UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ REDE NORDESTE DE SAÚDE DA ... · realidade da atenção à saúde...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ REDE NORDESTE DE SAÚDE DA FAMILIA - RENASF MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA IVANA DOS SANTOS FONSECA EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A VISITA DOMICILIÁRIA AO ADOLESCENTE: PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA FORTALEZA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

REDE NORDESTE DE SAÚDE DA FAMILIA - RENASF

MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

IVANA DOS SANTOS FONSECA

EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A VISITA DOMICILIÁRIA AO ADOLESCENTE:

PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

FORTALEZA

2014

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IVANA DOS SANTOS FONSECA

EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A VISITA DOMICILIÁRIA AO ADOLESCENTE:

PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Curso de Mestrado Profissional em Saúde

da Família da Universidade Federal do

Ceará, como requisito parcial para a

obtenção de título de Mestre em Saúde da

Família.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª. Fabiane do

Amaral Gubert.

FORTALEZA

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências da Saúde

F744e Fonseca, Ivana dos Santos.

Educação em saúde e a visita domiciliária ao adolescente: percepção de profissionais

da estratégia saúde da família. / Ivana dos Santos Fonseca. – 2014.

105 f.: il. color., enc.; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Rede Nordeste de Saúde da Família

(RENASF), Mestrado Profissional em Saúde da Família, 2014.

Área de Concentração: Saúde da Família.

Orientação: Profa. Dra. Fabiane do Amaral Gubert.

1. Educação em Saúde. 2. Adolescente. 3. Visita Domiciliar. 4. Promoção da Saúde. 5.

Violência. 6. Capacitação. I. Título.

CDD 610.7

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IVANA DOS SANTOS FONSECA

EDUCAÇÃO EM SAÚDE E A VISITA DOMICILIÁRIA AO ADOLESCENTE:

PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Projeto de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-graduação em Saúde da Família

e Comunidade da Universidade Federal do Ceará, como exame de conhecimentos

para desenvolvimento de Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Rede da

Fundação Osvaldo Cruz.

Aprovada em: 06/02/2014

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Prof.ª Dr.ª Fabiane do Amaral Gubert (Orientador)

Universidade Federal do Ceará – UFC

_____________________________________

Prof.ª Dr.ª Neiva Francenely Cunha Vieira (Membro Efetivo)

Universidade Federal do Ceará – UFC

____________________________________

Prof.ª Dr.ª Eveline Pinheiro Beserra (Membro Efetivo)

Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza - FAMETRO

____________________________________

Prof.ª Dr.ª Mariana Cavalcante Martins (Membro suplente)

Universidade Federal do Ceará – UFC

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À minha família, destacando minha mãe

Ana Maria dos Santos Fonseca e minha

irmã Ticiana dos Santos Fonseca, pela

presença e preocupação com minhas

lutas.

Ao meu marido, Marcelo Carlos, e a meu

filho João Marcelo Fonseca Moreira de

Souza, que ainda está no meu ventre.

Juntos alimentam meus sonhos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que sei que está sempre ao meu lado e que não me deixa desistir

mesmo diante de tantas dificuldades.

À minha orientadora Prof.ª Dr.ª Fabiane do Amaral Gubert por sua delicadeza

e incentivo, além de ampliar meu olhar sobre a saúde.

Às Prof.ªs Doutoras Neiva Francenely Cunha Vieira, Eveline Pinheiro Beserra,

Mariana Cavalcante Martins por aceitarem participar da banca examinadora e darem

contribuições ao maior aperfeiçoamento deste estudo.

Aos profissionais da Unidade de Saúde Doutor Hélio Góes Ferreira por

participarem da pesquisa e se mostrarem abertos a mudanças.

Às colegas de Mestrado Marília, Fabiana, Marise, Renata, Janete, Danielly,

Elainy, Krishna, Renata Chaves e demais colegas, pelo companheirismo e apoio.

À Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC e a todos

os funcionários.

À Prefeitura Municipal de Fortaleza pela oportunidade de mais um título de

pós- graduação.

E a todos os que contribuíram e torceram de alguma forma para esta

conquista.

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“O que nos impede na maioria das

vezes de ter o que queremos, de ser o que

sonhamos, de fazer o que pensamos e

aceitar com o coração, é a ousadia que não

cultivamos.”

(Clarice Lispector)

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RESUMO

A Visita Domiciliária (VD) é um cenário que permite tornar evidentes as relações sociais,

que podem fortalecer o potencial de saúde na família. No entanto, essas mesmas relações

podem contribuir no processo de adoecimento dos indivíduos, incluindo os adolescentes. Com

base no entendimento de seu papel como integrante da Estratégia Saúde da Família (ESF), os

trabalhadores de uma Unidade de Saúde, localizada na Regional VI em Fortaleza/CE, vêm

desenvolvendo diversas atividades educativas com grupos heterogêneos de usuários. Porém,

observou-se uma inquietação por parte destes profissionais devido à baixa adesão dos

adolescentes aos processos coletivos de construção do saber, além da falta de empoderamento

para cuidarem de si mesmos. A partir deste contexto o objetivo do estudo é compreender a

atividade de atenção à saúde do adolescente durante a VD na perspectiva do profissional da

ESF com enfoque na Educação em Saúde. Os objetivos específicos foram: conhecer a

realidade da atenção à saúde do adolescente no contexto da visita domiciliária e identificar

possíveis dificuldades e facilidades que possam existir na atenção ao adolescente durante a

VD. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa, realizado em

agosto a dezembro de 2013. Os instrumentos de coleta foram: entrevista semiestruturada com

os profissionais da equipe, lista de observação utilizada durante a VD e diário de campo. Os

agentes sociais da pesquisa foram 19 profissionais da ESF (12 Agentes Comunitários de

Saúde (ACS), 1 técnica de Enfermagem, 1 Cirurgiã-Dentista, 3 Enfermeiras, 2 Médicos). A

análise dos dados foi realizada mediante percurso analítico e sistemático. Resultados: sobre o

perfil dos trabalhadores, os ACS foram os mais contemplados com curso de capacitação

voltado para o adolescente. Mesmo entre esses profissionais, ficou clara a dificuldade que as

equipes têm em lidar com essa fase do ciclo vital. Os entrevistados, de forma livre, relataram

que se sentem co-responsáveis por não priorizar a atenção aos adolescentes e que, em parte,

isso, se deve à falta de capacitação durante sua formação acadêmica e profissional. Quando

se perguntou sobre a Educação em saúde voltada para o adolescente a escola foi citada como

ambiente mais propício para se realizar ações de educação em saúde. Alguns entrevistados

comentaram que a promoção da saúde por meio da visita domiciliária é um grande desafio em

qualquer fase do ciclo vital relacionado principalmente a violência. A proximidade com o

adolescente, que a visita domiciliária oportuniza, numa perspectiva que valorize suas

experiências, anseios e diferentes saberes articulados aos saberes dos profissionais da saúde e

da educação, torna o setor educação, além de importante na interface com a saúde, um

potencial parceiro, na construção de ideias e práticas interligadas e efetivas. Considera-se que

as visitas domiciliárias realizadas pela equipe de saúde ao adolescente podem ser uma

alternativa de espaço que deve ser valorizada para a implementação de estratégias educativas

adequadas à realidade da comunidade, bem como fortalecer o vínculo junto a esta população a

fim de acessarem mais os serviços de saúde. A relevância do estudo, a partir dessa realidade,

encontra-se no fortalecimento da relação entre usuário do SUS e equipe multiprofissional sob

uma ótica educativa, realizada por meio da VD, a qual tem possibilidade de ser direcionada

além do cuidado aos usuários acamados, mas principalmente como espaço para realização de

atividades de Educação em Saúde envolvendo o cenário familiar.

Palavras-chave: Educação em Saúde. Visita Domiciliária. Adolescente.

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ABSTRACT

The home visit (VD) is a scenario that helps make evident the social relations that

can strengthen the potential health or even contribute to the disease process of

individuals. This approach allows revisiting the practice to construct a protocol with

the participation of different actors involved in the home visit. It is also considered

relevant to think the training of professionals, especially in building skills to work an

approach and actions in familiar space as communication in the different phases of

the life cycle. Based on the understanding of their role as a member of the Family

Health Strategy, workers CSF Helium Goes Ferreira, located in the Regional VI in

Fortaleza (CE), are developing various educational activities with heterogeneous

groups of people residing in Sapiranga and nearby neighborhood. However, it has

been observed uneasiness on the part of these workers due to poor adherence of

adolescents to participate in these collective processes of knowledge construction

and the lack of empowerment to take care of them. The overall objective of the study

was to understand the activity of adolescent Health Care during VD from the

perspective of professional FHS with a focus on Health Education and were specific:

to know the reality of attention to adolescent health in the context of home visits and

identify potential difficulties and facilities which may exist in adolescent attention

during VD. This was an exploratory descriptive qualitative study, in the period

August to December 2013. The social workers in the study were 19 professionals

FHS ( 12 Community Health Workers, Nursing Technician 1, 1 Dental Surgeon, 3

Nurses, Doctors 2 ) working in the Health Unit Doctor Goes Helio Ferreira . The

information processing was performed according to Minayo (2012) in an analytical

and systematic pattern. The ACS 's were the most awarded training course geared for

the teen . Even among these professionals, it became clear that teams have difficulty

in dealing with this clientele. Respondents , free form repor ted that they feel co-

responsible for not prioritizing attention to adolescents and that part of it is due to

lack of training during their academic and professional training . When asked about

health education geared to teenagers, many professionals said the school is the most

conducive environment to conduct this activity in order to best reach adolescents.

Some respondents said they do health promotion for any group, including teenagers,

through home visits, is a major challenge due to the difficulty of all that may involve

this process, even when violence is present. The proximity to the teenager, the home

visit provides an opportunity, a perspective that takes into account their experience,

their aspirations and their different articulated knowledge with knowledge of the

professional health and education, makes the education sector, as well as important

in interface with health a potential partner in the construction of ideas and

interconnected and more effective practices. We believe that home visits pe rformed

by healthcare adolescents may be an alternative space that can be valued for the

implementation of appropriate educational strategies reality of the community. The

relevance of the work was to strengthen the relationship between user and SUS

multidisciplinary team in an educational viewpoint, held by RV, which is likely to be

directed to the care of users unable to go to the Health Unit both, but mainly as space

for conducting health education activities involving the whole family.

Key words: Education Health. Home visit. Teenager.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 -

Figura 2 -

Figura 3 -

Mapa das Secretarias Executivas Regionais (SERs) do município

de Fortaleza/CE.........................................................................

Quadro esquemático dos principais resultados do estudo,

Fortaleza, 2014..........................................................................

Apresentação das principais considerações finais do estudo,

Fortaleza, 2014.......................................... ................................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS - Agentes Comunitários da Saúde

AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida / Acquired Immunodeficiency

Syndrome

APS - Atenção Primária à Saúde

CAPS - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas

CE - Ceará

CPMMF - Comitê de Prevenção da Mortalidade Materna de Fortaleza

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CSF - Centros de Saúde da Família

DM - Diabetes Mellitus

DST - Doença Sexualmente Transmissível

ES - Educação em Saúde

ESF - Equipes de Saúde da Família

ESF - Estratégia Saúde da Família

HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana / Human Immunodeficiency Virus

IBGE - Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia

ILANUD - Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito

e Tratamento do Delinquente

MS - Ministério da Saúde

NASF - Núcleo de Apoio à Saúde da Família

OMS - Organização Mundial da Saúde

PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PACS - Programa Nacional de Agentes de Saúde

PMAQ - Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica

PNAB - Política Nacional de Atenção Básica

PNAISAJ - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens

POF - Pesquisa de Orçamento Familiar

PROSAD - Programa Saúde do Adolescente

PSE - Programa Saúde na Escola

PSF - Programa de Saúde da Família

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SERs - Secretarias Executivas Regionais

SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica

SINASC - Sistema de Informação de Nascidos Vivos

SUS - Sistema Único de Saúde

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFC - Universidade Federal do Ceará

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

VD - Visita Domiciliária

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................

1.1 Contato da pesquisadora com a temática .................................................

1.2 Contextualizando o objeto de estudo ........................................................

2 OBJETIVOS................................................................................................

3 ESTADO DA ARTE....................................................................................

3.1 Atenção primária à saúde: possibilidades para o cuidado na família ......

3.2 Educação em saúde e visita domiciliária: estratégia para a promoção

da saúde.........................................................................................................

3.3 Saúde do adolescente: uma fase de oportunidades / desafios ...................

4 METODOLOGIA....................................................... .................................

4.1 Tipo de estudo..........................................................................................

4.2 Cenário do estudo.....................................................................................

4.3 Agentes sociais da pesquisa......................................................................

4.4 Procedimentos para coleta de informações ..............................................

4.5 Análise e interpretação de dados ..............................................................

4.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa .........................................................

5 RESULTADOS............................................................................................

5.1 Caracterização dos trabalhadores da saúde do estudo ............................

5.2 Educação em saúde e visita domiciliária: concepções e práticas .............

5.3 Introdução da educação em saúde na família com enfoque no

adolescente.......................................... ...........................................................

5.4 Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente .............

5.5 Visita a um adolescente da área: experiência no território .....................

6 DISCUSSÃO................................................................................................

6.1 Caracterização dos trabalhadores da saúde do estudo ............................

6.2 Educação em saúde e visita domiciliária: concepções e práticas .............

6.3 Introdução da Educação em Saúde na família com enfoque no

adolescente......................................................................................................

6.4 Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente durante

a visita domiciliária........................................................................................

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................

REFERÊNCIAS......................................... .................................................

APÊNDICE A - Questionário para os profissionais da ESF..........................

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................

APÊNDICE C - Instrumento de reconhecimento da qualidade visita ao(a)

adolescente......................................................................................................

APÊNDICE D - Termo de consentimento livre e esclarecido para o

responsável pelo (a) adolescente .....................................................................

APÊNDICE E - Termo de assentimento informado livre e esclarecido .........

ANEXO A – Parecer consubstanciado do CEP..............................................

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Contato da pesquisadora com a temática

O interesse pela atuação na Estratégia Saúde da Família (ESF) surgiu após a

conclusão do Curso de Odontologia na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde

me inseri na ESF do município de Aracoiaba/CE em 2001, ano em que foi inserido o

odontólogo na ESF no Brasil. Após esse período, participei da ESF em mais dois

municípios do Ceará, através de concurso público. Em 2006, tornei -me servidora

pública na ESF do município de Fortaleza, onde permaneço até os dias atuais.

A experiência adquirida, em conjunto com outros trabalhadores da saúde

durante minha jornada profissional, com destaque para o Município de Fortaleza,

aproximou-me de uma comunidade, localizada na Regional VI. A comunidade é

permeada por contraste socioeconômicos. Existem moradores do bairro com boas

condições financeiras, mas outros convivem de perto com o tráfico de drogas, a

violência, a pobreza e poucas opções de lazer. No entanto, a maior luta da

comunidade é por saneamento básico.

Um grave problema encontrado na localidade é o grande número de

adolescentes grávidas e usuários de drogas. Diante desta situação, as equipes da ESF

constantemente, abordam os adolescentes em situação de vulnerabilidade em escolas

e na própria comunidade através de atividades educativas. Infelizmente, é baixa a

adesão das adolescentes às atividades educativas, o que já provocou a extinção de

várias tentativas de formação de um grupo permanente de adolescentes , seja na

unidade de saúde, seja no cenário escolar ou na própria comunidade.

Diante do perfil dessa população e das tentativas mal sucedidas de realização de

atividades de educação em saúde para a prevenção de agravos na adolescência,

despertou-me o desejo de aprofundar o tema a partir do olhar da visita domiciliária.

1.2 Contextualizando o objeto de estudo

A Estratégia de Saúde da Família (ESF) surgiu com o intuito de reorganizar o

sistema de serviços em saúde, segundo a Política Nacional de Atenção Básica

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(PNAB). Possui princípios baseados no foco da família e na orientação comunitária.

Seus objetivos, entre outros, são: intervir nos fatores de riscos aos quais a população

está exposta; promover atividades de educação e promoção da saúde; e melhorar o

autocuidado dos indivíduos com foco na atenção à família (BRASIL, 2009).

A promoção da saúde é trabalhada com ênfase nos campos do reforço da ação

comunitária que consiste no processo de empoderamento das pessoas para gerar

mudanças nos determinantes sociais da saúde comunitária por meio da mobilização

coletiva; e no campo do desenvolvimento de habilidades pessoais que é a capacitação

das pessoas para se prepararem para as diversas fases da vida, incluindo o

enfrentamento de enfermidades crônicas e as causas externas que afetam a saúde

(BRASIL, 2009).

Atualmente a ESF é composta por uma equipe multiprofissional, com um

médico generalista, ou médico da família; um enfermeiro; de um a dois auxiliares de

enfermagem; quatro a seis Agentes Comunitários da Saúde (ACS); um cirurgião

dentista; um auxiliar de consultório dentário e um técnico em higiene bucal. Estes

devem acompanhar cerca de 4.000 habitantes, com um máximo de 750 pessoas por

ACS (VECCHIA, 2006; PINTO, 2007).

Em relação às fases do ciclo vital trabalhadas na ESF, destaca-se o

atendimento aos adolescentes. A atenção a essa população é realizada com base em

programas coordenados pelo Ministério da Saúde, com destaque para o Programa

Saúde do Adolescente (PROSAD), criado pela Portaria do Ministério da Saúde nº

980/GM de 21/12/1989, que se fundamenta numa política de Promoção de Saúde, de

identificação de grupos de risco, detecção precoce dos agravos com tratamento

adequado e reabilitação, respeitadas as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS),

garantido pela Constituição Brasileira de 1988 (BRASIL, 1989).

Há alguns anos, a adolescência era considerada um período de menor risco

para o adoecimento e a morte. No entanto, nas duas últimas décadas, observou-se um

aumento da morbimortalidade nesse grupo populacional. De um lado, pesquisas

científicas têm revelado que várias alterações orgânicas advindas de hábitos de vida

pouco saudáveis já estão instaladas nesse momento da vida, constituindo-se em

fatores de risco para doenças, principalmente na vida adulta. Os adolescentes têm

necessidades e expectativas peculiares, tendem a não valorizar sintomas que não

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sejam muito graves e que não sejam físicos e tendem a não aderir tanto às ações de

prevenção quanto às de tratamento (UNICEF, 2011).

Estudos demonstram que, na adolescência, a iniciação sexual precoce, a

multiplicidade de parceiros, a não adesão aos métodos contraceptivos e às medidas

de prevenção para a não aquisição das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs),

influenciados por um sistema de gênero que se pauta na dominação masculina, pela

curiosidade pelas drogas, bem como na necessidade de afirmação grupal, tornam os

adolescentes susceptíveis à aquisição de Doença Sexualmente Transmissível / Vírus

da Imunodeficiência Humana / Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

(DST/HIV/AIDS) e à gravidez precoce, sendo imprescindível que a prevenção, neste

grupo, mereça enfoque prioritário (XAVIER et al., 2011).

Nesse contexto, Taquete (2007) reflete acerca do impacto dos programas

governamentais que visam à redução da gravidez na adolescência, percebendo que

estes, mesmo com todo o investimento, parecem não estar sendo suficientes.

Questiona as estratégias focadas na orientação em sexualidade e no planejamento

familiar e nos precários e insuficientes investimentos sociais, educacionais e

culturais, de relevância fundamental, e que poderiam resultar num maior impacto na

redução da gravidez precoce. Para a autora é necessário promover novas estratégias

que vão ao encontro das necessidades dos adolescentes e que englobem sua família

também no espaço do território.

Considera-se que a gravidez precoce provém da multicausalidade. As ações

de prevenção devem considerar a perspectiva de vulnerabilidade, gênero, a

intersetorialidade e a rede sociofamiliar, com abordagem centrada na educação

sexual, transpondo o campo biomédico, considerando as subjetividades: valo res,

crenças, atitudes e desejos. Assim é, no bojo da família, que é possível favorecer a

diminuição do número de adolescentes grávidas e promover a saúde do adolescente.

O Ministério da Saúde reconhece a situação, quando refere que “essa

realidade multicausal revela deficiências na implantação de políticas públicas,

exigindo movimento do governo e da sociedade para promover a saúde e o

desenvolvimento da juventude” (BRASIL, 1999, p, 10).

Assim, dentre as estratégias que podem envolver a atenção à saúde do

adolescente, destaca-se a Educação em Saúde no contexto familiar por meio da Visita

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Domiciliária (VD) que tem como objetivo fortalecer a relação entre profissionais e

comunidade e é, normalmente, realizada quando o usuário está impossibilitado de ir à

Unidade de Saúde da Família. O profissional de saúde, durante a visita domiciliária,

tem a oportunidade de conhecer o ambiente em que o usuário vive e o tipo de

relações familiares que possui. Além disso, tem a possibilidade de atuar com foco na

ação comunitária.

Em relação ao termo visita domiciliar, é comum encontrar em estudos e

práticas cotidianas diversas nomenclaturas, porém, em pesquisas teóricas o termo

“visita domiciliária” se adapta melhor ao português, visto que domiciliar é um verbo

transitivo direto, significando dar domicílio a; recolher em domicílio; fixar

residência ou fixar domicílio, enquanto que domiciliário é um adjetivo relativo a

domicílio, feito no domicílio e cujo feminino é domiciliária . Portanto, utiliza-se o

termo visita domiciliária neste estudo, respeitando o outro termo já bastante

difundido na literatura e entre os profissionais da saúde (EGRY; FONSECA, 2000).

Visita Domiciliária (VD) é um dos instrumentos mais indicados à prestação de

assistência à saúde, ao indivíduo, à família, à comunidade e deve ter seus objetivos

definidos e pautados nos princípios de eficiência. A VD possibilita conhecer a

realidade da família, contribuindo para a diminuição de internações hospitalares,

além de fortalecer os vínculos entre a clientela e os profissionais de saúde envolvidos

nesse processo (OHARA; SAITO, 2008).

Durante a visita domiciliária os profissionais de saúde, dentre eles o

odontólogo, têm a possibilidade de reconhecer, identificar e diagnosticar as

necessidades da família que está acompanhando, e a partir de então, traçar estratégias

de intervenção e cuidado, adaptadas à realidade. Dentre as atividades desenvolvidas,

destaca-se a educação em saúde, com a finalidade de promover na família o

autocuidado. Nessa prática são realizadas orientações para diversas situações de

promoção à saúde: estímulo ao desenvolvimento infantil, ações de monitoramento e

ainda a identificação do cuidador (ABRAHÃO; LAGRANCE, 2007).

A ESF, em relação à saúde do adolescente, tem como uma de suas atribuições

desenvolver atividades de educação em saúde, uma vez que essa estratégia tem como

finalidade de promover modificações/transformações que primeiramente podem ser

individualizadas, mas que em longo prazo tendem a modificar positivamente o

contexto familiar, o ambiente e a comunidade.

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Dessa forma, acredita-se que a educação em saúde, atividade da promoção da

saúde, deve incorporar a participação de toda a população cotidianamente e não

apenas das pessoas que estão sob-risco de adoecer. Essa noção está baseada em um

conceito de saúde ampliado, considerado como um estado positivo e dinâmico de

busca de bem-estar, que integra os aspectos físico e mental (ausência de doença),

ambiental (ajustamento ao ambiente), pessoal/emocional (autorrealização pessoal e

afetiva) e socioecológico (comprometimento com a igualdade social e com a

preservação da natureza (SILVA et al., 2009).

Entretanto, a partir dessa noção ampliada de saúde, observando-se a prática,

verifica-se que atualmente persistem diversos modelos ou diferentes paradigmas de

educação em saúde, os quais condicionam diferentes práticas, muitas das quais

reducionistas, o que requer questionamentos e o alcance de perspectivas integradas

(SCHALL; STRUCHINER, 1999).

A educação em saúde ampliada inclui políticas públicas, ambientes

apropriados e reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos

e curativos, assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o

desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja

essência esteja na melhoria da qualidade de vida e na promoção do homem (MAIA,

2008).

Diante deste contexto, o cenário da família por meio das visitas domiciliárias

deve ser valorizado como espaço promotor da saúde da família e da comunidade. Por

isso, deve ser mais bem explorado pelos profissionais da equipe de saúde que atuam

na saúde do adolescente.

A Educação em Saúde é inerente a todas as práticas desenvolvidas no âmbito

do SUS. Como prática transversal proporciona a articulação entre todos os níveis de

gestão do sistema, representando dispositivo essencial tanto para a formulação da

política de saúde de forma compartilhada quanto para as ações que acontecem na

relação direta dos serviços com os usuários (BRASIL, 2007).

O trabalho de Educação em saúde realizado no ambiente domiciliar permite ao

profissional conhecer a realidade e adentrar a subjetividade do adolescente, o que vai

ao encontro dos objetivos da visita. A compreensão do espaço domicili ar proporciona

um olhar sobre as diferentes dimensões do cuidado familiar e relação com o

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adolescente e jovem, assim, promove um cuidado individualizado. Portanto, a

captação da dimensão singular da família subsidia intervenções voltadas às suas

necessidades reais. Desse modo, o domicílio é considerado espaço especial de

desenvolvimento das ações de promoção da saúde e prevenção das doenças

(ABRAHÃO; LAGRANCE, 2007).

Ao mesmo tempo, a VD é um cenário que permite tornar evidentes as relações

sociais que podem fortalecer o potencial de saúde. Essas mesmas relações sociais

também podem contribuir com o processo de adoecimento dos indivíduos. Esse olhar

permite rediscutir a prática para a construção de um protocolo com a participação dos

diferentes atores envolvidos na visita domiciliária.

Baseados no entendimento de seu papel como integrantes da Estratégia Saúde

da Família, os trabalhadores de uma Unidade de Saúde localizada na Regional VI em

Fortaleza/CE, vêm desenvolvendo diversas atividades educativas com grupos

heterogêneos de pessoas do bairro e das proximidades. Porém, tem-se observado uma

inquietação por parte desses trabalhadores devido à baixa adesão dos adolescentes

em participar dos processos coletivos de construção do saber, além da falta de

empoderamento para cuidarem de si mesmos. Considera-se que as visitas

domiciliárias realizadas pela equipe de saúde ao adolescente podem ser uma

alternativa de espaço que pode ser valorizada para a implementação de estratégias

educativas adequadas à realidade da comunidade.

A relevância do trabalho é fortalecer a relação entre usuário do SUS e equipe

multiprofissional sob uma ótica educativa, realizada por meio da VD, a qual tem

possibilidade de ser direcionado tanto para o cuidado de usuários impossibilitados de

ir à Unidade de Saúde (US) quanto e principalmente como espaço para realização de

atividades de Educação em Saúde envolvendo toda a família, em especial os

adolescentes. Com isso, acredita-se que os profissionais devem, acima de tudo,

possuir conhecimento adequado do ambiente em que seus usuários vivem e convivem

para que estes desenvolvam o autocuidado.

Além disso, a visita domiciliária pode ser considerada uma parte importante

do processo de trabalho em saúde na ESF, pois reúne pelo menos três tecnologias

leves a serem aprendidas e desenvolvidas: a observação, que indica a atenção aos

detalhes dos fatos e relatos apresentados durante a visita; a entrevista, que implica o

diálogo com a sua devida finalidade e não apenas uma conversa empírica; e o relato

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oral ou história, espaço onde as pessoas revelam como dão sentido às suas vidas,

dentro dos limites e da liberdade que lhes são concedidos (MERHY; ONOKO, 2007).

Apesar disso, nem sempre os profissionais de saúde utilizam a VD como

espaço promotor da saúde, e sim, como atividade de cuidado pontual ou pautada em

atividades individuais curativas. Em vista do exposto, lança-se a seguinte questão

norteadora do estudo: Qual a percepção dos membros da ESF sobre a atenção à

Saúde do adolescente na VD com ênfase na Educação em Saúde? Qual a opinião

desses profissionais sobre sua necessidade de capacitação para levar educação em

saúde ao adolescente durante a VD?

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20

2 OBJETIVOS

- Compreender a percepção dos profissionais da ESF sobre a visita

domiciliária com enfoque no adolescente;

- Identificar dificuldades ou facilidades que possam existir na atenção ao

adolescente durante a VD.

- Relatar a experiência de realização de uma visita domiciliária a um

adolescente do território.

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21

3 ESTADO DA ARTE

O estado da arte procura identificar as restrições do campo onde se processa a

pesquisa, as lacunas de sua disseminação, identificar as experiências inovadoras

investigadas que buscam solucionar os problemas da prática e busca reconhecer as

contribuições da pesquisa na constituição de propostas para a área focalizada. Pode

ser uma contribuição significativa na constituição do campo teóri co de uma área de

conhecimento (ANDRE; ROMANOWSKI, 1999).

Segundo Soares (1989, p. 04), num estado da arte é necessário considerar

“categorias que identifiquem, em cada texto, e no conjunto deles as facetas sobre as

quais o fenômeno vem sendo analisado.”

Os estudos de estado da arte que têm como foco a sistematização da produção

numa determinada área do conhecimento são fundamentais para apreender a

dimensão do que vem sendo produzido.

3.1 Atenção Primária à Saúde: possibilidades para o cuidado na família

O termo “atenção primária” começou a ser propagado a partir do Relatório

Dawson, elaborado pelo Ministério da Saúde do Reino Unido, que em 1920 o

associou à ideia de regionalização e hierarquização dos cuidados (CONILL, 2008).

A Atenção Primária à Saúde (APS) surge como estratégia para orientar a

organização do sistema de saúde e responder as necessidades da população. A boa

organização dos serviços de APS contribui para a melhoria da atenção com impactos

positivos na saúde da população e na eficiência do sistema (MACINKO et al., 2003).

O conceito estabelecido como consenso mundial, em 1978, destacou elementos

que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estava empenhada em difundir naquele

momento: integração dos serviços locais num sistema nacional, participação,

necessidade de ações intersetoriais e a relação da saúde com o desenvolvimento

econômico e social.

Na América Latina, nos anos 80 do século XX, a atenção primária foi

implementada como um pacote de serviços mínimos, em geral de baixa qualidade

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22

(WHO, 2008).

Já no Brasil, a partir da década de 70, surgiram diversas iniciativas visando a

ampliar as práticas nos centros de saúde que eram normalmente frequentados pela

população mais carente. Nos anos 90, com a regulamentação do Sistema Único de

Saúde baseada na universalidade, equidade e integralidade e nas diretrizes

organizacionais de descentralização e participação social, para diferenciar -se da

concepção seletiva de APS, passou-se a usar o termo Atenção Básica em Saúde,

definida como ações individuais e coletivas situadas no pr imeiro nível e voltadas, à

promoção da saúde, à prevenção de agravos, ao tratamento e à reabilitação

(GIOVABELLA et al., 2009).

No contexto de debates sobre a influência da economia e de fatores sociais na

saúde das pessoas, inicia-se o Movimento Internacional de Promoção da Saúde, no

qual se estabeleceram as bases para uma nova visão oficializada inicialmente pela

Conferência de Alma-Ata (1978), com o tema “Saúde para todos no ano 2000”.

Em relação à educação em saúde, a Primeira Conferência Nacional de Saúde

1981, no Canadá, já destacava o contexto social como determinante da saúde visto

que influenciava o comportamento das pessoas. Assim a Educação em Saúde poderia

atuar na qualidade de vida e mudança de hábitos (BRASIL, 2001).

Na Carta de Ottawa, em 1986, a visão do processo educativo fica evidente

quando reconhece as pessoas como principal recurso para a saúde e que se deve

apoiá-las e capacitá-las para que mantenham saudáveis a si próprias, os seus

familiares e os seus amigos. Essa realidade também é vista na segunda Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde em 1988, a Declaração de Adelaide, a qual

destaca a ação comunitária como ponto central de políticas de saúde. Levando-se em

consideração o nível de educação da população, devem ser feitos esforços para

informar aos grupos que deverão se beneficiar dessas políticas públicas (BRASIL,

2001).

Em 1991, acontece a Terceira Conferência Internacional de Promoção da

Saúde em Sundsvall, na Suécia. Essa Conferência destacou estratégias fundamentais

para as ações em saúde pública ligadas ao empoderamento das pessoas sobre sua

própria saúde, visando obter ambientes saudáveis. Destaca-se a capacitação podemos

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realçar a capacitação da comunidade e dos indivíduos para que estes tenham o maior

controle sobre sua saúde através da Educação (BRASIL, 2001).

A Conferência Internacional sobre de Promoção da Saúde, em 1992, em Santa

Fé de Bogotá, na Colômbia, enfatiza a promoção da saúde através da participação

ativa das pessoas na mudança das condições sanitárias e na maneira de viver de

acordo com uma cultura de saúde(BRASIL, 2001).

A Quarta Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em 1997, em

Jacarta se preocupa com a promoção da Saúde do século XXI e deixa claro que

aprender sobre saúde fomenta a participação e que se devem acumular conhecimentos

sobre as melhores práticas e facilitar o aprendizado compartilhado (BRASIL, 2001).

A Declaração do México, na Quinta Conferência Internacional Sobre

Promoção da Saúde, em 2000, concluiu que a Promoção da Saúde é um componente

fundamental nas políticas e nos programas públicos em todos os países para se

conseguir equidade e mais saúde para todos (DECLARAÇÃO DO MÉXCIO, 2000).

Percebe-se que todas as conferências se referem ao compromisso de promoção

da saúde por meio da divulgação de informações para a população e do estímulo ao

autocuidado e da participação ativa das pessoas para a mudança das condições

sanitárias, o que remete à oportunidade que a visita domiciliária tem de cumprir esse

compromisso, quando o profissional da saúde se utiliza desse espaço para falar sobre

qualidade de vida.

Paralelamente a esse contexto de luta por mudanças na maneira de se fazer

saúde em todo o mundo, no Brasil os movimentos sociais ganharam força. Houve a

redemocratização da sociedade e, através dela, a reforma sanitária. O Sistema Único

de Saúde (SUS) surgiu após estes movimentos de articulação de outras políticas

públicas com o setor da saúde, estimulando a intersetorialidade (CUNHA, J.;

CUNHA, R., 1998).

O SUS veio da insatisfação e do descontentamento em relação aos direitos de

cidadania, da falta de acesso, da escassez de serviços e da forma de organização do

sistema de saúde. Em 1988, a Constituição Federal determinou ser dever do Estado

garantir saúde a todos. Criou-se o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o Congresso

Nacional aprovou a Lei Orgânica da Saúde, que detalha o funcionamento do Sistema.

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24

Portanto, o SUS resultou de um processo de lutas, mobilização, participação e

esforços desenvolvidos por vários setores da sociedade (CAMPOS, 2006).

O SUS é definido dessa forma porque segue a mesma doutrina e os mesmos

princípios organizativos em todo o Território Nacional, sob a responsabilidade das

três esferas do governo: federal, estadual e municipal. É um sistema que significa um

conjunto de serviços e ações que interagem para um fim comum. Esses elementos

integrantes do sistema se referem, ao mesmo tempo, às atividades de promoção,

proteção e recuperação da saúde tão presente na Estratégia Saúde da Família

(CAMPOS, 2006).

A Estratégia de Saúde da Família surgiu como um programa para se conseguir

a reversão do sistema assistencial que predominava o atendimento de emergência aos

pacientes. No Ceará, uma das experiências mais consolidadas resultou na diminuição

da mortalidade infantil e materna, o que contribuiu com a implantação do Programa

Nacional de Agentes de Saúde (PACS) e da Estratégia Saúde da Família (GIL, 2006).

Já em 1991, o Ministério da Saúde (MS) iniciou a Implantação do PACS

através de convênios com estados e municípios com a finalidade de estender a

cobertura dos serviços de saúde em áreas pobres e desassistidas (ARAÚJO, 2014, on

line).

Em 1994, divulgou-se o primeiro documento pelo MS, o “PSF: saúde dentro

de casa”, que estimulava a promoção de mudanças no atual modelo de assistência à

saúde do país que privilegiava a cura sobre a prevenção de doenças (BRASIL, 1994).

O objetivo do documento era melhorar o estado de saúde da comunidade, com

assistência à família, através da Atenção Integral oportuna e contínua, nos

domicílios, nos ambulatórios e nos hospitais. Inicialmente, fazia-se o cadastramento

das famílias em suas casas, averiguavam-se as condições de saúde e saneamento

básico. Já se afirmava a importância das visitas domiciliárias para uma maior

integração das famílias com as equipes de saúde e garantindo-se a permanente

proteção da saúde (BRASIL, 1994).

Outro documento “Saúde da Família: uma estratégia de organização dos

serviços de saúde” configura o PSF como um novo modelo estruturante, colocando a

família como objeto de atuação, entendida a partir do espaço em que vive, o

domicílio. Esse mesmo documento afirma que o domicílio deve ser entendido como

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um espaço-âncora, onde são construídas as relações intra e extrafamiliares, como a

luta pela sobrevivência, pela reprodução e por melhores condições de vida, além de

fatores que influenciam o processo de saúde-doença, como conflitos, saneamento e

instalações físicas (BRASIL, 1996).

Com a expansão desse programa, o governo emitiu a Portaria Nº 648, de 28 de

março de 2006, onde ficava estabelecido que o PSF é a estratégia prioritária do

Ministério da Saúde para organizar a Atenção Básica - que tem como um dos seus

fundamentos possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de

qualidade, reafirmando os princípios básicos do SUS: universalização, equidade,

descentralização, integralidade e participação da comunidade - mediante o

cadastramento e a vinculação dos usuários (BRASIL, 2006, on line).

Em 2011 a Portaria GM Nº 2.488/2011 revogou a Portaria GM Nº 648/2006 e

demais disposições em contrário ao estabelecer a revisão de diretrizes e normas para

a organização da Atenção Básica e aprovar a Política Nacional de Atenção Básica

para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e para o Programa de Agentes

Comunitários de Saúde (PACS) (BRASIL, 2011).

A ESF representa a descentralização do SUS. Por meio das equipes

multiprofissionais atua em práticas de saúde com integralidade para atender

populações delimitadas por áreas geográficas. A política de trabalho preconiza a

visão do ser humano de forma contextualizada às suas condições demográficas,

epidemiológicas, socioeconômicas, políticas e culturais para que as ações de saúde

sejam cada vez mais direcionadas e eficazes (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004).

Até o ano de 2011, foram implantadas 32.079 equipes de saúde da família em

6.284 municípios do Brasil, atendendo a cerca de 50% da população. As equipes de

saúde bucal somaram 21.038 em 4.847, enquanto os ACS foram 248.521 em 6.391

municípios brasileiros (BRASIL, 2012)

A partir de um diagnóstico comunitário aprofundado, após cadastramento das

famílias, pelas visitas domiciliárias e análise dos dados coletados, as atuações dos

profissionais que compõem essas equipes tendem a criar vínculo com o usuário e

fundamentam um trabalho sistematizado e contínuo. Esse trabalho vai muito além do

caráter curativista e flexneriano. Sob a visão de eliminação de doenças, preconizam

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26

um compromisso com a promoção da saúde e a qualidade de vida dessa comunidade

de acordo com sua realidade.

As equipes devem executar ações de vigilância em saúde, relacionadas ao

trabalho e ao ambiente dos cidadãos; realizar acolhimento humanizado; prest ar

atendimento de saúde; realizar visitas domiciliárias e criar espaços contínuos e

crescentes de atividades educativas. A ESF se propõe a trabalhar com o princípio da

vigilância em saúde, apresentando uma característica de atuação inter e

multidisciplinar apoiado na educação em saúde e na responsabilidade integral pela a

população que reside na área de abrangência de suas unidades de saúde (BRASIL,

1997).

3.2 Educação em saúde e a visita domiciliária: estratégia para promoção da

saúde

Freire (2004, p.25) afirma que “ensinar não é transferir conhecimentos, mas

criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção .” Ou seja, não

é dizer o que tem que ser feito, mas estimular o senso crítico dos cidadãos e o

empoderamento sobre suas escolhas.

O educador em saúde deve objetivar a qualidade da informação, sua recepção,

sua forma e o quanto é compreendida pela população, traçando estratégias de ensino

que resultem em ações transformadoras por parte dos cidadãos. O autocuidado se

inicia pela conscientização, lembrando-se de que cada indivíduo possui um ritmo

para aprender, compreender e pôr em prática as orientações. Por conseguinte, o

cidadão pode vir a estabelecer adaptações para o seu cotidiano (SILVA, 2005) .

A educação em saúde no Brasil se refere às medidas preventivas e curativas

que visam à obtenção da saúde e ao enfrentamento das doenças num primeiro plano

e, no segundo, as estratégias da promoção da saúde objetivam a construção social da

saúde e do bem-estar (GUEDES et al., 2004).

A educação em saúde no Brasil se refere às medidas preventivas presente em

todas as práticas desenvolvidas pelo SUS. Ela pode e deve ser aplicadas em qualquer

ambiente onde são executadas as atividades profissionais de cuidado, como

enfermarias, consultórios, salas de aula, grupos terapêuticos, unidades de saúde,

salas de espera e em domicílio, desde que haja um propósito e o ambiente propício. A

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Educação em Saúde deve estimular a participação social, logo, “deve estar presente

nos processos de educação permanente para o controle social, na mobilização em

defesa do SUS e como tema relevante para os movimentos sociais que lutam em prol

de uma vida digna” (BRASIL, 2007a, on line).

Para tanto:

É necessário o desenvolvimento de ações de educação em saúde numa

perspectiva dialógica, emancipadora, participativa, criativa e que contribua

para a autonomia do usuário, no que diz respeito à sua condição de sujeito

de direitos e autor de sua trajetória de saúde e doença; e autonomia dos

profissionais diante da possibilidade de reinventar modos de cuidado mais

humanizados, compartilhados e integrais (BRASIL, 2007a, on line).

O profissional da saúde deve possuir um olhar holístico e analítico sobre as

necessidades de saúde da comunidade; e, sobretudo, estar envolvido com o sujeito e

grupos. Como os profissionais de saúde trabalham em equipe, ressalta -se a

interdisciplinaridade, ao lidar com fatores ligados aos usuários que determinam seu

estado de saúde: ambiente, biologia humana, estilo de vida e a própria organização

dos serviços de saúde (FREIRE, 2004)

Ao entrar no ambiente domiciliar, a equipe da ESF tem uma melhor visão

sobre o ambiente, o estilo de vida, os hábitos e as relações dos usuários, o que

contribui para uma abordagem sobre educação em saúde específica do domicílio

visitado (BRASIL, 2012)

A política do setor da saúde, principalmente no momento histórico atual, está

retornando sua atenção para a família no contexto domiciliar, reconhecendo-o como

um importante campo de atuação para os profissionais da saúde. Compreende-se ser

esta uma possibilidade de estreitar os vínculos e favorecer a responsabilidade social e

política dos profissionais envolvidos com o cuidado em saúde, pois é no “cuidado

domiciliar que se encontra a essência do ser humano” (LACERDA ; OLINISK, 2004)

A atenção domiciliária é um termo usado para definir as ações de promoção da

saúde, de tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidas em domicílio,

realizadas por qualquer profissional com vários objetivos. As atividades em

domicílios existem há tempos, como por exemplo, as campanhas sanitaristas de

Osvaldo Cruz que entravam nas casas para vacinar as pessoas mesmo sem

autorização destas (ANVISA, 2006).

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Nessa perspectiva, o cuidado domiciliar é uma das maneiras pelas quais os

profissionais podem cuidar tanto em situações de promoção e prevenção como no

apoio e na terapêutica de doenças. A presença de doença, nesse espaço, constitui-se,

de outro modo, uma ruptura e/ou uma nova possibilidade de organização/

reorganização do grupo familiar. Além das incertezas da sobrecarga física, emocional

e financeira, o impacto da doença gera mecanismos de defesa nem sempre favoráveis.

O papel preponderante do profissional cuidador consiste em envolver as

pessoas sob seu cuidado nas decisões e ajudá-las no enfrentamento de conflitos,

juntar esforços e assegurar uma atitude de confiança e reciprocidade. Além do mais,

é no domicílio que o profissional, por meio do compartilhamento e das trocas,

visualiza os possíveis riscos, as dificuldades ou as facilidades com vistas a

identificar respostas e elaborar um plano de cuidado condizente com a realidade

familiar e domiciliar (BACKES et al., 2006).

A modalidade de cuidado domiciliar confere, em última análise, uma posição

de destaque e autonomia ao profissional por exigir deste, a capacidade de

planejamento, encaminhamento, decisão, iniciativa e interatividade entre outras,

além de uma inserção social ética e comprometida com o ser humano (BACKES et

al., 2006).

As atividades dos profissionais da Estratégia Saúde da Família englobam,

entre outras, realizar o cuidado da saúde da população adscrita, prioritariamente no

âmbito da unidade de saúde, e quando necessário no domicílio; garantir a atenção à

saúde, buscando a integralidade por meio da realização de ações de promoção,

proteção e recuperação da saúde e prevenção de agravos e praticar cuidado familiar-

grifo nosso, e dirigido a coletividades e grupos sociais que visa propor intervenções

que influenciem os processos de saúde doença dos indivíduos, das famílias,

coletividades e da própria comunidade. Portanto, promover educação em saúde

durante a visita domiciliária é uma atividade de cuidado dentro das atribuições já

estabelecidas para os profissionais da Estratégia Saúde da Família (BRASIL, 1997).

Dentro das atribuições dos profissionais da Estratégia Saúde da Família está o

cuidado das famílias na sua área de abrangência com mais frequência na Unidade de

Saúde dentro daquele território. O agente comunitário de saúde (ACS), que faz parte

da ESF, trabalha, prioritariamente, realizando atividades de saúde dentro dos

domicílios das pessoas que estão sob sua responsabilidade (BRASIL, 2009).

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Porém, o Ministério da Saúde atribui a visita domiciliária como competência

para todos da equipe de Saúde da Família (BRASIL, 2013).

Diversas experiências práticas com ACS no Brasil são observadas desde a

década de 80 do século XX, com o Movimento da Medicina Comunitária e a

Conferência Internacional de Cuidados Primários de Saúde em Alma-Ata. Os ACS,

que eram pessoas da comunidade assistida, realizavam atividades de orientação sobre

prevenção de doenças, utilização de remédios caseiros e atendimentos em geral sobre

doenças mais comuns ao ambiente.

Nas diversas instâncias ligadas à ESF, seja acadêmica, oficial ou na prática

cotidiana, existem contradições e diferenças na forma de abordar a família, podendo

dificultar a integralidade da saúde. Normalmente, a abordagem é feita de forma

parcial, para apenas alguns indivíduos ou representantes presentes no momento da

visita domiciliária (RIBEIRO, 2004).

Takahashi e Oliveira (2001) complementam que a visita domiciliária só se

configura como intervenção quando planejada e sistematizada. Se não, será apenas

uma atividade social.

É frequente a atenção e o planejamento dos profissionais de saúde voltados

para a população em geral e alguns grupos específicos como a criança, o idoso e a

gestante. Muitas vezes o público adolescente é esquecido sendo favorecido apenas no

contexto das ações programáticas, como planejamento familiar, pré-natal e prevenção

do câncer de colo de útero (BRASIL, 2010).

Profissionais que trabalham em programas de atenção à saúde de adolescentes

referem dificuldades no trato diário com esse grupo etário, pois para que se cumpra a

agenda de atividades os esforços parecem ser em vão, causando-lhes frustração,

desmotivação, mal-estar e até mesmo irritação, pois geralmente os adolescentes não

comparecem no serviço (XIMENES NETO et al., 2010).

Em uma pesquisa realizada por Macedo et al. (2010) para verificar a utilização

dos serviços de saúde no Brasil, o grupo de adolescentes era o que menos procurava

atendimento e, quando o fazia, geralmente era por doença, seguido por gravidez ou

atendimento odontológico.

Para a adesão do adolescente aos programas de saúde é necessário que ele seja

ouvido, possa se expressar e seja respeitado e valorizado. O adolescente não quer

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nada pronto, e talvez ele não tenha ter encontrado isso no serviço de saúde (ROCHA

et al., 2012).

A visita domiciliária ao adolescente talvez seja uma oportunidade de se

resgatar o jovem que não frequenta a Unidade de Saúde para melhorar sua saúde nem

se sente a vontade para se expor seus problemas e sentimentos diante de um grupo.

A visita domiciliária é vital para a educação em saúde, pois através dela é

possível um planejamento individualizado dos processos educativos a cada individuo

ou grupo familiar (TYLLMAN; PEREZ, 1998).

3.3 Saúde do adolescente: uma fase de oportunidades/desafios

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência é definida

como a segunda década da vida, de 10 a 19 anos. Já a legislação brasileira, presente

no Estatuto da Criança e do Adolescente, refere-se à faixa etária dos 12 a 18 anos

(BRASIL, 1990).

Muito além de sua definição cronológica, a adolescência pode ser

caracterizada por uma série de transformações biopsicossociais, que compreende

desde a maturação dos órgãos sexuais até a elaboração da identidade pessoal e

sexual, com o exercício da sexualidade, da intimidade e da afetividade (FERREIRA

et al., 2007; MANDÚ et al., 2008).

No que se refere à puberdade, essa etapa impõe ao adolescente grandes

alterações e, desta forma, ele necessita se adaptar às novas dimensões e

experimentar, com atenção, as novas sensações para integrá-las no seu cotidiano.

Ocorrem mudanças complexas na personalidade, o que gera alterações de

comportamento e instabilidade na forma de se relacionar. Essas transformações

constituem a síndrome da adolescência normal, que tem características de busca pela

identidade, pela tendência grupal, pelo desenvolvimento do pensamento conceitual,

pela vivência temporal singular, pela evolução da sexualidade, existindo, em algumas

situações, um desacerto entre o corpo - pronto para a reprodução - e a mente -

despreparada para experienciar tais acontecimentos (ALMEIDA; CENTA, 2009).

Além disso, nessa etapa do desenvolvimento humano verifica-se mudança no

perfil da distribuição das doenças, identificando-se, mais comumente, um conjunto

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de agravos relacionados, sobretudo, com o comportamento sexual e com as condutas

que o adolescente apresenta dentro de seu convívio social (OLIVEIRA et al., 2008).

Em 2003, foi lançado o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas. Essa

estratégia resultou da parceria entre o Ministério da Saúde, o Ministério da

Educação, a Organização das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Visou a reduzir

a vulnerabilidade de adolescentes e jovens às doenças sexualmente transmissíveis, à

infecção pelo HIV e à gravidez não planejada, com ênfase na promoção da saúde, por

meio de ações educativas de prevenção e ampliação dessa população ao uso do

preservativo masculino.

Para fortalecer a discussão das questões de saúde do adolescente, o governo

brasileiro vem, em parceria com setores da sociedade civil, incluindo movimento da

juventude, formulando diretrizes de implementação de uma política de atenção à

saúde dessa população.

No segundo semestre de 2005, o Ministério da Saúde, através da Área Técnica

da Saúde do Adolescente e do Jovem, publicou duas normas técnicas: Marco Legal

da Saúde dos Adolescentes, compilando trechos dos instrumentos legais que

fundamentam a garantia do pleno exercício do direito à saúde dos adolescentes e

Saúde Integral de Adolescentes e Jovens – orientações para a organização de serviços

de saúde, a fim de recomendar e “nortear a implantação e/ou implementação de ações

e serviços de saúde que atendam aos adolescentes e jovens de forma integral,

resolutiva e participativa” (BRASIL, 2005a, b).

Em junho de 2006, o Ministério da Saúde, por meio da área técnica de Saúde

do Adolescente, publicou a versão preliminar do Marco Teórico e Referencial da

Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva de Adolescentes e Jovens, compilando

informações sobre as realidades dessa população no Brasil e identificando diversas

necessidades específicas no bojo da saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes

e jovens como: prevenção de HIV/AIDS, questões relacionadas à gravidez,

violência/abuso/exploração sexual, entre outros (BRASIL, 2007b).

Em 2007, foi realizada a Primeira Conferência Nacional da Juventude, com o

objetivo de promover e propiciar um espaço para o diálogo entre o Poder Público e a

sociedade sobre as perspectivas e os desafios desse segmento. O relatório final

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constou de nove resoluções e 22 prioridades. No tema sexualidade e saúde, destacou -

se a prioridade de garantir os direitos sexuais e reprodutivos e ampliar projetos

educativos que desenvolvam metodologias participativas sobre gravidez na

adolescência, gênero, violência, promoção da saúde e vulnerabilidades (BRASIL,

2007c).

Porém, o mais amplo e importante documento, sem o qual os demais

perderiam força, é a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e

Jovens (PNAISAJ). Funda-se na prevalência dos direitos humanos, tendo como

pilares normativos a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adoles cente

(BRASIL, 2007d).

Para compreender a importância e a possibilidade de impacto das ações e dos

serviços em saúde destinados aos adolescentes, é fundamental considerar suas

principais demandas de saúde, de maneira que as ações oferecidas se jam adequadas à

realidade local – individual e coletiva – dos principais interessados. Assim, questões

relativas à sexualidade e aos direitos reprodutivos podem ser consideradas

significativas no bojo de suas necessidades específicas, em especial as ações voltadas

à prevenção em DST/AIDS; gravidez (maternidade/paternidade); aborto;

contracepção e abuso/violência sexual (LEÃO, 2005).

Do escopo apresentado na PNAISAJ, é possível apontar três ordens de

desafios: a) quanto à oferta sistemática e organizada de ações e serviços voltados aos

adolescentes; b) quanto à capacitação e sensibilização da equipe de saúde para o

trabalho com adolescentes, desde uma perspectiva que os considere sujeitos de

direitos – especialmente na esfera da sexualidade e da reprodução e, igualmente,

considere as especificidades de gênero; e c) quanto à matriz moral/religiosa que

direciona o comportamento de muitos profissionais e agentes de saúde, em expressa

desatenção aos princípios, às diretrizes e às normas consagrados na Constituição

Federal e nos demais documentos norteadores da política de atenção à saúde do

adolescente (OLIVEIRA, 2008).

A implementação da política de atenção à saúde do adolescente no Brasil

esbarra na carência de formação dos recursos humanos: não há equipes de saúde

suficientes para a população; as equipes não estão capacitadas/sensibilizadas para o

trabalho com adolescentes e mapeamento de demandas; mesmo quando passaram por

períodos de formação, nem todos os profissionais se dispõem a atuar com esta

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população; muitos profissionais, embora capacitados, ainda percebem os

adolescentes como pessoas em formação, que precisam de orientação e tute la, e não

têm maturidade suficiente para certas escolhas.

Pela ótica da saúde pública, diversos indicadores têm evidenciado o alto nível

de vulnerabilidade a que estão sujeitos os adolescentes, quando o assunto são

informações e acesso a ações e serviços de saúde sexual e reprodutiva. Neste sentido,

gestores de saúde de todas as esferas governamentais reconhecem que a valoração

negativa do exercício da sexualidade e da reprodução dos adolescentes é um

empecilho à prática da política de saúde sexual e reprodutivo voltado a esta

população. No entanto, estudos têm revelado a discrepância entre o que é

preconizada nos documentos norteadores das políticas – a política de direitos - e a

prática cotidiana dos serviços.

Segundo a PNAISAJ, para que a promoção da saúde dos adolescentes seja

efetiva é necessária a adoção de um olhar diferenciado para essa população

adolescente que contemple a família e os pares. Essas concepções devem estar

presentes nas ações de educação sexual para fornecer aportes reflexivos e críticos

que contribuam para as tomadas de decisões de adolescentes e de jovens relacionadas

à sexualidade e à vida reprodutiva e principalmente estimular pais, cuidadores,

adolescentes e jovens a lidar com a sexualidade como parte integrante da vida,

respeitando crenças e valores pessoais, bem como o sentido atribuído por pessoas

jovens à vida sexual no que se refere ao amor, ao desejo de constituir família e ao

desejo de intimidade e de prazer (BRASIL, 2007d).

No Brasil, a proporção de adolescentes é de 25% da população total. Estima-se

que no Ceará a proporção seja de 20.4% dos habitantes na faixa etária entre 10 e 19

anos, sendo que a maior parte vive em zonas urbanas. Fortaleza possui 2.452.185

habitantes e, destes, 432.658 são adolescentes, 17.6% da população (IBGE, 2010).

O Governo brasileiro tem se preocupado com a saúde de adolescentes e jovens

em torno da saúde sexual e reprodutiva. Os programas direcionados a essa faixa da

população existem tanto em parceria com órgãos de nível internacional, como o

Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e a Organização Mundial da

Saúde (OMS) quanto nacionais, como o Ministério da Saúde, com o Programa Saúde

do Adolescente (PROSAD).

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34

Em 2006, ressalta-se que até os 15 anos 33% das mulheres pesquisadas já

haviam tido relações sexuais, o triplo das relações ocorridas em 1996, na mesma

faixa etária. Os homens jovens apresentam semelhança na idade mediana da primeira

relação sexual (16,2 anos), com maior concentração entre 15 e 17 anos de idade.

Apenas 20% deles têm sua primeira relação depois dos 17 anos. Ressalta -se que não

há diferenças regionais, sociais e de raça (BRASIL, 2009).

A questão da iniciação da vida sexual de adolescentes e jovens está

relacionada à DST e AIDS, o que é uma preocupação constante nos serviços de

saúde. A tendência do crescimento da doença entre o público jovem é mundial. O

Relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS mostra que,

apenas em 2010, houve mais de 7.000 novas infecções por dia em todo o mundo, das

quais 34% entre jovens de 15 a 24 anos. A diferença entre homens e mulheres

infectados é cada vez menor. Em 1989, eram seis homens para cada mulher infectada.

Em 2010, a razão é de 1,7 homens para cada mulher (UNAIDS, 2014, on line).

O município de Fortaleza dispõe, atualmente, de uma rede de serviços de

atenção básica, composta por Centros de Saúde da Família (CSF) com atendimento

de pré-natal e de planejamento familiar em todos os centros. Conta, hoje, com

Equipes de Saúde da Família (ESF) que dão ao Município uma cobertura de PSF em

torno de 40% da população. Considerando essa conformação, percebe-se, em nosso

trabalho diário e pela condição de técnica da Secretaria Municipal de Saúde de

Fortaleza, que se deve aprofundar o estudo das ações desenvolvidas junto aos

adolescentes por essa rede de serviços (CEARÁ, 2006, on line).

Nos serviços de saúde, os adolescentes são atendidos por profissionais cujas

consultas são direcionadas para os problemas que geraram a procura pelo serviço.

Algumas situações comuns levam os jovens à procura da unidade básica e estão

diretamente relacionadas à gravidez, a doenças sexualmente transmissíveis, doenças

respiratórias entre outros problemas clínicos. Todavia, gestores e profissionais de

saúde devem entender as necessidades dos adolescentes, assim como os fatores

ambientais, sociais e culturais que afetam a sua saúde (XAVIER et al., 2011).

As características específicas e as influências do contexto devem passar pelo

planejamento, desenvolvimento, gestão e organização dos serviços de saúde para que

o cuidado direcionado a esse grupo seja efetivo (HAACK et al., 2012).

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35

A gravidez na adolescência é um problema que impõe que seja tratado não

somente pelo setor saúde, mas também por diferentes setores da sociedade, como o

da comunicação social, o sistema educacional e outros espaços governamentais e

comunitários. É necessário que se busquem soluções com vistas a desenvolver ações

de promoção da saúde e prevenção desse evento, que poderá ser adiado em prol de se

obter êxito em projetos educacionais e profissionais.

No Município de Fortaleza, em 2010, segundo o Sistema de Informação de

Nascidos Vivos (SINASC), dos 45.251 partos, 9.003 foram de adolescentes e, destes,

473 na faixa etária de 10 a 14 anos. Os indicadores de partos de adolescentes,

segundo o SINASC no Brasil, no Ceará e em Fortaleza, no ano de 2009, foram de

25%, 26,4% e 20%, respectivamente. A gravidez na adolescência é uma das

ocorrências mais preocupantes relacionadas à sexualidade do adolescente pelas

implicações decorrentes desse evento, como o aborto, a morbidade e a mortalidade

materna. O Comitê de Prevenção da Mortalidade Materna de Fortaleza (CPMMF)

registrou, no ano de 2009, 16 óbitos maternos, dos quais seis foram entre

adolescentes (CEARÁ, 2014, on line).

A gravidez indesejada pode se revelar um grave problema para a saúde sexual

e reprodutiva de mulheres adolescentes e jovens, quando esta é interrompida em

condições inseguras. Considerando o período da série histórica de 2000 a 2006, dos

números absolutos de atendimentos no SUS por abortamentos, observa-se uma queda

em todas as idades. Mesmo com essa queda, os mesmos dados evidenciam o aumento

de internações por abortamento a partir dos 15 anos, com um pico nas jovens de 20 a

24 anos. Essa situação mostra a urgente necessidade de atenção à vulnerabilidade

desse segmento populacional para que essas pessoas se desenvolvam saudavelmente

e possam fazer escolhas reprodutivas esclarecidas, de acordo com os seus direitos

reprodutivos (BRASIL, 2006).

É importante lembrar que nessa assistência estão os abortamentos por razões

legais – gravidezes por estupro ou por risco de vida da mãe - que é um direito

garantido por lei, também, às mulheres adolescentes e jovens.

Outro problema que atinge a saúde dos jovens é o uso de drogas ilícitas. Os

estudos realizados até hoje sobre o consumo de álcool e de outras drogas ressaltam o

alto consumo dessas substâncias entre crianças e adolescentes de 9 a 19 anos e entre

jovens de 20 a 24 anos. As bebidas alcoólicas ocupam o topo da lista, tornando-se

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um importante problema de saúde pública. Considerando tal cenário epidemiológico,

a ênfase dessas Diretrizes se dar na análise do uso abusivo de álcool (BRASIL,

2010).

O I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na

População Brasileira de 2007aponta que o início do consumo dessa substância, em

adolescentes de 14 a 17 anos, está na média de 13,9 anos que é mais baixa que nos

jovens dos 18 aos 25 anos, cuja média é 15,3 anos. Com relação ao consumo regular

observa-se que os adolescentes (14-17 anos) adquiriram esse comportamento em

média aos 14,6 anos. Já os jovens (18-25 anos) começaram por volta de 17,3 anos

(BRASIL, 2010).

A mudança do padrão de consumo dos jovens também está na alimentação. O

crescimento das prevalências do excesso de peso, tanto em adultos como em crianças

e adolescentes, tem sido alvo de estudos populacionais em diversos países do mundo,

desenvolvidos e em desenvolvimento (FIGUEIREDO et al., 2011).

O Brasil está, hoje, com prevalências de obesidade muito próximas às

americanas, principalmente para os escolares. Isto coloca a população infanto-juvenil

sob um grande risco de desenvolver, ainda nesta fase da vida, comorbidades

associadas ao excesso de peso. O excesso de gordura corporal (identificado por um

elevado IMC) pode trazer consequências imediatas como alterações no perfil lipídico

e elevação da pressão arterial (FARIA et al., 2009).

Isso pode contribuir para o surgimento de uma população adulta,

economicamente ativa, com obesidade grave e predisposta ao desenvolvimento de

doenças crônicas não transmissíveis, como Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), doenças

cardiovasculares (DCV), câncer, dentre outras (COELHO et al., 2012)

No Brasil, com a publicação das informações da última Pesquisa de

Orçamento Familiar (POF, 2008-2009), fica evidente a transição do estado

nutricional, com redução das prevalências de baixo peso (4,1 a 4,9%) e aumento do

excesso de peso (20,5 a 33,5%) e obesidade (4,9 a 14,3%) entre as crianças e

adolescentes brasileiros (BRASIL, 2010).

Em relação ao trabalho, muitos adolescentes, devido a dificuldades financeiras

da família, começam a trabalhar ainda criança. No trabalho, eles começam a

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amadurecer psicologicamente e intelectualmente. Com sua remuneração, conquistam

mais autonomia e liberdade diante dos pais ou responsáveis.

No Brasil, tem-se combatido fortemente o trabalho entre crianças e

adolescentes, porém, ainda existem milhões dessa faixa etária trabalhando em

atividades não permitidas. O trabalho infantil prejudica o desenvolvimento saudável

dos jovens, porque, muitas vezes, estes são expostos a ambientes insalubres e

perigosos. A pobreza e o desemprego dos pais levam crianças e jovens a se inserir no

mercado de trabalho (BRASIL, 2005b).

Ainda em relação ao jovem, as atividades de arte, esporte, música, o corpo e

seu visual são fatores que articulam grupos a se agregar para produzir uma peça

teatral, um “som”, uma dança, trocar ideias, postarem-se diante do mundo e alguns

deles até com projetos de intervenção social. Segundo esse autor, o produto cultural

mais consumido entre eles é a música, expressão cultural que mais une os jovens

(DAYRELL, 2001).

Já o esporte para o adolescente traz um reforço da autoestima, menor

predisposição a doenças, controla o peso, previne situações de risco, ajuda na busca

de objetivos e estimula a socialização, criando sentimento de equipe e solidariedade

entre os participantes, além de liberar adrenalina, substância que traz boas sensações

para alguns jovens.

As famílias também devem ser envolvidas nas atividades de lazer. Para isso, é

fundamental a criação de oportunidades de lazer para todo o grupo familiar, como

espaços e momentos que favoreçam os vínculos familiares (HAACK et al., 2012).

O Poder Público precisa se sensibilizar e promover a criação de centros de

lazer e de esportes, distribuídos particularmente nas áreas mais carentes, que

ampliem as oportunidades de atividades de lazer no espaço público e de consumo

cultural para crianças e adolescentes de todas as faixas etárias, o que levará a um

reforço na Promoção da Saúde.

As ações de promoção da saúde são consideradas de relevância para a

corresponsabilidade e fortalecimento do vínculo na relação dos profissionais da

saúde e adolescente. Permeia, transversalmente, todas as políticas, programas e ações

da saúde, com o desafio de constituir a integralidade e a equidade. A promoção da

saúde é definida como um processo de capacitação da população de forma a propiciar

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a melhoria da qualidade de vida. Significa que o indivíduo e a coletividade devem ter

maior controle sobre sua saúde, por meio do desenvolvimento de conhecimentos,

atitudes e comportamentos favoráveis à saúde (SILVA, 2009).

É necessário que os profissionais sejam preparados para atender o adolescente

de forma individual sabendo lidar com as demandas trazidas por estes. Toda forma de

generalização gera posturas inadequadas em relação aos jovens e pode ser uma forma

de caracterizar esse período da vida de modo restritivo e negativo. O trabalho voltado

para a atenção do adolescente deve buscar o desenvolvimento de estratégias

apropriadas à complexidade de suas demandas, aos diferentes espaços de ação,

respeitando a intersetorialidade e todos os envolvidos (HAACK et al., 2012).

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4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de estudo

Estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa. Este tipo de estudo

visa conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social e os demais

aspectos do conhecimento humano, tanto do indivíduo isoladamente como de grupos

e comunidades (CERVO; BERVIAN, 2006).

A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar uma visão geral, do

tipo aproximativo, acerca de determinado fato. É realizada quando o tema escolhido

é pouco abordado (GIL, 1996).

A pesquisa qualitativa permite compreender a realidade, o universo de

significados, os motivos, as aspirações, as crenças, os valores e as atitudes que

correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos

fenômenos (MINAYO, 2008).

A abordagem qualitativa visa compreender a lógica interna de grupos,

instituições e atores quanto a valores culturais e representações sobre sua história e

temas específicos, relação entre indivíduos, instituições e movimentos sociais,

processos históricos, sociais e de implementação de políticas públicas.

A pesquisa descritiva tem como objetivo analisar, observar, registrar e

correlacionar fatos ou fenômenos sem modificá-los, buscando conhecer as inúmeras

situações e relações que ocorrem na vida social, abordando dados e problemas que

merecem ser estudado. Já o estudo exploratório pretende dar uma explicação geral

sobre um determinado assunto, através de uma investigação mais ampla. Sendo o

passo inicial no processo da pesquisa, é recomendado o estudo exploratório quando o

tema escolhido é pouco explorado. Esse tipo de estudo abre espaço para uma

pesquisa mais aprofundada (CERVO; BERVIAN, 2006; OLIVEIRA, 2007;

MINAYO, 2008).

4.2 Cenário do estudo

O estudo foi realizado em Fortaleza, capital do Estado do Ceará, localizado na

Região Nordeste do Brasil, a qual abrange uma área de 336 km e é considerada a

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quinta maior cidade do País, com população estimada pelo Instituto Brasileiro de

Estatística e Geografia (IBGE) de 2,5 milhões de habitantes em 2012. Destes,

219.132 estão na faixa etária de 10 a 14 anos e 235.795 se encontram na faixa etária

de 15 a 19 anos (IBGE, 2012).

Em termos administrativos, o município de Fortaleza encontra-se dividido em

seis Secretarias Executivas Regionais (SERs), que funcionam como instâncias

executoras das políticas públicas municipais. Por meio dessa configuração

administrativa descentralizada, as políticas municipais de saúde e educação são

gerenciadas pelas SER, por meio de seus Distritos de Saúde, tendo como órgãos

gestores as Secretarias Municipais.

Figura 1 – Mapa das Secretaria Executivas Regionais (SERs) do município de

Fortaleza/CE.

Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=(IBGE,+2012)...> Acesso em:

02 mar. 2014.

A pesquisa foi realizada no período de agosto a dezembro de 2013 em uma

Unidade de Saúde da Família localizada na Regional VI em Fortaleza, Ceará. A

Unidade de Saúde se encontra em um bairro onde existem moradores vivendo em

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extrema pobreza. Além disso, é um ambiente com bastante violência devido ao uso e

ao tráfico de drogas.

Atualmente, o Centro de Saúde conta com três equipes de Saúde da Família,

além de pediatra e ginecologista.

Ao se visualizarem os dados presentes nas fichas e nos relatórios do Sistema

de Informação da Atenção Básica (SIAB) das equipes, no ano de 2013, analisam-se e

se consolidam inúmeros e indicadores. Estes foram organizados em áreas temáticas

nos ciclos vitais específicos (Saúde da Criança e do Adolescente, Saúde da Mulher,

Saúde do Adulto, Atendimentos e Visitas Domiciliarias), a fim de facilitar a análise e

a comparação com parâmetros de cobertura preconizados pelo Ministério da Saúde,

descritos em instrumentos de avaliação recentemente adotados (Programa de

Melhoria do Acesso e da Qualidade na Atenção Básica - PMAQ), com vistas a buscar

referenciais positivos (potencialidades) e negativos (vulnerabilidades) na atenção

integral à população do território da equipe.

Destacando os indicadores relacionados à Educação em Saúde em 2013, como

forma de contextualizar o território de estudo, foram realizados 81 atendimentos a

grupos de educação em saúde e 2.225 procedimentos coletivos no período (atividades

em escolas e no Centros de Saúde da Família [CSF], entre outros locais), além de 31

reuniões em equipe.

Em relação às visitas, ocorreram, ao longo do ano, 2.865 visitas domiciliárias

(239 em média mensal), categorizadas por profissional da equipe, a seguir: 125

visitas pelo médico, 101 pela enfermeira, 54 por outros profissionais de nível

superior, 49 por profissionais de nível médio, e 3.120 (260 em média, por mês) de

visitas pelos ACS, o que perfaz a média de visita pelos ACS por família cadastrada

da área inferior à média nacional de 1,5 visita por família. No segundo semestre de

2013, o número de visitas domiciliárias foi menor que no primeiro semestre do

mesmo ano, devido ao aumento surpreendente do número de mortes na área por causa

do tráfico de drogas, o que impediu as equipes de entrar na comunidade. Em um final

de semana chegaram a morrer cinco jovens entre 13 e 16 anos de idade na região.

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4.3 Agentes sociais da pesquisa

Foram 19 profissionais da ESF (12 Agentes Comunitários de Saúde, 1 Técnica

de Enfermagem, 1 Cirurgiã-Dentista, 3 Enfermeiros, 2 Médicos) que trabalham na

Unidade de Saúde Doutor Hélio Góes Ferreira. Deixaram de participar da pesquisa os

seguintes profissionais: 1 médica, 1 dentista, 2 auxiliares de saúde bucal, 4 agentes

comunitários de saúde.

O critério de inclusão dos sujeitos da pesquisa foi realizar visitas domiciliárias

semanalmente e aceitar participar voluntariamente da pesquisa mediante assinatura

do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão

envolvem aqueles profissionais que, no momento do estudo, estavam de férias ou não

participaram das visitas domiciliárias e os adolescentes e familiares que não

aceitaram participar da pesquisa.

4.4 Procedimentos para coleta de informações

O presente estudo teve como etapas:

1ª etapa: inicialmente foi solicitada anuência formal da Secretaria Municipal

de Saúde de Fortaleza para a realização do estudo e da Coordenadoria Regional da

Saúde VI.

2ª etapa: após o consentimento dos gestores e a aprovação do Comitê de Ética

em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará iniciou-se a coleta de informações por

meio da aplicação de um questionário e uma entrevista não estruturada com

informações acerca do perfil sociodemográfico, idade, sexo, formação, tempo de

formação, experiência com atividades de educação em saúde, tipos de atividades que

realizam e possível existência de dificuldades/potencialidades . O local para a

realização foi tranquilo e de fácil acesso. O horário foi agendado previamente na

unidade de saúde (APÊNDICE A).

Para Minayo et al. (2007), as qualidades desse tipo de instrumento consistem

em enumerar, da forma mais abrangente possível, as questões que o pesquisador quer

abordar no campo a partir de suas hipóteses ou pressupostos advindos, obviamente,

da definição do objeto de investigação.

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3º etapa: após a realização das entrevistas foi feito, com agendamento prévio,

o acompanhamento de uma VD realizada por uma equipe de saúde durante o período

de estudo. Infelizmente, só foi possível fazer um acompanhamento porque as equipes

alegavam não existir adolescente nas casas que elas estavam indo visitar, ou quando

existiam elas não poderiam ir até aquela casa devido à violência do local. A sele ção

dos adolescentes acompanhados foi realizada mediante os seguintes critérios de

inclusão: adolescentes de 10 a 19 anos de idade que vivem em famílias

acompanhadas em domicílio pela equipe de saúde da família; e/ou adolescentes em

situação de vulnerabilidade/risco identificados pelos agentes comunitários de saúde,

profissionais da equipe ou qualquer membro da comunidade (OMS, 2008).

Como critérios de exclusão durante VD não foram incluídos aqueles

adolescentes que no momento das visitas não estiveram presentes, não aceitaram a

presença do profissional de saúde ou ofereceram risco à pesquisadora.

O acompanhamento da VD foi realizado pela pesquisadora, por meio de uma

lista de verificação contemplando os seguintes pontos: preparação do profissional

para visita com material educativo; forma de tratamento do profissional em relação

ao adolescente; investigação sobre alterações psicoemocionais e uso de drogas;

investigação sobre projeto de vida; orientação sobre métodos contraceptivos e sexo

seguro. O intuito desse acompanhamento foi observar na prática do profissional de

saúde como é conduzida a VD junto à família com membro adolescente, com foco

principalmente nas ações de educação em saúde.

O profissional que estava sendo observado na visita domiciliária era

informado antecipadamente sobre a pesquisa, mas ele só tinha acesso à lista de

observação, instrumento da pesquisa, após a realização da visita. Acredita -se que o

fato de o profissional saber que está sendo observado durante o seu trabalho possa

fazê-lo agir de maneira um pouco diferente de seu habitual, porém a essência do seu

trabalho se mantém.

Todas as atividades da pesquisa foram registradas em diário de campo e

gravação de áudio com autorização dos participantes. O diário de campo é mais do

que uma técnica que garante o suporte memorístico de recorrência; ele é uma

ferramenta de produção de conhecimentos dentro da pesquisa. Nele constam as

informações que não estão nas entrevistas, como comportamentos, conversas

informais, hábitos, usos, costumes, entre outros, de forma a registrar fatos,

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fenômenos e atitudes percebidos durante a pesquisa. As anotações foram feitas

diariamente, com datas sinalizando os sujeitos da pesquisa, situação observada, local

e situações adversas. Deve-se ter um caderno com o nome do pesquisador,

informação da instituição do projeto em que se insere o nome do orientador e o

período do registro (HESS, 2009).

4.5 Análise e interpretação das informações

Para o tratamento das informações foi realizado, de acordo com Minayo

(2010), o percurso analítico e sistemático. Essa técnica torna possível a objetivação

de um tipo de conhecimento que tem como matéria-prima opiniões, crenças, valores,

representações, relações e ações humanas e sociais sob a perspectiva dos atores em

intersubjetividade. A análise qualitativa de um objeto de investigação concretiza a

possibilidade de construção de conhecimento e possui todos os requisitos e

instrumentos para ser considerada e valorizada como um construto científico.

A análise das informações foi feita através da transcrição das entrevistas

registradas no gravador de voz, da releitura dos questionários e dos instrumentos de

observação. Em seguida foi realizada a organização dos relatos e dos dados de

observação.

Após uma leitura exaustiva e repetitiva elaborou-se a primeira classificação,

onde cada assunto, tópico ou tema foi separado. Logo após, fez -se um enxugamento

da classificação por temas mais relevantes. Finalmente, p rocurou-se articular o dado

empírico com questões macrossociais, considerando as experiências cotidianas como

processos microssociais.

4.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa

A pesquisa incorporou a Resolução 466/12 (Diretrizes e normas reguladoras

de pesquisa envolvendo seres humanos) do Ministério da Saúde , que trata das

pesquisas que se caracterizam como uma investigação individual ou coletiva que

envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou a partir

deles, incluindo o manejo de informações ou materiais. Esta pesquisa foi aprovada

sob parecer de número 459.698, do Comitê de Ética em Pesquisa da UFC. Incorpora,

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sob a ótica do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais básicos da

bioética: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça.

O profissional participante foi esclarecido sobre as etapas da pesquisa e

assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O adolescente

também foi informado, no momento da visita, sobre a pesquisa e assinou o ref erido

termo, bem como o seu responsável.

A observância ao princípio da autonomia foi obedecida através do

esclarecimento de que a participação dos sujeitos é voluntária, sem nenhum prejuízo

à sua pessoa ou ao seu tratamento. Foi destacado que não haveria nenhum prejuízo ao

participante caso este viesse a se recusar a fornecer alguma informação ou mesmo se

quisesse interromper sua participação na pesquisa, conforme o termo de

consentimento livre e esclarecido que foi elaborado e assinado no momento da

realização da entrevista.

De acordo com Leopardi (2001), os procedimentos éticos legais incluem os

cuidados éticos necessários à preservação do sigilo sobre fontes de informações e

sobre a aprovação do processo nos locais onde se realiza a pesquisa.

No que diz respeito à não maleficência, foi garantida aos participantes a

ausência de prejuízo moral ou de qualquer outra espécie a ele ou à sua família.

Também foi garantido a todos os participantes o direito ao sigilo das

informações obtidas (anonimato) e tratamento justo (princípio de justiça), de forma

que qualquer risco ou benefício foi compartilhado igualmente. Não houve nenhum

constrangimento ou tratamento preconceituoso das pessoas que desistiram de

participar da pesquisa em qualquer momento de sua execução, bem como foi

garantido o acesso dos participantes às pesquisadoras para esclarecimento de

qualquer dúvida.

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5 RESULTADOS

Neste capitulo apresentam-se os principais depoimentos dos profissionais do

estudo, os quais serão divididos na seguinte categorização: Caracterização dos

trabalhadores da Saúde; Compreensão dos profissionais acerca da visita domiciliária

e Educação em Saúde com enfoque no adolescente e desafios e possibilidades na

promoção da saúde do adolescente.

5.1 Caracterização dos trabalhadores da saúde do estudo

Foram entrevistados 19 profissionais, sendo: 1 dentista, 2 médicos, 3

enfermeiras, 1 auxiliar de enfermagem e 12 agentes comunitários de saúde. As idades

variaram de 28 a 52 anos, sendo que entre todos os participantes apenas três

profissionais eram do sexo masculino. Ao se analisar por categoria profissional

verificou-se uma média de idade maior para a enfermeira (44), seguido pelo dentista

(42), ACS (40), médico (33), e técnico de enfermagem (30).

Os ACS tinham entre 1 e 18 anos de experiência na Estratégia Saúde da

Família, com média de quatro anos. Apenas 1 não possuía treinamento na área de

promoção da saúde voltada para o adolescente. Os outros profissionais da ESF

possuíam, em média, cinco anos de experiência na Estratégia Saúde da Família, mas

somente 1 possuía alguma capacitação voltada para o adolescente.

5.2 Educação em saúde e visita domiciliária: concepções e práticas

As entrevistas iniciais permitiram conhecer a percepção dos profissionais

frente ao conceito de educação em saúde a fim de favorecer o vínculo e a

aproximação entre a pesquisadora e os participantes antes da realização das visitas

domiciliárias junto aos adolescentes. Nos discursos foi possível observar concepções

distintas sobre a temática com ênfase na noção de educação para redução de doenças

e enfermidades, conforme as falas a seguir:

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Educação leva você a não ser uma pessoa doente. (ACS) . (sic).

Informações que a gente repassa para a comunidade e grupos

individualizados. Estou sempre fazendo palestras e isso é Educação em

Saúde (E2). (sic).

Educação em Saúde é uma forma de você repassar, principalmente a parte

da saúde que as pessoas ainda têm dúvidas; forma de reeducar em relação

aos problemas de saúde; às vezes eles têm problemas e nem sabem (TE).

(sic).

Apesar dessas concepções, alguns profissionais apreendem Educação em

Saúde como trabalho de sensibilização dos usuários, com concepção ampliada do

processo educativo, na qual o sujeito é visto como agente ativo do processo, com

vistas ao empoderamento e à responsabilidade sobre sua qualidade de vida:

Tema importante de conscientização tanto para a equipe como para os

pacientes. A saúde é um dos temas principais na sociedade, tanto no caráter

preventivo como de cura para melhorar a qualidade de vida da população.

(M3). (sic).

A partir da Educação, eles vão ter entendimento, vão buscar mais saúde,

vão ficar mais atentos numa reportagem da televisão, o que ele pode

resolver para melhorar a saúde dela e, ás vezes, por não ter Educação, não

pesquisa. (ACS-V). (sic).

Pessoa começa a se sentir responsável; não é só remédio; se cuidar, se

exercitar; não são os outros os responsáveis. (ACS-S). (sic).

Já em relação às concepções sobre a Visita Domiciliária (VD) como atividade

de Educação em Saúde (ES), a maior parte dos entrevistados percebe essa ação como

momento relevante para educar sobre a saúde e qualidade de vida em diversos

contextos e temáticas, como se observa nas falas abaixo:

A Visita Domiciliar é atividade de Educação em Saúde, o ACS precisa

estar capacitado para observar e orientar dentro das suas condições (ACS-

F). (sic).

Pode ser feita tanto a caráter de prevenção de doenças, como orientação

para pacientes com sequelas. Em época de dengue, a população em geral

deve ser orientada tanto nas Unidades de saúde como em seus domicílios.

(M3). (sic).

A VD que a gente está fazendo é para pessoas que têm dificuldade de vir à

Unidade. A médica passa medicação e eu já oriento sobre higiene,

alimentação, o que for preciso. Atualmente estamos falando sobre dengu e

(E2). (sic).

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48

Toda oportunidade que você tiver com o usuário, você deve fazer Educação

em Saúde, numa visita, num acolhimento, num atendimento, esperando

consulta (E3). (sic).

Depende da necessidade da família naquele momento, se é um problema

que a mulher tá passando por violência pelo marido, se é um problema de

droga, de hábitos de higiene, tem que ver a real idade e a visita é este

momento (CD). (sic).

Alguns entrevistados falaram da visita domiciliária como oportunidade para

favorecer o relacionamento entre equipe de saúde e usuários:

Hoje a gente entra na casa da família, como amigo, não só como

trabalhador, escuta os problemas, às vezes, não só voltado para a saúde,

mas um trabalho psicológico. (ACS-C). (sic).

Ótima oportunidade, conhecer a necessidade a fundo; o usuário fica à

vontade; vemos condições financeiras, psicológicas; o usuário se sente

mais importante; há um maior entrosamento. (E3). (sic).

Muito importante; o ACS quando aborda o paciente na sua casa, o usuário

se abre melhor com o ACS, até mesmo mais que com o médico, não tem

segurança para passar pro médico; confia mais no ACS, pede conselho.

(ACS- EF). (sic).

O maior desafio para nós que visitamos as casas, a partir do momento que

você entra na família é um processo complexo, porque quando você menos

espera você se envolve; cria vínculo com a família e, assim, se obtém êxito

com os processos, com os problemas. Se a pessoa tá com uma doença

contagiosa (hanseníase, tuberculose...), você consegue que eles se abram,

desabafam, diferente do que o que se consegue nos consultórios. (ACS-Z).

(sic).

Durante as entrevistas é possível observar que os profissionais utilizam a

visita como estratégia para compreender a realidade vivida pelo usuário,

influenciando no cuidado à saúde e na resolução de problemas:

A equipe vai ver onde realmente estão os problemas. Se você não conhece

a realidade não da para ser efetivo. Você ver as condições de moradia,

higiene, saneamento (M1). (sic).

A VD é importante porque se ver como a pessoa vive, porque ás vezes no

grupo as pessoas contam algo que não é a realidade. É importante o

profissional ter conhecimento da realidade da casa daquele paciente. (CD).

(sic).

Item fundamental, toda semana tem que ter horários reservado para a VD,

porque lá você pode perceber, de forma mais importante, as condições que

ele vive; ele chega com uma queixa no Posto e você não tem a total

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dimensão do seu ambiente, do seu convívio. Indo até a casa, você ver as

condições de higiene, sanitária, sua relação com a família... (M3) . (sic).

Outros participantes comentam que VD deve ser realizada apenas para aqueles

que realmente têm necessidade desse acompanhamento em domicílio:

É muito importante, quando necessária, porque infelizmente acontece de

pacientes que não necessitam de VD, mas querem e ocupam o carro e a

equipe que deveriam tá na casa de alguém que precisa. Exemplo , tenho um

paciente que tem uma perna amputada, que recebe VD, mas vem para a

consulta odontológica no posto; então, esse paciente pode vir à

Unidade.(CD). (sic).

Para quem realmente tem necessidade, porque a gente só direciona para

pessoas que não podem vir para o posto; quando o objetivo é esse, eu acho

muito importante, principalmente quando vai o médico e aborda todo o

contexto do paciente. (ACS-S). (sic).

Tem que priorizar grupos (E1). (sic).

Também foi manifestado a VD como oportunidade para orientações sobre

saúde, mas também a necessidade da colaboração do paciente para mudanças de

comportamento:

Um desafio grande, porque a família é um ambiente complexo, o

profissional tem que ter vínculo, porque muitos não seguem as orientações.

O tratamento só dar êxito quando a família colabora. (ACS -Z). (sic).

Importante demais, mas tem gente que quer fazer da VD a “tábua de

salvação”, mas tem que haver do paciente uma rec iprocidade de acatar o

que o médico diz e, às vezes, eles querem colocar como responsabilidade

total da enfermeira, do ACS e não é assim, cada um faz sua parte. (ACS-S).

(sic).

Dependendo da família; tem família que muda totalmente com explicação,

aos poucos vão se modificando na limpeza da casa, das crianças, no

tratamento odontológico, na forma de agir... Uma usuária me chamou na

casa dela para me mostrar como eles melhoraram. Outros pioram (ACS-V).

(sic).

Durante os depoimentos foi possível observar, na perspectiva dos

trabalhadores da saúde, como eles acreditam que deve se constituir a VD,

relacionando os profissionais necessários para a realização da consulta no domicílio:

O médico, enfermeiro, auxiliar, dentista. Se seus dentes tiverem tudo

estragado, afeta o coração (TE-O). (sic).

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Equipe do NASF, com fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, terapeuta

ocupacional, médico, enfermeiro, auxiliar. (ACS-A). (sic).

Tem que ter equipe completa, principalmente ACS, porque ele repassa para

mim, eu comunico para médica e então a gente sabe o problema que a gente

vai enfrentar a necessidade daquele paciente (E3). (sic).

Dona de casa deve estar presente e profissional falar com segurança (ACS-

VG). (sic).

Além dos profissionais, não só médicos, deve haver interação entre as

pessoas, quanto mais diversidade melhor para visita, com olhar ampliado,

não só olhar doença, ver o cuidador, o acamado, ver toda família (M1).

(sic).

Deve existir dentista para a VD, o mais importante (ACS-L). (sic).

Também foi respondido o tipo de comportamento e de atitudes que os

profissionais devem possuir ao se fazer uma VD:

Bom acolhimento, porque você tá invadindo a intimidade daquela pessoa e

um bom profissional (ACS-M). (sic).

Ver o paciente como um todo, olhar o cuidador, o contexto todo de uma

maneira geral, não específico (E3). (sic).

Não só repassar receita, mas ter olho clínico de passar o olhar e ver o

ambiente, ver se a pessoa tá bem só pela conversa. Muitos são meio

depressivos e querem desabafar (ACS-EF). (sic).

5.3 Introdução da educação em saúde na família com enfoque no adolescente

Além dessas concepções, os profissionais apontam o ambiente escolar como

um cenário propício para a educação em saúde, mais do que qualquer outro da

comunidade. Além disso, os participantes destacam a temática da violência e das

drogas como um obstáculo para a realização das atividades educativas, como se

observa nos depoimentos abaixo:

Educação em Saúde está muito em falta na minha área por conta dos

adolescentes que não estudam por conta das drogas (ACS-A). (sic).

Palestras no colégio sobre Saúde Bucal, bom comportamento, sobre a

violência (ACS- R). (sic).

Devem existir mais esclarecimentos principalmente nas escolas para que

atinja o maior número de pessoas, que envolva professores, família para

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que possa ter um objetivo melhor para prevenção de doenças,

contraceptivos... (ACS-S). (sic).

Acerca da educação em saúde voltada para o adolescente, muitos profissionais

relataram a dificuldade em lidar com esse grupo, agravada ainda mais pelas as

drogas, mas alegaram que deve ser dispensada uma maior atenção a esse grupo:

Tentei fazer grupos com adolescentes muitas vezes na Unidade, nos

espaços sociais, na escola e, o que tive mais sucesso foi na Igreja, porque o

grupo já existia e eu me meti. Tem pessoas que têm mais facilidade,

porque puxa para o lado do teatro, do esporte. Trabalhar o esporte é como

se a gente conquistasse o adolescente; se você só disser o que é certo e o

que é errado, não funciona (CD). (sic).

O adolescente é muito mais complicado, não quer nem ouvir a gente.

Quando a gente chega à casa, a gente nem ver o adolescente, então o

profissional tem que ter muito jogo de cintura, precisa tá capacitado para

isso. É uma abordagem diferente. Tenho contato com adolescente em

atividades culturais que os ajudam a fugir da violência. Os profissionais

precisam conviver mais com a realidade deles para que eles não sintam

medo, eu também tenho medo, mas tenho um pouco mais de intimidade.

Deve haver treinamento para que os profissionais falem a linguagem deles,

como eles veem o mundo, os valores (ACS- F). (sic).

O adolescente é difícil, não querem nos escutar, a gente vai falar sobre

DST, preservativos e eles não ligam. Tinha uma adolescente na área que

morreu em 20 dias com HIV e a gente sabia que a menina que ele ficava

tinha (ACS-V). (sic).

O adolescente é complexo, deveria trabalhar a família, para a família

passar para eles, porque tem muita família desestruturada que não passa

principio nenhum de moral. Trabalho complicado, mas também tem que

fazer um trabalho paralelo com os jovens, porque se deixar só com a

família, não resolve (ACS- S). (sic).

Alguns profissionais deixam claro que precisam de apoio de outros setores da

sociedade para que consigam sensibilizar os adolescentes no cuidado com a saúde:

A adolescência é idade de conflitos, experimentos, devemos pensar o que

nós oferecemos, nós não conseguimos fazer Educação em Saúde, sozinhos,

devemos buscar aliados e oferecer alternativas saudáveis. Muito bom os

CUCAS, as opções dentro da comunidade. Fazer coisas permanentes e em

todas as oportunidades e junto com eles pensar o que queremos para nós,

para depois não ter mais jeito (M1). (sic).

Tem o PSE nas escolas para conversar com adolescentes, mas o PSE, ás

vezes, não toca muito na realidade do dia -a-dia e nós devemos buscar

recursos para eles participarem mais. Através só de palavras eles mudam o

comportamento (ACS-EF). (sic).

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Em relação às drogas, podemos evitar dentro das escolas. O adolescente é

muito esquecido, sem programas específicos (E3). (sic).

5.4 Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente

Finalizando a entrevista, os profissionais ficaram livres para acrescentar suas

opiniões e experiências em relação à promoção da saúde do adolescente. Alguns

manifestaram que necessitam fortalecer estratégias mais adequadas a esse grupo,

visto que muitas vezes não conseguem promover a visita domiciliária e a educação

em saúde como deveriam:

A falha é nossa, nós direcionamos a VD só para idoso e esquecemos esse

grupo e temos que direcionar a VD para promoção (E2). (sic).

Às vezes o PSE não toca muito na realidade do dia a dia e nós devemos

buscar recursos para eles participarem mais. Acho a Educação em Saúde

muito vaga, porque não fala muito sobre o que eles podem passar e através

só de palavras, eles mudam o comportamento (ACS-EF). (sic).

A VD deve ser em mais períodos e dar mais atenção ao adolescente (ACS -

V). (sic).

O trabalho é feito de forma técnica, sem avaliação depois para ver se fez

efeito. Tem que ter espaço para se fazer Educação em Saúde ( ACS-Z).

(sic).

Devemos levar orientação e Educação em Saúde para casa (ACS-L). (sic).

Também foi citada a adolescência como uma fase de desafios, tanto pelas

próprias características desse ciclo de vida quanto como pela pouca capacidade dos

profissionais em trabalhar com esse grupo:

Devemos orientar o adolescente que a droga não tem volta, ou é cadeia ou

cemitério. Tem que procurar outras atividades fora da escola. A gente tem

que ter preparação para falar com eles, que são muito revoltados (TE).

(sic).

Alguns adolescentes são rebeldes, não se pode falar em drogas, só depois

de um tempo. Falar junto com toda a família (ACS-A). (sic).

De uma maneira geral, as dificuldades apontadas pelos profissionais em se

fazer visita domiciliária voltada para o adolescente, não foi “culpando” esse grupo

pelo baixo número de visitas, mas que o ato em si de se fazer visita domiciliária para

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qualquer grupo, especificamente no território estudado, já é um grande desafio, pe la

falta de segurança da região:

As dificuldades da VD estão na questão da segurança. Alguns populares

falam que alguém foi assassinado ontem e você passa no mesmo local e

você vai com medo, com receio de não voltar, de ser assaltado.. . A própria

população merece essa segurança. Tem áreas que você tem que visitar,

porque eles não podem vir para o posto, as chamadas fronteiras, se vierem

ao posto, eles podem ser mortos pelas gangues rivais (M3). (sic).

Não podemos trabalhar direito pela violência da própria área; são jovens

matando, brigas de gangue; a gente não pode fazer um trabalho bom. Hoje

não fazemos um trabalho completo, porque não podemos entrar na área

(ACS-R). (sic).

Outras limitações que alguns entrevistados alegam são o comportamento da

família visitada, ora barrando a entrada da equipe, ora não contribuindo par a o êxito

do trabalho realizado:

As pessoas mais abastadas se fecham mais e as mais simples se abrem mais

para VD. Algumas têm vergonha por conta dos problemas dentro de casa

com os adolescentes. As equipes não têm muito problemas em tocar em

certos assuntos, mas os ACS’s têm, porque pode ter choque ideológico. Às

vezes recebiam a gente com ironia, porque não tinha remédio, médico no

posto; mas agora melhorou (ACS-F). (sic).

A VD é ruim quando somos recebidos por quem não trabalha e, quem

trabalha e não está na casa, diz que os ACS’s não passam na casa (ACS-V).

(sic).

O que tem de ruim é que na VD, às vezes, a gente não é recebida. Ou

quando vamos, tem gente que vem aqui no Posto e diz que a gente não foi

(ACS-L). (sic).

Nós, ACS’s, nos sentimos limitados, porque o paciente pede para verificar

a pressão, glicemia e agente não tem treinamento (ACS- S). (sic).

Os entrevistados relataram um pouco as satisfações que sentem ao realizar a

VD quando percebem reconhecimento por parte dos usuários:

Às vezes é bom quando eles nos mostram o que melhorou por causa da

gente (ACS-V).

Hoje fazendo VD, vejo como eles se sentem acalentados com o pouco que a

gente pode dar. Na VD para acamados eles ficam tão felizes, tiram dúvidas,

a VD veio só ajudar (ACS-C).

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5.5 Visita a um adolescente da área: experiência no território

A fim de vivenciar a realização da visita domiciliária no território, após alguns

contatos com profissionais da unidade de saúde e algumas tentativas frustradas,

ligadas a situações já citadas anteriormente, como falta de veículo e violência, um

agente de saúde da área pesquisada identificou um adolescente que preocupava a

família, pois o mesmo não queria mais sair de casa. A presente situação foi essencial

para se conhecer o território em questão, na perspectiva de uma visita domiciliária ao

adolescente.

O adolescente a ser visitado morava com a mãe, empregada doméstica, três

irmãs, desempregadas, e dois sobrinhos menores de idade. De acordo com a ficha A,

o imóvel da família era próprio, de tijolo, com quatro cômodos. A água do domicilio

era tratada por filtração e abastecida por rede pública. O destino de fezes e urina era

feito através de fossa e o lixo era coletado. Ninguém da família possuía plano de

saúde e todos procuravam hospital e a unidade de saúde em caso de doença. O meio

de comunicação que mais utilizavam era a televisão. Não participavam de grupos

comunitários. Utilizavam ônibus como principal meio de transporte. A agente de

saúde da microárea onde o adolescente morava entrou em contato com a equipe de

sua área e marcaram uma visita à sua família.

Durante a visita, utilizando-se do roteiro presente no APENDICE C, com o

intuito de acompanhar as atividades realizadas pelos profissionais foi identificado

que a equipe formada por enfermeira, médica e agente de saúde, cumprimentou o

adolescente cordialmente ao adentrar a residência, apresentou-se e tratou o

adolescente pelo nome. A equipe também evitou julgamento de valores e reações

preconceituosas. Os profissionais identificaram e conversaram sobre as necessidades,

dúvidas ou preocupações, mas não asseguraram confidencialidade, inclusive junto

aos familiares.

A equipe investigou e observou alterações psicoemotivas e se o adolescente

possuía um projeto de vida. Neste momento, conseguiu-se saber que o adolescente

não queria cortar os cabelos e tinha vergonha de sair de casa, nem mesmo

frequentava a escola.

Os profissionais investigaram sinais e sintomas sugestivos de uso de drogas e

violência. Não houve orientação sobre comportamento de risco que pudesse implicar

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gravidez precoce, DST e AIDS, nem orientação para a prática de sexo seguro e

métodos contraceptivos.

As informações da visita não foram registradas em ficha, protocolo ou

formulário e não houve entrega de material educativo com orientações de educação

em saúde. Porém, houve uma orientação sobre os serviços do Centro de Atenção

Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS) e sobre os grupos de jovens que existiam nas

igrejas da comunidade para que o adolescente se engajasse. Neste item, cabe ressaltar

que antes de se deslocar para a residência do adolescente não foram selecionados

materiais ou insumos educativos, formulários e protocolos para serem utilizados

durante essa atividade. Por fim, a equipe prescreveu vermífugos e vitaminas para o

adolescente e despediu-se cordialmente.

A unidade de saúde não contava, à época dessa visita domiciliária, com o

serviço de Psicologia. No entanto, algum tempo depois uma psicóloga do CAPS

começou a atender na unidade e, devido à necessidade sentida pela equipe e pela

pesquisadora durante a visita domiciliária ao adolescente, entrou-se em contato com

a psicóloga, a qual passou também a visitá-lo.

A psicóloga, durante suas visitas domiciliárias à família, percebeu que a casa

era bem suja e ficava no quintal da casa da avó. O adolescente foi muito pouco

cooperativo, mas a avó foi mais cooperativa e parecia preocupada. O cabelo dele

estava bem grande e, como não saía de casa, também não cortava mais. Ele ajudava

nas tarefas domésticas. A psicóloga tentou conversar, ele apenas respondia de forma

objetiva. Quando foi tocado no assunto escola, ele até demonstrou um pouco de

interesse (ela não sabia se para encerrar a conversa ou se realmente o desejo era

verdadeiro). Marcou para ele ir ao posto, quinze dias depois, ele concordou, mas

nesse momento ela teve certeza de que ele não iria.

Na volta da visita ela foi até a escola em que ele havia estudado, relatou o que

estava acontecendo com esse ex-aluno, mas lá foi informada de que pela faixa etária

ele não poderia retornar. Ele teria que ir para outra escola no horário noturno. A

escola não sabia nada sobre o fato de o rapaz estar em casa, sem sair. E quando a

psicóloga ficou sabendo que ele teria que estudar à noite, visualizou outro problema:

para quem estava com medo de sair durante o dia, sair todos os dias à noite seria bem

mais complicado. Mas mesmo assim fez contato com a Agente de Saúde e informou a

situação.

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Questionou-se o que poderia fazer para ajudá-lo, mas sem a vontade do

paciente ficou sem opção, pois considerou que o desejo de mudança do jovem era

fundamental para iniciar um trabalho. E depois, conhecendo melhor o local através

do relato de outros pacientes e de agentes de saúde, foi constatado que se tratava de

uma localidade de muita violência. Crianças, adolescentes, adultos e idosos passavam

por situações de medo, ansiedade e pânico ao terem que sair de casa.

O caso relatado é o mais extremo que a psicóloga teve conhecimento. Ela

concluiu que provavelmente havia a necessidade de adesão familiar, de uma mãe

mais presente, de forma que pudesse dar suporte ao rapaz para que ele conseguisse

começar a sair pelo menos para atendimentos psicoterapêuticos. No dia da visita a

mãe dele não se encontrava. Um próximo passo poderia ser este, um contato com a

mãe. Assim se poderia ter mais dados sobre a real situação do jovem e, também,

contar com ajuda dela para trazê-lo à unidade de saúde.

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6 DISCUSSÃO

6.1 Caracterização dos trabalhadores da Saúde do estudo

Conforme observou-se neste estudo, houve predominância de participantes do

sexo feminino. Pesquisas evidenciam a predominância do sexo feminino na área da

enfermagem e em algumas áreas relacionadas ao cuidado ao longo do tempo, tanto no

nível superior quanto no técnico e no médio, o que continua até a atualidade, sendo

denominada feminização da profissão.

É interessante também observar o alto percentual de ACS do sexo feminino, o

que pode ser favorável para o desenvolvimento da VD, em virtude de os usuário s se

sentirem mais confortáveis em estabelecer conversas sobre assuntos íntimos com

mulheres. Estudos mundiais indicam que, salvas as exceções, por razões culturais a

mulher é a cuidadora tradicional, inclusive no Brasil (NERI; CARVALHO, 2002).

Sobre o item da capacitação profissional voltada para o adolescente, os

agentes comunitários de saúde foram os mais contemplados. Mesmo entre esses

profissionais ficou clara a dificuldade que as equipes têm de lidar com esse público.

Estudo de Teixeira (2002) concluiu que uma das dificuldades dos profissionais

de saúde no trato com adolescentes era advinda da formação acadêmica, por não

considerar o tema adolescência e sexualidade humana no currículo e, quando

contemplado esse tema, as contribuições estão voltadas para o controle normativo e

tecnológico da sexualidade e para o processo reprodutivo, com pouco ou até nenhum

trabalho que englobe gênero, classe e etnia.

Paulatinamente, a formação acadêmica em saúde deve dar uma maior ênfase

ao ensino sobre adolescência e sexualidade humana com enfoque além do biológico.

Os gestores em saúde devem propiciar mais investimentos na educação permanente

dos profissionais nos serviços de saúde e, consequentemente, tornar viável a

assistência integral à saúde do adolescente.

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6.2 Educação em saúde e visita domiciliária: concepções e práticas

Na apreensão do conteúdo das falas percebeu-se que os profissionais em sua

maioria ainda possuem uma noção de saúde associada à ausência de doença. Em vista

disso, nota-se que a atuação sobre determinantes gerais de saúde é potencialmente

mais eficaz para o incremento da saúde da população do que as ações direcionadas

para a prevenção de riscos ou tratamento e recuperação de agravos, uma vez que seu

impacto se manifesta como ampliação da saúde, consistindo em proteção contra um

largo espectro de possíveis patologias ou agravos (HORTA et al., 2009).

É importante salientar ser no âmbito da ESF que a educação em saúde figura

como uma prática prevista e atribuída a todos os profissionais que compõem a

Equipe de Saúde da Família. Conforme relatado por alguns profissionais nas

entrevistas, a educação em saúde se limita ao repasse de informações, ao conceito

positivo de saúde, de cura e doença.

A OMS, inicialmente, considerou como definição positiva de saúde o

completo bem-estar, ou seja, algo quase inatingível e, portanto, não poderia ser usado

como meta pelos serviços de saúde, conceito que parece ainda influenciar alguns

participantes desse serviço. No entanto, é desejável que o profissional da ESF seja

capacitado para a assistência integral e contínua às famílias da área adscrita de seu

território, identificando situações de risco à saúde na comunidade assistida,

enfrentando em parceria com a comunidade os determinantes do processo saúde-

doença e desenvolvendo processos educativos para a saúde voltados à melhoria do

autocuidado dos indivíduos (BRASIL, 1997).

Convém salientar que apesar da aceitação da ideia de que a saúde é mais que a

ausência de doenças, a formação em saúde ainda está voltada a práticas preventivas

de doenças, o que incita a se questionar se a promoção da saúde numa perspectiva de

educação em saúde necessita de mudança de paradigma. Tal inquietação decorre do

fato de a saúde continuar sendo vista, mesmo sob o foco da promoção da saúde, de

forma individualista, uma vez que a saúde é abordada como uma responsabilidade

individual onde impera o “bom” uso da autonomia individual (FLEURY -TEIXEIRA

et al., 2008)

Para Coelho et al. (2004), a visita domiciliária é um dos destaques da prática

da Saúde da Família, havendo duas formas de visita. A primeira forma é a visita

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domiciliária fim, com objetivos específicos de atuação, como a atenção domiciliária

terapêutica e a visita a pacientes acamados. E a segunda forma é a visita domiciliária

meio, na qual se realiza a busca ativa em demanda reprimida, promoção e prevenção

da saúde através da educação em saúde individualizada.

A visita domiciliária focada no adolescente representa uma estratégia de

atenção à saúde que engloba muito mais que o simples fornecimento de um

tratamento. Apresenta-se como um método que amplia a dimensão do assistir, não

tendo seu enfoque na doença, mas na promoção, manutenção e recuperação da saúde

do ser humano na perspectiva de sua família, além da busca da participação do

paciente e de seus familiares no processo do cuidado (KAWAMOTO et al., 2004).

Importante destacar que nas falas dos profissionais, eles ressaltam a

necessidade da visita ser realizada por uma variedade de categorias profissionais para

que a visão sobre o contexto do ambiente em que vive o paciente seja ampliada.

Alguns apontam que existe pouca participação do profissional de odontologia nas

visitas domiciliares e que isso é uma falha da ESF. No caso do adolescente visitado

pela psicóloga, essa necessidade ficou mais evidente, pois, através dela houve a

percepção de outros problemas, como a falta de envolvimento da mãe e da escola na

vida do adolescente.

A visita domiciliária respeita e atende aos princípios norteadores das ações

especificadas nas Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal, como os princípios

da ética da saúde, o acesso universal para a assistência e o acolhimento . Considera o

usuário em sua integralidade biopsicossocial, a criação de vínculo entre os

profissionais da Odontologia e os usuários, além da responsabilidade profissional,

garantindo respostas resolutivas aos problemas do usuário (BRASIL, 2004).

Normalmente, as equipes sofrem com a falta de carro para realizar os

atendimentos domiciliares e quando existe o carro para se fazer a visita, este não

comporta todos da equipe e o dentista não é priorizado neste tipo de atendimento.

Outras vezes o próprio dentista tem a ideia de que seu trabalho só pode ser realizado

no consultório.

A princípio define-se como cuidados domiciliares em saúde bucal o conjunto

de ações de educação em saúde, orientações sobre os autocuidados, prevenção e

assistência odontológica realizados no domicílio. Frente ao desafio de proporcionar

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cuidados domiciliares em saúde bucal, no que diz respeito à assistência, há que se

considerar que na maior parte das vezes exige equipamentos, instrumentais,

condições de biossegurança e de ergonomia que dificilmente serão alcançadas

plenamente no domicílio (SÃO PAULO, 2005, on line).

Em decorrência das dificuldades apontadas, o consultório odontológico dos

serviços de saúde é o espaço privilegiado para o desenvolvimento das atividades

clínicas. As atividades de assistência odontológica oferecidas no domicílio devem

ficar restritas aos casos em que a equipe que acompanha o paciente julgar necessário,

sempre considerando acima de tudo a necessidade apresentada pelo mesmo (SÃO

PAULO, 2005, on line)

Quando se iniciaram as VDs no Brasil, elas eram realizadas por ACS, através

do Programa de Agentes Comunitário de Saúde (PACS). Atualmente profissionais de

diversas áreas, como médicos, enfermeiros, cirurgiões-dentistas, profissionais do

Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) atuam conjuntamente, formando uma

equipe interdisciplinar e compartilhando a assistência e as responsabilidades. Em

função da atuação em equipe, aproveita-se o conhecimento específico de cada

profissional em sua área, e a atenção dispensada ao paciente torna -se integrada

(DIAS et al., 2006).

Muitos profissionais acreditam que há a necessidade de os usuários tomarem

conta de sua própria saúde e serem responsáveis por suas decisões, reafirmando o

que alguns autores relatam sobre a necessidade de empoderamento da saúde.

O empoderamento, na ESF, é um instrumento em potencial de transformação,

pois está inserido nos territórios onde os membros da equipe estão sempre em

contato com a população, caminham pelas ruas, entram nas casas e conversam

diretamente com as pessoas, alcançando, muitas vezes, grande poder de influência.

Por exercer esse papel, os profissionais adquirem amplo conhecimento sobre os

processos de saúde/doença/cuidado das famílias acompanhadas, possibilitando

adaptar as práticas e pensar ações focadas nas demandas individuais de cada

comunidade. O uso da estratégia de empoderamento pelos serviços para a promoção

da saúde é carregado de potencial para a mudança social e a redistribuição de poder.

Os usuários precisam ser estimulados a ter um olhar sobre a ESF em um

contexto de participação social, onde deve ser discutido não só questões relativas

diretamente à saúde dos usuários ou dos funcionamentos dos serviços, mas também

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debater e levantar possibilidades para outros problemas que envolvem o coletivo. Os

profissionais acabam por desempenhar uma função de mobilizador de ações

individuais e sociais. Diante disso, a ESF pode e deve ser vista como instrumento -

chave para que o processo de empoderamento se efetive.

Com a incorporação do conceito de educação em saúde em suas práticas de

saúde, o profissional deixa de solucionar problemas agudos, procurando descobrir as

causas que desencadeiam as doenças e suas intercorrências. Isso deve ser

incorporado desde a formação profissional, para vencer os desafios e implementar o

novo nessa formação, desvinculando-se das bases curativistas.

A visita domiciliária é uma oportunidade de o profissional levar a educação

em saúde in loco e descobrir algumas causas de problemas que muitas vezes são

desencadeados no ambiente onde o usuário vive, e que normalmente o profissional

não consegue saber durante um atendimento no consultório, conforme alguns

entrevistados relataram.

Algumas das causas de doenças, como a dengue, são prevenidas da melhor

forma quando se trabalha o local onde as pessoas habitam, pois lá pode estar o foco

do mosquito causador da doença. Muitas vezes, o paciente recebe orientações sobre a

prevenção da doença, mas não as coloca em prática. Através da VD, o profissional

pode ver de perto se o domicílio está protegido dos focos do mosquito. Em épocas

em que a dengue está em epidemia os entrevistados disseram que ela é bastante

trabalhada no ambiente domiciliário, mais que qualquer outro assunto.

A visita domiciliária é uma estratégia que apresenta algumas vantagens, como:

a presença do profissional de saúde in loco para levar informações de saúde ao grupo

familiar, permitindo, com isto, uma visualização de condições peculiares de

habitação, higiene e hábitos de vida; um planejamento das ações mais factíveis, já

que busca atender as condições observadas no domicílio; o melhor relacionamento do

grupo familiar com o profissional de saúde por ser sigiloso e menos formal, além da

liberdade para se expor os mais variados problemas, já que o tempo disponível é

maior do que quando o atendimento é realizado nas dependências dos serviços de

saúde (MARASQUIN et al., 2004).

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6.3 Introdução da educação em saúde a família com enfoque no adolescente.

Quando se perguntou sobre a educação em saúde voltada para o adolescente,

muitos profissionais disseram que a escola é o ambiente mais propício para se fazer

essa atividade, de forma que chegue ao adolescente com mais possibilidades de êxito.

O ambiente escolar, local onde os jovens passam grande parte de suas vidas,

pode atuar de maneira significativa na formação de opiniões e na construção de

caráter, sendo um lugar de referência para a implementação de qualquer programa

que vise à educação e à conscientização. A maioria dos adolescentes permanece

algumas horas dentro da escola, quando o aprendizado é sedimentado e os hábitos

familiares podem sofrer influências a partir das informações recebidas nesse

ambiente.

No entanto, os educadores não costumam dar ênfase a assuntos relacionados à

saúde, o que dificulta o fortalecimento do trabalho realizado pelos profissionais de

saúde no ambiente escolar.

Neste contexto, Mastrantonio e Garcia (2002) apontam para a sala de aula

como o lugar mais apropriado para a apresentação de um programa de educação em

saúde porque forma opiniões.

Estas informações discordam dos encontrados por Cangussu et al. (2001), que

perceberam que os alunos entrevistados creem que a educação e a saúde andam

juntas e que os professores devem ser cobrados para a realização dessa atividade

junto ao processo educativo.

Outro tema citado pelos entrevistados que também deve ser trabalhado na

escola com os adolescentes são as drogas. Um fator que dificulta a implementação de

atividades educativas junto aos adolescentes é a ausência desse público nas unidades

de saúde. Daí a necessidade de inclusão de atividades educativas na escola e até

mesmo no ambiente familiar.

O estudo de Haack et al. (2012) sobre fatores de risco e proteção mostra que

fatores de risco são aquelas circunstâncias sociais e/ou pessoais que tornam a pessoa

vulnerável a adquirir comportamentos arriscados, como usar drogas. Fatores de

proteção são aqueles que contrabalançam as vulnerabilidades, tornando a pessoa com

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menos chances de adotar esses comportamentos. Sobressaem-se, portanto, a família,

a escola, os pares e a comunidade onde o jovem vive.

Nota-se que essas instituições possuem um papel fundamental como fatores de

proteção, embora também se desenvolvam como fatores de risco ao exercerem

influências que induzam ao consumo de drogas. No caso do adolescente

acompanhado pela equipe, verificou-se que ele não se engajava em qualquer grupo,

nem mesmo na escola e, além disso, a mãe era ausente.

Ao se realizar um trabalho de prevenção com um grupo é necessário conhecer

a realidade daquele grupo específico, identificando, para aquelas pessoas, o que é

fator de risco e o que pode ser fator de proteção, a fim de atuar minimizando os

primeiros e fortalecendo os segundos. Daí a importância de os profissionais

conhecerem o ambiente de relações dos adolescentes para prevenir riscos a esse

grupo.

Concordando com o que alguns entrevistados afirmaram quanto à necessidade

do apoio de toda a sociedade para se prevenir as drogas entre adolescentes e

sensibilizá-los para a melhoria de sua qualidade de vida, o problema do uso indevido

de drogas está disseminado em todos os lugares. Clubes, escolas, condomínios,

bairros, todos enfrentam esse problema. Muitas vezes, por não se saber como abordar

o problema, não se toma iniciativa para tentar resolvê-lo. Considerando que são

muitos e variados os fatores que causam os problemas com o abuso de drogas, uma

ação isolada não é suficiente. São necessárias ações conjuntas, em diferentes níveis,

realizadas e dirigidas para os diversos grupos que compõem a sociedade (HAACK et

al., 2012).

6.4 Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente durante a

visita domiciliária.

Os entrevistados, de forma livre, relataram que se sentem corresponsáveis por

não priorizar a atenção aos adolescentes, e que parte dessa falha se deve à não

capacitação durante sua formação acadêmica e profissional.

Apesar de não se ter encontrado diferenças no comportamento entre

profissionais mais velhos e mais jovens, estudos relatam que médicos que tiveram

algum treinamento em medicina do adolescente durante a residência demonstram

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mais possibilidade de lidar adequadamente com questões relativas a essa faixa etária

(VITALLE, 2010).

Mesmo assim, sabe-se que a resistência para lidar com problemas sociais, de

conduta e morbidade, pode e deve ser corrigida na escola médica. Caso contrário as

barreiras persistirão nas práticas clínicas. Importante lembrar a necessidade de

adequação de conteúdos e preparo de competências durante a vida profissional,

enfatizando-se situações em que não houve formação durante a graduação, tais como

aquelas que exigem escuta diferenciada e acolhedora na direção da real atenção à

saúde do adolescente.

Esse ensino deve ser realizado respeitando-se a integralidade da atenção e a

não fragmentação em especialidades. É preciso ter a compreensão integral do

adolescente, dentro de seu contexto sociocultural e familiar. No atendimento dessa

população, muitas vezes há o envolvimento de diversas especialidades, cujo

treinamento pode afetar a qualidade da assistência prestada. Desse modo, pode -se

dizer que a fragmentação pode criar confusão sobre a identidade da assistência

primária e diminuir sua importância, já que existem atitudes diversas

(HALVORSEN, 2008)

Os adolescentes são atendidos frequentemente por ginecologistas,

endocrinologistas, psiquiatras, dentistas, entre outros profissionais que costumam

apresentar uma visão fragmentada do adolescente. Até mesmo os pediatras que atuam

nos centros de atenção primária e secundária e costumam ser os primeiros a cuidar

desses jovens também necessitam de treinamento na área de medicina do adolescente

para cuidá-los de forma integrada.

Os profissionais precisam superar preconceitos antes de encarar programas

educacionais voltados para a adolescência, como pouca proximidade com as questões

dessa faixa etária; tendência a encarar os adolescentes de forma negativa e

estereotipada; falta de professores qualificados em medicina do adolescente;

constrangimento em lidar com sexualidade e situações de violência (que podem

demandar, inclusive, intervenções interdisciplinares); sobrecarga de trabalho,

dificultando o acesso à aprendizagem. Além disso, é preciso que exista o desejo e a

disponibilidade para trabalhar com essa faixa etária (VITALLE, 2010).

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Apesar do crescente interesse mundial pela saúde do adolescente nos últimos

anos, poucas universidades incorporaram este tema ao seu currículo. No Brasil, há

serviços e universidades que promovem a capacitação de profissionais na área de

saúde do adolescente, entretanto, o ensino de adolescência no período da graduação

quase não existe na maioria das faculdades. E se acontece, normalmente é por meio

de aulas teóricas isoladas (CECCIM; FEUERWERKER, 2004).

O Comitê de Ensino da Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que o

aprendizado deve ser realizado de modo integrado e de preferência sob a forma de

treinamento prático em serviço.

Paulo Freire (apud MARTINS, 2006), teórico da educação de adultos, já

demonstrou que a prática é o grande incentivador do aprendizado. Por isso, acredita -

se que programas de capacitação são muito interessantes tanto para alicerçar o saber

do profissional quanto para promover novas competências. O ensino da adolescência

abrange: áreas de conhecimento (contempladas com a realização de pré e pós-testes),

habilidades (relação profissional-paciente, obtenção de informação, raciocínio

clínico, o que o profissional faz com a informação, como trata o paciente, como se

relaciona com a equipe), e atitudes relacionadas à prática. Na verdade, a aquisição e

a transformação de atitudes, conhecimentos e habilidades fazem parte de um

processo contínuo que permeia toda a vida profissional num processo de educação

permanente.

Alguns entrevistados disseram que fazer promoção à saúde para qualquer

grupo, incluindo o adolescente, através da visita domiciliária, é um grande desafio,

devido à dificuldade de tudo que pode envolver esse processo , mais ainda quando a

violência está presente. A visita domiciliária é uma ferramenta utilizada no processo

de educação em saúde, o qual se organiza em um conjunto de saberes e práticas

orientadas para a prevenção de doenças e a promoção da saúde. É um ins trumento

por meio do qual o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde,

intermediado pelos profissionais de saúde, atinge a vida cotidiana das pessoas, uma

vez que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença oferece

elementos para a adoção de novos comportamentos (KERBER, 2008).

Dentre os pontos negativos que tendem a dificultar o processo de efetivação

da visita domiciliária encontra-se o desrespeito à rotina domiciliária, o horário

inapropriado de acesso ao domicílio e o grande número de profissionais adentrando a

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casa de uma única vez. Outro fato é a falta de transporte e a violência encontrada em

alguns territórios. Além disso, é necessário que haja empatia, respeito mútuo e

atitude de não julgamento do profissional em relação ao conteúdo e ao ambiente da

visita.

Outras dificuldades apontadas em estudos estão na possibilidade de causar

dependência na população, principalmente em relação ao profissional médico, pois

pode promover acomodação, causando dependência e desestímulo a procurar a

unidade de saúde. Além disso, adentrar a casa das pessoas constantemente e sem a

autorização delas nem sempre agrada as famílias que recebem os profissionais, pois

essas famílias podem se sentir invadidas, na saúde e na liberdade, o que pode trazer

recusa (MANDÚ et al., 2008).

O Ministério da Saúde orienta que o ACS faça pelo menos uma visita

domiciliária por mês e, em casas que necessitem uma atenção maior, esse número

pode aumentar. Para isso é preciso que o profissional saiba definir quais as famílias

indicadas para receber o atendimento, levando em conta as maiores necessidades.

Com isso, a educação da comunidade em relação ao serviço é fundamental para que

não haja conflitos de interesses. A equipe realiza suas práticas de maneira

individualizada, mudando apenas o cenário de atuação, que passa a ser o domicílio,

mas muitas vezes visualiza a família como mera receptora e/ou fornecedora de

informações, sem levar em consideração a singularidade de cada uma

(GIACOMOZZI; LACERDA, 2006).

Uma das principais limitações no tocante à atuação dos trabalhadores de levar

a educação em saúde para a visita domiciliária é a escassez de programas de

capacitação. Muitos deles atuam nas visitas sem nenhum preparo para essa

modalidade de atenção e apresentam dificuldades em identificar as demandas

necessárias e propor intervenções junto aos indivíduos e suas famílias,

principalmente em relação ao adolescente (PUSCHEL, 2007).

Em relação às dificuldades da VD, é importante salientar que não adianta

apenas determinar que a equipe de saúde aborde a família como uma unidade de

cuidado, pois o que falta são instrumentos e instruções para os profissionais que

atuam nesse ramo de assistência à saúde (SILVA, 2007).

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Além disso, os profissionais dispõem de pouco tempo para realizar a sua

tarefa, o que culmina com sentimento de frustração e impotência ante as demandas

trazidas pelas famílias. O processo de implantação e gestão da visita domiciliária

exige muita atenção (PÜSCHEL et al., 2006).

A efetivação do processo de realização da visita domiciliária depende de o

profissional planejar sua visita, preparar material educativo e elaborar um roteiro

sistematizado, enfocando sempre a qualidade de vida do indivíduo e de sua família

(LACERDA et al., 2006).

Na observação da visita na área pesquisada percebeu-se que não havia a

preparação de material educativo nem roteiro sistematizado para a realização dessa

atividade.

A visita permite ao profissional e à sua equipe uma maior aproximação com a

realidade em que vive o usuário ou a comunidade. O profissional, na realização da

visita domiciliária, deve respeitar os princípios e as condições reguladas ,

fundamentalmente, na ética e no respeito, já que o lar é um lugar privativo do

indivíduo, ao qual pertence o direito de privacidade e sigilo profissional. A equipe da

área do adolescente realizou a consulta sem a privacidade devida; a consulta foi

realizada na sala para qualquer um da família ouvir (LACERDA et al., 2006).

Ademais, as VDs podem assumir um caráter de controle negativo sobre a vida

familiar, quando ganha um sentido de fiscalização, de vistoria. Um fato importante a

ser destacado é que adentrar no domicílio é complexo, pois este é considerado o

espaço íntimo da família. Por isso, o trabalhador deve observar os preceitos da ética

e respeito para com os indivíduos.

Os entrevistados também falaram das satisfações que podem ter quando estão

realizando a visita domiciliária, desde o reconhecimento dos usuários em relação ao

trabalho dos profissionais, até a mudança de hábitos que é observada após as

orientações passadas pela equipe.

As vantagens da VD são destacadas por grande parte dos autores estudados. O

principal benefício demonstrado por essa estratégia está no fato de ela permitir que o

profissional faça uma avaliação do perfil habitacional da população, contribuindo

com a identificação dos principais riscos à saúde da comunidade. Um aspecto

importante é que a VD pode melhorar o estado geral de saúde da população, por

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causa das medidas de prevenção que são passadas durante o atendimento

domiciliário. O adolescente acompanhado recebeu prescrição para vermífugos e

vitaminas. A tática da visita domiciliária também diminui o número de atendimentos

nas unidades de saúde, o que significa uma menor sobrecarga nas unidades, levando

a menores necessidades de investimentos (AZEREDO et al., 2007).

O contato dos trabalhadores com os usuários no espaço domiciliário faz com

que as relações entre aqueles e estes últimos se estreitem, criando um vínculo maio r

e, com isso, proporcionando maior aproximação à clientela do serviço de saúde, até

porque a aproximação com o adolescente é mais complicada em qualquer ambiente.

O vínculo é outra vantagem da visita domiciliária, pois o contato próximo

profissional/usuário permite um atendimento humanizado. Também tem-se como

vantagem da VD o fato de o profissional se tornar referência quando surge uma

necessidade, como falta de uma medicação, alterações na situação de saúde do

indivíduo ou dúvidas relacionadas ao processo de vida e de saúde. Isso acontece

devido ao grande vínculo estabelecido durante as VD e tende a se propagar com o

tempo (KERBER et al., 2008).

Contribuir para as mudanças de estilo de vida dos indivíduos, ampliar as

oportunidades, favorecer o conhecimento da população, propiciar o aprendizado das

pessoas e resgatar o bem-estar físico e emocional dos indivíduos são outras

vantagens da VD (MARTINS et al., 2007).

Logo, a VD é uma oportunidade de contribuir para a mudança de padrões de

comportamento e, consequentemente, promover a qualidade de vida através da

prevenção de doenças e da promoção da saúde, além de garantir atendimento

holístico por parte dos profissionais, os quais, por isso, necessitam compreender os

aspectos psicológicos, as relações afetivas e os fatores biológicos e sociais da

clientela assistida. O adolescente e a família receberam orientações para buscar

engajamento em grupos religiosos ou terapêuticos.

O trabalhador da VD pode agir como facilitador de descobertas e reflexões dos

sujeitos sobre a realidade, cabendo aos indivíduos o direito de aceitar ou não as

alternativas. A educação em saúde se baseia na prevenção de doenças e tem como

foco a mudança de comportamento. Ela propõe uma forma de trabalho diferente da

educação tradicional, despertando a consciência crítica das pessoas e dos grupos

sociais para envolvê-los nos aspectos relacionados à saúde, tornando-os empoderados

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dos processos envolvidos em sua qualidade de vida. É importante o profissional

observar a percepção do usuário e se empenhar em estabelecer relações e resolver

possíveis problemas relacionados com suas reais necessidades de saúde. Além do

mais, a equipe deve iniciar suas ações de prevenção de complicações e promoção da

saúde refletindo sobre sua prática com vista à melhoria do cuidado (SOUZA; LIMA,

2007).

A equipe precisa se envolver na história de vida da população, estimular sua

autoconfiança e a cidadania, para assim ampliar seu conhecimento científico e

colaborar no desenvolvimento de um pensamento crítico. Considera-se a educação

em saúde um dos mais importantes elos entre os desejos e as expectativas da

população quanto a uma vida melhor e as projeções e estimativas dos governantes ao

ofertar programas de saúde que possam ser efetivos, de maneira que cada um faça

sua parte e não se pense que saúde é, apenas, dever do Estado (MARTINS et al.,

2007).

Os trabalhadores entrevistados cuidam de um território violento onde, muitas

vezes, as visitas domiciliárias são canceladas devido a momentos de troca de tiros

entre traficantes e, normalmente, estes são adolescentes. A violência vem sendo

discutida, apesar de timidamente, desde o final do século XX, tornando -se presente e

inserida nas políticas públicas de saúde, assistência e segurança, através de leis,

diretrizes, programas e projetos para sua redução, seu combate e promoção de

assistência, acolhimento e prevenção (SOUZA; LIMA, 2007).

A Organização Pan-Americana de Saúde (2002 apud BRASIL, 2005c, on line)

considerou que a questão da violência adquiriu um caráter endêmico e se converteu

em um problema de saúde pública, dada a grandeza e o crescimento de seus eventos,

ocasionando um grande número de vítimas com sequelas orgânicas e emocionais. O

adolescente acompanhado na pesquisa sofria de depressão devido a problemas de

violência na sua comunidade.

Em outros estudos essa realidade de violência que dificulta o trabalho das

equipes através das visitas domiciliárias também está presente, como num trabalho

de visita domiciliária às famílias com idosos nas periferias pobres de Belém do Pará.

Num estudo feito em unidade básica de saúde de uma comunidade carente de Rio

Grande do Sul, registra-se que os profissionais enfatizam a necessidade de ações e

políticas urgentes de esforço intersetorial na resolução da questão que impede ou

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constrange a ação cotidiana dos serviços de saúde na família e na comunidade

(POLARO, 2013).

O Ministério da Saúde (2012) elaborou o Caderno de Atenção Domiciliar no

qual dá algumas orientações que devem ser seguidas em locais de alto índice de

violência urbana. É necessário que a equipe da ESF esteja atenta para:

- garantir o reconhecimento dos profissionais das equipes de ESF pela

população local através dos conselhos locais e dos agentes comunitários de

saúde;

- os profissionais das equipes devem estar identificados, com uniformes e

crachás indicando que são profissionais de saúde; os meios de transportes

devem estar devidamente identificados, garantindo o reconhecimento da

população como transporte de equipe de saúde;

- as escalas de atendimentos devem propiciar horários para essas visitas em

períodos com maior circulação da população, preferencialmente no período

da manhã ou início da tarde. Este horário deverá ser pré-agendado com a

família;

- em regiões de muitos becos e alto índice de violência urbana a equipe

poderá solicitar a presença de ACS responsável pela área para que este

facilite o acesso da equipe;

- os profissionais em visita devem, na medida do possível, estar em duplas e

sempre a viatura de transporte da equipe deve estar à espera desses

profissionais.

No caso de conflitos extremos na região, os profissionais devem buscar

condição de sair dessas áreas imediatamente.

No bairro onde o estudo foi realizado é comum se ouvir os ACS e os

moradores da área relatarem mortes que ocorrem no bairro, normalmente envolvendo

adolescentes, seja matando ou morrendo. Tudo isso devido ao tráfico de drogas e às

brigas de gangues. Atualmente, o bairro se encontra constantemente nos noticiários

da televisão por causa dessas mortes, além dos furtos e assaltados que acontecem na

região, chegando a ser considerado o segundo bairro mais violento de Fortaleza.

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Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006) apontam

que do total da população brasileira, o percentual de adolescentes em conflitos com a

lei entre 12 e 18 anos representa 15%, ou seja, 0,2% de toda a população do País

responsável pela prática dos atos infracionais.

O levantamento realizado pelo Instituto Latino-Americano das Nações Unidas

para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (2014, on line) demonstrou

que é expressiva a quantidade de usuários de drogas entre os adolescentes privados

de liberdade no país: em 2002, 85,6% faziam uso antes da apreensão, especialmente

de maconha (67,1%), álcool (32,4%), cocaína/crack (31,3%) e inalantes (22,6%).

Adolescentes infratores tendem a procurar amigos no próprio meio de

infração, buscando estímulo e apoio em suas ações ilegais como roubos, tráfico ou

uso de drogas (SILVA; GUERESI, 2003).

Os delitos que os adolescentes citaram como os mais praticados foram o roubo

(82%), o porte de arma (80,7%), o tráfico de drogas (74%) e o furto (59,3%).

Resultado semelhante já havia sido apontado em estudo anterior (MARTINS;

PILLON, 2008).

No que toca ao roubo, verificou-se a tendência estatística de os adolescentes

com baixo nível de escolaridade terem maior probabilidade de participação em

roubos em idade precoce.

Na comparação das variáveis, "primeiro uso de drogas" e "primeiro ato

infracional", com a finalidade de avaliar sua possível relação, os resultados apontam

que os adolescentes iniciaram o uso de álcool, de tabaco e de maconha com idade

média de 12 anos, ao passo que, na prática de infrações, a idade média foi de 13

anos, sugerindo que o uso dessas drogas precede o uso de outras drogas e a prática de

infrações.

Tanto neste estudo quanto em outros similares da literatura, o álcool e a

maconha são apontados como os mais consumidos por esses adolescentes e estão

associados aos delitos praticados por essa população. Este fato confirma que o uso de

drogas ocorre precocemente, existindo a chance maior de o adolescente se envolver

mais cedo com as infrações e sugerindo que o uso de drogas o deixa mais vulnerável

aos comportamentos de risco, como a prática de infrações (PINHO et al., 2006).

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As principais características da maioria das vítimas de homicídios no Brasil:

sexo masculino; com idade entre 15 e 18 anos; morador de periferias ou favelas

urbanas; jovem não branco; de classe economicamente desfavorecida;

frequentemente morto por projétil de arma de fogo; considerado marginal nos

registros policiais (MINAYO, 2005).

A adolescência é permeada por momentos de mal-estar (depressão,

sentimentos de perda, de abandono, de angústia, escolha de identidade), justamente

por ser um período de constantes transformações. Os sintomas da adolescência, as

condutas de risco (suicídios, transgressões, anorexia, bulimia, uso de drogas) surgem

em função da incapacidade de se conseguir enfrentar esse mal -estar. Caso não

encontre formas "saudáveis" de enfrentá-lo, o adolescente pode passar por um

sofrimento intenso, marcado pela impossibilidade de se comunicar (BAUMKARTEN,

2001).

Os sintomas aparecem quando há ruptura ou estagnação no desenvolvimento

do ciclo de vida de uma família ou de algum outro grupo natural. “Os sintomas dos

adolescentes são testemunhas do seu sofrimento, da sua vontade e simultaneamente

da sua impotência para curar os sistemas relacionais” (COLLE, 2001, p.196).

Neste sentido, a “transgressão” das normas é a forma encontrada pelo jovem

de se comunicar com o outro; de denunciar um sofrimento coletivo; é mais um

pedido de ajuda que uma afirmação em si.

Em um contexto de pobreza e exclusão, onde os problemas enfrentados são os

mais diversos, agravados pela introjeção de uma autoimagem negativa, pela

descrença em si mesmo e pela ausência de esperança de melhores condições de vida,

esses jovens, além de desejar esquecer os problemas e encontrar momentos de prazer,

passam a acreditar que com a droga podem tudo, que a droga é capaz de lhes oferecer

“poder” e “coragem” para desafiar, conquistar ou violar.

O uso ou o abuso de drogas na adolescência é um problema de saúde pública,

crônico e recorrente que requer atenção especial dos profissionais que trabalham na

área da saúde. Há um crescimento nos índices de usuários de drogas nessa faixa

etária, e a idade de experimentação está sendo cada vez mais precoce (CARLINI et

al., 2002).

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Os abusadores adolescentes experienciam uma variedade de problemas,

incluindo rapidez na evolução do diagnóstico de abusadores para dependentes, e uma

ocorrência maior de comorbidades relacionadas ao uso, bem como envolvimento com

atos infracionais, sendo esses os fatores que fazem com que os profis sionais da área

da saúde tentem buscar alternativas eficientes para intervenções que auxiliem na

prevenção e na resolução dessa problemática (BECKER; CURRY, 2008; FRENCH et

al., 2008).

A família é o núcleo básico da sociedade. Como todo grupo social, se en contra

atravessada por papéis e posições que demarcam o comportamento do indivíduo.

Cada membro exerce diferentes papéis na família que vão se alterando de acordo com

a etapa do seu ciclo de vida. Os papéis assumidos podem ser agrupados em algumas

categorias, que se modificam sistematicamente no decurso da vida: os papéis

laborais, de gênero e relativos à idade. As mudanças mais facilmente visualizadas

incidem nos papéis familiares. Quando o adolescente começa a vivenciar novas

experiências nas quais deve assumir compromissos pessoais, familiares e sociais, e

desempenha, ao mesmo tempo, dois ou mais papéis incompatíveis entre si, conflitos

são gerados e a tensão resultante se manifesta quando não se tem habilidade para

cumprir satisfatoriamente todos os papéis (PRATTA; SANTOS, 2009).

A busca pela identidade pessoal é um dos compromissos psicossociais mais

decisivos para o adolescente, porquanto ele tem necessidade de se destacar em seu

grupo familiar e de seus pares como ser distinto dotado de personalidade própria.

Nessa etapa do ciclo vital ele busca dar sentido à vida e compreender aquilo que o

cerca; para tanto precisa aprender a aceitar a si mesmo e aos demais, fortalecendo

seu ego. Para que esse processo de construção identitária se consolide é importan te

que os pais estimulem o amadurecimento de seus filhos.

Esse período de intensas transformações biopsicossociais pode conduzir a um

desenvolvimento saudável quando o núcleo familiar oferece uma boa base de

sustentação para as experimentações do adolescente. Contudo, por vezes, a dinâmica

familiar é conturbada e não contribui para acolher os conflitos dos filhos em

desenvolvimento, o que pode levá-los a se engajar em comportamentos sintomáticos

que favorecem a aproximação com o universo das drogas.

O profissional de saúde, através da visita domiciliária, pode observar a

dinâmica familiar e perceber possíveis transtornos nas relações interpessoais e,

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consequentemente, auxiliar na melhoria do ambiente familiar, seja através de apoio

psicológico, seja através de orientações sobre qualidade de vida.

As necessidades de saúde e bem-estar dos adolescentes devem ser

consideradas dentro do contexto em que vivem, incluindo, além dos aspectos

familiares, os fatores culturais, socioeconômicos e políticos. A visita domiciliária

facilita a análise desses aspectos para que o profissional possa compreender o modo

de viver do jovem. Condições de privação, habitação inadequada, ruptura da família,

ausência de educação e violência são algumas das situações de risco que po dem

prejudicar a saúde dos adolescentes (ASSIS et al ., 2002).

Se o adolescente não possui um problema específico, como problemas

psiquiátricos ou alguma doença física, dificilmente ele é abordado durante a visita

domiciliária para uma conversa sobre os fatores de risco aos quais essa população

está mais vulnerável, como as drogas, as DST e a gravidez precoce. Ainda se fala

sobre vida escolar e profissional, mas de forma que o jovem é abordado sem

privacidade, o que dificulta o adolescente ficar à vontade para se expor.

A visita domiciliária mostra-se como um instrumento que contribuiu para a

abordagem integral dos adolescentes e de suas famílias, tendo-se observado o

contexto socioeconômico e cultural da comunidade e a própria dinâmica familiar.

Assim, busca-se como superação o emprego da visita domiciliária como uma

ferramenta restrita ao acompanhamento técnico de situações específicas. Reforça -se a

visita domiciliária como uma importante ferramenta no entendimento dos ciclos de

vida que constituem aquela área de abrangência.

A educação em saúde revela-se como uma prática totalmente adequada à

dinâmica da visita domiciliária, devido ao seu caráter dialógico e com fins de

emancipação do sujeito, sendo ideal para a prática da prevenção de doenças e da

promoção da saúde.

A Figura 1 ilustra as principais considerações do estudo:

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75

Figura 2: Quadro esquemático dos principais resultados do estudo, Fortaleza, 2014.

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

Caracterização dos trabalhadores da Saúde do estudo:

FEMINIZAÇÃO(NERI, CARVALHO, 2002)

FALHA NA FORMAÇÃO;

EDUCAÇÃO PERMANENTE.

Desafios e possibilidades na promoção da saúde do adolescente

durante a visita domiciliária:

AUSÊNCIA DE DOENÇAS;

REPASSE DE INFORMAÇÕES;

VD FIM E VD MEIO(COELHO, 2002); MULTIDISCIPLINAR;

EMPODERAMENTO;

VÍNCULO E OBSERVAÇÃO IN LOCO.

Introdução da Educação em Saúde na família com enfoque no adolescente:

ESCOLA;

FAMÍLIA,

COMUNIDADE- RISCO E PROTEÇÃO (HAACK, 2012

Educação em Saúde e visita domiciliária: concepções e práticas:

DESPREPARO, MEDICINA DO ADOLESCENTE(VITALLE, 2010);

DESVANTAGENS E VANTAGENS DA VD;

MANUAL DE ATENÇÃO DOMICILIAR( BRASIL, 2012). DROGAS E DELITOS,

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76

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados do estudo e das percepções dos profissionais atuantes

na Estratégia de Saúde da Família, a visita domiciliária pode ser considerada

instrumento ideal para se promover educação em saúde no ambiente familiar, pois a

troca de informações se dá no contexto de vida do indivíduo e da sua família. As

orientações não estão prontas, pois cada domicílio apresenta uma realidade, e cada

família possui uma necessidade. Com base nessa realidade é que acontece a troca de

informações.

Conforme depoimentos dos profissionais da equipe de saúde, é urgente

readequar a atividade de visita domiciliária às características da população de cada

local e resgatar o significado e a importância dessa prática para a Estratégia Saúde da

Família, principalmente em relação ao adolescente. Com o número de doenças e a

necessidade desses grupos populacionais, o número de famílias sob a

responsabilidade de cada equipe extrapola sua capacidade de resposta, necessitando

talvez de um redimensionamento do número de profissionais que atuam em cada

unidade da ESF, o que já está sendo pensado na atual gestão do município de

Fortaleza, orientado pelo Ministério da Saúde, que quer diminuir o número de

famílias sob a responsabilidade de cada equipe de quatro mil para duas mil famílias .

A visita domiciliária é um instrumento em potencial para que os profissionais

de saúde possam propor estratégias de atendimento aos adolescentes levando em

conta as necessidades de saúde para além de programas focados em riscos

específicos, capazes de articular com os determinantes do processo saúde-doença que

incidem de forma diferenciada no contexto de vida desses sujeitos. A proximidade

com o adolescente, numa perspectiva que leve em conta sua experiência, seus anseios

e seus diferentes saberes articulados com os saberes dos profissionais da saúde e da

educação, torna o setor educação além de importante na interface com a saúde, um

potencial parceiro na construção de ideias e nas práticas interligadas e efetivas.

Apesar do desejo de melhorias nessa área e do reconhecimento de que a visita

domiciliária é uma estratégia eficaz, é importante destacar as limitações deste estudo,

uma vez que se observou que muitos profissionais tiveram dificuldade de participar

da pesquisa. Possivelmente por receio de serem julgados por meio de suas respostas,

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77

mesmo após terem sido informados sobre o sigilo e a confidencialidade do trabalho.

Outros sentiram dificuldade em falar sobre o assunto por timidez ou por não se

sentirem capacitados para tal. Nenhum entrevistado possuía mestrado ou doutorado.

Outra limitação do estudo foi o constante cancelamento das visitas

domiciliárias, que seria outra forma de pesquisa do nosso trabalho, devido à

violência na área causada pelo tráfico de drogas. Nessa área de abrangência são

constantes as brigas por dominação de território para venda de drogas, onde se mata

uma pessoa se esta morar em uma área e precisar atravessar o território que pertence

à gangue rival. Chega-se ao ponto de os profissionais que trabalham na Unidade de

Saúde Hélio Góes precisarem andar com os vidros de seus carros abaixados, de

jaleco e sem capacete, para quem anda de moto, dentro do território, para que os

traficantes os identifiquem e assim não usem de violência contra eles.

Em algumas microáreas, os ACS precisam andar em dupla porque não se

sentem seguros na região. É comum eles se depararem com jovens e adultos armados

dentro de alguns becos. Em dia em que alguém de uma gangue é morta a própria

comunidade avisa aos profissionais para não fazerem visita domiciliária, porque

certamente haverá troca de tiros entre a gangue do morto e a gangue inimiga que o

matou.

Quando finalmente se conseguia adentrar nas casas dos usuários dificilmente

se encontravam adolescentes, porque estes estavam dormindo ou estavam nas ruas

ou, ainda, porque evitavam contato com a equipe de saúde. Diante dessa situação é

importante que o profissional entenda o processo de adolescer e suas especificidades.

A adolescência é em uma etapa da vida de maturação psicológica que provoca várias

e importantes mudanças. A definição dos papéis, ser criança ou ser adulto, ser

mulher ou ser homem, e a apropriação dos valores masculinos e femininos suscitam

no adolescente um processo de adaptação permanente a essa realidade, além da

formação de sua identidade na sociedade.

Nesse período, normalmente ocorre um afastamento da família ao mesmo

tempo em que adere ao seu grupo de iguais, caracterizando-se, assim, como uma

época de maior vulnerabilidade e exposição a riscos, entre eles o uso das drogas e

toda a complexa rede sociopolítico-econômica a ele associada. O uso de drogas,

bastante comum entre os adolescentes do território estudado, expressa características

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próprias dessa etapa, como o sentimento de idealismo, onipotência, contesta ção e

violência.

Esse fenômeno multidimensional sob o olhar da saúde necessita de uma

abordagem interdisciplinar e de todos os setores da sociedade para o enfrentamento

dessa problemática. Os profissionais da unidade de saúde estudada compreendem

essa realidade, mas se sentem impotentes. É necessária a sensibilização para a

construção de um saber coletivo sobre os adolescentes, a sua família e seus pares,

bem como os fatores de risco que cercam essa população, como as drogas.

O profissional da saúde apresenta-se, neste sentido, como ator estratégico nas

ações voltadas para este tema, no sentido de buscar abordagens, no nível de

prevenção de doenças e promoção da saúde, que ampliem o olhar e as possibilidades

de intervenção. Deste modo, envolve uma ação voltada para as causas e as

consequências do problema num entendimento biopsicossocial, oferecendo

informações sobre as substâncias psicoativas e os problemas relacionados ao seu uso,

proporcionando oportunidades para explorar as perdas em nível pessoal e social

quando se opta pelo uso de entorpecentes.

A inserção do ambiente familiar nas intervenções de prevenção e tratamento é

de suma importância no enfrentamento da problemática em discussão, no sentido de

proporcionar um sistema de apoio que possibilite tanto um controle dos fatores

predisponentes à maior iniciação quanto à continuação do uso de drogas. Nesta linha

de pensamento destaca-se o papel dos pais e das relações afetivas no vínculo do

adolescente com o álcool e outras drogas, seja enquanto facilitadores das ações ou

desencadeadores dos problemas. Entende-se, através da fala dos entrevistados, que a

escola também se caracteriza como espaço privilegiado para o desenvolvimento de

programas preventivos e políticas públicas e como eixo de formação no que diz

respeito a instrução, cidadania e lócus de expressão de comportamentos e

personalidades, bem como de formação de hábitos.

Notou-se que os profissionais pouco falaram das políticas públicas voltadas

para os adolescentes que fomentam o debate sobre o cuidado integral e a abordagem

dos determinantes de saúde que impactam essa população. Para que essas políticas

públicas sejam verdadeiramente efetivadas é necessário fazer o melhor acolhimento

possível em espaços humanizados de formação de vínculos e projetos terapêuticos

alternativos com participação dos próprios adolescentes. De acordo com as diretrizes

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do Ministério da Saúde, é preciso tornar os adolescentes promotores de saúde para

uma atuação qualificada entre seus pares, favorecendo novas estratégias de

abordagem, comunicação e linguagem, incluindo-os como parceiros e

corresponsáveis nas agendas e políticas locais.

Faz necessária, ainda, a articulação das políticas sociais com o Centro de

Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de

Assistência Social (CREAS) melhorando o acesso e a assistência às famílias e aos

adolescentes que fazem o uso abusivo de álcool e outras drogas. Também são

importantes campanhas educativas interligadas a outras políticas públicas para

conscientizar a população sobre o tema.

Aliando parceiros e levando como bagagem as experiências, os anseios e os

ideais, saúde e educação unidas constituem uma grande força para o cuidado e a

construção, como sujeitos, de adolescentes e jovens. Ação que não se faz em um

espaço restrito, mas que pode ser realizada, em uma busca compartilhada, pela união

desses setores, mediados por parcerias com as famílias. Existem muitas

possibilidades de mudanças, como já foi relatado neste estudo. Resta unir o desejo

dos profissionais e dos cidadãos, a vontade política e a articulação para que as ações

sejam realmente implementadas.

Ilustram-se as considerações finais deste estudo com a seguinte figura:

Figura 3: Apresentação das principais considerações finais do estudo, Fortaleza, 2014.

Fonte: Elaborada pelo pesquisador.

VD PERSONALIZADA

LIMITAÇÕES DOS PROFISSIONAIS: JULGAMENTO E

FALTA DE CAPACITAÇÃO

LIMITAÇÕES EXTERNAS: VIOLÊNCIA , DROGAS E

AUSÊNCIA DO ADOLESCENTE

PARCERIAS

POLÍTICAS PÚBLICAS COM ENGAJAMENTO

DOS ADOLESCENTES.

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Como membro da Estratégia Saúde da Família percebi que ainda há muito o

que se avançar em nossa prática sobre a promoção da saúde. Ainda estamos muito

focados na cura e na prevenção de doenças. Nós, importantes atores envolvidos no

processo da melhoria da qualidade de vida dos usuários, devemos aproveitar todas as

oportunidades do trabalho para sensibilizar a família a ser colaboradora desse

processo.

A escola foi citada diversas vezes pelos profissionais deste estudo como

importante aliada na busca do engajamento dos adolescentes no autocuidado, o que

nos leva a crer que através dessa parceria se podem alcançar bons resultados com os

adolescentes que estudam. Os profissionais poderiam aproveitar eventos como

gincanas, olimpíadas colegiais, reuniões com os pais e os programas como o PSE

para dialogar com esse grupo.

A visita domiciliária, apesar de ser compreendida pela maioria dos

profissionais da saúde como tendo a finalidade de levar até o usuário a saúde que ele

não pode ir buscar na unidade de saúde, como no caso de acamados, é possível

enxergá-la também como uma oportunidade de durante essas visitas fim, averiguar se

os adolescentes estão ali presentes e buscar contato com estes a fim de estreitar laços

e facilitar possíveis futuras intervenções.

Neste estudo observou-se que os profissionais de saúde, em especial

os de nível superior, não tinha capacitação para trabalhar com adolescentes.

Pensando em compensar essa fragilidade, seria útil investigar se entre os

trabalhadores da unidade de saúde existe alguém com alguma habilidade em

artesanato, música, teatro ou esporte, enfim, com algo que possa estimular os

adolescentes a participar de grupos e, assim, estreitar o vínculo entre equipe de saúde

e adolescentes.

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APÊNDICE A - Questionário para os profissionais da ESF.

1. Idade: ______________________________________________________________

2. Estado Civil:

( ) Casado ( ) Solteiro

( ) Separado ( ) Viúvo

3. Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino

4. Escolaridade:

( ) Ensino Fundamental incompleto

( ) Ensino Fundamental completo

( ) Ensino médio incompleto

( ) Ensino médio completo

( ) Universitário(a)

( ) Superior incompleto

( ) Superior completo

5. Ocupação (profissão) : ________________________________________________

6. Há quanto tempo você trabalha na ESF (anos)? ____________________________

7. Possui alguma capacitação para atendimento de adolescentes?_________________

QUESTÕES NORTEADORAS PARA ENTREVISTA COM O PROFISSIONAL

DA ESF:

1- Qual a sua compreensão sobre Educação em Saúde?

2- Como você vê a visita domiciliária como atividade de Educação em Saúde?

3- Qual é a sua opinião sobre a visita domiciliária na ESF?

4- Em sua opinião, o que deve constituir uma VD?

5- Como a Educação em Saúde deve ser introduzida na família? E em relação ao

adolescente?

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6- Livre:

Espaço reservado

Responsável pela coleta_________________________________________

Data:____/____/_____

Observações:

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95

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Estamos desenvolvendo a pesquisa “Educação em saúde e a visita domiciliária ao

adolescente: percepção dos profissionais da estratégia saúde da família”. OS

Objetivos deste estudo são compreender a percepção dos profissionais da ESF sobre

a visita domiciliária com enfoque no adolescente e identificar possíveis dificuldades

e facilidades que possam existir na Atenção ao adolescente durante a VD.

A sua participação não o obriga ao comparecimento na Unidade de Saúde em

horários adicionais.

AUTORIZAÇÃO

Solicitamos sua autorização para participar da pesquisa que será realizada

através da coleta de informações por meio da aplicação de um questionário

estruturado e uma entrevista não estruturada com informações acerca do perfil

sociodemográfico, idade, sexo, formação, tempo de formação, experiência com

atividades de educação em saúde, tipos de atividades que realizam possível

existência de dificuldades/potencialidades. O local para realização será tranquilo, e o

horário será agendado, previamente, na unidade de saúde. Após realização das

entrevistas, será realizado, com agendamento prévio, o acompanhamento das VD

realizadas pelas equipes de saúde durante o período de estudo. As visitas serão

realizadas em um turno por semana para cada equipe da ESF.

A seleção dos adolescentes a serem acompanhados será realizada mediante os

seguintes critérios de inclusão: adolescentes de 10 a 19 anos (OMS, 2008) que vivem

em famílias acompanhadas em domicílio pela equipe de saúde da família; e/ou

adolescentes em situação de vulnerabilidade/risco identificados pelos agentes

comunitários de saúde, profissionais da equipe ou qualquer membro da comunidade.

Como critérios de exclusão durante VD, não serão incluídos aqueles adolescentes

que, no momento das visitas, não estiverem presentes, não aceitarem a presença do

profissional de saúde ou oferecer risco para a pesquisadora.

O acompanhamento da VD será realizado pela pesquisadora, por meio de uma

lista de verificação contemplando os seguintes pontos: preparação do profiss ional

para visita com material educativo; forma de tratamento do profissional em relação

ao adolescente; investigação sobre alterações psicoemocionais e uso de drogas;

investigação sobre projeto de vida; orientação sobre métodos contraceptivos e ao

sexo seguro. O intuito deste acompanhamento é observar na prática do profissional

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96

de saúde como é conduzida a VD junto à família com membro adolescente, com foco

principalmente nas ações de educação em saúde.

Todas as atividades da pesquisa serão registradas em diário de campo. Nele

constam as informações que não estão nas entrevistas, como comportamentos,

conversas informais, hábitos, usos, costumes, entre outros de forma a registrar fatos,

fenômenos e atitudes percebidos durante a pesquisa.

Pelo presente Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que fui esclarecido

(a), de forma clara e detalhada, livre de qualquer constrangimento e coerção, dos

objetivos, da pesquisa. Fui esclarecido (a), ainda:

Da garantia de informação dos resultados da pesquisa, da liberdade de retirar

meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem quesito

traga algum prejuízo na prestação de serviços por parte da UBS, e ainda da garantia

de não ser identificado (a), e do caráter confidencial das informações pre stadas, não

acarretando ônus. Estou ciente de que as informações prestadas pela entrevista e a

observação realizada durante minha visita domiciliária que serão destruídas após a

elaboração do relatório final pela pesquisadora, reafirmando que serão utilizadas com

fins exclusivos para essa pesquisa.

Endereço da responsável pela pesquisa Ivana dos Santos Fonseca

Rua: Andrade Furtado 147 ap.1201 Cocó

Endereço da Instituição: Rua do Rosário, 283, Centro, Fortaleza -CE. Tel: 85-34526974

ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a sua participação

no estudo, dirija-se ao Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará.

Rua Coronel Nunes de Melo, 1127, Rodolfo Teófilo, Fortaleza -CE. Telefone : 85-

33668338

Tendo este documento ter sido aprovado pela Instituição de Saúde e Comitê de Ética

em Pesquisa, é assinado em duas vias, ficando uma cópia para o participante do

estudo e outra para a pesquisadora. Data:

_____/_____/_____.

Pesquisador: ________________________________________________________

Participante: _________________________________________________________

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97

APÊNDICE C = Instrumento de Reconhecimento da Qualidade.

Visita ao(a) Adolescente

Nome do profissional (a):

Nome do avaliador(a):

CRITÉRIOS

OBSERVADOS

MEIOS DE VERIFICAÇÃO S, N ou

NA

COMENTÁRIOS

O profissional

realiza

adequadamente

a visita ao(a)

adolescente

Observar na visita do profissional:

Prepara-se na unidade para a realização da visita

(seleciona materiais/insumos

educativos/formulários/ protocolos)

Recebe e cumprimenta o(a) adolescente

cordialmente

Apresenta-se

Trata-a o(a)dolescente pelo nome.

Evita julgamento de valores e reações

preconceituosas

Identifica e conversa sobre as necessidades,

dúvidas ou preocupações:

Assegura confidencialidade inclusive junto aos

familiares

Situação na escola

Investiga e observa alterações

psicoemocional/Projeto de vida (claro, confuso,

ausente)

Participação em grupos

Investiga/observa sinais e sintomas sugestivos de

uso de drogas e violência

Identifica e orienta sobre comportamentos de

risco que possa implicar em gravidez precoce,

DST e AIDS.

Orienta os(a) adolescentes para a prática de sexo

seguro e métodos contraceptivos

Registra as informações na

ficha/protocolo/formulário

Verifica se o(a) adolescente compreendeu as

orientações de educação em saúde

Entrega material educativo com orientações sobre

saúde (folder, cartilha, caderneta. etc.)

Despede-se cordialmente

Fonte: Ministério da Saúde do Chile.

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APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o responsável

pelo (a) Adolescente.

“Caro (a) responsável pelo adolescente, estamos convidando você a participar de uma

pesquisa chamada Visita Domiciliária e Educação em saúde: Tecnologia para o

cuidado ao adolescente”. OS Objetivos deste estudo são Compreender a percepção

dos profissionais da ESF sobre a visita domiciliária com enfoque no adolescente e

identificar possíveis dificuldades e facilidades que possam existir na Atenção ao

adolescente durante a VD.

A pesquisa será realizada através da coleta de informações por meio da aplicação de

uma entrevista semi estruturada com informações acerca do perfil sociodemográfico,

idade, sexo, formação, tempo de formação, experiência com atividades de educação

em saúde, tipos de atividades que realizam, possível existência de

dificuldades/potencialidades. O local para realização será tranquilo, e o horário será

agendado, previamente, na unidade de saúde. Após realização das entrevistas, será

realizado, com agendamento prévio, o acompanhamento das VD realizadas pelas

equipes de saúde durante o período de estudo. As visitas serão realizadas em um

turno por semana para cada equipe da ESF.

A seleção dos adolescentes a serem acompanhados será realizada mediante os

seguintes critérios de inclusão: adolescentes de 10 a 19 anos (OMS, 2008) que vivem

em famílias acompanhadas em domicílio pela equipe de saúde da família; e/ou

adolescentes em situação de vulnerabilidade/risco identificados pelos agentes

comunitários de saúde, profissionais da equipe ou qualquer membro da comunidade.

Como critérios de exclusão durante VD, não serão incluídos aqueles adolescentes

que, no momento das visitas, não estiverem presentes, não aceitarem a presença do

profissional de saúde ou oferecer risco para a pesquisadora.

O acompanhamento da VD será realizado pela pesquisadora, por meio de uma lista

de verificação contemplando os seguintes pontos: preparação do profiss ional para

visita com material educativo; forma de tratamento do profissional em relação ao

adolescente; investigação sobre alterações psicoemocionais e uso de drogas;

investigação sobre projeto de vida; orientação sobre métodos contraceptivos e ao

sexo seguro. O intuito deste acompanhamento é observar na prática do profissional

de saúde como é conduzida a VD junto à família com membro adolescente, com foco

principalmente nas ações de educação em saúde.

Todas as atividades da pesquisa serão registradas em diário de campo. Nele constam

as informações que não estão nas entrevistas, como comportamentos, conversas

informais, hábitos, usos, costumes, entre outros de forma a registrar fatos, fenômenos

e atitudes percebidos durante a pesquisa. Sua participação é importante, porém,

você não deve participar contra a sua vontade. Leia atentamente as informações

abaixo e faça qualquer pergunta que desejar, para que todos os procedimentos desta

pesquisa sejam esclarecidos.

Estou ciente de que o benefício deste estudo esta na possibilidade de produção de

novos conhecimentos acerca de temas relacionados à educação em saúde,

sexualidade e à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, drogas ilícitas e

gravidez precoce.

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Estou ciente de que a pesquisa será realizada em meu domicílio. Foi-me esclarecido

que minhas respostas irão ajudar os profissionais de saúde a promoverem um

cuidado mais adequado às adolescentes de minha idade nos assuntos que envolvem

os riscos à saúde.

Estou ciente de que poderei recusar a continuar participando e, também, que eu

poderei retirar este meu consentimento, sem que isso me traga qualquer penalidade

ou prejuízo. A pesquisadora também me esclareceu que sempre que eu desejar

serão fornecidos esclarecimentos sobre cada uma das etapas do es tudo e que para

isso não haverá qualquer custo, gastos e também não receberei qualquer tipo de

pagamento;

Também me foi esclarecido que as informações conseguidas através da minha

participação não permitirão a identificação da minha pessoa, exceto aos

responsáveis pelo estudo, e que a divulgação das mencionadas informações só será

feita entre os profissionais estudiosos do assunto.

Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado

sobre a minha participação no mencionado estudo e estando consciente dos meus

direitos, das minhas responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que a minha

participação implicam, concordo em dele participar e para isso eu DOU O MEU

CONSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO FORÇADO (A)

OU OBRIGADO(A).

Endereço da responsável pela pesquisa Ivana dos Santos Fonseca

Rua: Andrade Furtado 147 ap.1201 Cocó

Endereço da Instituição: Rua do Rosário, 283, Centro, Fortaleza -CE. Tel: 85-34526974

ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a sua participação

no estudo, dirija-se ao Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará.

Rua Coronel Nunes de Melo, 1127, Rodolfo Teófilo, Fortaleza -CE. Telefone : 85-

33668344

Fortaleza, _______de___________de________

Assinatura da adolescente

Assinatura do responsável legal

Testemunha

Nome e assinatura do

responsável pelo estudo

Nome do profissional que

aplicou o TCLE

DIGITAL

Dados do responsável legal:

Endereço:

Telefone:

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100

APÊNDICE E - Termo de assentimento informado livre e esclarecido.

Título do Projeto: “Visita Domiciliária e Educação em saúde: Tecnologia para o

cuidado ao adolescente”.

Investigador: Ivana dos Santos Fonseca.

Local da Pesquisa: UAPS Hélio Góes Ferreira.

Endereço: Avenida Engenheiro Leal Lima Verde 453 Sapiranga, Fortaleza, Ceará.

O que significa assentimento?

O assentimento significa que você concorda em fazer parte de um grupo de

adolescentes, da sua faixa de idade, para participar de uma pesquisa. Serão

respeitados seus direitos e você receberá todas as informações por mais simples que

possam parecer.

Pode ser que este documento denominado TERMO DE ASSENTIMENTO

LIVRE E ESCLARECIDO contenha palavras que você não entenda. Por favor, peça

ao responsável pela pesquisa ou à equipe do estudo para explicar qualquer palavra ou

informação que você não entenda claramente.

Informação ao Paciente: o que é uma pesquisa?

Você está sendo convidado (a) a participar de uma pesquisa, com o objetivo

de investigar se os profissionais da ESF da Unidade de Saúde Doutor Hélio Góes

fazem visita domiciliária, concordam em levar a Educação em Saúde para dentro das

casas dos pacientes e se eles se sentem capacitados para realizar essa atividade que

será realizada através da coleta de informações por meio da aplicação de um

questionário estruturado e uma entrevista não estruturada com informações acerca do

perfil sociodemográfico, idade, sexo, formação, tempo de formação, experiência com

atividades de educação em saúde, tipos de atividades que realizam, possível

existência de dificuldades/potencialidades. O local para realização será tranquilo, e o

horário será agendado, previamente, na unidade de saúde. Após realização das

entrevistas, será realizado, com agendamento prévio, o acompanhamento das VD

realizadas pelas equipes de saúde durante o período de estudo. As visitas serão

realizadas em um turno por semana para cada equipe da ESF.

A seleção dos adolescentes a serem acompanhados será realizada mediante os

seguintes critérios de inclusão: adolescentes de 10 a 19 anos (OMS, 2008) que vivem

em famílias acompanhadas em domicílio pela equipe de saúde da família; e/ou

adolescentes em situação de vulnerabilidade/risco identificados pelos agentes

comunitários de saúde, profissionais da equipe ou qualquer membro da comunidade.

Como critérios de exclusão durante VD, não serão incluídos aqueles adolescentes

que, no momento das visitas, não estiverem presentes, não aceitarem a presença do

profissional de saúde ou oferecer risco para a pesquisadora.

O acompanhamento da VD será realizado pela pesquisadora, por meio de uma lista

de verificação contemplando os seguintes pontos: preparação do profissional para

visita com material educativo; forma de tratamento do profissional em relação ao

adolescente; investigação sobre alterações psicoemocionais e uso de drogas;

investigação sobre projeto de vida; orientação sobre métodos contraceptivos e ao

sexo seguro. O intuito deste acompanhamento é observar na prática do profissional

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de saúde como é conduzida a VD junto à família com membro adolescente, com foco

principalmente nas ações de educação em saúde.

Todas as atividades da pesquisa serão registradas em diário de campo. Nele

constam as informações que não estão nas entrevistas, como comportamentos,

conversas informais, hábitos, usos, costumes, entre outros de forma a registrar fatos,

fenômenos e atitudes percebidos durante a pesquisa.

Estou ciente de que o benefício deste estudo esta na possibilidade de produção de

novos conhecimentos acerca de temas relacionados à educação em saúde,

sexualidade e à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, drogas ilícitas e

gravidez precoce.

Estou ciente de que a pesquisa será realizada em meu domicílio. Foi -me esclarecido

que minhas respostas irão ajudar os profissionais de saúde a promoverem um

cuidado mais adequado às adolescentes de minha idade nos assuntos que envolvem

os riscos à saúde.

Estou ciente de que poderei recusar a continuar participando e, também, que eu

poderei retirar este meu consentimento, sem que isso me traga qualquer penalidade

ou prejuízo. A pesquisadora também me esclareceu que sempre que eu desejar

serão fornecidos esclarecimentos sobre cada uma das etapas do estudo e que para

isso não haverá qualquer custo, gastos e também não receberei qualquer tipo de

pagamento;

Também me foi esclarecido que as informações conseguidas através da minha

participação não permitirão a identificação da minha pessoa, exceto aos

responsáveis pelo estudo, e que a divulgação das mencionadas informações só será

feita entre os profissionais estudiosos do assunto.

Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado

sobre a minha participação no mencionado estudo e estando consciente dos meus

direitos, das minhas responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que a minha

participação implicam, concordo em dele participar e para isso eu DOU O MEU

ASSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO FORÇADO (A) OU

OBRIGADO (A).

Contato para dúvidas

Se você ou os responsáveis por você tiver(em) dúvidas com relação ao estudo,

direitos do participante, ou no caso de riscos relacionados ao estudo, você deve

contatar o(a) Investigador(a) do estudo Ivana dos Santos Fonseca, telefone fixo (85)

34525714 e celular(85) 88048301. Se você tiver dúvidas sobre seus direitos como

um paciente de pesquisa, você pode contatar o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres

Humanos (CEP) do Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Ceará,

pelo telefone (85) 33668344. O CEP é constituído por um grupo de profissionais de

diversas áreas, com conhecimentos científicos e não científicos que realizam a

revisão ética inicial e continuada da pesquisa para mantê-lo seguro e proteger seus

direitos.

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DECLARAÇÃO DE ASSENTIMENTO DO PACIENTE:

Eu li e discuti com o investigador responsável pelo presente estudo os detalhes

descritos neste documento. Entendo que eu sou livre para aceitar ou recusar, e que

posso interromper a minha participação a qualquer momento sem dar uma razão. Eu

concordo que os dados coletados para o estudo sejam usados para o propósito acima

descrito.

Eu entendi a informação apresentada neste TERMO DE ASSENTIMENTO. Eu tive a

oportunidade para fazer perguntas e todas as minhas perguntas foram respondidas.

Eu receberei uma cópia assinada e datada deste Documento DE ASSENTIMENTO

INFORMADO.

_______________________________________________________________

NOME DO ADOLESCENTE ASSINATURA DATA

NOME DO INVESTIGADOR ASSINATURA DATA

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ANEXO A – Parecer Consubstanciado do CEP.

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