UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ REDE NORDESTE DE SAÚDE DA ... · realidade da atenção à saúde...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
REDE NORDESTE DE SAÚDE DA FAMILIA - RENASF
MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA
IVANA DOS SANTOS FONSECA
EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A VISITA DOMICILIÁRIA AO ADOLESCENTE:
PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
FORTALEZA
2014
IVANA DOS SANTOS FONSECA
EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A VISITA DOMICILIÁRIA AO ADOLESCENTE:
PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Curso de Mestrado Profissional em Saúde
da Família da Universidade Federal do
Ceará, como requisito parcial para a
obtenção de título de Mestre em Saúde da
Família.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª. Fabiane do
Amaral Gubert.
FORTALEZA
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca de Ciências da Saúde
F744e Fonseca, Ivana dos Santos.
Educação em saúde e a visita domiciliária ao adolescente: percepção de profissionais
da estratégia saúde da família. / Ivana dos Santos Fonseca. – 2014.
105 f.: il. color., enc.; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Rede Nordeste de Saúde da Família
(RENASF), Mestrado Profissional em Saúde da Família, 2014.
Área de Concentração: Saúde da Família.
Orientação: Profa. Dra. Fabiane do Amaral Gubert.
1. Educação em Saúde. 2. Adolescente. 3. Visita Domiciliar. 4. Promoção da Saúde. 5.
Violência. 6. Capacitação. I. Título.
CDD 610.7
IVANA DOS SANTOS FONSECA
EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A VISITA DOMICILIÁRIA AO ADOLESCENTE:
PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Projeto de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-graduação em Saúde da Família
e Comunidade da Universidade Federal do Ceará, como exame de conhecimentos
para desenvolvimento de Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Rede da
Fundação Osvaldo Cruz.
Aprovada em: 06/02/2014
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Prof.ª Dr.ª Fabiane do Amaral Gubert (Orientador)
Universidade Federal do Ceará – UFC
_____________________________________
Prof.ª Dr.ª Neiva Francenely Cunha Vieira (Membro Efetivo)
Universidade Federal do Ceará – UFC
____________________________________
Prof.ª Dr.ª Eveline Pinheiro Beserra (Membro Efetivo)
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza - FAMETRO
____________________________________
Prof.ª Dr.ª Mariana Cavalcante Martins (Membro suplente)
Universidade Federal do Ceará – UFC
À minha família, destacando minha mãe
Ana Maria dos Santos Fonseca e minha
irmã Ticiana dos Santos Fonseca, pela
presença e preocupação com minhas
lutas.
Ao meu marido, Marcelo Carlos, e a meu
filho João Marcelo Fonseca Moreira de
Souza, que ainda está no meu ventre.
Juntos alimentam meus sonhos.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que sei que está sempre ao meu lado e que não me deixa desistir
mesmo diante de tantas dificuldades.
À minha orientadora Prof.ª Dr.ª Fabiane do Amaral Gubert por sua delicadeza
e incentivo, além de ampliar meu olhar sobre a saúde.
Às Prof.ªs Doutoras Neiva Francenely Cunha Vieira, Eveline Pinheiro Beserra,
Mariana Cavalcante Martins por aceitarem participar da banca examinadora e darem
contribuições ao maior aperfeiçoamento deste estudo.
Aos profissionais da Unidade de Saúde Doutor Hélio Góes Ferreira por
participarem da pesquisa e se mostrarem abertos a mudanças.
Às colegas de Mestrado Marília, Fabiana, Marise, Renata, Janete, Danielly,
Elainy, Krishna, Renata Chaves e demais colegas, pelo companheirismo e apoio.
À Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC e a todos
os funcionários.
À Prefeitura Municipal de Fortaleza pela oportunidade de mais um título de
pós- graduação.
E a todos os que contribuíram e torceram de alguma forma para esta
conquista.
“O que nos impede na maioria das
vezes de ter o que queremos, de ser o que
sonhamos, de fazer o que pensamos e
aceitar com o coração, é a ousadia que não
cultivamos.”
(Clarice Lispector)
RESUMO
A Visita Domiciliária (VD) é um cenário que permite tornar evidentes as relações sociais,
que podem fortalecer o potencial de saúde na família. No entanto, essas mesmas relações
podem contribuir no processo de adoecimento dos indivíduos, incluindo os adolescentes. Com
base no entendimento de seu papel como integrante da Estratégia Saúde da Família (ESF), os
trabalhadores de uma Unidade de Saúde, localizada na Regional VI em Fortaleza/CE, vêm
desenvolvendo diversas atividades educativas com grupos heterogêneos de usuários. Porém,
observou-se uma inquietação por parte destes profissionais devido à baixa adesão dos
adolescentes aos processos coletivos de construção do saber, além da falta de empoderamento
para cuidarem de si mesmos. A partir deste contexto o objetivo do estudo é compreender a
atividade de atenção à saúde do adolescente durante a VD na perspectiva do profissional da
ESF com enfoque na Educação em Saúde. Os objetivos específicos foram: conhecer a
realidade da atenção à saúde do adolescente no contexto da visita domiciliária e identificar
possíveis dificuldades e facilidades que possam existir na atenção ao adolescente durante a
VD. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa, realizado em
agosto a dezembro de 2013. Os instrumentos de coleta foram: entrevista semiestruturada com
os profissionais da equipe, lista de observação utilizada durante a VD e diário de campo. Os
agentes sociais da pesquisa foram 19 profissionais da ESF (12 Agentes Comunitários de
Saúde (ACS), 1 técnica de Enfermagem, 1 Cirurgiã-Dentista, 3 Enfermeiras, 2 Médicos). A
análise dos dados foi realizada mediante percurso analítico e sistemático. Resultados: sobre o
perfil dos trabalhadores, os ACS foram os mais contemplados com curso de capacitação
voltado para o adolescente. Mesmo entre esses profissionais, ficou clara a dificuldade que as
equipes têm em lidar com essa fase do ciclo vital. Os entrevistados, de forma livre, relataram
que se sentem co-responsáveis por não priorizar a atenção aos adolescentes e que, em parte,
isso, se deve à falta de capacitação durante sua formação acadêmica e profissional. Quando
se perguntou sobre a Educação em saúde voltada para o adolescente a escola foi citada como
ambiente mais propício para se realizar ações de educação em saúde. Alguns entrevistados
comentaram que a promoção da saúde por meio da visita domiciliária é um grande desafio em
qualquer fase do ciclo vital relacionado principalmente a violência. A proximidade com o
adolescente, que a visita domiciliária oportuniza, numa perspectiva que valorize suas
experiências, anseios e diferentes saberes articulados aos saberes dos profissionais da saúde e
da educação, torna o setor educação, além de importante na interface com a saúde, um
potencial parceiro, na construção de ideias e práticas interligadas e efetivas. Considera-se que
as visitas domiciliárias realizadas pela equipe de saúde ao adolescente podem ser uma
alternativa de espaço que deve ser valorizada para a implementação de estratégias educativas
adequadas à realidade da comunidade, bem como fortalecer o vínculo junto a esta população a
fim de acessarem mais os serviços de saúde. A relevância do estudo, a partir dessa realidade,
encontra-se no fortalecimento da relação entre usuário do SUS e equipe multiprofissional sob
uma ótica educativa, realizada por meio da VD, a qual tem possibilidade de ser direcionada
além do cuidado aos usuários acamados, mas principalmente como espaço para realização de
atividades de Educação em Saúde envolvendo o cenário familiar.
Palavras-chave: Educação em Saúde. Visita Domiciliária. Adolescente.
ABSTRACT
The home visit (VD) is a scenario that helps make evident the social relations that
can strengthen the potential health or even contribute to the disease process of
individuals. This approach allows revisiting the practice to construct a protocol with
the participation of different actors involved in the home visit. It is also considered
relevant to think the training of professionals, especially in building skills to work an
approach and actions in familiar space as communication in the different phases of
the life cycle. Based on the understanding of their role as a member of the Family
Health Strategy, workers CSF Helium Goes Ferreira, located in the Regional VI in
Fortaleza (CE), are developing various educational activities with heterogeneous
groups of people residing in Sapiranga and nearby neighborhood. However, it has
been observed uneasiness on the part of these workers due to poor adherence of
adolescents to participate in these collective processes of knowledge construction
and the lack of empowerment to take care of them. The overall objective of the study
was to understand the activity of adolescent Health Care during VD from the
perspective of professional FHS with a focus on Health Education and were specific:
to know the reality of attention to adolescent health in the context of home visits and
identify potential difficulties and facilities which may exist in adolescent attention
during VD. This was an exploratory descriptive qualitative study, in the period
August to December 2013. The social workers in the study were 19 professionals
FHS ( 12 Community Health Workers, Nursing Technician 1, 1 Dental Surgeon, 3
Nurses, Doctors 2 ) working in the Health Unit Doctor Goes Helio Ferreira . The
information processing was performed according to Minayo (2012) in an analytical
and systematic pattern. The ACS 's were the most awarded training course geared for
the teen . Even among these professionals, it became clear that teams have difficulty
in dealing with this clientele. Respondents , free form repor ted that they feel co-
responsible for not prioritizing attention to adolescents and that part of it is due to
lack of training during their academic and professional training . When asked about
health education geared to teenagers, many professionals said the school is the most
conducive environment to conduct this activity in order to best reach adolescents.
Some respondents said they do health promotion for any group, including teenagers,
through home visits, is a major challenge due to the difficulty of all that may involve
this process, even when violence is present. The proximity to the teenager, the home
visit provides an opportunity, a perspective that takes into account their experience,
their aspirations and their different articulated knowledge with knowledge of the
professional health and education, makes the education sector, as well as important
in interface with health a potential partner in the construction of ideas and
interconnected and more effective practices. We believe that home visits pe rformed
by healthcare adolescents may be an alternative space that can be valued for the
implementation of appropriate educational strategies reality of the community. The
relevance of the work was to strengthen the relationship between user and SUS
multidisciplinary team in an educational viewpoint, held by RV, which is likely to be
directed to the care of users unable to go to the Health Unit both, but mainly as space
for conducting health education activities involving the whole family.
Key words: Education Health. Home visit. Teenager.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -
Figura 2 -
Figura 3 -
Mapa das Secretarias Executivas Regionais (SERs) do município
de Fortaleza/CE.........................................................................
Quadro esquemático dos principais resultados do estudo,
Fortaleza, 2014..........................................................................
Apresentação das principais considerações finais do estudo,
Fortaleza, 2014.......................................... ................................
40
75
79
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACS - Agentes Comunitários da Saúde
AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida / Acquired Immunodeficiency
Syndrome
APS - Atenção Primária à Saúde
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas
CE - Ceará
CPMMF - Comitê de Prevenção da Mortalidade Materna de Fortaleza
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social
CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social
CSF - Centros de Saúde da Família
DM - Diabetes Mellitus
DST - Doença Sexualmente Transmissível
ES - Educação em Saúde
ESF - Equipes de Saúde da Família
ESF - Estratégia Saúde da Família
HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana / Human Immunodeficiency Virus
IBGE - Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia
ILANUD - Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito
e Tratamento do Delinquente
MS - Ministério da Saúde
NASF - Núcleo de Apoio à Saúde da Família
OMS - Organização Mundial da Saúde
PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PACS - Programa Nacional de Agentes de Saúde
PMAQ - Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica
PNAB - Política Nacional de Atenção Básica
PNAISAJ - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens
POF - Pesquisa de Orçamento Familiar
PROSAD - Programa Saúde do Adolescente
PSE - Programa Saúde na Escola
PSF - Programa de Saúde da Família
SERs - Secretarias Executivas Regionais
SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica
SINASC - Sistema de Informação de Nascidos Vivos
SUS - Sistema Único de Saúde
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFC - Universidade Federal do Ceará
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância
VD - Visita Domiciliária
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................
1.1 Contato da pesquisadora com a temática .................................................
1.2 Contextualizando o objeto de estudo ........................................................
2 OBJETIVOS................................................................................................
3 ESTADO DA ARTE....................................................................................
3.1 Atenção primária à saúde: possibilidades para o cuidado na família ......
3.2 Educação em saúde e visita domiciliária: estratégia para a promoção
da saúde.........................................................................................................
3.3 Saúde do adolescente: uma fase de oportunidades / desafios ...................
4 METODOLOGIA....................................................... .................................
4.1 Tipo de estudo..........................................................................................
4.2 Cenário do estudo.....................................................................................
4.3 Agentes sociais da pesquisa......................................................................
4.4 Procedimentos para coleta de informações ..............................................
4.5 Análise e interpretação de dados ..............................................................
4.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa .........................................................
5 RESULTADOS............................................................................................
5.1 Caracterização dos trabalhadores da saúde do estudo ............................
5.2 Educação em saúde e visita domiciliária: concepções e práticas .............
5.3 Introdução da educação em saúde na família com enfoque no
adolescente.......................................... ...........................................................
5.4 Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente .............
5.5 Visita a um adolescente da área: experiência no território .....................
6 DISCUSSÃO................................................................................................
6.1 Caracterização dos trabalhadores da saúde do estudo ............................
6.2 Educação em saúde e visita domiciliária: concepções e práticas .............
6.3 Introdução da Educação em Saúde na família com enfoque no
adolescente......................................................................................................
6.4 Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente durante
a visita domiciliária........................................................................................
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46
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................
REFERÊNCIAS......................................... .................................................
APÊNDICE A - Questionário para os profissionais da ESF..........................
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................
APÊNDICE C - Instrumento de reconhecimento da qualidade visita ao(a)
adolescente......................................................................................................
APÊNDICE D - Termo de consentimento livre e esclarecido para o
responsável pelo (a) adolescente .....................................................................
APÊNDICE E - Termo de assentimento informado livre e esclarecido .........
ANEXO A – Parecer consubstanciado do CEP..............................................
76
81
93
95
97
98
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103
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1 INTRODUÇÃO
1.1 Contato da pesquisadora com a temática
O interesse pela atuação na Estratégia Saúde da Família (ESF) surgiu após a
conclusão do Curso de Odontologia na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde
me inseri na ESF do município de Aracoiaba/CE em 2001, ano em que foi inserido o
odontólogo na ESF no Brasil. Após esse período, participei da ESF em mais dois
municípios do Ceará, através de concurso público. Em 2006, tornei -me servidora
pública na ESF do município de Fortaleza, onde permaneço até os dias atuais.
A experiência adquirida, em conjunto com outros trabalhadores da saúde
durante minha jornada profissional, com destaque para o Município de Fortaleza,
aproximou-me de uma comunidade, localizada na Regional VI. A comunidade é
permeada por contraste socioeconômicos. Existem moradores do bairro com boas
condições financeiras, mas outros convivem de perto com o tráfico de drogas, a
violência, a pobreza e poucas opções de lazer. No entanto, a maior luta da
comunidade é por saneamento básico.
Um grave problema encontrado na localidade é o grande número de
adolescentes grávidas e usuários de drogas. Diante desta situação, as equipes da ESF
constantemente, abordam os adolescentes em situação de vulnerabilidade em escolas
e na própria comunidade através de atividades educativas. Infelizmente, é baixa a
adesão das adolescentes às atividades educativas, o que já provocou a extinção de
várias tentativas de formação de um grupo permanente de adolescentes , seja na
unidade de saúde, seja no cenário escolar ou na própria comunidade.
Diante do perfil dessa população e das tentativas mal sucedidas de realização de
atividades de educação em saúde para a prevenção de agravos na adolescência,
despertou-me o desejo de aprofundar o tema a partir do olhar da visita domiciliária.
1.2 Contextualizando o objeto de estudo
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) surgiu com o intuito de reorganizar o
sistema de serviços em saúde, segundo a Política Nacional de Atenção Básica
14
(PNAB). Possui princípios baseados no foco da família e na orientação comunitária.
Seus objetivos, entre outros, são: intervir nos fatores de riscos aos quais a população
está exposta; promover atividades de educação e promoção da saúde; e melhorar o
autocuidado dos indivíduos com foco na atenção à família (BRASIL, 2009).
A promoção da saúde é trabalhada com ênfase nos campos do reforço da ação
comunitária que consiste no processo de empoderamento das pessoas para gerar
mudanças nos determinantes sociais da saúde comunitária por meio da mobilização
coletiva; e no campo do desenvolvimento de habilidades pessoais que é a capacitação
das pessoas para se prepararem para as diversas fases da vida, incluindo o
enfrentamento de enfermidades crônicas e as causas externas que afetam a saúde
(BRASIL, 2009).
Atualmente a ESF é composta por uma equipe multiprofissional, com um
médico generalista, ou médico da família; um enfermeiro; de um a dois auxiliares de
enfermagem; quatro a seis Agentes Comunitários da Saúde (ACS); um cirurgião
dentista; um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene bucal. Estes
devem acompanhar cerca de 4.000 habitantes, com um máximo de 750 pessoas por
ACS (VECCHIA, 2006; PINTO, 2007).
Em relação às fases do ciclo vital trabalhadas na ESF, destaca-se o
atendimento aos adolescentes. A atenção a essa população é realizada com base em
programas coordenados pelo Ministério da Saúde, com destaque para o Programa
Saúde do Adolescente (PROSAD), criado pela Portaria do Ministério da Saúde nº
980/GM de 21/12/1989, que se fundamenta numa política de Promoção de Saúde, de
identificação de grupos de risco, detecção precoce dos agravos com tratamento
adequado e reabilitação, respeitadas as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS),
garantido pela Constituição Brasileira de 1988 (BRASIL, 1989).
Há alguns anos, a adolescência era considerada um período de menor risco
para o adoecimento e a morte. No entanto, nas duas últimas décadas, observou-se um
aumento da morbimortalidade nesse grupo populacional. De um lado, pesquisas
científicas têm revelado que várias alterações orgânicas advindas de hábitos de vida
pouco saudáveis já estão instaladas nesse momento da vida, constituindo-se em
fatores de risco para doenças, principalmente na vida adulta. Os adolescentes têm
necessidades e expectativas peculiares, tendem a não valorizar sintomas que não
15
sejam muito graves e que não sejam físicos e tendem a não aderir tanto às ações de
prevenção quanto às de tratamento (UNICEF, 2011).
Estudos demonstram que, na adolescência, a iniciação sexual precoce, a
multiplicidade de parceiros, a não adesão aos métodos contraceptivos e às medidas
de prevenção para a não aquisição das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs),
influenciados por um sistema de gênero que se pauta na dominação masculina, pela
curiosidade pelas drogas, bem como na necessidade de afirmação grupal, tornam os
adolescentes susceptíveis à aquisição de Doença Sexualmente Transmissível / Vírus
da Imunodeficiência Humana / Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(DST/HIV/AIDS) e à gravidez precoce, sendo imprescindível que a prevenção, neste
grupo, mereça enfoque prioritário (XAVIER et al., 2011).
Nesse contexto, Taquete (2007) reflete acerca do impacto dos programas
governamentais que visam à redução da gravidez na adolescência, percebendo que
estes, mesmo com todo o investimento, parecem não estar sendo suficientes.
Questiona as estratégias focadas na orientação em sexualidade e no planejamento
familiar e nos precários e insuficientes investimentos sociais, educacionais e
culturais, de relevância fundamental, e que poderiam resultar num maior impacto na
redução da gravidez precoce. Para a autora é necessário promover novas estratégias
que vão ao encontro das necessidades dos adolescentes e que englobem sua família
também no espaço do território.
Considera-se que a gravidez precoce provém da multicausalidade. As ações
de prevenção devem considerar a perspectiva de vulnerabilidade, gênero, a
intersetorialidade e a rede sociofamiliar, com abordagem centrada na educação
sexual, transpondo o campo biomédico, considerando as subjetividades: valo res,
crenças, atitudes e desejos. Assim é, no bojo da família, que é possível favorecer a
diminuição do número de adolescentes grávidas e promover a saúde do adolescente.
O Ministério da Saúde reconhece a situação, quando refere que “essa
realidade multicausal revela deficiências na implantação de políticas públicas,
exigindo movimento do governo e da sociedade para promover a saúde e o
desenvolvimento da juventude” (BRASIL, 1999, p, 10).
Assim, dentre as estratégias que podem envolver a atenção à saúde do
adolescente, destaca-se a Educação em Saúde no contexto familiar por meio da Visita
16
Domiciliária (VD) que tem como objetivo fortalecer a relação entre profissionais e
comunidade e é, normalmente, realizada quando o usuário está impossibilitado de ir à
Unidade de Saúde da Família. O profissional de saúde, durante a visita domiciliária,
tem a oportunidade de conhecer o ambiente em que o usuário vive e o tipo de
relações familiares que possui. Além disso, tem a possibilidade de atuar com foco na
ação comunitária.
Em relação ao termo visita domiciliar, é comum encontrar em estudos e
práticas cotidianas diversas nomenclaturas, porém, em pesquisas teóricas o termo
“visita domiciliária” se adapta melhor ao português, visto que domiciliar é um verbo
transitivo direto, significando dar domicílio a; recolher em domicílio; fixar
residência ou fixar domicílio, enquanto que domiciliário é um adjetivo relativo a
domicílio, feito no domicílio e cujo feminino é domiciliária . Portanto, utiliza-se o
termo visita domiciliária neste estudo, respeitando o outro termo já bastante
difundido na literatura e entre os profissionais da saúde (EGRY; FONSECA, 2000).
Visita Domiciliária (VD) é um dos instrumentos mais indicados à prestação de
assistência à saúde, ao indivíduo, à família, à comunidade e deve ter seus objetivos
definidos e pautados nos princípios de eficiência. A VD possibilita conhecer a
realidade da família, contribuindo para a diminuição de internações hospitalares,
além de fortalecer os vínculos entre a clientela e os profissionais de saúde envolvidos
nesse processo (OHARA; SAITO, 2008).
Durante a visita domiciliária os profissionais de saúde, dentre eles o
odontólogo, têm a possibilidade de reconhecer, identificar e diagnosticar as
necessidades da família que está acompanhando, e a partir de então, traçar estratégias
de intervenção e cuidado, adaptadas à realidade. Dentre as atividades desenvolvidas,
destaca-se a educação em saúde, com a finalidade de promover na família o
autocuidado. Nessa prática são realizadas orientações para diversas situações de
promoção à saúde: estímulo ao desenvolvimento infantil, ações de monitoramento e
ainda a identificação do cuidador (ABRAHÃO; LAGRANCE, 2007).
A ESF, em relação à saúde do adolescente, tem como uma de suas atribuições
desenvolver atividades de educação em saúde, uma vez que essa estratégia tem como
finalidade de promover modificações/transformações que primeiramente podem ser
individualizadas, mas que em longo prazo tendem a modificar positivamente o
contexto familiar, o ambiente e a comunidade.
17
Dessa forma, acredita-se que a educação em saúde, atividade da promoção da
saúde, deve incorporar a participação de toda a população cotidianamente e não
apenas das pessoas que estão sob-risco de adoecer. Essa noção está baseada em um
conceito de saúde ampliado, considerado como um estado positivo e dinâmico de
busca de bem-estar, que integra os aspectos físico e mental (ausência de doença),
ambiental (ajustamento ao ambiente), pessoal/emocional (autorrealização pessoal e
afetiva) e socioecológico (comprometimento com a igualdade social e com a
preservação da natureza (SILVA et al., 2009).
Entretanto, a partir dessa noção ampliada de saúde, observando-se a prática,
verifica-se que atualmente persistem diversos modelos ou diferentes paradigmas de
educação em saúde, os quais condicionam diferentes práticas, muitas das quais
reducionistas, o que requer questionamentos e o alcance de perspectivas integradas
(SCHALL; STRUCHINER, 1999).
A educação em saúde ampliada inclui políticas públicas, ambientes
apropriados e reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos
e curativos, assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o
desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja
essência esteja na melhoria da qualidade de vida e na promoção do homem (MAIA,
2008).
Diante deste contexto, o cenário da família por meio das visitas domiciliárias
deve ser valorizado como espaço promotor da saúde da família e da comunidade. Por
isso, deve ser mais bem explorado pelos profissionais da equipe de saúde que atuam
na saúde do adolescente.
A Educação em Saúde é inerente a todas as práticas desenvolvidas no âmbito
do SUS. Como prática transversal proporciona a articulação entre todos os níveis de
gestão do sistema, representando dispositivo essencial tanto para a formulação da
política de saúde de forma compartilhada quanto para as ações que acontecem na
relação direta dos serviços com os usuários (BRASIL, 2007).
O trabalho de Educação em saúde realizado no ambiente domiciliar permite ao
profissional conhecer a realidade e adentrar a subjetividade do adolescente, o que vai
ao encontro dos objetivos da visita. A compreensão do espaço domicili ar proporciona
um olhar sobre as diferentes dimensões do cuidado familiar e relação com o
18
adolescente e jovem, assim, promove um cuidado individualizado. Portanto, a
captação da dimensão singular da família subsidia intervenções voltadas às suas
necessidades reais. Desse modo, o domicílio é considerado espaço especial de
desenvolvimento das ações de promoção da saúde e prevenção das doenças
(ABRAHÃO; LAGRANCE, 2007).
Ao mesmo tempo, a VD é um cenário que permite tornar evidentes as relações
sociais que podem fortalecer o potencial de saúde. Essas mesmas relações sociais
também podem contribuir com o processo de adoecimento dos indivíduos. Esse olhar
permite rediscutir a prática para a construção de um protocolo com a participação dos
diferentes atores envolvidos na visita domiciliária.
Baseados no entendimento de seu papel como integrantes da Estratégia Saúde
da Família, os trabalhadores de uma Unidade de Saúde localizada na Regional VI em
Fortaleza/CE, vêm desenvolvendo diversas atividades educativas com grupos
heterogêneos de pessoas do bairro e das proximidades. Porém, tem-se observado uma
inquietação por parte desses trabalhadores devido à baixa adesão dos adolescentes
em participar dos processos coletivos de construção do saber, além da falta de
empoderamento para cuidarem de si mesmos. Considera-se que as visitas
domiciliárias realizadas pela equipe de saúde ao adolescente podem ser uma
alternativa de espaço que pode ser valorizada para a implementação de estratégias
educativas adequadas à realidade da comunidade.
A relevância do trabalho é fortalecer a relação entre usuário do SUS e equipe
multiprofissional sob uma ótica educativa, realizada por meio da VD, a qual tem
possibilidade de ser direcionado tanto para o cuidado de usuários impossibilitados de
ir à Unidade de Saúde (US) quanto e principalmente como espaço para realização de
atividades de Educação em Saúde envolvendo toda a família, em especial os
adolescentes. Com isso, acredita-se que os profissionais devem, acima de tudo,
possuir conhecimento adequado do ambiente em que seus usuários vivem e convivem
para que estes desenvolvam o autocuidado.
Além disso, a visita domiciliária pode ser considerada uma parte importante
do processo de trabalho em saúde na ESF, pois reúne pelo menos três tecnologias
leves a serem aprendidas e desenvolvidas: a observação, que indica a atenção aos
detalhes dos fatos e relatos apresentados durante a visita; a entrevista, que implica o
diálogo com a sua devida finalidade e não apenas uma conversa empírica; e o relato
19
oral ou história, espaço onde as pessoas revelam como dão sentido às suas vidas,
dentro dos limites e da liberdade que lhes são concedidos (MERHY; ONOKO, 2007).
Apesar disso, nem sempre os profissionais de saúde utilizam a VD como
espaço promotor da saúde, e sim, como atividade de cuidado pontual ou pautada em
atividades individuais curativas. Em vista do exposto, lança-se a seguinte questão
norteadora do estudo: Qual a percepção dos membros da ESF sobre a atenção à
Saúde do adolescente na VD com ênfase na Educação em Saúde? Qual a opinião
desses profissionais sobre sua necessidade de capacitação para levar educação em
saúde ao adolescente durante a VD?
20
2 OBJETIVOS
- Compreender a percepção dos profissionais da ESF sobre a visita
domiciliária com enfoque no adolescente;
- Identificar dificuldades ou facilidades que possam existir na atenção ao
adolescente durante a VD.
- Relatar a experiência de realização de uma visita domiciliária a um
adolescente do território.
21
3 ESTADO DA ARTE
O estado da arte procura identificar as restrições do campo onde se processa a
pesquisa, as lacunas de sua disseminação, identificar as experiências inovadoras
investigadas que buscam solucionar os problemas da prática e busca reconhecer as
contribuições da pesquisa na constituição de propostas para a área focalizada. Pode
ser uma contribuição significativa na constituição do campo teóri co de uma área de
conhecimento (ANDRE; ROMANOWSKI, 1999).
Segundo Soares (1989, p. 04), num estado da arte é necessário considerar
“categorias que identifiquem, em cada texto, e no conjunto deles as facetas sobre as
quais o fenômeno vem sendo analisado.”
Os estudos de estado da arte que têm como foco a sistematização da produção
numa determinada área do conhecimento são fundamentais para apreender a
dimensão do que vem sendo produzido.
3.1 Atenção Primária à Saúde: possibilidades para o cuidado na família
O termo “atenção primária” começou a ser propagado a partir do Relatório
Dawson, elaborado pelo Ministério da Saúde do Reino Unido, que em 1920 o
associou à ideia de regionalização e hierarquização dos cuidados (CONILL, 2008).
A Atenção Primária à Saúde (APS) surge como estratégia para orientar a
organização do sistema de saúde e responder as necessidades da população. A boa
organização dos serviços de APS contribui para a melhoria da atenção com impactos
positivos na saúde da população e na eficiência do sistema (MACINKO et al., 2003).
O conceito estabelecido como consenso mundial, em 1978, destacou elementos
que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estava empenhada em difundir naquele
momento: integração dos serviços locais num sistema nacional, participação,
necessidade de ações intersetoriais e a relação da saúde com o desenvolvimento
econômico e social.
Na América Latina, nos anos 80 do século XX, a atenção primária foi
implementada como um pacote de serviços mínimos, em geral de baixa qualidade
22
(WHO, 2008).
Já no Brasil, a partir da década de 70, surgiram diversas iniciativas visando a
ampliar as práticas nos centros de saúde que eram normalmente frequentados pela
população mais carente. Nos anos 90, com a regulamentação do Sistema Único de
Saúde baseada na universalidade, equidade e integralidade e nas diretrizes
organizacionais de descentralização e participação social, para diferenciar -se da
concepção seletiva de APS, passou-se a usar o termo Atenção Básica em Saúde,
definida como ações individuais e coletivas situadas no pr imeiro nível e voltadas, à
promoção da saúde, à prevenção de agravos, ao tratamento e à reabilitação
(GIOVABELLA et al., 2009).
No contexto de debates sobre a influência da economia e de fatores sociais na
saúde das pessoas, inicia-se o Movimento Internacional de Promoção da Saúde, no
qual se estabeleceram as bases para uma nova visão oficializada inicialmente pela
Conferência de Alma-Ata (1978), com o tema “Saúde para todos no ano 2000”.
Em relação à educação em saúde, a Primeira Conferência Nacional de Saúde
1981, no Canadá, já destacava o contexto social como determinante da saúde visto
que influenciava o comportamento das pessoas. Assim a Educação em Saúde poderia
atuar na qualidade de vida e mudança de hábitos (BRASIL, 2001).
Na Carta de Ottawa, em 1986, a visão do processo educativo fica evidente
quando reconhece as pessoas como principal recurso para a saúde e que se deve
apoiá-las e capacitá-las para que mantenham saudáveis a si próprias, os seus
familiares e os seus amigos. Essa realidade também é vista na segunda Conferência
Internacional sobre Promoção da Saúde em 1988, a Declaração de Adelaide, a qual
destaca a ação comunitária como ponto central de políticas de saúde. Levando-se em
consideração o nível de educação da população, devem ser feitos esforços para
informar aos grupos que deverão se beneficiar dessas políticas públicas (BRASIL,
2001).
Em 1991, acontece a Terceira Conferência Internacional de Promoção da
Saúde em Sundsvall, na Suécia. Essa Conferência destacou estratégias fundamentais
para as ações em saúde pública ligadas ao empoderamento das pessoas sobre sua
própria saúde, visando obter ambientes saudáveis. Destaca-se a capacitação podemos
23
realçar a capacitação da comunidade e dos indivíduos para que estes tenham o maior
controle sobre sua saúde através da Educação (BRASIL, 2001).
A Conferência Internacional sobre de Promoção da Saúde, em 1992, em Santa
Fé de Bogotá, na Colômbia, enfatiza a promoção da saúde através da participação
ativa das pessoas na mudança das condições sanitárias e na maneira de viver de
acordo com uma cultura de saúde(BRASIL, 2001).
A Quarta Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em 1997, em
Jacarta se preocupa com a promoção da Saúde do século XXI e deixa claro que
aprender sobre saúde fomenta a participação e que se devem acumular conhecimentos
sobre as melhores práticas e facilitar o aprendizado compartilhado (BRASIL, 2001).
A Declaração do México, na Quinta Conferência Internacional Sobre
Promoção da Saúde, em 2000, concluiu que a Promoção da Saúde é um componente
fundamental nas políticas e nos programas públicos em todos os países para se
conseguir equidade e mais saúde para todos (DECLARAÇÃO DO MÉXCIO, 2000).
Percebe-se que todas as conferências se referem ao compromisso de promoção
da saúde por meio da divulgação de informações para a população e do estímulo ao
autocuidado e da participação ativa das pessoas para a mudança das condições
sanitárias, o que remete à oportunidade que a visita domiciliária tem de cumprir esse
compromisso, quando o profissional da saúde se utiliza desse espaço para falar sobre
qualidade de vida.
Paralelamente a esse contexto de luta por mudanças na maneira de se fazer
saúde em todo o mundo, no Brasil os movimentos sociais ganharam força. Houve a
redemocratização da sociedade e, através dela, a reforma sanitária. O Sistema Único
de Saúde (SUS) surgiu após estes movimentos de articulação de outras políticas
públicas com o setor da saúde, estimulando a intersetorialidade (CUNHA, J.;
CUNHA, R., 1998).
O SUS veio da insatisfação e do descontentamento em relação aos direitos de
cidadania, da falta de acesso, da escassez de serviços e da forma de organização do
sistema de saúde. Em 1988, a Constituição Federal determinou ser dever do Estado
garantir saúde a todos. Criou-se o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o Congresso
Nacional aprovou a Lei Orgânica da Saúde, que detalha o funcionamento do Sistema.
24
Portanto, o SUS resultou de um processo de lutas, mobilização, participação e
esforços desenvolvidos por vários setores da sociedade (CAMPOS, 2006).
O SUS é definido dessa forma porque segue a mesma doutrina e os mesmos
princípios organizativos em todo o Território Nacional, sob a responsabilidade das
três esferas do governo: federal, estadual e municipal. É um sistema que significa um
conjunto de serviços e ações que interagem para um fim comum. Esses elementos
integrantes do sistema se referem, ao mesmo tempo, às atividades de promoção,
proteção e recuperação da saúde tão presente na Estratégia Saúde da Família
(CAMPOS, 2006).
A Estratégia de Saúde da Família surgiu como um programa para se conseguir
a reversão do sistema assistencial que predominava o atendimento de emergência aos
pacientes. No Ceará, uma das experiências mais consolidadas resultou na diminuição
da mortalidade infantil e materna, o que contribuiu com a implantação do Programa
Nacional de Agentes de Saúde (PACS) e da Estratégia Saúde da Família (GIL, 2006).
Já em 1991, o Ministério da Saúde (MS) iniciou a Implantação do PACS
através de convênios com estados e municípios com a finalidade de estender a
cobertura dos serviços de saúde em áreas pobres e desassistidas (ARAÚJO, 2014, on
line).
Em 1994, divulgou-se o primeiro documento pelo MS, o “PSF: saúde dentro
de casa”, que estimulava a promoção de mudanças no atual modelo de assistência à
saúde do país que privilegiava a cura sobre a prevenção de doenças (BRASIL, 1994).
O objetivo do documento era melhorar o estado de saúde da comunidade, com
assistência à família, através da Atenção Integral oportuna e contínua, nos
domicílios, nos ambulatórios e nos hospitais. Inicialmente, fazia-se o cadastramento
das famílias em suas casas, averiguavam-se as condições de saúde e saneamento
básico. Já se afirmava a importância das visitas domiciliárias para uma maior
integração das famílias com as equipes de saúde e garantindo-se a permanente
proteção da saúde (BRASIL, 1994).
Outro documento “Saúde da Família: uma estratégia de organização dos
serviços de saúde” configura o PSF como um novo modelo estruturante, colocando a
família como objeto de atuação, entendida a partir do espaço em que vive, o
domicílio. Esse mesmo documento afirma que o domicílio deve ser entendido como
25
um espaço-âncora, onde são construídas as relações intra e extrafamiliares, como a
luta pela sobrevivência, pela reprodução e por melhores condições de vida, além de
fatores que influenciam o processo de saúde-doença, como conflitos, saneamento e
instalações físicas (BRASIL, 1996).
Com a expansão desse programa, o governo emitiu a Portaria Nº 648, de 28 de
março de 2006, onde ficava estabelecido que o PSF é a estratégia prioritária do
Ministério da Saúde para organizar a Atenção Básica - que tem como um dos seus
fundamentos possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de
qualidade, reafirmando os princípios básicos do SUS: universalização, equidade,
descentralização, integralidade e participação da comunidade - mediante o
cadastramento e a vinculação dos usuários (BRASIL, 2006, on line).
Em 2011 a Portaria GM Nº 2.488/2011 revogou a Portaria GM Nº 648/2006 e
demais disposições em contrário ao estabelecer a revisão de diretrizes e normas para
a organização da Atenção Básica e aprovar a Política Nacional de Atenção Básica
para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e para o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS) (BRASIL, 2011).
A ESF representa a descentralização do SUS. Por meio das equipes
multiprofissionais atua em práticas de saúde com integralidade para atender
populações delimitadas por áreas geográficas. A política de trabalho preconiza a
visão do ser humano de forma contextualizada às suas condições demográficas,
epidemiológicas, socioeconômicas, políticas e culturais para que as ações de saúde
sejam cada vez mais direcionadas e eficazes (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004).
Até o ano de 2011, foram implantadas 32.079 equipes de saúde da família em
6.284 municípios do Brasil, atendendo a cerca de 50% da população. As equipes de
saúde bucal somaram 21.038 em 4.847, enquanto os ACS foram 248.521 em 6.391
municípios brasileiros (BRASIL, 2012)
A partir de um diagnóstico comunitário aprofundado, após cadastramento das
famílias, pelas visitas domiciliárias e análise dos dados coletados, as atuações dos
profissionais que compõem essas equipes tendem a criar vínculo com o usuário e
fundamentam um trabalho sistematizado e contínuo. Esse trabalho vai muito além do
caráter curativista e flexneriano. Sob a visão de eliminação de doenças, preconizam
26
um compromisso com a promoção da saúde e a qualidade de vida dessa comunidade
de acordo com sua realidade.
As equipes devem executar ações de vigilância em saúde, relacionadas ao
trabalho e ao ambiente dos cidadãos; realizar acolhimento humanizado; prest ar
atendimento de saúde; realizar visitas domiciliárias e criar espaços contínuos e
crescentes de atividades educativas. A ESF se propõe a trabalhar com o princípio da
vigilância em saúde, apresentando uma característica de atuação inter e
multidisciplinar apoiado na educação em saúde e na responsabilidade integral pela a
população que reside na área de abrangência de suas unidades de saúde (BRASIL,
1997).
3.2 Educação em saúde e a visita domiciliária: estratégia para promoção da
saúde
Freire (2004, p.25) afirma que “ensinar não é transferir conhecimentos, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção .” Ou seja, não
é dizer o que tem que ser feito, mas estimular o senso crítico dos cidadãos e o
empoderamento sobre suas escolhas.
O educador em saúde deve objetivar a qualidade da informação, sua recepção,
sua forma e o quanto é compreendida pela população, traçando estratégias de ensino
que resultem em ações transformadoras por parte dos cidadãos. O autocuidado se
inicia pela conscientização, lembrando-se de que cada indivíduo possui um ritmo
para aprender, compreender e pôr em prática as orientações. Por conseguinte, o
cidadão pode vir a estabelecer adaptações para o seu cotidiano (SILVA, 2005) .
A educação em saúde no Brasil se refere às medidas preventivas e curativas
que visam à obtenção da saúde e ao enfrentamento das doenças num primeiro plano
e, no segundo, as estratégias da promoção da saúde objetivam a construção social da
saúde e do bem-estar (GUEDES et al., 2004).
A educação em saúde no Brasil se refere às medidas preventivas presente em
todas as práticas desenvolvidas pelo SUS. Ela pode e deve ser aplicadas em qualquer
ambiente onde são executadas as atividades profissionais de cuidado, como
enfermarias, consultórios, salas de aula, grupos terapêuticos, unidades de saúde,
salas de espera e em domicílio, desde que haja um propósito e o ambiente propício. A
27
Educação em Saúde deve estimular a participação social, logo, “deve estar presente
nos processos de educação permanente para o controle social, na mobilização em
defesa do SUS e como tema relevante para os movimentos sociais que lutam em prol
de uma vida digna” (BRASIL, 2007a, on line).
Para tanto:
É necessário o desenvolvimento de ações de educação em saúde numa
perspectiva dialógica, emancipadora, participativa, criativa e que contribua
para a autonomia do usuário, no que diz respeito à sua condição de sujeito
de direitos e autor de sua trajetória de saúde e doença; e autonomia dos
profissionais diante da possibilidade de reinventar modos de cuidado mais
humanizados, compartilhados e integrais (BRASIL, 2007a, on line).
O profissional da saúde deve possuir um olhar holístico e analítico sobre as
necessidades de saúde da comunidade; e, sobretudo, estar envolvido com o sujeito e
grupos. Como os profissionais de saúde trabalham em equipe, ressalta -se a
interdisciplinaridade, ao lidar com fatores ligados aos usuários que determinam seu
estado de saúde: ambiente, biologia humana, estilo de vida e a própria organização
dos serviços de saúde (FREIRE, 2004)
Ao entrar no ambiente domiciliar, a equipe da ESF tem uma melhor visão
sobre o ambiente, o estilo de vida, os hábitos e as relações dos usuários, o que
contribui para uma abordagem sobre educação em saúde específica do domicílio
visitado (BRASIL, 2012)
A política do setor da saúde, principalmente no momento histórico atual, está
retornando sua atenção para a família no contexto domiciliar, reconhecendo-o como
um importante campo de atuação para os profissionais da saúde. Compreende-se ser
esta uma possibilidade de estreitar os vínculos e favorecer a responsabilidade social e
política dos profissionais envolvidos com o cuidado em saúde, pois é no “cuidado
domiciliar que se encontra a essência do ser humano” (LACERDA ; OLINISK, 2004)
A atenção domiciliária é um termo usado para definir as ações de promoção da
saúde, de tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidas em domicílio,
realizadas por qualquer profissional com vários objetivos. As atividades em
domicílios existem há tempos, como por exemplo, as campanhas sanitaristas de
Osvaldo Cruz que entravam nas casas para vacinar as pessoas mesmo sem
autorização destas (ANVISA, 2006).
28
Nessa perspectiva, o cuidado domiciliar é uma das maneiras pelas quais os
profissionais podem cuidar tanto em situações de promoção e prevenção como no
apoio e na terapêutica de doenças. A presença de doença, nesse espaço, constitui-se,
de outro modo, uma ruptura e/ou uma nova possibilidade de organização/
reorganização do grupo familiar. Além das incertezas da sobrecarga física, emocional
e financeira, o impacto da doença gera mecanismos de defesa nem sempre favoráveis.
O papel preponderante do profissional cuidador consiste em envolver as
pessoas sob seu cuidado nas decisões e ajudá-las no enfrentamento de conflitos,
juntar esforços e assegurar uma atitude de confiança e reciprocidade. Além do mais,
é no domicílio que o profissional, por meio do compartilhamento e das trocas,
visualiza os possíveis riscos, as dificuldades ou as facilidades com vistas a
identificar respostas e elaborar um plano de cuidado condizente com a realidade
familiar e domiciliar (BACKES et al., 2006).
A modalidade de cuidado domiciliar confere, em última análise, uma posição
de destaque e autonomia ao profissional por exigir deste, a capacidade de
planejamento, encaminhamento, decisão, iniciativa e interatividade entre outras,
além de uma inserção social ética e comprometida com o ser humano (BACKES et
al., 2006).
As atividades dos profissionais da Estratégia Saúde da Família englobam,
entre outras, realizar o cuidado da saúde da população adscrita, prioritariamente no
âmbito da unidade de saúde, e quando necessário no domicílio; garantir a atenção à
saúde, buscando a integralidade por meio da realização de ações de promoção,
proteção e recuperação da saúde e prevenção de agravos e praticar cuidado familiar-
grifo nosso, e dirigido a coletividades e grupos sociais que visa propor intervenções
que influenciem os processos de saúde doença dos indivíduos, das famílias,
coletividades e da própria comunidade. Portanto, promover educação em saúde
durante a visita domiciliária é uma atividade de cuidado dentro das atribuições já
estabelecidas para os profissionais da Estratégia Saúde da Família (BRASIL, 1997).
Dentro das atribuições dos profissionais da Estratégia Saúde da Família está o
cuidado das famílias na sua área de abrangência com mais frequência na Unidade de
Saúde dentro daquele território. O agente comunitário de saúde (ACS), que faz parte
da ESF, trabalha, prioritariamente, realizando atividades de saúde dentro dos
domicílios das pessoas que estão sob sua responsabilidade (BRASIL, 2009).
29
Porém, o Ministério da Saúde atribui a visita domiciliária como competência
para todos da equipe de Saúde da Família (BRASIL, 2013).
Diversas experiências práticas com ACS no Brasil são observadas desde a
década de 80 do século XX, com o Movimento da Medicina Comunitária e a
Conferência Internacional de Cuidados Primários de Saúde em Alma-Ata. Os ACS,
que eram pessoas da comunidade assistida, realizavam atividades de orientação sobre
prevenção de doenças, utilização de remédios caseiros e atendimentos em geral sobre
doenças mais comuns ao ambiente.
Nas diversas instâncias ligadas à ESF, seja acadêmica, oficial ou na prática
cotidiana, existem contradições e diferenças na forma de abordar a família, podendo
dificultar a integralidade da saúde. Normalmente, a abordagem é feita de forma
parcial, para apenas alguns indivíduos ou representantes presentes no momento da
visita domiciliária (RIBEIRO, 2004).
Takahashi e Oliveira (2001) complementam que a visita domiciliária só se
configura como intervenção quando planejada e sistematizada. Se não, será apenas
uma atividade social.
É frequente a atenção e o planejamento dos profissionais de saúde voltados
para a população em geral e alguns grupos específicos como a criança, o idoso e a
gestante. Muitas vezes o público adolescente é esquecido sendo favorecido apenas no
contexto das ações programáticas, como planejamento familiar, pré-natal e prevenção
do câncer de colo de útero (BRASIL, 2010).
Profissionais que trabalham em programas de atenção à saúde de adolescentes
referem dificuldades no trato diário com esse grupo etário, pois para que se cumpra a
agenda de atividades os esforços parecem ser em vão, causando-lhes frustração,
desmotivação, mal-estar e até mesmo irritação, pois geralmente os adolescentes não
comparecem no serviço (XIMENES NETO et al., 2010).
Em uma pesquisa realizada por Macedo et al. (2010) para verificar a utilização
dos serviços de saúde no Brasil, o grupo de adolescentes era o que menos procurava
atendimento e, quando o fazia, geralmente era por doença, seguido por gravidez ou
atendimento odontológico.
Para a adesão do adolescente aos programas de saúde é necessário que ele seja
ouvido, possa se expressar e seja respeitado e valorizado. O adolescente não quer
30
nada pronto, e talvez ele não tenha ter encontrado isso no serviço de saúde (ROCHA
et al., 2012).
A visita domiciliária ao adolescente talvez seja uma oportunidade de se
resgatar o jovem que não frequenta a Unidade de Saúde para melhorar sua saúde nem
se sente a vontade para se expor seus problemas e sentimentos diante de um grupo.
A visita domiciliária é vital para a educação em saúde, pois através dela é
possível um planejamento individualizado dos processos educativos a cada individuo
ou grupo familiar (TYLLMAN; PEREZ, 1998).
3.3 Saúde do adolescente: uma fase de oportunidades/desafios
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência é definida
como a segunda década da vida, de 10 a 19 anos. Já a legislação brasileira, presente
no Estatuto da Criança e do Adolescente, refere-se à faixa etária dos 12 a 18 anos
(BRASIL, 1990).
Muito além de sua definição cronológica, a adolescência pode ser
caracterizada por uma série de transformações biopsicossociais, que compreende
desde a maturação dos órgãos sexuais até a elaboração da identidade pessoal e
sexual, com o exercício da sexualidade, da intimidade e da afetividade (FERREIRA
et al., 2007; MANDÚ et al., 2008).
No que se refere à puberdade, essa etapa impõe ao adolescente grandes
alterações e, desta forma, ele necessita se adaptar às novas dimensões e
experimentar, com atenção, as novas sensações para integrá-las no seu cotidiano.
Ocorrem mudanças complexas na personalidade, o que gera alterações de
comportamento e instabilidade na forma de se relacionar. Essas transformações
constituem a síndrome da adolescência normal, que tem características de busca pela
identidade, pela tendência grupal, pelo desenvolvimento do pensamento conceitual,
pela vivência temporal singular, pela evolução da sexualidade, existindo, em algumas
situações, um desacerto entre o corpo - pronto para a reprodução - e a mente -
despreparada para experienciar tais acontecimentos (ALMEIDA; CENTA, 2009).
Além disso, nessa etapa do desenvolvimento humano verifica-se mudança no
perfil da distribuição das doenças, identificando-se, mais comumente, um conjunto
31
de agravos relacionados, sobretudo, com o comportamento sexual e com as condutas
que o adolescente apresenta dentro de seu convívio social (OLIVEIRA et al., 2008).
Em 2003, foi lançado o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas. Essa
estratégia resultou da parceria entre o Ministério da Saúde, o Ministério da
Educação, a Organização das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Visou a reduzir
a vulnerabilidade de adolescentes e jovens às doenças sexualmente transmissíveis, à
infecção pelo HIV e à gravidez não planejada, com ênfase na promoção da saúde, por
meio de ações educativas de prevenção e ampliação dessa população ao uso do
preservativo masculino.
Para fortalecer a discussão das questões de saúde do adolescente, o governo
brasileiro vem, em parceria com setores da sociedade civil, incluindo movimento da
juventude, formulando diretrizes de implementação de uma política de atenção à
saúde dessa população.
No segundo semestre de 2005, o Ministério da Saúde, através da Área Técnica
da Saúde do Adolescente e do Jovem, publicou duas normas técnicas: Marco Legal
da Saúde dos Adolescentes, compilando trechos dos instrumentos legais que
fundamentam a garantia do pleno exercício do direito à saúde dos adolescentes e
Saúde Integral de Adolescentes e Jovens – orientações para a organização de serviços
de saúde, a fim de recomendar e “nortear a implantação e/ou implementação de ações
e serviços de saúde que atendam aos adolescentes e jovens de forma integral,
resolutiva e participativa” (BRASIL, 2005a, b).
Em junho de 2006, o Ministério da Saúde, por meio da área técnica de Saúde
do Adolescente, publicou a versão preliminar do Marco Teórico e Referencial da
Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva de Adolescentes e Jovens, compilando
informações sobre as realidades dessa população no Brasil e identificando diversas
necessidades específicas no bojo da saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes
e jovens como: prevenção de HIV/AIDS, questões relacionadas à gravidez,
violência/abuso/exploração sexual, entre outros (BRASIL, 2007b).
Em 2007, foi realizada a Primeira Conferência Nacional da Juventude, com o
objetivo de promover e propiciar um espaço para o diálogo entre o Poder Público e a
sociedade sobre as perspectivas e os desafios desse segmento. O relatório final
32
constou de nove resoluções e 22 prioridades. No tema sexualidade e saúde, destacou -
se a prioridade de garantir os direitos sexuais e reprodutivos e ampliar projetos
educativos que desenvolvam metodologias participativas sobre gravidez na
adolescência, gênero, violência, promoção da saúde e vulnerabilidades (BRASIL,
2007c).
Porém, o mais amplo e importante documento, sem o qual os demais
perderiam força, é a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e
Jovens (PNAISAJ). Funda-se na prevalência dos direitos humanos, tendo como
pilares normativos a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adoles cente
(BRASIL, 2007d).
Para compreender a importância e a possibilidade de impacto das ações e dos
serviços em saúde destinados aos adolescentes, é fundamental considerar suas
principais demandas de saúde, de maneira que as ações oferecidas se jam adequadas à
realidade local – individual e coletiva – dos principais interessados. Assim, questões
relativas à sexualidade e aos direitos reprodutivos podem ser consideradas
significativas no bojo de suas necessidades específicas, em especial as ações voltadas
à prevenção em DST/AIDS; gravidez (maternidade/paternidade); aborto;
contracepção e abuso/violência sexual (LEÃO, 2005).
Do escopo apresentado na PNAISAJ, é possível apontar três ordens de
desafios: a) quanto à oferta sistemática e organizada de ações e serviços voltados aos
adolescentes; b) quanto à capacitação e sensibilização da equipe de saúde para o
trabalho com adolescentes, desde uma perspectiva que os considere sujeitos de
direitos – especialmente na esfera da sexualidade e da reprodução e, igualmente,
considere as especificidades de gênero; e c) quanto à matriz moral/religiosa que
direciona o comportamento de muitos profissionais e agentes de saúde, em expressa
desatenção aos princípios, às diretrizes e às normas consagrados na Constituição
Federal e nos demais documentos norteadores da política de atenção à saúde do
adolescente (OLIVEIRA, 2008).
A implementação da política de atenção à saúde do adolescente no Brasil
esbarra na carência de formação dos recursos humanos: não há equipes de saúde
suficientes para a população; as equipes não estão capacitadas/sensibilizadas para o
trabalho com adolescentes e mapeamento de demandas; mesmo quando passaram por
períodos de formação, nem todos os profissionais se dispõem a atuar com esta
33
população; muitos profissionais, embora capacitados, ainda percebem os
adolescentes como pessoas em formação, que precisam de orientação e tute la, e não
têm maturidade suficiente para certas escolhas.
Pela ótica da saúde pública, diversos indicadores têm evidenciado o alto nível
de vulnerabilidade a que estão sujeitos os adolescentes, quando o assunto são
informações e acesso a ações e serviços de saúde sexual e reprodutiva. Neste sentido,
gestores de saúde de todas as esferas governamentais reconhecem que a valoração
negativa do exercício da sexualidade e da reprodução dos adolescentes é um
empecilho à prática da política de saúde sexual e reprodutivo voltado a esta
população. No entanto, estudos têm revelado a discrepância entre o que é
preconizada nos documentos norteadores das políticas – a política de direitos - e a
prática cotidiana dos serviços.
Segundo a PNAISAJ, para que a promoção da saúde dos adolescentes seja
efetiva é necessária a adoção de um olhar diferenciado para essa população
adolescente que contemple a família e os pares. Essas concepções devem estar
presentes nas ações de educação sexual para fornecer aportes reflexivos e críticos
que contribuam para as tomadas de decisões de adolescentes e de jovens relacionadas
à sexualidade e à vida reprodutiva e principalmente estimular pais, cuidadores,
adolescentes e jovens a lidar com a sexualidade como parte integrante da vida,
respeitando crenças e valores pessoais, bem como o sentido atribuído por pessoas
jovens à vida sexual no que se refere ao amor, ao desejo de constituir família e ao
desejo de intimidade e de prazer (BRASIL, 2007d).
No Brasil, a proporção de adolescentes é de 25% da população total. Estima-se
que no Ceará a proporção seja de 20.4% dos habitantes na faixa etária entre 10 e 19
anos, sendo que a maior parte vive em zonas urbanas. Fortaleza possui 2.452.185
habitantes e, destes, 432.658 são adolescentes, 17.6% da população (IBGE, 2010).
O Governo brasileiro tem se preocupado com a saúde de adolescentes e jovens
em torno da saúde sexual e reprodutiva. Os programas direcionados a essa faixa da
população existem tanto em parceria com órgãos de nível internacional, como o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e a Organização Mundial da
Saúde (OMS) quanto nacionais, como o Ministério da Saúde, com o Programa Saúde
do Adolescente (PROSAD).
34
Em 2006, ressalta-se que até os 15 anos 33% das mulheres pesquisadas já
haviam tido relações sexuais, o triplo das relações ocorridas em 1996, na mesma
faixa etária. Os homens jovens apresentam semelhança na idade mediana da primeira
relação sexual (16,2 anos), com maior concentração entre 15 e 17 anos de idade.
Apenas 20% deles têm sua primeira relação depois dos 17 anos. Ressalta -se que não
há diferenças regionais, sociais e de raça (BRASIL, 2009).
A questão da iniciação da vida sexual de adolescentes e jovens está
relacionada à DST e AIDS, o que é uma preocupação constante nos serviços de
saúde. A tendência do crescimento da doença entre o público jovem é mundial. O
Relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS mostra que,
apenas em 2010, houve mais de 7.000 novas infecções por dia em todo o mundo, das
quais 34% entre jovens de 15 a 24 anos. A diferença entre homens e mulheres
infectados é cada vez menor. Em 1989, eram seis homens para cada mulher infectada.
Em 2010, a razão é de 1,7 homens para cada mulher (UNAIDS, 2014, on line).
O município de Fortaleza dispõe, atualmente, de uma rede de serviços de
atenção básica, composta por Centros de Saúde da Família (CSF) com atendimento
de pré-natal e de planejamento familiar em todos os centros. Conta, hoje, com
Equipes de Saúde da Família (ESF) que dão ao Município uma cobertura de PSF em
torno de 40% da população. Considerando essa conformação, percebe-se, em nosso
trabalho diário e pela condição de técnica da Secretaria Municipal de Saúde de
Fortaleza, que se deve aprofundar o estudo das ações desenvolvidas junto aos
adolescentes por essa rede de serviços (CEARÁ, 2006, on line).
Nos serviços de saúde, os adolescentes são atendidos por profissionais cujas
consultas são direcionadas para os problemas que geraram a procura pelo serviço.
Algumas situações comuns levam os jovens à procura da unidade básica e estão
diretamente relacionadas à gravidez, a doenças sexualmente transmissíveis, doenças
respiratórias entre outros problemas clínicos. Todavia, gestores e profissionais de
saúde devem entender as necessidades dos adolescentes, assim como os fatores
ambientais, sociais e culturais que afetam a sua saúde (XAVIER et al., 2011).
As características específicas e as influências do contexto devem passar pelo
planejamento, desenvolvimento, gestão e organização dos serviços de saúde para que
o cuidado direcionado a esse grupo seja efetivo (HAACK et al., 2012).
35
A gravidez na adolescência é um problema que impõe que seja tratado não
somente pelo setor saúde, mas também por diferentes setores da sociedade, como o
da comunicação social, o sistema educacional e outros espaços governamentais e
comunitários. É necessário que se busquem soluções com vistas a desenvolver ações
de promoção da saúde e prevenção desse evento, que poderá ser adiado em prol de se
obter êxito em projetos educacionais e profissionais.
No Município de Fortaleza, em 2010, segundo o Sistema de Informação de
Nascidos Vivos (SINASC), dos 45.251 partos, 9.003 foram de adolescentes e, destes,
473 na faixa etária de 10 a 14 anos. Os indicadores de partos de adolescentes,
segundo o SINASC no Brasil, no Ceará e em Fortaleza, no ano de 2009, foram de
25%, 26,4% e 20%, respectivamente. A gravidez na adolescência é uma das
ocorrências mais preocupantes relacionadas à sexualidade do adolescente pelas
implicações decorrentes desse evento, como o aborto, a morbidade e a mortalidade
materna. O Comitê de Prevenção da Mortalidade Materna de Fortaleza (CPMMF)
registrou, no ano de 2009, 16 óbitos maternos, dos quais seis foram entre
adolescentes (CEARÁ, 2014, on line).
A gravidez indesejada pode se revelar um grave problema para a saúde sexual
e reprodutiva de mulheres adolescentes e jovens, quando esta é interrompida em
condições inseguras. Considerando o período da série histórica de 2000 a 2006, dos
números absolutos de atendimentos no SUS por abortamentos, observa-se uma queda
em todas as idades. Mesmo com essa queda, os mesmos dados evidenciam o aumento
de internações por abortamento a partir dos 15 anos, com um pico nas jovens de 20 a
24 anos. Essa situação mostra a urgente necessidade de atenção à vulnerabilidade
desse segmento populacional para que essas pessoas se desenvolvam saudavelmente
e possam fazer escolhas reprodutivas esclarecidas, de acordo com os seus direitos
reprodutivos (BRASIL, 2006).
É importante lembrar que nessa assistência estão os abortamentos por razões
legais – gravidezes por estupro ou por risco de vida da mãe - que é um direito
garantido por lei, também, às mulheres adolescentes e jovens.
Outro problema que atinge a saúde dos jovens é o uso de drogas ilícitas. Os
estudos realizados até hoje sobre o consumo de álcool e de outras drogas ressaltam o
alto consumo dessas substâncias entre crianças e adolescentes de 9 a 19 anos e entre
jovens de 20 a 24 anos. As bebidas alcoólicas ocupam o topo da lista, tornando-se
36
um importante problema de saúde pública. Considerando tal cenário epidemiológico,
a ênfase dessas Diretrizes se dar na análise do uso abusivo de álcool (BRASIL,
2010).
O I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na
População Brasileira de 2007aponta que o início do consumo dessa substância, em
adolescentes de 14 a 17 anos, está na média de 13,9 anos que é mais baixa que nos
jovens dos 18 aos 25 anos, cuja média é 15,3 anos. Com relação ao consumo regular
observa-se que os adolescentes (14-17 anos) adquiriram esse comportamento em
média aos 14,6 anos. Já os jovens (18-25 anos) começaram por volta de 17,3 anos
(BRASIL, 2010).
A mudança do padrão de consumo dos jovens também está na alimentação. O
crescimento das prevalências do excesso de peso, tanto em adultos como em crianças
e adolescentes, tem sido alvo de estudos populacionais em diversos países do mundo,
desenvolvidos e em desenvolvimento (FIGUEIREDO et al., 2011).
O Brasil está, hoje, com prevalências de obesidade muito próximas às
americanas, principalmente para os escolares. Isto coloca a população infanto-juvenil
sob um grande risco de desenvolver, ainda nesta fase da vida, comorbidades
associadas ao excesso de peso. O excesso de gordura corporal (identificado por um
elevado IMC) pode trazer consequências imediatas como alterações no perfil lipídico
e elevação da pressão arterial (FARIA et al., 2009).
Isso pode contribuir para o surgimento de uma população adulta,
economicamente ativa, com obesidade grave e predisposta ao desenvolvimento de
doenças crônicas não transmissíveis, como Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), doenças
cardiovasculares (DCV), câncer, dentre outras (COELHO et al., 2012)
No Brasil, com a publicação das informações da última Pesquisa de
Orçamento Familiar (POF, 2008-2009), fica evidente a transição do estado
nutricional, com redução das prevalências de baixo peso (4,1 a 4,9%) e aumento do
excesso de peso (20,5 a 33,5%) e obesidade (4,9 a 14,3%) entre as crianças e
adolescentes brasileiros (BRASIL, 2010).
Em relação ao trabalho, muitos adolescentes, devido a dificuldades financeiras
da família, começam a trabalhar ainda criança. No trabalho, eles começam a
37
amadurecer psicologicamente e intelectualmente. Com sua remuneração, conquistam
mais autonomia e liberdade diante dos pais ou responsáveis.
No Brasil, tem-se combatido fortemente o trabalho entre crianças e
adolescentes, porém, ainda existem milhões dessa faixa etária trabalhando em
atividades não permitidas. O trabalho infantil prejudica o desenvolvimento saudável
dos jovens, porque, muitas vezes, estes são expostos a ambientes insalubres e
perigosos. A pobreza e o desemprego dos pais levam crianças e jovens a se inserir no
mercado de trabalho (BRASIL, 2005b).
Ainda em relação ao jovem, as atividades de arte, esporte, música, o corpo e
seu visual são fatores que articulam grupos a se agregar para produzir uma peça
teatral, um “som”, uma dança, trocar ideias, postarem-se diante do mundo e alguns
deles até com projetos de intervenção social. Segundo esse autor, o produto cultural
mais consumido entre eles é a música, expressão cultural que mais une os jovens
(DAYRELL, 2001).
Já o esporte para o adolescente traz um reforço da autoestima, menor
predisposição a doenças, controla o peso, previne situações de risco, ajuda na busca
de objetivos e estimula a socialização, criando sentimento de equipe e solidariedade
entre os participantes, além de liberar adrenalina, substância que traz boas sensações
para alguns jovens.
As famílias também devem ser envolvidas nas atividades de lazer. Para isso, é
fundamental a criação de oportunidades de lazer para todo o grupo familiar, como
espaços e momentos que favoreçam os vínculos familiares (HAACK et al., 2012).
O Poder Público precisa se sensibilizar e promover a criação de centros de
lazer e de esportes, distribuídos particularmente nas áreas mais carentes, que
ampliem as oportunidades de atividades de lazer no espaço público e de consumo
cultural para crianças e adolescentes de todas as faixas etárias, o que levará a um
reforço na Promoção da Saúde.
As ações de promoção da saúde são consideradas de relevância para a
corresponsabilidade e fortalecimento do vínculo na relação dos profissionais da
saúde e adolescente. Permeia, transversalmente, todas as políticas, programas e ações
da saúde, com o desafio de constituir a integralidade e a equidade. A promoção da
saúde é definida como um processo de capacitação da população de forma a propiciar
38
a melhoria da qualidade de vida. Significa que o indivíduo e a coletividade devem ter
maior controle sobre sua saúde, por meio do desenvolvimento de conhecimentos,
atitudes e comportamentos favoráveis à saúde (SILVA, 2009).
É necessário que os profissionais sejam preparados para atender o adolescente
de forma individual sabendo lidar com as demandas trazidas por estes. Toda forma de
generalização gera posturas inadequadas em relação aos jovens e pode ser uma forma
de caracterizar esse período da vida de modo restritivo e negativo. O trabalho voltado
para a atenção do adolescente deve buscar o desenvolvimento de estratégias
apropriadas à complexidade de suas demandas, aos diferentes espaços de ação,
respeitando a intersetorialidade e todos os envolvidos (HAACK et al., 2012).
39
4 METODOLOGIA
4.1 Tipo de estudo
Estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa. Este tipo de estudo
visa conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social e os demais
aspectos do conhecimento humano, tanto do indivíduo isoladamente como de grupos
e comunidades (CERVO; BERVIAN, 2006).
A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar uma visão geral, do
tipo aproximativo, acerca de determinado fato. É realizada quando o tema escolhido
é pouco abordado (GIL, 1996).
A pesquisa qualitativa permite compreender a realidade, o universo de
significados, os motivos, as aspirações, as crenças, os valores e as atitudes que
correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos
fenômenos (MINAYO, 2008).
A abordagem qualitativa visa compreender a lógica interna de grupos,
instituições e atores quanto a valores culturais e representações sobre sua história e
temas específicos, relação entre indivíduos, instituições e movimentos sociais,
processos históricos, sociais e de implementação de políticas públicas.
A pesquisa descritiva tem como objetivo analisar, observar, registrar e
correlacionar fatos ou fenômenos sem modificá-los, buscando conhecer as inúmeras
situações e relações que ocorrem na vida social, abordando dados e problemas que
merecem ser estudado. Já o estudo exploratório pretende dar uma explicação geral
sobre um determinado assunto, através de uma investigação mais ampla. Sendo o
passo inicial no processo da pesquisa, é recomendado o estudo exploratório quando o
tema escolhido é pouco explorado. Esse tipo de estudo abre espaço para uma
pesquisa mais aprofundada (CERVO; BERVIAN, 2006; OLIVEIRA, 2007;
MINAYO, 2008).
4.2 Cenário do estudo
O estudo foi realizado em Fortaleza, capital do Estado do Ceará, localizado na
Região Nordeste do Brasil, a qual abrange uma área de 336 km e é considerada a
40
quinta maior cidade do País, com população estimada pelo Instituto Brasileiro de
Estatística e Geografia (IBGE) de 2,5 milhões de habitantes em 2012. Destes,
219.132 estão na faixa etária de 10 a 14 anos e 235.795 se encontram na faixa etária
de 15 a 19 anos (IBGE, 2012).
Em termos administrativos, o município de Fortaleza encontra-se dividido em
seis Secretarias Executivas Regionais (SERs), que funcionam como instâncias
executoras das políticas públicas municipais. Por meio dessa configuração
administrativa descentralizada, as políticas municipais de saúde e educação são
gerenciadas pelas SER, por meio de seus Distritos de Saúde, tendo como órgãos
gestores as Secretarias Municipais.
Figura 1 – Mapa das Secretaria Executivas Regionais (SERs) do município de
Fortaleza/CE.
Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=(IBGE,+2012)...> Acesso em:
02 mar. 2014.
A pesquisa foi realizada no período de agosto a dezembro de 2013 em uma
Unidade de Saúde da Família localizada na Regional VI em Fortaleza, Ceará. A
Unidade de Saúde se encontra em um bairro onde existem moradores vivendo em
41
extrema pobreza. Além disso, é um ambiente com bastante violência devido ao uso e
ao tráfico de drogas.
Atualmente, o Centro de Saúde conta com três equipes de Saúde da Família,
além de pediatra e ginecologista.
Ao se visualizarem os dados presentes nas fichas e nos relatórios do Sistema
de Informação da Atenção Básica (SIAB) das equipes, no ano de 2013, analisam-se e
se consolidam inúmeros e indicadores. Estes foram organizados em áreas temáticas
nos ciclos vitais específicos (Saúde da Criança e do Adolescente, Saúde da Mulher,
Saúde do Adulto, Atendimentos e Visitas Domiciliarias), a fim de facilitar a análise e
a comparação com parâmetros de cobertura preconizados pelo Ministério da Saúde,
descritos em instrumentos de avaliação recentemente adotados (Programa de
Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica - PMAQ), com vistas a buscar
referenciais positivos (potencialidades) e negativos (vulnerabilidades) na atenção
integral à população do território da equipe.
Destacando os indicadores relacionados à Educação em Saúde em 2013, como
forma de contextualizar o território de estudo, foram realizados 81 atendimentos a
grupos de educação em saúde e 2.225 procedimentos coletivos no período (atividades
em escolas e no Centros de Saúde da Família [CSF], entre outros locais), além de 31
reuniões em equipe.
Em relação às visitas, ocorreram, ao longo do ano, 2.865 visitas domiciliárias
(239 em média mensal), categorizadas por profissional da equipe, a seguir: 125
visitas pelo médico, 101 pela enfermeira, 54 por outros profissionais de nível
superior, 49 por profissionais de nível médio, e 3.120 (260 em média, por mês) de
visitas pelos ACS, o que perfaz a média de visita pelos ACS por família cadastrada
da área inferior à média nacional de 1,5 visita por família. No segundo semestre de
2013, o número de visitas domiciliárias foi menor que no primeiro semestre do
mesmo ano, devido ao aumento surpreendente do número de mortes na área por causa
do tráfico de drogas, o que impediu as equipes de entrar na comunidade. Em um final
de semana chegaram a morrer cinco jovens entre 13 e 16 anos de idade na região.
42
4.3 Agentes sociais da pesquisa
Foram 19 profissionais da ESF (12 Agentes Comunitários de Saúde, 1 Técnica
de Enfermagem, 1 Cirurgiã-Dentista, 3 Enfermeiros, 2 Médicos) que trabalham na
Unidade de Saúde Doutor Hélio Góes Ferreira. Deixaram de participar da pesquisa os
seguintes profissionais: 1 médica, 1 dentista, 2 auxiliares de saúde bucal, 4 agentes
comunitários de saúde.
O critério de inclusão dos sujeitos da pesquisa foi realizar visitas domiciliárias
semanalmente e aceitar participar voluntariamente da pesquisa mediante assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão
envolvem aqueles profissionais que, no momento do estudo, estavam de férias ou não
participaram das visitas domiciliárias e os adolescentes e familiares que não
aceitaram participar da pesquisa.
4.4 Procedimentos para coleta de informações
O presente estudo teve como etapas:
1ª etapa: inicialmente foi solicitada anuência formal da Secretaria Municipal
de Saúde de Fortaleza para a realização do estudo e da Coordenadoria Regional da
Saúde VI.
2ª etapa: após o consentimento dos gestores e a aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará iniciou-se a coleta de informações por
meio da aplicação de um questionário e uma entrevista não estruturada com
informações acerca do perfil sociodemográfico, idade, sexo, formação, tempo de
formação, experiência com atividades de educação em saúde, tipos de atividades que
realizam e possível existência de dificuldades/potencialidades . O local para a
realização foi tranquilo e de fácil acesso. O horário foi agendado previamente na
unidade de saúde (APÊNDICE A).
Para Minayo et al. (2007), as qualidades desse tipo de instrumento consistem
em enumerar, da forma mais abrangente possível, as questões que o pesquisador quer
abordar no campo a partir de suas hipóteses ou pressupostos advindos, obviamente,
da definição do objeto de investigação.
43
3º etapa: após a realização das entrevistas foi feito, com agendamento prévio,
o acompanhamento de uma VD realizada por uma equipe de saúde durante o período
de estudo. Infelizmente, só foi possível fazer um acompanhamento porque as equipes
alegavam não existir adolescente nas casas que elas estavam indo visitar, ou quando
existiam elas não poderiam ir até aquela casa devido à violência do local. A sele ção
dos adolescentes acompanhados foi realizada mediante os seguintes critérios de
inclusão: adolescentes de 10 a 19 anos de idade que vivem em famílias
acompanhadas em domicílio pela equipe de saúde da família; e/ou adolescentes em
situação de vulnerabilidade/risco identificados pelos agentes comunitários de saúde,
profissionais da equipe ou qualquer membro da comunidade (OMS, 2008).
Como critérios de exclusão durante VD não foram incluídos aqueles
adolescentes que no momento das visitas não estiveram presentes, não aceitaram a
presença do profissional de saúde ou ofereceram risco à pesquisadora.
O acompanhamento da VD foi realizado pela pesquisadora, por meio de uma
lista de verificação contemplando os seguintes pontos: preparação do profissional
para visita com material educativo; forma de tratamento do profissional em relação
ao adolescente; investigação sobre alterações psicoemocionais e uso de drogas;
investigação sobre projeto de vida; orientação sobre métodos contraceptivos e sexo
seguro. O intuito desse acompanhamento foi observar na prática do profissional de
saúde como é conduzida a VD junto à família com membro adolescente, com foco
principalmente nas ações de educação em saúde.
O profissional que estava sendo observado na visita domiciliária era
informado antecipadamente sobre a pesquisa, mas ele só tinha acesso à lista de
observação, instrumento da pesquisa, após a realização da visita. Acredita -se que o
fato de o profissional saber que está sendo observado durante o seu trabalho possa
fazê-lo agir de maneira um pouco diferente de seu habitual, porém a essência do seu
trabalho se mantém.
Todas as atividades da pesquisa foram registradas em diário de campo e
gravação de áudio com autorização dos participantes. O diário de campo é mais do
que uma técnica que garante o suporte memorístico de recorrência; ele é uma
ferramenta de produção de conhecimentos dentro da pesquisa. Nele constam as
informações que não estão nas entrevistas, como comportamentos, conversas
informais, hábitos, usos, costumes, entre outros, de forma a registrar fatos,
44
fenômenos e atitudes percebidos durante a pesquisa. As anotações foram feitas
diariamente, com datas sinalizando os sujeitos da pesquisa, situação observada, local
e situações adversas. Deve-se ter um caderno com o nome do pesquisador,
informação da instituição do projeto em que se insere o nome do orientador e o
período do registro (HESS, 2009).
4.5 Análise e interpretação das informações
Para o tratamento das informações foi realizado, de acordo com Minayo
(2010), o percurso analítico e sistemático. Essa técnica torna possível a objetivação
de um tipo de conhecimento que tem como matéria-prima opiniões, crenças, valores,
representações, relações e ações humanas e sociais sob a perspectiva dos atores em
intersubjetividade. A análise qualitativa de um objeto de investigação concretiza a
possibilidade de construção de conhecimento e possui todos os requisitos e
instrumentos para ser considerada e valorizada como um construto científico.
A análise das informações foi feita através da transcrição das entrevistas
registradas no gravador de voz, da releitura dos questionários e dos instrumentos de
observação. Em seguida foi realizada a organização dos relatos e dos dados de
observação.
Após uma leitura exaustiva e repetitiva elaborou-se a primeira classificação,
onde cada assunto, tópico ou tema foi separado. Logo após, fez -se um enxugamento
da classificação por temas mais relevantes. Finalmente, p rocurou-se articular o dado
empírico com questões macrossociais, considerando as experiências cotidianas como
processos microssociais.
4.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa
A pesquisa incorporou a Resolução 466/12 (Diretrizes e normas reguladoras
de pesquisa envolvendo seres humanos) do Ministério da Saúde , que trata das
pesquisas que se caracterizam como uma investigação individual ou coletiva que
envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou a partir
deles, incluindo o manejo de informações ou materiais. Esta pesquisa foi aprovada
sob parecer de número 459.698, do Comitê de Ética em Pesquisa da UFC. Incorpora,
45
sob a ótica do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais básicos da
bioética: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça.
O profissional participante foi esclarecido sobre as etapas da pesquisa e
assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O adolescente
também foi informado, no momento da visita, sobre a pesquisa e assinou o ref erido
termo, bem como o seu responsável.
A observância ao princípio da autonomia foi obedecida através do
esclarecimento de que a participação dos sujeitos é voluntária, sem nenhum prejuízo
à sua pessoa ou ao seu tratamento. Foi destacado que não haveria nenhum prejuízo ao
participante caso este viesse a se recusar a fornecer alguma informação ou mesmo se
quisesse interromper sua participação na pesquisa, conforme o termo de
consentimento livre e esclarecido que foi elaborado e assinado no momento da
realização da entrevista.
De acordo com Leopardi (2001), os procedimentos éticos legais incluem os
cuidados éticos necessários à preservação do sigilo sobre fontes de informações e
sobre a aprovação do processo nos locais onde se realiza a pesquisa.
No que diz respeito à não maleficência, foi garantida aos participantes a
ausência de prejuízo moral ou de qualquer outra espécie a ele ou à sua família.
Também foi garantido a todos os participantes o direito ao sigilo das
informações obtidas (anonimato) e tratamento justo (princípio de justiça), de forma
que qualquer risco ou benefício foi compartilhado igualmente. Não houve nenhum
constrangimento ou tratamento preconceituoso das pessoas que desistiram de
participar da pesquisa em qualquer momento de sua execução, bem como foi
garantido o acesso dos participantes às pesquisadoras para esclarecimento de
qualquer dúvida.
46
5 RESULTADOS
Neste capitulo apresentam-se os principais depoimentos dos profissionais do
estudo, os quais serão divididos na seguinte categorização: Caracterização dos
trabalhadores da Saúde; Compreensão dos profissionais acerca da visita domiciliária
e Educação em Saúde com enfoque no adolescente e desafios e possibilidades na
promoção da saúde do adolescente.
5.1 Caracterização dos trabalhadores da saúde do estudo
Foram entrevistados 19 profissionais, sendo: 1 dentista, 2 médicos, 3
enfermeiras, 1 auxiliar de enfermagem e 12 agentes comunitários de saúde. As idades
variaram de 28 a 52 anos, sendo que entre todos os participantes apenas três
profissionais eram do sexo masculino. Ao se analisar por categoria profissional
verificou-se uma média de idade maior para a enfermeira (44), seguido pelo dentista
(42), ACS (40), médico (33), e técnico de enfermagem (30).
Os ACS tinham entre 1 e 18 anos de experiência na Estratégia Saúde da
Família, com média de quatro anos. Apenas 1 não possuía treinamento na área de
promoção da saúde voltada para o adolescente. Os outros profissionais da ESF
possuíam, em média, cinco anos de experiência na Estratégia Saúde da Família, mas
somente 1 possuía alguma capacitação voltada para o adolescente.
5.2 Educação em saúde e visita domiciliária: concepções e práticas
As entrevistas iniciais permitiram conhecer a percepção dos profissionais
frente ao conceito de educação em saúde a fim de favorecer o vínculo e a
aproximação entre a pesquisadora e os participantes antes da realização das visitas
domiciliárias junto aos adolescentes. Nos discursos foi possível observar concepções
distintas sobre a temática com ênfase na noção de educação para redução de doenças
e enfermidades, conforme as falas a seguir:
47
Educação leva você a não ser uma pessoa doente. (ACS) . (sic).
Informações que a gente repassa para a comunidade e grupos
individualizados. Estou sempre fazendo palestras e isso é Educação em
Saúde (E2). (sic).
Educação em Saúde é uma forma de você repassar, principalmente a parte
da saúde que as pessoas ainda têm dúvidas; forma de reeducar em relação
aos problemas de saúde; às vezes eles têm problemas e nem sabem (TE).
(sic).
Apesar dessas concepções, alguns profissionais apreendem Educação em
Saúde como trabalho de sensibilização dos usuários, com concepção ampliada do
processo educativo, na qual o sujeito é visto como agente ativo do processo, com
vistas ao empoderamento e à responsabilidade sobre sua qualidade de vida:
Tema importante de conscientização tanto para a equipe como para os
pacientes. A saúde é um dos temas principais na sociedade, tanto no caráter
preventivo como de cura para melhorar a qualidade de vida da população.
(M3). (sic).
A partir da Educação, eles vão ter entendimento, vão buscar mais saúde,
vão ficar mais atentos numa reportagem da televisão, o que ele pode
resolver para melhorar a saúde dela e, ás vezes, por não ter Educação, não
pesquisa. (ACS-V). (sic).
Pessoa começa a se sentir responsável; não é só remédio; se cuidar, se
exercitar; não são os outros os responsáveis. (ACS-S). (sic).
Já em relação às concepções sobre a Visita Domiciliária (VD) como atividade
de Educação em Saúde (ES), a maior parte dos entrevistados percebe essa ação como
momento relevante para educar sobre a saúde e qualidade de vida em diversos
contextos e temáticas, como se observa nas falas abaixo:
A Visita Domiciliar é atividade de Educação em Saúde, o ACS precisa
estar capacitado para observar e orientar dentro das suas condições (ACS-
F). (sic).
Pode ser feita tanto a caráter de prevenção de doenças, como orientação
para pacientes com sequelas. Em época de dengue, a população em geral
deve ser orientada tanto nas Unidades de saúde como em seus domicílios.
(M3). (sic).
A VD que a gente está fazendo é para pessoas que têm dificuldade de vir à
Unidade. A médica passa medicação e eu já oriento sobre higiene,
alimentação, o que for preciso. Atualmente estamos falando sobre dengu e
(E2). (sic).
48
Toda oportunidade que você tiver com o usuário, você deve fazer Educação
em Saúde, numa visita, num acolhimento, num atendimento, esperando
consulta (E3). (sic).
Depende da necessidade da família naquele momento, se é um problema
que a mulher tá passando por violência pelo marido, se é um problema de
droga, de hábitos de higiene, tem que ver a real idade e a visita é este
momento (CD). (sic).
Alguns entrevistados falaram da visita domiciliária como oportunidade para
favorecer o relacionamento entre equipe de saúde e usuários:
Hoje a gente entra na casa da família, como amigo, não só como
trabalhador, escuta os problemas, às vezes, não só voltado para a saúde,
mas um trabalho psicológico. (ACS-C). (sic).
Ótima oportunidade, conhecer a necessidade a fundo; o usuário fica à
vontade; vemos condições financeiras, psicológicas; o usuário se sente
mais importante; há um maior entrosamento. (E3). (sic).
Muito importante; o ACS quando aborda o paciente na sua casa, o usuário
se abre melhor com o ACS, até mesmo mais que com o médico, não tem
segurança para passar pro médico; confia mais no ACS, pede conselho.
(ACS- EF). (sic).
O maior desafio para nós que visitamos as casas, a partir do momento que
você entra na família é um processo complexo, porque quando você menos
espera você se envolve; cria vínculo com a família e, assim, se obtém êxito
com os processos, com os problemas. Se a pessoa tá com uma doença
contagiosa (hanseníase, tuberculose...), você consegue que eles se abram,
desabafam, diferente do que o que se consegue nos consultórios. (ACS-Z).
(sic).
Durante as entrevistas é possível observar que os profissionais utilizam a
visita como estratégia para compreender a realidade vivida pelo usuário,
influenciando no cuidado à saúde e na resolução de problemas:
A equipe vai ver onde realmente estão os problemas. Se você não conhece
a realidade não da para ser efetivo. Você ver as condições de moradia,
higiene, saneamento (M1). (sic).
A VD é importante porque se ver como a pessoa vive, porque ás vezes no
grupo as pessoas contam algo que não é a realidade. É importante o
profissional ter conhecimento da realidade da casa daquele paciente. (CD).
(sic).
Item fundamental, toda semana tem que ter horários reservado para a VD,
porque lá você pode perceber, de forma mais importante, as condições que
ele vive; ele chega com uma queixa no Posto e você não tem a total
49
dimensão do seu ambiente, do seu convívio. Indo até a casa, você ver as
condições de higiene, sanitária, sua relação com a família... (M3) . (sic).
Outros participantes comentam que VD deve ser realizada apenas para aqueles
que realmente têm necessidade desse acompanhamento em domicílio:
É muito importante, quando necessária, porque infelizmente acontece de
pacientes que não necessitam de VD, mas querem e ocupam o carro e a
equipe que deveriam tá na casa de alguém que precisa. Exemplo , tenho um
paciente que tem uma perna amputada, que recebe VD, mas vem para a
consulta odontológica no posto; então, esse paciente pode vir à
Unidade.(CD). (sic).
Para quem realmente tem necessidade, porque a gente só direciona para
pessoas que não podem vir para o posto; quando o objetivo é esse, eu acho
muito importante, principalmente quando vai o médico e aborda todo o
contexto do paciente. (ACS-S). (sic).
Tem que priorizar grupos (E1). (sic).
Também foi manifestado a VD como oportunidade para orientações sobre
saúde, mas também a necessidade da colaboração do paciente para mudanças de
comportamento:
Um desafio grande, porque a família é um ambiente complexo, o
profissional tem que ter vínculo, porque muitos não seguem as orientações.
O tratamento só dar êxito quando a família colabora. (ACS -Z). (sic).
Importante demais, mas tem gente que quer fazer da VD a “tábua de
salvação”, mas tem que haver do paciente uma rec iprocidade de acatar o
que o médico diz e, às vezes, eles querem colocar como responsabilidade
total da enfermeira, do ACS e não é assim, cada um faz sua parte. (ACS-S).
(sic).
Dependendo da família; tem família que muda totalmente com explicação,
aos poucos vão se modificando na limpeza da casa, das crianças, no
tratamento odontológico, na forma de agir... Uma usuária me chamou na
casa dela para me mostrar como eles melhoraram. Outros pioram (ACS-V).
(sic).
Durante os depoimentos foi possível observar, na perspectiva dos
trabalhadores da saúde, como eles acreditam que deve se constituir a VD,
relacionando os profissionais necessários para a realização da consulta no domicílio:
O médico, enfermeiro, auxiliar, dentista. Se seus dentes tiverem tudo
estragado, afeta o coração (TE-O). (sic).
50
Equipe do NASF, com fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, terapeuta
ocupacional, médico, enfermeiro, auxiliar. (ACS-A). (sic).
Tem que ter equipe completa, principalmente ACS, porque ele repassa para
mim, eu comunico para médica e então a gente sabe o problema que a gente
vai enfrentar a necessidade daquele paciente (E3). (sic).
Dona de casa deve estar presente e profissional falar com segurança (ACS-
VG). (sic).
Além dos profissionais, não só médicos, deve haver interação entre as
pessoas, quanto mais diversidade melhor para visita, com olhar ampliado,
não só olhar doença, ver o cuidador, o acamado, ver toda família (M1).
(sic).
Deve existir dentista para a VD, o mais importante (ACS-L). (sic).
Também foi respondido o tipo de comportamento e de atitudes que os
profissionais devem possuir ao se fazer uma VD:
Bom acolhimento, porque você tá invadindo a intimidade daquela pessoa e
um bom profissional (ACS-M). (sic).
Ver o paciente como um todo, olhar o cuidador, o contexto todo de uma
maneira geral, não específico (E3). (sic).
Não só repassar receita, mas ter olho clínico de passar o olhar e ver o
ambiente, ver se a pessoa tá bem só pela conversa. Muitos são meio
depressivos e querem desabafar (ACS-EF). (sic).
5.3 Introdução da educação em saúde na família com enfoque no adolescente
Além dessas concepções, os profissionais apontam o ambiente escolar como
um cenário propício para a educação em saúde, mais do que qualquer outro da
comunidade. Além disso, os participantes destacam a temática da violência e das
drogas como um obstáculo para a realização das atividades educativas, como se
observa nos depoimentos abaixo:
Educação em Saúde está muito em falta na minha área por conta dos
adolescentes que não estudam por conta das drogas (ACS-A). (sic).
Palestras no colégio sobre Saúde Bucal, bom comportamento, sobre a
violência (ACS- R). (sic).
Devem existir mais esclarecimentos principalmente nas escolas para que
atinja o maior número de pessoas, que envolva professores, família para
51
que possa ter um objetivo melhor para prevenção de doenças,
contraceptivos... (ACS-S). (sic).
Acerca da educação em saúde voltada para o adolescente, muitos profissionais
relataram a dificuldade em lidar com esse grupo, agravada ainda mais pelas as
drogas, mas alegaram que deve ser dispensada uma maior atenção a esse grupo:
Tentei fazer grupos com adolescentes muitas vezes na Unidade, nos
espaços sociais, na escola e, o que tive mais sucesso foi na Igreja, porque o
grupo já existia e eu me meti. Tem pessoas que têm mais facilidade,
porque puxa para o lado do teatro, do esporte. Trabalhar o esporte é como
se a gente conquistasse o adolescente; se você só disser o que é certo e o
que é errado, não funciona (CD). (sic).
O adolescente é muito mais complicado, não quer nem ouvir a gente.
Quando a gente chega à casa, a gente nem ver o adolescente, então o
profissional tem que ter muito jogo de cintura, precisa tá capacitado para
isso. É uma abordagem diferente. Tenho contato com adolescente em
atividades culturais que os ajudam a fugir da violência. Os profissionais
precisam conviver mais com a realidade deles para que eles não sintam
medo, eu também tenho medo, mas tenho um pouco mais de intimidade.
Deve haver treinamento para que os profissionais falem a linguagem deles,
como eles veem o mundo, os valores (ACS- F). (sic).
O adolescente é difícil, não querem nos escutar, a gente vai falar sobre
DST, preservativos e eles não ligam. Tinha uma adolescente na área que
morreu em 20 dias com HIV e a gente sabia que a menina que ele ficava
tinha (ACS-V). (sic).
O adolescente é complexo, deveria trabalhar a família, para a família
passar para eles, porque tem muita família desestruturada que não passa
principio nenhum de moral. Trabalho complicado, mas também tem que
fazer um trabalho paralelo com os jovens, porque se deixar só com a
família, não resolve (ACS- S). (sic).
Alguns profissionais deixam claro que precisam de apoio de outros setores da
sociedade para que consigam sensibilizar os adolescentes no cuidado com a saúde:
A adolescência é idade de conflitos, experimentos, devemos pensar o que
nós oferecemos, nós não conseguimos fazer Educação em Saúde, sozinhos,
devemos buscar aliados e oferecer alternativas saudáveis. Muito bom os
CUCAS, as opções dentro da comunidade. Fazer coisas permanentes e em
todas as oportunidades e junto com eles pensar o que queremos para nós,
para depois não ter mais jeito (M1). (sic).
Tem o PSE nas escolas para conversar com adolescentes, mas o PSE, ás
vezes, não toca muito na realidade do dia -a-dia e nós devemos buscar
recursos para eles participarem mais. Através só de palavras eles mudam o
comportamento (ACS-EF). (sic).
52
Em relação às drogas, podemos evitar dentro das escolas. O adolescente é
muito esquecido, sem programas específicos (E3). (sic).
5.4 Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente
Finalizando a entrevista, os profissionais ficaram livres para acrescentar suas
opiniões e experiências em relação à promoção da saúde do adolescente. Alguns
manifestaram que necessitam fortalecer estratégias mais adequadas a esse grupo,
visto que muitas vezes não conseguem promover a visita domiciliária e a educação
em saúde como deveriam:
A falha é nossa, nós direcionamos a VD só para idoso e esquecemos esse
grupo e temos que direcionar a VD para promoção (E2). (sic).
Às vezes o PSE não toca muito na realidade do dia a dia e nós devemos
buscar recursos para eles participarem mais. Acho a Educação em Saúde
muito vaga, porque não fala muito sobre o que eles podem passar e através
só de palavras, eles mudam o comportamento (ACS-EF). (sic).
A VD deve ser em mais períodos e dar mais atenção ao adolescente (ACS -
V). (sic).
O trabalho é feito de forma técnica, sem avaliação depois para ver se fez
efeito. Tem que ter espaço para se fazer Educação em Saúde ( ACS-Z).
(sic).
Devemos levar orientação e Educação em Saúde para casa (ACS-L). (sic).
Também foi citada a adolescência como uma fase de desafios, tanto pelas
próprias características desse ciclo de vida quanto como pela pouca capacidade dos
profissionais em trabalhar com esse grupo:
Devemos orientar o adolescente que a droga não tem volta, ou é cadeia ou
cemitério. Tem que procurar outras atividades fora da escola. A gente tem
que ter preparação para falar com eles, que são muito revoltados (TE).
(sic).
Alguns adolescentes são rebeldes, não se pode falar em drogas, só depois
de um tempo. Falar junto com toda a família (ACS-A). (sic).
De uma maneira geral, as dificuldades apontadas pelos profissionais em se
fazer visita domiciliária voltada para o adolescente, não foi “culpando” esse grupo
pelo baixo número de visitas, mas que o ato em si de se fazer visita domiciliária para
53
qualquer grupo, especificamente no território estudado, já é um grande desafio, pe la
falta de segurança da região:
As dificuldades da VD estão na questão da segurança. Alguns populares
falam que alguém foi assassinado ontem e você passa no mesmo local e
você vai com medo, com receio de não voltar, de ser assaltado.. . A própria
população merece essa segurança. Tem áreas que você tem que visitar,
porque eles não podem vir para o posto, as chamadas fronteiras, se vierem
ao posto, eles podem ser mortos pelas gangues rivais (M3). (sic).
Não podemos trabalhar direito pela violência da própria área; são jovens
matando, brigas de gangue; a gente não pode fazer um trabalho bom. Hoje
não fazemos um trabalho completo, porque não podemos entrar na área
(ACS-R). (sic).
Outras limitações que alguns entrevistados alegam são o comportamento da
família visitada, ora barrando a entrada da equipe, ora não contribuindo par a o êxito
do trabalho realizado:
As pessoas mais abastadas se fecham mais e as mais simples se abrem mais
para VD. Algumas têm vergonha por conta dos problemas dentro de casa
com os adolescentes. As equipes não têm muito problemas em tocar em
certos assuntos, mas os ACS’s têm, porque pode ter choque ideológico. Às
vezes recebiam a gente com ironia, porque não tinha remédio, médico no
posto; mas agora melhorou (ACS-F). (sic).
A VD é ruim quando somos recebidos por quem não trabalha e, quem
trabalha e não está na casa, diz que os ACS’s não passam na casa (ACS-V).
(sic).
O que tem de ruim é que na VD, às vezes, a gente não é recebida. Ou
quando vamos, tem gente que vem aqui no Posto e diz que a gente não foi
(ACS-L). (sic).
Nós, ACS’s, nos sentimos limitados, porque o paciente pede para verificar
a pressão, glicemia e agente não tem treinamento (ACS- S). (sic).
Os entrevistados relataram um pouco as satisfações que sentem ao realizar a
VD quando percebem reconhecimento por parte dos usuários:
Às vezes é bom quando eles nos mostram o que melhorou por causa da
gente (ACS-V).
Hoje fazendo VD, vejo como eles se sentem acalentados com o pouco que a
gente pode dar. Na VD para acamados eles ficam tão felizes, tiram dúvidas,
a VD veio só ajudar (ACS-C).
54
5.5 Visita a um adolescente da área: experiência no território
A fim de vivenciar a realização da visita domiciliária no território, após alguns
contatos com profissionais da unidade de saúde e algumas tentativas frustradas,
ligadas a situações já citadas anteriormente, como falta de veículo e violência, um
agente de saúde da área pesquisada identificou um adolescente que preocupava a
família, pois o mesmo não queria mais sair de casa. A presente situação foi essencial
para se conhecer o território em questão, na perspectiva de uma visita domiciliária ao
adolescente.
O adolescente a ser visitado morava com a mãe, empregada doméstica, três
irmãs, desempregadas, e dois sobrinhos menores de idade. De acordo com a ficha A,
o imóvel da família era próprio, de tijolo, com quatro cômodos. A água do domicilio
era tratada por filtração e abastecida por rede pública. O destino de fezes e urina era
feito através de fossa e o lixo era coletado. Ninguém da família possuía plano de
saúde e todos procuravam hospital e a unidade de saúde em caso de doença. O meio
de comunicação que mais utilizavam era a televisão. Não participavam de grupos
comunitários. Utilizavam ônibus como principal meio de transporte. A agente de
saúde da microárea onde o adolescente morava entrou em contato com a equipe de
sua área e marcaram uma visita à sua família.
Durante a visita, utilizando-se do roteiro presente no APENDICE C, com o
intuito de acompanhar as atividades realizadas pelos profissionais foi identificado
que a equipe formada por enfermeira, médica e agente de saúde, cumprimentou o
adolescente cordialmente ao adentrar a residência, apresentou-se e tratou o
adolescente pelo nome. A equipe também evitou julgamento de valores e reações
preconceituosas. Os profissionais identificaram e conversaram sobre as necessidades,
dúvidas ou preocupações, mas não asseguraram confidencialidade, inclusive junto
aos familiares.
A equipe investigou e observou alterações psicoemotivas e se o adolescente
possuía um projeto de vida. Neste momento, conseguiu-se saber que o adolescente
não queria cortar os cabelos e tinha vergonha de sair de casa, nem mesmo
frequentava a escola.
Os profissionais investigaram sinais e sintomas sugestivos de uso de drogas e
violência. Não houve orientação sobre comportamento de risco que pudesse implicar
55
gravidez precoce, DST e AIDS, nem orientação para a prática de sexo seguro e
métodos contraceptivos.
As informações da visita não foram registradas em ficha, protocolo ou
formulário e não houve entrega de material educativo com orientações de educação
em saúde. Porém, houve uma orientação sobre os serviços do Centro de Atenção
Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS) e sobre os grupos de jovens que existiam nas
igrejas da comunidade para que o adolescente se engajasse. Neste item, cabe ressaltar
que antes de se deslocar para a residência do adolescente não foram selecionados
materiais ou insumos educativos, formulários e protocolos para serem utilizados
durante essa atividade. Por fim, a equipe prescreveu vermífugos e vitaminas para o
adolescente e despediu-se cordialmente.
A unidade de saúde não contava, à época dessa visita domiciliária, com o
serviço de Psicologia. No entanto, algum tempo depois uma psicóloga do CAPS
começou a atender na unidade e, devido à necessidade sentida pela equipe e pela
pesquisadora durante a visita domiciliária ao adolescente, entrou-se em contato com
a psicóloga, a qual passou também a visitá-lo.
A psicóloga, durante suas visitas domiciliárias à família, percebeu que a casa
era bem suja e ficava no quintal da casa da avó. O adolescente foi muito pouco
cooperativo, mas a avó foi mais cooperativa e parecia preocupada. O cabelo dele
estava bem grande e, como não saía de casa, também não cortava mais. Ele ajudava
nas tarefas domésticas. A psicóloga tentou conversar, ele apenas respondia de forma
objetiva. Quando foi tocado no assunto escola, ele até demonstrou um pouco de
interesse (ela não sabia se para encerrar a conversa ou se realmente o desejo era
verdadeiro). Marcou para ele ir ao posto, quinze dias depois, ele concordou, mas
nesse momento ela teve certeza de que ele não iria.
Na volta da visita ela foi até a escola em que ele havia estudado, relatou o que
estava acontecendo com esse ex-aluno, mas lá foi informada de que pela faixa etária
ele não poderia retornar. Ele teria que ir para outra escola no horário noturno. A
escola não sabia nada sobre o fato de o rapaz estar em casa, sem sair. E quando a
psicóloga ficou sabendo que ele teria que estudar à noite, visualizou outro problema:
para quem estava com medo de sair durante o dia, sair todos os dias à noite seria bem
mais complicado. Mas mesmo assim fez contato com a Agente de Saúde e informou a
situação.
56
Questionou-se o que poderia fazer para ajudá-lo, mas sem a vontade do
paciente ficou sem opção, pois considerou que o desejo de mudança do jovem era
fundamental para iniciar um trabalho. E depois, conhecendo melhor o local através
do relato de outros pacientes e de agentes de saúde, foi constatado que se tratava de
uma localidade de muita violência. Crianças, adolescentes, adultos e idosos passavam
por situações de medo, ansiedade e pânico ao terem que sair de casa.
O caso relatado é o mais extremo que a psicóloga teve conhecimento. Ela
concluiu que provavelmente havia a necessidade de adesão familiar, de uma mãe
mais presente, de forma que pudesse dar suporte ao rapaz para que ele conseguisse
começar a sair pelo menos para atendimentos psicoterapêuticos. No dia da visita a
mãe dele não se encontrava. Um próximo passo poderia ser este, um contato com a
mãe. Assim se poderia ter mais dados sobre a real situação do jovem e, também,
contar com ajuda dela para trazê-lo à unidade de saúde.
57
6 DISCUSSÃO
6.1 Caracterização dos trabalhadores da Saúde do estudo
Conforme observou-se neste estudo, houve predominância de participantes do
sexo feminino. Pesquisas evidenciam a predominância do sexo feminino na área da
enfermagem e em algumas áreas relacionadas ao cuidado ao longo do tempo, tanto no
nível superior quanto no técnico e no médio, o que continua até a atualidade, sendo
denominada feminização da profissão.
É interessante também observar o alto percentual de ACS do sexo feminino, o
que pode ser favorável para o desenvolvimento da VD, em virtude de os usuário s se
sentirem mais confortáveis em estabelecer conversas sobre assuntos íntimos com
mulheres. Estudos mundiais indicam que, salvas as exceções, por razões culturais a
mulher é a cuidadora tradicional, inclusive no Brasil (NERI; CARVALHO, 2002).
Sobre o item da capacitação profissional voltada para o adolescente, os
agentes comunitários de saúde foram os mais contemplados. Mesmo entre esses
profissionais ficou clara a dificuldade que as equipes têm de lidar com esse público.
Estudo de Teixeira (2002) concluiu que uma das dificuldades dos profissionais
de saúde no trato com adolescentes era advinda da formação acadêmica, por não
considerar o tema adolescência e sexualidade humana no currículo e, quando
contemplado esse tema, as contribuições estão voltadas para o controle normativo e
tecnológico da sexualidade e para o processo reprodutivo, com pouco ou até nenhum
trabalho que englobe gênero, classe e etnia.
Paulatinamente, a formação acadêmica em saúde deve dar uma maior ênfase
ao ensino sobre adolescência e sexualidade humana com enfoque além do biológico.
Os gestores em saúde devem propiciar mais investimentos na educação permanente
dos profissionais nos serviços de saúde e, consequentemente, tornar viável a
assistência integral à saúde do adolescente.
58
6.2 Educação em saúde e visita domiciliária: concepções e práticas
Na apreensão do conteúdo das falas percebeu-se que os profissionais em sua
maioria ainda possuem uma noção de saúde associada à ausência de doença. Em vista
disso, nota-se que a atuação sobre determinantes gerais de saúde é potencialmente
mais eficaz para o incremento da saúde da população do que as ações direcionadas
para a prevenção de riscos ou tratamento e recuperação de agravos, uma vez que seu
impacto se manifesta como ampliação da saúde, consistindo em proteção contra um
largo espectro de possíveis patologias ou agravos (HORTA et al., 2009).
É importante salientar ser no âmbito da ESF que a educação em saúde figura
como uma prática prevista e atribuída a todos os profissionais que compõem a
Equipe de Saúde da Família. Conforme relatado por alguns profissionais nas
entrevistas, a educação em saúde se limita ao repasse de informações, ao conceito
positivo de saúde, de cura e doença.
A OMS, inicialmente, considerou como definição positiva de saúde o
completo bem-estar, ou seja, algo quase inatingível e, portanto, não poderia ser usado
como meta pelos serviços de saúde, conceito que parece ainda influenciar alguns
participantes desse serviço. No entanto, é desejável que o profissional da ESF seja
capacitado para a assistência integral e contínua às famílias da área adscrita de seu
território, identificando situações de risco à saúde na comunidade assistida,
enfrentando em parceria com a comunidade os determinantes do processo saúde-
doença e desenvolvendo processos educativos para a saúde voltados à melhoria do
autocuidado dos indivíduos (BRASIL, 1997).
Convém salientar que apesar da aceitação da ideia de que a saúde é mais que a
ausência de doenças, a formação em saúde ainda está voltada a práticas preventivas
de doenças, o que incita a se questionar se a promoção da saúde numa perspectiva de
educação em saúde necessita de mudança de paradigma. Tal inquietação decorre do
fato de a saúde continuar sendo vista, mesmo sob o foco da promoção da saúde, de
forma individualista, uma vez que a saúde é abordada como uma responsabilidade
individual onde impera o “bom” uso da autonomia individual (FLEURY -TEIXEIRA
et al., 2008)
Para Coelho et al. (2004), a visita domiciliária é um dos destaques da prática
da Saúde da Família, havendo duas formas de visita. A primeira forma é a visita
59
domiciliária fim, com objetivos específicos de atuação, como a atenção domiciliária
terapêutica e a visita a pacientes acamados. E a segunda forma é a visita domiciliária
meio, na qual se realiza a busca ativa em demanda reprimida, promoção e prevenção
da saúde através da educação em saúde individualizada.
A visita domiciliária focada no adolescente representa uma estratégia de
atenção à saúde que engloba muito mais que o simples fornecimento de um
tratamento. Apresenta-se como um método que amplia a dimensão do assistir, não
tendo seu enfoque na doença, mas na promoção, manutenção e recuperação da saúde
do ser humano na perspectiva de sua família, além da busca da participação do
paciente e de seus familiares no processo do cuidado (KAWAMOTO et al., 2004).
Importante destacar que nas falas dos profissionais, eles ressaltam a
necessidade da visita ser realizada por uma variedade de categorias profissionais para
que a visão sobre o contexto do ambiente em que vive o paciente seja ampliada.
Alguns apontam que existe pouca participação do profissional de odontologia nas
visitas domiciliares e que isso é uma falha da ESF. No caso do adolescente visitado
pela psicóloga, essa necessidade ficou mais evidente, pois, através dela houve a
percepção de outros problemas, como a falta de envolvimento da mãe e da escola na
vida do adolescente.
A visita domiciliária respeita e atende aos princípios norteadores das ações
especificadas nas Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal, como os princípios
da ética da saúde, o acesso universal para a assistência e o acolhimento . Considera o
usuário em sua integralidade biopsicossocial, a criação de vínculo entre os
profissionais da Odontologia e os usuários, além da responsabilidade profissional,
garantindo respostas resolutivas aos problemas do usuário (BRASIL, 2004).
Normalmente, as equipes sofrem com a falta de carro para realizar os
atendimentos domiciliares e quando existe o carro para se fazer a visita, este não
comporta todos da equipe e o dentista não é priorizado neste tipo de atendimento.
Outras vezes o próprio dentista tem a ideia de que seu trabalho só pode ser realizado
no consultório.
A princípio define-se como cuidados domiciliares em saúde bucal o conjunto
de ações de educação em saúde, orientações sobre os autocuidados, prevenção e
assistência odontológica realizados no domicílio. Frente ao desafio de proporcionar
60
cuidados domiciliares em saúde bucal, no que diz respeito à assistência, há que se
considerar que na maior parte das vezes exige equipamentos, instrumentais,
condições de biossegurança e de ergonomia que dificilmente serão alcançadas
plenamente no domicílio (SÃO PAULO, 2005, on line).
Em decorrência das dificuldades apontadas, o consultório odontológico dos
serviços de saúde é o espaço privilegiado para o desenvolvimento das atividades
clínicas. As atividades de assistência odontológica oferecidas no domicílio devem
ficar restritas aos casos em que a equipe que acompanha o paciente julgar necessário,
sempre considerando acima de tudo a necessidade apresentada pelo mesmo (SÃO
PAULO, 2005, on line)
Quando se iniciaram as VDs no Brasil, elas eram realizadas por ACS, através
do Programa de Agentes Comunitário de Saúde (PACS). Atualmente profissionais de
diversas áreas, como médicos, enfermeiros, cirurgiões-dentistas, profissionais do
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) atuam conjuntamente, formando uma
equipe interdisciplinar e compartilhando a assistência e as responsabilidades. Em
função da atuação em equipe, aproveita-se o conhecimento específico de cada
profissional em sua área, e a atenção dispensada ao paciente torna -se integrada
(DIAS et al., 2006).
Muitos profissionais acreditam que há a necessidade de os usuários tomarem
conta de sua própria saúde e serem responsáveis por suas decisões, reafirmando o
que alguns autores relatam sobre a necessidade de empoderamento da saúde.
O empoderamento, na ESF, é um instrumento em potencial de transformação,
pois está inserido nos territórios onde os membros da equipe estão sempre em
contato com a população, caminham pelas ruas, entram nas casas e conversam
diretamente com as pessoas, alcançando, muitas vezes, grande poder de influência.
Por exercer esse papel, os profissionais adquirem amplo conhecimento sobre os
processos de saúde/doença/cuidado das famílias acompanhadas, possibilitando
adaptar as práticas e pensar ações focadas nas demandas individuais de cada
comunidade. O uso da estratégia de empoderamento pelos serviços para a promoção
da saúde é carregado de potencial para a mudança social e a redistribuição de poder.
Os usuários precisam ser estimulados a ter um olhar sobre a ESF em um
contexto de participação social, onde deve ser discutido não só questões relativas
diretamente à saúde dos usuários ou dos funcionamentos dos serviços, mas também
61
debater e levantar possibilidades para outros problemas que envolvem o coletivo. Os
profissionais acabam por desempenhar uma função de mobilizador de ações
individuais e sociais. Diante disso, a ESF pode e deve ser vista como instrumento -
chave para que o processo de empoderamento se efetive.
Com a incorporação do conceito de educação em saúde em suas práticas de
saúde, o profissional deixa de solucionar problemas agudos, procurando descobrir as
causas que desencadeiam as doenças e suas intercorrências. Isso deve ser
incorporado desde a formação profissional, para vencer os desafios e implementar o
novo nessa formação, desvinculando-se das bases curativistas.
A visita domiciliária é uma oportunidade de o profissional levar a educação
em saúde in loco e descobrir algumas causas de problemas que muitas vezes são
desencadeados no ambiente onde o usuário vive, e que normalmente o profissional
não consegue saber durante um atendimento no consultório, conforme alguns
entrevistados relataram.
Algumas das causas de doenças, como a dengue, são prevenidas da melhor
forma quando se trabalha o local onde as pessoas habitam, pois lá pode estar o foco
do mosquito causador da doença. Muitas vezes, o paciente recebe orientações sobre a
prevenção da doença, mas não as coloca em prática. Através da VD, o profissional
pode ver de perto se o domicílio está protegido dos focos do mosquito. Em épocas
em que a dengue está em epidemia os entrevistados disseram que ela é bastante
trabalhada no ambiente domiciliário, mais que qualquer outro assunto.
A visita domiciliária é uma estratégia que apresenta algumas vantagens, como:
a presença do profissional de saúde in loco para levar informações de saúde ao grupo
familiar, permitindo, com isto, uma visualização de condições peculiares de
habitação, higiene e hábitos de vida; um planejamento das ações mais factíveis, já
que busca atender as condições observadas no domicílio; o melhor relacionamento do
grupo familiar com o profissional de saúde por ser sigiloso e menos formal, além da
liberdade para se expor os mais variados problemas, já que o tempo disponível é
maior do que quando o atendimento é realizado nas dependências dos serviços de
saúde (MARASQUIN et al., 2004).
62
6.3 Introdução da educação em saúde a família com enfoque no adolescente.
Quando se perguntou sobre a educação em saúde voltada para o adolescente,
muitos profissionais disseram que a escola é o ambiente mais propício para se fazer
essa atividade, de forma que chegue ao adolescente com mais possibilidades de êxito.
O ambiente escolar, local onde os jovens passam grande parte de suas vidas,
pode atuar de maneira significativa na formação de opiniões e na construção de
caráter, sendo um lugar de referência para a implementação de qualquer programa
que vise à educação e à conscientização. A maioria dos adolescentes permanece
algumas horas dentro da escola, quando o aprendizado é sedimentado e os hábitos
familiares podem sofrer influências a partir das informações recebidas nesse
ambiente.
No entanto, os educadores não costumam dar ênfase a assuntos relacionados à
saúde, o que dificulta o fortalecimento do trabalho realizado pelos profissionais de
saúde no ambiente escolar.
Neste contexto, Mastrantonio e Garcia (2002) apontam para a sala de aula
como o lugar mais apropriado para a apresentação de um programa de educação em
saúde porque forma opiniões.
Estas informações discordam dos encontrados por Cangussu et al. (2001), que
perceberam que os alunos entrevistados creem que a educação e a saúde andam
juntas e que os professores devem ser cobrados para a realização dessa atividade
junto ao processo educativo.
Outro tema citado pelos entrevistados que também deve ser trabalhado na
escola com os adolescentes são as drogas. Um fator que dificulta a implementação de
atividades educativas junto aos adolescentes é a ausência desse público nas unidades
de saúde. Daí a necessidade de inclusão de atividades educativas na escola e até
mesmo no ambiente familiar.
O estudo de Haack et al. (2012) sobre fatores de risco e proteção mostra que
fatores de risco são aquelas circunstâncias sociais e/ou pessoais que tornam a pessoa
vulnerável a adquirir comportamentos arriscados, como usar drogas. Fatores de
proteção são aqueles que contrabalançam as vulnerabilidades, tornando a pessoa com
63
menos chances de adotar esses comportamentos. Sobressaem-se, portanto, a família,
a escola, os pares e a comunidade onde o jovem vive.
Nota-se que essas instituições possuem um papel fundamental como fatores de
proteção, embora também se desenvolvam como fatores de risco ao exercerem
influências que induzam ao consumo de drogas. No caso do adolescente
acompanhado pela equipe, verificou-se que ele não se engajava em qualquer grupo,
nem mesmo na escola e, além disso, a mãe era ausente.
Ao se realizar um trabalho de prevenção com um grupo é necessário conhecer
a realidade daquele grupo específico, identificando, para aquelas pessoas, o que é
fator de risco e o que pode ser fator de proteção, a fim de atuar minimizando os
primeiros e fortalecendo os segundos. Daí a importância de os profissionais
conhecerem o ambiente de relações dos adolescentes para prevenir riscos a esse
grupo.
Concordando com o que alguns entrevistados afirmaram quanto à necessidade
do apoio de toda a sociedade para se prevenir as drogas entre adolescentes e
sensibilizá-los para a melhoria de sua qualidade de vida, o problema do uso indevido
de drogas está disseminado em todos os lugares. Clubes, escolas, condomínios,
bairros, todos enfrentam esse problema. Muitas vezes, por não se saber como abordar
o problema, não se toma iniciativa para tentar resolvê-lo. Considerando que são
muitos e variados os fatores que causam os problemas com o abuso de drogas, uma
ação isolada não é suficiente. São necessárias ações conjuntas, em diferentes níveis,
realizadas e dirigidas para os diversos grupos que compõem a sociedade (HAACK et
al., 2012).
6.4 Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente durante a
visita domiciliária.
Os entrevistados, de forma livre, relataram que se sentem corresponsáveis por
não priorizar a atenção aos adolescentes, e que parte dessa falha se deve à não
capacitação durante sua formação acadêmica e profissional.
Apesar de não se ter encontrado diferenças no comportamento entre
profissionais mais velhos e mais jovens, estudos relatam que médicos que tiveram
algum treinamento em medicina do adolescente durante a residência demonstram
64
mais possibilidade de lidar adequadamente com questões relativas a essa faixa etária
(VITALLE, 2010).
Mesmo assim, sabe-se que a resistência para lidar com problemas sociais, de
conduta e morbidade, pode e deve ser corrigida na escola médica. Caso contrário as
barreiras persistirão nas práticas clínicas. Importante lembrar a necessidade de
adequação de conteúdos e preparo de competências durante a vida profissional,
enfatizando-se situações em que não houve formação durante a graduação, tais como
aquelas que exigem escuta diferenciada e acolhedora na direção da real atenção à
saúde do adolescente.
Esse ensino deve ser realizado respeitando-se a integralidade da atenção e a
não fragmentação em especialidades. É preciso ter a compreensão integral do
adolescente, dentro de seu contexto sociocultural e familiar. No atendimento dessa
população, muitas vezes há o envolvimento de diversas especialidades, cujo
treinamento pode afetar a qualidade da assistência prestada. Desse modo, pode -se
dizer que a fragmentação pode criar confusão sobre a identidade da assistência
primária e diminuir sua importância, já que existem atitudes diversas
(HALVORSEN, 2008)
Os adolescentes são atendidos frequentemente por ginecologistas,
endocrinologistas, psiquiatras, dentistas, entre outros profissionais que costumam
apresentar uma visão fragmentada do adolescente. Até mesmo os pediatras que atuam
nos centros de atenção primária e secundária e costumam ser os primeiros a cuidar
desses jovens também necessitam de treinamento na área de medicina do adolescente
para cuidá-los de forma integrada.
Os profissionais precisam superar preconceitos antes de encarar programas
educacionais voltados para a adolescência, como pouca proximidade com as questões
dessa faixa etária; tendência a encarar os adolescentes de forma negativa e
estereotipada; falta de professores qualificados em medicina do adolescente;
constrangimento em lidar com sexualidade e situações de violência (que podem
demandar, inclusive, intervenções interdisciplinares); sobrecarga de trabalho,
dificultando o acesso à aprendizagem. Além disso, é preciso que exista o desejo e a
disponibilidade para trabalhar com essa faixa etária (VITALLE, 2010).
65
Apesar do crescente interesse mundial pela saúde do adolescente nos últimos
anos, poucas universidades incorporaram este tema ao seu currículo. No Brasil, há
serviços e universidades que promovem a capacitação de profissionais na área de
saúde do adolescente, entretanto, o ensino de adolescência no período da graduação
quase não existe na maioria das faculdades. E se acontece, normalmente é por meio
de aulas teóricas isoladas (CECCIM; FEUERWERKER, 2004).
O Comitê de Ensino da Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que o
aprendizado deve ser realizado de modo integrado e de preferência sob a forma de
treinamento prático em serviço.
Paulo Freire (apud MARTINS, 2006), teórico da educação de adultos, já
demonstrou que a prática é o grande incentivador do aprendizado. Por isso, acredita -
se que programas de capacitação são muito interessantes tanto para alicerçar o saber
do profissional quanto para promover novas competências. O ensino da adolescência
abrange: áreas de conhecimento (contempladas com a realização de pré e pós-testes),
habilidades (relação profissional-paciente, obtenção de informação, raciocínio
clínico, o que o profissional faz com a informação, como trata o paciente, como se
relaciona com a equipe), e atitudes relacionadas à prática. Na verdade, a aquisição e
a transformação de atitudes, conhecimentos e habilidades fazem parte de um
processo contínuo que permeia toda a vida profissional num processo de educação
permanente.
Alguns entrevistados disseram que fazer promoção à saúde para qualquer
grupo, incluindo o adolescente, através da visita domiciliária, é um grande desafio,
devido à dificuldade de tudo que pode envolver esse processo , mais ainda quando a
violência está presente. A visita domiciliária é uma ferramenta utilizada no processo
de educação em saúde, o qual se organiza em um conjunto de saberes e práticas
orientadas para a prevenção de doenças e a promoção da saúde. É um ins trumento
por meio do qual o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde,
intermediado pelos profissionais de saúde, atinge a vida cotidiana das pessoas, uma
vez que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença oferece
elementos para a adoção de novos comportamentos (KERBER, 2008).
Dentre os pontos negativos que tendem a dificultar o processo de efetivação
da visita domiciliária encontra-se o desrespeito à rotina domiciliária, o horário
inapropriado de acesso ao domicílio e o grande número de profissionais adentrando a
66
casa de uma única vez. Outro fato é a falta de transporte e a violência encontrada em
alguns territórios. Além disso, é necessário que haja empatia, respeito mútuo e
atitude de não julgamento do profissional em relação ao conteúdo e ao ambiente da
visita.
Outras dificuldades apontadas em estudos estão na possibilidade de causar
dependência na população, principalmente em relação ao profissional médico, pois
pode promover acomodação, causando dependência e desestímulo a procurar a
unidade de saúde. Além disso, adentrar a casa das pessoas constantemente e sem a
autorização delas nem sempre agrada as famílias que recebem os profissionais, pois
essas famílias podem se sentir invadidas, na saúde e na liberdade, o que pode trazer
recusa (MANDÚ et al., 2008).
O Ministério da Saúde orienta que o ACS faça pelo menos uma visita
domiciliária por mês e, em casas que necessitem uma atenção maior, esse número
pode aumentar. Para isso é preciso que o profissional saiba definir quais as famílias
indicadas para receber o atendimento, levando em conta as maiores necessidades.
Com isso, a educação da comunidade em relação ao serviço é fundamental para que
não haja conflitos de interesses. A equipe realiza suas práticas de maneira
individualizada, mudando apenas o cenário de atuação, que passa a ser o domicílio,
mas muitas vezes visualiza a família como mera receptora e/ou fornecedora de
informações, sem levar em consideração a singularidade de cada uma
(GIACOMOZZI; LACERDA, 2006).
Uma das principais limitações no tocante à atuação dos trabalhadores de levar
a educação em saúde para a visita domiciliária é a escassez de programas de
capacitação. Muitos deles atuam nas visitas sem nenhum preparo para essa
modalidade de atenção e apresentam dificuldades em identificar as demandas
necessárias e propor intervenções junto aos indivíduos e suas famílias,
principalmente em relação ao adolescente (PUSCHEL, 2007).
Em relação às dificuldades da VD, é importante salientar que não adianta
apenas determinar que a equipe de saúde aborde a família como uma unidade de
cuidado, pois o que falta são instrumentos e instruções para os profissionais que
atuam nesse ramo de assistência à saúde (SILVA, 2007).
67
Além disso, os profissionais dispõem de pouco tempo para realizar a sua
tarefa, o que culmina com sentimento de frustração e impotência ante as demandas
trazidas pelas famílias. O processo de implantação e gestão da visita domiciliária
exige muita atenção (PÜSCHEL et al., 2006).
A efetivação do processo de realização da visita domiciliária depende de o
profissional planejar sua visita, preparar material educativo e elaborar um roteiro
sistematizado, enfocando sempre a qualidade de vida do indivíduo e de sua família
(LACERDA et al., 2006).
Na observação da visita na área pesquisada percebeu-se que não havia a
preparação de material educativo nem roteiro sistematizado para a realização dessa
atividade.
A visita permite ao profissional e à sua equipe uma maior aproximação com a
realidade em que vive o usuário ou a comunidade. O profissional, na realização da
visita domiciliária, deve respeitar os princípios e as condições reguladas ,
fundamentalmente, na ética e no respeito, já que o lar é um lugar privativo do
indivíduo, ao qual pertence o direito de privacidade e sigilo profissional. A equipe da
área do adolescente realizou a consulta sem a privacidade devida; a consulta foi
realizada na sala para qualquer um da família ouvir (LACERDA et al., 2006).
Ademais, as VDs podem assumir um caráter de controle negativo sobre a vida
familiar, quando ganha um sentido de fiscalização, de vistoria. Um fato importante a
ser destacado é que adentrar no domicílio é complexo, pois este é considerado o
espaço íntimo da família. Por isso, o trabalhador deve observar os preceitos da ética
e respeito para com os indivíduos.
Os entrevistados também falaram das satisfações que podem ter quando estão
realizando a visita domiciliária, desde o reconhecimento dos usuários em relação ao
trabalho dos profissionais, até a mudança de hábitos que é observada após as
orientações passadas pela equipe.
As vantagens da VD são destacadas por grande parte dos autores estudados. O
principal benefício demonstrado por essa estratégia está no fato de ela permitir que o
profissional faça uma avaliação do perfil habitacional da população, contribuindo
com a identificação dos principais riscos à saúde da comunidade. Um aspecto
importante é que a VD pode melhorar o estado geral de saúde da população, por
68
causa das medidas de prevenção que são passadas durante o atendimento
domiciliário. O adolescente acompanhado recebeu prescrição para vermífugos e
vitaminas. A tática da visita domiciliária também diminui o número de atendimentos
nas unidades de saúde, o que significa uma menor sobrecarga nas unidades, levando
a menores necessidades de investimentos (AZEREDO et al., 2007).
O contato dos trabalhadores com os usuários no espaço domiciliário faz com
que as relações entre aqueles e estes últimos se estreitem, criando um vínculo maio r
e, com isso, proporcionando maior aproximação à clientela do serviço de saúde, até
porque a aproximação com o adolescente é mais complicada em qualquer ambiente.
O vínculo é outra vantagem da visita domiciliária, pois o contato próximo
profissional/usuário permite um atendimento humanizado. Também tem-se como
vantagem da VD o fato de o profissional se tornar referência quando surge uma
necessidade, como falta de uma medicação, alterações na situação de saúde do
indivíduo ou dúvidas relacionadas ao processo de vida e de saúde. Isso acontece
devido ao grande vínculo estabelecido durante as VD e tende a se propagar com o
tempo (KERBER et al., 2008).
Contribuir para as mudanças de estilo de vida dos indivíduos, ampliar as
oportunidades, favorecer o conhecimento da população, propiciar o aprendizado das
pessoas e resgatar o bem-estar físico e emocional dos indivíduos são outras
vantagens da VD (MARTINS et al., 2007).
Logo, a VD é uma oportunidade de contribuir para a mudança de padrões de
comportamento e, consequentemente, promover a qualidade de vida através da
prevenção de doenças e da promoção da saúde, além de garantir atendimento
holístico por parte dos profissionais, os quais, por isso, necessitam compreender os
aspectos psicológicos, as relações afetivas e os fatores biológicos e sociais da
clientela assistida. O adolescente e a família receberam orientações para buscar
engajamento em grupos religiosos ou terapêuticos.
O trabalhador da VD pode agir como facilitador de descobertas e reflexões dos
sujeitos sobre a realidade, cabendo aos indivíduos o direito de aceitar ou não as
alternativas. A educação em saúde se baseia na prevenção de doenças e tem como
foco a mudança de comportamento. Ela propõe uma forma de trabalho diferente da
educação tradicional, despertando a consciência crítica das pessoas e dos grupos
sociais para envolvê-los nos aspectos relacionados à saúde, tornando-os empoderados
69
dos processos envolvidos em sua qualidade de vida. É importante o profissional
observar a percepção do usuário e se empenhar em estabelecer relações e resolver
possíveis problemas relacionados com suas reais necessidades de saúde. Além do
mais, a equipe deve iniciar suas ações de prevenção de complicações e promoção da
saúde refletindo sobre sua prática com vista à melhoria do cuidado (SOUZA; LIMA,
2007).
A equipe precisa se envolver na história de vida da população, estimular sua
autoconfiança e a cidadania, para assim ampliar seu conhecimento científico e
colaborar no desenvolvimento de um pensamento crítico. Considera-se a educação
em saúde um dos mais importantes elos entre os desejos e as expectativas da
população quanto a uma vida melhor e as projeções e estimativas dos governantes ao
ofertar programas de saúde que possam ser efetivos, de maneira que cada um faça
sua parte e não se pense que saúde é, apenas, dever do Estado (MARTINS et al.,
2007).
Os trabalhadores entrevistados cuidam de um território violento onde, muitas
vezes, as visitas domiciliárias são canceladas devido a momentos de troca de tiros
entre traficantes e, normalmente, estes são adolescentes. A violência vem sendo
discutida, apesar de timidamente, desde o final do século XX, tornando -se presente e
inserida nas políticas públicas de saúde, assistência e segurança, através de leis,
diretrizes, programas e projetos para sua redução, seu combate e promoção de
assistência, acolhimento e prevenção (SOUZA; LIMA, 2007).
A Organização Pan-Americana de Saúde (2002 apud BRASIL, 2005c, on line)
considerou que a questão da violência adquiriu um caráter endêmico e se converteu
em um problema de saúde pública, dada a grandeza e o crescimento de seus eventos,
ocasionando um grande número de vítimas com sequelas orgânicas e emocionais. O
adolescente acompanhado na pesquisa sofria de depressão devido a problemas de
violência na sua comunidade.
Em outros estudos essa realidade de violência que dificulta o trabalho das
equipes através das visitas domiciliárias também está presente, como num trabalho
de visita domiciliária às famílias com idosos nas periferias pobres de Belém do Pará.
Num estudo feito em unidade básica de saúde de uma comunidade carente de Rio
Grande do Sul, registra-se que os profissionais enfatizam a necessidade de ações e
políticas urgentes de esforço intersetorial na resolução da questão que impede ou
70
constrange a ação cotidiana dos serviços de saúde na família e na comunidade
(POLARO, 2013).
O Ministério da Saúde (2012) elaborou o Caderno de Atenção Domiciliar no
qual dá algumas orientações que devem ser seguidas em locais de alto índice de
violência urbana. É necessário que a equipe da ESF esteja atenta para:
- garantir o reconhecimento dos profissionais das equipes de ESF pela
população local através dos conselhos locais e dos agentes comunitários de
saúde;
- os profissionais das equipes devem estar identificados, com uniformes e
crachás indicando que são profissionais de saúde; os meios de transportes
devem estar devidamente identificados, garantindo o reconhecimento da
população como transporte de equipe de saúde;
- as escalas de atendimentos devem propiciar horários para essas visitas em
períodos com maior circulação da população, preferencialmente no período
da manhã ou início da tarde. Este horário deverá ser pré-agendado com a
família;
- em regiões de muitos becos e alto índice de violência urbana a equipe
poderá solicitar a presença de ACS responsável pela área para que este
facilite o acesso da equipe;
- os profissionais em visita devem, na medida do possível, estar em duplas e
sempre a viatura de transporte da equipe deve estar à espera desses
profissionais.
No caso de conflitos extremos na região, os profissionais devem buscar
condição de sair dessas áreas imediatamente.
No bairro onde o estudo foi realizado é comum se ouvir os ACS e os
moradores da área relatarem mortes que ocorrem no bairro, normalmente envolvendo
adolescentes, seja matando ou morrendo. Tudo isso devido ao tráfico de drogas e às
brigas de gangues. Atualmente, o bairro se encontra constantemente nos noticiários
da televisão por causa dessas mortes, além dos furtos e assaltados que acontecem na
região, chegando a ser considerado o segundo bairro mais violento de Fortaleza.
71
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006) apontam
que do total da população brasileira, o percentual de adolescentes em conflitos com a
lei entre 12 e 18 anos representa 15%, ou seja, 0,2% de toda a população do País
responsável pela prática dos atos infracionais.
O levantamento realizado pelo Instituto Latino-Americano das Nações Unidas
para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (2014, on line) demonstrou
que é expressiva a quantidade de usuários de drogas entre os adolescentes privados
de liberdade no país: em 2002, 85,6% faziam uso antes da apreensão, especialmente
de maconha (67,1%), álcool (32,4%), cocaína/crack (31,3%) e inalantes (22,6%).
Adolescentes infratores tendem a procurar amigos no próprio meio de
infração, buscando estímulo e apoio em suas ações ilegais como roubos, tráfico ou
uso de drogas (SILVA; GUERESI, 2003).
Os delitos que os adolescentes citaram como os mais praticados foram o roubo
(82%), o porte de arma (80,7%), o tráfico de drogas (74%) e o furto (59,3%).
Resultado semelhante já havia sido apontado em estudo anterior (MARTINS;
PILLON, 2008).
No que toca ao roubo, verificou-se a tendência estatística de os adolescentes
com baixo nível de escolaridade terem maior probabilidade de participação em
roubos em idade precoce.
Na comparação das variáveis, "primeiro uso de drogas" e "primeiro ato
infracional", com a finalidade de avaliar sua possível relação, os resultados apontam
que os adolescentes iniciaram o uso de álcool, de tabaco e de maconha com idade
média de 12 anos, ao passo que, na prática de infrações, a idade média foi de 13
anos, sugerindo que o uso dessas drogas precede o uso de outras drogas e a prática de
infrações.
Tanto neste estudo quanto em outros similares da literatura, o álcool e a
maconha são apontados como os mais consumidos por esses adolescentes e estão
associados aos delitos praticados por essa população. Este fato confirma que o uso de
drogas ocorre precocemente, existindo a chance maior de o adolescente se envolver
mais cedo com as infrações e sugerindo que o uso de drogas o deixa mais vulnerável
aos comportamentos de risco, como a prática de infrações (PINHO et al., 2006).
72
As principais características da maioria das vítimas de homicídios no Brasil:
sexo masculino; com idade entre 15 e 18 anos; morador de periferias ou favelas
urbanas; jovem não branco; de classe economicamente desfavorecida;
frequentemente morto por projétil de arma de fogo; considerado marginal nos
registros policiais (MINAYO, 2005).
A adolescência é permeada por momentos de mal-estar (depressão,
sentimentos de perda, de abandono, de angústia, escolha de identidade), justamente
por ser um período de constantes transformações. Os sintomas da adolescência, as
condutas de risco (suicídios, transgressões, anorexia, bulimia, uso de drogas) surgem
em função da incapacidade de se conseguir enfrentar esse mal -estar. Caso não
encontre formas "saudáveis" de enfrentá-lo, o adolescente pode passar por um
sofrimento intenso, marcado pela impossibilidade de se comunicar (BAUMKARTEN,
2001).
Os sintomas aparecem quando há ruptura ou estagnação no desenvolvimento
do ciclo de vida de uma família ou de algum outro grupo natural. “Os sintomas dos
adolescentes são testemunhas do seu sofrimento, da sua vontade e simultaneamente
da sua impotência para curar os sistemas relacionais” (COLLE, 2001, p.196).
Neste sentido, a “transgressão” das normas é a forma encontrada pelo jovem
de se comunicar com o outro; de denunciar um sofrimento coletivo; é mais um
pedido de ajuda que uma afirmação em si.
Em um contexto de pobreza e exclusão, onde os problemas enfrentados são os
mais diversos, agravados pela introjeção de uma autoimagem negativa, pela
descrença em si mesmo e pela ausência de esperança de melhores condições de vida,
esses jovens, além de desejar esquecer os problemas e encontrar momentos de prazer,
passam a acreditar que com a droga podem tudo, que a droga é capaz de lhes oferecer
“poder” e “coragem” para desafiar, conquistar ou violar.
O uso ou o abuso de drogas na adolescência é um problema de saúde pública,
crônico e recorrente que requer atenção especial dos profissionais que trabalham na
área da saúde. Há um crescimento nos índices de usuários de drogas nessa faixa
etária, e a idade de experimentação está sendo cada vez mais precoce (CARLINI et
al., 2002).
73
Os abusadores adolescentes experienciam uma variedade de problemas,
incluindo rapidez na evolução do diagnóstico de abusadores para dependentes, e uma
ocorrência maior de comorbidades relacionadas ao uso, bem como envolvimento com
atos infracionais, sendo esses os fatores que fazem com que os profis sionais da área
da saúde tentem buscar alternativas eficientes para intervenções que auxiliem na
prevenção e na resolução dessa problemática (BECKER; CURRY, 2008; FRENCH et
al., 2008).
A família é o núcleo básico da sociedade. Como todo grupo social, se en contra
atravessada por papéis e posições que demarcam o comportamento do indivíduo.
Cada membro exerce diferentes papéis na família que vão se alterando de acordo com
a etapa do seu ciclo de vida. Os papéis assumidos podem ser agrupados em algumas
categorias, que se modificam sistematicamente no decurso da vida: os papéis
laborais, de gênero e relativos à idade. As mudanças mais facilmente visualizadas
incidem nos papéis familiares. Quando o adolescente começa a vivenciar novas
experiências nas quais deve assumir compromissos pessoais, familiares e sociais, e
desempenha, ao mesmo tempo, dois ou mais papéis incompatíveis entre si, conflitos
são gerados e a tensão resultante se manifesta quando não se tem habilidade para
cumprir satisfatoriamente todos os papéis (PRATTA; SANTOS, 2009).
A busca pela identidade pessoal é um dos compromissos psicossociais mais
decisivos para o adolescente, porquanto ele tem necessidade de se destacar em seu
grupo familiar e de seus pares como ser distinto dotado de personalidade própria.
Nessa etapa do ciclo vital ele busca dar sentido à vida e compreender aquilo que o
cerca; para tanto precisa aprender a aceitar a si mesmo e aos demais, fortalecendo
seu ego. Para que esse processo de construção identitária se consolide é importan te
que os pais estimulem o amadurecimento de seus filhos.
Esse período de intensas transformações biopsicossociais pode conduzir a um
desenvolvimento saudável quando o núcleo familiar oferece uma boa base de
sustentação para as experimentações do adolescente. Contudo, por vezes, a dinâmica
familiar é conturbada e não contribui para acolher os conflitos dos filhos em
desenvolvimento, o que pode levá-los a se engajar em comportamentos sintomáticos
que favorecem a aproximação com o universo das drogas.
O profissional de saúde, através da visita domiciliária, pode observar a
dinâmica familiar e perceber possíveis transtornos nas relações interpessoais e,
74
consequentemente, auxiliar na melhoria do ambiente familiar, seja através de apoio
psicológico, seja através de orientações sobre qualidade de vida.
As necessidades de saúde e bem-estar dos adolescentes devem ser
consideradas dentro do contexto em que vivem, incluindo, além dos aspectos
familiares, os fatores culturais, socioeconômicos e políticos. A visita domiciliária
facilita a análise desses aspectos para que o profissional possa compreender o modo
de viver do jovem. Condições de privação, habitação inadequada, ruptura da família,
ausência de educação e violência são algumas das situações de risco que po dem
prejudicar a saúde dos adolescentes (ASSIS et al ., 2002).
Se o adolescente não possui um problema específico, como problemas
psiquiátricos ou alguma doença física, dificilmente ele é abordado durante a visita
domiciliária para uma conversa sobre os fatores de risco aos quais essa população
está mais vulnerável, como as drogas, as DST e a gravidez precoce. Ainda se fala
sobre vida escolar e profissional, mas de forma que o jovem é abordado sem
privacidade, o que dificulta o adolescente ficar à vontade para se expor.
A visita domiciliária mostra-se como um instrumento que contribuiu para a
abordagem integral dos adolescentes e de suas famílias, tendo-se observado o
contexto socioeconômico e cultural da comunidade e a própria dinâmica familiar.
Assim, busca-se como superação o emprego da visita domiciliária como uma
ferramenta restrita ao acompanhamento técnico de situações específicas. Reforça -se a
visita domiciliária como uma importante ferramenta no entendimento dos ciclos de
vida que constituem aquela área de abrangência.
A educação em saúde revela-se como uma prática totalmente adequada à
dinâmica da visita domiciliária, devido ao seu caráter dialógico e com fins de
emancipação do sujeito, sendo ideal para a prática da prevenção de doenças e da
promoção da saúde.
A Figura 1 ilustra as principais considerações do estudo:
75
Figura 2: Quadro esquemático dos principais resultados do estudo, Fortaleza, 2014.
Fonte: Elaborada pela pesquisadora.
Caracterização dos trabalhadores da Saúde do estudo:
FEMINIZAÇÃO(NERI, CARVALHO, 2002)
FALHA NA FORMAÇÃO;
EDUCAÇÃO PERMANENTE.
Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente
durante a visita domiciliária:
AUSÊNCIA DE DOENÇAS;
REPASSE DE INFORMAÇÕES;
VD FIM E VD MEIO(COELHO, 2002); MULTIDISCIPLINAR;
EMPODERAMENTO;
VÍNCULO E OBSERVAÇÃO IN LOCO.
Introdução da Educação em Saúde na família com enfoque no adolescente:
ESCOLA;
FAMÍLIA,
COMUNIDADE- RISCO E PROTEÇÃO (HAACK, 2012
Educação em Saúde e visita domiciliária: concepções e práticas:
DESPREPARO, MEDICINA DO ADOLESCENTE(VITALLE, 2010);
DESVANTAGENS E VANTAGENS DA VD;
MANUAL DE ATENÇÃO DOMICILIAR( BRASIL, 2012). DROGAS E DELITOS,
76
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos resultados do estudo e das percepções dos profissionais atuantes
na Estratégia de Saúde da Família, a visita domiciliária pode ser considerada
instrumento ideal para se promover educação em saúde no ambiente familiar, pois a
troca de informações se dá no contexto de vida do indivíduo e da sua família. As
orientações não estão prontas, pois cada domicílio apresenta uma realidade, e cada
família possui uma necessidade. Com base nessa realidade é que acontece a troca de
informações.
Conforme depoimentos dos profissionais da equipe de saúde, é urgente
readequar a atividade de visita domiciliária às características da população de cada
local e resgatar o significado e a importância dessa prática para a Estratégia Saúde da
Família, principalmente em relação ao adolescente. Com o número de doenças e a
necessidade desses grupos populacionais, o número de famílias sob a
responsabilidade de cada equipe extrapola sua capacidade de resposta, necessitando
talvez de um redimensionamento do número de profissionais que atuam em cada
unidade da ESF, o que já está sendo pensado na atual gestão do município de
Fortaleza, orientado pelo Ministério da Saúde, que quer diminuir o número de
famílias sob a responsabilidade de cada equipe de quatro mil para duas mil famílias .
A visita domiciliária é um instrumento em potencial para que os profissionais
de saúde possam propor estratégias de atendimento aos adolescentes levando em
conta as necessidades de saúde para além de programas focados em riscos
específicos, capazes de articular com os determinantes do processo saúde-doença que
incidem de forma diferenciada no contexto de vida desses sujeitos. A proximidade
com o adolescente, numa perspectiva que leve em conta sua experiência, seus anseios
e seus diferentes saberes articulados com os saberes dos profissionais da saúde e da
educação, torna o setor educação além de importante na interface com a saúde, um
potencial parceiro na construção de ideias e nas práticas interligadas e efetivas.
Apesar do desejo de melhorias nessa área e do reconhecimento de que a visita
domiciliária é uma estratégia eficaz, é importante destacar as limitações deste estudo,
uma vez que se observou que muitos profissionais tiveram dificuldade de participar
da pesquisa. Possivelmente por receio de serem julgados por meio de suas respostas,
77
mesmo após terem sido informados sobre o sigilo e a confidencialidade do trabalho.
Outros sentiram dificuldade em falar sobre o assunto por timidez ou por não se
sentirem capacitados para tal. Nenhum entrevistado possuía mestrado ou doutorado.
Outra limitação do estudo foi o constante cancelamento das visitas
domiciliárias, que seria outra forma de pesquisa do nosso trabalho, devido à
violência na área causada pelo tráfico de drogas. Nessa área de abrangência são
constantes as brigas por dominação de território para venda de drogas, onde se mata
uma pessoa se esta morar em uma área e precisar atravessar o território que pertence
à gangue rival. Chega-se ao ponto de os profissionais que trabalham na Unidade de
Saúde Hélio Góes precisarem andar com os vidros de seus carros abaixados, de
jaleco e sem capacete, para quem anda de moto, dentro do território, para que os
traficantes os identifiquem e assim não usem de violência contra eles.
Em algumas microáreas, os ACS precisam andar em dupla porque não se
sentem seguros na região. É comum eles se depararem com jovens e adultos armados
dentro de alguns becos. Em dia em que alguém de uma gangue é morta a própria
comunidade avisa aos profissionais para não fazerem visita domiciliária, porque
certamente haverá troca de tiros entre a gangue do morto e a gangue inimiga que o
matou.
Quando finalmente se conseguia adentrar nas casas dos usuários dificilmente
se encontravam adolescentes, porque estes estavam dormindo ou estavam nas ruas
ou, ainda, porque evitavam contato com a equipe de saúde. Diante dessa situação é
importante que o profissional entenda o processo de adolescer e suas especificidades.
A adolescência é em uma etapa da vida de maturação psicológica que provoca várias
e importantes mudanças. A definição dos papéis, ser criança ou ser adulto, ser
mulher ou ser homem, e a apropriação dos valores masculinos e femininos suscitam
no adolescente um processo de adaptação permanente a essa realidade, além da
formação de sua identidade na sociedade.
Nesse período, normalmente ocorre um afastamento da família ao mesmo
tempo em que adere ao seu grupo de iguais, caracterizando-se, assim, como uma
época de maior vulnerabilidade e exposição a riscos, entre eles o uso das drogas e
toda a complexa rede sociopolítico-econômica a ele associada. O uso de drogas,
bastante comum entre os adolescentes do território estudado, expressa características
78
próprias dessa etapa, como o sentimento de idealismo, onipotência, contesta ção e
violência.
Esse fenômeno multidimensional sob o olhar da saúde necessita de uma
abordagem interdisciplinar e de todos os setores da sociedade para o enfrentamento
dessa problemática. Os profissionais da unidade de saúde estudada compreendem
essa realidade, mas se sentem impotentes. É necessária a sensibilização para a
construção de um saber coletivo sobre os adolescentes, a sua família e seus pares,
bem como os fatores de risco que cercam essa população, como as drogas.
O profissional da saúde apresenta-se, neste sentido, como ator estratégico nas
ações voltadas para este tema, no sentido de buscar abordagens, no nível de
prevenção de doenças e promoção da saúde, que ampliem o olhar e as possibilidades
de intervenção. Deste modo, envolve uma ação voltada para as causas e as
consequências do problema num entendimento biopsicossocial, oferecendo
informações sobre as substâncias psicoativas e os problemas relacionados ao seu uso,
proporcionando oportunidades para explorar as perdas em nível pessoal e social
quando se opta pelo uso de entorpecentes.
A inserção do ambiente familiar nas intervenções de prevenção e tratamento é
de suma importância no enfrentamento da problemática em discussão, no sentido de
proporcionar um sistema de apoio que possibilite tanto um controle dos fatores
predisponentes à maior iniciação quanto à continuação do uso de drogas. Nesta linha
de pensamento destaca-se o papel dos pais e das relações afetivas no vínculo do
adolescente com o álcool e outras drogas, seja enquanto facilitadores das ações ou
desencadeadores dos problemas. Entende-se, através da fala dos entrevistados, que a
escola também se caracteriza como espaço privilegiado para o desenvolvimento de
programas preventivos e políticas públicas e como eixo de formação no que diz
respeito a instrução, cidadania e lócus de expressão de comportamentos e
personalidades, bem como de formação de hábitos.
Notou-se que os profissionais pouco falaram das políticas públicas voltadas
para os adolescentes que fomentam o debate sobre o cuidado integral e a abordagem
dos determinantes de saúde que impactam essa população. Para que essas políticas
públicas sejam verdadeiramente efetivadas é necessário fazer o melhor acolhimento
possível em espaços humanizados de formação de vínculos e projetos terapêuticos
alternativos com participação dos próprios adolescentes. De acordo com as diretrizes
79
do Ministério da Saúde, é preciso tornar os adolescentes promotores de saúde para
uma atuação qualificada entre seus pares, favorecendo novas estratégias de
abordagem, comunicação e linguagem, incluindo-os como parceiros e
corresponsáveis nas agendas e políticas locais.
Faz necessária, ainda, a articulação das políticas sociais com o Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS) melhorando o acesso e a assistência às famílias e aos
adolescentes que fazem o uso abusivo de álcool e outras drogas. Também são
importantes campanhas educativas interligadas a outras políticas públicas para
conscientizar a população sobre o tema.
Aliando parceiros e levando como bagagem as experiências, os anseios e os
ideais, saúde e educação unidas constituem uma grande força para o cuidado e a
construção, como sujeitos, de adolescentes e jovens. Ação que não se faz em um
espaço restrito, mas que pode ser realizada, em uma busca compartilhada, pela união
desses setores, mediados por parcerias com as famílias. Existem muitas
possibilidades de mudanças, como já foi relatado neste estudo. Resta unir o desejo
dos profissionais e dos cidadãos, a vontade política e a articulação para que as ações
sejam realmente implementadas.
Ilustram-se as considerações finais deste estudo com a seguinte figura:
Figura 3: Apresentação das principais considerações finais do estudo, Fortaleza, 2014.
Fonte: Elaborada pelo pesquisador.
VD PERSONALIZADA
LIMITAÇÕES DOS PROFISSIONAIS: JULGAMENTO E
FALTA DE CAPACITAÇÃO
LIMITAÇÕES EXTERNAS: VIOLÊNCIA , DROGAS E
AUSÊNCIA DO ADOLESCENTE
PARCERIAS
POLÍTICAS PÚBLICAS COM ENGAJAMENTO
DOS ADOLESCENTES.
80
Como membro da Estratégia Saúde da Família percebi que ainda há muito o
que se avançar em nossa prática sobre a promoção da saúde. Ainda estamos muito
focados na cura e na prevenção de doenças. Nós, importantes atores envolvidos no
processo da melhoria da qualidade de vida dos usuários, devemos aproveitar todas as
oportunidades do trabalho para sensibilizar a família a ser colaboradora desse
processo.
A escola foi citada diversas vezes pelos profissionais deste estudo como
importante aliada na busca do engajamento dos adolescentes no autocuidado, o que
nos leva a crer que através dessa parceria se podem alcançar bons resultados com os
adolescentes que estudam. Os profissionais poderiam aproveitar eventos como
gincanas, olimpíadas colegiais, reuniões com os pais e os programas como o PSE
para dialogar com esse grupo.
A visita domiciliária, apesar de ser compreendida pela maioria dos
profissionais da saúde como tendo a finalidade de levar até o usuário a saúde que ele
não pode ir buscar na unidade de saúde, como no caso de acamados, é possível
enxergá-la também como uma oportunidade de durante essas visitas fim, averiguar se
os adolescentes estão ali presentes e buscar contato com estes a fim de estreitar laços
e facilitar possíveis futuras intervenções.
Neste estudo observou-se que os profissionais de saúde, em especial
os de nível superior, não tinha capacitação para trabalhar com adolescentes.
Pensando em compensar essa fragilidade, seria útil investigar se entre os
trabalhadores da unidade de saúde existe alguém com alguma habilidade em
artesanato, música, teatro ou esporte, enfim, com algo que possa estimular os
adolescentes a participar de grupos e, assim, estreitar o vínculo entre equipe de saúde
e adolescentes.
81
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estratégia da assistência no domicílio . São Paulo: USP, 2007.
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93
APÊNDICE A - Questionário para os profissionais da ESF.
1. Idade: ______________________________________________________________
2. Estado Civil:
( ) Casado ( ) Solteiro
( ) Separado ( ) Viúvo
3. Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino
4. Escolaridade:
( ) Ensino Fundamental incompleto
( ) Ensino Fundamental completo
( ) Ensino médio incompleto
( ) Ensino médio completo
( ) Universitário(a)
( ) Superior incompleto
( ) Superior completo
5. Ocupação (profissão) : ________________________________________________
6. Há quanto tempo você trabalha na ESF (anos)? ____________________________
7. Possui alguma capacitação para atendimento de adolescentes?_________________
QUESTÕES NORTEADORAS PARA ENTREVISTA COM O PROFISSIONAL
DA ESF:
1- Qual a sua compreensão sobre Educação em Saúde?
2- Como você vê a visita domiciliária como atividade de Educação em Saúde?
3- Qual é a sua opinião sobre a visita domiciliária na ESF?
4- Em sua opinião, o que deve constituir uma VD?
5- Como a Educação em Saúde deve ser introduzida na família? E em relação ao
adolescente?
94
6- Livre:
Espaço reservado
Responsável pela coleta_________________________________________
Data:____/____/_____
Observações:
95
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Estamos desenvolvendo a pesquisa “Educação em saúde e a visita domiciliária ao
adolescente: percepção dos profissionais da estratégia saúde da família”. OS
Objetivos deste estudo são compreender a percepção dos profissionais da ESF sobre
a visita domiciliária com enfoque no adolescente e identificar possíveis dificuldades
e facilidades que possam existir na Atenção ao adolescente durante a VD.
A sua participação não o obriga ao comparecimento na Unidade de Saúde em
horários adicionais.
AUTORIZAÇÃO
Solicitamos sua autorização para participar da pesquisa que será realizada
através da coleta de informações por meio da aplicação de um questionário
estruturado e uma entrevista não estruturada com informações acerca do perfil
sociodemográfico, idade, sexo, formação, tempo de formação, experiência com
atividades de educação em saúde, tipos de atividades que realizam possível
existência de dificuldades/potencialidades. O local para realização será tranquilo, e o
horário será agendado, previamente, na unidade de saúde. Após realização das
entrevistas, será realizado, com agendamento prévio, o acompanhamento das VD
realizadas pelas equipes de saúde durante o período de estudo. As visitas serão
realizadas em um turno por semana para cada equipe da ESF.
A seleção dos adolescentes a serem acompanhados será realizada mediante os
seguintes critérios de inclusão: adolescentes de 10 a 19 anos (OMS, 2008) que vivem
em famílias acompanhadas em domicílio pela equipe de saúde da família; e/ou
adolescentes em situação de vulnerabilidade/risco identificados pelos agentes
comunitários de saúde, profissionais da equipe ou qualquer membro da comunidade.
Como critérios de exclusão durante VD, não serão incluídos aqueles adolescentes
que, no momento das visitas, não estiverem presentes, não aceitarem a presença do
profissional de saúde ou oferecer risco para a pesquisadora.
O acompanhamento da VD será realizado pela pesquisadora, por meio de uma
lista de verificação contemplando os seguintes pontos: preparação do profiss ional
para visita com material educativo; forma de tratamento do profissional em relação
ao adolescente; investigação sobre alterações psicoemocionais e uso de drogas;
investigação sobre projeto de vida; orientação sobre métodos contraceptivos e ao
sexo seguro. O intuito deste acompanhamento é observar na prática do profissional
96
de saúde como é conduzida a VD junto à família com membro adolescente, com foco
principalmente nas ações de educação em saúde.
Todas as atividades da pesquisa serão registradas em diário de campo. Nele
constam as informações que não estão nas entrevistas, como comportamentos,
conversas informais, hábitos, usos, costumes, entre outros de forma a registrar fatos,
fenômenos e atitudes percebidos durante a pesquisa.
Pelo presente Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que fui esclarecido
(a), de forma clara e detalhada, livre de qualquer constrangimento e coerção, dos
objetivos, da pesquisa. Fui esclarecido (a), ainda:
Da garantia de informação dos resultados da pesquisa, da liberdade de retirar
meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem quesito
traga algum prejuízo na prestação de serviços por parte da UBS, e ainda da garantia
de não ser identificado (a), e do caráter confidencial das informações pre stadas, não
acarretando ônus. Estou ciente de que as informações prestadas pela entrevista e a
observação realizada durante minha visita domiciliária que serão destruídas após a
elaboração do relatório final pela pesquisadora, reafirmando que serão utilizadas com
fins exclusivos para essa pesquisa.
Endereço da responsável pela pesquisa Ivana dos Santos Fonseca
Rua: Andrade Furtado 147 ap.1201 Cocó
Endereço da Instituição: Rua do Rosário, 283, Centro, Fortaleza -CE. Tel: 85-34526974
ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a sua participação
no estudo, dirija-se ao Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará.
Rua Coronel Nunes de Melo, 1127, Rodolfo Teófilo, Fortaleza -CE. Telefone : 85-
33668338
Tendo este documento ter sido aprovado pela Instituição de Saúde e Comitê de Ética
em Pesquisa, é assinado em duas vias, ficando uma cópia para o participante do
estudo e outra para a pesquisadora. Data:
_____/_____/_____.
Pesquisador: ________________________________________________________
Participante: _________________________________________________________
97
APÊNDICE C = Instrumento de Reconhecimento da Qualidade.
Visita ao(a) Adolescente
Nome do profissional (a):
Nome do avaliador(a):
CRITÉRIOS
OBSERVADOS
MEIOS DE VERIFICAÇÃO S, N ou
NA
COMENTÁRIOS
O profissional
realiza
adequadamente
a visita ao(a)
adolescente
Observar na visita do profissional:
Prepara-se na unidade para a realização da visita
(seleciona materiais/insumos
educativos/formulários/ protocolos)
Recebe e cumprimenta o(a) adolescente
cordialmente
Apresenta-se
Trata-a o(a)dolescente pelo nome.
Evita julgamento de valores e reações
preconceituosas
Identifica e conversa sobre as necessidades,
dúvidas ou preocupações:
Assegura confidencialidade inclusive junto aos
familiares
Situação na escola
Investiga e observa alterações
psicoemocional/Projeto de vida (claro, confuso,
ausente)
Participação em grupos
Investiga/observa sinais e sintomas sugestivos de
uso de drogas e violência
Identifica e orienta sobre comportamentos de
risco que possa implicar em gravidez precoce,
DST e AIDS.
Orienta os(a) adolescentes para a prática de sexo
seguro e métodos contraceptivos
Registra as informações na
ficha/protocolo/formulário
Verifica se o(a) adolescente compreendeu as
orientações de educação em saúde
Entrega material educativo com orientações sobre
saúde (folder, cartilha, caderneta. etc.)
Despede-se cordialmente
Fonte: Ministério da Saúde do Chile.
98
APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o responsável
pelo (a) Adolescente.
“Caro (a) responsável pelo adolescente, estamos convidando você a participar de uma
pesquisa chamada Visita Domiciliária e Educação em saúde: Tecnologia para o
cuidado ao adolescente”. OS Objetivos deste estudo são Compreender a percepção
dos profissionais da ESF sobre a visita domiciliária com enfoque no adolescente e
identificar possíveis dificuldades e facilidades que possam existir na Atenção ao
adolescente durante a VD.
A pesquisa será realizada através da coleta de informações por meio da aplicação de
uma entrevista semi estruturada com informações acerca do perfil sociodemográfico,
idade, sexo, formação, tempo de formação, experiência com atividades de educação
em saúde, tipos de atividades que realizam, possível existência de
dificuldades/potencialidades. O local para realização será tranquilo, e o horário será
agendado, previamente, na unidade de saúde. Após realização das entrevistas, será
realizado, com agendamento prévio, o acompanhamento das VD realizadas pelas
equipes de saúde durante o período de estudo. As visitas serão realizadas em um
turno por semana para cada equipe da ESF.
A seleção dos adolescentes a serem acompanhados será realizada mediante os
seguintes critérios de inclusão: adolescentes de 10 a 19 anos (OMS, 2008) que vivem
em famílias acompanhadas em domicílio pela equipe de saúde da família; e/ou
adolescentes em situação de vulnerabilidade/risco identificados pelos agentes
comunitários de saúde, profissionais da equipe ou qualquer membro da comunidade.
Como critérios de exclusão durante VD, não serão incluídos aqueles adolescentes
que, no momento das visitas, não estiverem presentes, não aceitarem a presença do
profissional de saúde ou oferecer risco para a pesquisadora.
O acompanhamento da VD será realizado pela pesquisadora, por meio de uma lista
de verificação contemplando os seguintes pontos: preparação do profiss ional para
visita com material educativo; forma de tratamento do profissional em relação ao
adolescente; investigação sobre alterações psicoemocionais e uso de drogas;
investigação sobre projeto de vida; orientação sobre métodos contraceptivos e ao
sexo seguro. O intuito deste acompanhamento é observar na prática do profissional
de saúde como é conduzida a VD junto à família com membro adolescente, com foco
principalmente nas ações de educação em saúde.
Todas as atividades da pesquisa serão registradas em diário de campo. Nele constam
as informações que não estão nas entrevistas, como comportamentos, conversas
informais, hábitos, usos, costumes, entre outros de forma a registrar fatos, fenômenos
e atitudes percebidos durante a pesquisa. Sua participação é importante, porém,
você não deve participar contra a sua vontade. Leia atentamente as informações
abaixo e faça qualquer pergunta que desejar, para que todos os procedimentos desta
pesquisa sejam esclarecidos.
Estou ciente de que o benefício deste estudo esta na possibilidade de produção de
novos conhecimentos acerca de temas relacionados à educação em saúde,
sexualidade e à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, drogas ilícitas e
gravidez precoce.
99
Estou ciente de que a pesquisa será realizada em meu domicílio. Foi-me esclarecido
que minhas respostas irão ajudar os profissionais de saúde a promoverem um
cuidado mais adequado às adolescentes de minha idade nos assuntos que envolvem
os riscos à saúde.
Estou ciente de que poderei recusar a continuar participando e, também, que eu
poderei retirar este meu consentimento, sem que isso me traga qualquer penalidade
ou prejuízo. A pesquisadora também me esclareceu que sempre que eu desejar
serão fornecidos esclarecimentos sobre cada uma das etapas do es tudo e que para
isso não haverá qualquer custo, gastos e também não receberei qualquer tipo de
pagamento;
Também me foi esclarecido que as informações conseguidas através da minha
participação não permitirão a identificação da minha pessoa, exceto aos
responsáveis pelo estudo, e que a divulgação das mencionadas informações só será
feita entre os profissionais estudiosos do assunto.
Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado
sobre a minha participação no mencionado estudo e estando consciente dos meus
direitos, das minhas responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que a minha
participação implicam, concordo em dele participar e para isso eu DOU O MEU
CONSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO FORÇADO (A)
OU OBRIGADO(A).
Endereço da responsável pela pesquisa Ivana dos Santos Fonseca
Rua: Andrade Furtado 147 ap.1201 Cocó
Endereço da Instituição: Rua do Rosário, 283, Centro, Fortaleza -CE. Tel: 85-34526974
ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a sua participação
no estudo, dirija-se ao Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará.
Rua Coronel Nunes de Melo, 1127, Rodolfo Teófilo, Fortaleza -CE. Telefone : 85-
33668344
Fortaleza, _______de___________de________
Assinatura da adolescente
Assinatura do responsável legal
Testemunha
Nome e assinatura do
responsável pelo estudo
Nome do profissional que
aplicou o TCLE
DIGITAL
Dados do responsável legal:
Endereço:
Telefone:
100
APÊNDICE E - Termo de assentimento informado livre e esclarecido.
Título do Projeto: “Visita Domiciliária e Educação em saúde: Tecnologia para o
cuidado ao adolescente”.
Investigador: Ivana dos Santos Fonseca.
Local da Pesquisa: UAPS Hélio Góes Ferreira.
Endereço: Avenida Engenheiro Leal Lima Verde 453 Sapiranga, Fortaleza, Ceará.
O que significa assentimento?
O assentimento significa que você concorda em fazer parte de um grupo de
adolescentes, da sua faixa de idade, para participar de uma pesquisa. Serão
respeitados seus direitos e você receberá todas as informações por mais simples que
possam parecer.
Pode ser que este documento denominado TERMO DE ASSENTIMENTO
LIVRE E ESCLARECIDO contenha palavras que você não entenda. Por favor, peça
ao responsável pela pesquisa ou à equipe do estudo para explicar qualquer palavra ou
informação que você não entenda claramente.
Informação ao Paciente: o que é uma pesquisa?
Você está sendo convidado (a) a participar de uma pesquisa, com o objetivo
de investigar se os profissionais da ESF da Unidade de Saúde Doutor Hélio Góes
fazem visita domiciliária, concordam em levar a Educação em Saúde para dentro das
casas dos pacientes e se eles se sentem capacitados para realizar essa atividade que
será realizada através da coleta de informações por meio da aplicação de um
questionário estruturado e uma entrevista não estruturada com informações acerca do
perfil sociodemográfico, idade, sexo, formação, tempo de formação, experiência com
atividades de educação em saúde, tipos de atividades que realizam, possível
existência de dificuldades/potencialidades. O local para realização será tranquilo, e o
horário será agendado, previamente, na unidade de saúde. Após realização das
entrevistas, será realizado, com agendamento prévio, o acompanhamento das VD
realizadas pelas equipes de saúde durante o período de estudo. As visitas serão
realizadas em um turno por semana para cada equipe da ESF.
A seleção dos adolescentes a serem acompanhados será realizada mediante os
seguintes critérios de inclusão: adolescentes de 10 a 19 anos (OMS, 2008) que vivem
em famílias acompanhadas em domicílio pela equipe de saúde da família; e/ou
adolescentes em situação de vulnerabilidade/risco identificados pelos agentes
comunitários de saúde, profissionais da equipe ou qualquer membro da comunidade.
Como critérios de exclusão durante VD, não serão incluídos aqueles adolescentes
que, no momento das visitas, não estiverem presentes, não aceitarem a presença do
profissional de saúde ou oferecer risco para a pesquisadora.
O acompanhamento da VD será realizado pela pesquisadora, por meio de uma lista
de verificação contemplando os seguintes pontos: preparação do profissional para
visita com material educativo; forma de tratamento do profissional em relação ao
adolescente; investigação sobre alterações psicoemocionais e uso de drogas;
investigação sobre projeto de vida; orientação sobre métodos contraceptivos e ao
sexo seguro. O intuito deste acompanhamento é observar na prática do profissional
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de saúde como é conduzida a VD junto à família com membro adolescente, com foco
principalmente nas ações de educação em saúde.
Todas as atividades da pesquisa serão registradas em diário de campo. Nele
constam as informações que não estão nas entrevistas, como comportamentos,
conversas informais, hábitos, usos, costumes, entre outros de forma a registrar fatos,
fenômenos e atitudes percebidos durante a pesquisa.
Estou ciente de que o benefício deste estudo esta na possibilidade de produção de
novos conhecimentos acerca de temas relacionados à educação em saúde,
sexualidade e à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, drogas ilícitas e
gravidez precoce.
Estou ciente de que a pesquisa será realizada em meu domicílio. Foi -me esclarecido
que minhas respostas irão ajudar os profissionais de saúde a promoverem um
cuidado mais adequado às adolescentes de minha idade nos assuntos que envolvem
os riscos à saúde.
Estou ciente de que poderei recusar a continuar participando e, também, que eu
poderei retirar este meu consentimento, sem que isso me traga qualquer penalidade
ou prejuízo. A pesquisadora também me esclareceu que sempre que eu desejar
serão fornecidos esclarecimentos sobre cada uma das etapas do estudo e que para
isso não haverá qualquer custo, gastos e também não receberei qualquer tipo de
pagamento;
Também me foi esclarecido que as informações conseguidas através da minha
participação não permitirão a identificação da minha pessoa, exceto aos
responsáveis pelo estudo, e que a divulgação das mencionadas informações só será
feita entre os profissionais estudiosos do assunto.
Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado
sobre a minha participação no mencionado estudo e estando consciente dos meus
direitos, das minhas responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que a minha
participação implicam, concordo em dele participar e para isso eu DOU O MEU
ASSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO FORÇADO (A) OU
OBRIGADO (A).
Contato para dúvidas
Se você ou os responsáveis por você tiver(em) dúvidas com relação ao estudo,
direitos do participante, ou no caso de riscos relacionados ao estudo, você deve
contatar o(a) Investigador(a) do estudo Ivana dos Santos Fonseca, telefone fixo (85)
34525714 e celular(85) 88048301. Se você tiver dúvidas sobre seus direitos como
um paciente de pesquisa, você pode contatar o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos (CEP) do Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Ceará,
pelo telefone (85) 33668344. O CEP é constituído por um grupo de profissionais de
diversas áreas, com conhecimentos científicos e não científicos que realizam a
revisão ética inicial e continuada da pesquisa para mantê-lo seguro e proteger seus
direitos.
102
DECLARAÇÃO DE ASSENTIMENTO DO PACIENTE:
Eu li e discuti com o investigador responsável pelo presente estudo os detalhes
descritos neste documento. Entendo que eu sou livre para aceitar ou recusar, e que
posso interromper a minha participação a qualquer momento sem dar uma razão. Eu
concordo que os dados coletados para o estudo sejam usados para o propósito acima
descrito.
Eu entendi a informação apresentada neste TERMO DE ASSENTIMENTO. Eu tive a
oportunidade para fazer perguntas e todas as minhas perguntas foram respondidas.
Eu receberei uma cópia assinada e datada deste Documento DE ASSENTIMENTO
INFORMADO.
_______________________________________________________________
NOME DO ADOLESCENTE ASSINATURA DATA
NOME DO INVESTIGADOR ASSINATURA DATA
103
ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP.
104
105