UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS UMA PROPOSTA DE METANÁLISE BIMORFÊMICA...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS UMA PROPOSTA DE METANÁLISE BIMORFÊMICA ATRAVÉS DA FORMAÇÃO DE DIMINUTIVOS Mayara Duarte Dias Rio de Janeiro 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

UMA PROPOSTA DE METANÁLISE BIMORFÊMICA

ATRAVÉS DA FORMAÇÃO DE DIMINUTIVOS

Mayara Duarte Dias

Rio de Janeiro

2017

MAYARA DUARTE DIAS

UMA PROPOSTA DE METANÁLISE BIMORFÊMICA

ATRAVÉS DA FORMAÇÃO DE DIMINUTIVOS

Monografia submetida à Faculdade de

Letras da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como requisito parcial

para obtenção do título de Licenciado

em Letras na habilitação Português/

Literaturas.

Orientador: Prof. Gean Nunes Damulakis

RIO DE JANEIRO

2017

Dias, Mayara Duarte.

Uma proposta de Metanálise Bimorfêmica através da

formação de Diminutivos/ Mayara Duarte Dias – 2017. 39 f.

Orientador: Gean Nunes Damulakis.

Monografia (graduação em Letras habilitação Português –

Literaturas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de

Letras e Artes, Faculdade de Letras. Bibliografia: f. 36.

1. Morfofonologia. 2. Metanálise Bimorfêmica. I - Dias/

Mayara II - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de

Letras, 2017 III - Título

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus por sempre estar comigo e me guiar, sempre me

orientando e iluminando meus caminhos.

À minha mãe, Monica Soares, a responsável por tudo o que eu sou, e meu pai, Jorge

Henrique Jr., por sempre me apoiar. Agradeço por serem tão companheiros e grandes suportes

para mim, por toda compreensão, amizade e confiança que sempre depositaram em mim.

À minha família, por sempre estar do meu lado e ser tão amiga. Em especial aos meus

avós, Maria dos Prazeres Soares e Luiz Gomes, por sempre incentivarem nos meus estudos.

Muito obrigada por todo carinho e amor.

Ao meu orientador, Gean Damulakis, pela oportunidade e todo aprendizado. Obrigada

por tornar essa experiência tão agradável e produtiva, sendo sempre paciente e companheiro.

Aos meus colegas de graduação, Giulia Chianello, Marcela Menezes, Marcela Paulino

e Rafael Batista, pois, sem vocês, esses últimos quatro anos não teriam sido tão importantes e

especiais. Obrigada por todo apoio e suporte, por sempre me ajudarem não só academicamente,

mas também na vida, e por me fazerem ser uma versão muito melhor de mim.

E, às minhas parceiras de vida, Nicolle Lopes e Ana Beatriz Lima, por sempre estarem

comigo mesmo com a distância. Obrigada por serem tão especiais e amigas para todas as horas.

RESUMO

O presente trabalho, desenvolvido a partir de uma pesquisa de três anos, tem por objetivo

analisar a derivação com diminutivos em nomes atemáticos que sofrem reanálise bimorfêmica

no Português Brasileiro (PB). Mais especificamente, estudamos nomes paroxítonos terminados

em sílaba travada, ou seja, com padrão silábico VC. Para isso, focamos em uma análise

comparativa desses corpora para observarmos como tal fenômeno se comporta em ambos;

verificando, também, como a acentuação dessas palavras (paroxítonas) e a configuração da

sílaba final (VC) efetivamente afetam a formação dos diminutivos. Dessa forma, para que seja

possível tal comparação, promovemos uma coleta dos dados padronizada, tantos dos

antropônimos quanto dos substantivos comuns. Nesse sentido, ambos passaram por três fases

de pesquisa, construindo, assim, um corpus em que todos os dados tenha sido submetidos ao

mesmo processo de levantamento de nomes, de pesquisa digital (que, nos antropônimos, foi

realizada em redes sociais e, nos substantivos comuns, através de buscas no Google) e por testes

de produção, voltados para o dialeto carioca. Concluímos, com esse trabalho, que, de fato,

palavras monomorfêmicas podem ser analisadas como bimorfêmicas, evidenciando isso através

da infixação, que só é possível por conta dessa nova perspectiva.

PALAVRAS-CHAVE: Antropônimos; Substantivos comuns; Morfologia; Fonologia;

Morfofonologia; Diminutivos; Afixação; Configuração monomorfêmica; Metanálise

bimorfêmica.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 11

2. REVISÃO DE LITERATURA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................... 12

2.1. A FORMAÇÃO SILÁBICA ..................................................................................................... 13

2.2. A QUESTÃO DA CODA ........................................................................................................ 15

2.3. A QUESTÃO DA VOGAL TEMÁTICA.................................................................................. 17

2.4. OS AFIXOS DE DIMINUTIVOS ............................................................................................. 19

3. METODOLOGIA E COMPOSIÇÃO DOS CORPORA ........................................................ 21

3.1. ANTROPÔNIMOS ................................................................................................................... 21

3.2. SUBSTANTIVOS COMUNS ................................................................................................... 22

3.3. AMBOS OS CORPORA ........................................................................................................... 23

4. CONFIGURAÇÃO MONOMORFÊMICA E METANÁLISE BIMORFÊMICA................ 24

4.1. O DIMINUTIVO....................................................................................................................... 24

4.1.1. AFIXAÇÃO ....................................................................................................................... 24

4.1.1.1. Antropônimos ...................................................................................... 24

4.1.1.2. Substantivos comuns............................................................................ 25

4.1.1.3. Comparação entre os corpora .............................................................. 27

4.1.2. HIPÓTESES DE INFIXAÇÃO .......................................................................................... 28

4.2. QUESTÕES MORFOFONOLÓGICAS .................................................................................... 29

4.2.1. FONOLOGIA – A CONSOANTE FINAL......................................................................... 29

4.2.1.1. A consoante /R/ .................................................................................... 30

4.2.1.2. A consoante /S/ .................................................................................... 30

4.2.1.3. A consoante /N/ ................................................................................... 32

4.2.2. MORFOLOGIA – O STATUS DA VOGAL FINAL ......................................................... 32

4.2.2.1. As vogais /a/ e /o/................................................................................. 33

4.2.2.2. A vogal /e/ ............................................................................................ 33

5. CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................. 36

ANEXO I – COLETA DE DADOS – ANTROPÔNIMOS .............................................................. 38

ANEXO II – COLETA DE DADOS – SUBSTANTIVOS COMUNS............................................. 39

ANEXO III – TESTES: SELEÇÃO DE NOMES – ANTRÔNIMOS ............................................ 41

ANEXO IV – TESTES: SELEÇÃO DE NOMES – SUBSTANTIVOS COMUNS ....................... 42

ANEXO V – MODELOS DOS TESTES .......................................................................................... 43

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho começou a ser desenvolvido no início de 2015 como um projeto de

iniciação cientifica, partindo de um interesse meu em estudar mais aprofundadamente os

fenômenos linguísticos do Português. Com a oportunidade de ser orientada pelo professor Gean

Damulakis, que me apresentou ao tema que será abordado aqui, esse estudo foi possível. E,

assim, passamos os últimos três anos o elaborando. Além disso, durante o desenvolvimento

dessa pesquisa, apresentamos o assunto em três Jornadas de Iniciação Cientifica da UFRJ,

sendo, na edição de 2017, indicado para receber menção honrosa.

Nesse contexto, esse trabalho surgiu a partir de alguns questionamentos levantados pelo

projeto de pesquisa do meu orientador acerca de como se dá a formação de diminutivos em

nomes próprios. Dessa forma, indo na direção oposta da literatura que, usualmente, trata as

questões relacionadas a formação do morfema diminutivo como uma sufixação [LEE, 1999],

notamos que a afixação do morfe –inh– em nomes como ‘Carlos’, apresentam algumas

particularidades, como já foi observado por alguns outros autores [MONTEIRO, 1999;

GUIMARÃES & MENDES, 2011], que dão margem a uma nova interpretação não só para essa

formação, mas também possibilitam uma nova leitura de estruturas como essas.

Essa nova perspectiva foi levantada devido ao fato de que, quando esses antropônimos

recebem o morfema, aparentemente o afixo se insere no interior da palavra, algo que não deveria

ocorrer caso fosse uma sufixação, assim como Monteiro (1999) já havia analisado em itens

como ‘Carlos -> Carlinhos’ e, estendendo, nessa pesquisa, para as demais possibilidades de

formações de nomes dentro do padrão VC, em itens como ‘César -> Cesinha’. Dessa forma,

isso parece caracterizar uma infixação, fazendo-nos questionar a real natureza desse afixo.

Nesse sentido, considerando que esses nomes geralmente são lidos como uma única base

morfológica indivisível por terminarem com um segmento consonantal [MEDEIROS, 2005;

ALCANTARA, 2010; MATZENAUER & BISOL, 2016], refletimos sobre uma possível

reanálise dessa visão, já que, se fosse apenas um morfe, essa inserção do afixo não seria

possível. E, para além disso, pensamos se não seria possível estender o campo de análise para

os Substantivos Comuns, que, na classificação da classe dos substantivos, representa a

contraparte dos substantivos próprios, (Ex.: ‘Açúcar -> Açuquinha’; ‘Atlas -> Atlinhas’), sob a

premissa de, tanto esses quanto os nomes próprios, possuírem o mesmo comportamento.

Apesar de, neste trabalho, estarmos mais comprometidos com a descrição dos dados

encontrados e menos com uma abordagem teórica específica, guia-nos a preocupação sobre as

especificidades da formação do diminutivo nesses antropônimos e nesses substantivos comuns,

com o intuito de descobrir se estamos diante de um sufixo ou infixo e se a palavra que serve de

base para essa afixação é composta por um ou por dois morfes. Para isso, analisaremos esse

fenômeno como produto da interface entre a fonologia e a morfologia, pensando em questões

como: a variação da consoante final; a vogal temática; e a afixação de morfes.

Com isso, esse estudo foi construído a fim de propor uma releitura de estruturas, tanto

no que diz respeito aos afixos, quanto no que diz respeito a constituição das palavras base,

guiando-nos na análise da formação de diminutivo. Dessa forma, analisaremos essa formação

a partir de antropônimos e substantivos comuns, cuja configuração é paroxítona terminada em

sílaba travada, por ser esse o contexto no qual observamos tal fenômeno (Ex.: ‘Carl/oS/ ->

Carl+inh+os’; ‘Atl/aS/ -> Atl+inh+as’).

Como abordaremos dois corpora, um voltado para Antropônimos e outro voltado para

Substantivos comuns, ambos passaram pelos mesmos procedimentos metodológicos que foram

desenvolvidos nesse trabalho. Esse processo foi realizado em 3 fases: uma de coleta de dados,

uma de verificação via redes sociais e ferramentas de pesquisa online, e um de testes

experimentais1, pelas quais tanto nomes próprios quanto os nomes comuns foram submetidos,

com o intuito de analisar os dados comparativamente e, assim, verificar tal fenômeno em

ambos.

Esse trabalho está organizado da seguinte forma: primeiro, apresentaremos as bases

teóricas e conceitos que fundamentam o nosso trabalho; em um segundo momento,

descreveremos como se deu a construção dos corpora através dos nossos procedimentos

metodológicos; a partir disso, apresentaremos a análise dos nossos dados e as hipóteses de

reinterpretação; e, por fim, trataremos das nossas conclusões, bem como, das possibilidades de

continuidade dessa pesquisa.

2. REVISÃO DE LITERATURA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Embasados na literatura para fundamentar nosso estudo, esses conceitos, assim como os

textos que nos serviram de base para eles, ajudaram a construir o pensamento por trás de tudo

que será abordado nas próximas páginas. Nesse sentido, é importante apresentá-los

previamente.

O primeiro conceito é mais geral e encabeça todo o pensamento teórico do nosso estudo.

Isso, porque, diz respeito à perspectiva linguística na qual esse estudo está inserido, trata-se do

1 Os testes representam a fala do dialeto carioca.

conceito de Morfofonologia. Essa é a área da linguística que aborda como as questões,

transformações, parâmetros e funcionamento da Fonologia influencia e modifica fatores e

fenômenos morfológicos, ou seja, é o estudo de processos morfológicos condicionados

fonologicamente. Toda a literatura que será levantada aqui direciona para o encaixe do trabalho

nesse conceito.

Além disso, é interessante, também, apresentar as noções por trás dos conceitos que

embasam a constituição dos corpora, sendo eles: Antropônimos e Substantivos comuns. Nesse

sentido, trataremos aqui das definições semânticas que englobam esses rótulos, a partir do que

Bechara (2015), na Moderna Gramatica Portuguesa, conceitua. Com isso, tendo em mente que

essas categorias são subclassificações da classe de palavras dos Substantivos, no qual é

caracterizado por serem palavras que “... em primeiro lugar, [designam] substâncias (homem,

casa, livro) e, em segundo lugar, quaisquer outros objetos naturalmente apreendidos como

substâncias, quais sejam qualidades (bondade, brancura), estados (saúde, doença), processos

(chegada, entrega, aceitação) ” [BECHARA, 2015, pg. 119]. Nesse sentido, podemos definir

antropônimos, palavra originada do grego composta por ‘antropo’ (pessoa) e ‘ônimo’ (nome),

como a classificação dos nomes que designam indivíduos, sendo, no caso, pessoas, e

substantivos comuns como classificação dos nomes que designam coisas, noções, objetos.

Nesse contexto, a teoria e conceituação que especificam o tema dessa pesquisa se divide

em quatro eixos: a formação silábica; a questão da coda; a questão da vogal temática; e os afixos

de diminutivos.

2.1. A FORMAÇÃO SILÁBICA

Para abordamos esse assunto, é necessário entender o tipo de padrão estrutural dos quais

tratamos nos nossos corpora. Dessa forma, nessa seção, trataremos do motivo pelo qual as

palavras que serão analisadas no desenvolver desse trabalho estão configuradas no seguinte

formato: nomes paroxítonos terminados com sílaba final travada (VC).

Precisamos falar um pouco da estrutura das sílabas no Português, seguindo os preceitos

estabelecidos em Silva (2005), em seu livro Fonética e Fonologia do Português. Na sílaba há

três posições, sendo duas delas, o onset e a coda, preenchidas por consoantes, enquanto o lugar

da vogal é o núcleo, sendo, assim, o elemento essencial para a construção silábica por ser o

ponto mais forte da sílaba pelo fato de que é o lugar em que o acento recaí, assim como afirma

Camara Jr. (1985). A coda, posição silábica que está em evidência nessa pesquisa, só pode ser

preenchida por quatro seguimentos consonantais: /R/, /S/, /N/ e /L/, marcando o travamento da

sílaba, além disso, é o ponto decrescente da sílaba, por marcar a perda da força da vogal,

caracterizando-se, então, por ser o ponto mais fraco. Dessa forma, essa posição tem destaque

nesse estudo por ser muito suscetível ao enfraquecimento, tal qual Collischonn (2010) constata

em seu artigo Traçando percursos da Fonologia, cujo objeto é mostrar a evolução dos estudos

fonológicos a partir de um levantamento dos trabalhos sobre o assunto que foram desenvolvidos

nas últimas décadas, ao citar que “Leite, Callou e Moraes (2002) propõem que estaria em curso

uma mudança no sentido de tornar as sílabas fechadas (CVC) em abertas (CV) no português

brasileiro” [COLLISCHONN, 2010, pg. 202], ou seja, que a coda estaria em processo ou de

abrandamento ou de queda, de modo a abrir as sílabas.

Com isso, outro fato importante para ser compreendido é a influência da acentuação nos

processos de variação da coda. Para isso, definiremos o que vem a ser o acento, de acordo com

que Camara Jr. (1985) conceitua:

“é uma maior força expiratória, ou intensidade de emissão, da vogal de uma

sílaba em contraste com as demais vogais silábicas. Ele pode incidir na última

[oxítona], penúltima [paroxítona], antepenúltima [proparoxítona] (...) de um

vocábulo fonológico. ” [CAMARA JR., 1985, pg. 63].

Em outras palavras, o acento marca a sílaba mais forte, ou seja, cuja pronuncia é mais

intensa, sendo essas chamadas de tônicas. As sílabas anteriores a tônica são as pretônicas, e as

posteriores, são as postônicas, que são átonas, ou seja, não recebem acentuação e, assim,

acabam por ser pronunciados com uma intensidade menor, tornando-se mais suscetível à

fenômenos variacionistas, como a lenição.

Dessa forma, pensar o padrão acentual também é importante, visto que nossos corpora

demandam uma especificação da acentuação da palavra. Nesse sentido, trabalharemos com as

paroxítonas. Isso se deve por duas questões que explicam o porquê de não analisarmos oxítonos

ou proparoxítonos, além do fato de que palavras paroxítonas são as mais comuns na língua.

O primeiro fator é voltado para as palavras cujo acento marca a sílaba final, ou seja,

palavras oxítonas, trata-se do fato de que essas formações formam um contexto de afixação de

–zinhx, restringindo as formações infixal a algumas exceções, já que, nesse contexto, o

diminutivo se dá, quase categoricamente, com '-zinho': ‘Gilmar -> Gilmarzinho’, e, assim, não

permitem a análise que propomos nesse trabalho. No caso dos proparoxítonos, aparentemente,

estão envolvidas outras questões além de apenas a afixação, como em casos como ‘Jeferson’

que forma diminutivos como ‘Jefinho’, com o encurtamento da base, mais frequentemente que

'Jefersinho', então, para esse grupo de palavras é preciso de um estudo diferenciado.

2.2. A QUESTÃO DA CODA

A partir do que foi visto na seção anterior, é notável que a coda acaba por ser o local

mais suscetível a mudanças fonológicas, sendo a posição mais fraca da sílaba. Nesse sentido,

falar de uma consoante em posição de coda na sílaba final de uma palavra paroxítona, é abordar

um contexto com um alto grau de enfraquecimento desses segmentos fônicos, deixando-os

expostos, inclusive, a quedas, que, no caso da sílaba final é chamada de apócope.

Esse contexto de enfraquecimento, levando a lenição ou a queda absoluta do segmento

consonantal, existe desde a formação do Português e se manifesta até hoje (Ex.: Cléber ->

Clébe; Dólar -> Dóla). Assim como é abordado nos textos de Araújo (2005) que, em seu artigo

Metaplasmos: um paralelo diacrônico e sincrônico, trata de mudanças fonéticas no português

desde o nascimento dessa língua, que continua em constante processo de mudança; e Silva

(2013) que, em seu artigo Gramática histórica e mudança linguística no Português Brasileiro,

busca mostrar que a gramática histórica é contínua e persistente na língua e essa está sempre

evoluindo, de modo que mudanças ocorridas no passado, ainda ocorrem nos dias de hoje2.

Nesse sentido, é preciso direcionar, então, o olhar para os aspectos que serão analisados

aqui, ou seja, a apócope das consoantes finais possíveis na coda: /R/, /S/ e /N/3’4. Para isso, é

necessário levar em consideração que essas consoantes estão em contexto de variação, ora

apenas sendo enfraquecida, ora ocorrendo a queda de fato desse segmento. Dessa forma, nos

embasamos nas seguintes teorias acerca do assunto:

Utilizaremos, para abordar o segmento /R/,um estudo de Callou & Serra (2013),

chamado A interrelação de fenômenos segmentais e prosódicos: confrontando três

comunidades, em que as autoras abordam mais especificamente a variação da vibrante em

contexto de coda, comparando três regiões do Brasil: Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Nesse estudo, elas se preocupam em “tratar de forma sistemática de apagamento variável do R,

2 Apesar dessa parte da Literatura não se aprofundar nos casos a serem analisados nesse trabalho, ela

serve de base para a interpretação sincrônico-diacrônica da variação na língua. 3 No caso da consoante /N/, trataremos aqui a perspectiva de Mattoso (1985) de que ela não costuma ser

realizada, mas sua queda é antecedida pela nasalização da vogal precedente. A questão da variação, aqui, envolve

a desnasalização da vogal. 4 Há também o /L/, mas, devido ao fato dele ser foneticamente pronunciado como um glide, decidimos

por não abordá-lo nessa pesquisa.

em coda silábica final” [CALLOU & SERRA, 2013, pg. 585], levando em consideração a

interrelação de aspectos segmentais e prosódicos.

Para abordar o segmento /S/, apoiamo-nos em duas teorias referentes ao assunto: a

primeira é a de Bermúdez-Otero (2006), que trata da questão dos nomes pseudo-plurais para o

espanhol; e a segunda, de Cunha & Florencio (2009), que aborda a variação das sibilantes no

dialeto carioca.

No artigo Spanish pseudoplurals: phonological cues in the acquisition of a syntax-

morphology mismatch, Bermúdez-Otero (2006), em um trabalho voltado para o espanhol,

levanta uma discussão acerca do caráter da consoante /s/, revelando que esse segmento tem

duas margens de leitura, quando se trata de seu comportamento como coda de nomes. Nesse

contexto, ele separa esses nomes em dois grupos: os nomes atemáticos e os nomes Pseudo-

plurais, que ele conceitua como os nomes cujo contraste de número (singular e plural) são

morfologicamente neutralizados, mostrando as particularidades morfológicas desse elemento

em cada uma dessas interpretações. Dessa forma, utilizaremos tais ideias defendidas pelo autor,

comportando-as no Português, para entender um pouco do fenômeno, no que diz respeito ao

comportamento das palavras com essa consoante, apresentado no presente trabalho.

Em Estudo do –S em coda silábica: uma perspectiva funcionalista, Cunha e Florencio

(2009) investigam a variação desse segmento para observar seu comportamento em coda

externa e interna. Trata-se de um estudo voltado para a fala do município de Niterói no RJ, em

que as autoras buscam “traçar um contínuo com os dados examinados e analisar qual o papel

da frequência na realização das não palatais de –S em coda” [CUNHA & FLORENCIO, 2009,

pg. 59]. Para tal, esse artigo explora a variação desse seguimento através de suas variantes

possíveis, sendo elas: palatal-alveolar, aspirada e apagamento. Com isso, utilizaremos os dados

e resultados desse trabalho para analisar o caso dos nomes terminados em /S/.

Por fim, verificaremos a consoante /N/ a partir de Fagundes, Gomes & Mesquita (2013),

que investigam a variação entre ditongos nasais5 átonos e vogais orais. Em Revisitando a

variação entre ditongos nasais átonos e vogais orais na comunidade de fala do Rio de Janeiro,

as autoras estudam esse fenômeno, partindo de dados da Amostra Censo 2000. Com isso, elas

buscam “discutir a natureza da variação ditongo nasal átono e vogal oral no Português Brasileiro

a partir de dados de produção espontânea de falantes nativos da comunidade de fala da cidade

5 Classificação atribuída por Câmara Jr. (1985) a construções silábicas cuja coda é nasal, por entender

que a relação desse segmento com a vogal anterior se constitui como um ditongo.

do Rio de Janeiro” [FAGUNDES, GOMES & MESQUITA, 2013, pg. 155]. Deste trabalho, nos

apropriaremos de alguns dados e resultados para pensar a questão da apócope de /N/.

2.3. A QUESTÃO DA VOGAL TEMÁTICA

Para pensarmos nas novas possibilidades de análise dos nomes que constituem nossos

corpora, é essencial tratarmos do conceito de Vogal Temática. Isso, porque, essa será a chave

para a compreensão do que estamos discutindo nesse estudo, como veremos posteriormente.

Para isso, refletiremos nos apropriando e, ao mesmo tempo, reconsiderando algumas questões

abordadas pelos autores a seguir.

Medeiros (2005), em seu artigo Vogal Temática Nominal, preocupa-se em fazer

algumas considerações acerca dos diversos pontos de vista e compreensões acerca do assunto.

Com isso, o autor apresenta como objetivo de seu trabalho a busca pelo “perfeito entendimento

do que se entende sob o rótulo de vogal temática” [MEDEIROS, 2005]. Nesse contexto, o

pesquisador define e reafirma questões como: a função classificatória da vogal temática; o

caráter tanto sincrônico quanto diacrônico desse item morfológico; e a função de atualizador

lexical dela; além disso, ele faz algumas considerações sobre o caráter seletor de alomorfes da

vogal temática. Por isso, utilizamos esse texto como ponto de partida para pensarmos o assunto.

Alcântara (2010), em seu artigo As classes formais do Português Brasileiro, se propõe

a analisar grupos temáticos que compartilham a mesma terminação. Com isso, a autora

fundamenta-se na teoria da Morfologia Distribuída para abordar o assunto. Para tal, ela guia-se

pelo objetivo de

“descrever o papel desempenhado pelas vogais átonas finais /a, e, o/,

interpretadas como “morfemas de classe formal” ou vogal epentética, no caso

da vogal /e/, investigar a constituição de cada classe formal no português bem

como a relação entre gênero e classe formal.” [ALCÂNTARA, 2010, pg. 5].

Com isso, ela apresenta uma visão geral das classes formais dos nomes, para, então

tratar do assunto pelo olhar da Morfologia Distribuída. Dessa forma, descreve essas classes de

modo a caracterizar cada uma delas, sendo a Classe I composta pelos nomes terminados em /o/,

a Classe II, em /a/ e a Classe III, em /e/ de forma aprofundada. Para além disso, a autora também

cita uma quarta classe, sendo essa representada pelos nomes atemáticos, porém ela não se

aprofunda nessa questão.

E, por fim, Matzenauer & Bisol (2016) que, em seu artigo O inventário e a distribuição

subjacente das vogais temática na classe dos nomes no Português, além de fazer um

levantamento das vogais temáticas, trata da

“distribuição subjacente da vogal temática na constituição e na derivação das

palavras, o estudo considera a possibilidade de a combinação de sufixos

ocorrer com raízes ou com temas e adota a derivação com base no tema,

admitindo que o tema está armazenado no léxico profundo; assim sendo, a

vogal temática está na base do processo de derivação dos nomes da língua

desde a subjacência. Na observação de fenômenos da gramática do português,

três tipos de critérios dão suporte a essa posição: critério morfofonológico,

critério morfológico e critério semântico. ” [MATZENAUER & BISOL,

2016, pg. 341].

Nesse contexto, as autoras tratam o assunto de modo a avaliar o como as vogais

temáticas influenciam no processo derivacional. Dessa forma, elas defendem que a derivação

se baseia na vogal e não na raiz para a afixação de morfes e, para isso, fazem considerações

teóricas acerca do conceito de vogal temática. Tal abordagem será aproveitada para as análises

que faremos no presente trabalho e esse será o suporte fundamental para esse aspecto,

principalmente, por retomar as noções apresentadas em Alcântara (2010).

Dessa forma, tanto Alcântara (2010), quanto Matzenauer & Bisol (2016) se propõem a

realizar um levantamento das Vogais Temáticas Nominais, conceituando-as e qualificando-as,

ao partir das leituras de autores como Câmara Jr. Dessa forma, define-se Vogal Temática tanto

verbal quanto nominal como índice temático ou morfema de classe formal, cuja a finalidade é

puramente classificar as palavras de uma determinada classe. Essas palavras são divididas em

4 tipos: nomes em /o/ (Ex.: ‘Cels-o’; ‘Livr+o’), nomes em /a/ (Ex.: ‘Amand+a’; ‘Mes+a’),

nomes em /e/ (Ex.: ‘Felip+e’; ‘Pel+e’) e nomes atemáticos (Ex.: ‘André’; ‘Mão’; ‘Jovan’;

‘Celular’); essas vogais somadas a raiz das palavras constituem o tema, sendo composto por

duas bases, enquanto palavras atemáticas são construídas apenas pelo radical, sendo composta

por apenas uma base.

Outro fato que é tratado unanimemente por esses autores é quanto ao caráter de cada

uma dessas classificações. Para eles, as vogais /o/ e /a/ são legitimamente temáticas, já a vogal

/e/, por ter um caráter epentético e entrar na estrutura superficial da palavra, é mais instável

como vogal temática, sendo suscetível a ser substituído pelas vogais temáticas legítimas em

contextos de afixação; os nomes atemáticos são aqueles cuja sílaba final é tônica, ou terminados

em ditongos, ou terminados por consoantes.

Para fins de compreensão da análise, é importante, também, entender um pouco acerca

do que se trata uma epêntese, de modo a explicitar o porquê da vogal /e/ se diferenciar de /o e

a/. Dessa forma, retomando o texto de Matzenauer & Bisol (2016), entendemos que se trata de

uma vogal inserida na estrutura de superfície da palavra, ou seja, assim como dizem as autoras:

“assume-se que a vogal /e/ é chamada para ocupar, na estrutura de superfície, o espaço que a

morfologia do português destina à vogal temática” [MATZENAUER & BISOL, 2016, pg. 351].

Para chegar a tal conclusão, elas se apoiam em alguns critérios de análise dessa estrutura que

serão abordados posteriormente.

A partir disso, esse trabalho busca pensar no que acontece com estruturas que

geralmente são interpretadas como atemáticas quando sofrem algum fenômeno de variação

fonológica, como o que vimos na seção anterior. Nesse sentido, refletiremos aqui sobre a

possibilidade dessas palavras se tornarem temáticas e como o processo de afixação de

diminutivos evidencia essa nova leitura.

2.4. OS AFIXOS DE DIMINUTIVOS

Além da vogal temática, é importante também tratar do que caracteriza o morfema de

diminutivo e seus afixos, pois é através desse morfema que abordaremos essa nova perspectiva

de análise. Dessa forma, nossa base teórica desse assunto está apoiada nas seguintes referências:

Lee (1995), cujas propostas sobre as características derivacionais do diminutivo discutiremos;

e Monteiro (1999) e Guimarães & Mendes (2011), cujas propostas de tratar algumas formações

de diminutivo como infixação nos valemos; utilizamos também alguns preceitos acerca do

continuum flexão/ derivação elaborados por Gonçalves (2011) para guiar nosso estudo.

Apesar de Gonçalves (2001), em seu livro Iniciação aos estudos morfológicos: flexão e

derivação em Português, classificar os afixos de diminutivo puramente como sufixo, suas

reflexões acerca das características flexionais e derivacionais desse morfema de grau são

extremamente relevantes. Isso se deve ao fato de revelar que esse tipo de elemento morfológico

possui características particulares, estando quase no meio do continuum da flexão e da

derivação, pendendo mais para o lado derivacional. Dessa forma, isso mostra o quão particular

pode ser o processo de formação de diminutivos, favorecendo ainda mais a leitura infixativa.

Na literatura, não há dúvidas de que os morfes que compõe o morfema de diminutivo se

dividem em dois: -inh- e –zinhx. O conflito se estabelece no momento de definir qual a natureza

deles; enquanto alguns tratam ambos como sufixo (Ex.: ‘Vitor -> Vit+inho’; ‘Líder ->

Lider+zinho’), há outros que defendem o caráter infixal do afixo –inh- (Ex.: ‘Lápis ->

Lap+inh+o’) e o caráter sufixal de –zinhx (Ex.: ‘Miguel -> Miguel+zinho’). Essa problemática

está bem marcada através do nosso aporte teórico já citado e, a seguir, apresentaremos um

pouco da visão de cada autor.

Lee (1999), em seu artigo Sobre a formação de diminutivo no Português Brasileiro,

propõe, em um primeiro momento, que –inh- faz parte de um processo flexional, por ser sufixo,

e –zinhx, um processo de composição. Entretanto, ele mostra que o caráter prosódico do sufixo

-zinhx é diferente do sufixo –inh-, argumentando, então, que a formação de diminutivo mostra

as caraterísticas diferentes da derivação, da flexão e do composto, ou seja, essa formação tem

estatuto independente na gramática.

De acordo com a perspectiva de Monteiro (1999), em seu artigo Quem disse que não há

infixos em português?, a formação do diminutivo com –inh- trata-se de um processo de

infixação e a formação de –zinh- é dada através da interfixação de -z-, configurando um

alomorfe. Nesse contexto, ele busca, com seu trabalho refletir e rever as questões acerca da

infixação no português. Ele comprova isso ao definir e caracterizar infixo e os demais afixos e

busca diferenciar este dos demais.

E, por fim, Guimarães & Mendes (2011), em seu artigo Diminutivo em Português

Brasileiro: sufixação ou infixação, com o objetivo de analisar o morfema de diminutivo –inh-

sob uma nova perspectiva, apresentam e avaliam esse afixo com a Hipótese Sufixativa (HS),

que é desmembrada em duas: a Hipótese Sufixativa Conservadora (HS-C) [rad.+inh+VF+(s)]

e a Hipótese Sufixativa Radical (HS-R) [rad.+inha+(s)] e a Hipótese Infixativa (HI), em que

raiz e VF combinam-se formando uma base complexa. Em uma rápida abordagem, contrapõem

–inh– e –zinh–, negando a possibilidade de alomorfia. Nesse trabalho, eles descartam a HS-R,

passando a contrapor a HS-C com a HI, e, enfim, favorecem a HI.

Nesse estudo, focaremos em defender a leitura de infixação de Monteiro (1999) e

Guimarães & Mendes (2011), contrapondo ao olhar de Lee (1999). E, nesse contexto,

pretendemos analisar o como essa perspectiva abre espaço para a possibilidade de uma reanálise

de estruturas usualmente consideradas como monomorfêmicas, visto que, tradicionalmente, são

vistas como um todo morfológico, servido de base para a afixação.

3. METODOLOGIA E COMPOSIÇÃO DOS CORPORA

Nessa pesquisa, trabalhamos com dois corpora: antropônimos e substantivos comuns;

ambos com a mesma configuração: nomes paroxítonos com a silaba final travada (padrão VC),

pois como vimos anteriormente, esse é o contexto em que observamos esse fenômeno. A

metodologia utilizada para a composição desses corpora, nos dois casos, foi desenvolvida em

três fases: fase de coleta, de verificação em rede social e pesquisa experimental.

3.1. ANTROPÔNIMOS

Os antropônimos foram coletados a partir da seleção de nomes próprios, com a

configuração citada, conhecidos previamente, bem como, pesquisados em redes sociais e foram

divididos em padrões de acordo com os fonemas presentes na sílaba final. Dessa forma,

encontramos 9 padrões de nomes, sendo que o padrão 1 foi dividido em A e B. No padrão 1A,

estão os nomes terminados em /aS/ (com nomes marcados por, aparentemente, manter o

pseudo-plural6 no diminutivo. Ex.: ‘Jonas’); no 1B, /oS/ (com nomes marcados por,

aparentemente, manter o pseudo-plural no diminutivo. Ex.: ‘Marcos’); no 2, /aS/ (com nomes

marcados por, aparentemente, formar um encontro vocálico com vogais idênticas com a

afixação. Ex.: ‘Josias’); no 3, /eR/ (Ex.: ‘Cléber’); no 4, /oN/ (Ex.: ‘Cleiton’); no 5, /oR/ (Ex.:

‘Vitor’); no 6, /iS/7 (Ex.: ‘Tales’); no 7, /eN/ (Ex.: ‘Suelen’); no 8, /aR/ (Ex.: ‘César’); e no 9,

/iN/ (Ex.: ‘Kevin’). Foram encontrados 48 nomes (ANEXO I).

Após a divisão em padrões, foi verificado, através de redes sociais, a frequência dos

diminutivos, tanto com o uso de –inh- quanto com o de –zinh-. A pesquisa se deu em 4 redes

sociais, a saber: Facebook, Instagram, Twitter e Ask-me; inicialmente, o Tumblr também foi

cogitado, mas, logo no início da construção deste corpus, esse site se mostrou não-funcional

por possuir perfis de usuários muito abstratos, ou seja, não atrelados aos antropônimos dos

usuários. Em uma segunda perspectiva, o Instagram, Twitter e Ask-me foram as redes que

melhor funcionaram na pesquisa, pois exigem que o usuário crie um “nickname”, ou seja, exiba

o nome e apelido do usuário; no caso do Facebook, apesar de ter sido uma rede que apresentou,

relativamente, perfis de usuários no diminutivo, causou grandes impasses por exibir apenas o

nome dos usuários, logo não tem como ter plena certeza se o diminutivo presente no perfil tem

referência ao nome desejado. E, então, as redes foram filtradas novamente, sendo utilizadas

apenas o Instagram e Twitter por serem as mais funcionais para essa pesquisa; a exclusão do

6 Conforme proposta de Bermúdez-Otero (2006).

7 Os nomes terminados em /iS/ e /eS/ foram agrupados por serem fonologicamente pronunciados da

mesma forma.

Ask-me se deu porque essa rede é popular apenas em um determinado grupo etário, limitando,

assim, a verificação da frequência dos diminutivos.

Por fim, realizamos uma pesquisa experimental de modo a analisar quantitativamente e

qualitativamente a produção de diminutivos. Para isso, desenvolvemos testes da seguinte

maneira: dos nomes coletados, selecionamos um de cada padrão; escolhemos alguns nomes

para funcionarem como distratores e influenciadores tanto do afixo –inh-, quanto do, -zinhx;

construímos sentenças para que os falantes produzissem o nome e também sua forma

diminutiva de modo mais intuitivo possível. Além disso, foram feitas duas versões (A e B) para

que todos os alvos recebessem influenciadores tanto de do afixo –inh-, quanto do –zinhx. Dessa

forma, os testes foram realizados com 40 indivíduos, sendo 20 alunos do curso de Letras e 20

alunos dos demais cursos da UFRJ, divididos em homens e mulheres.

3.2. SUBSTANTIVOS COMUNS

A coleta de substantivos comuns se deu através do dicionário Houaiss eletrônico. Com

a ferramenta ‘pesquisa combinada’, utilizada por fornece filtros de pesquisa como

‘classificação gramatical’ e ‘terminação’, selecionamos substantivos comuns paroxítonos

terminados em sílaba final travada (VC), partindo da divisão de padrões estabelecidos com os

antropônimos (1A:/aS/ - ‘Átlas’; 1B:/oS/ - ‘Lógos’; 2:/eR/ - ‘Líder’; 3:/oN/ - ‘Cólon; 4:/oR/ -

‘Sóror’; 5:/iS/ - ‘Lápis’; 5:/eN/; 6:/aR/ - ‘Dólar’; 7:/iR/ - ‘Mártir’), e, como filtro para a

acentuação, consideramos apenas as palavras com acento gráfico; foram encontrados 234

substantivos.

Com isso, fizemos uma pesquisa de verificação da frequência de ocorrências desses

substantivos comuns na ferramenta de pesquisas do Google. Com isso, procuramos cada um

dos substantivos comuns encontrados e olhamos o número aproximado de ocorrências a fim de

ter uma noção se as palavras encontradas no dicionário eram populares ou não; esse processo

também foi aplicado nos não-paroxítonos. Nesse contexto, definimos, como linha de corte, o

número de 2.000.000 ocorrências: acima disso, seriam consideradas muitos ocorrentes e abaixo

disso, seriam pouco ocorrentes.

Por fim, realizamos testes experimentais de produção oral. Eles foram desenvolvidos da

seguinte forma: a partir da seleção dos substantivos comuns paroxítonos verificados como mais

frequentes na pesquisa do Google, foram selecionados um de cada padrão; em seguida,

selecionamos um substantivo comum não-paroxítono, que foi considerado menos frequentes,

de cada padrão e transformamos em uma espécie de logatomas8 ao acentuá-los como

paroxítonos; e, também, escolhemos nomes que funcionaram como distratores e

influenciadores de –inh- ou –zinhx (ANEXO IV); com isso, criamos, através do Power Point,

uma espécie de jogo, no qual os falantes deveriam ajudar os indivíduos de uma cidade fictícia

a nomear a versão menor de algumas formas, essas formas foram ilustradas no teste

apresentando a forma original e a forma menor e, abaixo delas respectivamente, estaria o nome

do original que seria lido e a lacuna a ser preenchida com o diminutivo (ANEXO V). Dessa

forma, os testes foram realizados com 40 indivíduos, sendo 20 alunos do curso de Letras e 20

alunos dos demais cursos da UFRJ, divididos em homens e mulheres.

3.3. AMBOS OS CORPORA

Como já foi observado, ambos os corpora passaram pelos mesmos procedimentos

metodológicos, mas, devido às diferenças entre eles, algumas alterações foram necessárias.

Entretanto, isso não interferiu na comparação que propomos nesse trabalho. Essas diferenças

se dão pelo fato de esses dois possuírem características especificas para cada, devido a sua

definição semântica indicarem contextos diferentes: enquanto os antropônimos se restringem a

um seleto grupo de substantivos que designam indivíduos, os substantivos comuns são um

grupo muito mais amplo e que agrega palavras que se encaixam nas mais diversas ocasiões,

sendo assim, é compreensível que para o desenvolvimento desse estudo sejam necessárias

abordagens diferenciadas, mas que seguem o mesmo padrão; nesse mesmo contexto, fica claro

que há diferença na quantidade de dados coletadas por conta do fato de que, assim como o que

foi exposto acerca da definição de substantivos tanto comuns como próprios, os primeiros

compõem uma parte do léxico muito mais ampla e extensa do que os segundos.

Com isso, para a análise comparativa, repensamos a organização dos padrões de modo

que esses fossem mais abrangentes para os nossos corpora. Dessa forma, a padronização, que

levava em consideração as formações VC, dividindo-se em 9/10 grupos, ganhou uma nova

forma, sendo essa uma tabela (ANEXOS I e II) que considerava, nas colunas, o grupo de

consoantes finais permitidas em coda (/R/; /S/; /N/) e, nas linhas, a vogal final (/a/; /o/; /e – i/9).

8 Palavras inventadas de acordo com a estrutura da língua. Elas são uteis em testes para verificar

fenômenos de modo a verificar como as estruturas funcionam sem a influência de certos usos que fogem ao padrão

da língua. 9 Ao tratar das vogais finais /e/ e /i/, levamos em consideração que, apesar de na escrita elas serem

diferenciadas, na produção oral, elas se neutralizam na posição átona final. Dessa forma, consideramos ambas

como um único grupo.

4. CONFIGURAÇÃO MONOMORFÊMICA E METANÁLISE

BIMORFÊMICA

Para alcançar os objetivos desse trabalho, faremos uma análise da formação do

diminutivo em palavras paroxítonas terminadas em segmento consonantal, de modo a

reinterpretar o processo de afixação de –inh- e, assim, propor uma nova leitura da composição

de palavras nesse formato. Para isso, é importante ter em mente que, usualmente, esses

vocábulos são lidos como monomorfêmicos, já que a sílaba final átona e travada caracteriza um

dos grupos de palavras conhecidos como atemáticos, como visto acima. Dessa forma, nesse

capítulo, trataremos da afixação do morfema de grau diminutivo, além das questões

morfofonológicas que guiam essa leitura.

4.1. O DIMINUTIVO

Nessa seção, abordaremos as questões relacionadas a afixação do morfema de

diminutivo. Apresentaremos nossas interpretações a partir das análises quantitativas e

qualitativas dos dados coletados durante os testes experimentais, aplicados tanto em

antropônimos quanto em substantivos comuns, comparando-os. Com isso, proporemos

hipóteses para representar a nossa leitura acerca desse fenômeno.

4.1.1. AFIXAÇÃO

Apesar dos dados entre antropônimos e substantivos comuns serem assimétricos, devido

ao fato de que a quantidades de nomes próprios encontrados na configuração exigida para essa

pesquisa ser inferior a quantidade de nomes comuns, isso não interferiu na análise que será

apresentada a seguir. Dessa forma, trataremos de cada corpus individualmente, primeiro,

abordaremos os antropônimos e, em seguida, os substantivos comuns, para, então compara-los.

Nesse sentido, buscaremos observar a produção quantitativa do comparativo entre –inh- e –

zinhx, bem como, das estruturas que se formam após a afixação.

4.1.1.1. Antropônimos

No que diz respeito à formação de diminutivos com antropônimos, os testes resultaram

em 320 produções, sendo 160 de alunos da Letras e 160 de outros cursos da UFRJ. Mais

especificamente, num comparativo entre os afixos, 249 (77,8%) correspondem a produções de

–inh-; 67 (20,9%), a produção de –zinhx; e 4 (1,3%), a produção de um terceiro afixo, que

aparenta ser um –inhx com caráter sufixal (ex.: ‘César -> Cesarinho’). É notável que mais da

metade das produções de diminutivos com nomes próprios ocorrem com –inh-. E, se olharmos,

esse comparativo fazendo um contraponto entre indivíduos da Faculdade de Letras e alunos de

dos demais cursos, a diferença será muito semelhante. Isso, porque, na Letras, houve 127

(79,2%) produções de –inh-, 30 (18,8%), de –zinhx e 3 (1,9%) do terceiro afixo; enquanto, nos

demais cursos, houve 122 (76,3%) produções de –inh-, 37 (23,1%) de –zinhx e 1 (0,6%), do –

inhx com caráter sufixal. Dessa forma, essa diferença pode ser considerada desprezível.

Para pensar a questão da consoante e da vogal final após a afixação de –inh-, é

necessário apresentar o quantitativo referente a como elas aparecem após a inserção do

morfema diminutivo. Dessa forma das 249 produções, temos os seguintes resultados:

As palavras terminadas em /a/ correspondem a 52 (20,9%) produções de infixação. Das

quais, com final /S/, 13 (25%) apresentaram a mesma terminação com a presença da consoante

(ex.: ‘Jonas -> Joninhas’) e 8 (15,4%), sem a consoante (ex.: ‘Jonas -> Joninha’); com final /R/,

20 (38,5%) apresentaram a mesma terminação sem a presença da consoante (ex.: ‘César ->

Cesinha’) e 11 (21,1%) apresentaram a vogal referente ao gênero da palavra também sem

apresentar a consoante (ex.: ‘César -> Cesinho’); e, com final /N/, nesse grupo, não encontramos

palavras com essa consoante final que se encaixasse no nosso corpus.

As palavras terminadas em /o/ correspondem a 114 (45,8%) produções de infixação.

Das quais, com final /S/, 34 (29,8%) apresentaram a mesma terminação com a presença da

consoante (ex.: ‘Marcos -> Marquinhos’) e 5 (4,4%), sem a consoante (ex.: ‘Marcos ->

Marquinho’); com final /R/, 36 (31,6%) apresentaram a mesma terminação sem a presença da

consoante (ex.: ‘Vitor -> Vitinho’); e, com final /N/, 39 (34,2%) apresentaram a mesma

terminação sem a presença da consoante (ex.: ‘Nelson -> Nelsinho’).

As palavras terminadas em /e – i/ correspondem 83 (33,3%) a produções de infixação.

Das quais, com final /S/, 18 (21,7%) apresentaram a vogal referente ao gênero da palavra

também sem apresentar a consoante (ex.: ‘Charles -> Charlinho’) e 2 (2,4%) apresentaram a

vogal referente ao gênero da palavra mantendo a consoante final (ex.: ‘Charles -> Charlinhos’);

com final /R/, 29 (34,9%) apresentaram a vogal referente ao gênero da palavra também sem

apresentar a consoante (ex.: ‘Cléber -> Clebinho’); e, com final /N/, 34 (41%) apresentaram a

vogal referente ao gênero da palavra também sem apresentar a consoante (ex.: ‘Carmen ->

Carminha’), sendo essa última o único nome feminino que constitui os alvos desse teste.

4.1.1.2. Substantivos comuns

Os resultados dos testes de substantivos comuns, em relação a formação de diminutivos

com esses nomes, corresponderam a um total de 720 dados, sendo 360 de indivíduos da Letras

e 360, dos demais cursos da UFRJ. No que diz respeito à comparação entre afixos, houve 116

(16,1%) produções de –inh-; 527 (73,2%), de –zinhx; e 77 (10,7%), do terceiro afixo

encontrado. Isso mostra que, com substantivos comuns, a formação de diminutivos com –zinhx

é muito mais produtiva, pois mais da metade dos usos do diminutivo foi com esse afixo. Ao

observar esse comparativo a partir da contraposição de sujeitos da Letras e dos outros cursos

da UFRJ, essa conclusão permanece. Tal fato é evidente, pois, das produções realizadas por

estudantes de Letras, 75 (20,8%), correspondem ao afixo –inh-, 251 (69,7%), ao -zinhx e 34

(9,5%), ao –inhx com caráter sufixal; enquanto, as realizações dos estudantes dos demais

cursos, 41 (11,4%) são produções de –inh-, 276 (76,6%), de –zinhx e 43 (12%), do terceiro

afixo.

Apesar de as construções de diminutivos em substantivos comuns serem

preferencialmente sufixais, as formações com –inh- foram consideráveis (16,1% do total de

produções) e torna-se possível uma análise mais aprofundada dos contextos de infixação. Ao

observar como a consoante e a vogal final se mantem após a afixação de –inh-, das 116

produções, temos os seguintes resultados:

As palavras terminadas em /a/ correspondem a 40 (34,5%) produções de infixação. No

caso da feminina, cuja única formação foi com final /S/, 5 (12,5%) apresentaram a mesma

terminação com a presença da consoante (ex.: ‘Dentolas10 -> Dentolinhas’) e 8 (20%), sem a

consoante (ex.: ‘Dentolas -> Dentolinha’). No caso das masculinas, com final /S/, 13 (32,5%)

apresentaram a mesma terminação com a presença da consoante (ex.: ‘Atlas -> Atlinhas’), 1

(2,5%), sem a consoante (ex.: ‘Atlas -> Atlinha’)e 1 (2,5%) apresentou a vogal referente ao

gênero da palavra também sem apresentar a consoante (ex.: ‘Atlas -> Atlinho’); com final /R/,

5 (12,5%) apresentaram a mesma terminação sem a presença da consoante (ex.: ‘Dólar ->

Dolinha’) e 7 (17,5%) apresentaram a vogal referente ao gênero da palavra também sem

apresentar a consoante (ex.: ‘Dólar -> Dolinho’); e, com final/N/, não encontramos palavras

com essa consoante final que se encaixasse no nosso corpus.

As palavras terminadas em /o/ correspondem a 47 (40,5%) produções de infixação. No

caso das femininas cuja única formação foi com final /R/, 5 (10,6%) apresentaram a vogal

referente ao gênero da palavra também sem apresentar a consoante (ex.: ‘Sóror -> Sorinha’).

No caso das masculinas, com final /S/, 22 (46,9%) apresentaram a mesma terminação sem a

presença da consoante (ex.: ‘Lógos -> Loguinho’) e 9 (19,1%), com a consoante (ex.: ‘Lógos -

> Loguinhos’); com final /R/, 2 (4,3%) apresentaram a mesma terminação sem a presença da

10 Os logatomas, neste trabalho, aparecerão em itálico.

consoante (ex.: ‘Bufádor -> Bufadinho’); e, com final/N/, 9 (19,1%) apresentaram a mesma

terminação sem a presença da consoante (ex.: ‘Cólon -> Colinho’).

As palavras terminadas em /e – i/ correspondem a 29 (25%) produções de infixação. No

caso das femininas, com final /S/, 8 (27,6%) apresentaram a vogal referente ao gênero da

palavra também sem apresentar a consoante (ex.: ‘Capáris -> Caparinha’); com final /R/, 3

(10,3%) apresentaram a vogal referente ao gênero da palavra também sem apresentar a

consoante (ex.: ‘Líder -> Lidinha’); e, com final/N/, não encontramos palavras com essa

consoante final que se encaixasse no nosso corpus. No caso das masculinas, com final /S/, 1

(3,5%) apresentou a vogal referente ao gênero da palavra também sem apresentar a consoante

(ex.: ‘Tênis -> Teninho’); com final /R/, 6 (20,7%) apresentaram a vogal referente ao gênero

da palavra também sem apresentar a consoante (ex.: ‘Álfir -> Alfinho’); e, com final /N/, 11

(37,9%) apresentaram a vogal referente ao gênero da palavra também sem apresentar a

consoante (ex.: ‘Pólen -> Polinho’).

4.1.1.3. Comparação entre os corpora

É notável, portanto, que os nomes próprios e os nomes comuns se comportam de

maneiras distintas. O primeiro é mais propício a formações com –inh- (como visto

anteriormente, das 320 produções de diminutivos com antropônimos, 76,3% correspondem a –

inh-), ou seja, está mais sujeito a infixação, enquanto o segundo, a formações com –zinhx (no

caso dos substantivos comuns, de acordo com os dados quantitativos, de 720 produções, 76,6%

correspondem a -zinhx), estando, assim, mais sujeito a sufixação.

Dessa forma, as novas interpretações que serão propostas se evidenciam mais em

antropônimos, de modo que as hipóteses que representam a análise qualitativa dos dados está

prototipicamente voltada para esses nomes próprios. No caso dos substantivos comuns, apesar

de permitirem essa reanálise por ter um número considerável de produções com o morfe –inh-

(11,4% do total de construções com o substantivo comum), quantitativamente, essa

possibilidade é inferior ao outro corpus; entretanto, a sua inclusão na análise qualitativa das

formações infixais não pode ser descartada.

Para além disso, encontramos um terceiro tipo de afixação em ambos os grupos: o –inhx

com caráter sufixal. Essa descoberta reforça a teoria infixal que defendemos aqui, por ser a

mesma estrutura em posições distintas que pode ocorrer em uma mesma palavra. Esse tipo de

afixo é marcado por formações como: ‘Cesar+inho’; ‘Dolar+inho’. Nesse contexto, observando

os dados, os substantivos comuns favorecem mais esse tipo de formação (10,7% das

produções), enquanto, no caso dos antropônimos, essa produção é menos produtiva (1,3% das

produções).

4.1.2. HIPÓTESES DE INFIXAÇÃO

Nesse sentido, é possível propor hipóteses para a infixação de –inh- para assim tratar de

uma descrição mais qualitativa da análise dos nossos corpora, baseados na proposta de

Guimarães & Mendes (2011). Segundo eles, a afixação se dá através da inserção do infixo entre

a base que é composta por uma raiz somada a uma vogal final, como em ‘Gatinha’ (‘Gat+a ->

Gat+inh+a’); para tratar do caso da vogal /e/, os autores propõe uma regra morfológica que,

para a nossa analise, não será utilizada.

A partir dessa proposta, pensamos em questões como o que ocorre com as consoantes

finais após a afixação, bem como, buscamos explicar também o que ocorre com as vogais finais.

Essas propostas de análises foram pensadas dentro de cada um dos padrões de modo a abranger

cada um dos grupos de palavras apropriadamente.

A. ‘Jonas -> Jon+inh+as’/ ‘Marcos -> Marqu+inh+os’

‘Atlas -> Atl+inh+as’/ ‘Lógos -> Log+inh+os’

B. ‘Nelson -> Nelso -> Nels+inh+o’/ ‘César -> Césa -> Ces+inh+a’

‘Dólar -> Dóla -> Dol+inh+a’/ ‘Cólon -> Cólo -> Col+inh+o’

C. ‘Cleber -> Clebe -> *Cleb+inh+e -> Clebinho’/ ‘Carmen -> Carme ->

*Carm+inh+e -> Carminha’

Glúten -> Glute -> *Glut+inh+e -> Glutinho’/ ‘Mártir -> Marti -> *Mart+inh+i -

> Martinha’

D. ‘Jonas -> Jona -> Jon+inh+a -> Joninho’/ ‘Sóror -> Sóro -> Sor+inh+o ->

Sorinha’

No caso apresentado em (A), temos os nomes que Bermúdez-Otero (2013) chama de

Pseudo-plural, cujas vogais finais são /a/ e /o/ e que não sofrem a perda de /S/. De acordo como

o que observamos anteriormente, 74 casos do total das produções (365 dados) de ambos os

corpora apresentaram produções nesse formato, correspondendo a 20,3% dos dados de

infixação. Dessa forma, a primeira hipótese baseia-se na infixação sem nenhuma alteração das

bases da palavra primitiva, de modo que –inh- se encaixa no meio, como em ‘Jon’ e ‘as’,

formando, assim, ‘Joninhas’.

Em (B), temos os nomes terminados em vogais /a/ e /o/ que sofrem a perda da consoante

final. Dessa forma, como vimos com os resultados dos testes, 155 casos do total (365 dados)

das produções de ambos os corpora apresentaram produções nesse formato, correspondendo a

42,4% dos dados de infixação. Com isso, a segunda hipótese aborda que, primeiro ocorre a

queda da consoante final, de modo que –inh- se afixa entre as bases como em ‘Nels’ e ‘o’, sendo

que a segunda base já sofreu alteração com a apócope consonantal nasal (perdendo também a

nasalidade), formando ‘Nelsinho’.

Em (C), temos os nomes terminados em /e/. Segundo os resultados dos testes, 110 casos

do total das produções (365 dados) de ambos os corpora apresentaram produções nesse

formato, correspondendo a 30,1% dos dados de infixação. Desse modo, na terceira hipótese,

primeiro ocorre a queda da consoante final, assim como na segunda hipótese, a partir disso, há

a afixação de –inh- que se encaixa entre as bases como em ‘Cleb’ e ‘e’, mas, devido à natureza

superficial e instável de /e/, é necessária a substituição da vogal, que acaba sendo alterada de

acordo com a vogal prototípica do gênero da palavra, formando, assim, ‘Clebinho’.

Em (D), temos os nomes que terminam em vogais temáticas das classes I e II (/o/ e /a/,

respectivamente) [ALCANTARA, 2010; MATZENAUER & BISOL, 2016] e pertencem a

gêneros diferentes do protótipo que corresponde a vogal em questão e, em algumas produções,

ao ocorrer a afixação, a vogal final é substituída pela marca de gênero correspondente, como é

o caso de produções como ‘Joninho’, em que ocorre primeiro a queda da consoante, seguido da

afixação e, com isso, a alteração da vogal. Isso ocorre, como vimos nos testes, em 24 casos do

total das produções de ambos os corpora apresentaram produções nesse formato,

correspondendo a (apenas) 6,6% dos dados de infixação, considerando um total de 365

construções com –inh-.

4.2. QUESTÕES MORFOFONOLÓGICAS

Aqui, trataremos de como fenômenos fonológicos influenciam nas interpretações de

elementos morfológicos. Mais especificamente, o como a queda da consoante, como

apresentamos anteriormente com a hipótese de infixação, pode modificar a leitura da

composição das palavras. Para tal, é importante pensarmos nas definições e nas características

de palavras temáticas e atemáticas. E, com isso, apresentaremos a nossa nova leitura acerca do

como se compõe esses itens lexicais.

4.2.1. FONOLOGIA – A CONSOANTE FINAL

De acordo com as hipóteses levantadas, o processo de queda da consoante final ocorre

antes da afixação do morfema de diminutivo. Para chegarmos a tal conclusão, visto que, ao

interpretarmos a possibilidade de infixação, tornou-se essencial entender um pouco mais sobre

a queda consonantal e a sua natureza, tivemos que refletir um pouco acerca dos fenômenos de

variação na língua. Isso, porque, desde o início, como vemos na literatura, o processo de

formação da Língua Portuguesa é marcado pela apócope da consoante final, sendo algo cíclico,

ou seja, que ocorre até os dias de hoje. E, ao longo desse item, discutiremos um pouco acerca

das questões que envolvem esse fenômeno.

4.2.1.1. A consoante /R/

Como já vimos anteriormente, pensamos acerca da queda da consoante /R/ em contexto

de coda final a partir do texto de Callou & Serra (2013), elas tratam dessa questão em três

regiões diferentes, mas, como essa pesquisa está voltada para o falar do Rio de Janeiro, nos

atentaremos apenas aos dados referentes a esse grupo. Com isso, esse artigo parte da premissa

de que essa perda segue “em duas direções: uma que prediz a sua manutenção, em certas

circunstâncias, e outra que prevê o seu total desaparecimento” [CALLOU & SERRA, 2013, pg.

585], pensando assim é possível entender um pouco mais das análises apresentadas

anteriormente, justamente por sustentarem essa afirmação.

Dessa forma, em suas conclusões, as autoras qualificam o comportamento do /R/ como

uma “regra variável de apagamento” [CALLOU & SERRA, 2013, pg. 592], ou seja, o carioca

é uma variedade da língua em que há a variação entre o apagamento e o enfraquecimento, sendo

o mais comum, a produção desse segmento como uma fricativa velar. Nesse sentido,

comparando essas conclusões com os resultados da nossa pesquisa, na qual coletamos 440

dados de nomes terminados com a vibrante, podemos chegar a seguinte hipótese: em

antropônimos, o apagamento é mais frequente, isso porque trata do contexto em que a

possibilidade de análise infixal é mais evidente (80% do total de 120 formações com nomes

próprios de coda em /R/), ou seja, a queda da consoante torna a palavra temática, criando o

contexto de infixação de –inh-; enquanto, em substantivos comuns, cuja a produção de sufixos

é mais ocorrente, tanto com –zinhx (69,7% do total de 320 formações com substantivos comuns

de coda em /R/), quanto com –inhx (21,6% do total dessas produções), o enfraquecimento seria

mais frequente, pois o afixo é concatenado à consoante final, mantendo-se como coda no caso

da sufixação com –zinhx ou tornando-se onset no caso da sufixação com –inhx.

4.2.1.2. A consoante /S/

Ao olhar para a literatura, vemos que o caso do segmento /S/ apresenta algumas

particularidades. Isso ocorre devido a um fenômeno próprio de nomes nessa configuração que

é observado por Bermúdez-Otero (2006). Com isso, nessa seção, analisaremos os testes em

conjunção com o que diz o autor e os dados apresentados por Cunha & Florencio (2009).

Nesse contexto, com o que fica evidente no artigo acerca do comportamento variável

dessa consoante, é possível afirmar que essa consoante é mais suscetível ao enfraquecimento,

favorecendo formações palatais, apesar de os casos de apagamento serem bem comuns. Ao

colocar esses fatos em contraste com o que os nossos testes apresentaram, principalmente se

observarmos a hipótese (A), que representa os dados em que se mantém a consoante final após

a afixação (ex.: Marcos -> Marquinhos), vemos, claramente, que o caso de /S/ é, de fato,

particular. Isso se deve, justamente, ao que Bermúdez-Otero (2006) teoriza.

A particularidade se dá a partir do momento em que, mesmo sem a queda consonantal,

que cria o contexto de infixação, esse tipo de afixação ocorre (Ex.: Jonas -> Joninhas),

mostrando que a questão do tema com esse segmento ocorre de forma diferenciada. O autor

espanhol atribui isso ao fato de que, quando se trata de nomes terminados em /S/, há dois grupos:

os atemáticos e os pseudo-plurais.

Nesse sentido, a sibilante em nomes Pseudo-plurais seria uma marca morfológica,

enquanto os atemáticos seriam aqueles em que essa consoante é um elemento fonológico que

constitui a raiz de uma palavra; com isso, para a infixação ocorrer, no primeiro caso, essa

concatenação é possível mesmo com a consoante, já sendo Bimorfêmica. E, no segundo, é

necessária a queda da consoante para que a palavra se torne temática e, assim, Bimorfêmica.

Se prestarmos atenção ao quantitativo dos nossos corpora, enquadrando-os no

pensamento acima, podemos chegar a conclusões, em parte, semelhantes a essa teoria. Isso,

porque, como os casos de queda e de manutenção ocorrem nas mesmas palavras, pensando

apenas nas construções cujas vogais finais são /a/ e /o/, nossos dados em relação a afixação de

–inh- mostram que os nomes em /S/ são tendencialmente Pseudo-plurais: em antropônimos, as

ocorrências cuja infixação manteve a consoante correspondem a 58,7% do total de 80 nomes

próprios em /S/ afixados com –inh-; e, em substantivos comuns, 41,2% do total de 68.

Entretanto, há ainda casos de pseudo-plurais cuja consoante final é apagada (48% do total de

148 nomes tanto próprios quanto comuns) e, a isso, atribuímos o fato da variação linguística,

como é visto em Cunha & Florencio (2009).

O caso da vogal /e/ se distingue por não apresentar casos de afixação semelhantes a

hipótese (A), que representa a infixação sem alteração da palavra base (ex.: ‘Jonas ->

Joninhas’), e, além disso, essas formações se constituem pela mudança dessa mesma vogal. Isso

se deve por conta de seu caráter epentético, como veremos posteriormente, mostrando que essa

configuração caracteriza nomes atemáticos.

4.2.1.3. A consoante /N/

A partir do que a literatura apresenta, veremos um pouco mais de como se comporta a

consoante /N/ em contexto de coda final átona. Dessa forma, Fagundes, Gomes & Mesquita

(2013), ao olhar para alguns itens lexicais, conseguem notar alguns aspectos acerca da natureza

da variação entre o ditongo nasal e a vogal oral, tal como podemos fazer um paralelo com os

dados apresentados aqui nesse trabalho e, assim, pensar as hipóteses anteriormente

apresentadas.

Com isso, os dados da pesquisa variacionista revelaram uma tendência maior a

desnasalização no dialeto carioca, apesar de algumas formas mais manterem essa ditongação

nasal. Isso é transponível para os dados da nossa pesquisa, seguindo o mesmo pensamento que

construímos na seção da consoante /R/, que mostra a tendência de queda em nomes próprios é

maior do que em substantivos comuns e, nesse contexto, o primeiro corpus favorece a

metanálise bimorfêmica, visto que, ao ocorrer a queda, a vogal final ganha um valor

morfológico, constituindo assim uma separação da raiz, formando um tema (raiz+VT) e, assim,

sendo mais suscetível a infixação (91.2% do total de 73 nomes próprios em /N/ afixados com –

inh-); enquanto, no segundo, esse processo ocorre em menor escala, favorecendo as produções

sufixais, tanto de –zinhx (82,5% do total de 160 formações com substantivos comuns de coda

em /N/), quanto de –inhx (5% do total de produções). Comparada à anexação sufixal de –inhx,

entretanto, a infixação em nomes comuns com –inh- foi consideravelmente maior: 12,5%.

4.2.2. MORFOLOGIA – O STATUS DA VOGAL FINAL

Com a presença da consoante final, as vogais finais são lidas como parte da raiz, ou seja,

parte da base que carrega o significado externo da palavra, não possuindo nenhum valor isolado.

Entretanto, com a queda do segmento consonantal, esse caráter pode ser alterado, como

evidenciamos a partir da proposta de infixação.

Como já vimos anteriormente, a literatura analisa os nomes que formam os corpora

dessa pesquisa como atemáticos. Devido a isso, são interpretados como monomorfêmicos, ou

seja, constituídos por apenas uma base, o radical. Entretanto, com o destravamento da coda,

permitiu-se a formação de estruturas como o diminutivo por infixação, evidenciando que a

vogal, que passa a ser o último segmento da palavra, ganha um outro status, sendo, assim,

assume o papel de vogal temática. Dessa forma, esse fato dá margem para a Metanálise

Bimorfêmica desses nomes, ou seja, agora sua composição baseia-se na justaposição de dois

morfes: o radical e a vogal temática (ex.: ‘Nels+o’), encaixando-se, assim, na classificação de

palavras temáticas.

4.2.2.1. As vogais /a/ e /o/

Após a queda da consoante final, os nomes que pertencem aos padrões cuja vogal é /a/

e /o/ passam a ser classificados de acordo com as respectivas vogais, que passam a ser temáticas.

Conforme a base teórica já apresentou, os nomes dessas classificações, são tidos como

legitimamente temáticos, pois, como apresenta Matzenauer & Bisol (2016), essas vogais estão

presentes nessas palavras desde sua adjacência, classificando, assim como é apresentado no

texto de Alcântara (2010), em dois grupos:

“a primeira, a classe mais geral, inclui os nomes terminados em /o/, a segunda,

os nomes terminados em /a/; na primeira classe, predominam nomes do gênero

masculino (livro, gato), embora nela se insiram vocábulos do gênero feminino

(tribo, libido), e na segunda, em que prevalecem nomes do gênero feminino

(pedra, gata), há também palavras do gênero masculino (cometa, idioma)”

[MATZENAUER & BISOL, 2016, pg. 342-343].

Com isso, é possível pensar nas propostas de hipóteses infixais. Dessa forma, há duas

possibilidades de formações com essas vogais: a primeira consiste na manutenção da vogal final

com a afixação de –inh-, tal como é visto nas hipóteses (A) e (B), que representam os casos em

que a vogal não é alterada (ex.: Marcos -> Marquinhos; César -> Cesinha) sendo a ocorrência

mais comum; já a segunda, representada pela hipótese (D) (ex.: Jonas -> Joninho), na alteração

da vogal pelo gênero da palavra, em contexto que a vogal da palavra não correspondia com a

sua desinência de gênero mais prototípica, apesar dessas ocorrências serem pouco produtivas,

elas não podem ser desconsideradas.

4.2.2.2. A vogal /e/

No caso dos nomes terminados em /e/, eles sofrem a substituição da vogal final em casos

de afixação, assim como é notado na hipótese (C) (ex.: Carmen -> Carminha). Isso ocorre, pois,

a natureza da vogal, agora temática, /e/ é, da mesma forma que a literatura apresenta, epentética,

logo, acaba sendo superficial e instável, por ser um elemento que, usualmente, se acrescenta na

estrutura de superfície de modo a recuperar uma sílaba degenerada, não se encaixando na

formação de estruturas como o diminutivo. Para afirmar isso, Matzenauer & Bisol (2016) se

baseiam em quatro aspectos pontuais dos quais citaremos três que abordam a questão da

alteração desse segmento: o primeiro diz respeito a condição epentética dessa vogal, sendo

“atribuída(...) aos empréstimos aceitos pelo PB em casos de a sequência final do radical não ser

licenciada pela língua”; o segundo, as possibilidades de alternância que evidenciam a

instabilidade dessa vogal, sendo citável

“a) com ∅, em raízes cujas consoantes seriam licenciadas como coda pela

fonologia da língua (exs.: caractere ~ caráter), inclusive em variantes do PB

com menor prestígio (exs.: mole ~ mol; b) com as vogais temáticas /o, a/ (exs.:

gole ~ golo; avalanche ~ avalancha; c) com formas decorrentes de metátese

(exs.: açucre ~ açúcar) ; d) com formas atemáticas (exs.: arse ~ arsis).”

[MATZENAUER & BISOL, 2016, pg. 350].

Por fim, o terceiro aspecto trata do comportamento dessa vogal no processo de aquisição

da linguagem por crianças brasileiras, mostrando que

“alternâncias com as vogais temáticas /o, a/ (...) (ex.: controle ~

controlo); em dados de crianças, as vogais /o, a/ podem ser atribuídas inclusive

a nomes atemáticos (ex.: capuz ~ capuzo), enquanto uma vogal coronal átona

final somente é atribuída a formas de superfície em estágio de

desenvolvimento em que a estrutura silábica CVC ainda não está licenciada

para os outputs das crianças (ex.: nariz à [na’lizi]; flor à [’foli])”

[MATZENAUER & BISOL, 2016, pg. 350]

5. CONCLUSÕES

A partir de tudo o que foi explicitado no decorrer desse trabalho, podemos chegar as

seguintes conclusões acerca do que propomos nesse estudo: tanto no que diz respeito a afixação

do diminutivo, quanto na proposta de Metanálise Bimorfêmica.

Os testes mostraram que de fato há uma diferença entre nomes próprios e comuns. O

primeiro favorece a interpretação infixal de –inh-, enquanto o segundo é mais suscetível a

sufixação. Nesse contexto, também encontramos uma terceira possibilidade de afixação, sendo

essa representada por um –inhx com caráter sufixal, mais presente em substantivos comuns.

Dessa forma, levantamos quatro hipóteses de infixação, mostrando o como a vogal e a

consoante final se comportam de modo a promover esse tipo de afixação. Com isso, temos:

(A) Formações pseudo-plurais, na qual há apenas a infixação, sem alteração da

consoante e da vogal final, no caso de /a/ e /o/ (Ex.: Carl/oS/ -> Carlinhos) (20,3%

das 365 produções);

(B) Formações com a manutenção da vogal final, no caso de /a/ e /o/, porém com a queda

da consoante (Ex.: Cés/aR/ -> Cés/a/ -> Cesinha) (42,4% das 365 produções);

(C) Formações de palavras cuja vogal final é /e/, ocorrendo, assim, não só a queda da

consoante, mas também a alteração da vogal pela desinência de gênero (Ex.:

Carm/eN/ -> Carm/i/ -> Carminha) (30,1% das 365 produções);

(D) Formações de palavras terminadas em /a/ e /o/, em que não só ocorre a queda da

consoante, mas também a alteração da vogal pela desinência de gênero (Jon/aS/ ->

Jon/a/ -> Joninho) (6,6% 365 das produções).

Quanto a questão da metanálise bimorfêmica, vimos que, por conta do que foi dito

acima, essa nova perspectiva é mais ocorrente em antropônimos. Essa formação, então, consiste

na transformação de palavras atemáticas em temáticas, favorecendo, assim, a infixação. Essa

reinterpretação é explicada através da queda da consoante das palavras atemáticas,

transformando a vogal final em uma vogal temática e, com isso, as palavras construídas por

apenas um elemento morfológico (raiz), passa a ser analisado como contendo dois (raiz+VT).

Ao contrastar isso com as hipóteses, vimos que essa teorização se dá de maneiras

diversas. No caso de (A), não há essa transformação, pois, essas palavras já são temáticas, visto

que, /S/, não representa apenas um travamento silábico fonológico, mas possui características

morfológicas, constituindo pseudo-plural; dessa forma, eles são bimorfêmicos mesmo com a

consoante final. No caso de (B) e de (C), são as formações em que a modificação da base ocorre,

como foi descrito anteriormente, porém se dividem em duas categorias por apresentar

particularidades quanto as vogais, sendo que, em (B), estão as vogais temáticas legítimas /a/ e

/o/, cuja inserção se dá na estrutura subjacente, e, em (C), está a vogal temática epentética /e/,

cuja inserção se dá na estrutura de superfície das palavras. E, por fim, em (D), temos um caso

que é possível ser visto como excepcional, já que sua produtividade é muito baixa (6,6% dos

dados), sendo lido como formações por analogia de (C).

Com isso, esse estudo dá margem para futuros trabalhos. Ele pode ser desdobrado de

modo a analisar alguns fatores que não foram cobertos por nossa pesquisa, como: o terceiro

afixo, é preciso um estudo mais aprofundado para entender um pouco mais essa construção; a

possibilidade de estender essa análise para outros tipos de afixos; um estudo mais aprofundado

das transformações de estruturas monomorfêmicas para bimorfêmicas, a partir da análise

acústica das produções realizadas nos testes; e, também, o encaixe dessa abordagem na teoria

da Otimalidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SILVA, Thaís Cristófaro. Fonética e Fonologia do Português. SP: Contexto, 2005, 8ª Ed.

ANEXO I – COLETA DE DADOS – ANTROPÔNIMOS

R S N

a

César; Amilcar;

Óscar

Jonas; Douglas;

Silas; Lucas

Elias; Josias;

Isaias; Jeremias; Malaquias

-

o

Vitor; (H)Igor Marcos; Carlos

Newton; Selton;

Cleiton; Milton;

Elton; Nelson;

Marlon; Wilson;

Maicon

e

Valter; Vagner;

Vander; Cléber;

Clauber;

Deméter;

Helder

Tales; Charles; Ulisses; Alves; Aquiles; Clóvis; Jocélis; Isis; Osíris

Carmen; Suelen;

Loren; Elen; Ruben(s); Kevin;

Kelvin

ANEXO II – COLETA DE DADOS – SUBSTANTIVOS COMUNS

R S N

a Alfâmar; Alfâmbar; Aljôfar;

Almíscar; Almocábar;

Almocávar; Almôfar;

Almogávar; Âmbar;

Antitênar; Bolívar; Dólar;

Drácar; Hipotênar; Hússar;

Ímpar; Liquidâmbar; Lúgar;

Mudéjar; Nácar; Néctar;

Nenúfar; Óscar; Sáfar;

Tênar

Atlas; Bóreas Brâman

o

Acântor; Alcândor; Aligátor;

Décor; Flúor; Sêxtuor;

Sóror; Transítor

Éthos; Lógos; Nómos;

Télos; Tópos

Ácron; Ânion; Antibárion;

Anticódon; Apáreon; Áscon;

Astérion; Bárion; Biátlon;

Bóson; Bóston; Bóton; Cânon;

Cátion; Cístron; Códon; Cólon;

Coríndon; Córion; Cróton;

Dácron; Dálton; Decátlon;

Elétron; Entrópion; Éxon;

Fônon Fóton; Hádron;

Hipópion; Íntron; Ipsílon;

Mácron; Méson; Metópion;

Mícron; Múcron Néfron;

Obélion; Opístion; Píton;

Próton; Quíton; Ríton; Táxon;

Télson; Triátlon; Tríton; Vírion;

Xênon

e Abáster; Acéter; Africânder;

Alcácer; Anfiáster; Áster;

Báfer; Bécher; Bêmber;

Béquer; Bíter; Bóxer;

Cadáver; Câncer; Cânter;

Caráter; Cariáster; Cárter;

Clínquer; Clíper; Cúter;

Escâner; Éter; Fíler; Flíper;

Fôlder; Fráter; Gáster;

Áries

Abdômen; Acúmen; Albúmen;

Alúmen; Antífen; Ascolíquen;

Cerúmen; Ciclâmen; Clinâmen

Crúmen; Cúlmen; Delicatéssen;

Discolíquen; Discrímen;

Durâmen; Éden; Flúmen;

Forâmen; Glúten; Hífen;

Hímen; Himenolíquen;

Ligâmen; Líquen; Lúmen;

Golquíper; Líber; Líder;

Máster; Máuser; Pálmer;

Píper; Pôlder; Poliéster;

Pôquer; Pôster; Prócer;

Pulôver; Quáquer; Quíper;

Rangífer; Repórter;

Revólver; Róber; Sínter;

Súber; Suéter; Táler;

Tênder; Tíner; Vésper;

Vômer; Zíper

Lúmpen; Molímen; Pólen;

Putâmen; Rúmen; Sêmen;

Tentâmen; Velâmen

i

Mártir

Áclis; Adônis; Agróstis;

Amarílis; Anatéxis; Anólis;

Antiáris; Ársis; Atrabílis;

Áxis; Bátis; Bétis; Betrís;

Busílis; Clitóris;

Coronácris; Corônis; Cútis;

Digitális; Dinóris; Díxis;

Drímis; Epiórnis;

Epizêuxis; Félis; Gônis;

Hamamélis; Hemipênis;

Hesperórnis; Íbis; Íris;

Lápis; Léxis; Lóxis;

Melicéris; Oásis; Ófris;

Pélvis; Práxis; Púbis;

Ráquis; Tênis; Tésis;

Únguis; Vérmis; Vítis

Píjin

ANEXO III – TESTES: SELEÇÃO DE NOMES – ANTRÔNIMOS

Status Nome

Indutor - IN Marcelo

Alvo - ON Nelson

Indutor - IZ Ramon

Alvo - ES Charles

Indutor - IN Amanda

Alvo - AR César

Indutor - IZ Maria

Alvo - EN Carmen

Indutor - IN Fernando

Alvo - OS Marcos

Indutor - IZ Luiz

Alvo - ER Cléber

Indutor - IN Paula

Alvo - AS Jonas

Indutor - IZ Isabel

Alvo - OR Vitor

Status Nome

Indutor – IZ Isabel

Alvo – ON Nelson

Indutor – IN Paula

Alvo – ES Charles

Indutor - IZ Luiz

Alvo - AR César

Indutor - IN Fernando

Alvo - EN Carmen

Indutor - IZ Maria

Alvo - OS Marcos

Indutor - IN Amanda

Alvo - ER Cléber

Indutor - IZ Ramon

Alvo - AS Jonas

Indutor - IN Marcelo

Alvo - OR Vitor

VERSÃO A VERSÃO B

ANEXO IV – TESTES: SELEÇÃO DE NOMES – SUBSTANTIVOS COMUNS

Nº T G Verbete

1 -as M Atlas

2 -as F Dentolas

3 -ar M Dólar

4 -ar M Quilóbar

5 -os M Lógos

6 -os M Azígos

7 -or F Sóror

8 -or M Bufádor

9 -on M Cólon

10 -on M Dinátron

11 -er F Líder

12 -er M Alváner

13 -en M Glúten

14 -en M Pólen

15 -is M Tênis

16 -is F Capáris

17 -ir F Mártir

18 -ir M Álfir

Nº G Verbete

1 M Mialhar

2 M Peror

3 F Pasta

4 F Morca

5 M Frisson

6 M Oritá

7 F Paleta

8 F Brara

9 M Verdor

10 F Corinã

11 M Livro

12 F Covéta

13 M Curió

14 M Fachaçor

15 F Caixa

16 M Gramoca

17 F Tampa

18 F Pabaró

ALVOS DISTRATORES

ANEXO V – MODELOS DOS TESTES

Figura 1 Modelo Teste - Substantivos Comuns

Figura 2 Modelo Testes - Substantivos Comuns

Figura 3 Modelo Teste - Antropônimos