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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMUCO CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA NÚCLEO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPORTE DIEGO MENDES DOS SANTOS DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E DISTÚRBIO ALIMENTAR EM ATLETAS: PAPEL DE DIFERENTES PROGRAMAS DE TREINAMENTO FÍSICO VITÓRIA DE SANTO ANTÃO 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPORTE

DIEGO MENDES DOS SANTOS

DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E DISTÚRBIO ALIMENTAR EM ATLETAS: PAPEL DE DIFERENTES PROGRAMAS DE TREINAMENTO FÍSICO

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPORTE

DIEGO MENDES DOS SANTOS

DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E DISTÚRBIO ALIMENTAR EM ATLETAS: PAPEL DE DIFERENTES PROGRAMAS DE TREINAMENTO FÍSICO

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

2016

TCC apresentado ao Curso de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Educação Física. Orientador: José Antônio dos Santos

Catalogação na Fonte Sistema de Bibliotecas da UFPE. Biblioteca Setorial do CAV.

Bibliotecária Jaciane Freire Santana, CRB4: 2018

S237d Santos, Diego Mendes dos

Distorção da imagem corporal e distúrbio alimentar em atletas: papel de diferentes programas de treinamento físico / Diego Mendes dos Santos. Vitória de Santo Antão, 2016.

19 folhas: fig.

Orientador: José Antônio dos Santos TCC (Graduação) – Universidade Federal de Pernambuco, CAV, Bacharelado em Educação Física, 2016.

Inclui referências.

1. Transtornos da Alimentação e da Ingestão de Alimentos – revisão. 2. Atletas – imagem corporal. 3. Transtornos da Alimentação e da Ingestão de Alimentos – Treinamento físico. I. Santos, José Antônio dos (Orientador). II. Título.

616.8526 CDD (23.ed.) BIBCAV/UFPE-14/2017

DIEGO MENDES DOS SANTOS

DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E DISTÚRBIO ALIMENTAR EM ATLETAS: PAPEL DE DIFERENTES PROGRAMAS DE TREINAMENTO FÍSICO

TCC apresentado ao Curso de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Educação Física. Aprovado em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Profº. Dr. José Antônio dos Santos (Orientador)

________________________________________

Thaynan Raquel dos Prazeres Oliveira (Coorientadora)

_________________________________________ Profº. Dr. Adriano Bento Santos

_________________________________________

Graduado Gerffeson Willian Martins

Dedico este trabalho a minha mãe,

Meu irmão, minha namorada,

Meus amigos de curso

Que foram indispensáveis durante este percurso

E ao meu orientador, pelo incentivo e apoio.

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo analisar o distúrbio alimentar e a distorção da imagem corporal em atletas a partir de uma revisão sistemática, apresentando os sintomas, fatores de riscos, consequências e treinamento físico. Para tanto, foram realizadas buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: PubMed, Medline e Scielo. A partir dos descritores, foram utilizados os termos: Bulimia, Anorexia, Imagem Corporal, Treinamento Físico e Atleta. O período compreendido pelas buscas foi de 1995 a 2015. O distúrbio alimentar e a distorção da autoimagem corporal trazem diversas consequências físicas e psicológicas que afetam o desempenho atlético devido à interferência na saúde do atleta, podendo levar até a morte. Com isto, os resultados evidenciaram a existência de inúmeras pesquisas, porém, foram escolhidas apenas aquelas que melhor se relacionavam com o tema abordado. Os achados demonstraram algumas controvérsias, porém, acredita-se na hipótese de associação entre distúrbio alimentar e distorção da imagem corporal em atletas a partir do seu treinamento. Palavras-chave: Bulimia, Anorexia, Imagem Corporal, Treinamento Físico; Atleta.

ABSTRACT

This study aimed to analyze the eating disorder and body image distortion in the athletes from a systematic review, presenting symptoms, risk factors, consequences and physical training. Therefore, electronic searches were conducted in the following databases: PubMed, Medline and Scielo. Bulimia, Anorexia, Body Image, Physical Training and Athletes: From the descriptors, the terms were used. The period for the search was 1995 to 2015. The eating disorder and distortion of body image bring many physical and psychological consequences that affect athletic performance due to interference in the athlete's health and can lead to death. With this, the results showed the existence of numerous studies, however, were only chosen ones better related to the topic discussed. The findings have shown some controversy, however, it is believed that the association between eating disorder and body image distortion in athletes from their training is believed. Keywords: Anorexia; Bulimia, Body image, Physical training; Athletes.

SUMÁRIO Introdução 7 Objetivo 9 Metodologia 10 Resultados e Discussão 11 Considerações finais 17 Referências 18

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INTRODUÇÃO

O modelo de beleza imposto pela sociedade corresponde a um corpo com

menor porcentagem de gordura possível, independente da saúde e as diferentes

constituições físicas da população (LEVY, et al., 2010). Esse padrão distorcido de

beleza pode levar a números cada vez maiores de pessoas que se submetem a

dietas de alto risco a saúde para controle do peso corporal, ao excesso de

exercícios físicos e ao uso indiscriminado de laxantes, diuréticos e drogas

anorexígenas (OLIVEIRA, et al., 2003).

A imagem corporal é a feição que o ser humano tem de si mesmo que, na

maioria das vezes não corresponde à realidade (SAIKALI, et al, 2004). Esta

definição envolve três elementos básicos: o perceptivo, referente à percepção do

corpo e a uma suposição do tipo do corpo e do peso; o subjetivo, associado à

satisfação com a forma física, junto com a ansiedade e a preocupação ligados a ela;

e o comportamental, que consiste em situações evitadas por conta do desconforto

causado pela imagem corporal (SAIKALI, et al, 2004).

A insatisfação com a imagem corporal pode levar também a distúrbios do

comportamento alimentar, que possuem uma origem multifatorial e compreende

vários aspectos que se relacionam de forma complexa, para iniciar ou dar

continuidade a doença (MORGAN, et al., 2002). Esse quadro costuma ter elementos

com alguns episódios significantes tais como ausências, separações, mudanças,

doenças orgânicas, distúrbios ou transtornos da imagem corporal, depressão,

ansiedade e em alguns casos, traumas de infância, como abuso sexual. Porém, o

modo como esses fatores intervirão como causa do distúrbio ainda não está clara na

literatura (FIATES; SALLES, 2001).

Os distúrbios alimentares dizem respeito a problemas psiquiátricos

potencialmente ameaçadores da vida, caracterizados por distorções ao nível

perceptivo e cognitivo, necessitando de tratamento clínico (AMERICAN

PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002). Os distúrbios mais conhecidos são: a

anorexia, que se caracteriza por um medo mórbido de engordar, que leva a uma

perda gradual de peso (RAICH, 2001); e a bulimia nervosa, que se caracteriza por

episódios de ingestão alimentar incontrolável, seguidos por algum tipo de

comportamento compensatório, tais como indução de vômito, uso abusivo de

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laxantes e/ou diuréticos e adoção de dietas extremas (AMERICAN PSYCHIATRIC

ASSOCIATION, 2002). Outra forma de comportamento compensatório é a prática

excessiva de exercício físico (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002).

Aproximadamente 80% dos pacientes com diagnóstico de anorexia nervosa (AN) e

55% dos pacientes com bulimia nervosa (BN) praticam exercício físico de forma

compulsiva em algum momento de sua história clínica (PEÑA-LLEDÔ E, LEALl

FJV, WALLER G, 2002). Estudos mostram que os distúrbios alimentares também

podem ser encontrados em atletas de alto rendimento, como: ginastas, jóqueis e

corredores olímpicos que se colocam ao lado de bailarinas profissionais entre as

populações de maior prevalência (BEALS, 2004). Apesar de, nos últimos 20 anos,

haver um crescente interesse pelo estudo dos distúrbios alimentares em atletas,

existe ainda um entendimento pouco claro sobre o impacto desse problema em

contextos esportivos (BYRNE; MCLEAN, 2001). Estima-se que 40% a 80% dos

acometidos por essa patologia pratiquem exercícios com o objetivo de perder peso,

o que mantém o círculo vicioso da doença, podendo levar a lesões físicas (inclusive

permanentes) e, mesmo, à morte (ZUNKER; MITCHELL; WONDERLICH AS, 2011)

O treinamento físico constitui-se pelas metodologias e processos de

treinamento, sendo utilizados de forma sequencial em obediência aos princípios da

periodização, com o objetivo de levar o atleta ao ápice de sua forma física

específica, a partir de uma base geral ótima (DANTAS, 2003). Segundo Barbanti

(2004), nos anos recentes, o treinamento se disseminou além da elite esportiva para

várias outras áreas e se tornou uma parte normal de um estilo de vida ativo de

muitas pessoas. O conceito de treinamento, tradicionalmente aplicado aos esportes,

foi estendido para a saúde, academias, à terceira idade, à reabilitação, etc

(BARBANTI; TRICOLI; UGRINOWITSCH, 2004). Acredita-se que quanto maior a

intensidade do treinamento físico e o estresse psicológico, maior o risco dos atletas

adquirirem patologias ligadas a distorção da auto-imagem e distúrbios alimentares.

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OBJETIVO

Geral

Analisar, através de uma revisão sistemática, a distorção da imagem corporal e os

distúrbios alimentares em atletas de diferentes modalidades correlacionando com o

programa de treinamento físico utilizado para cada modalidade.

Específicos

Compreender os estudos que relacionam o distúrbio alimentar e a distorção da

imagem corporal em atletas e os programas de treinamentos associados.

Verificar os fatores que levam os atletas a adquirirem distúrbio alimentar e distorção

da imagem corporal.

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METODOLOGIA

Para esta revisão sistemática, foram utilizados artigos científicos nacionais e

internacionais, acessados nas bases de dados do Scielo e Pubmed/Mediline,

publicados nos últimos 20 anos (entre 1995 e 2015). Para a busca dos artigos foram

utilizados os seguintes descritores: Bulimia, Anorexia, Imagem Corporal,

Treinamento Físico, Atleta.

A coleta de artigos foi realizada entre meses de janeiro e outubro de 2016.

Durante a busca e seleção foram utilizados, quando possível no sistema de busca,

os seguintes limites: artigos publicados nos últimos 20 anos, title/abstract, Journal

Article. Foram excluídos das análises os artigos não disponíveis bem como os

artigos que não utilizaram imagem corporal, distúrbio alimentar em atletas como

método de intervenção. Foram excluídos também artigos de revisão.

Após a busca dos artigos, foram realizadas as leituras dos títulos e do resumo

para seleção dos mesmos. Os artigos que seguiram todos os critérios de inclusão

foram lidos na íntegra.

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RESULTADOS E DISCUSSÂO

Foram encontrados 200 artigos na base de dados PubMed/Medline e 9

artigos na base de dados do Scielo, utilizando as palavras chaves (bulimia,

anorexia, body image, physical training and athletes) totalizando 209 artigos nas

duas bases de dados analisadas.

Após aplicação dos critérios de exclusão restaram 12 artigos na base

PubMed/Medline e Scielo. Destes artigos, 3 foram excluídos por não utilizarem o

conteúdo abordado no presente estudo. Com a leitura do Título/abstract, 3 artigos

foram excluídos por seres artigos de revisão, restando 6 artigos que foram incluídos

e lidos na íntegra. (Figura 1).

Figura 1: Fluxograma do estudo

As características gerais dos 6 (seis) estudos estão descritas na Tabela 1. O

estudo de Sundgot-Borgen e Torstveit (2004) evidenciou que a predominância de TA

em mulheres atletas é maior do que em homens atletas, e que nos homens essa

PubMed/Medline

(n=200)

Scielo (n=9)

Estudos após os critérios de inclusão (n=12)

Estudos Relevantes após

titulo e resumo (n=12)

Artigos de

Revisão

(n=3)

Artigos que

não utilizam

atletas (n=3)

Artigos selecionados (n=6)

Critérios de inclusão:

1-Title/Abstract

2-Data entre 1995-2015

3- Artigos livres para download;

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predominância de TA é de 22% em esportes com salto, 9% em esportes de

resistência e 5% em esportes com bola. Já nas mulheres atletas é de 42% em

esportes estéticos, 24% em esportes de resistência, 17% em esportes técnicos e

16% em esportes com bola.

Um estudo de Lantz, Rhea e Mesnier (2004), verificou o TA entre atletas de

corridas de distância e das demais modalidades, nas quais exigem classificações

por peso. Com isto, examinaram as relações entre TA, exercício de preferência e

imagem corporal entre ultramaratonistas (73 homens e 14 mulheres). Os mesmos

descreveram que atletas com alta preferência ao exercício demonstravam tolerância

maior à lesão, além do grupo feminino mostrar pontuação maior na escala de

exercício, e com isto, uma probabilidade maior de hábitos alimentares não normais,

quando comparado aos homens.

Reinking e Alexander (2005) compararam os sintomas de TA entre grupos de

146 atletas universitárias do primeiro ano (com média de 19,1 anos), praticantes de

esportes estéticos (saltos ornamentais, ginástica, natação e dançarinas) e não-

estéticos, com universitárias que praticavam atividades físicas. Os resultados não

comprovaram a suposição proposta pelos autores, que acreditavam que as atletas

universitárias de esportes estéticos, apresentavam riscos maiores de desenvolverem

distúrbios alimentares por colocarem um valor estético na magreza. Nesse estudo,

não foram identificadas diferenças significantes entre os pesos de atletas e não

atletas. Quanto à vontade de obter o corpo magro, os índices foram mais altos entre

as não atletas, seguido das atletas de esportes estéticos. Para os índices de

insatisfação corporal, as atletas de esportes estéticos desejavam ter o corpo mais

magro comparadas com as atletas de esportes não-estéticos e com o grupo

controle. Com relação à obsessão pela magreza, esta apresentou maior índice entre

as atletas de esportes estéticos e as não atletas.

Outro estudo, com o objetivo de comparar a predominância de TA entre

atletas do sexo feminino das modalidades de longa distância, não constatou

diferenças em relação ao número de casos de TA entre as modalidades, porém, as

atletas do remo mostraram mais preocupação com a alimentação e o uso alto de

diuréticos (KARLSON; BERCKER; MERKUR, 2001). Diante disso, os autores

puderam concluir que o comportamento patológico do controle do peso deve ser

considerado como uma preocupação clínica necessitando de acompanhamento

contínuo.

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Foi observado no estudo realizado por Hausenblas e Carron (1999), que a

predominância de TA em atletas Noruegueses do sexo masculino em esportes

estéticos foi impressionante, pois, nenhum dos atletas expressou fatores de TA

podendo assim, indicar que os mesmos utilizam procedimentos saudáveis para

manter ou reduzir o peso quando preciso. Sendo assim, foi descrito que isso pode

ser correspondido ao fato de que os atletas deste grupo em sua maioria eram

ginastas, por serem mais velhos, terem mais experiência no esporte do que o sexo

feminino e por saberem à necessidade de se ter um corpo bem nutrido, para a

execução de bons movimentos. Dessa forma, foi mostrado que atletas do sexo

masculino de esportes estéticos têm maior predominância de TA por mostrarem

maior incidência de compulsão alimentar quando comparados com os outros atletas

e não atletas incluídos no quadro de risco de TA.

Um estudo realizado por Ferrand et al., (2007), investigou o papel da

estimação corporal na previsão de sintomas de TA, comparando atletas do nado

sincronizado e da ginástica artística à um grupo de não-atletas. Relacionado ao IMC,

os valores menores foram constatados entre as ginastas (abaixo dos recomendados

pela OMS), enquanto que as atletas do nado sincronizado apresentaram valores

mais próximos do grupo de não atletas. Em relação à preocupação com a imagem

corporal, o mesmo comportamento foi apurado. Os autores puderam concluir que

8% dos casos de TA entre as ginastas puderam ser previstos pela estima das

características corporais, enquanto que entre as nadadoras, 19% estavam

associados à relação da estima das características corporais e do peso corporal.

Enquanto para as não atletas, 33% puderam ser explicados pela estima do peso

corporal.

No Brasil, comparando a presença de TA e o grau de distorção da imagem

corporal entre atletas de elite de nado sincronizado da categoria juniores e seniores,

com um grupo de não atletas, Perini et al (2009), evidenciaram indícios de TA entre

as atletas da categoria juniores e as não-atletas. Apesar de os grupos terem

apresentado parâmetros antropométricos tidos como saudáveis, notou-se um

descontentamento com a autoimagem corporal, na qual a preocupação com a

aparência entre adolescentes pode ser o principal fator, e ainda a auto-cobrança das

atletas com o objetivo de conservar a beleza das coreografias e dos movimentos

influindo na adoção de hábitos alimentares nem um pouco saudáveis.

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O objetivo principal do estudo de Perini et al (2009), foi identificar a presença

de transtorno compulsivo alimentar (TCA) ou síndrome precursora e o grau de

distorção da imagem corporal em atletas de elite de nado sincronizado. Foram

avaliados 27 atletas de nado sincronizado, sendo 19 da categoria juniores (15,6±0,8

anos) e 8 da categoria de seniores (19,0±1,3 anos) que compunham a seleção

Brasileira do ano 2000. Um grupo de 32 adolescentes não atletas (15,0 ± 1,6 anos)

foi usado para comparação com as atletas. Os procedimentos metodológicos

adotados foram: aplicação de três instrumentos de auto-relato, validados: 1) EAT-26

- presença de comportamentos alimentares inadequados; 2) BITE - presença de

atitudes sugestivas de bulimia nervosa; e 3) BSQ - insatisfação da autoimagem

corporal. Embora tanto o grupo de atletas, quanto o de não atletas tenham

apresentado parâmetros antropométricos compatíveis com padrões saudáveis para

a idade e sexo, os resultados evidenciaram a presença de insatisfação com a

autoimagem corporal e a adoção de práticas patológicas de controle da massa

corporal, principalmente entre atletas da categoria juniores e entre as adolescentes

não atletas. Os resultados encontrados retratam uma tendência mundial de

preocupação com a aparência entre adolescentes, capaz de levá-las à adoção de

condutas não saudáveis. O nado sincronizado é considerado de risco para

desenvolvimento de TCA por valorizar, além de outros aspectos, a leveza e beleza

de movimentos que, de certa forma, estão associados à baixa massa corporal.

Para comparar um grupo de pacientes internados por transtorno alimentar

com um grupo-controle, Davis et al. (1994), averiguaram que 78% dos que tinham

TA praticavam exercício de forma excessiva e que 60% eram atletas de competição

antes do início de seu quadro alimentar. Concluiu-se nesse estudo que a

hiperatividade nestes pacientes não pode ser vista apenas como um traço

secundário de um TA, e que para um número grande de pacientes com anorexia

nervosa, o exercício físico está incluído na patogênese e no encadeamento da

doença.

Segundo Sundgot-Borgen e Torstveit (2004), Em atletas femininas

Australianas o TA atinge a marca de 31% das atletas, na Espanha cerca de 23% das

atletas são acometidas pela doença e entre as desportistas Francesas, a

prevalência chega a atingir cerca de 19% das atletas.

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Tabela 1- Descrição dos estudos selecionados

AUTOR PÚBLICO ALVO MÉTODOS PRINCIPAIS RESULTADOS

Sundgot-Borgen e Torstveit (2004)

Mulheres e homens atletas de elite da Noruega.

Um estudo em duas etapas incluindo questionário auto-relatado e entrevista clínica.

A predominância de TA em mulheres atletas é maior do que em homens atletas.

Lantz, Rhea e Mesnier (2004)

Atletas de corrida de distância.

Avaliou as relações entre atitudes alimentares, identidade de exercício e alienação corporal em ultramaratronistas.

Atletas de alta identidade com o exercício mostraram tolerância maior à lesão, e o grupo feminino pontuação maior na escala de exercício e probabilidade maior de hábitos alimentares anormais comparadas aos homens.

Reinking e Alexander (2005)

Atletas universitárias do primeiro ano praticantes de esporte estéticos e não-estéticos e universitários praticantes de atividades físicas.

Estudo de coorte voluntário e transversal de estudantes do sexo feminino durante o ano acadêmico 2002-2003

As atletas de esportes estéticos desejavam ter o corpo mais magro do que as de esportes não estéticos.

Karlson, Becker e Merkur (2001)

Atletas do sexo feminino das modalidades de longa distância e remo, e um grupo de jovens controles.

Questionário de Exames de Comportamento Alimentar, um questionário validado avaliando atitudes e comportamentos alimentares e perguntas adicionais sobre peso e o histórico menstrual.

Não foi constatadas diferenças em relação ao número de casos de TA entre as modalidades, porém, as atletas do remo mostraram mais preocupação com a alimentação e o uso alto de diuréticos.

Hausenblas e Carron (1999)

Atletas Noruegueses do sexo masculino em esportes estéticos.

Foi analisada a alimentação desordenada dos atletas, usando um desenho longitudinal com medidas validadas de transtorno alimentar.

Atletas do sexo masculino de esportes estéticos têm maior influência de TA por terem mais compulsão alimentar quando comparados com os outros atletas e não atletas.

Perini, et al

(2009)

Atletas de elite de nado sincronizado.

Para a análise desse estudo foram utilizados três instrumentos de acordo com o objetivo da avaliação.

Presença de insatisfação com a auto-imagem corporal e a adoção de práticas patológicas de controle da massa corporal, principalmente em atletas da categoria juniores e entre as adolescentes não atletas.

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Os 06 artigos apresentam relações entre distúrbio alimentar e distorção da

imagem corporal em atletas e treinamento físico. O desejo de ter um corpo magro

pode levar a comportamentos e hábitos alimentares equivocados, acarretando em

algumas consequências danosas e malefícios para a saúde. Sendo assim, através

dos estudos apresentados, mostrou que atletas do sexo feminino apresentam

maiores riscos de destúrbio alimentar e distorção da imagem corporal do que os

atletas de sexo masculino, sendo que os atletas de esportes estéticos independente

de gênero são os que estão mais propicios a essas patologias, tambem se observou

que o tipo de treinamento e a exigênicia da modalidade aumenta o risco nesses

atletas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existem poucos estudos que associam os transtornos alimentares ou a

imagem corporal com o treinamento de atletas, porém, durante a presente pesquisa

bibliográfica foi visto que a grande maioria dos pesquisadores dizem que os riscos

de adquirir tais patologias são maiores em atletas do sexo feminino e atletas que

tem a estética como diferencial em sua modalidade. Além disso, o grau de exigência

física e psicológica do mesmo, e não apenas o tipo do exercício, mas a intensidade

do treinamento, que pode acarretar uma maior incidência de patologias associadas à

autoimagem e distúrbios alimentares.

Apesar de ser um campo de grande interesse atualmente, ainda ficam alguns

questionamentos sobre o treinamento adequado, pois se tem alguns estudos sobre

as causas de distúrbios alimentares e distorção da autoimagem em atletas, e

poderia ser aprofundado os estudos sobre treinamentos específicos que poderiam

amenizar tais riscos ou as patologias em si.

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REFERÊNCIAS

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