UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - NUTES/UFRJ · amiga para a vida. À Geruza, uma amiga que...
-
Upload
truongnguyet -
Category
Documents
-
view
221 -
download
1
Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - NUTES/UFRJ · amiga para a vida. À Geruza, uma amiga que...
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E
SAÚDE
DENISE PIRES DE ANDRADE
PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE:
leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo
Rio de Janeiro
2013
Denise Pires de Andrade
PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM
SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo
Dissertação de mestrado apresentada
ao Programa de Pós-Graduação
Educação em Ciências e Saúde do
Núcleo de Tecnologia Educacional para
a Saúde da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em
Educação em Ciências e Saúde.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho
Rio de Janeiro
2013
Ficha
elaborada pela Biblioteca de Recursos Instrucionais/NUTES
A553p Andrade, Denise Pires de.
Produção e recepção audiovisual em educação em saúde / Denise Pires de Andrade. – Rio de Janeiro: NUTES, 2013.
120 f. : 21 cm.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Coimbra de Rezende Filho.
Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) -- UFRJ, NUTES, Rio de Janeiro, 2013.
Bibliografia: f. 71-75. 1. Tecnologia educacional. 2. Recursos audiovisuais.
3. Educação em saúde. I. Título. II. Rezende Filho, Luis Antonio Coimbra de.
CDD 372.3
Denise Pires de Andrade
PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras
de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Educação
em Ciências e Saúde, Núcleo de
Tecnologia Educacional para a Saúde,
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como requisito parcial à obtenção do
Título de Mestre em Educação em
Ciências e Saúde.
Aprovado em __________________________________
______________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho – UFRJ
______________________________________________________
Profa. Dra. Rosalia Maria Duarte – PUC-Rio
______________________________________________________
Profa. Dra. Miriam Struchiner – UFRJ
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que com palavras ou silêncios contribuíram para a
realização desta pesquisa. Seus nomes estão aqui para eternizar sua entrada
em cena: à Fátima com sua paciência disfarçada de mau-humor, à Prof. Anaíse
com sua irreverência inconfundível, ao Prof. Strauss, colega de trabalho e
apaixonado pela Filosofia. Ao Prof. Previato sempre simples e atencioso, à
Lenilda, que me apresentou ao NUTES, à Indira, com suas sugestões
pedagógicas, a todos os meus colegas de turma em especial Ana Carla Beja,
Rachel Mariano e Célia Patriarca, com as quais divido inquietações sociais e
existenciais. Aos meus colegas de Laboratório: Marcus, Américo, Inês, Heloisa,
Wagner, Dayane, Alinne e Julianne. Ao professor Luiz Rezende.
Aos meus colegas de trabalho: Iolanda, João, Ronaldo e Gil.
Agradeço à Viviane que se tornou além de parceira de academia, uma
amiga para a vida. À Geruza, uma amiga que o carnaval me trouxe de
presente, à Taís que faz me sentir adolescente. Agradeço à Sheila Lins, que
me dá esperança com seu trabalho. À Teresa e aos meus amigos do IBDD. À
Bruna que me lembra muito a mim mesma. Agradeço à Ilza e à D.Elza pelos
sábados e pelas histórias. À Adriana e nossas diferenças que nos fazem
crescer. Agradeço à Mara que tem a gargalhada mais sincera que já vi.
Agradeço aos novos amigos: Junior, Marcelo e à turma do curso de cinema
que me lembraram que ainda sei atuar. Aos meus amigos de Impro liderados
por Cláudio Amado que nos lembra sempre: “a história só vai pra frente quando
todos trabalham juntos”. Agradeço aos meus amigos palhaços e ao mais
inadequado deles, Marco Andrade. Agradeço também à Vitor Pordeus e aos
meus novos amigos do Hotel e do Spa da Loucura, da Universidade Popular de
Arte e Ciência, e, do Norte Comum onde me sinto em casa para experimentar
as paixões alegres do afeto incondicional. Ocupa Nise! Evoé!
A meu pai, Sr. Francisco, esse cara que é antes de tudo um forte, de
quem herdei a persistência que às vezes nos faz parecer inflexíveis.
À Djair que me inspira diariamente a caminhar.
E à Luizim pelo carim dos Girassóis da Rússia.
EPÍGRAFE
Estamos todos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo.
Cora Coralina
o homem ordinário inventa o cotidiano com mil maneiras de “caça não autorizada,
escapando silenciosamente à conformação.
Michel de Certeau – A invenção do cotidiano.
Do princípio de incompletude de todos os saberes decorre a possibilidade de diálogo e
de disputa epistemológica entre os diferentes saberes. O que cada saber contribui
para esse diálogo é o modo como orienta uma dada prática na superação de uma
certa ignorância. O confronto e o diálogo entre os saberes é um confronto o e um
diálogo entre diferentes processos através dos quais práticas diferentemente
ignorantes se transformam em práticas diferentemente sábias.
Boaventura de Souza Santos
Conhecimento Prudente para uma Vida Decente (2006)
RESUMO
ANDRADE, Denise Pires de. PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM
EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um
vídeo educativo. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação
em Ciências e Saúde). Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
Esta pesquisa propõe uma reflexão sobre a produção de sentido de
jovens produtores de audiovisual para a Educação em Saúde de integrantes do
projeto de educação não formal “Rede de Adolescentes Promotores da Saúde”
– RAP da Saúde. Para isto foram realizadas análises de suas leituras acerca
do vídeo educativo “Tuberculose: um perigo real” produzido pelo Núcleo de
Tecnologia Educacional para a Saúde da UFRJ (NUTES). A metodologia
utilizada foi a Análise Fílmica Francesa na abordagem teórica de Vanoye &
Goliot-Lété (1994) e a Análise das Posições de Leitura do modelo
multidimensional de Hall/Schrøder (2003), em três de suas dimensões, a saber:
Compreensão, Discriminação e Posição. Os resultados mostram as reflexões
destes jovens sobre o vídeo produzido quanto à forma e ao conteúdo. Conclui-
se que esses jovens têm um olhar sensível para as questões abordadas em
virtude de sua experiência em um projeto não formal de Educação em Saúde e
sua relação com a produção audiovisual o que ratifica a premissa de se
considerar as referências culturais e o contexto social dos atores pesquisados.
Palavras-chave: Recepção Audiovisual; Educação em Saúde; Jovens.
ABSTRACT
ANDRADE, Denise Pires de. PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM
EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um
vídeo educativo. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação
em Ciências e Saúde). Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
This research proposes a reflection about the sense production from
young producers of audiovisual for Health Education to members of the non-
formal education project “Rede de Adolescentes Promotores da Saúde” - RAP
da Saúde. For this, it was performed analysis on their readings of the
educational video " Tuberculose: um perigo real" produced by the Núcleo de
Tecnologia Educacional para a Saúde da UFRJ (NUTES). The methodology
used was the French Filmic Analysis on the theoretical approach of Vanoye &
Goliot-Lété (1994) and the Positions and Reading Analysis of the
multidimensional model of Hall / Schrøder (2003), in three dimensions, namely:
Comprehension, Discrimination and Position. The results show their reflections
about the video produced regarding its form and content. We concluded that
these young people have a sensitive view to the issues raised by their
experience in a non-formal project of Health Education and its relation to the
audiovisual production, what confirms the premise of considering the cultural
references and social context of actors surveyed.
Key-words: Audiovisual Reception; Health Education; Youth.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
BISS – Body Image State Scale
CEDAPS – Centro de Promoção da Saúde
CIEP – Centro Integrado de Educação Pública
CINEDUC Cinema e Educação
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis
DSS – Determinantes Sociais de Saúde
FAETEC – Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro
FUNARTE – Fundação Nacional de Arte
GERAES – Grupo de Estudos de Recepção Audiovisual para Educação em
Ciências e Saúde
INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo
LVE - Laboratório de Vídeo Educativo
NUTES – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONG – Organização não governamental
PROSAD – Programa de Saúde do Adolescente
RAP da Saúde – Rede de Adolescentes Promotores da Saúde
SMSDC – Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil
UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
UPA - Unidade de Pronto Atendimento
UPAC – Universidade Popular de Arte e Ciência
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10
2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 13
3 A PRODUÇÃO E A RECEPÇÃO AUDIOVISUAL .............................................. 18
3.1 A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL PARA EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL: UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO ............................................... 18
3.2. PESQUISAS EM RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE .............................................................................................................. 21
3.3 REFERENCIAL TEÓRICO: ANÁLISE FÍLMICA E O MODELO MULTIDIMENSIONAL DE ANÁLISE DE RECEPÇÃO ...................................... 24
4 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL, SAÚDE E CULTURA ........................................... 31
5 OBJETIVOS ....................................................................................................... 36
5.1 GERAL ......................................................................................................... 36
5.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................. 36
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 37
6.1 PRODUÇÃO: ............................................................................................... 37
6.1.1 Relatório NUTES ................................................................................... 37
6.1.2 Análise fílmica ....................................................................................... 38
6.1.3 Entrevista com o produtor do vídeo “Tuberculose: um perigo real” ....... 39
6.2 RECEPÇÃO ................................................................................................. 39
6.2.1 Questionário sociocultural ..................................................................... 39
6.2.2 Estudo da recepção fílmica ................................................................... 40
6.2.3 Entrevista em profundidade com um integrante do RAP da saúde ....... 40
6.2.4 Análise das dimensões de leitura .......................................................... 41
6.2.5 Cenário da pesquisa ............................................................................. 41
7 RESULTADOS ................................................................................................... 47
7.1 RELATÓRIO DO PROJETO DE PRODUÇÃO DO VÍDEO .......................... 47
7.2 ANÁLISE FÍLMICA “TUBERCULOSE: UM PERIGO REAL” ........................ 47
7.3 ENTREVISTA COM O PRODUTOR DO VÍDEO “TUBERCULOSE: UM PERIGO REAL” ................................................................................................. 53
7.4 PERFIL SOCIOCULTURAL ......................................................................... 54
7.5 GRUPO DE DISCUSSÃO ............................................................................ 58
7.6 ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE COM UM INTEGRANTE DO RAP DA SAÚDE ........................................................................................................ 62
8 DISCUSSÃO DE RESULTADOS ....................................................................... 64
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 69
10 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 71
APÊNDICES .......................................................................................................... 75
Apêndice I – Análise Fílmica - Tuberculose: Um Perigo Real............................ 76
Apêndice II – Glossário de termos técnicos utilizados na análise fílmica. ......... 90
Apêndice III – Entrevista com o produtor do vídeo ............................................ 91
Apêndice IV - Entrevista em profundidade......................................................... 96
Apêndice V – Transcrição do Grupo de Discussão .......................................... 99
Apêndice VI - Roteiro de Grupo de Discussão ................................................ 111
Apêndice VII – Questionário Sociocultural ....................................................... 112
Apêndice VIII - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................... 115
ANEXOS ............................................................................................................. 116
Anexo I – Ficha Técnica Vídeo – Tuberculose: Um Perigo Real ..................... 117
Anexo II – Ficha Completa do VTE .................................................................. 120
10
1 INTRODUÇÃO
A reflexão sobre os processos de produção e recepção midiática passou
a fazer parte de meus estudos acadêmicos a partir do final dos anos de 1990
quando entrei na Universidade. Como bolsista de Iniciação Científica do
Laboratório de Mídia e Política do Departamento de Ciência Política do Instituto
de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, participei de discussões acerca das
relações entre o processo eleitoral ocorrido em 1989 e os conteúdos veiculados
pela TV brasileira nesse período. Apontada como responsável pela criação do
“Fenômeno Collor” por meio da “manipulação” da informação, a grande mídia
(TV e rádio) era tema de diversas pesquisas deste laboratório que dentre
outras atividades analisava a cobertura realizada pelas emissoras de TV do
movimento que ficou conhecido como “Campanha pelas Diretas Já”. O estudo
de autores como Jesús Martím-Barbero (1997) que forneciam suporte teórico à
compreensão dos processos pelos quais os espectadores recebem e
reelaboram os diversos conteúdos exibidos pela mídia - iniciou o caminho para
a pesquisa sobre a programação televisiva naquele momento histórico e
acendeu a fagulha que a experiência como atriz alimentaria.
Conciliei durante três anos a rotina universitária com as aulas diárias da
Escola de Formação de Atores Martins Penna1, onde estudava teóricos e
dramaturgos e pensava sobre como o público se apropria daquilo que assiste.
Como ele reinterpreta uma peça de teatro, um filme ou a programação da TV?
Ao estudar a História do Teatro e pesquisar autores de diferentes
correntes estéticas – do Realismo de Ibsen ao Expressionismo de Wedekind ou
ainda o “teatro épico” de Brecht e o Absurdo de Ionesco – além de assistir a
filmes como Um Cão Andaluz, de Luiz Buñuel, Metrópolis de Fritz Lang e o
brasileiro Limite de Mário Peixoto – foi possível refletir sobre os processos de
reinterpretação ou recriação artística a partir das referências culturais que
forjam o olhar de cada autor.
Durante o curso de Licenciatura em Ciências Sociais realizado na
Faculdade de Educação da UFRJ as disciplinas que compunham a grade
curricular, em especial a Sociologia da Educação, redesenhava o
1 Escola ligada até 2009 à Fundação Nacional de Arte – FUNARTE e a partir de então à
Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro – FAETEC.
11
questionamento: a partir daquele momento em vez de um público genérico o
interesse era sobre o estudante e sua relação com a mídia. Como o jovem se
relacionava com os conteúdos que recebia da TV que era muitas vezes sua
única fonte de informação?
Os questionamentos suscitados pelo estudo de textos de Ciências
Sociais e Arte foram se intensificando e tornaram-se uma questão de pesquisa
quando assisti ao filme “Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do
lado de cá”. No documentário de oitenta e nove minutos dirigido em 2001 por
Silvio Tendler o sociólogo Milton Santos discorre sobre “uma multiplicidade de
fenômenos de baixo” (TENDLER, 2001, 0:51:54 m’). As diversas experiências
de apropriação e utilização de recursos digitais por moradores de regiões
pobres do Brasil apresentadas no filme me instigaram a estudar as percepções
dos espectadores sobre a produção audiovisual. Minha atenção se concentrou
especialmente nos jovens moradores de regiões periféricas da cidade do Rio
de Janeiro, comunidades ou favelas que a partir da popularização dos meios
de produção e veiculação de conteúdo, artístico ou não, se tornaram
produtores.
A partir do ingresso no Programa de Pós-graduação do Núcleo de
Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) a questão de pesquisa foi se
construindo no sentido de se buscar compreender a experiência do jovem com
o audiovisual em um projeto de educação em saúde. Assim optou-se por
investigar a produção de sentido de jovens produtores de audiovisual sobre um
vídeo educativo que aborda questões de saúde. A partir das discussões com
os colegas pesquisadores do Grupo de Estudos de Recepção Audiovisual em
Ciências e Saúde - GERAES – defini o referencial teórico que guiou a
pesquisa. O modelo multidimensional de estudo de recepção de Schrøder com
suas dimensões de leituras foi o suporte epistemológico para as reflexões
realizadas.
Dessa forma, aliando tal compreensão do fenômeno com o campo de
pesquisa, a Rede de Adolescentes Promotores da Saúde (RAP da Saúde) 2 se
tornou o grupo estudado, por se tratar de um projeto de educação não formal
que utiliza a produção audiovisual como um recurso para a Educação em
2 A aproximação com o RAP da Saúde deu-se em função deste configurar-se como um
projeto da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro com jovens moradores de comunidades da cidade.
12
Saúde com jovens moradores de comunidades do Rio de Janeiro. O trabalho
desenvolvido no RAP da Saúde possibilita o estudo dos processos pelos quais
esses jovens compreendem conteúdos classificados como educativos e a
reflexão sobre suas atitudes de adesão ou resistência a esses materiais.
Para melhor compreensão desta pesquisa, a presente dissertação foi
estruturada da seguinte forma: Justificativa, a Produção e a Recepção
Audiovisual, Objetivos, Procedimentos Metodológicos, Resultados, Discussão e
Considerações Finais.
Na primeira parte apresento a justificativa e, em seguida, um breve
panorama histórico da Educação em Saúde no Brasil por meio do Audiovisual.
Problematizo a criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo – INCE –
quando o poder público iniciou o processo educativo que, de acordo com o
pensamento da época, iria promover os hábitos adequados para a boa saúde
do trabalhador – o símbolo da nação brasileira - bem nos moldes do regime
ditatorial varguista. O desenvolvimento tecnológico ampliou e a diversificou os
centros de produção audiovisual fazendo com que as Universidades se
destacassem nesse processo. Recentemente, as experiências de produção
audiovisual em projetos não formais de educação alteraram profundamente a
relação dos jovens com os meios. Sobre a Recepção Audiovisual, apresento
pesquisas sobre a Recepção Audiovisual em Educação em Saúde, realizadas
nos últimos dez anos e as perspectivas teóricas que as guiaram.
Em seguida, os Objetivos e os Procedimentos Metodológicos dessa
pesquisa, seguidos das descrições das informações coletadas no campo e das
discussões desses resultados. A partir dessas análises é possível observar a
relação que os jovens pesquisados têm construído com o audiovisual e como
compreendem os conteúdos para educação em saúde a partir de suas
experiências e referências culturais.
As Considerações Finais foram desenvolvidas a partir das análises
sobre as leituras dos jovens: suas escolhas, preferências e atitudes
atravessadas por seu contexto social e os aspectos culturais de seu meio.
13
2 JUSTIFICATIVA
A familiaridade é a marca da relação do jovem brasileiro com o
audiovisual, pois ele convive diariamente com produções de diversos veículos
(TV, cinema, Internet, etc). Para Fisher (2008), a televisão – meio de produção
audiovisual de maior alcance no país - é parte indiscutível do cotidiano: ela
existe como necessidade, presença, lazer e companhia, como se operasse
como uma grande mãe cultural, plenamente acolhedora. Essa mãe cultural
existe não só como lazer e distração: existe para ocupar um importante lugar
de “proteção”. De acordo com Alegria (2005), durante grande parte de sua
existência, “a televisão foi um meio de comunicação autoritário, na medida em
que pressupunha e exigia um público passivo, imobilizado na sala de estar
diante da telinha”. No entanto, a partir do final da década de 1990 e
principalmente nos anos 2000 essa relação familiar sofreu uma transformação
definitiva: o público passou a produzir e difundir, por meio da Internet diversos
conteúdos. Para Alegria (2005) e Miranda, (2007), nunca foi tão fácil com aval
das novas tecnologias, produzir e veicular músicas, ter sua página de Internet,
ou mesmo, sua própria TV. Em menos de uma década a distância entre
produção e consumo encurtou-se consideravelmente.
Nunca foi tão fácil e barato gravar imagens, editar essas imagens na forma de uma mensagem, associando a ela sons e informações gráficas. Nunca foi tão fácil gravar um disco, criar e difundir para milhares de pessoas ao mesmo tempo mensagens textuais, visuais e sonoras (ALEGRIA, 2005, p.02).
A popularização do uso das novas mídias digitais em função do
barateamento de seus custos a partir do início do século XXI possibilitou uma
autonomia na produção e circulação de informações e conteúdos sem
precedentes. Simultaneamente, a expansão da Internet engendrou novas
configurações de consumo e produção estreitando os laços entre as atividades
de recepção e expressão nos ambientes movidos pela informática. Essa
sociedade em rede suscitou diversas questões, entre as quais, no campo da
Educação, estão a aquisição da capacidade intelectual de aprender a aprender
ao longo de toda a vida e o debate em torno de uma “nova pedagogia” baseada
na interatividade e na personalização (COCCO, GALVÃO & SILVA. 2003;
CASTELLS, 2003). As transformações na relação entre o espectador e a mídia
14
podem ser verificadas por meio do mapeamento realizado por Toledo (2010)
que mostra o volume crescente da produção de vídeos realizados em espaços
de educação não formal. Tais vídeos são produzidos por jovens integrantes de
“entidades e projetos que promovem gratuitamente, e para públicos
historicamente excluídos socialmente, o ensino dos meios de realização
audiovisual” (TOLEDO, 2010, p. 56).
Já no final da década de 1990 era possível verificar o destaque
conferido por documentos oficiais à importância da atuação de instituições não
escolares para a ampliação das possibilidades do aprender. Como essas
instituições em virtude de suas próprias metodologias específicas - que nascem
a partir da “problematização da vida cotidiana” (GOHN, 2010. pág. 46) -
poderiam colaborar no sentido de fornecer subsídios a um educando autônomo
na construção e gestão de seu conhecimento aprendido em um cotidiano cada
vez mais informatizado e midiatizado. Em 1998 foi publicado o Relatório
“Educação: Um Tesouro a Descobrir” da Comissão Internacional sobre
Educação para o século XXI a pedido da UNESCO, cujo texto assinado por
quatorze especialistas em educação de todas as regiões do mundo destacava
a importância a ser dada
ao fato destas novas tecnologias estarem gerando, sob os nossos olhos, uma verdadeira revolução que afeta tanto as atividades ligadas à produção e ao trabalho como as ligadas à educação e formação” (UNESCO, 1998).
O relatório ressaltava em vários de seus artigos questões referentes ao
desenvolvimento da informação e às implicações sociais e educativas que as
novas tecnologias provocavam. Este documento enfatizava que começava
então a surgir nas salas de aula novos tipos de relacionamento entre professor
e estudante uma vez que esta constitui o cerne do processo pedagógico
também em processos educativos “extra-escolares” (UNESCO, 1998).
O processo de apropriação dos meios de produção audiovisual por
jovens integrantes de projetos não formais de educação apresentado por
Toledo (2010) alimentou o questionamento sobre as mudanças que estão
ocorrendo na relação do jovem com o audiovisual. Como produtores de
conteúdos audiovisuais, quais seriam suas leituras sobre um vídeo educativo?
15
Como veem e se posicionam a respeito do teor e dos recursos utilizados na
produção desses vídeos?
Em virtude do trabalho que desenvolve junto aos jovens de diversas
comunidades da cidade do Rio de Janeiro, o projeto Rede de Adolescentes
Promotores da Saúde – o RAP da Saúde foi escolhido para essa pesquisa.
Uma de suas atividades é a oficina de produção audiovisual como meio de
levantar discussões sobre questões de saúde com o público jovem. Em sua
pesquisa sobre o RAP, Culpti (2010) assinala que, na maioria das vezes, o
jovem só procura os serviços de saúde quando quer se prevenir de doenças
sexualmente transmissíveis ou vive a experiência de uma gravidez precoce. –
A escolha por este campo investigativo, qual seja, a comunidade da Rocinha,
permitiu a problematização do uso do audiovisual em espaços que sofrem com
a falta de investimentos em políticas públicas de diversas áreas, tais como
saúde, educação e saneamento básico e, até há menos de uma década não
tinham qualquer acesso a meios de produção audiovisual.
Então surgiu a questão: como integrantes do Projeto RAP da Saúde
veem o vídeo “Tuberculose: um perigo real”? Esse vídeo foi escolhido em
função de seu conteúdo abordar questões relativas à tuberculose que vão além
de seu quadro epidemiológico ampliando o escopo da discussão para o
contexto social da doença. Suas cenas mostram, por meio do protagonista, as
dificuldades de acesso da população aos serviços de saúde pública, a falta de
medicamentos nas farmácias dos postos de saúde, a relação médico-paciente,
a falta de informação e o preconceito.
Descoberta no século XIX, a tuberculose é uma doença infecto-contagiosa
causada por uma bactéria (Bacilo de Koch) que afeta principalmente os
pulmões e foi declarada em 1993, pela a Organização Mundial da Saúde
(OMS) como emergência mundial. Seus índices oscilam de acordo com o
incremento ou a retração de políticas públicas de promoção da equidade social.
A precarização dos serviços públicos, como os da área de saúde, contribuiu
grandiosamente para a volta de endemias e agravamento de doenças que já
estavam controladas (SOARES, 2002). O Brasil é um dos 22 países priorizados
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nas ações de prevenção à doença,
porque está no grupo de nações que concentra cerca de 80% dos casos de
tuberculose em todo o mundo.
16
Na Rocinha o número casos de tuberculose ultrapassa os índices
permitidos pela Organização Mundial da Saúde – OMS. Tal quadro levou
Alexandre Chieppe, sanitarista e superintendente de Vigilância Epidemiológica
e Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde, a escrever em artigo publicado
pelo jornal O Globo em 25 de novembro de 2011:
O estado do Rio de Janeiro, a despeito dos inúmeros avanços obtidos recentemente nas ações de prevenção e tratamento, é o estado da Federação com o maior coeficiente de incidência de tuberculose. Dados de 2010 revelam a ocorrência de mais de 70 casos para cada 100.000 habitantes, com a ocorrência de 815 óbitos (taxa de mortalidade de 5,1 a cada 100.000). Na comunidade da Rocinha temos um dos piores resultados e uma das maiores taxas de tuberculose no mundo. A incidência da doença na Rocinha em 2010 foi de 386,7 casos por 100.000 habitantes. Isto reforça a tese de que o controle da tuberculose deve englobar necessariamente a correção das desigualdades decorrentes das condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham
(http://www.rj.gov.br/web/ses/exibeconteudo?articleid=690498 2011).
A tuberculose é uma das doenças que guardam estreita relação entre
sua incidência e os Determinantes Sociais de Saúde (DSS), que segundo o
Ministério da Saúde (2012) se referem às condições socioeconômicas,
ambientais e às referências culturais de determinada sociedade. Estes
aspectos relacionam-se, intrinsecamente, com as condições de vida e trabalho
dos membros que a compõem: habitação precária, ambiente de trabalho
desfavorável, saneamento e serviços de saúde ausentes ou falhos, educação
deficitária, incluindo também a trama de redes sociais (MS, 2012).
Recentemente alguns espaços possibilitam a valorização dos saberes
populares, comunitários, e costumes tradicionais em prol da saúde (SMSDC,
2011).
Os jovens do projeto RAP da Saúde levam para as oficinas temas que
do seu cotidiano e as questões relativas à tuberculose e, os DSS são
recorrentes em virtude de sua experiência com familiares ou amigos
acometidos pela tuberculose. Campanhas e eventos para o esclarecimento
sobre o diagnóstico e tratamento da tuberculose são frequentes em com ações
em diversos espaços da comunidade.
Assim sendo, esta pesquisa, tal como aponta Gohn (2011), visa
conhecer a voz ou as vozes dos sujeitos, emocionadas e expressando os
pensamentos e desejos. Também pretende estar alinhada ao pensamento
17
freireano para quem é fundamental que a prática educativa se dê em uma
relação dialética com o ambiente em que vive o educando (FREIRE, 2011).
Entende-se que a busca pela compreensão dos processos de produção
de sentido acionados por jovens integrantes do projeto RAP da Saúde, cuja
experiência com o audiovisual se situa na relação de espectadores-produtores,
permite investigar como “um sujeito social dotado de valores, crenças, saberes
e informações próprios de sua (s) cultura(s) interage de forma ativa, na
produção dos significados da mensagem” (DUARTE, 2009).
Portanto, essa pesquisa se caracteriza por abordar questões que se
complementam no sentido de compreender o olhar desses jovens sobre o
audiovisual, sua utilização como recurso educativo e sobre sua própria atuação
como protagonista na promoção da saúde. Assim, pretende contribuir, dentro
de seus limites, para ampliar a reflexão sobre essas temáticas.
18
3 A PRODUÇÃO E A RECEPÇÃO AUDIOVISUAL
3.1 A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL PARA EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO
BRASIL: UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO
A crença em um projeto de educação salvacionista concebido para a
introjeção de práticas e hábitos sanitários modernos em um país com milhões
de analfabetos, diverso geográfica, cultural e etnicamente foi a base da criação
do Instituo Nacional de Cinema Educativo – INCE - em março de 1936.
Resultante dos esforços de educadores do movimento escolanovista, de
intelectuais e de políticos este Instituto pretendia veicular informação e
aprendizagem para públicos diferentes: desde estudantes de escolas primárias
até trabalhadores em suas associações profissionais.
Implementado em pleno Estado Novo e inspirado nas experiências dos
regimes ditatoriais alemão e italiano, o INCE foi o primeiro projeto brasileiro de
educação por meio da produção de conteúdo audiovisual e criado não por
acaso pelo Ministério da Educação e Saúde, que reunia essas duas áreas
naquele momento de fortalecimento das concepções eugênicas. Segundo
SCHVARZMAN (2004), “melhorar o homem, na sua saúde, suas qualidades
morais e aptidões intelectuais para fazer dele um eficiente trabalhador” por
meio da educação e da cultura, sintetizava os objetivos do INCE que estavam
baseados em uma mentalidade saneadora e prescritiva de transmissão de
conhecimento de alguns detentores do saber para grupos de incultos carentes
de orientação e tutela (op.cit. p. 197).
Durante seus trinta anos de existência, o INCE desenvolveu diversas
atividades, entre elas a exibição, remessa e assistência às escolas e
instituições de todo país. O INCE produziu aproximadamente quatrocentos
filmes, dos quais trezentos e cinquenta e sete sob o comando de Humberto
Mauro, que esteve à frente do órgão desde a criação até sua aposentadoria,
quando o Instituto perdeu seu caráter exclusivamente educativo e foi absorvido
pelo INC – Instituto Nacional de Cinema em 1967. Apesar da concepção
saneadora e diretiva da época Mauro, conseguiu realizar filmes que fugiam à
ótica prescritiva das diretrizes oficiais e que primavam pelos pressupostos
construtivistas de aprendizagem (GRUZMAN & LEANDRO, 2005). Primeiro
19
representante do Brasil em um congresso cinematográfico internacional no
Festival de Veneza, em 1938, Humberto Mauro é considerado precursor do
neorrealismo por ter mostrado, já em 1935 o morro carioca em “Favela dos
Meus Amores”.
A trajetória da produção audiovisual com finalidades educativas é
marcada pelo desenvolvimento dos Centros Universitários na década de
setenta quando vídeos com propósitos de divulgação científica eram
realizados. Essas experiências de produção audiovisual universitária são
posteriores a propostas de TV’s Educativas – a TV USP (Universidade de São
Paulo) inaugurada em 1969 – quando objetivo era a exibição do vídeo como
auxiliar de ensino em sala de aula e Universidade Federal de Pernambuco - a
primeira televisão educativa do Brasil, em 1968, com a finalidade de “ampliar
os horizontes da educação, arte e cultura pernambucana e nordestina”
(BORTOLIERO, 2002).
Segundo a autora, instituições como a Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP) têm papel importante e seu Laboratório Interdisciplinar
para Melhoria do Ensino e Currículo (LIMEC), criado no Instituto de Matemática
da Universidade, ratificando seu caráter interdisciplinar, produziu diversos
programas na área de Saúde.
A UNICAMP, por meio de seu Centro de Comunicação, chegou a
compor um acervo de quinhentos títulos com registros de acontecimentos
importantes da história brasileira como o acidente nuclear de Goiânia em 1987
e o assassinato do seringueiro e ambientalista Chico Mendes em 1989.
Na década de oitenta, havia um total de vinte centrais de produção de
vídeos nas universidades a maioria na região Sudeste, onde também estavam
as centrais mais bem equipadas para elaboração de material educacional e
científico.
Bortoliero (2002) descreve o desenvolvimento dos recursos técnicos
desde os anos de 1950, com a criação do “primeiro gravador de fita de vídeo
utilizado pela BBC na Inglaterra” e destaca os anos entre as décadas de 1970
e 1980 como decisivos para esse desenvolvimento apontando o surgimento
dos sistemas U-matic da Sony e Betacam como desencadeadores de um
incipiente processo de barateamento de gravação de vídeos (BORTOLIERI,
2002).
20
Temos quase 50 anos de evolução tecnológica no campo da imagem e do som. No Brasil, as diversas formas de aplicação do vídeo nos anos 80, modificaram o cotidiano, facilitaram discussões e debates sobre problemas nacionais, permitiram maior acesso à cultura popular, geraram maior incentivo à produção independente, maior participação nas emissoras abertas e se tornaram fundamentais para a democratização do saber científico, permitindo o acesso de um número maior de pessoas ao conhecimento (op.cit p.02).
Entre os mais antigos centros universitários de produção de vídeo está o
Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, criado em 1972, como
Unidade Suplementar do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com financiamento de organismos
internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização
Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Durante seus quase quarenta anos de existência o NUTES por meio de
seu Setor Audiovisual, protagonizou a produção de material instrucional a fim
de utilizá-lo no ciclo básico dos cursos de graduação com o objetivo de auxiliar
na formação dos futuros profissionais da área de saúde (PRETTO, 2009).
Em 1993 o Setor Audiovisual desmembrou-se em Laboratório de Vídeo
Educativo e Programação Visual, este último com trabalhos que incluíam
fotografia e arte (Relatório de Atividades do LVE/NUTES, 1994-1995). O LVE
tem, entre suas diretrizes, recuperar o acervo de imagens na área da Educação
em Saúde e desenvolver linhas de pesquisa sobre produção e recepção
audiovisual.
Atualmente, esse laboratório conta com um acervo de mais de duzentas
produções tendo sido o único com concentração preferencial sobre a área das
Ciências da Saúde até o final dos anos 1980 (BORTOLIERI, 2002). É
considerado modelo por “sua especificidade de seu trabalho da e para a saúde”
(PRETTO, 2009).
A importância histórica do acervo de centros de produção audiovisual
para a Educação em Saúde como o NUTES torna fundamental o estudo de
suas obras e o crescimento de experiências audiovisuais por jovens em
projetos não formais de Educação em Saúde possibilitadas pelas inovações
técnicas conduz a uma investigação que priorize o olhar desses sujeitos.
21
3.2. PESQUISAS EM RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM
SAÚDE
O procedimento de coleta de artigos foi realizado da seguinte forma: no
primeiro momento foram realizadas buscas no portal CAPES utilizando-se os
seguintes termos de modo independente: “recepção”, “mídia”, “audiovisual”,
“educação em saúde”. Em seguida, na intenção de contextualizar a Recepção
Audiovisual em Educação em Saúde, a partir do ano de 2002, foram escolhidos
cinco artigos científicos na base Scielo. Desse material, dois deles referem-se a
artigos internacionais e, os restantes a pesquisas realizadas no Brasil. Os
artigos encontrados mostram como as pesquisas realizadas compreendem os
processos de recepção audiovisual em saúde.
Watson et al. (2003) realizaram na Austrália, uma pesquisa por meio de
16 grupos focais com 117 estudantes do Ensino Médio a respeito de imagens
impressas e audiovisuais sobre o fumo. Foi desenvolvida uma escala
semântica (AMOS et al, 1998), na qual as respostas dos sujeitos foram
agrupadas em quatro categorias distintas: aceitação social, atributos de saúde
física, atributos de humor e atributos de aparência ou imagem. Os resultados
mostraram que os jovens investigados perceberam o fumo nestas mídias
selecionadas como normal e aceitável. Embora estes jovens tenham
demonstrado perceber os males ocasionados pelo fumo, eles se identificaram
com as mensagens veiculadas por meio de imagens positivas do hábito de
fumar: alívio do stress e aspectos sociais e viram o ato de fumar como algo
“legal”. Na Inglaterra, Bell & Dittamar (2011) realizaram uma pesquisa
evolvendo 199 meninas adolescentes com idades entre 14 e 16 anos a respeito
de suas a percepções sobre a idealização de um corpo perfeito. Para analisar a
insatisfação relacionada ao peso do corpo, foi utilizada uma versão padrão de
tratamento do Estado de Aparência Física (PASTAS; REED et al.1991). Esta
versão é uma escala que mede o efeito negativo associado ao controle de
peso. A insatisfação relacionada à aparência foi medida utilizando o Body
Image State Scale (BISS; Bell et al, 2007), que mensura a insatisfação não
apenas com o próprio corpo, mas também com a aparência em geral. Após
serem expostos a imagens que idealizavam o corpo perfeito os sujeitos da
pesquisa demostraram significativamente uma maior insatisfação com a
aparência de acordo com os resultados desta pesquisa.
22
Quanto aos artigos brasileiros, Roso (2000) realizou um estudo de
recepção com 38 mulheres pobres com idades entre 18 e 51 anos. Durante a
pesquisa foram exibidas sete propagandas de prevenção da AIDS (Síndrome
de Imunodeficiência Adquirida) que eram veiculadas na televisão. A abordagem
é qualitativa, empregando a hermenêutica de profundidade, que enfatiza os
aspectos ideológicos dos meios de comunicação de massa e a teoria feminista,
que coloca a mulher no centro de seus estudos, a fim de investigar a ideologia
e as relações de gênero que perpassam as mensagens das propagandas. Os
resultados desta pesquisa mostraram diferenças nas percepções dessas
mulheres em relação ao que assistiam. Segundo o autor, as mulheres que
participavam de grupos de discussões sobre AIDS/HIV viam, nestas
mensagens a voz da ideologia que operava através de uma variedade de
estratégias para criar e estabelecer relações de dominação. Enquanto as
mulheres que não participavam de tais debates concordaram e se identificaram
com a maioria das mensagens e imagens das propagandas. Para os dois
grupos de mulheres, a televisão é uma importante fonte de informações
relacionadas à AIDS, embora elas acreditem que as propagandas não
estimulam o uso do preservativo.
Alencar et al. (2010) realizaram uma pesquisa quali-quantitativa a
respeito da recepção de estudantes do Ensino Médio sobre as campanhas
antidrogas veiculadas na mídia nacional. Para analisar os dados, a pesquisa
utilizou o referencial da teoria funcionalista desenvolvida pela Escola norte-
americana. Os resultados deste estudo apontaram para o que foi classificado
como uma “clara manipulação dos meios de comunicação de massa”, nos
quais a publicidade interfere na vida dos cidadãos e fazem com que eles
consumam produtos que pareçam garantir satisfação ou qualidade de vida
(op.cit. grifo nosso).
Minuzzi & Crus (2010) realizaram um estudo a respeito da percepção da
ecopropaganda Hora do Planeta, da Organização Não Governamental WWF,
por estudantes do ensino fundamental e de pós-graduação de diferentes áreas.
Através da mediação da socialidade desenvolvida por Jesús Martin- Barbeiro
(2003), este estudo analisa a relação que a mídia, a escola, a família e a
cotidianidade têm na formação dos valores ecológicos destes estudantes.
Segundo os autores, apesar dos meios comunicacionais e a propaganda, em
23
particular, auxiliarem na construção dos valores ecológicos das pessoas, a
reflexão efetiva sobre o tema encontra dificuldades de ser instaurada no
cotidiano desses jovens – talvez porque exija o reconhecimento de falhas
individuais e sugira a mudança de atitudes no dia-a-dia dos indivíduos. As
mensagens e os valores ecológicos transmitidos pela mídia tinham rápida
absorção e rápido esquecimento, o que traria a noção abrangente (mas
superficial) sobre o tema e a conscientização a respeito dos problemas
ambientais.
Ao refletir sobre os resultados dessas pesquisas, foi possível observar
que alguns autores entendem os processos comunicativos em uma relação
linear entre o estímulo audiovisual e as respostas dos receptores que “se
identificaram com as mensagens veiculadas por meio de imagens positivas do
hábito de fumar” (WATSON et al. 2003) e “apresentaram significativamente
uma maior insatisfação com a aparência, após serem expostas a imagens que
idealizavam o corpo perfeito” (BELL & DITTAMAR, 2012). Expressões como “a
clara manipulação dos meios de comunicação de massa” (ALENCAR et al,
2010) revelam o entendimento dos meios de produção dos conteúdos
audiovisuais como agentes onipotentes operando sobre um público que
absorve passivamente, ou seja, um receptor que tem uma reação provocada
sem a possibilidade de reelaboração ou ressignificação.
Segundo esses autores, a emissão de uma mensagem por um meio de
produção (TV, Internet etc) é transmitida e recebida por um receptor passivo e
“manipulável” que “absorve” tal conteúdo. Essas análises guardam
semelhanças com teorias que propõem um esquema linear de PRODUÇÃO ►
MENSAGEM ►RECEPÇÃO sob o pressuposto da neutralidade das instâncias
emissora e receptora em uma abordagem sistêmica ou funcional da informação
(Teoria da Informação) (MATTERLART, 2000 p.60). Ou ainda, concepções que
entendem o “receptor isolado” como um indivíduo subjugado pelos meios de
massa, conforme a Teoria Crítica (MATTERLART, 2000. p.83).
No entanto, é possível que até mesmo a pesquisa que aponta para a
existência de uma “voz da ideologia por trás das mensagens que operava
através de uma variedade de estratégias para criar e estabelecer relações de
dominação” (ROSO, 2000) reconheça que há diferenças na recepção entre “as
mulheres que participavam de grupos de discussões sobre AIDS/HIV” e as que
24
não participavam (ROSO, 2000). Tais resultados mostram que nos processos
comunicativos deve-se considerar a importância das relações entre os
integrantes dos grupos aos quais os sujeitos pertencem.
Minuzzi & Crus (2010) se diferenciam em suas análises dos demais
autores citados porque, embora considerem que há uma rápida absorção das
mensagens e dos valores ecológicos transmitidos pela mídia, apontaram o
“rápido esquecimento” em função das possíveis dificuldades de mudança de
atitudes no cotidiano desses jovens. Minuzzi & Crus (2010) adotam a noção de
mediação desenvolvida por Jesús Martin-Barbero (2003), levando em
consideração as relações existentes entre a mídia, a escola, a família e a
cotidianidade na construção das concepções destes jovens.
Assim sendo as análises de Minuzzi & Crus (2010) são as que mais se
aproximam das referências teóricas que embasam esta pesquisa que
considera, assim como Martin-Barbero (2003), que um determinado conteúdo
ao ser recebido não é “absorvido” direta e passivamente por seu espectador,
mas passa por uma série de processos de produção de sentido em que
operam suas experiências cotidianas particulares e específicas, suas relações
afetivas advindas de seu grupo familiar e de suas referências culturais
implementadas em suas práticas sociais. Os significados são construídos a
partir de mediações entre emissores e receptores. Essas mediações incluem
processos de negociação, resistência, oposição, cumplicidade “no qual o
receptor, portanto, não é simples decodificador daquilo que o emissor
depositou na mensagem, mas também um produtor” (MARTÍN-BARBERO,
2008, p.289).
3.3 REFERENCIAL TEÓRICO: ANÁLISE FÍLMICA E O MODELO
MULTIDIMENSIONAL DE ANÁLISE DE RECEPÇÃO
Este trabalho se inscreve sob a perspectiva inaugurada por Stuart Hall
(2003) que operou um deslocamento no núcleo da análise do processo de
produção e consumo dos conteúdos midiáticos. Este autor realizou suas
análises baseado no conceito de hegemonia cultural de Antonio Gramsci e
deslocou o enfoque das pesquisas sobre comunicação até então
predominantemente concentradas em estudar os “meios” (como faziam os
25
autores da Escola de Frankfurt3) para os estudos sobre as possibilidades de
um receptor ativo (MATTELART, 1999. p.74). Mas, Stuart Hall também não
realiza suas análises tendo por base a onipotência do receptor em detrimento
do emissor, mas sim as compreende em um processo de circularidade.
Ao contrário das perspectivas hegemônicas, Hall (2003) sugeriu que no
processo comunicativo se articulam momentos distintos, mas interligados de
produção – circulação - distribuição/consumo – reprodução, ou seja, uma
relação estreita de circularidade entre os dois pólos: produção e recepção. De
acordo com Hall (2003), de um lado há a produção (codificação) projetando seu
sentido preferencial - conteúdo com base em um conjunto de concepções,
ideológicas, estéticas: valores, identidades, tradições e visão de mundo que
são codificadas e oferecidas pelos produtores aos seus espectadores.
A produção, além de projetar seu sentido preferencial, tenta conduzir ou
seduzir o receptor para uma leitura preferencial, qual seja, uma decodificação
específica a mais próxima possível do sentido projetado no momento da
produção. Para esse autor, portanto, a produção concebe um sentido
preferencial utilizando recursos para provocar uma leitura preferencial que é a
maneira como o produtor deseja ver sua produção decodificada pelos
receptores.
De outro lado, decodificação assumida pelo receptor pode subverter
essa leitura “preferida”, uma vez que os códigos acionados pelo receptor no
momento da leitura podem ser diferentes dos imaginados pelo produtor. É
claro que os códigos utilizados pelo receptor no momento da decodificação
podem “coincidir” com o sentido preferencial escolhido pelo produtor, mas não
há qualquer garantia de que essa decodificação será exatamente como a
desejada pelo produtor (HALL, 2003).
Essa assimetria entre os momentos de codificação e decodificação, ou
seja, de emissão e recepção, acontece, de acordo com Hall (2003), porque há
diferenças de códigos e referências sociais entre os dois polos, o que, ainda
segundo o autor, gera uma “autonomia relativa” do receptor nos processos
comunicativos, uma impossibilidade de controle sobre a leitura realizada pelo
receptor. Exatamente por reconhecer que há assimetria entre os processos de
codificação e decodificação, Hall (2003) identificou três categorias de análises
3 Entre os estudiosos desta escola, pode-se citar Theodor Adorno, Max Horkheimer,
Walter Benjamin, dentre outros.
26
ou tipos de leitura: a) dominante ou hegemônica; b) contestatória ou
oposicional; c) negociada.
A leitura dominante ou hegemônica se caracteriza pela completa
correspondência entre codificação e decodificação. O receptor compreende a
mensagem de maneira muito próxima ao sentido pretendido pela produção. Ele
“adere” integralmente à intenção do produtor. Pode-se dizer que leitura
preferencial e sentido preferencial estão juntos.
Na leitura contestatória ou oposicional não há nenhuma ou quase
nenhuma correspondência entre codificação e decodificação. O receptor
compreende a mensagem de forma inversa à que lhe foi proposta realizando
uma leitura absolutamente distante do sentido preferencial projetado pelo
produtor.
A leitura negociada é, segundo Hall, o tipo de leitura que predomina
entre os espectadores e tem como característica uma correspondência
“adaptada” entre codificação e decodificação. O receptor compreende parte da
mensagem dentro dos parâmetros imaginados pelo sentido preferencial do
produtor, no entanto esse espectador mantém certa distância, criando um
sentido próprio a partir da mensagem recebida.
Esse modelo de análise de Hall (2003) rejeita a concepção unilinear de
transmissão de mensagens fixas entre produtor e receptor e se propõe a
estudar a complexidade dos processos envolvidos na produção de sentido.
De acordo com a concepção de Hall (2003), em que o processo
comunicativo envolve a circularidade entre os dois polos: produção e recepção,
esta pesquisa analisou os materiais relativos à produção e à recepção do vídeo
“Tuberculose: um perigo real”. Para a análise do vídeo “Tuberculose: um perigo
real” foi utilizada a Análise Fílmica Francesa de Vanoye & Goliot-Lété (1994).
Segundo esta abordagem teórica analisar um filme ou um fragmento é
“decompô-lo (...) despedaçar, descosturar, desunir, extrair, separar, destacar e
denominar materiais que não se percebem a ‘olho nu’ pois se é tomado pela
totalidade”. Há ainda uma segunda fase na qual os “elos entre os elementos
isolados são estabelecidos a fim de que se possa compreender como eles se
associam”. Portanto, para a realização de uma análise do texto fílmico existem
duas etapas diferentes e complementares que são a desconstrução,
equivalente à descrição, e a reconstrução, que “corresponde ao que se chama
27
com frequência a interpretação”, que é também “situá-lo num contexto” (op.cit,
p.15-23).
A partir do modelo analítico de Stuart Hall - publicado em (1973)
(traduzido para o português em 2003), Schrøder (2000) criou um novo modelo
por entender que era necessário enfatizar não somente as questões
ideológicas das mensagens, como, segundo Schrøder, (2000) Hall fazia.
Schrøder (2000) busca então aprofundar a discussão de questões diversas
como a motivação e a compreensão das mensagens. Ao modelo
unidimensional de Hall (2003), Schrøder propôs o modelo multidimensional
(op.cit) da recepção com o objetivo de abarcar as peculiaridades dos diferentes
aspectos do processo comunicativo. Este autor definiu seis categorias que
norteiam o estudo das diversas formas de leituras empregadas pelo receptor,
segundo suas referências socioculturais. Assim, considera-se que este receptor
tem um papel ativo como produtor de (novos) sentidos a partir do conteúdo
recebido. Esses sentidos produzidos perpassam desde as diversas formas de
leituras realizadas até as atitudes em sua prática social.
Construído a partir dos conceitos de Stuart Hall, o modelo
multidimensional de Schrøder (2000) concebe seis parâmetros ou dimensões
de produção de sentido - divididas em dois grupos: um grupo de “leituras” com
quatro dimensões e um grupo de “implicações” com duas dimensões. Segundo
Schrøder, as dimensões do primeiro grupo - “Leituras” - estão relacionadas a
processos “interiores” de produção de sentido de cada espectador que serão
observados por meio das dimensões de motivação, compreensão,
discriminação e posição. Enquanto que no segundo grupo – “Implicações” - as
dimensões se referem ao potencial de utilização social dos sentidos
produzidos, uma exteriorização de atitudes e comportamentos dirigidos para a
ação em um contexto coletivo e político (op.cit.). Estas dimensões são melhor
detalhadas, a seguir:
Motivação: é a razão pela qual um espectador se dispõe a ver um
filme. O que faz alguém “eleger” determinada mensagem audiovisual
e dedicar-lhe seu precioso tempo? Essa dimensão está intimamente
relacionada a fatores afetivos uma vez que essa “seleção” é baseada
na importância atribuída pelo espectador à relação entre o conteúdo
28
assistido e interesses pessoais de diversas naturezas como
afinidades político-ideológicas, religiosas e/ou identidade cultural e
social. Para Schrøder, o espectador pode se posicionar num
continuum entre uma motivação fraca e motivação forte oscilando
entre essas posições enquanto assiste a um mesmo filme. Ou seja, o
espectador pode desejar muito assistir a um filme em determinados
momentos e rejeitá-lo em outros.
Compreensão: está relacionada ao processo cognitivo para a
apreensão do conteúdo exibido com a decodificação conotativa e
denotativamente dos signos visuais e verbais. A dimensão da
compreensão se relaciona tanto com fatores macrossociais como
classe e gênero quanto com fatores microssociais como escolaridade
e referências culturais. Como o espectador lê as imagens e textos e
quais associações ele realiza de acordo com as apropriações que faz
a partir de suas referências. Segundo Schrøder essa dimensão se
apresenta como um continuum em que pode haver completa
divergência (polissemia) ou completa convergência (monossemia) da
compreensão do espectador aos sentidos preferenciais projetados
pelos produtores ou concebidos por outros receptores.
Discriminação: é a relação que o espectador estabelece com o
filme quanto ao caráter ficcional da obra. É o quanto o espectador
“percebe” sobre o fator “construção” ou “manipulação” que compõe a
produção audiovisual. O quanto o espectador discrimina
esteticamente o que vê. Essa dimensão diz respeito ao grau de
“adesão” ou de criticidade estética do espectador em relação ao
conteúdo. Se o espectador “acredita” integralmente em um conteúdo
audiovisual como a representação da realidade está adotando uma
posição de “imersão” (que pode ser fraca ou intensa). Se ele
“desconfia” essa imersão já não é intensa. Da mesma maneira, se o
espectador percebe as escolhas estéticas realizadas pelos
produtores (planos, enquadramentos, luz, som), isso significa que ele
mantém um “distanciamento crítico”. Por isso, Schrøder nos propõe
29
considerar as posições do espectador não só entre imersão e
distanciamento, mas imersão fraca e intensa e distanciamento fraco
e intenso.
Embora tenha construído seu modelo de análise da recepção a partir do
modelo analítico de Stuart Hall, Schrøder (2000) o considerava limitado para
categorizar os aspectos ideológicos “subjetivos” (relativos aos expressos pelos
indivíduos) e “objetivos” (relativos aos expressos na sociedade) e optou por
definir as dimensões posição e avaliação para tratar dessas questões. As
dimensões posição e avalição podem ser assim caracterizadas:
Posição: essa dimensão diz respeito à concordância ou não do
espectador com o teor da mensagem audiovisual que ele assiste. É a
expressão das preferências individuais do espectador de acordo com
suas referências ideológicas. Ao perceber, no texto fílmico, um
sentido preferencial projetado pelos produtores, o espectador
“responde” concordando ou discordando da mensagem veiculada.
Essa dimensão corresponde às posições de leitura do modelo
analítico de Stuart Hall.
Avaliação: integrando o grupo das Implicações essa dimensão
também tem relação com a concordância ou rejeição do espectador
com a mensagem veiculada no texto fílmico de acordo com suas
referências ideológicas. No entanto, essa dimensão difere da
dimensão posição porque nesta a expressão da atitude do
espectador é observada no cenário politico-ideológico “objetivada” no
contexto social no qual está inserido o espectador.
Implementação: também integra o grupo das Implicações e se
refere à relação entre as leituras produzidas pelo espectador e sua
prática social efetivada. Analisa a experiência de “aplicabilidade” na
esfera social das leituras produzidas pelo espectador.
30
Desta forma, nesta investigação o modelo de Schrøder (2000) será
utilizado como fundamentação para a análise das informações obtidas no
campo. Este modelo lança luz para a elaboração dos objetivos da pesquisa
bem como para os procedimentos metodológicos.
31
4 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL, SAÚDE E CULTURA
Durante o processo de elaboração desta pesquisa foi se tornando
evidente, para a pesquisadora, a importância da concepção e implementação
de políticas públicas na área da Saúde baseadas na mudança de paradigma,
com a substituição do modelo biomédico pela concepção ampliada de saúde.
No modelo biomédico, que subsidia o modelo assistencial tradicional, o
contexto social do indivíduo é desconsiderado e a concepção ampliada de
saúde define saúde como bem-estar físico, mental e social, e não
simplesmente ausência de doenças. Esta concepção já era preconizada na
Conferência Internacional sobre Atenção Primária de Saúde em Alma-Ata
(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE ATENÇÃO PRIMÁRIA DE
SAÚDE, 1978 apud CULPTI, 2010). Segundo esse paradigma os valores,
hábitos, e saberes, ou seja, as referências culturais e práticas sociais dos
pacientes são considerados fatores fundamentais no processo de Educação e
Promoção da Saúde.
Segundo Culpti (2010), um marco importante na mudança de
perspectiva foi a Conferência Internacional de Promoção da Saúde, em Ottawa,
Canadá, que resultou na Carta de Otawa, que entre outras estratégias de
Promoção de Saúde, considerava a importância da participação social
contrariando as práticas até então vigentes
Na relação médico-paciente, o profissional de saúde detém “o saber” legitimado, e a expectativa sobre o paciente é a de que “obedeça” ao que foi definido pelo profissional. Este modelo convencional e hegemônico de atenção à saúde, que desconhece os saberes trazidos e incorporados pelo paciente, saberes recebidos de sua cultura local, social, religiosa e da mídia globalizante vem sendo questionado, dando margem ao surgimento de novas concepções (CULPTI,2010).
A autora fez um levantamento do processo de implantação do Programa
de Saúde do Adolescente (PROSAD) no município do Rio de Janeiro, no
período compreendido entre 1992 e 2008, e buscou estudar as estratégias de
gestão de políticas públicas pautadas na incorporação e na valorização da
participação dos adolescentes nas ações de promoção da saúde. Já
reconhecidas e recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
desde 1989, essas estratégias têm sido cada vez mais defendidas como o fez
32
a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) em documentos recentes.
Entre os projetos elaborados sob essa concepção e analisados em sua
pesquisa estão o RAP da Saúde. Discutindo, em seu trabalho, as diferentes
perspectivas sob as quais é vista a adolescência e como esta é definida por
nossos dispositivos legais, Culpti (2010) analisa as abordagens empregadas
pelos profissionais de saúde nos serviços de atendimento ao adolescente:
A saúde do adolescente emerge do embate entre o modelo assistencial, baseado na apresentação de sintomas, e o modelo que contempla aspectos da Promoção da Saúde, ligado aos determinantes sociais da saúde. Os adolescentes, fisicamente saudáveis, apresentam questões que não fazem parte do repertório das queixas, sinais e sintomas que levam ao diagnóstico e a prescrição, mas, pelo contrário, trazem questões da vida: sexualidade, gravidez, e morte precoce por conta da violência. E os profissionais de saúde, confrontados com as diferentes interpretações conceituais e instrumentos legais, se encontram no cerne de um dilema ético que, na prática, oportuniza tanto práticas conservadoras como outras mais avançadas (op.cit).
Criado em 1989 pelo Ministério da Saúde, o Programa de Saúde do
Adolescente (PROSAD) pretendia promover a atenção integral aos
adolescentes de 10 a 19 anos. Porém, a partir de 1999, além de mudança de
nome para Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem, passou a
atender jovens de 19 a 24 anos. No documento “As Diretrizes Nacionais para
Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção da Saúde,
Prevenção de Doenças e Agravos e na Assistência”, publicado em novembro
de 2009, são apresentados os temas estruturantes para atenção integral à
saúde do adolescente: Participação Juvenil, Equidade de Gênero, Direitos
Sexuais e Reprodutivos, Projeto de Vida, Cultura de Paz, Ética e Cidadania e
Igualdade Racial e Étnica. Esses temas transcendem o modelo tradicional e
“corroboram o peso social imbricado nas questões que historicamente
aparecem como problemas de saúde do adolescente tais como: sexualidade,
gravidez, violência, uso e abuso de drogas, dentre outros” (CULPTI, 2010).
As reformulações dos conceitos de Educação e de Saúde expressos em
documentos oficiais escritos na passagem dos anos 1980 aos anos de 1990,
como a Lei de Diretrizes e Bases e a Lei 8.080/90 que criou o Sistema Único
de Saúde - SUS - forneceram subsídios para se repensar a relação entre
Educação e Saúde e para o fortalecimento de ações conjugadas de ambos os
campos. A LDB preconiza já no seu primeiro artigo que “... a educação abrange
33
os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (LDB
nº 9394/96).
Uma das mais recentes formulações legais na direção da
intersetorialidade das políticas públicas é o Decreto nº 6286/2007 que institui o
Programa de Promoção da Saúde na Escola (PSE) “como estratégia para a
integração e articulação permanente entre políticas e ações de educação e de
saúde, com a participação da comunidade escolar, envolvendo as equipes da
saúde, da família e da educação básica” (Dec. nº 6286/2007 – DOU
6.12.2007).
Nesse sentido a Educação não formal é campo fértil em promover
experiências de trabalho com jovens a partir do estímulo à autonomia e o
protagonismo juvenil no processo de Educação em Saúde. Gohn (2011)
concebe a educação em uma perspectiva ampliada associando-a ao conceito
de cultura que “é concebida como modos, formas e processos de atuação dos
homens na história, onde ela se constrói” (op.cit, p. 105).
De acordo com esta autora, na educação não formal, há uma
flexibilidade notória quanto ao tempo e quanto ao espaço, sendo este
construído e reconstruído conforme os objetivos do grupo pelo próprio grupo
(GOHN, 2011, p.109). E se desenvolve nos mais diversos espaços como
associação de moradores, igrejas, sindicatos, partidos políticos, organizações
não governamentais, projetos culturais e, também, nas escolas, em ambientes
como grêmios e associações de alunos. A educação não formal se constitui em
diversos campos ou processos como a capacitação para o trabalho
(aprendizagem de habilidades), aprendizagem dos conteúdos da escolarização
formal, aprendizagem para a mídia, em “especial a eletrônica” e aprendizagem
política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos (op.cit 19)
Dentro da educação não formal há dois tipos que são essencialmente
filiados às especificidades deste campo: educação popular renomeada nos
anos de 1990 como educação de jovens e adultos, e educação para a
participação social. Enquanto no primeiro há a preocupação de se abordar os
mesmos conteúdos da escola formal embora essa abordagem seja por meio de
metodologias “alternativas” e currículos flexíveis, no segundo o que se
34
pretende é o exercício de práticas geradas pelas situações vividas no cotidiano.
Em ambas, a aprendizagem tem caráter coletivo e o objetivo essencial é a
cidadania (op.cit, p. 109).
Os ambientes não formais priorizam a participação do jovem e
promovem processos de desenvolvimento de trabalho em equipe em que,
embora haja divisão de tarefas para a sua execução, permite a preparação e
decisão prévia coletivamente incentivando o diálogo e autonomia de seus
integrantes. Essa flexibilidade quanto à condução do processo pedagógico em
projetos de educação não formal aponta para caminhos que podem contribuir,
inclusive, para os processos ensino-aprendizagem na escola regular.
(TOLEDO, 2010; GOHN, 2010).
Para Gohn (2011) a maior importância da educação não formal é a
possibilidade de criação, do exercício da criatividade humana (op.cit, p. 112).
E a questão relativa à autonomia do estudante deve ser mais
aprofundada por ser “um dos aspectos mais relevantes dos processos de
aprendizagem” que
[...] ganharam destaque como meio de fornecerem conhecimentos e habilidades a grupos específicos e passaram a ser valorizados os processos de aprendizagem em espaços exteriores às unidades escolares. As práticas da educação não formal se desenvolvem usualmente extramuros escolares, nas organizações sociais, nos movimentos, nos programas de formação sobre direitos humanos, cidadania, práticas identitárias, lutas contra desigualdades e exclusões sociais (...) como processos de auto-aprendizagem e aprendizagem coletiva adquirida a partir da experiência em ações organizadas segundo os eixos temáticos: questões étnico-raciais, gênero, geracionais e de idade, etc (GOHN, 2010).
A proposta de elaboração de políticas públicas a partir da
intersetorialidade, priorizando a articulação entre Saúde, Educação e Cultura,
tem ganhado reconhecimento e se fortalecido nos últimos anos como mostram
os documentos oficiais. E a educação não formal, por sua natureza flexível
quanto à metodologia e currículo, se apresenta como campo privilegiado para a
construção de experiências relevantes nos processos de Educação e
Promoção da Saúde. Como exemplo tem-se a experiência do 1º Congresso
Aberto da Universidade Popular de Arte e Ciência, realizado no Teatro Carlos
Gomes, no centro do Rio de Janeiro em 2011 (SMSDC, 2011).
No caso do projeto analisado na presente dissertação, quando se
observa a trajetória do RAP da Saúde, desde sua criação, é possível
35
reconhecer as diferentes dinâmicas ocorridas nas etapas pelas quais passou
esse projeto. Embora faça parte de uma iniciativa da política pública municipal
em sua proposta intersetorial, o RAP sofreu alguns reveses em seus percursos.
Em alguns momentos, suas atividades tiveram interrupções que provocaram a
desarticulação dos jovens participantes, como no período entre a segunda e
terceira fases, em que a assinatura do convênio com a Prefeitura demorou
cerca de oito meses e provocou um hiato no desenvolvimento das ações.
Com a interrupção do convênio com a UNICEF, houve um
“encolhimento” das atividades, pois o número de jovens alcançados e de
comunidades envolvidas diminuiu sensivelmente.
O RAP da Saúde, como outros projetos, quando assessorado por uma
Organização não Governamental (ONG), sofre com a descontinuidade de
programas e ações e com os limites de alcance destas instituições. De acordo
com Pinto (2006), embora as ONGs tenham ocupado um espaço de relevância
na arena pública nas últimas décadas ocupando uma a posição de vanguarda
(...) sua natureza é instável uma vez que sobrevivem por meio de projetos financiados por organizações internacionais, cooperação internacional entre países ou pelo próprio Estado (PINTO, 2006).
Segundo a autora, as organizações não governamentais têm sido
responsáveis por importantes mobilizações atuando como interlocutoras de
setores da sociedade civil na busca por direitos, formações de rede e
programas de empoderamento (PINTO, 2006).
No entanto esta autora destaca que
(...) estas organizações não podem ser vistas de maneira simplista, como substitutas de partidos políticos, do Estado ou mesmo dos movimentos sociais. Suas ações têm limites, entre eles o fato de serem fragmentadas, atingirem o conjunto da sociedade de forma limitada e dependerem de financiamentos pontuais (PINTO, 2006).
O reconhecimento da importância da interface entre Cultura e Educação
em Saúde poderá auxiliar na construção de políticas públicas que priorizem a
participação social. Nesse sentido, os espaços de Educação não formal
configuram-se como terrenos férteis para o protagonismo e para o
reconhecimento dos saberes populares, sobretudo na saúde.
36
5 OBJETIVOS
5.1 GERAL
Compreender que sentidos constroem os integrantes do Projeto RAP da Saúde
da comunidade da Rocinha sobre o vídeo educativo “Tuberculose: um perigo
real”.
5.2 ESPECÍFICOS
1. Realizar análise fílmica do vídeo “Tuberculose: um perigo real” como
processo para a compreensão da obra audiovisual.
2. Compreender como esses jovens interpretam e reelaboram conteúdos
educativos em saúde à luz de suas experiências com o audiovisual e
suas referências culturais.
3. Descrever e analisar as posições de leitura adotadas pelos integrantes
do projeto RAP da Saúde nas dimensões de Compreensão,
Discriminação e Posição do modelo multidimensional de análise de
recepção de Hall/Schrøder.
37
6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para alcançar os objetivos desta pesquisa foram estudadas a produção
e a recepção do vídeo “Tuberculose: um perigo real” conforme demonstrado no
Quadro 1.
PRODUÇÃO RECEPÇÃO
Relatório NUTES Questionário sociocultural com integrantes do
RAP
Análise fílmica Estudo de Recepção (Exibição do vídeo,
Grupo de Discussão e Transcrição)
Entrevista com o produtor Entrevista em profundidade com integrante do
RAP
Quadro 1: Estudo da produção e recepção do vídeo “Tuberculose: um perigo real”. Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
Desta forma, a produção foi examinada por meio da leitura do relatório
comemorativo dos vinte anos do NUTES no qual é detalhado o projeto de
produção do vídeo “Tuberculose: um perigo real”. Também foi realizada a
Análise Fílmica do vídeo (Apêndice I) que conta com um Glossário (Apêndice
II), e em seguida foi realizada uma entrevista com o produtor (Apêndice III).
Para estudar a recepção, foi aplicado o Questionário Sociocultural com
os participantes do grupo de discussão (Apêndice IV), realizado um estudo de
recepção, sob a forma de grupo de discussão (vide transcrição em Apêndice V)
e, em seguida foi realizada uma entrevista em profundidade com um dos
integrantes do RAP da Saúde (vide transcrição em Apêndice VI). A seguir
apresentam-se os procedimentos de produção e recepção do vídeo
“Tuberculose: um perigo real”
6.1 PRODUÇÃO:
6.1.1 Relatório NUTES
Entre as fontes encontradas para estabelecer a rede de informações
sobre o vídeo pesquisado está o relatório comemorativo dos vinte anos do
NUTES, no qual é apresentado o resumo do projeto desenvolvido em 1986
entre o Ministério da Saúde e o NUTES como uma das ações da Campanha de
Combate à Tuberculose.
38
6.1.2 Análise fílmica
A análise do vídeo “Tuberculose: um perigo real”, realizada de acordo
com a concepção de Vanoye & Goliot-Lété (1994) permitiu destacar aspectos
tanto de forma quanto de conteúdo. E foi realizada em um processo dividido
em duas partes: descrição e interpretação. Na etapa de descrição é possível
construir um olhar minucioso, atento a detalhes que de outra maneira poderiam
passar despercebidos, como o uso de determinadas expressões idiomáticas ou
enquadramentos. Na Análise Fílimica a descrição busca apresentar por escrito
da maneira mais minunciosa possível a obra audiovisual analisada.
Depois de “trazer à tona” a história do filme ao espectador, contando
como ela se deu, passa-se à interpretação, que é a compreensão do uso dos
recursos estéticos dentro de um processo criado pelo produtor para “seduzir”
seu espectador.
Assim, para estes autores a análise fílmica é importante na medida em
que permite compreender:
como o filme conseguiu produzir em mim este ou aquele efeito? Como o filme me conduziu a simpatizar com determinado personagem e a achar outro odioso? Como o filme gerou determinada ideia, determinada emoção, determinada associação em mim? (op.cit,p.14)
Questões centradas no como e não no porque conduzem a considerar
o filme com maiores detalhes e a integrar em um outro momento, os
“primeiros movimentos”, ou seja, as primeiras sensações do espectador
(op.cit, p.14).
No entanto, a compreensão de um filme “não é um fim em si” (op.cit,
p.09). A análise de um filme é um procedimento realizado para atingir
objetivos pré-definidos e esses objetivos devem ser considerados durante
o processo. As escolhas realizadas, os aspectos destacados e o
detalhamento das cenas enfocadas, estão intimamente relacionadas aos
objetivos aos quais a análise atende. Assim podemos dizer que a análise
fílmica permite “perscrutar” as intenções dos produtores de uma obra: seus
objetivos ou seu “modo de endereçamento”.
Segundo Ellsworth (2001), os filmes ao serem produzidos “são feitos
para alguém. Os filmes visam e imaginam determinados públicos”.
39
(op.cit,p. 13, 14). Os produtores sempre cogitam sobre o “tipo de pessoa
para o qual seu filme é endereçado e sobre as posições e identidades
sociais que seu público deve ocupar” (op.cit, p.16). Assim esta autora é
categórica ao afirmar que:
para que um filme funcione para um determinado público, para que ele chegue a fazer sentido para uma espectadora, ou para que ele a faça rir, para que a faça torcer por um personagem, para que um filme a faça suspender sua descrença na [“realidade” do filme], chorar, gritar, sentir-se feliz ao final – espectadora deve entrar em uma relação particular com a história e o sistema de imagem do filme (ELLSWORTH, 2001.Pág.14).
6.1.3 Entrevista com o produtor do vídeo “Tuberculose: um perigo real”
Durante a realização da análise fílmica algumas escolhas realizadas
pelos produtores suscitaram o questionamento sobre seu modo de
endereçamento. O que levou à realização de uma entrevista com o professor
João Luiz Leocádio, que coordenava o Laboratório de Vídeo Educativo – LVE.
Como integrante da equipe de produção do vídeo, o professor João Leocádio
descreveu o processo de produção e detalhou os objetivos do projeto. A
transcrição desta entrevista encontra-se no Apêndice VII.
6.2 RECEPÇÃO
6.2.1 Questionário sociocultural
A pesquisa de campo teve início somente após aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ sob o
parecer número 180.013. Antes de assistirem ao vídeo, os integrantes do
projeto RAP da Saúde da Rocinha, que aceitaram participar do Estudo de
Recepção, responderam ao Questionário Sociocultural. Com perguntas abertas
e fechadas o questionário detalha questões como idade, escolaridade, hábitos
e preferências dos jovens pesquisados. Todos os participantes assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice VIII). Para construir
uma reflexão sobre as leituras adotadas pelo grupo pesquisado foi utilizado o
conceito de comunidade interpretativa de Stanley Fish (1992) como
recomendado pela Banca por ocasião do Exame de Qualificação.
40
6.2.2 Estudo da recepção fílmica
Para estudar como os jovens do projeto RAP da Saúde interpretam e
reelaboram conteúdos educativos em saúde, os procedimentos metodológicos
desta pesquisa foram divididos em três momentos, a saber:
1) No primeiro momento, os jovens assistiram ao vídeo “Tuberculose:
um perigo real” em uma das salas do Adolescentro onde são desenvolvidas
algumas das atividades do RAP da Saúde.
2) Logo em seguida foi realizado um Estudo de Recepção por meio da
técnica de grupo de discussão a partir do qual um tema de interesse é discutido
por um grupo pequeno de pessoas mediado por um moderador e um ou dois
observadores (BAUER, 2005). O grupo de discussão foi conduzido a partir de
questões norteadoras que provocaram reflexões sobre os temas tratados no
vídeo. Essas questões foram elaboradas a partir da análise do vídeo por meio
da Análise Fílmica Francesa adotada para descrever e analisar os recursos
imagéticos utilizados na produção do vídeo.
3) No terceiro momento, foi realizada a transcrição e a análise das
respostas gravadas durante a realização do grupo de discussão. Para essas
análises foi utilizado o modelo multidimensional Hall/Schrøder (2003) que
analisa as posições de leitura adotadas pelo público.
6.2.3 Entrevista em profundidade com um integrante do RAP da saúde
Durante a Qualificação da presente dissertação de mestrado, foi
sugerida pelo orientador desta investigação e, ratificado pela banca
examinadora, a realização de uma entrevista em profundidade com um dos
integrantes do grupo de discussão. O objetivo desta entrevista foi aprofundar
alguns aspectos das leituras expressas no grupo de discussão por um dos
integrantes. Dessa forma, Claudio foi escolhido intencionalmente pela
pesquisadora em função da sua ativa participação no grupo de discussão.
Para a realização desta entrevista em profundidade, foi confeccionado
um roteiro com questões definidas pela pesquisadora em conjunto com
pesquisadores do NUTES, incluindo o professor orientador.
41
6.2.4 Análise das dimensões de leitura
Essa pesquisa concentrará suas análises sobre as seguintes Dimensões
de produção de sentido acionados pelos jovens participantes do RAP da
Saúde: Compreensão, Discriminação e Posição, que integram o grupo das
dimensões de Leituras.
A utilização das dimensões definidas no modelo analítico de Schrøder
(2000) para o detalhamento das leituras elaboradas objetiva analisar alguns
dos processos pelos quais esses jovens reinterpretam e ressiginificam as
questões abordadas em um vídeo educativo.
6.2.5 Cenário da pesquisa
Antes de iniciar o processo de pesquisa de campo no projeto RAP da
Saúde da Rocinha foram realizadas pesquisas na Internet onde foram
encontradas informações sobre esse projeto, os eventos realizados e as
atividades previstas4. Também o site do CEDAPS - Centro de Promoção da
Saúde - foi acessado para obtenção de mais informações. O CEDAPS é uma
organização não governamental que trabalha prestando assessoria técnica e
financeira a diversos projetos de promoção da saúde em comunidades
populares do Rio de Janeiro. criando e testando modelos para políticas
públicas dedicadas a estes territórios, e contribui para melhorar a qualidade
dos serviços existentes”5.
Em seguida, foram realizados contatos telefônicos e por e-mail com
Fransergio Goulart coordenador do CEDAPS e Ana Beloni uma das
coordenadoras do Adolescentro Paulo Freire onde as atividades do RAP da
Saúde da Rocinha são desenvolvidas. Foi possível conversar por telefone e por
e-mail com Anna Rosaura Trancoso realizadora de audiovisual e responsável
pela oficina de vídeo do RAP.
4 Tais informações podem ser visualizadas em
http://elosdasaude.wordpress.com/tag/rap-da-saude-2/. 5 (http://maps.mootiro.org/organization/20).
42
Foram realizadas visitas para conhecer o espaço físico e compreender
melhor o processo de criação e desenvolvimento do Programa de Saúde do
Adolescente da Secretaria Municipal de Saúde. Além de Ana Beloni foi possível
conhecer Léo6 um dos mais antigos integrantes do RAP que é também
funcionário contratado da Prefeitura para trabalhar no Adolescentro. Léo
apresentou as instalações do Adolescentro e descreveu alguns dos
atendimentos oferecidos aos jovens e adolescentes da Rocinha: atendimento
odontológico, ginecológico e pré-natal. Léo também falou sobre a história do
RAP e de suas atribuições como Dinamizador: orientar os integrantes com
menos experiência, os Multiplicadores, para os eventos produzidos em escolas,
postos de saúde e nas ruas da comunidade. Distribuição de panfletos,
palestras, intervenções teatrais e roda de conversa são alguns dos
procedimentos mais comuns. Léo também falou de sua entrada no RAP em
2007 dois meses depois de chegar ao Rio de Janeiro vindo de São Luiz do
Maranhão onde “descobriu que podia fazer muitas coisas” e fez muitos amigos.
Léo destaca a importância do grupo de teatro que “ajuda a diminuir a timidez” e
a oficina de produção audiovisual onde “todo mundo participa junto decidindo
sobre o texto, a narrativa e escolhendo cenário e figurino”.
A Rede de Adolescentes Promotores da Saúde - Rap da Saúde – criado
em janeiro de 2006 é uma ação implementada pela Gerência do Programa de
Saúde do Adolescente e pela Assessoria de Promoção da Saúde da Secretaria
Municipal de Saúde e Defesa Civil da cidade do Rio de Janeiro (SMSDC-Rio).
A partir de uma proposta diferente de trabalho com adolescentes
multiplicadores foram realizadas atividades de capacitação de adolescentes e
profissionais de saúde com a participação em eventos culturais,
desenvolvimento de atividades de promoção da saúde nas unidades de saúde
e em outras localidades. De acordo com essa proposta de trabalho
os adolescentes multiplicadores participam das reuniões de equipe, distribuem camisinhas, captam e acolhem adolescentes e fazem a articulação com a comunidade, oferecendo atividades de promoção da saúde. Eles foram os principais articuladores das ações de promoção da saúde desenvolvidas na comunidade (CUPTI, 2010).
6 Os nomes dos jovens integrantes do RAP são fictícios, escolhidos pela pesquisadora
na intenção de preservar a identidade dos mesmos.
43
No início, de 2006 a 2008, o RAP funcionava em três localidades
distintas (Rocinha, Maré e Alemão). No pólo São Conrado os adolescentes
multiplicadores estavam ligados ao Adolescentro Paulo Freire, ao Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS) da Rocinha e ao Programa de Saúde
da Família de Vila Canoas. No pólo da Maré esses jovens estavam ligados ao
Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, localizado na praia de Ramos e no
pólo do Morro do Alemão ficavam ligados às equipes do Programa de Saúde
da Família - PSF - de Nova Brasília, Morro do Alemão e Esperança.
Participavam do RAP cerca de sessenta adolescentes de diferentes
comunidades e trinta profissionais de saúde ligados ao PSF e às unidades
tradicionais. Além destes, quatro profissionais foram contratados para a
coordenação e para oficinas específicas. Essa aproximação de jovens de
comunidades diferentes possibilitou que se identificassem como “RAP” e não
mais como pertencentes a esta ou àquela comunidade.
O Projeto RAP da Saúde da Rocinha desenvolve suas atividades no
Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare (CCRDL), um prédio de 18 andares,
situado na Av. Niemeyer em São Conrado em frente à comunidade da Rocinha
que pertence a VI Região Administrativa. Nesse prédio também funciona entre
outros projetos e programas de órgãos municipais e não governamentais, a
Unidade Básica de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, ou seja, o
Adolescentro Paulo Freire que desenvolve ações multiprofissionais de
promoção e assistência à saúde, além de capacitações voltadas para jovens.
Esta foi a primeira Unidade exclusiva para adolescentes e a primeira a ampliar
o atendimento da faixa etária para 24 anos incluindo assim a categoria
juventude. No Adolescentro Paulo Freire em 2010 eram atendidos em média
setecentos adolescentes por mês, a maioria do gênero feminino sem quaisquer
questões de ordem patológica em busca de oficinas de teatro, de pré-natal,
consultas para tirar dúvidas e fazer o “preventivo” (CUPTI, 2010).
Em todos os pólos do RAP o trabalho é dividido em funções: os
Assessores coordenam os pólos articulando a prefeitura com os coordenadores
que por sua vez trabalham diretamente com os jovens Multiplicadores e
Dinamizadores. Os Dinamizadores ou os dima são jovens mais antigos que
utilizam sua experiência como multiplicadores para formar novos multi. Os
Dinamizadores são responsáveis por capacitar os adolescentes que se tornam
44
multiplicadores e juntos vão a escolas, centros de saúde e associações para
realizarem atividades como campanhas de prevenção de DST/AIDS,
tuberculose e dengue entre outras ações e eventos e por meio de palestras ou
bate-papos trocam experiências e apoio mútuo. As diversas linguagens
artísticas como o teatro, a dança e o audiovisual são empregadas como
metodologias para sensibilizar quem, por exemplo, só procura o serviço para
ter a oportunidade de expressar ideias e conhecer novos amigos. Essas
atividades lúdicas não estão previstas no leque de profissionais que trabalham
no setor saúde, mas com a capacitação em técnicas como o Teatro do
Oprimido foi possível o desenvolvimento de uma abordagem participativa na
discussão de temas importantes como a gravidez na adolescência.
Nas oficinas de audiovisual os adolescentes se organizam por temas e
podem desenvolver e produzir vídeos sobre os assuntos escolhidos por eles e
que são distribuídos para as unidades de saúde do município e para as
instituições parceiras. Os jovens participam de todas as etapas de criação de
um vídeo - desde a escrita do roteiro até a edição - e compartilham as decisões
sobre forma e conteúdo dos vídeos produzidos.
O acervo do RAP conta com seis vídeos realizados por rapazes e moças
na faixa etária de 15 a 24 anos. Entre eles estão “Mundo Jovem”, “Violência no
Namoro” e “Alimentação Saudável”7 que abordam temas como álcool e drogas,
gravidez na adolescência, discriminação e preconceito, violência no namoro,
DST/AIDS, mobilidade urbana e o protagonismo juvenil entre outras questões
considerados importantes pelo grupo.
Sobre a rotina do RAP no Adolescentro Paulo Freire, Cupti (2010)
oferece detalhes importantes, já que participou do cotidiano como gestora da
unidade onde se desenvolveu o projeto e mais concretamente as ações dos
jovens promotores de saúde. Segundo a autora ainda nesse período no RAP
os adolescentes multiplicadores participavam das reuniões de equipe,
distribuíam camisinhas, captavam e acolhiam adolescentes e faziam a
articulação com a comunidade atuando como co-responsáveis no processo
educativo, desenvolvendo atividades de promoção da saúde. Eles foram os
principais articuladores das ações de promoção da saúde desenvolvidas na
7 Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=WLeIvPXreOM&list=PL02562CB2FB893D25
45
comunidade. Realizaram atividades na véspera do Carnaval na Escola
Acadêmicos da Rocinha, como oficinas de prevenção das DST em todas as
turmas do CIEP Ayrton Senna, apresentação de uma peça sobre gravidez na
adolescência com técnicas do teatro do oprimido, participação em atividades
culturais, articulação com diversas ONGS da comunidade e participação nas
campanhas de vacinação. Embora trabalhando com a proposta de mudança
nas relações dos profissionais de saúde com os adolescentes, alguns
profissionais tinham muita resistência, pois os papéis são bem definidos e há
uma forte hierarquização, inclusive entre os próprios profissionais de saúde de
nível superior. A presença de adolescentes, não como usuários, mas como
promotores de saúde provocou um estranhamento e desconforto e, em
consequência reações que foram da desconfiança na autonomia e seriedade
do trabalho até tentativas de desvio de alguns dos jovens para o
preenchimento de lacunas do sistema administrativo.
Em 2010 RAP, iniciou sua segunda fase com a ampliação de seu
trabalho a partir de uma parceria com a UNICEF que estava com o projeto
Plataforma dos Centros Urbanos. Os adolescentes multiplicadores da
plataforma também se tornaram multiplicadores do RAP já que as propostas
desses projetos eram semelhantes. Então o projeto que se iniciou em três
comunidades (pólos) em um curto período de tempo ampliou para cinquenta
comunidades e contava com cento e trinta jovens.
Nesse período era publicado o boletim “RAP Informa” que divulgava as
atividades previstas para o mês de abril daquele ano: a oficina de poesia com a
atriz e poeta Elisa Lucinda em sua Escola Poesia Viva, a ida ao teatro Sesi
para assistir “Simplesmente eu. Clarice Lispector” um monólogo com Beth
Goulart sobre a vida e obra da escritora e a ação educativa no evento Rio
Capital da Bicicleta realizado pela Secretaria do Meio Ambiente na praia de
Ipanema (RAP INFORMA, 2010).
Circulador é outra publicação que em janeiro de 2010 era editada com
dez mil exemplares e apresentava ao longo de suas quinze páginas as
atividades desenvolvidas durante o ano de 2011 registrando as impressões de
vários dos profissionais envolvidos no projeto como Viviane Manso Castello
Branco – Coordenadora de Políticas e Ações Intersetoriais (CPAI) da SMSDC-
RJ, Márcia Regina Cardoso Torres Superintendente de Promoção da Saúde da
46
SMSDC-RJ e a coordenadora da UNICEF, Luciana Phebo. Todas tecem
considerações sobre as ações intersetoriais e os novos olhares que os jovens
trazem para as práticas cotidianas. Luiza Cromak da SMSDC-RJ,
coordenadora do RAP, naquele momento, endossava a fala da arte-
educadorada da ONG Cineduc Anna Rosaura Trancoso sobre as oficinas de
produção audiovisual. Para ambas a participação dos adolescentes e jovens
nas etapas de produção de um vídeo possibilitava não só a aprendizagem de
técnicas da linguagem audiovisual, mas também o desenvolvimento de um
olhar crítico para expressar suas ideias por meio de ângulos e
enquadramentos.
No entanto o convênio com a UNICEF não foi renovado e por cerca de
oito meses o projeto ficou paralisado à espera da renovação de contrato com a
Prefeitura o que inviabilizou as atividades durante grande parte do ano de 2012
que somente foram retomadas em agosto do mesmo ano.
Em outubro de 2012 deu-se início à terceira fase com o processo de
seleção de novos multiplicadores e dinamizadores. Atualmente, o RAP conta
com oito polos: Rocinha, Maré, Tijuca, Alemão, Sulacap, Campo Grande,
Jacarezinho e Acari. Na maioria dos pólos há dois dinamizadores e quatorze
multiplicadores, além de alguns voluntários. O polo Rocinha é o único com dois
turnos e os Dinamizadores coordenam sete multiplicadores bolsistas e em
torno de cinco voluntários.
47
7 RESULTADOS
7.1 RELATÓRIO DO PROJETO DE PRODUÇÃO DO VÍDEO
O vídeo “Tuberculose: um perigo real” foi desenvolvido pelo Núcleo de
Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) do Centro de Ciências da
Saúde da UFRJ e o Ministério da Saúde, com participação de dezenas de
instituições universitárias (Anexo I), como parte das ações da Campanha
Nacional contra a Tuberculose. Foi produzido em 1986 e integra um conjunto
de materiais educativos para serem utilizados nos cursos de graduação em
Medicina (Anexo II). Além do vídeo “Tuberculose: um perigo real”, foram
produzidos outros três (“O milagre somos nós”, “Tuberculose - mesa redonda”,
“A consulta de Enfermagem”). Também o livro "Controle da Tuberculose –
Proposta de Integração Ensino-Serviço” de 1987 que teve reedições em 1989 e
1992 e dois slides-som: Etiopatogenia, diagnóstico e tratamento da tuberculose
– 66 slides + tape 20’ e Controle da tuberculose – 48 slides+ tape 15 faziam
parte desse conjunto de obras (NUTES, 1992). O vídeo aborda questões
relativas ao processo de diagnóstico e tratamento da doença: a qualidade do
atendimento no sistema de saúde pública, a relação médico-paciente, a
dificuldade de diálogo entre ambos, a falta de informação sobre a doença e a
responsabilidade do profissional de saúde na difusão da informação. Também
aborda as condições de moradia, trabalho e saneamento básico do
personagem principal e sua família. Com imagens, cenários e diálogos
estimulam o espectador a refletir sobre a complexidade dos fatores que
influenciam na incidência da tuberculose que vão além do dos aspectos
biomédicos e envolvem os determinantes sociais de saúde.
7.2 ANÁLISE FÍLMICA “TUBERCULOSE: UM PERIGO REAL”
Tendo como base os pressupostos teóricos da Análise Fílmica de
Vanoye e Goliot-Lété e do endereçamento segundo Ellsworth, esta análise
fílmica pretende contribuir para a compreensão dos procedimentos
empregados e dos recursos técnicos utilizados pelos produtores para conduzir
os espectadores à reflexão sobre os temas abordados no vídeo “Tuberculose:
um perigo real”.
48
O vídeo começa com imagens da região do entorno da estação
ferroviária Central do Brasil no Rio de Janeiro e da parte interna da própria
Central, um local para onde convergem trens de diversas linhas com destino a
bairros do subúrbio carioca e da Baixada Fluminense. Um lugar de grande
movimentação de pessoas moradoras dessas áreas afastadas da grande
metrópole e em sua maioria de baixa renda. O primeiro close situa o
espectador sobre de qual região vem o personagem: Duque de Caxias, cidade
da Baixada Fluminense, uma das localidades com os mais baixos IDHM –
Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios do Rio de Janeiro (LIMA,
2010. p 153 a 155). Esse personagem será em seguida identificado como o
protagonista do vídeo: a câmera o acompanha durante todo seu percurso
desde a Central e vai terminar em um guichê de um posto de saúde onde ele
pede para ser atendido por um médico e tem como resposta a indicação de
espera da atendente indiferente. Nessa mesma cena é possível ver a camisa
descosturada na altura do ombro. O que significam essas referências
geográficas e a camisa em estado precário de conservação? Apresentar já nas
primeiras cenas, o perfil socioeconômico do personagem principal.
No primeiro diálogo do vídeo, o personagem que tosse sem parar
demonstra seu desânimo ao perceber que a espera vai ser grande. O tempo da
espera fica marcado pela sequência de números anunciados pela a atendente:
25, 37, 45 ... Até chegar ao número de nosso personagem principal: 59.
Nesse momento, a escolha pelo enquadramento, o plano geral e
principalmente pela imagem em contraluz que mostra um pátio enorme ao
fundo e o homem sozinho cabisbaixo sentado no banco na penumbra produz a
sensação de solidão e cansaço daquele que espera horas por atendimento
médico por causa de sua tosse.
O atendimento apressado, superficial e sem exames clínicos, além da
falta de medicamentos na farmácia do posto de saúde, reforçam, no
personagem, a sensação de solidão: “como é que eu vou me arranjar?”.
O segundo close do vídeo é ainda mais emblemático no sentido de
“informar” o perfil socioeconômico do personagem principal: close nas mãos do
homem, que tira algumas notas de dinheiro do bolso. Ele remexe as notas
amassadas e as recoloca no bolso, enquanto a música “Preto Velho”, de
Bebeto, começa a ser a tocada. É possível que o espectador se pergunte “por
49
que essa música”? Será que uma música, cuja letra se refere às dificuldades
da vida de um senhor negro e cujo arranjo percussivo remete às origens
africanas do personagem, associa e naturaliza (mais uma vez) pobreza e
origem negra? Ou seria o contrário: a crítica à exclusão historicamente
construída a que os descendentes dos negros escravizados aqui no Brasil
foram submetidos?
Ao perceber que não tem dinheiro bastante para comprar o remédio
receitado pelo médico, e que está em falta na farmácia do posto, o personagem
vai até um bar onde encontra um homem que mesmo um pouco desconfiado e
a contragosto (“todo mundo sabe que lá no posto de saúde os homem dão
remédio de graça... é só mostrar a receita do doutor que eles dão tudim na mão
lá...”) lhe empresta dinheiro. É esse homem que nos revela quem eles são e
sua relação. Eles são compadres e o homem que tosse e busca ajuda se
chama João. Somente nesse momento: aos quatro minutos e quarenta
segundos de um vídeo que tem duração de vinte e seis minutos descobrimos
que João não está só. Essa cena nos mostra os laços de solidariedade
construídos e sustentados e que são acionados em momentos de ausência do
Estado.
Na cena seguinte João examina a língua diante do espelho e o plano
geral mostra o quintal da sua casa: uma área com chão de terra batida e
pequenos montes de entulho (restos de pedra, terra, tijolos). Um cenário que
explicitamente exibe (e levanta) a discussão sobre as condições precárias de
moradia em que o personagem e sua família vivem. Nessa cena o diálogo
entre João e sua esposa se refere ao tratamento recebido por uma conhecida:
“coitada, o mau trato matou D. Arlete...”. É a esposa de João, cujo nome –
Hortênsia - só é mencionado uma única vez (nos últimos minutos do vídeo),
que desempenha papel fundamental estimulando o marido tanto na busca por
um diagnóstico preciso quanto na continuidade do tratamento de João.
Na segunda tentativa de João de descobrir e tratar a tosse que o
acomete, ele novamente encontra um atendimento médico apressado e
superficial. O close nos pés de pessoas em fila e a preocupação do médico em
chamar “o próximo!” nos confirma isso. O vídeo produz um momento de
constrangimento com o diálogo entre João e o médico que, ao ouvir de seu
50
paciente que este fica “nervoso” com a tosse que não pára, lhe prescreve um
“tranquilizante”.
E novamente os remédios receitados estão em falta na farmácia do
posto, o que leva João à farmácia comum onde, depois de tentar encontrar
algum remédio que possa pagar, vaticina: “Vai dar pra comprar não”. A tensão
que João vive nesse momento em que a falta de dinheiro e a doença o afligem
é destacada pelo movimento de lente – um zoom – que chega a um close no
rosto de João. Atendido por um funcionário que o induz a comprar outro
medicamento “pra acabar com essa tosse que é bem mais barato e tem o
mesmo efeito”, João, pressionado a tomar uma decisão hesita, mas sussurra:
“vou levar”.
Somente na terceira tentativa, João encontra um atendimento médico
adequado e um exame atento. Seu compadre que lhe emprestara “cem pratas”
lhe indicou o posto do Encantado onde segundo ele: “O pessoal de lá dá mais
atenção pra gente! Examina com mais calma... lá e muito melhor, heim!”.
E é no posto de saúde indicado por seu amigo que João encontra a Dra.
Vera, jovem e dedicada médica que examina João atentamente e lhe solicita o
teste do escarro.
“Primeiro nós vamos fazer um exame de escarro. O senhor vai até o banheiro ali para recolher o seu primeiro escarro e amanhã o senhor traz um novo potinho. Mas tem que ser o primeiro escarro da manhã. Entendido?”.
O close nos dois potes utilizados para recolher o material de exame
reforça o teor didático do vídeo.
É a primeira vez no vídeo que algum exame clínico é recomendado a
João. Durante o tempo “de dois meses mais ou menos” em que João tomou
xarope e foi negligenciado pelos médicos que lhe atenderam, ele “espalhou
bacilos para todos os lados”, como afirmou o médico amigo da Dra. Vera, com
quem em outra cena que se passa em um restaurante ela conversa sobre as
dificuldades do profissional de saúde em diagnosticar e tratar a tuberculose.
Nessa mesma cena a Dra. Vera também se refere ao que ela considera uma
dificuldade do paciente em compreender as informações a respeito da maneira
como tomar os remédios.
Ao que seu amigo responde definindo o papel do profissional de saúde e
seus compromissos sociais e educacionais: “Pois é isso que eu digo sempre.
51
Nós devemos orientá-los, educá-los. Não é só dar remédio, não minha amiga!
Nós temos que assumir também os nossos compromissos sociais e
educacionais!”.
Logo após a cena entre os dois médicos há um corte seco para um
insert - recurso típico de vídeo educativo: texto com informações médicas
narrado em voz off para conferir validade científica:
“A baciloscopia nos mostra numerosos bacilos álcool-ácidos resistentes e pelas normas da Divisão Nacional de Pneumologia Sanitária podemos classificá-las com três cruzes, ou seja, mais de dez bacilos em cinquenta campos examinados” (TUBERCULOSE: UM PERIGO REAL, 1986).
Logo na cena seguinte, a Dra. Vera confirma os resultados dos exames
de João: o diagnóstico é de tuberculose. Ela lhe receita uma série de remédios
e o encaminha para a farmácia do posto, que tem todos os medicamentos
prescritos. Aqui é possível observar a importância do funcionamento dos elos
do sistema de saúde como um todo: exame médico minucioso, orientações
adequadas e farmácia abastecida com a medicação recomendada.
As explicações da Dra. Vera sobre a maneira correta de tomar os
remédios não são compreendidas por João: “tava nervoso... Não entendi
nada...”. E na farmácia ao perguntar à atendente o procedimento correto João
é reencaminhado pela atendente ao consultório da médica a fim de que ela
repita a explicação, que então João, parece compreender.
Um novo close e duas outras cenas mais à frente expressam bem as
questões sociais envolvidas, ou os determinantes sociais de saúde - condições
de habitação, higiene e saneamento básico da família de João. O close em
moscas pousando sobre as louças expostas na casa de João, sua esposa
despejando água de uma lata na panela e João saindo de um cômodo de
madeira –seu banheiro - e descendo alguns degraus tirando da boca uma
prótese dentária que logo em seguida ele escova em uma bacia com água. É
possível ver facilmente a marca do creme dental usado por João: Kollynos.
Embalagem amarela com grandes letras verdes. Era a marca mais barata do
mercado na época.
Quando João chega do posto, sua esposa se despede de um dos filhos
que está uniformizado e vai para escola. João está abatido e ao ser sabatinado
pela esposa revela ser tuberculose a causa da tosse que há meses o
incomoda.
52
Embora tenha ficado levemente aborrecida ao saber que seu marido
está se tratando com uma médica, sua esposa ao descobrir que é tuberculose
se assusta e demonstra desinformação sobre a doença: “Eu vou separar suas
coisas: prato, garfo, copo. Tudo teu vai ser fervido e separado. Deus me livre
se isso passa para as crianças. Já pensou?” E da mesma maneira João: “E nós
também! Acho bom a gente dormir separado. Se não você pode pegar isso...”.
Nas cenas seguintes o texto confere grande importância à mulher nas
decisões relativas ao tratamento: “Sem você a casa não anda...”, “Deixa eu ver
essa receita”. “João vem cá tomar seu remédio! Amanhã você tem que ir no
posto!”. Esse papel da mulher é destacado inclusive com relação à continuação
do tratamento e o não abandono: “Que besteira é essa homem? Se o médico
mandou voltar, tem que ir!”. “Tá, melhorou muito, mas tem que voltar... depois a
doença volta e vai dar mais trabalho ainda, heim!”.
Somente depois de um mês de tratamento, quando João volta ao posto
(por insistência da esposa), é que ele é informado sobre as forma de contágio e
da necessidade de que sua família faça exames para saber se alguém foi
contaminado quando também é alertado para a importância da continuidade do
tratamento.
Logo em seguida uma única cena mostra ao espectador o tipo de
trabalho que o personagem principal tem: João trabalha lixando a lataria de um
carro. A julgar pela promessa feita ainda em uma das primeiras cenas do vídeo
ao compadre que lhe emprestara “cem pratas”, trata-se provavelmente de um
biscate, ou seja, um trabalho informal, precarizado, sem direitos sociais como
previdência social e licença para tratamento de saúde.
O vídeo é encerrado como um fade out seguido de imagens de pessoas
doentes em hospitais e em off o texto informativo sobre os números de casos
de tuberculose no Brasil e no mundo, as implicações sociais desta doença e a
responsabilidade dos profissionais de saúde no combate à tuberculose.
Ao realizar a análise do vídeo “Tuberculose: um perigo real” foi possível
apontar algumas escolhas na utilização dos recursos da linguagem audiovisual:
planos, enquadramentos, trilha sonora, texto e luz e inferir os efeitos
imaginados pelos produtores sobre o público almejado. A partir da análise em
conjunto dos dados coletados na análise fílmica, no grupo de discussão, na
entrevista com o produtor e na entrevista em profundidade com um dos
53
integrantes do RAP é possível comparar esses dados e verificar em pontos há
monossemia ou polissemia entre sentido e leitura preferencial e as leituras
elaboradas, assim como é possível observar essas leituras à luz das
dimensões do modelo analítico multidimensional de Hall/Schrøder.
7.3 ENTREVISTA COM O PRODUTOR DO VÍDEO “TUBERCULOSE: UM
PERIGO REAL”
Esta seção apresenta uma entrevista com o Prof. João Luiz Leocádio
que integrou a equipe de produtores do vídeo “Tuberculose: um perigo real”
além de coordenar o Laboratório de Vídeo Educativo nessa mesma época.
A entrevista realizada com o professor João Leocádio sobre o vídeo
“Tuberculose: um perigo real” se concentrou em algumas questões que
pudessem contribuir para as análises pretendidas. Desta maneira foram
elaboradas perguntas que permitissem obter informações sobre o porquê
desse vídeo ter sido realizado, quais os objetivos dessa produção, público alvo
e a relação médico-paciente. Também se buscou saber sobre o processo de
elaboração do roteiro, o papel da mulher apresentado no vídeo, assim como o
comentário do produtor sobre a avaliação de alguns médicos que assistiram ao
vídeo.
O professor João iniciou sua fala lembrando que o vídeo fazia parte de
um conjunto de materiais educativos que incluía um livro-texto e um conjunto
de slides-som. E que o objetivo era o fortalecimento do ensino da tuberculose
nas faculdades de medicina para com essa estratégia reduzir o número de
casos de tuberculose no país. Segundo o professor era importante sensibilizar
o futuro médico para um atendimento que levasse em consideração o contexto
social do paciente, seus hábitos e de seus familiares. Ou seja, na construção
de uma nova relação médico-paciente, na mudança na abordagem que
considerasse os determinantes sociais de saúde.
Quanto ao roteiro, de acordo com o professor João, este foi baseado em
histórias do cotidiano vivido pelos médicos que eram relatados pelos próprios
discutindo as questões consideradas relevantes: a baixa qualidade do
atendimento médico, muitas vezes apressado e as condições precárias de
54
atendimento como a falta de medicamento no posto. E o papel da mulher
construído pelo vídeo, de acordo com o professor João, foi baseado nos
comentários dos médicos que contribuíram no roteiro: a mulher é quem cuida
da família naquele contexto social representado.
Para o professor João a marca das observações realizadas pelos
médicos que assistiram ao vídeo foi a credibilidade. Os médicos consultados
sobre suas impressões a respeito do teor do vídeo apontaram as situações
retratadas como “bem próximas do real”. Assim, a identificação do estudante
de medicina com a personagem da jovem médica e a sensibilização deste
profissional para as condições de vida do paciente que procura o posto de
saúde projetado no vídeo foi alcançado segundo o professor João.
7.4 PERFIL SOCIOCULTURAL
Ao analisar as respostas dos questionários socioculturais aplicados foi
possível chegar a algumas conclusões a respeito do perfil dos jovens
entrevistados: suas preferências e referências.
O grupo formado por três moças e dois rapazes – Júlia, Léo, Cláudio,
Janaína e Léia - têm idades que variam entre vinte e dois e vinte seis anos de
idade e são em sua maioria nascidos no Rio de Janeiro com exceção de Léo,
que nasceu em São Luiz do Maranhão. Todos afirmaram gostar de assistir a
filmes, e o Romance foi o gênero mais apreciado, seguido dos filmes de Ação e
Comédia.
Entre as idas e vindas do trabalho que a cada dois anos é interrompido e
avaliado para possível renovação de contrato com a Prefeitura, Júlia está há
dez anos no RAP em diferentes funções: dos quatorze aos dezesseis anos foi
Multiplicadora bolsista depois de um mês como voluntária, dos vinte e um aos
vinte e três foi Dinamizadora e depois de um mês que completou vinte e três
anos fez a prova para Agente Comunitário de Saúde, o que já tem dois anos.
Júlia faz curso Técnico de Enfermagem e Janaína, que gosta como os pais de
filmes de ação e além destes de comédia, romance e ficção científica, cursa o
4º período de Psicologia e seus pais, como os de Júlia e Léo, são nordestinos.
A mãe de Janaína não estudou e o pai fez técnico em enfermagem. Janaína
55
que é uma das mais recentes integrantes do RAP participou da seleção depois
que soube por um amigo no Facebook e desde janeiro é Dinamizadora
acompanhando os multiplicadores nos debates e palestras. Segundo ela o RAP
trabalha com “a educação entre pares, que consiste em adolescentes falando
com adolescentes, o que é um facilitador devido à aproximação da linguagem”.
Recentemente Julia assistiu a “De pernas pro ar 2”, “Uma prova de
Amor”, Assuntos de meninas”, “Diário de Uma Paixão”, o seriado “The Law &
Order” e “Mobilidade Urbana”, vídeo educativo do RAP da Saúde. Ela gostaria
de ter realizado os filmes que viu recentemente e “As namoradas de Papai”.
Julia também gosta de vídeos educativos, pois acredita que contribuem para
que se tenha uma visão ampla de um tema e para mudar o que se pensa sobre
o assunto. Além de “Mobilidade Urbana” Júlia assistiu aos vídeos educativos
“Violência no Namoro” ambos do RAP e “Alimentação Saudável” de Paloma
Azul. E se fizesse um vídeo educativo não deixaria de fora “as pessoas”.
Janaína assistiu recentemente a filmes como “Quem quer ser um
milionário”, “O Todo Poderoso”, “Tropa de Elite 2” e assistiu também a séries
norte-americanas como “Law & Order”, CSI e websséries como Porta dos
Fundos e “220 Volts”. Entre os filmes que Janaína gostaria de ter feito estão “A
Era do Gelo”, “Rei Leão” e a webssérie “Porta dos Fundos” em que ela gostaria
de realizar a edição.
Ela é do grupo a única que não gosta de vídeos educativos por
considerá-los “muito explicativos” e porque “ditam regras” Os vídeos educativos
que assistiu recentemente são todos do RAP da Saúde e se fosse fazer um
vídeo educativo ela não deixaria de colocar “histórias reais” para gerar
identificação com o público.
Todos trabalham, mas Janaína e Léia não têm carteira assinada. Léia -
faz kits para os eventos externos e internos de prevenção DST/AIDS e
“conscientiza as pessoas da comunidade sobre dengue e higiene” - tem vinte e
quatro anos é carioca assim como os pais, mas ao contrário deles que têm
“segundo grau completo” parou de estudar no 2º ano do Ensino Médio há três
anos. Como Janaína (que também fez inglês como Léo), Léia fez curso de
Produção Cultural. Léia é a única do grupo que declarou seguir uma religião: é
umbandista e se entusiasma ao relatar que os jovens fazem cursos de
formação com as enfermeiras da clínica da família para atuar em ações e
56
eventos em escolas, no centro de saúde e em grupos organizados. E que no
polo “já estão fazendo primeira peça que foi elaborada pelos multiplicadores”.
Ela gosta de filmes de comédia e como seus pais dos românticos, mas estes
diferentemente da filha também gostam de filmes de ação. Recentemente
assistiu a “Virgem de 40 anos”, “Auto da compadecida”, “Mulan”, “Vida Secreta
das Abelhas”, “Um ato de coragem - Charles Brown Junior,” “Até o Limite da
Honra”, “Preciosa” e “Homem do Futuro”
Léia gostaria de ter realizado “Homem do Futuro” e “Ônibus 174”. Léia
gosta de vídeos educativos porque “faz pensar no próximo” e se fosse fazer um
vídeo educativo não faltaria “prevenção” e “diversidade”. Os vídeos educativos
que assistiu recentemente foram os do RAP da Saúde.
Cláudio tem vinte e seis anos e entrou para o RAP por meio de uma
entrevista feita pela coordenação geral do projeto. Segundo Cláudio esse
processo foi sendo alterado no decorrer do ano de acordo com as sugestões
dos próprios jovens quando havia uma alguma substituição.
Ele terminou o Ensino Médio há três anos e fez como Léo curso de
informática. Os pais de Cláudio têm ensino fundamental e gostam de assistir a
filmes de Ação, Românticos e Infantil, os pais de Júlia e Léo têm ensino
fundamental incompleto e Julia assim como seus pais gosta de ver filmes e
como eles ela prefere os de comédia e os românticos, mas diferente deles ela
gosta também de filmes de suspense. Já Léo como seus pais gosta de assistir
a filmes de comédia e ação, mas além destes também aprecia os românticos,
os de Ficção Científica e Infantil.
Cinéfilo Cláudio assiste a filmes de Ação, Romântico, Ficção Científica e
Infantil e assistiu recentemente a “Tarzan”, “Batman 3” “Demolidor” e “Elektra”e
“Violência no Namoro” vídeo educativo produzido pelo RAP da Saúde. Entre os
filmes que Cláudio gostaria de ter realizado estão “Avatar” e “todos os filmes de
super-heróis”. Ele gosta de vídeos educativos “porque esses vídeos ajudam a
trocar ideias de uma maneira bem legal e interessante”, assistiu recentemente
ao vídeo “Violência no namoro” do RAP da Saúde e se fosse fazer um vídeo
educativo Cláudio não deixaria faltar “uma linguagem de fácil entendimento
para as pessoas que irão ter acesso”.
57
Como estagiário do projeto Cláudio diz se sentir bem e “revigorado” em
ver que os jovens estão acreditando e se dedicando engajados em algum
projeto ou trabalho nessa área.
E se sente contribuindo para a melhoria da sociedade, para a vida das
pessoas com quem convive e para “minha vida, pois eu adoro essa troca que
meu trabalho no RAP e outros espaços de que participo me proporcionam”.
Entre os filmes que Léo assistiu recentemente estão “High School
Musical”, “Para sempre”, sobre sexualidade, a série “Fringe”, de ficção
científica e um vídeo sobre violência no namoro. Entre os que Léo gostaria de
ter feito está “Fringe”, em que gostaria de trabalhar no roteiro e filmagem. Léo
gosta de vídeos educativos “eles ajudam a aprender mais sobre o assunto e
trabalhar com meu grupo de adolescentes”. Léo assistiu recentemente a um
vídeo educativo de Paloma Azul sobre sexualidade “e é com ação”. E em seus
vídeos educativos não pode faltar drama e romance.
Atuando como Dinamizador no Pólo Rocinha (o único pólo com dois
turnos) desde que entrou no RAP há sete anos, Léo, junto com Janaína,
trabalha como Dina coordenando sete multiplicadores bolsistas e cinco
voluntários em temas específicos sobre saúde que eles irão multiplicar nas
escolas e avaliando o desempenho deles tanto na produção independente de
atividades e planejamento quanto na prática, ou seja, na execução. A ideia é
que a cada semana um grupo de multiplicadores vá a alguma escola fazer uma
oficina sobre o tema proposto. “E por enquanto estamos focados apenas nisso
já que serão oito encontros que durarão mais ou menos dois meses”.
Levado ao RAP por uma amiga que era paciente do Adolescentro
Rocinha, Léo conta que começou a frequentar o espaço, onde conheceu Dilma,
na época diretora do Adolescentro, e a participar das atividades que eram
oferecidas lá. E embora mal conhecesse o Rio de Janeiro, pois havia acabado
de chegar do Maranhão Léo foi até o Centro da cidade para participar da
seleção para o projeto.
Sobre sua experiência na produção de vídeos, Léo descreve o processo
que se deu inicialmente com aulas: aprender a filmar, a fotografar, a discutir
temas, e escrever o roteiro. Tudo produzido a partir da divisão de tarefas: quem
iria filmar, dirigir, atuar, etc. E o resultado foram seis vídeos sobre diversos
temas de saúde “feito por nós, com a nossa cara”.
58
Encerrada a primeira fase do projeto em 2008, Léo foi convidado a ser
Agente de Documentação Médica do Adolescentro Paulo Freire tornando-se
um dos funcionários da unidade. Outros adolescentes, por conta da experiência
adquirida, foram trabalhar em projetos sociais desenvolvidos na comunidade.
Alguns saíram antes do término do projeto para entrar no mercado de trabalho,
seja para sustento próprio ou porque formaram suas famílias.
Quanto ao acesso aos meios de comunicação a Internet é unanimidade
entre os jovens do grupo: todos a acessam todos os dias. E logo em seguida é
a TV o meio preferido. Entre os meios a que os jovens menos recorrem para
obter informações estão as revistas e os jornais impressos (apenas algumas
vezes por mês). Apenas Léia lê jornal impresso de um a três dias por semana.
O rádio foi o meio que mais dividiu os jovens em sua preferência que oscilaram
entre algumas vezes por mês (Léo) e todos os dias (Julia e Janaína).
O grupo pesquisado demonstrou muito interesse em Arte e Cultura em
viagem, exceto Léo (médio interesse) e em Medicina e Saúde, com exceção de
Cláudio que declarou ter médio interesse neste último tema e nenhum
interesse em Esportes. Todos declararam médio interesse em Meio Ambiente.
Em Política o interesse variou entre médio e pouco interesse assim como em
Economia e Religião que desperta o interesse somente de Léia.
7.5 GRUPO DE DISCUSSÃO
As discussões provocadas pelas questões norteadoras do grupo de
discussão realizado com os jovens integrantes do projeto de educação em
saúde RAP da Saúde possibilitaram conhecer um pouco das reflexões destes
jovens sobre temas como preconceito, relação médico-paciente e
Determinantes Sociais de Saúde, abordados no vídeo “Tuberculose: um perigo
real”. O modelo multidimensional de análise da recepção de Hall/Schrøder
(2003). permite analisar as opiniões dos participantes e compreender as
posições de leituras adotadas por eles nas dimensões Compreensão,
Discriminação e Posição.
A primeira questão do grupo de discussão auxilia no estudo da
dimensão de Compreensão. Ao serem indagados sobre “o que é o vídeo” os
jovens entre sorrisos tímidos nos momentos iniciais da discussão foram rápidos
59
em suas respostas: “Tuberculose!” E completavam com gestos dando
impressão de que acharam a pergunta óbvia.
Para alimentar a discussão o moderador completou: E qual é a história
que o vídeo conta? Quem são os personagens? Janaína prontamente
respondeu: “a procura de João por um médico”, “o encontro com a médica que
lhe pede exames detalhados e o diagnóstico”. E Júlia completa: “Só que a
família é citada como de baixa renda, né?”
A moderadora ainda buscando dinamizar a discussão nesse momento
inicial emenda: O que o vídeo mostra para vocês chegarem a esta conclusão?
A essa pergunta Cláudio, Janaína e Léia destacam a camisa descosturada do
protagonista, a cena em que a esposa de João questiona como farão para
comprar os remédios e o cenário que mostram “as condições da casa dele”.
É possível perceber, nas respostas dos participantes da discussão, que
há uma imediata apreensão do conteúdo apresentado no vídeo exibido.
Quando o debate se concentrou sobre como o vídeo mostra as condições
econômicas dos personagens, a experiência desses jovens com a utilização
dos recursos linguagem audiovisual provocou leituras que de acordo com a
dimensão Discriminação de Hall/Schrøder (2003). transitaram entre os “graus”
da imersão intensa à fraca e o distanciamento fraco ao intenso.
Para Cláudio, a cena em que o personagem principal está com a camisa
descosturada “pode acontecer: usar a mesma camisa mais de uma vez”
(imersão intensa), no entanto concorda com Léo, quando este afirma ser
“proposital” para mostrar a passagem do tempo (imersão fraca) e logo em
seguida declara ver esse recurso como algo estereotipado para facilitar a
compreensão do espectador de que se trata de um personagem pobre
(distanciamento intenso). Hall/Schrøder (2003). Para explorar melhor as
reflexões que se apresentavam o moderador estimulou mais esse aspecto:
“Quais as cenas do vídeo que te levam a esta conclusão?” Cláudio, Léia e
Janaína apontaram as cenas que mostram o lugar onde os personagens
moram, o figurino e as ações de João pegando dinheiro emprestado com seu
compadre, bebendo no bar, e andando pela Central do Brasil. Estes fatores
caracterizam, no entendimento dos espectadores, o personagem João como
alguém de baixa renda, que segundo Fish (1992) faz parte do entendimento
60
desses jovens a referência “baixa renda” como alguém que se apresenta tal
como João.
Ainda buscando conduzir a questões que contribuíssem para as análises
das leituras adotadas, a moderadora insistiu: Quem são os personagens desta
história? Janaína, Júlia e Cláudio concordaram em afirmar que são pessoas
“negras de baixa renda”. A cor da pele para o grupo também é uma referência
compartilhada o que caracteriza novamente o conceito de comunidade
interpretativa (FISH, 1992).
E para dar seguimento à discussão o moderador partiu para a segunda
questão: Para você, quais são os principais conflitos vividos pelo personagem?
Como este personagem reage diante das situações: condições de trabalho,
moradia, a relação médico-paciente, acesso à informação, preconceito e
outros? A resposta foi unânime em apontar a busca e a espera por
atendimento médico. Cláudio, Janaína e Léia foram enfáticos: “esperar o
médico, a dúvida ...Ele passa por dois hospitais, onde ele é tratado como: ahh ,
qualquer coisinha toma um remédio...”
Para observar a afinidade que os espectadores demonstram em relação
às escolhas feitas pelos personagens analisamos as respostas sob a luz da
dimensão Posição. Hall/Schrøder (2003). “Como vocês veem a reação tanto de
João quanto da esposa diante desse diagnóstico de tuberculose e as escolhas
deles diante dessa avaliação e as práticas deles?”
Os jovens participantes da discussão demonstraram concordar com a
atitude dos personagens, inclusive com a atitude de separar os utensílios
usados por João e a justificaram argumentando que essa era a informação de
que o protagonista dispunha já que a médica só falou sobre a transmissão e a
forma de contágio trinta dias depois quando João voltou para nova consulta. Os
jovens argumentaram inclusive que esta seria uma atitude usual, pois de
acordo com Léia “hoje em dia isso ainda tem” o que foi ratificado por Janaína
cujo pai teve há pouco tempo e “minha avó separou” os objetos do doente.
Quando a questão se referiu à maneira como fariam um vídeo educativo
abordando a tuberculose embora todos tenham sugerido a utilização de algum
recurso estético (música, luz, enquadramentos), Cláudio e Léo consideraram o
vídeo “bem feito e muito atual”, principalmente por discutir o sistema de
61
atendimento à saúde que “ainda tem esse tipo de atendimento médico”. Léo
inclusive relembrou um acontecimento recente em que ao se sentir mal com
tosse e febre e foi até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e lá foi atendido
com indiferença pela médica que “mandou eu fazer Raio X, olhou, fez assim
uma cara feia, me deu amoxilina e mandou eu tomar durante sete dias... Só
isso... Falou nada... Falou nada!” O próprio Léo sugeriu que se fizesse um
vídeo educativo sobre tuberculose “com pessoas que sofreram com a
doença...”Para Cláudio o roteiro apresenta em alguns momentos os
personagens de maneira maniqueísta: “tem um mal... E tem o bem...” O
bonzinho e o ruinzinho”. “O João encontra uma médica maravilhosa que vai
fazer tudo por ele”. De acordo com Cláudio e Léia essa dicotomia é reforçada
pelo diálogo entre a médica e seu amigo, médico mais velho. O que gera uma
sensação de desconforto: uma relação paternalista em que de um lado fica o
paciente: “pobre é que não sabe de nada” E de outro “os médicos que têm uma
solução... Um saber. Inclusive na época ela tinha o carro do ano e ele tava lá
lixando um carro...” Para Léia a música foi o recurso que ela mudaria de forró
para um samba antigo por acreditar que combinaria mais com a Central do
Brasil, primeiro cenário apresentado pelo vídeo, ao contrário de Júlia e Janaína
que concordam com a escolha por entender que “a identidade do local pode
ser de nordestino”
Para aprofundar a discussão de questões que contribuíssem para as
análises das dimensões do modelo multidimensional de recepção o moderador
inquiriu: Você falou da casa dele agora... Como é que é o banheiro, a cozinha?
Diante desta provocação Júlia e Léia ressaltaram o close nas moscas
pousadas sobre as louças na cozinha de João. E Cláudio lembrou que a casa
de João fica no meio de um grande terreno, como Léo havia mencionado, o
que a torna mais arejada que as casas da Rocinha, onde várias casas ficam
“umas em cima das outras”, mas que a casa propriamente é um cubículo e a
família fica mais dentro da casa do que fora dela.
Outros aspectos estéticos foram destacados por todos como a luz que
de acordo com Cláudio em função de sua experiência como produtor ele
considera “muito importante” e o cenário que para ele foi “muito bem pensado”.
Para Júlia, os planos e enquadramentos utilizados em momentos
específicos merecem destaque como na hora em que a médica revela a João
62
que ele tem tuberculose, quando a câmera foi se aproximando dele. Para Júlia
assim como para Cláudio, o close deve ser utilizado em algum momento
“importante, alguma reação, alguma coisa que você quer chamar a atenção
daquele momento...” O que para Janaína contribui para a “narrativa, não
necessariamente para falar da doença”. Embora Cláudio e Júlia concordem em
relação aos objetivos do close, eles divergem sobre o efeito produzido por esse
recurso na cena da louça na casa de João: enquanto para Cláudio não
acrescentou nenhuma informação, para Júlia mostra as condições de vida dos
personagens. O espectador pode acreditar ou não em um conteúdo audiovisual
como representação da realidade. E mesmo quando acredita pode desconfiar
em alguns momentos. Ou seja, ele pode adotar uma postura de imersão, mas
essa postura pode variar em diversos momentos indo de imersão intensa ou
fraca, chegando mesmo a um distanciamento crítico que também pode variar
entre fraco e intenso.
7.6 ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE COM UM INTEGRANTE DO RAP DA
SAÚDE
Esta seção apresenta a entrevista em profundidade realizada com
Cláudio, um dos integrantes do RAP da Saúde que participou do grupo de
discussão. A entrevista se concentrou em algumas questões como sobre o que
era o vídeo, com qual dos personagens do vídeo Cláudio mais se identificou, e
em que momento. Também buscou-se saber o que Cláudio pensava sobre a
relação médico-paciente mostrada no vídeo e se as situações apresentadas
correspondiam à realidade das pessoas que procuram o posto de saúde.
Cláudio também falou sobre o que achou do papel da mulher mostrada no
vídeo e sobre o que não poderia faltar em um vídeo educativo produzido por
ele.
Segundo Cláudio, o vídeo conta a história de uma família cujo pai com
tem tuberculose e que passa por uma “peregrinação” para conseguir um
atendimento no posto de saúde e quando consegue recebe do médico um
atendimento superficial. Somente no terceiro posto consegue um atendimento
atencioso, descobre que está com tuberculose e começa a se tratar. O vídeo
mostra também a relação da família com a doença.
63
Cláudio declarou não ter se identificado com qualquer dos personagens,
mas destacou o que definiu como a persistência do protagonista na busca de
solução para seu problema. Para Cláudio, a relação médico –paciente que o
vídeo apresenta ainda é muito comum nos dias de hoje e é marcada pela
contradição: ou se negligencia o atendimento ou se subestima a capacidade do
paciente em seguir o tratamento, estabelecendo uma relação hierárquica em
que não se considera a autonomia do paciente.
Cláudio considera o vídeo atual por apresentar uma situação que ainda
é vivida por muitos pacientes que buscam atendimento nos postos de saúde.
Para o entrevistado embora ainda haja muitas mulheres como a mostrada no
vídeo, lhe incomoda ver uma mulher que vive pra ser dona de casa. Para
Cláudio essa é uma visão é machista e ultrapassada, na qual o machismo
impera e na qual ele não acredita. Um vídeo educativo, na visão de Cláudio,
deve levantar questionamentos para estimular a reflexão do público sobre os
temas abordadas. Que o vídeo permita o público questionar o que está sendo
dito ou mostrado.
64
8 DISCUSSÃO DE RESULTADOS
A partir do cruzamento dos resultados obtidos durante a pesquisa foram
realizadas considerações sobre as categorias que constituem esse estudo que são
especificadas abaixo:
De acordo com Ellsworth (2001), o público nem sempre é “exatamente quem
o filme pensa que ele é” e frequentemente o modo de endereçamento “’erra’ seu
alvo, o que exige uma ‘negociação’ por parte do espectador”, ou seja, segundo
autora “não existe um único e unificado modo de endereçamento em um filme”
(op.cit. p. 19-20). Segundo o professor João em sua entrevista o vídeo “Tuberculose:
um perigo real” tem como público-alvo os estudantes de medicina e busca
sensibilizá-los para a importância da relação medico–paciente no processo do
tratamento da tuberculose e para questões como os hábitos e práticas sociais do
usuário dos serviços dos postos de saúde (inclusive para localizar novos casos). O
que foi inferido pela análise fílmica que apontou o atendimento superficial e
apressado, a falta de medicamentos e a espera de João por atendimento médico.
Embora tenha esse endereçamento: os estudantes de medicina, o vídeo
sensibilizou os jovens do RAP da Saúde que apontaram a espera e o atendimento
superficial como os principais conflitos enfrentados por João. O que foi ratificado por
Cláudio, “uma peregrinação para conseguir um atendimento no posto de saúde”.
Portanto é possível confirmar que não existe um único e unificado modo de
endereçamento em um filme ao ser assistido por diversos públicos houve a
negociação à qual se refere à autora.
De acordo com Vanoye & Goliot- Leté (p.23), é função da análise de um filme
também “situá-lo num contexto”, portanto para compreender o sentido preferencial
do vídeo “Tuberculose: um perigo real” é importante observar suas estratégias de
produção à luz de seu contexto histórico, seus objetivos e temas considerados
importantes pelos produtores no período durante o qual foi produzido. Assim é
possível interpretar as escolhas feitas por seus produtores e refletir sobre os efeitos
que pretendiam produzir nos espectadores. Segundo os autores que nortearam esta
análise fílmica, “um filme é um produto cultural inscrito em um determinado contexto
sócio-histórico” e, portanto “não poderiam ser isolados dos outros setores de
65
atividade da sociedade que os produz” (VANOYE, F. & GOLIOT-LÉTÉ, A. 1994,
p.54). Por isso foi importante levar em consideração que se trata de um vídeo
produzido em 1986 como parte de uma Campanha Nacional Contra a Tuberculose.
Ao ser assistido pelos jovens do RAP da Saúde foi considerado “atual”. Definição
ratificada por Cláudio durante a entrevista em profundidade.
Na entrevista com o produtor ficou evidente que foi pensado representar a
mulher no contexto social imaginado pelos produtores: “a gente retratou a sociedade
brasileira. Na sociedade brasileira prevalece a mulher no lugar de quem cuida da
família”. Na análise fílmica foi indicado o destaque da atuação da mulher no
tratamento do protagonista. No grupo também foi destacada essa atuação:
“fantástico!”. E Cláudio, embora entenda que essa é uma imagem que predomina,
discorda dessa representação. Aqui vemos dissonância entre sentido preferencial e
leitura preferencial.
A atuação da médica - segundo o professor Leocádio, pensada exatamente
para que o aluno de medicina se identificasse com a médica recém-formada, capaz
de detectar a tuberculose - foi destacada na análise fílmica e no grupo de discussão.
No entanto, a leitura dos jovens do RAP apontam uma relação de hierarquia e
paternalismo que não tinha sido projetada pelos produtores. Da mesma maneira, na
entrevista em profundidade as leituras produzidas pelo entrevistado sobre o papel da
mulher, difere do que foi imaginado pelo produtor do vídeo, evidenciando a
assimetria entre sentido preferencial e leitura preferencial (HALL/SCHRØDER,
2003).
É possível sintetizar as análises realizadas de acordo com as dimensões
estudadas. Observadas as leituras do grupo conforme a Dimensão Compreensão de
Hall/Schrøder (2003) é possível verificar que todos os seus integrantes
demonstraram compreender o conteúdo do vídeo: (tuberculose, procura por
atendimento médico, médica que pede exames médicos, pessoas negras de baixa
renda). Para justificar essa última resposta o grupo afirmou terem sido utilizados
recursos estereotipados para facilitar o entendimento do espectador como a camisa
descosturada (figurino), as condições da casa dos personagens (cenário) e as cenas
do protagonista pedindo dinheiro emprestado, frequentando um bar e andando pela
Central do Brasil (roteiro).
66
Há momentos em que ocorre a confluência nas análises podendo uma
mesma resposta ser interpretada simultaneamente em diversas Dimensões, como
neste momento em que as Dimensões de Hall/Schrøder (2003) Compreensão e
Discriminação se articulam. Segundo a Dimensão Discriminação o grupo destacou a
“atualidade” do vídeo, pois as situações mostradas “acontecem hoje em dia”, a “boa
luz” e enquadramentos relevantes (“a câmera vai aproximando quando a médica diz
que ele tem tuberculose”). Na Dimensão Posição foi possível observar a
concordância do grupo com relação às atitudes dos personagens: separar os
utensílios, dormir separados, pois agiram de acordo com as informações que tinham
já que a médica só mencionou as formas de contágio um mês depois da primeira
consulta.
Mais uma vez há confluência nas leituras, as dimensões Discriminação e
Posição são acionadas quando o grupo aponta algumas situações apresentadas no
vídeo como “maniqueístas” e “paternalistas” em que há de um lado médicos “ruins” e
uma médica “boa”. Da mesma maneira há a médica “que tem o saber fazendo tudo
por João, o pobre que não sabe nada”. Para o grupo essa percepção é reforçada
nas cenas em que a médica dirige um carro e João lixa a lataria de um carro
semelhante.
Embora o produtor do vídeo, entrevistado nessa pesquisa, tenha declarado
que abordar a relação médico-paciente era um dos objetivos da produção. As cenas
que mostram essa relação incomoda os jovens que a apontam uma hierárquica
entre os saberes médicos e populares. Confirma-se que os sentidos produzidos
pelos espectadores escapam ao que foi projetado pelos produtores, ou seja a leitura
preferencial diverge do sentido preferencial construído pela produção. Hall/Schrøder
(2003).
Para refletir sobre as leituras de um grupo específico como o que foi escolhido
para esta pesquisa o conceito de comunidade interpretativa foi considerado
apropriado. De acordo com Stanley Fish (1992) – um dos precursores do termo
inicialmente utilizado em estudos literários – as interpretações que determinados
grupos realizam dos mais diversos conteúdos midiáticos ocorrem em função de
fatores macro-sociais (classe, etnia, gênero, idade), as relações micro-sociais.
Para Fish (1992) o repertório semântico partilhado ou adquirido em uma
comunidade interpretativa conduz a uma produção de sentido predominante, ou
67
seja, a uma semelhança nas leituras desenvolvidas a partir de experiências de
leitura compartilhadas. Para o autor a leitura é produzida a partir do
compartilhamento de repertórios sociais e culturais específicos que emergem da
família, do campo profissional, pelas convenções e tradições culturais.
De acordo com a concepção de comunidade interpretativa as diferenças nas
leituras são atribuídas não a diferenças individuais, mas ao fato de as pessoas
pertencerem a diferentes comunidades interpretativas.
Tendo a noção de comunidade interpretativa como eixo norteador buscou-se
identificar as particularidades das leituras destes jovens referentes a suas
referências culturais.
Júlia que faz curso Técnico de Enfermagem e há dois anos é Agente
Comunitário de Saúde e está há dez anos no RAP em diferentes funções enfatizou a
importância do exame de escarro para o diagnóstico da tuberculose e da
continuidade do tratamento por seis meses acrescentando informações detalhadas
do processo de cura conforme exemplifica o fragmento de sua fala: “quando chega
no décimo quinto dia ela faz um exame pra ver se tá transmitindo bacilo, se não tiver
aí ela pode voltar a vida dela normal, só que não pode fazer muito esforço até
completar três meses de tratamento”. Informações partilhadas por Júlia, mas que
causaram surpresa para seus colegas, embora todos tenham acesso à Internet.
Janaína estudante do quarto período de Psicologia na UERJ (Universidade Estadual
do Rio de Janeiro) se mostrou incomodada com a atitude da Dra. Vera. A médica só
informou a João as formas de transmissão da tuberculose e a necessidade de
realização de exames em toda a família do paciente na segunda consulta, trinta dias
depois do diagnóstico. Isso levou D. Hortênsia, esposa de João, a separar os
utensílios de uso pessoal do marido e a dormir separada dele gerando outros
desconfortos para o casal. Para Janaína “tem que falar primeiro”. E foi essa atitude
segundo Júlia que acabou por possibilitar a reprodução de hábitos discriminatórios
“sem querer ele sofreu preconceito”. Janaína que também fez curso de Produção
Cultural se mostra resistente ao formato dos vídeos educativos segundo ela
explicativos e prescritivos e diz que gostaria de produzir um vídeo com histórias reais
para gerar identificação com o público.
68
Léia, a única dos participantes a se declarar praticante de uma religião gosta
de vídeos educativos porque “faz pensar no próximo” e, ela que fez curso de
produção cultural e Cláudio que se declarou cinéfilo enfatizaram os aspectos
estéticos do vídeo como a música e a luz. Cláudio aprecia filmes de super-heróis e
gostaria de ter produzido “Avatar”. Léo que como Júlia é um dos mais antigos
integrantes do RAP atua como Dinamizador no Pólo Rocinha. Coordenando um
grupo de multiplicadores que “a cada semana vai em uma escola fazer uma oficina
sobre um tema proposto” Léo gostaria de ter escrito o roteiro e participado das
filmagens de “Fringe”. Uma característica importante a ser destacada é que embora
estejam envolvidos em atividades de participação e discussão de questões sociais
estes jovens que declararam muito interesse em Arte e Cultura assim como
Medicina e Saúde, afirmaram ter de médio a pouco interesse em Política.
Para melhor compreensão das discussões mencionadas acima foi produzido
um quadro, Quadro 2, com um resumo com os dados coletados:
Perfil sociocultural dos jovens pesquisados
Cinco jovens com idade entre 22 e 26 anos;
Léia, Júlia e Janaína, Léo e Cláudio;
Moradores de outras comunidades;
Janaína faz curso de graduação em Psicologia na UERJ;
Júlia faz curso Técnico em Enfermagem e é Agente Comunitário de Saúde;
Léo trabalha como funcionário contratado pela Prefeitura;
Léia e Cláudio trabalham somente no RAP;
Todos gostam de cinema e os assuntos que mais os interessam são Arte e
Cultura, seguidos de Saúde e Medicina;
Demonstram pouco interesse em Política e Economia;
Todos gostariam de produzir se próprio filme;
Quadro 2: Resumo das informações coletadas junto aos integrantes do RAP da Saúde. Fonte: Elaborado pela própria pesquisadora.
69
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho investigou as leituras realizadas por jovens
produtores de vídeos educativos em um projeto não formal de educação em
saúde, o RAP da Saúde. O vídeo assistido por esses jovens foi “Tuberculose:
um perigo real” produzido pelo NUTES para a Campanha Nacional contra
Tuberculose em 1986.
Pesquisando a produção e a recepção do vídeo em questão,
articularam-se as informações coletadas por meio dos materiais referentes a
esses dois pólos do processo comunicativo e analisados a produção de sentido
do grupo pesquisado à luz de suas experiências com o audiovisual e com as
discussões sobre Educação em Saúde e suas referências culturais, segundo a
noção de comunidade interpretativa de Stanley Fish (1992). Também foram
consideradas as dimensões de Compreensão, Discriminação e Posição do
modelo multidimensional de análise de recepção de Hall/Schrøder (2003).
Os resultados e discussões apontam para a compreensão do receptor
como sujeito ativo na (re)elaboração dos significados a que tem acesso. As
análises das leituras produzidas durante a realização do grupo de discussão e
do perfil sociocultural serviram para compreender a influência da relação do
jovem com o audiovisual e com a Educação em Saúde nas leituras adotadas.
De acordo com o conceito de comunidade interpretativa de Stanley Fish (1992),
os sentidos produzidos por um grupo estão de acordo com o repertório cultural
partilhado entre seus integrantes. Nesse sentido embora o questionário
sociocultural revele a preferência desses jovens por filmes “comerciais”, a
experiência dentro de um projeto que problematiza os aspectos estéticos na
produção audiovisual possibilita a construção de um olhar crítico e
comprometido com o espectador. As análises das leituras produzidas durante
as discussões realizadas como parte do estudo de recepção foram
enriquecidas ao serem observadas ao par com as informações fornecidas pelo
questionário sociocultural de cada participante. É importante, por exemplo,
considerar que Janaína, estudante de Psicologia, é a única participante a
ressaltar o desconforto do protagonista por ter recebido informações
incompletas sobre as forma de contágio da tuberculose. Como também é
importante destacar a familiaridade de Júlia, estudante de Enfermagem e
70
Agente Comunitária de Saúde com o processo de diagnóstico e tratamento da
tuberculose, inclusive na importância da continuidade do tratamento.
Entre os resultados desta pesquisa é possível destacar a importância
dos estudos sobre Educação em Saúde considerarem o conceito ampliado de
saúde, que valoriza os aspectos socioculturais dos atores envolvidos. Essa
concepção preconiza que hábitos e saberes, ou seja, as referências culturais e
práticas sociais dos pacientes sejam consideradas fatores fundamentais no
processo de Educação e Promoção da Saúde.
Também é fundamental ressaltar as experiências de Educação não
formal que por suas próprias metodologias estimula a autonomia e o
protagonismo juvenil no processo de Educação em Saúde. O Programa de
Saúde do Adolescente (PROSAD), criado em 1989 pelo Ministério da Saúde
para atender jovens de 19 a 24 anos, foi concebido como estratégia de gestão
de política pública pautadas na valorização da participação dos adolescentes
nas ações de promoção da saúde e na intersetorialidade, o que se verifica no
RAP da Saúde, onde jovens elaboram ações junto com profissionais de saúde
para falar diretamente com outros jovens sobre questões que não passam por
um quadro patológico, mas pelo contrário, de questões de vida: gravidez
precoce e violência no namoro. Essas ações ocorrem nos mais diferentes
locais: na escola, nas associações de moradores e outros espaços da
comunidade.
Outra consideração a ser ratificada é a importância da continuidade dos
projetos realizados, uma questão constante quando se discute a relação entre
o poder público e a assessoria das Organizações não Governamentais
(ONGs), cujos limites de alcance podem levar à fragilização do trabalho
desenvolvido.
Os limites desta pesquisa nos permitem apresentar os resultados
obtidos em um processo incipiente e estimulam ao aprofundamento das
questões em investigações futuras.
71
10 REFERÊNCIAS
ALEGRIA, João. Decifra-me ou devoro-te. Cadernos CEDES, v.25, n.65, jan./apr. 2005. ALENCAR, et al. Recepção da propaganda antidrogas junto aos jovens estudantes em municípios do Araguaia - MT. In: PRÊMIO EXPOCOM, 18, 2010. Anais... [S. n.: s. n.], 2010. Trabalho apresentado na Categoria Jornalismo, modalidade Jornalismo Interpretativo: Análise. BATISTELLA, Carlos. Abordagens contemporâneas do conceito de saúde. In: O Território e o processo Saúde-Doença. Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/pdtsp/>. Acesso em: 30/05/2013.
BAUER, Martin W. e GASKELL. George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
BELL & DITTAMAR. Does Media Type Matter? The Role of Identification in Adolescent Girls’ Media Consumption and the Impact of Different Thin-Ideal Media on Body Image. Sex Roles v. 65, p. 478–490, 2011.
BORTOLIERO, S. A produção de vídeos educacionais e científicos nas universidades brasileiras: a experiência do Centro de Comunicação da Universidade Estadual de Campinas (1974-1989). In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 25, 2002, Salvador. Anais. Salvador, 2002. BRASIL, Ministério da Saúde. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional>. Acesso em: 30/05/2013 CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
CENTRO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE. Quem somos. [2013?]. Disponível em: http://www.cedaps.org.br/2058 Acesso em 30/05/2013.
CHIEPPE. Alexandre. Tuberculose na Rocinha. Disponível em: http://www.rj.gov.br/web/ses/exibeconteudo?articleid=690498 Acesso em 30/05/2013. COCCO. Giusepe; GALVÃO. A. Patez; SILVA. Gerardo. (Org.) Capitalismo Cognitivo: trabalho, redes e inovação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
CONGRESSO ABERTO DA UNIVERSIDADE POPULAR DE ARTE E CIÊNCIA, 1; FALA COMUNIDADE, 11, 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde, 2011.
72
CUPTI, Dilma. Protagonismo Juvenil nas ações da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro: relato de projetos que incorporaram a participação de adolescentes multiplicadores entre 1992 e 2008. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estácio de Sá, 2010.
DUARTE, Rosália; ALEGRIA, João. Formação Estética Audiovisual: um outro olhar para o cinema a partir da educação. In: Educação & Realidade. 33(1): 59-80jan/jun 2008. ______. Cinema & Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
ELLSWORTH, E. Modos de endereçamento: uma coisa de cinema. In: SILVA, T. T.(org). Nunca fomos humanos: metamorfoses da subjetividade contemporânea. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. FISH, Stanley. "Is there a text in this class?" (Chapter 13 of Is there a text in this class?). Translation by Rafael Eugênio Hoyos - Alfa, São Paulo, v. 36, p. 189-206, 1992. FISCHER, Rosa Maria Bueno. Mídia, máquinas de imagens e práticas pedagógicas. Rev. Bras. Educ. vol.12 no.35 Rio de Janeiro May/Aug. 2007. ______. Mídia, juventude e educação: modos de construir o “outro” na cultura. Arquivos Analíticos de Políticas Educativas. Volume 16 Número 2 Janeiro 15, 2008 ISSN 1068–2341.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra, 2011.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Cortez, 2011. (Coleção Questões da Nossa Época; v. 26).
______. Educação não formal e o educador social: atuação no desenvolvimento de projetos sociais. São Paulo: Cortez, 2010. (Coleção Questões da Nossa Época; v. 1). ______. Educação não formal, educador(a) social e projetos sociais de inclusão social Meta: Avaliação Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 28-43, jan./abr. 2009.
GRUZMAN, Eduardo. LEANDRO, Anita. Pedagogia de Humberto Mauro: a natureza em Azulão e o João de Barro. Revista Comunicação & Educação. Ano X N.3 Set/Dez. 2005.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2011.
73
______. Da Diáspora. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
LIMA. Marcos Rangel de. Desigualdades Socioespaciais no Município de Duque de Caxias, RJ: Uma Abordagem Interescalar. Dissertação (Mestrado) - Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, 2010.
LYRA, Jorge; et al. A gente não pode fazer nada, só podemos decidir sabor de sorvete. Adolescentes: de sujeito de necessidades a um sujeito de direitos. Cadernos CEDES, v.22, n.57, ago. 2002.
MATTELART, Armand & Michele. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola,1999. MARTIN-BARBERO, Jesús. América Latina e os anos recentes. In: SOUSA, M. W. (org). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense,1995.
______. Dos Meios às Mediações, Comunicação, Cultura e Hegemonia.Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 2008. MIRANDA, Luciana Lobo. Consumo e produção de subjetividade nas TVs comunitárias. Revista do Departamento de Psicologia (UFF), v.19, n.1, 2007.
MINUZZI & CRUS. Recepção e propaganda: um estudo de caso da campanha Hora do Planeta. Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul/ Publicidade e Propaganda, 11, 2010, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre, 2010. PRETTO, Nelson de Luca. Uma escola sem/com futuro. São Paulo Campinas. Papirus, 1996. PIMENTA, Denise Nacif; LEANDRO, Anita; SCHALL, Virgínia Torres. A estética do grotesco e a produção audiovisual para a educação em saúde: segregação ou empatia? O caso das leishmanioses no Brasil. Caderno de Saúde Pública v.23, n. 5, May 2007. PINTO, Celi Regina Jardim . As ONGs e o Política na Brasil: presença de novos atores. Dados (Rio de Janeiro). , v.49, p.651 - 670, 2006.
REDE DE ADOLESCENTES PROMOTORES DE SAÚDE. RAP da saúde: introdução do vídeo do RAP da Saúde. Rio de Janeiro: CEDAPS, 2008. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=nEWsyMF81vU&feature=related>. Acesso em: 30/05/2013 ROSO, A. Ideologia e relações de gênero: um estudo de recepção das propagandas de prevenção da aids. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 385-397, abr.-jun. 2000.
74
SCHRØDER, K.C. Making sense of audience discourses: towards a multidimensional model of mass media reception. European Journal of Cultural Studies, v. 3 n. 2, 2000.
SCHVARZMAN, Sheila. Humberto Mauro e as imagens do Brasil. São Paulo: Ed. da Unesp, 2004.
SILVA, Roberta Maria Lobo da. Tecnologia e Desafios da Educação Brasileira Contemporânea Trabalhos de Educação em Saúde, v. 6 n. 1, p. 29-50, mar./jun. 2008.
SILVA, Tomáz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. In: ______ (Org.). Documentos de dentidade. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
SOUZA, M. W. A recepção e comunicação: a busca do sujeito. In: ______. (org). Sujeito o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995.
SOARES, Laura Tavares. Os Custos Sociais do Ajuste Neoliberal na América Latina. São Paulo: Cortez, 2002.
TENDLER, Silvio. Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá. 2006. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=UJd5YKhR9gE>. Acesso em: 30/05/2013.
TOLEDO, Moira. Educação Audiovisual Popular no Brasil - Panorama, 1990 -2009. 2010. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo 2010.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Núcleo de Tecnologias Educacionais para a Saúde. NUTES: Relatório de Atividades (1972-1992). VANOYE, F.; GOLIOT-LÉTÉ, A. Ensaio sobre a análise fílmica. Campinas: Papirus, 1994.
WATSON et al. Filthy or fashionable? Young people’s perceptions of smoking in the media. Health Educational Research, v.18, n.5, p.554-567, 2003.
75
APÊNDICES
76
Apêndice I – Análise Fílmica - Tuberculose: Um Perigo Real
Descrição
Plano Geral. Central do Brasil no Rio de Janeiro. Corta. Plano Médio.
João sentado no banco de um ônibus tossindo muito. Corta. Close no letreiro
do ônibus Caxias – Central da empresa Carioca. O plano vai abrindo em um
travelling até plano geral que mostra João descendo do ônibus e caminhando
na área interna da Central. Corta. João caminha em meio da multidão nas ruas
próximas à Central. Corta. João segue em direção ao Campo de Santana
(sempre tossindo e às vezes cospe) e passa por um homem negro que dorme
no banco desta área verde do centro do Rio. Corta. Close em um “lambe-
lambe”. Câmera abre em plano geral que mostra João tossindo e pedindo
informações ao fotógrafo. Segue caminhando sempre tossindo e às vezes
cuspindo. Corta. Plano médio mostra João tossindo e caminhando e só então é
possível ver detalhes como a camisa descosturada na altura do ombro. João
para, respira e segue até um guichê de atendimento ao público.
João que tosse (ofegante) - Moça, eu preciso de um médico!
Atendente (lendo uma revista lhe entrega um cartão branco sem olhá-lo) -
Toma a ficha e aguarda ser chamado...
João tossindo caminha em direção a um banco.
(Voz em off da atendente) - Número doze pode entrar...
João tossindo senta ao lado de outro homem que lê um jornal e fuma.
Sabemos disso não por ver o cigarro, mas pela fumaça no meio dos dois
personagens.
João (desanimado) É... Nesse passo vou ser atendido só à noite...
Homem do jornal - Aqui é assim mesmo. Qual é o seu número?
João - Cinquenta e nove... Já viu, né?
Homem do jornal - É a primeira vez que você vem?
João faz que sim com a cabeça e tem novo acesso de tosse. O homem que lê
jornal se afasta um pouco. Corta. Ponto de vista da atendente que lê uma
77
revista de fotonovela. Enquanto folheia a revista a atendente anuncia os
números:
Atendente - Número 25, número 37, número 43... Corta. Plano geral. Imagem
em contraluz mostra um pátio enorme ao fundo e João sozinho cabisbaixo
sentado no banco na penumbra.
(Voz em off) - Cinquenta e nove!
Ao ouvir seu número ser chamado João levanta a cabeça e caminha
lentamente. Todas as cenas até esse momento têm como trilha sonora a
música instrumental “Violada” de Francisco Mário. Também até esse momento
são exibidos os créditos do vídeo. Nessa cena cessam a música e os créditos.
Corta. João entra timidamente em um consultório.
Médico - Entra aí rapaz, entra aí. Senta aí.
João senta na cadeira ao lado da mesa do médico.
Médico (pegando a ficha das mãos do homem) - Que que cê tem?
João - Eu tô com uma tosse braba! Tá me incomodando muito!
Médico - Você fuma?
João - Fumo sim senhor, parei de fumar uns cinco dias...
Médico - Tá,vou te receitar um xarope, tá? (escrevendo) Você tem que tomar
uma colher das de sopa quatro vezes ao dia, tá ok? Tem muita gente lá fora
ainda?
João - não senhor, só umas três ou quatro pessoas.
Médico (levantado e conduzindo o homem até a porta) aqui tá a receita. Você
pega o remédio ali na farmácia. Fica no final do corredor, tá ok?
João - Mas o senhor não vai me examinar, não vai...
Médico - Não precisa se preocupar com isso não rapaz. Em uma semana você
tá bom! Toma o xaropezinho, tá ok? Boa tarde, hein!. O próximo! Corta. O
homem caminha com a receita na mão ate o guichê da farmácia.
João - Moça, eu queria este remédio.
Atendente - Meu filho, infelizmente essa medicação nós não temos, você vai ter
que comprar.
João (despontado) - Como é que eu vou me arranjar?
Atendente - Meu filho, não posso fazer nada...
João sai tossindo. Corta. Close na atendente da farmácia que olha preocupada.
Corta. Close nas mãos do homem que tira algumas notas de dinheiro do bolso.
78
Ele remexe as notas amassadas e as recoloca no bolso. Nesse momento sobe
a música “Preto Velho” interpretada pelo cantor Bebeto. Câmera abre até se
fixar em plano médio. Câmera mostra por trás João caminhando. Corta. Plano
geral. Homem de barba e toca bebe em um bar. João chega e lhe toca o braço.
Homem de barba – ô cumpadi, chega aí (para uma senhora no bar) bota uma
cachacinha pro meu amigo João, aí, por favor, (para João) e aí cumpadi quais
são as novidades?
João (para a senhora do bar) tá bom, tá bom! Tô precisando é de remédio,
rapaz. Fui ao médico e o homem mandou eu tomar xarope, pô e com que
grana...
- Qual é João todo mundo sabe que lá no posto de saúde os homem dão
remédio de graça... é só mostrar a receita do doutor que eles dão tudim na mão
lá...
João - não rapaz... é isso quando tem... mas o diabo do xarope só tem na
farmácia do comércio, rapaz, e custa uma grana...
- Homem de barba (abrindo uma bolsa e mexendo em algumas notas de
dinheiro) Vai lá cumpadi. Quanto é a facada dessa vez? (entregando uma nota)
Cenzim dá?
João - ô cumpadi é pro remédio não é pra farra não, né? (para a senhora do
bar) Bota na conta aí... (para o compadre) aí, primeiro biscate a gente acerta
essa parada.
- Homem de barba (acenando) Falô, tá limpo...
João sai do bar tossindo. Plano geral. João caminha pelas ruas de sua
comunidade onde muitas crianças brincam. Som em off de crianças rindo e
falando. Sobe a música.
Fade out.
Close de João se olhando no espelho. João de boca aberta “examina” a língua.
Câmera abre em plano médio o que permite ao espectador ver que o espelho
na verdade se trata de um pedaço quebrado colado em uma parede de
madeira. Em off sons de um radio.
Esposa de João – João, você tá melhorando com esse xarope?
João (tossindo, indo sentar em uma escadinha de madeira) - Acho que não. Eu
tô tomando ele há duas semanas e a tosse tá cada vez mais forte...
79
Câmera abre em plano geral mostrando o quintal de João. Uma área com chão
de terra batida e pequenos montes de entulho (restos de pedra, terra, tijolos).
Esposa de João (estendendo a roupa) - Era bom procurar outro médico, heim!
Pra ver se ele acerta com você...
João – É, eu vou com essa ideia...
Mulher de João – É bom João. Lembra o que aconteceu com D. Arlete, a
mulher do Agenor? Tosse mais besta como a sua ó... E acabou indo...
Coitada, o mau trato matou D. Arlete...
João – Ih! Vira essa boca pra lá mulher. Vou procurar outro que remédio é
coisa de criança... João levanta da escadinha. Sua mulher estende um lençol
que impede a visão do espectador. Durante toda essa cena se ouve em off o
noticiário do rádio.
Corta. Close em pés na fila. A maioria usa chinelos. Off de choro de crianças
câmera não mostra os pés de João, começa em travelling dos pés de alguém
que está atrás de João subindo até chegar em close no rosto dele. Voz em off:
“O próximo por favor!”. Close no rosto da moça negra que está na fila atrás de
João. Corta.
Médico (abrindo a porta para João) - Que que há meu amigo? Senta aí.
(médico vai em direção à pia) quê que cê tem? Off de água da torneira.
João (sentando na cadeira tossindo) Essa tosse doutor, tô com ela há mais de
um mês...
Médico (lavando as mãos de costas para João) Tem escarro?
João – Tem doutor, eu tenho escarrado bastante.
Médico (secando as mãos) E febre?
João – Bom... Não tenho termômetro...
Médico (escrevendo) - Eu vou te receitar mais uns remedinhos, pra você ficar
bom logo, tá? Bem, esse primeiro aqui você vai tomar quatro vezes ao dia, tá?
E o outro, você toma só se tiver febre. Tá bom? Tem dormido bem?
João – Não... A tosse não deixa. Incomoda a noite inteira... Eu chego a ficar
nervoso...
Médico – Vou te dar também um tranquilizante, tá bom? Toma direitinho, tá e
vamos ver como é que fica. Tá certo. Semana que vem você passa aqui. Pra
gente ver...
João – Posso passar na farmácia?
80
Médico – Pode, sabe onde é? Aqui no final do corredor.
João – Obrigado!
Médico ( para as pessoas no corredor) - O próximo, por favor!
Corta. Plano médio. João vai tossindo até o guichê da farmácia do posto e
entrega a receita ao atendente. O atendente pega a receita vai até o canto
esquerdo da tela e volta em seguida.
Atendente - Só tem esse, o da febre
João - Só?
Atendente - ...remédio tá no fim...
João agradece e sai tossindo. Corta. Plano médio. Balcão da farmácia João
pede o remédio da receita.
João (entregando a receita ao funcionário da farmácia) Eu queria esse remédio
aqui
Funcionário - Esses três?
João - Não. Esse da febre eu já tenho.
Funcionário - Então só o antibiótico e o calmante
João - Quanto custa?
Funcionário - Cento e vinte cruzados
João - Isso tudo? Vai dar pra comprar não.
Funcionário - Por que tu não leva só o antibiótico? Eu tenho um outro aqui...
que é bom pra acabar com essa tosse, meu amigo...
João - Quanto é que fica só esse aqui?
Funcionário - Só esse dá uns oitenta mais ou menos...
João - Vai dar não...
Câmera em travelling em direção a João, fechando em close no rosto de João.
Funcionário - Olha tem um outro remédio aqui que é bem mais barato e ... faz o
mesmo efeito. Por que você não leva esse?
João - É bom mesmo?
Funcionário - É bom!
João - Então... Quanto é que custa?
Funcionário – Só vinte e cinco!
João - Tá bom...
Funcionário - O senhor pode pagar no caixa, por favor, tá? Obrigado
João - Tá...
81
Corta. Música “Zé do Tamborim” do cantor Bebeto. Plongée. Cinco homens de
pé em um bar em volta de uma mesa de madeira jogando dominó. Entre eles
João e seu compadre. João tosse muito para surpresa de seu compadre. Plano
médio.
Compadre - ô cumpadi quê que cê fez com aquelas cem pratas que eu te dei
que essa tosse não melhorou nadinha?
João - Pois é rapaz, gastei um dinheirão em remédio e a tosse ainda piorou...
Compadre - Qual é rapaz? Você meteu foi as cem pratas nos cavalinhos... Tá
na cara!
João - pô! Que que há cumpadi? Aí ó (tirando o frasco de remédio da bolsa da
camisa) tô tomando de quatro em quatro horas. Pô o diabo da tosse é que é
ruim mesmo!
Compadre – é... João... Essa tossinha ainda vai te jogar na cama, rapaz! Se eu
fosse você eu dava uma chegada lá no posto do Encantado. O pessoal de lá
dá mais atenção pra gente! Examina com mais calma... Lá é muito melhor,
heim! Aí ,vai lá!
Close nas peças de dominó. Corta. Close nas duas crianças que brincam nas
cinzas de uma fogueira. Elas mexem e sopram os restos de material queimado.
Voz em off de pessoas conversando. Câmera abre para seguir um carro
dirigido por uma mulher. O carro estaciona em frente a um orelhão onde
algumas crianças brincam. Ao fundo o castelo da Fiocruz. Do carro sai Dra.
Vera uma mulher jovem vestida com roupa branca e uma bolsa esportiva. Ela
fecha o carro e se dirige para o Posto de Saúde. Nesse momento a música vai
baixando até acabar. Em off ouvimos a tosse de João.
Corta. Plano médio. João na fila tosse sem parar. Dra. Vera passa por João e
cumprimenta um senhor vestido de branco.
Dra. Vera (tirando os óculos) - Oi
Senhor - Oi (olhando para João), se for tuberculose ele está espalhando
bacilos para todos os lados...
Dra. Vera - Tuberculose aqui no Rio?
Senhor - Mas é claro, Vera! Tuberculose entre nós é bem frequente. E o caso
dele é típico. Dra. Vera segue para um lado e o senhor para o outro. Voz em
off da atendente do posto: Sr. “João dos Santos, por favor”. João caminha em
direção ao consultório tossindo muito.
82
Corta. Plano médio. Dra.Vera está sentada escrevendo.
Atrás dela um pequeno armário suspenso de vidro com remédio. O consultório
é simples, suas paredes pintadas com cores escuras têm cartazes educativos.
João entra tossindo muito. Entrega um formulário à médica e vai sentando na
cadeira que está em frente à mesa da médica.
Médica (recebendo e lendo o formulário entregue por João) - Bom dia!
João - Bom dia, doutora.
Médica (lendo o formulário) - Seu João... O que o senhor está sentindo, seu
João?
João - Doutora, eu vim aqui por causa dessa tosse que não quer me largar...
Médica - E há quanto tempo o senhor está com essa tosse?
João - Ah! Uns dois meses ou mais...
Medica - E o senhor já tomou algum remédio?
João - Puxa doutora, já tomei uma porção e nada...
Médica - Bem, seu João, o senhor tira a camisa, por favor, e fica em pé aqui...
João levanta, tira a camisa. Sempre tossindo.
A médica levanta, se aproxima e começa a examinar João: primeiro, segura a
cabeça de João com as duas mãos e olha seus olhos. Em seguida ouve seus
batimentos cardíacos com o auxílio do estetoscópio.
Médica (auscultando) - Respire fundo!
A médica usa o estetoscópio em vários outros pontos das costas de João em
um exame atento, sem pressa.
Médica (tirando o estetoscópio) - O senhor pode sentar aqui na mesa
João senta na maca ao lado. A médica vai até o pequeno armário de vidro
suspenso e pega duas espátulas e examina a boca e língua de João.
Médica - Diga aaaaah!
João (com a boca aberta) - aahhh
Médica - tá bom. Pode deitar, por favor.
João deita. Corta. A médica começa outro exame em João.
Médica (apalpando o abdômem de João) - Dói seu João?
João - Não!
Medica - Respira fundo, seu João! Agora solta. Pode levantar, seu João.
João levanta da maca, veste a camisa e senta na cadeira em frente da mesa
da médica.
83
Médica - Seu João, nós vamos ter que fazer uns exames no senhor.
João - Sim senhora...
Médica - O senhor vai colher uma mostra de escarro e amanhã o senhor me
traz outro pote com outro escarro. Entendeu?
João (abotoando a camisa) - Amostra, né doutora?
Corta. Close nos dois potes sobre a mesa.
Médica (escrevendo) - É seu João, de escarro. O senhor vai escarrar nesse
potinho para ser examinado.
João - Sim senhora... E qual o remédio que eu vou tomar?
Médica: por enquanto o senhor não vai tomar nenhum remédio. Primeiro a
gente vai ver os resultados dos exames. Corta. Contra-plano.
João - Mas doutora, se eu ficar sem tomar remédio não, vou piorar?
Médica – Não, seu João, por uns dois ou três dias, o senhor não vai ficar pior
de jeito nenhum. Primeiro nós vamos fazer um exame de escarro. O senhor vai
até o banheiro ali para recolher o seu primeiro escarro e amanhã o senhor traz
um novo potinho. Mas tem que ser o primeiro escarro da manhã. Entendido?
João (pegando os potes e levantando) - Sim senhora. João sai.
Corta. Tela branca. Imagem de bacilos vistos no microscópio.
Voz em off: “A baciloscopia nos mostra numerosos bacilos álcool-ácidos
resistentes e pelas normas da Divisão Nacional de Pneumologia Sanitária
podemos classificá-las com três cruzes, ou seja, mais de dez bacilos em
cinquenta campos examinados”.
Fade out.
João no consultório tossindo sentado em frente à médica.
Médica - Seu João, eu já tenho os resultados dos seus exames. O senhor está
com tuberculose no pulmão.
João - É mesmo doutora?
Médica - Sem dúvida, senhor está com tuberculose.
João - E agora vou ter que ser internado?
Médica (sorrindo) Não seu João! O tratamento é feito aqui mesmo no posto.
Close em João.
84
João – Mas, doutora, como é que a senhora sabe que eu to com tuberculose
se eu não bati nenhuma chapa do pulmão?
Médica - No seu caso, no momento, seu João não é preciso. O exame do
escarro é o bastante.
Corta.
Médica (mostrando a receita) - Esses dois comprimidos aqui o senhor toma
antes do café da manhã em jejum. E esses quatro, o senhor toma após o café
da manhã. O senhor entendeu tudo direitinho? Daqui a trinta dias o senhor
volta para outra consulta. (Entregando a receita para João) qualquer coisa, está
tudo escrito aqui direitinho, seu João. O senhor não esqueça de voltar daqui a
trintas dias, certo? O senhor pega agora seus remédios na farmácia aqui no
posto. Até logo!
João (levantando) - Até logo!
João sai do consultório e caminha para a farmácia cuja porta fica ao lado.
João - Por favor, (entregando a receita para a tendente da farmácia) a doutora
pediu que eu pegasse esse remédio com a senhora.
João permanece em pé tossindo em frente à porta da farmácia do posto.
Atendente (entregando os remédios a João) - aqui está seus remédios. Dá para
trinta dias, tá?
João - Vem cá e como é que toma isso?
Atendente – A doutora não lhe explicou como toma?
João - Ela explicou, mas eu ... Tava nervoso... Não entendi nada...
Atendente - Segura sua receita, (em direção à janela do consultório) Dra. Vera
seu paciente não entendeu como toma os remédios...
Dra. Vera (em off) - você chama ele, por favor?
Atendente - Vai lá!
João caminha até a porta do consultório onde Dra. Vera o espera.
Dra. Vera - Seu João, esse tratamento é feito com esses comprimidos aqui
(pegando os dois vidros das mãos de João), antes do café da manhã em jejum,
o senhor toma esses dois comprimidos vermelhos e após o café da manhã o
senhor toma esses quatro comprimidos brancos. O senhor entendeu bem?
João - Entendi.
Dra. Vera - Então tá certo, seu João. O senhor não esqueça de voltar daqui a
trinta dias, tá?
85
João sai. Corta. Ponto de vista de João. Close nas mãos de João com a receita
e os remédios.
Voz em off da Dra. Vera: “na saída a enfermeira vai agendar suas próximas
consultas”. Corta. Close em uma pilha de louças onde posam muitas moscas.
Corta. Plano geral. Casa de madeira. Podemos ver a esposa de João beijando
uma criança não porta. Ao fundo vemos João chegando. Ele tosse muito.
Esposa de João (para a criança) - Vai estudar direitinho! Vai ficar no bingo,
não!
Criança - Tchau!
João ( para a criança) - Tchau. (para a esposa) Oi.
João para na porta e fica pensativo.
Esposa de João (vai até a janela) - Oi. E aí que que o médico falou dessa
tosse?
João (desanimado) - Tuberculose! Tô fraco do pulmão...
Esposa de João - Bem que isso tava me cheirando a coisa séria... Igualzinho a
D. Arlete... E aí vão te internar? Fizeram chapa? Conta, homem, como é que
foi?
João - Não... A Dra. Falou que o tratamento é feito lá no posto mesmo...
Esposa de João (indo em direção da porta onde está João) - Doutora? Tu
arranjou uma mulher pra te tratar, é?
A esposa de João desce as escadas em frente à porta e vai em direção ao
quintal com uma panela na mão.
João - Deixa de besteira, mulher! Eu não arranjei nada! Cheguei lá no posto
médico, era uma moça você queria que eu fizesse o quê? Saísse correndo?
A esposa de João enche a panela com água de uma lata que estava no quintal.
A seu lado uma menina a observa.
Esposa de João - E os remédios muito caros?
João - Não ... Eles arranjaram pro mês (entregando o pacote à mulher) tá tudo
aí ó.... daqui a trinta dias vou ter que voltar lá.
A esposa de João abre o pacote com os remédios. Close na esposa de João
que examina com atenção os comprimidos.
Esposa de João - Eu vou separar suas coisas: prato, garfo, copo. Tudo teu vai
ser fervido e separado. Deus me livre se isso passa para as crianças. Já
pensou?
86
Contra-plano.
João - É. E nós também! Acho bom a gente dormir separado. Se não você
pode pegar isso... E isso é que é pior, né? Sem você a casa não anda...
Câmera vai fechando em close em João.
Esposa de João - Ué e você vai dormir aonde?
João - No sofá! O que é que tem?
Corta. Close na esposa de João.
Esposa de João - chato, né? Deixa eu ver essa receita.
João - A moça disse que dá pra trinta dias certinho... E depois eu tenho que
voltar lá...
Corta. Plano geral. Imagem de um helicóptero no céu. Corta. Dra. Vera
conversa com seu amigo médico em um restaurante.
Dra. Vera - O senhor sabe doutor que a gente na faculdade, a gente tem uma
visão diferente da realidade, da profissão... A gente tá acostumado a tratar de
doenças graves com diagnóstico difícil... E aí quando a gente se depara com
uma doença como a tuberculose, a gente fica com dificuldade pra tratar e
diagnosticar.
Doutor - Mas isso é comum... Com o tempo é que a gente vai se acostumando
com a realidade. Bom, é bem verdade que os doentes daqui são bem
diferentes daqueles do hospital-escola...
Dra. Vera - É...
Doutor - A experiência é que vai nos ensinando a tratar desses casos...
Dra. Vera - Pois é... O senhor sabe que eu fiquei impressionada como aquele
doente de tuberculose... Ele tinha uma dificuldade incrível de entender o que eu
falava.
Doutor - Pois é isso que eu digo sempre. Nós devemos orientá-los, educá-los.
Não é só dar remédio, não minha amiga! Nós temos que assumir também os
nossos compromissos sociais e educacionais!
Dra. Vera - O senhor tem toda razão!
Doutor - (bebendo) É...
Vera almoça pensativa. Corta. Som em off de rádio. Podemos ouvir claramente
a vinheta da Rádio Globo. Plano Geral. Travelling lateral mostra ao longe um
conjunto de prédios e em primeiro plano uma construção de madeira à beira de
uma espécie de rio e muito mato. De dentro do cômodo de madeira sai João.
87
Ele desce alguns degraus tirando da boca uma prótese dentária que logo em
seguida ele escova em uma bacia com água. Percebemos então que o cômodo
de madeira é o banheiro. Esposa de João ( em off) João vem cá tomar seu
remédio! Amanhã você tem que ir no posto!
Plano Geral. João caminha em direção a sua esposa com jeito aborrecido.
João (caminhando em direção à mulher) - Ah! Tem não! Já to bom! Tô me
sentindo bem. Sem tosse... tô bem aí!
Travelling. João e sua esposa estão na porta de um cômodo do outro lado do
quintal. Parece uma cozinha: há um pano de prato pendurado ao lado da porta.
Esposa de João (entregando os remédios e um copo d’água) - Que besteira é
essa homem? Se o medico mandou voltar, tem que ir!
João - Ah! Já to cansado de negócio de dormir sozinho, copo separado, de não
poder sair de casa... Tô bom!
Esposa de João - Tá, melhorou muito, mas tem que voltar! (descendo as
escadas que dão para o quintal) depois a doença volta e vai dar mais trabalho
ainda, heim!
João toma os remédios calado.
Plano Geral. Vemos parte do quintal da casa de João: um varal com roupas e
vários objetos como pedaços d emadeira e telhas no lugar de paredes.
Corta. Consultório do posto de saúde. Dra. Vera está sentada. João entra.
Dra.Vera – Então, seu João, como é que o senhor passou o mês?
João - Ah! Já melhorou muito! Quase não tenho mais tosse.
Dra. Vera - Bom! Já tomou todo o seu remédio?
João - Todo! Certinho, doutora!
Dra. Vera - Que ótimo! O senhor já trouxe sua família pra ser examinada aqui
no posto?
João - Ninguém falou nada pra eu trazer, não!
Dra. Vera - Mas como, seu João?! Essa doença, ela passa de uma pessoa
para outra.
João - Não. Lá na minha casa, minha mulher separou tudo que eu uso: prato,
garfo, copo, tudo! Até de cama eu mudei... Agora eu durmo no sofá...
Dra. Vera - Mas não precisa nada disso, seu João! O senhor não precisa
separar nem os pratos e o senhor pode dormir junto com a sua esposa.
João - Ah! É? E como é que a doença pega, então?
88
Dra. Vera - Ela passa pela tosse ou então pelo escarro. Agora o senhor vai
trazer sua família aqui no posto para ser examinada, certo? Quanto ao senhor,
o tratamento é o mesmo e os remédios também são os mesmos...
João - Sim, senhora... Eu posso passar na farmácia?
Dra. Vera - Mas é claro! Os remédios já estão todos separados. Até o próximo
mês, seu João!
João levanta e sai. Durante toda essa cena a câmera permaneceu fixa no alto.
Aos poucos a câmera vai fechando até ficar em close nas mãos da Dra.Vera
preenchendo um formulário do posto. Corta. João trabalha lixando a lataria de
um carro.
Homem (em off) E aí João !
João - Alô Boquinha! Como é que é?
Corta. Plano médio. Esposa de João e seus três filhos (dois estão vestidos com
uniforme escolar) estão no posto e ouvem as explicações da Dra. Vera sobre a
tuberculose
Dra. Vera (em off) - A tuberculose é uma doença grave! O bichinho entra no
organismo e quando o organismo está fraco, doente e cansado propicia com
que o indivíduo fique adoentado.
Esposa de João (interrompendo a médica) - Mas doutora, quer dizer que meus
filho tão doente? Corta. Plano geral. Dra Vera sentada atrás da mesa no
consultório do posto continua orientar a família de João.
Dra. Vera - Não! Eu não posso afirmar isso agora. Pelo menos antes de nós
fazermos os exames...
Esposa de João - Ah! Lá em casa separei o prato e tamos dormindo
separado...
Dra. Vera - Mas eu falei pro seu João que não havia necessidade de nada
disso. A tuberculose é transmissível pela tosse ou então pelo escarro.
Esposa de João - Ué, mas ele tosse quando dorme comigo também...
Dra. Vera - Ah! Mas depois que ele começou a tomar os remédios, ele não vai
contaminar mais ninguém. Se ele já tiver contaminado alguém. Ele já
contaminou antes de começar o tratamento. Ele já estava doente há muito
tempo atrás... Por isso que vamos fazer os exames na senhora e nos seus
filhos.
Esposa de João - E o João já pode trabalhar?
89
Dra.Vera - Mas é claro! Ele pode ter uma vida normal em todos os aspectos...
Corta. Contra-plano Dra. Vera e João ao fundo. Corta. Plano médio. Família de
João.
Dra. Vera - Agora daqui a quatro meses o seu João vai estar totalmente
curado. Agora o senhor vai com a D. Hortênsia fazer todos os exames.
João levanta abre a porta do consultório e sai junto com sua família.
Dra. Vera - Agora seu João, o senhor não se esqueça que o senhor tem que
voltar quatro vezes ainda... Uma vez em cada mês, heim! Se não a recaída é
muito grave.
Esposa de João (parando em frente à porta do consultório) - Eu não falei João,
a recaída é pior..
João (mostrando impaciência com as orientações da medica) Até pro mês!
Fade out.
Imagens de pessoas doentes em hospitais. Voz em off.
Todos os profissionais de saúde deviam conhecer a dimensão da
tuberculose no Brasil e as ações necessárias para o seu controle. O
diagnóstico e tratamento de cada caso no dia a dia dos serviços é parte de
uma luta maior contra uma doença que ainda é um problema gravíssimo nos
países em desenvolvimento. Hoje cerca de três milhões de pessoas adoecem
por ano no mundo.
Estima-se que haja cerca de doze a quinze milhões de casos ativos e
que um milhão de pessoas morram todo ano por tuberculose. No Brasil estima-
se que em 1985 houve 105 mil casos de tuberculose. O sistema de saúde
identificou 84.310 casos.
A tuberculose é uma doença com profundas raízes sociais que incide
com maior frequência nas regiões de menos desenvolvimento sócio-
econômico. O seu controle está nas mãos de todos nós profissionais de saúde
e não como alguns podem pensar só na mão dos especialistas.
Corta. Imagem (distorcida) de João caminhando na parte interna da Central do
Brasil. Fade out.
90
Apêndice II – Glossário de termos técnicos utilizados na análise fílmica.
Plano Geral – Enquadramento da câmera que mostra além dos personagens o
cenário onde se desenvolve a cena.
Plano Médio – Enquadramento da câmera que recorta a imagem a partir da
cintura do personagem.
Panorâmica – Movimento lateral da câmera para mostrar uma paisagem.
Close - Enquadramento que mostra o rosto de um personagem ou um objeto
no centro da cena.
Fade In – Início da cena por “clareamento” da câmera.
Fade Out – Escurecimento da cena indicando seu fim.
Plongé – Enquadramento da câmera de cima para baixo.
Contra-plongé – Enquadramento da câmera de baixo para cima.
Travelling – Movimento da câmera detrás para frente e de frente para trás.
Zoon – Movimento de aproximação pela alteração da lente da câmera.
91
Apêndice III – Entrevista com o produtor do vídeo
Esta seção apresenta uma entrevista com o Prof. João Luiz Leocádio
que integrou a equipe de produtores do vídeo “Tuberculose: um perigo real”
além de coordenar o Laboratório de Vídeo Educativo nessa mesma época.
Pesquisadora: A produção do vídeo “Tuberculose: um perigo real”
é fruto de um convênio entre o NUTES e Ministério da Saúde como parte
de um projeto que tinha objetivos bem definidos. Quais eram esses
objetivos?
Entrevistado: Vários objetivos! É importante primeiro registrar que o
vídeo não era uma peça isolada. Ele fazia parte de um conjunto de materiais
educativos que eram acompanhados, então por um livro-texto, esse livro-texto
tinha alguns casos clínicos. Tinha toda uma metodologia de ensino que era
apoiada por audiovisuais. Um conjunto de slides, na realidade um conjunto de
slides-som, um audiovisual com uma narração e diálogos sobre o tema da
tuberculose e também o vídeo. Então cada produto, cada material audiovisual
tinha um objetivo dentro de um conjunto que tinha um objetivo maior, ou seja, o
fortalecimento do ensino da tuberculose nas faculdades de medicina. O grande
objetivo era reduzir o índice, a prevalência, né enfim... A questão mais
epidemiológica. Então a ideia era reduzir o número de casos de tuberculose no
país e uma das estratégias definidas pelo ministério da saúde era a melhoria
do ensino da tuberculose nas faculdades. Dentro desses objetivos chegou-se à
produção de materiais educativos que tinha o livro, que tinha o vídeo que tinha
os slides pra desenvolver essa ação educativa nas universidades.
Pesquisadora: Houve uma “encomenda” do vídeo? O que foi
solicitado? Qual era a expectativa? Qual era a base dessa solicitação?
Entrevistado: Do ponto de vista epidemiológico a tuberculose era uma
doença presente na sociedade brasileira e tinha indicadores preocupantes pro
governo e o governo tava empenhado na melhoria... Desde a colocação do
medicamento no posto de saúde, desde a presença e acompanhamento dos
casos detectados, a ideia de você também não perder esse paciente no
primeiro atendimento, acompanhar esse paciente são varias questões afetas a
92
questão da tuberculose, quer dizer: como é que se combate a tuberculose?
São varias ações. Então dentro dessas ações a questão educativa, a questão
da formação médica para a detecção precoce, e o acompanhamento clinico do
paciente eram questões importantes que precisavam ser vistas com algum
cuidado. Havia a necessidade de esclarecer, por exemplo, que o exame é um
exame simples feito através da coleta de escarro, então um exame muito
simples e por ele ser simples não era pra ser desprezado, não precisa ser um
exame muito complexo, então valorizar a simplicidade do exame... Então tinha
vários objetivos e era preciso conter nos materiais educativos... Então têm
pacientes que são somente acompanhados com medicação do posto de saúde.
Você precisa detectar o que afeta os familiares, quer dizer os próximos, são os
comunicantes. Então você tem que abordar também a família. Então não é um
tratamento só do paciente... Formar o médico sobre o tratamento da
tuberculose... Vários assuntos eram tratados em diferentes materiais. O vídeo
tem como premissa talvez principal a sensibilização, a mobilização médica para
atender o paciente com certa atenção. Muitas vezes a tosse crônica é uma
evidencia não é a única, mas é uma evidencia... Valorizar isso, perceber essa
persistência, indagar o indivíduo sobre as suas práticas, enfim, olhar pro
paciente de uma maneira mais cuidadosa, pra não dar simplesmente um
remedinho pra cuidar da tosse e mandar embora. Tentar perceber que pode
ser um caso de tuberculose. Então o vídeo tem como principal característica
sensibilizar o médico pra pensar na tuberculose.
Pesquisadora: A sequência: mostrar o sofrimento com o
atendimento superficial, a insegurança frente a doença, o desamparo
diante do não acesso aos medicamentos, a reflexão dos médicos, o
acesso a um posto que presta bom atendimento, o envolvimento da
família e a cura – nessa ordem – tem um propósito claro? Qual?
Entrevistado: O roteiro foi trazido pelos médicos, eram situações que os
médicos relatavam que eram os problemas. Quais eram os problemas? O
atendimento rápido, o atendimento não atencioso. A gente de alguma maneira
colocou no vídeo as situações relatadas pelos médicos como sendo aquelas
que preocupam como a baixa qualidade do atendimento médico. Se é o
atendimento rápido, se são muitos pacientes que têm que ser atendidos dentro
93
do período do plantão médico, se o medico não tem um apoio de enfermaria,
se falta medicamento no posto. Todas essas questões que são afetas ao
combate da tuberculose foram trazidas para dentro do vídeo a partir do relato
dos médicos. Então os médicos, eles cooperaram na construção do roteiro
relatando cada um ao seu tempo fatos e situações que representavam
preocupação e que poderiam ser indicadores de baixo sucesso na campanha
da tuberculose. Então esses casos relatados é que foram escolhidos para
serem retratados no vídeo.
Pesquisadora: Na cena em que os dois médicos conversam e que o
médico mais velho a orienta dizendo que o médico tem um papel que vai
além da consulta. Você acha que essa postura pode comprometer a
autonomia do paciente no processo de tratamento da tuberculose?
Entrevistado: No caso do vídeo nós privilegiamos que o médico mais
experiente passasse para a médica mais jovem a necessidade de ela se
preocupar com o individuo de uma maneira mais completa. Então a relação
médico – paciente que é uma questão importante no atendimento médico, ela
ganhou um lugar privilegiado e que tá representado nessa cena de um médico
mais experiente apresentando pra ela como é importante uma abordagem
completa da família, dos que vivem, em torno. De compreender quais são os
hábitos familiares, convívios, as práticas sociais pra poder localizar inclusive os
novos casos. O tuberculoso, inclusive quando ele antecede seu tratamento, ele
é um potencial disseminador da doença então é muito importante fazer essa
detecção do entorno. Então atendimento não é simplesmente chegar no
diagnóstico da tuberculose, isso não é suficiente. Você precisa se aproximar
muito mais dele pra poder colher dele de uma maneira cooperativa esses
outros personagens... A busca ativa vai ter que ser feita pra trazer pra
tratamento. Então o médico mais experiente estava apresentando esse
contexto de dar importância que é de reconhecer a tuberculose como uma
questão mais ampla e não isolada.
A questão não é da autonomia dele de cuidar de si mesmo. A questão é
que o sistema de saúde tem que tratar além do individuo a comunidade por
onde ele circula. Isso é muito importante! A detecção de novos casos e poder
fazer o isolamento e controle dessa doença.
94
Pesquisadora: E sobre o papel da mulher no processo de
tratamento da tuberculose que vídeo mostra?
Entrevistado: No contexto social representado, cada personagem tem
uma representação social. O individuo portador da tuberculose era casado,
tinha filhos e o lugar social da mulher... Há um destaque e a gente valorizou
isso de certa maneira daquela que cuida da família né? Ela não cuida somente
do João que era o paciente, ela também estava preocupada com as crianças e
aí propõe separar os talheres, propõe separar... “Vai dormir separado” então
ela estava numa preocupação que é própria da nossa sociedade, atribuída à
mulher, a dona da casa, a dona da família aquela que preside o espaço da
família no sentido do convívio, dos cuidados. Quem cuida da família? Então
esse lugar de representação social, ele já esta meio que constituído entre os
médicos, entre a equipe de produção, pelo diretor... Não foi inventado. Não é
uma representação social que nós inventamos, a gente retratou a sociedade
brasileira. Na sociedade brasileira prevalece a mulher no lugar de quem cuida
da família, então o filme não inventa, ele apresenta, ele busca se aproximar de
uma realidade vivida por aquele contexto social representado.
Pesquisadora: Como o vídeo foi recebido/avaliado?
Entrevistado: Muito do que ouvi e foi muito picotado... Vou te dar aqui
um relato muito pessoal que eu me lembro ... O vídeo já tem bastante tempo,
você sabe disso então não é tão vivo assim... Mas algo que me trouxe assim
muito próximo até hoje é que o vídeo conseguiu apresentar para os médicos
uma certa veracidade. Então os médicos, eles inclusive problematizavam assim
“como é bom esse médico!”. “Esse medico é muito real! “Esse médico é muito
verdadeiro, eu conheço médicos assim”. Então o vídeo, ele conseguiu, uma
certa... Na minha percepção, ser verossimilhante. Ele buscou essa questão de
ser crível. Então aquilo ali acontece? É aquilo tá bem próximo do real, ele
representa a realidade e isso favorece de certa maneira à discussão que está
sendo proposta porque ela dá ao filme uma certa credibilidade. Então o filme,
acho que ele conquistou uma certa credibilidade. Ainda que a detecção do
caso tenha sido feita por uma médica novata e que poderia se pensar : “ os
médicos experientes não têm essa percepção”. Eu acho que de alguma
maneira não. Como a gente tava falando, o estudante de medicina, a gente
95
queria levar esse debate para dentro da escola e a gente buscava de certa
maneira uma certa identificação. Que o nosso aluno de medicina se projetasse
, se identificasse com a médica pra ver, “olha como o medico recém saído,
como ele é bom, como é capaz de detectar a tuberculose, uma questão
epidêmica importante nacionalmente”. Então, assim, o filme busca essa
aproximação, então a personagem tem um certo perfil pensado para as escolas
de medicina assim como o paciente, ele foi pensado pra população que
procura o posto de saúde. Os perfis dão ao filme uma credibilidade. “Aquilo ali
é vivido!” Então essa aproximação foi buscada... Esses relatos me chegaram e
foram os que mais me marcaram...
96
Apêndice IV - Entrevista em profundidade
Pesquisadora: Qual é a história que o vídeo conta?
Entrevistado: O vídeo conta a história de uma família cujo pai (e
homem da casa) acaba pegando tuberculose. E aí começa uma peregrinação
para conseguir um atendimento no posto de saúde, no qual, quando consegue
acaba tendo um atendimento muito básico sem muita atenção (ou pelo menos
a devida atenção) do médico. Que passa um remédio... E por conta da tosse
não passar ele volta em outro posto, no qual ele consegue um atendimento
muito melhor e mais atencioso. Acaba descobrindo que está com tuberculose e
começa a se tratar. E aí mostra a relação dele com o tratamento e a relação
com a família com relação à doença.
Pesquisadora: Com qual dos personagens do vídeo você mais se
identificou? Por quê? Em que momento do vídeo?
Entrevistado: Então, eu não consigo me identificar exatamente com
algum personagem, porém acho que o personagem principal, o pai, é o
personagem que não desiste, que peregrina, busca solução para seu
problema. E ele ainda existe na nossa sociedade, assim como médicos iguais
os do vídeo.
Pesquisadora: No dia em que assistiu ao vídeo você disse:
“Ele encontra uma médica maravilhosa que vai fazer tudo por ele...
Me deu uma sensação de pena! Daquele indivíduo... Assim a maneira
como.... Eu sei que é preocupação. Ela demonstra que ta preocupada,
mas me dá... O diálogo deles, me dá uma sensação tipo... aí tadinho,
sabe! Coitado! ”
O que você achou da relação médico-paciente mostrada no vídeo?
Entrevistado: Acho que a relação médico-paciente que é mostrada é
muito comum hoje em dia em muitos lugares, infelizmente. Acho que é uma
relação que ou é 8 ou 80. Ou não há um cuidado, uma atenção apropriada para
97
o individuo, ou ele é tratado como um coitado que não sabe de nada e que não
tem condições.
Pesquisadora: Você também disse:
“Eu acho que o vídeo embora seja de 85 ele é muito atual... Se a gente
for ver principalmente na questão do sistema de atendimento à saúde”.
Você acha que o vídeo mostra a realidade da pessoa que procura o posto
de saúde?
Entrevistado: Sim. Acredito que o vídeo seja bem atual em vários
sentidos. Ele é atual porque muitos pacientes que vão aos postos de saúde às
vezes encontram esse tipo de atendimento, esse tipo de profissional, que não
está nem aí pra pessoa e só quer cumprir seu “dever”. Que não pensa no
cuidado na hora do acolhimento, na hora do atendimento. Que não pensa que
às vezes essa pessoa precisa de uma atenção mais especifica ou não.
Pesquisadora: O que você acha do papel da mulher no vídeo? Por
quê?
Entrevistado: Eu não gosto do “tipo” de mulher que aprece no vídeo, a
visão no qual ela é mostrada me incomoda em muitas vezes e situações. Mas
nesse vídeo não me incomodou tanto assim, né?
Mas realmente acho que mostra uma mulher que vive pra ser dona de
casa. Mostra uma mulher que embora existam muitas delas ainda hoje em dia,
acho que é um tipo de mulher antiga, presa às questões onde o machismo
impera. Onde o homem é o que trabalha e a mulher é quem cuida da casa, que
o homem é quem põe o dinheiro e a comida na mesa, e a mulher é quem cuida
dos filhos e vai para o fogão fazer a comida que o marido traz pra dentro de
casa. E acho que essa visão é machista e ultrapassada, na qual eu não
acredito.
Pesquisadora: Se você fosse fazer um vídeo educativo o que não
poderia faltar? Fale de sua experiência com a produção dos vídeos do
RAP (dos vídeos que foram produzidos desde que você está no RAP até o
último em 2011).
98
Entrevistado: Acho que o que numa produção de vídeo educativo (ou
em qualquer vídeo que traga um objetivo de reflexão) precisa existir questões,
perguntas, questionamentos. Que façam as pessoas pensarem, refletirem,
questionarem e se questionarem sobre o que tá sendo falado. Que nada seja
dado e colocado como algo fechado, que não permita o individuo de pensar e
questionar o que está sendo dito ou mostrado.
No RAP, o processo é coletivo e com esse objetivo de trazer a reflexão
do jovem para o tema abordado. Nós montamos o roteiro, atuamos, dirigimos,
fazemos câmera, luz e etc...
Por exemplo, no vídeo sobre “Alimentação saudável” nós pensamos em
não deixar nada dado, mostramos vários tipos de comida, desde salada de
alface a hambúrgueres. E trouxemos (deixamos) a reflexão para quem está
assistindo o vídeo. Quem está vendo é quem vai decidir o que é saudável para
ele.
99
Apêndice V – Transcrição do Grupo de Discussão
Questão 01:
Entrevistadora: Eu queria que vocês me dissessem sobre o que é que é o
vídeo. Esse vídeo que a gente acabou de ver: “ Tuberculose, um perigo
real”.
Janaina: Tuberculose
Risadas
Entrevistadora - Éh qual é a história que o vídeo conta? Quem são os
personagens?
Janaina: Tem o João Ele vai procurar pela tosse, pelos sintomas. Ele procura
ao médico, mais de uma vez ... Receita xarope, tranquilizante, várias coisas pra
ele. E aí persiste o sintoma fica doente e aí o amigo dele dá uma dica: ohh vai
pra tal hospital que lá eles atendem melhor. E aí ele vai. Aí a médica faz um
exame mais detalhado. Pede para ele fazer o exame primeiro. Depois que saiu
o resultado do exame, dá positivo. Aí que a médica passa as medicações pra
ele. E aí, ele vai com a família dele, ele tem que ir lá fazer o exame também
junto com ele.
Júlia: Só que a família é citada como de baixa renda, né? Não foi isso?
Janaina: Isso
Entrevistadora - O que o vídeo mostra, o que o vídeo traz pra você pra você
chegar a esta conclusão? Podem falar, à vontade.
Cláudio: Acho que é na primeira cena, que mostra ele chegando com o casaco
rasgado.
Janaína: Isso, com o casaco rasgado. Ele não tem possibilidade de comprar
remédio, porque ele não tem dinheiro pra comprar...
100
Léia: As condições da casa dele também mostra
Janaina: A mulher dele faz questionamentos sobre não ter condições de
comprar.
Cláudio: Quando eu vi agora no final. O tempo foi se passando e aí a camisa
dele foi se desgastando.
Léo: Eu vi aquilo como passa muito tempo. Ficar com a mesma camisa
rasgada. Proposital
Cláudio: Mas eu acho que isso pode acontecer. Eu posso usar a mesma
camisa mais de uma vez ainda que eu tenha uma camisa boa, de qualidade.
Léo: Ahh isso sem dúvida.
Janaína: Eu vi isso como proposital
Cláudio: Depende do que você chama como proposital.
Janaína: Depende
Cláudio: Eu acho que foi meio estereotipado. E aí facilita que a gente ache que
é uma família de baixa renda.
Entrevistadora - Quais as cenas de vídeo que te levam a esta conclusão?
Quais as cenas?
Cláudio: - As cenas (....) pra mim(...) Éh , são as cenas que mostram o lugar
onde ele mora . Deram esta sensação. E (...) a coisa do figurino deles, em
especial. Dele e da mulher se aproximarem das crianças também.
Léia: Dele e dela bebendo a cachaça, cerveja, cachaça
Janaína - Central do Brasil
Cláudio: Pegar dinheiro emprestado também
Entrevistadora - Quem são os personagens desta história? Você falou de um.
Quem são?
Júlia: São as pessoas negras de baixa renda.
101
Janaína Éh
Janaína, Júlia, Cláudio: João
Janaína – família
Cláudio: Esposa dele e dois filhos.
Entrevistadora - E Pra você, quais são os principais conflitos vividos
pelos personagens?
Janaína: Eu acho que é a questão do tratamento. Esperar o médico que vai e
pega a ficha, sei lá. A dúvida.
Léia: Aí ele espera também
Janaína: Ele vai e persiste. Estimula. Vai insiste e o brasileiro não desiste
nunca. As dificuldades de ter acesso ao medicamento.
Léia: Eu acho que ele tava esperando, porque tava incomodando muito ele.
Tava incomodando demais.
Cláudio: Eu acho que tem todo esse lance do conflito mesmo dessa coisas de
atendimento e que em algum momento passa a ser (...) pra mim (....) o conflito
ter aumentado, quer dizer, ele passa por dois hospitais, onde ele é tratado
como: ahh , qualquer coisinha ele toma um remédio e aí quando ele tem
acesso ao tratamento de qualidade ele começa, tipo: ahh, eu não to
entendendo nada , eu não sei como eu faço isso, entendeu.
Júlio: Ele tá tão acostumado com o remédio que no primeiro momento, a
médica não passa nada e aí ele pergunta: e eu não vou tomar nada? Aí ela vai
e explica pra ele.
Cláudio: E é isso, né? Tipo ele pensa: se eu não vai tomar nada, eu vou piorar.
Porque se tomando, tava piorando. Imagina se não tomar.
Janaína, Júlia, Cláudio, Léia: é verdade. E- E aí também tem o lance do:
parou a tosse, e ele já não tava querendo tomar mais. A mulher dele fez um
papel fantástico. Vamos lá, continua até o final.
102
Cláudio: A preocupação dele com a família é na hora que ele fala: você é a
cabeça da família. Persiste
Léo: Eu acho que foi isso também que eles falaram e tem o conhecimento dele
sobre tuberculose. Não sei se vocês perceberam isso.
Cláudio: Eu não sei. Eu não sabia que era através do escarro que você fazia.
Eu ia falar a mesma coisa do pulmão
Júlia: O exame do escarro era pra saber se ele tá transmitindo ou não...
Cláudio: Então, eu (...) tiveram informações ali que eu não sabia...
Entrevistadora - Então, essa pergunta eu tô querendo saber como vocês
compreenderam os conflitos dos personagens, do personagem principal.
Aí tem aqui: como que este personagem reage diante das situações,
como condições de trabalho, moradia, a relação médico-paciente, acesso
à informação, preconceito e outros.
...Essas que eu acabei de citar aqui, eu repito como moradia, relação
médico–paciente, aceso à informação, preconceito... Os conflitos do
personagem principal e são relacionados a alguns desses itens que eu
citei?
Júlia: Ele tá relacionado à questão do preconceito... Sem querer ele acabou
sofrendo preconceito. Desde o momento que ela falou que tinha que separar os
talheres, ter que dormir em lugar separado. E pra quem tem tuberculose isso não é
preciso...
Cláudio: Mas aí eu acho que aí esbarra, esbarra nisso...
Léia: Faltou esse conhecimento, é uma falta desse conhecimento...
Cláudio: eles não têm conhecimento disso, então logo se imagina que é
contagioso, pronto, separa!
Janaína: É, porque meu pai teve há pouco tempo e minha avó separou...
Léia: É... hoje em dia, né? Tem... Léo: eu lembro que enquanto a gente tava
vendo aqui, alguém falou sobre o efeito que iria ter... Ele chegou em casa e
falou alguma coisa sobre a doença...
103
Entrevistadora: Foi a transmissão...
Léo: Então... Assim, ela não sabia, mas também... Não sabia sobre os pratos,
mas sabia sobre aqui nos...
Júlia: Porque ele foi no médico e a médica não falou que poderia ser
transmitida... Aí ele chegou em casa... Tem a família dele... Ele conversou com
a família dele e contou pra família dele que tava com tuberculose...E foi aí que
ela falou que é contagiosa...
Janaína: Ah é...
Júlia: e que deveria separar...
Cláudio: Sim! Mas se a gente for parar pra analisar ela tinha uma informação
anterior... da vizinha que tinha ficado doente...
Júlia: Então... A mulher, a esposa dele falou, mas a médica não falou que
poderia ser transmitida...
Cláudio: Sim! Não falou pra ele, poderia ter falado...
Janaína: Mas a médica só falou pra ele 30 dias depois... Ela fala o senhor
pode trazer sua família... tem falar primeiro...
Léo: É verdade!
Léia: É falta de informação sim!
Entrevistadora: Verdade, quando ela fala para o médico que ele não
entende a informação dela, mas também ela não tem uma informação
completa...
Questão 03
Entrevistadora - Como vocês veem a reação tanto de João quanto da
esposa diante desse diagnóstico de tuberculose e as escolhas deles
diante dessa avaliação e as práticas deles?
Léia: Eu achei interessante porque ele não ficou tão abalado, mas sim tem
mais preocupação em não transmitir pros filhos dele... “que eu vou fazer”
104
Janaína: acho que as coisas práticas é isso que já foi falado... separar... “você
vai dormir aonde?” no sofá, vai ficar separado dela...
Entrevistadora: Essa separação pode ser mais um conflito, além da
espera no atendimento, da relação medico-paciente?
Janaína: Acho que sim ... Ele tava naquela coisa, já não queria tomar mais o
remédio porque ele achou que tava melhor e por conta dessa separação que
ele tava se sentindo só... Então ele queria abandonar o tratamento... Então isso
já é um conflito...
Léo: Conflito, acho que não porque assim... foi uma ideia que... ela não impôs
pra ele... ele também deu algumas...
Cláudio: eu acho que não foi um conflito... é algo conjunto..
Janaína: Mas não deixa de ser um conflito...
Cláudio: É um conflito que existe desde o início até o final, mas que só vai ser
encarado como um problema no final porque é quando ele começa... vai
ficando melhor. A decisão de conjunto que eles tiveram já pra ele já pesa.
Janaina: Não, ele sabe que é pro bem da família, mas mesmo assim... não tira
o fato de ser um conflito porque ele vai se sentir sozinho da mesma maneira,
mesmo achando que tá fazendo o bem pra família... ficar sozinho...
Léia: é isso mesmo... nos dias de hoje. Se a mulher fala assim... dormir
separado... “Não, não dormir no sofá.. e não sei o quê...Porque hoje em dia o
homem é muito mais dependente da mulher que antigamente...
Cláudio: Mas acho que depende, depende da família... Assim, eu acho que de
repente isso não aconteceria numa família consciente do que que é a doença,
do que pode do que não pode, mas particularmente, assim eu acho que
dependeria muito porque uma pessoa e prol da família ele vai fazer... o que
que é dormir no sofá hoje em dia... em prol do bem da sua família... Então a
pessoa que não tiver acesso à informação e essas coisas, eu acho que o cara
ainda tomaria essa atitude “Não, vamos, sabe dar um tempinho...” Até porque
isso...
105
Janaína: Isso se ele gostasse da mulher...
Cláudio: Ou se então se ele não gostasse da mulher...
Léia: porque se ele não sabia que podia transmitir então ele só de achar que a
tosse tinha ido embora coisa e tal... ele já achava... não tinha vontade de
tomar o remédio...
Júlia: São seis meses de tratamento, sendo que quando chega no décimo
quinto dia ela faz um exame pra ver se tá transmitindo bacilo, se não tiver aí ela
pode voltar a vida dela normal, só que não pode fazer muito esforço até
completar três meses de tratamento
Questão 04 - As 3 respostas a seguir falam da atualidade do vídeo
Cláudio: Eu acho que o vídeo embora seja de 85 ele é muito atual... se a gente
for ver principalmente na questão do sistema de atendimento à saúde. Lívia:
Tudo a ver! Tudo a ver!
Cláudio: Hoje em dia você vai encontrar lugares que você vai ter esse tipo de
atendimento que o médico vai dar...
Léo: Eu tive.
Entrevistadora: Como foi sua experiência?
Léo: então eu tava com tosse, febre, eu fui na UPA, tive lá. A médica mandou
eu fazer Raio X, eu fiz. Aí ela olhou, fez assim uma cara feia, entendeu? E aí
mandou, me deu amoxilina e mandou eu tomar durante sete dias... E só isso...
Entrevistadora: E não te falou nada?
Léo: Falou nada...
Léia: Eu sempre pergunto, quando o médico não fala, eu sempre pergunto... É
o ideal... Mas o lance da doença tuberculose
Léo: É que tem a UPA e lá ela só me olhou com uma cara feia e me deu
remédio, só isso e me mandou pra casa, só isso...
Cláudio: O que eu acho é isso tem lugares que o atendimento nesse sentido é
diferenciado porque ele vai até você. Você não precisa fiar esperando. Você vai
106
precisar esperar para marcar, mas em algum momento aquela equipe vai te
olhar de alguma forma, mas agora quando você precisa de atendimento
imediato, você precisa de repente ... Porque no caso dele, ela já tava há dois
meses com aquela tosse, então a coisa já podia tá gravíssima e aí...
Janaína: É, mas também acontece tuberculose na Rocinha e em Rio das
Pedras... é alarmante! Muitos casos! Então se criou um problema de saúde
pública. Então o que fazer? Aí instaurou-se essa problemática... Como fazer?
Mudando a estruturado sistema de saúde pra Clínica da Família e pensar em
como ser mais eficiente... Mas também depois de um João que criou um
problema geral de muitas pessoas...
Léia: Também é muito abafado... ser casa em cima da outra...
Janaína: Sem ventilação...
Léa: Nenhuma ventilação... facilita pra pegar a doença...
Léo: Eu acho que se eu fosse fazer um filme eu gostaria de fazer igual só que
atual e com pessoas que sofreram com a doença, entendeu?
Léia: Eu trocaria a música, não gostei...
Entrevistadora: Têm várias...
Leia: A da abertura, não gostei... Acho que foi a primeira coisa que vi...
Entrevistadora: E como é que é a música do início?
Leia a: é tipo um forrozinho...
Entrevistadora: E por que você não gostou?
Léia: Achei nada a ver... colocaria um... samba antigo, bem antigo porque
Central tem tudo a ver...
Entrevistadora: Você acha que forró não?
Léia: Não!
Cláudio: Não sei...
107
Janaína: pode ser que a identidade do local pode ser de nordestino... é aí fazia
sentido a escolha...
Léo: É naquela época também...
Cláudio: Não, ele passa na Central! Não diz que ele mora na Central!
Janaína Então ele pega o trem de algum lugar e desce na Central
Léia: Aquela época é aquela época!
Cláudio: Se fosse hoje em dia gente... A Central é um lugar central Eu posso
morar perto da Central como posso passar pela central e vou para o Complexo
da Maré. No complexo da Maré o que eu mais ouço não é samba! É funk e
forró hoje em dia... Mas eu passo pela central! Então eu acho que eu não me
incomodei até porque eu nem reparei que tava tocando forró.
Léia eu reparei...
Cláudio: As outras músicas que tocaram... achei que um funk... ali naquele
ambiente onde ele morava ... Eu de repente ouviria naquela época...
Léia: Achei nada a ver...
Cláudio: Seria cabível eu ouvir...
Léo: Achei assim o local.... Comparado com a Rocinha que fica meio... Achei
até meio com ar... fora... Tem casa que fica assim de um lado e do outro... Não
tem terreno... E lá tinha, ao ar livre... Estendia roupa... Interessante isso...
Léia: Existia toda uma ventilação...
Entrevistadora: Você falou da casa dele agora, mas a gente tem uma
noção em várias cenas do banheiro como é que é , da cozinha...
Janaína: sei que tem muito mosquito...
Léia; muito mosquito, muita louça pra lavar...
Cláudio: mas acho que é real assim... ele tem um terreno, mas a casa dele é
um cubículo... Assim e levando em consideração que eles ficam mais dentro de
casa do que fora, acho que acaba...
108
Entrevistadora: Vocês observaram o banheiro?
Todos: Não!
Entrevistadora: O que vocês não usariam de jeito nenhum ou usariam de
qualquer jeito
Marcos: o que eu reparei nessa coisa da luz, pra esse vídeo eu não vi
problemas... É um vídeo de 85 e... De repente o cenário foi muito bem
pensado. Hoje em dia dentro da experiência que eu tenho eu sei que a luz é
uma coisa importante. Dependendo de onde a gente for filmar é fundamental!
Janaína: Também os planos, o enquadramento...
Entrevistadora: Tem algum que você destacou enquanto você via...
Júlia: na hora que a médica fala pra ele que ele tem tuberculose... Ah foi
aproximando... Não lembro os nomes, mas foi aproximando dele.
Cláudio: eu acho que... Também não vou lembrar os nomes... Mas eu acho...
Léia: gostei foi dele chegando...
Cláudio: quase todas as cenas... é coisa nítida ... muito estranho... que
acabo... Assim tipo falta de detalhes... Que às vezes poderiam dizer muito mais
... teve uma hora que mostrou umas panelas... eu achei... que interessante,
mas na cena seguinte não vi o que lincava uma coisa na outra...
Entrevistadora: Conexão, né então você consegue perceber porque se dá
um close naquilo dentro daquela história, porque se escolheu aquele
close naqueles objetos.
Júlia: porque eu acho que o close é mais quando é algum momento
importante, alguma reação, alguma coisa que você quer chamar a atenção
daquele momento...
Cláudio: É isso! Você quer chamar a atenção pra algo! Você quer dizer algo
com aquilo!
Entrevistadora: O close naquelas bacias ali, acrescenta pra história?
109
Janaína: Pra ele sim! Mas enfatiza a condição dele... Vai lá e mostra como ele
vai ao banheiro, como ele lava a louça, sei lá aí pra deixar meio que claro, né?
Cláudio: Me traz uma... me mostra que ele tem uma condição financeira
precária, mas não me... Ainda que seja a relação da doença com a situação da
vida do indivíduo... Lá bem próxima da doença dele, aquela forma não me traz
nada...
Janaína: Acho... A narrativa... Acho que a narrativa faz sentido mostrar não
necessariamente pra falar da doença...
Entrevistadora: O que vocês gostaram mais no vídeo pra falar desse
tema?
Léia: em vez de colocar a primeira cena ele chegando na Central. Eu colocaria
ele acordando na cama dele com a mulher dele, batendo papo com ela aí sim.
Cláudio: Não sei se seria bom ou ruim, mas senti falta de explorar ação com
outras pessoas...
Janaína: Só uma relação só, só com a família dele...
Léo: Verdade, ele brincando...
Cláudio: Eu achei que o vídeo fica muito... ele me pareceu muito... bonzinho e
ruinzinho. Tem de um lado... Tem um mal... E tem o bem. Em algum
momento... Por exemplo, mostra ele tendo dificuldade de acesso ao
atendimento... Ele encontra uma médica maravilhosa que vai fazer tudo por
ele... E a família super unida... É claro que é isso que é bom ver... Interessante.
Mas que a família ta ali apoiando... Tudo... Eu acho que na prática.. .há
controvérsias...
Léia E o fato de ser uma mulher médica... Tem muito profissional masculino
que tem um atendimento ótimo!
Janaína: Acho que eles são profissionais...
Cláudio: Mas se a gente for olhar, levar o vídeo pra uma questão de gênero.
Coloca isso: os dois médicos homens são mais profissionais...
110
Léia: E até a preocupação dela... Depois dele voltar ao trabalho... Vocês
acham que isso pode estar trazendo
Léia: Que ela é mais profissional
Janaína: É mais piedosa...
Cláudio: Que ela tá mais sensível aos problemas dos outro, do próximo... Que
eu fiquei... Quando eu vi acena eu fiquei me perguntando, tipo, eu via acena,
eu fiquei me perguntando, tipo, que é que realmente remete... Tipo assim no
momento que ela tá falando pro médico o ambiente é outro. Mostra que ela ta
num lugar...
Léia: bem organizadinho...
Cláudio: ... Um pouco acima e me deu uma sensação de pena! Daquele
indivíduo assim a maneira como.... Eu sei que é preocupação. Ela demonstra
que ta preocupada, mas me dá... O diálogo deles, me dá uma sensação tipo...
aí tadinho, sabe! Coitado!
Leia: ... De pena...
Janaína: Bondosa... Que faz pelos pobres...
Leia: Há uma incomodação deles... Queriam fazer...
Cláudio: Eu fiquei um pouco com essa sensação. Até por conta do diálogo
deles, o diálogo em si me traz esse desconforto dessa relação paternalista
porque se coloca muito isso. Muito é isso ou isso. Coloca muito as coisas, cada
um de um lado. O que é...Ele é pobre e não sabe de nada E nós somos
médicos e temos uma solução melhor para o outro. Porque não diz que eles
são ricos, mas eles têm uma solução... Um saber... Na época ela tinha o carro
do ano e ele tava lá lixando carro...
111
Apêndice VI - Roteiro de Grupo de Discussão
1. O vídeo é sobre o que? O que acontece nessa história? Quem são os
personagens?
Esta questão pretende mostrar o que os espectadores compreenderam do vídeo exibido – quem são os personagens, o que acontece com eles, onde, como, quando e por que.
2. Para você quais são os conflitos vividos pelo personagem principal do
vídeo?
Esta questão se refere à maneira como os espectadores veem os personagens: as experiências vividas e quais as atitudes tomadas por esses personagens diante de situações como suas condições de trabalho e moradia, relação médico-paciente, acesso à informação, preconceito e outros.
3. O que você acha da postura (reação) do personagem principal diante do
diagnóstico de tuberculose?
Esta questão pretende mostrar a maneira como os espectadores se posicionam em relação às atitudes e justificativas dos personagens. Pretende-se observar a afinidade dos espectadores com as escolhas feitas pelos personagens a partir da avaliação que estes espectadores fazem das práticas dos personagens.
4. Como você faria um vídeo com esse mesmo tema? Faria de forma
diferente? Que outros personagens e situações poderiam fazer parte
dessa história? De que forma? Que mudanças você faria no vídeo?
Esta questão procura mostrar de que maneira os recursos estéticos são considerados/utilizados. Em quê os espectadores concordam e discordam em relação às escolhas do vídeo exibido.
112
Apêndice VII – Questionário Sociocultural
Esse questionário faz parte de uma pesquisa do LVE / NUTES / UFRJ,
sobre produção e recepção de vídeos educativos para Educação em Saúde.
Questionário 01 Nome_________________________________________________________
1.Idade: _____ anos completos.
2.Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Trabalha: ( ) Sim ( ) Não
4 Carteira assinada: ( ) Sim ( ) Não
5.Estuda:
( ) Sim – Em que ano? ______
( ) Não – Em que ano parou? ______Há quanto tempo? ______
6. Fez ou faz algum curso além desse? Qual?
______________________________
7. Você segue alguma religião? ( ) Sim ( ) Não
Qual?___________________
8. Você nasceu no Rio de Janeiro?
( ) Sim
( ) Não Em qual cidade? __________________________________
9. Sua família é de qual região do Brasil? ______________________________
10. Qual é a escolaridade de seus pais? _______________________________
11. Você gosta de assistir a filmes? ( ) Sim Não ( )
12. Que tipo de filmes?
113
( ) Ação ( ) Comédia ( ) Romântico
( ) Ficção Científica ( ) Infantil
13. E seus pais gostam de assistir a filmes?
( ) Sim Não ( )
14. Que tipo de filmes seus pais gostam de assistir?
( ) Ação ( ) Comédia ( ) Romântico
( ) Ficção Científica ( ) Infantil
15. Quais vídeos ou filmes você assistiu recentemente?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
16. Quais vídeos ou filmes que você assistiu você gostaria de ter feito?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
17. Gosta de vídeos educativos?
( ) Sim ( ) Não
18. Por quê?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
19. Lembra de ter assistido a vídeos educativos recentemente? Quais?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
20. Se você fosse fazer um vídeo educativo o que não poderia faltar?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
114
1 - Com que frequência você assiste/acessa os seguintes meios de comunicação? (marque com um X apenas uma opção por linha)
Todos os dias
Entre 4 e 6 dias por semana
Entre 1 e 3 dias na semana
Algumas vezes por mês
Nunca Não sei
1.1 - Televisão 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□
1.2 - Jornal impresso
1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□
1.3 - Rádio 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□
1.4 - Internet 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□
1.5 - Revistas 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ 6□
2 - Abaixo há uma lista de temas. Por favor, diga-me se você tem MUITO interesse, MÉDIO interesse, POUCO interesse ou NENHUM interesse em cada um deles. (marque com um X apenas uma opção em cada linha)
Temas Muito interesse
Médio interesse
Pouco interesse
Nenhum interesse
Não sei
2.1 - Política 1□ 2□ 3□ 4□ 5□
2.2 - Arte e cultura
1 □ 2□ 3□ 4□ 5□
2.3 - Medicina e saúde
1 □ 2□ 3□ 4□ 5□
2.4 - Ciência e tecnologia
1 □ 2□ 3□ 4□ 5□
2.5 - Esportes 1 □ 2□ 3□ 4□ 5□
2.6 - Meio ambiente
1 □ 2□ 3□ 4□ 5□
2.7- Viagem 1 □ 2□ 3□ 4□ 5□
2.8 - Economia 1 □ 2□ 3□ 4□ 5□
2.9 - Religião 1 □ 2□ 3□ 4□ 5□
115
Apêndice VIII - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde Universidade Federal do Rio de Janeiro
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “PRODUÇÃO E RECEPÇÃO AUDIOVISUAL EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE: leituras de jovens do RAP da Saúde sobre um vídeo educativo” desenvolvida pelo Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde – NUTES/UFRJ, sob responsabilidade do Prof. Dr. Luiz Augusto C. de Rezende Filho e da mestranda Denise Pires de Andrade. O objetivo desta pesquisa é conhecer as percepções de jovens integrantes do Projeto RAP da Saúde sobre o uso do vídeo para a educação em saúde.
A pesquisa será realizada em três etapas: 1) Entrevistas informais com os participantes do projeto pesquisado; 2) Realização de Estudo de Recepção do Vídeo: “Tuberculose, um perigo real” com os participantes do projeto pesquisado; 4) Análise das respostas obtidas por meio do questionário aplicado durante a realização do Estudo de Recepção.
Sua participação nesta pesquisa é voluntária e garante-se que nenhuma avaliação, constrangimento ou impacto sobre você poderá resultar das informações coletadas durante o estudo. Você não terá nenhuma despesa ou remuneração por participar do projeto e tem a garantia de que terá esclarecimento sobre qualquer dúvida que possa ter em qualquer etapa do estudo. Também tem a garantida de liberdade para o caso de, a qualquer momento, decidir retirar seu consentimento deixando de participar do estudo, sem qualquer prejuízo. As informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros participantes e a identificação de nenhum deles será divulgada. Os dados coletados serão utilizados somente para pesquisa e os resultados serão publicados em artigos científicos de revistas especializadas e/ou congressos.
Garantia de acesso: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso ao profissional responsável que poderá ser encontrado através dos telefones: 2562-6360 e 9705-9580 (e-mail: [email protected]). Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva –IESC - www.iesc.ufrj.br
O IESC está localizado à Praça Jorge Machado Moreira, Cidade Universitária – Ilha do Fundão/Rio de Janeiro – RJ Pelo telefone 2598-9293 - De segunda a sexta-feira no horário de 13h
as 16h na sala - 15 do CEP IESC ou por meio de correio eletrônico [email protected] É importante que você leia e compreenda totalmente as informações fornecidas neste
termo. Caso tenha alguma dúvida, pergunte ao pesquisador responsável pelo estudo.
CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações sobre o estudo acima
citado que li, ou que foram lidas para mim. Eu, __________________________, discuti com a mestranda Denise Pires de Andrade, sobre a
minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos e sem a perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido. Eu receberei uma cópia desse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a outra ficará com o pesquisador responsável por essa pesquisa. Além disso, estou ciente de que eu (ou meu representante legal) e o pesquisador responsável deveremos rubricar todas as folhas desse TCLE e assinar na ultima folha. ___________________________________ Data: ____/____/____ Assinatura do Sujeito da Pesquisa Voluntários menores de 18 anos, nome Completo do representante legal: _____________________________ __________________________________ Data: ____/____/____ Assinatura do representante legal ___________________________________ Prof. Dr. Luiz Augusto C. de Rezende Filho ___________________________________ Data: ____/____/____ Assinatura do Pesquisador Responsável
116
ANEXOS
117
Anexo I – Ficha Técnica Vídeo – Tuberculose: Um Perigo Real
Campanha Nacional contra a Tuberculose - Ministério da Saúde
Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola Paulista de Medicina
Fund. Educacional do Pará
Fund. Univ. do Amazonas
Fund. Univ. Fed. do Piauí
Univ. Brasília
Univ. de São Paulo
Univ. Est do Rio de Janeiro
Univ. Fed. da Bahia
Univ. Fed do Ceará
Univ. Fed do Espírito Santo
Univ. Fed de Goiás
Univ. Fed do Maranhão
Univ. Fed de Mato Grosso
Univ. Fed de Minas Gerais
Univ. Fed da Paraíba
Univ. Fed do Paraná
Univ. Fed de Pernambuco
Univ. Fed do Rio de Janeiro
Univ. Fed do Rio Grande do Norte
Univ. Fed do Rio Grande do Sul
Univ. Fed de Santa Catarina
Univ. Fed de Sergipe
Créditos
Vera Serra
Carlos Fernandes
Jackson de Souza _________________________Dr. Modesto
Maria Salvadora ___________________________Maria
118
Idoracy Almeida ___________________________Chico
Rubens E. Bem ____________________________Médico II
Elenco de Apoio
Iolanda da P. Maria _____________________________Atendente
Marcos A. Rodrigues ____________________________Doente
Athayde Motta _________________________________Balconista
Nelson Gonçalves ______________________________Balconista
Ruth P. Amado ________________________________Funcionária
Silvia J. da Silva _______________________________Filha Menor
Rejane J. da Silva ______________________________Filha Maior
Leonardo J. da Silva ____________________________Filho
Argumento e Assessoria Educacional
Eliane Brígida Falcão
Especialistas de Conteúdo
Aunir José Carneiro
Gerson Pompeo
Roni Marques
Hisbelo da S. Campos
Gilberto R. Arantes
Antônio Rufino Netto
Fotografia e Câmera
Jonathas Costa
Produção e edição
João Luiz Leocádio
Roteiro e Direção
Emiliano Ribeiro
119
Supervisão e Operação de VT e Áudio
Ronaldo Martins
Iluminação
Gildenir Buequer
Marcos Mattos
Letreiros
Sergio Murilo
Estagiários
Athayde Motta
Marcelo Póvoa
Músicas:
“Violada” de Francisco Mário
“Prisão” de Francisco Mário
“Zé do Tamborim” de Bebeto
“Preto Velho” de Bebeto
“Looking Glass” de Ernie Watts
Agradecimentos:
Posto de Saúde da UFRJ na Vila do João;
Casa Comunitária de Manguinhos;
Moradores da Favela de Manguinhos;
CMS Penha;
Setor de Transporte da UFRJ;
Bar Candomblé.
120
Anexo II – Ficha Completa do VTE
Título: Tuberculose: um perigo real.
Cod. Vídeo: 214 Nº KM: 228 Ano: 1987 Tempo (em minutos): 26 Idioma: Português
Produtora: NUTES/UFRJ Suporte Original: U-MATIC - PAL-M
Apoio Financeiro: Ministério da Saúde
Sinopse: Mostra as dificuldades que uma jovem médica encontra para prestar atendimento correto a um homem portador de tuberculose.
Assunto: Clínica geral Autor (es) Principal CNCT-MS, NUTES/UFRJ Tuberculose NETTO, A. R.
ARANTES, G. R.
CAMPOS, H. S.
POMP, G.
CARNEIRO, A. J.
Equipe Técnica e de Produção Cargo
Athayde Motta Estagiário
Eliane Brígida de Moraes Falcão Roteirista
Eliane Brígida de Moraes Falcão Assessor pedagógico
Emilliano Ribeiro Roteirista
Emilliano Ribeiro Diretor
Gildenir Buequer Iluminação
Iolanda da Paixão Maria (Iolanda Costa) Produção
João Luiz Leocadio da Nova Produção
João Luiz Leocadio da Nova Editor de VT
João Luiz Leocadio da Nova Produtor Executivo
Jonathas Morais Costa Fotografia e câmera
Marcelo Póvoa Estagiário
Marco Mattos Iluminação
Ronaldo Martins Apoio operacional
Ronaldo Martins Operador de Áudio
Ronaldo Martins Operador de VT
Sergio Murilo Thadeu Arte
Apoio Institucional: Coordenação Nacional de Controle da Tuberculose - CNCT
Agradecimentos:
Apoio/Colaboração: FUJB Música:
Imagens cedidas:
Observação: Convênio firmado entre o Ministério da Saúde (MS) e o Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES), tendo em vista contribuir para a melhoria do ensino nos cursos de graduação em Medicina, numa perspectiva de integração docente-assistencial. Projeto de integração ensino-serviço na área da tuberculose.
João Luiz Leocadio da Nova Chefe do Lab. de Vídeo Educativo - NUTES/UFRJ