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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO BAIANO CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES FÁBIO DA PAZ OLIVEIRA O CONCEITO DE FELICIDADE EM ÉTICA A NICÔMACO, DE ARISTÓTELES AMARGOSA - BA 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO BAIANO

CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

FÁBIO DA PAZ OLIVEIRA

O CONCEITO DE FELICIDADE EM ÉTICA A NICÔMACO,

DE ARISTÓTELES

AMARGOSA - BA

2017

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FÁBIO DA PAZ OLIVEIRA

O CONCEITO DE FELICIDADE EM ÉTICA A NICÔMACO,

DE ARISTÓTELES

Monografia apresentada ao curso de

Licenciatura em Filosofia da Universidade

Federal do Recôncavo da Bahia, como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Licenciado em Filosofia.

Orientador: Prof. Dr. Emanoel Luís Roque

Soares

AMARGOSA - BA

2017

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Dedico este trabalho monográfico à minha mãe, Maria da Paz Oliveira.

Ao Meu Pai, José Conceição Oliveira.

Ao meu irmão, Anderson José (in memoriam).

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à minha família por todo o apoio durante o curso de Licenciatura em

Filosofia.

Ao professor Emanuel Luís Roque Soares, meu orientador, pela atenção e paciência dedicadas

para que eu alcançasse meus objetivos no curso.

À professora Geovana da Paz Monteiro, pela colaboração na realização deste trabalho.

Ao colegiado do curso de Filosofia, pelo apoio concedido.

Aos colegas da turma de 2008.2, pela companhia nos anos de graduação.

RESUMO

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Este trabalho tem como objetivo o estudo do conceito de felicidade, sobre o qual se dedicou

Aristóteles, especialmente nos Livros I e X de sua obra Ética a Nicômaco, talvez sua a obra

mais importante. Este filósofo, buscando investigar a natureza do comportamento humano,

relaciona a felicidade à virtude moral, aquela que se alcança através do hábito. Para

Aristóteles, a felicidade não é um momento, algo passageiro ou que se alcança através de

aquisições, ou com realização de desejos, mas sim algo que se dá através do tempo, da

experiência, do hábito. E mais, a felicidade tem um fim em si mesmo, sendo uma busca da

humanidade, desde os tempos remotos até os dias atuais. Através da metodologia bibliográfica,

buscaremos apresentar os conceitos que o nosso filósofo relaciona à felicidade, são eles: a

ética, a política, o bem supremo, a virtude, a aquisição.

Palavras-chave: Filosofia Ocidental. Aristóteles. Felicidade. Virtude. Bem supremo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................08

1 ARISTÓTELES E A ÉTICA DA FELICIDADE.............................................................11

1.1 Quem foi Aristóteles?.........................................................................................................11

1.2 A finalidade das ações na ética aristotélica.........................................................................12

1.3 A ética e a política...............................................................................................................13

2 O CONCEITO DE FELICIDADE.....................................................................................17

2.1 A felicidade como bem comum..........................................................................................17

2.2 As virtudes e a felicidade....................................................................................................18

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................21

REFERÊNCIAS......................................................................................................................23

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INTRODUÇÃO

A contribuição de grandes sábios da Filosofia Ocidental se estende até os dias de hoje,

servindo-nos de grandes referências, a exemplo de Sócrates, Platão e Aristóteles. São

considerados os principais pensadores da humanidade e seu legado é objeto de pesquisa até os

tempos atuais nos mais diversos campos de estudos e por um vasto número de pesquisadores e

cientistas. Este trabalho se propõe a analisar uma das obras de Aristóteles, intitulada Ética a

Nicômaco, especialmente os Livros I e X, que tratam mais profundamente da felicidade.

A obra supracitada é uma das mais influentes e uma das mais bem mencionadas na

história da Filosofia Ocidental. Isso, no tocante à Ética, à Metafísica e à Política. Pois bem, é

uma obra originalmente grega. Por isso, não teremos como acessar diretamente o texto original,

pois foi escrita em o grego antigo e, temos que considerar, as traduções não nos fornecem um

texto literal em nossa língua, o que o tornaria incompreensível, mas nos ajudam acessar o

pensamento de diversos sábios que fazem parte da história da humanidade (ARISTÓTELES,

2007).

A filosofia é uma disciplina ampla quando se trata de conceitos e interpretações. Não

temos como resumir a história da Filosofia Ocidental somente em um conceito ou em algumas

interpretações. Nesse sentido, aqui buscaremos trazer reflexões acerca do conceito de felicidade

em Aristóteles, através de sua principal obra (NODARI, 1997).

E a pergunta que nos aparece coerente é: como encontrar a felicidade?

No senso comum, muitos se dizem estar felizes ou em busca da felicidade. Todos

querem ser ou parecer como pessoas que vivem felizes ou que estão cheias de felicidade.

Tomando o mundo das redes sociais, podemos exemplificar através do modo como as pessoas

querem mostrar uma imagem de felicidade intensa e contínua, seja entre amigos, família, com

seus pares amorosos ou mesmo sozinhas. Mas, e no sentido filosófico, cuja reflexão dedicou-

se Aristóteles, o que significa felicidade?

Etimologicamente, Aristóteles se utilizou do termo grego antigo eudaimonía, que

significa felicidade. Esta palavra seria originária do termo daímon, que significa deus ou divino,

podendo significar também gênio (FELIPPO, 2009). O nosso interesse em tecer um comentário

sobre esse conceito é pelo motivo de ver muitas pessoas falando sobre a felicidade sem saber

ao menos o que significa o conceito de felicidade em sua origem.

Por conta das limitações impostas por um artigo de conclusão de curso, sabemos que

aqui não seremos capazes de dar conta da dimensão do conceito tão profundamente refletido

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por Aristóteles, mas nos colocamos diante do desafio de tentar trazer neste texto alguns

elementos importantes para mostrar um pouco do pensamento deste filósofo, quando se trata de

felicidade, esclarecendo um pouco do seu sentido filosófico.

No contexto no qual Aristóteles viveu, as castas que não tinham poder eram

consideradas como instrumentos dos grandes poderosos da época. A vida em sociedade não foi

sempre uma vida onde todos tiveram voz. Existiram épocas em que só os homens livres tinham

a oportunidade de proferir seus argumentos e seu discurso publicamente. Nas cidades gregas

antigas o poder de voz estava restrito apenas aos homens livres, enquanto que mulheres,

crianças e escravos eram considerados instrumentos dos senhores que muniam

aristocraticamente o direito sobre os mesmos.

A vida em sociedade está muito longe de ser algo que funcione de forma exata. Por isso,

é necessário que os homens em sociedade reflitam as suas condições politicamente no âmbito

social. Na referida obra de Aristóteles, a felicidade aparece como algo que as pessoas buscam

alcançar de maneira contínua, estando ligada à razão e à virtude (NODARI, 1997).

A razão, característica que distingue o homem dos demais seres vivos, é capaz de dar a

percepção do que é certo ou errado na convivência em sociedade. A racionalidade é algo natural

do ser humano, enquanto que a capacidade de escolha está ligada à moral, de acordo com o

filósofo. Desse modo, o homem só se torna feliz quando realiza seu dever em sociedade, quando

alcança o bem maior (NODARI, 1997).

O bem é a finalidade de todas as coisas. Todas as artes têm sua finalidade no bem que é

comum a todos. Todos os tipos de artes colimam na constituição equilibrada que comtempla o

reflexo do bem. A felicidade significa tender ao bem. Mas, podemos perguntar: qual significado

podemos perceber no “tender ao bem”? O significado é claro em nossa especulação, tender ao

bem se apresenta aqui em nosso discurso como a finalidade dissertativa de construímos o nosso

trabalho de conclusão de curso. Este trabalho é o meio que temos como exemplo para alcançar

algum fim provisoriamente, no tocante à “felicidade em particular”, perante a comunidade

acadêmica. Mas ainda assim não esgotamos o sentido no qual Aristóteles compreende a

felicidade, que é deveras absoluto e cosmológico. O significado concreto de construímos este

trabalho não esgota o sentido do conceito de felicidade, e nem poderia fazê-lo. Poderemos

alcançar a felicidade, ao modo em que concluímos este trabalho, mas logo essa felicidade se

esvai, pois teremos outros desejos a alcançar, de acordo com Felippo (2009), em seu estudo

sobre este filósofo.

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Esta pesquisa tem por objetivo investigar o conceito de felicidade em Ética a Nicômaco,

de Aristóteles, tendo em vista responder à seguinte questão: Por que a especulação é

considerada por Aristóteles a atividade mais importante para se chegar a alcançar a vida feliz?

Uma vez que pensar a felicidade em Aristóteles implica, portanto, em entendê-la como

a finalidade última para a qual tende toda a vida humana, importa discutir neste trabalho o que

significa compreender a felicidade como fim. Em seguida precisamos pensar sobre as virtudes

éticas e dianoéticas que se constituem como meio para alcançar a felicidade. Só mediante esses

passos é que se tornará possível entender porque a especulação se constitui como a virtude mais

alta para ser feliz. Buscaremos explicar como a especulação (bios theoretikos, vida

especulativa) é considerada por Aristóteles a atividade mais elevada para a conquista da

felicidade. Assim, temos como objetivos específicos: 1) Mostrar como a felicidade é

caracterizada como fim último de existência humana; 2) Apresentar como as virtudes éticas e

dianoéticas se constituem como meio para alcançar a felicidade; 3) Compreender como a

especulação se constitui na virtude mais alta para se chegar à felicidade.

A presente pesquisa tem o propósito em analisar o “conceito de Felicidade em

Aristóteles”, tendo como base a seguinte metodologia: faremos leitura de livros, artigos,

revistas, que servirão de fonte para o acesso a alguns conceitos e reflexões vindos desta obra e

a partir dela, consultaremos outras obras e autores que se dedicaram a analisar a nossa obra de

referência. Todo o material foi lido e produzimos resumos e fichamentos, buscando selecionar

aquilo que mais interessa à nossa discussão. Nossa metodologia é especificamente

bibliográfica.

De acordo com Andrade (1997), a pesquisa bibliográfica pode ser um trabalho com um

fim em si mesmo, podendo ser desenvolvida em várias fases, que começa na elaboração do

tema de pesquisa até seu fim último, que é a elaboração do texto monográfico, sendo utilizada

também para a elaboração de trabalhos de graduação. A nossa escolha está pautada na

investigação de uma obra de grande destaque da Filosofia Ocidental. Debruçamo-nos a reunir

aqui, apesar de nossas delimitações, um conceito muito requisitado pelo ser humano, a

felicidade.

Este trabalho está dividido em dois capítulos. No primeiro intitulado “Aristóteles, Ética

e Política”, trataremos de apresentar um pouco sobre o filósofo em questão, para em seguida

dissertar um pouco sobre a finalidade das ações aristotélicas e, por fim, buscaremos trazer

algumas reflexões sobre a ética e a política. No último capítulo intitulado “O conceito de

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felicidade”, falaremos da felicidade enquanto um bem comum e, mais adiante, sobre a relação

entre as virtudes e a felicidade. Vamos aos capítulos.

1 ARISTÓTELES, ÉTICA E POLÍTICA

O caráter da Ética aristotélica é puramente teleológico, ou seja, relaciona um fato à sua

causa final. Para Aristóteles, a finalidade de todos os atos é o Telos. A felicidade é o que justifica

a finalidade de todos os atos. Atualmente não temos o que dizer originalmente sobre a

felicidade. Podemos dizer que os gregos eram extremamente intelectualistas, enquanto que na

atualidade as pessoas são extremamente materialistas e prezam pelo consumo, muitas vezes em

desequilíbrio, e não justificam seus atos pela inteligência, tal como prediz a Ética aristotélica.

Assim, para contextualizarmos nossa análise da ética aristotélica, do ponto de vista do conceito

de felicidade, faremos inicialmente algumas considerações sobre quem foi o autor de Ética a

Nicômaco.

1.1 Quem foi Aristóteles?

Para compreender um pouco sobre a trajetória de vida de Aristóteles, vamos nos apoiar

no volume 1 da “História da Filosofia: filosofia pagã antiga”, cujos autores são Giovanni Reale

e Dário Antisere (2003). Como descreve esses autores, nosso filósofo nasceu em Estagira, no

ano 384 a.C, cidade que fazia fronteira com a Macedônia. Viveu em um período histórico em

que a hegemonia Macedônica abrangia toda Grécia. Seu pai se chamava Nicômaco, um celébre

médico particular do rei Amitas, da Macedônia. O que nos permite pensar que o filósofo poderia

ter frequentado o reino, durante esse período.

Mais tarde, depois de ter ficado órfão, aos 18 anos ele viaja para Atenas, quando conhece

a academia de Platão. Logo, o pensador tornou-se estudante da academia Platônica,

encontrando sua vocação para a filosofia e amadurecendo suas reflexões. Também foi uma

grande oportunidade de conhecer os grandes pensadores da época. Ficou lá durante os vinte

anos, onde pode conhecer mais profundamente os princípios platônicos, defende-los e até

criticá-los, deixando as marcas de seu pensamento filosófico através de escritos, como nos

contam os autores Reale e Antisere (2003).

Após a morte de Platão, Aristóteles não se sente á vontade de permanecer na Academia,

saiu de Atenas e seguiu para a Ásia Menor. Estabeleceu-se em Assos, fundando uma Escola

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junto a outros discípulos de Platão, tais como Xenócrates, Erasto e Corisco, onde deve ter

ministrado cursos sobre disciplinas mais especificamente filosóficas. Alí permaneceu cerca de

3 anos.

Filipe da Macedónia, em 343/342 a.C, recorreu a Aristóteles para ser encarregado de

educar o seu filho, que posteriormente tornou-se Alexandre, o grande, que nesta época tinha

por volta de treze anos de idade, e que pouco depois foi revolucionário na história da Grécia.

Cerca de 8 anos depois, Aristóteles retorna à Atenas, onde ministrou seus pensamentos na

Escola de Liceu, contrapondo-se à Academia, quando sua produção se deu de forma fecunda,

sistematizando seus tratados científicos e filosóficos que chegaram até nós.

Aristóteles foi o melhor discípulo de Platão. Ele foi um filósofo muito considerado em

sua época, e seu legado ainda é importante nos dias atuais. Aristóteles escreveu sobre uma

diversidade de temáticas. O corpo aristotélico até os dias atuais é propriamente um conjunto de

categorias que se baseiam na lógica e na razão, tendo em vista uma precisão equilibrada que

constitui integralmente pensadores posteriores e anteriores a ele.

Diante da grandiosidade da obra de Aristóteles, nosso objetivo é de simplesmente

descrever o conceito de felicidade, segundo seu pensamento, buscando alcançar seus princípios.

1.2 A finalidade das ações na ética aristotélica

As artes no período clássico da filosofia se embasavam na finalidade de suas ações.

Neste período não existiam religiões, apenas existiam castas sacerdotais ou ministérios órficos.

Alguns Deuses gregos tinham aparência e costumes parecidos com os dos humanos. O tempo,

na época dos gregos, era percebido cosmologicamente e no contexto da Grécia antiga, e a

realidade era vivida ciclicamente. Assim, podemos dizer que na Antiguidade existia uma

relação fundamental entre os homens e os deuses.

A polis grega (cidade estado) era o lugar onde os homens livres se encontravam para

debater as regras de conduta na cidade. A discussão sobre o que é a virtude perpassava o

pensamento de diversos pensadores da Antiguidade. E não é por acaso que, este é o meio pelo

qual todos os homens podem alcançar a felicidade, de acordo com a doutrina aristotélica.

Segundo Aristóteles,

Toda arte, toda investigação e igualmente todo empreendimento e projeto previamente

deliberado colimam algum bem, pelo que se tem dito, com razão, ser o bem a

finalidade. Podemos dizer com isso que todas as artes têm alguma finalidade externa

em sua ação, mas que as finalidades nas quais as artes se subordinam podem ser

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distintas e ter múltiplas finalidades em si mesmas. Por exemplo, a finalidade da

medicina é a saúde; a da construção de navios, um navio; a da estratégia, a vitória; a

da economia doméstica; a riqueza. (ARISTÓTELES, 2007, p.37).

Percebemos que, sejam ou não indiferentes às finalidades das ações visadas, estas

mesmas atividades podem visar algumas novas ações quando essas mesmas atividades têm por

fim a própria atividade prática das ações. Nesse sentido, “está claro que essa finalidade última

tem que ser o bem e o bem mais excelente”, como afirma Aristóteles (2007, p.38).

Devemos agora buscar entender qual é esse bem mais excelente, a que se refere o

filósofo. Em que conhecimento ele se enquadra? Qual será o tipo de ciências que ele consiste,

este bem é objeto das ciências teóricas ou das ciências práticas? Aristóteles diz que:

Seria, assim, de se concordar ter que ser ele o objeto da ciência, entre todas, de maior

autoridade – uma ciência que fosse, preeminentemente, a ciência maior. E parece ser

esta ciência política, posto que é ela que determina quais ciências devem existir nos

Estados e quais ramos do conhecimento deve cada classe de cidadão aprender e até

que ponto; e observamos que mesmo as mais altamente consideradas das capacidades,

tais como a estratégia, a economia doméstica, a oratória acham-se subordinadas a

ciência política. (2007, p.38).

Todas as artes estão subordinadas às ciências políticas. Todas as ações buscam tender

ao aprimoramento e à perfeição que reflete a excelência de todo o ato que tem um fim em si

mesmo. Todos os atos são observados por uma ciência superior, apontada pelo filósofo como a

Política.

1.3 A Ética e a Política

A Ética é ciência que o indivíduo utiliza para se avaliar e viver bem na comunidade. A

política é o modo pelo qual o indivíduo pode ponderar, ordenar e lutar pelos seus direitos dentro

da comunidade política. A finalidade da ciência política é a ação. A política, para Aristóteles,

liga-se à ética e vice-versa. A ética e a política estão intrinsecamente ligadas. Segundo

Aristóteles:

O bem humano tem que ser a finalidade da ciência política, pois ainda que seja o caso

de o bem ser idêntico para o indivíduo e para o Estado, o bem do Estado é visivelmente

um bem maior e mais perfeito, tanto para ser alcançado como para ser preservado.

Assegurar o bem do indivíduo é apenas melhor do que nada; porém assegurar o bem

da nação ou Estado é uma realização mais nobre e mais divina. (2007, p.38-39).

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Portanto, podemos perceber que a ciência política se justifica como normalização que

denota o aspecto formal de equilíbrio das pólis gregas. A razão, por sua vez, aquilo que

distingue o homem dos demais seres vivos, aquilo que permite constatar a felicidade, é o que

deve controlar o caráter ordinário da comunidade dentro dos preceitos originariamente pré-

estabelecidos pela ciência política. Pelos rumos da política, deve-se manter a ordem como mais

efetividade no âmbito social da comunidade política.

Com isso, podemos justificar que a ciência política, assim sendo, é uma ciência de

caráter geral, e, por conseguinte, tem por finalidade em seu ímpeto a análise detalhada das ações

na sociedade e, por outro lado, tem o escopo característico de analisar as outras ciências nos

seus pormenores costumeiros. Como afirma Aristóteles: “os assuntos estudados pelas ciências

políticas são o nobre e o justo, mas essas concepções envolvem muita diversidade de opinião e

incerteza, de modo a se acreditar, por vezes, que não só passam de meras convecções [...].”

(ARISTÓTELES, 2007, p.39).

As pessoas atualmente desejam os produtos que são produzidos para que elas mesmas

possam desejar. Algumas pessoas não tem o senso de discernimento para perceber e analisar o

que de fato é desejado. O “senso do comunitário” ou o “espírito de comunidade” vem se

perdendo como o passar dos anos na atualidade. Por isto, podemos perceber que a maioria das

pessoas é desprovida de uma boa “percepção da política” na atualidade. Isso pelo fato da

“publicidade” manipular midiaticamente as suas vidas e os seus desejos socialmente.

Como esses tipos de pessoas podem se encontrar felizes em uma sociedade que gira em

torno da maquinaria do capital? É possível existir pessoas felizes no sentido gregário do termo

nos tempos atuais em meio a tanta publicidade e como pouca atitude política? Não temos como

justificar e resolver as questões anteriores, tomando como base o contexto atual muito menos o

clássico. Mas isso não nos impede de refletir sobre o contexto atual tomando como referência

outras dimensões de reflexão do contexto clássico da história da filosofia.

Segundo Aristóteles (2007, p. 40),

Todo indivíduo julga corretamente os assuntos com os quais está familiarizado e

conhece, sendo deles um bom juiz. Para que possa, portanto, julgar um assunto

particular, é preciso que o indivíduo tenha sido instruído nesse assunto; para ser um

bom juiz, em geral, é necessário que tenha recebido uma educação completa.

Consequentemente, os jovens não são aptos para o estudo da política, porque carecem

de experiência de vida e de conduta, que é o que supre as premissas e a matéria de

estudo desse ramo da filosofia; além do que eles são conduzidos por suas paixões, de

modo que estudarão sem propósito ou proveitos porquanto a finalidade dessa ciência

é a ação não o conhecimento.

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O objetivo da ética é analisar os problemas morais. Os sensos morais são frutos natureza

das normalizações sociais. Existem problemas morais e problemas éticos nas relações humanas.

Os problemas morais se caracterizam pelas modulações que são impressas no imaginário da

sociedade. Os problemas éticos da particularidade destes problemas.

Os problemas morais são resolvidos provisoriamente pelos pactos e pelos contratos

valorativos causados pelos efeitos “sócio-políticos das normas” que são derivados nas

estruturas globalizadas. Já os problemas éticos são problemas teóricos que são os princípios

naturais de transformação da sociedade atual. O saber ético é o saber que transforma os valores

morais da sociedade em valores a serem analisado. Os problemas éticos são pautados nas

práticas efetivas dos indivíduos em sociedade.

Toda ação tem algum sentido de utilidade prática e política. Toda ação prática justifica-

se na utilidade produtiva da política. E os atos que fundamentam essa ação são fundamentos

implícitos que se relacionam com essas mesmas ações. Todas as questões que implicam algum

valor moral se fundamentam em alguns valores que são pressupostos fundamentais destas

mesmas ações. A ética tem o caráter de análise individual pautando seu olhar sempre para o

sentido geral ou absoluto, como Aristóteles nos permite entender.

Nesse sentido, a ética é a análise individual que o homem faz de si mesmo na sociedade.

Os costumes morais são sensos normalizados que se multiplicam socialmente. Os costumes

morais são fundamentados de acordo com o contexto específico da cultura. Então, estes

costumes se fundamentam de acordo com as culturas e com os seus contextos específicos,

contexto nos quais são inseridos por estes mesmos atos morais.

As relações sociais são pautadas em relações morais. As relações morais são pautadas

em ciclos pontuais e específicos de cada tipo de sociedade. Todas as sociedades atualmente se

justificam por seus regulamentos e suas práticas morais. Podemos perceber que os valores que

são formulados nos diversos tipos de sociedade são valores baseados nos costumes humanos.

Nota-se que todos os valores humanos são elementos de análise da ética e da política. A

ética faz uma análise universal dos valores morais da sociedade. Os problemas éticos se

distinguem dos problemas morais pela sua generalidade. A generalidade da análise ética abarca

toda dimensão histórico-social da vida humana na sociedade. As vidas humanas em sociedade

se caracterizam a partir das noções de valores que são construídos nas particularidades

específicas de cada “aspecto” cultural. Como fica claro na fala de Vazquez (1969, p. 21):

Los problemas teóricos y los prácticos, el um terreno moral se diferencian, por

tanto,pero no se hallan separados por uma muralla insalvable. Las soluciones que se

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den a los primeiros no dejan de influr em el planteamiento y solucíon de los segundos,

es decir en la práctica moral misma; a su vez, los problemas que plante la moral

práctica, vivida así como su vez soluciones, constituyen la matéria de reflexión, el

hecho al que tiene que volver constantemente la teoria ética, para que ésta se no uma

especulación estériol, sino la teoría de un modo efectivo, real, de comportarse el

hombre.

A vida em sociedade nos faz refletir tudo que foi transmitido diante de nossa suposta

experiência no mundo. O mundo é constituído por alguns registros de comportamento moral.

Em alguns casos em que os comportamentos morais podem ser os mesmos, e em segundos

casos eles podem ser outros. E desse modo, atualmente seguimos “um comportamento pré-

fabricado pelo capital cultural” que é uma parte ideológica moralmente estabelecida pelo

capitalismo global.

As pessoas se reúnem atualmente não mais para terem um fim em si mesmo em seus

atos. Mas sim, para terem um meio utilitário que germinem por intermédio de suas ações a

satisfação de seus próprios interesses no convívio em sociedade. Com isso, podemos apreender

a partir de um vislumbre sobre as teorias éticas novas transformações acontecendo sem as

efetivas modificações reais. A ética de modo efetivo torna estes mesmos comportamentos

estáticos em comportamentos dinâmicos.

Não havendo soluções que possam servir como remédio para situações simplesmente

observadas, é possível perceber em nossas próprias ações algumas inversões valorativas pelo

menos no que tange a alguns atos. No âmbito da sociedade nos apercebemos como frutos de

algumas variações em nossas ações. Pois bem, realmente somos e estamos inseridos em

contatos concretos que variam dentro e fora das sociedades.

O campo da ética é o campo das ações concretas. Todas as ações que se apresentam na

sociedade são ações do campo da ética. O campo da ética é de caráter universal.

La ética es teoria, investidación o explicacíon de un tipo de experiência humana, ou

forma de compotamiento de los hombres: el de la moral,pero considerado em sua

totalidad, diversidad e variedad. Los que em ella se diga acerca de naturaleza o

fundamento de las normas morales há de ser válido para la moral de la sociedade

greiga, o para la moral que se dar efetivamente em uma comunidand humana

moderna. Esto es lo que asegura su caractér teórico,y evita que se le reduzca a uma

diciplina normativa o pragmática. El valor de la ética como teoria esta en lo que

explica,y no em prescribir o recomendar con vistas a la accíon em situaciones

concretas. (VAZQUEZ, 1969, p. 23)

Após essas análises iniciais, seguiremos agora para o segundo capítulo com a discussão

sobre o conceito aristotélico de felicidade propriamente dito.

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2 O CONCEITO DE FELICIDADE

Neste segundo capítulo, buscaremos analisar o conceito de felicidade como um bem

comum e com um fim em si mesmo. Pois, dentro do pensamento aristotélico, a felicidade é algo

que se alcança no decorrer da vida em sociedade, e não está na satisfação de desejos e

necessidades, como a riqueza para o pobre ou a beleza para o feio. Sanando essas necessidades,

logo a felicidade seria transferida para outros desejos, não sendo plena e autossuficiente. Para

Aristóteles, a felicidade é o bem maior, alcançada através do convívio social, da ética, do bom

senso e fundada na virtuosidade humana.

2.1 A felicidade como bem comum

Na prática de alguma ação no âmbito social, o homem deve ser regido pelo autocontrole.

Isso acontece, iminentemente, quando os homens têm o direcionamento de ser responsáveis por

sua individualidade e seu comportamento. E assim, decidindo acerca das próprias ações e

podendo ser constituído conforme a conduta mediada pela virtude o homem pode se justificar

pelo raciocínio coerente em sociedade. É de suma importância ter uma boa conduta diante de

nossas próprias ações em meio aos espelhos “imaginários da sociedade”.

O homem, como tal, é distinto de outras espécies e de outras classes de animais. Neste

caso, conforme Aristóteles, pelo fato de o homem ser caracterizado como animal racional, este

se constitui a partir do entendimento ativo mediado na “lei racional”. Bom, isso é fundamental

e concerne à justificação do indivíduo racional no âmbito da comunidade política, como é

mostrado no Livro I da “Ética à Nicômaco”.

O homem só pode obter devidamente o equilíbrio na comunidade política justificando

sua prática no sentido da virtude intelectual. Portanto, o homem tem como fim último e simples,

contribuir integralmente para a felicidade da comunidade política. Ademais, é somente no

exercício ativo da “justa medida” que o homem será feliz na sociedade.

Para tanto, este exercício deve ser intrínseco, no sentido medido pela razão em todas as

ações. As ações do homem têm que estar embasadas na melhor parte da alma. Por isso, os

sentidos de todas as ações humanas devem tender sempre ao equilíbrio ou a coerência com

sentido racional. O homem de bom caráter e pleno de sabedoria deve buscar se ampliar

horizontalmente no sentido de olhar o “aspecto fundamental” da vida em sociedade que será

útil com o princípio referencial para organização de suas ações na comunidade.

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Ele deve ver no “aspecto” comum da “cidade” o reflexo de sua própria imagem

refletida. E mediante isso, vislumbrar no movimento civilizado ou social o caráter reflexivo do

sentido deliberativo que tende à comunidade política. Em síntese, só se guiando pela “lei da

justa razão” que o homem se tornará feliz integralmente na política.

Aristóteles faz a definição da felicidade do seguinte modo: a felicidade tem o caráter de

fim em si mesmo, tratando-se de um exercício virtuoso de imanência da atividade

contemplativa, que é a melhor parte da alma do homem, no sentido medidor das ações tendendo

sempre ao âmbito da comunidade política. Por fim; “A felicidade, portanto, uma vez tendo sido

considerada alguma coisa final [completa] e autossuficiente, é a finalidade visada para todas as

ações” (ARISTÓTELES, 2007, p. 49).

A felicidade abarca, segundo Aristóteles, o conjunto de opiniões comuns da sociedade.

Por isso, o conceito de felicidade se distanciou bastante de sua diferenciada finalidade

qualitativa. Conforme o pensador, a felicidade se caracteriza como um fim em si mesmo.

Portanto, a constituição dos indivíduos em sociedade deveria tender sempre ao que é

essencialmente melhor. Mas atualmente, os indivíduos estão tão alienados que concebem a

felicidade como sendo fruto de “desejos supérfluos”. Como dito na seguinte passagem:

A felicidade é a busca de todo ser humano, de fato, tudo o que fazemos tem um fim,

sendo a felicidade seu fim último. [...] Muito antes de ter sido reduzida em nossos

tempos a uma mercadoria publicitária, a busca da Felicidade era um ideal ético. A

desvalorização da Felicidade no contexto capitalista se relaciona ao mundo do

espetáculo, à banalização do desejo e também do sentido dos afetos em nossas vidas.

(AMORIM et al, 2012, p.29)

2.2 As virtudes e a felicidade

Para Aristóteles, existem dois tipos de virtudes, a intelectual e a moral. A virtude

intelectual se adquire pela boa instrução, sendo pautada no tempo e na experiência. No caso da

virtude moral ou ética, é fruto do hábito. Nenhuma das virtudes morais nos advém da natureza.

A natureza só fomenta a capacidade de adquiri-las, sendo essa capacidade aprimorável e tendo

amadurecimento pelo hábito.

As virtudes dizem respeito aos prazeres e as dores. A virtude moral nos indica o caminho

no sentido pelo qual agimos do melhor modo em relação às dores e prazeres, e no tocante o

vício se torna oposto. Os prazeres e as dores se tornam fundamentais para o bom regulamento

de nossas ações. A virtude moral concerne às paixões e ações, sendo que podem se dispor de

excesso ou deficiência.

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O que nos leva ao bom em absoluto é a felicidade. O conhecimento não pode ser a causa

geral das ações. O que faz o homem agir é prática do seu intelecto em consonância ao desejo.

A felicidade se realiza na essência do homem, manifestada em ações morais, em conjunto com

a razão. O homem que aplica bem sua própria natureza é um homem virtuoso. O homem que

não coloca como princípio a realização de sua natureza é um homem vicioso. A moralidade

aristotélica reside nos princípios anteriores ao homem. A boa deliberação consiste na felicidade.

A felicidade é objeto da política.

Podemos afirmar que a felicidade é um bem supremo para Aristóteles. A felicidade é

uma atividade de nossa alma de acordo com a virtude. Quando exercitamos com excelência

nossas capacidades racionais constituímos nossa felicidade. Todo homem age tomando como

base no princípio de sua ação a felicidade. A felicidade encontra-se representada no que há de

melhor feito pelo homem. Quando o homem age com interesse na excelência de sua ação, ele

age de acordo com seu senso de racionalidade. Toda ação possui um fim em si mesmo que

caracteriza o desejo de felicidade. A bondade da ação tem por objetivo o desejo virtuoso. Não

há imaginação sem desejo. Todo o “bem” para Aristóteles é polissêmico. Nesse sentido, “a

felicidade, como afirmamos, requer tanto virtude completa quanto vida completa.”

(ARISTÓTELES, 2007, p.56).

O homem como elemento da natureza é dotado de sabedoria. O homem sábio busca

conhecer a si mesmo para ter uma boa conduta diante de seus semelhantes. A comunidade

política é o lugar onde as relações entre os homens se constitui. A vida em comunidade está

permeada pela natureza filosófica. A natureza filosófica é uma forma propriamente humana de

conhecimento. Nenhum conhecimento filosófico humano provém de outra espécie. Nesse

sentido, os limites da natureza filosófica são limites humanos, propriamente. Podemos

considerar que a entidade filosófica do conhecimento humano faz parte das relações humanas.

E que natureza do conhecimento humano está intrinsecamente relacionado às humanidades e à

capacidade de ser bom e, consequentemente, encontrar a felicidade.

Nesse conjunto, o homem se torna um sujeito primordial munido de um aspecto

essencial e paradigmático. Nossa sabedoria advém de nossa própria natureza animal. Porém,

com efeito, só os seres humanos almejam alcançar a felicidade. A felicidade gradualmente é

dotada de um cunho moral, que só em sociedade os homens podem estabelecer. A felicidade

conduz ao que é de melhor, pois é a moral quem determina os aspectos do comportamento

humano. Fazer aquilo que é bom para si e para o outro, para alcançar a felicidade.

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Finalizadas as discussões dos vários tipos de virtude, de amizade e de prazer, resta-nos

tratar sumariamente da felicidade, porquanto Aristóteles considera ser isso o fim último da vida

humana, aquilo que o homem busca para si. A felicidade não é uma certa disposição de caráter,

porque se fosse, poderia ser possuída por um indivíduo que passasse a totalidade de sua vida

adormecido, vivendo a vida de um vegetal, ou por alguém que estivesse mergulhado no mais

profundo infortúnio.

Se então preferirmos classificar a felicidade como alguma forma de atividade e, se as

atividades se enquadram em dois tipos, ou seja, algumas são meramente meios necessários e

desejáveis somente em função de alguma coisa, mas outras são desejáveis em si mesmas, fica

claro que a felicidade deve ser classificada entre atividades desejáveis em si mesmas e não entre

aquelas desejáveis a título de meios para alguma coisa. Isso porque à felicidade nada falta, ela

é autossuficiente.

As atividade desejáveis em si mesmas são aquelas que não visam a nenhuma resultado

além do mero exercício da própria atividade. Ora, essa é a natureza da felicidade. Mas se a

felicidade consiste na atividade de acordo com a virtude maior, só intelecto é capaz de conhecer

o que é nobre e divino. Assim, a felicidade consiste na identificação da parte divina do homem.

Essa parte divina pode ser chamada de intectual.

O homem munido de seu intelecto pode ser considerado sábio na contemporaneidade.

Pois, a sociedade contemporânea se constitui no contexto do entretenimento. Na atualidade o

que predomina são algumas formas de entreter os humanos. De fato, as pessoas não são felizes.

Elas são felizes provisoriamente. Por isso muitos homens só se distraem provisoriamente.

Aqueles que agem com razão e ponderam as mais diversas formas de entretenimento podem

ser considerados felizes, como Aristóteles descreve no livro X.

Os homens que especulam são homens munidos de razão. Estes podem até ser

governantes da cidade. Eles são contidos na sua melhor virtude que é o meio o para homem

chegar excelência. É possível dizer que a virtude intelectual distingue os homens dos animais.

Por isso, não é todo animal que é racional. Essa capacidade é de natureza humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há alguns anos venho buscando a felicidade nas coisas pequenas da vida. Encontrei um

pouco de felicidade nos estudos de filosofia. E ela atualmente abriu minha curiosidade para

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conhecer mais. Mas no cotidiano atual, onde a felicidade é vista só como diversão, não encontrei

nenhum sentido de ser feliz. Talvez seja por causa da efemeridade dos entretenimentos. “A

felicidade superficial é um pouco efêmera. A conclusão é que a felicidade não se encontra nos

entretenimentos” (ARISTÓTELES, 2007, p.305).

Aristóteles busca investigar a natureza dos atos humanos, analisando como o homem

deve se comportar. Assim, ele ressalta a virtude como algo importante, pois assim o homem se

torna bom. E a virtude é, para Aristóteles, a condição essencial para alcançar a felicidade.

Para o filósofo, existem dois tipos de virtude: a virtude intelectual e a virtude moral.

Enquanto a virtude intelectual se desenvolve através do ensino, da experiência e do tempo;

enquanto que a virtude moral é aquela que vem através do hábito – esta última é alvo interesse

do filósofo em questão, que procura entender melhor o que vem a ser o homem virtuoso.

O que determina a virtuosidade do homem nos comportamentos em que existe a

possibilidade de escolha, onde tem algum tipo de controle. Essa escolha deve estar baseada na

moral. “Um homem pode tanto mentir quanto falar a verdade e o que ele fará dependerá de sua

própria deliberação” (SANTOS, 2017, p. 01). Assim, um homem poderá ser considerado justo

se ele praticar a justiça. Portanto, as virtudes não têm origem na natureza, mas na escolha do

homem.

Nesse momento que faço a redação da minha monografia, talvez esteja especulando

sobre algo que minha razão possa conceber como a felicidade. Não podemos esquecer que a

felicidade se caracteriza por uma ação nobre e política de alguns homens na sociedade.

Nesse sentido, nas palavras de Aristóteles:

A felicidade consiste na especulação e é aceitável em consonância com as conclusões

às quais chegamos anteriormente e em consonância com a verdade, pois especulação

é ao mesmo tempo a forma mais elevada de atividade (uma vez que o intelecto é o

que há de mais superior em nós e os objetivos com os quais o intelecto se ocupa são

as coisas mais elevadas cognoscíveis) e também é a mais contínua, pois somos capazes

de pensar com mais continuidade do que somos capazes de executar qualquer ação.

(2007, p. 306-307)

Entende-se que a felicidade mora nas boas ações de alguns homens em sociedade. E que

os homens que praticam essas boas ações contribuem para a felicidade da sociedade. Porém,

não podemos ter certeza de que os homens que buscam diversão possam contribuir para a

melhoria da sociedade. Estes, talvez não tenham moderação em suas ações para se tornar justos

e nobres.

Falar sobre a concepção de Aristóteles para mim, que sou um graduando em filosofia se

torna um pouco difícil. Nesse sentido, não posso tratar o tema da felicidade com todo rigor

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filosófico existente na filosofia aristotélica. Bom, tecer um breve comentário tendendo a ter

algum teor filosófico e especulativo pode nos provocar um pouco de espanto. Pois, na

atualidade, a filosofia não é vista com carinho e curiosidade.

Pois bem, a filosofia não é nem um pouco romântica na atualidade. O capitalismo é

motor que move a atual sociedade do entretenimento e do consumo. Se esse mesmo motor do

capitalismo fosse o motor imóvel do grande filósofo Aristóteles, viveríamos guiados pelos

impulsos do capital. Impulso este que gera o grande comércio e a grande publicização da

felicidade paradoxal na qual estamos inseridos.

De acordo com Aristóteles, felizes não são os homens que vivem só dos prazeres, mas

também estes podem se considerar felizes. A atividade especulativa pode ser considerada a

justificativa da permanência filosófica e nessa busca podemos trazer algum encontro criterioso

com a filosofia. Isso talvez, para que os homens se tornem felizes.

A filosofia pode ser considerada a vida especulativa no homem. Algum tipo de

sabedoria primordial. O essencial no homem integral. A felicidade não se resume à mera

potencialidade. Podemos louvar a felicidade não como mera potência. Mas a felicidade pode se

vista como objetivo comunitário. A felicidade pode não ser algo conveniente, muito menos

assombroso. Ela não se acumula e talvez não se esgote. É possível dizer que: “A felicidade,

como afirmamos, requer tanto virtude completa quanto vida completa” (ARISTÓTELES, 2007,

p.56).

E, para viver atualmente e para ser feliz, a felicidade pode ter múltiplos significados.

Devido à lógica capitalista, talvez a felicidade tenha se tornado algo momentâneo. Podemos ter

momentos felizes. Entretanto, o sistema capitalista nos trouxe um ranço de um consumo

desenfreado. O dinheiro se tornou uma válvula de escape onde atualmente muitos buscam

realizar seus sonhos momentâneos. O dinheiro é algo antigo. Sem o dinheiro não podemos ter

alguma aquisição social.

Outrossim, suponho que a felicidade deva encerrar um elemento de prazer; ora

atividade que se harmoniza com sabedoria é reconhecidamente, a mais prazerosa da

atividades que se harmonizam com a virtude. Em quaisquer circunstâncias sustenta-

se que a filosofia ou a busca da filosofia ou a busca da sabedoria encerra prazeres

maravilhosos devido à pureza e permanência, e é plausível supor que o gozo do

conhecimento é uma ocupação ainda mais prazerosa do que sua busca. Constatar-se-

á também que a atividade especulativa detém no alto grau, a qualidade denominada

autossuficiência, pois embora seja verdade que o homem sábio tanto quanto o homem

justo e os demais não prescindem das necessidades da existência, no entanto uma vez

essas adequadamente suprimidas, enquanto o homem justo necessita de outras pessoas

para as quais, ou com auxilio, ele pode agir justamente (coisa análoga sucedendo

como um homem moderado, o homem corajoso e os demais), o homem sábio, ao

contrário, pode também dedicar-se à especulação pode ser considerada como a única

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atividade que é amada por ele mesma, uma vez que não produz resultado algum além

do próprio ato especulativo, enquanto nas atividades práticas procuramos assegurar

alguma vantagem maior ou menor, que transcende a própria ação. (ARISTOELES,

2007 pg.307).

A felicidade pode ser simplesmente um belo dia de sol ou um belo dia de chuva. No

entanto, para Aristóteles a felicidade se origina da parte especulativa da alma que se sustenta

na virtude mais excelente. A parte especulativa da alma funciona com meio termo ou justa

medida. Para agir com moderação com relação às suas outras partes.

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