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  • IMPACTOS DAS MUDANAS CLIMTICAS SOBRE OS RECURSOS HDRICOS

    DA BACIA HIDROGRFICA DO RIO GOIANA-PERNAMBUCO

    Antonio Marcos dos Santos

    RECIFE

    2010

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS GEOGRFICAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA

  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS GEOGRFICAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA

    IMPACTOS DAS MUDANAS CLIMTICAS SOBRE OS RECURSOS HDRICOS

    DA BACIA HIDROGRFICA DO RIO GOIANA-PERNAMBUCO

    Antonio Marcos dos Santos

    Orientadora: Profa. Dra. Josiclda Domiciano Galvncio

    Co-orientadora: Profa. Dra. Magna Soelma Beserra de Moura

    DISSERTAO DE MESTRADO

    RECIFE

    2010

  • 1

    Antonio Marcos dos Santos

    IMPACTOS DAS MUDANAS CLIMTICAS SOBRE OS RECURSOS HDRICOS

    DA BACIA HIDROGRFICA DO RIO GOIANA-PERNAMBUCO

    RECIFE

    2010

    Dissertao de mestrado desenvolvida junto ao

    Programa de Ps-Graduao em Geografia na rea

    de concentrao Regionalizao e Anlise Regional

    (Linha de Pesquisa: Ecossistemas e Impactos

    Ambientais; subrea: Modelagem Hidrolgica e

    Climtica) para obteno do titulo de Mestre em

    Geografia.

    Orientadora: Josiclda Domiciano Galvncio

    Co-orientadora: Magna Soelma Beserra de Moura

  • 2

    Santos, Antonio Marcos dos Impactos das mudanas climticas sobre os recursos hdricos da bacia hidrogrfica do rio Goiana Pernambuco: / Antonio Marcos dos Santos. Recife: O Autor, 2010. 115 folhas: graf., fig., tab. Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Geografia, 2010.

    Inclui: bibliografia.

    1. Geografia. 2. Bacia hidrogrfica(PE). 3. Mudanas climticas. 4. Recursos hdricos. 5. Escoamento. I. Ttulo.

    911 910

    CDU (2. ed.) CDD (22. ed.)

    UFPE BCFCH2010/18

  • 3

  • 4

    DEDICATRIA

    Aos meus pais, Antonio Barbosa e Maria

    de Lourdes e a todos aqueles que amam

    a Geografia

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    todas as divindades, sejam elas de matriz africana e/ou catlicas que

    estiveram ao meu lado neste desafio de fundamental importncia na minha vida.

    minha orientadora, Professora Dra. Josiclda Domiciano Galvncio, pela

    oportunidade de realizar esta pesquisa sob sua orientao, assim como, o

    aprendizado que obtive com ela durante esta jornada, o qual jamais ser apagado e

    sim somado a outros e ofertados tambm. Em resumo muito obrigado.

    minha co-orientadora Magna Soelma Bezerra de Moura tambm pela

    oportunidade em poder contar com sua co-orientao.

    Professora Dra. Rejane Magalhes de Mendona Pimentel pelos conselhos

    e contribuies fundamentais durante a realizao deste trabalho.

    Ao Professor Dr. Ranyere Silva Nbrega pelas dicas e sugestes durante as

    oportunidades que tivemos em debater o andamento da pesquisa, a exemplo dos

    nossos contatos no Laboratrio de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento

    (SERGEO) e durante o Workshop sobre Mudanas Climticas e recursos hdricos

    no estado de Pernambuco.

    Ps-doutoranda Djane Fonseca Silva pelas contribuies metodolgicas

    essenciais para o andamento da pesquisa.

    doutoranda Janaina Barbosa pelos incentivos e contribuies nas

    atividades de campo e, durante todo o processo de realizao da pesquisa.

    Thiago Henrique, Ivan Igor S, Jessica Bezerra pelas contribuies na rea

    de geoprocessamento no inicio da pesquisa.

    Ao Professor Dr. Joo Lima Sant'Anna Neto do Grupo de Pesquisa

    Climatologia Geogrfica da UNESP de Presidente Prudente pelo fornecimento de

    materiais bibliogrficos, documentais e cartogrficos que ajudaram na realizao da

    pesquisa.

    Aos Professores Alcindo Jos de S (UFPE), Hernani Loebler Campos

    (UFPE), Andr Dantas Estevam (UNEB), Janes Lavoratti (UFBA), Jnio Roque

    Castro de Barros (UNEB), Wendel Henrique (UFBA), Cludia Sousa (UNEB),

    Jemisson Matos (UEFS), Cludio Ubiratan Gonalves (UFPE) pelos incentivos.

    Aos colegas do Programa de Ps-Graduao e da Graduao em Geografia

    da UFPE, Jos Alignoberto Fechine (Beto), Ailton Feitosa, Fernanda, Alisson

    Bezerra, Emilio Tales, Tathiane Lidia, Roberto, Alzenir, Liwistone Gaudino, Paulo

  • 6

    Baqueiro, Bruno Halley, Lucas Cavalcanti, Daniel Lira, Robson Brasileiro, Saulo,

    Tiago Machado entre outros.

    Aos colegas do SERGEO, Josymare, Joo Ratis, Clia Machado, Heverton

    entre outros.

    Aos colegas de anos na militncia de Geografia e reas afins, os quais

    mesmo distantes contriburam com trocas de idias e incentivos fundamentais a

    realizao deste trabalho: Liliam (UNICAMP), Denise (UFS), Leonardo Almeida

    (UNB); Gilberto Andrade de Oliveira (UNB), Daniel Neto, Carla Souza, Aurelielza

    Nascimento, Carlos Eduardo (Cad) (UFBA), Mrcia Andrade (UFC), Maria da Paz

    Rodrigues (UNEB), Sandra Damasceno, Aline Damio (UNEB), Crispina de Jesus

    (UNEB), Iaponan Candiz (UEPB), Hugo Andrada (PUC-RJ) e Silvana Bispo (UFBA)

    entre tantos outros.

    meu irmo Cludio que, mesmo trabalhando em rea cientfica oposta,

    sempre incentivou a realizao deste trabalho.

    Fundao de Amparo a Cincia e Tecnologia do Estado de Pernambuco

    (FACEPE) pela concesso da bolsa de mestrado, Processo IBPG-0666-7.06/08.

    Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pelo Edital Universal 2007,

    Processo 470746/2007-6.

    todos e a todas que contriburam diretamente ou indiretamente MUITO

    OBRIGADO.

  • 7

    EPIGRAFE

    No sou pior nem melhor do que

    ningum. Sou apenas uma

    pessoa diferente.

    Mauro Quintaes

  • 8

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. 10

    LISTA DE TABELAS ................................................................................................. 15

    LISTA DE QUADROS ............................................................................................... 16

    RESUMO................................................................................................................... 17

    ABSTRACT ............................................................................................................... 18

    1. INTRODUO ...................................................................................................... 19

    2. REVISO DE LITERATURA ................................................................................. 22

    2.1. MUDANAS CLIMTICAS ................................................................................ 22

    2.1.1. Definies e diferenciaes ............................................................................. 22

    2.1.2. Histrico das mudanas climticas ................................................................. 22

    2.1.3. As diferentes concepes frente ao ritmo atual das mudanas climticas ...... 23

    2.1.4. Eventos extremos e as mudanas climticas .................................................. 27

    2.1.5. As mudanas climticas e os recursos hdricos: a realidade presente............ 29

    2.2. MODELAGEM CLIMATOLGICA ...................................................................... 31

    2.3. MODELAGEM HIDROLGICA .......................................................................... 33

    3. MATERIAL E MTODOS ...................................................................................... 37

    3.1. LOCALIZAO E CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO ...................... 37

    3.2. MTODOS ......................................................................................................... 41

    3.2.1. Uso do solo ..................................................................................................... 41

    3.2.2. Dados pluviomtricos ...................................................................................... 42

    3.2.3. Dados de temperatura ..................................................................................... 45

    3.2.4 Dados de evapotranspirao potencial ............................................................ 46

    3.2.5. Dados fluviomtricos ....................................................................................... 46

    3.2.6. Modelo de balano hdrico .............................................................................. 47

  • 9

    3.2.7. Cenrios de mudanas climticas e a temperatura mdia do ar ..................... 51

    3.2.8. Projeo do escoamento superficial frente aos cenrios de mudanas

    climticas................................................................................................................... 51

    4. RESULTADOS E DISCUSSES .......................................................................... 53

    4.1. USO DO SOLO NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO GOIANA ........................ 53

    4.2. ANLISE DA PRECIPITAO PLUVIOMTRICA ............................................ 56

    4.2.1. ndice de Anomalia de Chuva (IAC) mensal .................................................... 58

    4.2.2. Tendncia da precipitao pluviomtrica anual ............................................... 61

    4.2.3. O fenmeno de El Nio e os totais anuais pluviomtricos............................... 64

    4.2.4. O fenmeno de La Nia e os totais anuais pluviomtricos .............................. 66

    4.3. OS CENRIOS DE MUDANAS CLIMTICAS E O ESCOAMENTO

    SUPERFICIAL NA BACIA HIDROGRFICA ............................................................. 68

    4.3.1. Cenrio B2 e a projeo da temperatura mdia do ar ..................................... 68

    4.3.2. Cenrio A2 e a projeo da temperatura mdia do ar ..................................... 78

    4.3.3. Calibrao e funcionamento do modelo de balano hdrico mensal semi-

    distribuido .................................................................................................................. 87

    4.3.4. Projeo do escoamento superficial nos cenrios de mudanas climticas B2

    e A2 ........................................................................................................................... 90

    4.3.5. Possveis impactos das mudanas do escoamento superficial na organizao

    socioespacial da bacia hidrogrfica do rio Goiana no futuro ..................................... 96

    5. CONCLUSES E SUGESTES ........................................................................... 99

    REFERNCIAS ....................................................................................................... 102

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01: Localizao espacial da bacia hidrogrfica do rio Goiana - Pernambuco 37

    Figura 02: Solos da bacia hidrogrfica do rio Goiana ................................................ 38

    Figura 03: Hierarquia fluvial e as principais sub-bacias da bacia hidrogrfica do rio

    Goiana ....................................................................................................................... 40

    Figura 04: Tipologia climtica da bacia hidrogrfica do rio Goiana ........................... 41

    Figura 05: Localizao espacial dos postos pluviomtricos utilizados na pesquisa .. 42

    Figura 06: Estaes fluviomtricas utilizadas para calibrao e simulao do

    escoamento superficial na bacia hidrogrfica do rio Goiana ..................................... 47

    Figura 07: Organograma representando a estrutura do modelo de balano hdrico

    mensal semi-distribuido simples desenvolvido para simulao do escoamento

    superficial da bacia hidrogrfica do rio Goiana .......................................................... 49

    Figura 08: Uso do solo da bacia hidrogrfica do rio Goiana ...................................... 54

    Figura 09: Cana-de-acar na bacia hidrogrfica do rio Goiana. .............................. 55

    Figura 10: Resqucio da floresta ombrfila no topo do tabuleiro da bacia hidrogrfica

    do rio Goiana protegida pela Lei do Topo do Morro da Resoluo do CONAMA, N

    303 ............................................................................................................................ 55

    Figura 11: Normal climatolgica pluviomtrica mensal para a bacia hidrogrfica do rio

    Goiana ....................................................................................................................... 56

    Figura 12: Distribuio espacial da precipitao pluviomtrica mdia anual no mbito

    da bacia hidrogrfica do rio Goiana ........................................................................... 57

  • 11

    Figura 13: Distribuio espacial do relevo no mbito da bacia hidrogrfica do rio

    Goiana ....................................................................................................................... 57

    Figura 14: IAC da bacia hidrogrfica do rio Goiana para os meses do perodo

    chuvoso de 1963 a 1992 ........................................................................................... 59

    Figura 15: IAC da bacia hidrogrfica do rio Goiana para os meses do perodo seco

    de 1963 a 1992 ......................................................................................................... 60

    Figura 16: Desvio percentual e tendncia linear dos totais anuais da precipitao

    pluviomtrica na bacia hidrogrfica do rio Goiana para os meses do perodo chuvoso

    .................................................................................................................................. 62

    Figura 17: Desvio percentual e tendncia linear dos totais anuais da precipitao

    pluviomtrica na bacia hidrogrfica do rio Goiana para os meses do perodo seco .. 63

    Figura 18: Desvio percentual e tendncia linear dos totais anuais da precipitao

    pluviomtrica na bacia hidrogrfica do rio Goiana para os meses do perodo chuvoso

    durante eventos de El Nio (intensidade moderada e forte) ..................................... 65

    Figura 19: Desvio percentual e tendncia linear dos totais anuais da precipitao

    pluviomtrica na bacia hidrogrfica do rio Goiana para os meses do perodo seco

    durante eventos de El Nio (intensidade moderada e forte) ..................................... 66

    Figura 20: Desvio percentual e tendncia linear dos totais anuais da precipitao

    pluviomtrica na bacia hidrogrfica do rio Goiana para os meses do perodo chuvoso

    durante eventos de La Nia (intensidade moderada e forte) .................................... 67

    Figura 21: Desvio percentual e tendncia linear dos totais anuais da precipitao

    pluviomtrica na bacia hidrogrfica do rio Goiana para os meses do perodo seco

    durante eventos de La Nia (intensidade moderada e forte) .................................... 67

  • 12

    Figura 22: Projeo do modelo climatolgico precis relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2020 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    B2) ............................................................................................................................. 70

    Figura 23: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2030 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    B2) ............................................................................................................................. 71

    Figura 24: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2040 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    B2) ............................................................................................................................. 72

    Figura 25: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2050 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    B2) ............................................................................................................................. 75

    Figura 26: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2060 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    B2) ............................................................................................................................. 76

    Figura 27: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2070 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    B2) ............................................................................................................................. 77

    Figura 28: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2020 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    A2) ............................................................................................................................. 80

    Figura 29: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2030 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    A2) ............................................................................................................................. 81

  • 13

    Figura 30: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    mensal do ar para o ano de 2040 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    A2) ............................................................................................................................. 82

    Figura 31: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    do ar mensal para o ano de 2050 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    A2) ............................................................................................................................. 84

    Figura 32: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    do ar mensal para o ano de 2060 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    A2) ............................................................................................................................. 85

    Figura 33: Projeo do modelo climatolgico PRECIS relativo temperatura mdia

    do ar mensal para o ano de 2070 sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana (cenrio

    A2) ............................................................................................................................. 86

    Figura 34: Disperso do escoamento superficial observado e estimado na estao

    fluviomtrica do Engenho Retiro ............................................................................... 89

    Figura 35: Disperso do escoamento superficial observado na estao fluviomtrica

    do Engenho Itapissirica ............................................................................................. 89

    Figura 36: Relao entre o escoamento superficial estimado e o observado na

    estao fluviomtrica do Engenho Retiro .................................................................. 90

    Figura 37: Relao entre o escoamento superficial estimado e o observado na

    estao fluviomtrica do Engenho Itapissirica........................................................... 90

    Figura 38: Escoamento superficial simulado para os anos de 2020 a 2070, cenrios

    B2 e A2 e seu desvio percentual em relao mdia histrica observada na estao

    fluviomtrica do Engenho Retiro ............................................................................... 93

  • 14

    Figura 39: Escoamento superficial simulado para os anos de 2020 a 2070, cenrios

    B2 e A2 e seu desvio percentual em relao mdia histrica observada na

    estao fluviomtrica do Engenho Itapissirica........................................................... 96

  • 15

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01: Valores finais dos parmetros utilizados para calibrao do modelo ...... 88

  • 16

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 01: Caractersticas das principais classes de solos da bacia hidrogrfica do

    rio Goiana ........................................................................................................... 38

    Quadro 02: Relao entre os anos com desvios percentuais de precipitaes anuais

    acima de (-/+) 20% com os fenmenos El Nio, La Nia e padro de Dipolo do

    Atlntico ............................................................................................................. 64

  • 17

    RESUMO

    A presente pesquisa teve como objetivo geral avaliar e simular os impactos das

    mudanas climticas sobre os recursos hdricos superficiais da bacia hidrogrfica do

    rio Goiana, localizada na Zona da Mata Norte do estado de Pernambuco.

    Inicialmente, foram diagnosticados os possveis efeitos das mudanas climticas

    sobre a precipitao pluviomtrica. Para isso, aplicou-se o ndice de Anomalia de

    Chuva (IAC) mensal, o desvio percentual pluviomtrico anual e anlise de tendncia

    para os meses do perodo seco e chuvoso, assim como, para os anos de episdios

    de El Nio e La Nia. Em seguida, projetou-se sobre a bacia hidrogrfica a

    temperatura mdia mensal do ar correspondente aos cenrios de mudanas

    climticas (B2 e A2) gerada pelo modelo climtico regional PRECIS. A partir da,

    projetou-se os efeitos deste elemento climtico sobre o escoamento superficial para

    os prximos 60 anos utilizando-se de tcnicas de geoprocessamento e do

    desenvolvimento de um modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido de trs

    parmetros. Os resultados indicam que no houve alteraes consideradas na

    precipitao pluviomtrica para lig-la aos possveis efeitos das mudanas

    climticas globais. J em relao s projees das temperaturas, embutidas nos

    cenrios de mudanas climticas, estas proporcionam uma reduo no escoamento

    superficial da bacia hidrogrfica com o passar de cada ano, principalmente nos

    meses do perodo seco. Esses problemas podero proporcionar srias modificaes

    na organizao socioespacial dos municpios inseridos na bacia hidrogrfica do rio

    Goiana.

    Palavras-chave: cenrios de mudanas climticas; escoamento superficial e

    organizao socioespacial.

  • 18

    ABSTRACT

    To present research had as general objective to evaluate and to simulate the impacts

    of the climatic changes on the resources water of the watershed of the river Goiana

    located in the Zone of the Mata Norte of the state of Pernambuco. Initially the

    possible effects of the climatic changes were diagnosed on the rainfall. For this we

    applied the Rain Anomaly Index (RAI) monthly, the percentage deviation and annual

    rainfall tendency analysis for the months of the dry and rainy periods, and for the

    years of El Nio and La Nia. Soon after was projected on the watershed the monthly

    average temperature of the air corresponding to the scenarios of climatic changes

    (B2 and A2) generated by the regional climatic model PRECIS. Starting from there,

    was projected the effects of this climatic element on the runoff for next 60 years

    being used GIS techniques and of the development of a model of semi-distributed

    monthly water balance of three parameters. The results indicate that there were not

    alterations considered in the rainfall to tie it to the possible effects of the global

    climatic changes. Already in relation to the projections of the temperatures,

    embedded in the scenarios of climatic changes these provide a reduction in the

    runoff of the watershed with passing of every year principally in the months of the dry

    period. Those problems can to proportion serious modifications in the organization

    sociospatial of the municipal inserted in the watershed of the river Goiana.

    Keywords: scenarios of climatic changes, runoff and sociospatial organization.

  • 19

    1. INTRODUO

    Os reflexos das mudanas climticas globais so visveis em vrias partes do

    planeta a exemplo do que vem acontecendo com os recursos hdricos. Alteraes

    nas dinmicas globais da temperatura mdia do ar e das precipitaes

    pluviomtricas j afetam a quantidade e, consequentemente, na qualidade desse

    recurso vital para sobrevivncia humana (MA et al., 2008).

    Nos mais variados pases, principalmente nos subdesenvolvidos e nos

    considerados em desenvolvimento, a relao mudanas climticas, uso do solo e

    recursos hdricos afetam os seus dinamismos socioespaciais. No continente africano

    e asitico, as redues nas vazes de vrias bacias hidrogrficas desde a dcada

    de 1980 trazem consigo redues na produtividade agrcola das grandes, mdias e

    pequenas propriedades rurais e conturbaes nas reas urbanas de pases como o

    Malavi, Tanznia, Camares, Repblica Democrtica do Congo, Congo, China, ndia

    entre outros. As consequncias assentam-se no agravamento da falta de alimentos,

    desempregos e migraes. Acrescentam-se ainda, as disseminaes de doenas de

    veiculao hdrica como a clera, a Leshimaniose entre outras (MADULU, 2003;

    YONGJIAN, 2003; TINGEM, RIVINGTON & COLLS, 2008).

    O que foi descrito anteriormente no se resume a sia e a frica. No

    continente americano, bacias hidrogrficas de vrias regies nos Estados Unidos e

    Mxico esto registrando vazes tmidas acima da mdia histrica, e em outras

    redues consideradas (BATES et al., 2008). Consequentemente, nesses pases,

    num futuro no to distante poder haver modificaes no modo de vida de suas

    populaes.

    No mbito nacional, Marengo (2006a) aponta que algumas bacias de grande

    porte apresentam redues no escoamento superficial e em outras, tendncia de

    aumento. Problemtica que aliada aos cenrios de mudanas climticas, sejam eles

    os mais otimistas e/ou os pessimistas, poder acarretar mudanas drsticas na

    organizao socioespacial urbana e agrria inseridas no territrio nacional.

    Aos poucos, as investidas cientficas se voltam para os estudos das relaes

    mudanas climticas e escoamento superficial em bacias hidrogrficas de mdio e

    pequeno porte espacial, porm, de grande importncia para o dinamismo

    socioeconmico regional como o caso da bacia hidrogrfica do rio Goiana.

  • 20

    Neste contexto, que se desenvolve esta dissertao, a qual tem como

    objetivo geral avaliar e simular os impactos das mudanas climticas sobre os

    recursos hdricos superficiais da bacia hidrogrfica do rio Goiana localizada no

    estado de Pernambuco.

    A estrutura da dissertao conta com quatro captulos, alem da introduo

    aqui apresentada. O primeiro direcionado reviso de literatura. Nele, esto

    expostos as discusses conceituais sobre as mudanas climticas globais, as

    principais discusses bibliogrficas sobre as causas deste fenmeno e sua relao

    com os eventos climticos extremos, e principalmente com a disponibilidade dos

    recursos hdricos superficiais. Ainda neste captulo, destacar-se- a modelagem

    climatolgica e hidrolgica.

    O segundo captulo reservado para os materiais e mtodos. Inicialmente

    ser apresentada a caracterizao da rea de estudo. Processo de suma

    importncia para as atividades desenvolvidas neste estudo. Esto disponveis nesta

    seo os principais aspectos fsicos da bacia hidrogrfica correspondente a estrutura

    pedolgica, hidrogrfica e climatolgica.

    O segundo captulo expe, ainda, os procedimentos metodolgicos

    empregados para a realizao da pesquisa. Sero destacados, neste captulo, os

    detalhamentos das fontes de obteno dos dados e, o processamento dos mesmos

    at atingir os resultados finais. Neste item, tambm sero detalhados os passos de

    construo do modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido simples

    empregado na simulao dos impactos das mudanas climticas sobre o

    escoamento superficial da bacia hidrogrfica.

    No terceiro captulo os resultados so expostos em paralelo com as

    discusses. Inicialmente, ser destacada a anlise do uso do solo na bacia

    hidrogrfica. Diagnstico importante, o qual subsidiou a montagem do modelo de

    balano hdrico mensal semi-distribuido e, para projeo dos reflexos das mudanas

    climticas futuras na dinmica socioespacial dos municpios inseridos na bacia.

    Complementando este captulo, estar contida a anlise da precipitao

    pluviomtrica, a qual tem como intuito identificar alteraes no dinamismo deste

    elemento climtico atravs da: anlise mensal do ndice de Anomalia de Chuva

    (IAC) para toda a srie histrica pluviomtrica que vai de 1963 a 1992; diagnstico

    do desvio percentual dos totais anuais pluviomtricos e sua tendncia linear.

    Tambm sero analisadas as tendncias lineares e os desvios percentuais dos

  • 21

    totais anuais pluviomtricos nos episdios de El Nio, La Nia com e sem a

    participao do padro de Dipolo do Atlntico.

    Ainda no terceiro captulo, so espacializadas e discutidas as projees da

    temperatura mdia do ar mensal nos cenrios de mudanas climticas B2 (otimista)

    e A2 (pessimista). Em seguida, so analisadas as projees deste elemento

    climtico sobre o escoamento superficial da bacia hidrogrfica. Antes, ser

    destacado o funcionamento do modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido

    simples. Por ltimo, so elencados os possveis impactos provocados pelos efeitos

    das mudanas climticas sobre o escoamento superficial, os quais podero mexer

    com a dinmica socioespacial das populaes dos municpios inseridos sobre a

    bacia hidrogrfica do rio Goiana.

    O captulo final apresenta as concluses. Nele, alm do fechamento do

    estudo, so levantados subsdios que possam auxiliar novos estudos sobre a

    temtica discutida e, tambm, auxiliar nas polticas de gerenciamento e

    planejamento dos recursos hdricos da bacia hidrogrfica em estudo frente aos

    cenrios de mudanas climticas.

  • 22

    2. REVISO DE LITERATURA

    2.1. MUDANAS CLIMTICAS

    2.1.1. Definies e diferenciaes

    Ayoade (2003) chama a ateno para a necessidade da diferenciao entre o

    que se convencionou chamar de mudanas climticas de outros comportamentos

    que tambm proporcionam alteraes na dinmica do clima a nvel regional e global.

    Idia semelhante de Arnell (2008), o qual destaca que, com as constantes

    discusses envolvendo as causas e os efeitos das mudanas climticas,

    pesquisadores e o pblico em geral acabam associando as variabilidades no clima e

    no tempo atmosfrico como mudanas climticas.

    Nesta perspectiva, tem-se uma tendncia climtica quando as constantes

    flutuaes do clima seguem uma tendncia, seja positiva ou negativa. Estas

    flutuaes podem pendurar por um longo perodo de tempo, provocando assim, uma

    mudana no clima (mudana climtica). Transpondo para escala temporal uma

    variabilidade no clima dentro de um perodo menor que 30 anos no pode ser

    considerada uma mudana no clima (BAUMGARTNER, 2002; AYOADE, 2003).

    2.1.2. Histrico das mudanas climticas

    No decorrer do tempo geolgico a Terra experimentou vrios estgios de

    mudanas climticas, oscilando momentos frios e quentes (TAVARES, 2007).

    Tomando como base o trmino da ltima glaciao, o mesmo autor destaca que

    entre 10.000 a 15.000 anos passados a temperatura terrestre oscilou em

    aproximadamente 1,5C. Reforando a idia anterior, Surgio (2007) pontua trs

    perodos paleoclimticos onde houve uma alternncia na temperatura terrestre. Os

    perodos so: a ltima Glaciao; a Idade Hipsitrmica e a Pequena Idade do gelo.

    A ltima Glaciao foi marcada pela abrupta queda de temperatura. J o

    perodo da Idade Hipsitrmica, ou timo Climtico, compreendido entre 9.000 a

    2.500 anos, apresentou uma temperatura mdia do ar entre 1 a 2C superior a atual,

    proporcionando, de acordo com Alves, M. C. (1998) a expanso do cultivo da vinha

  • 23

    na Inglaterra, navegabilidade de rios hoje no continente europeu inavegveis e

    aumento do nvel do mar Cspio em 8 metros. Por ltimo, o perodo da Pequena

    Idade do Gelo, compreendida entre 450 a 100 anos passados, perodo marcado pelo

    decrscimo da temperatura mdia do ar e a expanso das geleiras marinhas.

    Passada a Pequena Idade do Gelo, a temperatura mdia do ar da terra voltou

    a subir, apresentando no sculo XX uma elevao em torno de 0,6C, porm este

    acrscimo no foi sentido em todas as regies e zonas climticas do planeta

    (BAUMGARTNER, 2002; TAVARES, 2007).

    At ento, no h duvidas entre os pesquisadores que trabalham com a

    problemtica das mudanas climticas de que as constantes e seculares mudanas

    na dinmica do clima global foram provocadas por fatores e fenmenos de cunho

    natural, ou seja, sem nenhuma participao humana.

    2.1.3. As diferentes concepes frente ao ritmo atual das mudanas climticas

    De acordo com Conti (2005), na dcada de 1970 que as discusses sobre

    os danos provocados pelas mudanas climticas atuais na atmosfera terrestre,

    tendo como principal alvo a participao humana, ganham consistncias

    internacionais. Neste perodo, estudos apontaram para o processo de destruio da

    camada de oznio, a qual atua na proteo do planeta contra a radiao ultravioleta.

    A partir da, deu-se inicio a uma mobilidade por parte da comunidade

    cientfica, poltica e pelos vrios seguimentos da sociedade civil em busca de,

    primeiro entender o que estava acontecendo e, posteriormente, traar metas para

    amenizar tamanha situao.

    Os resultados preliminares apontaram para um buraco na ozonosfera, sendo

    logo atrelado ao lanamento do Clorofluorcarbono (CFC) provenientes das

    atividades de origem humana. Como consequncia poltica, em 1988 ocorreu no

    Canad assinatura do Protocolo de Montreal, o qual teve como meta principal a

    eliminao por completa das emisses dos CFCs (CONTI, 2005; ONA, 2007).

    A presena do gs oznio na regio da baixa estratosfera formando a

    camada de oznio de fundamental importncia para a manuteno da vida na

    Terra, visto que, esta camada barra a passagem da radiao ultravioleta em direo

    a superfcie terrestre. Esta camada tambm tem a funo de barrar a radiao

  • 24

    infravermelha, emitida pela superfcie terrestre, contribuindo, assim, para o controle

    da temperatura do ar na superfcie terrestre (ANDR, 2006).

    J na dcada de 1990 explodem as discusses sobre os reais efeitos das

    mudanas climticas sobre o ecmeno terrestre. neste perodo que a Assemblia

    Geral das Naes Unidas (AGNU) solicita ao Painel Intergovernamental de

    Mudanas Climticas (IPCC) um relatrio que explique o que vem acontecendo na

    dinmica climtica do planeta Terra.

    Atravs deste pedido, o IPCC apresenta o resultado de um trabalho que

    mobilizou um grande nmero de cientistas de vrios pases. Os dados levantados

    apontaram uma variao positiva da temperatura mdia do ar entre 0,3 a 0,6C a

    cada dez anos, sendo o intervalo de 1920 a 1940 e de 1975 at 1990 os perodos

    onde o aquecimento foi mais intenso (RIBEIRO, 2002; SERREZE & FRANCIS,

    2006).

    Como consequncias desses estudos, em 1997 na cidade japonesa de Kyoto,

    ocorreu a Conveno do Clima onde foi formulado o Protocolo de Kyoto, efetivado

    oito anos depois. A essncia desse protocolo centra-se em metas para a reduo

    dos gases causadores do efeito estufa, como o dixido de carbono (CO 2 ), o xido

    nitroso (N 2O), o metano (CH 4 ) entre outros. Os principais alvos foram os pases

    mais industrializados, os quais teriam que reduzir pouco mais de 5% das emisses

    dos referidos gases at o ano de 2012 (BAUMGARTNER, 2002).

    A partir da problemtica exposta anteriormente, uma srie de discusses

    foram surgindo, as quais objetivam um entendimento menos rebuscado sobre as

    causas e consequncias deste fenmeno (mudanas climticas). Nesta perspectiva,

    atualmente, circula na literatura que discute sobre a temtica trs linhas de

    posicionamentos: uma composta por pesquisadores que consideram o aquecimento

    global sobre responsabilidade das atividades humanas no processo de produo e

    reproduo do espao geogrfico, tendo nas emisses de gases-estufas os

    principais responsveis. Este grupo no descarta a possibilidade de haver um

    aquecimento provocado por fatores naturais, porm pouco significativo (RIBEIRO,

    2002; ANDR, 2006; IPCC, 2007a; IPCC, 2007b; TOMMASELLI & SILVA, 2007).

    Para um segundo grupo de pesquisadores, o planeta Terra vivencia um longo

    ciclo de variao da temperatura, sendo o aquecimento proporcionado apenas pelos

    processos naturais. Outra corrente de pesquisadores defende a inter-relao entre

  • 25

    as atividades humanas e os fenmenos naturais como principais responsveis pelo

    estgio atual das mudanas climticas (RIBEIRO, 2002; ONA, 2007; MOLION,

    2008a, MOLION, 2008b).

    2.1.3.1. Mudanas climticas e os fatores antropognicos

    Entre os defensores da participao humana atuando na dinmica das

    mudanas climticas atuais est o IPCC, grupo que atravs de seus estudos vem

    divulgando que desde 1750 a concentrao de dixido de carbono (CO 2 ) e de

    outros gases estufas, como o metano (CH 4 ) e xido nitroso (N 2O), vem

    aumentando na atmosfera terrestre. Crescimento que contribuiu para a elevao da

    temperatura mdia do ar desde o sculo passado (MENDONA, 2006).

    Vale ressaltar que, o efeito estufa ocorre naturalmente no planeta. A energia

    solar de ondas curtas chega a Terra e boa parte desta radiao atravessa a

    atmosfera e absorvida pela superfcie e em seguida liberada para o espao em

    forma de radiao infravermelha de ondas longas. Boa parte da irradiao liberada

    absorvida pelo vapor dgua e pelos gases de efeito estufa distribudos na atmosfera

    terrestre. A absoro da irradiao de fundamental importncia para o controle da

    temperatura na superfcie terrestre, sem esta absoro a temperatura do ar na Terra

    seria em mdia -7C, ou seja, cerca de 30C inferior a mdia atual (ANDR, 2006;

    MOLION, 2008a).

    Para Tommaselli & Silva (2007) no h mais duvida de que o aumento dos

    gases do efeito estufa tem procedncia nas atividades humanas, principalmente no

    incremento das atividades industriais. Os autores justificam suas afirmativas levando

    em considerao que desde o final do sculo XVIII, momento em que a

    concentrao de CO 2 comea a aumentar, esta transps o limite de 280 ppm para

    368 ppm, ou seja, um crescimento de 30%. Aumento que tambm acompanha

    outros gases de efeito estufa, como o xido nitroso e o metano.

    Mendona (2005; 2006) acrescenta que o alarmismo promovido por

    pesquisadores e pela mdia sobre o catastrofismo das mudanas climticas acarreta

    preocupaes, tendo o aspecto mais inquietante direcionado acelerada aceitao

    por partes dos governos e da populao de medidas oferecidas como inibidoras da

  • 26

    intensificao do efeito-estufa sem um estudo mais aprofundado, como o caso da

    revoluo dos bicombustveis e da energia nuclear nos dias atuais.

    2.1.3.2. Mudanas Climticas e os fatores fsicos-naturais

    Numa segunda corrente de pesquisadores, que discute sobre as causas das

    mudanas climticas atuais, encontram-se os cticos, crticos dos resultados

    divulgados pelo IPCC. Para alguns deles, incluindo o fsico-qumico portugus Alves,

    M. C. (1998) preciso ter mais discernimento quanto aos discursos voltados para as

    principais causas de mudanas na dinmica da atmosfera global. Para este

    pesquisador, a tendncia de crescimento da temperatura global na dcada de 1980,

    em comparao com as duas dcadas anteriores, ainda no pode ser associada

    participao humana e, sim, dentro de uma variabilidade do clima natural. Ele

    assinala ainda que a forte presso social para que aponte imediatas concluses

    pode mascarar uma realidade ainda no to explorada.

    Na mesma linha de pensamento, Molion (2008b) destaca o trabalho realizado

    por Jones e sua equipe no final da dcada de 1990. Pesquisa que demonstrou uma

    curiosa identidade entre as fases de Oscilao Decadal do Pacfico (ODP) e as

    irregularidades da temperatura mdia global dos ltimos 150 anos. Ou seja, nos dois

    perodos de aquecimento global (1925 a 1946 e de 1977 a 1998) h uma

    coincidncia com as fases quentes da ODP. Por outro lado, o resfriamento ocorrido

    entre 1947 a 1976 no explicado pelos defensores do aquecimento global

    provocado pelas atividades humanas.

    Quanto s emisses dos gases de efeito estufa, Heib & Heib (2006) destacam

    que h um equivoco nos resultados que vem sendo divulgados pelo IPCC. Para os

    autores, o referido painel aponta que a concentrao do gs carbnico e dos outros

    gases estufas na atmosfera terrestre, atingiu um pico em torno de 378 ppm, reflexo

    das intensas queimas de combustveis fsseis. Para os autores, mais de 95% das

    emisses de gs carbnico so de origem natural, restando menos de 5% para as

    atividades humanas.

    Outros fatores naturais devem ser levados em considerao, quando o tema

    de discusso for as causas das mudanas climticas, entre eles os mecanismos de

    retro-alimentao (feedback), as atividades vulcnicas e os ciclos de Milankovitch,

  • 27

    este ltimo exercendo pouca influncia sobre as mudanas climticas de curto prazo

    como as atuais (TENG, 2006; MOLION, 2008).

    Os mecanismos de Retro-alimentao (feedback), ocorre quando os

    sistemas subsequentes voltam a exercer influncias sobre os antecedentes, numa

    perfeita interao entre todo o universo (TEODORO & AMORIM, 2008, p.27). No

    caso do planeta Terra, este passa a responder a emisso de energia proveniente de

    sua fonte primaria (sistema solar), proporcionando assim, significativos

    aquecimentos.

    A retomada das atividades vulcnicas tambm pode est vinculada ao

    agravamento do efeito estufa. De acordo com Conti (2005) o lanamento de poeiras

    e aerossis originrios dos vulces pode neutralizar o efeito estufa, proporcionado

    assim, uma alterao na dinmica da temperatura mdia do planeta.

    Teodoro & Amorim (2008) questionam tambm o alarmismo em volta das

    discusses sobre as mudanas climticas e ataca as causas do aquecimento global

    divulgados pelo IPCC. Para os autores, se a emisso de gases estufas vem

    provocando o aumento da temperatura global, porque ocorreu uma queda na

    temperatura mdia global no momento em que o processo de industrializao

    tornou-se mais intenso? Questionamentos que o IPCC e os defensores das

    mudanas climticas sobre forte participao das atividades humanas ainda no

    explicaram, segundo os autores.

    2.1.4. Eventos extremos e as mudanas climticas

    Kunkel, Pielke & Changnon (1999), Prela (2004) e Santanna Neto (2005)

    destacam que os eventos climticos extremos assumem importncia significativa no

    cotidiano das sociedades. Importncia dimensionada pelas frequncias de

    ocorrncia e suas intensidades aliada as consequncias ambientais. Eventos que

    podem se transformar em uma ameaa caso ocorram em reas sobre ocupao

    humana.

    Bryant (2001) apud Santanna Neto (2005) destaca que dos 27 desastres

    naturais de maiores intensidades e impactos, 23 so proporcionados pelos eventos

    extremos climticos. Destacam-se as secas, as enchentes regionais e os ciclones

    tropicais como os mais impactantes na estrutura da organizao espacial. Entre os

  • 28

    eventos climticos que se destacam na proporcionalizao dos citados extremos

    climticos est o El Nio e o La Nia.

    H evidncias, em alguns estudos, que nos ltimos anos a intensidade de

    atuao do fenmeno El Nio e do La Nia vem aumentando e com participao

    ativa nos eventos climticos extremos. H tambm, diagnsticos que apontam

    aumento da frequncia do fenmeno El Nio nos ltimos 30 anos. Fatores que para

    alguns pesquisadores j so possveis evidncias dos efeitos das mudanas

    climticas globais atuando em inter-relao com esses fenmenos (ROPELEWISK &

    HALPERT, 1989; NICHOLLS et al., 1996; BRADFORD & DAWES, 2003; BATES, et

    al., 2008).

    2.1.4.1. A relao La Nia, El Nio e o Padro de Dipolo do Atlntico

    Um fator que deve ser levado em considerao quando se tratar dos efeitos

    do El Nio e do La Nia sobre o territrio nacional, em particular a regio nordeste,

    o padro de Dipolo do Atlntico. Este fenmeno pode ser caracterizado como a

    manifestao simultnea de anomalias da Temperatura da superfcie do mar (TSM)

    configurando-se como sinais antagnicos sobre as Bacias Norte Sul do Atlntico

    Tropical. Conseqentemente, este padro trmico inverso, gera o aparecimento de

    um gradiente trmico meridional e inter-hemisfrico sobre o Atlntico Equatorial

    (WAGNER, 1996; ALVES et al.,1998).

    Aves et al. (1998) e Menezes et al. (2008) destacam que a relao entre o

    Padro de Dipolo e a Zona de Convergncia Intertropical (ZCIT) ocorre de duas

    maneiras. A primeira acontece quando o Dipolo positivo (anomalias positivas de

    TSM na bacia Norte e negativas na bacia Sul do Atlntico Tropical) proporcionando

    que o gradiente trmico aponte para o hemisfrio norte e as anomalias de chuvas

    ligadas a ZCIT concentram-se ao norte da linha do Equador, provocando chuvas

    abaixo da mdia histrica no semirido e parte do agreste e litoral da regio

    Nordeste do Brasil. A segunda relao o inverso da primeira e, ocorre na fase

    negativa do Padro de Dipolo (anomalias negativas de TSM na bacia Norte e

    positivas na bacia Sul do Atlntico Tropical). Perodo em que o gradiente trmico

    assinala para o hemisfrio sul, ocasionado assim, chuvas acima do normal habitual

    para o semirido e parte do agreste e litoral da regio nordeste do Brasil.

  • 29

    Neste contexto, Silva & Galvncio (2009) destacam que a variabilidade de

    chuvas sobre a regio nordeste do Brasil se deve mais as relaes com as

    condies do Atlntico em sua poro tropical do que com as do Pacfico Tropical.

    Portanto, ao associar os fenmenos El Nio e La Nia aos padres de precipitao

    pluviomtrica, principalmente no nordeste do Brasil, deve-se realizar uma anlise

    frente s relaes destes fenmenos com o padro de Dipolo atuante.

    2.1.5. As mudanas climticas e os recursos hdricos: a realidade presente

    Cunha, Oliveira & Nunes (2008) e BARBIERI et al.(2009) destacam que os

    impactos das mudanas climticas sobre os recursos hdricos so sentidos tanto na

    oferta como na demanda. Segundo os pesquisadores, modificaes no elemento

    climtico (precipitao) provocam uma variao na distribuio temporal dos

    recursos hdricos. Esse fator proporciona um aumento na procura por este recurso

    em algumas reas (conflitos) e disponibilidade alm da demanda em outras.

    Em levantamentos realizados por Milly et al. (2005) e Marengo (2008) a bacia

    hidrogrfica do rio Paran e, outras da mesma regio do continente sul americano,

    vem apresentando aumentos entre 3 a 30% nas vazes, crescimento proporcionado

    pelo aumento na tendncia de chuvas na regio. J para a bacia hidrogrfica do rio

    Amazonas e do rio So Francisco no foram observadas tendncias considerveis

    em suas vazes.

    J Bates et al. (2008) destacam que a gama de estudos que vem sendo

    divulgados referentes relao mudanas climticas e recursos hdricos

    apresentam trs resultados. Em algumas regies do planeta vem sendo

    evidenciados aumentos significativos no escoamento superficial, a exemplo das

    altas latitudes e boa parte dos Estados Unidos. Em regies localizadas na frica

    ocidental, sul da Europa e parte da Amrica do Sul vem sendo focalizadas

    diminuies no escoamento superficial. H tambm reas que no so identificadas

    tendncias negativas e nem positivas no escoamento superficial.

    Na Amrica do Norte, mais precisamente nos ambientes das plancies

    costeiras do sudoeste do Canad, Sauchyn & Beaudoin (1998) conseguiram

    identificar atravs de anlises em fotografias areas e imagens orbitais de satlites

    redues nos espelhos de gua de alguns lagos, entre eles o Lago de Antlope. A

  • 30

    este impacto, os autores atribuem as constantes modificaes no uso do solo

    impulsionado pela substituio das florestas de Prado pela agricultura e, tambm, as

    mudanas climticas responsveis pela reduo das chuvas nesta localidade.

    Indcios tambm dos reflexos das mudanas climticas vem sendo detectados

    no fator disponibilidade de gua em alguns rios da Gr Bretanha. De acordo com

    Marsh et al. (1999) a regio sul e oriental da Inglaterra experimentou entre os

    perodos de 1988 e 1992 e entre 1995 e 1997 um pequeno aumento na temperatura

    mdia mensal do ar. A resposta desse acrscimo na temperatura se reflete nos

    regimes das vazes das bacias hidrogrficas locais, proporcionando diminuies das

    mesmas. Consequentemente, acendeu-se um alerta sobre o futuro da

    disponibilidade de gua para os diversos usos nesta ilha, principalmente frente aos

    futuros quadros das mudanas climticas.

    Estudos voltados para o planejamento da disponibilidade e da demanda dos

    recursos hdricos em bacias hidrogrficas em vrias partes do mundo tambm vem

    sendo desenvolvidos, principalmente aqueles relacionados s mudanas no clima.

    Binder (2006) destaca que na regio nordeste do Pacfico j so identificados

    problemas relacionados s mudanas climticas como aumento da precipitao

    durante o inverno e redues nos veres e nas primaveras. Consequentemente,

    estas mudanas refletem na disponibilidade hdrica das bacias hidrogrficas desta

    regio nos Estados Unidos, requerendo planejamento para os diversos usos da

    gua nestas localidades.

    Binder (2006) acrescenta que os planos nacionais de Bacias Hidrogrficas

    nos Estados Unidos j vm desenvolvendo estudos e incluindo em suas aes os

    reflexos das mudanas climticas sobre a demanda de gua para o consumo

    domstico, industrial e agropecurio. Um exemplo o que vem sendo realizado nas

    bacias hidrogrficas do estado de Washington.

    Tingem, Rivington & Colls (2008) analisaram os efeitos dos eventos extremos

    climticos sobre a produo agrcola do milho em Camares, pas da frica

    Subsaariana. De acordo com o estudo, a cada evento extremo, seja caracterizado

    pelo aumento das chuvas e/ou principalmente pela ausncia considervel desta, h

    uma perda na produtividade do milho e gigantescos impactos sociais. Verificou-se

    tambm que, nos ltimos anos, as ocorrncias destes eventos extremos tornaram-se

    cada vez mais frequentes, fator que deve ser levado em considerao para as

  • 31

    futuras polticas que envolvam a distribuio dos recursos hdricos neste pas,

    principalmente a gua destinada para irrigao.

    Na bacia hidrogrfica do rio Amarelo, uma das maiores e mais importante da

    China, Liu, Yang & Cui (2008) analisando tendncias da precipitao pluviomtrica

    numa srie histrica de 45 anos, identificaram mudanas abruptas em 35 dos 81

    postos pluviomtricos analisados. Entre os postos que apresentaram alteraes dois

    mostraram tendncias crescentes, enquanto que 33 ofereceram tendncias

    negativas, todos eles localizados na poro centro-sul da bacia hidrogrfica. A

    identificao de tendncia de precipitao pluviomtrica negativa na maioria dos

    postos da bacia hidrogrfica do rio Amarelo, j reflete na vazo da bacia, a qual

    apresenta redues nos ltimos anos. Alia-se a este fator a intensificao do uso do

    solo proporcionado palas atividades agropecurias neste local.

    Ao estudarem os impactos das mudanas climticas e das atividades

    humanas sobre o escoamento superficial da bacia hidrogrfica do rio Shiyang,

    semirido chins, Ma et al. (2008) tambm identificaram que as mudanas no clima

    vem sendo responsveis por mais de 60% da reduo do escoamento superficial.

    Se esse problema continuar no mesmo ritmo poder num futuro, no to distante,

    agravar os problemas sociais da regio.

    2.2. MODELAGEM CLIMATOLGICA

    No campo da climatologia a modelagem encontra terreno frtil e vem se

    desenvolvendo extraordinariamente. Destacam-se os modelos destinados a

    simulao da dinmica da circulao atmosfrica, modelos para balano hdrico

    energtico, modelos para a dinmica regional climtica e os voltados para previses

    e caracterizaes dos tipos de tempo (CHRISTOFOLETTI, 2004).

    Atualmente, com as constantes discusses sobre as causas e os efeitos das

    mudanas climticas globais, dois tipos de modelos climatolgicos vm sendo

    amplamente utilizados. So eles: os Modelos Globais Atmosfricos (GCMs) e os

    Modelos Globais Acoplados Oceano-Atmosfera (AOCGMs) (MARENGO, 2006a;

    NBREGA & GALVNCIO, 2009).

    Estes modelos so capazes, atravs de uma representao tridimensional do

    sistema climtico, descrever os principais processos fsicos e dinmicos, incluindo

  • 32

    tambm as inter-relaes entre os componentes do sistema climtico e os

    mecanismos de retroalimentao entre os processos fsicos. Assim, so capazes

    de simular climas no futuro em uma escala global e/ou regional, tendo como

    predio as mudanas nas concentraes de gases de efeito estufa na atmosfera

    (MARENGO, 2006a, 2006b; BONSAL & PROWSE, 2006; NBREGA & GALVNCIO,

    2009).

    Nas anlises do IPCC (2001, 2007a, 2007b) so empregados os Modelos

    Globais Acoplados Oceano-Atmosfera. Modelos desenvolvidos por vrias

    instituies distribudas em vrios pases do mundo. Entre os modelos vale destacar

    o (CCCMA) do Centro Canadense de Modelagem e Anlise Climtica, o modelo

    (CCSR/NIES) do Centro de Estudos e Pesquisas Climticas ligado ao Instituto

    Nacional para Estudos ambientais do Japo, o modelo (HadCM3) do Centro de

    Predio e Pesquisa Climtica Hadley na Inglaterra, entre outros.

    Dos modelos climticos atmosfricos globais surgem os modelos climticos

    regionais, os quais segundo Godim et al. (2008) e Akhtar, Ahmad & Booij (2008) so

    capazes de avaliar com mais detalhes os impactos das mudanas climticas em

    escalas menores, a exemplo das bacias hidrogrficas, cidades e cintures agrcolas.

    Entre os modelos climticos de escala regional destaca-se o PRECIS

    (Providing Regional Climates for Impacts Studies) desenvolvido pelo centro de

    estudo meteorolgico Hadley. Modelo que vem sendo bem utilizado pelos principais

    centros mundiais de pesquisas climatolgicas. De acordo com Godim, et al. (2008)

    este modelo originrio de outro modelo regional, o HadRM3, procedente da base

    do modelo atmosfrico global acoplado oceano-atmosfera HadCM3.

    Jones et al. (2004) destacam que o PRECIS foi criado para facilitar os

    estudos em escalas regionais e gerar informaes de alta resoluo para mudanas

    climticas nos pases considerados em desenvolvimento. Modelo que est

    disponvel para os centros de pesquisas de excelncias dos referidos pases, os

    quais so incumbidos de desenvolverem cenrios de mudanas climticas e

    analisarem seus impactos sobre a realidade regional desses pases.

  • 33

    2.3. MODELAGEM HIDROLGICA

    Galvncio (2005, p.12) destaca que atualmente um modelo hidrolgico

    definido como uma representao matemtica do fluxo de gua e seus constituintes

    sobre alguma parte da superfcie e/ou subsuperfcie terrestre.

    Nesta perspectiva, Christofoletti (2004) enfatiza que a quantidade e a

    diversidade de modelos hidrolgicos descrevendo os fluxos hdricos nos sistemas

    ambientais fsicos so amplas, perpassando desde a caracterizao do ciclo

    hidrolgico at os fluxos nas vertentes e nos solos. Essa variedade de modelos

    hidrolgicos tambm recai sobre as escalas temporais de anlises, variando desde

    as simulaes mensais, perpassando pelas anuais, sazonais, dirias e at em

    escalas menores.

    Um dos primeiros modelos de destaque na simulao hidrolgica foi

    desenvolvido por Horton (1945). O autor simulou o escoamento superficial na escala

    das vertentes de bacias hidrogrficas. Neste mesmo estudo, Horton hierarquizou a

    distribuio e a estrutura da rede de drenagem de uma bacia hidrogrfica, sendo o

    primeiro cientista a divulgar um estudo desta magnitude (BRUNET, FERRAS, &

    THERY, 1998; CRHISTOFOLITTI, 2004; GALVNCIO, 2005; SANTOS, 2008).

    Aps os estudos de Horton vrios modelos hidrolgicos foram e, vem sendo

    desenvolvidos. Entre eles destaca-se o ACRU, o qual um sistema de modelagem

    integrado, com bases fsicas e conceituais focalizando o balano de gua nos

    diversos horizontes estruturais do solo e da rocha matriz em escala diria

    (CHRISTOFOLETTI, 2004). um modelo de fundamental importncia para o

    planejamento e o gerenciamento dos recursos hdricos, visto que, os dados de

    sadas referem-se gua destinada para irrigao, para o abastecimento domstico

    entre outras finalidades.

    Outro modelo amplamente utilizado o KINEROS (Kinematic Erosion), o qual

    foi desenvolvido para ser aplicado em pequenas bacias hidrogrficas rurais e

    urbanas. Ele descreve processos baseando-se em dados de interceptao,

    infiltrao, eroso e escoamento superficial, observando os efeitos da expanso

    urbana ou da construo de reservatrios em perodos de cheias e produo de

    sedimentos (RODRIGUES & ADAMI, 2005).

    Segundo Silva (2002) o KINEROS considerado um modelo de grande

    complexidade, isto por que h uma exigncia dos dados requeridos para seu

  • 34

    funcionamento e, a necessidade de diviso da bacia hidrogrfica em um conjunto de

    encostas.

    O SWAT (Soil and Water Assessment Tool) outro modelo hidrolgico cujo

    objetivo predizer os efeitos dos diversificados usos do solo e da utilizao de

    agrotxicos sobre os recursos hdricos e a produo de sedimentos. uma

    ferramenta importante para o planejamento dos recursos hdricos, assim como para

    a produtividade agrcola (FICKLIN, et al. 2009).

    J o modelo CASC2D (Cascade Two-Dimensions) simula a resposta

    hidrolgica de uma bacia hidrogrfica de mdio porte sujeita a uma determinada

    precipitao pluviomtrica. A estrutura de composio e funcionamento do modelo

    inclui a interceptao da chuva pela cobertura vegetal, a infiltrao e o escoamento

    superficial (SENARATH, et al., 2000; GALVNCIO, 2005).

    Xiong & Guo (1997) desenvolveram um modelo de balano hdrico semi-

    distribuido simples de dois parmetros. O objetivo foi analisar os impactos das

    mudanas climticas sobre os recursos hdricos superficiais de bacias hidrogrficas

    no estado nacional chins. A estrutura do modelo desenvolvido tem como dados de

    entrada a precipitao pluviomtrica, a temperatura do ar e a evapotranspirao

    potencial. Os dois parmetros esto relacionados com as caractersticas dos solos

    locais. Cinco anos depois Guo et al. (2002) aplicaram este modelo na bacia

    hidrogrfica do rio Gangjiang e do rio Hanjiang. Os resultados foram satisfatrios e a

    partir da, a base desse modelo vem sendo utilizado em vrios estudos em

    diferentes regies do mundo e com novas adaptaes.

    Um modelo considerado semi-distribuido quando as variveis de entradas

    (e em alguns casos os parmetros fsicos) so informaes mdias sobre as reas

    hidrologicamente similares (NBREGA, 2008, p.37). Santos (2009) acrescenta que

    nos modelos desta categoria as variveis e os parmetros dependem da unidade

    ambiental (espao absoluto) e/ou do tempo.

    J no trabalho de Galvncio (2005) foi desenvolvido um modelo de balano

    hdrico a superfcie, o qual foi capaz de analisar os impactos da variabilidade das

    condies de uso do solo, da precipitao e da cobertura fitogeogrfica referente

    bacia hidrogrfica do Aude Epitcio Pessoa no estado da Paraba. O modelo

    desenvolvido tem como dados de entrada a porosidade e a profundidade do solo e

    as variveis precipitao e evaporao. Houve tambm o emprego dos dados

    referentes frao da cobertura vegetal e da estrutura topogrfica da bacia.

  • 35

    Mouelhi et al. (2006) desenvolveram um modelo semi-distribuido de trs

    parmetros denominado de GR2M. O modelo utilizado para simular o escoamento

    superficial foi testado em 410 bacias distribudas em diversas regies climticas,

    entre elas: semi-ridas, temperadas e tropicais midas presentes no Brasil, nos

    Estados Unidos, na Costa do Marfim, na Austrlia e Frana. Houve tambm uma

    comparao com os resultados de outros modelos semi-distribuido de variados

    parmetros. Os resultados tambm foram satisfatrios e podem servir como base no

    gerenciamento dos recursos hdricos atravs da bacia hidrogrfica.

    Com intuito de avaliar os impactos potencias das mudanas climticas sobre

    a disponibilidade de gua na bacia hidrogrfica do rio Dongjiang, Jiang et al. (2007)

    testaram seis modelos hidrolgicos para identificar o que melhor representaria os

    impactos investigados. Os modelos foram: o balano hdrico climatolgico de

    ThornthwaiteMather; o modelo de balano hdrico Vrije Universitet Brussel; o

    modelo desenvolvido por Xinanjiang; o modelo WatBal; o modelo Schaake e o

    modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido de dois parmetros de Guo. Este

    ltimo obteve timos resultados.

    Ma et al. (2008) com o intuito de avaliarem as consequncias dos impactos

    das variabilidades climticas sobre a tendncia do escoamento superficial da bacia

    hidrogrfica do rio Shiyang, regio semi-rida da China, desenvolveram tambm um

    modelo de balano hdrico semi-distribuido aplicados para dados mensais e dirios.

    As informaes de entrada foram as mesmas utilizadas por Guo et al.,(2002)

    incrementadas por dados referentes ao estado atual da cobertura vegetal e do uso

    da terra. Os resultados mostraram que em alguns postos fluviomtricos houve uma

    reduo temporal do escoamento superficial, enquanto que, em outros houve um

    leve aumento. Informaes que segundo os autores podem subsidiar programas de

    planejamento dos recursos hdricos na regio da bacia hidrogrfica estudada para

    os prximos cem anos garantindo uma estabilidade hdrica futura.

    Duarte (2009) aplicou um modelo de balano hdrico semi-distribuido simples

    de dois parmetros (porosidade e profundidade) para analisar os impactos das

    mudanas climticas sobre o escoamento superficial da bacia hidrogrfica do rio

    Tapacur no estado de Pernambuco. Nesse estudo, houve simulaes de vrios

    cenrios de mudanas climticas com resultados alternados, tendo a temperatura

    como principal reguladora da diminuio e/ou aumento da quantidade de gua

    escoada.

  • 36

    Aps a reviso de literatura, ser dada nfase no captulo a seguir a

    localizao da rea de estudo e, paralelamente, a caracterizao da mesma,

    seguida dos mtodos empregados para alcanar o objetivo almejado neste estudo.

  • 37

    3. MATERIAIS E MTODOS

    3.1. LOCALIZAO E CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

    A bacia hidrogrfica do rio Goiana est localizada entre as coordenadas de

    072220 e 075447 de latitude sul e 344906 e 354143 de longitude oeste no

    Estado de Pernambuco (Figura 01). Possui uma rea de 2.847,53 Km abrangendo

    26 municpios da Regio da Zona da Mata Norte pernambucana.

    Figura 01: Localizao espacial da bacia hidrogrfica do rio Goiana - Pernambuco

    A estrutura pedolgica da bacia hidrogrfica do rio Goiana composta pela

    presena de 11 classes de solos representadas no mapa da Figura 02. Esto

    presente o Neossolo Flvico, o Neossolo Quartizarnico, o Neossolo Litlico, o

    Gleissolo, o Espodossolo, o Latossolo Amarelo, o Luvissolo, o Argissolo Amarelo, o

    Argissolo Vermelho, o Planossolo e o Argissolo Vermelho-Amarelo.

    Para levantamento das caractersticas dos solos listados foram consultados:

    RadamBrasil (1981); Guerra & Botelho (1998); Silva, Silva & Barros [200-?];

    Galvncio, 2005; Palmieri & Larach (2006); Brasil (2007) e Santos & Galvncio

    (2009a).

  • 38

    O Quadro 01 apresenta as caractersticas dos principais solos encontrados na

    bacia hidrogrfica do rio Goiana, as quais foram utilizadas para montagem e

    calibrao do modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido.

    Quadro 01: Caractersticas das principais classes de solos da bacia hidrogrfica do rio Goiana

    Solos Profundidade Concentrao de argila, areia e silte

    Porosidade

    Luvissolo 2m Concentrao de

    argila no horizonte B textural (Bt)

    40 a 60%

    Argissolo Vermelho-amarelo

    >2m Concentrao de argila no horizonte B textural (Bt)

    40 a 60%

    Argissolo Vermelho >2m Concentrao de argila no horizonte B textural (Bt)

    40 a 60%

    Neossolo litlico

  • 39

    A bacia hidrogrfica do rio Goiana considerada uma bacia exorrica, ou

    seja, seu curso de gua principal, o rio Goiana, desgua no mar. Quanto ao padro

    de drenagem esta considerada uma bacia dentrtica, visto que, o desenvolvimento

    da rede de drenagem assemelha-se a estrutura de uma rvore, tendo o curso

    principal como o tronco e os tributrios e sub-tributrios como os galhos e folhas

    respectivamente, sem formar ngulos retos (CHRISTOFOLETTI, 2006).

    Em relao ao ordenamento dos canais fluviais, a bacia hidrogrfica do rio

    Goiana considerada uma bacia de sexta ordem, levando em considerao a

    classificao de hierarquia fluvial de Strahler apud Christofoletti (2006). De acordo

    com esta classificao, os menores canais, que no possuem nenhum afluente, so

    de primeira ordem at atingir a confluncia com outro canal de primeira ordem

    passando a formar um canal de segunda ordem. Um canal de terceira ordem

    formado pela juno de dois canais de segunda ordem, podendo receber canais de

    primeira ordem tambm. J os canais de terceira ordem so formados pela

    confluncia de dois canais de segunda ordem, podendo tambm receber tributrios

    de primeira e segunda ordem e assim sucessivamente.

    A Figura 03 apresenta a hierarquia fluvial dos canais da bacia hidrogrfica do

    rio Goiana e suas principais sub-bacias hidrogrficas, destacando a sub-bacia do rio

    Tracunhem e a do rio Capibaribe-Mirim.

  • 40

    Figura 3: Hierarquia fluvial e as principais sub-bacias da bacia hidrogrfica do rio Goiana

    Quanto tipologia climtica, Lacerda, Ferreira, Souza (2006), Santos,

    Galvncio & Moura (2008b) e Santos & Galvncio (2009b) destacam a presena do

    clima mido Submido, do Seco Submido e do Semirido (Figura 04).

    O clima mido Submido ocupa uma rea que se estende do litoral at

    aproximadamente 358 de longitude oeste e volta a aparecer na encosta

    setentrional do Planalto da Borborema e nas serras do Mascarenhas. A mdia dos

    totais anuais pluviomtrico varia entre 2350 a 1150 mm (sentido leste-oeste). Em

    relao temperatura mdia anual do ar h uma variao entre 24 a 25C.

    O clima Seco Submido, encontrado na regio central da bacia, apresenta

    uma mdia nos totais anuais de chuva variando entre 1150 a 1000 mm. Quanto

    temperatura mdia do ar anual ocorre uma variao entre 23 a 24C.

    O clima Semirido, o qual ocupa uma pequena rea na poro sudoeste da

    bacia hidrogrfica, apresenta uma mdia nos totais pluviomtricos variando entre

    1150 a 850 mm. A temperatura mdia do ar anual varia entre 23 a 24C. Nota-se

    que a variao da temperatura no clima semirido semelhante encontrada no

    clima Seco Submido. O motivo de tal semelhana representado pela influncia

    topogrfica na regio do clima semirido.

  • 41

    Figura 04: Tipologia climtica da bacia hidrogrfica do rio Goiana

    3.2. MTODOS

    3.2.1. Uso do solo

    Para obteno de informaes sobre a estrutura atual do uso do solo na bacia

    hidrogrfica do rio Goiana, foram consultados bancos de dados do Projeto PROBIO,

    extraindo do mesmo, dados vetoriais sobre as principias atividades socioeconmicas

    desenvolvidas sobre o territrio pernambucano.

    Esses dados foram espacializados sobre a bacia hidrogrfica do rio Goiana

    atravs do uso de tcnicas de geoprocessamento com auxlio do software Arcgis

    9.3. Aps a espacializao foi realizada a verificao da atualidade das informaes.

    Procedimento concretizado atravs de atividades em campo e consultas a

    documentos e bibliografias produzidas sobre a temtica.

  • 42

    3.2.2. Dados pluviomtricos

    Os dados referentes precipitao pluviomtrica foram adquiridos do banco

    de dados da Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).

    Inicialmente foram identificados 27 postos pluviomtricos ao longo e prximos a

    bacia hidrogrfica. Porm, devido a inconsistncias dos dados, assim como, falhas

    de preenchimentos, foram eliminados 22 postos restando apenas cinco.

    Permaneceram os postos de Machados, Vicncia, Aliana, Paudalho e Condado

    (Figura 05).

    Figura 05: Localizao espacial dos postos pluviomtricos utilizados na pesquisa

    Quanto srie histrica de precipitao pluviomtrica, esta se estende de

    1963 a 1992, perodo em que todos os meses apresentam dados sem falhas.

    Com o intuito de obter a normal climatolgica pluviomtrica anual para

    compreenso da dinmica da distribuio das chuvas sobre a bacia hidrogrfica e

    para identificar o perodo considerado chuvoso e seco foi aplicada a Equao 1.

  • 43

    Na

    XXXXNC

    30...321 ++= ...(1)

    Em que, NC a normal climatolgica, 30...3,2,1 XXXX so os totais anuais

    pluviomtricos em cada ano da srie histrica e Na corresponde ao nmero de anos

    da srie.

    Os valores quantitativos da normal para cada posto pluviomtrico foram

    interpolados e espacializados sobre a bacia hidrogrfica atravs do software Arcgis

    9.3.

    O mtodo utilizado na interpolao foi a Krigagem ordinria metodologia que

    segundo Jakob (2002) utiliza o dado tabular e sua posio geogrfica para obter a

    interpolao. Ou seja, o mtodo utiliza funes matemticas para acrescentar pesos

    maiores nas posies mais prximas aos pontos amostrais e pesos menores nas

    posies mais distantes e, a partir da, criam-se novos pontos interpolados com base

    nessas combinaes lineares de dados. Fatores que contribuem para a no

    tendenciosidade do estimador e varincia mnima das estimativas (MELLO, et al.,

    2004).

    Foi tambm obtido neste estudo o IAC (ndice de Anomalia de Chuva) mensal

    que considerado por uma srie de pesquisadores como um ndice de fcil

    manuseio e tambm eficaz quando se quer analisar a variabilidade pluviomtrica

    frente aos desvios das condies normais (SOUZA, ALBUQUERQUE & LOPES,

    2008; SILVA & GALVNCIO, 2009). Neste contexto, atravs do IAC, foi analisada a

    variabilidade entre episdios considerados secos e midos em cada ms para a

    bacia hidrogrfica do rio Goiana dentro da srie histrica selecionada. Se o IAC for

    positivo significa que o ms analisado foi mido, caso o ndice seja negativo, o ms

    foi seco. A escala temporal adotada ser a decadenal.

    Para obteno do IAC mensal, com base nos trabalhos de Souza,

    Albuquerque & Lopes (2008) e Silva & Galvncio (2009), aplicou-se a Equao 2 e a

    3. A primeira foi utilizada para anomalias positivas, ou seja, acima da mdia

    histrica. Enquanto que, a segunda equao, foi aplicada para anomalias negativas,

    cujos valores se posicionaram abaixo da mdia histrica.

  • 44

    ( )( )

    =

    NM

    NNIAC 3 ...(2)

    ( )

    =

    NX

    NNIAC 3 ...(3)

    Em que, N a precipitao pluviomtrica observada no ms, ou seja, do ms que

    ser obtido o IAC; N a precipitao mdia mensal da srie histrica; M

    representa a mdia das dez maiores precipitaes do ms na srie histrica e X

    a mdia das dez menores precipitaes pluviomtricas do ms na srie histrica.

    Para obteno do desvio percentual anual da precipitao pluviomtrica do

    perodo chuvoso e seco, para toda srie histrica e, para os anos de ocorrncia do

    fenmeno El Nio e La Nia, aplicou se inicialmente a equao 4, a qual serviu para

    agrupar os dados de chuvas dos cincos postos transformando-os em um nico valor

    para a bacia hidrogrfica.

    Np

    XXXPPi

    5...21+= ...(4)

    Em que, PPi a precipitao anual na bacia hidrogrfica, 5,...,2,1 XXX so as

    precipitaes pluviomtricas anuais nos postos e Np o total de postos utilizados na

    srie.

    Obtidos os valores anuais das precipitaes pluviomtricas para a bacia

    hidrogrfica, o prximo passo foi calcular o desvio percentual anual atravs da

    Equao 5.

    PPmPPmPPip /)(100% = ...(5)

    Em que, %p o desvio percentual pluviomtrico anual, PPi a precipitao anual

    na bacia hidrogrfica e PPm representa a mdia histrica anual pluviomtrica para a

    bacia hidrogrfica.

  • 45

    Para obteno das tendncias temporais da precipitao pluviomtrica do

    perodo chuvoso e seco para toda srie histrica e, para os anos de ocorrncia do

    fenmeno El Nio e La Nia, aplicou-se o mtodo de regresso linear simples

    descrito na Equao 6. Esse mtodo, que segundo Back (2001), empregado para

    indicar alteraes climticas por meio do teste de significncia do coeficiente

    angular. Se o intervalo de confiana do coeficiente (a) no incluir nesse intervalo o

    valor zero a tendncia significativa.

    baXY += ...(6)

    Em que, Y o ndice pluviomtrico em funo da varivel X , a o intercepto da

    reta e b o coeficiente de regresso, a qual representa a variao da varivel

    dependente em relao varivel independente, enquanto que X representa a

    varivel dependente.

    Os anos de ocorrncia e a intensidade dos fenmenos El Nio e La Nia

    foram obtidos do banco de dados do CPTEC/INPE (2009). J a listagem dos anos

    de ocorrncia do padro de Dipolo do Atlntico foram extrados dos trabalhos de

    Souza, Alves & Repelli (1998) e Menezes et al. (2008).

    3.2.3. Dados de temperatura

    Para funcionamento e calibrao do modelo de balano hdrico mensal semi-

    distribuido simples, so necessrios dados de evapotranspirao potencial mensal.

    Dados que para serem obtidos precisam da temperatura mdia mensal do ar. Neste

    contexto, foi empregado o modelo Estimativa da Temperatura do Ar (Estima-T) para

    simular os dados de temperatura. Procedimento selecionado devido falta de dados

    observados que acompanhasse a srie histrica da precipitao pluviomtrica.

    O Estima-T foi desenvolvido por Cavalcanti & Silva (1994) e vem sendo

    testado e utilizado em vrios estudos, entre eles os de Cavalcanti, Silva & Souza

    (2006) e Duarte (2009). Para simular a temperatura mdia mensal do ar, foram

    fornecidas ao modelo as coordenadas geogrficas e a altitude de cada um dos

    cincos postos pluviomtricos.

  • 46

    A srie histrica da temperatura mdia mensal do ar obtida correspondeu

    mesma escala temporal dos dados pluviomtricos observados, ou seja, de 1973 a

    1992.

    3.2.4 Dados de evapotranspirao potencial

    A evapotranspirao potencial o quantitativo de gua que transferida para

    o sistema atmosfrico atravs da evaporao e da transpirao de uma superfcie

    terrestre extensa coberta por uma vegetao de baixo porte e, bem suprida de gua

    (PENMAN, 1956 apud FILL, et al. 2005).

    Para obter a evapotranspirao potencial mensal aplicou-se a Equao 7, a

    qual encontra-se no modelo de Balano Hdrico Normal Sequencial por

    Thornthwaite e Mather de 1948. Modelo disponvel em planilhas xls eletrnicas

    elaboradas por Rolim, Sentelhas e Barbieri (1998).

    =3012

    1016NdNhs

    I

    TmETP

    a

    ...(7)

    Em que, ETP a evapotranspirao potencial mensal em mm, Tm a temperatura

    mdia mensal, Nhs a mdia de horas por dia com insolao, Nd o nmero de

    dias no ms, e I e a so obtidos pelas Equaes 8 e 9 respectivamente.

    =

    =12

    1

    514,1)2,0(i

    TmI ...(8)

    37251075,6107,7018,049,0 IIIa ++= ...(9)

    3.2.5. Dados fluviomtricos

    No banco de dados da Agncia Nacional de gua (ANA) encontram-se

    depositados dados de vazo de cinco estaes fluviomtricas implantadas na bacia

    hidrogrfica do rio Goiana. Destas cinco estaes, somente duas possuem dados

    que coincidem com parte da escala temporal da srie histrica da precipitao

  • 47

    pluviomtrica utilizada nas anlises desta pesquisa. As estaes do Engenho Retiro

    e do Engenho Itapissirica foram as duas selecionas (Figura 06). Na estao do

    Engenho Retiro a srie histrica de vazo selecionada vai de 1978 a 1992, enquanto

    que, na estao do Engenho Itapissirica, a srie vai de 1967 a 1992.

    Para calibrao do modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido simples

    foram utilizadas, para ambas as estaes fluviomtricas, as vazes mensais dos

    anos de 1978 a 1986. J para obteno da mdia histrica, utilizada na comparao

    com o escoamento simulado frente aos cenrios de mudanas climticas, optou-se

    pelo uso de toda a srie histrica.

    Figura 06: Estaes fluviomtricas utilizadas para calibrao e simulao do escoamento superficial na bacia hidrogrfica do rio Goiana

    3.2.6. Modelo de balano hdrico

    A base de montagem do modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido

    simples foi espelhada nos trabalhos de Guo et al. (2002) e Duarte (2009) tendo

    algumas mudanas. A modificao ocorreu na incluso de mais um parmetro

  • 48

    relacionado interceptao da chuva pela cobertura vegetal. Parmetro no testado

    pelos autores citados.

    A Figura 07 apresenta a estrutura de montagem e de funcionamento do

    modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido simples construdo para a bacia

    hidrogrfica do rio Goiana. Estrutura que tem como variveis de entrada a

    precipitao pluviomtrica e a evapotranspirao potencial, ambas em mm. Os

    parmetros foram porosidade em percentagem, a profundidade do solo em metros

    e a interceptao da chuva pela cobertura vegetal em percentagem.

    Dos cinco postos pluviomtricos utilizados como bases de fornecimento dos

    dados de chuvas e para gerao da evapotranspirao potencial, trs deles

    (Machados, Condado e Paudalho) foram empregados na calibrao e simulao do

    escoamento superficial na estao fluviomtrica do engenho Itapissirica. Enquanto

    que, os postos de Aliana e Vicncia foram utilizados na calibrao e simulao do

    escoamento na estao fluviomtrica do Engenho Retiro.

    A Equao 10 abaixo foi utilizada para o clculo do escoamento.

    [ ]ScEvpPtSEvpPtSQt tt /)(tanh)( 11 ++= ...(10)

    Em que, Qt o escoamento superficial mdio mensal em mm, 1tS representa o

    armazenamento de gua no solo em mm no ms anterior; Pt a precipitao

    pluviomtrica (total mensal em mm); Evp a evapotranspirao potencial em mm;

    tanh a tangente hiperblica e Sc a capacidade de campo da estrutura pedolgica

    presente na rea de estudo.

  • 49

    Escoamento

    superficial (mm)

    Porosidade do solo

    (%)

    Intercepo da chuva

    pela cobertura vegetal

    (%)

    Profundidade do solo

    (m)

    Modelo de balano hdrico

    mensal semi-distribuido simples

    Precipitao

    pluviomtrica

    (mm)

    Evapotranspirao

    potencial

    (mm)

    Variveis

    Parmetros

    Figura 07: Fluxograma representando a estrutura do modelo de balano hdrico mensal semi-distribuido simples desenvolvido para simulao do escoamento superficial da bacia hidrogrfica do rio Goiana

    O armazenamento de gua no solo ( tS ) foi calculado com base na lei de

    conservao das guas apresentada na Equao 11.

    tttt QEVPPICVSS += 1 (11)

    Em que, 1tS o armazenamento de gua no solo no ms anterior e ICV representa

    o volume percentual de gua interceptado pela cobertura vegetal.

  • 50

    Para obteno da capacidade de campo (Sc ) foi empregada a Equao 12.

    1000= deprofundidaPorosidadeSc ...(12)

    A porosidade um valor adimensional apresentado em percentagem,

    enquanto que, a profundidade oferecida em metros.

    Montado o modelo, o prximo passo foi a calibrao do mesmo. Para isso,

    utilizou-se o critrio de eficincia de Nash & Sutcliffe (1970) (Equao 13), o critrio

    do erro relativo (Equao 14) e o coeficiente de determinao obtido atravs da

    regreo linear. Medidas estatsticas bem empregadas entre os estudos que

    envolvem simulaes hidrolgicas, a exemplo dos trabalhos de Guo et al. (2002),

    Ajami et al. (2004), Galvncio (2005), Mouelhi et al. (2006), Jiang et al. (2007),

    Fiering & Qrunnuts (2007), Webb et al, (2008) e Mao & Cherkauer (2009).

    1000

    02

    =

    F

    FFR ...(13)

    Em que, 2R o critrio de eficincia de Nash e Sutcliffe, 0F a soma do quadrado

    da diferena entre o escoamento superficial observado e a sua mdia e F a soma

    do quadrado da diferena entre o escoamento superficial observado e o estimado.

    Quanto mais prximo for o 2R de 100% mais eficiente a simulao.

    %100)(

    =

    i

    tt

    Q

    QQRE

    )

    ...(14)

    Em que, RE o erro relativo, iQ o escoamento superficial estimado,

    Qt o

    escoamento superficial observado

    Quanto mais prximo de zero for o valor do RE , melhor ser a simulao.

    Os dados do escoamento superficial observado utilizado para calibrao do

    modelo correspondem aos anos de 1978 a 1986 para ambas as estaes

    fluviomtricas. Os ajustes em busca da calibrao foram realizados nos parmetros

    do modelo, respeitando os limites das caractersticas dos solos (porosidade e

  • 51

    profundidade) e a capacidade de interceptao da chuva pela cobertura vegetal da

    bacia hidrogrfica.

    3.2.7. Cenrios de mudanas climticas e a temperatura mdia do ar

    Os dados da temperatura mdia mensal do ar projetado para o futuro sobre a

    bacia hidrogrfica do rio Goiana foi adquirido da Empresa Brasileira de Pesquisa

    Agropecuria (EMBRAPA). Essas informaes foram geradas pelo modelo climtico

    regional PRECIS, desenvolvido pelo centro de estudos meteorolgicos Hadley. As

    simulaes realizadas para o territrio brasileiro compreendem dois cenrios de

    mudanas climticas, o B2 e o A2 e foram realizadas pelo CPETC. Posteriormente,

    houve uma reviso e modificaes realizadas pela EMBRAPA.

    Os dados de temperatura foram disponibilizados em planilhas no formato xls

    (eletrnicas) em grades que correspondem a uma equidistncia de 50 km. Para

    cada cenrio de mudanas climticas, foram simuladas temperaturas para os anos

    de 2020, 2030, 2040, 2050, 2060 e 2070.

    De posse dos dados, estes foram espacializados sobre a bacia hidrogrfica

    do rio Goiana atravs do mtodo de Krigagem ordinria execultado pelo software

    Arcgis 9.3. A partir dos mapas gerados, foram realizadas as interpretaes

    individualmente para os cenrios B2 e A2.

    3.2.8. Projeo do escoamento superficial frente aos cenrios de mudanas climticas

    Aps a espacializao dos dados de temperatura do ar sobre a bacia

    hidrogrfica, foram inseridos em cada mapa os cincos postos pluviomtricos

    utilizados na coleta dos dados de chuva. A partir da, foram extrados, para cada um

    dos postos, os valores da temperatura mdia mensal do ar para cada ms dos seis

    anos projetados para cada um dos cenrios de mudanas climticas. O mtodo de

    extrao ocorreu atravs das informaes armazenadas nas tabelas de atributos

    geradas pelo software Arcgis 9.3, as quais foram transformadas em novas planilhas

    no formato xls (eletrnicas).

  • 52

    De posse dos dados de temperatura mdia mensal do ar para cada posto

    pluviomtrico, estas serviram de base para obteno da evapotranspirao potencial

    utilizando a Equao 7, citada anteriormente.

    A evapotranspirao potencial simulada foi inserida no modelo de balano

    hdrico mensal semi-distribuido simples. A outra varivel de entrada no modelo, a

    precipitao pluviomtrica no foi oriunda de simulaes, e sim, da normal

    climatolgica obtida da srie histrica de 1963 a 1992. Posicionamento adotado,

    devido s grandes incertezas proporcionadas pelas simulaes pluviomtricas para

    a regio Nordeste do Brasil.

    O produto final foi apresentado em grficos, os quais comparam as projees

    entre os cenrios B2 com as projees do A2 e, destes com a mdia histrica

    observada.

    Houve tambm a obteno dos desvios percentuais entre as projees dos

    escoamentos nos cenrios B2 e A2 com a mdia histrica observada. Para isso, foi

    utilizado desvio de acordo com Equao 15.

    QmoQmoQp t /)(100% = ...(15)

    Em que, %p o desvio percentual mensal do escoamento superficial, tQ o

    escoamento superficial mensal simulado e Qmo a mdia histrica do escoamento

    superficial observado.

  • 53

    4. RESULTADOS E DISCUSSES

    4.1. USO DO SOLO NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO GOIANA

    A Figura 08 apresenta o uso do solo na bacia hidrogrfica do rio Goiana.

    possvel observar que os dois principais usos esto voltados par