UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS...descarga de efluentes industriais é o principal impacto ambiental...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS Amanda Carvalhaes Souto Valim Ana Laura Frugoli CINÉTICA DA DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE EFLUENTE DE LATICÍNIO EM REATOR BATELADA Poços de Caldas/MG 2015

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

    Amanda Carvalhaes Souto Valim

    Ana Laura Frugoli

    CINÉTICA DA DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE

    EFLUENTE DE LATICÍNIO EM REATOR BATELADA

    Poços de Caldas/MG

    2015

  • Amanda Carvalhaes Souto Valim

    Ana Laura Frugoli

    CINÉTICA DA DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE

    EFLUENTE DE LATICÍNIO EM REATOR BATELADA

    Trabalho de Conclusão de Curso

    apresentado ao Instituto de Ciência e

    Tecnologia da Universidade Federal de

    Alfenas, campus Poços de Caldas/MG,

    como parte dos requisitos para obtenção

    do título de bacharel em Engenharia

    Química.

    Orientador (a): Profª. Dra. Giselle Patrícia

    Sancinetti

    Poços de Caldas/MG

    2015

  • V172c Valim, Amanda Carvalhaes Souto .

    Cinética da degradação anaeróbia de efluente de laticínio em reator batelada. /Amanda Carvalhaes Souto Valim ; Ana Laura Frugoli ;

    Orientação de Giselle Patrícia Sancinetti . Poços de Caldas: 2015. 35 fls.: il.; 30 cm.

    Inclui bibliografias: fls. 34-35

    Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química) –

    Universidade Federal de Alfenas– Campus de Poços de Caldas, MG.

    1. Tratamento anaeróbio. 2. Tratamento de efluentes. 3. Reator batelada. I. Frugoli, Ana Laura . II. Sancinetti, Giselle Patrícia (orient.). III. Universidade Federal de

    Alfenas – Unifal. IV. Título.

    CDD 628.1

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradecemos a Deus, por iluminar e abençoar nossas

    trajetórias.

    Aos nossos pais e amigos, pelo apoio e incentivo nas horas difíceis, pela

    alegria nas conquistas e por tudo que fizeram e fazem para que nossa trajetória

    universitária seja realizada com sucesso.

    À nossa orientadora, Profª. Giselle Patrícia Sancinetti, pela paciência na

    orientação, pelos conhecimentos transmitidos, pela motivação e confiança

    depositada na realização do presente trabalho.

    À Gabriela Sampaio, pela dedicação ao nos ensinar os procedimentos

    experimentais necessários para execução deste trabalho.

    Ao Instituto de Ciência e Tecnologia, e demais professores envolvidos,

    pela oportunidade oferecida e pelos equipamentos e reagentes necessários

    para realização deste.

    Enfim, agradecemos a todas as pessoas que contribuíram de alguma

    maneira para realização deste trabalho e pelo incentivo.

  • RESUMO

    A água, recurso natural renovável do qual todos os organismos necessitam

    para sobreviver, é uma das substâncias mais comuns existentes na natureza.

    Despejos industriais, também conhecidos como águas residuais, se lançados

    nos recursos hídricos sem os devidos cuidados podem acarretar em diversos

    efeitos tóxicos. Para minimizar estes impactos ambientais causados, sistemas

    anaeróbios de tratamento de efluentes têm sido largamente aplicados por

    apresentarem vantagens como baixa produção de sólidos, baixo consumo de

    energia, baixos custos de implementação e operação, e etc. O conhecimento

    da cinética da digestão anaeróbia é importante para o projeto de reatores

    anaeróbios e também para a previsão da qualidade do efluente final. O

    presente trabalho realizou um estudo sobre a cinética da digestão anaeróbia de

    efluentes de laticínios em reator em batelada de escala laboratorial. Foram

    realizados ensaios em triplicata durante 67 dias, para análise da remoção de

    DQO (Demanda Química de Oxigênio) e obtenção da constante cinética de

    primeira ordem,

    , e da concentração do substrato residual, . Os

    resultados obtidos foram satisfatórios, uma vez que a remoção de DQO

    aumentou em função do tempo, apresentando valores de eficiência de remoção

    de 97%, 91% e 93%,

    de (0,121±0,025) dia-1, e de (47,531±4,176) mg/L,

    se mostrando próximo ao resultado experimental obtido para o último ponto de

    amostragem de 54,9 mg/L, indicando um bom ajuste para os dados.

    Palavras-chave: Tratamento anaeróbio. Cinética da degradação anaeróbia.

    Laticínio.

  • ABSTRACT

    Water, a renewable resource which all organisms need to survive, it is one of

    the most common substance in nature. Industrial waste, also known as

    wastewater when thrown away on waterways without appropriate care can

    cause several toxic effects. Aiming to minimize these environmental impacts,

    anaerobic systems have been widely applied because of their advantages, such

    as low solid production, low power consumption, low implementation and

    operating costs, etc. Knowing the kinetics of anaerobic digestion is essential for

    the design of anaerobic reactors and also to predict the quality of the final

    effluent. This work reports a study about the kinetic of anaerobic digestion from

    dairy effluent in batch reactor, conducted in laboratorial scale. Tests were

    carried out in triplicate over 67 days in order to analyze the removal of COD

    (Chemical Oxygen Demand) obtain the first-order kinetic parameter,

    , as

    well as the residual substrate concentration COD, . The results were

    satisfactory since the COD removal increased as a function of time, presenting

    removal efficiency values of 97%, 91% and 93%,

    of (0.121±0,025) day-1

    and equal to (47.531 ± 4.176) mg / L, which are close to the experimental

    result of 54.9 mg / L obtained for the last sample collected indicating a good

    adjust for the data.

    Keywords: Anaerobic treatment. Kinetic of anaerobic digestion. Dairy.

  • LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1: Fluxograma da microbiologia da digestão anaeróbia. ....................... 16

    Figura 2 - Remoção de DQO em função do tempo para o reator 1. ................. 24

    Figura 3 - Remoção de DQO em função do tempo para o reator 2. ................. 24

    Figura 4 - Remoção de DQO em função do tempo para o reator 3. ................. 25

    Figura 5 - Eficiência de remoção de DQO em função do tempo para o reator 1.

    ......................................................................................................................... 26

    Figura 6 - Eficiência de remoção de DQO em função do tempo para o reator 2.

    ......................................................................................................................... 27

    Figura 7 - Eficiência de remoção de DQO em função do tempo para o reator 3.

    ......................................................................................................................... 27

    Figura 8 - Remoção de DQO em função do tempo para o segundo ensaio. .... 28

    Figura 9 - Ajuste do perfil cinético em função da remoção de DQO para o

    ensaio de nove dias. ........................................................................................ 30

    Figura 10 - Ajuste do perfil cinético em função da remoção de DQO para a

    média dos reatores 1, 2 e 3. ............................................................................. 30

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Composição nutricional da água residuária sintética de acordo com

    Del Nery (1987). ............................................................................................... 21

    Tabela 2 - Valores de DQO centrifugada para cada dia de análise dos reatores

    branco,1, 2 e 3. ................................................................................................ 23

    Tabela 3 - Eficiência de remoção para os reatores branco, 1, 2, e 3 no período

    de 67 dias. ........................................................................................................ 26

    Tabela 4 - Valores da DQO centrifugada em diferentes tempos para o ensaio

    de nove dias. .................................................................................................... 28

    Tabela 5 - Perfil experimental para a média dos reatores 1, 2 e 3. .................. 29

    Tabela 6 - Parâmetros cinéticos obtidos através do modelo cinético de primeira

    ordem modificado obtido para os dois ensaios. ............................................... 31

    Tabela 7 - Eficiência de remoção corrigida através da autodegradação do soro

    para os reatores 1, 2 e 3. ................................................................................. 32

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12

    2. OBJETIVOS .............................................................................................. 13

    2.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................. 13

    2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................... 14

    3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 14

    3.1. PRODUÇÃO DE LEITE ....................................................................... 14

    3.2. PROCESSO DE PRODUÇÃO NA USINA DE LATICÍNIO .................. 14

    3.3. TRATAMENTO ANAERÓBIO ............................................................. 15

    3.4. DIGESTÃO ANAERÓBIA .................................................................... 15

    3.4.1. MICROBIOLOGIA DA DIGESTÃO ANERÓBIA ............................ 16

    3.4.1.1. Hidrólise e acidogênese ............................................................ 17

    3.4.1.2. Acetogênese ............................................................................. 17

    3.4.1.3. Metanogênese ........................................................................... 17

    3.4.2. FATORES QUE INFLUENCIAM NA DIGESTÃO ANAERÓBIA.... 18

    3.4.2.1. pH .............................................................................................. 18

    3.4.2.2. Alcalinidade ............................................................................... 18

    3.4.2.3. Temperatura .............................................................................. 18

    3.4.2.4. Agitação .................................................................................... 19

    3.4.2.5. Nutrientes .................................................................................. 19

    3.4.2.6. Inibidores ................................................................................... 19

    3.5. CINÉTICA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA ............................................ 20

    4. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 20

    4.1. MATERIAIS ......................................................................................... 20

    4.1.1. Reator batelada em escala laboratorial ........................................ 20

    4.1.2. Inóculo .......................................................................................... 20

    4.1.3. Meio nutricional ............................................................................. 21

    4.2. MÉTODOS .......................................................................................... 21

    4.2.1. Operação do reator ....................................................................... 21

    4.2.2. Análises físico-químicas ............................................................... 22

    4.2.3. Ajuste cinético............................................................................... 22

    5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................. 23

  • 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 32

    7. SUGESTÕES PARA PROPOSTAS FUTURAS ........................................ 33

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 34

  • 12

    1. INTRODUÇÃO

    A água é uma das substâncias mais comuns existentes na natureza,

    estando presente em cerca de 70% da superfície do planeta. É encontrada sob

    diversas formas, mas principalmente no estado líquido. Recurso natural

    renovável, do qual todos os organismos necessitam para sua sobrevivência.

    Estima-se que a massa total de água no planeta seja de aproximadamente

    265.400 trilhões de toneladas, sendo distribuídas em oceanos, águas

    subterrâneas, calotas polares, lagos, rios, entre outras localidades. Todavia,

    nem toda água é diretamente aproveitada pelo homem. Do total apresentado

    apenas 0,5% representa água doce explorável sob o ponto de vista tecnológico

    e econômico (BRAGA et al., 2005).

    Além das variações naturais, características das fases do ciclo

    hidrológico, alterações têm ocorrido neste ciclo devido às intervenções

    humanas. É de fundamental importância que os recursos hídricos apresentem

    condições físicas e químicas adequadas para sua utilização. Devem estar

    isentos de substâncias que possam causar efeitos prejudiciais aos seres vivos.

    Desta forma, disponibilidade de água significa não somente água em

    quantidade adequada, mas também que sua qualidade seja satisfatória para

    prover as necessidades de um determinado conjunto de seres vivos (BRAGA et

    al., 2005).

    Despejos industriais, também conhecidos como águas residuais ou

    efluentes industriais, são correntes líquidas ou suspensões originadas de

    processos, operações ou utilidades, que podem estar acompanhadas de águas

    fluviais contaminadas e esgotos sanitários. São extremamente variáveis e

    dependem da natureza e porte da indústria, dos produtos fabricados, do grau

    de modernidade dos seus processos produtivos, bem como as práticas de

    reciclagem e reuso de cada fonte geradora. Seus constituintes podem acarretar

    efeitos tóxicos, se lançados nos recursos hídricos sem os devidos cuidados

    estabelecidos por normas e legislações específicas (CAVALCANTI, 2009).

    Os principais impactos ambientais das indústrias de laticínios estão

    relacionados ao alto consumo de água, geração de efluentes com alta

    concentração de orgânicos, alto consumo de energia, geração e gerenciamento

    de resíduos, emissões atmosféricas, dentre outros. Os efluentes líquidos

  • 13

    destas indústrias normalmente são compostos de leite diluído, gorduras,

    detergentes, desinfetantes e lubrificantes. Apresentam altos teores de óleos e

    graxas, se caracterizam pela presença de sólidos suspensos, matéria orgânica

    expressa como DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), DQO (Demanda

    Química de Oxigênio), e odor originado pela decomposição da caseína. A

    descarga de efluentes industriais é o principal impacto ambiental do setor.

    Independente do processo utilizado ou do produto produzido estima-se que

    para cada litro de leite processado há uma geração de 1 a 6 litros de efluentes

    (MAGANHA, 2006).

    Para minimizar os impactos ambientais causados, várias técnicas de

    tratamento de efluentes, processos físicos, químicos ou biológicos, bem como

    suas combinações, são utilizadas (BRAGA et al., 2005). Os digestores

    anaeróbios têm sido largamente aplicados para o tratamento de resíduos

    sólidos, culturas agrícolas, indústrias alimentícias, de bebidas, lodos de

    Estações de Tratamento de Esgoto, e etc. Sistemas anaeróbios apresentam

    vantagens como baixa produção de sólidos, baixo consumo de energia, baixos

    custos de implementação e operação, tolerância a elevadas cargas orgânicas,

    possibilidade de operação com elevados tempos de retenção de sólidos e

    baixos tempos de detenção hidráulica. As principais desvantagens são

    relacionadas à remoção insatisfatória de nutrientes e patógenos, ao fato da

    DQO residual ser, na maioria dos casos, elevada para atender os estritos

    limites de lançamento estabelecidos na legislação ambiental; e a maior

    instabilidade dos reatores anaeróbios, devidos aos choques de carga orgânica

    e hidráulica, presença de compostos tóxicos ou ausência de nutrientes

    (CHERNICARO, 2007).

    2. OBJETIVOS

    2.1. OBJETIVO GERAL

    O objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso (TCC) constituiu

    em realizar um estudo sobre a cinética da digestão anaeróbia de efluentes de

    laticínios.

  • 14

    2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    a) Avaliar a degradação anaeróbia do soro.

    b) Determinar a constante cinética da degradação.

    3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    3.1. PRODUÇÃO DE LEITE

    O Brasil é um grande exportador de commodities, e entre elas a

    commodity láctea. No início de 2014 alcançou uma elevação de 70% nas

    exportações comparado a dezembro de 2013, com 52,67 milhões de litros

    equivalente em leite segundo a Secex (Secretaria de Comércio Externo) e

    adquiriu 6,186 bilhões de litros de leite, pelas indústrias processadores do

    produto no primeiro trimestre de acordo com o IBGE (CEPEA, 2014). Estes

    dados representam a efetiva participação do mercado brasileiro na produção

    de leite, logo a existência de um tratamento apropriado para os efluentes das

    indústrias de laticínios é imprescindível, para que haja o atendimento dos

    padrões de lançamento de efluentes e poluição diminuta dos corpos de água

    (IBGE, 2014).

    3.2. PROCESSO DE PRODUÇÃO NA USINA DE LATICÍNIO

    O setor lácteo é definido pela diversidade de produtos e linhas de

    produção, sendo necessário então, definir leite e produtos lácteos (MAGANHA,

    2006).

    Por definição do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

    (MAPA), e de acordo com a Normativa Mercosul do Setor Lácteo, define-se

    como leite o produto originado da ordenha completa e ininterrupta de vacas

    leiteiras sadias, em condições de higiene. Leites de outras espécies de animais

    devem compreender o nome da espécie de que se origina. Na composição do

    leite integra-se uma parte úmida, representada pela água, e uma parte sólida,

    representada pelo extrato seco total, composta de gordura, açúcar (lactose),

  • 15

    proteínas e sais minerais. Quanto maior essa fração no leite, maior será o

    rendimento dos produtos (MAGANHA, 2006).

    Já produto lácteo é produto obtido mediante qualquer elaboração do

    leite, que pode conter aditivos alimentícios e ingredientes funcionalmente

    necessários para sua fabricação (MAGANHA, 2006).

    As indústrias de laticínios compreendem várias atividades e operações

    em função dos produtos a serem obtidos, contudo as operações fundamentais

    e comuns a todos os processos produtivos envolvem as seguintes etapas:

    recepção do leite e ingredientes; processamento; tratamento térmico;

    elaboração de produtos; envase e embalagem; armazenamento e expedição

    (MAGANHA, 2006).

    3.3. TRATAMENTO ANAERÓBIO

    O tratamento anaeróbio tem grande emprego para tratamento de

    efluentes industriais compostos por alta carga orgânica.

    A aplicação de processos anaeróbios para o tratamento de efluentes de

    indústria apresenta fatores positivos em relação uso moderado de energia

    elétrica, diminuição da produção de lodo biológico excedente, além da

    formação de biogás energético (CAVALCANTI, 2009). Como exemplos de

    sistemas de tratamento anaeróbio tem-se as lagoas de estabilização, reatores,

    tanques sépticos, entre outros. Porém, atualmente as tecnologias em destaque

    são: o reator de manta de lodo ou UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket),

    com a operação de fluxo contínuo ascendente e o reator ESBG (Expanded

    Granular SludgeBed), uma forma avançada dos reatores UASB, em que o uso

    de leito expandido possibilita elevadas velocidades ascensionais do liquido e

    do gás (CAVALCANTI, 2009). Estudos sobre reatores em batelada também

    existem e um sistema pode ser composto por reatores sequenciais.

    3.4. DIGESTÃO ANAERÓBIA

    De toda matéria orgânica disposta na terra, de 5 a 10% é mineralizada

    por digestão anaeróbia, formando metano. O processo ocorre em etapas

    sequenciais com a participação de no mínimo três grupos fisiológicos de

  • 16

    microrganismos com funções específicas: a) Bactérias fermentativas (ou

    acidogênicas); b) Bactérias sintróficas (ou acetogênicas); e c) Microrganismos

    metanogênicos. As bactérias fermentativas convertem, por hidrólise e

    fermentação, os compostos orgânicos complexos (carboidratos, proteínas e

    lipídeos) em outros compostos mais simples, principalmente ácidos orgânicos,

    além de hidrogênio e dióxido de carbono. As bactérias sintróficas convertem

    compostos orgânicos intermediários em acetato, hidrogênio e dióxido de

    carbono. E os microrganismos metanogênicos convertem o acetato e o

    hidrogênio produzidos nas etapas anteriores em metano e dióxido de carbono.

    Eles dependem do substrato fornecido pelas bactérias formadoras de ácidos

    (CHERNICHARO, 2007).

    3.4.1. MICROBIOLOGIA DA DIGESTÃO ANERÓBIA

    O fluxograma abaixo ilustra as fases sequenciais da digestão anaeróbia.

    Figura 1: Fluxograma da microbiologia da digestão anaeróbia.

    Fonte: Adaptado de CHERNICHARO, 2007.

  • 17

    3.4.1.1. Hidrólise e acidogênese

    A hidrólise advém da ação de bactérias fermentativas hidrolíticas, que

    degradam os materiais particulados complexos em moléculas menores, deste

    modo, os materiais dissolvidos são capazes de adentrar pelas paredes

    celulares das bactérias fermentativas acidogênicas. No interior das células são

    fermentados produzindo ácidos orgânicos, álcoois, cetonas, dióxido de carbono

    e hidrogênio, assim como novas bactérias. A etapa de acidogênese não será

    limitante para o processo, a menos que o material apresente dificuldade para

    hidrolisar (CHERNICHARO, 2007).

    3.4.1.2. Acetogênese

    Nesta etapa as bactérias sintróficas acetogênicas convertem os

    compostos orgânicos intermediários como propionato e butirato em acetato,

    hidrogênio e dióxido de carbono. As concentrações de acetato e hidrogênio

    devem ser baixas para que as reações acetogênicas não sejam inibidas, por

    conseguinte, microrganismos consumidores destes produtos garantem esta

    condição (CHERNICHARO, 2007).

    3.4.1.3. Metanogênese

    Fase final representante de uma forma de respiração anaeróbia,

    composta por microrganismos metagênicos, pertencentes ao grupo

    “Arqueobactéria”. Podem ocasionar limitações ao processo, uma vez que

    exercem duas funções essenciais nos ecossistemas anaeróbicos: produção de

    um gás insolúvel (metano), permitindo a retirada do carbono orgânico presente

    na fase líquida, e manutenção da pressão parcial de hidrogênio a níveis baixos

    o bastante para que as bactérias fermentativas e formadoras de ácidos tenham

    capacidade de produzir produtos solúveis mais oxidados (CHERNICHARO,

    2007).

    As arqueas metanogênicas condicionam a diminuição de pressão parcial

    do hidrogênio por intermédio da remoção do excesso deste e dos produtos da

    fermentação produzidos anteriormente, garantindo as reações realizadas pelas

  • 18

    bactérias acetogênicas. São divididas em dois grupos principais, as arqueas

    metanogênicas acetoclásticas, produtoras de gás carbônico e metano a partir

    do acetato. E as arqueas metanogênicas hidrogenotróficas, com capacidade de

    produzir metano através do hidrogênio e gás carbônico, com maior liberação de

    energia (CHERNICHARO, 2007).

    3.4.2. FATORES QUE INFLUENCIAM NA DIGESTÃO ANAERÓBIA

    3.4.2.1. pH

    O pH ótimo variará de acordo com as populações do processos e suas

    funções. Para conversões de proteínas a aminoácidos, o pH ótimo está entre

    7,0 e 7,5, para aminoácidos convertidos a ácidos o valor é cerca de 6,3, para

    carboidratos, 4,0 e 7,0, porém para o último caso, devem ser evitadas

    operações abaixo de 6,5 para evitar acidificação. Para formação de metano a

    faixa de pH ótimo é 6,7 e 7,4 (CAVALCANTI, 2009).

    3.4.2.2. Alcalinidade

    A alcalinidade deve estar entre 1500 e 2500mg CaCO3/L, para que não

    haja acúmulo de ácidos orgânicos voláteis, provocando a redução do pH.

    Porém, caso a operação seja efetuada sem este tipo de acúmulo, valores entre

    500 a 1000mg CaCO3/L são aceitáveis (CAVALCANTI, 2009).

    3.4.2.3. Temperatura

    A temperatura é um dos fatores físicos que mais afeta o crescimento

    microbiano, sendo então muito importante na seleção das espécies. Os

    microrganismos não possuem mecanismos para o controle de sua temperatura

    interna, desta forma a temperatura no interior da célula é determinada pela

    temperatura ambiente externa. Três faixas de temperatura podem ser

    associadas ao crescimento microbiano:

    Faixa psicrófila: entre 4 e aproximadamente 15°C;

    Faixa mesófila: entre 20 e aproximadamente 40°C;

  • 19

    Faixa termófila: entre 45 e 75°C, e acima (CHERNICHARO,

    2007).

    Em cada uma dessas três faixas é possível o crescimento microbiano.

    Na faixa mesófila, a temperatura ótima encontra-se entre 35 e 37°C, já na faixa

    termófila, encontra-se entre 57 e 62°C. Muito mais importante do que operar na

    temperatura ótima, é atuar sem variações significativas na temperatura

    (SOUZA, 1984).

    3.4.2.4. Agitação

    A agitação favorece o contato entre a biomassa ativa e o substrato,

    proporcionando maior uniformidade na formação de produtos intermediários e

    finais. É necessária uma boa condição de distribuição da alimentação no reator

    para manter uma taxa de aplicação hidráulica adequada, evitando as zonas

    mortas e a diminuição do desempenho no digestor (CAVALCANTI, 2009).

    3.4.2.5. Nutrientes

    Para que os processos biológicos de tratamento sejam operados com a

    maior eficiência, é necessário que haja o fornecimento de macro e

    micronutrientes em concentrações adequadas (CAVALCANTI, 2009). Os

    nutrientes necessários para a estimulação nutricional de microrganismos

    metanogênicos são: nitrogênio, enxofre, fósforo, ferro, cobalto, níquel,

    molibdênio, selênio, riboflavina e vitamina (CHERNICHARO, 2007).

    3.4.2.6. Inibidores

    Alguns compostos químicos são biologicamente tóxicos quando entram

    em contato com soluções e excedem uma determinada concentração crítica.

    Exemplos de substâncias que apresentam efeito inibitório, quando apresentam

    concentrações em excesso, em sistemas anaeróbios: sódio, potássio, cálcio,

    magnésio, amoníaco, cromo, níquel, entre outras (CAVALCANTI, 2009).

  • 20

    3.5. CINÉTICA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA

    O conhecimento da cinética é importante para o projeto de reatores

    anaeróbios e também para a previsão da qualidade do efluente final. Encontra-

    se uma grande dificuldade para descrever matematicamente essas cinéticas de

    conversão, uma vez que os substratos e populações bacterianas envolvidas

    são muito complexos. O tratamento anaeróbio pode ser descrito como um

    processo de três estágios: hidrólise de orgânicos complexos; produção de

    ácidos e produção de metano. Em um processo de múltiplos estágios, a

    cinética do estágio mais lento governará a cinética geral de conversão

    (CHERNICHARO, 2007).

    4. MATERIAIS E MÉTODOS

    O experimento foi baseado na operação de um reator batelada em

    escala laboratorial, para tratamento do soro da produção de ricota fornecido

    pelo Laticínio Imperial.

    4.1. MATERIAIS

    4.1.1. Reator batelada em escala laboratorial

    Os reatores batelada foram frascos Duran de 500 mL, com volume útil

    de 300 mL.

    4.1.2. Inóculo

    Como inóculo foi utilizado o lodo proveniente de reator anaeróbio de

    manta de lodo (UASB), aplicado ao tratamento de águas residuárias de

    abatedouro de aves Avícola Dacar, localizado em Tiête – SP.

  • 21

    4.1.3. Meio nutricional

    O meio nutricional foi elaborado segundo Del Nery (1987), e sua

    composição está exemplificada na Tabela 1.

    Tabela 1 - Composição nutricional da água residuária sintética de acordo com Del Nery (1987).

    Composto Concentração (mg/L)

    NH2CON2 62,5

    NiSO4.7H2O 0,5

    FeSO4.7H2O 2,5

    FeCl.6H2O 0,25

    CaCl2.2H2O 23,5

    CoCl2.6H2O 0,04

    SeO2 0,035

    KH2PO4 42,5

    K2HPO4 10,85

    Na2HPO4.7H2O 16,7

    NaHCO3 1000,0

    Fonte: Del Nery, 1987.

    4.2. MÉTODOS

    4.2.1. Operação do reator

    A composição dos ensaios consistiu em 3 mL de soro, 30 mL de lodo e

    267 mL de meio nutricional. Os ensaios foram feitos em triplicata,

    adicionalmente houve um reator que não recebeu o inóculo, nem solução

    nutriente, sendo denominado de branco. Após serem preparados,

    permaneceram durante 60 segundos sob atmosfera de N2 (100%),

    posteriormente foram lacrados com tampa de butil e rosca plástica. Foram

    mantidos em Incubadora Refrigerada (shaker), com agitação de 150 rpm a

    30°C.

  • 22

    4.2.2. Análises físico-químicas

    As amostras foram retiradas com o auxílio de seringas, onde foi feita a

    análise centrifugada para cada reator. Deste modo, foram coletadas 2,5 mL

    para cada análise e foram centrifugadas por dez minutos a uma velocidade de

    80 rotações por minuto. Então, as amostras foram adicionadas a tubos de

    ensaios em vidro, e em seguida, foram acrescentados 1,5 mL de uma solução

    de dicromato de potássio e 3,5 mL de uma solução de ácido sulfúrico com

    sulfato de prata. Os tubos de ensaio foram fechados e colocados no digestor, a

    150°C por um período de 2 horas. Finalmente, após resfriados, suas

    absorbâncias foram medidas em um espectrofotômetro UV-VIS e obtidas às

    concentrações de DQO com comprimento de onda de 620 nm.

    Foram realizados dois ensaios, onde o primeiro foi feito durante 67 dias,

    com períodos variáveis de amostragem, e o segundo durante 9 dias.

    As análises foram feitas segundo APHA (2012).

    4.2.3. Ajuste cinético

    Para o ajuste cinético foi utilizado um modelo cinético de primeira ordem

    modificado. Segundo (CUBAS et al., 2007), o balanço de massa para o

    substrato, expresso em DQO, em reator batelada, considerando uma cinética

    aparente de primeira ordem, é:

    ( )

    ( ) (1)

    onde é a velocidade global de reação em (mg.L-1.dia-1), é a concentração

    de substrato em qualquer tempo em (mg.L-1), é a concentração de substrato

    residual em (mg.L-1) em que a taxa de reação é zero, é o tempo em dias e

    é a constante cinética de primeira ordem aparente em (dia-1).

    A integração da equação (1) de (concentração inicial de substrato no

    interior do reator no instante ) até , resulta em:

  • 23

    ( )

    (2)

    5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

    As análises de DQO do reator branco, 1, 2 e 3 foram realizadas a partir

    do 1° dia do experimento (tempo zero) e nos intervalos de 7, 32, 35, 39, 41, 50,

    54, 61 e 67 dias. Logo, os dados de DQO centrifugada estão expressos na

    Tabela 2 e nos gráficos das Figura 2, Figura 3 e Figura 4. O reator branco foi

    utilizado como controle para acompanhar a autodegradação da matéria

    orgânica, proporcionando a comparação com os reatores 1, 2 e 3 que

    receberam o inóculo.

    Tabela 2 - Valores de DQO centrifugada para cada dia de análise dos reatores branco,1, 2 e 3.

    Tempo (dias)

    DQO (mg/L)

    Branco Reator 1 Reator 2 Reator 3

    0 375 498 452 465

    7 326 50 25 50

    32 329 50 43 68

    35 324 43 32 104

    39 317 152 32 88

    41 281 50 38 60

    50 313 119 38 53

    54 280 36 43 46

    61 242 51 89 61

    67 235 109 13 43

    Fonte: Das autoras.

  • 24

    Figura 2 - Remoção de DQO em função do tempo para o reator 1. Fonte: Das autoras.

    Figura 3 - Remoção de DQO em função do tempo para o reator 2. Fonte: Das autoras.

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    0 10 20 30 40 50 60 70

    mg

    DQ

    O/L

    Tempo (dias)

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    500

    0 10 20 30 40 50 60 70

    mg

    DQ

    O/L

    Tempo (dias)

  • 25

    Figura 4 - Remoção de DQO em função do tempo para o reator 3. Fonte: Das autoras.

    A concentração de DQO do reator branco possui um perfil de queda

    lento, visto que seus valores variaram de 375 a 235 mg DQO/L, para um ciclo

    de 67 dias, ocorrendo então, queda de DQO devido autodegradação de 37%.

    Em relação aos reatores 1, 2 e 3, os gráficos apresentam o

    comportamento de concentração de DQO, com queda acentuada do dia 0 até o

    dia 7. No decorrer do período de análise houve uma estabilização de seus

    valores

    Para uma melhor análise foi calculada a eficiência de remoção de cada

    um dos reatores para os diferentes tempos, através da seguinte equação:

    (4)

    em que a é o valor da DQO no tempo zero, e a é o valor

    da DQO no tempo em questão. A Tabela 3 apresenta as porcentagens de

    remoção para os reatores branco, 1, 2 e 3 em cada dia de análise realizada.

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    500

    0 10 20 30 40 50 60 70

    mg

    DQ

    O/L

    Tempo (dias)

  • 26

    Tabela 3 - Eficiência de remoção para os reatores branco, 1, 2, e 3 no período de 67 dias.

    Tempo (dias) Branco (%) Reator 1(%) Reator 2(%) Reator 3(%)

    0 0% 0% 0% 0%

    7 13% 90% 94% 89%

    32 12% 90% 91% 85%

    35 14% 91% 93% 78%

    39 16% 70% 93% 81%

    41 25% 90% 92% 87%

    50 17% 76% 92% 89%

    54 25% 93% 90% 90%

    61 35% 90% 80% 87%

    67 37% 78% 97% 91%

    Fonte: Das autoras.

    As Figuras 5, 6 e 7 ilustram os dados citados anteriormente na Tabela 3.

    Figura 5 - Eficiência de remoção de DQO em função do tempo para o reator 1. Fonte: Das autoras.

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    100%

    0 10 20 30 40 50 60 70

    Efic

    iên

    cia

    de

    Re

    mo

    ção

    Tempo (dias)

  • 27

    Figura 6 - Eficiência de remoção de DQO em função do tempo para o reator 2. Fonte: Das autoras.

    Figura 7 - Eficiência de remoção de DQO em função do tempo para o reator 3. Fonte: Das autoras.

    Analisando os resultados nota-se que para os reatores 2 e 3, após 67

    dias, observou-se a maior remoção de DQO, 97% e 91% respectivamente. Já

    para o reator 1, a maior remoção foi 93%, ocorrida após 54 dias do início das

    análises. O valor de 73% de remoção obtido após 67 dias pode ter sido

    consequência de algum erro experimental ou mesmo de amostragem do reator,

    visto que, teoricamente, esta diminuição de porcentagem não deveria ocorrer.

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    100%

    0 10 20 30 40 50 60 70

    Efic

    iên

    cia

    de

    Re

    mo

    ção

    Tempo (dias)

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    100%

    0 10 20 30 40 50 60 70

    Efic

    iên

    cia

    de

    Re

    mo

    ção

    Tempo (dias)

    Reator 3

  • 28

    Foi necessário um segundo ensaio para melhor avaliação do perfil para

    os sete primeiros dias. Os dados experimentais obtidos para o segundo ensaio

    estão expressos na Tabela 4 e na Figura 8.

    Tabela 4 - Valores da DQO centrifugada em diferentes tempos para o ensaio de nove dias.

    Tempo (dias) DQO (mg DQO/L)

    Branco’ Reator 1’

    0 989 1030

    1

    1096 1055

    2

    1172 1002

    3 936 93

    4 1002 126

    7 1022 57

    8 963 84

    Fonte: Das autoras.

    Figura 8 - Remoção de DQO em função do tempo para o segundo ensaio. Fonte: Das autoras.

    O reator branco’ não apresentou autodegradação em 7 dias, em

    contrapartida no reator 1’, a concentração reduziu de 1030 para 57 mg DQO/L.

    Nota-se que a maior remoção de DQO ocorreu no sétimo dia, com uma

    eficiência de 94%. Só houve remoção de DQO significativa a partir do terceiro

    dia, obtendo após este dia valores próximos e estabilizados.

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    0 2 4 6 8

    mg

    DQ

    O/L

    Tempo (dias)

    Branco'

    Reator 1'

  • 29

    Para obtenção da constante cinética da degradação anaeróbia do

    efluente de laticínio foi utilizado o ajuste cinético explicado na seção 4.2.3, para

    o perfil experimental de 67 dias obtido pela média dos reatores 1, 2 e 3, e outro

    para o perfil experimental dos nove primeiros dias. Os valores utilizados estão

    apresentados nas Tabela 4 e Tabela 5 e os resultados obtidos nas Figuras 9 e

    10.

    Tabela 5 - Perfil experimental para a média dos reatores 1, 2 e 3.

    Tempo (dias)

    Média (mg DQO/L)

    0 472

    7 42

    32 54

    35 59

    39 91

    41 49

    50 70

    54 42

    61 67

    67 55

    Fonte: Das autoras.

  • 30

    Figura 9 - Ajuste do perfil cinético em função da remoção de DQO para o ensaio de nove dias. Fonte: Das autoras.

    Figura 10 - Ajuste do perfil cinético em função da remoção de DQO para a média dos reatores 1, 2 e 3. Fonte: Das autoras.

    Logo, foram encontrados os valores dos parâmetros da equação após o

    ajuste, onde é a concentração do substrato residual, é a constante

  • 31

    cinética de primeira ordem modificada e R2 é o coeficiente de determinação,

    como demonstrado na Tabela 6.

    Tabela 6 - Parâmetros cinéticos obtidos através do modelo cinético de primeira ordem modificado obtido para os dois ensaios.

    Perfil Experimental

    ( ) ( )

    9 dias 74,525±15,435 1,14±0,33 0,967

    67 dias 47,531±4,176 0,121±0,025 0,991

    Fonte: Das autoras.

    Observa-se que o valor da constante cinética

    para 9 dias de ensaio

    foi superior a de 67 dias, o que mostra possivelmente a maior velocidade de

    consumo/degradação observada no início do processo, uma vez que conforme

    o tempo passa, o substrato torna-se limitante e a reação se torna mais lenta.

    Nota-se ainda que o último ponto de amostragem do ensaio de 9 dias foi 84,01

    mg/L, e para o ensaio de 67 dias foi 54,9 mg/L, sendo próximo ao valor residual

    encontrado pelo ajuste cinético, indicando um bom ajuste para os dados.

    Caso a degradação anaeróbia fosse corrigida através da

    autodegradação do soro, ou seja, se o valor encontrado, através do ajuste

    cinético para a concentração de substrato residual, fosse descontado, novos

    valores de eficiência de remoção seriam encontrados.

    Como a concentração de substrato residual encontrada foi de 47,531

    mg/L, subtraindo este valor do inicial, foram obtidos os seguintes valores de

    remoção de DQO, conforme demonstrado na Tabela 7.

  • 32

    Tabela 7 - Eficiência de remoção corrigida através da autodegradação do soro para os reatores 1, 2 e 3.

    Tempo (dias) Reator 1(%) Reator 2(%) Reator 3(%)

    0 0% 0% 0%

    7 88,9% 93,7% 88,0%

    32 88,8% 89,4% 83,7%

    35 90,5% 91,9% 75,2%

    39 66,3% 91,9% 78,8%

    41 88,8% 90,7% 85,5%

    50 73,6% 90,5% 87,2%

    54 92,1% 89,3% 89,0%

    61 88,7% 78,1% 85,4%

    67 75,8% 96,8% 89,6%

    Fonte: Das autoras.

    Observa-se que, para o reator 1, a diferença entre as porcentagens de

    remoção corrigidas com as primeiramente calculadas, Tabela 3, varia entre

    0,7% e 3,2%, para o reator 2, entre 0,8% e 2,3%, e para o reator 3 entre 1,0%

    e 2,6%, demonstrando que não ocorreu diminuição significativa.

    Devido à dificuldade para encontrar trabalhos semelhantes ao realizado

    nesse projeto, não foi possível fazer comparação da constante cinética obtida,

    uma vez que a determinação foi específica para a água residuária proposta

    neste trabalho, com condições específicas de operação, nutrientes e inóculo

    empregado.

    6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    A realização deste trabalho possibilitou um maior entendimento do

    processo de digestão anaeróbia no tratamento de efluente de laticínio em

    reator batelada de escala laboratorial.

    Os resultados obtidos foram satisfatórios, uma vez que houve uma

    diminuição da concentração de DQO com o decorrer do tempo. A maior

  • 33

    remoção de DQO ocorreu entre o primeiro e o sétimo dia, e no decorrer do

    período de análise houve uma estabilização de seus valores.

    A maior porcentagem de remoção de DQO encontrada para os reatores

    2 e 3, foi de 97% e 91% respectivamente, após 67 dias. Já para o reator 1, a

    maior remoção foi 93%, ocorrida após 54 dias do início das análises.

    Com relação ao perfil cinético do reator, a constante cinética de primeira

    ordem modificada obtida foi de (0,121±0,025) dia-1, e a concentração do

    substrato residual foi de (47,531±4,176) mg/L, para o ensaio de 67 dias, já para

    o ensaio de 9 dias foi encontrada uma constante cinética de (1,14±0,33) dia-1, e

    uma concentração de substrato residual de (74,525±15,435) mg/L, o que se

    mostra próximo ao resultado experimental obtido para o último ponto de

    amostragem de 54,9 mg/L e 84,01 mg/L, respectivamente. Percebe-se também

    que o valor da constante cinética de primeira ordem, para os nove primeiros

    dias, foi maior que o do outro ensaio, demostrando possivelmente como o

    substrato torna-se limitante e a reação se torna mais lenta conforme o tempo

    passa.

    7. SUGESTÕES PARA PROPOSTAS FUTURAS

    Sugere-se, como forma de estímulo para trabalhos futuros, trabalhar

    com maiores concentrações de soro e outros tipos de reatores.

  • 34

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard Methods for the

    examination for water and wastewater. 17th Ed. New York. 2012.

    BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental: o desafio do desenvolvimento

    sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

    CAVALCANTI, J. E. W. A. Manual de Tratamento de Efluentes Industriais. São

    Paulo: ABES, 2009.

    CEPEA – ESALQ/USP. Leite ao produtor: Mercado Internacional. Rev. Boletim do

    leite, Piracicaba, n. 226, p. 1-8, fev. 2014.

    CHERNICHARO, C. A. L. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias:

    Reatores anaeróbios. 2. ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e

    Ambiental. UFMG, v.5, 2007.

    CUBAS, S. A. et al. Effects of solid-phase mass transfer on the performance of a

    stirred anaerobic sequencing batch reactor containing immobilized biomass.

    Bioresource Technology, p. 1411-1417, 2007.

    DEL NERY, V. Utilização de lodo anaeróbio imobilizado em gel no estudo de

    partida de reatores de fluxo ascendente com manta de lodo. 1987, Dissertação

    (Mestrado em Hidráulica e Saneamento) – Escola de Engenharia de São Carlos,

    Universidade de São Paulo, São Carlos.

    FANG, H. H. P.; CHUI, H.K.; LI, Y.Y.Microbial structure and activity of UASB granules

    treating different wastewaters. Rev. Water Science and Technology, GrãBretanha,

    v.30, n.12, p. 87–96, 1994.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores IBGE:

    estatística da produção pecuária. Jun. 2014.

    MAGANHA, M. F. B. Produtos Lácteos: guia técnico ambiental de produtos lácteos.

    São Paulo: CETESB, 2006.

  • 35

    SOUZA, M. E. Fatores que influenciam a digestão anaeróbia. Rev. DAE, São Paulo, v.

    44, n. 137, p.88-94, 1984.