UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE … · CAPITULO 1 - O Papel das Acridinas no...

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS TESE DE DOUTORADO SÍNTESE E AVALIAÇÃO IN VITRO DE NOVOS DERIVADOS ISOQUINOLÍNICOS, QUINAZOLÍNICOS, PIRIMIDÍNICOS E PIRIDÍNICOS ACRIDÍNICOS. Ricardo Olimpio de Moura. Recife 2009

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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    TESE DE DOUTORADO

    SÍNTESE E AVALIAÇÃO IN VITRO DE NOVOS DERIVADOS

    ISOQUINOLÍNICOS, QUINAZOLÍNICOS, PIRIMIDÍNICOS E PIRIDÍNICOS

    ACRIDÍNICOS.

    Ricardo Olimpio de Moura.

    Recife – 2009

  • i

    RICARDO OLIMPIO DE MOURA

    Síntese e Avaliação Antitumoral in vitro de Novos Derivados Isoquinolínicos

    Quinazolínicos, Pirimidínicos e Piridínicos Acridínicos.

    Tese de Doutorado apresentada ao

    Programa de Pós-Graduação em Ciências

    Biológicas para obtenção do Título de Doutor

    em Ciências Biológicas, com Área de

    Concentração em Farmacologia, Fisiologia e

    Química Medicinal.

    Orientador: Professor Doutor Ivan da Rocha

    Pitta

    RECIFE – 2009

  • ii

  • iii

    UNIVERSIDADE FEDEAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    REITOR:

    Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoas Lins

    VICE-REITOR:

    Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva

    PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO:

    Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado

    DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS:

    Profa. Dra. Ângela Maria Isidro de Farias

    VICE-DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS:

    Profa. Dra. Silvia Regina Arruda de Moraes

    COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS

    BIOLÓGICAS:

    Profa. Dra. Maria Tereza dos Santos Correia.

  • iv

    “Sinto que já cheguei quase à liberdade. A ponto de não precisar mais

    escrever. Se eu pudesse, deixava meu lugar nesta pagina em branco:

    cheio do maior silencio. E cada um que olhasse o espaço em branco, o

    encheria com seus próprios desejos”.

    Clarice Lispector.

  • v

    DEDICATORIA

    A Deus por cada dia que já me foi dado nesta vida e que se fosse possível, de cada

    um deles, não mudaria uma virgula.

    A minha Mãe Maria Madalena da Silva, pelo seu amor incondicional, sem ele eu não

    teria chegado ate onde estou. Ao meu Pai José Olimpio de Moura, por ter sempre

    acreditado em mim.

    Aos meus irmãos Josemi Olimpio de Moura e Guilherme Olimpio de Moura, por tudo

    que eles representam para minha vida.

    A todas as pessoas que passaram em minha vida, sei que cada uma delas

    contribuíram com o que foi permitido para o meu crescimento.

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    A meu Orientador Prof. Dr. Ivan da Rocha Pitta do Laboratório de Planejamento e

    Síntese de Fármacos LPSF/UFPE – pela orientação e incentivo, além das

    oportunidades que me foram dadas para o desenvolvimento desse trabalho.

    Ao Prof. Dr. Jean Jacques Bourguignon da Faculté de Pharmacie da Université Louis

    Pasteur/França por todo incentivo e ajuda e principalmente por ter abertos as portas

    de seu Laboratório, para que fosse possível o desenvolvimento desse trabalho.

    A Profa. Dra. Martine Schmitt da Faculté de Pharmacie da Université Louis

    Pasteur/França por todo aprendizado, apoio incentivo e ajuda, além de toda

    paciência que teve comigo ao desenvolver desse trabalho, principalmente nas

    dificuldades de adaptação.

    A Profa. Dra. Maria do Carmo Alves de Lima do Laboratório de Planejamento e

    Síntese de Fármacos – LPSF/UFPE, por seu apoio, incentivo e principalmente por

    ter sempre acreditado em mim.

    Ao Prof. Dr. Manuel Odorico de Moraes do Laboratório de Oncologia Experimental

    da Universidade Federal do Ceara, por realizar os testes de citotoxicidade in vitro.

    Ao Prof. Dr. Francisco Jaime Bezerra Mendonça Junior do Departamento de

    Bioquímica da Universidade Estadual da Paraíba, pelo apoio e incentivo.

  • vii

    A Profa. Dra. Teresinha Gonçalves da Silva, do Laboratório de Bioensaios para

    Pesquisa de Fármacos da Universidade Federal de Pernambuco pelo apoio e

    incentivo.

    A Adenilda Eugênia de Lima, secretaria da Pós-Graduação em Ciências Biológicas

    pelo apoio, incentivo e dedicação.

    Aos meus amigos e companheiros de jornada de laboratório tanto no Brasil quanto

    na França, sei que sem eles, peças fundamentais nesse trabalho, a caminhada teria

    sido muito mais árdua e sem animo.

    Aos meus amigos da pós-graduação Diana Malta; Aracelly França, Juliana Cruz,

    Juliana Kelle Lemoine, Cleiton Diniz, ,Anekécia Lauro, Fabiana Oliveira dos Santos

    Gomes, Arthur Felipe dos Santos Barbosa, Andrea Cristina Apolinário da Silva, Luiz

    Carlos Apolinário da Silva, as minhas queridas amigas e companheiras de Mestrado

    e Doutorado Micheline Miranda da Silva e Manuela dos Santos Carvalho.

    Em especial gostaria de agradecer a dois companheiros de trabalho, sei que muito

    aprendi com eles e não mediram esforços para me ajudar, Willams Leal e Antonio

    Sergio, que sem a ajuda deles o trabalho teria sido muito mais difícil.

    As minhas duas grandes amigas e companheiras de longa data Diana Jussara do

    Nascimento Malta e Maria Patrícia Albuquerque de Farias, pela caminhada iniciada

    na Graduação, nos momentos difíceis de nossas vidas e principalmente em saber

    que parte desse trabalho, devo também ao esforço dedicado a mim dessas duas

    almas companheiras.

  • viii

    Aos meus grandes amigos cariocas, Arthur Eugen Kummerle, Alexandra Basílio e

    Fernando, pela amizade iniciada na França e que dura ate hoje no nosso pais, pelo

    apoio incentivo e companheirismo nos nossos momentos de trabalho e de laser

    passados juntos, onde passamos a ser uma família.

    A Ana Carolina Monteiro Santiago, pessoa essa tão importante na minha vida, por

    toda credibilidade que me foi dada e principalmente por ter dedicado uma parte de

    sua vida a minha, isso nunca será esquecido.

    A toda minha família, pelo amor, carinho e compreensão, principalmente pelo apoio

    que me foi dado, mesmo quando estava muito longe delas.

    A CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro, no qual sem eles esse projeto não teria

    avançado.

  • ix

    SUMÁRIO

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    LISTA DE ESQUEMAS

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    RESUMO

    ABSTRACT

    INTRODUÇÃO 01

    REVISÃO DA LITERATURA 04

    Câncer: Doença Multifatorial 06

    Uma Visão Molecular das Causas do Câncer 07

    Teoria dos Hits 07

    Controladores do Crescimento Celular 10

    Prevalência de Câncer no Brasil e no Mundo 12

    Tratamento 18

    Antimetabólitos 19

    Agentes Alquilantes 20

    Agentes Capazes de Clivar a Cadeia de DNA 21

    Agentes Hormonais 22

    Intercaladores do DNA 23

    Fármacos Considerados “Venenos” Topoisomerases 23

  • x

    Acridinas: Como Possíveis Fármacos Direcionados ao Tratamento

    do Câncer

    28

    Química das Acridinas 34

    OBJETIVOS 43

    Geral 44

    Específicos 44

    CAPITULO 1 - O Papel das Acridinas no Tratamento do Câncer 45

    Introdução 48

    Tratamento quimioterápico do câncer 50

    Mecanismo de ação dos compostos acridínicos 50

    Novas Acridinas com Atividade Anticâncer 51

    9-Aminoacridinas 52

    Nitroacridinas 54

    Isoquinoacridinas 55

    Acridinas-4-carboxamidas 55

    Acridinas-5-carboxamidas 56

    Anilinoacridinas 56

    Pirazoloacridinas 57

    Derivados de produtos naturais 58

    Bisamidoacridinas 59

    Derivados de organismos marinhos 59

    Tiazoloacridinas 60

    Triazoloacridinonas 61

  • xi

    Tiadiazinoacridinas 62

    Poliacridinas 62

    Conclusões 66

    CAPITULO 2 - Síntese e avaliação antitumoral in vitro de novos

    derivados acridínicos: influência dos heterociclos na resposta

    biológica

    87

    Introdução 89

    Resultados e Discussão da parte Química 89

    Resultados e Discussão da Parte Biológica 100

    Influência dos Grupos na Resposta Biológica 101

    Procedimentos Experimentais 105

    Materiais e Métodos 105

    Parte Química 105

    Parte Biológica 112

    CONCLUSÕES 134

    PERSPECTIVAS 136

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 138

    ANEXO 1 - Thiazacridine and Imidazacridine Compounds as New

    Potential Anticancer Agents.

    149

    ANEXO 2 - Synthesis and antitumor activity of thiazacridines

    derivatives.

    176

    ANEXO 3 – Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de

    Hidrogênio da Acridina-9-carboxaldeído (AC-2).

    192

    ANEXO 4 – Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de

    Hidrogênio da 9-bromo-metil-acridina.

    194

  • xii

    ANEXO 5 – Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de

    Hidrogênio e Espectro de Massa do 3-acridin-9-il-metileno-3H-

    piridina-2,6-diona (ACR-18).

    196

    ANEXO 6 – Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de

    Hidrogênio e Espectro de Massa do 4-acridin-9-il-metileno-4H-

    isoquinolina-1,3-diona (ACR-1).

    199

    ANEXO 7 – Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de

    Hidrogênio e Espectro de Massa do 4-acridin-9-il-metileno-2-benzil-

    4H-isoquinolina-1,3-diona (ACR-06).

    202

    ANEXO 8 – Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de

    Hidrogênio e Espectro de Massa do 3-acridin-9-il-metil-1-benzidril-

    1H-pirimidina-2,4-diona (ACR-37).

    205

    ANEXO 9 – Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de

    Hidrogênio e Espectro de Massa do 1-acridin-9-il-il-metil-3-benzil-1H-

    pirimidine-2,4-diona (ACR-39).

    208

    ANEXO 10 – Espectro de Ressonância Magnética Nuclear de

    Hidrogênio e Espectro de Massa do 3-acridin-9-il-metil-1-benzidril-

    1H-quinazolina-2,4-diona (ACR-38).

    211

  • xiii

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    δ ppm – Deslocamento químico em parte por milhão

    AC-06 – 5-(acridina-9-il-metileno)-3-(4-nitro- benzil)-tiazolidina-2,4-diona

    AC-07 – 5-(acridina-9-il-metileno)-3-(4-bromo-benzil)-tiazolidina-2,4-diona

    AcOEt – Acetato de Etila

    ACR-01 - -acridin-9-il-metileno-4H-isoquinolina-1,3-diona

    ACR-06 - 4-acridin-9-il-metileno-2-benzil-4H-isoquinolina-1,3-diona

    ACR-18 - 3-acridin-9-il-metileno-3H-piridina-2,6-diona

    ACR-37 - 3-acridin-9-il-metil-1-benzidril-1H-pirimidina-2,4-diona

    ACR-38 - 3-acridin-9-il-metil-1-benzidril-1H-quinazolina-2,4-diona

    ACR-39 - 1-acridin-9-il-il-metil-3-benzil-1H-pirimidina-2,4-diona

    AHMA – 3-(9-acridinilamino)-5-hidroximetilanilina

    AMA - 5-(9-acridinilamino)-m-anisidine

    AMTs – 5-(9-acridinilamino)-m-toluidina

    AOA - 5-(9-acridinilamino)-o-anisidine

    AOTs – 5-(9-acridinylamino)-o-toluidina

    APA - 5-(9-acridinilamino)-p-anisidine

    APTs – 5-(9-acridinilamino)-p-toluidina

    APTS – Acido p-toluenosulfônico

    BSA – Bis-(trimetilsilil)-acetamida

    CCD – Cromatografia em Camada Delgada

    CDCl3 – Clorofórmio deuterado

    CHCl3 – Clorofórmio

  • xiv

    CI50 – Concentração inibitória em 50%

    d – Dupleto

    DACA – N-[2-(dimetilamino)-etil]-acridina-4-carboxamine

    DCI – Decomposição por ionização química

    dd – Duplo dupleto

    DMF – Dimetilformamida

    DMSO – Dimetilsulfóxido

    DMSOd6 – Dimetilsufóxido deuterado

    DNA – Ácido desoxirribonucléico

    DOX – Doxorrubicina

    DPM – Desvio padrão da média

    dt – Duplo tripleto

    EGF – Fator de Crescimento Epidermal

    EtOH – Etanol

    FUdRP – Ácido 5-fluoro-2-desoxiduridílico

    HCl – Ácido Clorídrico

    HCT-8 – Colon Humano

    Hep – Heptano

    HL–60 – Leucemia promielocitica

    INCA – Instituto Nacional do Câncer

    J – Constante de acoplamento

    m – Multipleto

    m-AMSA – N-[4-(acridin-9-ylamino-metoxi-fenil]-metanosulfonamida

  • xv

    MDA/MB-435 – Mama Humano

    MDR – Multidrug Resistence

    MS – Espectrometria de massa

    MTT – 3-(4,5-dimetil-2-tiazol)-2,5-difenil-2H-brometo de tetrazolium

    NBS – N-bromossuccinamida

    NCI – National Cancer Institute (Instituto Nacional de Câncer)

    o-AMSA – N-[4-(acridin-9-ylamino)-2-metoxi-fenil]-metanosulfonamida

    OMS – Organização Mundial de Saúde

    PCC – Clorocromato de piridinio

    q – Quadripleto

    Rdt – Rendimento

    Rf – Fator de Retenção

    RMN1H – Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio

    RNA – Acido ribonucléico

    rpm – Rotação por minuto

    RPMI 1640 – Roswell Park Memorial Institute (meio de cultura celular)

    s – Simpleto

    SE – Suspensão de Eritrócitos

    SF-295 – Sistema Nervoso Central

    t – Tripleto

    WHO – World Health Organization

    XR-11576 – 4-metoxi-benzo[a]-fenazina-11-carboxil-(1-dimetilamino-etil)-amida

    XR-5000 – [N-[2-(dimetilamino)-etil]-acridina-4-carboxamida

  • xvi

    LISTAS DE FIGURAS

    INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

    Figura 2.1 – Hits ocorridos no desenvolvimento de carcinoma

    matastásico.

    09

    Figura 2.2 - Principal antagonista dos folatos – metotrexato 19

    Figura 2.3 - 5-Fluorouracil um análogo estrutural do Uracil 19

    Figura 2.4 - Antimetabólitos Purínicos 20

    Figura 2.5 - Mostardas nitrogenadas 21

    Figura 2.6 - Complexo 9-aminoacridina-4-carboxamida platina 21

    Figura 2.7 - Estrutura da Bleomicina A2 22

    Figura 2.8 – Estrutura do Camptothecin 24

    Figura 2.9 – Alguns fármacos que atuam nas topoisomerases II 25

    Figura 2.10 – Fármacos Capazes de interferir nas topoisomerases I e

    II.

    26

    Figura 2.11 – Estrutura da 4-metoxi-benzo[a]fenazina-11-carboxil-

    (1-dimetilamino-etil)-amida (XR 11576)

    27

    Figura 2.12 - 3-amino-9-aminofenil-acridina 28

    Figura 2.13 – Estrutura dos antibacterianos proflavina e acriflavinas 28

    Figura 2.14 - Estrutura da Amsacrina 29

    Figura 2.15 - Estrutura do o-AMSA 31

    Figura 2.16 – Estrutura do AHMA 32

  • xvii

    Figura 2.17- Estrutura dos derivados da AHMA (AOT, AMT e APT) 32

    Figura 2.18 – Estrutura dos derivados da AHMA (AOA, AMA, APA) 33

    Figura 2.19 - Derivados acridínicos desenvolvidos pelo LPSF – UFPE 34

    Figura 2.20 – Acridina 35

    CAPITULO 1

    Figura 1 - Amsacrina (1), mepacrina (2), quinina (3), acriflavina (4) e proflavina (5)

    77

    Figura 2 - Fórmula geral dos novos derivados acridínicos utilizados como agentes antitumorais

    77

    Figura 3 - Estruturas da quinacrina (7) e tacrina (8) 77

    Figura 4 - Compostos citotóxicos que atingem o sítio abásico do DNA

    diferindo no comprimento das cadeias

    78

    Figura 5 - Estrutura geral dos derivados da 9-amino-nitro-acridina 78

    Figura 6 - Derivados substituídos da 1-nitroacridina 78

    Figura 7 - Derivados da isoquino[4,5-bc]acridina 13-17 79

    Figura 8 - DACA 18 e seu derivado 19 clorado na posição 7 79

    Figura 9 - Estrutura das pirazolo[3,4,5-kl]acridinas-5-carboxamidas 79

    Figura 10 - Amsacrina e derivados da anilinoacridina 80

    Figura 11 - Derivados da anilinoacridina 80

    Figura 12 - Derivados da pirazolo-acridina (28), da acridina-4-

    carboxamida (29) e pirazol[3,4,5-kl]-acridina (30)

    80

    Figura 13 - Derivados da 6H-pirazolo-[4,5,1-de]acridina-6-onas 81

    Figura 14 - Estruturas da acronicina (32) e da S23906-1 (33) 81

    Figura 15 - Cloreto de di-hidroindolizino[7,6,5-kl]-acridinium 81

    Figura 16 - Bisamidoacridinas inibidoras da telomerase 81

  • xviii

    Figura 17 - Ascididemina e derivados (38) e estruturas das

    Arnoaminas A1 (39) e B2 (40) e do composto etil 4-metoxi-1-

    metilpirido[4,3,2-mn]pirrolo[3,2,1-de]acridina-2-carboxilato 41

    82

    Figura 18 - Estruturas químicas de derivados da tiazolo[5,4-a]acridina 82

    Figura 19 - Estrutura geral de derivados das triazoloacridinonas 83

    Figura 20 - Estrutura do C-1305 83

    Figura 21 - Desenho racional das [1,2,6]tiadiazino[3,4,5-kl]acridinas 82

    Figura 22 - Dímeros de acridina 82

    Figura 23 - Estrutura geral da bis(acridina-4-carboxamida) 84

    Figura 24 - Derivados bis e tetra-acridínicos 84

    Figura 25 - Derivados da bis {[(9-oxo-,10-dihidroacridina-4-

    carbonil)amino]alquil}alquilaminas

    84

    Figura 26 - Complexos bis(acridiniltiouréia)platina II 85

    Figura 27 - Estruturas da bis(pirimido[5,6,1-de]acridinas) (57) e da

    bis(pirazolo[3,4,5-kl]acridina-5-carboxamidas) (58)

    85

    Figura 28 - Fotonuclease derivada de bis-acridinas 85

    CAPITULO 2

    Figura 1 - Estrutura dos derivados 9-anilinoacridinicos testados sobre

    células tumorais sintetizados por Bacherikov e colaboradores (2005)

    128

    Figura 2 - Estrutura dos análogos da 9-anilinoacridinicos 129

    Figura 3 - Derivados acridinicos testas frente a diversas linhagens de

    células tumorais

    130

    Figura 4 - Estrutura dos derivados acridinicos testados em linhagens

    de células de cânceres humanos.

    131

  • xix

    LISTAS DE ESQUEMAS

    INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

    Esquema 2.1 - Reações de Acoplamento cobre-catalisada de Ullmann

    e Goldberg.

    36

    Esquema 2.2 - Reação de aminação cobre catalisada 37

    Esquema 2.3 – Síntese do acido N-(3-cloro-fenil)-antranilinico) 37

    Esquema 2.4 - Síntese de derivados 9-aminoacridinicos pela reação

    de Ullmann modificada

    38

    Esquema 2.5 – Síntese dos derivados 5-(9-acrinilamino)-m-anisidines 39

    Esquema 2.6 – Síntese de obtenção da 9-metil-acridina 39

    Esquema 2.7 – Síntese do 9-acridinaldeido a partir da oxidação do

    grupo metila

    40

    Esquema 2.8 – Síntese do 2-ciano-acridin-9-il-acrilato de etila

    (LPSF/IP29)

    40

    Esquema 2.9 - Derivados tiazo-acridínicos sintetizados por Silva

    (2003)

    41

    Esquema 2.10 – Síntese de derivados 4-tioxo-imidazo e 4-tioxo-tiazo

    acridínicos desenvolvidos por Magalhães (2003)

    41

    CAPITULO 2

    Esquema 1 - Mecanismo reacional para obtenção da 9-metil-acridina

    (AC-1)

    116

    Esquema 2 – Mecanismo reacional para obtenção da acridina 9-

    carbaldeido

    117

    Esquema 3 – Mecanismo proposto para a obtenção da 9-bromo metil- 118

  • xx

    acridina

    Esquema 4 - Provável mecanismo para a obtenção do 3-acridin-9-il-

    metileno-3H-piridina-2,6-diona

    119

    Esquema 5 - Provável mecanismo de obtenção do 4H-isoquinolina-

    1,3-diona

    120

    Esquema 6 - Provável mecanismo para obtenção do 4-acridin-9-il-

    metileno-4H-isoquinolina-1,3-diona

    121

    Esquema 7 – Mecanismo para a síntese do 2-benzil-4H-isoquinolina-

    1,3-diona.

    122

    Esquema 8 – Provável mecanismo reacional para obtenção do 1-

    benzidril-1H-pirimidina-2,4-diona

    123

    Esquema 9 - Mecanismo reacional do 3-acridin-9-il-metil-1-benzidril-

    1H-pirimidina-2,4-diona

    124

    Esquema 10 - Mecanismo reacional para obtenção do 3-benzil-1H-

    pirimidina-2,4-diona

    125

    Esquema 11 – Rotas sintéticas testadas para a obtenção do 1-Acridin-

    9-il-metil-3-benzil-1H-quinazolina-2,4-diona

    126

  • xxi

    LISTAS DE TABELAS

    INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

    Tabela 2.1 – Tipos de cânceres causados por alterações em genes

    específicos

    11

    Tabela 2.2 – Estimativas para o ano de 2008 no Brasil, do número de casos

    novos de câncer, segundo a sua localização primaria

    15

    Tabela 2.3 – Estimativas para o ano de 2008 no Nordeste do Brasil, das

    taxas brutas de incidência por 100.000 habitantes e do número de casos

    novos de câncer, segundo a sua localização primaria.

    16

    Tabela 2.4 – Estimativas para o ano de 2008 no Estado de Pernambuco e

    Grande Recife, das taxas brutas de incidência por 100.000 habitantes e do

    número de casos novos de câncer, segundo a sua localização

    17

    CAPITULO 1

    Tabela 1 - Estruturas químicas de derivados das bis e tetra-acridinas

    85

    CAPITULO 2

    Tabela 1 - valores referentes ao percentual das médias de inibição do

    crescimento (%IC) e desvio padrão (DP) da média dos compostos em

    concentração única de 25 g/mL, testados em diferentes linhagens tumorais

    através do teste do MTT (72h). Doxorrubicina e Amsacrina foram usados

    como controle positivo

    131

    Tabela 2 - valores de CI50 e intervalo de 95% de confiança (IC95%) em

    g/mL das substâncias selecionadas em diferentes linhagens celulares no

    teste do MTT. Foram consideradas ativas aquelas que apresentaram CI50 <

    4 g/mL. Doxorrubicina foi usado como controle positivo.

    132

  • xxii

    RESUMO

    Os derivados acridínicos são drogas capazes de interagir com moléculas nucleares,

    como DNA e inibir enzimas nucleares, como as topoisomerases, sendo assim, fortes

    candidatos ao desenvolvimento de novos fármacos com atividade antitumoral.

    Dentre os derivados acridínicos, a Amsacrina se encontra na clinica medica e

    apresenta boa atividade antineoplásica, principalmente contra leucemias. A síntese

    dos derivados acridínicos, ocorre de forma paralela e convergente, onde os núcleos

    são construídos separadamente e depois condensados. Assim, temos por objetivo,

    além da obtenção dos novos derivados acridínicos, o aperfeiçoamento das técnicas

    de obtenção dos intermediários essenciais na construção de novas moléculas

    farmacologicamente ativas, buscando maior rendimento, estabilidade, diminuindo

    assim o número de etapas no desenvolvimento das mesmas e o custo. O método

    utilizado parte da obtenção da 9-metilacridina através da reação da difenilamina com

    acido acético glacial, em seguida é oxidada à aldeído por duas etapas, a primeira

    consiste na formação de um intermediário reativo através da reação da 9-

    metilacridina acridina com N,N-dimetil-4-nitrosoaniline em meio alcoólico. A segunda

    etapa consiste em uma oxidação em meio ácido conduzindo à formação do aldeído.

    O núcleo isoquinolínico substituído foi obtido através de uma reação do anidrido

    homoftálico com benzilaminas, conduzindo à formação da 2-benzil-isoquinolina-1,3-

    diona, que foram posteriormente condensados em meio básico com aldeídos

    acridínicos, levando aos compostos finais. Os núcleos pirimidínicos e quinazolínicos

    são comerciais e sofrem reações de N-alquilações sucessivas com haletos de

    benzila e 9-bromo-benzilacridina, obtidos através de uma reação de halogenação

    partindo-se da 9-metilacridina usando-se N-bromossucinamida (NBS) como doador

    de halogênio. E assim foram obtidos 5 novos derivados acridinicos com heterociclos

    diferentes, que foram caracterizados por RMN1H e Espectrometria de massa,

    apresentado rendimentos entre 55 e 75% e testados frente a quatro linhagens

    celulares de câncer diferentes, através de analise colorimétrica baseada na

    conversão do sal 3-(4,5-dimetil-2-tiazol)-2,5-difenil-2H-brometo de tetrazolio (MTT)

    em azul formazan, a partir de substratos de enzimas microssomais e mitocondriais

    presentes somente nas células metabolicamente ativas, na dose de 25µg/mL. Os

    compostos que apresentaram melhores resultados foram os derivados

    isoquinolinicos, o 4-acridin-9-il-metileno-4H-isoquinolina-1,3-diona com redução de

    96 e 63% do crescimento celular em HL-60 e HCT-8 respectivamente e o 4-acridin-

    9-il-metileno-2-benzil-4H-isoquinolina-1,3-diona com redução de 98 e 78% do

    crescimento celular em HL-60 e HCT-8 respectivamente.

    Palavras-chaves: Derivados acridinicos, Antitumoral, Citotoxicidade.

  • xxiii

    ABSTRACT

    Acridines derivatives are drugs able to interact with nuclear molecules, such as DNA

    and inhibit enzymes such as topoisomerases, thus, strong candidates for the

    development of new drugs with antitumor activity. Among the acridines derivatives,

    the amsacrine is already in clinical medicine and has good anticancer activity,

    especially against leukemia. The synthesis of derivatives acridine, occurs in parallel

    and convergent pathway, where the nuclei are built separately and then condensed.

    The first step is obtaining of 9-methyl-acridine, followed by oxidation. Thus we have

    the goal of obtaining new derivatives acridine, improving the techniques of obtaining

    the key intermediaries in the construction of new pharmacologically active molecules,

    seeking greater efficiency, stability, thereby reducing the number of stages in the

    development, as well as the cost. The method used to obtain the 9-metilacridina by

    the reaction of diphenylamine with glacial acetic acid, then is oxidized the aldehyde

    by two stages, the first is the formation of a reactive intermediate through the reaction

    of 9-methylacridine with N, N-dimethyl-4-nitrosoaniline amid alcoholic. The second

    step is to oxidation in an acidic environment leading to formation of the aldehyde.

    The nucleu Isoquinoline replaced was obtained through a reaction of anhydride

    homophitalico with benzilaminas leading to formation of 2-benzyl-isoquinoline-1,3-

    dione which was then condensed with aldehyde acridinicos amid basic leading

    compounds to end. The nucleus pyrimidine and quinazoline are commercial suffering

    reactions of N-alkylation with benzyl halide and 9-bromo-benzilacridine, obtained

    through a reaction of halogenations from the 9-methylacridine using N-

    bromossucinamide (NBS) as a donor of halogen. And so were obtained 5 new

    acridines derivatives with different heterocycles that were characterized by mass

    spectrometry and RMN1H and presented yields between 55 and 75% and tested

    against the four cell lines of different cancers, the dose of 25μg/mL. The compounds

    that showed better results were derived from the 4-isoquinolines acridin-9-yl-

    methylene-4H-isoquinoline-1,3-dione with a reduction of 96 and 63% of cell growth in

    HL-60 and HCT-8 respectively and 4-acridin-9-yl-methylene-2-benzyl-4H-

    isoquinoline-1 ,3-dione with a reduction of 98 and 78% of cell growth in HL-60 and

    HCT-8 respectively.

    Keywords: Acridine derivatives, Antitumoral, Citotoxicity

  • 1

    INTRODUÇÃO

  • 2

    1. INTRODUÇÃO

    As ciências evoluíram junto com o pensamento humano, e vem crescendo

    com uma velocidade maior a cada década principalmente devido aos avanços

    tecnológicos. Na realidade, um grande numero de informações em nível médico-

    biológico têm alcançado profissionais desta área, e com isso, grandes descobertas

    têm auxiliado na compreensão e elucidação do desenvolvimento de determinadas

    patologias que a muitos anos vem afligindo a vida do homem. Isso se torna claro,

    principalmente com a possibilidade de manipulação do DNA e o mapeamento

    genômico, que nos permite hoje compreender melhor o desenvolvimento de varias

    doenças entre elas o câncer (SCHOR, 2003).

    Esta doença é considerada um problema de saúde publica em todo mundo,

    além de ser apontada como a segunda causa de morte nos países desenvolvidos,

    perdendo apenas para doenças cardiovasculares. No Brasil, as estimativas para o

    ano de 2008, válidas também para o ano de 2009, apontam que ocorrerão 466.730

    casos novos de câncer. Os tipos mais incidentes, à exceção do câncer de pele do

    tipo não melanoma, serão os cânceres de próstata e de pulmão, no sexo masculino,

    e os cânceres de mama e de colo do útero, no sexo feminino, acompanhando o

    mesmo perfil da magnitude observada no mundo (INCA 2007).

    Existem algumas alternativas no tratamento da doença como: a radioterapia,

    a terapia gênica, e a quimioterapia além da intervenção cirúrgica. Todas elas podem

    ser utilizadas isoladas ou associadas. Entretanto, a quimioterapia é uma das

    abordagens mais aplicada no tratamento, e nesse sentido surge à necessidade de

    aprimorar esta ferramenta, principalmente no desenvolvimento de novos fármacos,

    em especial aqueles ativos contra os tumores sólidos. Um dos fatores limitantes do

    uso dos quimioterápicos é o surgimento de células tumorais capazes de desenvolver

    mecanismos de resistência farmacológica de etiologia multifatorial (FORMARIZ et

    al., 2004).

    Diante de tal situação, surge a necessidade do desenvolvimento de novos

    fármacos que possam superar esses mecanismos de resistência além de apresentar

  • 3

    uma atividade biológica satisfatória. Neste contexto, os derivados acridínicos como a

    N-[2-(dimetilamino)-etil]acridina-4-carboxamina e seus análogos, classificados como

    agentes intercaladores de DNA, apresentam atividade inibitória frente a enzimas

    reguladoras do DNA, as topoisomerases I e II (SCHENEIDER, 1988; BAGULEY,

    1997) e não são relativamente afetadas pela Resistência Multidroga (MDR) mediada

    pela glicoproteina-P, devido à sua alta lipolificidade (ATWELL, 1987; BAGULEY,

    1997).

    Diante de todas essas informações e utilizando as ferramentas

    disponibilizadas pela Química Medicinal no Planejamento Racional de Fármacos,

    baseado no bioisosterismo, é que novos derivados acridínicos foram sintetizados

    através de uma variedade de reações químicas, buscando sempre uma rota sintética

    mais simples, com melhores rendimentos e menor custo. Os derivados obtidos foram

    também submetidos a um screening inicial para avaliar seu potencial citotóxico.

    O presente trabalho abordará inicialmente uma fundamentação teórica, onde

    discutiremos a doença, a teoria de seu desenvolvimento, sua incidência no Brasil e

    no mundo, opções de tratamento, seguido de derivados acridínicos usados para

    combater a doença e os que são atualmente considerados promissores.

    A seguir, abordaremos a necessidade do planejamento de fármacos e a sua

    importância na resposta biológica, a química das acridinas por fim, a metodologia

    utilizada para a obtenção dos novos derivados, com uma breve abordagem sobre os

    prováveis mecanismos de reação em cada etapa na obtenção dos novos derivados,

    assim como sua elucidação estrutural.

    A última etapa do trabalho consiste nos testes de citotoxicidade in vitro frente

    a quatro linhagens celulares diferentes, selecionando o(s) composto(s) mais

    promissor(es) e assim avaliar sua IC50., além de verificar a importância dos

    heterociclos na resposta biológica.

  • 4

    REVISÃO DA

    LITERATURA

  • 5

    2. REVISÃO DA LITERATURA

    A descoberta sempre foi algo que fascinou o homem. Durante um longo

    período na historia da humanidade, acreditava-se e ensinava-se que o mundo tinha

    sido criado subitamente no ano 4004 a.C., a duvida na época era apenas se essa

    criação tinha ocorrido no inverno ou verão deste ano (LIMA, 2003).

    Essa curiosidade sobre o inicio da historia do homem serve para caracterizar

    sua própria evolução em sua estrutura mental e intelectual. Na antiguidade, a

    religião e a filosofia competiram pela supremacia, e a ciência somente se destacou

    completamente no século XIX.

    Esse fato se deve, ao esforço de muitos pesquisadores, que mesmo na

    época, não apresentavam recursos e ,ate mesmo, credibilidade sobre a importância

    da ciência na criação e evolução humana.

    Entretanto, foi em um monastério onde surgiu um dos primeiros

    pesquisadores sobre as ciências da vida e a evolução humana através da

    hereditariedade. Gregor Mendel foi um desses pesquisadores, que iniciou um

    programa de pesquisas sobre hibridização de plantas que, postumamente, lhe valeu

    o titulo de descobridor da ciência genética. Seus estudos forneceram um marcante

    exemplo de boa técnica cientifica. Seu trabalho foi baseado na escolha de um

    material de pesquisa bem adequado ao estudo do problema em questão, planejou

    cuidadosamente seus experimentos, coletou grandes quantidades de dados, e usou

    analise matemática para mostrar que os resultados eram consistentes com a

    hipótese explicatória (GRIFFITHS, et al,1998).

    Os estudos de Mendel, hoje culminam com os conceitos usados pela Química

    Medicinal, através do planejamento, coleta de dados e analises matemáticas,

    resultando na interação multidisciplinar, com objetivo central o desenho e a

    descoberta de novos compostos que sejam adequados ao uso como fármacos.

  • 6

    Essa descoberta pode exigir a pesquisa básica sobre a natureza biológica e

    química do estado patológico, e para isso exigem a contribuição de especialistas de

    outras áreas e que o químico medicinal possua conhecimento geral sobre tais áreas

    (THOMAS, 2003).

    2.1. Câncer: Doença Multifatorial

    Com a descoberta do DNA como a molécula responsável pela informação

    genética, vários pesquisadores focalizaram sua atenção a sua estrutura. Na

    realidade apenas se conhecendo a estrutura do DNA seria possível compreender

    como essa molécula carrega informações e como faz copias idênticas de si mesma

    (MICHELACCI et al, 2003 apud SCHOR, 2003). A possibilidade de manipular direta

    e precisamente a molécula de DNA determinou o mapeamento genômico de varias

    doenças e entre elas o câncer que se apresenta como uma das mais crescentes do

    mundo (SCHOR, 2003).

    Várias definições foram adotadas que pudessem melhor conceituar o câncer

    que em poucas palavras pode ser resumido basicamente como uma doença de

    células, caracterizada por um desvio nos mecanismos que controlam e dirigem a

    proliferação e diferenciação celular.

    Assim, o câncer não pode ser representado como uma doença única, e sim

    um grupo heterogêneo de doenças que tem na sua origem processos similares

    desordenados de divisão celular. Além do que todos os tumores malignos têm a sua

    origem a partir de alterações no DNA levando a perturbações nos processos

    proliferativos (SCHOR, 2003).

    Atualmente, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (2008), o

    câncer é um termo genérico usado para definir um grupo de doenças que podem

    afetar qualquer parte do corpo. Uma de suas características é a rápida criação de

    células anormais que crescer para além das suas fronteiras habituais, e que pode,

    então, invadir adjacentes partes do corpo e se espalhar para outros órgãos. Este

    processo é chamado de metástase, que é considerada a principal causa da morte

    pela doença

  • 7

    2.1.1. Uma Visão Molecular das Causas do Câncer

    De acordo com a literatura, existem varias teorias que abordam as causas do

    desenvolvimento de cânceres. Pesquisadores acreditam que se a causa das

    alterações forem conhecidas, provavelmente ocorrera à eliminação dos fatores que

    desencadeiam a doença e ajudara no desenvolvimento de melhores modalidades de

    tratamento.

    A taxa de incidência de vários tipos de cânceres está fortemente relacionada

    a fatores ambientais e estilo de vida, alem disso, tais células tem certas

    características de crescimento, tais como a capacidade de crescer

    descontroladamente cercando e invadindo outros tecidos em um processo

    conhecido como metástase. De um ponto de vista microscópico, observamos

    também algumas características particulares das células cancerígenas, como

    alterações na diferenciação celular, principalmente do núcleo e nucléolo (RUDDON,

    2007).

    A doença é considerada por alguns autores como, uma doença de idade, na

    realidade a media de idade para o surgimento de cânceres é 65 anos, devido a uma

    serie de fatores de vão se acumulando ao decorrer do tempo, esses fatores são

    conhecidos por “hits”. Esses hits podem resultar de susceptibilidade genética e

    fatores ambientais tais como, agentes químicos, radiação, vírus, bactérias, infecções

    parasitarias, entre outros, ou de agentes gerado endogenamente como radicais

    livres (RUDDON, 2007).

    2.1.1.1 Teoria dos Hits

    Como já mencionado, o câncer é uma doença considerada “doença da idade”,

    exceto para alguns tipos de cânceres como, leucemias e sarcomas, que podem

    ocorrer em crianças.

    Muitos tumores sólidos têm início em indivíduos com aproximadamente 45

    anos e cresce logaritimicamente com o passar dos anos, isso da à idéia de que

    esses hits aumentam com o aumento da idade (LUEBECK e MOOLGAVKAR, 2002).

  • 8

    Pesquisadores afirmam ainda que muitos desses hits são conhecidos por

    serem mutacionais na origem, resultado de danos cromossomais ou mudanças nas

    bases do DNA. O número necessário para iniciar um processo cancerígeno pode

    variar entre um a seis ou até mais, entretanto para progressão a processos

    metastásicos são necessários geralmente múltiplos hits. Como por exemplo, no caso

    da Leucemia Mielogênica Crônica (CML) há uma translocação cromossomal, que

    envolve uma parte do cromossomo 22 (NOWELL e HUNGERFORD, 1960), há na

    realidade, uma permutação entre os cromossomos 22 e 9 que produz uma proteína

    quimérica, chamada Bcr/Abl, que é uma tirosina quinase constitutiva promotora da

    proliferação celular. E assim, a CML parece ser provocada por um único hit, e é

    provavelmente por esse motivo drogas que possam atuar nesse alvo são suficientes

    para o seu tratamento (RUDDON, 2007).

    Por outro lado, muitos tumores sólidos como, câncer de mama, cólon, pulmão

    e próstata, provavelmente requer um maior numero de hits para atingir um estagio

    de malignidade máxima. O melhor exemplo desse evento é para o câncer de cólon,

    no qual estão envolvidos no mínimo cinco hits diferentes, para produzir um

    carcinoma invasivo (Figura 2.1). Onde no primeiro passo ocorrem duas mutações

    nos genes APC nas células do cólon normais, o segundo passo ocorre à formação

    de poliplasias adenomatosa através de uma mutação no gen RAS, o terceiro passo

    ocorre duas mutações nos gens PT53 levando a poliplasias displáticas, quarto passo

    consiste no carcinoma de cólon, onde ocorrem outros eventos e aberrações

    cromossomais e por fim o quinto passo que caracteriza o carcinoma metastático

    (RUDDON, 2007).

  • 9

    Figura 2.1 – Hits ocorridos no desenvolvimento de carcinoma matastásico.

    Assim observamos que existem processos desencadeadores para o

    desenvolvimento de cânceres, mas que de uma forma geral estão ligados a

    processos considerados imprescindíveis na vida celular: a síntese de DNA, a divisão

    e por fim sua diferenciação. Os mecanismos que controlam esses processos

    ocorrem através de sinais químicos, como fatores e inibidores de crescimento

    (WILLIAMS e LEMKE, 2002).

    1° hit (passo 1)

    2° hit (passo 2)

    3° hit (passo 3)

    4° hit (passo 4)

    5° hit (passo 5)

  • 10

    2.1.2. Controladores do Crescimento Celular

    Os fatores de crescimento, assim como os inibidores, exercem as suas

    funções através de ligações a receptores na superfície da célula. O que acontece

    nas células cancerígenas é um defeito nesses processos reguladores que levam a

    um crescimento celular descontrolado, como por exemplo, algumas células

    cancerígenas podem produzir excessivamente fatores de crescimento como o Fator

    de Crescimento Epidermal (Epidermal Growth Factor – EGF), ou suprimir a

    expressão dos inibidores de crescimento como p53, ou até aumentar os números de

    receptores dos fatores de crescimento (WILLIAMS e LEMKE, 2002).

    A causa dessas falhas no mecanismo de proliferação celular não tem sido

    completamente esclarecida, mas sabe-se que existem duas classes de genes que

    atuam diretamente na patogênese do câncer. A primeira classe inclui os genes que

    controlam diretamente a proliferação celular, os oncogenes e os genes supressores

    de tumor; e a segunda classe é formada pelos genes que não controlam diretamente

    o ciclo celular, mas controlam as taxas de mutações que são os genes de reparo

    (SCHOR: 2003).

    Vários geneticistas e pesquisadores de áreas afins definem oncogenes como

    formas modificadas de genes celulares normais, os denominados proto-oncogenes.

    Estes têm papel essencial no controle positivo da proliferação e diferenciação celular

    através de proteínas que exercem sua função em diversos processos intracelulares,

    atuando como proteínas quinases, fatores de crescimento ou transdutores de sinal.

    Acredita-se que qualquer alteração na estrutura ou na expressão desses genes

    altera suas funções normais, levando ao complexo processo de oncogênese

    (SCHOR, 2003).

    Os genes supressores de tumor nas células codificam proteínas cuja função é

    a regulação negativa do crescimento ou do processo de diferenciação celular. Um

    gene bem conhecido na supressão tumoral é o p53 que é codificado por um proteína

    de 53 KDa. Esta proteína esta envolvida na regulação do ciclo celular através de

    suas interações com ciclinas que atua para desacelerar a proliferação celular. O

    estudo desse gene conduziu a identificação de outros genes supressores de tumor

  • 11

    como o p21. Subseqüentes pesquisas têm sugerido que p21 e p53 trabalham juntos

    para retardar uma das fases do ciclo celular (WILLIAMS e LEMKE, 2002).

    De acordo com dados publicados por Stewart e Kleihue, divulgados pelo

    world cancer report (WHO,2003), uma série de genes estão envolvidos no

    desenvolvimento de vários tipos de cânceres. Na tabela 2.1 poderemos observar

    alguns genes que estão envolvidos no surgimento de diferentes tipos de cânceres.

    Tabela 2.1 – Tipos de cânceres causados por alterações em genes específicos

    Síndrome Gene Localização Tipo de câncer

    Retinoblastoma Familiar

    RB1 13q14 Retinoblastoma osteosarcoma

    Neoplasia Endócrina Múltipla I

    MEN 1 11q13 Adrenal e células pancreáticas

    Neurofibromatose tipo I NF1 17q11 Neurofibromas, gliomas ópticos, feocromacitoma

    Síndromes sanguíneas BLM 15q26 Leucemias e Linfomas

    Tumor de Wilms Familiar

    WT1 11q Tumor de Wilms (rins)

    Xeroderma Pigmentoso

    XP(A–D) 9q,3p,19q,15p Carcinoma de tecido basal e escamoso,

    melanoma

    Anemia de fanconi FAC 16q, 9q, 3p Leucemia aguda

    Sindrome de Li-Fraumeni

    p53 17p13 Mama, Carcinoma adrenocortical, ossos

    e tecidos moles, tumores cerebrais e

    leucemias

    Sindrome de Cowden PTEN 10q22 Mama e Tireóide

    Síndrome de Peutz-Jeghers

    LKB1 19q Mama e Cólon

    Sindrome de Gorlin PTCH 9q31 Carcinoma de Células basais

    Dados fornecidos por World Cancer Report (WHO, 2003)

    E por fim, a última classe de genes que podem também levar a o câncer são

    dos genes de reparo, conhecidos também como “Mutator genes” isso devido a sua

    contribuição patogênica quando mutado. A sua principal função nas células normais

    é garantir a integridade da informação genética, e mantendo desta forma a eficácia

  • 12

    da replicação e reparo do DNA. Esses apresentam comportamentos recessivos na

    célula, como os genes supressores de tumor, sendo necessário assim duas

    alterações na estrutura do gene para a perda de sua função (SCHOR, 2003).

    Desta forma, acredita-se que a formação de um tumor depende de processos

    múltiplos que podem ser evidenciados através de alterações genéticas presentes

    nas células neoplásicas. E assim o câncer vem se tornando uma doença crescente

    em todo o mundo, e já esta se tornando um problema de saúde publica, não só em

    países desenvolvidos, mas também em países em desenvolvimento.

    2.1.3. Prevalência de Câncer no Brasil e no Mundo

    De acordo com Waters (2001), o processo global de industrialização, ocorrido

    principalmente no século passado, conduziu a uma crescente integração das

    economias e das sociedades dos vários países, desencadeando a redefinição de

    padrões de vida com uniformização das condições de trabalho, nutrição e consumo.

    Isso resultou em uma significativa alteração na demografia mundial, devido à

    redução nas taxas de mortalidade e natalidade com aumento da expectativa de vida

    e envelhecimento populacional. Assim, esse processo de reorganização global

    determinou grandes modificações nos padrões de saúde-doença no mundo, o que

    acarretou uma transição epidemiológica, que foi caracterizada pela mudança no

    perfil de mortalidade com diminuição da taxa de doenças infecciosas e aumento

    concomitante da taxa de doenças crônico-degenerativas, especialmente as doenças

    cardiovasculares e o câncer (ABALA e YANEZ, 1997).

    E assim o câncer se tornou claramente um problema mundial. De acordo com

    dados publicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003), no ano de 2000

    os tumores malignos foram responsáveis por 12 % de aproximadamente 56 milhões

    de mortes em todo o mundo.

    Entretanto, as taxas de incidência e mortalidade para vários tipos de cânceres

    são similares, embora não idênticas em vários países desenvolvidos e em

    desenvolvimento. Isso porque tais países apresentam uma maior expectativa de

    vida, contudo o que se observa é uma diferença regional na distribuição da doença,

    reflexo de diferentes fatores etiológicos. Por exemplo, as etiologias infecciosas,

    desenvolvem um importante papel em certas partes do mundo, como as infecções

  • 13

    causadas por schistosomiasis em partes da África e da hepatite tipo B na China e

    sudoeste da Ásia (PISANI et al, 2005)

    No ano de 2005, de um total de 58 milhões de mortes ocorridas no mundo, o

    câncer foi responsável por aproximadamente 13%, que em valores reais

    corresponde a 7,6 milhões de vítimas. Dentre os tipos de câncer os que mais

    mataram foram: pulmão (1,3 milhão), estômago (aproximadamente 1 milhão), fígado

    (662 mil), cólon (655 mil) e mama (502 mil). De todos os óbitos ocorridos por câncer

    nesse ano, mais de 70% ocorreram em países de media ou baixa renda e estima-se

    ainda que, no ano de 2020, o número de casos novos anuais será de 15 milhões,

    sendo que cerca de 60% desses novos casos serão em países em desenvolvimento

    (WHO, 2008).

    Na Europa, mas especificamente na França, um terço das mortes masculinas

    e um quarto das mortes femininas são causadas por câncer. Isso também é

    justificado pelo tempo de vida da população européia, onde atualmente homens e

    mulheres apresentam uma expectativa de vida maior (RICAN et al, 2006)

    Na América do Norte, as estimativas também não são promissoras, uma vez

    que as expectativas para 2008 foram de 1,44 milhões de novos casos, isso não

    incluindo carcinomas in situ de qualquer região, exceto câncer de bexiga, nem

    cânceres de tecido escamoso ou basal, pois se estima que esses serão mais de 1

    milhão de novos casos, alem disso, estima-se ainda, cerca de 67.770 para

    carcinoma de mama in situ e 54.020 para melanoma in situ (AMERICAN CANCER

    SOCIETY, 2008).

    Uma observação feita aos países da América Latina que, ao contrário dos

    países desenvolvidos, esta transição epidemiológica ainda não se completou,

    observando-se um aumento na ocorrência de doenças crônico-degenerativas,

    enquanto a freqüência de doenças infecciosas e de doenças transmissíveis por vetor

    biológico, como malária e dengue permanecem elevadas, além da presença

    constante de desnutrição. Na realidade, considera-se a América Latina como a mais

    urbanizada das regiões menos desenvolvidas do mundo, sendo que esta

    urbanização tem sido acompanhada de pobreza urbana maciça, o que tem

  • 14

    contribuído para o agravamento das disparidades sociais (PARKIN, BRAY e

    DEVESA, 2001).

    E devido às tais disparidades sociais, o mapa global de distribuição dos tipos

    de câncer na America Latina, segue uma superposição semelhante à encontrada no

    perfil de morbimortalidade anteriormente mencionado. Desta forma, o Brasil destaca-

    se como uma área interessante para monitoramento e controle das tendências na

    incidência de câncer, assim como para estudo das variações nos padrões desta

    doença (GUERRA, MOURA GUERRA e SILVA MENDONÇA, 2005).

    De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer, - INCA (2007) No

    Brasil, as estimativas para o ano de 2008, válidas também para o ano de 2009,

    apontam que ocorrerão 466.730 casos novos de câncer. Os tipos mais incidentes, à

    exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, serão os cânceres de próstata e

    de pulmão, no sexo masculino, e os cânceres de mama e de colo do útero, no sexo

    feminino, acompanhando o mesmo perfil da magnitude observada no mundo.

    Os valores esperados isolados entre homens e mulheres são 231.860 e

    234.870 casos novos respectivamente. Alem disso, estima-se que o câncer de pele

    do tipo não melanoma (115 mil casos novos) será o mais incidente na população

    brasileira, seguido pelos tumores de próstata (49 mil), de mama feminina (49 mil), de

    pulmão (27 mil), de cólon e reto (27 mil), de estômago (22 mil) e de colo do útero (19

    mil) (Tabela 2.2) (INCA, 2007).

  • 15

    Tabela 2.2 – Estimativas para o ano de 2008 no Brasil, do número de casos novos de câncer, segundo a sua localização primaria

    Localização Primaria

    Neoplasias Malignas

    Estimativa de novos casos

    Homens Mulheres Total

    Pele não Melanoma 55.890 59.120 115.010

    Mama Feminina - 49.400 49.400

    Próstata 49.530 49.530

    Traquéia, Brônquio e

    Pulmão

    17.810 9.460 27.270

    Estômago 14.080 7.720 21.800

    Colo do Útero - 18.680 18.680

    Cólon e Reto 12.490 14.500 26.990

    Esôfago 7.900 2.650 10.550

    Leucemias 5.220 4.320 9.540

    Cavidade Oral 10.380 3.780 14.160

    Pele Melanoma 2.950 2.970 5.920

    Outras Localizações 55.610 62.270 117.880

    Total 231.860 234.870 466.730

    Fonte: INCA, 2007

    A distribuição dos casos novos de câncer segundo sua localização primária é

    bem heterogênea entre os Estados do País, onde as regiões Sul e Sudeste, de

    maneira geral, apresentam as maiores taxas, enquanto as regiões Norte e Nordeste

    mostram as menores taxas. As taxas da região Centro-Oeste apresentam um padrão

    intermediário (INCA, 2007).

  • 16

    As tabelas a seguir apresentam as estimativas para 2008 de novos casos de

    câncer na Região Nordeste (Tabela 2.3) e as estimativas para o Estado de

    Pernambuco dando ênfase a capital Recife (Tabela 2.4).

    Tabela 2.3 – Estimativas para o ano de 2008 no Nordeste do Brasil, das taxas brutas de incidência por 100.000 habitantes e do número de casos novos de câncer, segundo a sua localização primaria.

    Localização Primaria

    Neoplasia maligna

    Estimativa dos casos novos

    Estado Capital

    Casos Taxa Bruta Casos Taxa Bruta

    Pele não melanoma 26.240 99,36 5.880 104,36

    Traquéia, Brônquio

    e Pulmão

    3.630 13,81 1.460 26,45

    Colo e Reto 2.680 10,18 1.170 20,63

    Estômago 3.840 14,63 1.100 20,01

    Cavidade Oral 2.500 9,55 800 14,55

    Próstata 9.820 37,97 2.900 55,05

    Esôfago 1.360 5,24 390 6,61

    Mama Feminina 7.630 28,38 3.080 51,70

    Pele Melanoma 450 1,75 250 3,48

    Colo do útero 4.720 17,58 1.420 23,71

    Leucemias 1.900 7,29 580 10,78

    Outras Localizações 14.190 53,52 8.100 142,22

    Total 78.960 299,26 27.130 479,55

    Fonte: INCA, 2007

  • 17

    Tabela 2.4 – Estimativas para o ano de 2008 no Estado de Pernambuco e Grande Recife, das taxas brutas de incidência por 100.000 habitantes e do número de casos novos de câncer, segundo a sua localização primaria.

    Localização Primaria

    Neoplasia maligna

    Estimativa dos casos novos

    Estado Capital

    Casos Taxa Bruta Casos Taxa Bruta

    Pele não melanoma 5.790 132,83 830 108,14

    Traquéia, Brônquio

    e Pulmão

    830 19,45 270 35,29

    Colo e Reto 670 15,41 270 33,69

    Estômago 700 16,22 170 21,94

    Cavidade Oral 510 11,78 140 18,15

    Próstata 2.260 54,01 620 85,78

    Esôfago 280 6,57 60 7,86

    Mama Feminina 2.010 44,86 730 87,90

    Pele Melanoma 100 2,31 40 5,53

    Colo do útero 1.020 22,73 210 25,26

    Leucemias 350 8,28 100 13,01

    Outras Localizações 3.520 80,73 1.770 224,06

    Total 18.040 414,63 5.210 664,90

    Fonte: INCA 2007

    Mediante tais informações podemos observar que a doença acomete cada

    vez mais a população brasileira, e conseqüentemente também influência a economia

    e a qualidade de vida no país. Apesar do Nordeste não esta entre as regiões

    brasileiras com maior prevalência da doença, os índices de morbidade e mortalidade

    crescem a cada ano, onde em 2008 esta estimado uma taxa de aproximadamente

  • 18

    17% dos novos casos no Brasil, um aumento de 1,5% das ultimas estimativas para o

    ano de 2005 que foram de 15,5 % dos novos casos.

    Para o estado de Pernambuco estão estimados 18.040 novos casos que

    corresponde a 3,86 % da população nacional e 22,85% da população nordestina,

    perdendo apenas para Bahia que apresenta 23,37% da população estimada a ser

    acometida pela doença.

    Esse aumento não é considerado tão significativo em relação aos últimos 3

    anos, onde se estimou em Pernambuco, para 2005, 17.070 novos casos que

    correspondeu a 3,56% da população nacional. Entretanto, em relação ao nordeste,

    observamos uma pequena diminuição na incidência de novos casos, que passou de

    23, 47% em 2005, para 22, 85% para 2008, como já mencionado.

    2.1.4. Tratamento

    Com os avanços na Medicina e com a ajuda da tecnologia, atualmente existe

    uma variedade de opções para o tratamento de doenças degenerativas como o

    câncer. Entretanto, a quimioterapia é considerada uma das abordagens mais bem

    aceita para o seu tratamento. É nesse sentido que pesquisadores buscam o

    aprimoramento de novos agentes terapêuticos capazes de atuar sobre a doença, e

    em especial aqueles que sejam ativos contra tumores sólidos (FORMARIZ et al.,

    2004).

    Existe uma variedade de fármacos capazes de inibir ou atuar na síntese de

    macromoléculas como DNA e RNA. Aqueles capazes de inibir a síntese geralmente

    agem como antimetabólitos, ou como inibidores enzimáticos. Os que atuam

    diretamente sobre os ácidos nucléicos já existentes, podem ser classificados de

    forma geral como agentes intercaladores, agentes alquilantes e agentes que clivam

    as cadeias. Em ambos os casos, o resultado final é a prevenção ou a diminuição do

    crescimento e da divisão celular (THOMAS, 2003).

  • 19

    2.1.4.1. Antimetabólitos

    São fármacos capazes de bloquear vias metabólicas normais nas células.

    Suas estruturas geralmente são muito semelhantes aos metabólitos celulares e são

    usados para impedir a formação do DNA. Esses fármacos podem ser classificados

    como antifolatos, antimetabólitos das pirimidinas e das purinas (THOMAS, 2003).

    Os folatos são essenciais para a síntese de nucleotídeos da purina e do

    timidilato, indispensáveis para a síntese do DNA e a divisão celular. Seu principal

    antagonista é o metotrexato (Figura 2.2), que interfere na síntese do timidilato

    através de uma ligação do mesmo com uma enzima chamada diidrofolato redutase

    (RANG et al., 2004).

    Figura 2.2 - Principal antagonista dos folatos – metotrexato

    Os antimetabólitos das pirimidinas são geralmente relacionados

    estruturalmente com os endógenos que eles antagonizam. Geralmente, eles atuam

    por inibição de uma ou mais enzimas que são necessárias para a síntese de DNA,

    como exemplo temos o fluorouracil, que é metabolizado pela mesma via que o uracil

    (Figura 2.3), gerando o ácido 5-fluoro-2”-desoxiduridílico (FUdRP). O flúor foi

    escolhido para substituir o átomo de hidrogênio na posição 5 do uracil porque possui

    uma dimensão semelhante ao hidrogênio (WILLIAMS e LEMKE, 2002; THOMAS,

    2003).

    Figura 2.3 - 5-Fluorouracil um análogo estrutural do Uracil

    Outros compostos como o 6-mercaptopurina e a 6-tioguanina (Figura 2.4),

    são antimetabólitos purínicos, com estrutura baseada no núcleo da purina. Eles

    N

    NN

    N

    N

    NH2

    H2NCH3

    CONH CH

    COOH

    CH2CH2COOH

    5-Fluorouracil

    N

    N

    O

    O

    H

    H

    F

    Uracil

    N

    N

    O

    O

    H

    H

    H

  • 20

    inibem a síntese do DNA e em alguns casos do RNA através de mecanismos

    diferentes (THOMAS, 2003).

    Figura 2.4 - Antimetabólitos Purínicos

    2.1.4.2. Agentes Alquilantes

    São fármacos correlatos que contêm grupos químicos capazes de formar

    ligações covalentes com substâncias nucleofílicas particulares na célula, como o

    DNA. Esses agentes em sua maioria são bifuncionais, ou seja, apresentam dois

    grupos alquilantes. Nos ácidos nucléicos, atuam principalmente no nitrogênio da

    posição 7 (N7) da guanina, por ser fortemente nucleofílico, embora o N1 e N3 da

    adenina e o N3 da citosina também possam ser afetados (RANG et al., 2004).

    A sua natureza eletrofílica implica também dizer que eles também podem

    reagir com um grande número de biomacromoléculas, justificando assim, muito dos

    seus efeitos indesejáveis, como as mostardas nitrogenadas (Figura 2.5), que estão

    relacionadas com a mostarda de enxofre, o “gás de mostarda” muito utilizado

    durante a Primeira Guerra Mundial. No entanto, devido ao seu caráter nucleofílico e

    conseqüentemente muito tóxico, outros fármacos foram desenvolvidos como o

    clorambucil, um fármaco menos tóxico, sendo ativo contra linfomas malignos,

    carcinomas da mama e do ovário e a leucemia linfocitica (THOMAS, 2003).

    HN

    N

    S

    H2NN

    N

    H

    6-tioguanina

    HN

    N

    S

    N

    N

    H

    6-mecaptopurina6-tioguanina 6-mecaptopurina

  • 21

    Figura 2.5 - Mostardas nitrogenadas

    Vários outros agentes alquilantes foram sintetizados com objetivo de diminuir

    os efeitos colaterais dos derivados das mostarda nitrogenadas. Entre eles temos

    bussulfan, dacarbazina, complexos de platina, procarbazina, ifosfamida e melfalan.

    Todos esses foram desenvolvidos para alquilar e assim, interferir na síntese do DNA

    (BRODY et al., 1997).

    Pesquisadores vêm desenvolvendo e testando uma nova serie de análogos

    da cisplastina no qual o complexo de platina esta ligado a um intercalador como a 9-

    aminoacridina-4-carboxamida que levam a formação do complexo 9-aminoacridina-

    4-carboxamida platina (Figura 2.6). Esses análogos exibem uma atividade

    semelhante ao da cisplastina, mas também exibem uma significante atividade in vivo

    frente a tumores resistentes a cisplastina (TEMPLE et al., 2002).

    Figura 2.6 - Complexo 9-aminoacridina-4-carboxamida platina

    2.1.4.3. Agentes Capazes de Clivar a Cadeia de DNA

    Essa classe de fármacos são capazes de degradar os ácidos nucléicos em

    fragmentos menores, entre eles temos as bleomicinas (Figura 2.7) e os seus

    análogos. Acredita-se que a sua ação sobre o DNA envolva a intercalação ao DNA e

    a quelação do Fe2+ que interage com o oxigênio, resultando na oxidação do ferro e

    produção de radicais superóxido e/ou hidróxilas (RANG et al., 2004; THOMAS,

    2003).

    N

    NH2

    NH(CH2)n

    NHPt

    NH2

    Cl Cl

    O

    R N

    Cl

    Cl

  • 22

    Figura 2.7 - Estrutura da Bleomicina A2

    2.1.4.4. Agentes Hormonais

    Existem tumores em certos tecidos que são considerados hormônio-

    dependente. Desta forma, o seu crescimento pode ser inibido por hormônios com

    ações opostas, por antagonistas de hormônios ou por agentes que inibem a síntese

    dos hormônios relevantes. Entre esses hormônios podemos destacar os

    glicocorticóides, que exercem efeitos inibitórios sobre a proliferação dos linfócitos e

    são utilizados no tratamento de leucemias e dos linfomas. Além desses, temos os

    estrógenos como fosfestrol e os progestogênios como o megestrol e a

    modroxiprogesterona, que tem sido bem utilizado nas neoplasias endometriais e

    tumores renais (RANG et al., 2004).

    Os antagonistas hormonais também têm se apresentado como fármacos

    eficazes no tratamento de diversas neoplasias, entre eles temos o tamoxifeno,

    considerado o principal antiestrogênico usado clinicamente e age se ligando a

    receptores de estrogênio e bloqueando a transcrição dependente de estrógenos em

    uma das fases do ciclo celular. Entre os antiandrogênicos temos a flutamida e a

    ciproterona que inibem a ligação do androgênio a receptores no núcleo, e são

    utilizados em tumores de próstata (BRODY et al., 1997; RANG et al., 2004).

    N N

    CH3

    H2N

    CONH2

    N

    NH

    O

    H

    NH

    O

    O

    OO

    OH

    OH

    HO

    OHOCONH2

    OH

    OH

    NH

    N

    HO

    CH3

    NH

    OHO CH3

    NH

    S

    N

    S

    N

    CONHCH2CH2CH2S

    O

    CH3

    CH3

    CH3CONH2

    CH3

  • 23

    2.1.4.5. Intercaladores do DNA

    Esses fármacos são capazes de se inserirem entre as bases da hélice de

    DNA e assim inibem a transcrição, o que bloqueia o processo de replicação celular.

    Entretanto acredita-se que o processo de replicação pode ser alterado devido à

    inibição das enzimas topoisomerases. Esses fármacos devem possuir estruturas que

    contêm uma seção com anéis aromáticos condensados, ou uma seção contendo um

    anel heterocíclico aromático que pode se encaixar entre as estruturas planas das

    bases do DNA. Com isso, acredita-se que esses fármacos além de intercalar o DNA

    também atuam como inibidores enzimáticos (THOMAS, 2003).

    2.1.4.6. Fármacos Considerados “Venenos” Topoisomerases

    As topoisomerases I e II são expressas em diferentes níveis nos diferentes

    tipos celulares. A expressão da topoisomerase I é marcante nas linhagens celulares

    de câncer de colo enquanto que das topoisomerases II são mais freqüentes em

    linhagens celulares de câncer de mama e ovário (HOLDEN et al., 1990). Essas

    informações serviram de incentivo para pesquisadores de áreas afins

    desenvolverem novos fármacos que fossem capazes de atuar em tais enzimas,

    visando uma terapêutica mais eficiente. Com isso, um grande número de compostos

    têm sido desenvolvido com capacidade de interferir com a atividade das

    topoisomeraeses, principalmente a topoisomerase II, e esses apresentam uma

    variedade de características estruturais (BAILLY, 2000).

    A variedade de compostos que interferem na atividade catalítica da

    topoisomerase I fornece uma oportunidade para avaliar regiões funcionais destas

    moléculas. O alcalóide 4-etil-4-hidroxi-1,12-diidro-4H-2-oxa-6,12a-diaza-dibenzo

    [b,h]-fluoreno-3,13-diona chamada de camptothecin (Figura 2.8) é conhecido por

    inibir a topoisomerase I, e consideráveis evidências indicam que essa droga forma

    um complexo covalente com o DNA e topoisomerase I, resultando na inibição da

    etapa de re-ligação do ciclo catalítico (HSIANG et al., 1989; FROELICH-AMMON e

    OSHEROFF, 1995).

  • 24

    Figura 2.8 – Estrutura do Camptothecin

    No entanto, Kubota e colaboradores (1992), assim como Tanizawa e

    colaboradores (1993) haviam evidenciado em seus trabalhos de pesquisa a

    existência de células resistentes ao camptothecin, devido a formas mutantes de

    topoisomerases.

    Outros estudos em linhagens de células resistentes têm sido iniciado para a

    descoberta de mutantes que confere resistência ao camptothecin aparentemente

    sem alterar a capacidade da enzima relaxar a super helicoidização (LI, et al., 1997).

    Devido a tal fato, análogos sintéticos do camptothencin foram desenvolvidos como o

    topotecan e irinotecan (PALUMBO et al., 2002).

    Os venenos topoisoemrases II incluem drogas de diferentes famílias, como

    antraciclinas, epipodofillotoxinas, flavonóides e derivados da acridina (Figura 2.9).

    N

    N

    O

    O

    O

    CH3OH

  • 25

    Figura 2.9 – Alguns fármacos que atuam nas topoisomerases II

    Alguns destes fármacos não atuam com ligantes do DNA, enquanto outros

    exibem uma alta afinidade pelos ácidos nucléicos. Muitos destes são intercaladores

    de DNA (antraciclinas, antracenodiona, derivados da acridina, bisantreno e

    actnomicina D). Eles se caracterizam por uma região policíclica planar intercaladora

    de DNA e grupos polares de correntes laterais que são eventualmente atacados.

    Supõe-se que esta região planar é capaz de “escorregar” entre as bases de DNA e

    gerar uma eficiente interação. Além disso, para estabilizar um maior contato com os

    ácidos nucléicos, as “correntes laterais” provavelmente interagem com a enzima,

    atuando como elementos de reconhecimento da enzima. A estrutura química, a

    relativa posição dos grupos farmacóforos (anel planar e “correntes laterais”) parecem

    ser fundamentais na modulação das ligações aos ácidos nucléicos e dos efeitos de

    envenenamento enzimático (CAPRANICO et al., 1998; BAILLY et al., 1999).

    O

    O OH

    OHO

    COCH3

    OH

    H3CO

    NH2

    OH

    H3C

    O

    OH

    HO

    OH

    O

    H

    OH

    O

    O

    O

    HO

    H O

    OO

    O

    H

    H

    O

    OH CH3

    OOH3C CH3

    OH

    Antraciclinas Epipodofillotoxins

    Flavonóides Derivados da Acridina

    N

    NH

    OCH3H3C2OSHN

  • 26

    Todos esses fármacos interferem com uma das etapas do ciclo catalítico das

    topoisomerases. Eles são capazes de atuarem no então chamado “complexo de

    clivagem”, que representa um estado de intensa fragilidade da molécula de DNA,

    cuja continuidade é apenas concedida por quatro grupos de ligações de hidrogênio

    entre os pares de bases e por interações não covalentes entre os dois monômeros

    da topoisomerase II. A estabilidade deste complexo é também suficiente para inibir a

    proliferação celular através de um sinal letal para as células que entram em

    apoptose como uma resposta a esta agressão (WALKER et al., 1991 Apud ROBERT

    e LARSEN, 1998).

    Com isso, inibidores duais de topoisomerases I e II, têm apresentado

    vantagens por terem a capacidade de interferir tanto nas topoisomerases I como nas

    topoisomerases II. Como exemplos podemos destacar o intoplicina e o [N-[2-

    (dimetilamino)etil]-acridina-4-carboxamida (XR 5000) conhecida como DACA (Figura

    2.10) (PODDEVIN et al., 1993).

    Figura 2.10 – Fármacos Capazes de interferir nas topoisomerases I e II.

    Outros inibidores duais como o derivado da fenazina, o 4-metoxi-

    benzo[a]fenazina-11-carboxil-(1-dimetilamino-etil)-amida (XR 11576) (Figura 2.11) foi

    desenvolvido para superar o fenômeno da Multdrug Resistence (MDR) (WANG et al.,

    2002).

    N

    N

    HO

    NH(CH2)3N(CH3)2

    H

    Intoplicina XR 5000 - DACA

    N

    NN

    H

    O

  • 27

    Figura 2.11 – Estrutura da 4-metoxi-benzo[a]fenazina-11-carboxil-

    (1-dimetilamino-etil)-amida (XR 11576)

    Nesse contexto, os derivados acridinicos como N-[2-

    (dimetilamino)etil]acridina-4-carboxamina (DACA) e seus análogos estruturais

    representam uma classe de agentes intercaladores de DNA com atividade inibitória

    frente a enzimas reguladoras do processo de transcrição, topoisomerases I e II

    (SCHENEIDER, 1988; FINLAY, 1996). Tais derivados apresentam um amplo

    espectro de atividade frente a tumores sólidos em modelos animais e não são

    relativamente afetadas pelo fenômeno multidroga resistência mediada pela

    glicoproteina-P devido a sua alta lipolificidade (ATWELL, 1987; BAGULAY, 1995).

    Spicer e colaboradores (1997) obtiveram uma série de derivados acridínicos,

    os quais foram avaliados frente a uma linhagem de células que incluiam o tipo

    selvagem (JLc) e mutantes (JLa e JLd) de leucemias Jurkat humana. Constataram

    que essa linhagem mutante apresentava resistência a agentes específicos inibidores

    da topoisomerases II, principalmente devido ao baixo nível enzimático. Daí à

    importância de se desenvolver novos agentes terapêuticos eficazes portadores de

    uma atividade dual frente as topoisomerases, e que sejam capazes de superar tal

    resistência.

    N

    N

    H3CO

    N NO

    H

  • 28

    2.1.4.7. Acridinas: Como Possíveis Fármacos Direcionados ao Tratamento do

    Câncer

    Derivados acrdínicos são os agentes quimioterápicos mais amplamente

    estudados como antimaláricos, antiprotozoário, antibactericida e antitumoral. Esses

    compostos são caracterizados por apresentarem um sistema policíclico planar,

    formado por três ou quatro anéis e um ou dois grupos substituintes flexíveis

    (SANCHEZ, et al 2006).

    O seu interesse clinico surgiu em 1888, quando Auclert foi designado a

    encontrar o uso médico da 3-amino-9-amino-fenil-acridina (Figura 2.12), e em suas

    pesquisas descobriu que tal composto apresentava propriedades farmacológicas

    semelhantes as quininas e alguns alcalóides.

    Figura 2.12 - 3-amino-9-aminofenil-acridina

    Mas tais derivados não foram utilizados até Browning em 1913 descobrir a

    ação antibacteriana da proflavina e acriflavina (Figura 2.13), e a partir de então

    esses compostos foram introduzidos na prática médica principalmente no período da

    Primeira Guerra Mundial (ALBERT, 1966).

    Figura 2.13 – Estrutura dos antibacterianos proflavina e acriflavinas

    N NH2

    NH2

    N NH2H2N

    Prof lav ina Acriflavina Proflavina

    N NH2H2N

    CH3

    +

    (Cl-)

    Acrif lav ina

  • 29

    Na década de 1950, pesquisadores encontraram outras propriedades das

    acridinas. Estes constataram que tais moléculas poderiam diferenciar os ácidos

    ribonucléicos (RNA) dos ácidos desoxirribonucléicos (DNA) com fluorescência

    vermelha e verde respectivamente. Tais observações foram feitas em tecidos fixos,

    mas logo foram transferidos para células vivas (SMILES e TAYLOR, 1957;

    STOCKINGER, 1958). Isso despertou a curiosidade dos estudiosos da área a

    investigar a capacidade que tais fármacos poderiam interferir com a estrutura dos

    ácidos nucléicos e assim na replicação celular.

    Mas foi na década de 1970, que surgiu o primeiro derivado anilinoacrdinico,

    desenvolvido por Denny e colaboradores, a Amsacrina (N-[4-(acridin-9-ylamino)-3-

    metoxi-fenil]-metanosulfonamida – m-AMSA) (Figura 2.14).

    Figura 2.14 - Estrutura da Amsacrina

    Tal derivado foi implementado na clinica em 1976 para o tratamento de

    leucemias e foi o primeiro fármaco no qual o seu modo de ação foi previsto como

    uma interação com o complexo DNA-Topoisomerase II (DENNY, 2004).

    As topoisomerases são enzimas que estão envolvidos no processo de

    relaxamento do DNA durante inúmeros processos críticos celulares, tais como

    replicação, recombinação e transcrição através de uma quebra transitória em uma

    ou nas duas fitas de DNA, passando uma ou ambas através da abertura do DNA e

    finalmente religando as quebras (LI et al., 2004)

    Nos eucariotos existem dois tipos de topoisomerases, a I e II, que estão

    envolvidas na diminuição do estresse torcional no momento da replicação do DNA,

    N

    HN

    H3CO NH S

    O

    O

    CH3

  • 30

    transcrição e condensação das cromatinas (DENNY e BAGULAY, 2003; LEPPARD e

    CHAMPOUX, 2005).

    O ciclo catalítico das topoisomerases I e II consiste na clivagem do DNA,

    através de cortes em uma ou em ambas as fitas respectivamente, para formar um

    intermediário covalente enzima-DNA, relaxamento do DNA e religação da coluna

    fosfodiéster para restaurar a integridade do DNA (BAILLY, 2000). E fármacos

    capazes de interagir com tal intermediário, são considerados venenos

    topoisomerases, pois formam um complexo ternário fármaco-enzima-DNA, levando a

    quebras sucessivas no mesmo e destruição de células cancerígenas (BELMONT et

    al, 2007).

    Estudos de modelagem molecular verificaram que o principal modo de

    interação dos derivados 9-anilinoacridinicos foi por intercalação, e que diferentes

    grupos substituintes podem interferir no modo e na seqüência das bases (FISCHER

    e PINDUR, 1999). Entretanto, em estudos realizados com a m-AMSA e um dos seus

    isômeros, menos ativo, o-AMSA (N-[4-(acridin-9-ilamino)-2-metoxi-fenil]-

    metanosulfonamida) (FIGURA 2.15), foram estudados em DNA de plasmídio, e

    observaram que a porção acridinica, de ambos os derivados, intercalam no DNA,

    entretanto, o grupamento anilinico da m-AMSA, participa de uma interação

    especifica adicional com as topoisomera II, o que não foi observado com o seu

    isômero o-AMSA. Esses resultados apontam a capacidade da amsacrina em

    interagir com a enzima sozinha, independente da formação do complexo ternário

    fármaco-enzima-DNA, e isso parece ser fundamental na sua atividade inibitória

    (CHOURPA et al 1996).

  • 31

    Figura 2.15. Estrutura do o-AMSA

    Embora, a m-AMSA, seja um intercalador e inibidor da topoisomerase II, seu

    metabolismo pode estar associado com a produção de radicais livres, que causam

    sérios danos não apenas ao DNA das células tumorais mais também das células

    normais (BLASIAK et al 2003).

    Essa toxicidade, pode ser resultado da ação espécies de oxigênios reativos

    que se formam durante o metabolismo da amsacrina nas células. Este processo

    envolve a oxidação do fármaco, formando espécies de quinonas-diiminas

    quimicamente reativas, que podem assim reagir com compostos tiois ou aminas,

    incluindo glutationas (SU et al, 1995; BLASIAK et al, 2003).

    Com intuito de contornar o problema, pesquisadores vêm desenvolvendo

    novos derivado acridínicos baseado na estrutura da amsacrina os chamados drogas

    “como amsacrina” um deles é o 3-(9-acridinilamino)-5-(hidroximetil)-anilina (AHMA)

    (Figura 2.16), onde o grupo amino se encontra na posição meta, prevenindo assim a

    formação de quinonas-diiminas, diminuindo sua toxicidade. Seu mecanismo de ação

    é semelhante ao da amsacrina, onde se observou uma intercalação com o DNA e

    interação com topoisomerase II, entretanto apresentam longo tempo de meia-vida

    (SU et al 1995).

    N

    HN

    NH

    OH3C

    S

    O

    O

    CH3

  • 32

    Figura 2.16 – Estrutura do AHMA

    Outros derivados do AHMA foram sintetizados por Su e colaboradores, e

    avaliados sua citotoxicidade in vitro, interação com topoisomerase II e atividade

    antitumoral in vivo, nesses derivados foram substituído o grupamento CH2OH por

    CH3 nas posições orto-, meta- e para- em relação ao grupamento amino, levando a

    formação dos compostos 5-(9-acridinilamino)-m-toluidina (AMTs), 5-(9-

    acridinilamino)-p-toluidina (APTs) e 5-(9-acridinilamino)-o-toluidina (AOTs). As

    posições 4 e 5 do núcleo acridinico também foram submetidos a modificações por

    grupos dimetilaminoetilcarboxamida e metil respectivamente (Figura 2.17), que

    apresentaram melhor citotoxicidade in vitro que o AHMA e uma apreciável atividade

    antitumoral in vivo, com menor toxicidade para o hospedeiro (CHANG et al 2003).

    Figura 2.17- Estrutura dos derivados da AHMA (AOT, AMT e APT)

    Outros derivados da AHMA foram sintetizados, apresentando as mesmas

    características estruturais para o núcleo acridínico, diferenciando apenas o

    N

    HN NH2

    CH3NH

    NO

    CH3

    AOT

    N

    HN

    CH3

    NH2

    CH3NH

    NO

    AMT

    N

    HN NH2

    CH3NH

    NO

    H3C

    APT

    N

    HN

    CH2OH

    NH2

  • 33

    grupamento metila da anilina que foi substituído por uma metoxila nas posições orto-

    meta- e para- conduzindo aos compostos 5-(9-acridinilamino)-o-anisidine (AOA), 5-

    (9-acridinilamino)-m-anisidine (AMA) e 5-(9-acridinilamino)-p-anisidine (APA) (Figura

    2.18) (BACHERIKOV et al, 2005).

    Figura 2.18 – Estrutura dos derivados da AHMA (AOA, AMA, APA)

    Esses derivados foram testados frente a diversas linhagens de células

    tumorais e observaram que o AOA foi o composto mais potente, quando comparado

    aos outros derivados AMA e APA, seguindo a seguinte ordem de citotoxicidade:

    AOA>AMA>APA. E quando comparados todos os derivados sintetizados e avaliados

    pelo grupo foram observado à seguinte ordem de toxicidade: AMA >AMT, AOA >

    AOT entretanto o APT > APA. Isso foi justificado pela posição do grupo metila (efeito

    indutivo) e do grupo metoxila (efeito doador de elétrons) afetando a

    eletronegatividade do anel anilinico e conseqüentemente alterando a ligação droga-

    topoisomerase II e assim a atividade antitumoral (BACHERIKOV et al, 2005).

    E com base na eficácia das respostas frente a neoplasias apresentadas pelos

    derivados acridínicos, que Silva (2003) idealizou e sintetizou novos derivados

    imidazoacridínicos e tiazoacridínicos. Entre esses o derivado 5-(acridina-9-il-

    metileno)-3-(4-nitro-benzil)-tiazolidina-2,4-diona (AC-06) e o 5-(acridina-9-il-

    metileno)-3-(4-bromo-benzil)-tiazolidina-2,4-diona (AC-07) (FIGURA 2.19), foram os

    mais ativos frente ao tumor sólido Sarcoma 180 na dose de 50 mg/Kg, com taxa de

    inibição de crescimento tumoral de 71,48% e 72,25%, respectivamente. Outros

    derivados imidazoacridínicos e tiazoacridínicos já sintetizados no Laboratório de

    N

    HN NH2

    CH3NH

    NO

    OCH3

    AOA

    N

    HN

    OCH3

    NH2

    CH3NH

    NO

    AMA

    N

    HN NH2

    CH3NH

    NO

    H3CO

    APA

  • 34

    Planejamento e Síntese de Fármacos - LPSF se encontram patenteados (PITTA et

    al., Br, IP-0203747-5, 2002).

    Figura 2.19 - Derivados acridínicos desenvolvidos pelo LPSF – UFPE

    A seguir discutiremos a química das acridinas, nomenclatura, reatividade e

    vias de obtenção utilizadas para a preparação de acridinas.

    2.1.4.7.1. Química das Acridinas

    A química dos compostos heterociclicos é um dos ramos mais complexos da

    química orgânica. Tais compostos normalmente apresentam uma grande

    diversidade de atividades biológicas, o que desperta o interesse de centros de

    pesquisas em todo o mundo. Dentre tais derivados os anéis policíclicos planares

    apresentam grande interesse, principalmente por apresentarem propriedades

    antiproliferativas, entre eles os derivados acridinicos vem sendo amplamente

    estudado em todo o mundo e apresentam resultados promissores, o que encorajam

    os pesquisadores na busca de novos prováveis fármacos a partir desse farmacóforo.

    O núcleo acridinico foi descoberto em 1870 Graebe e Caro, quando esses

    analisavam as cinzas de alcatrão e descobriram um novo material básico,

    semelhante ao antraceno, que apresentavam um átomo de nitrogênio no seu anel

    central. Por apresentar um cheiro acre e ações irritantes sobre a pele e mucosas

    essa nova substância foi chamada de “Acridin” (acris = acre ou mordaz) (ACHESON

    et al 1956). As acridinas são compostos heterociclicos formados de dois anéis

    benzênicos fundidos a um anel piridínico no centro (Figura 2.20). Também são

    N

    S

    N

    O

    O

    CH2 NO2

    AC-06

    N

    S

    N

    O

    O

    CH2 Br

    AC-07

  • 35

    denominadas de dibenzo-(B, E)-piridina; 10-azaantraceno; 2,3,5,6-dibenzopiridina;

    2,3-dibenzoquinolina, entre outros.

    Figura 2.20 - Acridina

    A partir desse núcleo uma serie de moléculas contendo o cromóforo da

    acridina foram sintetizados e avaliados frente a diversas atividades biológicas, por

    diversas diferenciadas rotas.

    Um dos principais métodos para obtenção dos núcleos acridinicos é a partir

    das reações de Ullmann. Esta reação consiste basicamente em um acoplamento de

    haletos de arila com aminas para a síntese de aril-éster ou arilaminas (Esquema 2.1)

    (KUNZ et al, 2003). Na realidade as reações de Ullmann foram realizadas desde

    inícios do século XX e são amplamente utilizadas pelos laboratórios de químicas ate

    os dias atuais.

    N

    12

    3

    45

    6

    7

    8 9

  • 36

    Esquema 2.1 - Reações de Acoplamento cobre-catalisada de Ullmann e Goldberg.

    Essas reações são também conhecidas por condensação de Ullmann e

    usadas para descrever reações cobre-catalisadas. O ponto limitante de tais reações

    consiste basicamente nas condições reacionais onde se faz necessário a utilização

    de solventes muitas vezes tóxicos, altas temperaturas, alem de intolerância a uma

    ampla variedade de grupos funcionais (FANTA, 1974; LINDLEY 1984).

    Com isso, varias metodologias foram desenvolvidas baseadas nas reações de

    Ulmann conhecidas por reações cobre-catalisadas, modificando-se as fontes de

    cobre, como também os solventes utilizados nas reações.

    Como por exemplo, as reações de acoplamento cobre-catalisadas para

    obtenção de alquilaminas, através de uma reação de aminação com iodeto de cobre

    e etilenoglicol, em meios reacionais mais brandos e com uma ampla tolerância a

    diferentes grupos funcionais a partir de iodetos de arila em meio básico (Esquema

    2.2) (BUCHWALD et al 2002).

    OH Br

    Cu cat, K

    2-2,5 h

    210°C, 90%

    O

    OH

    O

    NH2

    Br

    Cu cat. K2CO3

    3h, 210°C, Ph-NO299%

    OH

    O

    NH

  • 37

    Esquema 2.2 - Reação de aminação cobre catalisada

    Outros compostos foram sintetizados por reações de aminação do ácido

    clorobenzóico, conduzindo a formação dos derivados ácidos N-aril-antranilinico, por

    Mei e colaboradores (2005). Tais pesquisadores realizaram um protocolo de

    aminação cobre-catalisada para a síntese de ácidos N-aril-antranilinico que foram

    utilizados como precursores para a construção de 9-cloro e 9-bromo acridinas. Das

    reações realizadas a que apresentou melhor resultado foi a partir do acido o-cloro-

    benzóico e m-cloro-anilina na presença de Cu, Cu2O, K2CO3 e 2-etoxi-etanol como

    solvente a 130° por 24h, resultando no composto final com 99% de rendimento

    (Esquema 2.3)

    Esquema 2.3 – Síntese do acido N-(3-cloro-fenil)-antranilinico)

    E assim, vários derivado acridínicos foram sintetizados através de

    aperfeiçoamento nas condições reacionais como a síntese dos derivados acridínicos

    e acridônicos realizadas por Gooldell e colaboradores (2006), inicialmente os

    derivados acridínicos foram sintetizados a partir de uma reação modificada de

    acoplamento de Ullmann-Goldberg entre o ácido bromoterafitálico e anilinas

    produzindo os intermediários antranilínicos. Uma reação cobre-catalisada e piridina

    como co-catalisador responsável por manter o ciclo do Cu°, reduzindo o tempo

    reacional e melhorando os rendimentos. A segunda etapa consiste em uma reação

    I

    NHR1

    R2

    5 mol% CuI

    2 equiv K3PO42 equiv HO(CH2)2OH

    Isopropanol80°C 8-72h

    NR1

    R2

    48 - 91%

    OH

    O

    Cl

    H2N Cl

    Cu, CU2O, K2CO3

    2-etoxi-etanol, 130°, 24h

    OH

    O

    NH

    Cl

  • 38

    de ciclização com POCl3 levando a formação dos intermediários 9-cloroacridínicos, e

    um cloroácido respectivamente Tais intermediários reagiram com aminas

    conduzindo a formação dos compostos 3-carboxamida-9-cloroacridinicos. Por fim

    esses intermediários reagem com fenol, formando um intermediário fenóxi-

    acridínicos estável que foi acoplado com aminas conduzindo aos derivados 9-

    aminoacridínicos finais (Esquema 2.4).

    Esquema 2.4. - Síntese de derivados 9-aminoacridinico