UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA · coleta, transporte e tratamento de efluentes. Diante deste...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CURSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL APLICABILIDADE DE SISTEMAS SIMPLIFICADOS PARA ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO DE CIDADES DE PEQUENO PORTE CRISTIANE MAYARA REIS OLIVEIRA Juiz de Fora 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

    CURSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

    APLICABILIDADE DE SISTEMAS SIMPLIFICADOS PARA

    ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO DE CIDADES

    DE PEQUENO PORTE

    CRISTIANE MAYARA REIS OLIVEIRA

    Juiz de Fora

    2014

  • APLICABILIDADE DE SISTEMAS SIMPLIFICADOS PARA

    ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO DE CIDADES

    DE PEQUENO PORTE

    CRISTIANE MAYARA REIS OLIVEIRA

  • CRISTIANE MAYARA REIS OLIVEIRA

    APLICABILIDADE DE SISTEMAS SIMPLIFICADOS PARA

    ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO DE CIDADES

    DE PEQUENO PORTE

    Trabalho Final de Curso apresentado ao

    Colegiado do Curso de Engenharia Sanitária e

    Ambiental da Universidade Federal de Juiz de

    Fora, como requisito parcial à obtenção do título

    de Engenheiro Sanitário e Ambientalista.

    Área de Conhecimento: Saneamento

    Linha de pesquisa: Tratamento de Efluentes

    Domésticos

    Orientadora: Ana Sílvia Pereira Santos

    Juiz de Fora Faculdade de Engenharia da UFJF

    2014

  • “APLICABILIDADE DE SISTEMAS SIMPLIFICADOS PARA

    ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO DE CIDADES DE

    PEQUENO PORTE”

    CRISTIANE MAYARA REIS OLIVEIRA

    Trabalho Final de Curso submetido à banca examinadora constituída de acordo com o artigo

    9° da Resolução CCESA 4, de 9 de abril de 2012, estabelecida pelo Colegiado do Curso de

    Engenharia Sanitária e Ambiental, como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro

    Sanitário e Ambientalista.

    Aprovado em 18 de julho de 2014.

    Por:

    _____________________________________

    Profa. Dra. Ana Sílvia Pereira Santos – Orientadora

    ____________________________________

    Prof. MSc. Fabiano César Tosetti Leal

    _____________________________________

    Eng. MSc. Bruno Marcel Barros da Silva

  • Agradecimentos

    Quero agradecer, em primeiro lugar, а Deus, pela força е coragem durante toda esta longa

    caminhada.

    À minha mãe, meu porto seguro, que sempre ao meu lado, me apoiou em todos os momentos

    e acreditou que eu daria conta do recado.

    Aos meus irmãos e irmã, que souberam ter paciência comigo e me incentivaram nesta

    conquista.

    Aos tios, tias e primos, obrigada pelos momentos felizes e palavras carinhosas.

    Ao vô e a vó que sempre estiveram ao meu lado.

    Aos amigos que sempre estiveram presente e me apoiaram.

    Aos professores do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFJF por todo o

    conhecimento transmitido, em especial, à Professora Ana Sílvia, por fazer tudo o que lhe foi

    possível pelo desenvolvimento deste trabalho, pela paciência e experiência a mim transmitida.

  • Resumo

    O Brasil ainda apresenta um grande déficit no setor sanitário, principalmente na área de

    coleta, transporte e tratamento de efluentes. Diante deste quadro, o presente trabalho aborda

    os sistemas simplificados de tratamento de efluente doméstico, sistemas estes que encontram

    grande aplicabilidade e têm apresentado vantagens sobre os sistemas convencionais por

    conjugar baixos custos de implantação e operação, simplicidade operacional, índices mínimos

    de mecanização e uma maior sustentabilidade do sistema. A partir da análise dos dados de

    qualidade e custo de operação e manutenção de ETEs, fornecidos pelas companhias de

    saneamento de Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal, conclui-se que as ETEs que

    operam com os sistemas simplificados atendem à legislação estadual a qual cada companhia

    pertence, às eficiências de remoção dos parâmetros de qualidade estão dentro das faixas

    apresentadas na literatura e, quanto ao custo de operação e manutenção, houve uma

    discrepância para os valores encontrados a partir dos dados em estudo com os apresentados na

    literatura. Essa pode ser justificada pela forma de apresentação dos dados pelas companhias e

    ainda pela possível inclusão de águas clandestinas e parasitárias no sistema, elevando o custo

    real.

  • Sumário

    1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 1

    2 OBJETIVOS ............................................................................................................................................. 4

    2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................................................ 4

    2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................................................. 4

    3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................................ 5

    3.1 Geração do Esgoto Sanitário .................................................................................................................. 5

    3.2 Caracterização do Esgoto Sanitário ....................................................................................................... 6

    3.3 Etapas do Tratamento ............................................................................................................................ 9

    3.3.1 Tratamento Preliminar................................................................................................................. 11

    3.3.2 Tratamento Primário..................................................................................................................... 16

    3.3.2.1 Decantador Primário ....................................................................................................... 17

    3.3.2.2 Decantadores Primários Quimicamente Assistidos ........................................................ 18

    3.3.3 Tratamento Secundário................................................................................................................. 19

    3.3.3.1 Processo Biológico com Biomassa Suspensa - Lodo ativado ....................................... ..21

    3.3.3.2 Processo Biológico com Biomassa Aderida ................................................................... 24

    3.3.4 Tratamento Terciário.................................................................................................................... 28

    3.4 Tecnologias de Sistema Simplificado de Tratamento de Esgoto ......................................................... 30

    3.4.1 Lagoas de Estabilização + Lagoa de Maturação........................................................................... 32

    3.4.2 Tanque Séptico + Filtro Anaeróbio.............................................................................................. 37

  • 3.4.3 UASB + Filtro Anaeróbio........................................................................................................... 40

    3.4.4 UASB + Filtro Biológico Percolador........................................................................................... 45

    3.4.5 UASB + Lagoa de Polimento....................................................................................................... 48

    3.4.6 UASB + Aplicação no Solo......................................................................................................... 51

    3.5 Aspectos Legais ................................................................................................................................... 54

    4 METODOLOGIA .................................................................................................................................. 60

    4.1 Etapa 01 ............................................................................................................................................... 61

    4.2 Etapa 02 ............................................................................................................................................... 62

    4.3 Etapa 03 ............................................................................................................................................... 63

    4.4 Etapa 04 ............................................................................................................................................... 64

    5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................................................... 66

    6 CONCLUSÃO ........................................................................................................................................ 75

    7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 77

  • 1

    1 INTRODUÇÃO

    Na conferência de Ottawa em 1948 a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs o

    conceito de saneamento como o controle de todos os fatores do meio físico do homem,

    que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem estar físico, mental e social.

    Esse controle é realizado através de uma série de estruturas físicas, educacionais,

    políticas e econômicas que oferecem os serviços básicos de saneamento, tais como

    abastecimento de água, esgotamento sanitário, gestão de resíduos sólidos e gestão de

    águas pluviais urbanas, que visam alcançar a salubridade ambiental.

    No atual cenário brasileiro, o esgotamento sanitário é o serviço que se apresenta com

    maior déficit dentre os componentes do saneamento básico. Segundo dados do Sistema

    Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS, 2012), enquanto 93,2% da

    população recebe água em seus domicílios, somente 56,1% da população tem coleta de

    esgoto e apenas 38,6% do esgoto gerado recebe algum tipo de tratamento antes de ser

    lançado em um corpo hídrico.

    A falta de sistema de esgotamento sanitário, principal causa da poluição dos cursos

    d’água, é também responsável por várias doenças que acometem a população brasileira,

    sobretudo aquelas pessoas menos favorecidas (ReCESA 2, 2008).

    De acordo com o documento Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento

    Brasileiro, editado pelo Instituto Trata Brasil em 2010, a redução de casos de infecções

    intestinais pela presença de serviços de esgoto em todos os domicílios brasileiros

    possibilitaria uma economia de R$ 745 milhões somente em despesas de internação no

    Sistema Único de Saúde (SUS) ao longo dos anos. Ainda, as despesas das empresas em

    apenas um ano, em remuneração referente a horas não-trabalhadas por funcionários que

    tiveram que se ausentar em razão de infecções gastrointestinais, chegaram a R$ 547

    milhões. Por fim, dos 462 mil pacientes internados por infecções gastrointestinais, 2.101

    morreram no hospital, número que poderia ser reduzindo em 65% se houvesse acesso

    universal ao saneamento, e os casos de internações poderiam sofrer a redução de 25%.

    A utilização do saneamento como instrumento de promoção da saúde pressupõe a

    superação dos entraves tecnológicos, políticos e gerenciais que têm dificultado a

  • 2

    extensão dos benefícios aos residentes em áreas rurais, municípios e localidades de

    pequeno porte (SIQUEIRA E PESSOA, 2009). Segundo o Programa das Nações

    Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2003), 80% dos municípios brasileiros

    possuem uma população menor que 30 mil habitantes, os quais, neste trabalho, serão

    considerados de pequeno porte. Nestes casos, a falta de recursos, a dificuldade de mão-

    de-obra especializada e o baixo adensamento populacional dificultam a escolha da

    melhor tecnologia de tratamento a ser usado, uma vez que cada sistema de tratamento

    de esgoto apresenta características distintas em relação aos custos, à complexidade

    operacional e parâmetros de dimensionamento.

    Frente ao grande déficit sanitário, aliado ao quadro epidemiológico e ao perfil

    socioeconômico das comunidades brasileiras, a opção por sistemas de saneamento

    básico simplificados para a promoção associada da saúde da população e proteção

    ambiental assume grande importância. Nesse cenário, soluções alternativas para o

    tratamento de esgotos, baseadas em sistemas simplificados, encontram grande

    aplicabilidade e têm apresentado vantagens sobre os sistemas convencionais por

    conjugar baixos custos de implantação e operação, simplicidade operacional, índices

    mínimos de mecanização e uma maior sustentabilidade do sistema (ReCESA - 2, 2008).

    Em 1995, o Manual de Saneamento e Proteção Ambiental para os Municípios, realizado

    pelo Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de

    Minas Gerais (DESA/UFMG) e pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM)

    trouxe o conceito de sistemas simplificados abordando somente lagoas de estabilização,

    disposição no solo e reatores anaeróbios. Ao longo dos anos, o próprio DESA/UFMG

    incorporou outros sistemas ao conceito e os rearranjou. Assim, a Rede Nacional de

    Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental (ReCESA – 2, 2008),

    no âmbito do seu núcleo sudeste (NUCASE) criada em 2005 com incentivo do

    Ministério das Cidades e da Fundação Nacional da Saúde (FUNASA), definiu os

    principais arranjos caracterizando os sistemas simplificados: lagoas de estabilização,

    tanque séptico seguido por filtro anaeróbio, reator UASB seguido por filtro biológico

    percolador, reator UASB seguido por filtro anaeróbio, reator UASB seguido por lagoas

    de polimento e reator UASB seguido por aplicação superficial no solo (MARTINS,

    2013).

  • 3

    Nesse contexto, a utilização de sistemas de tratamento simplificados apresenta-se como

    uma importante alternativa, buscando a ampliação do atendimento à população.

    Todavia, o alcance dos objetivos do tratamento depende de uma adequada operação do

    sistema (ReCESA - 2, 2008). Portanto, este trabalho tem por objetivo apresentar as

    características das tecnologias de tratamento de esgoto, destacando os sistemas

    simplificados, além de analisar dados quantitativos e qualitativos fornecidos por

    companhias de saneamento e comparar estes a valores de referência encontrados na

    literatura e com as legislações de lançamento de efluente em corpos hídricos pertinentes

    a cada companhia.

  • 4

    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo Geral

    Analisar os sistemas simplificados de tratamento de esgoto, destacando suas

    características de desempenho e custos de operação e manutenção quando comparados

    aos sistemas ditos convencionais.

    2.2 Objetivos Específicos

    Apresentar os sistemas convencionais de tratamento de esgoto;

    Apresentar os sistemas simplificados de tratamento de esgoto;

    Apresentar dados reais de desempenho e custos de operação e manutenção de

    ETEs com fluxogramas de sistemas simplificados, fornecidos pelas companhias

    de água e esgoto de Minas Gerais (COPASA), de São Paulo (SABESP) e do

    Distrito Federal (CAESB);

    Estudar as legislações para lançamento de efluentes em corpos d’água nos

    estados de Minas Gerais e São Paulo, além da legislação federal, a saber:

    COPAM/CERH nº1/2008, Decreto 8.468/76 e CONAMA 430/2011;

    Analisar o desempenho das ETEs com sistemas simplificados apresentadas pela

    COPASA, SABESP e CAESB a luz das legislações específicas para lançamento

    de efluentes em corpos d’água;

    Comparar valores de desempenho das ETEs estudadas como os valores de

    referência da literatura;

    Fazer uma análise preliminar dos valores de custo de operação e manutenção das

    ETEs estudadas a partir dos dados fornecidos pelas empresas de água e esgoto.

  • 5

    3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    A estrutura e construção de uma estação de tratamento de esgoto levam em

    consideração vários fatores, como tecnologia a ser aplicada, área a ser ocupada,

    eficiência no tratamento, exigências econômicas com redução de gastos em sua

    manutenção e operação, benefícios para a saúde humana e ambiental e geração de lodo.

    Para se atender todos estes fatores é importante que, antes de se implantar uma ETE,

    seja realizado um estudo do efluente a ser tratado, de acordo com suas características

    qualitativas e quantitativas, além das características da localidade onde esta será

    construída. Portanto, torna-se importante conhecer a concentração de matéria orgânica,

    resíduos tóxicos, nutrientes, os microrganismos presentes, a vazão contribuinte e as

    peculiaridades da região, como o clima, temperatura, regime de chuvas, condições

    sociais e econômicas, dentre outros.

    3.1 Geração do Esgoto Sanitário

    Segundo Jordão e Pessôa (2011) o termo esgoto, atualmente é usado quase que apenas

    para caracterizar os despejos provenientes das diversas modalidades do uso e da origem

    das águas, tais como as de uso doméstico, comercial, industrial, as de utilidade públicas,

    de áreas agrícolas, de superfície de infiltração, pluviais, e outros efluentes sanitários. Os

    esgotos podem receber dois tipos de classificação: os esgotos sanitários e os industriais.

    O esgoto sanitário, foco deste trabalho, é proveniente de usos domésticos, comerciais e

    institucionais, como para banho, descarga sanitária, limpeza de louças e roupas, dentre

    outros. Contudo, nas estações de tratamento de esgoto doméstico, também chegam

    outros efluentes, como os industriais e as águas pluviais. O ReCESA 2 (2008) apresenta

    três tipos diferentes de vazões que alcançam as estações de tratamento de esgoto: vazão

    doméstica, vazão de infiltração e vazão industrial. E as seguintes definições:

    Vazão doméstica: provem de esgotos em uma determinada localidade.

    Geralmente, é constituída pelos esgotos gerados nas residências, no comércio,

    nos equipamentos e instituições presentes na localidade. Portanto, a magnitude

    da vazão doméstica de esgotos é tanto maior quanto maior for a população da

  • 6

    comunidade. Devido à flutuação da população e as horas de maior intensidade

    nas atividades que requerem o uso da água, essa vazão sofre variações ao longo

    da hora, do dia e do ano.

    Vazão de infiltração: é constituída pela água que adentra na rede coletora através

    de tubos defeituosos, juntas, conexões, poços de visita, entre outros. Dessa

    forma, quanto mais extensa e mais antiga for a rede coletora, espera-se uma

    maior contribuição da vazão de infiltração no total de esgotos que chegam à

    estação de tratamento, sobretudo nos períodos de chuva. O material da

    tubulação, também influencia na vazão de infiltração. Tubos de PVC são mais

    estanques que tubos de manilha de barro vidrado.

    Vazão industrial: depende do tipo e porte da indústria, grau de reciclagem da

    água e, dentre outros, da existência de pré-tratamento. Esta vazão pode ou não

    ser aceita pela companhia de operação dos sistemas para integrar a rede pública,

    em função das suas características.

    As vazões que chegam às estações de tratamento possuem variações e segundo Leal

    (2012), o projeto hidráulico de um sistema público de esgotamento sanitário deve

    considerar estas variações, uma vez que os dimensionamentos da ETE estão acoplados

    aos volumes diários de contribuição existentes nas malhas urbanas. Estes volumes

    dependem fundamentalmente da população instalada, dos equipamentos urbanos

    existentes, bem como da qualidade da prestação do serviço de abastecimento de água.

    3.2 Caracterização do Esgoto Sanitário

    Além de se conhecer a vazão e as flutuações do efluente a ser tratado, para a elaboração

    de um projeto é fundamental que se conheça suas características qualitativas. No caso

    do esgoto doméstico, essas características podem ser analisadas com base nos

    parâmetros de qualidade de água que influenciam na escolha da melhor tecnologia de

    tratamento. Estes parâmetros interferem diretamente na eficiência de degradação da

    matéria orgânica realizada pelos microrganismos decompositores.

    O esgoto doméstico é composto de aproximadamente 99,9% água e os outros 0,1%,

    responsáveis pela necessidade do seu tratamento, são constituídos por sólidos orgânicos

  • 7

    e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, nutrientes e microrganismos. Assim, os

    parâmetros de maior importância e que merecem destaque na caracterização do esgoto,

    para a medição da eficiência do tratamento, são: sólidos, indicadores de matéria

    orgânica, nutrientes e indicadores de contaminação fecal (ReCESA -2, 2008).

    Os sólidos podem ser classificados quanto à forma e tamanho em suspensos totais (SST)

    e dissolvidos totais (SDT). A matéria sólida em suspensão compõe a parte que é retida,

    quando um volume da amostra de esgoto é filtrado através de uma membrana filtrante

    apropriada. A fração que passa pelo filtro compõe a matéria sólida dissolvida, que está

    presente em solução ou sob a forma coloidal.

    Em relação à classificação química, eles podem ser orgânicos ou inorgânicos. No

    equipamento denominado forno de mufla, os sólidos orgânicos se volatilizam em

    temperatura aproximadamente igual a 500 ºC e os inorgânicos permanecem fixos neste

    mesmo ambiente. Portanto, os sólidos podem ser classificados em voláteis e fixos,

    respectivamente. Assim, os sólidos dissolvidos podem ser voláteis (SDV) ou fixos

    (SDF) e, de forma análoga, o mesmo ocorre com os sólidos suspensos (SSV e SSF).

    A Figura 01 apresenta um desenho esquemático que representa a fração de sólidos típica

    de uma amostra de esgoto doméstico.

    Ao longo dos anos, dois parâmetros importantes foram utilizados para medida indireta

    da matéria orgânica presente no esgoto: Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e

    Demanda Química de Oxigênio (DQO). Ambos determinam o consumo de oxigênio

    para decomposição da matéria orgânica e não sua concentração direta. No caso da DBO,

    a demanda é bioquímica, ou seja, exercida por microrganismos decompositores e no

    caso da DQO, utiliza-se produto químico como oxidante, a saber: dicromato de

    potássio.

    Atualmente, tem-se utilizado o parâmetro Carbono Orgânico Total (COT) como medida

    direta de determinação de matéria orgânica, por um teste instrumental que mede todo o

    carbono liberado na forma de CO2, porém ainda é pouco utilizado no Brasil.

  • 8

    Figura 01: Sólidos separados quanto à forma e tamanho e seus valores médios no esgoto bruto. Adaptado: Jordão e Pessôa (2011).

    A DBO e a DQO ainda são os parâmetros mais importantes para dimensionamento e

    medida de desempenho das estações de tratamento de esgotos. Segundo Jordão e Pessôa

    (2011) a DBO dos esgotos domésticos varia entre 100 e 400 mg/l, e a DQO, entre 200 e

    800 mg/L. No efluente final de um tratamento secundário de alto desempenho, como

    por exemplo, o processo de lodo ativado, espera-se uma concentração de DBO em torno

    de 20 a 30 mg/L e de DQO, em torno de 180 mg/L.

    O nitrogênio e o fósforo são componentes de grande importância em termos da geração

    e do próprio controle da poluição das águas, pois estes elementos estão relacionados ao

    crescimento de algas, podendo causar a eutrofização de corpos d’água e, também é

    indispensável para o crescimento dos microrganismos responsáveis pelo tratamento de

    esgoto (ReCESA 2, 2008).

    O nitrogênio pode ser encontrado no meio líquido em diversas formas, tais como

    nitrogênio amoniacal (N-amoniacal, livre NH3 e ionizada NH4+), nitrito (NO2

    -) e nitrato

    (NO3-), sendo o primeiro deles presente em mais abundância no esgoto doméstico bruto.

    Neste caso, sua concentração encontra-se em torno de 20 a 35 mg/L. O fósforo também

    Sólidos Totais

    (ST)

    730 mg/L

    Sólidos Suspensos Totais

    (SST)

    230 mg/L

    Sólidos Dissolvidos Totais

    (SDT)

    500 mg/L

    Voláteis

    (SSV)

    175 mg/L

    Fixos

    (SSF)

    55 mg/L

    Voláteis

    (SDV)

    200 mg/L

    Fixos

    (SDF)

    300 mg/L

  • 9

    se apresenta em diversa formas, sendo a predominante no esgoto doméstico, o fósforo

    total (P-total) com concentração em torno de 4 a 5 mg/L (ReCESA 2, 2008).

    O esgoto possui microrganismos patogênicos e não patogênicos e depende destes para a

    degradação da matéria orgânica nele presente. Os indicadores de contaminação fecal são

    microrganismos, em sua maioria, não patogênicos usados para a indicação da

    contaminação da água por fezes humanas ou de animais, e assim, a sua potencialidade

    de transmissão de doenças (VON SPERLING, 2005). Normalmente, são utilizados

    como indicadores, os coliformes totais, os termotolerantes e a Escherichia Coli, sendo

    esta última cada vez mais utilizada, por indicar com mais precisão a contaminação por

    fezes.

    3.3 Etapas do Tratamento

    Após a coleta e o transporte, o esgoto sanitário deve ser encaminhado para tratamento,

    onde se objetiva que este adquira características que permitam o seu lançamento em

    corpos hídricos, atendendo aos padrões de lançamento de efluente, vigentes nas

    legislações. Para o melhor entendimento, as etapas de tratamento de esgoto podem ser

    divididas didaticamente em: preliminar, primário, secundário e terciário, conforme

    apresentado na Figura 02. As diferentes fases possuem as funções de remover os sólidos

    grosseiros, os sólidos suspensos, a matéria orgânica dissolvida, os nutrientes e os

    agentes patogênicos, através de processos físicos, físico-químicos e biológicos.

    A Figura 02 apresenta de forma esquematizada as fases do tratamento do esgoto

    doméstico e suas principais funções.

    Figura 02: Etapas do tratamento de efluente doméstico e suas principais funções.

    PRELIMINAR

    REMOÇÃO DE

    AREIA E

    SÓLIDOS

    GROSSEIROS

    PRIMÁRIO

    REMOÇÃO DE

    SÓLIDOS

    SUSPENSOS

    SECUNDÁRIO

    REMOÇÃO DE

    MATÉRIA

    ORGÂNICA

    TERCIÁRIO

    REMOÇÃO DE

    ORGANISMOS

    PATOGÊNICOS

    E NUTIENTES

  • 10

    As tecnologias abordadas pela Norma Brasileira – NBR 12.209/2011, que define

    parâmetros e critérios para projeto hidráulico de Estações de Tratamento de Esgoto

    Doméstico, são:

    Preliminar: grades de barras, peneiras e desarenadores;

    Primário: decantador primário convencional ou quimicamente assistido, ou

    ainda o reator UASB;

    Secundário: são divididos em biomassa suspensa e biomassa aderida, onde a

    principal tecnologia de biomassa suspensa é o lodo ativado e suas variantes e no

    caso da biomassa aderida, são os filtros em geral, com ou sem aeração;

    Terciário: desinfecção com cloração, radiação UV e ozonização. Ainda nesta

    etapa, são incorporadas as tecnologias que objetivam remoção de nutrientes

    (nitrogênio e fósforo), como as variantes do processo de lodo ativado. Contudo,

    o sistema terciário ainda é muito pouco aplicado nas estações de tratamento

    brasileiras (ReCESA 2, 2008).

    As lagoas de estabilização são tecnologias não abordadas pela NBR 12.209/2011,

    porém amplamente utilizadas no Brasil e no mundo. Como exemplo, das unidades de

    tratamento de esgotos implantadas pela Companhia de Saneamento Ambiental do

    Distrito Federal (CAESB), 65% delas adotam lagoas (CAESB, 2014).

    Os sistemas simplificados de tratamento de esgotos se diferenciam dos fluxogramas

    conhecidos como convencionais, por conciliar dentre as tecnologias citadas, aquelas que

    requerem menor consumo de energia, menor custo de implantação e de operação, mão

    de obra menos especializada, contudo mantendo a eficiência do tratamento do esgoto.

    Nos próximos itens, serão abordadas as etapas que podem ser aplicadas ao tratamento

    de esgoto doméstico, com exemplos e características das tecnologias adotadas nos

    tratamentos convencionais. Os sistemas simplificados serão abordados separadamente

    no item 3.4.

  • 11

    3.3.1 Tratamento Preliminar

    Além da matéria orgânica, dos sólidos e dos microrganismos, o esgoto possui sólidos

    grosseiros e sólidos minerais (principalmente, areia), os quais devem ser removidos

    previamente, para que não prejudiquem as etapas posteriores do tratamento de esgoto e

    não sejam lançados no corpo hídrico.

    O tratamento preliminar consiste em um processo físico de remoção dos sólidos

    grosseiros e da areia, através de grades de barras e/ou peneiras e desarenador. Ainda, no

    fluxograma do tratamento preliminar, inclui-se normalmente, um medidor de vazão que

    tem o objetivo de apenas quantificar a vazão afluente à ETE.

    Segundo Jordão e Volschan Jr. (2009), a efetiva necessidade de utilização do tratamento

    preliminar precedendo as outras unidades de tratamento primário ou secundário depende

    da real veiculação de sólidos grosseiros e sólidos minerais pesados pelo sistema de

    esgotamento sanitário. Sendo que, quanto maior a quantidade de domicílios

    contribuintes, maior a quantidade de sólidos grosseiros, e quanto maior a extensão da

    rede coletora, maior a quantidade de sólidos minerais.

    Os autores citam ainda, que a combinação tanque séptico seguido de filtro anaeróbio,

    que serão abordados mais adiante, usualmente não são precedidos por tratamento

    preliminar, uma vez que estes são largamente utilizados para o tratamento de esgotos

    provenientes de poucos domicílios e de redes coletoras de pequena extensão, que,

    consequentemente, geram pouca quantidade de sólidos grosseiros e sólidos minerais.

    Porém, no caso em que esta combinação recebe uma vazão maior que 1,0L/s,

    recomenda-se que estes sejam precedidos de tratamento preliminar.

    Por outro lado, as demais tecnologias, principalmente as mais sujeitas aos

    inconvenientes operacionais que pode causar a presença de sólidos grosseiros e

    minerais, devem ser obrigatoriamente precedidas de tratamento preliminar, destacando

    o reator UASB, o UASB seguido de pós-tratamento e o lodo ativado (JORDÃO E

    VOLSCHAN JR., 2009).

    A Figura 03 apresenta o tratamento preliminar esquematizado.

  • 12

    Figura 03: Fases do tratamento preliminar. (Fonte: SANTOS, 2012).

    Grade de barra e peneiras

    Segundo Jordão e Pessôa (2011) os sólidos grosseiros são aqueles que podem ser

    facilmente retidos e removidos por processos físicos de gradeamento e peneiramento.

    Estes possuem sua origem no uso inadequado das instalações prediais, dos coletores

    públicos e demais componentes de um sistema de esgotamento sanitário. As seguintes

    finalidades são apresentadas pelos autores para a remoção dos sólidos grosseiros do

    sistema de tratamento de esgoto: proteção dos dispositivos de transporte dos esgotos nas

    suas diferentes fases (líquida e sólida), tais como bombas, tubulações, transportadores,

    peças especiais, raspadores, removedores, aeradores, meio filtrante, dispositivos de

    entrada e saída; proteção dos corpos d´água receptores; e remoção parcial da carga

    poluidora, contribuindo para melhorar o desempenho das unidades subsequentes do

    tratamento.

    O gradeamento é feito por barras com diferentes espaçamentos entre elas, para remoção

    de sólidos grosseiros de variadas dimensões. Dependendo do espaçamento entre as

    barras, elas podem receber as seguintes classificações: grossas, médias, finas e

    ultrafinas.

    Segundo a NBR 12.209/2011, as grades grossas apresentam espaçamento variando entre

    40 e 100 mm, as médias com espaçamento de 20 a 40 mm e as finas, de 10 a 20 mm. As

    barras ultrafinas são chamadas, também de peneiras e são usadas para reter e remover os

  • 13

    resíduos mais finos. Segundo a NBR 12.209/2011, seu espaçamento varia de 0,25 a 10

    mm e devem ser precedidas de gradeamento.

    É importante ressaltar que as peneiras são de uso mais recente e mais indicadas para

    sistemas onde realmente é necessária a remoção de sólidos mais finos, como os reatores

    UASB, que apresentam grande possibilidade de formação de escuma (JORDÃO E

    PESSÔA, 2011).

    De acordo com Jordão e Volschan Jr. (2009), para a etapa preliminar de estações de

    tratamento de pequeno e médio porte, somente as grades finas são suficientes para a

    remoção de sólidos grosseiros.

    As grades devem ser limpas periodicamente, por processos manuais ou mecânicos.

    Ressalta-se que no caso dos sistemas de pequeno e médio porte, essa limpeza deve

    prioritariamente ser manual. Os resíduos grosseiros removidos nesta etapa devem ser

    dispostos em local adequado já que são responsáveis pela geração de maus odores e

    atração de insetos.

    As barras podem ser compostas de vários materiais, como as barras de ferro, de aço, aço

    inoxidável e de plástico. As barras em ferro e aço são sujeitas à corrosão,

    principalmente devido à ação do gás sulfídrico emanado como subproduto do processo

    natural de decomposição anaeróbia dos esgotos. Uma solução para evitar estes danos

    seria o uso de grades de aço inoxidável, contudo estas apresentam custo muito elevado.

    Neste contexto, as barras de plástico com fibra de vidro tornam-se uma opção mais

    viável técnica e economicamente para estações de tratamento de pequeno e médio porte

    (JORDÃO E VOLSCHAN JR., 2009).

    Desarenador

    Segundo Jordão e Pessôa (2011) é fundamental existir uma excelente remoção de areia

    prévia na fase preliminar do tratamento, já que a experiência com estações clássicas tem

    mostrado que é muito comum encontrar no interior dos digestores de lodo grandes

    quantidades de areia, obrigando muitas vezes o seu esvaziamento para remoção deste

    material. No caso dos reatores UASB para tratamento de esgotos, a presença de areia

  • 14

    traz consequências mais graves ainda, entupindo os orifícios e ramais de distribuição do

    esgoto.

    A areia presente no esgoto é basicamente proveniente da lavagem de áreas externas às

    residências e infiltrações na rede. A areia é constituída de areia, propriamente dita,

    cascalho, escória, silte e matéria orgânica putrescível, em menor quantidade. A remoção

    da areia, ou desarenação, tem por finalidade eliminar ou abrandar os efeitos adversos ao

    funcionamento das partes componentes das instalações a jusante e o impacto nos corpos

    receptores, como o assoreamento (VON SPERLING, 2005).

    A remoção da areia ocorre por um processo físico, onde o material inorgânico mais

    pesado se sedimenta e a matéria orgânica com partículas de dimensões inferiores passa

    para a próxima etapa do tratamento.

    A Figura 04 mostra o conjunto grades de barra e desarenador para o tratamento

    preliminar do Centro Experimental de Saneamento Ambiental da Universidade Federal

    do Rio de Janeiro (CESA Poli/UFRJ).

    Figura 04: Tratamento preliminar: grades de barra e

    desarenador tipo canal (fluxo horizontal e seção retangular)

    – CESA Poli/UFRJ. (Fonte: Acervo da autora).

  • 15

    A desarenação pode ocorrer por gravidade em unidades de fluxo horizontal ou ainda em

    caixas de areia aerada, com aeração mecânica ou por ar difuso. Ressalta-se que segundo

    Jordão e Volchan Jr. (2009), para sistemas de pequeno e médio porte, indica-se para

    remoção de areia, as unidades de fluxo horizontal.

    Neste caso, deve-se ter uma preocupação com a velocidade de passagem pelo

    desarenador por gravidade. Essa velocidade deve ser tal que permita a sedimentação da

    areia e não a da matéria orgânica. Para tanto, a NBR 12.209/2011, recomenda uma

    velocidade entre a faixa de 0,25 a 0,40 m/s.

    A combinação entre grade fina de barras, desarenador tipo canal e calha Parshall

    constitui-se no arranjo mais usualmente utilizado para o tratamento preliminar dos

    esgotos sanitários em estações de tratamento de pequeno e médio porte (JORDÃO E

    VOLSCHAN JR., 2009).

    Medidor de vazão – Calha Parshall

    Para a medição da vazão nas estações de tratamento de esgoto, ainda é comum o uso da

    calha Parshall, apesar de atualmente existirem outras tecnologias como medidores

    ultrassônicos e supersônicos. No caso de estações de pequeno e médio porte, essas

    últimas tecnologias não são indicadas pelo fato de apresentarem um custo mais elevado

    e ainda operação mais complexa.

    O funcionamento da calha Parshall se baseia numa combinação entre estrangulamento e

    ressalto hidráulico, onde é possível estabelecer, para uma determinada seção vertical a

    montante, uma relação entre a vazão do fluxo e a lâmina d’água naquela seção.

    As calhas Parshall são identificadas pela largura do seu estrangulamento, também

    conhecida como garganta. Assim, para cada garganta atribui-se uma faixa de vazão para

    dimensionamento e medição. Por exemplo, as calhas com garganta de 1” ou 2,54 cm

    devem ser utilizadas para unidades com vazões média, mínima e máxima, variando

    entre 0,3 e 5,0 L/s.

  • 16

    A Figura 05 mostra uma calha Parshall adotada como medidor de vazão na estação de

    tratamento de esgoto Teresina, em Teresina – PI, gerenciada pela companhia Águas e

    Esgotos do Piauí S.A. – AGESPISA (ETE TERESINA, AGESPISA).

    Figura 05: Medidor de vazão: calha Parshall– ETE

    Teresina, AGESIPA. (Fonte: Santos, 2012).

    3.3.2 Tratamento Primário

    Após a remoção dos sólidos grosseiros e da areia no tratamento preliminar, o efluente

    sanitário segue para o tratamento primário. Por meio de mecanismos de ordem física, o

    tratamento primário convencional tem por objetivo à remoção parcial dos sólidos em

    suspensão sedimentáveis e à remoção de sólidos flutuantes, como os óleos e graxas.

    Na unidade primária convencional, há uma redução de DBO, já que sólidos suspensos

    orgânicos são removidos por sedimentação. Assim, a eficiência de remoção de matéria

    orgânica fica entre 25 e 35% e de sólidos suspensos, entre 60 e 70% (VON SPERLING,

    2005).

    Ressalta-se ainda a importância dessa etapa antecedendo o tratamento secundário, onde

    a menor carga orgânica afluente é conveniente, já que se trata de uma etapa de custo

    mais elevado (VON SPERLING, 2005).

    GARGANTA

    RESALTO

    HIDRÁULICO

    SENTIDO DO

    FLUXO

  • 17

    As principais tecnologias usadas nesta etapa do tratamento são os decantadores

    primários convencionais, decantadores primários quimicamente assistidos e o reator

    UASB. Há ainda autores que classificam o reator UASB como primário avançado ou

    como parte do tratamento secundário. Dentre as tecnologias de sistema simplificado, o

    reator UASB é o principal ator e será abordado em um item específico (3.4.3).

    3.3.2.1 Decantador Primário

    No sistema de tratamento convencional usa-se a unidade de decantação por onde aflui o

    esgoto sanitário com velocidade que permita que a sedimentação dos sólidos suspensos

    formando no fundo dos decantadores o lodo primário. Ainda, na superfície líquida,

    ficam os materiais flutuantes, como óleos e graxas, formando a escuma.

    O lodo primário tem o teor de sólidos variando entre 2 e 5%, normalmente menos de

    4% (JORDÃO E PESSÔA, 2011), que assim como os materiais flutuantes, devem ser

    removidos e encaminhados para tratamento e destino final adequado. Já o efluente

    líquido do decantador deverá ser encaminhado para a próxima etapa, o tratamento

    secundário, pelo fato de normalmente não se enquadrar nas legislações vigentes que

    abordam o lançamento de efluentes em corpos d’água.

    A qualidade do efluente a ser encaminhado para a próxima etapa do tratamento irá

    depender da eficiência dos decantadores. Segundo Jordão e Pessôa (2011) tal eficiência

    está relacionada com a capacidade do tanque em permitir que os sólidos contidos nos

    esgotos sejam convenientemente sedimentados, sem que haja perturbação ou arraste

    destes sólidos antes de sua remoção ou transferência. Estas condições podem ser

    indicadas como:

    Condições de sedimentação: estão relacionadas à velocidade de sedimentação

    dos esgotos dentro do tanque, isto é, à taxa de escoamento superficial. A

    sedimentação relaciona-se, também, ao tempo de detenção no decantador. Deve-

    se ter em conta que tempos demasiadamente longos podem tornar o esgoto

    séptico, gerar maus odores e gases que afloram à superfície carreando junto

    partículas de lodo que se perderiam com o efluente.

  • 18

    Condições de retenção: devem ser estabelecidas de modo que o lodo retido não

    seja arrastado e relevantado pelo fluxo dos esgotos, procurando-se obter a maior

    concentração possível de sólidos no lodo.

    Segundo Jordão e Pessôa (2011), para ETEs primárias ou com filtros biológicos, tem

    sido usual limitar a taxa de aplicação superficial (TAS) nos decantadores convencionais

    a 60 m3/m2.d. Já, quando estes são seguidos de tratamento biológico por lodo ativado,

    são permitidos valores mais elevado de TAS, até 90 m3/m2.d. Mantendo-se assim taxas

    da ordem de 60 a 90 m3/m2.d a expectativa de remoção de SST é da ordem de 40 a

    50%, e de DBO de 25 a 30%.

    3.3.2.2 Decantadores Primários Quimicamente Assistidos

    Outra opção de tratamento na etapa primária é o denominado Tratamento Primário

    Quimicamente Assistido, ou Tratamento Primário Avançado ou “Chemical Enhanced

    Primary Treatment - CEPT”, que consiste na adição de reagentes químicos no efluente

    doméstico com o objetivo de promover a coagulação química e a floculação e acelerar a

    sedimentação nos decantadores.

    Segundo Von Sperling (2005) os coagulantes adicionados ao tratamento podem ser

    sulfato de alumínio, cloreto férrico ou outro, auxiliado ou não por um polímero. Nesta

    etapa, o fósforo pode ser, também removido por precipitação.

    Dessa forma, o tratamento primário avançado vem demonstrando ser aplicável por

    promover elevadas eficiências de remoção de sólidos e de DBO, 70 a 85% e 45 a 55%,

    respectivamente, quando comparados aos decantadores primários convencionais. Esta

    maior eficiência e o fato de aceitar elevadas taxas de vazão superficial resultam em

    economia nas dimensões e números de decantadores primários em uma estação de

    tratamento de esgoto doméstico (JORDÃO E PESSÔA, 2011).

    Jordão e Pessôa (2011), apresentam uma taxa de vazão superficial na faixa de 80 a 100

    m3/m

    2.d e a NBR 12.209/2011, recomenda o limite de 90 m

    3/m

    2.d.

  • 19

    Contudo, nos decantadores avançados há maior geração de lodo primário, devido a alta

    eficiência de remoção de sólidos suspensos do líquido, bem como da adição dos

    produtos químicos usados no processo (VON SPERLING, 2005). O aumento na

    geração de lodo pode ser uma desvantagem operacional e econômica quando

    comparado aos decantadores primários convencionais, uma vez que este aumento pode

    variar entre 15 a 30% de acordo com as características do esgoto, as taxas de vazão

    superficial, os reagentes e as dosagens aplicadas (JORDÃO E PESSÔA, 2011).

    Há que se ressaltar ainda, que o custo de operação dessas unidades também se eleva em

    função da aquisição, estocagem, transporte, aplicação de produtos químicos, e ao

    tratamento do lodo químico gerado.

    A Tabela 01 apresenta uma comparação entre as eficiências típicas com dosagens

    normais dos decantadores primários convencionais e os quimicamente assistidos.

    Tabela 01: Eficiências típicas dos decantadores convencionais e avançados com dosagens normais

    Processo Remoção de

    SST (%)

    Remoção de

    DBO (%)

    Remoção de

    DQO (%)

    Remoção de

    Fósforo (%)

    Primário

    Convencional

    40 -50 25 – 30 18 – 25 10 – 20

    Primário

    Avançado 70-85 45 – 55 30 – 50 50 – 90 *

    Fonte: Jordão e Pessôa (2011)

    *com dosagens elevadas

    3.3.3 Tratamento Secundário

    A NBR 12.209/2011 define o tratamento secundário como sendo o conjunto de

    operações e processos que visam principalmente à remoção da matéria orgânica,

    ocorrendo tipicamente após o tratamento primário, normalmente com uma eficiência de

    remoção de sólidos suspensos totais e DBO de cerca 80% e 90%, respectivamente.

    A matéria orgânica a ser removida no tratamento secundário é composta pela fração

    dissolvida e pelos sólidos de sedimentabilidade mais lenta, remanescentes dos processos

    primários.

  • 20

    Para que ocorra a degradação destes elementos, a essência do tratamento secundário

    está na inclusão de uma parte biológica no tratamento do esgoto doméstico,

    principalmente para a remoção da matéria orgânica. Os principais atuantes nesta fase do

    tratamento serão os microrganismos aeróbios, anaeróbios e/ou os facultativos (ReCESA

    1, 2008).

    Dentre a grande variedade de microrganismos que tomam parte no processo citam-se: as

    bactérias, os protozoários e os fungos. A base de todo o processo biológico é o contato

    efetivo entre os microrganismos e o material orgânico presente nos esgotos, de tal forma

    que esse possa ser utilizado como alimento pelos microrganismos. Conforme

    apresentado na Figura 06, os microrganismos converterão a matéria orgânica em gás

    carbônico, água e material celular (crescimento e reprodução dos microrganismos).

    Quando em condições anaeróbias, tem se também a produção do gás metano. Para

    favorecer a decomposição biológica do material orgânico é necessário a manutenção de

    condições ambientais favoráveis, como temperatura, pH, tempo de detenção e outros. E

    em condições aeróbias é preciso que o oxigênio esteja presente em quantidade suficiente

    para as atividades microbióticas (VON SPERLING, 2005).

    Bactérias

    Bactérias + matéria orgânica Água + Gás carbônico (+ metano, em condições anaeróbias)

    Figura 06: Esquema simplificado do metabolismo bacteriano. (Fonte: VON SPERLING, 2005).

    Dentre as principais tecnologias utilizadas no tratamento secundário, destacam-se os

    processos de biomassa suspensa, tais como lodo ativado e suas variantes; e aderida, tais

    como os filtros em geral: filtro aerado submerso, biofiltro aerado submerso, filtro

    biológico percolador, dentre outros. Ainda, deve-se atentar para as lagoas de

    estabilização, sendo estes processos amplamente utilizados no nordeste e no centro-

    oeste brasileiros.

    Ressalta-se, que processos de disposição no solo, reatores anaeróbios, lagoas de

    estabilização, dentre outros, serão abordados com mais ênfase no item 3.4, que trata de

    tecnologias e fluxogramas de tratamento simplificado

  • 21

    3.3.3.1 Processo Biológico com Biomassa Suspensa - Lodo ativado

    Lodo ativado é o floco produzido num esgoto ou decantado pelo crescimento de

    bactérias (zoogleias) ou outros organismos, na presença de oxigênio dissolvido, e

    acumulado em concentrações suficientes graças ao retorno de outros flocos previamente

    formados (JORDÃO E PESSÔA, 2011).

    Assim, como característica principal do tratamento secundário, o processo de lodo

    ativado é biológico, onde o esgoto afluente e o lodo ativado são intimamente

    misturados, agitados e aerados (em unidades chamadas tanques ou reator de aeração),

    para logo após se separar os lodos ativados do esgoto (por sedimentação em

    decantadores).

    No reator aerado ocorrem as reações bioquímicas de remoção da matéria orgânica e, em

    determinadas condições, de nitrogênio e de fósforo. A biomassa se utiliza do substrato

    presente no esgoto afluente para se desenvolver. No decantador secundário ocorre a

    sedimentação dos sólidos (biomassa), permitindo que o efluente final saia clarificado.

    Parte dos sólidos sedimentados no fundo do decantador secundário (chamado de lodo

    secundário ou biológico) é recirculado para o reator, para se manter uma desejada

    concentração de biomassa no mesmo, a qual é responsável pela elevada eficiência do

    sistema, PROSAB (CHERNICHARO et al., 2001). Outra parcela do lodo, em menor

    quantidade, é retirada para tratamento específico ou destino final, o chamado lodo em

    excesso.

    A Figura 07 apresenta o fluxograma convencional de lodo ativado, tanto para a fase

    líquida, como para a fase sólida.

  • 22

    Figura 07: Fluxograma típico do sistema de lodos ativados convencional. Fase líquida na parte superior da imagem

    e fase sólida na parte inferior da imagem. (Fonte: VON SPERLING, 2005).

    O sistema de lodo ativado é amplamente utilizado, em nível mundial, para o tratamento

    de águas residuárias domésticas e industriais, em situações em que uma elevada

    qualidade do efluente é necessária e a disponibilidade de área é limitada. No entanto, o

    sistema de lodo ativado inclui um índice de mecanização superior ao de outros sistemas

    de tratamento, implicando em operação mais sofisticada e onerosa. Outros fatores que

    se apresentam como desvantagens quanto ao uso do lodo ativado são o consumo de

    energia elétrica para aeração e a maior produção de lodo, PROSAB (CHERNICHARO

    et al., 2001).

    A alta eficiência dos sistemas de lodo ativado se deve a maior permanência dos sólidos

    no sistema, já que a biomassa tem tempo suficiente para metabolizar toda a matéria

    orgânica dos esgotos.

    A elevada concentração dos sólidos em suspensão no tanque de aeração é em virtude da

    recirculação do lodo. Neste, o tempo de detenção do líquido (tempo de detenção

    hidráulica) é baixo, da ordem de horas, implicando em que o volume do reator seja bem

    reduzido. No entanto, devido à recirculação dos sólidos, estes permanecem no sistema

    por um tempo superior ao do líquido. Este é chamado de retenção dos sólidos ou idade

    do lodo, e é definido como a relação entre a quantidade de lodo biológico existente no

  • 23

    reator e a quantidade de lodo biológico removida do sistema de lodo ativado por dia,

    PROSAB (CHERNICHARO et al., 2001).

    De acordo com a idade do lodo, com o fluxo do sistema e o nutriente a ser removido o

    sistema de lodo ativado apresenta variantes. Neste trabalho citam-se o lodo ativado

    convencional, a alta capacidade e a aeração prolongada.

    A Tabela 02 apresenta as principais características e as eficiências das variantes do lodo

    ativado.

    Tabela 02: Características e eficiências das variantes do lodo ativado

    Processo Característica Nitrificação e

    desnitrif.

    Remoção

    de DBO

    (%)

    Tempo de

    detenção

    (h)

    Idade

    do lodo

    (dias)

    Convencional Processo básico Possível 85 - 95 4 – 8 4 - 15

    Alta

    capacidade

    Recebe carga de DBO

    elevada em presença de

    concentração elevada de

    sólidos

    Não 80 - 90 1 – 2 2 – 4

    Aeração

    prolongada

    Estações compactas, com

    de decantação primária Sim 90 - 95 16 – 36 20 – 30

    Adaptada: Jordão e Pessôa (2011)

    A nitrificação ao longo do processo de lodo ativado poderá ou não ocorrer. Quando esta

    transformação não se dá totalmente, o efluente lançado continuará a demandar oxigênio

    no corpo d’água. No Brasil, as condições de clima quente são favoráveis à ocorrência de

    nitrificação na própria estação de tratamento de esgoto, sendo assim é mais interessante

    prover-se a quantidade de oxigênio necessária para atender a demanda nitrogenada já no

    tanque de aeração, de modo que esta não venha a ocorrer no corpo receptor. Já a

    remoção de fósforo exige que os sistemas de lodo ativado sejam especificamente

    dimensionados para tal atividade, a qual será realizada por microrganismos específicos

    (JORDÃO E PESSÔA, 2011).

    Com relação à remoção de coliformes e organismos patogênicos, devido aos reduzidos

    tempos de detenção nas unidades do sistema de lodo ativado, tem-se que a eficiência é

    baixa e usualmente insuficiente para atender aos requisitos de qualidade dos corpos

  • 24

    receptores. Esta baixa eficiência é típica também de outros processos compactos de

    tratamento de esgotos, PROSAB (CHERNICHARO et al., 2001).

    3.3.3.2 Processo Biológico com Biomassa Aderida

    Este item apresenta os processos biológicos aeróbios com biomassa aderida, ou seja,

    filtros que usam meios suportes para que a biomassa cresça aderida a eles. São sistemas

    aeróbios onde o ar, de maneira natural ou forçada, circula nos espaços vazios entre o

    meio suporte, fornecendo o oxigênio para a respiração dos microrganismos.

    Na maioria dos casos de filtração biológica de esgoto, apesar do que sugere o nome, a

    função primária não é a de filtrar, uma vez que os diâmetros dos meios suportes

    utilizados são da ordem de alguns centímetros, permitindo um grande espaço de vazios,

    ineficientes para o ato de filtração por peneiramento. Deste modo, a função do meio é a

    de somente fornecer suporte para a formação da película microbiana. Somente no caso

    dos biofiltros aerados submersos, que utilizam meio suporte granular com diâmetros da

    ordem de milímetros, acontece a filtração propriamente dita.

    O material para o meio suporte depende principalmente da disponibilidade local de

    material adequado e de seus custos de transporte e montagem. Tradicionalmente, têm

    sido usados pedregulhos, cascalhos, escórias de fornos de fundição e outros materiais

    inertes (JORDÃO E PESSÔA, 2011). Porém, atualmente, têm se dado preferência ao

    uso de meios de suporte sintéticos, como o plástico (PVC), os quais apresentam a

    vantagem de serem mais leves e terem uma área superficial de exposição bem superior

    aos meios de suporte tradicionais. Contudo, são mais caros. Este custo deve ser levado

    em conta na construção das estações de tratamento de esgoto.

    Os filtros biológicos possuem variantes de acordo com a carga a ser aplicada e o tipo de

    recirculação a ser adotada. Dentre estas variantes, a NBR 12.209 cita: filtro biológico

    percolador, filtro aerado submerso, biofiltro aerado submerso e biodisco ou rotor

    biológico de contato e suas variantes.

    Segundo Von Speling (2005), todos estes sistemas podem ser usados como pós-

    tratamento de efluente de reatores anaeróbios. Neste caso, os decantadores primários

  • 25

    são substituídos pelos reatores anaeróbios, e o lodo excedente da etapa aeróbia, caso não

    esteja ainda estabilizado, é retornado ao reator anaeróbio, onde sofre adensamento e

    digestão. Estes casos serão citados nos sistemas simplificados.

    A seguir, serão descritas as tecnologias de filtração biológica, exceto o filtro biológico

    percolador, que tem maior aplicabilidade nos fluxogramas de sistemas simplificados e,

    dessa forma, serão descritos no item 3.4.

    Biofiltros Aeróbios Submersos (BAS) e Filtro Aerado Submerso (FAS)

    Por serem tecnologias mais recentemente aplicadas no Brasil, há uma confusão em

    relação aos conceitos das tecnologias de biofiltro aerado submerso e filtro aerado

    submerso. Inclusive, na nova NBR 12.209/2011, em seu item “3. Termos e Definições”,

    pode-se perceber a inversão de conceitos para ambos, e sua correta definição mais

    adiante, nos itens específicos “6.5.3 Filtro Aerado Submerso” e “6.5.4 Biofiltro Aerado

    Submerso”.

    Os biofiltros aeróbios submersos, ou biofiltros aerados submersos (BAS), constituem

    uma unidade de filtração biológica aerada, em parte semelhante aos filtros biológicos

    clássicos por ocorrer uma percolação com eliminação biológica dos poluentes, e em

    parte semelhante aos filtros rápidos clássicos usados em tratamento de água, por ocorrer

    um processo de filtração física com retenção de partículas sólidas (JORDÃO E

    PESSÔA, 2011). O processo de lavagem dos biofiltros aerados submersos também é

    uma característica que se assemelha aos filtros rápidos usados no tratamento da água,

    sendo que este ocorre por contra lavagem.

    Segundo Von Sperling (2005), o fluxo de ar no biofiltro aerado submerso é sempre

    ascendente ao passo que o fluxo do líquido pode ser ascendente ou descendente. O meio

    do BAS pode ser granular, onde se realiza ao mesmo tempo a remoção de compostos

    orgânicos solúveis e de partículas em suspensão presentes nos esgotos. Além de servir

    de meio suporte para os microrganismos, o material granular constitui-se num eficaz

    meio filtrante.

  • 26

    De acordo com Jordão e Pessôa (2011), os biofiltros aerados submersos apresentam

    elevada eficiência, tendo-se obtido efluentes com concentração de DBO e de sólidos em

    suspensão menor que 20 mg/l, e de acordo com as características do projeto, o processo

    pode-se dar na fase de nitrificação-desnitrificação.

    A Figura 08 representa o fluxograma de um sistema convencional de tratamento de

    esgoto que adota o biofiltro aerado submerso.

    Figura 08: Fluxograma típico de um sistema convencional com biofiltro aerado submerso (Fonte: VON SPERLING,

    2005).

    Uma variação do biofiltro aerado submerso é a tecnologia denominada filtro aerado

    submerso (FAS). O FAS, assim como no filtro biológico percolador, apresenta um meio

    filtrante fixo de plástico ou pedra britada, não realizando, portanto, a filtração física.

    Devido a esse fato, o FAS não possui o processo de contra lavagem e,

    consequentemente, não remove os sólidos em suspensão presentes no esgoto,

    necessitando da existência de um decantador secundário subsequente para a

    sedimentação do lodo.

    Portanto, se por um lado se perde pela construção de outra unidade no sistema, por

    outro lado se ganha no aspecto operacional, pela supressão das operações de contra

    lavagem e injeção de ar, que tornam a operação e a instrumentação mais complexas e de

    maio custo.

    Na Tabela 03 encontram-se apresentadas as principais diferenças entre o FAS e o BAS.

  • 27

    Tabela 03: Principais diferenças entre o FAS e BAS

    Filtro Aerado Submerso (FAS) Biofiltro Aerado Submerso (BAS)

    Filtro Aerado

    Submerso

    Decantado

    Secundário

    Ef luente

    tratado

    Biof iltro aerado submerso

    Tanque de lodo de

    lavagem

    Ef luente

    tratado

    Meio suporte estruturado com diâmetros da ordem de

    centímetros

    Meio suporte granular com diâmetros da ordem de

    milímetros (2 a 6 mm)

    Remoção de matéria orgânica por oxidação bioquímica

    somente

    Remoção de matéria orgânica por oxidação bioquímica

    e filtração

    A biomassa se desprende naturalmente sem a

    necessidade de lavagem

    Necessidade de lavagem periódica

    Necessidade de decantação secundária Não há necessidade de decantação secundária

    Biodiscos

    O processo de biodiscos consiste de uma série de discos ligeiramente espaçados,

    montados num eixo horizontal. O eixo gira mantendo uma parte dos discos submersos

    pelo esgoto e uma parte exposta ao ar. Nos discos a biomassa cresce aderida formando

    o biofilme.

    A Figura 09 representa o fluxograma de tratamento convencional de esgoto com a

    aplicação dos biodiscos.

    Figura 09: Fluxograma típico de um sistema com biodiscos. (Fonte: VON SPERLING, 2005)

  • 28

    Quando o sistema é colocado em operação, os microrganismos no esgoto começam a

    aderir às superfícies rotativas, e ali crescem até que toda superfície do disco esteja

    coberta por uma fina camada biológica, com poucos milímetros de espessura. Quando o

    biofilme atinge certa espessura ele se desprende do disco devido ao seu próprio peso,

    formando o lodo, que deve ser removido no decantador secundário. Os biodiscos são

    utilizados principalmente para o tratamento de esgotos de pequenas comunidades,

    atingindo boa eficiência na remoção de DBO, com nível de operação moderado, porém,

    ainda apresenta custos elevados de implantação (VON SPERLING, 2005).

    3.3.4 Tratamento Terciário

    O tratamento terciário é adotado em alguns fluxogramas de estações de tratamento de

    esgoto doméstico com o objetivo de remover organismos patogênicos, nutrientes e

    outros poluentes específicos. Contudo, esta última etapa de tratamento da fase líquida

    do esgoto é pouco comum nas estações de tratamento de esgoto do Brasil (ReCESA 2,

    2008).

    Para implantação de uma efetiva barreira de controle de agentes transmissores de

    doenças infecciosas em que o contato humano com esgotos é provável, os processos de

    desinfecção de esgotos são, em geral, a prática mais segura e de menor custo. A

    desinfecção de esgotos tem por objetivo a inativação seletiva dos organismos que

    ameaçam a saúde humana, de acordo com os padrões de qualidade estabelecidos para as

    diferentes situações. Sua inserção no fluxograma de uma estação de tratamento pode se

    dar de forma específica, pela construção de uma etapa exclusiva para a desinfecção,

    tratamento terciário por processos artificiais, ou por intermédio da adaptação de

    processos existentes para realizar, dentre outras tarefas, também a desinfecção, por

    processos naturais, PROSAB (GONÇALVES, 2003).

    Segundo Gonçalves (2003) a desinfecção natural ou artificial utiliza, isoladamente ou de

    forma combinada, agentes físicos e químicos para inativar os organismos-alvo. No caso

    dos processos naturais, há, ainda, a ação de agentes biológicos na inativação de

    patógenos.

  • 29

    O autor cita, entre os agentes físicos, a transferência de calor (aquecimento ou

    incineração), as radiações ionizantes, a radiação ultravioleta (UV) e a filtração em

    membranas. E como processos naturais a infiltração no solo e as lagoas de estabilização,

    como a lagoa de maturação e a lagoa de polimento.

    As lagoas de estabilização são processos utilizados para a remoção de matéria orgânica,

    mas quando efetuadas algumas adaptações em seus fluxogramas, no número e na

    geometria, estas podem alcançar elevadíssimas eficiências de remoção de organismos

    patogênicos, de até 4 unidades log, ou seja 99,99%, segundo Von Sperling (2005). Os

    principais fatores naturais que atuam como agentes desinfetantes nestas lagoas são:

    temperatura, insolação, pH, escassez de alimento, organismos predadores, compostos

    tóxicos e elevada concentração de oxigênio dissolvido. No caso de cisto de protozoários

    e ovos de helmintos, o principal mecanismo é a sedimentação.

    A remoção dos nutrientes, nitrogênio (N) e fósforo (P), nas estações de tratamento está

    diretamente relacionada aos impactos causados nos corpos receptores. Uma vez que a

    presença de um destes nutrientes pode culminar na eutrofização do corpo hídrico,

    principalmente em corpos lênticos.

    A eutrofização pode causar danos aos corpos receptores, citando-se como exemplo:

    problemas estéticos e recreacionais; condições anaeróbias no fundo do corpo d’água;

    eventuais mortandades de peixes; maior dificuldade e elevação nos custos de tratamento

    da água; problemas com o abastecimento de águas industrial; toxicidade das algas;

    redução na navegação e capacidade de transporte. Além disso, a amônia pode causar

    problemas de toxicidade aos peixes e implicar em consumo de oxigênio dissolvido. Em

    termos de águas subterrâneas, a maior preocupação é com o nitrato, que pode

    contaminar águas utilizadas para abastecimento, podendo causar problemas de saúde

    pública, PROSAB (MOTA E VON SPERLING, 2009).

    Segundo PROSAB (MOTA E VON SPERLING, 2009) os sistemas convencionais de

    tratamento biológico de esgoto, que são projetados, visando, principalmente, à remoção

    de matéria orgânica, resultam em efluentes com concentrações de nitrogênio e fósforo

    próximas às do esgoto bruto. Esse problema é agravado quando a diluição do esgoto no

    corpo receptor é baixa. Portanto, os autores sugerem que se busquem alternativas de

  • 30

    tratamento de esgoto que resultem em maior remoção de nitrogênio e fósforo,

    complementando os sistemas usuais de tratamento.

    No entanto, deve-se lembrar de que nem sempre é desejada a remoção destes

    constituintes (P e N). No caso da utilização do efluente tratado para irrigação, pode ser

    interessante a preservação de N e P, os quais, em dosagens adequadas, são nutrientes

    para a cultura irrigada (VON SPERLING, 2005).

    3.4 Tecnologias de Sistema Simplificado de Tratamento de Esgoto

    Uma vez que a remoção de DBO se torna, de certa forma, mais custosa no tratamento

    secundário (VON SPELING, 2005), os fluxogramas dos sistemas simplificados de

    tratamento de esgotos buscam aumentar a eficiência de remoção de sólidos em

    suspensão e da matéria orgânica ainda na primeira unidade do tratamento, utilizando

    reatores anaeróbios e tornando a etapa seguinte menos custosa.

    Segundo, PROSAB (CHERNICHARO et al., 2001), com a comprovação das vantagens

    econômicas decorrentes do uso de reatores anaeróbios para o tratamento de esgotos

    sanitários, mesmo quando associados a tratamentos complementares aeróbios, para se

    obter um efluente de melhor qualidade, e especialmente agora, em épocas de escassez

    de energia no país (o que é uma realidade ainda nos dias atuais), o uso de reatores

    anaeróbios vem ganhando cada vez maior destaque. Além disso, os reatores anaeróbios

    são bem dominados tecnicamente e começam a ser mais intensamente aplicado no

    tratamento de esgotos sanitários, normalmente seguido de um tratamento complementar

    para atender às exigências da legislação ambiental em vigor.

    Ressalta-se que a citação anterior, de PROSAB (CHERNICHARO et al., 2001) em

    relação à aplicabilidade dos reatores anaeróbios no Brasil, tornou-se realidade e

    números correspondentes à implantação desses sistemas pelas principais companhias de

    saneamento serão apresentados no item 4 “Metodologia” do presente trabalho.

    A histórica utilização e reconhecida eficiência elevada de processos aeróbios

    mecanizados, como os sistemas de lodo ativado e filtração biológica, tem evoluído pela

    inclusão de etapa de tratamento anaeróbio prévio, representada principalmente pelos

  • 31

    reatores UASB. Nestas novas concepções, o sistema de tratamento ganha maior

    racionalidade, economizando em energia elétrica e produzindo quantidade de lodo

    substancialmente menor, dentre outras vantagens PROSAB (FLORENCIO, BASTOS E

    AISSE, 2006).

    Neste cenário, destaca-se o grande ator dos sistemas simplificados, o reator UASB, um

    sistema anaeróbio que vêm demonstrando grande aplicabilidade para qualquer

    população esgotada, com eficiência de remoção de DBO razoavelmente boa e a um

    custo relativamente baixo, PROSAB (CHERNICHARO et al., 2001). Haja vista a

    implantação da 1ª etapa da ETE-Onça pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais

    (COPASA), composta por reatores UASB em 2007 e sua expansão em 2010 com

    unidades de filtração biológica, para atendimento de uma população em torno de 1,0

    milhão de habitantes (COPASA, 2014).

    Portanto, nos sistemas simplificados de tratamento de esgotos, a qualidade esperada do

    efluente no final de todas as etapas do tratamento é semelhante à proporcionada pelos

    sistemas convencionais, porém com menores custos e maior sustentabilidade (ReCESA

    1, 2008).

    Conforme já apresentado no item “Introdução” do presente trabalho, os sistemas

    simplificados atualmente adotados pelo ReCESA (2, 2008) e descritas nos próximos

    itens são:

    Lagoas de estabilização seguida por lagoa de maturação

    Tanque séptico seguido por filtro anaeróbio;

    Reator UASB seguido por filtro biológico percolador;

    Reator UASB seguido por filtro anaeróbio;

    Reator UASB seguido por lagoas de polimento; e

    Reator UASB seguido por aplicação superficial no solo.

  • 32

    3.4.1 Lagoas de Estabilização + Lagoa de Maturação

    Segundo Jordão e Pessôa (2011) as lagoas de estabilização são sistemas de tratamento

    biológico em que a estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação

    bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação anaeróbia) e/ou redução fotossintética

    das algas. E Von Sperling (2005) apresenta as seguintes variantes das lagoas de

    estabilização: lagoas facultativas, sistemas de lagoas anaeróbias – lagoas facultativas,

    lagoas aeradas facultativas, sistemas de lagoas aeradas de mistura completa – lagoas de

    sedimentação, lagoas de alta taxa, lagoas de maturação, lagoas de polimento.

    Mais adiante na análise de dados fornecidos pelas companhias de água e esgoto, todas

    as lagoas de estabilização serão consideradas como sistemas simplificados, exceto, as

    lagoas que necessitam de aeração, o que promove um aumento no custo de operação e

    manutenção.

    Para os fluxogramas de lagoa anaeróbia seguida por lagoa facultativa, projeto ReCESA

    (2, 2008), descreve, de forma simplificada a função de cada uma no processo de

    tratamento. A maior parte da DBO do esgoto é removida na lagoa anaeróbia (mais

    profunda e com menor volume); na lagoa facultativa, predominam as bactérias

    facultativas, capazes de adaptação aos ambientes aeróbios (mais à superfície) e

    anaeróbios (no fundo das lagoas), o oxigênio necessário à estabilização da matéria

    orgânica é fornecido, em grande parte, por algas que realizam a fotossíntese; e nas

    lagoas de maturação, com a carga orgânica já bastante reduzida, a fotossíntese ocorre

    em grande intensidade, estabelecendo, assim, um ambiente com elevados teores de OD

    e as condições ambientais favorecem a remoção de organismos patogênicos e podem

    alcançar eficiência relativamente elevada de remoção de nitrogênio.

    Segundo Jordão e Pessôa (2011) o sistema em série, de lagoa facultativa precedida por

    lagoas anaeróbias recebem o nome de “sistema australiano” e apresentam algumas

    vantagens, como: a área resultante da soma das áreas superficiais das duas lagoas em

    série é menor que a área de uma única lagoa facultativa equivalente (pois o efluente à

    lagoa facultativa já terá sofrido uma remoção de DBO de pelo menos 50% na lagoa

    anaeróbia); a primeira lagoa sendo anaeróbia favorece a que exista melhor capacidade

  • 33

    de absorção de alguma “carga de choque” afluente; e a acumulação de sólidos se dá

    primeiramente na lagoa anaeróbia, que é mais profunda, favorecendo este aspecto.

    A Figura 10 representa o primeiro fluxograma completo de sistema simplificado: lagoas

    de estabilização seguida de lagoa de maturação. Ressalta-se que em alguns casos, a

    lagoa anaeróbia pode ser suprimida, utilizando-se a lagoa facultativa como primária e

    secundária.

    Figura 10: Fluxograma de um sistema simplificado composto de reator Lagoas Facultativas + Lagoa de Maturação

    (Fonte: ReCESA 2, 2008).

    Em uma pesquisa na região sudeste do Brasil, as lagoas nos sistemas em série

    apresentaram maior eficiência de remoção de DBO, em torno de 82%, com relação as

    lagoas facultativas primárias, que apresentaram uma média de remoção de 74%

    (JORDÃO E PESSOA, 2011).

    De maneira geral, as lagoas de estabilização são bastante indicadas para regiões de

    clima quente e países em desenvolvimento, pelos seguintes aspectos: suficiente

    disponibilidade de área em um grande número de localidades; clima favorável

    (temperatura e insolação elevadas); operação simples; necessidade de poucos ou

    nenhum equipamento; e custos de implantação e operação reduzidos, PROSAB

    (GONÇALVES, 2003).

    Ainda, como vantagem das lagoas, Von Sperling (2005), caracteriza a simplicidade da

    construção destas, baseando-se principalmente em movimento de terra (corte e aterro) e

    preparação dos taludes. Característica esta, importante dentro do conceito dos sistemas

    simplificados, que buscam menor gasto com a implantação da estação de tratamento.

  • 34

    Lagoa Facultativa

    No fluxograma apresentado na Figura 10, as lagoas facultativas recebem o nome de

    lagoas secundária, uma vez que recebe o afluente de uma unidade de tratamento a

    montante, e não o esgoto bruto.

    Segundo Von Sperling (2005), dentre os sistemas de lagoas de estabilização, o processo

    de lagoas facultativas é o mais simples, dependendo unicamente de fenômenos

    puramente naturais. O esgoto afluente entra continuamente em uma extremidade da

    lagoa e sai continuamente na extremidade oposta. Ao longo deste percurso, que demora

    vários dias, usualmente superior a 20 dias, uma série de eventos contribui para a

    purificação dos esgotos.

    Na lagoa facultativa, parte da matéria orgânica em suspensão tende a sedimentar, vindo

    a constituir o lodo de fundo. Este lodo sofre o processo de decomposição por

    microrganismos anaeróbios, sendo convertido em gás carbônico, metano e outros

    compostos. A fração inerte permanece na camada de fundo. Já a matéria orgânica

    dissolvida e parte da matéria orgânica em suspensão, que não sedimentaram,

    permanecem dispersas na massa líquida. A sua decomposição se dá através de bactérias

    facultativas. Essas bactérias utilizam-se da matéria orgânica como fonte de energia,

    alcançada através da respiração. Na respiração aeróbia, há a necessidade da presença de

    oxigênio, o qual é suprido ao meio pela fotossíntese realizada pelas algas. Há, assim um

    perfeito equilíbrio entre o consumo de oxigênio e a produção de gás carbônico (VON

    SPERLING, 2005).

    Outra fonte de oxigênio é a sua difusão da atmosfera para a superfície líquida, porém as

    algas são as responsáveis pela produção da maior parte do oxigênio nas lagoas

    (JORDÃO e PESSÔA, 2011). Portanto, para que ocorra o processo de fotossíntese é

    necessário uma fonte luminosa, neste caso representada pelo sol. Por esta razão, locais

    com elevada radiação solar e baixa nebulosidade são bastante propícios a implantação

    de lagoas facultativas.

    Por ser um processo natural, sem a necessidade de nenhum equipamento, a estabilização

    da matéria orgânica se processa em taxas mais lentas, necessitando de um elevado

  • 35

    período de detenção (usualmente superior a vinte dias). A fotossíntese, para que seja

    efetiva, requer uma elevada área de exposição. Desta forma, a área total requerida pelas

    lagoas facultativas é grande, da ordem de 2,0 a 4,0 m2/habitante. Porém, o fato de ser

    um processo totalmente natural está associado a uma maior simplicidade operacional,

    fator fundamental em países em desenvolvimento (VON SPERLING, 2005).

    Lagoas Anaeróbias – Lagoa Facultativas

    As lagoas anaeróbias são geralmente utilizadas precedendo lagoas facultativas. Não

    existe basicamente um limite de população para a sua utilização, desde que se tenha

    área e solo adequados à sua implantação. Quando se tem essas condições, as lagoas

    resultam no sistema de tratamento mais econômico (R$ 30,00 a R$ 75,00 por habitante

    para implantação - VON SPERLING, 2005) e, por isso mesmo, são bastante utilizadas.

    Por problemas de odores (liberação de gás sulfídrico), recomenda-se que as lagoas

    anaeróbias estejam a, pelo menos, 500 metros de residências, PROSAB

    (CHERNICHARO et al., 2001).

    O uso de lagoas anaeróbias precedendo lagoas facultativas é claramente vantajoso. Von

    Sperling (2005) destaca que para o sistema australiano, a demanda de área é de 1,5 a 3,0

    m2/habitante, enquanto para lagoa facultativa somente, a demanda é de 2,0 a 4,0

    m2/habitante, conforme citado anteriormente.

    No fluxograma apresentado na Figura 10, a lagoa anaeróbia pode ser denominada de

    lagoa primária, visto que recebe o esgoto bruto. O esgoto entra numa lagoa de menores

    dimensões e mais profunda. Devido às menores dimensões dessa lagoa, a fotossíntese

    praticamente não ocorre. No balanço entre o consumo e a produção de oxigênio, o

    consumo é amplamente superior. Predominam, portanto, condições anaeróbias nessa

    primeira lagoa, lagoa anaeróbia (VON SPERLING, 2005).

    Pelo fato de as bactérias anaeróbias apresentarem uma taxa metabólica e de reprodução

    menor que as bactérias aeróbias, para um período de apenas dois a cinco dias na lagoa

    anaeróbia, a decomposição da matéria orgânica é parcial. A remoção se dá em torno de

    50 a 70%, que apesar de ser insuficiente, representa uma grande contribuição, aliviando

    sobremaneira, a carga para a lagoa facultativa a jusante. A diminuição na carga orgânica

  • 36

    faz com que as dimensões da lagoa facultativa possam ser menores, resultando em

    menor uso de área pelo sistema em série (VON SPELING, 2005).

    Contudo, devido ao volume relativamente pequeno da lagoa anaeróbia e por ela receber

    esgoto bruto, há maior acúmulo de lodo, o que resulta na necessidade de sua remoção

    no intervalo de alguns anos. A remoção do grande volume de lodo, assim como sua

    disposição, requer cuidados específicos, sendo que estes devem ser levados em

    consideração na concepção do sistema (VON SPERLING, 2005).

    Lagoa de Maturação

    As lagoas de maturação são usadas ao final de um sistema clássico de lagoas de

    estabilização ou ao final de qualquer sistema de tratamento de esgotos com o objetivo

    principal de remover organismos patogênicos, e não da remoção adicional de DBO. As

    lagoas constituem-se numa alternativa bastante econômica à desinfecção dos efluentes

    por métodos mais convencionais, como a cloração (VON SPERLING, 2005).

    Diversos fatores contribuem para a mortandade dos agentes patogênicos: temperatura,

    insolação, pH, escassez de alimento, organismos predadores, competição, compostos

    tóxicos. Portanto a lagoa de maturação é dimensionada de forma a fazer uma utilização

    ótima destes mecanismos. Como exemplo, as lagoas de maturação, são usualmente

    projetadas com baixas profundidades (menos de um metro), de forma a maximizar a

    fotossíntese e os efeitos bactericidas da radiação UV.

    Lagoas de maturação não têm custos de energia ou de produtos químicos, sendo

    altamente indicadas como parte de um conjunto de lagoas em série. Sua limitação está

    na possível falta de área disponível e nos próprios custos construtivos, que se tornam

    elevados à medida que cresce a vazão de esgotos, PROSAB (GONÇALVES, 2003).

    As lagoas de maturação são, sem dúvida, uma alternativa muito econômica e simples,

    visando à desinfecção. Considerando um sistema em série, e seu posicionamento a

    jusante de uma lagoa facultativa, ou mesmo de reatores UASB e outros tratamentos

    mais compactos, é possível obter eficiência de remoção de coliformes de até 99,9999%

    ou, 6 unidades logarítmicas, para o conjunto de lagoas, PROSAB (GONÇALVES,

  • 37

    2003). Essa eficiência atende ao recomendado, (entre 99,9 a 99,999%), para que possam

    ser cumpridos padrões ou recomendações usuais para utilização direta do efluente para

    irrigação, ou para a manutenção de diversos usos no corpo receptor.

    Na Figura 11, pode ser observada uma fotografia de um fluxograma completo de lagoas,

    que contempla uma lagoa anaeróbia, seguida de outra facultativa e por fim uma de

    maturação. Este é o sistema implantado em 2009 pela Companhia de Saneamento

    Básico do Estado de São Paulo (SABESP), no município de Monte Aprazível.

    Figura 11: Estação de tratamento de esgoto do município de Monte Aprazível – São Paulo (Fonte:

    http://meioambiente.monteaprazivel.sp.gov.br/default.asp?page=diretivas.asp&page2=diretivas__esgoto_tratado.a

    sp)

    3.4.2 Tanque Séptico + Filtro Anaeróbio

    O tanque séptico apresenta limitação para a remoção da matéria orgânica, por isto, mais

    recentemente, este passou a ser seguido e associado a um filtro anaeróbio,

    possibilitando o incremento da eficiência do processo como um todo (JORDÃO E

    VOLSCHAN JR., 2009).

    Devido ao fato desse sistema ser extremamente simples de se construir e operar, a

    combinação de tanque séptico seguido de filtro anaeróbio (também chamados de

    sistema fossa–filtro) tem tido uso intensivo, PROSAB (CHERNICHARO et al., 2001).

    Lagoa Anaeróbia

    Lagoa Facultativa

    Lagoa de Maturação

  • 38

    A simplicidade operacional do sistema consiste no fato deste não empregar qualquer

    tipo de equipamento eletromecânico e nem estação elevatória de esgoto bruto ou

    qualquer outra unidade (JORDÃO E VOLSCHAN JR., 2009). Estas características

    fazem com que o sistema fossa-filtro sejam amplamente utilizado para atendimento

    unifamiliar e de comunidades de pequeno porte (ReCESA - 2, 2008).

    O tanque séptico remove a maior parte dos sólidos em suspensão, os quais se

    sedimentam e sofrem o processo de digestão anaeróbia pela atuação do lodo que se

    acumula no fundo do tanque. O efluente do tanque séptico é encaminhado ao filtro

    anaeróbio, onde ocorre a remoção complementar da DBO.

    A Figura 12, a seguir, apresenta um fluxograma típico desse sistema.

    Figura 12: Fluxograma de um sistema simplificado composto de Tanque Séptico + Filtros Anaeróbios. Fase

    líquida na parte superior da foto e fase sólida na parte inferior da foto. (Fonte: ReCESA 2, 2008).

    Fossa Séptica

    As fossas sépticas são normalmente utilizadas para soluções individuais, precedendo a

    infiltração de efluente no terreno ou precedendo filtros anaeróbios. Para populações de

    até cerca de 500 a 1.000 habitantes, as fossas sépticas são normalmente utilizadas

    precedendo filtros anaeróbios. Por terem remoção de lodo no máximo uma vez por ano,

    as fossas sépticas devem ter um volume razoavelmente grande para armazenamento de

    lodo, o que limita a sua aplicação à faixa de população referida, PROSAB

    (CHERNICHARO et al., 2001).

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    Os tanques sépticos são também uma forma de tratamento em nível primário. Os

    tanques sépticos e suas variantes, como os tanques Imhoff (tanque séptico de câmaras

    sobrepostas), são basicamente decantadores, onde os sólidos sedimentáveis são

    direcionados para o fundo, constituindo o lodo, onde permanece por um tempo longo

    suficiente (alguns meses) para a sua estabilização. Esta estabilização se dá em condições

    anaeróbias. Por este motivo, os tanques sépticos são também denominados de decanto-

    digestores. (VON SPERLING, 2005).

    Ressalta-se que a NBR 7229/1993, que trata de projeto, construção e operação de

    sistemas de tanque sépticos, indica faixas de intervalo de limpezas, ou seja, remoção de

    lodo entre 1 e 5 anos.

    Segundo Von Sperling (2005), pelo