional

(op.cit) da recepção com o objetivo de abarcar as peculiaridades dos diferentes

aspectos do processo comunicativo. Este autor definiu seis categorias que

norteiam o estudo das diversas formas de leituras empregadas pelo receptor,

segundo suas referências socioculturais. Assim, considera-se que este receptor

tem um papel ativo como produtor de (novos) sentidos a partir do conteúdo

recebido. Esses sentidos produzidos perpassam desde as diversas formas de

leituras realizadas até as atitudes em sua prática social.

Construído a partir dos conceitos de Stuart Hall, o modelo

multidimensional de Schrøder (2000) concebe seis parâmetros ou dimensões

de produção de sentido - divididas em dois grupos: um grupo de “leituras” com

quatro dimensões e um grupo de “implicações” com duas dimensões. Segundo

Schrøder, as dimensões do primeiro grupo - “Leituras” - estão relacionadas a

processos “interiores” de produção de sentido de cada espectador que serão

observados por meio das dimensões de motivação, compreensão,

discriminação e posição. Enquanto que no segundo grupo – “Implicações” - as

dimensões se referem ao potencial de utilização social dos sentidos

produzidos, uma exteriorização de atitudes e comportamentos dirigidos para a

ação em um contexto coletivo e político (op.cit.). Estas dimensões são melhor

detalhadas, a seguir:

Motivação: é a razão pela qual um espectador se dispõe a ver um

filme. O que faz alguém “eleger” determinada mensagem audiovisual

e dedicar-lhe seu precioso tempo? Essa dimensão está intimamente

relacionada a fatores afetivos uma vez que essa “seleção” é baseada

na importância atribuída pelo espectador à relação entre o conteúdo

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assistido e interesses pessoais de diversas naturezas como

afinidades político-ideológicas, religiosas e/ou identidade cultural e

social. Para Schrøder, o espectador pode se posicionar num

continuum entre uma motivação fraca e motivação forte oscilando

entre essas posições enquanto assiste a um mesmo filme. Ou seja, o

espectador pode desejar muito assistir a um filme em determinados

momentos e rejeitá-lo em outros.

Compreensão: está relacionada ao processo cognitivo para a

apreensão do conteúdo exibido com a decodificação conotativa e

denotativamente dos signos visuais e verbais. A dimensão da

compreensão se relaciona tanto com fatores macrossociais como

classe e gênero quanto com fatores microssociais como escolaridade

e referências culturais. Como o espectador lê as imagens e textos e

quais associações ele realiza de acordo com as apropriações que faz

a partir de suas referências. Segundo Schrøder essa dimensão se

apresenta como um continuum em que pode haver completa

divergência (polissemia) ou completa convergência (monossemia) da

compreensão do espectador aos sentidos preferenciais projetados

pelos produtores ou concebidos por outros receptores.

Discriminação: é a relação que o espectador estabelece com o

filme quanto ao caráter ficcional da obra. É o quanto o espectador

“percebe” sobre o fator “construção” ou “manipulação” que compõe a

produção audiovisual. O quanto o espectador discrimina

esteticamente o que vê. Essa dimensão diz respeito ao grau de

“adesão” ou de criticidade estética do espectador em relação ao

conteúdo. Se o espectador “acredita” integralmente em um conteúdo

audiovisual como a representação da realidade está adotando uma

posição de “imersão” (que pode ser fraca ou intensa). Se ele

“desconfia” essa imersão já não é intensa. Da mesma maneira, se o

espectador percebe as escolhas estéticas realizadas pelos

produtores (planos, enquadramentos, luz, som), isso significa que ele

mantém um “distanciamento crítico”. Por isso, Schrøder nos propõe

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considerar as posições do espectador não só entre imersão e

distanciamento, mas imersão fraca e intensa e distanciamento fraco

e intenso.

Embora tenha construído seu modelo de análise da recepção a partir do

modelo analítico de Stuart Hall, Schrøder (2000) o considerava limitado para

categorizar os aspectos ideológicos “subjetivos” (relativos aos expressos pelos

indivíduos) e “objetivos” (relativos aos expressos na sociedade) e optou por

definir as dimensões posição e avaliação para tratar dessas questões. As

dimensões posição e avalição podem ser assim caracterizadas:

Posição: essa dimensão diz respeito à concordância ou não do

espectador com o teor da mensagem audiovisual que ele assiste. É a

expressão das preferências individuais do espectador de acordo com

suas referências ideológicas. Ao perceber, no texto fílmico, um

sentido preferencial projetado pelos produtores, o espectador

“responde” concordando ou discordando da mensagem veiculada.

Essa dimensão corresponde às posições de leitura do modelo

analítico de Stuart Hall.

Avaliação: integrando o grupo das Implicações essa dimensão

também tem relação com a concordância ou rejeição do espectador

com a mensagem veiculada no texto fílmico de acordo com suas

referências ideológicas. No entanto, essa dimensão difere da

dimensão posição porque nesta a expressão da atitude do

espectador é observada no cenário politico-ideológico “objetivada” no

contexto social no qual está inserido o espectador.

Implementação: também integra o grupo das Implicações e se

refere à relação entre as leituras produzidas pelo espectador e sua

prática social efetivada. Analisa a experiência de “aplicabilidade” na

esfera social das leituras produzidas pelo espectador.

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Desta forma, nesta investigação o modelo de Schrøder (2000) será

utilizado como fundamentação para a análise das informações obtidas no

campo. Este modelo lança luz para a elaboração dos objetivos da pesquisa

bem como para os procedimentos metodológicos.

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4 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL, SAÚDE E CULTURA

Durante o processo de elaboração desta pesquisa foi se tornando

evidente, para a pesquisadora, a importância da concepção e implementação

de políticas públicas na área da Saúde baseadas na mudança de paradigma,

com a substituição do modelo biomédico pela concepção ampliada de saúde.

No modelo biomédico, que subsidia o modelo assistencial tradicional, o

contexto social do indivíduo é desconsiderado e a concepção ampliada de

saúde define saúde como bem-estar físico, mental e social, e não

simplesmente ausência de doenças. Esta concepção já era preconizada na

Conferência Internacional sobre Atenção Primária de Saúde em Alma-Ata

(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE ATENÇÃO PRIMÁRIA DE

SAÚDE, 1978 apud CULPTI, 2010). Segundo esse paradigma os valores,

hábitos, e saberes, ou seja, as referências culturais e práticas sociais dos

pacientes são considerados fatores fundamentais no processo de Educação e

Promoção da Saúde.

Segundo Culpti (2010), um marco importante na mudança de

perspectiva foi a Conferência Internacional de Promoção da Saúde, em Ottawa,

Canadá, que resultou na Carta de Otawa, que entre outras estratégias de

Promoção de Saúde, considerava a importância da participação social

contrariando as práticas até então vigentes

Na relação médico-paciente, o profissional de saúde detém “o saber” legitimado, e a expectativa sobre o paciente é a de que “obedeça” ao que foi definido pelo profissional. Este modelo convencional e hegemônico de atenção à saúde, que desconhece os saberes trazidos e incorporados pelo paciente, saberes recebidos de sua cultura local, social, religiosa e da mídia globalizante vem sendo questionado, dando margem ao surgimento de novas concepções (CULPTI,2010).

A autora fez um levantamento do processo de implantação do Programa

de Saúde do Adolescente (PROSAD) no município do Rio de Janeiro, no

período compreendido entre 1992 e 2008, e buscou estudar as estratégias de

gestão de políticas públicas pautadas na incorporação e na valorização da

participação dos adolescentes nas ações de promoção da saúde. Já

reconhecidas e recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)

desde 1989, essas estratégias têm sido cada vez mais defendidas como o fez

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a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) em documentos recentes.

Entre os projetos elaborados sob essa concepção e analisados em sua

pesquisa estão o RAP da Saúde. Discutindo, em seu trabalho, as diferentes

perspectivas sob as quais é vista a adolescência e como esta é definida por

nossos dispositivos legais, Culpti (2010) analisa as abordagens empregadas

pelos profissionais de saúde nos serviços de atendimento ao adolescente:

A saúde do adolescente emerge do embate entre o modelo assistencial, baseado na apresentação de sintomas, e o modelo que contempla aspectos da Promoção da Saúde, ligado aos determinantes sociais da saúde. Os adolescentes, fisicamente saudáveis, apresentam questões que não fazem parte do repertório das queixas, sinais e sintomas que levam ao diagnóstico e a prescrição, mas, pelo contrário, trazem questões da vida: sexualidade, gravidez, e morte precoce por conta da violência. E os profissionais de saúde, confrontados com as diferentes interpretações conceituais e instrumentos legais, se encontram no cerne de um dilema ético que, na prática, oportuniza tanto práticas conservadoras como outras mais avançadas (op.cit).

Criado em 1989 pelo Ministério da Saúde, o Programa de Saúde do

Adolescente (PROSAD) pretendia promover a atenção integral aos

adolescentes de 10 a 19 anos. Porém, a partir de 1999, além de mudança de

nome para Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem, passou a

atender jovens de 19 a 24 anos. No documento “As Diretrizes Nacionais para

Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção da Saúde,

Prevenção de Doenças e Agravos e na Assistência”, publicado em novembro

de 2009, são apresentados os temas estruturantes para atenção integral à

saúde do adolescente: Participação Juvenil, Equidade de Gênero, Direitos

Sexuais e Reprodutivos, Projeto de Vida, Cultura de Paz, Ética e Cidadania e

Igualdade Racial e Étnica. Esses temas transcendem o modelo tradicional e

“corroboram o peso social imbricado nas questões que historicamente

aparecem como problemas de saúde do adolescente tais como: sexualidade,

gravidez, violência, uso e abuso de drogas, dentre outros” (CULPTI, 2010).

As reformulações dos conceitos de Educação e de Saúde expressos em

documentos oficiais escritos na passagem dos anos 1980 aos anos de 1990,

como a Lei de Diretrizes e Bases e a Lei 8.080/90 que criou o Sistema Único

de Saúde - SUS - forneceram subsídios para se repensar a relação entre

Educação e Saúde e para o fortalecimento de ações conjugadas de ambos os

campos. A LDB preconiza já no seu primeiro artigo que “... a educação abrange

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os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência

humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos

sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (LDB

nº 9394/96).

Uma das mais recentes formulações legais na direção da

intersetorialidade das políticas públicas é o Decreto nº 6286/2007 que institui o

Programa de Promoção da Saúde na Escola (PSE) “como estratégia para a

integração e articulação permanente entre políticas e ações de educação e de

saúde, com a participação da comunidade escolar, envolvendo as equipes da

saúde, da família e da educação básica” (Dec. nº 6286/2007 – DOU

6.12.2007).

Nesse sentido a Educação não formal é campo fértil em promover

experiências de trabalho com jovens a partir do estímulo à autonomia e o

protagonismo juvenil no processo de Educação em Saúde. Gohn (2011)

concebe a educação em uma perspectiva ampliada associando-a ao conceito

de cultura que “é concebida como modos, formas e processos de atuação dos

homens na história, onde ela se constrói” (op.cit, p. 105).

De acordo com esta autora, na educação não formal, há uma

flexibilidade notória quanto ao tempo e quanto ao espaço, sendo este

construído e reconstruído conforme os objetivos do grupo pelo próprio grupo

(GOHN, 2011, p.109). E se desenvolve nos mais diversos espaços como

associação de moradores, igrejas, sindicatos, partidos políticos, organizações

não governamentais, projetos culturais e, também, nas escolas, em ambientes

como grêmios e associações de alunos. A educação não formal se constitui em

diversos campos ou processos como a capacitação para o trabalho

(aprendizagem de habilidades), aprendizagem dos conteúdos da escolarização

formal, aprendizagem para a mídia, em “especial a eletrônica” e aprendizagem

política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos (op.cit 19)

Dentro da educação não formal há dois tipos que são essencialmente

filiados às especificidades deste campo: educação popular renomeada nos

anos de 1990 como educação de jovens e adultos, e educação para a

participação social. Enquanto no primeiro há a preocupação de se abordar os

mesmos conteúdos da escola formal embora essa abordagem seja por meio de

metodologias “alternativas” e currículos flexíveis, no segundo o que se

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pretende é o exercício de práticas geradas pelas situações vividas no cotidiano.

Em ambas, a aprendizagem tem caráter coletivo e o objetivo essencial é a

cidadania (op.cit, p. 109).

Os ambientes não formais priorizam a participação do jovem e

promovem processos de desenvolvimento de trabalho em equipe em que,

embora haja divisão de tarefas para a sua execução, permite a preparação e

decisão prévia coletivamente incentivando o diálogo e autonomia de seus

integrantes. Essa flexibilidade quanto à condução do processo pedagógico em

projetos de educação não formal aponta para caminhos que podem contribuir,

inclusive, para os processos ensino-aprendizagem na escola regular.

(TOLEDO, 2010; GOHN, 2010).

Para Gohn (2011) a maior importância da educação não formal é a

possibilidade de criação, do exercício da criatividade humana (op.cit, p. 112).

E a questão relativa à autonomia do estudante deve ser mais

aprofundada por ser “um dos aspectos mais relevantes dos processos de

aprendizagem” que

[...] ganharam destaque como meio de fornecerem conhecimentos e habilidades a grupos específicos e passaram a ser valorizados os processos de aprendizagem em espaços exteriores às unidades escolares. As práticas da educação não formal se desenvolvem usualmente extramuros escolares, nas organizações sociais, nos movimentos, nos programas de formação sobre direitos humanos, cidadania, práticas identitárias, lutas contra desigualdades e exclusões sociais (...) como processos de auto-aprendizagem e aprendizagem coletiva adquirida a partir da experiência em ações organizadas segundo os eixos temáticos: questões étnico-raciais, gênero, geracionais e de idade, etc (GOHN, 2010).

A proposta de elaboração de políticas públicas a partir da

intersetorialidade, priorizando a articulação entre Saúde, Educação e Cultura,

tem ganhado reconhecimento e se fortalecido nos últimos anos como mostram

os documentos oficiais. E a educação não formal, por sua natureza flexível

quanto à metodologia e currículo, se apresenta como campo privilegiado para a

construção de experiências relevantes nos processos de Educação e

Promoção da Saúde. Como exemplo tem-se a experiência do 1º Congresso

Aberto da Universidade Popular de Arte e Ciência, realizado no Teatro Carlos

Gomes, no centro do Rio de Janeiro em 2011 (SMSDC, 2011).

No caso do projeto analisado na presente dissertação, quando se

observa a trajetória do RAP da Saúde, desde sua criação, é possível

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reconhecer as diferentes dinâmicas ocorridas nas etapas pelas quais passou

esse projeto. Embora faça parte de uma iniciativa da política pública municipal

em sua proposta intersetorial, o RAP sofreu alguns reveses em seus percursos.

Em alguns momentos, suas atividades tiveram interrupções que provocaram a

desarticulação dos jovens participantes, como no período entre a segunda e

terceira fases, em que a assinatura do convênio com a Prefeitura demorou

cerca de oito meses e provocou um hiato no desenvolvimento das ações.

Com a interrupção do convênio com a UNICEF, houve um

“encolhimento” das atividades, pois o número de jovens alcançados e de

comunidades envolvidas diminuiu sensivelmente.

O RAP da Saúde, como outros projetos, quando assessorado por uma

Organização não Governamental (ONG), sofre com a descontinuidade de

programas e ações e com os limites de alcance destas instituições. De acordo

com Pinto (2006), embora as ONGs tenham ocupado um espaço de relevância

na arena pública nas últimas décadas ocupando uma a posição de vanguarda

(...) sua natureza é instável uma vez que sobrevivem por meio de projetos financiados por organizações internacionais, cooperação internacional entre países ou pelo próprio Estado (PINTO, 2006).

Segundo a autora, as organizações não governamentais têm sido

responsáveis por importantes mobilizações atuando como interlocutoras de

setores da sociedade civil na busca por direitos, formações de rede e

programas de empoderamento (PINTO, 2006).

No entanto esta autora destaca que

(...) estas organizações não podem ser vistas de maneira simplista, como substitutas de partidos políticos, do Estado ou mesmo dos movimentos sociais. Suas ações têm limites, entre eles o fato de serem fragmentadas, atingirem o conjunto da sociedade de forma limitada e dependerem de financiamentos pontuais (PINTO, 2006).

O reconhecimento da importância da interface entre Cultura e Educação

em Saúde poderá auxiliar na construção de políticas públicas que priorizem a

participação social. Nesse sentido, os espaços de Educação não formal

configuram-se como terrenos férteis para o protagonismo e para o

reconhecimento dos saberes populares, sobretudo na saúde.

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5 OBJETIVOS

5.1 GERAL

Compreender que sentidos constroem os integrantes do Projeto RAP da Saúde

da comunidade da Rocinha sobre o vídeo educativo “Tuberculose: um perigo

real”.

5.2 ESPECÍFICOS

1. Realizar análise fílmica do vídeo “Tuberculose: um perigo real” como

processo para a compreensão da obra audiovisual.

2. Compreender como esses jovens interpretam e reelaboram conteúdos

educativos em saúde à luz de suas experiências com o audiovisual e

suas referências culturais.

3. Descrever e analisar as posições de leitura adotadas pelos integrantes

do projeto RAP da Saúde nas dimensões de Compreensão,

Discriminação e Posição do modelo multidimensional de análise de

recepção de Hall/Schrøder.

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6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para alcançar os objetivos desta pesquisa foram estudadas a produção

e a recepção do vídeo “Tuberculose: um perigo real” conforme demonstrado no

Quadro 1.

PRODUÇÃO RECEPÇÃO

Relatório NUTES Questionário sociocultural com integrantes do

RAP

Análise fílmica Estudo de Recepção (Exibição do vídeo,

Grupo de Discussão e Transcrição)

Entrevista com o produtor Entrevista em profundidade com integrante do

RAP

Quadro 1: Estudo da produção e recepção do vídeo “Tuberculose: um perigo real”. Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Desta forma, a produção foi examinada por meio da leitura do relatório

comemorativo dos vinte anos do NUTES no qual é detalhado o projeto de

produção do vídeo “Tuberculose: um perigo real”. Também foi realizada a

Análise Fílmica do vídeo (Apêndice I) que conta com um Glossário (Apêndice

II), e em seguida foi realizada uma entrevista com o produtor (Apêndice III).

Para estudar a recepção, foi aplicado o Questionário Sociocultural com

os participantes do grupo de discussão (Apêndice IV), realizado um estudo de

recepção, sob a forma de grupo de discussão (vide transcrição em Apêndice V)

e, em seguida foi realizada uma entrevista em profundidade com um dos

integrantes do RAP da Saúde (vide transcrição em Apêndice VI). A seguir

apresentam-se os procedimentos de produção e recepção do vídeo

“Tuberculose: um perigo real”

6.1 PRODUÇÃO:

6.1.1 Relatório NUTES

Entre as fontes encontradas para estabelecer a rede de informações

sobre o vídeo pesquisado está o relatório comemorativo dos vinte anos do

NUTES, no qual é apresentado o resumo do projeto desenvolvido em 1986

entre o Ministério da Saúde e o NUTES como uma das ações da Campanha de

Combate à Tuberculose.

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6.1.2 Análise fílmica

A análise do vídeo “Tuberculose: um perigo real”, realizada de acordo

com a concepção de Vanoye & Goliot-Lété (1994) permitiu destacar aspectos

tanto de forma quanto de conteúdo. E foi realizada em um processo dividido

em duas partes: descrição e interpretação. Na etapa de descrição é possível

construir um olhar minucioso, atento a detalhes que de outra maneira poderiam

passar despercebidos, como o uso de determinadas expressões idiomáticas ou

enquadramentos. Na Análise Fílimica a descrição busca apresentar por escrito

da maneira mais minunciosa possível a obra audiovisual analisada.

Depois de “trazer à tona” a história do filme ao espectador, contando

como ela se deu, passa-se à interpretação, que é a compreensão do uso dos

recursos estéticos dentro de um processo criado pelo produtor para “seduzir”

seu espectador.

Assim, para estes autores a análise fílmica é importante na medida em

que permite compreender:

como o filme conseguiu produzir em mim este ou aquele efeito? Como o filme me conduziu a simpatizar com determinado personagem e a achar outro odioso? Como o filme gerou determinada ideia, determinada emoção, determinada associação em mim? (op.cit,p.14)

Questões centradas no como e não no porque conduzem a considerar

o filme com maiores detalhes e a integrar em um outro momento, os

“primeiros movimentos”, ou seja, as primeiras sensações do espectador

(op.cit, p.14).

No entanto, a compreensão de um filme “não é um fim em si” (op.cit,

p.09). A análise de um filme é um procedimento realizado para atingir

objetivos pré-definidos e esses objetivos devem ser considerados durante

o processo. As escolhas realizadas, os aspectos destacados e o

detalhamento das cenas enfocadas, estão intimamente relacionadas aos

objetivos aos quais a análise atende. Assim podemos dizer que a análise

fílmica permite “perscrutar” as intenções dos produtores de uma obra: seus

objetivos ou seu “modo de endereçamento”.

Segundo Ellsworth (2001), os filmes ao serem produzidos “são feitos

para alguém. Os filmes visam e imaginam determinados públicos”.

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(op.cit,p. 13, 14). Os produtores sempre cogitam sobre o “tipo de pessoa

para o qual seu filme é endereçado e sobre as posições e identidades

sociais que seu público deve ocupar” (op.cit, p.16). Assim esta autora é

categórica ao afirmar que:

para que um filme funcione para um determinado público, para que ele chegue a fazer sentido para uma espectadora, ou para que ele a faça rir, para que a faça torcer por um personagem, para que um filme a faça suspender sua descrença na [“realidade” do filme], chorar, gritar, sentir-se feliz ao final – espectadora deve entrar em uma relação particular com a história e o sistema de imagem do filme (ELLSWORTH, 2001.Pág.14).

6.1.3 Entrevista com o produtor do vídeo “Tuberculose: um perigo real”

Durante a realização da análise fílmica algumas escolhas realizadas

pelos produtores suscitaram o questionamento sobre seu modo de

endereçamento. O que levou à realização de uma entrevista com o professor

João Luiz Leocádio, que coordenava o Laboratório de Vídeo Educativo – LVE.

Como integrante da equipe de produção do vídeo, o professor João Leocádio

descreveu o processo de produção e detalhou os objetivos do projeto. A

transcrição desta entrevista encontra-se no Apêndice VII.

6.2 RECEPÇÃO

6.2.1 Questionário sociocultural

A pesquisa de campo teve início somente após aprovação do Comitê de

Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ sob o

parecer número 180.013. Antes de assistirem ao vídeo, os integrantes do

projeto RAP da Saúde da Rocinha, que aceitaram participar do Estudo de

Recepção, responderam ao Questionário Sociocultural. Com perguntas abertas

e fechadas o questionário detalha questões como idade, escolaridade, hábitos

e preferências dos jovens pesquisados. Todos os participantes assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice VIII). Para construir

uma reflexão sobre as leituras adotadas pelo grupo pesquisado foi utilizado o

conceito de comunidade interpretativa de Stanley Fish (1992) como

recomendado pela Banca por ocasião do Exame de Qualificação.

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6.2.2 Estudo da recepção fílmica

Para estudar como os jovens do projeto RAP da Saúde interpretam e

reelaboram conteúdos educativos em saúde, os procedimentos metodológicos

desta pesquisa foram divididos em três momentos, a saber:

1) No primeiro momento, os jovens assistiram ao vídeo “Tuberculose:

um perigo real” em uma das salas do Adolescentro onde são desenvolvidas

algumas das atividades do RAP da Saúde.

2) Logo em seguida foi realizado um Estudo de Recepção por meio da

técnica de grupo de discussão a partir do qual um tema de interesse é discutido

por um grupo pequeno de pessoas mediado por um moderador e um ou dois

observadores (BAUER, 2005). O grupo de discussão foi conduzido a partir de

questões norteadoras que provocaram reflexões sobre os temas tratados no

vídeo. Essas questões foram elaboradas a partir da análise do vídeo por meio

da Análise Fílmica Francesa adotada para descrever e analisar os recursos

imagéticos utilizados na produção do vídeo.

3) No terceiro momento, foi realizada a transcrição e a análise das

respostas gravadas durante a realização do grupo de discussão. Para essas

análises foi utilizado o modelo multidimensional Hall/Schrøder (2003) que

analisa as posições de leitura adotadas pelo público.

6.2.3 Entrevista em profundidade com um integrante do RAP da saúde

Durante a Qualificação da presente dissertação de mestrado, foi

sugerida pelo orientador desta investigação e, ratificado pela banca

examinadora, a realização de uma entrevista em profundidade com um dos

integrantes do grupo de discussão. O objetivo desta entrevista foi aprofundar

alguns aspectos das leituras expressas no grupo de discussão por um dos

integrantes. Dessa forma, Claudio foi escolhido intencionalmente pela

pesquisadora em função da sua ativa participação no grupo de discussão.

Para a realização desta entrevista em profundidade, foi confeccionado

um roteiro com questões definidas pela pesquisadora em conjunto com

pesquisadores do NUTES, incluindo o professor orientador.

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6.2.4 Análise das dimensões de leitura

Essa pesquisa concentrará suas análises sobre as seguintes Dimensões

de produção de sentido acionados pelos jovens participantes do RAP da

Saúde: Compreensão, Discriminação e Posição, que integram o grupo das

dimensões de Leituras.

A utilização das dimensões definidas no modelo analítico de Schrøder

(2000) para o detalhamento das leituras elaboradas objetiva analisar alguns

dos processos pelos quais esses jovens reinterpretam e ressiginificam as

questões abordadas em um vídeo educativo.

6.2.5 Cenário da pesquisa

Antes de iniciar o processo de pesquisa de campo no projeto RAP da

Saúde da Rocinha foram realizadas pesquisas na Internet onde foram

encontradas informações sobre esse projeto, os eventos realizados e as

atividades previstas4. Também o site do CEDAPS - Centro de Promoção da

Saúde - foi acessado para obtenção de mais informações. O CEDAPS é uma

organização não governamental que trabalha prestando assessoria técnica e

financeira a diversos projetos de promoção da saúde em comunidades

populares do Rio de Janeiro. criando e testando modelos para políticas

públicas dedicadas a estes territórios, e contribui para melhorar a qualidade

dos serviços existentes”5.

Em seguida, foram realizados contatos telefônicos e por e-mail com

Fransergio Goulart coordenador do CEDAPS e Ana Beloni uma das

coordenadoras do Adolescentro Paulo Freire onde as atividades do RAP da

Saúde da Rocinha são desenvolvidas. Foi possível conversar por telefone e por

e-mail com Anna Rosaura Trancoso realizadora de audiovisual e responsável

pela oficina de vídeo do RAP.

4 Tais informações podem ser visualizadas em

http://elosdasaude.wordpress.com/tag/rap-da-saude-2/. 5 (http://maps.mootiro.org/organization/20).

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Foram realizadas visitas para conhecer o espaço físico e compreender

melhor o processo de criação e desenvolvimento do Programa de Saúde do

Adolescente da Secretaria Municipal de Saúde. Além de Ana Beloni foi possível

conhecer Léo6 um dos mais antigos integrantes do RAP que é também

funcionário contratado da Prefeitura para trabalhar no Adolescentro. Léo

apresentou as instalações do Adolescentro e descreveu alguns dos

atendimentos oferecidos aos jovens e adolescentes da Rocinha: atendimento

odontológico, ginecológico e pré-natal. Léo também falou sobre a história do

RAP e de suas atribuições como Dinamizador: orientar os integrantes com

menos experiência, os Multiplicadores, para os eventos produzidos em escolas,

postos de saúde e nas ruas da comunidade. Distribuição de panfletos,

palestras, intervenções teatrais e roda de conversa são alguns dos

procedimentos mais comuns. Léo também falou de sua entrada no RAP em

2007 dois meses depois de chegar ao Rio de Janeiro vindo de São Luiz do

Maranhão onde “descobriu que podia fazer muitas coisas” e fez muitos amigos.

Léo destaca a importância do grupo de teatro que “ajuda a diminuir a timidez” e

a oficina de produção audiovisual onde “todo mundo participa junto decidindo

sobre o texto, a narrativa e escolhendo cenário e figurino”.

A Rede de Adolescentes Promotores da Saúde - Rap da Saúde – criado

em janeiro de 2006 é uma ação implementada pela Gerência do Programa de

Saúde do Adolescente e pela Assessoria de Promoção da Saúde da Secretaria

Municipal de Saúde e Defesa Civil da cidade do Rio de Janeiro (SMSDC-Rio).

A partir de uma proposta diferente de trabalho com adolescentes

multiplicadores foram realizadas atividades de capacitação de adolescentes e

profissionais de saúde com a participação em eventos culturais,

desenvolvimento de atividades de promoção da saúde nas unidades de saúde

e em outras localidades. De acordo com essa proposta de trabalho

os adolescentes multiplicadores participam das reuniões de equipe, distribuem camisinhas, captam e acolhem adolescentes e fazem a articulação com a comunidade, oferecendo atividades de promoção da saúde. Eles foram os principais articuladores das ações de promoção da saúde desenvolvidas na comunidade (CUPTI, 2010).

6 Os nomes dos jovens integrantes do RAP são fictícios, escolhidos pela pesquisadora

na intenção de preservar a identidade dos mesmos.

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No início, de 2006 a 2008, o RAP funcionava em três localidades

distintas (Rocinha, Maré e Alemão). No pólo São Conrado os adolescentes

multiplicadores estavam ligados ao Adolescentro Paulo Freire, ao Programa de

Agentes Comunitários de Saúde (PACS) da Rocinha e ao Programa de Saúde

da Família de Vila Canoas. No pólo da Maré esses jovens estavam ligados ao

Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, localizado na praia de Ramos e no

pólo do Morro do Alemão ficavam ligados às equipes do Programa de Saúde

da Família - PSF - de Nova Brasília, Morro do Alemão e Esperança.

Participavam do RAP cerca de sessenta adolescentes de diferentes

comunidades e trinta profissionais de saúde ligados ao PSF e às unidades

tradicionais. Além destes, quatro profissionais foram contratados para a

coordenação e para oficinas específicas. Essa aproximação de jovens de

comunidades diferentes possibilitou que se identificassem como “RAP” e não

mais como pertencentes a esta ou àquela comunidade.

O Projeto RAP da Saúde da Rocinha desenvolve suas atividades no

Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare (CCRDL), um prédio de 18 andares,

situado na Av. Niemeyer em São Conrado em frente à comunidade da Rocinha

que pertence a VI Região Administrativa. Nesse prédio também funciona entre

outros projetos e programas de órgãos municipais e não governamentais, a

Unidade Básica de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, ou seja, o

Adolescentro Paulo Freire que desenvolve ações multiprofissionais de

promoção e assistência à saúde, além de capacitações voltadas para jovens.

Esta foi a primeira Unidade exclusiva para adolescentes e a primeira a ampliar

o atendimento da faixa etária para 24 anos incluindo assim a categoria

juventude. No Adolescentro Paulo Freire em 2010 eram atendidos em média

setecentos adolescentes por mês, a maioria do gênero feminino sem quaisquer

questões de ordem patológica em busca de oficinas de teatro, de pré-natal,

consultas para tirar dúvidas e fazer o “preventivo” (CUPTI, 2010).

Em todos os pólos do RAP o trabalho é dividido em funções: os

Assessores coordenam os pólos articulando a prefeitura com os coordenadores

que por sua vez trabalham diretamente com os jovens Multiplicadores e

Dinamizadores. Os Dinamizadores ou os dima são jovens mais antigos que

utilizam sua experiência como multiplicadores para formar novos multi. Os

Dinamizadores são responsáveis por capacitar os adolescentes que se tornam

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multiplicadores e juntos vão a escolas, centros de saúde e associações para

realizarem atividades como campanhas de prevenção de DST/AIDS,

tuberculose e dengue entre outras ações e eventos e por meio de palestras ou

bate-papos trocam experiências e apoio mútuo. As diversas linguagens

artísticas como o teatro, a dança e o audiovisual são empregadas como

metodologias para sensibilizar quem, por exemplo, só procura o serviço para

ter a oportunidade de expressar ideias e conhecer novos amigos. Essas

atividades lúdicas não estão previstas no leque de profissionais que trabalham

no setor saúde, mas com a capacitação em técnicas como o Teatro do

Oprimido foi possível o desenvolvimento de uma abordagem participativa na

discussão de temas importantes como a gravidez na adolescência.

Nas oficinas de audiovisual os adolescentes se organizam por temas e

podem desenvolver e produzir vídeos sobre os assuntos escolhidos por eles e

que são distribuídos para as unidades de saúde do município e para as

instituições parceiras. Os jovens participam de todas as etapas de criação de

um vídeo - desde a escrita do roteiro até a edição - e compartilham as decisões

sobre forma e conteúdo dos vídeos produzidos.

O acervo do RAP conta com seis vídeos realizados por rapazes e moças

na faixa etária de 15 a 24 anos. Entre eles estão “Mundo Jovem”, “Violência no

Namoro” e “Alimentação Saudável”7 que abordam temas como álcool e drogas,

gravidez na adolescência, discriminação e preconceito, violência no namoro,

DST/AIDS, mobilidade urbana e o protagonismo juvenil entre outras questões

considerados importantes pelo grupo.

Sobre a rotina do RAP no Adolescentro Paulo Freire, Cupti (2010)

oferece detalhes importantes, já que participou do cotidiano como gestora da

unidade onde se desenvolveu o projeto e mais concretamente as ações dos

jovens promotores de saúde. Segundo a autora ainda nesse período no RAP

os adolescentes multiplicadores participavam das reuniões de equipe,

distribuíam camisinhas, captavam e acolhiam adolescentes e faziam a

articulação com a comunidade atuando como co-responsáveis no processo

educativo, desenvolvendo atividades de promoção da saúde. Eles foram os

principais articuladores das ações de promoção da saúde desenvolvidas na

7 Disponível em

http://www.youtube.com/watch?v=WLeIvPXreOM&list=PL02562CB2FB893D25

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comunidade. Realizaram atividades na véspera do Carnaval na Escola

Acadêmicos da Rocinha, como oficinas de prevenção das DST em todas as

turmas do CIEP Ayrton Senna, apresentação de uma peça sobre gravidez na

adolescência com técnicas do teatro do oprimido, participação em atividades

culturais, articulação com diversas ONGS da comunidade e participação nas

campanhas de vacinação. Embora trabalhando com a proposta de mudança

nas relações dos profissionais de saúde com os adolescentes, alguns

profissionais tinham muita resistência, pois os papéis são bem definidos e há

uma forte hierarquização, inclusive entre os próprios profissionais de saúde de

nível superior. A presença de adolescentes, não como usuários, mas como

promotores de saúde provocou um estranhamento e desconforto e, em

consequência reações que foram da desconfiança na autonomia e seriedade

do trabalho até tentativas de desvio de alguns dos jovens para o

preenchimento de lacunas do sistema administrativo.

Em 2010 RAP, iniciou sua segunda fase com a ampliação de seu

trabalho a partir de uma parceria com a UNICEF que estava com o projeto

Plataforma dos Centros Urbanos. Os adolescentes multiplicadores da

plataforma também se tornaram multiplicadores do RAP já que as propostas

desses projetos eram semelhantes. Então o projeto que se iniciou em três

comunidades (pólos) em um curto período de tempo ampliou para cinquenta

comunidades e contava com cento e trinta jovens.

Nesse período era publicado o boletim “RAP Informa” que divulgava as

atividades previstas para o mês de abril daquele ano: a oficina de poesia com a

atriz e poeta Elisa Lucinda em sua Escola Poesia Viva, a ida ao teatro Sesi

para assistir “Simplesmente eu. Clarice Lispector” um monólogo com Beth

Goulart sobre a vida e obra da escritora e a ação educativa no evento Rio

Capital da Bicicleta realizado pela Secretaria do Meio Ambiente na praia de

Ipanema (RAP INFORMA, 2010).

Circulador é outra publicação que em janeiro de 2010 era editada com

dez mil exemplares e apresentava ao longo de suas quinze páginas as

atividades desenvolvidas durante o ano de 2011 registrando as impressões de

vários dos profissionais envolvidos no projeto como Viviane Manso Castello

Branco – Coordenadora de Políticas e Ações Intersetoriais (CPAI) da SMSDC-

RJ, Márcia Regina Cardoso Torres Superintendente de Promoção da Saúde da

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SMSDC-RJ e a coordenadora da UNICEF, Luciana Phebo. Todas tecem

considerações sobre as ações intersetoriais e os novos olhares que os jovens

trazem para as práticas cotidianas. Luiza Cromak da SMSDC-RJ,

coordenadora do RAP, naquele momento, endossava a fala da arte-

educadorada da ONG Cineduc Anna Rosaura Trancoso sobre as oficinas de

produção audiovisual. Para ambas a participação dos adolescentes e jovens

nas etapas de produção de um vídeo possibilitava não só a aprendizagem de

técnicas da linguagem audiovisual, mas também o desenvolvimento de um

olhar crítico para expressar suas ideias por meio de ângulos e

enquadramentos.

No entanto o convênio com a UNICEF não foi renovado e por cerca de

oito meses o projeto ficou paralisado à espera da renovação de contrato com a

Prefeitura o que inviabilizou as atividades durante grande parte do ano de 2012

que somente foram retomadas em agosto do mesmo ano.

Em outubro de 2012 deu-se início à terceira fase com o processo de

seleção de novos multiplicadores e dinamizadores. Atualmente, o RAP conta

com oito polos: Rocinha, Maré, Tijuca, Alemão, Sulacap, Campo Grande,

Jacarezinho e Acari. Na maioria dos pólos há dois dinamizadores e quatorze

multiplicadores, além de alguns voluntários. O polo Rocinha é o único com dois

turnos e os Dinamizadores coordenam sete multiplicadores bolsistas e em

torno de cinco voluntários.

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7 RESULTADOS

7.1 RELATÓRIO DO PROJETO DE PRODUÇÃO DO VÍDEO

O vídeo “Tuberculose: um perigo real” foi desenvolvido pelo Núcleo de

Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) do Centro de Ciências da

Saúde da UFRJ e o Ministério da Saúde, com participação de dezenas de

instituições universitárias (Anexo I), como parte das ações da Campanha

Nacional contra a Tuberculose. Foi produzido em 1986 e integra um conjunto

de materiais educativos para serem utilizados nos cursos de graduação em

Medicina (Anexo II). Além do vídeo “Tuberculose: um perigo real”, foram

produzidos outros três (“O milagre somos nós”, “Tuberculose - mesa redonda”,

“A consulta de Enfermagem”). Também o livro "Controle da Tuberculose –

Proposta de Integração Ensino-Serviço” de 1987 que teve reedições em 1989 e

1992 e dois slides-som: Etiopatogenia, diagnóstico e tratamento da tuberculose

– 66 slides + tape 20’ e Controle da tuberculose – 48 slides+ tape 15 faziam

parte desse conjunto de obras (NUTES, 1992). O vídeo aborda questões

relativas ao processo de diagnóstico e tratamento da doença: a qualidade do

atendimento no sistema de saúde pública, a relação médico-paciente, a

dificuldade de diálogo entre ambos, a falta de informação sobre a doença e a

responsabilidade do profissional de saúde na difusão da informação. Também

aborda as condições de moradia, trabalho e saneamento básico do

personagem principal e sua família. Com imagens, cenários e diálogos

estimulam o espectador a refletir sobre a complexidade dos fatores que

influenciam na incidência da tuberculose que vão além do dos aspectos

biomédicos e envolvem os determinantes sociais de saúde.

7.2 ANÁLISE FÍLMICA “TUBERCULOSE: UM PERIGO REAL”

Tendo como base os pressupostos teóricos da Análise Fílmica de

Vanoye e Goliot-Lété e do endereçamento segundo Ellsworth, esta análise

fílmica pretende contribuir para a compreensão dos procedimentos

empregados e dos recursos técnicos utilizados pelos produtores para conduzir

os espectadores à reflexão sobre os temas abordados no vídeo “Tuberculose:

um perigo real”.

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O vídeo começa com imagens da região do entorno da estação

ferroviária Central do Brasil no Rio de Janeiro e da parte interna da própria

Central, um local para onde convergem trens de diversas linhas com destino a

bairros do subúrbio carioca e da Baixada Fluminense. Um lugar de grande

movimentação de pessoas moradoras dessas áreas afastadas da grande

metrópole e em sua maioria de baixa renda. O primeiro close situa o

espectador sobre de qual região vem o personagem: Duque de Caxias, cidade

da Baixada Fluminense, uma das localidades com os mais baixos IDHM –

Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios do Rio de Janeiro (LIMA,

2010. p 153 a 155). Esse personagem será em seguida identificado como o

protagonista do vídeo: a câmera o acompanha durante todo seu percurso

desde a Central e vai terminar em um guichê de um posto de saúde onde ele

pede para ser atendido por um médico e tem como resposta a indicação de

espera da atendente indiferente. Nessa mesma cena é possível ver a camisa

descosturada na altura do ombro. O que significam essas referências

geográficas e a camisa em estado precário de conservação? Apresentar já nas

primeiras cenas, o perfil socioeconômico do personagem principal.

No primeiro diálogo do vídeo, o personagem que tosse sem parar

demonstra seu desânimo ao perceber que a espera vai ser grande. O tempo da

espera fica marcado pela sequência de números anunciados pela a atendente:

25, 37, 45 ... Até chegar ao número de nosso personagem principal: 59.

Nesse momento, a escolha pelo enquadramento, o plano geral e

principalmente pela imagem em contraluz que mostra um pátio enorme ao

fundo e o homem sozinho cabisbaixo sentado no banco na penumbra produz a

sensação de solidão e cansaço daquele que espera horas por atendimento

médico por causa de sua tosse.

O atendimento apressado, superficial e sem exames clínicos, além da

falta de medicamentos na farmácia do posto de saúde, reforçam, no

personagem, a sensação de solidão: “como é que eu vou me arranjar?”.

O segundo close do vídeo é ainda mais emblemático no sentido de

“informar” o perfil socioeconômico do personagem principal: close nas mãos do

homem, que tira algumas notas de dinheiro do bolso. Ele remexe as notas

amassadas e as recoloca no bolso, enquanto a música “Preto Velho”, de

Bebeto, começa a ser a tocada. É possível que o espectador se pergunte “por

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que essa música”? Será que uma música, cuja letra se refere às dificuldades

da vida de um senhor negro e cujo arranjo percussivo remete às origens

africanas do personagem, associa e naturaliza (mais uma vez) pobreza e

origem negra? Ou seria o contrário: a crítica à exclusão historicamente

construída a que os descendentes dos negros escravizados aqui no Brasil

foram submetidos?

Ao perceber que não tem dinheiro bastante para comprar o remédio

receitado pelo médico, e que está em falta na farmácia do posto, o personagem

vai até um bar onde encontra um homem que mesmo um pouco desconfiado e

a contragosto (“todo mundo sabe que lá no posto de saúde os homem dão

remédio de graça... é só mostrar a receita do doutor que eles dão tudim na mão

lá...”) lhe empresta dinheiro. É esse homem que nos revela quem eles são e

sua relação. Eles são compadres e o homem que tosse e busca ajuda se

chama João. Somente nesse momento: aos quatro minutos e quarenta

segundos de um vídeo que tem duração de vinte e seis minutos descobrimos

que João não está só. Essa cena nos mostra os laços de solidariedade

construídos e sustentados e que são acionados em momentos de ausência do

Estado.

Na cena seguinte João examina a língua diante do espelho e o plano

geral mostra o quintal da sua casa: uma área com chão de terra batida e

pequenos montes de entulho (restos de pedra, terra, tijolos). Um cenário que

explicitamente exibe (e levanta) a discussão sobre as condições precárias de

moradia em que o personagem e sua família vivem. Nessa cena o diálogo

entre João e sua esposa se refere ao tratamento recebido por uma conhecida:

“coitada, o mau trato matou D. Arlete...”. É a esposa de João, cujo nome –

Hortênsia - só é mencionado uma única vez (nos últimos minutos do vídeo),

que desempenha papel fundamental estimulando o marido tanto na busca por

um diagnóstico preciso quanto na continuidade do tratamento de João.

Na segunda tentativa de João de descobrir e tratar a tosse que o

acomete, ele novamente encontra um atendimento médico apressado e

superficial. O close nos pés de pessoas em fila e a preocupação do médico em

chamar “o próximo!” nos confirma isso. O vídeo produz um momento de

constrangimento com o diálogo entre João e o médico que, ao ouvir de seu

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paciente que este fica “nervoso” com a tosse que não pára, lhe prescreve um

“tranquilizante”.

E novamente os remédios receitados estão em falta na farmácia do

posto, o que leva João à farmácia comum onde, depois de tentar encontrar

algum remédio que possa pagar, vaticina: “Vai dar pra comprar não”. A tensão

que João vive nesse momento em que a falta de dinheiro e a doença o afligem

é destacada pelo movimento de lente – um zoom – que chega a um close no

rosto de João. Atendido por um funcionário que o induz a comprar outro

medicamento “pra acabar com essa tosse que é bem mais barato e tem o

mesmo efeito”, João, pressionado a tomar uma decisão hesita, mas sussurra:

“vou levar”.

Somente na terceira tentativa, João encontra um atendimento médico

adequado e um exame atento. Seu compadre que lhe emprestara “cem pratas”

lhe indicou o posto do Encantado onde segundo ele: “O pessoal de lá dá mais

atenção pra gente! Examina com mais calma... lá e muito melhor, heim!”.

E é no posto de saúde indicado por seu amigo que João encontra a Dra.

Vera, jovem e dedicada médica que examina João atentamente e lhe solicita o

teste do escarro.

“Primeiro nós vamos fazer um exame de escarro. O senhor vai até o banheiro ali para recolher o seu primeiro escarro e amanhã o senhor traz um novo potinho. Mas tem que ser o primeiro escarro da manhã. Entendido?”.

O close nos dois potes utilizados para recolher o material de exame

reforça o teor didático do vídeo.

É a primeira vez no vídeo que algum exame clínico é recomendado a

João. Durante o tempo “de dois meses mais ou menos” em que João tomou

xarope e foi negligenciado pelos médicos que lhe atenderam, ele “espalhou

bacilos para todos os lados”, como afirmou o médico amigo da Dra. Vera, com

quem em outra cena que se passa em um restaurante ela conversa sobre as

dificuldades do profissional de saúde em diagnosticar e tratar a tuberculose.

Nessa mesma cena a Dra. Vera também se refere ao que ela considera uma

dificuldade do paciente em compreender as informações a respeito da maneira

como tomar os remédios.

Ao que seu amigo responde definindo o papel do profissional de saúde e

seus compromissos sociais e educacionais: “Pois é isso que eu digo sempre.

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Nós devemos orientá-los, educá-los. Não é só dar remédio, não minha amiga!

Nós temos que assumir também os nossos compromissos sociais e

educacionais!”.

Logo após a cena entre os dois médicos há um corte seco para um

insert - recurso típico de vídeo educativo: texto com informações médicas

narrado em voz off para conferir validade científica:

“A baciloscopia nos mostra numerosos bacilos álcool-ácidos resistentes e pelas normas da Divisão Nacional de Pneumologia Sanitária podemos classificá-las com três cruzes, ou seja, mais de dez bacilos em cinquenta campos examinados” (TUBERCULOSE: UM PERIGO REAL, 1986).

Logo na cena seguinte, a Dra. Vera confirma os resultados dos exames

de João: o diagnóstico é de tuberculose. Ela lhe receita uma série de remédios

e o encaminha para a farmácia do posto, que tem todos os medicamentos

prescritos. Aqui é possível observar a importância do funcionamento dos elos

do sistema de saúde como um todo: exame médico minucioso, orientações

adequadas e farmácia abastecida com a medicação recomendada.

As explicações da Dra. Vera sobre a maneira correta de tomar os

remédios não são compreendidas por João: “tava nervoso... Não entendi

nada...”. E na farmácia ao perguntar à atendente o procedimento correto João

é reencaminhado pela atendente ao consultório da médica a fim de que ela

repita a explicação, que então João, parece compreender.

Um novo close e duas outras cenas mais à frente expressam bem as

questões sociais envolvidas, ou os determinantes sociais de saúde - condições

de habitação, higiene e saneamento básico da família de João. O close em

moscas pousando sobre as louças expostas na casa de João, sua esposa

despejando água de uma lata na panela e João saindo de um cômodo de

madeira –seu banheiro - e descendo alguns degraus tirando da boca uma

prótese dentária que logo em seguida ele escova em uma bacia com água. É

possível ver facilmente a marca do creme dental usado por João: Kollynos.

Embalagem amarela com grandes letras verdes. Era a marca mais barata do

mercado na época.

Quando João chega do posto, sua esposa se despede de um dos filhos

que está uniformizado e vai para escola. João está abatido e ao ser sabatinado

pela esposa revela ser tuberculose a causa da tosse que há meses o

incomoda.

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Embora tenha ficado levemente aborrecida ao saber que seu marido

está se tratando com uma médica, sua esposa ao descobrir que é tuberculose

se assusta e demonstra desinformação sobre a doença: “Eu vou separar suas

coisas: prato, garfo, copo. Tudo teu vai ser fervido e separado. Deus me livre

se isso passa para as crianças. Já pensou?” E da mesma maneira João: “E nós

também! Acho bom a gente dormir separado. Se não você pode pegar isso...”.

Nas cenas seguintes o texto confere grande importância à mulher nas

decisões relativas ao tratamento: “Sem você a casa não anda...”, “Deixa eu ver

essa receita”. “João vem cá tomar seu remédio! Amanhã você tem que ir no

posto!”. Esse papel da mulher é destacado inclusive com relação à continuação

do tratamento e o não abandono: “Que besteira é essa homem? Se o médico

mandou voltar, tem que ir!”. “Tá, melhorou muito, mas tem que voltar... depois a

doença volta e vai dar mais trabalho ainda, heim!”.

Somente depois de um mês de tratamento, quando João volta ao posto

(por insistência da esposa), é que ele é informado sobre as forma de contágio e

da necessidade de que sua família faça exames para saber se alguém foi

contaminado quando também é alertado para a importância da continuidade do

tratamento.

Logo em seguida uma única cena mostra ao espectador o tipo de

trabalho que o personagem principal tem: João trabalha lixando a lataria de um

carro. A julgar pela promessa feita ainda em uma das primeiras cenas do vídeo

ao compadre que lhe emprestara “cem pratas”, trata-se provavelmente de um

biscate, ou seja, um trabalho informal, precarizado, sem direitos sociais como

previdência social e licença para tratamento de saúde.

O vídeo é encerrado como um fade out seguido de imagens de pessoas

doentes em hospitais e em off o texto informativo sobre os números de casos

de tuberculose no Brasil e no mundo, as implicações sociais desta doença e a

responsabilidade dos profissionais de saúde no combate à tuberculose.

Ao realizar a análise do vídeo “Tuberculose: um perigo real” foi possível

apontar algumas escolhas na utilização dos recursos da linguagem audiovisual:

planos, enquadramentos, trilha sonora, texto e luz e inferir os efeitos

imaginados pelos produtores sobre o público almejado. A partir da análise em

conjunto dos dados coletados na análise fílmica, no grupo de discussão, na

entrevista com o produtor e na entrevista em profundidade com um dos

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integrantes do RAP é possível comparar esses dados e verificar em pontos há

monossemia ou polissemia entre sentido e leitura preferencial e as leituras

elaboradas, assim como é possível observar essas leituras à luz das

dimensões do modelo analítico multidimensional de Hall/Schrøder.

7.3 ENTREVISTA COM O PRODUTOR DO VÍDEO “TUBERCULOSE: UM

PERIGO REAL”

Esta seção apresenta uma entrevista com o Prof. João Luiz Leocádio

que integrou a equipe de produtores do vídeo “Tuberculose: um perigo real”

além de coordenar o Laboratório de Vídeo Educativo nessa mesma época.

A entrevista realizada com o professor João Leocádio sobre o vídeo

“Tuberculose: um perigo real” se concentrou em algumas questões que

pudessem contribuir para as análises pretendidas. Desta maneira foram

elaboradas perguntas que permitissem obter informações sobre o porquê

desse vídeo ter sido realizado, quais os objetivos dessa produção, público alvo

e a relação médico-paciente. Também se buscou saber sobre o processo de

elaboração do roteiro, o papel da mulher apresentado no vídeo, assim como o

comentário do produtor sobre a avaliação de alguns médicos que assistiram ao

vídeo.

O professor João iniciou sua fala lembrando que o vídeo fazia parte de

um conjunto de materiais educativos que incluía um livro-texto e um conjunto

de slides-som. E que o objetivo era o fortalecimento do ensino da tuberculose

nas faculdades de medicina para com essa estratégia reduzir o número de

casos de tuberculose no país. Segundo o professor era importante sensibilizar

o futuro médico para um atendimento que levasse em consideração o contexto

social do paciente, seus hábitos e de seus familiares. Ou seja, na construção

de uma nova relação médico-paciente, na mudança na abordagem que

considerasse os determinantes sociais de saúde.

Quanto ao roteiro, de acordo com o professor João, este foi baseado em

histórias do cotidiano vivido pelos médicos que eram relatados pelos próprios

discutindo as questões consideradas relevantes: a baixa qualidade do

atendimento médico, muitas vezes apressado e as condições precárias de

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atendimento como a falta de medicamento no posto. E o papel da mulher

construído pelo vídeo, de acordo com o professor João, foi baseado nos

comentários dos médicos que contribuíram no roteiro: a mulher é quem cuida

da família naquele contexto social representado.

Para o professor João a marca das observações realizadas pelos

médicos que assistiram ao vídeo foi a credibilidade. Os médicos consultados

sobre suas impressões a respeito do teor do vídeo apontaram as situações

retratadas como “bem próximas do real”. Assim, a identificação do estudante

de medicina com a personagem da jovem médica e a sensibilização deste

profissional para as condições de vida do paciente que procura o posto de

saúde projetado no vídeo foi alcançado segundo o professor João.

7.4 PERFIL SOCIOCULTURAL

Ao analisar as respostas dos questionários socioculturais aplicados foi

possível chegar a algumas conclusões a respeito do perfil dos jovens

entrevistados: suas preferências e referências.

O grupo formado por três moças e dois rapazes – Júlia, Léo, Cláudio,

Janaína e Léia - têm idades que variam entre vinte e dois e vinte seis anos de

idade e são em sua maioria nascidos no Rio de Janeiro com exceção de Léo,

que nasceu em São Luiz do Maranhão. Todos afirmaram gostar de assistir a

filmes, e o Romance foi o gênero mais apreciado, seguido dos filmes de Ação e

Comédia.

Entre as idas e vindas do trabalho que a cada dois anos é interrompido e

avaliado para possível renovação de contrato com a Prefeitura, Júlia está há

dez anos no RAP em diferentes funções: dos quatorze aos dezesseis anos foi

Multiplicadora bolsista depois de um mês como voluntária, dos vinte e um aos

vinte e três foi Dinamizadora e depois de um mês que completou vinte e três

anos fez a prova para Agente Comunitário de Saúde, o que já tem dois anos.

Júlia faz curso Técnico de Enfermagem e Janaína, que gosta como os pais de

filmes de ação e além destes de comédia, romance e ficção científica, cursa o

4º período de Psicologia e seus pais, como os de Júlia e Léo, são nordestinos.

A mãe de Janaína não estudou e o pai fez técnico em enfermagem. Janaína

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que é uma das mais recentes integrantes do RAP participou da seleção depois

que soube por um amigo no Facebook e desde janeiro é Dinamizadora

acompanhando os multiplicadores nos debates e palestras. Segundo ela o RAP

trabalha com “a educação entre pares, que consiste em adolescentes falando

com adolescentes, o que é um facilitador devido à aproximação da linguagem”.

Recentemente Julia assistiu a “De pernas pro ar 2”, “Uma prova de

Amor”, Assuntos de meninas”, “Diário de Uma Paixão”, o seriado “The Law &

Order” e “Mobilidade Urbana”, vídeo educativo do RAP da Saúde. Ela gostaria

de ter realizado os filmes que viu recentemente e “As namoradas de Papai”.

Julia também gosta de vídeos educativos, pois acredita que contribuem para

que se tenha uma visão ampla de um tema e para mudar o que se pensa sobre

o assunto. Além de “Mobilidade Urbana” Júlia assistiu aos vídeos educativos

“Violência no Namoro” ambos do RAP e “Alimentação Saudável” de Paloma

Azul. E se fizesse um vídeo educativo não deixaria de fora “as pessoas”.

Janaína assistiu recentemente a filmes como “Quem quer ser um

milionário”, “O Todo Poderoso”, “Tropa de Elite 2” e assistiu também a séries

norte-americanas como “Law & Order”, CSI e websséries como Porta dos

Fundos e “220 Volts”. Entre os filmes que Janaína gostaria de ter feito estão “A

Era do Gelo”, “Rei Leão” e a webssérie “Porta dos Fundos” em que ela gostaria

de realizar a edição.

Ela é do grupo a única que não gosta de vídeos educativos por

considerá-los “muito explicativos” e porque “ditam regras” Os vídeos educativos

que assistiu recentemente são todos do RAP da Saúde e se fosse fazer um

vídeo educativo ela não deixaria de colocar “histórias reais” para gerar

identificação com o público.

Todos trabalham, mas Janaína e Léia não têm carteira assinada. Léia -

faz kits para os eventos externos e internos de prevenção DST/AIDS e

“conscientiza as pessoas da comunidade sobre dengue e higiene” - tem vinte e

quatro anos é carioca assim como os pais, mas ao contrário deles que têm

“segundo grau completo” parou de estudar no 2º ano do Ensino Médio há três

anos. Como Janaína (que também fez inglês como Léo), Léia fez curso de

Produção Cultural. Léia é a única do grupo que declarou seguir uma religião: é

umbandista e se entusiasma ao relatar que os jovens fazem cursos de

formação com as enfermeiras da clínica da família para atuar em ações e

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eventos em escolas, no centro de saúde e em grupos organizados. E que no

polo “já estão fazendo primeira peça que foi elaborada pelos multiplicadores”.

Ela gosta de filmes de comédia e como seus pais dos românticos, mas estes

diferentemente da filha também gostam de filmes de ação. Recentemente

assistiu a “Virgem de 40 anos”, “Auto da compadecida”, “Mulan”, “Vida Secreta

das Abelhas”, “Um ato de coragem - Charles Brown Junior,” “Até o Limite da

Honra”, “Preciosa” e “Homem do Futuro”

Léia gostaria de ter realizado “Homem do Futuro” e “Ônibus 174”. Léia

gosta de vídeos educativos porque “faz pensar no próximo” e se fosse fazer um

vídeo educativo não faltaria “prevenção” e “diversidade”. Os vídeos educativos

que assistiu recentemente foram os do RAP da Saúde.

Cláudio tem vinte e seis anos e entrou para o RAP por meio de uma

entrevista feita pela coordenação geral do projeto. Segundo Cláudio esse

processo foi sendo alterado no decorrer do ano de acordo com as sugestões

dos próprios jovens quando havia uma alguma substituição.

Ele terminou o Ensino Médio há três anos e fez como Léo curso de

informática. Os pais de Cláudio têm ensino fundamental e gostam de assistir a

filmes de Ação, Românticos e Infantil, os pais de Júlia e Léo têm ensino

fundamental incompleto e Julia assim como seus pais gosta de ver filmes e

como eles ela prefere os de comédia e os românticos, mas diferente deles ela

gosta também de filmes de suspense. Já Léo como seus pais gosta de assistir

a filmes de comédia e ação, mas além destes também aprecia os românticos,

os de Ficção Científica e Infantil.

Cinéfilo Cláudio assiste a filmes de Ação, Romântico, Ficção Científica e

Infantil e assistiu recentemente a “Tarzan”, “Batman 3” “Demolidor” e “Elektra”e

“Violência no Namoro” vídeo educativo produzido pelo RAP da Saúde. Entre os

filmes que Cláudio gostaria de ter realizado estão “Avatar” e “todos os filmes de

super-heróis”. Ele gosta de vídeos educativos “porque esses vídeos ajudam a

trocar ideias de uma maneira bem legal e interessante”, assistiu recentemente

ao vídeo “Violência no namoro” do RAP da Saúde e se fosse fazer um vídeo

educativo Cláudio não deixaria faltar “uma linguagem de fácil entendimento

para as pessoas que irão ter acesso”.

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Como estagiário do projeto Cláudio diz se sentir bem e “revigorado” em

ver que os jovens estão acreditando e se dedicando engajados em algum

projeto ou trabalho nessa área.

E se sente contribuindo para a melhoria da sociedade, para a vida das

pessoas com quem convive e para “minha vida, pois eu adoro essa troca que

meu trabalho no RAP e outros espaços de que participo me proporcionam”.

Entre os filmes que Léo assistiu recentemente estão “High School

Musical”, “Para sempre”, sobre sexualidade, a série “Fringe”, de ficção

científica e um vídeo sobre violência no namoro. Entre os que Léo gostaria de

ter feito está “Fringe”, em que gostaria de trabalhar no roteiro e filmagem. Léo

gosta de vídeos educativos “eles ajudam a aprender mais sobre o assunto e

trabalhar com meu grupo de adolescentes”. Léo assistiu recentemente a um

vídeo educativo de Paloma Azul sobre sexualidade “e é com ação”. E em seus

vídeos educativos não pode faltar drama e romance.

Atuando como Dinamizador no Pólo Rocinha (o único pólo com dois

turnos) desde que entrou no RAP há sete anos, Léo, junto com Janaína,

trabalha como Dina coordenando sete multiplicadores bolsistas e cinco

voluntários em temas específicos sobre saúde que eles irão multiplicar nas

escolas e avaliando o desempenho deles tanto na produção independente de

atividades e planejamento quanto na prática, ou seja, na execução. A ideia é

que a cada semana um grupo de multiplicadores vá a alguma escola fazer uma

oficina sobre o tema proposto. “E por enquanto estamos focados apenas nisso

já que serão oito encontros que durarão mais ou menos dois meses”.

Levado ao RAP por uma amiga que era paciente do Adolescentro

Rocinha, Léo conta que começou a frequentar o espaço, onde conheceu Dilma,

na época diretora do Adolescentro, e a participar das atividades que eram

oferecidas lá. E embora mal conhecesse o Rio de Janeiro, pois havia acabado

de chegar do Maranhão Léo foi até o Centro da cidade para participar da

seleção para o projeto.

Sobre sua experiência na produção de vídeos, Léo descreve o processo

que se deu inicialmente com aulas: aprender a filmar, a fotografar, a discutir

temas, e escrever o roteiro. Tudo produzido a partir da divisão de tarefas: quem

iria filmar, dirigir, atuar, etc. E o resultado foram seis vídeos sobre diversos

temas de saúde “feito por nós, com a nossa cara”.

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Encerrada a primeira fase do projeto em 2008, Léo foi convidado a ser

Agente de Documentação Médica do Adolescentro Paulo Freire tornando-se

um dos funcionários da unidade. Outros adolescentes, por conta da experiência

adquirida, foram trabalhar em projetos sociais desenvolvidos na comunidade.

Alguns saíram antes do término do projeto para entrar no mercado de trabalho,

seja para sustento próprio ou porque formaram suas famílias.

Quanto ao acesso aos meios de comunicação a Internet é unanimidade

entre os jovens do grupo: todos a acessam todos os dias. E logo em seguida é

a TV o meio preferido. Entre os meios a que os jovens menos recorrem para

obter informações estão as revistas e os jornais impressos (apenas algumas

vezes por mês). Apenas Léia lê jornal impresso de um a três dias por semana.

O rádio foi o meio que mais dividiu os jovens em sua preferência que oscilaram

entre algumas vezes por mês (Léo) e todos os dias (Julia e Janaína).

O grupo pesquisado demonstrou muito interesse em Arte e Cultura em

viagem, exceto Léo (médio interesse) e em Medicina e Saúde, com exceção de

Cláudio que declarou ter médio interesse neste último tema e nenhum

interesse em Esportes. Todos declararam médio interesse em Meio Ambiente.

Em Política o interesse variou entre médio e pouco interesse assim como em

Economia e Religião que desperta o interesse somente de Léia.

7.5 GRUPO DE DISCUSSÃO

As discussões provocadas pelas questões norteadoras do grupo de

discussão realizado com os jovens integrantes do projeto de educação em

saúde RAP da Saúde possibilitaram conhecer um pouco das reflexões destes

jovens sobre temas como preconceito, relação médico-paciente e

Determinantes Sociais de Saúde, abordados no vídeo “Tuberculose: um perigo

real”. O modelo multidimensional de análise da recepção de Hall/Schrøder

(2003). permite analisar as opiniões dos participantes e compreender as

posições de leituras adotadas por eles nas dimensões Compreensão,

Discriminação e Posição.

A primeira questão do grupo de discussão auxilia no estudo da

dimensão de Compreensão. Ao serem indagados sobre “o que é o vídeo” os

jovens entre sorrisos tímidos nos momentos iniciais da discussão foram rápidos

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em suas respostas: “Tuberculose!” E completavam com gestos dando

impressão de que acharam a pergunta óbvia.

Para alimentar a discussão o moderador completou: E qual é a história

que o vídeo conta? Quem são os personagens? Janaína prontamente

respondeu: “a procura de João por um médico”, “o encontro com a médica que

lhe pede exames detalhados e o diagnóstico”. E Júlia completa: “Só que a

família é citada como de baixa renda, né?”

A moderadora ainda buscando dinamizar a discussão nesse momento

inicial emenda: O que o vídeo mostra para vocês chegarem a esta conclusão?

A essa pergunta Cláudio, Janaína e Léia destacam a camisa descosturada do

protagonista, a cena em que a esposa de João questiona como farão para

comprar os remédios e o cenário que mostram “as condições da casa dele”.

É possível perceber, nas respostas dos participantes da discussão, que

há uma imediata apreensão do conteúdo apresentado no vídeo exibido.

Quando o debate se concentrou sobre como o vídeo mostra as condições

econômicas dos personagens, a experiência desses jovens com a utilização

dos recursos linguagem audiovisual provocou leituras que de acordo com a

dimensão Discriminação de Hall/Schrøder (2003). transitaram entre os “graus”

da imersão intensa à fraca e o distanciamento fraco ao intenso.

Para Cláudio, a cena em que o personagem principal está com a camisa

descosturada “pode acontecer: usar a mesma camisa mais de uma vez”

(imersão intensa), no entanto concorda com Léo, quando este afirma ser

“proposital” para mostrar a passagem do tempo (imersão fraca) e logo em

seguida declara ver esse recurso como algo estereotipado para facilitar a

compreensão do espectador de que se trata de um personagem pobre

(distanciamento intenso). Hall/Schrøder (2003). Para explorar melhor as

reflexões que se apresentavam o moderador estimulou mais esse aspecto:

“Quais as cenas do vídeo que te levam a esta conclusão?” Cláudio, Léia e

Janaína apontaram as cenas que mostram o lugar onde os personagens

moram, o figurino e as ações de João pegando dinheiro emprestado com seu

compadre, bebendo no bar, e andando pela Central do Brasil. Estes fatores

caracterizam, no entendimento dos espectadores, o personagem João como

alguém de baixa renda, que segundo Fish (1992) faz parte do entendimento

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desses jovens a referência “baixa renda” como alguém que se apresenta tal

como João.

Ainda buscando conduzir a questões que contribuíssem para as análises

das leituras adotadas, a moderadora insistiu: Quem são os personagens desta

história? Janaína, Júlia e Cláudio concordaram em afirmar que são pessoas

“negras de baixa renda”. A cor da pele para o grupo também é uma referência

compartilhada o que caracteriza novamente o conceito de comunidade

interpretativa (FISH, 1992).

E para dar seguimento à discussão o moderador partiu para a segunda

questão: Para você, quais são os principais conflitos vividos pelo personagem?

Como este personagem reage diante das situações: condições de trabalho,

moradia, a relação médico-paciente, acesso à informação, preconceito e

outros? A resposta foi unânime em apontar a busca e a espera por

atendimento médico. Cláudio, Janaína e Léia foram enfáticos: “esperar o

médico, a dúvida ...Ele passa por dois hospitais, onde ele é tratado como: ahh ,

qualquer coisinha toma um remédio...”

Para observar a afinidade que os espectadores demonstram em relação

às escolhas feitas pelos personagens analisamos as respostas sob a luz da

dimensão Posição. Hall/Schrøder (2003). “Como vocês veem a reação tanto de

João quanto da esposa diante desse diagnóstico de tuberculose e as escolhas

deles diante dessa avaliação e as práticas deles?”

Os jovens participantes da discussão demonstraram concordar com a

atitude dos personagens, inclusive com a atitude de separar os utensílios

usados por João e a justificaram argumentando que essa era a informação de

que o protagonista dispunha já que a médica só falou sobre a transmissão e a

forma de contágio trinta dias depois quando João voltou para nova consulta. Os

jovens argumentaram inclusive que esta seria uma atitude usual, pois de

acordo com Léia “hoje em dia isso ainda tem” o que foi ratificado por Janaína

cujo pai teve há pouco tempo e “minha avó separou” os objetos do doente.

Quando a questão se referiu à maneira como fariam um vídeo educativo

abordando a tuberculose embora todos tenham sugerido a utilização de algum

recurso estético (música, luz, enquadramentos), Cláudio e Léo consideraram o

vídeo “bem feito e muito atual”, principalmente por discutir o sistema de

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atendimento à saúde que “ainda tem esse tipo de atendimento médico”. Léo

inclusive relembrou um acontecimento recente em que ao se sentir mal com

tosse e febre e foi até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e lá foi atendido

com indiferença pela médica que “mandou eu fazer Raio X, olhou, fez assim

uma cara feia, me deu amoxilina e mandou eu tomar durante sete dias... Só

isso... Falou nada... Falou nada!” O próprio Léo sugeriu que se fizesse um

vídeo educativo sobre tuberculose “com pessoas que sofreram com a

doença...”Para Cláudio o roteiro apresenta em alguns momentos os

personagens de maneira maniqueísta: “tem um mal... E tem o bem...” O

bonzinho e o ruinzinho”. “O João encontra uma médica maravilhosa que vai

fazer tudo por ele”. De acordo com Cláudio e Léia essa dicotomia é reforçada

pelo diálogo entre a médica e seu amigo, médico mais velho. O que gera uma

sensação de desconforto: uma relação paternalista em que de um lado fica o

paciente: “pobre é que não sabe de nada” E de outro “os médicos que têm uma

solução... Um saber. Inclusive na época ela tinha o carro do ano e ele tava lá

lixando um carro...” Para Léia a música foi o recurso que ela mudaria de forró

para um samba antigo por acreditar que combinaria mais com a Central do

Brasil, primeiro cenário apresentado pelo vídeo, ao contrário de Júlia e Janaína

que concordam com a escolha por entender que “a identidade do local pode

ser de nordestino”

Para aprofundar a discussão de questões que contribuíssem para as

análises das dimensões do modelo multidimensional de recepção o moderador

inquiriu: Você falou da casa dele agora... Como é que é o banheiro, a cozinha?

Diante desta provocação Júlia e Léia ressaltaram o close nas moscas

pousadas sobre as louças na cozinha de João. E Cláudio lembrou que a casa

de João fica no meio de um grande terreno, como Léo havia mencionado, o

que a torna mais arejada que as casas da Rocinha, onde várias casas ficam

“umas em cima das outras”, mas que a casa propriamente é um cubículo e a

família fica mais dentro da casa do que fora dela.

Outros aspectos estéticos foram destacados por todos como a luz que

de acordo com Cláudio em função de sua experiência como produtor ele

considera “muito importante” e o cenário que para ele foi “muito bem pensado”.

Para Júlia, os planos e enquadramentos utilizados em momentos

específicos merecem destaque como na hora em que a médica revela a João

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que ele tem tuberculose, quando a câmera foi se aproximando dele. Para Júlia

assim como para Cláudio, o close deve ser utilizado em algum momento

“importante, alguma reação, alguma coisa que você quer chamar a atenção

daquele momento...” O que para Janaína contribui para a “narrativa, não

necessariamente para falar da doença”. Embora Cláudio e Júlia concordem em

relação aos objetivos do close, eles divergem sobre o efeito produzido por esse

recurso na cena da louça na casa de João: enquanto para Cláudio não

acrescentou nenhuma informação, para Júlia mostra as condições de vida dos

personagens. O espectador pode acreditar ou não em um conteúdo audiovisual

como representação da realidade. E mesmo quando acredita pode desconfiar

em alguns momentos. Ou seja, ele pode adotar uma postura de imersão, mas

essa postura pode variar em diversos momentos indo de imersão intensa ou

fraca, chegando mesmo a um distanciamento crítico que também pode variar

entre fraco e intenso.

7.6 ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE COM UM INTEGRANTE DO RAP DA

SAÚDE

Esta seção apresenta a entrevista em profundidade realizada com

Cláudio, um dos integrantes do RAP da Saúde que participou do grupo de

discussão. A entrevista se concentrou em algumas questões como sobre o que

era o vídeo, com qual dos personagens do vídeo Cláudio mais se identificou, e

em que momento. Também buscou-se saber o que Cláudio pensava sobre a

relação médico-paciente mostrada no vídeo e se as situações apresentadas

correspondiam à realidade das pessoas que procuram o posto de saúde.

Cláudio também falou sobre o que achou do papel da mulher mostrada no

vídeo e sobre o que não poderia faltar em um vídeo educativo produzido por

ele.

Segundo Cláudio, o vídeo conta a história de uma família cujo pai com

tem tuberculose e que passa por uma “peregrinação” para conseguir um

atendimento no posto de saúde e quando consegue recebe do médico um

atendimento superficial. Somente no terceiro posto consegue um atendimento

atencioso, descobre que está com tuberculose e começa a se tratar. O vídeo

mostra também a relação da família com a doença.

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Cláudio declarou não ter se identificado com qualquer dos personagens,

mas destacou o que definiu como a persistência do protagonista na busca de

solução para seu problema. Para Cláudio, a relação médico –paciente que o

vídeo apresenta ainda é muito comum nos dias de hoje e é marcada pela

contradição: ou se negligencia o atendimento ou se subestima a capacidade do

paciente em seguir o tratamento, estabelecendo uma relação hierárquica em

que não se considera a autonomia do paciente.

Cláudio considera o vídeo atual por apresentar uma situação que ainda

é vivida por muitos pacientes que buscam atendimento nos postos de saúde.

Para o entrevistado embora ainda haja muitas mulheres como a mostrada no

vídeo, lhe incomoda ver uma mulher que vive pra ser dona de casa. Para

Cláudio essa é uma visão é machista e ultrapassada, na qual o machismo

impera e na qual ele não acredita. Um vídeo educativo, na visão de Cláudio,

deve levantar questionamentos para estimular a reflexão do público sobre os

temas abordadas. Que o vídeo permita o público questionar o que está sendo

dito ou mostrado.

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8 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

A partir do cruzamento dos resultados obtidos durante a pesquisa foram

realizadas considerações sobre as categorias que constituem esse estudo que são

especificadas abaixo:

De acordo com Ellsworth (2001), o público nem sempre é “exatamente quem

o filme pensa que ele é” e frequentemente o modo de endereçamento “’erra’ seu

alvo, o que exige uma ‘negociação’ por parte do espectador”, ou seja, segundo

autora “não existe um único e unificado modo de endereçamento em um filme”

(op.cit. p. 19-20). Segundo o professor João em sua entrevista o vídeo “Tuberculose:

um perigo real” tem como público-alvo os estudantes de medicina e busca

sensibilizá-los para a importância da relação medico–paciente no processo do

tratamento da tuberculose e para questões como os hábitos e práticas sociais do

usuário dos serviços dos postos de saúde (inclusive para localizar novos casos). O

que foi inferido pela análise fílmica que apontou o atendimento superficial e

apressado, a falta de medicamentos e a espera de João por atendimento médico.

Embora tenha esse endereçamento: os estudantes de medicina, o vídeo

sensibilizou os jovens do RAP da Saúde que apontaram a espera e o atendimento

superficial como os principais conflitos enfrentados por João. O que foi ratificado por

Cláudio, “uma peregrinação para conseguir um atendimento no posto de saúde”.

Portanto é possível confirmar que não existe um único e unificado modo de

endereçamento em um filme ao ser assistido por diversos públicos houve a

negociação à qual se refere à autora.

De acordo com Vanoye & Goliot- Leté (p.23), é função da análise de um filme

também “situá-lo num contexto”, portanto para compreender o sentido preferencial

do vídeo “Tuberculose: um perigo real” é importante observar suas estratégias de

produção à luz de seu contexto histórico, seus objetivos e temas considerados

importantes pelos produtores no período durante o qual foi produzido. Assim é

possível interpretar as escolhas feitas por seus produtores e refletir sobre os efeitos

que pretendiam produzir nos espectadores. Segundo os autores que nortearam esta

análise fílmica, “um filme é um produto cultural inscrito em um determinado contexto

sócio-histórico” e, portanto “não poderiam ser isolados dos outros setores de

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atividade da sociedade que os produz” (VANOYE, F. & GOLIOT-LÉTÉ, A. 1994,

p.54). Por isso foi importante levar em consideração que se trata de um vídeo

produzido em 1986 como parte de uma Campanha Nacional Contra a Tuberculose.

Ao ser assistido pelos jovens do RAP da Saúde foi considerado “atual”. Definição

ratificada por Cláudio durante a entrevista em profundidade.

Na entrevista com o produtor ficou evidente que foi pensado representar a

mulher no contexto social imaginado pelos produtores: “a gente retratou a sociedade

brasileira. Na sociedade brasileira prevalece a mulher no lugar de quem cuida da

família”. Na análise fílmica foi indicado o destaque da atuação da mulher no

tratamento do protagonista. No grupo também foi destacada essa atuação:

“fantástico!”. E Cláudio, embora entenda que essa é uma imagem que predomina,

discorda dessa representação. Aqui vemos dissonância entre sentido preferencial e

leitura preferencial.

A atuação da médica - segundo o professor Leocádio, pensada exatamente

para que o aluno de medicina se identificasse com a médica recém-formada, capaz

de detectar a tuberculose - foi destacada na análise fílmica e no grupo de discussão.

No entanto, a leitura dos jovens do RAP apontam uma relação de hierarquia e

paternalismo que não tinha sido projetada pelos produtores. Da mesma maneira, na

entrevista em profundidade as leituras produzidas pelo entrevistado sobre o papel da

mulher, difere do que foi imaginado pelo produtor do vídeo, evidenciando a

assimetria entre sentido preferencial e leitura preferencial (HALL/SCHRØDER,

2003).

É possível sintetizar as análises realizadas de acordo com as dimensões

estudadas. Observadas as leituras do grupo conforme a Dimensão Compreensão de

Hall/Schrøder (2003) é possível verificar que todos os seus integrantes

demonstraram compreender o conteúdo do vídeo: (tuberculose, procura por

atendimento médico, médica que pede exames médicos, pessoas negras de baixa

renda). Para justificar essa última resposta o grupo afirmou terem sido utilizados

recursos estereotipados para facilitar o entendimento do espectador como a camisa

descosturada (figurino), as condições da casa dos personagens (cenário) e as cenas

do protagonista pedindo dinheiro emprestado, frequentando um bar e andando pela

Central do Brasil (roteiro).

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Há momentos em que ocorre a confluência nas análises podendo uma

mesma resposta ser interpretada simultaneamente em diversas Dimensões, como

neste momento em que as Dimensões de Hall/Schrøder (2003) Compreensão e

Discriminação se articulam. Segundo a Dimensão Discriminação o grupo destacou a

“atualidade” do vídeo, pois as situações mostradas “acontecem hoje em dia”, a “boa

luz” e enquadramentos relevantes (“a câmera vai aproximando quando a médica diz

que ele tem tuberculose”). Na Dimensão Posição foi possível observar a

concordância do grupo com relação às atitudes dos personagens: separar os

utensílios, dormir separados, pois agiram de acordo com as informações que tinham

já que a médica só mencionou as formas de contágio um mês depois da primeira

consulta.

Mais uma vez há confluência nas leituras, as dimensões Discriminação e

Posição são acionadas quando o grupo aponta algumas situações apresentadas no

vídeo como “maniqueístas” e “paternalistas” em que há de um lado médicos “ruins” e

uma médica “boa”. Da mesma maneira há a médica “que tem o saber fazendo tudo

por João, o pobre que não sabe nada”. Para o grupo essa percepção é reforçada

nas cenas em que a médica dirige um carro e João lixa a lataria de um carro

semelhante.

Embora o produtor do vídeo, entrevistado nessa pesquisa, tenha declarado

que abordar a relação médico-paciente era um dos objetivos da produção. As cenas

que mostram essa relação incomoda os jovens que a apontam uma hierárquica

entre os saberes médicos e populares. Confirma-se que os sentidos produzidos

pelos espectadores escapam ao que foi projetado pelos produtores, ou seja a leitura

preferencial diverge do sentido preferencial construído pela produção. Hall/Schrøder

(2003).

Para refletir sobre as leituras de um grupo específico como o que foi escolhido

para esta pesquisa o conceito de comunidade interpretativa foi considerado

apropriado. De acordo com Stanley Fish (1992) – um dos precursores do termo

inicialmente utilizado em estudos literários – as interpretações que determinados

grupos realizam dos mais diversos conteúdos midiáticos ocorrem em função de

fatores macro-sociais (classe, etnia, gênero, idade), as relações micro-sociais.

Para Fish (1992) o repertório semântico partilhado ou adquirido em uma

comunidade interpretativa conduz a uma produção de sentido predominante, ou

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seja, a uma semelhança nas leituras desenvolvidas a partir de experiências de

leitura compartilhadas. Para o autor a leitura é produzida a partir do

compartilhamento de repertórios sociais e culturais específicos que emergem da

família, do campo profissional, pelas convenções e tradições culturais.

De acordo com a concepção de comunidade interpretativa as diferenças nas

leituras são atribuídas não a diferenças individuais, mas ao fato de as pessoas

pertencerem a diferentes comunidades interpretativas.

Tendo a noção de comunidade interpretativa como eixo norteador buscou-se

identificar as particularidades das leituras destes jovens referentes a suas

referências culturais.

Júlia que faz curso Técnico de Enfermagem e há dois anos é Agente

Comunitário de Saúde e está há dez anos no RAP em diferentes funções enfatizou a

importância do exame de escarro para o diagnóstico da tuberculose e da

continuidade do tratamento por seis meses acrescentando informações detalhadas

do processo de cura conforme exemplifica o fragmento de sua fala: “quando chega

no décimo quinto dia ela faz um exame pra ver se tá transmitindo bacilo, se não tiver

aí ela pode voltar a vida dela normal, só que não pode fazer muito esforço até

completar três meses de tratamento”. Informações partilhadas por Júlia, mas que

causaram surpresa para seus colegas, embora todos tenham acesso à Internet.

Janaína estudante do quarto período de Psicologia na UERJ (Universidade Estadual

do Rio de Janeiro) se mostrou incomodada com a atitude da Dra. Vera. A médica só

informou a João as formas de transmissão da tuberculose e a necessidade de

realização de exames em toda a família do paciente na segunda consulta, trinta dias

depois do diagnóstico. Isso levou D. Hortênsia, esposa de João, a separar os

utensílios de uso pessoal do marido e a dormir separada dele gerando outros

desconfortos para o casal. Para Janaína “tem que falar primeiro”. E foi essa atitude

segundo Júlia que acabou por possibilitar a reprodução de hábitos discriminatórios

“sem querer ele sofreu preconceito”. Janaína que também fez curso de Produção

Cultural se mostra resistente ao formato dos vídeos educativos segundo ela

explicativos e prescritivos e diz que gostaria de produzir um vídeo com histórias reais

para gerar identificação com o público.

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Léia, a única dos participantes a se declarar praticante de uma religião gosta

de vídeos educativos porque “faz pensar no próximo” e, ela que fez curso de

produção cultural e Cláudio que se declarou cinéfilo enfatizaram os aspectos

estéticos do vídeo como a música e a luz. Cláudio aprecia filmes de super-heróis e

gostaria de ter produzido “Avatar”. Léo que como Júlia é um dos mais antigos

integrantes do RAP atua como Dinamizador no Pólo Rocinha. Coordenando um

grupo de multiplicadores que “a cada semana vai em uma escola fazer uma oficina

sobre um tema proposto” Léo gostaria de ter escrito o roteiro e participado das

filmagens de “Fringe”. Uma característica importante a ser destacada é que embora

estejam envolvidos em atividades de participação e discussão de questões sociais

estes jovens que declararam muito interesse em Arte e Cultura assim como

Medicina e Saúde, afirmaram ter de médio a pouco interesse em Política.

Para melhor compreensão das discussões mencionadas acima foi produzido

um quadro, Quadro 2, com um resumo com os dados coletados:

Perfil sociocultural dos jovens pesquisados

Cinco jovens com idade entre 22 e 26 anos;

Léia, Júlia e Janaína, Léo e Cláudio;

Moradores de outras comunidades;

Janaína faz curso de graduação em Psicologia na UERJ;

Júlia faz curso Técnico em Enfermagem e é Agente Comunitário de Saúde;

Léo trabalha como funcionário contratado pela Prefeitura;

Léia e Cláudio trabalham somente no RAP;

Todos gostam de cinema e os assuntos que mais os interessam são Arte e

Cultura, seguidos de Saúde e Medicina;

Demonstram pouco interesse em Política e Economia;

Todos gostariam de produzir se próprio filme;

Quadro 2: Resumo das informações coletadas junto aos integrantes do RAP da Saúde. Fonte: Elaborado pela própria pesquisadora.

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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho investigou as leituras realizadas por jovens

produtores de vídeos educativos em um projeto não formal de educação em

saúde, o RAP da Saúde. O vídeo assistido por esses jovens foi “Tuberculose:

um perigo real” produzido pelo NUTES para a Campanha Nacional contra

Tuberculose em 1986.

Pesquisando a produção e a recepção do vídeo em questão,

articularam-se as informações coletadas por meio dos materiais referentes a

esses dois pólos do processo comunicativo e analisados a produção de sentido

do grupo pesquisado à luz de suas experiências com o audiovisual e com as

discussões sobre Educação em Saúde e suas referências culturais, segundo a

noção de comunidade interpretativa de Stanley Fish (1992). Também foram

consideradas as dimensões de Compreensão, Discriminação e Posição do

modelo multidimensional de análise de recepção de Hall/Schrøder (2003).

Os resultados e discussões apontam para a compreensão do receptor

como sujeito ativo na (re)elaboração dos significados a que tem acesso. As

análises das leituras produzidas durante a realização do grupo de discussão e

do perfil sociocultural serviram para compreender a influência da relação do

jovem com o audiovisual e com a Educação em Saúde nas leituras adotadas.

De acordo com o conceito de comunidade interpretativa de Stanley Fish (1992),

os sentidos produzidos por um grupo estão de acordo com o repertório cultural

partilhado entre seus integrantes. Nesse sentido embora o questionário

sociocultural revele a preferência desses jovens por filmes “comerciais”, a

experiência dentro de um projeto que problematiza os aspectos estéticos na

produção audiovisual possibilita a construção de um olhar crítico e

comprometido com o espectador. As análises das leituras produzidas durante

as discussões realizadas como parte do estudo de recepção foram

enriquecidas ao serem observadas ao par com as informações fornecidas pelo

questionário sociocultural de cada participante. É importante, por exemplo,

considerar que Janaína, estudante de Psicologia, é a única participante a

ressaltar o desconforto do protagonista por ter recebido informações

incompletas sobre as forma de contágio da tuberculose. Como também é

importante destacar a familiaridade de Júlia, estudante de Enfermagem e

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Agente Comunitária de Saúde com o processo de diagnóstico e tratamento da

tuberculose, inclusive na importância da continuidade do tratamento.

Entre os resultados desta pesquisa é possível destacar a importância

dos estudos sobre Educação em Saúde considerarem o conceito ampliado de

saúde, que valoriza os aspectos socioculturais dos atores envolvidos. Essa

concepção preconiza que hábitos e saberes, ou seja, as referências culturais e

práticas sociais dos pacientes sejam consideradas fatores fundamentais no

processo de Educação e Promoção da Saúde.

Também é fundamental ressaltar as experiências de Educação não

formal que por suas próprias metodologias estimula a autonomia e o

protagonismo juvenil no processo de Educação em Saúde. O Programa de

Saúde do Adolescente (PROSAD), criado em 1989 pelo Ministério da Saúde

para atender jovens de 19 a 24 anos, foi concebido como estratégia de gestão

de política pública pautadas na valorização da participação dos adolescentes

nas ações de promoção da saúde e na intersetorialidade, o que se verifica no

RAP da Saúde, onde jovens elaboram ações junto com profissionais de saúde

para falar diretamente com outros jovens sobre questões que não passam por

um quadro patológico, mas pelo contrário, de questões de vida: gravidez

precoce e violência no namoro. Essas ações ocorrem nos mais diferentes

locais: na escola, nas associações de moradores e outros espaços da

comunidade.

Outra consideração a ser ratificada é a importância da continuidade dos

projetos realizados, uma questão constante quando se discute a relação entre

o poder público e a assessoria das Organizações não Governamentais

(ONGs), cujos limites de alcance podem levar à fragilização do trabalho

desenvolvido.

Os limites desta pesquisa nos permitem apresentar os resultados

obtidos em um processo incipiente e estimulam ao aprofundamento das

questões em investigações futuras.

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10 REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

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Apêndice I – Análise Fílmica - Tuberculose: Um Perigo Real

Descrição

Plano Geral. Central do Brasil no Rio de Janeiro. Corta. Plano Médio.

João sentado no banco de um ônibus tossindo muito. Corta. Close no letreiro

do ônibus Caxias – Central da empresa Carioca. O plano vai abrindo em um

travelling até plano geral que mostra João descendo do ônibus e caminhando

na área interna da Central. Corta. João caminha em meio da multidão nas ruas

próximas à Central. Corta. João segue em direção ao Campo de Santana

(sempre tossindo e às vezes cospe) e passa por um homem negro que dorme

no banco desta área verde do centro do Rio. Corta. Close em um “lambe-

lambe”. Câmera abre em plano geral que mostra João tossindo e pedindo

informações ao fotógrafo. Segue caminhando sempre tossindo e às vezes

cuspindo. Corta. Plano médio mostra João tossindo e caminhando e só então é

possível ver detalhes como a camisa descosturada na altura do ombro. João

para, respira e segue até um guichê de atendimento ao público.

João que tosse (ofegante) - Moça, eu preciso de um médico!

Atendente (lendo uma revista lhe entrega um cartão branco sem olhá-lo) -

Toma a ficha e aguarda ser chamado...

João tossindo caminha em direção a um banco.

(Voz em off da atendente) - Número doze pode entrar...

João tossindo senta ao lado de outro homem que lê um jornal e fuma.

Sabemos disso não por ver o cigarro, mas pela fumaça no meio dos dois

personagens.

João (desanimado) É... Nesse passo vou ser atendido só à noite...

Homem do jornal - Aqui é assim mesmo. Qual é o seu número?

João - Cinquenta e nove... Já viu, né?

Homem do jornal - É a primeira vez que você vem?

João faz que sim com a cabeça e tem novo acesso de tosse. O homem que lê

jornal se afasta um pouco. Corta. Ponto de vista da atendente que lê uma

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revista de fotonovela. Enquanto folheia a revista a atendente anuncia os

números:

Atendente - Número 25, número 37, número 43... Corta. Plano geral. Imagem

em contraluz mostra um pátio enorme ao fundo e João sozinho cabisbaixo

sentado no banco na penumbra.

(Voz em off) - Cinquenta e nove!

Ao ouvir seu número ser chamado João levanta a cabeça e caminha

lentamente. Todas as cenas até esse momento têm como trilha sonora a

música instrumental “Violada” de Francisco Mário. Também até esse momento

são exibidos os créditos do vídeo. Nessa cena cessam a música e os créditos.

Corta. João entra timidamente em um consultório.

Médico - Entra aí rapaz, entra aí. Senta aí.

João senta na cadeira ao lado da mesa do médico.

Médico (pegando a ficha das mãos do homem) - Que que cê tem?

João - Eu tô com uma tosse braba! Tá me incomodando muito!

Médico - Você fuma?

João - Fumo sim senhor, parei de fumar uns cinco dias...

Médico - Tá,vou te receitar um xarope, tá? (escrevendo) Você tem que tomar

uma colher das de sopa quatro vezes ao dia, tá ok? Tem muita gente lá fora

ainda?

João - não senhor, só umas três ou quatro pessoas.

Médico (levantado e conduzindo o homem até a porta) aqui tá a receita. Você

pega o remédio ali na farmácia. Fica no final do corredor, tá ok?

João - Mas o senhor não vai me examinar, não vai...

Médico - Não precisa se preocupar com isso não rapaz. Em uma semana você

tá bom! Toma o xaropezinho, tá ok? Boa tarde, hein!. O próximo! Corta. O

homem caminha com a receita na mão ate o guichê da farmácia.

João - Moça, eu queria este remédio.

Atendente - Meu filho, infelizmente essa medicação nós não temos, você vai ter

que comprar.

João (despontado) - Como é que eu vou me arranjar?

Atendente - Meu filho, não posso fazer nada...

João sai tossindo. Corta. Close na atendente da farmácia que olha preocupada.

Corta. Close nas mãos do homem que tira algumas notas de dinheiro do bolso.

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Ele remexe as notas amassadas e as recoloca no bolso. Nesse momento sobe

a música “Preto Velho” interpretada pelo cantor Bebeto. Câmera abre até se

fixar em plano médio. Câmera mostra por trás João caminhando. Corta. Plano

geral. Homem de barba e toca bebe em um bar. João chega e lhe toca o braço.

Homem de barba – ô cumpadi, chega aí (para uma senhora no bar) bota uma

cachacinha pro meu amigo João, aí, por favor, (para João) e aí cumpadi quais

são as novidades?

João (para a senhora do bar) tá bom, tá bom! Tô precisando é de remédio,

rapaz. Fui ao médico e o homem mandou eu tomar xarope, pô e com que

grana...

- Qual é João todo mundo sabe que lá no posto de saúde os homem dão

remédio de graça... é só mostrar a receita do doutor que eles dão tudim na mão

lá...

João - não rapaz... é isso quando tem... mas o diabo do xarope só tem na

farmácia do comércio, rapaz, e custa uma grana...

- Homem de barba (abrindo uma bolsa e mexendo em algumas notas de

dinheiro) Vai lá cumpadi. Quanto é a facada dessa vez? (entregando uma nota)

Cenzim dá?

João - ô cumpadi é pro remédio não é pra farra não, né? (para a senhora do

bar) Bota na conta aí... (para o compadre) aí, primeiro biscate a gente acerta

essa parada.

- Homem de barba (acenando) Falô, tá limpo...

João sai do bar tossindo. Plano geral. João caminha pelas ruas de sua

comunidade onde muitas crianças brincam. Som em off de crianças rindo e

falando. Sobe a música.

Fade out.

Close de João se olhando no espelho. João de boca aberta “examina” a língua.

Câmera abre em plano médio o que permite ao espectador ver que o espelho

na verdade se trata de um pedaço quebrado colado em uma parede de

madeira. Em off sons de um radio.

Esposa de João – João, você tá melhorando com esse xarope?

João (tossindo, indo sentar em uma escadinha de madeira) - Acho que não. Eu

tô tomando ele há duas semanas e a tosse tá cada vez mais forte...

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Câmera abre em plano geral mostrando o quintal de João. Uma área com chão

de terra batida e pequenos montes de entulho (restos de pedra, terra, tijolos).

Esposa de João (estendendo a roupa) - Era bom procurar outro médico, heim!

Pra ver se ele acerta com você...

João – É, eu vou com essa ideia...

Mulher de João – É bom João. Lembra o que aconteceu com D. Arlete, a

mulher do Agenor? Tosse mais besta como a sua ó... E acabou indo...

Coitada, o mau trato matou D. Arlete...

João – Ih! Vira essa boca pra lá mulher. Vou procurar outro que remédio é

coisa de criança... João levanta da escadinha. Sua mulher estende um lençol

que impede a visão do espectador. Durante toda essa cena se ouve em off o

noticiário do rádio.

Corta. Close em pés na fila. A maioria usa chinelos. Off de choro de crianças

câmera não mostra os pés de João, começa em travelling dos pés de alguém

que está atrás de João subindo até chegar em close no rosto dele. Voz em off:

“O próximo por favor!”. Close no rosto da moça negra que está na fila atrás de

João. Corta.

Médico (abrindo a porta para João) - Que que há meu amigo? Senta aí.

(médico vai em direção à pia) quê que cê tem? Off de água da torneira.

João (sentando na cadeira tossindo) Essa tosse doutor, tô com ela há mais de

um mês...

Médico (lavando as mãos de costas para João) Tem escarro?

João – Tem doutor, eu tenho escarrado bastante.

Médico (secando as mãos) E febre?

João – Bom... Não tenho termômetro...

Médico (escrevendo) - Eu vou te receitar mais uns remedinhos, pra você ficar

bom logo, tá? Bem, esse primeiro aqui você vai tomar quatro vezes ao dia, tá?

E o outro, você toma só se tiver febre. Tá bom? Tem dormido bem?

João – Não... A tosse não deixa. Incomoda a noite inteira... Eu chego a ficar

nervoso...

Médico – Vou te dar também um tranquilizante, tá bom? Toma direitinho, tá e

vamos ver como é que fica. Tá certo. Semana que vem você passa aqui. Pra

gente ver...

João – Posso passar na farmácia?

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Médico – Pode, sabe onde é? Aqui no final do corredor.

João – Obrigado!

Médico ( para as pessoas no corredor) - O próximo, por favor!

Corta. Plano médio. João vai tossindo até o guichê da farmácia do posto e

entrega a receita ao atendente. O atendente pega a receita vai até o canto

esquerdo da tela e volta em seguida.

Atendente - Só tem esse, o da febre

João - Só?

Atendente - ...remédio tá no fim...

João agradece e sai tossindo. Corta. Plano médio. Balcão da farmácia João

pede o remédio da receita.

João (entregando a receita ao funcionário da farmácia) Eu queria esse remédio

aqui

Funcionário - Esses três?

João - Não. Esse da febre eu já tenho.

Funcionário - Então só o antibiótico e o calmante

João - Quanto custa?

Funcionário - Cento e vinte cruzados

João - Isso tudo? Vai dar pra comprar não.

Funcionário - Por que tu não leva só o antibiótico? Eu tenho um outro aqui...

que é bom pra acabar com essa tosse, meu amigo...

João - Quanto é que fica só esse aqui?

Funcionário - Só esse dá uns oitenta mais ou menos...

João - Vai dar não...

Câmera em travelling em direção a João, fechando em close no rosto de João.

Funcionário - Olha tem um outro remédio aqui que é bem mais barato e ... faz o

mesmo efeito. Por que você não leva esse?

João - É bom mesmo?

Funcionário - É bom!

João - Então... Quanto é que custa?

Funcionário – Só vinte e cinco!

João - Tá bom...

Funcionário - O senhor pode pagar no caixa, por favor, tá? Obrigado

João - Tá...

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Corta. Música “Zé do Tamborim” do cantor Bebeto. Plongée. Cinco homens de

pé em um bar em volta de uma mesa de madeira jogando dominó. Entre eles

João e seu compadre. João tosse muito para surpresa de seu compadre. Plano

médio.

Compadre - ô cumpadi quê que cê fez com aquelas cem pratas que eu te dei

que essa tosse não melhorou nadinha?

João - Pois é rapaz, gastei um dinheirão em remédio e a tosse ainda piorou...

Compadre - Qual é rapaz? Você meteu foi as cem pratas nos cavalinhos... Tá

na cara!

João - pô! Que que há cumpadi? Aí ó (tirando o frasco de remédio da bolsa da

camisa) tô tomando de quatro em quatro horas. Pô o diabo da tosse é que é

ruim mesmo!

Compadre – é... João... Essa tossinha ainda vai te jogar na cama, rapaz! Se eu

fosse você eu dava uma chegada lá no posto do Encantado. O pessoal de lá

dá mais atenção pra gente! Examina com mais calma... Lá é muito melhor,

heim! Aí ,vai lá!

Close nas peças de dominó. Corta. Close nas duas crianças que brincam nas

cinzas de uma fogueira. Elas mexem e sopram os restos de material queimado.

Voz em off de pessoas conversando. Câmera abre para seguir um carro

dirigido por uma mulher. O carro estaciona em frente a um orelhão onde

algumas crianças brincam. Ao fundo o castelo da Fiocruz. Do carro sai Dra.

Vera uma mulher jovem vestida com roupa branca e uma bolsa esportiva. Ela

fecha o carro e se dirige para o Posto de Saúde. Nesse momento a música vai

baixando até acabar. Em off ouvimos a tosse de João.

Corta. Plano médio. João na fila tosse sem parar. Dra. Vera passa por João e

cumprimenta um senhor vestido de branco.

Dra. Vera (tirando os óculos) - Oi

Senhor - Oi (olhando para João), se for tuberculose ele está espalhando

bacilos para todos os lados...

Dra. Vera - Tuberculose aqui no Rio?

Senhor - Mas é claro, Vera! Tuberculose entre nós é bem frequente. E o caso

dele é típico. Dra. Vera segue para um lado e o senhor para o outro. Voz em

off da atendente do posto: Sr. “João dos Santos, por favor”. João caminha em

direção ao consultório tossindo muito.

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Corta. Plano médio. Dra.Vera está sentada escrevendo.

Atrás dela um pequeno armário suspenso de vidro com remédio. O consultório

é simples, suas paredes pintadas com cores escuras têm cartazes educativos.

João entra tossindo muito. Entrega um formulário à médica e vai sentando na

cadeira que está em frente à mesa da médica.

Médica (recebendo e lendo o formulário entregue por João) - Bom dia!

João - Bom dia, doutora.

Médica (lendo o formulário) - Seu João... O que o senhor está sentindo, seu

João?

João - Doutora, eu vim aqui por causa dessa tosse que não quer me largar...

Médica - E há quanto tempo o senhor está com essa tosse?

João - Ah! Uns dois meses ou mais...

Medica - E o senhor já tomou algum remédio?

João - Puxa doutora, já tomei uma porção e nada...

Médica - Bem, seu João, o senhor tira a camisa, por favor, e fica em pé aqui...

João levanta, tira a camisa. Sempre tossindo.

A médica levanta, se aproxima e começa a examinar João: primeiro, segura a

cabeça de João com as duas mãos e olha seus olhos. Em seguida ouve seus

batimentos cardíacos com o auxílio do estetoscópio.

Médica (auscultando) - Respire fundo!

A médica usa o estetoscópio em vários outros pontos das costas de João em

um exame atento, sem pressa.

Médica (tirando o estetoscópio) - O senhor pode sentar aqui na mesa

João senta na maca ao lado. A médica vai até o pequeno armário de vidro

suspenso e pega duas espátulas e examina a boca e língua de João.

Médica - Diga aaaaah!

João (com a boca aberta) - aahhh

Médica - tá bom. Pode deitar, por favor.

João deita. Corta. A médica começa outro exame em João.

Médica (apalpando o abdômem de João) - Dói seu João?

João - Não!

Medica - Respira fundo, seu João! Agora solta. Pode levantar, seu João.

João levanta da maca, veste a camisa e senta na cadeira em frente da mesa

da médica.

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Médica - Seu João, nós vamos ter que fazer uns exames no senhor.

João - Sim senhora...

Médica - O senhor vai colher uma mostra de escarro e amanhã o senhor me

traz outro pote com outro escarro. Entendeu?

João (abotoando a camisa) - Amostra, né doutora?

Corta. Close nos dois potes sobre a mesa.

Médica (escrevendo) - É seu João, de escarro. O senhor vai escarrar nesse

potinho para ser examinado.

João - Sim senhora... E qual o remédio que eu vou tomar?

Médica: por enquanto o senhor não vai tomar nenhum remédio. Primeiro a

gente vai ver os resultados dos exames. Corta. Contra-plano.

João - Mas doutora, se eu ficar sem tomar remédio não, vou piorar?

Médica – Não, seu João, por uns dois ou três dias, o senhor não vai ficar pior

de jeito nenhum. Primeiro nós vamos fazer um exame de escarro. O senhor vai

até o banheiro ali para recolher o seu primeiro escarro e amanhã o senhor traz

um novo potinho. Mas tem que ser o primeiro escarro da manhã. Entendido?

João (pegando os potes e levantando) - Sim senhora. João sai.

Corta. Tela branca. Imagem de bacilos vistos no microscópio.

Voz em off: “A baciloscopia nos mostra numerosos bacilos álcool-ácidos

resistentes e pelas normas da Divisão Nacional de Pneumologia Sanitária

podemos classificá-las com três cruzes, ou seja, mais de dez bacilos em

cinquenta campos examinados”.

Fade out.

João no consultório tossindo sentado em frente à médica.

Médica - Seu João, eu já tenho os resultados dos seus exames. O senhor está

com tuberculose no pulmão.

João - É mesmo doutora?

Médica - Sem dúvida, senhor está com tuberculose.

João - E agora vou ter que ser internado?

Médica (sorrindo) Não seu João! O tratamento é feito aqui mesmo no posto.

Close em João.

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João – Mas, doutora, como é que a senhora sabe que eu to com tuberculose

se eu não bati nenhuma chapa do pulmão?

Médica - No seu caso, no momento, seu João não é preciso. O exame do

escarro é o bastante.

Corta.

Médica (mostrando a receita) - Esses dois comprimidos aqui o senhor toma

antes do café da manhã em jejum. E esses quatro, o senhor toma após o café

da manhã. O senhor entendeu tudo direitinho? Daqui a trinta dias o senhor

volta para outra consulta. (Entregando a receita para João) qualquer coisa, está

tudo escrito aqui direitinho, seu João. O senhor não esqueça de voltar daqui a

trintas dias, certo? O senhor pega agora seus remédios na farmácia aqui no

posto. Até logo!

João (levantando) - Até logo!

João sai do consultório e caminha para a farmácia cuja porta fica ao lado.

João - Por favor, (entregando a receita para a tendente da farmácia) a doutora

pediu que eu pegasse esse remédio com a senhora.

João permanece em pé tossindo em frente à porta da farmácia do posto.

Atendente (entregando os remédios a João) - aqui está seus remédios. Dá para

trinta dias, tá?

João - Vem cá e como é que toma isso?

Atendente – A doutora não lhe explicou como toma?

João - Ela explicou, mas eu ... Tava nervoso... Não entendi nada...

Atendente - Segura sua receita, (em direção à janela do consultório) Dra. Vera

seu paciente não entendeu como toma os remédios...

Dra. Vera (em off) - você chama ele, por favor?

Atendente - Vai lá!

João caminha até a porta do consultório onde Dra. Vera o espera.

Dra. Vera - Seu João, esse tratamento é feito com esses comprimidos aqui

(pegando os dois vidros das mãos de João), antes do café da manhã em jejum,

o senhor toma esses dois comprimidos vermelhos e após o café da manhã o

senhor toma esses quatro comprimidos brancos. O senhor entendeu bem?

João - Entendi.

Dra. Vera - Então tá certo, seu João. O senhor não esqueça de voltar daqui a

trinta dias, tá?

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João sai. Corta. Ponto de vista de João. Close nas mãos de João com a receita

e os remédios.

Voz em off da Dra. Vera: “na saída a enfermeira vai agendar suas próximas

consultas”. Corta. Close em uma pilha de louças onde posam muitas moscas.

Corta. Plano geral. Casa de madeira. Podemos ver a esposa de João beijando

uma criança não porta. Ao fundo vemos João chegando. Ele tosse muito.

Esposa de João (para a criança) - Vai estudar direitinho! Vai ficar no bingo,

não!

Criança - Tchau!

João ( para a criança) - Tchau. (para a esposa) Oi.

João para na porta e fica pensativo.

Esposa de João (vai até a janela) - Oi. E aí que que o médico falou dessa

tosse?

João (desanimado) - Tuberculose! Tô fraco do pulmão...

Esposa de João - Bem que isso tava me cheirando a coisa séria... Igualzinho a

D. Arlete... E aí vão te internar? Fizeram chapa? Conta, homem, como é que

foi?

João - Não... A Dra. Falou que o tratamento é feito lá no posto mesmo...

Esposa de João (indo em direção da porta onde está João) - Doutora? Tu

arranjou uma mulher pra te tratar, é?

A esposa de João desce as escadas em frente à porta e vai em direção ao

quintal com uma panela na mão.

João - Deixa de besteira, mulher! Eu não arranjei nada! Cheguei lá no posto

médico, era uma moça você queria que eu fizesse o quê? Saísse correndo?

A esposa de João enche a panela com água de uma lata que estava no quintal.

A seu lado uma menina a observa.

Esposa de João - E os remédios muito caros?

João - Não ... Eles arranjaram pro mês (entregando o pacote à mulher) tá tudo

aí ó.... daqui a trinta dias vou ter que voltar lá.

A esposa de João abre o pacote com os remédios. Close na esposa de João

que examina com atenção os comprimidos.

Esposa de João - Eu vou separar suas coisas: prato, garfo, copo. Tudo teu vai

ser fervido e separado. Deus me livre se isso passa para as crianças. Já

pensou?

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Contra-plano.

João - É. E nós também! Acho bom a gente dormir separado. Se não você

pode pegar isso... E isso é que é pior, né? Sem você a casa não anda...

Câmera vai fechando em close em João.

Esposa de João - Ué e você vai dormir aonde?

João - No sofá! O que é que tem?

Corta. Close na esposa de João.

Esposa de João - chato, né? Deixa eu ver essa receita.

João - A moça disse que dá pra trinta dias certinho... E depois eu tenho que

voltar lá...

Corta. Plano geral. Imagem de um helicóptero no céu. Corta. Dra. Vera

conversa com seu amigo médico em um restaurante.

Dra. Vera - O senhor sabe doutor que a gente na faculdade, a gente tem uma

visão diferente da realidade, da profissão... A gente tá acostumado a tratar de

doenças graves com diagnóstico difícil... E aí quando a gente se depara com

uma doença como a tuberculose, a gente fica com dificuldade pra tratar e

diagnosticar.

Doutor - Mas isso é comum... Com o tempo é que a gente vai se acostumando

com a realidade. Bom, é bem verdade que os doentes daqui são bem

diferentes daqueles do hospital-escola...

Dra. Vera - É...

Doutor - A experiência é que vai nos ensinando a tratar desses casos...

Dra. Vera - Pois é... O senhor sabe que eu fiquei impressionada como aquele

doente de tuberculose... Ele tinha uma dificuldade incrível de entender o que eu

falava.

Doutor - Pois é isso que eu digo sempre. Nós devemos orientá-los, educá-los.

Não é só dar remédio, não minha amiga! Nós temos que assumir também os

nossos compromissos sociais e educacionais!

Dra. Vera - O senhor tem toda razão!

Doutor - (bebendo) É...

Vera almoça pensativa. Corta. Som em off de rádio. Podemos ouvir claramente

a vinheta da Rádio Globo. Plano Geral. Travelling lateral mostra ao longe um

conjunto de prédios e em primeiro plano uma construção de madeira à beira de

uma espécie de rio e muito mato. De dentro do cômodo de madeira sai João.

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Ele desce alguns degraus tirando da boca uma prótese dentária que logo em

seguida ele escova em uma bacia com água. Percebemos então que o cômodo

de madeira é o banheiro. Esposa de João ( em off) João vem cá tomar seu

remédio! Amanhã você tem que ir no posto!

Plano Geral. João caminha em direção a sua esposa com jeito aborrecido.

João (caminhando em direção à mulher) - Ah! Tem não! Já to bom! Tô me

sentindo bem. Sem tosse... tô bem aí!

Travelling. João e sua esposa estão na porta de um cômodo do outro lado do

quintal. Parece uma cozinha: há um pano de prato pendurado ao lado da porta.

Esposa de João (entregando os remédios e um copo d’água) - Que besteira é

essa homem? Se o medico mandou voltar, tem que ir!

João - Ah! Já to cansado de negócio de dormir sozinho, copo separado, de não

poder sair de casa... Tô bom!

Esposa de João - Tá, melhorou muito, mas tem que voltar! (descendo as

escadas que dão para o quintal) depois a doença volta e vai dar mais trabalho

ainda, heim!

João toma os remédios calado.

Plano Geral. Vemos parte do quintal da casa de João: um varal com roupas e

vários objetos como pedaços d emadeira e telhas no lugar de paredes.

Corta. Consultório do posto de saúde. Dra. Vera está sentada. João entra.

Dra.Vera – Então, seu João, como é que o senhor passou o mês?

João - Ah! Já melhorou muito! Quase não tenho mais tosse.

Dra. Vera - Bom! Já tomou todo o seu remédio?

João - Todo! Certinho, doutora!

Dra. Vera - Que ótimo! O senhor já trouxe sua família pra ser examinada aqui

no posto?

João - Ninguém falou nada pra eu trazer, não!

Dra. Vera - Mas como, seu João?! Essa doença, ela passa de uma pessoa

para outra.

João - Não. Lá na minha casa, minha mulher separou tudo que eu uso: prato,

garfo, copo, tudo! Até de cama eu mudei... Agora eu durmo no sofá...

Dra. Vera - Mas não precisa nada disso, seu João! O senhor não precisa

separar nem os pratos e o senhor pode dormir junto com a sua esposa.

João - Ah! É? E como é que a doença pega, então?

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Dra. Vera - Ela passa pela tosse ou então pelo escarro. Agora o senhor vai

trazer sua família aqui no posto para ser examinada, certo? Quanto ao senhor,

o tratamento é o mesmo e os remédios também são os mesmos...

João - Sim, senhora... Eu posso passar na farmácia?

Dra. Vera - Mas é claro! Os remédios já estão todos separados. Até o próximo

mês, seu João!

João levanta e sai. Durante toda essa cena a câmera permaneceu fixa no alto.

Aos poucos a câmera vai fechando até ficar em close nas mãos da Dra.Vera

preenchendo um formulário do posto. Corta. João trabalha lixando a lataria de

um carro.

Homem (em off) E aí João !

João - Alô Boquinha! Como é que é?

Corta. Plano médio. Esposa de João e seus três filhos (dois estão vestidos com

uniforme escolar) estão no posto e ouvem as explicações da Dra. Vera sobre a

tuberculose

Dra. Vera (em off) - A tuberculose é uma doença grave! O bichinho entra no

organismo e quando o organismo está fraco, doente e cansado propicia com

que o indivíduo fique adoentado.

Esposa de João (interrompendo a médica) - Mas doutora, quer dizer que meus

filho tão doente? Corta. Plano geral. Dra Vera sentada atrás da mesa no

consultório do posto continua orientar a família de João.

Dra. Vera - Não! Eu não posso afirmar isso agora. Pelo menos antes de nós

fazermos os exames...

Esposa de João - Ah! Lá em casa separei o prato e tamos dormindo

separado...

Dra. Vera - Mas eu falei pro seu João que não havia necessidade de nada

disso. A tuberculose é transmissível pela tosse ou então pelo escarro.

Esposa de João - Ué, mas ele tosse quando dorme comigo também...

Dra. Vera - Ah! Mas depois que ele começou a tomar os remédios, ele não vai

contaminar mais ninguém. Se ele já tiver contaminado alguém. Ele já

contaminou antes de começar o tratamento. Ele já estava doente há muito

tempo atrás... Por isso que vamos fazer os exames na senhora e nos seus

filhos.

Esposa de João - E o João já pode trabalhar?

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Dra.Vera - Mas é claro! Ele pode ter uma vida normal em todos os aspectos...

Corta. Contra-plano Dra. Vera e João ao fundo. Corta. Plano médio. Família de

João.

Dra. Vera - Agora daqui a quatro meses o seu João vai estar totalmente

curado. Agora o senhor vai com a D. Hortênsia fazer todos os exames.

João levanta abre a porta do consultório e sai junto com sua família.

Dra. Vera - Agora seu João, o senhor não se esqueça que o senhor tem que

voltar quatro vezes ainda... Uma vez em cada mês, heim! Se não a recaída é

muito grave.

Esposa de João (parando em frente à porta do consultório) - Eu não falei João,

a recaída é pior..

João (mostrando impaciência com as orientações da medica) Até pro mês!

Fade out.

Imagens de pessoas doentes em hospitais. Voz em off.

Todos os profissionais de saúde deviam conhecer a dimensão da

tuberculose no Brasil e as ações necessárias para o seu controle. O

diagnóstico e tratamento de cada caso no dia a dia dos serviços é parte de

uma luta maior contra uma doença que ainda é um problema gravíssimo nos

países em desenvolvimento. Hoje cerca de três milhões de pessoas adoecem

por ano no mundo.

Estima-se que haja cerca de doze a quinze milhões de casos ativos e

que um milhão de pessoas morram todo ano por tuberculose. No Brasil estima-

se que em 1985 houve 105 mil casos de tuberculose. O sistema de saúde

identificou 84.310 casos.

A tuberculose é uma doença com profundas raízes sociais que incide

com maior frequência nas regiões de menos desenvolvimento sócio-

econômico. O seu controle está nas mãos de todos nós profissionais de saúde

e não como alguns podem pensar só na mão dos especialistas.

Corta. Imagem (distorcida) de João caminhando na parte interna da Central do

Brasil. Fade out.

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Apêndice II – Glossário de termos técnicos utilizados na análise fílmica.

Plano Geral – Enquadramento da câmera que mostra além dos personagens o

cenário onde se desenvolve a cena.

Plano Médio – Enquadramento da câmera que recorta a imagem a partir da

cintura do personagem.

Panorâmica – Movimento lateral da câmera para mostrar uma paisagem.

Close - Enquadramento que mostra o rosto de um personagem ou um objeto

no centro da cena.

Fade In – Início da cena por “clareamento” da câmera.

Fade Out – Escurecimento da cena indicando seu fim.

Plongé – Enquadramento da câmera de cima para baixo.

Contra-plongé – Enquadramento da câmera de baixo para cima.

Travelling – Movimento da câmera detrás para frente e de frente para trás.

Zoon – Movimento de aproximação pela alteração da lente da câmera.

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Apêndice III – Entrevista com o produtor do vídeo

Esta seção apresenta uma entrevista com o Prof. João Luiz Leocádio

que integrou a equipe de produtores do vídeo “Tuberculose: um perigo real”

além de coordenar o Laboratório de Vídeo Educativo nessa mesma época.

Pesquisadora: A produção do vídeo “Tuberculose: um perigo real”

é fruto de um convênio entre o NUTES e Ministério da Saúde como parte

de um projeto que tinha objetivos bem definidos. Quais eram esses

objetivos?

Entrevistado: Vários objetivos! É importante primeiro registrar que o

vídeo não era uma peça isolada. Ele fazia parte de um conjunto de materiais

educativos que eram acompanhados, então por um livro-texto, esse livro-texto

tinha alguns casos clínicos. Tinha toda uma metodologia de ensino que era

apoiada por audiovisuais. Um conjunto de slides, na realidade um conjunto de

slides-som, um audiovisual com uma narração e diálogos sobre o tema da

tuberculose e também o vídeo. Então cada produto, cada material audiovisual

tinha um objetivo dentro de um conjunto que tinha um objetivo maior, ou seja, o

fortalecimento do ensino da tuberculose nas faculdades de medicina. O grande

objetivo era reduzir o índice, a prevalência, né enfim... A questão mais

epidemiológica. Então a ideia era reduzir o número de casos de tuberculose no

país e uma das estratégias definidas pelo ministério da saúde era a melhoria

do ensino da tuberculose nas faculdades. Dentro desses objetivos chegou-se à

produção de materiais educativos que tinha o livro, que tinha o vídeo que tinha

os slides pra desenvolver essa ação educativa nas universidades.

Pesquisadora: Houve uma “encomenda” do vídeo? O que foi

solicitado? Qual era a expectativa? Qual era a base dessa solicitação?

Entrevistado: Do ponto de vista epidemiológico a tuberculose era uma

doença presente na sociedade brasileira e tinha indicadores preocupantes pro

governo e o governo tava empenhado na melhoria... Desde a colocação do

medicamento no posto de saúde, desde a presença e acompanhamento dos

casos detectados, a ideia de você também não perder esse paciente no

primeiro atendimento, acompanhar esse paciente são varias questões afetas a

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questão da tuberculose, quer dizer: como é que se combate a tuberculose?

São varias ações. Então dentro dessas ações a questão educativa, a questão

da formação médica para a detecção precoce, e o acompanhamento clinico do

paciente eram questões importantes que precisavam ser vistas com algum

cuidado. Havia a necessidade de esclarecer, por exemplo, que o exame é um

exame simples feito através da coleta de escarro, então um exame muito

simples e por ele ser simples não era pra ser desprezado, não precisa ser um

exame muito complexo, então valorizar a simplicidade do exame... Então tinha

vários objetivos e era preciso conter nos materiais educativos... Então têm

pacientes que são somente acompanhados com medicação do posto de saúde.

Você precisa detectar o que afeta os familiares, quer dizer os próximos, são os

comunicantes. Então você tem que abordar também a família. Então não é um

tratamento só do paciente... Formar o médico sobre o tratamento da

tuberculose... Vários assuntos eram tratados em diferentes materiais. O vídeo

tem como premissa talvez principal a sensibilização, a mobilização médica para

atender o paciente com certa atenção. Muitas vezes a tosse crônica é uma

evidencia não é a única, mas é uma evidencia... Valorizar isso, perceber essa

persistência, indagar o indivíduo sobre as suas práticas, enfim, olhar pro

paciente de uma maneira mais cuidadosa, pra não dar simplesmente um

remedinho pra cuidar da tosse e mandar embora. Tentar perceber que pode

ser um caso de tuberculose. Então o vídeo tem como principal característica

sensibilizar o médico pra pensar na tuberculose.

Pesquisadora: A sequência: mostrar o sofrimento com o

atendimento superficial, a insegurança frente a doença, o desamparo

diante do não acesso aos medicamentos, a reflexão dos médicos, o

acesso a um posto que presta bom atendimento, o envolvimento da

família e a cura – nessa ordem – tem um propósito claro? Qual?

Entrevistado: O roteiro foi trazido pelos médicos, eram situações que os

médicos relatavam que eram os problemas. Quais eram os problemas? O

atendimento rápido, o atendimento não atencioso. A gente de alguma maneira

colocou no vídeo as situações relatadas pelos médicos como sendo aquelas

que preocupam como a baixa qualidade do atendimento médico. Se é o

atendimento rápido, se são muitos pacientes que têm que ser atendidos dentro

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do período do plantão médico, se o medico não tem um apoio de enfermaria,

se falta medicamento no posto. Todas essas questões que são afetas ao

combate da tuberculose foram trazidas para dentro do vídeo a partir do relato

dos médicos. Então os médicos, eles cooperaram na construção do roteiro

relatando cada um ao seu tempo fatos e situações que representavam

preocupação e que poderiam ser indicadores de baixo sucesso na campanha

da tuberculose. Então esses casos relatados é que foram escolhidos para

serem retratados no vídeo.

Pesquisadora: Na cena em que os dois médicos conversam e que o

médico mais velho a orienta dizendo que o médico tem um papel que vai

além da consulta. Você acha que essa postura pode comprometer a

autonomia do paciente no processo de tratamento da tuberculose?

Entrevistado: No caso do vídeo nós privilegiamos que o médico mais

experiente passasse para a médica mais jovem a necessidade de ela se

preocupar com o individuo de uma maneira mais completa. Então a relação

médico – paciente que é uma questão importante no atendimento médico, ela

ganhou um lugar privilegiado e que tá representado nessa cena de um médico

mais experiente apresentando pra ela como é importante uma abordagem

completa da família, dos que vivem, em torno. De compreender quais são os

hábitos familiares, convívios, as práticas sociais pra poder localizar inclusive os

novos casos. O tuberculoso, inclusive quando ele antecede seu tratamento, ele

é um potencial disseminador da doença então é muito importante fazer essa

detecção do entorno. Então atendimento não é simplesmente chegar no

diagnóstico da tuberculose, isso não é suficiente. Você precisa se aproximar

muito mais dele pra poder colher dele de uma maneira cooperativa esses

outros personagens... A busca ativa vai ter que ser feita pra trazer pra

tratamento. Então o médico mais experiente estava apresentando esse

contexto de dar importância que é de reconhecer a tuberculose como uma

questão mais ampla e não isolada.

A questão não é da autonomia dele de cuidar de si mesmo. A questão é

que o sistema de saúde tem que tratar além do individuo a comunidade por

onde ele circula. Isso é muito importante! A detecção de novos casos e poder

fazer o isolamento e controle dessa doença.

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Pesquisadora: E sobre o papel da mulher no processo de

tratamento da tuberculose que vídeo mostra?

Entrevistado: No contexto social representado, cada personagem tem

uma representação social. O individuo portador da tuberculose era casado,

tinha filhos e o lugar social da mulher... Há um destaque e a gente valorizou

isso de certa maneira daquela que cuida da família né? Ela não cuida somente

do João que era o paciente, ela também estava preocupada com as crianças e

aí propõe separar os talheres, propõe separar... “Vai dormir separado” então

ela estava numa preocupação que é própria da nossa sociedade, atribuída à

mulher, a dona da casa, a dona da família aquela que preside o espaço da

família no sentido do convívio, dos cuidados. Quem cuida da família? Então

esse lugar de representação social, ele já esta meio que constituído entre os

médicos, entre a equipe de produção, pelo diretor... Não foi inventado. Não é

uma representação social que nós inventamos, a gente retratou a sociedade

brasileira. Na sociedade brasileira prevalece a mulher no lugar de quem cuida

da família, então o filme não inventa, ele apresenta, ele busca se aproximar de

uma realidade vivida por aquele contexto social representado.

Pesquisadora: Como o vídeo foi recebido/avaliado?

Entrevistado: Muito do que ouvi e foi muito picotado... Vou te dar aqui

um relato muito pessoal que eu me lembro ... O vídeo já tem bastante tempo,

você sabe disso então não é tão vivo assim... Mas algo que me trouxe assim

muito próximo até hoje é que o vídeo conseguiu apresentar para os médicos

uma certa veracidade. Então os médicos, eles inclusive problematizavam assim

“como é bom esse médico!”. “Esse medico é muito real! “Esse médico é muito

verdadeiro, eu conheço médicos assim”. Então o vídeo, ele conseguiu, uma

certa... Na minha percepção, ser verossimilhante. Ele buscou essa questão de

ser crível. Então aquilo ali acontece? É aquilo tá bem próximo do real, ele

representa a realidade e isso favorece de certa maneira à discussão que está

sendo proposta porque ela dá ao filme uma certa credibilidade. Então o filme,

acho que ele conquistou uma certa credibilidade. Ainda que a detecção do

caso tenha sido feita por uma médica novata e que poderia se pensar : “ os

médicos experientes não têm essa percepção”. Eu acho que de alguma

maneira não. Como a gente tava falando, o estudante de medicina, a gente

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queria levar esse debate para dentro da escola e a gente buscava de certa

maneira uma certa identificação. Que o nosso aluno de medicina se projetasse

, se identificasse com a médica pra ver, “olha como o medico recém saído,

como ele é bom, como é capaz de detectar a tuberculose, uma questão

epidêmica importante nacionalmente”. Então, assim, o filme busca essa

aproximação, então a personagem tem um certo perfil pensado para as escolas

de medicina assim como o paciente, ele foi pensado pra população que

procura o posto de saúde. Os perfis dão ao filme uma credibilidade. “Aquilo ali

é vivido!” Então essa aproximação foi buscada... Esses relatos me chegaram e

foram os que mais me marcaram...

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Apêndice IV - Entrevista em profundidade

Pesquisadora: Qual é a história que o vídeo conta?

Entrevistado: O vídeo conta a história de uma família cujo pai (e

homem da casa) acaba pegando tuberculose. E aí começa uma peregrinação

para conseguir um atendimento no posto de saúde, no qual, quando consegue

acaba tendo um atendimento muito básico sem muita atenção (ou pelo menos

a devida atenção) do médico. Que passa um remédio... E por conta da tosse

não passar ele volta em outro posto, no qual ele consegue um atendimento

muito melhor e mais atencioso. Acaba descobrindo que está com tuberculose e

começa a se tratar. E aí mostra a relação dele com o tratamento e a relação

com a família com relação à doença.

Pesquisadora: Com qual dos personagens do vídeo você mais se

identificou? Por quê? Em que momento do vídeo?

Entrevistado: Então, eu não consigo me identificar exatamente com

algum personagem, porém acho que o personagem principal, o pai, é o

personagem que não desiste, que peregrina, busca solução para seu

problema. E ele ainda existe na nossa sociedade, assim como médicos iguais

os do vídeo.

Pesquisadora: No dia em que assistiu ao vídeo você disse:

“Ele encontra uma médica maravilhosa que vai fazer tudo por ele...

Me deu uma sensação de pena! Daquele indivíduo... Assim a maneira

como.... Eu sei que é preocupação. Ela demonstra que ta preocupada,

mas me dá... O diálogo deles, me dá uma sensação tipo... aí tadinho,

sabe! Coitado! ”

O que você achou da relação médico-paciente mostrada no vídeo?

Entrevistado: Acho que a relação médico-paciente que é mostrada é

muito comum hoje em dia em muitos lugares, infelizmente. Acho que é uma

relação que ou é 8 ou 80. Ou não há um cuidado, uma atenção apropriada para

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o individuo, ou ele é tratado como um coitado que não sabe de nada e que não

tem condições.

Pesquisadora: Você também disse:

“Eu acho que o vídeo embora seja de 85 ele é muito atual... Se a gente

for ver principalmente na questão do sistema de atendimento à saúde”.

Você acha que o vídeo mostra a realidade da pessoa que procura o posto

de saúde?

Entrevistado: Sim. Acredito que o vídeo seja bem atual em vários

sentidos. Ele é atual porque muitos pacientes que vão aos postos de saúde às

vezes encontram esse tipo de atendimento, esse tipo de profissional, que não

está nem aí pra pessoa e só quer cumprir seu “dever”. Que não pensa no

cuidado na hora do acolhimento, na hora do atendimento. Que não pensa que

às vezes essa pessoa precisa de uma atenção mais especifica ou não.

Pesquisadora: O que você acha do papel da mulher no vídeo? Por

quê?

Entrevistado: Eu não gosto do “tipo” de mulher que aprece no vídeo, a

visão no qual ela é mostrada me incomoda em muitas vezes e situações. Mas

nesse vídeo não me incomodou tanto assim, né?

Mas realmente acho que mostra uma mulher que vive pra ser dona de

casa. Mostra uma mulher que embora existam muitas delas ainda hoje em dia,

acho que é um tipo de mulher antiga, presa às questões onde o machismo

impera. Onde o homem é o que trabalha e a mulher é quem cuida da casa, que

o homem é quem põe o dinheiro e a comida na mesa, e a mulher é quem cuida

dos filhos e vai para o fogão fazer a comida que o marido traz pra dentro de

casa. E acho que essa visão é machista e ultrapassada, na qual eu não

acredito.

Pesquisadora: Se você fosse fazer um vídeo educativo o que não

poderia faltar? Fale de sua experiência com a produção dos vídeos do

RAP (dos vídeos que foram produzidos desde que você está no RAP até o

último em 2011).

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Entrevistado: Acho que o que numa produção de vídeo educativo (ou

em qualquer vídeo que traga um objetivo de reflexão) precisa existir questões,

perguntas, questionamentos. Que façam as pessoas pensarem, refletirem,

questionarem e se questionarem sobre o que tá sendo falado. Que nada seja

dado e colocado como algo fechado, que não permita o individuo de pensar e

questionar o que está sendo dito ou mostrado.

No RAP, o processo é coletivo e com esse objetivo de trazer a reflexão

do jovem para o tema abordado. Nós montamos o roteiro, atuamos, dirigimos,

fazemos câmera, luz e etc...

Por exemplo, no vídeo sobre “Alimentação saudável” nós pensamos em

não deixar nada dado, mostramos vários tipos de comida, desde salada de

alface a hambúrgueres. E trouxemos (deixamos) a reflexão para quem está

assistindo o vídeo. Quem está vendo é quem vai decidir o que é saudável para

ele.

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Apêndice V – Transcrição do Grupo de Discussão

Questão 01:

Entrevistadora: Eu queria que vocês me dissessem sobre o que é que é o

vídeo. Esse vídeo que a gente acabou de ver: “ Tuberculose, um perigo

real”.

Janaina: Tuberculose

Risadas

Entrevistadora - Éh qual é a história que o vídeo conta? Quem são os

personagens?

Janaina: Tem o João Ele vai procurar pela tosse, pelos sintomas. Ele procura

ao médico, mais de uma vez ... Receita xarope, tranquilizante, várias coisas pra

ele. E aí persiste o sintoma fica doente e aí o amigo dele dá uma dica: ohh vai

pra tal hospital que lá eles atendem melhor. E aí ele vai. Aí a médica faz um

exame mais detalhado. Pede para ele fazer o exame primeiro. Depois que saiu

o resultado do exame, dá positivo. Aí que a médica passa as medicações pra

ele. E aí, ele vai com a família dele, ele tem que ir lá fazer o exame também

junto com ele.

Júlia: Só que a família é citada como de baixa renda, né? Não foi isso?

Janaina: Isso

Entrevistadora - O que o vídeo mostra, o que o vídeo traz pra você pra você

chegar a esta conclusão? Podem falar, à vontade.

Cláudio: Acho que é na primeira cena, que mostra ele chegando com o casaco

rasgado.

Janaína: Isso, com o casaco rasgado. Ele não tem possibilidade de comprar

remédio, porque ele não tem dinheiro pra comprar...

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Léia: As condições da casa dele também mostra

Janaina: A mulher dele faz questionamentos sobre não ter condições de

comprar.

Cláudio: Quando eu vi agora no final. O tempo foi se passando e aí a camisa

dele foi se desgastando.

Léo: Eu vi aquilo como passa muito tempo. Ficar com a mesma camisa

rasgada. Proposital

Cláudio: Mas eu acho que isso pode acontecer. Eu posso usar a mesma

camisa mais de uma vez ainda que eu tenha uma camisa boa, de qualidade.

Léo: Ahh isso sem dúvida.

Janaína: Eu vi isso como proposital

Cláudio: Depende do que você chama como proposital.

Janaína: Depende

Cláudio: Eu acho que foi meio estereotipado. E aí facilita que a gente ache que

é uma família de baixa renda.

Entrevistadora - Quais as cenas de vídeo que te levam a esta conclusão?

Quais as cenas?

Cláudio: - As cenas (....) pra mim(...) Éh , são as cenas que mostram o lugar

onde ele mora . Deram esta sensação. E (...) a coisa do figurino deles, em

especial. Dele e da mulher se aproximarem das crianças também.

Léia: Dele e dela bebendo a cachaça, cerveja, cachaça

Janaína - Central do Brasil

Cláudio: Pegar dinheiro emprestado também

Entrevistadora - Quem são os personagens desta história? Você falou de um.

Quem são?

Júlia: São as pessoas negras de baixa renda.

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Janaína Éh

Janaína, Júlia, Cláudio: João

Janaína – família

Cláudio: Esposa dele e dois filhos.

Entrevistadora - E Pra você, quais são os principais conflitos vividos

pelos personagens?

Janaína: Eu acho que é a questão do tratamento. Esperar o médico que vai e

pega a ficha, sei lá. A dúvida.

Léia: Aí ele espera também

Janaína: Ele vai e persiste. Estimula. Vai insiste e o brasileiro não desiste

nunca. As dificuldades de ter acesso ao medicamento.

Léia: Eu acho que ele tava esperando, porque tava incomodando muito ele.

Tava incomodando demais.

Cláudio: Eu acho que tem todo esse lance do conflito mesmo dessa coisas de

atendimento e que em algum momento passa a ser (...) pra mim (....) o conflito

ter aumentado, quer dizer, ele passa por dois hospitais, onde ele é tratado

como: ahh , qualquer coisinha ele toma um remédio e aí quando ele tem

acesso ao tratamento de qualidade ele começa, tipo: ahh, eu não to

entendendo nada , eu não sei como eu faço isso, entendeu.

Júlio: Ele tá tão acostumado com o remédio que no primeiro momento, a

médica não passa nada e aí ele pergunta: e eu não vou tomar nada? Aí ela vai

e explica pra ele.

Cláudio: E é isso, né? Tipo ele pensa: se eu não vai tomar nada, eu vou piorar.

Porque se tomando, tava piorando. Imagina se não tomar.

Janaína, Júlia, Cláudio, Léia: é verdade. E- E aí também tem o lance do:

parou a tosse, e ele já não tava querendo tomar mais. A mulher dele fez um

papel fantástico. Vamos lá, continua até o final.

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Cláudio: A preocupação dele com a família é na hora que ele fala: você é a

cabeça da família. Persiste

Léo: Eu acho que foi isso também que eles falaram e tem o conhecimento dele

sobre tuberculose. Não sei se vocês perceberam isso.

Cláudio: Eu não sei. Eu não sabia que era através do escarro que você fazia.

Eu ia falar a mesma coisa do pulmão

Júlia: O exame do escarro era pra saber se ele tá transmitindo ou não...

Cláudio: Então, eu (...) tiveram informações ali que eu não sabia...

Entrevistadora - Então, essa pergunta eu tô querendo saber como vocês

compreenderam os conflitos dos personagens, do personagem principal.

Aí tem aqui: como que este personagem reage diante das situações,

como condições de trabalho, moradia, a relação médico-paciente, acesso

à informação, preconceito e outros.

...Essas que eu acabei de citar aqui, eu repito como moradia, relação

médico–paciente, aceso à informação, preconceito... Os conflitos do

personagem principal e são relacionados a alguns desses itens que eu

citei?

Júlia: Ele tá relacionado à questão do preconceito... Sem querer ele acabou

sofrendo preconceito. Desde o momento que ela falou que tinha que separar os

talheres, ter que dormir em lugar separado. E pra quem tem tuberculose isso não é

preciso...

Cláudio: Mas aí eu acho que aí esbarra, esbarra nisso...

Léia: Faltou esse conhecimento, é uma falta desse conhecimento...

Cláudio: eles não têm conhecimento disso, então logo se imagina que é

contagioso, pronto, separa!

Janaína: É, porque meu pai teve há pouco tempo e minha avó separou...

Léia: É... hoje em dia, né? Tem... Léo: eu lembro que enquanto a gente tava

vendo aqui, alguém falou sobre o efeito que iria ter... Ele chegou em casa e

falou alguma coisa sobre a doença...

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Entrevistadora: Foi a transmissão...

Léo: Então... Assim, ela não sabia, mas também... Não sabia sobre os pratos,

mas sabia sobre aqui nos...

Júlia: Porque ele foi no médico e a médica não falou que poderia ser

transmitida... Aí ele chegou em casa... Tem a família dele... Ele conversou com

a família dele e contou pra família dele que tava com tuberculose...E foi aí que

ela falou que é contagiosa...

Janaína: Ah é...

Júlia: e que deveria separar...

Cláudio: Sim! Mas se a gente for parar pra analisar ela tinha uma informação

anterior... da vizinha que tinha ficado doente...

Júlia: Então... A mulher, a esposa dele falou, mas a médica não falou que

poderia ser transmitida...

Cláudio: Sim! Não falou pra ele, poderia ter falado...

Janaína: Mas a médica só falou pra ele 30 dias depois... Ela fala o senhor

pode trazer sua família... tem falar primeiro...

Léo: É verdade!

Léia: É falta de informação sim!

Entrevistadora: Verdade, quando ela fala para o médico que ele não

entende a informação dela, mas também ela não tem uma informação

completa...

Questão 03

Entrevistadora - Como vocês veem a reação tanto de João quanto da

esposa diante desse diagnóstico de tuberculose e as escolhas deles

diante dessa avaliação e as práticas deles?

Léia: Eu achei interessante porque ele não ficou tão abalado, mas sim tem

mais preocupação em não transmitir pros filhos dele... “que eu vou fazer”

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Janaína: acho que as coisas práticas é isso que já foi falado... separar... “você

vai dormir aonde?” no sofá, vai ficar separado dela...

Entrevistadora: Essa separação pode ser mais um conflito, além da

espera no atendimento, da relação medico-paciente?

Janaína: Acho que sim ... Ele tava naquela coisa, já não queria tomar mais o

remédio porque ele achou que tava melhor e por conta dessa separação que

ele tava se sentindo só... Então ele queria abandonar o tratamento... Então isso

já é um conflito...

Léo: Conflito, acho que não porque assim... foi uma ideia que... ela não impôs

pra ele... ele também deu algumas...

Cláudio: eu acho que não foi um conflito... é algo conjunto..

Janaína: Mas não deixa de ser um conflito...

Cláudio: É um conflito que existe desde o início até o final, mas que só vai ser

encarado como um problema no final porque é quando ele começa... vai

ficando melhor. A decisão de conjunto que eles tiveram já pra ele já pesa.

Janaina: Não, ele sabe que é pro bem da família, mas mesmo assim... não tira

o fato de ser um conflito porque ele vai se sentir sozinho da mesma maneira,

mesmo achando que tá fazendo o bem pra família... ficar sozinho...

Léia: é isso mesmo... nos dias de hoje. Se a mulher fala assim... dormir

separado... “Não, não dormir no sofá.. e não sei o quê...Porque hoje em dia o

homem é muito mais dependente da mulher que antigamente...

Cláudio: Mas acho que depende, depende da família... Assim, eu acho que de

repente isso não aconteceria numa família consciente do que que é a doença,

do que pode do que não pode, mas particularmente, assim eu acho que

dependeria muito porque uma pessoa e prol da família ele vai fazer... o que

que é dormir no sofá hoje em dia... em prol do bem da sua família... Então a

pessoa que não tiver acesso à informação e essas coisas, eu acho que o cara

ainda tomaria essa atitude “Não, vamos, sabe dar um tempinho...” Até porque

isso...

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Janaína: Isso se ele gostasse da mulher...

Cláudio: Ou se então se ele não gostasse da mulher...

Léia: porque se ele não sabia que podia transmitir então ele só de achar que a

tosse tinha ido embora coisa e tal... ele já achava... não tinha vontade de

tomar o remédio...

Júlia: São seis meses de tratamento, sendo que quando chega no décimo

quinto dia ela faz um exame pra ver se tá transmitindo bacilo, se não tiver aí ela

pode voltar a vida dela normal, só que não pode fazer muito esforço até

completar três meses de tratamento

Questão 04 - As 3 respostas a seguir falam da atualidade do vídeo

Cláudio: Eu acho que o vídeo embora seja de 85 ele é muito atual... se a gente

for ver principalmente na questão do sistema de atendimento à saúde. Lívia:

Tudo a ver! Tudo a ver!

Cláudio: Hoje em dia você vai encontrar lugares que você vai ter esse tipo de

atendimento que o médico vai dar...

Léo: Eu tive.

Entrevistadora: Como foi sua experiência?

Léo: então eu tava com tosse, febre, eu fui na UPA, tive lá. A médica mandou

eu fazer Raio X, eu fiz. Aí ela olhou, fez assim uma cara feia, entendeu? E aí

mandou, me deu amoxilina e mandou eu tomar durante sete dias... E só isso...

Entrevistadora: E não te falou nada?

Léo: Falou nada...

Léia: Eu sempre pergunto, quando o médico não fala, eu sempre pergunto... É

o ideal... Mas o lance da doença tuberculose

Léo: É que tem a UPA e lá ela só me olhou com uma cara feia e me deu

remédio, só isso e me mandou pra casa, só isso...

Cláudio: O que eu acho é isso tem lugares que o atendimento nesse sentido é

diferenciado porque ele vai até você. Você não precisa fiar esperando. Você vai

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precisar esperar para marcar, mas em algum momento aquela equipe vai te

olhar de alguma forma, mas agora quando você precisa de atendimento

imediato, você precisa de repente ... Porque no caso dele, ela já tava há dois

meses com aquela tosse, então a coisa já podia tá gravíssima e aí...

Janaína: É, mas também acontece tuberculose na Rocinha e em Rio das

Pedras... é alarmante! Muitos casos! Então se criou um problema de saúde

pública. Então o que fazer? Aí instaurou-se essa problemática... Como fazer?

Mudando a estruturado sistema de saúde pra Clínica da Família e pensar em

como ser mais eficiente... Mas também depois de um João que criou um

problema geral de muitas pessoas...

Léia: Também é muito abafado... ser casa em cima da outra...

Janaína: Sem ventilação...

Léa: Nenhuma ventilação... facilita pra pegar a doença...

Léo: Eu acho que se eu fosse fazer um filme eu gostaria de fazer igual só que

atual e com pessoas que sofreram com a doença, entendeu?

Léia: Eu trocaria a música, não gostei...

Entrevistadora: Têm várias...

Leia: A da abertura, não gostei... Acho que foi a primeira coisa que vi...

Entrevistadora: E como é que é a música do início?

Leia a: é tipo um forrozinho...

Entrevistadora: E por que você não gostou?

Léia: Achei nada a ver... colocaria um... samba antigo, bem antigo porque

Central tem tudo a ver...

Entrevistadora: Você acha que forró não?

Léia: Não!

Cláudio: Não sei...

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Janaína: pode ser que a identidade do local pode ser de nordestino... é aí fazia

sentido a escolha...

Léo: É naquela época também...

Cláudio: Não, ele passa na Central! Não diz que ele mora na Central!

Janaína Então ele pega o trem de algum lugar e desce na Central

Léia: Aquela época é aquela época!

Cláudio: Se fosse hoje em dia gente... A Central é um lugar central Eu posso

morar perto da Central como posso passar pela central e vou para o Complexo

da Maré. No complexo da Maré o que eu mais ouço não é samba! É funk e

forró hoje em dia... Mas eu passo pela central! Então eu acho que eu não me

incomodei até porque eu nem reparei que tava tocando forró.

Léia eu reparei...

Cláudio: As outras músicas que tocaram... achei que um funk... ali naquele

ambiente onde ele morava ... Eu de repente ouviria naquela época...

Léia: Achei nada a ver...

Cláudio: Seria cabível eu ouvir...

Léo: Achei assim o local.... Comparado com a Rocinha que fica meio... Achei

até meio com ar... fora... Tem casa que fica assim de um lado e do outro... Não

tem terreno... E lá tinha, ao ar livre... Estendia roupa... Interessante isso...

Léia: Existia toda uma ventilação...

Entrevistadora: Você falou da casa dele agora, mas a gente tem uma

noção em várias cenas do banheiro como é que é , da cozinha...

Janaína: sei que tem muito mosquito...

Léia; muito mosquito, muita louça pra lavar...

Cláudio: mas acho que é real assim... ele tem um terreno, mas a casa dele é

um cubículo... Assim e levando em consideração que eles ficam mais dentro de

casa do que fora, acho que acaba...

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Entrevistadora: Vocês observaram o banheiro?

Todos: Não!

Entrevistadora: O que vocês não usariam de jeito nenhum ou usariam de

qualquer jeito

Marcos: o que eu reparei nessa coisa da luz, pra esse vídeo eu não vi

problemas... É um vídeo de 85 e... De repente o cenário foi muito bem

pensado. Hoje em dia dentro da experiência que eu tenho eu sei que a luz é

uma coisa importante. Dependendo de onde a gente for filmar é fundamental!

Janaína: Também os planos, o enquadramento...

Entrevistadora: Tem algum que você destacou enquanto você via...

Júlia: na hora que a médica fala pra ele que ele tem tuberculose... Ah foi

aproximando... Não lembro os nomes, mas foi aproximando dele.

Cláudio: eu acho que... Também não vou lembrar os nomes... Mas eu acho...

Léia: gostei foi dele chegando...

Cláudio: quase todas as cenas... é coisa nítida ... muito estranho... que

acabo... Assim tipo falta de detalhes... Que às vezes poderiam dizer muito mais

... teve uma hora que mostrou umas panelas... eu achei... que interessante,

mas na cena seguinte não vi o que lincava uma coisa na outra...

Entrevistadora: Conexão, né então você consegue perceber porque se dá

um close naquilo dentro daquela história, porque se escolheu aquele

close naqueles objetos.

Júlia: porque eu acho que o close é mais quando é algum momento

importante, alguma reação, alguma coisa que você quer chamar a atenção

daquele momento...

Cláudio: É isso! Você quer chamar a atenção pra algo! Você quer dizer algo

com aquilo!

Entrevistadora: O close naquelas bacias ali, acrescenta pra história?

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Janaína: Pra ele sim! Mas enfatiza a condição dele... Vai lá e mostra como ele

vai ao banheiro, como ele lava a louça, sei lá aí pra deixar meio que claro, né?

Cláudio: Me traz uma... me mostra que ele tem uma condição financeira

precária, mas não me... Ainda que seja a relação da doença com a situação da

vida do indivíduo... Lá bem próxima da doença dele, aquela forma não me traz

nada...

Janaína: Acho... A narrativa... Acho que a narrativa faz sentido mostrar não

necessariamente pra falar da doença...

Entrevistadora: O que vocês gostaram mais no vídeo pra falar desse

tema?

Léia: em vez de colocar a primeira cena ele chegando na Central. Eu colocaria

ele acordando na cama dele com a mulher dele, batendo papo com ela aí sim.

Cláudio: Não sei se seria bom ou ruim, mas senti falta de explorar ação com

outras pessoas...

Janaína: Só uma relação só, só com a família dele...

Léo: Verdade, ele brincando...

Cláudio: Eu achei que o vídeo fica muito... ele me pareceu muito... bonzinho e

ruinzinho. Tem de um lado... Tem um mal... E tem o bem. Em algum

momento... Por exemplo, mostra ele tendo dificuldade de acesso ao

atendimento... Ele encontra uma médica maravilhosa que vai fazer tudo por

ele... E a família super unida... É claro que é isso que é bom ver... Interessante.

Mas que a família ta ali apoiando... Tudo... Eu acho que na prática.. .há

controvérsias...

Léia E o fato de ser uma mulher médica... Tem muito profissional masculino

que tem um atendimento ótimo!

Janaína: Acho que eles são profissionais...

Cláudio: Mas se a gente for olhar, levar o vídeo pra uma questão de gênero.

Coloca isso: os dois médicos homens são mais profissionais...

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Léia: E até a preocupação dela... Depois dele voltar ao trabalho... Vocês

acham que isso pode estar trazendo

Léia: Que ela é mais profissional

Janaína: É mais piedosa...

Cláudio: Que ela tá mais sensível aos problemas dos outro, do próximo... Que

eu fiquei... Quando eu vi acena eu fiquei me perguntando, tipo, eu via acena,

eu fiquei me perguntando, tipo, que é que realmente remete... Tipo assim no

momento que ela tá falando pro médico o ambiente é outro. Mostra que ela ta

num lugar...

Léia: bem organizadinho...

Cláudio: ... Um pouco acima e me deu uma sensação de pena! Daquele

indivíduo assim a maneira como.... Eu sei que é preocupação. Ela demonstra

que ta preocupada, mas me dá... O diálogo deles, me dá uma sensação tipo...

aí tadinho, sabe! Coitado!

Leia: ... De pena...

Janaína: Bondosa... Que faz pelos pobres...

Leia: Há uma incomodação deles... Queriam fazer...

Cláudio: Eu fiquei um pouco com essa sensação. Até por conta do diálogo

deles, o diálogo em si me traz esse desconforto dessa relação paternalista

porque se coloca muito isso. Muito é isso ou isso. Coloca muito as coisas, cada

um de um lado. O que é...Ele é pobre e não sabe de nada E nós somos

médicos e temos uma solução melhor para o outro. Porque não diz que eles

são ricos, mas eles têm uma solução... Um saber... Na época ela tinha o carro

do ano e ele tava lá lixando carro...

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Apêndice VI - Roteiro de Grupo de Discussão

1. O vídeo é sobre o que? O que acontece nessa história? Quem são os

personagens?

Esta questão pretende mostrar o que os espectadores compreenderam do vídeo exibido – quem são os personagens, o que acontece com eles, onde, como, quando e por que.

2. Para você quais são os conflitos vividos pelo personagem principal do

vídeo?

Esta questão se refere à maneira como os espectadores veem os personagens: as experiências vividas e quais as atitudes tomadas por esses personagens diante de situações como suas condições de trabalho e moradia, relação médico-paciente, acesso à informação, preconceito e outros.

3. O que você acha da postura (reação) do personagem principal diante do

diagnóstico de tuberculose?

Esta questão pretende mostrar a maneira como os espectadores se posicionam em relação às atitudes e justificativas dos personagens. Pretende-se observar a afinidade dos espectadores com as escolhas feitas pelos personagens a partir da avaliação que estes espectadores fazem das práticas dos personagens.

4. Como você faria um vídeo com esse mesmo tema? Faria de forma

diferente? Que outros personagens e situações poderiam fazer parte

dessa história? De que forma? Que mudanças você faria no vídeo?

Esta questão procura mostrar de que maneira os recursos estéticos são considerados/utilizados. Em quê os espectadores concordam e discordam em relação às escolhas do vídeo exibido.

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Apêndice VII – Questionário Sociocultural

Esse questionário faz parte de uma pesquisa do LVE / NUTES / UFRJ,

sobre produção e recepção de vídeos educativos para Educação em Saúde.

Questionário 01 Nome_________________________________________________________

1.Idade: _____ anos completos.

2.Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

3. Trabalha: ( ) Sim ( ) Não

4 Carteira assinada: ( ) Sim ( ) Não

5.Estuda:

( ) Sim – Em que ano? ______

( ) Não – Em que ano parou? ______Há quanto tempo? ______

6. Fez ou faz algum curso além desse? Qual?

______________________________

7. Você segue alguma religião? ( ) Sim ( ) Não

Qual?___________________

8. Você nasceu no Rio de Janeiro?

( ) Sim

( ) Não Em qual cidade? __________________________________

9. Sua família é de qual região do Brasil? ______________________________

10. Qual é a escolaridade de seus pais? _______________________________

11. Você gosta de assistir a filmes? ( ) Sim Não ( )

12. Que tipo de filmes?

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( ) Ação ( ) Comédia ( ) Romântico

( ) Ficção Científica ( ) Infantil

13. E seus pais gostam de assistir a filmes?

( ) Sim Não ( )

14. Que tipo de filmes seus pais gostam de assistir?

( ) Ação ( ) Comédia ( ) Romântico

( ) Ficção Científica ( ) Infantil

15. Quais vídeos ou filmes você assistiu recentemente?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

16. Quais vídeos ou filmes que você assistiu você gostaria de ter feito?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

17. Gosta de vídeos educativos?

( ) Sim ( ) Não

18. Por quê?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

19. Lembra de ter assistido a vídeos educativos recentemente? Quais?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

20. Se você fosse fazer um vídeo educativo o que não poderia faltar?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

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1 - Com que frequência você assiste/acessa os seguintes meios de comunicação? (marque com um X apenas uma opção por linha)

Todos os dias

Entre 4 e 6 dias por semana

Entre 1 e 3 dias na semana

Algumas vezes por mês

Nunca Não sei

1.1 - Televisão 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□

1.2 - Jornal impresso

1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□

1.3 - Rádio 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□

1.4 - Internet 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□

1.5 - Revistas 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□

2 - Abaixo há uma lista de temas. Por favor, diga-me se você tem MUITO interesse, MÉDIO interesse, POUCO interesse ou NENHUM interesse em cada um deles. (marque com um X apenas uma opção em cada linha)

Temas Muito interesse

Médio interesse

Pouco interesse

Nenhum interesse

Não sei

2.1 - Política 1□ 2□ 3□ 4□ 5□

2.2 - Arte e cultura

1 □ 2□ 3□ 4□ 5□

2.3 - Medicina e saúde

1 □ 2□ 3□ 4□ 5□

2.4 - Ciência e tecnologia

1 □ 2□ 3□ 4□ 5□

2.5 - Esportes 1 □ 2□ 3□ 4□ 5□

2.6 - Meio ambiente

1 □ 2□ 3□ 4□ 5□

2.7- Viagem 1 □ 2□ 3□ 4□ 5□

2.8 - Economia 1 □ 2□ 3□ 4□ 5□

2.9 - Religião 1 □ 2□ 3□ 4□ 5□

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Apêndice VIII - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde Universidade Federal do Rio de Janeiro

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo” desenvolvida pelo Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde – NUTES/UFRJ, sob responsabilidade do Prof. Dr. Luiz Augusto C. de Rezende Filho e da mestranda Denise Pires de Andrade. O objetivo desta pesquisa é conhecer as percepções de jovens integrantes do Projeto RAP da Saúde sobre o uso do vídeo para a educação em saúde.

A pesquisa será realizada em três etapas: 1) Entrevistas informais com os participantes do projeto pesquisado; 2) Realização de Estudo de Recepção do Vídeo: “Tuberculose, um perigo real” com os participantes do projeto pesquisado; 4) Análise das respostas obtidas por meio do questionário aplicado durante a realização do Estudo de Recepção.

Sua participação nesta pesquisa é voluntária e garante-se que nenhuma avaliação, constrangimento ou impacto sobre você poderá resultar das informações coletadas durante o estudo. Você não terá nenhuma despesa ou remuneração por participar do projeto e tem a garantia de que terá esclarecimento sobre qualquer dúvida que possa ter em qualquer etapa do estudo. Também tem a garantida de liberdade para o caso de, a qualquer momento, decidir retirar seu consentimento deixando de participar do estudo, sem qualquer prejuízo. As informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros participantes e a identificação de nenhum deles será divulgada. Os dados coletados serão utilizados somente para pesquisa e os resultados serão publicados em artigos científicos de revistas especializadas e/ou congressos.

Garantia de acesso: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso ao profissional responsável que poderá ser encontrado através dos telefones: 2562-6360 e 9705-9580 (e-mail: [email protected]). Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva –IESC - www.iesc.ufrj.br

O IESC está localizado à Praça Jorge Machado Moreira, Cidade Universitária – Ilha do Fundão/Rio de Janeiro – RJ Pelo telefone 2598-9293 - De segunda a sexta-feira no horário de 13h

as 16h na sala - 15 do CEP IESC ou por meio de correio eletrônico [email protected] É importante que você leia e compreenda totalmente as informações fornecidas neste

termo. Caso tenha alguma dúvida, pergunte ao pesquisador responsável pelo estudo.

CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações sobre o estudo acima

citado que li, ou que foram lidas para mim. Eu, __________________________, discuti com a mestranda Denise Pires de Andrade, sobre a

minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos e sem a perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido. Eu receberei uma cópia desse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a outra ficará com o pesquisador responsável por essa pesquisa. Além disso, estou ciente de que eu (ou meu representante legal) e o pesquisador responsável deveremos rubricar todas as folhas desse TCLE e assinar na ultima folha. ___________________________________ Data: ____/____/____ Assinatura do Sujeito da Pesquisa Voluntários menores de 18 anos, nome Completo do representante legal: _____________________________ __________________________________ Data: ____/____/____ Assinatura do representante legal ___________________________________ Prof. Dr. Luiz Augusto C. de Rezende Filho ___________________________________ Data: ____/____/____ Assinatura do Pesquisador Responsável

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ANEXOS

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Anexo I – Ficha Técnica Vídeo – Tuberculose: Um Perigo Real

Campanha Nacional contra a Tuberculose - Ministério da Saúde

Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola Paulista de Medicina

Fund. Educacional do Pará

Fund. Univ. do Amazonas

Fund. Univ. Fed. do Piauí

Univ. Brasília

Univ. de São Paulo

Univ. Est do Rio de Janeiro

Univ. Fed. da Bahia

Univ. Fed do Ceará

Univ. Fed do Espírito Santo

Univ. Fed de Goiás

Univ. Fed do Maranhão

Univ. Fed de Mato Grosso

Univ. Fed de Minas Gerais

Univ. Fed da Paraíba

Univ. Fed do Paraná

Univ. Fed de Pernambuco

Univ. Fed do Rio de Janeiro

Univ. Fed do Rio Grande do Norte

Univ. Fed do Rio Grande do Sul

Univ. Fed de Santa Catarina

Univ. Fed de Sergipe

Créditos

Vera Serra

Carlos Fernandes

Jackson de Souza _________________________Dr. Modesto

Maria Salvadora ___________________________Maria

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Idoracy Almeida ___________________________Chico

Rubens E. Bem ____________________________Médico II

Elenco de Apoio

Iolanda da P. Maria _____________________________Atendente

Marcos A. Rodrigues ____________________________Doente

Athayde Motta _________________________________Balconista

Nelson Gonçalves ______________________________Balconista

Ruth P. Amado ________________________________Funcionária

Silvia J. da Silva _______________________________Filha Menor

Rejane J. da Silva ______________________________Filha Maior

Leonardo J. da Silva ____________________________Filho

Argumento e Assessoria Educacional

Eliane Brígida Falcão

Especialistas de Conteúdo

Aunir José Carneiro

Gerson Pompeo

Roni Marques

Hisbelo da S. Campos

Gilberto R. Arantes

Antônio Rufino Netto

Fotografia e Câmera

Jonathas Costa

Produção e edição

João Luiz Leocádio

Roteiro e Direção

Emiliano Ribeiro

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Supervisão e Operação de VT e Áudio

Ronaldo Martins

Iluminação

Gildenir Buequer

Marcos Mattos

Letreiros

Sergio Murilo

Estagiários

Athayde Motta

Marcelo Póvoa

Músicas:

“Violada” de Francisco Mário

“Prisão” de Francisco Mário

“Zé do Tamborim” de Bebeto

“Preto Velho” de Bebeto

“Looking Glass” de Ernie Watts

Agradecimentos:

Posto de Saúde da UFRJ na Vila do João;

Casa Comunitária de Manguinhos;

Moradores da Favela de Manguinhos;

CMS Penha;

Setor de Transporte da UFRJ;

Bar Candomblé.

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Anexo II – Ficha Completa do VTE

Título: Tuberculose: um perigo real.

Cod. Vídeo: 214 Nº KM: 228 Ano: 1987 Tempo (em minutos): 26 Idioma: Português

Produtora: NUTES/UFRJ Suporte Original: U-MATIC - PAL-M

Apoio Financeiro: Ministério da Saúde

Sinopse: Mostra as dificuldades que uma jovem médica encontra para prestar atendimento correto a um homem portador de tuberculose.

Assunto: Clínica geral Autor (es) Principal CNCT-MS, NUTES/UFRJ Tuberculose NETTO, A. R.

ARANTES, G. R.

CAMPOS, H. S.

POMP, G.

CARNEIRO, A. J.

Equipe Técnica e de Produção Cargo

Athayde Motta Estagiário

Eliane Brígida de Moraes Falcão Roteirista

Eliane Brígida de Moraes Falcão Assessor pedagógico

Emilliano Ribeiro Roteirista

Emilliano Ribeiro Diretor

Gildenir Buequer Iluminação

Iolanda da Paixão Maria (Iolanda Costa) Produção

João Luiz Leocadio da Nova Produção

João Luiz Leocadio da Nova Editor de VT

João Luiz Leocadio da Nova Produtor Executivo

Jonathas Morais Costa Fotografia e câmera

Marcelo Póvoa Estagiário

Marco Mattos Iluminação

Ronaldo Martins Apoio operacional

Ronaldo Martins Operador de Áudio

Ronaldo Martins Operador de VT

Sergio Murilo Thadeu Arte

Apoio Institucional: Coordenação Nacional de Controle da Tuberculose - CNCT

Agradecimentos:

Apoio/Colaboração: FUJB Música:

Imagens cedidas:

Observação: Convênio firmado entre o Ministério da Saúde (MS) e o Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES), tendo em vista contribuir para a melhoria do ensino nos cursos de graduação em Medicina, numa perspectiva de integração docente-assistencial. Projeto de integração ensino-serviço na área da tuberculose.

João Luiz Leocadio da Nova Chefe do Lab. de Vídeo Educativo - NUTES/UFRJ