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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO EM ENFERMAGEM INCIDENTES DE SEGURANÇA RELACIONADOS À TERAPIA MEDICAMENTOSA: PERCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE TERAPIA INTENSIVA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Éder Luís Arboit Santa Maria, RS, Brasil 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CINCIAS DA SADE

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

MESTRADO EM ENFERMAGEM

INCIDENTES DE SEGURANA RELACIONADOS

TERAPIA MEDICAMENTOSA: PERCEPES DE

PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE

TERAPIA INTENSIVA

DISSERTAO DE MESTRADO

der Lus Arboit

Santa Maria, RS, Brasil

2014

INCIDENTES DE SEGURANA RELACIONADOS

TERAPIA MEDICAMENTOSA: PERCEPES DE

PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE

TERAPIA INTENSIVA

der Lus Arboit

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps Graduao em

Enfermagem (PPGEnf), rea de Concentrao: Cuidado, educao e trabalho

em enfermagem e sade, Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal

de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para a obteno do ttulo de

Mestre em Enfermagem

Orientadora: Enfa. Dra. Silviamar Camponogara

Co-orientadora: Enfa. Dra. Tnia Bosi de Souza Magnago

Santa Maria, RS, Brasil

2014

2014

Todos os direitos autorais reservados a der Lus Arboit. A reproduo de partes ou do todo

deste trabalho s poder ser feita mediante a citao da fonte.

E-mail: [email protected]

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mailto:[email protected]

Dedicatria

Dedico este trabalho ao meu filho Mateus Gabriel e minha esposa Elizandra

pelo amor incondicional, por compartilharem comigo, os sonhos, as

dificuldades, as vitrias e decepes, pelo incentivo, cumplicidade e

compreenso que tiveram comigo durante toda a trajetria que permeou esta

construo.

Amo vocs!

Agradecimentos

Deus, pelo dom da vida, por todas as bnos e por sempre iluminar o meu

caminho, pelos desafios que me proporcionaram crescimento e pela fora para

enfrent-los;

Aos familiares, pelo apoio e incentivo durante toda esta caminhada;

minha orientadora Enfa. Profa. Dra. Silviamar Camponogara, por quem

tenho profunda admirao, respeito e carinho, por compreender os meus

limites, as minhas inquietaes, por me proporcionar novos desafios e pelas

parcerias nesta trajetria. s um exemplo de Mestre a ser seguido;

Enfa. Profa. Dra. Tnia Solange Bosi de Souza Magnago, minha co-

orientadora, pelo apoio, carinho dedicao, compreenso, e auxlio;

Aos professores Luiz Anildo Anacleto da Silva, Carmem Lcia Colom Beck e

Janete de Souza Urbanetto que compuseram a banca Examinadora, pelas

sugestes e discusses construtivas que se delinearam durante a qualificao

e a defesa desta dissertao;

Ao PPGEnf, pela oportunidade de ingressar no mestrado e pela contribuio

ao crescimento na docncia e na profisso;

Aos Docentes do PPGEnf, pelos ensinamentos compartilhados;

Associao Hospitalar de Caridade de Trs Passos, e em especial aos

membros da equipe de enfermagem da unidade de Terapia Intensiva, por

compartilharem suas experincias quanto temtica da segurana do

paciente no uso de medicamentos;

Aos membros do Grupo de Pesquisa Trabalho, Sade, Educao e

Enfermagem, pela vivncia enriquecedora;

Aos colegas da 7 turma do curso de mestrado, pelas trocas de experincias

profissionais e conhecimentos adquiridos;

Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES),

pelo suporte financeiro oferecido como apoio para o desenvolvimento desta

dissertao.

Aos colegas professores e alunos dos cursos de Graduao em Enfermagem da

Universidade Federal de Santa Maria, campus Palmeira das Misses e

Universidade de Cruz Alta campus de Cruz Alta, pelas oportunidades de me

constituir como docente, antes mesmo de concluir o curso de mestrado.

A todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste

projeto, embora no tenham sido citados, o meu Muito obrigado!

Hoje Dia de Encontro...

Hoje dia de encontro: encontro com o outro para receber, mas, sobretudo

para dar. No sejamos calados nem falantes, mas sejamos aquele para dar-se

aos outros, aquele que ouve para receber e comungar. As pessoas nem chegam

e j querem ir embora, no perguntam e j querem saber a resposta, no

trabalham e j gastaram tudo, no do amor e querem ser amadas.

Hoje dia de encontro: encontro para perguntar e responder. S ter

lbios para acertar as respostas quem tiver ouvidos para escutar as perguntas.

Hoje dia de encontro: encontro para crescer e repartir com os outros, nossos

sucessos e nossos fracassos. Nossas certezas e nossas ansiedades. Hoje dia

de encontro: encontro pra dizer da ao, da doao, da disponibilidade e do

amor que colocamos em tudo o que fazemos.

Pouco importa o lugar que ocupamos e o papel que desempenhamos. O

que importa que estamos realizando o melhor possvel e dando o melhor de

ns mesmos nesse momento e nesse lugar. No escolhemos o local para servir;

servimos no local onde estamos.

Autor desconhecido.

RESUMO

Dissertao de mestrado

Ps-Graduao em Enfermagem do Programa

Universidade Federal de Santa Maria

INCIDENTES DE SEGURANA RELACIONADOS TERAPIA

MEDICAMENTOSA: PERCEPES DE PROFISSIONAIS DE

ENFERMAGEM DE TERAPIA INTENSIVA

AUTOR: ENF. MDO. ESP. DER LUS ARBOIT

ORIENTADORA: ENFa. DRa. SILVIAMAR CAMPONOGARA

CO-ORIENTADORA: ENFa. DRa. TNIA BOSI DE SOUZA MAGNAGO

Santa Maria, 10 de dezembro de 2014.

Este estudo tem como Objetivos: analisar as percepes de profissionais de enfermagem

atuantes em unidade de terapia intensiva sobre a ocorrncia de incidentes de segurana

relacionados terapia medicamentosa; identificar os fatores que interferem para a ocorrncia

de incidentes de segurana relacionados terapia medicamentosa; conhecer as estratgias

adotadas pelos profissionais de enfermagem atuantes em unidade de terapia intensiva para a

preveno e controle dos incidentes de segurana relacionados terapia medicamentosa.

Mtodo: pesquisa exploratrio-descritiva com abordagem qualitativa, realizada em um

hospital de mdio porte do Sul do Brasil. Entrevistaram-se quatro enfermeiros e 11 tcnicos

de enfermagem da unidade de terapia intensiva adulto. A coleta de dados ocorreu nos meses

de fevereiro e maro de 2014, por meio de entrevista semiestruturada e os dados foram

submetidos Anlise de Temtica. Resultados e discusses: as informaes obtidas junto

aos participantes foram agrupadas em trs categorias: a) percepes de trabalhadores de

enfermagem atuantes em uma unidade de terapia intensiva, sobre a ocorrncia de incidentes

de segurana relacionados terapia medicamentosa; b) fatores que interferem para a

ocorrncia de incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em terapia

intensiva; c) estratgias adotadas pelos trabalhadores de enfermagem para reduo dos

incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em UTI. Os entrevistados j

ouviram falar sobre o tema, porm demonstram incertezas quanto aos conceitos de incidente

de segurana, evento adverso e erros de medicao. Citam que j vivenciaram alguma

situao de incidentes de segurana com relao terapia medicamentosa e a conduta adotada

consiste na comunicao do evento ao enfermeiro e a intensificao dos cuidados ao paciente,

a fim de minimizar as consequncias do erro e promover o restabelecimento das funes

orgnicas. As rotinas de trabalho, a complexidade do quadro clnico dos pacientes, a

fragmentao do cuidado, a estrutura fsica, a pressa, a sobrecarga de trabalho, falta de

reconhecimento e falta de ateno so alguns dos fatores citados que contribuem, para

facilitar a ocorrncia dos incidentes. No entanto, a passagem de planto, a ateno, a

conferncia da prescrio mdica e dos rtulos da medicao, a identificao do paciente e os

cinco certos da medicao so apontados como fatores humanos que podem auxiliar para

minimizar a ocorrncia destes. A conferncia da prescrio mdica e dos rtulos da

medicao, no administrao de medicamentos em caso de dvidas, identificao adequada

do paciente e da medicao foram citadas como estratgias para a preveno da ocorrncia de

incidentes de segurana. Concluses: evidencia-se a necessidade de aperfeioamento

constante dos trabalhadores, bem como a definio de conceitos e a uniformizao das

condutas diante dos incidentes de segurana. Alm disso, de fundamental importncia a

implantao de um sistema de notificao voluntria em que o profissional no necessite se

identificar, alm do acompanhamento e orientao por parte do enfermeiro aos tcnicos de

enfermagem quanto ao preparo e administrao de medicamentos. Estas so algumas das

aes que se constituem em valiosas ferramentas para a qualificao do cuidado, promovendo

a satisfao dos trabalhadores e a cultura de segurana ao invs da cultura punitiva.

Descritores: Enfermagem. Erros de medicao. Segurana do paciente. Unidades de Terapia

Intensiva.

ABSTRACT

Masters Dissertation

Nursing Pos-Graduation Program

Federal University of Santa Maria

SAFETY INCIDENTS RELATED TO MEDICAL THERAPY:

PERCEPTIONS OF INTENSIVE CARE NURSING PROFESSIONALS`

AUTHOR: ENF. MDO. ESP. DER LUS ARBOIT

ADVISOR: ENFa. DR

a. SILVIAMAR CAMPONOGARA

CO-ADVISOR: ENFa. DRa. TNIA BOSI DE SOUZA MAGNAGO

Santa Maria, December, 10th

, 2014.

This study has as objectives: to analyze the perceptions of intensive care unit nursing

professionals about the occurrence of safety incidents related to the medical therapy; to

identify the factors that interfere positively and negatively for the occurrence of safety

incidents related to the medical therapy; to know the strategies adopted by the intensive care

unit nursing professionals for the prevention and control of safety incidents related to the

medical therapy. Method: exploratory-descriptive research with a qualitative approach,

carried out in a medium-sized hospital in the south of Brazil. The subjects were four nurses

and eleven nursing technicians of an adult intensive care unit. The data collection occurred in

February and March, 2014, through a semi-structured interview and afterwards these data

were submitted to Thematic Analysis. Results and discussions: the information obtained

with the participants was grouped together in three categories: a) perceptions of intensive care

unit nursing professionals about the occurrence of safety incidents related to medical therapy;

b) interfering factors which contribute for the occurrence of safety incidents related to the use

of medications in intensive care; c) strategies adopted by nursing professionals for the

reduction of safety incidents related to the use of medications in ICU. The interviewees

reported having already heard about the topic, however showed uncertainties about the

concepts of safety incidents, adverse events and medication errors. They mentioned having

already experienced some situations involving safety incidents related to the medical therapy;

the adopted action consists of the communication of the event to the nurse and the

intensification of patient care, in order to minimize the consequences of the error and to

promote the reestablishment of organic functions. The working routines, the complexity of the

clinical status of patients, the care fragmentation, physical structure, the hurry, work overload,

lack of recognition and lack of attention are some of the factors mentioned which contribute

for the occurrence of incidents. However, the shift change, the attention, medical prescription

and medication labels check and the patient identification the five medication rights are

pointed out as human factors that can help minimize the occurrence of incidents. The medical

prescription and medication labels check, the non-administration of medication in case of

doubt, the adequate patient and medication identification were mentioned as strategies for the

prevention of the occurrence of safety incidents. Conclusions: it was demonstrated the

necessity of constant update by the professionals, as well as the definition of concepts and the

standardization of procedures in case of safety incidents. Besides, it is utterly important the

implementation of a system of voluntary notification in which the professional does not need

to identify him/herself, and also the support and guidance by the nurse to the nursing

technicians about the preparation and administration of the medication. These are a few of the

actions which represent valuable tools for the improvement of care, thus promoting

professionals satisfaction and also promoting the culture of safety, rather than the punitive

one.

Descriptors: Nursing. Nursing care. Medication errors. Patient Safety. Intensive care units.

RESUMEN

Disertacin de Maestra

Pos-Graduacin de Enfermera Programa

Universidad Federal de Santa Maria

INCIDENTES DE SEGURIDAD RELACIONADOS A LA TERAPIA

MEDICAMENTOSA: PERCEPCIONES DE PROFESIONALES DE

ENFERMERA DE TERAPIA INTENSIVA AUTOR: ENF. MDO. ESP. DER LUS ARBOIT

ORIENTACIN: ENFa. DR

a. SILVIAMAR CAMPONOGARA

CO- ORIENTACIN: ENFa. DRa. TNIA BOSI DE SOUZA MAGNAGO

Santa Maria, 10 de diciembre de 2014,

Este estudio tiene como Objetivos: analizar las percepciones de profesionales de enfermera

actuantes en unidad de terapia intensiva, sobre las ocurrencia de incidentes de seguridad

relacionados a la terapia medicamentosa; identificar los factores que interfieren positiva y

negativamente para la ocurrencia de incidentes de seguridad relacionados a la terapia

medicamentosa; conocer las estrategias adoptadas por los profesionales de enfermera

actuantes en la unidad de terapia intensiva para la prevencin y control de los incidentes de

seguridad relacionados a la terapia medicamentosa. Mtodo: estudio exploratorio, descriptivo

con abordaje cualitativo, realizada en un hospital de porte mediano del Sul de Brasil. Los

sujetos fueron cuatro enfermeros y 11 tcnicos de enfermera de la unidad de terapia intensiva

adulto. La recoleccin de datos ocurri en los meses de febrero y marzo de 2014, por medio

de entrevista semiestruturada, siendo, los datos, sometidos a Anlisis de la Temtica.

Resultados y discusiones: las informaciones obtenidas junto a los participantes fueron

agrupadas en tres categoras: a) percepciones de trabajadores de enfermera actuantes en una

unidad de terapia intensiva, sobre la ocurrencia de incidentes de seguridad relacionados a la

terapia medicamentosa; b) factores que interfieren para la ocurrencia de incidentes de

seguridad relacionados al uso de medicamentos en terapia intensiva; c) estrategias adoptadas

por los trabajadores de enfermera para reduccin de los incidentes de seguridad relacionados

al uso de medicamentos en UTI. Los entrevistados ya oyeron hablar sobre el tema, pero

demuestran incertezas cuanto a los conceptos de incidente de seguridad, evento adverso y

errores de medicacin. Citan que ya vivenciaron alguna situacin de incidentes de seguridad

con relacin a la terapia medicamentosa y a conducta adoptada consiste en la comunicacin

del acontecimiento al enfermero y la intensificacin de los cuidados al paciente, a fin de

minimizar las consecuencias del error y promover el restablecimiento de las funciones

orgnicas. Las rutinas de trabajo, la complexidad del cuadro clnico de los pacientes, la

fragmentacin del cuidado, la estructura fsica, la prisa, la sobrecarga de trabajo, falta de

reconocimiento y falta de atencin son algunos de los factores citados que contribuyen, para

facilitar la ocurrencia de los incidentes. Sin embargo, el cambio de la guardia, la atencin, la

conferencia de la prescripcin mdica y de los rtulos de la medicacin, la identificacin del

paciente y los cinco correctos de la medicacin son apuntados como factores humanos que

pueden auxiliar para minimizar la ocurrencia de estos. La conferencia de la prescripcin

mdica y de los rtulos de la medicacin, en la administracin de medicamentos en caso de

dudas, identificacin adecuada del paciente y de la medicacin fueron citadas como

estrategias para la prevencin de la ocurrencia de incidentes de seguridad. Conclusiones: Se

observa la necesidad de perfeccionamiento constante de los trabajadores, como tambin la

definicin de conceptos y la uniformizacin de las conductas delante de los incidentes de

seguridad. Adems de eso, es de fundamental importancia la implantacin de un sistema de

notificacin voluntaria en que el profesional no necesite identificarse, adems del

acompaamiento y orientacin por parte del enfermero a los tcnicos de enfermera cuanto a

la preparacin y administracin de medicamentos. Estas son algunas de las acciones que se

constituyen en valiosas herramientas para la cualificacin del cuidado, promoviendo la

satisfaccin de los trabajadores y la cultura de seguridad al contrario de la cultura punitiva.

Descriptores: Enfermera. Atencin de enfermera. Errores de medicacin. Seguridad de los

pacientes. Unidades de cuidados intensivos.

LISTA DE SIGLAS

ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

CAAE Certificado de Apresentao para Apreciao tica

CCS Centro de Cincias da Sade

CDI Centro de Diagnstico por Imagem

CDM Central de Diluio de Medicamentos

CEP Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos

CNS Conselho Nacional de Sade

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

COREN Conselho Regional de Enfermagem

CRM Conselho Regional de Medicina

EA Evento Adverso

EM Erro de Medicao

EPS Educao Permante em Sade

EVIDENTIA Revista de Enfermagem Baseada em Evidncia

EV Endovenosa(o)

GAP Gabinete de Projetos

HCTP Hospital de Caridade de Trs Passos

IOM Instituto de Medicina Americano

LILACS Literatura Latino Americana e do Caribe em Cincias da Sade

MS Ministrio da Sade

OMS Organizao Mundial da Sade

PCR Parada cardiorrespiratria

PNSP Programa Nacional de Segurana do Paciente

PPGEnf Programa de Ps-Graduao em Enfermagem

PUBMED US National Library of Medicine National Institutes of Health

PVC Presso Venosa Central

SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia

SBTI Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva

SIE Sistema de Informao para o Ensino

SISNEP Sistema Nacional de tica em Pesquisa

SNE Sonda Nasoenteral

SNG Sonda Nasogtrica

SUS Sistema nico de Sade

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFSM Universidade Federal de Santa Maria

UTI Unidade de Terapia Intensiva

WHO World Health Organization

http://www.nlm.nih.gov/http://www.nih.gov/

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Apresentao dos objetivos especficos do estudo relacionados s categorias

e subcategorias temticas. ................................................................................... 56

LISTA DE APNDICES

Apndice A Roteiro da entrevista ....................................................................................... 115

Apndice B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) .................................. 116

Apndice C Termo de Confidencialidade ........................................................................... 118

LISTA DE ANEXOS

Anexo A Autorizao Institucional ..................................................................................... 121

Anexo B Parecer Consubstanciado do CEP ........................................................................ 122

SUMRIO

1 INTRODUO ........................................................................................................... 27 1.1 Objetivos ...................................................................................................................... 31

2 REVISO DA LITERATURA .................................................................................. 33 2.1 Processo de trabalho em sade e enfermagem ......................................................... 33 2.2 A segurana do paciente e as implicaes para as instituies de sade ............... 37

2.3 Os Incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em terapia

intensiva e as implicaes para a enfermagem ......................................................... 40

3 PERCURSO METODOLGICO ............................................................................. 47 3.1 Tipo de pesquisa .......................................................................................................... 47

3.2 Cenrio do estudo ....................................................................................................... 48 3.3 Populao e participantes do estudo ......................................................................... 49 3.4 Coleta de dados ........................................................................................................... 49 3.5 Anlise dos dados ........................................................................................................ 51

3.6 Consideraes ticas ................................................................................................... 53

4 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................ 55

4.1 Percepes de trabalhadores de enfermagem atuantes em UTI, sobre a

ocorrncia de incidentes de segurana relacionados terapia medicamentosa ... 57 4.1.1 Incidentes de segurana relacionados terapia medicamentosa: o que dizem os

trabalhadores de enfermagem de UTI ........................................................................... 57

4.1.2 Vivncias de incidentes de segurana e condutas adotadas diante dos mesmos .......... 62

4.2 Fatores que contribuem para a ocorrncia de incidentes de segurana

relacionados ao uso de medicamentos em terapia intensiva ................................... 68 4.2.1 Incidentes de segurana relacionados aos fatores institucionais/organizacionais ........ 70 4.2.2 Incidentes de segurana relacionados aos fatores humanos ......................................... 76

4.3 Estratgias adotadas pelos trabalhadores de enfermagem para reduo dos

incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em UTI ............... 80 4.3.1 A busca de conhecimento para preparar e administrar medicamentos como

estratgia para minimizar o risco de incidentes de segurana ...................................... 81 4.3.2 Condutas adotadas no cotidiano de trabalho para evitar/minimizar os incidentes de

segurana relacionados ao uso de medicamentos ......................................................... 86

CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 95

REFERNCIAS ........................................................................................................ 101

APNDICES ............................................................................................................. 113

ANEXOS .................................................................................................................... 119

1 INTRODUO

O debate sobre questes relacionadas segurana do paciente tem sido cada vez mais

intenso, na atualidade. Neste sentido, os sistemas de sade, em nvel mundial, esto buscando

intervenes para melhorar a qualidade e segurana dos cuidados em sade tendo em vista

que, muitos pacientes no recebem tratamentos recomendados ou sofrem complicaes

evitveis (HYZY; SCALES, 2012).

Com a publicao do relatrio "To err is human", em 1999, pelo Instituto de Medicina

Americano (IOM), a temtica da segurana do paciente se tornou parte integrante das

polticas pblicas de sade com o objetivo de melhorar, continuamente, a qualidade dos

cuidados em sade. Este relatrio denuncia que, somente nos Estados Unidos, entre 44 e 98

mil pessoas falecem, por ano, em decorrncia de erros mdicos (KOHN; CORRIGAN;

DONALDSON, 1999).

A segurana do paciente um tema bastante desafiador no contexto da sade e, na

atualidade, tem gerado debates no mbito mundial. O termo segurana do paciente est

relacionado reduo, a um mnimo aceitvel, do risco de dano desnecessrio associado ao

cuidado de sade (BRASIL, 2013a p. 02). Autores como Camerini e Silva (2011) salientam

que, a segurana do paciente constitui-se em um dos principais parmetros para a qualificao

da assistncia de enfermagem.

A reduo/minimizao de riscos um dos mais srios desafios da enfermagem. Lage

(2010) refere que no podemos trabalhar na iluso de que os doentes deixaro de ser lesados

pelos nossos cuidados. Para tanto, cada vez mais so necessrios profissionais adequadamente

capacitados para proporcionar cuidados qualificados, visando a resolutividade das aes

relativas promoo, recuperao e reabilitao da sade e preveno e tratamento de

agravos sade dos usurios.

Neste contexto, em 2004, a WHO lanou a Aliana Mundial para a Segurana do

Paciente. Este programa apresenta estratgias, diretrizes e metas internacionais, com o

objetivo de disseminar e garantir, em diferentes pases, prticas que viabilizem a segurana

dos pacientes. Esta aliana atua em diferentes segmentos, desde a lavagem de mos, cirurgia

segura, taxonomia, entre outros aspectos ligados ao tema segurana do paciente

(GARROUSTE-ORGEAS, 2012).

28

Em abril de 2013, o Ministrio da Sade (MS), por meio da Portaria N 529, instituiu o

Programa Nacional de Segurana do Paciente (PNSP). Essa iniciativa visa promover uma

maior ateno temtica segurana do paciente em nosso pas. Dessa forma, refora as

instituies de sade, aos profissionais e comunidade a importncia de abordar e promover a

segurana do paciente, visando colaborar para a qualificao dos cuidados em todas as

instituies de sade do pas (BRASIL, 2013a).

De acordo com Runciman et al., (2009) e Brasil (2013a, p. 02) o incidente refere-se

a um determinado evento ou circunstncia que poderia ter resultado, ou resultou, em dano

desnecessrio ao paciente . Neste sentido, o incidente sem dano aquela situao ou

evento que atingiu o paciente, mas no causou dano discernvel. No entanto, o incidente com

dano o prprio Evento Adverso (EA), ou seja, o incidente que resulta em dano ao

paciente (BRASIL, 2013a p. 02).

Neste contexto, entende-se que o uso seguro de medicamentos a inexistncia de injria

acidental ou evitvel durante o uso de medicamentos (BRASIL, 2013b, p.42). O erro de

medicao definido como um evento evitvel, ocorrido em qualquer fase da terapia

medicamentosa, que pode ou no causar danos ao usurio e representa de 65 a 87% de todos

os eventos adversos (GIMENES et al., 2011). O dano est relacionado ao

comprometimento da estrutura ou funo do corpo e/ou qualquer efeito dele oriundo

incluindo-se: doenas, leso, sofrimento, morte, incapacidade ou disfuno, podendo, assim,

ser fsico, social ou psicolgico (BRASIL, 2013a, p. 02).

Assim sendo, acarretam em maiores probabilidades de riscos e srias consequncias

ou complicaes ao paciente. Estas questes so relevantes e impactam, significativamente,

nos ndices de morbidade, mortalidade e no tempo de internao, alm de gerarem

implicaes tico-legais e aumento nos custos hospitalares (AIKEN, et al. 2002; RAFFERTY,

et al., 2007).

Dentre os danos para o paciente pode-se elencar: deformidades fsicas, maior tempo de

internao, prejuzos de carter socioeconmico, social, psicolgico e, at mesmo, o bito.

Para os profissionais, estas ocorrncias podem gerar consequncias de ordem emocional,

ticas e jurdicas. J, para a instituio de sade, podem acarretar em custos relacionados ao

tratamento de tais complicaes, imagem institucional desfavorvel, situaes relacionadas a

processos judiciais, maior nvel de estresse e ansiedade dos funcionrios e demais

colaboradores (MELO, 2007).

Em um estudo recente realizado em um hospital da regio Sul do Brasil, evidenciou-se

um aumento do nmero de incidentes notificados, entre os anos de 2008 a 2012. De 2008 para

29

2009, houve um aumento de 5,8% e de 2009 para 2010 o ndice foi de 7,3%. O aumento mais

significativo foi de 59,8% entre os anos de 2010 para 2011, e de 27,8% referente aos anos de

2011 para 2012 (LORENZINI; SANTI; BAO, 2014).

A capacitao profissional, a vigilncia e a notificao dos incidentes de segurana

constituem-se em estratgias importantes para as diversas profisses da rea da sade, em

especial, a enfermagem, com o intuito de prevenir e identificar os incidentes (HENNEMAN;

GAWLINSKI; GIULIANO, 2012). Um fator importante a se destacar est relacionado

cultura institucional de punio. Em consequncia disso, os profissionais podem sentir-se

acuados e com medo de represlias, omitindo situaes de ocorrncia desses eventos, o que

pode acarretar em subnotificao dos mesmos.

Lage (2010) refere que a no comunicao dos erros pode estar relacionada a fatores

como: medo de litgio, falta de coragem, medo de preocupar o doente, medo do que o doente

possa dizer, perda de prestgio/status, isolamento, falta de apoio, entre outros. Estudo

desenvolvido na Regio Sul do Brasil aponta, como recomendaes importantes para a

melhoria da qualidade da assistncia, as mudanas na cultura organizacional das instituies

para uma cultura de segurana, e na avaliao da ocorrncia de eventos adversos (WEGNER;

PEDRO; 2012).

Esta temtica merece ateno especial, ainda mais quando se trata de Unidades de

Terapia Intensiva (UTI), pois so consideradas importantes por oferecer suporte especializado

de assistncia sade, envolvendo o uso de medicamentos, procedimentos assistenciais,

recursos tecnolgicos e teraputicos de ponta. Estas unidades devem dispor de espao

apropriado e suporte tecnolgico avanado para as intervenes de difcil execuo em

enfermarias comuns, como uso de ventiladores mecnicos, de monitores cardacos, utilizao

de drogas vasopressoras e bloqueadores neuromusculares (FAVARIN; CAMPONOGARA,

2012).

Um aspecto importante relacionado ao cuidado de enfermagem e segurana do

paciente em terapia intensiva est relacionado terapia medicamentosa, pois se constitui em

um dos maiores desafios enfrentados pelos sistemas de sade no mundo inteiro (ORTEGA;

DINNOCENZOM, 2012). O ato de administrar medicamentos se reveste de importncia, na

medida em que exige dos profissionais de enfermagem, conhecimento variado sobre mtodos,

a ao dos medicamentos, vias de administrao, doses, interaes medicamentosas e seus

efeitos colaterais (BECCARIA, 2009).

Assim sendo, a temtica merece ateno especial, por parte dos diversos profissionais

que prestam assistncia ao paciente, nos diferentes espaos de atuao da equipe de

30

enfermagem e, em especial, nas UTIs. Beccaria (2009) destaca, ainda, que a maioria dos

eventos adversos em UTI est relacionada com os procedimentos e medicao, durante o

cuidado de rotina ou no atendimento de emergncia.

Incidentes de segurana com o uso de medicamentos resultam de uma variada

interao de muitos fatores, envolvendo os diversos profissionais que compe a equipe

multidisciplinar, os sistemas de sade e os prprios pacientes. Neste contexto, a

administrao de medicamentos um processo multi e interdisciplinar, que exige

conhecimento tcnico e prtica (BRASIL, 2013b, p. 30).

Os profissionais de enfermagem relizam o preparo e administrao de medicamentos,

e por sua vez, exercem funo importante na preveno dos erros, uma vez que esta pode ser a

ltima barreira antes da administrao do medicamento ao paciente, e, geralmente, seus atos

marcam a transio de um erro previsvel para um erro real (LEUFER; CLEARY-

HOLDFORTH, 2013). Pesquisa recente, realizada em um hospital do Sul do Brasil, aponta

que os erros de medicao esto relacionados com a omisso, erros de dose, erros de horrio e

via de administrao (LORENZINI; SANTI; BAO, 2014).

As drogas utilizadas no tratamento dos pacientes crticos so apontadas como

predisponentes para a ocorrncia de incidentes de segurana, em funo do potencial de risco

que apresentam (SILVA; CARVALHO, 2012). Dentre as classes de medicamentos

frequentemente utilizadas nestas unidades, esto: as substancias vasoativas, antiarrtmicas,

antitrombticos, fibrinolticos, analgsicas, antibiticos, sedativos, entre outras.

Verifica-se um interesse crescente na temtica, pois identificou-se por meio de reviso

bibliogrfica1, a existncia de vrios estudos, realizados em diferentes unidades hospitalares,

que tm explorado este tema, caracterizando os eventos adversos, e apontando as

consequncias para os pacientes. Porm, salienta-se a necessidade de conhecer as percepes

de profissionais de enfermagem no que tange ocorrncia de incidentes de segurana

relacionados terapia medicamentosa nos diferentes espaos de cuidados e, em especial, em

UTIs, no sentido de qualificar a mesma, e, em consequncia, proporcionar cuidados mais

qualificados aos pacientes.

Evidencia-se, assim, que a segurana do paciente em terapia intensiva depende de

vrios aspectos e o enfermeiro tem papel fundamental, podendo contribuir, decisivamente,

para a implementao de aes, com a finalidade de minimizar os riscos e prevenir a

ocorrncia de eventos adversos. Nesse sentido, mais do que um objetivo a ser atingido por

1 Estudos de reviso narrativa e integrativa realizados no ano de 2013, para fundamentar a presente

investigao. Estes estudos esto melhor detalhados no Captulo 2.

31

todos os profissionais da rea de sade, tambm um compromisso da prpria formao

profissional. Oliveira et al., (2014) ressaltam que embora os riscos relacionados aos cuidados

de enfermagem venham sendo abordados amplamente na literatura, torna-se importante

conhecer como eles so percebidos e avaliados pelos profissionais implicados na assistncia

direta ao paciente.

O interesse pelo tema surgiu durante a minha prtica assistencial, baseado em algumas

vivncias do cotidiano assistencial, vindo a aflorar com o ingresso na docncia a nvel

superior e tambm baseado em algumas discusses sobre o cuidado de enfermagem com os

professores e demais colegas de instituies de sade onde atuei. Assim sendo, o presente

estudo justifica-se pela necessidade de sistematizao de dados sobre a temtica, na rea da

enfermagem, evidenciando possveis lacunas que podem ainda ser preenchidas e, quem sabe,

subsidiando os profissionais de sade, dentre esses os enfermeiros, assim como as instituies

de sade, em suas intervenes junto aos pacientes e familiares.

Diante da problemtica exposta, considera-se pertinente o desenvolvimento de um

estudo norteado pela seguinte questo de pesquisa: quais as percepes de profissionais de

enfermagem de terapia intensiva sobre a ocorrncia de incidentes de segurana relacionados

terapia medicamentosa?

1.1 Objetivos

Analisar as percepes de profissionais de enfermagem atuantes em unidade de

terapia intensiva, sobre a ocorrncia de incidentes de segurana relacionados

terapia medicamentosa.

Identificar os fatores que contribuem para a ocorrncia de incidentes de segurana

relacionados terapia medicamentosa.

Conhecer as estratgias adotadas pelos profissionais de enfermagem atuantes em

unidade de terapia intensiva para a preveno e controle dos incidentes de

segurana relacionados terapia medicamentosa.

2 REVISO DA LITERATURA

Este captulo tem a finalidade de problematizar as questes relacionadas ao trabalho,

segurana do paciente e dos incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em

terapia intensiva. O item 2.1 discute as questes relacionadas ao processo de trabalho em

sade e enfermagem. No item 2.2 sero abordadas algumas questes relacionadas segurana

do paciente e as implicaes para as instituies de sade e, por fim, mas no menos

importante, apresenta-se, no item 2.3, as questes referentes aos incidentes de segurana

relacionados ao uso de medicamentos em terapia intensiva e as implicaes para a

enfermagem.

2.1 Processo de trabalho em sade e enfermagem

A palavra trabalho deriva do vocbulo latino "TRIPALIU" - denominao de um

instrumento de tortura, formado por trs (tri) paus (paliu). Desse modo, originalmente,

"trabalhar" significava ser torturado no tripaliu. Somente a partir do sculo XIV, o trabalho

comeou a ter o sentido universal que hoje lhe atribumos. Neste sentido, o trabalho possui

uma srie de diferentes significados, de tal modo que o Dicionrio do Michaelis (2012), lhe

dedica mais de vinte definies bsicas e em diversas expresses idiomticas.

O trabalho assume um significado muito particular para cada indivduo singular,

sendo construdo a partir das vivncias subjetivas dos trabalhadores e por meio de tcnicas

particulares desenvolvidas por cada sujeito (DEJOURS, 1992). Com isso, o trabalho extrapola

sua primeira funo, que de prover o sustento pessoal e familiar, na medida em que envolve

mobilizao da subjetividade, inteligncia e criatividade de cada trabalhador (DEJOURS,

2004).

Neste contexto, o trabalho entendido como mediador de integrao social, pelo seu

valor econmico e cultural, influenciando, de maneira muito significativa, o modo de vida do

indivduo, tambm influencia decisivamente na sade fsica e mental (SOUZA; ERNST;

FILUS, 2008). Assim sendo, a atividade profissional no s um modo de ganhar a vida,

34

uma forma de insero social e tambm um fator causador de sofrimento, deteriorao,

envelhecimento e adoecimento dos trabalhadores (GIRONDI; GELBCKE, 2011).

Marx (1984) em sua obra O capital, aborda o processo de trabalho e o processo de

produzir mais-valia com o significado do trabalho para o desenvolvimento do homem. Suas

ideias serviram de base para o chamado pensamento marxista. E assim, vrios autores como

Lukcs, Mszaros, Antunes, entre outros que contriburam com ideias importantes a respeito

dos processos de trabalho (CARVALHO, 2009).

Marx (1984) refere que o trabalho surge a partir de uma necessidade do homem, e para

realiz-lo, se faz necessrio dispor de alguns elementos como: objeto, ferramentas, finalidade,

agente e o produto. Pode-se dizer, tambm, que o trabalho uma necessidade biolgica, por

estar relacionada com a sobrevivncia e a reproduo do ser humano. (MARX, 1984).

Assim sendo, ele decorrente e inerente s atividades e necessidades do ser humano,

pois e vm sendo utilizado, preferencialmente, para o sustento pessoal/familiar, alm dos

aspectos relacionados realizao pessoal/profissional. Porm, observa-se, que um dos

principais causadores de sofrimento, desgaste fsico, psquico e doenas ocupacionais (BECK,

et al., 2009).

O aparecimento da fora de trabalho deu-se dentro das condies histricas do

desenvolvimento do capitalismo, no perodo que Marx chamou de acumulao primitiva. A

partir da, delineavam-se as pr-condies histricas e imutveis para o estabelecimento da

configurao das relaes de trabalho no capitalismo. A fora de trabalho fundamental para

a compreenso da teoria do valor-trabalho, na qual Marx se baseou para desenvolver a

explicao da fonte da mais-valia (CARVALHO, 2009).

Ainda, para o autor, a acumulao primitiva originou uma vasta oferta de mo de obra,

disponvel para o desenvolvimento do mercado de trabalho capitalista e a formao da

chamada classe trabalhadora livre; termo que decorre do entendimento marxista de que a

classe proletariada livre por ter o direito de vender sua fora de trabalho no mercado

(CARVALHO, 2009).

O trabalho nas instituies de sade tem como principal finalidade, a prestao de

cuidados qualificados ao paciente, que necessita de assistncia integral e multiprofissional. A

assistncia que aqui nos referimos visa a resolutividade das aes relativas promoo,

recuperao e reabilitao da sade e preveno e tratamento de agravos sade dos usurios,

articulando-se com as politicas pblicas nas esferas Municipal, Estadual e Federal.

Pires (2009) refere-se enfermagem como uma profisso que est em expanso e

presente em grande parte das instituies assistenciais, prestando cuidados integrais aos

35

pacientes nas 24 horas do dia. Assim sendo, dentro do campo da rea da sade, a enfermagem

ocupa espao importante, por desenvolver suas atividades tanto no ambiente hospitalar,

ateno bsica, instituies destinadas aos cuidados de idosos, escolas, entre outras.

A enfermagem ocupa espao significativo nas reas relacionadas assistncia direta

ao paciente, na gesto da assistncia e servios de sade, ensino e pesquisa. Assim sendo, a

Enfermagem, enquanto profisso nasce da necessidade da sociedade de um cuidado

especializado, requerendo formao cientfica, alm da produo de conhecimento, que

fundamenta a sua prtica, fortalecendo-a como cincia (ALMEIDA; ROCHA, 1986).

As atividades da Enfermagem desenvolvidas nas instituies de sade e,

especialmente, no ambiente hospitalar so diferenciadas, principalmente em relao a outras

profisses da rea da sade. Isso se deve ao carter contnuo, desenvolvido a partir de relaes

interpessoais entre trabalhadores e pacientes. A atuao da Enfermagem possui

particularidades, em especial, nas Unidades de Cuidados Intensivos (BECK, 2001). Estas

unidades so complexas, fechadas, e pela gravidade dos usurios demandam um ritmo intenso

de trabalho equipe de Enfermagem, exigindo qualificao e ateno (STUMM et al., 2009).

Atualmente a categoria composta pelo enfermeiro, tcnico de enfermagem, auxiliar

de enfermagem e pela parteira. Visando o adequado quantitativo de pessoal de enfermagem

nas unidades assistncia a sade, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) publicou, em

2004, a Resoluo 293/2004 que fixou e estabeleceu parmetros para o dimensionamento do

quadro de profissionais de enfermagem nas unidades assistenciais das instituies de sade.

Assim sendo, devem ser consideradas como horas de Assistncia de Enfermagem, por

leito, nas 24 horas dirias: 3,8 horas de Enfermagem, por cliente, nas situaes que requerem

assistncia mnima ou autocuidado; 5,6 horas de Enfermagem, por cliente, na assistncia

intermediria; 9,4 horas de Enfermagem, por cliente, nas unidades semi-intensivas e 17,9

horas de enfermagem, por cliente, nas unidades de terapia intensiva (COFEN, 2004).

Cabe destacar que, uma parcela significativa dos trabalhadores de diversos setores da

economia e tambm da enfermagem sujeitam-se, no raras vezes, a situaes insalubres que

os expem aos diversos riscos sade. Essa sujeio ocorre por diversas razes, dentre elas

destaca-se: a intensificao e precarizao do trabalho, ou seja, das condies de trabalho.

Assim sendo, muitos profissionais devido sua grande importncia para promoo, preveno e

teraputica, sujeitam-se a trabalhar em condies muitas vezes desfavorveis, pois percebem a

necessidade de se manter no mercado de trabalho em funo das necessidades pessoais e

familiares.

36

As questes relacionadas intensificao e precarizao do trabalho nos servios de

sade so situaes importantes, e que merecem uma reflexo mais aprofundada, por parte

dos gestores, profissionais da sade e usurios. Isso se deve ao fato de que quanto maior a

carga de trabalho do sujeito, no caso o trabalhador, seja ele de qualquer profisso, maiores so

as possibilidades de ocorrerem EA.

A intensificao do trabalho consiste ato de trabalhar, ou seja, o grau de dispndio de

energias realizado pelos trabalhadores em uma determinada atividade. Neste sentido, a

intensificao se reporta ao trabalhador individualizado ou a coletividade dos trabalhadores,

pois uma exigncia que eles se empenhem cada vez mais, tanto nos aspectos fsicos,

intelectual ou psquico, ou ainda a combinao dos trs elementos (DAL ROSSO, 2012).

Ao discorrer sobre o tema da intensificao do trabalho, de fundamental importncia

refletir sobre alguns aspectos que podem contribuir, positiva ou negativamente, para o pleno

desenvolvimento da atividade laboral. Dentre estes fatores, Duarte (2010) cita a educao

permanente e as relaes de carter familiar ou extrafamiliar que acompanham o

sujeito/trabalhador no seu dia-a-dia.

Diante disso, percebe-se que a intensificao do trabalho na rea da sade e

principalmente na enfermagem um aspecto vinculado ao cotidiano do trabalho nas

instituies que prestam assistncia a sade. Neste sentido, o tema de fundamental

relevncia e necessita ser re(pensado), tendo como base as formas de gesto e as

caractersticas prprias de cada instituio.

Muitas vezes, estas instituies, no intuito de sanar suas necessidades e minimizar

custos, impe aos funcionrios uma carga de trabalho maior e com isso, a qualidade do

cuidado fica fragilizada. Tendo como base esta conjuntura, torna-se relevante discutir os

aspectos referentes s condies de trabalho versus qualidade da assistncia.

Em termos genricos, a precarizao do trabalho refere-se a um conjunto amplo e

variado de mudanas que acontecem no mercado de trabalho, nas condies de trabalho, na

qualificao dos trabalhadores e direitos trabalhistas, no contexto dos processos de trabalho

das diferentes profisses (FERNANDES; HELAL, 2010). Assim sendo, com as crescentes

mudanas marcadas pela inovao tecnolgica e pelas novas formas de organizao e gesto

do trabalho, muitas vezes, preocupa-se mais com as questes de produo em larga escala de

bens e servios, em detrimento de uma assistncia qualificada nos servios de sade.

Outra situao desfavorvel para a profisso de enfermagem sua diviso em

subcategorias profissionais, o que pode prejudicar, ainda mais, o seu reconhecimento perante

a sociedade. Assim sendo, em muitas instituies brasileiras e de outros pases em

http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/quarelsoc.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/gestrasau.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/gestrasau.html

37

desenvolvimento, esta diviso pode acarretar na disseminao de processos judiciais entre os

profissionais da rea, como por exemplo, processos de desvio de funo. Processos estes que

ocorrem, tambm, por consequncia de uma inverso de papis no cotidiano da enfermagem,

devido intensificao do trabalho nas instituies de sade.

O desafio est em reafirmar a complexidade que integra o ato de cuidar em todos os

nveis de ateno, dada a prpria natureza do processo sade/doena para se construir a

integralidade da ao. Nesta perspectiva, Pereira (2009) refere que se faz necessrio dispor de

profissionais com uma concepo ampliada do cuidado e na significao do trabalho em

equipe, para que se apaguem as diferenas e se consiga falar uma mesma lngua e obter um

mesmo objetivo. Assim sendo, o tema da segurana do paciente de fundamental importncia

para as instituies de sade, profissionais e pacientes, uma vez que que prope medidas para

qualificar os processos de ateno a sade.

2.2 A segurana do paciente e as implicaes para as instituies de sade

O atendimento em sade constitui-se em um processo composto por vrias etapas, que

envolvem uma srie de procedimentos sejam eles relacionados ao diagnstico e tratamento e

executados por diferentes profissionais. Assim, torna-se imprescindvel assegurar a qualidade

e segurana do cuidado no servio de sade (REBRAENSP/RS, 2013).

Com a evoluo da enfermagem, como cincia e prtica social, o enfermeiro passou a

assumir papis no s na assistncia, mas tambm na liderana e na pesquisa. Alm disso,

incorporou, em sua formao profissional, conhecimentos de outros saberes, a exemplo da

cincia da administrao (SILVA; CARVALHO, 2012).

Na atualidade, os servios de sade so considerados ambientes complexos e

vulnerveis, fazendo-nos repensar acerca da necessidade de simplificar os processos de

trabalho, de modo a torn-los mais ticos e seguros, alm de promover uma cultura de

segurana do paciente e manter a qualidade da assistncia. Desse modo, as instituies que

prestam assistncia a sade e, em particular, as unidades de maior complexidade, prescindem

de nveis cada vez mais altos de excelncia no atendimento, visando proporcionar assistncia

livre de riscos e, consequentes danos aos usurios (PELLICIOTTI; KIMURA, 2010).

Neste sentido, como resposta aos fatos e consequncias decorrente de erros humanos,

a Joint Commission International (JCI) instituiu uma srie de medidas, visando a melhoria da

38

qualidade da assistncia a sade nas instituies hospitalares, dentre elas esto as

International Patient Safety Goals (IPSG). Foram elencadas como medidas: 1) Identificar os

pacientes corretamente; 2) Melhorar a comunicao eficaz; 3) Melhorar a segurana dos

medicamentos de alto risco; 4) Assegurar stio, procedimentos e pacientes corretos nas

cirurgias; 5) Reduzir o risco de infeces associadas aos cuidados de sade e 6) Reduzir o

risco do paciente de danos resultantes de quedas (JCI, 2013).

Os pacientes em geral e, em especial, os de Terapia Intensiva apresentam

caractersticas que os tornam mais susceptveis a esses eventos. Isso se deve a uma srie de

fatores, entre eles: o agravamento do quadro clnico, a utilizao de novas tecnologias

diagnsticas e teraputicas, necessidade de maior utilizao de tcnicas invasivas, somado ao

maior contingente de profissionais envolvidos na assistncia e, muitas vezes, dificuldades nos

processos assistenciais (BECCARIA, et al., 2009). Silva (2013) tambm acrescenta a total

dependncia dos pacientes em relao a equipe multidisciplinar.

Alguns dos fatores associados ocorrncia de incidentes de segurana podem estar

relacionados idade avanada; gravidade da doena de base; presena de co-morbidades;

internao em hospitais universitrios; tempo de internao; intensidade e fragmentao do

cuidado; introduo de novas tecnologias; inexperincia; falhas de comunicao e

atendimento de urgncia (WEGNER; PEDRO, 2012).

Deve haver, portanto, maior preocupao por parte dos profissionais e instituies de

sade, no estudo dessas ocorrncias e na proposio de protocolos de identificao de falhas

que permeiam essa atividade, com vistas ao estabelecimento de medidas que previnam sua

incidncia, dentro de um contexto maior de qualidade nos servios de sade. Em muitas

situaes, os profissionais e organizaes de sade acabam por no realizar a notificao do

incidente e nem compartilham com outras instituies suas experincias diante do mesmo.

Assim, os mesmos erros ocorrem, repetidamente, em muitos ambientes e os pacientes

continuam a ser prejudicados por erros que poderiam ser evitados (SILVA, 2012).

Cabe ressaltar que, para alm dos casos de incidentes de segurana evidenciados,

probabilisticamente, h inmeros casos no notificados, tendo em vista alguns fatores:

desconhecimento e/ou falta de programas educativos, dficit de pessoal, processo de trabalho

inadequado, formas de organizao dos servios, disponibilidade de materiais e

equipamentos, cultura de punies e, sobretudo, a evidncia de erros consentidos. Entende-se,

como erros consentidos, o fato de o profissional ser conivente com situaes que,

sabidamente, so prejudiciais ao usurio da assistncia. Pode-se tomar como exemplo, a no

39

lavagem das mos, a administrao de frmacos reconstitudos e no diludos, o uso de

tcnicas de desinfeco desatualizadas, entre outras.

do senso comum que as instituies devem adotar medidas que visem

minimizao desses eventos, visto que a extino dos mesmos quase impossvel, pois, a

mo de obra humana, em diversas situaes do cotidiano, pode falhar. Para, alm disso, o

risco inerente ao, no existe um sistema de atividade humana que seja infalvel, assim

como a ideia de que se pode dar a garantia total de segurana, em qualquer ambiente de

prtica assistencial em sade (PEDREIRA; PETERLINI, 2011).

A no interveno e definio de programas educativos, normatizaes, reelaborao

da organizao dos servios e dos processos de trabalho incidiro em situaes que os

mesmos eventos e falhas do sistema repetem-se, vrias vezes, no mesmo local e em diferentes

locais. Assim sendo, as aes que podem impactar na reduo de incidentes de segurana,

como a implantao de sistemas de notificao, muitas vezes tem implantao lenta nos

servios de sade e em alguns casos no saem do projeto. Isso muitas vezes se deve em razo

de uma cultura punitiva. H de se destacar que h casos de sucesso, porm, esses so

pontuais e no atingem todo o sistema de sade.

Os fatores geradores de incidentes de segurana em sade so multivariados. Dentre

eles pode-se destacar: as caractersticas da instituio de sade, a formao profissional e

oferta de programas educativos, dimensionamento dos profissionais, estrutura fsica,

formao e qualificao profissional, disponibilidade/condies de equipamentos, materiais e

medicamentos, acesso a novas tecnologias e informao, sobrecarga de trabalho, dentre outros

fatores que podem contribuir para a ocorrncia de erros nos processos assistenciais.

Nesse contexto, vale mencionar que os seres humanos so falveis e, portanto, erros

so frequentemente encontrados na assistncia sade. No se pode elimin-los, mas pode-se

minimiz-los ou preveni-los, por meio de estratgias direcionadas ao sistema de medicao

(ORTEGA; DINNOCENZOM, 2012). Ressalta-se a necessidade de profissionais e, em

especial, na enfermagem, em nmero adequado e devidamente instrumentalizados, para as

demandas do cotidiano no ambiente hospitalar, particularmente, nas unidades de intensivismo.

A preveno de erros de medicao (EM) e promoo da segurana do paciente so

questes de extrema relevncia no sistema de sade e envolvem, necessariamente, o paciente,

familiares/cuidadores, profissionais e instituies de sade. Para, alm disso, necessria a

integrao com polticas pblicas que possam direcionar as aes dos diversos profissionais

envolvidos com a terapia medicamentosa, com vistas a aprimorar o sistema de medicao,

incluindo a determinao de estrutura e processos mnimos, que garantam boas prticas e a

40

segurana da populao. A ao inadequada e/ou a omisso, por parte do profissional de

sade, podem expor o paciente a riscos por negligncia, imprudncia ou impercia

(COREN/SP, 2011).

Assim sendo, por mais que as equipes/instituies tenham o intuito de prestar uma

assistncia isenta de riscos e danos, isso nem sempre possvel. Na rea da sade e, em

especial, na enfermagem, so necessrios cursos de formao profissional visando a

excelncia das atividades desenvolvidas em prol do usurio. Pires (2009) complementa

dizendo que a profisso deve ofertar aes especializadas a sociedade, sendo constituda por

pessoal capacitado, dirigidos por um Cdigo de tica e por normas existentes na Lei do

Exerccio Profissional.

2.3 Os Incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em terapia

intensiva e as implicaes para a enfermagem

Como citado anteriormente, aqui ser apresentada uma sntese de dois estudos que

tiveram a finalidade de fundamentar a investigao em tela, visando conhecer o que tem sido

produzido e publicado nas bases de dados sobre o objeto de estudo. O primeiro, estudo,

intitulado Enfermagem e segurana do paciente em terapia intensiva: reviso narrativa

objetivou conhecer o que tem sido produzido nos programas de ps-graduao stricto sensu

sobre a ocorrncia de eventos adversos na prtica laboral de enfermagem em unidades de

terapia intensiva.

Trata-se de uma reviso narrativa da literatura2. O levantamento bibliogrfico foi

realizado em maio de 2012, no banco de Teses e Dissertaes do Portal da Coordenao de

Aperfeioamento de pessoal de Nvel Superior (CAPES). Para a busca dos documentos,

utilizou-se os termos enfermagem e segurana do paciente em terapia intensiva no campo

assunto. No foi estabelecido recorte temporal. Aps a leitura e aplicao dos critrios de

incluso e excluso selecionou-se 23 dissertaes e duas teses.

2 Este estudo foi apresentado como trabalho completo no II Seminrio Internacional Tecendo Redes na

Enfermagem e na Sade realizado em Santa Maria no ms de setembro de 2013.

41

O segundo estudo3, trata-se de uma reviso integrativa da literatura que objetivou

analisar as evidncias cientficas sobre a ocorrncia de eventos adversos relacionados

terapia medicamentosa em unidades de terapia intensiva. O levantamento bibliogrfico foi

realizado em maio de 2013, nas bases de dados da Literatura Latino Americana e do Caribe

em Cincias da Sade (LILACS) e US National Library of Medicine National Institutes of

Health (PUBMED). Uutilizou-se os descritores: Enfermagem, Erros de medicao e Unidades

de terapia intensiva. O corpus constituiu-se de 14 estudos, publicados entre 2003 a 2012.

Os resultados dos estudos bibliogrficos supracitados, evidenciam que muitos dos

incidentes de segurana e eventos adversos, na rea da Enfermagem, trazem tona a

visibilidade da profisso, porm com a repercusso de aspectos muito negativos, que no

caracterizam, na totalidade, as aes e importncia desta categoria profissional. Observa-se,

na prtica assistencial, que ocorrem algumas lacunas no atendimento, por razes diversas:

falta de estrutura fsica, materiais e equipamentos, dficit no quadro de pessoal, e

instrumentalizao dos trabalhadores da rea da enfermagem.

Dessa forma, foi possvel obter um panorama sobre a temtica, a qual mostra-se

pertinente e atual, tendo implicaes bastante relevantes para pacientes, profissionais e

instituies de sade. Um grande nmero de EA envolvendo o uso de medicamentos est

relacionado com as etapas de preparo e administrao dos mesmos.

As caractersticas dos frmacos frequentemente utilizadas no tratamento dos doentes

crticos, ou seja, substncias vasoativas, anticoagulantes, antibiticos, sedativos, entre outras,

so apontadas como predisponentes para a ocorrncia de iatrogenias, em razo do potencial de

risco que apresentam (SILVA; CARVALHO, 2012). Desse modo, sendo tais drogas de uso

comum no cotidiano da enfermagem, requerem ateno especial dos profissionais em

qualquer fase do processo, ou seja, da leitura da prescrio avaliao dos seus efeitos,

passando pelo preparo e administrao correta.

Autores como Rodrigues e Oliveira (2010) descrevem que a segurana de um

medicamento inicia com a avaliao do seu inerente potencial de risco, com uma prescrio

adequada (doses, intervalos, horrio, durao), administrao (reconstituies, diluies,

assepsia, horrios, administrao de um ou mais frmacos concomitantemente, uso ou no de

alimentos concomitantes), aquisio (qualidade, boas prticas de fabricao), armazenamento

(umidade, temperatura, tempo de validade), dispensao e termina com a adeso do paciente

ao tratamento. Percebe-se ento, que estas situaes repercutem negativamente para a

3 Manuscrito aceito para publicao na Revista de Enfermagem Baseada em Evidncia (EVIDENTIA),

Granada, Espanha, n. 49, jan-mar/2015.

http://www.nlm.nih.gov/http://www.nih.gov/http://www.nih.gov/

42

visibilidade da enfermagem enquanto profisso, uma vez que, estes os profissionais

frequentemente esto envolvidos no ato de preparar e administrar medicamentos.

Os resultados de um estudo, realizado no ano de 2007, na regio Centro-oeste,

apontam como as principais situaes facilitadoras do erro com drogas endovenosas: o

ambiente de preparo ruidoso (68%), no explicar o procedimento ao paciente (64%) e

administrao de medicamento por ordem verbal (40%). Outro dado importante citado no

mesmo estudo est relacionado fragilidade no armazenamento seletivo e ordenado dos

medicamentos e ausncia de protocolos para todas as drogas injetveis. Para as drogas orais

foram evidenciados erros relacionados ao armazenamento seletivo e ordenado dos

medicamentos, ausncia do registro do medicamento administrado e atraso na administrao

(MELO, 2007).

Pesquisa de 2011, realizada na regio Centro-oeste, foi observado o preparo e

administrao de 350 doses de medicamentos de ao nos sistemas cardiovascular e

respiratrio, evidenciando-se uma taxa media de erros de 67,7% (triturao, diluio e

misturas). Os erros relacionados administrao dos diferentes tipos de frmacos foram

ausncia de pausa e manejo indevido do cateter venoso. A taxa mdia de erros na

administrao foi de 32,64%, sendo que, a ausncia de lavagem do cateter antes, foi o erro

mais comum e o mais incomum foi no lavar o cateter aps a administrao (LISBOA, 2011).

Outra investigao aponta como erros importantes, na etapa do preparo, a ausncia de

troca de agulhas com taxa de erro de 88,77%, no desinfeco de ampola com 80,27% e

limpeza inadequada da bancada onde os medicamentos eram preparados com 77,26%.

Tambm ficaram evidenciados, neste mesmo estudo, erros relacionados ao horrio correto de

administrao com 57,26% e dose errada 6,58%. Ainda encontrou-se uma taxa de erros na

conferncia dos medicamentos de 96,73%. Os aspectos relacionados a flebites e

permeabilidade do vaso no foram observados pela enfermagem em 87,47% e 86,38%.

(CAMERINI; SILVA, 2011).

Em outro estudo, que avaliou o conhecimento de enfermeiros sobre interaes

medicamentosas na UTI, evidenciou-se que houve uma relao de acertos e erros

praticamente de 50%. Os itens que alcanaram maior nmero de respostas corretas foram os

que abordaram as interaes relativas a medicamentos com ao sedativa e analgsica em

86,3%. Os itens que apresentaram maior nmero de respostas incorretas foram os que

abordaram medicamentos de ao anti-infecciosa e anti-hipertensiva (FARIA; CASSIANI,

2011).

43

Em investigao, publicada em 2009, foram registrados 550 eventos adversos sendo:

26 relacionados aos cinco certos na administrao de medicamentos (paciente certo,

medicamento certo, dose certa, via certa e hora certa), 23 a medicaes no administradas,

181 s anotaes inadequadas da medicao, 28 s falhas na instalao de drogas em bomba

de infuso, 17 a no realizao da inalao e oito ao manuseio incorreto de seringas e agulhas

(BECCARIA, et. al., 2009).

Os resultados de outro estudo, realizado na regio Sul do Brasil, indicam que os erros

mais relatados por tcnicos de enfermagem esto relacionados preparao dos

medicamentos, e as justificativas para a ocorrncia de erros evidenciam a sobrecarga de

trabalho e a falta de ateno, articuladas inexperincia de alguns profissionais e s falhas na

estrutura (LOPES, et al., 2012).

Em outra pesquisa, realizada com auxiliares/tcnicos de enfermagem, na regio

Sudeste, os autores apontam que o motivo mais comum que pode levar ao erro de

administrao de medicamentos a sobrecarga de trabalho (55%). Outros motivos apontados

foram: distrao durante o preparo da medicao (42%), dificuldade para entender a

prescrio mdica (9%) e (2%) falta de conhecimento da medicao (ORTEGA;

DINNOCENZOM, 2012).

Publicao realizada em cinco hospitais universitrios verificou a presena de siglas

e/ou abreviaturas em 96,3% das prescries, ausncia do registro do usurio em 54,4%, falta

de posologia em 18,1% e omisso da data em 0,9%. Situao semelhante ocorreu em um

hospital universitrio da regio Sudeste, no ano de 2007, a qual revela que um nmero

significativo de prescries apresentavam-se incompletas, com abreviaturas, e tambm foram

realizadas sob interrupes e distraes dos profissionais que estavam prescrevendo

(GIMENS, et al., 2011).

Estudo internacional, aponta como situaes favorveis para a ocorrncia de erros

relacionados ao uso de medicamentos: escassez de profissionais de enfermagem e pessoal de

apoio, conhecimentos de informtica limitados pela maioria dos mdicos e enfermeiros, a

cooperao limitada entre estes profissionais, insegurana e o medo de enfermeiros na

execuo de projetos de melhorias na instituio, hostilidade dos mdicos para a mudana, e

os custos adicionais para os cursos de formao (BUCHINI, QUATTRIN, 2012).

Por outro lado, os resultados de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos da

Amrica (EUA), apontam a prtica do aprendizado baseado na simulao como uma das

alternativas para a diminuio das taxas de erros relacionados ao uso de medicamentos. Neste

estudo, observou-se enfermeiros na etapa de preparo e administrao de medicamentos. De

44

um total de 156 doses, foi identificada uma taxa de erros relacionados administrao de

30,8% e seis erros relacionados dose do frmaco. Aps o treinamento (simulao baseada

no aprendizado) a taxa de erros diminuiu para 4%. Alm disso, este achado foi sustentado ao

longo do tempo, com uma taxa de erro de 6,2%, taxa esta significativamente menor do que

antes da aplicao da tcnica de aprendizado baseada na simulao (FORD et al., 2010).

Em um estudo tambm realizado nos EUA, que teve como objetivo descrever o tipo e

a frequncia de erros detectados pelos enfermeiros de cuidados intensivos, e verificar as

condutas adotadas por esses profissionais, os autores apontam que foram investigados 502

profissionais e que, destes, 184 detectaram 367 erros, num perodo de 28 dias. O nmero de

erros identificados por um enfermeiro variou de 0 a 12, sendo que os erros envolvendo a

administrao de medicamentos foram os mais frequentes (44,4%), seguido por erros

processuais (31,3%). Erros grficos e de transcrio totalizam (15,0% e 2,7%)

respectivamente). O erro de medicao (EM) mais comum, neste estudo, foi administrao

de uma dose incorreta (45,1%). Verificaram-se tambm erros relacionados ao medicamento

errado ou que uma dose de uma determinada medicao prescrita havia sido omitida

(ROGERS, et al., 2008).

Faye et al (2010) corroboram dizendo que essa alta taxa erros de medicao

alarmante e estima-se que, pelo menos 380.000 eventos adversos evitveis (ADEs) ocorrem,

anualmente, devido a erros relacionados ao uso de medicamentos. Esses eventos geraram,

somente em 2006, um custo estimado de US $ 3,5 bilhes. Os autores ainda relatam que,

embora as falhas sejam consideradas de pequeno porte, podem aumentar rapidamente a carga

de trabalho de enfermagem e tornar-se uma fonte de estresse. Alguns desses eventos adversos

esto relacionados com a utilizao de equipamentos, como por exemplo: equipamento

danificado, cateteres defeituosos ou nas tecnologias (uso de um determinado software)

utilizadas na unidade, organizao (o mdico) que cancela o uso de uma medicao, porm

o sistema no acusa o cancelamento, ou (o paciente), quando perde o acesso venoso.

Pesquisa realizada na regio Sudeste, que teve o objetivo de identificar a prevalncia

de erros de medicao em UTI, relatados por profissionais de enfermagem, evidenciou que,

em relao frequncia de erros, obteve-se o relato de nove ocorrncias na fase de preparo

(32,1%) e 19 na fase de administrao (67,9%), totalizando 28 erros de medicao durante as

quatro semanas anteriores coleta de dados. Dos profissionais envolvidos com erros, 66,7%

relataram ter tido preocupaes extras trabalho (financeiras, conjugais, familiares) e 61,1%

desses afirmaram ser cuidadores de crianas (PELLICIOTTI; KIMURA, 2010).

45

Em outro estudo realizado, em 2006, no Estado de So Paulo que tambm versa sobre

administrao de medicao em UTI, os autores evidenciam que dos 52 erros registrados no

perodo de coleta de dados, 12 (23,08%) ocorreram por omisso de dose, 11 (21,15%) por

medicamento errado e 09 (17,31%) por dose errada. O estudo ainda aponta seis erros

(11,54%) relacionados velocidade de infuso inadequada e cinco (9,61%) relacionados

concentrao errada. Encontrou-se ainda quatro erros (7,69%) referentes ao horrio errado,

dois erros (3,85%) de via de administrao e tcnica incorretas e um erro (1,92%) relacionado

administrao de medicamento vencido. 40,40% dos erros envolveram o grupo dos

medicamentos potencialmente perigosos. Verificou-se que 37% dos erros de medicao

ocorreram no turno da tarde, 35% durante a manh e 29% no perodo noturno

(TOFFOLETTO; PADILHA, 2006).

Salazar et al (2011) revelam que 52 pacientes foram vtimas de erros de medicao,

totalizando 66 erros, sendo que 33 % dos pacientes sofreram mais de um erro. Estes erros

esto assim distribuidos: 51% na etapa de administrao, 18% na prescrio e 15% na

preparao. Das falhas relacionadas administrao, 41% referem-se velocidade gesto.

Ainda observou-se 15% de erros relacionados omisso da administrao e 6% por

problemas com a dose administrada (SALAZAR, et al., 2011).

Outra investigao, realizada com profissionais de sade na regio Sudeste revela que

63,02% (75) dos entrevistados j presenciaram algum tipo de erro de medicao, dos quais,

18,60% (24) eram referentes aos erros no processo de administrao, 15,50% (20) aos erros

de dispensao, 10,85% (14) aos erros de prescrio, 7,75% (10) falta de ateno, 3,88% (5)

relataram preparao errada de medicamentos.

Em relao s condutas tomadas frente ocorrncia de erros, 29% (43) se referiram

realizao de comunicao sobre o erro superviso, 15% (23) correo do erro sem

comunicao do ocorrido aos responsveis pelo setor, 9% (14) estavam relacionadas apenas a

aes de acompanhamento do quadro clnico do paciente, e 9% (13) busca de orientao

sobre a conduta a ser tomada. (REIS; COSTA, 2012).

Os resultados do estudo publicado por Ford et al., (2010) sugerem que o mtodo de

ensino-aprendizagem em campo de atuao profissional tem a capacidade de reduzir os erros

evitveis. Alm disso, podem potencialmente resultar em danos ao paciente e tambm

minimizar custos para a instituio.

Assim sendo evidencia-se que a ocorrncia de eventos incidentes de segurana

relacionados ao uso de medicamentos em terapia intensiva permeia diferentes categorias

profissionais da rea da sade, com enfoque maior na medicina, farmcia e, sobretudo, na

46

enfermagem. Isso resulta, na maioria das vezes, em ineficincia do tratamento,

comprometendo a qualidade da assistncia prestada aos pacientes, sinalizando a necessidade

de reviso dos processos de trabalho, afim de uma sistematizao da assistncia e maior

segurana ao usurio.

Sendo os incidentes de segurana de origem multicausal, as aes que visem o seu

controle, tambm precisam ser mltiplas. H de se revisar a definio quantitativa de pessoal,

investir-se em programas educativos, utilizar-se de materiais e equipamentos de qualidade,

rever a organizao do processo de trabalho e, de maneira especial, implementar-se a

sistematizao da assistncia de enfermagem.

No que se refere terapia medicamentosa indispensvel o domnio do conhecimento

da farmacologia e de contedos relacionados aos mtodos de administrao, ao dos

medicamentos, vias de administrao, doses, efeitos txicos e colaterais. Salienta-se a

necessidade de melhorar as prticas de cuidados na utilizao de medicamentos e chamar a

ateno para a importncia de atualizao dos profissionais da sade, incluindo a

enfermagem, a respeito dos medicamentos comumente administrados nas Unidades de

Terapia Intensiva (UTI).

Tambm h a necessidade de ampliar o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema,

a fim de explorar com maior nfase a temtica da segurana do paciente, visando

proporcionar uma cultura de segurana manter a qualidade da assistncia minimizando os

eventos adversos advindos da assistncia nos servios de sade.

3 PERCURSO METODOLGICO

Nesta seo, sero descritos o tipo de pesquisa, o cenrio e populao do estudo,

coleta e anlise dos dados da pesquisa, as consideraes ticas, apresentao e discusso dos

resultados e como ser feita a devoluo dos resultados instituio.

3.1 Tipo de pesquisa

Para responder aos objetivos deste estudo, optou-se por um estudo de carter

exploratrio, descritivo com abordagem qualitativa. Os estudos exploratrios, de acordo com

Gil (2008), so aqueles em que o pesquisador se aproxima de uma realidade pouco conhecida.

Assim sendo, procura-se ampliar e esclarecer conceitos e ideias com vistas formulao de

problemas mais precisos ou lacunas que possam ser pesquisadas em estudos posteriores (GIL,

2008).

As pesquisas descritivas, por sua vez, so aquelas que tm como objetivo a descrio

das caractersticas de determinada populao ou fenmeno e buscam levantar as opinies,

atitudes e crenas de uma populao. Por outro lado, a pesquisa descritiva de acordo com

Lakatos e Marconi (2006) pode ser visualizada como a descrio, registro, anlise e

interpretao de fenmenos ou situao mediante um estudo realizado em determinado espao

de tempo, objetivando o seu funcionamento no presente. (GIL, 2008). Trivios (2007, p. 119),

corrobora dizendo que nas pesquisas descritivas pretende-se descrever com exatido os fatos

e fenmenos de determinada realidade.

Entende-se que o mtodo qualitativo se aplica ao estudo dos significados, percepes e

opinies, a cerca de um determinado fenmeno, perpassando pela construo dos

pensamentos e sentimentos humanos (TURATO et al., 2008). Para Minayo (2010), a pesquisa

qualitativa trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspiraes, das crenas,

dos valores e das atitudes, das percepes e das opinies, sob a tica dos atores, sendo ento

produto das interpretaes que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus

artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.

48

Esse conjunto de fenmenos humanos entendido, como parte da realidade social,

pois o ser humano se distingue no s por agir, mas por pensar sobre o que faz e por

interpretar suas aes dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes.

Ainda, segundo Minayo (2010), o universo da produo humana engloba as relaes, as

representaes e a intencionalidade e se constitui em objeto da pesquisa qualitativa e,

dificilmente, pode ser explanado em nmeros e referncias quantitativas.

3.2 Cenrio do estudo

O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva Adulto de um Hospital de

mdio porte do interior do Rio Grande do Sul (RS). Trata-se de uma instituio filantrpica

que constitui campo de prtica para os cursos de residncia mdica, cursos de graduao da

rea de sade de uma universidade federal e cursos tcnicos de enfermagem.

uma instituio considerada centro de referncia para as cidades da regio. Conta

com 123 leitos distribudos nas reas de Clnica Mdica, Clnica Cirrgica, Centro Cirrgico,

Unidade de Terapia Intensiva, Urgncia e Emergncia, Obstetrcia, Pediatria, Sade Mental e

Casa da Gestante. Realiza, aproximadamente, 590 internaes/ms, 200 cirurgias/ms e 2.200

procedimentos ambulatoriais/ms.

Ainda dispe de Centro de Diagnstico por Imagem (CDI) realizando exames de

Radiologia, Mamografia, Tomografia, Ecografia, Eco Doppler, Eco Cardiograma, Biopsia de

Prstata e Heptica, exames de eletrocardiograma, endoscopia digestiva alta, cistoscopia,

colonoscopia, gasometria arterial, e Ressonncia Magntica.

Atende ao Sistema nico de Sade e aos demais convnios como: Unimed, IPE, Sadia,

Cabergs, Geap, Sener Sade, Correios, Cisa, Cassi, Caixa e particular. O quadro de pessoal

composto por 234 funcionrios e a equipe de enfermagem conta com 122 profissionais, sendo

17 enfermeiros, 100 tcnicos de enfermagem e cinco auxiliares de enfermagem.

As atividades na Unidade de terapia Intensiva iniciaram-se em maio de 2008 e,

atualmente, a unidade conta com 10 (dez) leitos regulados pela Central de Regulao de

Leitos da Secretaria Estadual de Sade.

Quanto ao nmero de profissionais de enfermagem, a unidade conta com seis

enfermeiros e 21 tcnicos de enfermagem. Os profissionais alocados nos turnos da manh

(07-13 h) e tarde (13-19 h) cumprem uma jornada de trabalho de 36 horas semanais e aqueles

49

que desenvolvem suas atividades no perodo da noite (19-07 h) trabalham 12 plantes de 12

horas, ou seja, 12/36 horas.

3.3 Populao e participantes do estudo

A populao do estudo compreendeu a equipe de enfermagem da Unidade de Terapia

Intensiva adulto, nos trs turnos de trabalho. Os sujeitos foram quatro enfermeiros e onze

tcnicos de enfermagem. Como critrios de incluso, elencou-se: ocupar o cargo de

enfermeiro ou tcnico de enfermagem da unidade de terapia intensiva adulto desta instituio,

h pelo seis meses. Dentre os critrios de excluso incluem-se: enfermeiros e tcnicos de

enfermagem com tempo de trabalho inferior a seis meses na unidade, os afastados por motivo

de frias ou licena de qualquer natureza durante o perodo de coleta de dados.

O nmero total de participantes foi definido no decorrer da pesquisa, pela saturao

dos dados, ou seja, quando os dados obtidos apresentarem-se excessivos, na avaliao do

pesquisador, ou quando nada de substancialmente novo aparece, no sendo considerado

relevante persistir na coleta de dados, bem como quando os objetivos forem atingidos.

A avaliao dessa saturao iniciou-se logo que comeou o processo da coleta dos

dados, e foi feita por meio da contnua anlise. A seleo dos participantes foi realizada por

sorteio e estes foram convidados a participar da pesquisa de acordo com a disponibilidade dos

mesmos. Inicialmente foi realizada uma conversa informal, explicado os objetivos do estudo e

aps convidou-se a participar da pesquisa, conforme disponibilidade de data e horrio dos

mesmos.

3.4 Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada nos meses de fevereiro e maro de 2014, tendo como

instrumento a entrevista semiestruturada (APNCICE A), pois esta proporciona relativa

flexibilidade, proporcionando exploraes sobre o assunto, mediante as respostas fornecidas

pelos sujeitos da pesquisa. Inicialmente realizou-se a aproximao com o campo, objetivando-

se conhecer o espao e promover a familiarizao com sujeitos.

50

Cabe ressaltar que a aproximao com o cenrio de estudo, iniciou em agosto de 2013,

quando o pesquisador contatou via telefone com a enfermeira coordenadora da UTI, e aps

agendou-se reunio a mesma, com o mdico responsvel pelo servio e coordenador do

servio de enfermagem e representante da direo da instituio. Na oportunidade, o

pesquisador apresentou-se como enfermeiro e mestrando do Programa de Ps-Graduao em

enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria/RS, manifestando o interesse em

realizar a pesquisa naquela Instituio. Foi comentado sobre os objetivos do estudo, bem

como materiais e mtodos a serem utilizados para a coleta dos dados.

Orientou-se sobre os benefcios institucionais com a pesquisa. Foi ressaltado que as

questes relacionadas ao financiamento so de inteira responsabilidade do pesquisador, alm

de outros aspectos relevantes. Na sequencia, o pesquisador comentou que o projeto ainda

estava em fase de elaborao e aps a qualificao, seria enviado cpia do projeto na ntegra

para, posteriormente, a instituio fornecer a autorizao para a realizao da pesquisa.

Para Minayo (2010), a entrevista semiestruturada combina perguntas fechadas e

abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem se

prender as condies prefixadas pelo pesquisador. Assim sendo, foi utilizada como fonte de

dados a entrevista semiestruturada, composta por um roteiro de perguntas abertas permitindo

que o participante fale sobre o tema proposto, sem respostas j fixadas pelo pesquisador

(MINAYO, 2010).

Cabe ressaltar que as entrevistas foram gravadas e aps, transcritas na integra com o

consentimento dos sujeitos, a fim de, obter material rico e fidedigno que pudesse ser,

posteriormente, analisado em profundidade. Essa modalidade parte de certos questionamentos

bsicos, que oportunizam um vasto campo de interrogativas, as quais possibilitam novas

hipteses, que vo surgindo medida que se recebem as respostas do entrevistado

(MOREIRA; CALEFFE, 2006).

Para a realizao das entrevistas os sujeitos do estudo, foram contatados pessoalmente

para agendar horrio e local de encontro. O entrevistado foi convidado a ler e assinar o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE (APNCICE B) e responder as perguntas do

roteiro norteador da pesquisa. As entrevistas foram realizadas em sala reservada, nas

dependncias do hospital, mais precisamente na Unidade de Terapia Intensiva. Ressalta-se

que este local oferecia privacidade para entrevistador e sujeito, garantindo o sigilo das

informaes coletadas. As entrevistas foram gravadas por meio de gravador digital e o seu

contedo transcrito na ntegra para a anlise das informaes.

51

Os sujeitos foram identificados pela letra E (de entrevistado), seguida do nmero

arbico correspondente a sequncia de realizao das entrevistas (E1, E2, E3,...). A coleta dos

dados obedeceu o critrio de saturao temtica. Segundo Turato et al., (2008) a amostragem

por saturao uma ferramenta conceitual frequentemente utilizada em investigaes

qualitativas, em diferentes reas no campo da sade. indicada para estabelecer ou fechar o

tamanho final de uma populao em estudo, interrompendo a captao de novos

componentes.

Para determinar a quantidade suficiente de sujeitos que conduza a saturao dos dados

depende de vrios fatores, como: qualidade dos dados; liberdade quanto ao mbito do estudo;

natureza da informao; quantidade de informao til obtida de cada sujeito participante.

Para a ordem dos entrevistados, foi observada a escala de trabalho e assim colocou-se os

nomes dos trabalhadores em ordem alfabtica e assim foi realizado um sorteio.

Anteriormente a coleta de dados foi realizado um Teste Piloto, para a validao do

questionrio. Entrevistou-se cinco profissionais de enfermagem de um hospital com

caractersticas semelhantes ao cenrio investigado.

3.5 Anlise dos dados

A sustentao terica/metodolgica utilizada para analisar e interpretar os dados desta

pesquisa foi a Anlise de Contedo, que segundo Minayo (2010), consiste em tcnicas de

pesquisa que permitem tornar replicveis e vlidas inferncias sobre dados de um

determinado contexto, por meio de procedimentos especializados e cientficos (MINAYO,

2010, p. 303).

So varias as modalidades de anlise de contedo, sendo escolhida para este estudo a

Anlise Temtica, que segundo a autora acima citada consiste em descobrir os ncleos de

sentido que compe uma comunicao, cuja presena ou frequncia signifiquem alguma coisa

para o projeto analtico visado (MINAYO, 2010, p. 316). Esta tcnica de anlise consiste em

trs fases detalhadas a seguir: a) Pr-Anlise; b) Explorao do Material; c) Tratamento dos

Resultados Obtidos e Interpretao.

A Pr-anlise constitui-se na organizao que corresponde sistematizao das ideias

iniciais a partir da questo norteadora e dos objetivos da pesquisa. Tem por objetivo tornar

operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do

52

desenvolvimento das aes sucessivas, num plano de anlise. Esta fase subdivide-se em trs

novas etapas: a) a leitura flutuante; b) a constituio do corpus; c) a formulao e

reformulao das hipteses e dos objetivos.

A leitura flutuante foi o primeiro contato do pesquisador com os documentos a serem

analisados, no caso, a entrevista semiestruturada. Aps a transcrio das entrevistas realizou-

se uma leitura atentiva, juntamente com o udio, a fim de conhecer o texto deixando-se

impregnar por seus contedos. Na sequencia, procede-se a formulao e reformulao das

hipteses e dos objetivos, visto que esta leitura mais exaustiva do material possibilita uma

compreenso mais aprofundada do material, tendo como parmetro as indagaes iniciais.

A seguinte etapa da Anlise Temtica foi a Explorao do Material que consiste na

transformao dos dados brutos visando alcanar a compreenso do texto, ou seja, extrair a

essncia dos depoimentos dos entrevistados do estudo. Tambm pode-se definir as unidades

de registro, de contexto, segmentos significativos e categorias.

Minayo (2010) refere que a categorizao, nada mais do que, um processo de

reduo do texto s palavras e expresses mais significativas. Assim sendo, realizou-se a

seleo e extrao dos depoimentos mais significativos que compuseram o corpus de anlise

em cada categoria temtica, de acordo com os objetivos delineados para a pesquisa.

Por fim, a ltima fase constitui-se no Tratamento dos Resultados Obtidos e

Interpretao. Nesta etapa comeam a surgir categorias preliminares, sendo a fase de anlise

propriamente dita, quando possvel confirmar ou re-organizar categorias de anlise e

interpretar os achados relacionando-as com a fundamentao terica. Para realizar cada uma

das etapas foi necessrio retornar questo norteadora e os objetivos do estudo, permitindo

sistematizar os resultados obtidos e buscado a construo de conhecimento cientfico sobre o

objeto pesquisado.

Prosseguiu-se, ento, para a fase de interpretao e argumentao da anlise dos

dados, onde foram feitos os ltimos ajustes pa