UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE … · Santíssima pela sua intercessão e ela, com todo...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA DEPARTAMENTO DE SISTEMÁTICA E ECOLOGIA LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CAPTURA E COMERCIALIZAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES NO SEMIÁRIDO PARAIBANO SOB A PERSPECTIVA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TAINÁ SHERLAKYANN ALVES PESSOA JOÃO PESSOA 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

DEPARTAMENTO DE SISTEMÁTICA E ECOLOGIA

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

CAPTURA E COMERCIALIZAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES NO

SEMIÁRIDO PARAIBANO SOB A PERSPECTIVA DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

TAINÁ SHERLAKYANN ALVES PESSOA

JOÃO PESSOA

2012

TAINÁ SHERLAKYANN ALVES PESSOA

CAPTURA E COMERCIALIZAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES NO SEMIÁRIDO

PARAIBANO SOB A PERSPECTIVA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura

em Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às

exigências para a obtenção do grau de Licenciada em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Alfredo Ricardo Langguth Bonino.

Co-orientador: Paulo Guilherme Carniel Wagner.

JOÃO PESSOA

2012

TAINÁ SHERLAKYANN ALVES PESSOA

CAPTURA E COMERCIALIZAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES NO SEMIÁRIDO

PARAIBANO SOB A PERSPECTIVA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da

Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências para a

obtenção do título de Licenciada em Ciências Biológicas.

Aprovada em 12 de novembro de 2012

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Prof. Dr. Alfredo Ricardo Langguth Bonino

Orientador

_____________________________________________ Profª. Drª. Carla Soraia Soares de Castro

Examinador

_____________________________________________ Prof. Dr. Helder Farias Pereira de Araujo

Examinador

Catalogação na publicação

Universidade Federal da Paraíba

Biblioteca Setorial do CCEN

P475c Pessoa, Tainá Sherlakyann Alves.

Captura e comercialização de animais silvestres no semiárido

paraibano sob a perspectiva de crianças e adolescentes/Tainá

Sherlakyann Alves Pessoa. – João Pessoa, 2012.

85p. : il.-

Monografia (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade

Federal da Paraíba.

Orientador: Alfredo Ricardo Langguth Bonino.

. 1. Fauna silvestre – Métodos de captura 2. Animais silvestres –

Semiárido paraibano. 3. Meio ambiente - Degradação. I. Título.

BS/CCEN CDU: 591.9(813.3)(043.2)

À Maria Anunciada Silvestre, vó Ciada (in memorian), por ter cultivado em mim o amor e o respeito a todas as

formas de vida.

Dedico

AGRADECIMENTOS

Neste momento único em minha vida, pelo qual espero anos a fio,

estou imersa em meio a um universo de sentimentos: amor, ansiedade,

surpresa, gratidão, nervosismo, inquietação e felicidade. Todos eles fazem

com que na ocasião em que escrevo esse texto, minha mão fique trêmula, o

frio na barriga torne-se intenso e as lágrimas escorram pelos olhos. De fato,

não posso descrever o que sinto agora, só sei que estou feliz... MUITO FELIZ

e grata àqueles que proporcionaram a existência desse momento.

Meu Pai do céu pediu que eu tivesse paciência e, sem entender Seus

desígnios, me frustrei por diversas vezes. Eu roguei incansavelmente a Maria

Santíssima pela sua intercessão e ela, com todo o cuidado de Mãe, me

ajudou a superar os obstáculos e frustrações que, naquele momento,

impediam a realização do meu sonho. A Eles e por Eles sou eternamente

grata, em especial pelo ensinamento de que os nossos desejos são realizados

apenas no momento correto e que, todos os problemas que outrora podem

nos afetar são apenas degraus que nos direcionam rumo à concretização do

sonho.

Agradeço a toda minha família pelo apoio incondicional, a mainha, a

minha vó Dulce e ao meu vô Zé, que são minha motivação de vida e aos

quais agradeço por todo carinho, cuidado e amor oferecidos desde que fui

concebida. À tio Junior, tio Rogério, Cláudia, tia Verônica, tio Bena, Hélder,

Helton e Ninha por me apoiarem ainda que sem compreender integralmente

os motivos, torcendo pelo meu sucesso e aceitando minha ausência em

vários momentos. EU AMO VOCÊS!

Também importantes foram as famílias das quais fui integrante por

um curto período, as que me abrigaram e deram todo o apoio logístico

durante as minhas idas a campo. Em especial Emanuel e Fernanda que,

além de tudo, me ofereceram horas de discussões e reflexões acerca do meu

estudo e são, para mim, lições de vida.

Não menos importantes foram os meus sujeitos pesquisados, as

crianças e adolescentes, essenciais para a construção deste trabalho,

fazendo-se aqui presentes em cada frase e também em cada sorriso sincero

que guardo na lembrança.

Com muito reconhecimento, destaco também a contribuição de duas

pessoas que ajudaram a construir minha identidade profissional, dando-me

liberdade para voar mas, ao mesmo tempo, orientando meu voo quando o

caminho tomado não era o mais adequado. A Paulo Wagner e Professor

Langguth sou grata pela oportunidade, pela paciência, pelo tempo dedicado,

pelo apoio e, principalmente, pela confiança.

À Tarsila Cavalcanti por diversas vezes ter me acompanhado nas idas

a campo, sendo uma parceira de viagem e me auxiliando também na

identificação das aves. Do mesmo modo, sou grata ao nobre Washington

Vieira pela correção da lista de répteis. Também a Lusi pela revisão do

abstract e torcida diretamente de Ohio State, USA!

Ao CNPq pela concessão da bolsa que viabilizou minhas idas a campo

e, por conseguinte, a concretização deste trabalho.

Aos meus amigos e amigas, Alin, Eri, Dezza, Poly, Bele, Nâne, a minha

prima Hany e a mais nova mamãe (Mayara, a maga), por tolerarem meu chá

de sumiço, torcendo por mim apesar da distância física.

À Jéssica por aguentar meu stress e correria diária, compartilhando

momentos de alegria e tornando engraçadas as situações mais excêntricas.

Ao Professor de Biologia Adailton Paulino, por ter alavancado a

vocação de uma adolescente de 14 anos, por volta do ano 2004 quando

ainda cursava o 2º ano do ensino médio.

Sou grata ainda a Thiago César, pelo estímulo oferecido no momento

em que eu mais precisei, também pelas broncas, por ter sido um dos

grandes mentores da minha formação.

Por último e não menos importante, a Eudécio Neco, o meu Deto. Eu,

sinceramente, agora parei! Não sei como te agradecer... Faltam-me palavras

para descrever a gratidão que tenho por você ter me acompanhado nesta

caminhada árdua, doída, mas feliz destes quatros anos passados. Dizer que

te agradeço é novamente agradecer ao nosso bom Deus por ter fortalecido

nossas forças ao unir eu e você.

A todos vocês, muito obrigada!

É tão bonito quando a gente pisa firme nessas linhas que estão nas

palmas de nossas mãos. É tão bonito quando a gente vai à vida nos

caminhos onde bate bem mais forte o coração [...]

Gonzaguinha

RESUMO

A relação que o homem mantém com os recursos naturais evoluiu

numa perspectiva de crescente exploração não sustentável e degradação.

Nesse contexto, a captura indiscriminada de animais silvestres se

caracteriza como uma séria ameaça aos ecossistemas. Muitos estudos

envolvem a relação entre populações tradicionais e Unidades de Conservação

(UCs). Entretanto, é importante também priorizar pesquisas que sejam

realizadas em áreas onde não existem esforços conservacionistas evidentes,

pois a necessidade de manutenção da fauna ultrapassa a barreira de uma

UC. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é identificar as motivações que

levam algumas populações rurais da Paraíba a praticar a retirada ilegal ou a

aquisição de animais silvestres vindos da natureza. Para tanto, durante

novembro de 2009 a maio de 2011, foram aplicados questionários de caráter

socioambiental e realizadas entrevistas semiestruturadas com estudantes de

escolas rurais nos municípios de Quixaba, Passagem, Cacimba de Areia,

Areia de Baraúnas, Salgadinho e na RPPN Fazenda Tamanduá, localizados

nas macrorregiões do Sertão e da Borborema. Foram visitadas 26 escolas,

sendo entrevistados 319 alunos, dos quais se obteve 231 questionários

assim distribuídos: Quixaba (30), Passagem (47), Cacimba de Areia (51),

Areia de Baraúnas (24), Salgadinho (54) e RPPN Fazenda Tamanduá (25).

Em decorrência, verificou-se que a atividade de caça não é determinante

para a sobrevivência das famílias nesta área de estudo. Notadamente a

captura de animais silvestres está mais associada com uma motivação

cultural, como se observa no elevado grau de uso para companhia. Os

métodos e instrumentos de caça utilizados são diversos, com destaque para

a caça com cachorros, o facheado e o emprego de espingarda. As aves

correspondem ao grupo de animais mais utilizados, seguido dos mamíferos e

répteis. Em suma, constatou-se que as crianças são fontes valiosas de

conhecimento e podem fornecer informações importantes para estudos

etnoecológicos, sendo ferramentas importantes para este fim.

Palavras chave: Fauna silvestre. Métodos de captura. Comercialização.

Percepção ambiental.

ABSTRACT

The relation that man maintains with natural resources developed in a

perspective of increasing unsustainable exploitation and degradation. In this

context, the indiscriminate capture of wild animals is characterized as a

serious threat to ecosystems. Many studies involve the relation between

traditional population and protected areas. However, it is important also to

prioritize research in areas which does not have evident conservation efforts,

because the necessity for maintenance of wildlife override the barrier of

protected area. Thus, the aim of this study is to identify the motivations that

lead some rural populations at Paraíba to poaching or acquire wild animals

coming from nature. For this, from November 2009 to May 2011, were

applied socio-environmental questionnaires and realized semistructured

interviews with students from rural schools in the municipalities of Quixaba,

Passagem, Cacimba de Areia, Areia de Baraúnas, Salgadinho and at RPPN

Fazenda Tamanduá, located in macroregions of Sertão and Borborema. We

visited 26 schools and interviewed 319 students, from which were obtained

231 questionnaires distributed as follow: Quixaba (30), Passagem (47),

Cacimba de Areia (51), Areia de Baraúnas (24), Salgadinho (54) and RPPN

Fazenda Tamanduá (25). Thereby, was found that the activity of poaching is

not crucial to the families survival in this area of study. Notably, the capture

of wild animals is more associated with a cultural motivation, as observed in

the high level of usage for company. The methods and instruments of

poaching used are diverse, especially the hunting with dogs, the ‘facheado’

(nocturnal hunting of birds) and the use of shotgun. The birds correspond to

the most widely used group of animals, followed by mammals and reptiles.

In short, it was found that children are valuable sources of knowledge and

can give important information for ethnoecological studies, being important

tools for this purpose.

Keywords: Wildlife. Methods of capture. Commercialization. Environmental

perception.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa do estado da Paraíba destacando a área de

estudo, que inclui os municípios de Quixaba,

Passagem, Cacimba de Areia, Areia de Baraúnas,

Salgadinho e Santa Terezinha.

32

Figura 2 – Auxílio ao estudante durante a aplicação do

questionário em uma escola do município de Cacimba

de Areia, Paraíba.

35

Figura 3 – Número de alunos entrevistados e questionários

preenchidos nas respectivas cidades avaliadas.

38

Figura 4 – Distribuição do número de entrevistados pela idade

correspondente em ambos os sexos.

39

Figura 5 – Relação entre as porcentagens de famílias que

possuem ou capturam animais silvestres e das que não

possuem ou não capturam por faixa de renda.

40

Figura 6 – Relação entre a renda mensal e a quantidade de

animais capturados e/ou adquiridos por cada família

representada através dos entrevistados.

41

Figura 7 – Representação das três faixas de renda em cada

categoria de uso (Companhia, comércio, troca e

alimentação).

42

Figura 8 – Distribuição do número absoluto de famílias que

utilizam animais silvestres e das que não utilizam, de

acordo com o número de membros que as compõe.

43

Figura 9 – Relação da composição de membros das famílias e

quantidade de espécies utilizadas por elas.

44

Figura 10 – Espécime de Columbina minuta perseguido e morto

por crianças durante entrevista realizada em uma

escola do município de Cacimba de Areia, na Paraíba.

45

Figura 11 – Gêneros de aves e suas respectivas frequências de

citações nas localidades pesquisadas.

52

Figura 12 – Espécies de aves mais utilizadas, de acordo com os

informantes, durante a pesquisa realizada no

semiárido paraibano. A: Rolinha (Columbina talpacoti);

B: Galo-de-campina (Paroaria dominicana); C: Golado

macho (Sporophila albogularis); D: Concriz (Icterus

jamacaii); E: Gangarro (Aratinga cactorum); F: Ribaçã

(Zenaida auriculata); G: Azulão (Cyanoloxia brissonii).

53

Figura 13 – Gêneros de mamíferos e suas respectivas frequências

de citações nas localidades pesquisadas.

54

Figura 14 – Espécies de mamíferos mais utilizadas, de acordo com

os informantes, durante a pesquisa realizada no

semiárido paraibano. A: Tatu-peba (Euphractus

sexcinctus); B: Tatu-verdadeiro (Dasypus

novemcinctus); C: Preá (Galea spixii); D: Tacaca juvenil

(Conepatus semistriatus); E: Tamanduá (Tamandua

tetradactyla).

55

Figura 15 – Espécies de répteis mais utilizadas, de acordo com os

informantes, durante a pesquisa realizada no

semiárido paraibano. A: Téju (Tupinambis merianae);

B: Camaleão (Iguana iguana).

56

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Espécies da fauna silvestre capturadas e/ou utilizadas,

com seus respectivos nomes locais, número de citações

e valor de uso (VU) nas seis áreas estudadas: Quixaba,

Passagem, Cacimba de Areia, Areia de Baraúnas,

Salgadinho e RPPN Tamanduá.

57

Tabela 2 – Distribuição das espécies da fauna silvestre em

categorias de uso nas seis áreas estudadas: Quixaba,

Passagem, Cacimba de Areia, Areia de Baraúnas,

Salgadinho e RPPN Tamanduá. IUCN Red List status:

(VU) vulnerável; (LC) pouca preocupação.

65

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16

1.1 Interações entre homem e natureza 17

1.2 Captura e comercialização de animais silvestres no Brasil 18

1.3 A Caatinga e suas ameaças 21

1.4 Aspectos da caça e comercialização de animais silvestres na Paraíba 22

1.5 Implicações ecológicas e sociais da caça ilegal 24

1.6 Relações entre crianças, adolescentes e o meio ambiente 27

2 OBJETIVOS 30

2.1 Geral 30

2.2 Específicos 30

3 METODOLOGIA 32

3.1 Área de estudo 32

3.2 Coleta de dados 33

3.3 Análise dos dados 36

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 38 4.1 Contexto socioeconômico e uso da fauna silvestre 38

4.2 Caracterização da atividade de caça 47

4.2.1 Locais preferenciais 47

4.2.2 Métodos e instrumentos de captura 48

4.2.3 Espécies capturadas e seus fins 50

4.2.4 Aspectos sobre a comercialização de animais 69

4.3 Percepção ambiental dos sujeitos 70

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 73 6 SUGESTÕES PRÁTICAS 75

REFERÊNCIAS 77

APÊNDICE 85

15

INTRODUÇÃO

16

1 INTRODUÇÃO

Como todo ser vivo o homem mantém desde sua origem uma relação

com os demais componentes vivos do seu ambiente. Esta relação, no

entanto, mudou em função das novas maneiras de explorar os recursos e do

crescimento da população humana, tornando-se, em muitos casos,

predatória e imprudente. Nesse contexto, o Brasil, um país de dimensão

continental e detentor de ampla diversidade biológica, tem passado por um

longo histórico de devastação e uso descomedido dos recursos naturais. A

Caatinga, um domínio morfoclimático característico deste país, possui

atualmente uma esparsa vegetação e está sujeita a constante degradação

antrópica.

Dentro desta problemática, destaca-se a captura de animais silvestres,

que normalmente está vinculada a utilização de espécimes da fauna como

animais de estimação, como alimentação e na medicina tradicional. Do

mesmo modo, o tráfico de animais silvestres é um fator estimulante para

esta atividade, sendo responsável, a nível mundial, pela retirada de milhões

de animais da natureza todos os anos. A região Nordeste contribui para este

cenário através do fornecimento de diversas espécies, sendo caracterizada

como área de captura e de pequenos e médios mercados (LOPES, 2003).

Visto que a captura excessiva é uma das principais causas da redução

das populações naturais e que isto pode ocasionar graves efeitos no

funcionamento do ecossistema (RIBEIRO; SILVA 2007), considera-se

importante a elaboração de estudos e estratégias de conservação que

regulem a relação do homem com os recursos faunísticos utilizados, bem

como corrija as perturbações que dela sejam originadas.

A partir de uma análise mais sistemática observamos que estas

alterações ocorrem, primariamente, no âmbito das populações rurais, as

quais estão mais intimamente relacionadas com os animais silvestres e deles

usufruem. Logo, a busca por alternativas para minimizar a destruição dos

recursos faunísticos, incluindo formas de uso sustentável deve,

necessariamente, considerar os aspectos socioeconômicos e culturais

17

embutidos nas motivações para a utilização de espécimes da fauna silvestre

por essas comunidades.

1.1 Interações entre homem e natureza

A relação do homem com os demais componentes vivos da natureza é

mantida desde os primórdios e foi responsável por gerar uma série de

conhecimentos sobre o meio ambiente. Contudo, evoluiu numa perspectiva

crescente de exploração e consequente degradação dos recursos naturais,

principalmente em função das novas maneiras de explorá-los (tecnologia) e

do crescimento da população humana. Nesse contexto, as atividades

humanas são extremamente variáveis na sua influência sobre os elementos

da biodiversidade (TORRES et al., 2009).

Em culturas tradicionais evidencia-se a tendência da mudança entre

um perfil de uso dos recursos adequado, sustentável e seguindo padrões

culturais para outro que compromete a conservação do ambiente natural,

principalmente pelo envolvimento dessas populações em atividades de

garimpos, sobrepesca e de caça indiscriminada (LEONEL, 2000). Todas as

tensões econômicas oriundas da ocupação dos espaços rural e urbano

devem, possivelmente, ter influenciado o modo pelo qual estas populações

tradicionais utilizam os recursos de seu entorno.

Contudo, ao longo dos anos estas populações reuniram conhecimentos

valiosos acerca da fauna, flora, uso do solo e outros elementos que, sendo

utilizados adequadamente, complementam o conhecimento científico em

diversas áreas, tais como manejo de recursos, avaliação de impacto

ambiental e desenvolvimento sustentável (ZWAHLEN, 1996). Por esse motivo,

quando se procura realizar uma estratégia de conservação eficaz, é

importante identificar e considerar os diversos valores que as comunidades

locais embutem aos componentes do ambiente em questão (SALLENAVE,

1994). De acordo com este mesmo autor, tais valores podem ser classificados

em: ecológico, social, cultural, econômico e espiritual.

Do mesmo modo, a captura da fauna silvestre proporcionou a

apreensão de uma variedade de conhecimentos sobre o comportamento,

18

distribuição, alimentação e reprodução das espécies alvo. Segundo Ellen

(2012), esta gama de saberes são acumulados através das gerações por meio

da experimentação e troca de informação oral.

A utilização dos recursos faunísticos se dá, em primeira instância, na

atividade de caça, que é empregada para a obtenção de animais destinados a

diversos fins, dentre os quais destacam-se o comércio, a alimentação

humana, a domesticação e o uso medicinal.

1.2 Captura e comercialização de animais silvestres no Brasil

O Brasil é conhecido como detentor de uma grande diversidade

biológica, o que pode ser justificado pela presença de cinco biomas,

incluindo a maior área úmida tropical do mundo, o pantanal, e do maior

sistema fluvial do mundo (BRANDON et al., 2005). Todavia, o país enfrenta

um atual quadro de degradação que, segundo Padrone (2004), é o resultado

de anos de exploração irracional dos recursos naturais.

A origem dessa utilização descomedida data do período colonial, com a

livre exploração madeireira pelos europeus e o desenvolvimento da

agricultura e criação de gado no país. No que tange o comércio de animais

silvestres, nota-se que ele foi impulsionado pela necessidade dos europeus

em conhecer, com mais detalhes, o esplêndido mundo natural que os

viajantes encontravam no Brasil. Isso porque, as primeiras ilustrações foram

realizadas através de relatos, excetuando-se as pinturas derivadas da

expedição dos holandeses ao Nordeste (1630-1654). Tratando dessa

curiosidade europeia e da dificuldade de transporte de alguns animais,

Ribeiro (2006, p. 3) discorre:

Relatos e gravuras permitiram saciar, em parte, a curiosidade do Velho Mundo em torno da fauna brasileira, porém nunca substituíram o contato direto com o animal vivo ou empalhado, ou, pelo menos, com suas peles, penas, dentes, garras, bicos, esqueletos, etc. O transporte de espécimes vegetais sob a forma de sementes, mudas, plantas herborizadas, etc, sempre se apresentou mais fácil do que o de animais, em especial aqueles de maior porte, devido às dificuldades de capturá-los vivos e de assim mantê-los na travessia do Atlântico [...] resultando em muitas tentativas

19

infrutíferas com a morte de vários animais, vitimados pela fome, frio, ou outros fatores.

A partir de então, portugueses e franceses demonstram maior

interesse por esse tipo de atividade, que acabou modificando inclusive o

hábito de caça dos índios, os quais tornaram os animais mercadorias para o

escambo com os europeus. Em geral, os grupos mais comercializados eram

psitacídeos e primatas, fato que leva a consagração da imagem do pirata ou

marinheiro acompanhado destes animais. O avanço científico no mundo

europeu, notadamente na França, Inglaterra e Alemanha, refletiu-se no

crescente interesse por animais raros que seriam utilizados para estudos em

História Natural. No final do século XIX, a exportação de animais silvestres

para a Europa sistematizou-se e, a partir de então, foi intensificada a

captura de várias espécies para atender a este mercado (PADRONE, 2004). O

comércio da fauna silvestre passou a ser ilegal no Brasil apenas em 1967,

através da lei 5.197, quando surgiu uma legislação direcionada para coibir

esta atividade. Ladeia e Fenner (2010) destaca que, tão logo isto aconteceu, o

tráfico ilegal de animais silvestres configurou-se no cenário brasileiro, pois

não foram apresentadas alternativas às pessoas que antes viviam deste

comércio, as quais passaram a praticar atividades ilícitas.

Atualmente o tráfico de animais silvestres ainda constitui uma das

maiores ameaças a fauna brasileira. As pretensões com esse mercado não

modificaram-se bruscamente, pois como relata Padrone (2004) ele se

desenvolveu com o crescente interesse das pessoas por animais silvestres, os

quais eram geralmente cobiçados para estimação. Segundo Bubiak (2008)

não é de hoje que a domesticação de espécies silvestres desperta interesses

no homem, mas ela tem se intensificado nas últimas décadas. No Brasil,

manter estes animais em cativeiro domiciliar é um costume comum a

diversas classes sociais, desde as mais privilegiadas financeiramente até as

mais baixas, caracterizando-o como um hábito cultural da população

(PADRONE, 2004). Aliada a este fato existe a influência da mídia, sobretudo

televisiva, através da divulgação e ênfase na beleza faunística, sendo um

estímulo indireto para o desejo de posse e consequente obtenção de animais

silvestres.

20

Não obstante, a caça indiscriminada também é constituinte

fundamental do tráfico de animais silvestres, o qual se distingue como um

dos três maiores negócios ilícitos do mundo, atrás apenas do tráfico de

drogas e de armas, movimentando cerca de 10 bilhões de dólares ao ano

(WWF, 1995). Desse total, o Brasil participa com 5% a 15%,

aproximadamente US$ 900 milhões/ano, correspondendo a cerca de 38

milhões de animais retirados da natureza todos os anos (RENCTAS, 2001).

A legislação brasileira dispõe no art. 29 da lei nº 9.605/98 que matar,

caçar, apanhar, perseguir, comercializar e utilizar animais silvestres, sejam

nativos ou em rota migratória, sem ou em desacordo com a autorização do

órgão competente implica em multa e detenção de seis meses a um ano. Se a

espécie for considerada rara ou ameaçada de extinção esta pena é agravada

(BRASIL, 1998).

Conforme a Renctas (2001), os indivíduos que atuam na

comercialização ilegal da fauna silvestre são classificados em categorias

funcionais como: os apanhadores, responsáveis pela captura, os

distribuidores que são encarregados pelo transporte, os comerciantes que

ofertam os animais para os consumidores, que são o destino final dos

espécimes comercializados. Neste contexto, tal categoria é composta por

criadores e colecionadores particulares, zoológicos, circos, artesãos, entre

outros fins.

Lopes (2003) diferencia algumas regiões brasileiras incluídas nesse

processo do tráfico. Nessa perspectiva, a região Nordeste distingui-se como

área de captura e de pequenos e médios mercados, enquanto a região

Sudeste participa do processo como a grande consumidora e promotora do

tráfico internacional. Assim, os animais são transportados, através das

rodovias federais e estaduais e até mesmo pelo espaço aéreo, para os

grandes centros urbanos (PADRONE, 2004).

21

1.3 A Caatinga e suas ameaças

Na região Nordeste destaca-se o domínio morfoclimático da Caatinga

(AB’SÁBER, 1970), que apresenta elevada temperatura (BUCHER, 1982) e

longos períodos de seca, exibindo um clima árido e semiárido (SAMPAIO,

1995). Este mesmo autor ainda ressalta o longo histórico de alterações à que

esta região semiárida está sujeita. Dentre os fatores que ameaçam a sua

conservação, um dos mais representativos é a caça ilegal e, nesse aspecto, a

utilização de espécimes da fauna é um evento considerável na região.

Sabe-se que a Caatinga não é homogênea e pouco diversa, mas sim

heterogênea e mais diversificada que qualquer outro bioma exposto às

mesmas condições de clima e solo (MMA, 2002). Estudos recentes

demonstram que esta região abriga várias espécies da fauna e flora, com um

elevado índice de endemismo, o que enfatiza sua importância para a

conservação da biodiversidade brasileira. Segundo Leal et al. (2003), o valor

da Caatinga ultrapassa a elevada biodiversidade e endemismos, pois sendo

uma anomalia climática, ela funciona ainda como um importante laboratório

para estudos de evolução, por exemplo.

No entanto, como as atividades humanas exercem influência direta na

manutenção da riqueza dos ecossistemas, a Caatinga tem sido ameaçada

desde o início do século XVI por vários fatores, tal como desmatamento para

implantar fazendas de gado (COIMBRA-FILHO; CÂMARA, 1996). Atualmente,

a vegetação arbórea é esparsa e rara (PRADO, 2003), estando restrita às

manchas de solos ricos em nutrientes (LEAL et al., 2005) e encostas de

serras. De acordo com estes mesmos autores, a ação antrópica constante

está causando perturbações no ambiente da Caatinga e estima-se que 30,4%

a 51,7% de sua área já sofreu alterações. Entre as maiores ameaças a sua

biodiversidade está a agricultura de corte e queima, o desmatamento para

pastagens e a caça predatória.

Os longos períodos de seca, característicos deste domínio, reduzem a

produtividade da terra, somando consequências para o empobrecimento da

população rural (SAMPAIO; BATISTA, 2004), que desenvolveu uma estreita e

intensa relação de uso com os recursos naturais disponíveis na região (LEAL

22

et al., 2005; ALVES et al., 2009). Segundo Redford (1992), a necessidade de

aquisição de proteína animal é um fator estimulante para a utilização da

fauna silvestre, auxiliando na subsistência de comunidades interioranas do

país.

Nesse contexto, diversos pesquisadores manifestam o crescente

interesse em elaborar estratégias de conservação para a Caatinga, tais como

programas de sustentabilidade que estimulem a utilização racional dos

recursos pelos sertanejos e a criação de novas Unidades de Conservação

(UCs).

Conforme LEAL et al. (2005), existem três objetivos essenciais que

priorizam a conservação da Caatinga, o primeiro trata da evitar uma maior

perda de habitat e a desertificação, o outro diz respeito a manutenção dos

serviços ecológicos-chave e o último se refere a promoção do uso sustentável

dos recursos naturais. Para subsidiar tais objetivos, é importante conhecer a

biodiversidade dessa região semiárida, bem como seus modos de utilização

pelas populações, visto que um recurso natural possui diferentes valores de

ordem social, cultural, ecológica e econômica.

1.4 Aspectos da caça e comercialização de animais silvestres na Paraíba

O estado da Paraíba apresenta uma ampla área do seu território

incluída no domínio das Caatingas, o que compreende as regiões do Sertão,

Cariri, Seridó e Curimataú (MELO; RODRIGUES, 2003). Como já enfatizado,

trata-se de um bioma rico em espécies e endemismos, característica que

possivelmente favorece a utilização de diferentes espécimes da fauna e da

flora pela população humana.

Até o presente momento não existe um estudo sistemático sobre a

captura ilegal de animais silvestres em todo o estado, no entanto, têm sido

conduzidos vários trabalhos em determinados municípios e regiões, os quais

descrevem o perfil do caçador, bem como uma variedade de métodos de caça

e de espécies capturadas. Frequentemente as técnicas de captura são

seletivas (GAMA; SASSI, 2008; ALVES et al., 2009; BARBOSA; NOBREGA;

23

ALVES, 2010), ou seja, consideram as características específicas de cada

espécie, tais como o hábito alimentar, o comportamento e o hábitat.

Informações sobre o tráfico de animais silvestres são difíceis de ser

mensuradas (WWF, 1995), entretanto estimativas sobre os registros de

apreensões, entregas voluntárias e resgates nos CETAS (Centro de Triagem

de Animais Silvestres) podem revelar algo sobre a captura e o comércio

destes. Nesta perspectiva, pode-se considerar os dados apresentados por

Marques et al. (2011) no que diz respeito a fauna com entrada no CETAS da

Paraíba durante os anos 2009 e 2010. Segundo os autores, as aves

correspondem a 81,24% dos 9.316 animais depositados no CETAS entre os

anos abordados, seguidas dos répteis que representam 10,93% e dos

mamíferos com 6,84%. De modo similar, Pagano et al. (2009) também

constataram a prevalência de aves (88% do total) durante o período de

estudo neste centro, que compreendeu os meses de agosto de 2006 a julho

de 2007. Estes dados podem indicar aspectos relevantes sobre as atividades

de caça e comercialização da fauna silvestre no estado, inclusive sobre os

principais pontos de apreensão, porém são mais úteis no que diz respeito a

avifauna em virtude de seu comércio mais aparente que o dos demais

grupos, como mamíferos e répteis.

Na Paraíba, notadamente, os principais pontos de comercialização

registrados são feiras, mercados informais e pontos específicos na capital,

João Pessoa, e em Campina Grande (LOPES, 2003). Nesse contexto, Rocha

et al. (2006) interpreta a presença de um tráfico interno de pequenas

proporções e, tratando do comércio de aves, destaca que normalmente ele

ocorre como um complemento financeiro à renda familiar.

Todavia, os fins da captura de animais silvestres no estado não se

resumem a comercialização, ainda pode-se destacar a criação em cativeiro

domiciliar, a alimentação, a produção de artesanatos, o lazer, o uso místico-

religioso, o emprego da fauna ou de seus derivados na medicina popular e a

caça para a resolução de conflitos que envolvem animais silvestres e

domésticos. Apesar desta diversidade de usos ainda são escassos os

trabalhos que a contemplam, de modo que se evidenciam estudos sobre a

captura e comercialização, especialmente de aves, e outros sobre o uso

24

medicinal. Além disso, algumas pesquisas de campo analisam essa temática

de forma indireta, objetivando prioritariamente examinar a percepção

ambiental de comunidades rurais.

1.5 Implicações ecológicas e sociais da caça ilegal

Visto que a captura excessiva é a uma das principais causas da

redução das populações naturais, o tráfico de animais silvestres destaca-se

como um dos impactos mais significativos para a diminuição da abundância

de várias espécies, ocasionando sérios efeitos na estrutura das comunidades

e nas suas funções ecológicas (RIBEIRO; SILVA, 2007).

As aves, por exemplo, desempenham papeis importantes para a

manutenção do meio ambiente, tais como a polinização e dispersão de

sementes e, por decorrência, a recuperação de áreas degradadas. Nesse

contexto, a ornitocoria apresenta algumas vantagens: as aves possuem

volume corpóreo relativamente grande e podem carregar sementes

proporcionais a seu tamanho, bem como têm facilidade de deslocamento, o

que favorece o seu raio de ação. Por outro lado, a fidelidade ao ambiente

pode favorecer a dispersão de plantas que só desenvolvem-se naquele local

(ARGEL-DE-OLIVEIRA, 1998), indicando que espécies de aves endêmicas

atuam na conservação do ambiente original. Na recomposição de áreas

degradadas as aves atuam de forma eficiente, pois movimentam-se entre

bordas de matas e em espaços alterados pela ação antrópica, sendo veículos

para a dispersão de plantas pioneiras (ARGEL-DE-OLIVEIRA, 1998). Assim,

contribuem para o processo de sucessão ecológica, pois proporcionam

aumento na cobertura e na biomassa vegetal, que modificam o ambiente

permitindo que espécies dos estágios tardios se estabeleçam (RICKLEFS,

2009).

Os répteis constituem, em sua maioria, um grupo de predadores. Além

disso, boa parte dos lagartos, algumas cobras e quelônios alimentam-se

principalmente de insetos, sendo classificados como consumidores

secundários. Os herbívoros além de se alimentarem de folhas, podem utilizar

os frutos como fonte de energia e atuar assim na dispersão de sementes.

25

Logo, são responsáveis por serviços ecológicos importantes para a

manutenção funcional dos ecossistemas. Mas, enquanto alguns sobrevivem

com sucesso em ambientes perturbados pela ação antrópica, a maioria só

consegue resistir em ambientes específicos, sendo especialistas em hábitats

(MARTINS; MOLINA, 2008).

Os mamíferos, por sua vez, podem constituir espécies-chave na

estrutura das comunidades naturais através de serviços como a dispersão de

sementes, polinização e predação (CUARÓN, 2000). Estas espécies incluem

os predadores de topo de cadeia, que normalmente já possuem baixas

densidades populacionais (LAURANCE, 1994) e, se afetados pela sobrecaça,

ocorrem alterações na composição das comunidades por meio do aumento

da densidade das espécies-presa (TERBORGH et al., 2001). Contudo,

Townsend (2000) e Chiarello (1999) ressalvam que a maior pressão de caça é

direcionada aos mamíferos frugívoros e herbívoros.

Existem também outras discussões acerca dos prejuízos causados pelo

tráfico de animais silvestres, como as implicações no setor político-

econômico, que distingue os hemisférios norte e sul do planeta, de modo que

o primeiro destaca-se com o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

e poucos recursos naturais e o segundo com menor IDH e muitos recursos

naturais, atuando como fornecedor destes (HESSEL; SAITO; STEINK, 2007).

Quando é abordado o assunto da caça e comercialização de animais

silvestres, a imagem de que as comunidades humanas beneficiam-se dos

recursos faunísticos em detrimento da perda de biodiversidade se sobressai

em discursos conservacionistas. Por outro lado, muitos autores (COSTA-

NETO, 2000; NOBREGA; BARBOSA; ALVES, 2009b; ROCHA et al., 2006) são

prudentes ao tratar desse tema e utilizam argumentos que atenuam a visão

negativa embutida nas populações humanas, contrapondo o discurso

apresentado anteriormente ao ressaltar o uso dos recursos como forma de

subsistência. Cunha e Nunes (2008) classificam esse tipo de postura como

“visões românticas”.

No entanto, ainda são escassos os trabalhos que consideram estas

variáveis, o benefício e/ou o prejuízo, para ambos os lados da relação

homem-natureza. Por este motivo, aderir exclusivamente a apenas um

26

destes discursos não é uma atitude sensata enquanto pouco se conheça da

problemática.

Sendo assim, é necessário realizar um estudo sistemático da caça e

verificar quais os fins desta prática e, do mesmo modo, analisar se há

interferência na dinâmica populacional das espécies utilizadas, para dessa

forma, segundo Mourão et al. (2006), entender a verdadeira relação

recurso/caça na área. Com relação a esse primeiro ponto, sua importância

reside no fato de fornecer subsídios importantes para a elaboração de

estratégias de conservação das espécies. Além disso, estímulos recentes têm

conseguido sensibilizar a população urbana, mas ficando longe de atingir o

homem do campo, o qual mantém uma relação direta e próxima com os

recursos faunísticos e deles usufruem. Neste contexto, nos confrontamos

com alguns desafios como desenvolver estratégias adequadas de uso da

fauna, o seu aproveitamento econômico e a conservação do potencial contido

na megadiversidade brasileira e nos saberes culturais (LEONEL, 2000). De

acordo com Vieira e Weber (1997), os planos de gestão e tomada de decisões

devem contemplar as possibilidades de conexão com as comunidades rurais,

que deste modo podem desempenhar papeis importantes na proteção do

ambiente. Souto (2006) ressalta que o conhecimento ecológico tradicional

medeia a retroalimentação entre biodiversidade e sociodiversidade, na qual

uma atua na geração e manutenção da outra.

Sendo assim, na situação atual de avanço na destruição da natureza,

e considerando o volume milionário de investimentos em conservação

direcionados a alvos desconexos, entende-se que é urgente realizar estudos

dos reais determinantes da destruição. Além disso, muitos estudos que

envolvem a relação de populações tradicionais e o meio ambiente

caracterizam-se pelo enfoque exclusivo a unidades de conservação (UCs). É

inegável o valor destas pesquisas no fornecimento de subsídios para a

incorporação da realidade das populações nas propostas de manejo da área.

Entretanto, é importante priorizar estudos que sejam realizados em áreas

onde não existem esforços conservacionistas evidentes, pois a necessidade

de manutenção da fauna ultrapassa as barreiras de uma UC.

27

1.6 Relações entre crianças, adolescentes e o meio ambiente

Crianças e adolescentes, através das relações que mantém com o meio

ambiente, apreendem uma série de conhecimentos sobre a natureza,

inclusive sobre a utilização que dela é feita por suas comunidades de origem.

Logo, podem auxiliar significativamente no entendimento das motivações

que levam às práticas de captura e comercialização de animais silvestres

pelas populações rurais. Identificar as relações deste público e o

conhecimento que adquiriram a partir da vivência com o ambiente natural

que o cerca é um dos objetivos principais para a efetivação do presente

trabalho.

De forma similar aos adultos, também participam claramente do

processo de apreensão de saberes através das experiências vividas em sua

formação. A difusão desses conhecimentos, através da tradição oral (POSEY,

1987), é do mesmo modo importante para o acúmulo de saberes entre as

gerações. Sendo assim, o público infanto-juvenil mantém um conjunto de

informações adquiridas por meio de diversos instrumentos e instituições, a

exemplo da instituição escolar e, mais primariamente, a familiar.

Partindo desse pressuposto, indivíduos que de alguma forma convivem

em ambientes naturais, especialmente aqueles que residem na zona rural e

possuem uma relação mais íntima com os recursos do meio ambiente,

constroem uma série de conhecimentos acerca da natureza, os quais

fornecem novos meios de lidar com situações favoráveis ou adversas neste

ambiente.

De acordo com Piaget (1970), a aquisição do conhecimento é

dependente de alguns fatores internos e externos, tais como a maturação do

sistema nervoso, a experiência e as transferências educativas ou sociais. O

referido autor ainda acrescenta que na infância e adolescência o

desenvolvimento intelectual situa-se no período das operações concretas (7 a

11-12 anos), que é caracterizado pela compreensão da relação entre o todo e

as partes, bem como pela formação de um sistema de significação. Sendo

assim, acredita-se que nessa fase o indivíduo apresenta um repertório de

informações formidável, podendo ser aproveitado em seu benefício e a favor

28

da sua comunidade, sobretudo quando se trata de assuntos relacionados ao

meio ambiente e a utilização de seus recursos, notadamente os faunísticos.

No tocante a captura de animais silvestres, Alves et al. (2009) e

Barbosa, Nobrega e Alves (2010) afirmam que durante a infância podem ser

verificados os primeiros registros das atividades de caça, frequentemente

pela utilização de um instrumento para captura de aves denominado

“baladeira”.

Diversas pessoas, entre leigos e especialistas no assunto, destacam a

importância da Educação Ambiental (EA) para a formação da consciência

crítica das crianças. De fato, Carvalho (2001) afirma que elas constituem um

grupo prioritário para fins de EA, fundamentando-se no argumento de que

nelas este tipo de consciência pode ser refletida em seus comportamentos

com maior sucesso do que nos adultos, visto que as crianças estão em fase

de desenvolvimento cognitivo e aqueles apresentam um conjunto de hábitos

e comportamentos de difícil reorientação.

A escolha de crianças e adolescentes para compor os sujeitos do

presente trabalho não foi ao acaso, mas baseou-se nas características acima

descritas, como também na inferência de que tal público não apresenta de

forma intensa os preconceitos e receios que modificam a qualidade e

quantidade das informações fornecidas pelos adultos.

29

OBJETIVOS

30

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Identificar quais as motivações que induzem as populações rurais do

semiárido paraibano a praticar a retirada e/ou aquisição ilegal de animais

silvestres a partir de relatos de crianças e adolescentes que se relacionam

com as atividades de captura e comercialização, de modo a contribuir com

informações que possam subsidiar ações eficazes para a conservação da

natureza na região.

2.2 Específicos

Identificar vivências e ações relatadas por crianças e adolescentes

relativas à caça e comercialização de animais silvestres;

Averiguar o perfil socioeconômico das famílias nas quais este

público está inserido;

Conhecer os métodos e instrumentos de caça empregados na

região;

Identificar as espécies utilizadas e seus respectivos fins;

Conhecer o perfil do comércio de animais silvestres na região;

Averiguar se o perfil socioeconômico das famílias determina a

utilização de espécies da fauna silvestre;

Verificar a percepção das crianças e adolescentes sobre a

disponibilidade de animais silvestres em ambiente natural.

31

METODOLOGIA

32

3. METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza-se, de acordo com Marconi e Lakatos

(2011), como uma pesquisa de campo através do método da observação

sistemática e utilizando como ferramentas um questionário e a entrevista

semiestruturada focalizada. Nesse contexto, foi empregada a abordagem

quali-quantitativa para atender aos objetivos de uma pesquisa exploratória.

3.1 Área de estudo

O estudo foi realizado em áreas rurais de seis municípios do estado da

Paraíba: Quixaba, Passagem, Cacimba de Areia, Areia de Baraúnas,

Salgadinho e Santa Terezinha. Os cinco primeiros são limítrofes, sendo

Salgadinho localizado na microrregião do Seridó Ocidental (Macrorregião da

Borborema) e os demais na microrregião de Patos (Macrorregião do Sertão).

A cidade de Santa Terezinha, por sua vez, inclui-se também nesta localidade,

porém faz divisa com a microrregião do Piancó a oeste (Figura 1).

Figura 1 – Mapa do estado da Paraíba destacando a área de estudo, que inclui os municípios de Quixaba, Passagem, Cacimba de Areia, Areia de Baraúnas, Salgadinho e Santa Terezinha.

A extensão territorial destes municípios é para Quixaba 157km2, para

Passagem 112km2, para Cacimba de Areia 220km2, para Areia de Baraúnas

96km2, para Salgadinho 184km2 e para Santa Terezinha 358km2. Em geral,

são cidades pequenas e apresentam um número reduzido de habitantes:

33

1.699 em Quixaba, 2.233 em Passagem, 3.557 em Cacimba de Areia, 1.927

em Areia de Baraúnas, 3.508 em Salgadinho e 4.581 em Santa Teresinha

(IBGE, 2010).

Estes municípios são caracterizados por baixos índices pluviométricos

e um sistema de distribuição de chuvas bastante irregular. As regiões

apresentam fitofisionomia típica do Bioma Caatinga, com vegetação xerófila,

hiperxerófila e trechos de floresta caducifólia. Geralmente a topografia dos

terrenos apresenta relevo com ondulações que podem ser suaves ou severas

variando entre 270 e 981 metros, com a ocorrência de várias serras, a

exemplo da serra de Pilões e Preacas em Quixaba e da serra da Borborema

em Cacimba de Areia e Areia de Baraúnas. A economia da região está

centrada no setor primário, notadamente em Areia de Baraúnas, seguido do

setor terciário e secundário. Sendo a agricultura, a pecuária, a avicultura e o

comércio as principais atividades econômicas (CPRM, 2005abcdef).

3.2 Coleta de dados

Durante os meses de novembro de 2009 a maio de 2011 foram

realizadas as viagens à campo, nas quais a coleta de dados estava

compreendida nos dias úteis da semana.

Para a execução do trabalho, realizamos um planejamento que incluiu

uma viagem de reconhecimento da área de estudo. Neste período

procuramos a colaboração de pessoas atuantes na comunidade local

residentes da zona rural de Quixaba, os quais nos forneceram informações

sobre as escolas, e fizemos também os contatos necessários com as

administrações públicas da região.

Após esta etapa, foram visitadas 26 escolas rurais da rede pública de

seis municípios: Quixaba (6), Passagem (3), Cacimba de Areia (6), Areia de

Baraúnas (4), Salgadinho (4) e Santa Teresinha (3), onde foram aplicados os

questionários e realizadas as entrevistas. Entretanto, nesta última cidade

nem todas as áreas rurais foram contempladas, sendo visitadas apenas as

escolas localizadas na Fazenda Tamanduá, a qual possui em seu interior

uma Unidade de Conservação da categoria uso sustentável, a RPPN (Reserva

34

Particular do Patrimônio Natural). De modo similar, no município de

Salgadinho, poucas escolas foram visitadas devido a desativação de algumas

e a reforma que naquele momento ocorria em outras. Mesmo assim foi

possível realizar uma boa amostragem do município, pois estudantes de

diversas localidades foram remanejados para as escolas visitadas. As turmas

foram selecionadas de acordo com a disponibilidade e o critério de faixa

etária, nesse último caso foi dada preferência as turmas em que os alunos

possuíam, em média, oito anos.

Através de questionários de caráter socioambiental, foram obtidas

informações sobre as atividades de captura e comercialização de animais

silvestres na região, a partir das relações e percepções dos entrevistados com

o tema mencionado, destacando também o perfil socioeconômico de suas

famílias (ver apêndice 1).

Sendo assim, nas referidas escolas, as turmas amostradas foram

divididas em grupos de irmãos, sem limite de pessoas, de modo que cada

grupo representasse uma unidade familiar. Na ausência de outras pessoas

da mesma família na turma, alguns alunos responderam as questões

individualmente (Figura 2). Conforme a necessidade foi oferecido auxílio no

entendimento das questões e aqueles que não tinham habilidades de leitura

e escrita responderam verbalmente (entrevista semiestruturada). Vale

ressaltar que durante o período de aplicação, perguntas não explícitas foram

feitas procurando enriquecer os questionários com mais informações. Além

disso, foram utilizadas pranchas com imagens de armadilhas, métodos de

caça (Alves et al., 2009) e animais para subsidiar a identificação dos

mesmos. Os controles foram feitos de acordo com Marques (1991), utilizando

os testes de validade das respostas, com entrevistas reproduzidas em

situações diacrônicas, quando uma pergunta é repetida a mesma pessoa em

tempos diferentes, e sincrônicas quando uma mesma pergunta é feita a

pessoas diferentes em momentos próximos.

35

Figura 2 – Aplicação do questionário e entrevistas realizadas em uma escola localizada na RPPN Fazenda Tamanduá (A), em Cacimba de Areia (B) e em Passagem (C), no estado da Paraíba. Fonte: Professores das respectivas turmas.

B

A

C

36

3.3 Análise dos dados

De posse dos questionários, os dados obtidos foram tabulados em

planilha eletrônica e feito o tratamento estatístico pertinente às análises da

relação entre as variáveis: renda mensal, composição familiar (quantidade de

membros), atitude de obtenção de animais silvestres, quantidade de espécies

e de indivíduos utilizados.

Os animais citados foram identificados a partir das imagens

mostradas durante as entrevistas e com base em nomes vulgares, neste

último caso buscou-se auxílio na literatura específica e de especialistas

familiarizados com a fauna da área de estudo.

Vale ressaltar que a expressão ‘caça’ adotada neste trabalho segue a

descrição de FERREIRA (1988, p. 112): “s. f. 1. Ato de caçar; caçada. 2.

Animais caçados. 3. Os animais que podem ser caçados. 4. Busca,

perseguição, procura”.

O Valor de Uso (VU) é uma medida que demonstra a importância

relativa de cada espécie para a comunidade local, sem a interferência da

opinião do pesquisador. Logo, foi calculado o VU (adaptado de Phillips et al.,

1994) para todas as espécies citadas através da seguinte fórmula:

onde U é o número de citações por espécies e n é o número de informantes.

Nas análises estatísticas foi utilizado o teste de normalidade D’

Agostino que identificou as amostras como não paramétricas. Partindo dessa

verificação, foram escolhidos os seguintes testes para analisar a relação

entre as variáveis citadas anteriormente: Coeficiente de Contingência C e

Coeficiente de Spearman, ambos com poder de decisão de 0.05. As demais

informações foram analisadas conforme a frequência (%) das respostas dos

entrevistados.

37

RESULTADOS E DISCUSSÃO

38

0

30

60

90

Quixaba Passagem Cacimba de Areia

Areia de Baraúnas

Salgadinho Santa Teresinha

30

47 51

24

54

25

71

55

66

34

60

33

Núm

ero

absolu

to

Municípios amostrados

Questionários obtidos Estudantes entrevistados

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Contexto socioeconômico e uso da fauna silvestre

Nos municípios envolvidos, um total de 319 estudantes foi

entrevistado. Contudo, como a abrangência da pesquisa estendeu-se à

unidade familiar, obteve-se 231 questionários (Figura 3).

Figura 3 – Número de alunos entrevistados e questionários preenchidos nos respectivos municípios.

Considerando as informações declaradas através do questionário –

que abrangeu o sexo, a idade e a série do indivíduo mais velho do grupo,

quando este era formado – o número de indivíduos entrevistados do sexo

masculino e feminino foi bastante similar: 121 na primeira categoria, 109 na

segunda e um indivíduo que ocultou a informação. Os estudantes

apresentaram, em média, 9 anos (4-23) e a proporção sexo/idade mostrou-se

bastante harmoniosa (Figura 4).

Muitos dos pais citados pelos entrevistados trabalham de forma

autônoma (77%) como vendedores, pedreiros, carpinteiros, cabeleireiros,

agricultores e demais profissões. Esse tipo de fonte de renda também é

comum entre as mães (47%), que são frequentemente costureiras,

domésticas e agricultoras. O emprego em órgãos públicos, essencialmente

municipais, surgiu em segundo lugar, sendo responsável pela fonte de renda

de 17% das mães e 7% dos pais. Por outro lado, microempresas privadas

39

0

10

20

30

40

0 5 10 15 20 25

Núm

ero

absolu

to

Idade

Sexo feminino Sexo masculino

demonstraram relevância para o emprego dos pais (8%). Um percentual

elevado (30%) das mães não possui emprego algum e apenas executam

tarefas domésticas em seu próprio lar. O benefício da aposentadoria esteve

presente como única fonte de renda em 2% dos pais e 4% das mães, estes

em verdade eram os avós dos entrevistados, que em virtude de diversos

motivos tornaram-se responsáveis pelos netos. Percebe-se então que existe

uma tendência para o trabalho autônomo dos pais e, as mães, quando

empregadas, exercem suas atividades nos órgãos públicos municipais.

Figura 4 – Distribuição do número de entrevistados pela idade correspondente em ambos os sexos.

Tanto pais quanto mães possuem, em geral, baixa escolaridade, sendo

mais acentuada nos primeiros, dentre os quais 10% nunca frequentaram a

escola. As mães com ensino médio completo (9%), por outro lado, foram

relativamente representativas. Contudo, o ensino fundamental incompleto

prevaleceu na escolaridade dos pais (40%) e mães (47%). Também houve

casos de ensino superior completo em 1% das mães. Barbosa, Nobrega e

Alves (2010) em seu estudo sobre caçadores de aves na Paraíba, também

verificou que a maioria dos entrevistados apresenta baixa escolaridade, com

destaque para o ensino fundamental incompleto.

Geralmente os responsáveis pelos estudantes possuem apenas uma

fonte de renda (68% dos pais e 55% das mães), evidenciando-se também um

40

0%

10%

20%

30%

40%

50%

R$80 a R$200 R$201 a R$545 acima de R$545

Quanti

dade d

e f

am

ília

s

Faixas de renda

Possuem e/ou capturam Não possuem e/ou não capturam

elevado nível de desemprego entre as mães (38%) quando comparado aos

pais (3%).

Dos 231 questionários obtidos, apenas 83 registraram valores de

renda mensal. Destes, 21 (25,3%) se inserem na faixa A, que corresponde a

renda de R$80 a R$200, 38 (45,8%) na faixa B de R$201 a R$545 e 24

(28,9%) na faixa C, possuindo renda superior a R$545. Isto se aproxima do

observado por Barbosa, Nobrega e Alves (2010), que diagnosticou a renda de

um salário mínimo como a mais comum para entrevistados do semiárido

paraibano. Alves et al., (2009) também observou valores similares de renda

mensal, bem como de níveis de escolaridade.

Na primeira faixa, 21,7% dos entrevistados faz uso de animais

silvestres, em contrapartida outros 3,6% declararam não capturar/adquirir

estes animais ou ocultaram. Na faixa B, 37,3% afirmaram possuir estes

animais em domicílio ou utilizá-los, já 8,4% não possuíam. Na faixa C, 8,4%

assegurou não utilizar animais silvestres para nenhum fim, já 20,5%

afirmaram fazer uso da fauna (Figura 5). Embora o uso de animais silvestres

não difira de modo significante entre as faixas de renda (Coef. de

contingência C=0.1419, p=0.4262), observamos uma tendência de maior uso

por famílias com renda intermediária, seguida por famílias que se inserem

nas faixas A e C, proporcionalmente semelhantes.

Figura 5 – Relação entre as porcentagens de famílias que possuem ou capturam animais silvestres e das que não possuem ou não capturam por faixa de renda.

41

0

500

1000

1500

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Renda m

ensal

Qtde. animais utilizados

Faixa A Faixa B Faixa C

Tratando das espécies usadas pelas três faixas de renda, observa-se

que não existe uma correlação significativa entre as categorias, quantidade

de espécies e renda mensal (Coef. Spearman=-0.0577, p=0.6452). Entre

quantidade de animais utilizados e a renda também não acontece correlação

(Coef. Spearman=-0.0161, p=0.8988). No entanto, é perceptível que existe

variabilidade entre as faixas de quantidade de animais que são utilizados por

cada faixa de renda, em especial entre a C e as demais. Em suma, famílias

que possuem menor renda e renda intermediária apresentam uma faixa

mais extensa de quantidade de animais capturados, respectivamente de 1 a

17 e de 1 a 16. Por outro lado, as famílias com renda maior revelam uma

faixa mais estreita, que varia de 3 a 11 animais utilizados. Verifica-se,

contudo, que em todas as faixas de renda existe uma predominância para a

utilização de cinco indivíduos, porém, em média, esse número se eleva

ligeiramente para seis (Figura 6). Desta forma, evidencia-se que além de não

haver diferenças entre as faixas de renda quanto a atitude de obtenção dos

animais, a quantidade de indivíduos ou espécies utilizadas por elas também

não difere de modo expressivo. Alves, Gonçalves e Vieira (2012), de modo

similar, não constatam diferenças entre o número de espécies citadas e a

renda.

Figura 6 – Relação entre a renda mensal e a quantidade de animais capturados e/ou adquiridos por cada família representada através dos entrevistados.

42

0%

5%

10%

15%

20%

Companhia Comércio Troca Alimentação

Quanti

dade d

e f

am

ília

s

Categorias de uso

R$ 80 a R$ 200 R$ 201 a R$ 545 acima de R$ 545

Dentre os que afirmaram capturar animais silvestres e declararam a

renda mensal (66 entrevistados), observou-se que a faixa de renda

intermediária é a responsável pelos maiores índices de uso em todas as

categorias (companhia, comércio, troca e alimentação), sendo seguida pelas

famílias com maior renda (acima de R$545), exceto na categoria

“companhia”, na qual a faixa A (R$80 – R$200) foi um pouco mais expressiva

que a faixa C (Figura 7).

Figura 7 – Representação das três faixas de renda em cada categoria de uso (Companhia, comércio, troca e alimentação).

Costa-Neto (2000) suscita que o consumo de animais silvestres é

importante para a nutrição dos moradores destas comunidades interioranas,

e isso seria determinado pelos seus poucos recursos econômicos e a

consequente falta de condições financeiras para a compra de carne vermelha

oriunda de criações domésticas. De forma análoga, Nobrega, Barbosa e Alves

(2009a) afirmam que a captura e venda de animais silvestres surge como

uma alternativa de sobrevivência da população rural possuidora de uma

situação socioeconômica não favorável. Porém, verificamos que a quantidade

de animais ou espécies caçadas independe da faixa de renda, além disso, o

uso pelas famílias de pouca renda é ligeiramente direcionado para a

companhia quando comparado à alimentação. De modo oposto, a faixa B

(R$201 a R$545) é a que possui um percentual mais elevado para estas e

43

0

20

40

60

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Núm

ero

de f

am

ília

s

Número de membros

Utilizam animais silvestres Não utilizam animais silvestres

demais formas de uso, com destaque para a criação em domicílio

(companhia). Em geral, a finalidade de companhia obteve o maior destaque

entre todas as faixas de renda, representando 41% das categorias de uso

abordadas. Já o comércio representou 16%, a ação de troca 9% e o consumo

(alimentação) 34%.

Considerando todos os 231 questionários observa-se que a maioria das

pessoas comumente faz uso de animais silvestres, representado 80% do

total, em detrimento de 20% que declararam nunca terem feito uso. Dentre

os primeiros, verificamos que a quantidade de membros da família

residentes em um mesmo lar varia de 2 a 12 pessoas (Figura 8), tendo uma

maior frequência para famílias com cinco membros (28,6%). Resultado

similar foi encontrado por Barbosa, Nobrega e Alves (2010), que em seu

trabalho apresentou a constância de um número de quatro indivíduos por

residência.

Figura 8 – Distribuição do número absoluto de famílias que utilizam animais silvestres e das que não utilizam, de acordo com o número de membros que as compõe.

Os resultados apontam que famílias com menor número de membros

tendem a capturar mais animais que famílias que sejam compostas por mais

de sete membros. Existe então uma correlação entre as variáveis ‘número de

membros’ e ‘quantidade de animais utilizados’, sendo o teste

estatisticamente significativo (Coef. Spearman=0.1859, p=0.0114) (Figura 9).

44

0

4

8

12

16

20

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Qtd

e.

anim

ais

uti

lizados

Número de membros

Porém, talvez isso tenha sido influenciado pela pequena amostra de famílias

que são compostas por mais de 10 membros.

Figura 9 – Relação da composição de membros das famílias e quantidade de animais utilizados por elas.

Dessa forma, a quantidade de animais capturados por cada família

está relacionada com o número de membros que as compõe. Segundo

Barbosa, Nobrega e Alves (2010) esta prática surgem da necessidade de

acrescentar na alimentação e na renda das famílias que possuem uma

quantidade relativamente alta de membros, suprindo assim suas

necessidades básicas. Entretanto verificamos que, de modo geral, há um

decréscimo na quantidade de animais capturados quando o número de

membros aumenta.

Em geral, os mais envolvidos com a captura são familiares muito

próximos, tais como o pai (25,6%) e o tio (14%), seguido do irmão (9,1%), do

avô (7,9%) e do primo (6,4%). Observamos também participação significativa

do próprio entrevistado, o que representou 18,7%. Coincidentemente, em

uma das visitas realizadas no município de Cacimba de Areia, no momento

de intervalo de aula, várias crianças envolveram-se para a captura de um

espécime de Columbina minuta que acabara de ser baleado por um caçador e

estava suscetível no solo (Figura 10). Nesta ocasião, um dos entrevistados

discorreu sobre o fato com bastante entusiasmo: “Foi eu e os meninos, eu

matei [...] Foi porque ‘baliaram’ e ela caiu ali dentro e ‘peguemo’ [...] Ela tava

45

correndo e ‘nóis peguemo nas carreira’ [...] Isso se come”. Alves et al. (2009)

apoia que estas atividades iniciam-se na infância, geralmente com a

utilização de “baladeiras” ou mesmo armadilhas para a captura de aves, as

quais são geralmente destinadas para estimação. Os amigos, padrinhos e

outras pessoas foram citadas por 7,1% dos estudantes. Os demais

declararam não utilizar animais silvestres ou não existir alguém na família

que realize a captura destes (11,3%).

Figura 10 – Espécime de Columbina minuta perseguido e morto por crianças durante entrevista realizada em uma escola do município de Cacimba de Areia, na Paraíba. Fonte: Tainá Alves.

A atividade de caça é proibida pelo IBAMA e essa informação é

difundida entre as diferentes classes sociais através dos meios de

comunicação. Nobrega, Barbosa e Alves (2011) em uma pesquisa no

semiárido paraibano constataram que as atividades de caça estão também

relacionadas a uma prática de entretenimento e lazer.

Os resultados aqui obtidos, através das análises que envolveram a

renda mensal das unidades familiares e a utilização da fauna realizada por

elas, indicam que a captura de animais silvestres na área de estudo

caracteriza-se como uma atividade que segue mais uma tendência cultural

que uma necessidade decorrente da situação econômica. Isto é refletido pelo

elevado uso de animais para criação (companhia) e para a alimentação. É

exibido então um aparente paradoxo, pois, em geral, acredita-se que o

46

consumo de animais silvestres está diretamente relacionado à subsistência,

tal como sugere Costa-Neto (2000). No entanto, constatou-se que diversas

famílias têm acesso fácil a carne de animais de criação doméstica, tais como

caprinos, bovinos, suínos e aves, que, em muitos casos, são inclusive fontes

de renda destas próprias famílias. Nesse contexto, a carne de animais

silvestres surge como uma iguaria ou um petisco comumente encontrado em

bares da região, como enfatizado por Alves, Gonçalves e Vieira (2012)

quando discorrem sobre o consumo da caça associado a ocasiões de

encontro entre caçadores e amigos. Possivelmente isto justifica o elevado

percentual de uso para esta categoria, tratando-se também de uma atitude

culturalmente disseminada.

A oralidade atua como um meio importante para este fim e, inclusive,

registrou através de canções de grandes compositores e intérpretes da

Música Popular Brasileira – tais como Luiz Gonzaga e Sivuca – as atividades

de captura e comercialização da fauna silvestre no cotidiano das pessoas,

detalhando aspectos do uso de animais e, em alguns casos, refletindo sobre

tal. Visando elucidar esta forma de disseminação da cultura, são expostos os

seguintes trechos de músicas:

[...] E Zé saiu correndo pra feira dos pássaros e foi pássaro voando pra todo lugar. Tinha uma vendinha no canto da rua, onde o mangaieiro ia se animar. Tomar uma bicada com lambu assado e olhar pra Maria do Joá [...] (OLIVEIRA; GADELHA, 1979)

[...] Tarvez por ignorança ou mardade das pio furaro os óio do assum preto pra ele assim, ai, cantá de mió. Assum preto veve sorto, mas num pode avuá. Mil vez a sina de uma gaiola desde

que o céu, ai, pudesse oiá [...] (GONZAGA; TEIXEIRA, 2006)

[...] Teve pena da rolinha que o menino matou, mas depois que torrou a bichinha, comeu com farinha... gostou! [...]

(ANDRADE, 1999)

Deste modo, o conceito de ‘necessidade’ não deve ser contraposto com

o aspecto cultural, mas sim reavaliado tendo em vista a força e rigidez deste

último. Assim, é imprescindível que ocorra o balanço entre ambos os eixos

deste domínio, de modo a elaborar estratégias de conservação mais eficazes

47

através da inclusão e conciliação entre os valores e necessidades, sejam elas

culturais ou não, das pessoas que usufruem dos recursos faunísticos.

Notoriamente esta não é uma tarefa simples, mas pode ser facilitada

somando esforços de várias instâncias, desde o pesquisador às

administrações públicas. Segundo Andriguetto-Filho et al. (1998), a caça

pode ser compatível com um programa de conservação ambiental desde que

seja realizada de forma correta. Sachs (1993) ressalta ainda que este tipo de

atividade deve ser encarada como um subsistema rural e, igualmente a

agricultura e a pesca, ser considerada nas discussões acerca do

desenvolvimento regional no tocante a sustentabilidade.

Todos esses incentivos para o envolvimento das populações locais na

tomada de decisões partem da constatação de que o controle de órgãos

governamentais, através de suas leis e penalidades, não têm êxito

isoladamente e isto é confirmado pelos exemplos de manejo da vida selvagem

no Brasil (CAUGHLEY; GUNN, 1996). A conservação da fauna em longo

prazo exige que as pessoas tornem-se sensíveis a mudanças, tanto

econômicas quanto comportamentais.

4.2 Caracterização da atividade de caça

4.2.1 Locais preferenciais

Os locais preferenciais para a caça são áreas altas (32,6%), como

serras e serrotes. Existe também a preferenciais para locais próximos a água

(como margens de rios e açudes) e imediações da residência do caçador, que

representam 13,4% e 12,1% respectivamente. Para a obtenção de aves, o

ninho foi citado por 6,8% dos alunos. Uma pequena porção deles (4%)

descreveu o local de captura simplesmente como uma área caracterizada

pela presença de árvores e “mato baixo”; 2% indicaram o local de trabalho,

normalmente o roçado, como ambiente favorável a captura de animais; 1,6%

apresentaram conhecimentos sobre locais de captura mais específicos, como

determinadas espécies de árvores; 7,5% fizeram outros tipos de referências a

região onde ocorre a captura. Já 3,6% não responderam a pergunta, 2% não

souberam responder e 15% afirmaram não capturar animais. Barbosa,

48

Nobrega e Alves (2010) e Nobrega, Barbosa e Alves (2009b), em seus estudos

sobre captura de aves, concordam que o sucesso desta atividade está

relacionado com o conhecimento dos caçadores sobre a diversidade da

fauna, dos hábitos das espécies e dos melhores locais e períodos para a

captura.

4.2.2 Métodos e instrumentos de captura

A caça realizada pelos adultos emprega diversas técnicas específicas

para cada tipo de presa e de hábitat (ALVES et al., 2009). Verificamos então

que as estratégias de caça mais frequentes foram a “Caça com cachorros”

(13,2%) e o “Facheado” (2,6%). Além destas, também foram citadas, com

menos frequência, o “Arremedo” (1,4%), o “Rastreamento” (0,3%), o uso de

elementos para atordoar os animais (0,7%) e facilitar a caça, a exemplo da

fumaça proveniente de fezes de animais domésticos e o emprego de iscas

(1,4%). Os instrumentos de captura mais citados foram “Espingarda” (13%) e

“Baladeira” (5,7%), outros 3,1% ainda citaram que utilizam diretamente a

mão para capturar os animais. Nobrega, Barbosa e Alves (2009b), também

mencionam a arma de fogo como uma ferramenta básica para muitos

caçadores desta região. Segundo Trinca e Ferrari (2006), a arma de fogo

confere uma caça muito mais eficaz quando comparada as armadilhas. Alves

et al. (2009) relata que a espingarda é uma ferramenta muito comum entre

os caçadores, inclusive para defesa pessoal no caso de ameaças inesperadas

durante a caçada. De acordo com Vasconcelos Neto et al. (2012) a caça

utilizando cães é comum entre os caçadores da microrregião de Catolé do

Rocha, na Paraíba. Além disso, os autores ressaltam que este tipo de método

de caça é útil, particularmente, para a captura de mamíferos e envolve o

treinamento do cão para o desempenho da atividade. Na pesquisa

mencionada, destaca-se o alto custo para a obtenção de um bom cão de

caça, podendo ser até superior a R$ 2500,00.

A respeito das armadilhas, o “Alçapão”, o “Fojo” e a “Arapuca”

representaram 13,7%, 3,9% e 3,4% respectivamente, sendo acompanhados

pela “Jequi” (2,9%), “Quixó” (2,2%), “Arataca” (1,7%), “Tatuzeira” (1,2%),

49

utilização de anzóis (0,9%), “Pegadeira” (0,3%), armadilhas de laço (0,2%),

utilização de redes (0,5%), esta última podendo ser utilizada em duas

finalidades: como armadilha ou sendo lançada nos animais, impedindo-os de

se deslocar. Conforme Alves et al. (2009), o “Alçapão” é geralmente utilizado

para a caça de pássaros canoros que têm certo valor comercial ou que vão

ser destinados para a companhia. Os diferentes tipos de armadilhas podem

estar relacionados com o conhecimento tradicional do caçador sobre

aspectos ecológicos dos animais, o que permite melhor dispor as armadilhas

Nobrega, Barbosa e Alves (2009b). Também foram citados pelos alunos

alguns instrumentos de uso pessoal, como equipamentos para cortar a

vegetação e para transportar os animais, os quais representaram 15,3%. Em

todas estas categorias surgiram algumas respostas pouco esclarecidas. Elas

foram classificadas na categoria “outros”, que representa 1% do total. Além

disso, 11% dos entrevistados não responderam essa questão por

desconhecimento ou por não fazerem uso de animais silvestres. De modo

similar, Barbosa, Nobrega e Alves (2010), em um estudo realizado no agreste

paraibano, verificou que as principais técnicas de captura mencionadas

pelos entrevistados foram a caça com espingarda, com cachorro e a

utilização de armadilhas, nas quais se destacam o alçapão e a arapuca.

Cada um destes métodos possui sua especificidade e exercem

influências diferentes nas populações das espécies alvo. A caça com

cachorros, por exemplo, torna-se ainda mais agravante quando, devido ao

treinamento incorreto, os cães fogem para mata e ameaçam a sobrevivência

de diversas espécies pois a prática da caça os deixou autossuficientes como

afirmam Vasconcelos Neto et al. (2012).

O período de captura mais indicado foi o noturno, sendo referenciado

por 29,9% dos estudantes. A caça diurna também se mostrou preferencial,

pois foi citada diversas vezes, o turno da manhã representando 29,3% e a

tarde 24,6%. Algumas respostas foram mais específicas quanto ao período

de captura, as quais indicaram “cedo da manhã” (0,6%) ou “entardecer”

(0,3%). Somente 15,4% não possuem/capturam animais silvestres,

desconhecem ou não responderam.

50

Barbosa, Nobrega e Alves (2010) revela que a facilidade com a qual

esses animais são retirados da natureza, preparados para consumo e

comercializados é um dos maiores estímulos a essas atividades.

4.2.3 Espécies capturadas e seus fins

Os resultados demonstram a utilização de uma maior diversidade de

aves, quando comparada a outros grupos de animais, como mamíferos e

répteis. A acentuada diferença entre o uso de cada grupo mencionado pode

ser constatada também com a quantidade de animais que são destinados ao

Centro de Triagem de Animais Silvestres da Paraíba (CETAS/IBAMA). No

registro feito por aproximadamente um ano, de 2006 a 2007, Pagano et al.

(2009) verificou que 88% dos animais que foram depositados corresponde as

aves, em contrapartida 9% e 3% está relacionado aos mamíferos e répteis,

respectivamente. Alves, Gonçalves e Vieira (2012), através de estudo

realizado no semiárido paraibano, também evidenciam a comumente

utilização de aves em detrimento dos répteis e mamíferos. Essa constatação

pode estar relacionada com a abundância destas populações na natureza e

também com o tamanho corporal das espécies. Aves, por exemplo, são

menores que mamíferos de médio porte e, possivelmente, são requeridas em

maior quantidade para a alimentação.

No presente estudo foi possível identificar 25 gêneros da avifauna

silvestre (Figura 11), dentre os quais se incluem 24 espécies de aves. Além

disso, constatou-se a presença de 26 famílias e 13 ordens. Outras 21

variedades de aves citadas não foram incluídas nesta contagem em virtude

da impossibilidade de identificação. O taxa mais representativos foram os

seguintes (Figura 12): as aves do gênero Columbina, conhecidas como

rolinhas; o galo-de-campina (Paroaria dominicana); o golado (Sporophila

albogularis); o concriz (Icterus jamacaii); o gangarro (Aratinga cactorum); a

ribaçã (Zenaida auriculata) e o azulão (Cyanoloxia brissonii). As espécies

observadas por Nobrega, Barbosa e Alves (2009b) como preferenciais

também foram verificadas no presente estudo. Em ambos, as espécies de

rolinha, ribaçã, galo-de-campina e azulão destacam-se como as de maior

51

valor de uso. A espécie Paroaria dominicana também apresentou valores de

uso relevantes em outros estudos, tais como Alves et al. (2010) e Fernandes-

Ferreira et al. (2012). No nível de família, a Emberezidae e Columbidae

obtiveram destaque, bem como em Alves, Gonçalves e Vieira (2012) e

Bezzera, Araujo e Alves (2011a).

Estes resultados indicam que existe a preferência por pássaros

canoros, como também por aqueles que possuem marcante beleza nas penas

e na coloração, apoiando a constatação do maior uso de animais como pets

(companhia).

52

0.2%

0.2%

0.6%

0.8%

0.8%

1.2%

1.2%

1.2%

1.4%

1.6%

1.8%

2.0%

2.0%

2.0%

2.2%

2.2%

2.9%

2.9%

5.7%

5.7%

6.1%

7.5%

12.2%

18.1%

18.1%

Herpetotheres

Penelope

Mimus

Coereba

Pseudoseisura

Cariama

Passer

Sicalis

Lanio

Pitangus

Forpus

Cyanocorax

Leptotila

Patagioenas

Crypturellus

Turdus

Amazona

Nothura

Cyanoloxia

Zenaida

Aratinga

Icterus

Sporophila

Columbina

Paroaria

0% 5% 10% 15% 20%

Figura 11 – Gêneros de aves e suas respectivas frequências de

citações nas localidades pesquisadas.

53

Figura 12 – Espécies de aves mais utilizadas, de acordo com os informantes,. A: Rolinha (Columbina talpacoti); B: Galo-de-campina (Paroaria dominicana); C: Golado macho (Sporophila albogularis); D: Concriz (Icterus jamacaii); E: Gangarro (Aratinga cactorum); F: Ribaçã (Zenaida auriculata); G: Azulão (Cyanoloxia brissonii). Fonte: (A) Mike Danzenbaker; (B) Tadeu Segundo; (C) Adams Serra; (D e E) Stephen John Jones; (F) Ramón Moller Jensen; (G) Michel Kengerski.

B

E

D

F

A

C

G

54

0.3%

0.3%

0.3%

0.5%

0.5%

0.5%

1.9%

2.2%

2.5%

3.0%

4.1%

8.2%

14.3%

18.4%

20.3%

22.8%

0% 5% 10% 15% 20% 25%

Procyon

Puma

Tolypeutes

Bradypus

Kerodon

Thrichomys

Callithrix

Cebus

Didelphis

Cerdocyon

Leopardus

Tamandua

Conepatus

Dasypus

Galea

Euphractus

Já a mastofauna esteve representada por seis ordens e 12 famílias que

incluíram um total de 16 gêneros (Figura 13) e espécies, das quais as de

maior destaque foram o tatu peba (Euphractus sexcinctus), o tatu verdadeiro

(Dasypus novemcinctus), o preá (Galea spixii), a tacaca (Conepatus

semistriatus) e o tamanduá (Tamandua tetradactyla) (Figura 14). Os três

primeiros foram citados também por Mourão, Araujo e Almeida (2006) em

um estudo no município de Paulista, no Sertão da Paraíba. Além deste,

diversos outros trabalhos, tais como Costa-Neto (2000) e Vasconcelos Neto et

al., (2012), registram a captura de tatus, seja o Dasypus novemcinctus ou o

Euphractus sexcinctus.

Figura 13 – Gêneros de mamíferos e suas respectivas frequências de citações nas localidades pesquisadas.

55

Figura 14 –. Espécies de mamíferos mais utilizadas, de acordo com os informantes, A: Tatu-peba (Euphractus sexcinctus); B: Tatu-verdadeiro (Dasypus novemcinctus); C: Preá (Galea spixii); D: Tacaca juvenil (Conepatus semistriatus); E: Tamanduá (Tamandua tetradactyla). Fonte: (A) Geiser Trivelato; (B) Josh Hillman; (C) Cláudio Dias Timm; (D) Egberto Araújo; (E) Luiz Renato Blumlein Vieira.

Os répteis, por sua vez, incluem-se em quatro famílias e seis espécies

com destaque para o téju (Tupinambis merianae) e o camaleão (Iguana

iguana) (Figura 15).

Uma lista de todas as espécies capturadas e/ou utilizadas, seus

respectivos nomes locais, número de citações e valor de uso (que variou de

0,01 a 0,86) encontra-se na tabela 1.

B

D

A

C

E

56

Figura 15 – Espécies de répteis mais utilizadas, de acordo com os informantes, durante a pesquisa realizada no semiárido paraibano. A: Téju

(Tupinambis merianae); B: Camaleão (Iguana iguana). Fonte: (A) Cláudio

Dias Timm; (B) Jim Conrad.

B A

57

Tabela 1 – Espécies da fauna silvestre capturadas e/ou utilizadas, com seus respectivos nomes locais, número de citações e valor de uso (VU) nas seis áreas estudadas: Quixaba, Passagem, Cacimba de Areia, Areia de Baraúnas, Salgadinho e RPPN Tamanduá.

Táxon Nome local Número de citações

VU

AVES

Apodiformes

Trochilidae

Espécie não identificada Beija-flor 3 0.02

Caprimulgiformes

Caprimulgidae

Espécie não identificada Bacurau 1 0.01

Cariamiformes

Cariamidae

Cariama cristata (Linnaeus, 1766) Siriema 6 0.03

Columbiformes

Columbidae

Columbina sp. Rolinha 92 0.50

Leptotila sp. Juriti 10 0.05

Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Asa branca 10 0.05

Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Ribaçã 29 0.16

Cuculiformes

Cuculidae

Espécie não identificada Anu 5 0.03

Falconiformes

Accipitridae

Espécie não identificada Gavião 7 0.04

58

Tabela 1- continuação

Táxon Nome local Número de

citações VU

Falconidae

Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) Acauã 1 0.01

Galliformes

Cracidae

Penelope sp. Jacu 1 0.01

Gruiformes

Rallidae

Espécie não identificada Galinha d'água 3 0.02

Passeriformes

Ardeidae

Espécie não identificada Socó 1 0.01

Cardinalidae

Cyanoloxia brissonii (Lichtenstein, 1823) Azulão 29 0.16

Coerebidae

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) Sebite 4 0.02

Corvidae

Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) Cancão 10 0.05

Emberizidae

Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) Galo-de-campina 92 0.50

Sporophila albogularis (Spix, 1825) Golado 43 0.23

Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) Bigode 9 0.05

Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776) Caboclo 5 0.03

Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) Papa-capim 5 0.03

Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) Canário 6 0.03

Espécie não identificada Salta caminho 1 0.01

59

Tabela 1- continuação

Táxon Nome local Número de

citações VU

Furnariidae

Pseudoseisura cristata (Spix, 1824) Casaca-de-couro 4 0.02

Espécie não identificada Fura-barreira 3 0.02

Hirundinidae

Espécie não identificada Andorinha 3 0.02

Icteridae

Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) Xexéu 5 0.03

Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) Concriz 33 0.18

Mimidae

Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Papa sebo 3 0.02

Passeridae

Passer domesticus (Linnaeus, 1758) Pardal 6 0.03

Tyrannidae

Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) Bem-te-vi 8 0.04

Thraupidae

Lanio pileatus (Wied, 1821) Maria-fita 7 0.04

Turdidae

Turdus sp. Sabiá 11 0.06

Piciformes

Picidae

Espécie não identificada Pica-pau 2 0.01

Psittaciformes

Psittacidae

Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) Papagaio 15 0.08

Aratinga cactorum (Kuhl, 1820) Gangarro 31 0.17

60

Tabela 1- continuação

Táxon Nome local Número de

citações VU

Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Tuim 9 0.05

Espécie não identificada Periquito 9 0.05

Espécie não identificada Lôro 5 0.03

Espécie não identificada Arara 1 0.01

Espécie não identificada Tabagu 1 0.01

Strigiformes

Strigidae

Espécie não identificada Coruja 2 0.01

Tinamiformes

Tinamidae

Crypturellus sp. Lambu 10 0.05

Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Espanta-boiada 1 0.01

Nothura sp. Codorniz 15 0.08

MAMMALIA

Carnivora

Canidae

Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Raposa 11 0.06

Felidae

Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Gato-do-mato 15 0.08

Puma yagouaroundi Gato-vermelho 1 0.01

Mephitidae

Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) Tacaca 52 0.28

Procyonidae

Procyon cancrivorus (G. [Baron] Cuvier, 1798) Guaxinim 1 0.01

61

Tabela 1- continuação

Táxon Nome local Número de

citações VU

Cingulata

Dasypodidae

Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu verdadeiro 67 0.36

Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) Peba 83 0.45

Tolypeutes sp. Tatu-bola 1 0.01

Didelphimorphia

Didelphidae

Didelphis albiventris Timbu 9 0.05

Pilosa

Bradypodidae

Bradypus sp. Bicho-preguiça 2 0.01

Myrmecophagidae

Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) Tamanduá 30 0.16

Primates

Callitrichidae

Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) Sagui 7 0.04

Cebidae

Cebus libidinosus (Spix, 1823) Macaco-prego 8 0.04

Rodentia

Caviidae

Galea spixii (Wagler, 1831) Preá 74 0.40

Kerodon rupestris (Wied, 1820) Mocó 2 0.01

Echimyidae

Thrichomys sp. Punaré 2 0.01

62

Tabela 1- continuação

Táxon Nome local Número de

citações VU

REPTILIA

Squamata

Teiidae

Tupinambis merianae (Duméril e Bibron, 1839) Téju 67 0.36

Iguanidae

Iguana iguana (Linnaeus, 1758) Camaleão 9 0.05

Subordem Serpentes

Espécie não identificada Cobra 2 0.01

Testudinata

Chelidae

Chelonoidis sp. Jabuti 2 0.01

Espécie não identificada Cágado 3 0.02

Espécie não identificada Tartaruga 1 0.01

63

Nobrega, Barbosa e Alves (2009b) listaram 10 categorias de uso ou

relacionamento para as espécies de aves registradas no município de

Queimadas, também na Paraíba. São elas: zooterapia, etnoveterinária, uso

cosmético, místico-religiosa, domesticação, comércio, ornamentação,

alimentação, lazer e caça de controle.

No presente estudo, apenas 96 dos 231 questionários apresentaram

alguma informação sobre o uso das espécies capturadas. Tão logo foram

determinadas as seguintes categorias: Companhia, Comércio, Troca e

Alimentação. Observou-se então a tendência de determinadas espécies de

animais serem capturadas para certo fim. As aves, especialmente Paroaria

dominicana e Aratinga cactorum são com mais frequência destinadas a

companhia. Porém, a preferência por passeriformes para criação em cativeiro

domiciliar fica evidente com a elevada utilização de outras espécies, tais

como Sporophila albogularis, Turdus sp., Cyanoloxia brissonii, Icterus

cayanensis, Icterus jamacaii, Cyanocorax cyanopogon, Sporophila nigricollis,

Sporophila lineola, Sporophila bouvreuil, Sicalis flaveola, Lanio pileatus e

Coereba flaveola. Nesta categoria também foram citados os mamíferos

Euphractus sexcinctus, Dasypus novemcinctus, Callithrix jacchus e Leopardus

tigrinus. Entretanto, observou-se uma tendência maior para a

comercialização dos animais representantes desta classe, com destaque para

Euphractus sexcinctus, Dasypus novemcinctus, além de Galea spixii,

Conepatus semistriatus e Tamandua tetradactyla. Algumas aves também

foram comercializadas, especialmente Paroaria dominicana, Cyanoloxia

brissonii, Sporophila albogularis, Aratinga cactorum e Amazona aestiva. A

primeira espécie também foi constatada como preferencial para a

comercialização por Pereira e Brito (2005). De modo semelhante, Menezes,

Albuquerque e Medeiros (2003) notificaram que Paroaria dominicana é a ave

mais apreendida pelos fiscais do IBAMA na região de Campina Grande – PB.

As aves do gênero Columbina foram citadas como alimento, sendo

inclusive as mais representativas para este fim. Além destas, também foram

mencionadas para alimentação as aves: Zenaida auriculata, Leptoptila sp. e

Nothura sp. De acordo com Bezzera, Araujo e Alves (2011b) o elevado

64

consumo dos espécimes de Columbina sp. é estimulado pelo sabor de sua

carne e pela disponibilidade destes indivíduo na natureza.

Segundo Fernandes-Ferreira et al. (2012), a captura de aves silvestres

é motivada por alguns atributos que estão relacionados também a ordem em

que cada animal é classificado. Com exceções, o canto e a beleza corporal de

Passeriformes, Psittaciformes e Piciformes, são preponderantes para a

escolha de animais de criação e para fins de comércio. Já as ordens

Tinamiformes, Anseriformes, Galliformes, Gruiformes, Columbiformes,

Cuculiformes e Galbuliformes estão mais relacionada ao consumo. Existe

também a captura ou morte de Falconiformes e Accipitriformes para evitar a

predação de animais domésticos.

Com relação aos mamíferos é importante ressaltar que, após o gênero

Columbina sp., foram os animais mais utilizados na alimentação. Neste

aspecto, merecem destaque as espécies Euphractus sexcinctus e Dasypus

novemcinctus, que tal como em Alves, Gonçalves e Vieira (2012) foram as

mais representativas para esta categoria. Segundo os autores, ambas as

espécies distinguem-se quanto ao hábito alimentar e esta constatação

influencia na preferência de consumo, que é notadamente dirigida a D.

novemcinctus em virtude de sua alimentação composta por vegetais e

pequenos insetos. Outra observação importante é o fato das espécies úteis

para esta finalidade, o consumo, serem as mesmas que obtiveram destaque

para o comércio, o que evidencia a preferência de uso desses animais em

uma relação de compra-alimentação. Barbosa, Nobrega e Alves (2010)

também apontaram para este fato, no qual a maior parte dos animais

capturados é vendida para a alimentação.

Os répteis foram incluídos nas categorias comércio e alimentação,

estando Tupinambis sp. em ambas e Iguana iguana apenas na última. O

valor alimentar destas espécies também é evidenciado em Alves, Gonçalves e

Vieira (2012) e Alves et al. (2012). Este último destaca ainda outras

motivações para a relação entre humanos e répteis na região semiárida, tais

como o uso medicinal, fins ornamentais e religiosos e resolução de conflitos.

65

Tabela 2 – Distribuição das espécies da fauna silvestre em categorias de uso nas seis áreas estudadas: Quixaba, Passagem, Cacimba de Areia, Areia de Baraúnas, Salgadinho e RPPN Tamanduá. IUCN Red List status: (VU) vulnerável; (LC) pouca preocupação.

Táxon IUCN

status

Categorias de Uso

Companhia Vender Trocar Comer

AVES

Passeriformes

Emberizidae

Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) LC X X X X

Sporophila albogularis (Spix, 1825) LC X X

Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) LC X X

Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776) LC X X X

Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) LC X X

Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) LC X

Icteridae

Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) LC X X

Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) LC X

Corvidae

Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) LC X X

Coerebidae

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) LC X

Ardeidae

Socó X

Turdidae

Turdus sp. X X X

Cardinalidae

Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein, 1823) LC X X

66

Tabela 2 – continuação

Táxon IUCN

status

Categorias de Uso

Companhia Vender Trocar Comer

Thraupidae

Lanio pileatus (Wied, 1821) X X

Mimidae

Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) LC X

Columbiformes

Columbidae

Columbina sp. X X X

Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) LC X X

Leptotila sp. X

Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) LC X

Psittaciformes

Psittacidae

Aratinga cactorum (Kuhl, 1820) LC X X

Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) LC X X X

Tinamiformes

Tinamidae

Crypturellus sp. X

Nothura sp. X

Cariamiformes

Cariamidae

Cariama cristata (Linnaeus, 1766) LC X

67

Tabela 2 – continuação

Táxon IUCN

status

Categorias de Uso

Companhia Vender Trocar Comer

MAMMALIA

Xenarthra

Dasypodidae

Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) LC X X X

Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) LC X X X

Myrmecophagidae

Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) LC X X

Carnivora

Mephitidae

Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) LC X X X

Felidae

Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) VU X X X

Canidae

Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) LC X X

Rodentia

Caviidae

Galea spixii (Wagler, 1831) LC X X

Primates

Callitrichidae

Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) LC X X

Cebidae

Cebus libidinosus (Spix, 1823) LC X

68

Tabela 2 – continuação

Táxon IUCN

status

Categorias de Uso

Companhia Vender Trocar Comer

REPTILIA

Squamata Teiidae

Tupinambis merianae (Duméril e Bibron, 1839)

LC X X

Iguanidae

Iguana iguana (Linnaeus, 1758) X

69

4.2.4 Aspectos sobre a comercialização de animais

Com relação ao comércio, 31,1% dos caçadores vendem os animais

obtidos da caça em sua própria residência ou na de outras pessoas,

circunstâncias em que eles oferecem os animais ou recebem encomendas de

possíveis compradores. Outros comercializam estes animais somente na

própria cidade (4,4%), na própria cidade e em outras (4,4%) e apenas em

outras cidades (22,2%), as quais geralmente são próximas ao município que

o caçador reside. Além disso, constatamos que 6,7% dos caçadores vendem

os animais a pessoas pré-determinadas. O sítio onde a família reside

também foi muito citado pelos entrevistados como local de comercialização

(13,3%), os quais também evidenciaram que os compradores normalmente

procuram os caçadores para obter animais (13,3%). No âmbito das cidades,

os locais de comercialização mais citados foram feiras livres e mercados

públicos, fato também observado em Lopes (2003). Na feira de ‘Oitizeiro’, em

João Pessoa, por exemplo, a maioria dos envolvidos no comércio de aves

silvestres possui outro ofício, em geral são autônomos e atuam neste negócio

para complementar a renda mensal; No tocante a escolarização, cerca de

70% deles não concluiu o ensino fundamental (GAMA; SASSI, 2008). O

resultado obtido por estes autores, neste aspecto, é similar ao perfil familiar

encontrado no presente estudo, indicando assim que não existe uma

variação marcante acerca do perfil socioeconônimo de ‘passarinheiros’ do

campo e da cidade.

Os locais de comercialização verificados no presente trabalho não

tiveram diferenças quando relacionados às faixas de renda, ou seja, a renda

mensal não influencia a escolha de locais específicos para a comercialização.

Alguns alunos não souberam ou não responderam a pergunta relativa a este

questionamento e isso representou 4,4% do total. Verifica-se que apesar da

maioria comercializar os animais em suas residências ou na proximidade

delas, outro número considerável tem a preferência por outras cidades.

70

4.3 Percepção ambiental dos sujeitos

Segundo ELLEN (1997), as experiências acumuladas, a

experimentação e a troca de informações resultam no conhecimento sobre a

biodiversidade, especialmente sobre a fauna, que as comunidades

tradicionais possuem. Este conhecimento, segundo Hanazaki et al. (2010), é

fundamental para a sobrevivência destas populações. Nessa perspectiva, os

alunos entrevistados apresentaram diversas percepções sobre a atual

disponibilidade de animais nativos no meio ambiente. A grande maioria

(51,9%) afirmou ter diminuído a quantidade de animais na natureza, por

outro lado, 22,5% acreditam que aumentou e 14,7% não observaram

nenhuma modificação ao longo dos anos. Alguns entrevistados não

responderam a questão (8,7%) e 2,2% não souberam responder.

Quando questionados sobre o porquê de tal alteração, apenas 157 dos

231 entrevistados responderam. Destes, 4,5% disseram o porquê da

quantidade de animais ter continuado igual, 24,2% explicaram o porquê do

aumento e 71,3% discorreram sobre a possível diminuição. Os primeiros

afirmaram, essencialmente, que em virtude do ciclo natural de nascimentos

e mortes ou mesmo do ciclo que envolve caça e reprodução dos animais, a

quantidade de animais se mantém ao longo do tempo (1,5%). Na segunda

categoria 15,1% atribuem o aumento a reprodução dos animais e alguns

destacam que ela é favorecida pela disponibilidade de água e alimento,

principalmente em função da estação chuvosa. Dentre os que acreditam na

diminuição, 42,4% a atribuem direta ou indiretamente a caça de animais,

citando na maioria das vezes o ato de matar com uma conotação de

crueldade, mas também ressaltam a necessidade de alimentação, do

comércio de animais e a domesticação. Além disso, foi evidenciada a captura

de filhotes ou no período de reprodução e um dos estudantes observou que

apesar de haver reprodução a quantidade de bichos diminui em virtude da

caça frequente; 5,4% atribuem a diminuição a outros impactos ambientais,

como desmatamento, queimadas, poluição e extinção das espécies; 3,4%

observam atualmente pouco sucesso de captura e por esse motivo

diagnosticam a diminuição de animais na natureza. Houve também outras

71

justificativas com relação a estas três categorias, mas não obtiveram um

percentual significante e foram incluídas como “outros”, representando

11,2% do total. Além disso, 14,1% não souberam responder o porquê e

outros 6,8% apenas não responderam.

Em geral, os estudantes entrevistados apresentaram uma percepção

aguçada do ambiente, pois demonstraram conhecimento sobre a função

ecológica dos animais, destacando de modo simples, por exemplo, a

dispersão de sementes e o impacto que é causado na natureza quando um

de seus elementos é retirado.

Todavia, é importante considerar a curta experiência de vida dos

sujeitos como insuficiente para permiti-los avaliar mudanças em longo

prazo. Sendo assim, as justificativas apresentadas refletem, possivelmente, o

que eles costumam escutar em seu meio ou através do que é veiculado na

televisão sobre fatores ecológicos e também antrópicos que atuam na

disponibilidade de animais in situ.

Buscando auxiliar para melhoria desta compreensão, as capacidades

de assimilação da criança e sistematização do adolescente, quando

integradas a uma Educação Ambiental (EA) crítica e transformadora, podem

conduzir a bons resultados, tornando-se aliadas à conservação da natureza.

72

CONSIDERAÇÕES FINAIS

73

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante o exposto, constatamos que as crianças são fontes valiosas de

conhecimento e podem fornecer informações importantes para estudos

etnoecológicos, sendo ferramentas úteis para este fim. Além disso, verificou-

se que a atividade de caça não é determinante para a sobrevivência das

famílias nesta área de estudo. Notadamente a captura de animais silvestres

está mais relacionada com uma motivação cultural, como se observa no

elevado grau de uso para companhia. Logo, torna-se necessário direcionar a

atenção para as reais motivações que determinam a captura de animais

silvestres em cada contexto específico e, assim, construir estratégias de

cunho educacional e econômico que sejam eficazes para o propósito de

manutenção da fauna em níveis duradouros.

74

SUGESTÕES PRÁTICAS

75

6. SUGESTÕES PRÁTICAS

Integrar esforços governamentais e instituições de pesquisa;

Realizar levantamentos sobre a dinâmica populacional da fauna em

cada localidade alvo;

Sensibilização da comunidade rural quanto a necessidade prática de

conservação do ambiente;

Inserir no contexto escolar atividades e discussões que estimulem a

reflexão sobre as ações direcionadas ao meio ambiente, de modo a

promover sua conservação.

Promover o turismo rural, gerando renda complementar para as

famílias;

Legalizar a caça de determinadas espécies, em períodos específicos e

com base no conhecimento obtido através de pesquisas;

Incentivar a criação de RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio

Natural) nestas regiões;

Envolver a população rural na tomada de decisões.

76

REFERÊNCIAS

77

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APÊNDICE

Apêndice 1 – Modelo do questionário socioambiental utilizado durante a pesquisa.

QUESTIONÁRIO SOBRE FAUNA SILVESTRE Município : _________________________________________

Colégio: ___________________________________________

1) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

2) Idade: __________

3) Série: __________ 4) Local onde reside: ___________________________________________

5) Quantas pessoas residem em casa: __________

6) Profissão: Do pai: ___________________ Da mãe: __________________

7) Grau de escolaridade: Do pai: Série: __________ Da mãe: Série: __________

8) Renda mensal da família: ____________________________

9) Você tem animais silvestres em casa? ( ) Sim ( ) Não 10) Quantos são? __________

11) Quais são? ___________________________________________________________________

12) Como conseguiu estes animais? ( ) No mato ( ) Na feira ( ) De vizinhos

( ) Outros: ________

13) Quem vai pegar esses animais? ( ) Você ( ) o Pai ( ) Outros: _____________ 14) Onde esses animais são capturados? __________________________________________

15) Como esses animais são capturados?__________________________________________

16) Quando esses animais são capturados? ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite.

Por quê? ________

17) Para que esses animais são capturados? ( ) Companhia ( ) Vender ( ) Trocar

( ) Comer 18) Onde esses animais são vendidos?______________________________________________

19) Por quanto esses animais são vendidos? ________________________________________

20) Qual o tipo de alimento que é dado para esses animais em sua casa? ____________

21) Quantas vezes por dia esses animais são alimentados? __________________________

22) Esses animais são geralmente trocados pelo o quê? _____________________________

23) Você acha que a quantidade de bichos disponíveis na natureza: ( ) Aumentou ( ) Diminuiu ( ) Continuou igual. Por quê? _____________________________________