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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE TECNOLOGIA Projeto de Embarcação para Construção em Polietileno de Alta Densidade Claudia Tavares de Lira Gondin da Fonseca

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE TECNOLOGIA

Projeto de Embarcação para Construção em Polietileno de Alta

Densidade

Claudia Tavares de Lira Gondin da Fonseca

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Projeto de Embarcação para Construção em Polietileno de Alta Densidade

Claudia Tavares de Lira Gondin da Fonsca

Projeto de graduação apresentadao ao

Curso de Engenharia Naval e Oceânica da

Escola Politécnica, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Prof. Alexandre Teixeira de Pinho Alho.

Rio de Janeiro

Março de 2018

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PROJETO DE EMBARCAÇÃO PARA CONSTRUÇÃO EM POLIETILENO

DE ALTA DENSIDADE

Claudia Tavares de Lira Gondin da Fonseca

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

CURSO DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA

DA UNIVERSIDADE FEDERALDO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO NAVAL.

Examinada por:

________________________________________

Prof. Alexandre Teixeira de Pinho Alho - orientador

________________________________________

Prof. Carl Horst Albrecht

_______________________________________

Prof. José Henrique Sanglard, D.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

MARÇO de 2018

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FONSECA, Claudia Tavares de Lira Gondin.

Projeto de Embarcação para Construção em

Polietileno de Alta Densidade/ Claudia Tavares de

Lira Gondin da Fonseca – Rio de Janeiro;

UFRJ/Escola Politécnica, 2018.

Orientador: Alexandre Teixeira de Pinho Alho

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola

Politécnica/ Curso de Engenharia Naval e

Oceânica, 2018

Referencias Bibliográficas: p. 48-49.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à todos os mestres do Departamento de Engenharia Naval

da UFRJ, por desempenharem o papel de transmitir o conhecimento aos alunos, cada

um a sua maneira, principalmente ao meu orientador Alexandre Alho.

Agradeço aos meus amigos Thiago Marinho, Ana Carolina Católico, Luiz Felipe de

Carvalho e Gabriela Benedet por estarem presentes e me darem a mão nesse momento.

Finalmente, sou muitíssimo, e sempre, grata à minha família: Ivaneth, Clarisse e

Marie.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Naval e

Oceânico.

Projeto de embarcação para construção em Polietileno de Alta Densidade

Claudia Tavares de Lira Gondin da Fonseca

Fevereiro/2018

Orientador: Alexandre Teixeira de Pinho Alho

Curso: Engenharia Naval e Oceânica

Esse trabalho tem como objetivo apresentar uma pesquisa sobre as principais

propriedades do Polietileno de Alta Densidade (PEAD) e sua aplicação como material

base para a construção de embarcações. É apresentada uma breve descrição teórica

sobre polímeros em geral e sobre as propriedades do PEAD. São discutidas as

possibilidades de aplicações no contexto da indústria náutica, apresentadas informações

a respeito das vantagens da utilização deste material e métodos construtivos empregados

e limitações de seu uso. Além disso, é apresentada uma analise comparativa entre um

projeto desenvolvido em PEAD e um projeto similar feito em alumínio, tendo como

referência uma embarcação destinada a serviços de mergulho.

Palavras-chave: Polietileno de Alta Densidade, PEAD, indústria náutica, embarcações

de serviço.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment

of the requirements for the degree of Naval Architect and Marine Engineer.

High Density Polyethylene Boat Design

Claudia Tavares de Lira Gondin da Fonseca

February/2018

Adviser: Alexandre Teixeira de Pinho Alho

Graduation: Naval Architecture and Marine Engineering

This project addresses a research about the main properties of High Density

Polyethylene (HDPE) and it´s application as base material for craft construction. A brief

description about polymers and HDPE main properties. A discussion is carried out

about possible applications in nautical industry context, presenting general information

about advantages of the application of this material and about currently deployed

manufacturing processes. A comparative analysis between PEAD boat design and a

similar aluminium design is presented, considering as reference a dive service boat.

Keywords: High Density Polyethylene, HDPE, nautical industry, service boats.

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Sumário

Sumário...................................................................................................................... 8

Índice de Figuras ..................................................................................................... 10

Índice de Tabelas ..................................................................................................... 11

1 Introdução ........................................................................................................ 12

Características e Propriedades do Material ............................................................. 13

1.1 O que são Polímeros ................................................................................. 13

1.2 Origem da utilização de Polímeros ........................................................... 13

1.3 Matéria Prima dos Polímeros ................................................................... 15

1.4 Classificação dos Polímeros ..................................................................... 15

1.4.1 Tipo de Meros ................................................................................... 15

1.4.2 Comportamento Mecânico ................................................................ 16

1.4.3 Tipos de Configuração das Cadeias .................................................. 17

1.5 Características dos Polímeros ................................................................... 18

1.5.1 Grau de Cristalinidade ....................................................................... 18

1.5.2 Comportamento Termomecânico ...................................................... 19

1.5.3 Comportamento Mecânico ................................................................ 19

1.5.4 Propriedades Mecânicas .................................................................... 21

1.6 O Polietileno ............................................................................................. 22

1.6.1 Polietileno de Alta Densidade ........................................................... 23

1.7 Aplicação do PEAD na indústria naval .................................................... 24

1.7.1 Métodos de Fabricação...................................................................... 24

1.7.2 Escolha do Material ........................................................................... 26

Estudo de Caso: Comparação entre Embarcações em PEAD e Alumínio .............. 28

3.1 Objeto de projeto ...................................................................................... 28

3.2 Arranjo Geral Preliminar .......................................................................... 29

3.3 Forma do Casco ........................................................................................ 30

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3.4 Projeto Estrutural ...................................................................................... 32

3.4.1 Topologia Estrutural .......................................................................... 33

3.4.2 Calculo dos Esforços Atuantes .......................................................... 34

3.4.3 Propriedades do Material .................................................................. 35

3.4.4 Tensão de Projeto .............................................................................. 36

3.4.5 Espessura das chapas ......................................................................... 37

3.4.6 Dimensionamento dos Reforçadores ................................................. 39

3.5 Peso da Estrutura ...................................................................................... 41

3.6 Custo de material ...................................................................................... 41

3.7 Análise Comparativa entre PEAD e Alumínio ......................................... 41

3.8 Considerações do Estudo de Caso ............................................................ 42

4 Considerações Finais ....................................................................................... 43

5 Referências Bibliográficas ............................................................................... 45

Anexo-1 ................................................................................................................... 47

Anexo-2 ................................................................................................................... 48

10

Índice de Figuras

Figura 1 - Macromolécula do Poliestireno, um polímero formado a partir da

unidade repetitiva do Estireno. ....................................................................................... 13

Figura 2 - Configurações de cadeia para polímeros ................................................ 17

Figura 3 - Fases cristalinas e amorfas...................................................................... 18

Figura 4 - Curva tensão-deformação típica dos materiais viscoelásticos ................ 20

Figura 5 - Fenômeno de fluência e relaxamento de tensão ..................................... 21

Figura 6- Curvas de tensão-deformação para varias temperaturas .......................... 21

Figura 7 - Influencia do teor de ramificações de cadeia nas propriedades do

Polietileno ....................................................................................................................... 23

Figura 8 - Máquina extrusora para solda de chapas de PEAD ................................ 25

Figura 9 - Arranjo geral, vista superior ................................................................... 29

Figura 10 - Arranjo geral, vista lateral .................................................................... 30

Figura 11 - Arranjo geral, vista frontal .................................................................... 30

Figura 12 – Casco de deslocamento rápido , Plano de balizas ................................ 31

Figura 13 - Casco de deslocamento rápido , Plano de linhas do alto ...................... 31

Figura 14 -- Casco de deslocamento rápido , Plano de linhas d'agua ..................... 32

Figura 15 - Topologia estrutural da embarcação de estudo de caso ........................ 34

11

Índice de Tabelas

Tabela 1- Quantidade de energia incorporada e quantidade de dióxido de carbono

emitida, para diferentes materiais ................................................................................... 26

Tabela 2 - Características principais da forma da embarcação de estudo ............... 32

Tabela 3 - Espaçamento entre reforçadores............................................................. 34

Tabela 4 - Resumo dos resultados para pressões atuantes no casco ........................ 35

Tabela 5 - Valores utilizados para propriedades do PEAD ..................................... 35

Tabela 6 – Valores utilizados para as propriedades do alumínio ............................ 36

Tabela 7 - Tensões de projeto para cálculos do chapeamento- PEAD e Alumínio . 36

Tabela 8- Tensões de projeto aplicáveis para dimensionamento dos reforçadores-

PEAD e Alumínio ........................................................................................................... 37

Tabela 9 - Resultados de espessura de chapas de PEAD ........................................ 38

Tabela 10 - Comparação de espessura de chapas, PEAD e Alumínio .................... 39

Tabela 11 - Resultados para dimensionamento dos reforçadores para PEAD ........ 40

Tabela 12 - Resultados para dimensionamento dos reforçadores, para alumínio ... 40

Tabela 13 - Comparação do peso estrutural, alumínio e PEAD .............................. 41

Tabela 14 - Comparação de custo de material, alumínio e PEAD .......................... 41

12

1 Introdução

O Polietileno é um de material termoplástico, que pode ser produzido em diferentes

densidades, apresentando campos de aplicação comercial diversificada. Hoje em dia, a

indústria brasileira de produção de polietileno é capaz de suprir um grande volume de

produção, apresentando uma ampla oferta de grades do material, com alto desempenho

e produtividade, de modo a atender às altas exigências do mercado atual. Estima-se que

os polietilenos representam, aproximadamente, 40% da demanda de plásticos no

mundo. No Brasil, os polietilenos correspondem a 43% do consumo de plásticos.

O Polietileno de Alta Densidade, ou PEAD, é utilizado em diferentes segmentos da

indústria de plásticos, destacando-se a produção de utensílios plásticos, embalagens,

caixas d’agua, bombonas, tanques, entre outros. Devido a suas propriedades mecânicas

diferenciadas, o PEAD também encontra diversas aplicações no campo de engenharia,

principalmente na confecção de dutos e tubos para diversas utilizações.

Atualmente vem sendo observada a crescente utilização do emprego do Polietileno

de Alta Densidade (PEAD) na indústria náutica, particularmente para construção de

embarcações de serviço, como lanchas militares de patrulha e interceptação,

embarcações rápidas de suporte e transporte de tripulação. No entanto, ainda há pouca

informação disponível quanto ao projeto e construção de embarcações em PEAD.

Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo apresentar uma pesquisa sobre as

principais propriedades do PEAD e sua aplicação como material base para a construção

de embarcações. Na primeira parte desse trabalho, é apresentada uma breve descrição

teórica sobre polímeros em geral, sendo abordadas, em mais detalhes, as propriedades

do PEAD. São discutidas as possibilidades de aplicações no contexto da indústria

náutica, sendo apresentadas informações a respeito das vantagens da utilização deste

material, métodos construtivos empregados e limitações de seu uso. Na segunda parte

do trabalho, é apresentada uma analise comparativa entre um projeto desenvolvido em

PEAD e um projeto similar feito em alumínio, tendo como referência uma embarcação

destinada a serviços de mergulho.

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Características e Propriedades do Material

Este capítulo descreve, de forma sucinta, as propriedades e características do

material sugerido para o desenvolvimento do projeto estrutural da embarcação: o

Polietileno de Alta Densidade (PEAD).

1.1 O que são Polímeros

Os polímeros são materiais compostos por macromoléculas (moléculas de alto

peso molecular), formadas a partir de unidades estruturais menores (os monômeros). Os

monômeros são moléculas de baixa massa molecular os quais, a partir das reações de

polimerização, vêm a gerar a macromolécula polimérica. Em outras palavras,

monômero é uma pequena molécula que pode ligar-se a outros monômeros, através de

ligações covalentes (ligação química caracterizada pelo compartilhamento de um ou

mais pares de elétrons) formando moléculas maiores denominadas polímeros.

A palavra polímero vem do grego poli, que significa “muitas”, e meros, que é

“partes”, resultando no composto formado pelas repetidas “partes”.

Figura 1 - Macromolécula do Poliestireno, um polímero formado a partir da unidade

repetitiva do Estireno.

1.2 Origem da utilização de Polímeros

Os polímeros são utilizados pela humanidade desde a antiguidade. Em torno de

1000 a.C., os chineses obtiveram um verniz extraído de uma árvore chamada Rhus

vernicflua. Este verniz foi amplamente utilizado em móveis na forma de revestimento

impermeabilizante aumentando a durabilidade dos mesmos (QUEVEDO, 2016).

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Os processos para obtenção sintética de materiais poliméricos foram viabilizados

somente no início do século XX. A década de 1920 marcou oficialmente o início de

uma nova era nas descobertas relacionadas aos materiais poliméricos, com pesquisas

relacionadas aos mecanismos de polimerização de moléculas orgânicas na Alemanha

(QUEVEDO, 2016). De acordo com SOUZA (2018) o primeiro polímero a ser

sintetizado em laboratório foi o polietileno, no ano de 1934, em uma indústria na

Inglaterra. Entretanto, esse polímero só ficou conhecido anos depois durante a Segunda

Guerra Mundial, onde desempenhou um importante papel: como isolante elétrico de

radares militares.

O polietileno foi ganhando novas formas e, no ano de 1950, Karl Ziegler utilizou

da química orgânica para fabricar um polietileno mais rígido e de alta densidade. A

partir daí que surgiram as garrafas plásticas. E foi na forma de um brinquedo, o

bambolê, que foi o primeiro produto de polietileno de alta densidade surgiu no mercado

(SOUZA, 2018). O Polietileno de Baixa Densidade (menos rígido) por sua vez é

utilizado até hoje na obtenção de sacolas plásticas, por exemplo.

De 1920 até os dias atuais, a grande diversidade de técnicas de polimerização,

síntese de novos materiais poliméricos, polímeros biodegradáveis e nanocompósitos

(material de matiz polimérica reforçada com pequena porção de composto inorgânico de

escalas nanométricas) vêm aumentando gradativamente. Contudo, atualmente a ênfase

está em desenvolver e aprimorar formulações de polímeros já existentes utilizando

novas tecnologias e processos para a obtenção de materiais com propriedades

otimizadas.

No ano de 2010, a Braskem, maior fabricante de resinas plásticas das Américas,

inaugurou sua primeira planta de produção de etileno verde, produzindo Polietileno

Verde em escala industrial e comercial. O Polietileno Verde é produzido a partir da

cana-de-açúcar, sendo esta uma matéria prima renovável. Pode-se dizer, portanto, que

durante sua produção, este produto captura e fixa gás carbônico da atmosfera,

contribuindo para a redução de gases de efeito estufa.

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1.3 Matéria Prima dos Polímeros

Os polímeros podem ser encontrados de muitas formas na natureza, sendo

exemplos de polímeros naturais: a celulose (constituinte da parede celular dos

vegetais), glicogênio (polissacarídeo de principal reserva energética nas células animais

e bactérias), proteínas, borrachas naturais como o látex, diamante, grafite, entre outros.

Ou estes podem ser produzidos pelo homem, polímeros sintéticos, através de processos

de polimerização, que são as reações químicas que provocam a união dos monômeros,

para a produção de polímeros.

Os polímeros sintéticos mais comuns são obtidos a partir de monômeros extraídos

diretamente do petróleo, como o etileno, propileno e butadieno, originando assim os

materiais tecnicamente conhecidos como polietileno (PE), polipropileno (PP) e

polibutadieno (BR), respectivamente.

A transformação do petróleo em polímeros segue a chamada cadeia petroquímica,

na qual a refinaria destila o petróleo em diversos subprodutos, entre eles o Nafta, a qual

sofre um processo térmico de “quebra” originando diferentes moléculas menores, dentre

as quais os monômeros citados. Finalmente, as indústrias de polimerização transformam

os monômeros em diversos tipos de resinas poliméricas (LANA, 2006). As principais

fontes de matéria prima para a cadeia de produção de polímeros são: a Nafta (derivada

do petróleo), líquidos de gás natural (extraídos do gás) e carvão (BRASKEM, 2018).

1.4 Classificação dos Polímeros

As propriedades dos polímeros são fortemente influenciadas pelo comprimento das

macromoléculas, ou seja, pela sua massa molar. Sendo assim, tal característica é

vantajosamente explorada na produção comercial de vários tipos e grades de polímeros,

com ampla gama de propriedades e características, para atender variadas aplicações.

Dentro desse contexto, os polímeros podem ser classificados de diversas maneiras, entre

elas: quanto ao tipo de meros, quanto ao tipo de cadeia e quanto ao seu comportamento

mecânico.

1.4.1 Tipo de Meros

Os homopolimeros são polímeros que tem suas cadeias formadas por um único tipo

de mero, como o Polipropileno (PP), Polietileno (PE) e o Policloreto de Vinila (PVC).

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São ditos copolímeros os polímeros que tem suas cadeias formadas por mais de um tipo

de mero, como, por exemplo, o Acrilonitrila-butadieno-estireno, composto pela

combinação de acrilonitrila, butadieno e estireno.

1.4.2 Comportamento Mecânico

Os polímeros são classificados quanto ao seu comportamento mecânico em

elastômeros, fibras ou plásticos.

Os elastômeros são polímeros que, em temperatura ambientem aceitam grandes

deformações (mais de 200% do seu comprimento), sendo capazes de retornar

rapidamente ao comprimento original após de retirado o esforço. Os elastômeros

possuem um alto grau de elasticidade, e são normalmente conhecidos pelo termo

“borracha”.

As fibras são formadas por moléculas finas, longas e filamentosas que constituem o

tecido. Neste caso as cadeias poliméricas ficam alinhadas lado a lado, conforme o eixo

longitudinal da fibra. Depois de alinhadas, as moléculas permanecem nesta posição por

causa das forças intermoleculares. Existem duas condições básicas para que o polímero

seja utilizado como fibras: o polímero deve ser linear, permitindo o alinhamento

longitudinal; forças intermoleculares que consigam manter esse alinhamento, impedindo

o que uma molécula se sobreponha na outra.

Já os plásticos são polímeros sólidos na faixa de temperatura de utilização, podendo

estes ser termoplásticos ou termofixos. Os termoplásticos se fundem quando sujeitos a

um aumento de temperatura e pressão, e se solidificam após o resfriamento. Esta

transformação de estado físico é reversível para materiais termoplásticos, podendo estes

ser fundidos diversas vezes e remoldados. São, portanto, materiais possivelmente

recicláveis. O Polietileno (PE), o Polipropileno (PP), o cloreto de Polivinila (PVC) e o

Polietileno Tereftalato (PET) são alguns exemplos de termoplásticos.

Já para os plásticos termofixos, ou também chamados de termorrígidos, a

solidificação do material é um processo químico irreversível, devido à formação de

ligações cruzadas (ligações entre moléculas lineares produzindo polímeros

tridimensionais com alta massa molar). Se reaquecidos após o seu processo de cura, os

materiais termofixos se degradam, não podendo, portanto, serem remoldados nem

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reciclados. A Resina Epóxi e a Resina Poliéster, empregadas na fabricação de cascos de

fibra de vidro, são exemplos de plásticos termofixos.

1.4.3 Tipos de Configuração das Cadeias

As cadeias poliméricas podem apresentar varias formas, podendo ser lineares,

ramificadas, cadeias com ligações cruzadas ou cadeias em rede.

Nas cadeias lineares os meros são ligados entre si, constituindo uma cadeia sem

ramificações. As cadeias ramificadas possuem uma cadeia principal, da qual partem

ramificações que podem ser longas ou curtas. As ramificações das cadeias podem estar

dispostas de varias maneiras em relação à cadeia principal, configurando diferentes

tipos de arquiteturas. Nos polímeros de cadeias com ligações cruzadas, as cadeias

lineares principais estão ligadas umas as outras, em diferentes posições, através de uma

ramificação. Isso tudo está ilustrado na Figura 2.

Figura 2 - Configurações de cadeia para polímeros

18

1.5 Características dos Polímeros

1.5.1 Grau de Cristalinidade

A cristalinidade é a características de possuir regularidade na organização espacial

das cadeias, a longas distancias atômicas. Dentro da massa polimérica as regiões ou

fases cristalinas, estão conectadas a fases amorfas, não havendo uma divisão clara entre

estas. Nas fases amorfas as cadeias são dispostas entre si sem regularidade espacial. O

grau de cristalinidade é uma relação entre o volume de fase cristalina presente na massa

polimérica, e a massa polimérica total (Figura 3)

Figura 3 - Fases cristalinas e amorfas

A cristalinidade de um polímero é influenciada principalmente por características

da estrutura das moléculas e pelas condições de processamento do polímero. Os

polímeros de cadeias lineares possuem maior facilidade para o desenvolvimento de

cristalitos (fases cristalinas dentro da massa polimérica), devido a maior organização de

suas cadeias. A presença de ramificações nas cadeias atrapalha o empacotamento das

cadeias para a formação de cristalitos. Por este motivo, polímeros de cadeias lineares

atingem graus de cristalinidade maiores do que polímeros de cadeias ramificadas.

O grau de cristalinidade dos polímeros é um fator de forte influência na maioria das

propriedades físicas, mecânicas e termodinâmicas dos mesmos. Quanto mais elevado

for o grau cristalinidade, maior serão as propriedades de densidade, rigidez, temperatura

de fusão e temperatura de transição vítrea. (CANEVAROLO JR., 2006)

19

1.5.2 Comportamento Termomecânico

O comportamento mecânico de um polímero pode variar muito dependendo da

temperatura. Para entender o comportamento térmico dos polímeros algumas definições

são necessárias, tais quais:

Tg (temperatura de transição vítrea): Temperatura abaixo da qual as cadeias do

material não têm energia suficiente para se deslocarem entre si, e o

comportamento do polímero é de uma matéria rígida, sendo designado de estado

vítreo.

Tm (temperatura de fusão cristalina): Temperatura a partir da qual ocorre a

fusão das regiões cristalinas, e a mudança de um estado borrachoso para um

estado físico viscoso. Está é a fase sob a qual são processados os polímeros.

O valor de tais temperaturas são propriedades que variam para os diferentes

polímeros. Essas temperaturas definem uma mudança de estado físico e comportamento

do material. A baixas temperaturas (T < Tg), a rigidez do material infere na

incapacidade de responder a solicitação mecânica dentro de um intervalo de tempo,

caracterizando comportamento mecânico frágil. Para temperaturas intermediarias (Tg <

T <Tm), existe mobilidade na fase amorfa da massa polimérica, se mantendo rígida a

fase cristalina. Neste caso, há uma mobilidade parcial, e o polímero apresenta

comportamento mecânico dúctil, caracterizando um estado chamado de borrachoso.

1.5.3 Comportamento Mecânico

Devido a sua estrutura molecular, os polímeros possuem um comportamento

elástico, assim como os sólidos hookeanos (sólidos que obedecem a lei de Hooke, onde

a deformação é proporcional à tensão). Como mencionado por Canevarolo Jr. (2006),

este comportamento elástico é sobreposto por um comportamento viscoso, similar ao

dos líquidos. Esse tipo de comportamento é chamado de viscoelástico, e está associado

a capacidade do material de armazenar e dissipar energia simultaneamente, durante a

solicitação mecânica. Abaixo são citadas características do comportamento mecânico

dos materiais viscoelasticos:

i) Enquanto submetidos a tensão uniaxial, experimentam uma parcela de

deformação elástica instantânea, e uma subsequente deformação elástica

retardada por uma componente viscosa, cuja taxa varia em função do tempo.

20

Tem-se ainda que, depois de cessada a aplicação da força, há uma

recuperação instantânea da uma parcela de deformação elástica, seguida de

uma recuperação elástica retardada, além da decorrência de uma deformação

plástica residual irrecuperável. Este comportamento é representado no

gráfico da figura 3.

ii) Têm a habilidade de se deformar continuamente com o tempo, quando

submetido a um esforço. A essa característica é dado o nome de fluência.

iii) Observa-se também a habilidade de relaxamento a tensão, presente no

comportamento mecânico dos polímeros, o que significa que a tensão

necessária para manter uma deformação constante decresce ao longo do

tempo.

iv) Variação do módulo aparente (designação dada à relação tensão-deformação,

para polímeros, similar ao módulo de elasticidade para materiais elásticos)

em função da taxa de tensão. Ou seja, se o material é submetido a tração sob

uma velocidade baixa, seu modulo será mais baixo e, se a taxa de tensão for

mais elevada, seu modulo será maior.

O gráficos presentes Figura 5 ilustram a ocorrência da fluência e do relaxamento a

tensão, citados acima, típico do comportamento mecânico dos polímeros.

Figura 4 - Curva tensão-deformação típica dos

materiais viscoelásticos

21

Figura 5 - Fenômeno de fluência e relaxamento de tensão

1.5.4 Propriedades Mecânicas

Foi visto que o comportamento mecânico dos polímeros apresenta forte

sensibilidade à variações de temperatura. Em decorrência disso, e de sua natureza

viscoelastica, os polímeros têm suas propriedades mecânicas fortemente influenciadas

pela temperatura e pelo tempo de aplicação da tensão. O módulo aparente e a Tensão de

escoamento são propriedades dependentes dos fatores citados. Para exemplificar, a

Figura 6 ilustra a variação das curvas de tensão-deformação, de um polímero, para

diferentes temperaturas.

Figura 6- Curvas de tensão-deformação para varias temperaturas

Apesar do comportamento dos polímeros diferirem dos materiais elásticos, segundo

(PPI, 2012), o conceito de modulo aparente se mostra efetivo para aplicação em projeto

de engenharia, permitindo a utilização de equações desenvolvidas para materiais de

comportamento elástico. Porém, ainda segundo o autor citado, é importante reconhecer

22

o valor de modulo aparente para as condições de trabalho (tipo de tensão, tempo de

tensão aplicada, temperatura, etc.) que reflitam adequadamente as condições sob as

quais o material será utilizado.

1.6 O Polietileno

Como mencionado anteriormente, o Polietileno é um polímero sintético resultante

da polimerização do gás etileno. Estão disponível no mercado diferentes tipos

polietileno, com diversidade de propriedades, sendo, portanto um material bastante

versátil, empregado em diversos seguimentos da indústria de transformação de

plásticos. Sua utilização vai desde fabricação de produtos plásticos comerciais (como

sacolas plásticas, embalagens, tanques, filmes, etc.) até produtos mais sofisticados para

aplicações industriais, na área de biomedicina e tecnologia.

Os polietilenos são comumente classificados de acordo com sua densidade, sendo

os mais comuns: Polietileno de alta densidade (PEAD), Polietileno de Baixa Densidade

(PEBD), Polietileno de Baixa Densidade Linear (PEBDL), e Polietileno de Ultra Peso

Molecular (PEUPM).

Cada tipo de polietileno tem propriedades especificas referentes à resistência,

transparência, flexibilidade, entre outras (SANTOS, 2011). Sendo suas propriedades

fortemente influenciadas pelas seguintes características: massa molecular (tamanho das

cadeias), distribuição de massa molecular e densidade. Estas características variam

dependendo do processo de polimerização empregado, possibilitando a produção dos

variados tipos de polietileno.

O Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) é obtido através de um processo de

polimerização de alta pressão e altamente exotérmico, do qual decorre a formação de

ramificações de cadeia. Isto tem influencia no seu grau de cristalinidade, como

mencionado anteriormente, o qual fica entre 50-60% para este material. (SANTOS

2011).

A descoberta de catalisadores capazes de iniciar as reações de polimerização a

baixas temperaturas, tornou possível a obtenção do polietileno linear, o Polietileno de

23

Alta Densidade (PEAD). O primeiro polietileno obtido a baixa pressão foi sintetizado

por Max Fischer em 1934.

1.6.1 Polietileno de Alta Densidade

Como dito anteriormente, o Polietileno de Alta Densidade (PEAD) é obtido a

baixas temperaturas, sob ação de catalizadores Ziegler-Natta e a principal vantagem

disso é a obtenção de um polímero de cadeias lineares, com baixíssima concentração de

ramificações. Essa redução de ramificações permite que o PEAD atinja um maior grau

de cristalinidade (acima de 90%), associado também a maior densidade e maior peso

molecular (COUTINHO, MELLO e SANTA MARIA, 2003). A Figura 7 apresenta os

efeitos do teor de ramificações nas propriedades mecânicas, para PEAD altamente

linear, PEAD linear e par ao PEBD.

Figura 7 - Influencia do teor de ramificações de cadeia nas propriedades do

Polietileno

A maior orientação das cadieas polimericas, aumenta o empacotamento e ,

consequentemente, a rigidez do polimero. Sendo assim, materiais fabricados com PEAD

orientado podem ser aproximadamente dez vezes mais resistentes do que os polimeros

não orientados. (COUTINHO, MELLO e SANTA MARIA, 2003).

24

Outra caracteristica reconhecidas do PEAD é sua alta capacidade de absorver

energia mecânica, pos suindo, assim, altíssima resistência a iniciação e propagação de

fissura sob forças de impacto(PPI, 2012)

1.7 Aplicação do PEAD na indústria naval

Como mencionado anteriormente os Polietilenos são materiais plásticos versáteis,

empregados para uma diversa gama de aplicações. O Polietileno de Alta Densidade tem

aplicação dentro da indústria náutica, principalmente na fabricação de pequenas

embarcações miúdas como caiaques e botes, e para barcos de serviço, como lanchas de

salvamento, transporte, interceptação, embarcações militares, entre outras.

As principais vantagens desta opção de material estão na boa resistência ao impacto

e leveza (baixa densidade) desse, em adição à relativa simplicidade dos métodos

construtivos utilizados, se comparados com os métodos de construção em alumínio ou

fibra de vidro, materiais tradicionalmente empregados para este tipo de embarcação.

1.7.1 Métodos de Fabricação

Para a construção de embarcações de Polietileno são empregados dois tipos de

métodos: Rotomoldagem ou Soldagem de Peças Semiacabadas (GIRO, 2016).

A rotomoldagem é o processo empregado para fabricação de casco de pequenos

caiaques, pranchas ou peças. É um processo automatizado, que utiliza altas temperaturas

para fundir um material granulado de PEAD, dentro de uma forma, ou molde, de

alumínio fundido, a qual é rotacionado no interior de um forno industrial. Em seguida, o

molde é submetido a processo de resfriamento e o material termoplástico se solidifica

no interior do molde.

O processo de rotomoldagem é relativamente rápido, comparado com os processos

de fabricação em fibra de vidro ou madeira, não necessitando de mais insumos além do

material plástico. Por esse motivo é um método vantajoso para construção de

embarcações fabricadas em série. Com o emprego desse processo os caiaques e

pranchas de plástico se tornaram popular mundialmente. No entanto, para produção de

25

poucas unidades de produto, o método pode ser economicamente desvantajoso, uma vez

que requer um investimento inicial na construção do molde.

O método de soldagem de chapas de PEAD possibilita a construção menos custosa

para cascos maiores e/ou feitos em poucas unidades. Neste caso, as chapas ou peças

semiacabadas são chanfradas e soldadas, utilizando um fio de solda do mesmo material

como matéria de adição, e um soprador de calor como ferramenta de soldagem.

O método construtivo de embarcações de PEAD por soldagem de chapas é

semelhante ao utilizado para construção em metais (alumínio ou aço): Os elementos

estruturais e cavernas são soldados entre si por filetes, e posteriormente as chapas do

casco são soldadas a estes elementos (GIRO 2016).

É importante observar que o tamanho da maquina de solda extrusora limita o

espaçamento mínimo entre reforçadores da embarcação, para que seja possível ter

espaço para soldar adequadamente. Atualmente essas ferramentas possuem um

comprimento aproximado de 40 centímetros, não sendo indicado vãos menores que 50

centímetros para que o soldador possa realizar o trabalho.

Figura 8 - Máquina extrusora para solda de chapas de PEAD

Apesar do método de soldagem possibilitar a construção de cascos maiores, o uso

do PEAD para construção naval ainda é limitado pela alta flexibilidade do material, que

permitiria grandes deformações globais em casco de comprimentos maiores. Por esse

motivo a utilização do PEAD na indústria náutica ainda é restrita, estando as maiores

embarcações já construídas na faixa de 12m.

26

1.7.2 Escolha do Material

Atualmente, na indústria náutica, o PEAD vem sendo empregado principalmente

para embarcações rápidas de serviço, por apresentar alta resistência ao impacto aliado à

baixa densidade, o que o torna um material interessante para esse determinado uso.

Comparado com o alumínio, que é um material comumente utilizado para esta

aplicação, o PEAD é muito mais leve. Enquanto o alumínio naval, possui densidade de

aproximadamente 2,7g/cm³, a densidade do PEAD fica dentro da faixa de 0.93-0.96

g/cm3. Ainda em comparação com o alumínio, a construção e reparo de embarcações

em PEAD exige menos especialização de mão de obra.

Adiante, outras vantagens ainda são levantadas pelos fabricantes de barcos de

PEAD, como Tideman Boats, que cita a excelente resistência química do material, ao

qual não decorrem desgastes devido à salinidade da água ou líquidos agressivos,

resistência a incrustações e boa resistência à abrasão. Consequentemente, o casco da

embarcação terá boa durabilidade, e não necessita de manutenção de pintura ou limpeza.

Finalmente, ainda no tocante à inovação, a adoção de métodos e materiais que

geram menor impacto nocivo ao meio ambiente, tem merecido uma atenção crescente

dos projetistas. Neste âmbito, a utilização de determinados materiais, pode resultar, no

decorrer de seu ciclo de vida, na incorporação de quantidades maiores ou menores de

energia não-renovável e água, em quantidades de emissão de gases poluentes para

atmosfera, e outras substancias poluentes no meio ambiente. A Tabela 1 apresenta

valores de quantidade de energia incorporada e quantidade de dióxido de carbono

emitida para a atmosfera, para alguns materiais.

Tabela 1- Quantidade de energia incorporada e quantidade de dióxido de carbono

emitida, para diferentes materiais

Material Energia Emissão CO2

MJ/kg Kg/kg

Fibra de Vidro 28-48,3 1,53-2,04

GRP 100 8,1

Alumínio 121-292 11,45

HDPE 76,7-103 1,6

27

É visto que em comparação ao alumínio e plsatico reforçado com fibra de vidro

(Glass Reinforced Plastic, ou GRP), o PEAD infere em menos emissão de carbono e

menor quantidade de energia incorporada durante sua vida util. Ademais o PEAD é um

material que pode ser reciclado, apresentando, portanto, mais vantagens do ponto de

vista do desenvolvimento sustentável.

Em conclusão, o PEAD oferece vantagens de facilidade de construção e reparo,

baixa manutenção, e menor dano ao meio ambiente e saúde, quando comparado com os

materiais tradicionalmente utilizados na fabricação de pequenas embarcações, sendo

esses alumínio, madeira e fibra de vidro. Em contrapartida, é reconhecida a limitação da

utilização deste material para projeto de embarcações de maior porte devido à alta

flexibilidade do material.

28

Estudo de Caso: Comparação entre Embarcações em

PEAD e Alumínio

Esta parte do trabalho visa obter parâmetros para comparação entre um projeto de

embarcação desenvolvido em PEAD e um projeto similar em alumínio. Visto que

ambos os materiais apresentam boas propriedades mecânicas para aplicação em

embarcações rápidas, o objetivo desse estudo de caso é obter valores para o peso e custo

de material, para que essas informações possam servir de informação para as

considerações finais a respeito da escolha do material.

3.1 Objeto de projeto

Nesta etapa do trabalho, o objeto de projeto é uma embarcação para transporte e

suporte de oito mergulhadores, não cabinada, construída em PEAD. A velocidade

desejada é de aproximadamente 11nós, operando em regime de deslocamento de alta

velocidade (mais comumente referido como semi-planeio), para navegação em regiões

costeiras, com propulsão do tipo jato d’agua.

A aplicação do PEAD, para construção de uma embarcação para transporte de

mergulhadores, é devido, principalmente, a excelente resistência a impacto oferecida

pelo material, o que evita riscos de danos ao casco da embarcação em caso de colisão

com pedras, ou danos devido a impacto de equipamentos no convés. Além disso o baixo

custo de manutenção do casco da embarcação é outro fator importante.

O tipo de motorização adotado é o jato d’agua, pois este tipo de sistema não possui

componentes abaixo da linha do casco, eliminando o risco de dano no propulsor devido

a encalhe, e por ser mais seguro para os mergulhadores. Uma pesquisa de modelos de

jato d’agua disponiveis no mercado apontam para modelos com capacidade minima

bem acima do valor requerido esta velocidade de 11 nós. Neste caso, a escolha desse

29

tipo de sistema não representa a opção mais eficiente, contudo as vantagens

mencionadas acima justificam a escolha.

3.2 Arranjo Geral Preliminar

O arranjo geral com dimensões iniciais estimadas foi feito a partir do numero de

passageiros, tendo como objetivo criar um layout onde haja espaço para os passageiros

viajarem sentados, espaço de circulação, com ampla rampa de acesso a ré e uma cabine

na área do comando da embarcação. A Figura 9 apresenta a vista superior do arranjo

geral, a Figura 10 a vista lateral, e a Figura 11 a vista frontal da embarcação.

Figura 9 - Arranjo geral, vista superior

30

Figura 10 - Arranjo geral, vista lateral

Figura 11 - Arranjo geral, vista frontal

3.3 Forma do Casco

A forma do casco foi desenvolvida para operação em regime de semi -

deslocamento. Nesse regime de operação a faixa do numero de Froude (adimensional

utilizado para classificar as embarcações quanto ao seu regime de desempenho)

volumétrico é .

As linhas do casco são caracterizadas por baixo ângulo de entrada de linha d’água,

bojos arredondados (sem quina), seções constantes a ré, terminando em uma seção

transversal parcialmente submersa no transom. Este tipo de forma permite que, com o

31

aumento da velocidade, uma força de sustentação hidrodinâmica seja gerada na região

de proa, fazendo com que a proa da embarcação emerja da água. Para evitar um trim

excessivo, as linhas do casco na região de ré devem ser largas de modo a oferecer

sustentação hidrostática suficiente. A combinação dessas duas características de forma

permite a embarcação operar na condição de semi-deslocamento de forma eficiente.

A forma do casco foi desenvolvida utilizando o software Maxsurf Modeler. Nas

Figuras 12, 13 e 14 é apresentado o plano de linhas da embarcação. As características

principais da embarcação são apresentadas na Tabela 2.

Figura 12 – Casco de deslocamento rápido , Plano de balizas

Figura 13 - Casco de deslocamento rápido , Plano de linhas do alto

32

Figura 14 -- Casco de deslocamento rápido , Plano de linhas d'agua

Tabela 2 - Características principais da forma da embarcação de estudo

Comprimento (LOA) 7,00 m

Pontal (D) 1,49 m

Boca (B) 2,700 m

Deslocamento 2,261 t

Volume deslocado 2,206 m³

Calado (T) 0,500 m

Comprimento em WL

(LWL)

6,515 m

Boca max em WL 1,948 M

Coef. Prismático (Cp) 0,785

Coef. De Bloco. (Cb) 0,358

LCB 2,847 from aft perp.

(+ve fwd) m

3.4 Projeto Estrutural

Atualmente, ainda há pouca informação disponível a respeito de referências e guias

para o cálculo estrutural de embarcações em PEAD. A referência DNV (2010) fornece

considerações sobre requerimentos de fabricação e propriedades do material. Há ainda

um requerimento de espessura mínima para chapa de fundo e costado. A referência Türk

Loydu Istambul (2014), representa uma tentativa de desenvolver requerimentos para

garantir um nível de segurança no uso do PEAD para embarcações de serviço,

considerando-se a faixa de comprimento de 6 à 24 m, aproximadamente, e velocidades

até 45 nós.

33

Levando em consideração que o Polietileno de Alta Densidade, como já

mencionado, é um material isotrópico, da mesma forma que o alumínio e aço, serão

considerada a possibilidade de adaptação das formulações existentes para esses

materiais. Para isso, foi considerado que, apesar da natureza viscoelástica do PEAD, os

valores de módulo aparente e tensão limite de escoamento podem ser empregados, para

cálculos de engenharia, de maneira efetiva, em formulações desenvolvidas para

materiais de comportamento elástico. Foi considerado também que esses valores foram

obtidos para as condições de temperatura e sob condições de taxa de carregamento

adequadas à aplicação em questão.

Sendo assim, os cálculos dos escantilhões foram baseados nas formulações

presentes nas regras da Sociedade Classificadora ABS, para classificação de

embarcações de alta velocidade, Rules for Building and Classing High-Speed Crafts.

Part 3- Hull constructions and equipment -2015. O processo para definição dos

escantilhonamentos mínimos, presente nesta referencia, envolve identificação e calculo

carregamentos a serem considerados, as propriedades do material utilizado, calculo da

tensão admissivel no chapeamento e reforçadores e aplicação de fatores de segurança.

Em termos gerais, devido à distribuição de cargas atuantes, a embarcação se

comporta tal como uma viga, por se tratar de uma estrutura elástica, dando origem às

tensões globais. As embarcações menores (até 50 metros) podem ser comparadas com

vigas de baixa razão comprimento-seção transversal, e, neste caso, a deflexão relativa

devido aos esforços globais são relativamente pequenas. Assim, geralmente, o

atendimento dos requerimentos para tensões locais são suficientes para garantir o

padrão de segurança estrutural.

3.4.1 Topologia Estrutural

A estrutura desta embarcação será composta por anteparas, cavernas gigantes e

reforçamento longitudinal. A Figura 15 mostra o arranjo estrutural da embarcação, e a

Tabela 3 apresenta os valores para espaçamento de reforçadores.

34

Figura 15 - Topologia estrutural da embarcação de estudo de caso

Tabela 3 - Espaçamento entre reforçadores

Reforçadores Espaçament

o (m)

Vão entre suportes

(m)

Fundo 0,5 0,70

Costado 0,5 0,83

Anteparas transversais 0,5 0,66

Anteparas Longitudinais PM 0,53 0,54

Convés 0,5 0,70

Transom 0,7 0,66

Cabine 0,5 0,53

3.4.2 Calculo dos Esforços Atuantes

As formulações utilizadas para o cálculo das pressões atuantes do fundo e costado

contemplam a pressão hidrostática no casco, com adição de um fator que inclui

carregamentos devido às acelerações de impacto. Também são considerados fator de

distribuição de força de impacto em função da posição longitudinal , e um fator de

redução de área , o qual basicamente leva em conta que a pressão de slamming é mais

distribuída quão maior for a área do painel considerado. O calculo para pressão no deck

é em função apenas do comprimento da embarcação. A Tabela 4 apresenta o resumo

dos resultados obtidos para as pressões atuantes no casco da embarcação em questão.

35

Tabela 4 - Resumo dos resultados para pressões atuantes no casco

Resumo das Pressões de Projeto

Pressão máxima no Fundo 43,34 KN/m2

Pressão máxima no Costado 27,47 KN/m2

Transom 11,97 KN/m2

Convés Principal 22,98 KN/m2

Convés do Castelo de Proa 9,00 KN/m2

Anteparas Transversais 6,37 KN/m2

Anteparas Longitudinais 6,37 KN/m2

Cabine 6,90 KN/m2

Assentos 13,98 KN/m2

3.4.3 Propriedades do Material

Referente ao PEAD, tem-se que o módulo equivalente e tensão de escoamento

deste material são propriedades fortemente influenciadas pela temperatura e condições

da taxa de carregamento. Logo, ressalta-se que os valores utilizados para essas devem

ser validados pelos testes cabíveis e conduzidos sob as condições adequadas as de

aplicação do material. Dito isso, na Tabela 5, estão apresentadas as propriedades do

PEAD, utilizadas para os cálculos estruturais neste trabalho, obtidas por uma ficha

técnica comercial do fornecedor Plasttotal, (2015).

Tabela 5 - Valores utilizados para propriedades do PEAD

Propriedades do PEAD

Densidade kg/m3 960

Limite de escoamento N/mm² 25

Modulo Equivalente (de tração) N/mm² 1200

Temperatura de transição vítrea -90

Máxima temperatura de serviço

(longa duração ) 90

Para o projeto em alumínio, utilizou-se o liga de alumínio 5083, que tem boa

soldabilidade e resistência a corrosão (COSENTINO, 2014). As propriedades utilizadas

para esta liga foram obtidas das regras para classificação de materiais, Rules For

Materials and Welding – Part 2 Aluminium and Fiber Reinforced Plastics (FRP) –

2013, dispostas pela Sociedade Classificadora ABS (2013), e estão apresentadas na

Tabela 6.

36

Tabela 6 – Valores utilizados para as propriedades do alumínio

Propriedades do Alumínio 5083 – H32

Densidade t/

m3

2,

66

Limite de escoamento N/

mm²

1

45

Modulo Equivalente (de

tração)

N/

mm²

7

2.000

3.4.4 Tensão de Projeto

De acordo com Larsson & Eliasson (2000) a tensão de projeto, ou tensão

admissível, presente nas formulações da ABS (2015) é uma fração da tensão de

escoamento do material, variando com a localização da chapa ou reforço. Portanto, será

considerado que esses fatores dependem somente da composição dos esforços locais em

cada localidade da estrutura do casco, sendo portanto, aplicáveis para o projeto em

PEAD. A Tabela 7 apresenta os fatores de tensão admissível utilizados para a

determinação das tensões de projeto, para o dimensionamento de chapas, para os dois

materiais estudados.

Tabela 7 - Tensões de projeto para cálculos do chapeamento- PEAD e Alumínio

Chapas

Fator de

tensão admissível

(%Tensão de

escoamento)

Tensão

Admissível

PEAD (N/mm²)

Tensão

Admissível

Alumínio

(N/mm²)

Fundo 55,00 13,75 79,75

Costado 55,00 13,75 79,75

Convés Principal 55,00 15,00 87,00

Convés Castelo de Proa 60,00 15,00 87,00

Anteparas Transversais 60,00 15,00 87,00

Anteparas Longitudinais 60,00 15,00 87,00

Cabine 60,00 15,00 87,00

Assentos 60,00 15,00 87,00

A Tabela 8 apresenta os fatores de tensão admissível utilizados para o calculo das

tensões de projeto, para o dimensionamento dos reforçadores.

37

Tabela 8- Tensões de projeto aplicáveis para dimensionamento dos reforçadores-

PEAD e Alumínio

Reforços

Fator de

tensão

admissível

(%Tensão de

escoamento)

Tensão

Admissível

PEAD

(N/mm²)

Tensão

Admissível

Alumínio

(N/mm²)

Longitudinais de Fundo 0,80 20 116

Longitudinais de Convés 0,33 8 48

Transversais de Fundo 0,80 20 116

Transversais de Costado 0,80 20 116

Transversais de Convés 0,75 19 109

Reforços Anteparas

Transversal

0,85 21 123

Reforços Anteparas

Longitudinais

0,85 21 123

Reforços da

Cabine

0,70 18 102

3.4.5 Espessura das chapas

A espessura mínima das chapas foi calculada de acordo com a Equação (1). Para

fins de comparação, as espessura das chapas do costado e fundo, para o material PEAD,

também foram calculadas de acordo com uma formulação similar, encontrada nas

referencias Türk Loydu (2014) e DNV (2010), a saber:

Equação (1)

Onde

“t” =Espessura mínima da chapa (mm),

“p”= Pressão de Projeto (kN/m²),

“k”= Razão de aspecto da chapa,

“s”= Menor espaçamento entre os reforçadores (m) e

“ ” =Pressão admissivel (kN/m²)

38

( ) Equação (2)

Onde

“L” = Comprimento da embarcação (m),

“PF” = Fator de pressão de projeto estimada, em função do comprimento e

velocidade de serviço ,

“t” e “s” como descritos acima.

“k” = Fator de material, sendo igual a:

K= 1,00 para PEAD

K= 0,85 para PEMD

K= 0,72 para PEBD

Em adição, para o projeto em PEAD, a espessura mínima de chapa utilizada foi de

8 mm, para que o material possa ser bem soldado sem a necessidade de fazer uma solda

muito controlada de modo a evitar deformações. Os resultados para as espessuras das

chapas para o projeto em PEAD são apresentados na Tabela 9.

Tabela 9 - Resultados de espessura de chapas de PEAD

Chapa Espessura

mín PEAD (mm)

- ABS

Espessura

mín PEAD (mm) -

Loydu

Espessura

comercial PEAD

(mm)

Fundo 14,96 13,03 15,00

Costado e Transom 12,08 11,29 15,00

Convés Principal 12,88 - 15,00

Convés Castelo de

Proa

8,06 - 8,00

Anteparas

Transversais

6,63 - 8,00

Anteparas

Longitudinais

5,80 - 8,00

Cabine 6,18 - 8,00

Assentos 10,00 10,00

A Tabela 10 apresenta a comparação das espessuras de chapas utilizadas para os

dois projetos:

39

Tabela 10 - Comparação de espessura de chapas, PEAD e Alumínio

Chapa Espessura comercial PEAD

(mm)

Espessura

comercial Alumínio

(mm)

Fundo 15,00 6,35

Costado e Transom 15,00 6,35

Convés Principal 15,00 6,35

Convés Castelo de Proa 10,00 4,76

Anteparas Transversais 8,00 4,00

Anteparas Longitudinais 6,00 4,00

Cabine 6,00 4,00

Assentos 10,00 4,76

3.4.6 Dimensionamento dos Reforçadores

Para dimensionamento dos reforçadores são utilizadas as formulações apresentadas

na Equação (3) e Equação (4). De acordo com a regra utilizada, essas equaçãoes são

aplicaveis para diferentes materiais (aço, aluminio e fibra de vidro). Portanto sua

utilização será considerada extendivel para o PEAD.

Equação (3)

Equação (4)

onde:

“SM”= Módulo de seção requerido para o reforçador ;(cm³),

“I” = Inércia requerida da seção transversal do reforçador;

“p”= Pressão da chapa (kN/m²);

“s”= Menor espaçamento entre os reforçadores (m);

“l” = distancia entre os pontos de suporte do reforço em questão (m);

“ ” =Tensão admissível (kN/m²);

“E”= módulo de elasticidade do material (N/mm²) ou módulo equivalente, neste

caso;

40

“K” = Fator dependente do tipo de reforço e do material utilizado. Para a presente

regra, este valor varia entre 0,0015 e 0,0018. Como não há referência sobre valor para o

material PEAD, adotou-se, conservadoramente, o valor de 0,003.

Na Tabela 11 são apresentados os resultados de cálculos para modulo de seção

requerido e inercia requerida dos reforçadores, para o projeto em PEAD, e as dimensões

dos perfis:

Tabela 11 - Resultados para dimensionamento dos reforçadores para PEAD

Reforçadores SM

req.

(cm³)

I req.

(cm4)

PERFIL

Longitudinais de Fundo 38,9 273,9 I 80 x 15

Longitudinais de Convés 40,6 145,2 I 80 x 15

Transversais de Fundo - Área 1 e 2 57,8 801,3 I 115 x 15

Transversais de Fundo - Área 3 e 4 50,5 535,2 I 100 x 15

Transversais de Costado - Área 1 34,8 500,8 I 95 x 15

Transversais de Costado - Área 2 28,3 407,2 I 88 x 15

Transversais de Costado - Área 3 e 4 22,9 247,1 I 75 x 15

Transversais de Convés 25,0 284,7 I 75 x 15

Reforços Anteparas Transversal 5,4 66,1 I 60 x 8

Reforços Anteparas Longitudinais 3,9 38,4 I 50 x 8

Reforços da Cabine 4,3 37,1 I 50 x 8

Os resultados obtidos para o projeto em alumínio estão mostrados na Tabela 12:

Tabela 12 - Resultados para dimensionamento dos reforçadores, para alumínio

Reforçador SM

req. (cm³)

I req.

(cm4)

PERFIL

Longitudinais de Fundo 5,7 43,6 I 58 x 6,35

Longitudinais de Convés 7,0 40,3 I 55 x 6,35

Transversais de Fundo - Área 1 e 2 10,0 190,8 I 100 x 6,35

Transversais de Fundo - Área 3 e 4 8,7 127,4 I 85 x 6,35

Transversais de Costado - Área 1 6,0 119,2 I 85 x 6,35

Transversais de Costado - Área 3 e 4 3,9 58,8 I 65 x 6,35

Transversais de Convés 4,3 79,1 I 75 x 6,35

Reforços Anteparas Transversal 0,9 15,7 I 50 x 4,0

Reforços Anteparas Longitudinais 0,7 9,1 I 40 x 4,0

Reforços da Cabine 0,7 8,8 I 40 x 4,0

41

3.5 Peso da Estrutura

De acordo com o dimensionamento estrutural apresentado acima, foi calculado o

peso estrutural obtido para os dois projetos. As memórias de cálculo de peso estrutural

para o projeto em PEAD e para o projeto em alumínio, estão apresentadas no Anexo-1 e

no Anexo-2, respectivamente. A Tabela 13 apresenta um resumo do peso estrutural

obtido para os dois materiais diferentes:

Tabela 13 - Comparação do peso estrutural, alumínio e PEAD

Material Peso (kg)

Alumínio 1177,67

PEAD 974,52

Diferença 17,25%

3.6 Custo de material

Para fins de comparação de custo de material, o custo da liga de alumínio 5083 H32

tem como base de referencia o trabalho de Cosentino (2014). O custo das chapas de

Polietileno de Alta Densidade foi obtido em contato com setor de vendas do fornecedor

Laminex. A Tabela 14, mostra um comparativo de cotação dos dois materiais.

Tabela 14 - Comparação de custo de material, alumínio e PEAD

Material Custo de

material (R$/kg)

Custo total de material

(R$)

Alumínio 5083 H-32 22,00 25.908,74

PEAD 10,00 9.745,17

3.7 Análise Comparativa entre PEAD e Alumínio

De acordo com o estudo de caso conduzido neste trabalho, observou-se que para

um mesmo casco de deslocamento rápido, foi possível obter um peso estrutural menor

utilizando o Polietileno de Alta Densidade. Neste caso, a diferença percentual de peso

foi equivalente a aproximadamente 17%.

Em relação ao custo de material, segundo a análise presente neste trabalho, a

utilização do PEAD também apresentou vantagem em relação ao alumínio,

apresentando um custo de material 62% mais barato que o alumínio.

42

3.8 Considerações do Estudo de Caso

Segundo as analises comparativas entre os dois projetos similares em questão, o

Polietileno de Alta Densidade apresentou vantagens em relação ao peso e ao custo de

material. Observa-se que, em relação a questão da diminuição do peso leve da

embarcação, devida atenção deve ser dada na fase de projeto para a estabilidade de

embarcações construidas em PEAD, principalmente no que concerne a altura maxima

do centro de gravidade, em vista de garantir uma estabilidade adequada.

Aponta-se ainda que um estudo mais detalhado sobre os custos totais de construção,

incluindo custos com mão de obra, constribuirão para uma tomada de decisão mais

acertada no que se refere aos custos do projeto.

Neste trabalho foi possível desenvolver o projeto estrutural de uma embarcação em

PEAD aplicando as formulações existentes para aço e alumínio. Neste caso, foi

assumido que, apesar do polietileno possuir comportamento mecânico viscoelástico, as

formulações para cálculos de escantilhões para materiais elásticos podem ser aplicadas,

se os valores para tensão de escoamento e modulo de elasticidade forem estabelecidos

para as condições corretas de aplicação do material. Ressalta-se que é necessário

considerar as condições de temperatura e o tipo de tensão aplicada (uniaxial ou

multiaxial, magnitude da tensão aplicada e duração de aplicação da tensão).

A flambagem local do elemento estrutural não foi abordada neste trabalho.

Todavia, este pode vir a ser um ponto crítico para projeto de embarcações em PEAD,

uma vez que este é um material de baixa rigidez se comparado com materiais metálicos.

Quanto ao valor utilizado para o modulo aparente, este foi obtido por testes de carga

uniaxial, logo se considera que este valor tende a ser conservador, visto que, quando

sujeito a uma carga multiaxial, a resposta de deformação do polietileno é inibida, o que

resulta em um aumento do modulo aparente do material. (PPI, 2012).

Ressalta-se que ainda não há estudos mais aprofundados que possam servir de base

para validar a adaptação das formulações para o cálculo dos escantilhões de estruturas

de embarcações construídas em aço e alumínio para construções em PEAD. Posto isso,

indica-se a necessidade de um avanço no estudo de analise estrutural de embarcações

em PEAD e do desenvolvimento de regras especificas para sua classificação.

43

.

4 Considerações Finais

Neste trabalho foi realizado uma seleção de informações, atraves da pesquisa de

livros, trabalhos, dissertações, e contato direto com pessoas que atuam no ramo de

fabricação de embarações de PEAD, de forma a construir um material compacto e claro

de informações relevantes de engenharia sobre a utilização do PEAD para para esta

aplicação, contribuindo desta forma para futuros trabalhos ligados a este tema.

Foi mostrado que o Polietileno de Alta Densidade possui ampla utilidade para

aplicação em engenharia, e também na área nautica, sobretudo para construção de

embarcações de serviço. Atualmente, no Brasil, este material vem tendo crescentemente

empregado para projetos de embarcações militares, que necessitam ser extremamente

resistentes a impactos locais.

Foi visto que este material também apresenta grande vantagem em termos de

baixissimo custo de manutenção do casco, possuindo excelente resistencia quimica e

abrasiva. Em adição a isso, o PEAD possui grande oferta no mercado, sendo um

material de baixo custo aquisitivo. O método construtivo de soldagem de chapas semi-

acabadas não requer alta especialização da mão de obra. Todas essas caracteristicas

apontam para uma redução dos custos construtivos e de manutenção.

Contudo, tem-se que o Polietileno de Alta Densidade ainda não é um material

classificado para construção de embarcações, tendo suas possibilidades de aplicação

reduzidas por conta disso. Principalmente, aponta-se que um estudo mais aprofundado a

respeito do comportamento estrutural de embarcações construidas em PEAD , assim

como estudos para elaboração de regras de classificação especificas para Polietileno de

Alta Densidade, são dois pontos de grande importancia para a o desenvolvimento de

novos projetos em PEAD, visando a segurança no emprego deste material.

Ainda, a respeito do desenvolvimento de projeto de embarcações feitas em

termoplasticos, um maior entendimento sobre o comportamento mecanico dese material

é conclusivo para a otimização dessas. Informações referentes a detalhes da

44

construtivos, provenientes da prática, também podem vir a contribuir positivamente

para o desenvolvimento de novas soluções em engenharia e novas tecnologias.

45

5 Referências Bibliográficas

- American Bureau of Shipping. Rules for building and classing high-speed

crafts. Part 3- Hull constructions and equipment. 2015.

- American Bureau of Shipping. Rules for materials and welding. Part 2-

Aluminium and fiber reinforced plastics (FRP). 2013.

- CANEVAROLO JR, S. V. Ciência dos Polímeros: Um texto básico para

tecnólogos e engenheiros, Artliber Editora Ltda, 2006.

- COSENTINO, R. L. 2014. Análise da topologia estrutural e sua influência no

custo de fabricação do casco de catamarãs em alumínio. Projeto de Graduação –

Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

- COUTINHO, F. M. B., MELLO, I. L. & SANTA MARIA, L. C. Polietileno:

Principais tipos propriedades e aplicações, Polímeros: Ciência e Tecnologia, v.13, n. 1,

p. 1-13, 2003.

- Det Norke Veritas. Rules for classification of hight speed light craft and naval

surface craft. Part 3, Ch. 1, Design principles, design loads. Janeiro 2011

- GIRO, F. L., 2016. Soldagem por extrusão em chapas de polietileno de alta

densidade. Projeto de Graduação – Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro.

- LARSSON L. & ELIASSON R. E. Principals of Yatch Design, 2 ed., Adlard

Coles Nautical, 2000.

- MESQUITA, F. A. 2010. Modificação das propriedades do polietileno de alta

densidade por diferentes condições de extrusão. Dissertação (Mestrado) – Escola

Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo.

- SANTOS, A. C. C. 2011. 32f. Avaliação das propriedades e aplicações do

PEUAPM. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) – Escola Politécnica,

Universidade Federal da Bahia, Salvador.

- Türk Loydu Istambul. Tentative Rules for Polyethylene Crafts. 2014

- Handbook of Polyethylene Pipe, The Plastics Pipe Institute, Inc. 2nd ed., 2012

46

Referências Online:

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em: http://www.braskem-ri.com.br/o-setor-petroquimico

- LANA, C. R. 2006. Polímeros sintéticos: Plásticos promoveram revolução em

nosso cotidiano [Acesso em 15 de Janeiro de 2018]. Disponível em:

https://educacao.uol.com.br/disciplinas/quimica/polimeros-sinteticos-plasticos-

promoveram-revolucao-em-nosso-cotidiano.htm

- Plasttotal. 2015. PEAD ou polietileno informações técnicas.pdf. [Acesso em 22

de Dezembro de 2017]. Disponível em: http://www.plasttotal.com.br/plasticos-de-

engenharia-polietileno.php

- QUEVEDO, R. T. 2016. Polímeros. [Acesso em 15 de Janeiro de 2018].

Disponível em: https://www.infoescola.com/quimica/polimeros/

- SOUZA, L. A.. 2018. Descoberta dos polímeros. [Acesso em 15 de Janeiro de

2018]. Disponível em: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/descoberta-dos-

polimeros.htm

- Tideman Boats. HDPE – the indestructible plastic – 10 reasons to choose a

HDPE workboat. [Acesso em 22 de Dezembro de 2017]. Disponível em:

http://tidemanboats.com/hdpe-the-new-plastic-10-reasons-to-choose-a-hdpe-workboat/.

47

Anexo-1

Tabela Anexo 1 - Memória de cálculo de peso estrutural para projeto em PEAD

(m2) (mm) (kg)

Chapa Área Espes

sura

Peso

Chapas do Fundo 16,92 15,00 283,65

Chapas do Costado 10,18 15,00 146,59

Chapas do Convés Principal 12,12 15,00 174,53

Chapas do Castelo de Proa 1,63 8,00 12,52

Chapa da Rampa 1,43 15,00 20,59

Chapa do Transom 1,02 15,00 14,69

Chapas da Cabine 8,25 8,00 63,36

Antepara 01 1,08 8,00 8,29

Antepara 02 1,01 8,00 7,76

Antepara 03 1,11 8,00 8,52

Antepara 04 0,82 8,00 6,30

Anteparas Longitudinais (2) 11,31 8,00 86,86

Assentos Passageiros (2) 4,90 10,00 47,04

(m) (mm) (mm) (kg)

Reforçadores Compri

mento

Altur

a

Espessura Peso

Longitudinais de Fundo 13,28 80,00 15,00 15,30

Longitudinais de Convés 13,28 80,00 15,00 15,30

Transversais de Fundo - Área 1 e

2

9,00 115,0

0

15,00 14,90

Transversais de Fundo - Área 3 e

4

7,20 100,0

0

15,00 10,37

Transversais de Costado - Área 1 4,80 95,00 15,00 6,57

Transversais de Costado - Área 3

e 4

4,80 75,00 15,00 5,18

Transversais de Convés 16,00 75,00 15,00 17,28

Reforços Anteparas Transversal 7,60 60,00 8,00 3,50

Reforços Antepara Longitudinais 2,40 50,00 8,00 0,92

Reforços da Cabine 11,70 50,00 8,00 4,49

SUBTOTAL 974,52

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Anexo-2

Tabela Anexo 2- Memória de cálculo de peso estrutural para projeto em alumínio

(m2) (mm) (kg)

Chapas Área Espessura Peso

Chapas do Fundo 16,92 6,35 325,80

Chapas do Costado 10,18 6,35 171,95

Chapas do Convés Principal 12,12 6,35 204,72

Chapas do Castelo de Proa 1,63 6,35 27,53

Chapa da Rampa 1,43 6,35 24,15

Chapa do Transom 1,02 6,35 17,23

Chapas da Cabine 8,25 4,00 87,78

Antepara 01 1,08 4,00 11,49

Antepara 02 1,01 4,00 10,75

Antepara 03 1,11 4,00 11,81

Antepara 04 0,82 4,00 8,72

Anteparas Longitudinais (2) 11,31 4,00 120,34

Assentos Passageiros (2) 4,90 4,76 62,04

(m) (mm) (mm) (Kg)

Reforçadores Comprim

ento

Altura Espessu

ra

Peso

Longitudinais de Fundo 13,28 58,00 6,35 13,01

Longitudinais de Convés 13,28 55,00 6,35 12,34

Transversais de Fundo - Área 1

e 2

9,00 100,00 6,35 15,20

Transversais de Fundo - Área 3

e 4

7,20 85,00 6,35 10,34

Transversais de Costado - Área

1

4,80 85,00 6,35 6,89

Transversais de Costado - Área

3 e 4

4,80 65,00 6,35 5,27

Transversais de Convés 16,00 75,00 6,35 20,27

Reforços Anteparas

Transversal

7,60 50,00 4,00 4,04

Reforços Antepara

Longitudinais

2,40 40,00 4,00 1,02

Reforços da Cabine 11,70 40,00 4,00 4,98

SUBTOTAL 1177,67